Covid-19 | Macau anuncia mais uma infecção, totalizando 42 casos Hoje Macau - 3 Abr 2020 [dropcap]M[/dropcap]acau registou mais um caso da covid-19, o que eleva para 42 o número total de infectados no território, anunciaram as autoridades. O homem, de 58 anos, chegou a Macau na segunda-feira, através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, proveniente de Hong Kong, tendo sido encaminhado para quarentena no hotel Grand Sheraton, no Cotai (faixa de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane), por não apresentar sintomas. A infecção foi diagnosticada hoje, na sequência dos “testes de zaragatoa nasofaríngea”, afirmaram. “O doente está em condições clínicas consideradas normais e foi internado na enfermaria de isolamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário [CHCSJ] para tratamento”, referiram. Entre 5 e 16 de Março, o homem esteve em Banguecoque, tendo regressado a Hong Kong no dia 16 do mês passado. Entre 16 e 30 de Março, permaneceu no território vizinho, disseram as autoridades na conferência de imprensa diária do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. As autoridades indicaram ainda que 107 pessoas já deixaram o isolamento, continuando 2.022 em 12 hotéis e um em casa a cumprir uma quarentena de 14 dias. No CHCSJ estão internados 21 pacientes, enquanto dez estão no centro clínico de saúde pública de Coloane.
Covid-19 | Amanhã será dia de luto nacional na China. Macau também fará três minutos de silêncio Hoje Macau - 3 Abr 20203 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] China vai fazer, no sábado, um dia de luto nacional pelos mais de 3.200 mortos devido a infecção pelo novo coronavírus no país, informou hoje o Conselho de Estado chinês. Às 10 horas da manhã, cidadãos em toda a China devem realizar três minutos de silêncio em memória dos falecidos, enquanto alarmes antiaéreos e buzinas de carros, comboios e navios soarão como sinal de luto, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. As bandeiras vão ser colocadas a meia haste, durante o dia, em instituições oficiais e nas embaixadas e consulados chineses em todo o mundo, ao mesmo tempo que atividades recreativas públicas vão ser suspensas em toda a China. Em Macau, o Instituto do Desporto emitiu uma nota onde dá conta do encerramento das instalações desportivas. “Para expressar as mais profundas condolências e em homenagem aos heróis que se sacrificaram na luta contra a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus e aos compatriotas que faleceram, em respeito pelo período de luto nacional, as instalações desportivas afectas ao Instituto do Desporto encerram ao público amanhã 4 de Abril. O Instituo do Desporto pede a compreensão do público”, pode ler-se. Além disso, foram emitidas instruções para a colocação das bandeiras nacional e da RAEM a meia haste “em todos os organismos governamentais, órgãos legislativos e judiciais, representações no exterior, escolas, bem como instalações e locais públicos, sendo que todas as actividades públicas de entretenimento e de carácter celebrativo ou festivo serão suspensas”. Nesse sentido, “a partir das 10h00 do dia 4 de Abril, todos os residentes devem cumprir três minutos de silêncio em tributo aos heróis que sacrificaram a vida na luta contra a epidemia da pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus e aos compatriotas falecidos”. O número total de infectados diagnosticados na China, desde o início da pandemia, é de 81.620 e o número de mortos ascendeu a 3.322. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, entre as quais morreram mais de 51 mil. Dos casos de infecção, cerca de 190.000 são considerados curados.
Até sempre Hoje Macau - 3 Abr 2020 [dropcap]D[/dropcap]a janela à porta são doze passos. Amanhã vou poder dar treze. De porta aberta e malas em punho, vou de uma ponta, não para a outra, mas corredor fora, rumo ao ar. “Olá, está a começar o Muholland Drive no canal 12”. Avisa-me, de manhã, o Mário. David Lynch para acordar poderia ser estranho não fossem os tempos que correm. ”Já vi, mas vejo de novo” respondi. Enquanto o filme corria na Lotus, ligam-me dos Serviços de Saúde. “Amanhã é o seu dia de saída. Como se sente?” “Quando sair vai passar pelos nossos funcionários, etc, etc, etc.” Ao mesmo tempo, os telefones do Lynch tocam, uns a seguir aos outros com recados entre mundos e sincronizados com o deste quarto. Vou sair amanhã para um lugar que desconheço. Lá fora vou encontrar um mundo dolorosamente suspenso. Mas dentro de mim, o Mekong continua vigoroso num dia de calor e trovoada, e o sol nasce em Ankor. As montanhas de chá de Munar estão temperadas com pimenta e caril. O Cristo Rei da cidade maravilhosa dança o samba e a chapada de Minas rouba a vista. Perco o ar lá nas alturas de Bogotá com o meu irmão, e perco-me a mim nas tentações de Cartagena. Corro a cavalo na estepe mongol onde o silêncio tem peso e a aguardente é de leite de égua. Subo à Grande Muralha e salto pelo dorso do dragão que contorna as montanhas até ao infinito. Dou a curva por Chengdu entre pandas, budas gigantes e o bairro tibetano. Descanso com o Yuqi em Yang Shuo, terra dos sonhos. Salto para o capim de Malange e paro em Luanda para dar um beijo à Tânia. Corro além da Taprobana antes de beber um copo de vinho à luz do sol poente no Índico. Como na rua em Hanói e trespasso os buracos que o tempo faz nas montanhas de Ninh Binh com a Andreia. Mergulho na transparência do mar verde de El Nido e ando de bicicleta em Ko Yao Noi. Em Vinales, danço salsa no baile da associação e faço um mojito matinal para brindar com a Cristina. Perco-me nos labirintos de Yazd e subo aos telhados de Kashar para depois comer romãs e melancia num piquenique, no deserto, a caminho de Isfahan, sempre rodeada da melhor gente. Mais tarde, vejo o Evereste de uma aldeia perdida nos arredores de Katmandu. Está tudo em pausa. Mas tudo lá. A aguardar que o mundo volte a ser qualquer coisa. Entretanto, quero fazer o trilho da montanha, respirar verde, nem que seja dentro de uma nuvem. Quero a minha varanda com a lomba no meio para me desviar dela a caminho do vaso de orégãos cubanos que a Sara me ofereceu. Quero ver as caras todas, ao vivo. A todos, obrigada pela companhia, pelo conforto e pelo afecto. Bem hajam. Até sempre
Pós-covid? João Romão - 3 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] passagem do tempo sobre a presença do vírus que ataca a Humanidade não tem ajudado a antever um horizonte de futuro: antes pelo contrário, acrescentam-se dúvidas às incertezas já conhecidas: sabe-se pouco ou nada sobre como lidar com o problema, vai-se aprendendo o possível com a experiência vivida, ou não, e navega-se com pouca vista sobre um horizonte turvo e indefinido. Já houve outros vírus, é certo, mas aparentemente nunca tão resistentes à intervenção humana, tão persistentes nos seus impactos sobre as pessoas, tão dissimulados na forma lenta como ocupam os organismos e preparam um ataque massivo e inesperado. Não sabemos como eliminar este inimigo nem por quanto teremos que viver escondidos, em inevitável protecção individual e colectiva. Este exercício colectivo de auto-protecção pode trazer à superfície o melhor de nós, a preocupação com as outras pessoas, a prioridade à comunidade sobre o individualismo, a percepção de que não há estrangeiros e de que estamos todos a viver no mesmo mundo, a importância da fraternidade e da solidariedade sobre a competição desenfreada que foi ocupando o quotidiano das sociedades contemporâneas, um olhar sobre a economia preocupado com necessidades efectivas e não com a ganância da acumulação, ou o valor da amizade e das relações pessoais: uma certa reavaliação do que andamos aqui a fazer e do que realmente importa para vivermos bem, sermos felizes, seja lá isso o que for, e encontrarmos uma certa harmonia com os limites do planeta e dos seus recursos. Foi com esta generosidade que se cantou ou se aplaudiu às varandas e à janela, para dizer que estamos juntos, que é grande a esperança num futuro melhor, que não queremos voltar ao normal: queremos melhor. Hoje canta-se e aplaude-se menos, no entanto. A rotina cansa. Estar em casa tanto tempo cansa. Não se ter ideia de quanto tempo falta cansa ainda mais. Há uma incerteza profunda sobre o presente, sobre a solução possível para este extraordinário problema, e uma incerteza ainda maior sobre o futuro. Quando tempo falta? Enquanto durar, vai haver médicos e hospitais? Vai haver comida? Vai haver salários para comprar a comida e para pagar as casas onde se tem que ficar? Vai haver ainda empresas quando passar tempestade? Vai o Estado poder suportar todos os custos que já se conhecem e os outros, porventura muitíssimo maiores, que estão para vir? Essa incerteza cada vez mais prolongada corrói a esperança, já se sabe: alimenta a desconfiança, recupera o individualismo, apela ao egoísmo, corrói o espírito de comunidade, desperta o pequeno ou o grande fascista mais ou menos adormecido em tantos corações. Em vez de vozes fraternas e sentimentos de esperança, vemos dedos acusatórios apontados, “polícias de varanda”, novos bufos e delatores ávidos de notícias, de preferência falsas, que legitimem o discurso da violência sobre os outros, do ódio sobre a diferença, do autoritarismo sobre a democracia. Eles andam aí e esta reclusão colectiva e prolongada também serve para se mostrarem, com poucos pudores, auto-legitimados que se sentem pela magnífica missão que escolheram desempenhar, a de vigilantes e delatores de inimigos inventados à medida. Outras razões conduzem à falsa de esperança, certamente, que os impactos desta crise social e económica são extremamente assimétricos. Talvez esteja mais protegido quem trabalhe para o Estado, mesmo que não se vislumbre grande luz ao fundo deste túnel e não se perceba muito bem qual é o limite desse suporte pelas finanças públicas. Menos protegidos estarão os trabalhadores de empresas privadas com contratos permanentes, sobre os quais as ditas empresas têm alguma responsabilidade, certamente mais limitada que a do estado pelas contingências dos ciclos económicos. Haverá grandes empresas que acumularam o suficiente para aguentar este e outros rombos sem problemas de maior e que, ainda assim, estendem a mão ao Estado, salvador afinal, importante afinal, essencial afinal. Mas também há as pequenas e médias empresas que genuinamente não têm como assegurar o pagamento de salários depois de um, dois, três meses, sem produzir. Quantos meses vão ser, afinal? Depois vai-se descendo na escala da vulnerabilidade: os trabalhadores temporários, os independentes, todos os que vivem de actividades artísticas ou das funções técnicas inerentes, todos os que desempenham tarefas essenciais e regulares em processos produtivos, mas sobrevivem na chantagem da informalidade. Todos os desempregados sem horizonte para procurar emprego. Todos os sem-abrigo que não têm casa onde se recolher. Todos os habitantes de casas precárias sobrelotadas na periferia de grandes cidades. Todos os refugiados que fugiram da guerra e foram depositados em campos de concentração às portas da Europa. Toda a gente que em África, na América Latina ou no Sudoeste Asiático, para quem a normalidade do quotidiano já se fazia de carências habitacionais, alimentares, económicas ou de cuidados de saúde. Sabe-se muito pouco sobre se, quando e como sairemos todos desta inusitada experiência. Talvez possamos contar uns com os outros para sair como uma comunidade reforçada e solidária e não como pessoas gananciosas à procura de recuperar à força qualquer coisa tida como perdida, seja lá o que for. Talvez. Vivo por estes dias uma experiência que esperava ser de “pós-covid”. Estava enganado e afinal não é o caso. Desde que apareceram os primeiros casos no Japão, em finais de Janeiro, vivi durante dois meses na região de Hokkaido, a que teve durante muito tempo o maior número de casos no país (foi, entretanto, ultrapassada por Tóquio). Nunca houve confinamentos obrigatórios, mas houve uma severa retração recomendada e generalizadamente aceite, em que só se saía para o essencial. Estive quase sem sair de casa durante um mês e meio. Entretanto mudei para outra região, no sul, onde até agora se registaram apenas 3 casos, todos eles já recuperados. Viajei num avião quase vazio, passando por aeroportos quase vazios. Encontrei uma cidade quase sem casos (só teve 1, para mais de um milhão de habitantes) mas ainda assim muito previdente, com poucas pessoas nas ruas, muitas máscaras, visível contenção na aproximação, ainda mais do que é habitual na cultura japonesa, já de si muito parcimoniosa no contacto físico. Não sei se se justifica, mas vive-se essa incerteza, de só se saber que o assunto não está afinal resolvido. Não é bom viver com medo.
Óbvio desfecho João Luz - 3 Abr 2020 [dropcap]P[/dropcap]ermitam-me molhar o dedo grande do pé noutra água de comentário que não seja a pandemia. Ontem foi noticiado que o inquérito instaurado a Wang Sai Man foi arquivado. O desfecho expectável para o deputado “eleito” indirectamente e que já ocupa funções no hemiciclo anuindo docilmente a todas as posições do Executivo, depois de ter infringido a lei eleitoral em directo na televisão. A lei é clara neste aspecto. Quem falar do seu programa político nas imediações do local de voto, no dia do “sufrágio”, está a fazer a campanha eleitoral. A situação é toda ela caricata. Enquanto candidato único na “eleição”, não havia necessidade de fazer campanha. O arquivamento do inquérito é justificado pela ausência de dolo do, à altura, candidato único, critério que não está na lei. Mas a malta dá um jeitinho com imaginação e lá safa a coisa. O MP podia ter ido mais longe e dizer que Wang Sai Man não poderia ter intenção de fazer campanha eleitoral à boca das urnas por não ter nada a ganhar com isso. Mais pareceu desconhecimento da lei, o que para quem se candidata a deputado não é um bom cartão de visita. A chatice é que desconhecimento da lei não significa isenção de responsabilidade. A politização da justiça nestes casos é gritante, tão óbvia que dói. Não dava jeito repetir uma eleição fantoche. Da mesma forma que o juramento à porta fechada feito pelo presidente da Assembleia Legislativa infringiu a lei que exigia que este fosse feito publicamente. Arranjou-se um funcionário, que por acaso era fotógrafo, e está feito. Tudo isto é desnecessário. Mas o poder político em Macau não consegue parar de mostrar o mais completo desrespeito pela lei. Pena que a justiça o permita.
Os precários do quotidiano Valério Romão - 3 Abr 2020 [dropcap]E[/dropcap]sta quarentena está a ser, em termos gerais, uma espécie de micro-resolução de ano novo: toda a gente se desfez em promessas de ler os russos, de organizar o roupeiro de Inverno, de fazer exercício físico em casa. Na verdade e pelo que vejo um pouco por todo o lado, parecemos ter aprendido apenas duas coisas: olhar para um gráfico e fazer pão. Não serão competências despiciendas, mas não chegam para organizar uma feira de talentos. A normalidade é um bem precário e um conceito que se recusa a sê-lo, na medida que não permite, ao contrário dos conceitos civilizados, uma cristalização inequívoca da sua identidade. A normalidade define-se normalmente pela sua ausência, por contraste. Temos um instinto bastante apurado para perceber quando algo ou alguém não é normal, mesmo sem conseguirmos explicar cabalmente a razão subjacente a esse instinto. É uma competência da ordem do corpo, ou melhor, da ordem do animal, do imediato. É também uma competência contextual: aquilo que é normal num determinado milieu não o é noutro. Há muita gente que faz a sua vida num equilíbrio precário entre normalidade e diferença, numa espécie de zona cinzenta socialmente aceite por via de um pacto silencioso: desde que o sujeito seja minimamente funcional, pode ser excêntrico. E ser funcional parece resumir-se a ter dinheiro ou a ganhar dinheiro. Funcionalidade é autonomia. E autonomia é dinheiro. De resto o sujeito pode acreditar que a terra é plana, que os vírus são na verdade perturbações do equilíbrio electromagnético do corpo ou que a rainha de Inglaterra é na verdade um lagarto. Desde que pague as contas e não seja ostensivamente incapaz de cumprir a lei, tudo bem. No caso de um sujeito multimilionário, a excentricidade não só é esperada como é, de certo modo, exigida. Os custos de uma crise, seja ela esta, de saúde pública e intimamente radicada num medo primordial e profundo – a peste – ou seja uma guerra ou uma vaga de fome, são particularmente pesados para quem já trava diariamente uma batalha para se manter dentro dos limites da normalidade. As rotinas mudam. E as rotinas são em grande parte o esqueleto da normalidade. É alicerçado nas rotinas que o sujeito consegue domar, pelo menos em parte, uma realidade que à partida lhe é naturalmente inóspita. Rotina é controlo. Controlo é poder. Aquém ou além das rotinas, a incerteza. Ora esta incerteza, tolerada com maior ou menor esforço nos sujeitos de raízes amplas e fundas, pode ser um obstáculo insuperável para quem domesticou o quotidiano com dificuldade. A fragilidade tende a assomar ao postigo mal os ventos mudam de direcção. A extravagância, sem dinheiro, é dificilmente suportável. As zonas cinzentas estreitam-se e a tolerância diminui. O sujeito para quem o mundo já era um problema dá por si ainda mais perdido. Mais a mais, numa crise deste tipo, com direito a possível perda de emprego e consequente rendimento, até os sujeitos equilibrados podem ver-se de repente sem chão. Imaginem os outros. Neste momento complexo e incerto devíamos olhar para os que nos rodeiam e que amamos e aproveitar para os conhecer melhor. As fragilidades (e as forças) acabarão por vir à tona. Talvez as coisas corram bem ou razoavelmente bem e consigamos sair daqui inteiros. Mas em última análise levamo-nos a nós próprios e aos outros ao colo, pois é assim a estrutura da identidade do humano. É bom que nesta viagem tenhamos cuidado com as peças mais frágeis.
Como teriam sido as nossas vidas, se… António de Castro Caeiro - 3 Abr 2020 [dropcap]P[/dropcap]ensamos muitas vezes no que teriam sidos as nossas vidas se os factos determinantes que vieram a definir-nos não tivessem acontecido. Pensamos também no que poderia haver de transformador se a história tivesse seguido cursos alternativos ou até um percurso exactamente contrário àquele que veio a seguir, se Hitler tivesse ganhado a guerra o que seria da Europa. O que se nos oferece para pensar tem a sua origem na nossa vida que corre paralela à da realidade, a vida na possibilidade. Alguns de nós conhecíamos bem esta dimensão mágica da vida: fantástica, cheia de imaginação, com personagens reais e criados nas nossas cabeças, se tivermos tido um sonho de infância. Houve tempos na nossa juventude, essa época fascinante das nossas vidas em que nem sequer podemos dizer que nos entregámos à ficção, porque, pura e simplesmente, o que havia de realidade era um engano. A época da vida que corresponde à juventude tem ainda a dimensão fantástica da infância, mas tem agora o vigor não anulável da tempestade e da paixão, é romântica ou apresenta uma qualquer variação do romantismo com os seus múltiplos objectos: uma outra criatura humana, um comprometimento político, um estilo de vida, uma definição, uma tendência, a fixação de uma inclinação num estilo. Na infância e na juventude o que nós pensamos, o que se nos oferece a pensar, não existe num plano diferente do plano da realidade. O que se passa na casa dos nossos amigos, na nossa rua, na escola, no clube e o que se passa no isolamento aparente do sonho a dormir à noite ou no sonho a dormir acordado é indistinto. A vida é fantasia, fascínio, encantamento. Pode ser, na verdade, maravilhoso como pode ser tremendo. É um mistério. E, contudo, não se percebe bem como ou quando se impõe a versão da verdade que chamos realidade, a realidade objectiva, a verdade pura e dura posta a descoberto nua e crua. Há uma diferença clara entre o mundo do fascínio da infância, apenas sonho, o mundo da juventude, só esperança, e o mundo adulto: pragmático, sem sonho, sem esperança. E, contudo, o mundo adulto não é um mundo à parte. É um mundo projectado por uma forma de pensamento, que reduz a fantasia à percepção, o sonho à realidade, a esperança no futuro à actualidade, sem conexão com o futuro. Como seriam as nossas vidas se tivesse acontecido o que, pelo menos assim nos parece às vezes, queríamos tanto que nos tivesse acontecido: desfazer um não e fazer que sim, aproximar-nos em vez de nos afastarmos, quando tínhamos podido, ou no que não está nas nossas mãos: assistir ao rumo positivo das coisas, quando elas acabaram, não houve as negas que tivemos, não houve interdições, nem proibições, nem nada de negativo, não fomos nós que não conseguimos, que não chegamos a tempo, não foi o espaço que se fechou o tempo que não houve, alguém continuou nosso amigo e não houve mal entendidos, o amigo da infância não morreu num desastre de automóvel, os nossos pais são imortais. Como seriam as nossas vidas se não acontecesse o que está a acontecer, e o que está a acontecer é inexorável? Como seriam as vidas das crianças e dos jovens no Verão de 1914 antes de arrostarem com a carantonha feia e sinistra da guerra e que desfez infâncias e juventudes, pior: desfez futuros individuais e colectivos? Seria ainda possível deixar chegar o Verão de São Martinho a 1939 ao norte da Europa e assim ao Ocidente? Pode a Europa deixar-se enredar na semântica das palavras e afundar-se no ocidente (a terra do sol poente)? A nossa vida é o que é. Existe como realidade indelével. A resolução para o impasse está na infância e na juventude, se não foi extirpada a raiz onírica do pensamento. O pensamento cria esperança. A origem do pensamento é o futuro. A infância e a juventude estão próximas do princípio, mas o princípio vem do futuro. Como os antigos tão bem perceberam, no princípio o que havia era já o fim e o tempo das nossas vidas passa em contagem decrescente. O princípio e tudo o que tem sido vivido está à nossa espera na hora da nossa morte, chegue essa hora quando chegar.
Casinos | Operadoras com liquidez para mais seis meses, estimam analistas Pedro Arede - 3 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap]nalistas da Sanford C. Bernstein Ltd revelaram ontem, em comunicado, que no pior dos cenários, as seis operadoras de jogo de Macau têm liquidez de caixa para mais seis meses. A previsão vem no seguimento da quebra de 79,7 por cento das receitas brutas dos casinos no mês de Março, revelada na quarta-feira pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Segundo os analistas da Sanford C. Bernstein, citados pelo portal GGR Asia, a Galaxy é, das seis operadoras, aquela “corre menos riscos”. “A Galaxy tem liquidez de caixa em abundância, não está endividada e tem pela frente, no pior cenário, um ´balão de oxigénio´ de cerca de 40 meses, antes de ter de recorrer a outros fundos”. Quanto às restantes operadoras, assumindo sempre o pior cenário, ou seja, em que não há qualquer receita, os analistas da Sanford C. Bernstein estimam que possam continuar em actividade, sem recorrer a outras fontes de financiamento, entre seis e 17 meses. A situação pode ainda vir a piorar já no próximo mês. De acordo com a correctora JP Morgan, citada pelo portal GGR Asia, as receitas brutas de jogo em Abril podem vir a ser praticamente inexistentes, muito por culpa das novas medidas fronteiriças aplicadas pela província de Guangdong na semana passada. “Não seria uma surpresa que as receitas brutas de jogo em Macau se mantivessem praticamente nulas até as restrições nas fronteiras de Guandgong serem levantadas. Abril pode mesmo vir a ser o pior mês de sempre desde que o primeiro complexo de jogo ao estilo de Las Vegas abriu em Macau, em 2004”, apontaram os analistas da JP Morgan, DS Kim, Derek Choi e Jeremy.
ANIMA | Há um ano, Canídromo fechava portas graças à “coragem” do Governo Andreia Sofia Silva - 3 Abr 2020 Foi a 26 de Março de 2019 que os últimos galgos saíram do Canídromo. Um ano depois, o enorme terreno no Fai Chi Kei continua por desenvolver apesar de ser certa a transferência de quatro escolas para o local. Albano Martins, presidente da ANIMA, lamenta o processo demasiado rápido para a saída dos animais, mas destaca o reconhecimento internacional da associação [dropcap]D[/dropcap]egradação era a palavra que melhor assentava para descrever o ambiente e as infra-estruturas do Canídromo. Foi há um ano que a ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, conseguiu vencer o braço-de-ferro com o Governo para o encerramento definitivo do espaço onde se apostava em corridas de galgos. Os últimos animais deixaram o Canídromo, no Fai Chi Kei, a 26 de Março. Albano Martins, presidente da ANIMA, olha hoje para esse período e lamenta a rapidez com que a entidade foi obrigada a tratar do processo de transferência dos animais. “Não havia urgência nenhuma em fazer os animais sair. As pessoas já estavam habituadas ao barulho e os animais no espaço. Por outro lado, o Governo nunca iria reordenar aquilo em menos de dois ou três anos. Passou um ano e aquilo [o terreno] está na mesma. Não há capacidade do Governo para desenvolver aquilo. Não vai ser um novo hospital das ilhas, mas quase.”, aponta. O economista recorda as várias soluções apontadas para albergar os animais e que caíram por terra. “Não havia espaço para absorver um número tão grande de animais e todas as tentativas foram goradas.” A luta da ANIMA pelo encerramento do Canídromo começou em 2011. Depois de várias acções públicas, o primeiro passo foi dado quando o Executivo de Chui Sai On não renovou a concessão do terreno à Yat Yuen. “O Governo acabou por ganhar coragem, um bocado empurrado pela ANIMA, porque fomos a única organização de Macau a pedir o fecho das instalações.” A pesada factura Albano Martins lamenta ainda que todos os galgos que foram para o estrangeiro tenham ido sem a esterilização feita. Cerca de 129 animais acabaram por ficar em Macau, mas “muitos morreram ou foram abandonados e vieram parar à ANIMA, ou então não se sabe o seu paradeiro”. O responsável defende que os 20 milhões de patacas gastos pela Yat Yuen num espaço de acolhimento de animais, no Parque Industrial da Concordia, poderia ter sido usado para esterilizações. “Esse dinheiro teria dado uma ajuda para tratar da saúde destes animais se tivéssemos tido mais tempo, para que pudessem ir para o estrangeiro já esterilizados e em melhor estado.” Apesar de a Yat Yuen ter pago as viagens dos galgos para o estrangeiro, a verdade é que sobrou uma pesada factura para a ANIMA pagar: 250 mil patacas, custeadas com apoios de organizações internacionais. “A 26 de Março ficámos com muitos animais. Também salvámos mais de 20 animais do abandono. Tratamos dos galgos sem qualquer subsídio do Governo, sem contabilizar o volume de trabalho que tivemos. Mas teve uma vantagem. Ganhámos a medalha de mérito [atribuída pelo ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On] e ficámos reconhecidos a nível internacional.” A luta em Portugal Albano Martins assume que nunca pensou que a ANIMA fosse convidada por entidades asiáticas ligadas aos direitos dos animais como é hoje. O fecho do Canídromo deu-lhe reconhecimento e credibilidade internacionais, o que faz com que hoje esteja ligada a mais uma causa: o fim das corridas de galgos em Portugal. A última acção, apoiada por 70 entidades internacionais, foi uma carta enviada à Assembleia da República. Mesmo com a crise gerada pela pandemia da covid-19, os activistas querem agendar uma reunião em Maio.
Indemnização | Tribunal Administrativo decide contra a Polytex Salomé Fernandes - 3 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Tribunal Administrativo decidiu absolver o Governo da RAEM relativamente à acção interposta pela Sociedade de Importação e Exportação Polytex, Limitada. A justiça entendeu que a renúncia ao direito a indemnização feita pela Polytex em 2014 era válida, considerando improcedente a acção da empresa. A Polytex pedia uma indemnização de cerca de 25 mil milhões de patacas devido à execução do contrato de concessão por arrendamento do terreno onde ficaria o edifício Pearl Horizon, com base em danos emergentes, lucros cessantes, perda de oportunidades, bem como danos morais, que se cingiram a uma pataca. A empresa colocava como alternativa a atribuição de uma nova concessão para o mesmo terreno de forma a concluir a obra. O argumento da concessionária sustentava-se na actuação do Governo por ter colocado “um entrave injustificado ao seu aproveitamento dentro do prazo fixado e por ter vindo a conduzir à declaração da caducidade da respectiva concessão”, comunica o gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância. O Executivo defendeu que a empresa tinha renunciado ao direito indemnizatório em 2014, o que invalidaria a sua responsabilização. No acórdão pode ler-se que a Polytex tinha acordado que “se no futuro o terreno não for concedido nos termos legais, a empresa concessionária não pode reclamar qualquer indemnização ou compensação à RAEM”. O juiz entendeu que a declaração não se deu por coação moral, mas antes com o objectivo de obter eventuais benefícios com a autorização do alargamento do prazo de aproveitamento do terreno, rejeitando os argumentos da Polytex de que a renúncia não podia ser válida. E frisou que, apesar de ter sido o Governo a convidar a tomada de declarações, a empresa tinha tido iniciativa. Para além disso, foi rejeitado que a Polytex estivesse inconsciente dos prejuízos que ia sofrer com tal declaração, e que “a extensão dos danos neste caso não é de todo inconcebível”. O tribunal entendeu ainda que havia consciência da falta de cumprimento ou das demoras da Administração quando a empresa fez a renúncia. Quanto ao pedido de indemnização por danos morais, o juiz entendeu que os factos alegados não demonstrariam que a reputação chegou a ser “concretamente comprometida” pela actuação administrativa.
Videovigilância | Comissão recomenda divulgação de casos quando CCTV for utilizada João Santos Filipe - 3 Abr 2020 A Comissão de Fiscalização da Disciplina defende que as infracções cometidas pelos agentes na utilização da videovigilância devem ser revelados de forma periódica [dropcap]A[/dropcap] Comissão de Fiscalização da Disciplina (CFD) das Forças e Serviços de Segurança considera que deviam ser produzidas estatísticas sobre o número de casos resolvidos com recurso à videovigilância, assim como as infracções cometidas por agentes. A recomendação, que não é vinculativa, consta no relatório relativo ao ano passado e foi suscitada pela queixa de um cidadão. Segundo o organismo liderado por Leonel Alves, a questão foi levantada após um cidadão ter apresentado queixa contra um agente, argumentando que não foram recolhidas provas porque o agente em causa não ter utilizado a câmara do seu equipamento individual. Apesar de admitir que os agentes não podem ligar as câmaras por “pedido de particular”, o CFD sugere que sejam emitidas estatísticas sobre os casos resolvidos através da videovigilância. Com o objectivo de promover transparência neste meio de recolha de prova, o CFD considera importante “a divulgação pública de quaisquer infracções criminal/disciplinar, se as houver, por quebra das regras de segurança e de preservação do direito à imagem e privacidade, por parte dos agentes que operam os dados recolhidos”. Outro assunto que gerou críticas às autoridades no passado prende-se com as notificações de cidadãos à saída do território. Face a este aspecto, alvo de “recorrência de queixas”, o CFD defende que as autoridades devem “ponderar bem os incómodos e prejuízos” das notificações à saída do território. A comissão defende que estes avisos devem ser utilizados apenas nos casos em que “foram esgotados os demais meios de notificação postal ou pessoal”, como avisos para casa, local de trabalho, etc.. No que diz respeito às pessoas que ficam retidas nas fronteiras quando procuram sair para serem notificadas por eventuais multas, o CFD vai mais longe e diz que o procedimento não justifica o sacrifício da vida pessoal se envolver “matéria de processos cíveis ou de infracções administrativas”. Maior rapidez Em relação aos apontamentos sobre a actuação das autoridades, a comissão sublinha que as 48 horas que os agentes têm para apresentar os detidos ao Ministério Público e Juiz de Instrução Criminal são um prazo máximo. Por este motivo, é sublinhada a importância de apressar os procedimentos. “A CFD recomenda que as autoridades policias se esforcem por apresentar os detidos no mais curto espaço de tempo possível, por forma a rapidamente se esclarecer a situação jurídico do detido”, é anotado. O relatório menciona também o facto de em “alguns casos” os agentes policias serem chamados a intervir na resolução de conflitos particulares que envolvem familiares seus. A comissão alerta que os agentes devem “pedir escusa mal se apercebam” que os incidentes “envolvem pessoas com quem têm laços familiares ou amizades próximas”. Em relação aos números, em 2019 foram recebidas 114 queixas pelo CFD, uma redução face às 139 apresentadas em 2018. A força que gerou mais queixas foi a PSP com 101 queixa, seguida por PJ com 8. Algumas queixas envolvem mais que uma força de segurança, mas a maioria deve-se a questões relacionadas com a Lei de Trânsito. Finalmente, em 2018 foram instaurados pelo CFD oito processos disciplinares, que resultaram em quatro punições, um arquivamento e ainda três casos pendentes.
Lei Eleitoral | Ministério Público “salva” Wang Sai Man João Santos Filipe - 3 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Ministério Público (MP) arquivou o inquérito contra o deputado Wang Sai Man por suspeitas de violação da lei eleitoral. O inquérito foi levantado porque no dia em que foi eleito, o candidato único falou à comunicação social sobre conteúdos do programa de candidatura à frente da assembleia de voto. Segundo informação avançada à TDM – Rádio Macau, o MP optou por não produzir acusação porque considera não ter havido “dolo”. “Após a investigação, o Ministério Público não verificou a intenção de propaganda eleitoral por parte de Wang Sai Man, através da entrevista dada à imprensa, pelo que o inquérito foi arquivado por falta de dolo subjectivo da prática do crime em causa”, afirmou o MP, sobre a opção tomada. Wang Sai Man foi o único candidato do sector industrial, comercial e financeiro a participar no acto de 24 de Novembro do ano passado, depois do lugar ter sido deixado vago na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng, actual Chefe do Executivo. Com esta decisão, o MP evita também que a Assembleia Legislativa tenha de voltar a votar suspensão de um deputado. Sulu Sou foi o último deputado suspenso, em Dezembro de 2017, pouco depois de ter tomado posse.
AL | Despesas do conselho de administração passam para as escolas Pedro Arede - 3 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap]s despesas decorrentes das funções do conselho de administração dos estabelecimentos particulares do ensino não superior, vão passar a integrar as despesas escolares, deixando o encargo de pertencer às entidades titulares. Foi esta a conclusão a que chegou ontem a 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, após uma reunião de análise do diploma sobre o ensino particular não superior. “Alguns directores depois de se aposentarem passam a fazer parte do conselho de administração e continuam a receber remuneração. Mas quem paga esta remuneração é a entidade titular e não a escola. Esta lógica está correcta mas a proposta de lei refere-se também às despesas, como o transporte, refeições e, para estes, o dinheiro da escola deve ser usado. Portanto, o Governo vai eliminar parte das despesas”, explicou Chan Chak Mo. Outro dos temas em análise foi encontrar forma de assegurar os interesses dos alunos caso a escola que frequentam seja suspensa. Segundo Chan Chak Mo, o Governo admitiu que pode ser encontrada uma nova entidade para colmatar a lacuna deixada em aberto pela suspensão. “O Governo fez cálculos e existem em Macau 2500 turmas e (…) cada turma pode incluir 35 alunos e agora em média cada turma tem 28 alunos. Ou seja, se uma escola for suspensa, vai ser possível distribuir os alunos por diversas turmas existentes nas escolas de Macau”, transmitiu o presidente da 2ª Comissão da AL.
Crise | DSAL informada da redução de salários de 417 trabalhadores João Santos Filipe - 3 Abr 2020 Segundo o secretário Lei Wai Nong, houve um aumento de 1.100 pedidos de subsídio de desemprego desde o dia em que foi detectado o primeiro infectado em Macau, até 1 de Abril. Os desempregados aumentaram 1.500, desde a mesma data, face ao período homólogo do ano passado [dropcap]D[/dropcap]esde 22 de Janeiro, em que se registou o primeiro caso de infecção de covid-19 em Macau, até 1 de Abril houve um total de 417 trabalhadores, de 19 empresas, que viram os ordenados reduzidos. Os dados foram fornecidos ontem pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, com base nas 27 notificações de redução de empregos enviadas à Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Apesar dos cortes salariais, o Executivo considera não ser visível a onda de desemprego, mesmo que reconheça que há mais pessoas nessa situação. “Em comparação com o ano passado, o número de desempregados aumentou em 1.500. Também houve mais pessoas a pedir subsídio de desemprego com 1.100 pedidos. Mas, a situação de desemprego ainda não é evidente, não houve uma onda de desemprego”, disse Lei Wai Nong, à saída da reunião de ontem do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). O Governo está a estudar a hipótese de dar formações pagas em instituições como o Instituto Politécnico de Macau ou o Instituto de Formação Turística, como forma de ajudar os mais afectados em termos laborais. Ao mesmo tempo, Lei Wai Nong recordou que a aposta do mercado local tem de passar pela contratação de residentes e que os pedidos para contratação de não-residentes só serão aprovados em último recurso. Em relação ao número de licenças sem vencimento aprovadas pelas empresas durante este período, o Governo diz não ter dados, uma vez que apenas os casos de diferendo são transmitidos à DSAL. Porém, Lei Wai Nong recordou que as licenças sem vencimento só podem ser implementadas com concordância do trabalhador. Casinos abertos Na quarta-feira foi anunciado que os casinos registaram quebras nas receitas brutas de 79,7 por cento, para 5,26 mil milhões de patacas, no mês de Março, face ao período homólogo. Os números foram desdramatizados pelo secretário para a Economia e Finanças. “A queda está dentro das nossas previsões. Acredito que o impacto da pandemia está a afectar a economia do Interior e também de Macau. Mas, precisamos de fazer bem o nosso trabalho. Temos uma atitude optimista sobre o futuro. Na segunda metade do ano a economia vai melhorar”, acrescentou. Por outro lado, o Executivo afasta a hipótese de permitir que os casinos encerrem as portas, desde que se comprometam a manter a mão-de-obra local. “Além de fornecerem serviços, os casinos têm de assegurar o emprego dos cidadãos”, explicou Lei Wai Nong. “O funcionamento dos casinos tem de ser durante 24 horas. A decisão é do Governo e, neste momento, não temos um plano para alterar esta regra de funcionamento. A DICJ também está a fiscalizar o funcionamento”, clarificou. O secretário abordou também a criação do fundo de 10 mil milhões, que precisa de aprovação pela Assembleia Legislativa. Neste momento, o Executivo ainda está a escutar opiniões sobre os moldes em que será operado, mas sublinha que o objectivo é garantir o bem-estar e emprego dos residentes.
Macau Solidário | Campanha prolongada até 7 de Abril Hoje Macau - 3 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] campanha Macau Solidário vai continuar a recolher donativos para ajudar Portugal no combate à pandemia do novo coronavírus até 7 de Abril. Inicialmente prevista para terminar a 5 de Abril, o prolongamento da campanha deve-se à interrupção de vários serviços nos próximos dias, incluindo bancos, durante as celebrações do feriado do Cheng Ming. Segundo a Comissão Solidária de Macau, composta por 17 associações de matriz portuguesa, a campanha tinha angariado até ontem 1,5 milhões de patacas. Recorde-se que o valor angariado tem como objectivo a aquisição de equipamento para profissionais de saúde em Portugal e testes de despistagem. O envio do material para Portugal é coordenado pela Embaixada de Portugal na China e centralizado no Ministério da Saúde.
TJB | Nove suspeitos vão a julgamento por violar medidas de prevenção Hoje Macau - 3 Abr 2020 [dropcap]V[/dropcap]ão ser remetidos ao Tribunal Judicial de Base acusações no âmbito de oito inquéritos, que envolvem nove arguidos, suspeitos de violação de medidas de prevenção da epidemia. Contra oito dos arguidos, o Ministério Público (MP) deduziu acusações pelo crime da infracção de medida sanitária preventiva. O restante indivíduo foi acusado do crime de falsificação de documento, indica um comunicado do MP. De acordo com a nota, sete dos arguidos não respeitaram a observação médica durante o período de 14 dias, e saíram sem autorização do quarto ou residência, ou acolheram outra pessoa no quarto de hotel. Para além disso, um residente saiu de Macau no mesmo dia em que entrou sem autorização, enquanto um trabalhador não residente declarou residência falsa para fugir à quarentena, e continuou a trabalhar apesar de dever estar sob observação médica. De entre os inquéritos encontra-se também um caso de danificação de máscaras fornecidas pelo Governo, em que a acusação é de dano qualificado.
Covid-19 | Serviços de Turismo acham que não são precisos mais hotéis Salomé Fernandes - 3 Abr 2020 Apesar de ressalvar que os Serviços de Saúde têm de avaliar a situação, a representante dos Serviços de Turismo disse ontem que se deve melhorar a gestão de quartos, mas que não são precisos mais hotéis [dropcap]A[/dropcap]s contas foram feitas e os resultados indicam não ser necessário encontrar novos hotéis para observação médica, disse ontem Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em conferência de imprensa. A chegada de centenas de pessoas a Macau desde meados de Março motivou essa procura, mas, de acordo com a representante, a necessidade agora passa pela “melhor gestão e distribuição dos quartos para um plano futuro”. “Face a alguma eventualidade ainda termos quartos em stand-by”, acrescentou. Ainda assim, ressalvou que as decisões dependem de avaliação dos Serviços de Saúde. Ontem estavam 2.292 pessoas em observação médica nos 12 hotéis disponibilizados. Confrontada com queixas quanto à alimentação nos hotéis, Inês Chan explicou que alguns não tinham capacidade de proporcionar refeições no número exigido, pelo que recorreram a encomendas externas. Quanto às horas das refeições, a responsável indicou que as entregas em horários variados “muitas vezes são por causa dos exames que o pessoal dos Serviços de Saúde tem de fazer”. E ressalvou que as queixas ajudam a melhorar os serviços. De acordo com Lo Iek Long, médico adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ), a taxa de infecção de quem voltou a Macau é de 0,84 por cento. Um número que engloba estudantes e residentes no geral. “Quando chegarmos ao fim podemos ver variação, mas não deverá ser uma subida súbita”, disse. Por outro lado, foi ontem explicado que a prioridade é prevenir e controlar a epidemia, pelo que muitas das despesas, como por exemplo com a aquisição de máscaras, só serão reveladas depois da situação passar. No âmbito das máscaras, o médico procurou tranquilizar preocupações com a qualidade das máscaras, reiterando que há especificações técnicas a ser seguidas e que quando as encomendas são feitas as amostras são examinadas. Voluntarismo A equipa de voluntariado, constituída por estudantes, de combate à epidemia recebeu 1224 inscrições. Dos inscritos, participaram em trabalhos nas fronteiras 57 pessoas, enquanto 27 estudantes deram apoio no atendimento de chamadas telefónicas. Lo Iek Long explicou que para se evitar o contacto dos estudantes com o exterior, estes ficam sobretudo a cargo do “empacotamento de máscaras e trabalhos internos”. O médico afirmou que os trabalhos de combate à epidemia contam com “todos os quadrantes da sociedade”, desde a doação de materiais ao voluntariado. O representante da Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude, Leong I On, disse ontem relativamente aos alunos com necessidades educativas especiais, que desde finais de Fevereiro foram contactadas instituições de reabilitação para tratamentos a estudantes, mediante autorização dos encarregados de educação. Porém, a representante deixou uma ressalva. “Não podemos depender só dos terapeutas”, frisando a importância do apoio dos pais. Leong I On disse que tanto professores como pais ligaram para as instituições de apoio e alguns “manifestaram pressão”, pelo que foram feitos vídeos para ajudar a aliviar o ambiente em casa. 908 veículos passaram a fronteira Com o anúncio da suspensão de veículos de matrícula dupla ontem filas voltaram aos postos fronteiriços para entrar em Zhuhai, divulgou Lei Tak Fai, do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Ainda assim, o responsável considerou que “a ordem em geral foi boa”. Nas dez primeiras horas de ontem, passou um total de 908 veículos. Nas Portas do Cerco passaram 564, na Ponte do Delta 83, e na Ponte Flor de Lótus 261 veículos.
Rui Severino, português a residir em Wuhan: “Isto uniu ainda mais o povo chinês” Andreia Sofia Silva - 3 Abr 20203 Abr 2020 Na próxima quarta-feira, dia 8, é levantada a quarentena obrigatória na cidade de Wuhan, o epicentro inicial da pandemia da covid-19. Rui Severino, um dos dois portugueses que decidiu ficar na cidade e que recusou ser evacuado pelas autoridades lusas, relata a forma como a população de Wuhan está a retomar o quotidiano [dropcap]C[/dropcap]omo está a situação em Wuhan neste momento? Nunca estive em casa. Fiquei em lockdown no centro de treinos, porque sou treinador de cavalos de corrida. Não podemos ir para lado nenhum e, neste momento, Wuhan ainda está fechada, ainda não foi levantada a quarentena. Só com autorização especial se pode sair à rua para certos fins. Mas 90 por cento das pessoas ainda estão em casa, em isolamento. A cidade começou a retomar alguma normalidade no dia 25 de Março, mas muito pouca. Algumas lojas estão abertas, mas há mais supermercados abertos ou estabelecimentos de fornecimento de outros produtos. A maioria dos espaços estão fechados porque as pessoas ainda estão em casa. Como tem sido o dia-a-dia no centro de treinos? Estando com a equipa, têm existido momentos delicados, de tensão psicológica? Nunca é uma situação fácil, mas não me posso queixar, porque estamos distraídos com o trabalho. No fundo, o nosso dia-a-dia não mudou em termos de trabalho pois continuamos a treinar os cavalos, comemos e dormimos aqui. Somos 67 pessoas aqui no centro e todos cumprimos medidas rigorosas, pois fazemos check-ups diários, duas vezes por dia, com verificação de temperatura. Só algumas pessoas podem sair para comprar comida e apenas uma vez por semana, com autorização especial. Quando voltamos a entrar estamos completamente desinfectados. Em termos psicológicos foi complicado, porque nunca tinha estado numa situação destas. Durante o dia estamos ocupados, mas à noite é um pouco mais complicado. Temos famílias lá fora e a ansiedade é muito grande. Numa cidade que foi forçada a encerrar, como se viviam as poucas saídas? Houve sempre um grande cuidado. Ao início, quando saímos para comprar coisas, levávamos um fato de protecção especial, luvas, óculos e máscara. Há três dias saí para ir ao meu apartamento buscar roupa e tive novamente uma atenção especial. A máscara continua a ser obrigatória, aliás, quem não usar máscara é preso. Acredita que a cidade poderá voltar ao normal dentro de pouco tempo? A quarentena vai ser levantada a 8 de Abril, na próxima semana. Claro que vão continuar muitos estabelecimentos fechados, como cinemas, bares ou discotecas, mas todas as lojas, centros comerciais [vão abrir]. Não há ainda uma data para o início das aulas, que costuma ser em Fevereiro e que tem sido adiado. Sente que este vírus mudou os residentes de Wuhan para sempre? A China, infelizmente, tem experiência com estes vírus, e talvez por isso a resposta foi rápida por parte da população, em relação às medidas que o Governo impôs, o que não se tem visto no resto do mundo. Mas isso também tem a ver com o facto de, na cultura chinesa, ser hábito usar máscara sempre que se está doente, mesmo que seja uma constipação. Penso que mudou a população. Este surto que é completamente diferente dos outros, as pessoas estão mais cautelosas e têm mais cuidados do que tinham antes. O povo chinês é muito patriótico e solidário e isso ainda os uniu mais. Gostaria de ver isso em todo o mundo, gostava de ver todo o mundo a unir-se. Decidiu nunca sair de Wuhan, quebrando a tendência de fuga de muitos portugueses. Não se arrepende de ter ficado aí? Nunca julgo as atitudes dos outros, mas talvez se tenham precipitado um pouco. Não os culpo, porque alguns estavam cá sozinhos e a opção era ficar em casa e se calhar não tiveram a percepção de que isto se iria espalhar pelo mundo fora. Eu decidi ficar por causa das minhas responsabilidades profissionais, por causa da minha equipa e dos meus cavalos. Eles depositam confiança em mim e eu não os podia abandonar. Mas também vi a óptima resposta da população às medidas impostas pelo Governo, deu-me garantias de que iria estar seguro em Wuhan. Teria tomado a mesma decisão outra vez. Como fica agora a sua situação profissional? Depois de levantada a quarentena vamos tentar obter as autorizações devidas para podermos mudar de província, de Hubei para Shanxi, onde fica o nosso Jockey Club. Tudo indica que lá para Maio ou finais de Junho podemos reiniciar as corridas de cavalos em Shanxi. Como avalia a resposta das autoridades portuguesas na retirada dos portugueses de Wuhan? Só tenho de louvar as autoridades portuguesas, sobretudo a embaixada, que esteve em constante contacto connosco. Criou-se um grupo de conversação na plataforma WeChat, onde eram feitas centenas de perguntas todos os dias, e eles estiveram presentes 24 horas por dia, respondendo e dando informações. Nunca nos esconderam nenhuma informação. Quanto a mim, que decidi ficar, e outro português, foi-nos dado muito apoio. Enviaram-nos máscaras, óculos especiais de protecção, luvas. Para mim, foi emocionante, porque sou luso-australiano e a Austrália não me deu apoio nenhum. O número de mortes em Wuhan tem levantado algumas dúvidas, tendo em conta, por exemplo, as filas que se formam junto a agências funerárias. Não sei se tem acompanhado esta questão, qual o seu comentário? Não tenho conhecimento disso. Juntamente com os meus colegas chineses, não temos ouvido falar disso. Em relação aos números, se não acreditarmos nas entidades oficiais, vamos acreditar em quem? É possível que essas notícias sejam verdadeiras, não nos podemos esquecer que morreram quase quatro mil pessoas. Tenho amigos jornalistas aqui na China e não tenho essa informação. Há uma confiança generalizada da população em relação às autoridades chinesas? Com certeza. A grande maioria não conhece a realidade chinesa, nunca esteve na China, não conhece a cultura e é muito fácil fazer juízos de valor. As autoridades de Wuhan esconderam o vírus durante algum tempo, mas quando o Governo Central soube, tomaram as devidas acções. Essa acção foi de louvar para todo o povo chinês e para os estrangeiros que cá decidiram ficar, como eu. Não sinto que a China esteja a mentir neste momento, até porque a China de hoje não é a China de 2003 [ano em que surgiu a SARS]. As pessoas estão mais abertas, têm mais acesso à informação, há mais pessoas a estudar no ensino superior. E penso que o Governo também tem isso em atenção. Sinto que há um grande nervosismo, e com todo o direito, mas é preciso salientar que é preciso manter a calma. Se cumprirem as regras de higiene e distanciamento social… se a China conseguiu [controlar o surto] Portugal e o resto do mundo também vai conseguir de certeza. Mas vai ser um processo longo. Isto vai mudar a forma como socializamos uns com os outros. Como olha para a actuação das autoridades portuguesas no combate à pandemia? Pelo que li nas notícias lamento a resposta um pouco tardia. Penso que houve uma atitude branda e senti-me triste com isso. A própria população não quis saber, no início. Mas estou convencido que as pessoas estão agora mais cientes do problema, até porque a vizinha Espanha está a sofrer imenso. Um lockdown é um lockdown, é para cumprir a sério. O exemplo tem de vir de cima. Há ainda um grande debate na Europa relativamente ao uso da máscara. Só na Europa é que há esse debate. É uma pena. Os chineses, os médicos e especialistas, todos dizem na televisão metem as mãos à cabeça, questionando-se como é possível. Se não há máscara, não se sai de casa.
Covid-19 | Número de internados subiu mais de 40% e ultrapassou os 1.000 Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] número de pessoas internadas por causa da covid-19 em Portugal ultrapassou hoje a barreira dos 1.000, aumentando mais de 40% relativamente aos dados divulgados na quarta-feira. Segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), 1.042 pessoas estão internadas, o que representa mais 316 relativamente aos dados de quarta-feira (+43,5%). Das 1.042 pessoas internadas, 240 estão em Unidades de Cuidados Intensivos (mais 10, +4,3%). Os dados da DGS indicam que em Portugal há 209 mortes associadas à covid-19 e 9.034 pessoas infectadas. No dia em que assinala um mês desde que o primeiro caso da doença foi detetado em Portugal, o relatório da DGS indica que 68 doentes recuperaram. Desde o dia 1 de Janeiro, registaram-se 66.895 casos suspeitos em Portugal, dos quais 4.958 aguardam resultado das análises. O boletim epidemiológico indica também que há 52.903 casos em que o resultado dos testes foi negativo. Portugal, onde o primeiro caso foi confirmado a 02 de março e que viu hoje renovado até 17 de abril o estado de emergência, está já na terceira e mais grave fase de resposta à doença (Fase de Mitigação), ativada quando há transmissão local, em ambiente fechado, e/ou transmissão comunitária. Detetado em dezembro de 2019, na China, o novo coronavírus já infectou mais de 940 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 47 mil. Dos casos de infecção, cerca de 180.000 são considerados curados.
Covid-19 | China regista dezenas de novos casos diários de infecção vindos do exterior Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] China regista dezenas de novos casos diários de contágio pelo novo coronavírus oriundos do exterior, apesar de ter interditado, no sábado passado, a entrada de estrangeiros no país. Foram detectadas 35 pessoas infectadas com a Covid-19, todas vindas do exterior, nas 24 horas até à meia-noite na China, segundo as autoridades de saúde chinesas. A Comissão Nacional de Saúde do país asiático informou ainda que morreram seis pessoas devido à infeção pelo novo coronavírus, na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia. No mesmo dia foram detectados 20 novos casos suspeitos, também importados. Muitos chineses radicados no exterior estão a voltar ao país, à medida que a doença se alastra pelo resto do mundo, pelo que a China passou a contar com centenas de casos importados. A partir de sábado, o país suspendeu temporariamente a entrada de cidadãos estrangeiros, incluindo quem possui visto ou autorização de residência, como medida de prevenção contra a propagação do novo coronavírus. As autoridades informaram que 170 pacientes receberam alta após superarem a doença e quase 1.900 pessoas que tiveram contacto próximo com os infectados estão sob observação médica. O país asiático soma 1.863 casos ativos, entre os quais 429 continuam em estado grave. A China revelou ainda que detetou 55 novos casos assintomáticos. A Comissão Nacional de Saúde só começou na quarta-feira a divulgar o número de pessoas infectadas, mas que não têm sintomas. A possibilidade de infectados assintomáticos poderem contagiar outras pessoas ainda não é consensual entre especialistas, mas as autoridades de saúde indicaram que eles devem passar por uma quarentena de 14 dias num local designado. O número total de infectados diagnosticados na China, desde o início da pandemia, é de 81.589, entre os quais 3.318 morreram e 76.408 tiveram alta após superarem a doença. Desde o início do surto, em dezembro passado, 710.000 pessoas em contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre os quais mais de 20.000 permanecem sob observação. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 905 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 46 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 176.500 são considerados curados.
Músico Adam Schlesinger morre aos 52 anos vítima de covid-19 Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] músico co-fundador da banda Fountains of Wayne Adam Schlesinger morreu na quarta-feira, aos 52 anos, vítima de complicações relacionadas com a covid-19, confirmou o seu advogado, Josh Grier, à agência Associated Press. Artista por trás de temas como “Stacy’s Mom” e “That Thing You Do” (usada no filme com o mesmo nome protagonizado por Tom Hanks e que lhe valeu uma nomeação para Óscar de melhor canção), Schlesinger foi também compositor para o palco e para o ecrã, com destaque para a série “Crazy Ex-Girlfriend”, com a qual venceu o terceiro Emmy da sua carreira. Nas redes sociais, multiplicaram-se as notas de pesar do mundo artístico, desde Tom Hanks ao escritor Stephen King, passando pelos apresentadores Stephen Colbert e Jimmy Kimmel, pela comediante Kathy Griffin, pelo ator Elijah Wood ou o músico Ted Leo, entre muitos outros. Nascido em 1967, Schlesinger cresceu em Nova Jérsia, tendo formado os Fountains of Wayne em 1995, com um antigo colega de turma, Chris Collingwood. Para além dos três Emmys que venceu, o músico recebeu ainda um Grammy, com David Javerbaum, em 2009, por melhor álbum de comédia, devido às canções para o disco “A Colbert Christmas: The Greatest Gift of All!”, que acompanhava um episódio especial daquele apresentador e humorista, com temas partilhados com Elvis Costello. Schlesinger é mais um artista a morrer vítima do novo coronavírus, que já causou a morte de quase 46 mil pessoas pelo mundo inteiro, desde o seu surgimento em dezembro.
Covid-19 | China exige documentação adicional a exportadores de equipamento médico Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem que vai exigir documentação adicional às empresas do país para lhes permitir exportem equipamento médico, incluindo testes de detecção do novo coronavírus, máscaras, fatos de protecção ou termómetros de infravermelhos. Numa declaração conjunta, o ministério chinês do Comércio e a Administração Geral das Alfândegas e a Administração Nacional de Produtos Médicos informaram que as empresas chinesas que exportam equipamento médico devem fornecer evidências de que os produtos são licenciados pelas autoridades do país e atendem aos padrões de qualidade dos países de destino. As alfândegas chinesas só permitirão a saída de produtos com licença atribuída pelas autoridades da saúde. A mesma nota indica que foi tomada a decisão de “garantir a qualidade e a segurança” dos produtos, para que se “cumpram os requisitos” e os padrões dos países de destino. A medida foi tomada dias depois de Espanha ter informado que testes de deteção rápida para a Covid-19 comprados à empresa chinesa Shenzhen Bioeasy Biotechnology eram defeituosos e que teve de devolve-los. A empresa não estava incluída, segundo Pequim, numa lista de fornecedores autorizados entregues pela China ao Governo espanhol, embora Madrid tenha indicado que a compra foi iniciada antes de receber a referida lista. Também a Holanda disse que mais de 600.000 máscaras importadas da China foram devolvidas depois de as autoridades locais determinarem que não eram adequadas para uso pelos profissionais de saúde. Segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post, apenas 21 das 102 empresas chinesas do sector com aprovação para exportar para a União Europeia possuem licença para vender na China. Fontes do setor citadas pelo jornal afirmam que a nova medida terá um impacto negativo nas empresas que estavam a acumular produtos para exportar para os países mais afetados pela pandemia, uma vez que a obtenção das licenças necessárias geralmente leva entre um e três anos. O presidente da Associação de Diagnóstico In Vitro da China, Song Haibo, disse que muitas empresas com selo de aprovação para exportarem para o mercado europeu “assinaram contratos [com compradores estrangeiros], mas podem agora ser forçadas a quebrar o acordado, o que poderá levar a litígios”. No caso espanhol, a Bioeasy prometeu substituir os testes defeituosos, que foram devolvidos por Madrid, e fazer uma nova entrega com os pedidos pendentes.
Covid-19 | Shenzhen proíbe permanentemente a criação e consumo de animais selvagens Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]U[/dropcap]ma das mais prósperas cidades chinesas, Shenzhen, emitiu hoje a proibição mais abrangente até à data de criação e consumo de animais selvagens, num esforço para evitar um surto futuro do coronavírus. A covid-19 foi detectada pela primeira vez na cidade de Wuhan, centro da China, em dezembro passado, entre pacientes relacionados com um mercado da cidade que vendia animais selvagens, incluindo pangolim e civeta, além de carnes mais convencionais, como frango e peixe. O consumo de animais selvagens é sobretudo popular no sul da China, onde Shenzhen está situado. Situada na fronteira com Hong Kong, Shenzhen tornou-se num centro global para fabrico de componentes eletrónicos e sede das principais firmas tecnológicas do país. Em 2002, o surto da pneumonia atípica, ou SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), foi inicialmente disseminado por pessoas que consumiam ou criavam e vendiam animais selvagens em áreas próximas de Shenzhen. Os regulamentos estipulados pelas autoridades da cidade proíbem permanentemente o comércio e o consumo de animais selvagens, o que vai além da proibição temporária emitida pelo Governo central, em fevereiro passado, após o início do surto. Para além de cobras, lagartos e outros animais selvagens, a diretriz, que cita razões humanitárias, proíbe ainda o consumo de carne de cão e gato, que são há muito tempo especialidades locais. A proibição prevê multas a partir dos 150 mil yuans, valor que aumentou consideravelmente, dependendo da quantidade de animais apreendidos. A medida não restringe a criação de animais selvagens para fins medicinais, que tem sido criticada como cruel e perigosa para a saúde pública, embora o consumo desses animais para alimentação passe a ser proibido.
Manhãs ocupadas Hoje Macau - 2 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap]ito da manhã e o toque para o pequeno-almoço. Às vezes preferia não acordar tão cedo. Mas sabendo que a intenção é comer o repasto quente, não consigo passar sem, pelo menos, abrir a porta, dizer bom dia e agradecer. Já trato o desconhecido simpático pelo nome. E ele a mim. Há duas semanas que me vê acordar, a aparecer-lhe à frente desgrenhada e a andar aos esses de sono. A soltar um bom dia rouco, e a acrescentar no mesmo tom “estou com sono, obrigada e até já”. Dez da manhã, e está na hora da temperatura. Descansada com aqueles 35 e picos, 36, tento voltar ao sono. Apetece-me ver o dia passar mais rápido. Pouco depois, mais três toques para a entrega de um envelope. Era do Hotel. Na carta lia-se: “Agradecemos a sua colaboração nesta quarentena e esperamos ter tornado a sua estadia o mais confortável possível nestas circunstâncias difíceis”. Mais adiante continuava. “Agora que se aproxima o momento da sua saída, o regresso à vida normal e à sua família e amigos queremos demonstrar a nossa gratidão e deixar o convite para uma visita futura”. Este convite vinha fundamentado por dois vouchers de consumo com validade até ao final do ano. Um gesto bonito. Uma validade assustadora. Até Dezembro de 2020. A inconstância do momento alarga o tempo para uma eventual utilização das coisas. Ainda estava eu a reler a carta, principalmente “o momento da sua saída e regresso à vida normal e à sua família e amigos”, e a tentar perceber esse conceito de normalidade que não me parece existir do outro lado do vidro, e sinto passos lá fora. Assinalam-se com o som de quem anda vestido em plásticos ou coisa parecida. Era a equipa médica. Afinal, a dois dias de uma saída, é preciso verificar outra vez. Cotonete acima, menos doloroso, mas também menos simpático. E lá foi a amostra. Preciso de chocolates. Acabaram-se. Não por serem poucos. Mas porque não passo sem eles, principalmente pela noite dentro. Tenho que agradecer devidamente ao Mário. “Tens chocolate?” Perguntei-lhe ontem lá para a meia-noite. “Claro”. “Manda cá para baixo” “Quarto?”. Respondi no mesmo tom de telegrama e minutos depois apareceu-me o segurança, visivelmente risonho com um kit kat de chocolate negro dentro de um saco. Rimos bastante naquela entrega. Hoje ouvi os bons dias da redacção da rádio. Tantas vozes bonitas do outro lado. Obrigada Marta por teres servido de pombo correio entre os beijos de cá para lá e vice-versa. Ontem falei com o João, de quem não sabia nada há anos. Senti-lhe a rebeldia que antes lhe saltava até dos caracóis do cabelo, o humor ácido que queima a realidade. E o carinho. Até amanhã. M.M.