Covid-19 | Sulu Sou critica decisão sobre jardins de infância Salomé Fernandes - 31 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo decidiu que as crianças só podem ir às aulas do jardim de infância quando fizerem três anos. Na sexta-feira, Sulu Sou apelou ao recuo da decisão: “não podemos aceitar a decisão súbita da DSEJ”. O deputado apontou que a flexibilização das fronteiras não é uma decisão “de hoje” e que a orientação dos Serviços de Saúde sobre as máscaras é algo “normal” que as pessoas já conheciam. “Se acham que Macau é seguro e a epidemia estável, temos condições suficientes para recomeçar as aulas a tempo, por isso devem deixar todos os alunos regressa ao jardim de infância”, declarou à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa. O democrata apontou que em Abril a DSEJ suspendeu as aulas com base nos anos de ensino e não na idade dos alunos, e que existem pais preocupados com o impacto pedagógico que pode resultar do começo tardio das aulas. Algo que o deputado considera poder aumentar a carga de trabalho dos professores dos jardins de infância. De acordo com Sulu Sou, alguns pais aceitariam a medida se tivesse sido anunciada mais cedo, o que parece revelar falta de comunicação entre os gabinetes de turismo e a DSEJ. Para além da “decisão súbita”, o deputado está preocupado com a ausência de novas medidas para ajudar os pais e as crianças afectadas.
Educação | Programa de aprendizagem contínua recomeça amanhã Salomé Fernandes - 31 Ago 2020 Arranca amanhã a nova fase do programa de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo. Os moldes são semelhantes às versões anteriores, mas com novas medidas para reforçar a fiscalização e regras para o tipo de cursos abrangidos, com as formações online a ficarem de fora [dropcap]O[/dropcap] subsídio do programa de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo regressa amanhã, com um valor de 6.000 patacas para residentes com mais de 15 anos. A quarta edição do programa, que decorre até 2023, traz mudanças ao nível da fiscalização e do tipo de cursos abrangidos. A informação foi avançada na sexta-feira pelo porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong. “Consideramos que o programa é útil e tem surtido bom efeito, por isso lançámos a quarta fase. Entretanto, verificámos algumas deficiências (…) durante o processo de fiscalização, realizado pelo próprio serviço competente e até pelo relatório do Comissariado da Auditoria. Por isso, todo o sistema de fiscalização será aperfeiçoado”, revelou Cheong. A partir de amanhã, as instituições podem pedir para participar na quarta fase do programa, e as residentes podem inscrever-se quando os cursos forem aprovados. O programa inclui cursos do ensino superior e de educação contínua, e exames de credenciação organizados por instituições locais e do exterior, que comecem entre amanhã e o dia 31 de Agosto de 2023. Sobre os casos de falsa frequência de aulas, André Cheong disse que espera erradicar irregularidades “através da optimização dos regimes e sistemas de marcação de presença”. A marcação das presenças vai ser feita com um toque do bilhete de identidade de residente numa máquina, disponibilizada pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) às instituições durante o tempo em que tiverem cursos. Entre 2011 e 2019 o Governo lançou três fases do programa, com um total de 1.1 milhões de participações e custo superior a 2,1 mil milhões de patacas. Para a fase que arranca agora, o orçamento é de 800 milhões de patacas. Separar a nata do leite O subsídio não se aplica aos cursos com ensino ministrados “principalmente de forma não presencial” e aos exames de credenciação realizados à distância. “Teremos uma lista dos cursos ou exames de credenciação promovidos por entidades fora de Macau reconhecidas pela DSEJ, e assim se as pessoas se inscreverem para esses itens podem também aproveitar o nosso programa”, explicou Lou Pak Sang, director da DSEJ. Para além das instalações e equipamentos, vão ser tidos em conta factores como as qualificações dos formadores, conteúdos e níveis de cursos e exames, bem como o desempenho das instituições requerentes no passado. Lou Pak Sang frisou que “os requisitos para a adesão ao programa estão mais exigentes”. O responsável deu como exemplo o canto, que não será aceite. O regime sancionatório mantém multas entre as cinco mil e as 50 mil patacas, dependendo da gravidade das infracções. Wong Chi Iong, chefe da Divisão de Extensão Educativa da DSEJ, explicou que o montante mais baixo se aplica a casos em que, por exemplo, a instituição integre dois cursos num só. Em situações como falsificação de dados, para além de a situação ser encaminhada às entidades responsáveis, também serão aplicadas multas, cujo valor subiu e pode chegar às 50 mil patacas. André Cheong frisou que o objectivo não é “apenas agravar as multas”, mas antes criar “um regime mais aperfeiçoado”.
Japão | Renúncia do primeiro-ministro não deve afectar relacionamento com Pequim Hoje Macau - 31 Ago 2020 O primeiro-ministro japonês, no cargo desde 2012, anunciou a renúncia por motivos de saúde, devido a uma doença inflamatória intestinal que já o tinha forçado a deixar o poder em 2007. Apesar da incerteza quanto ao sucessor de Shinzo Abe, a posição de equilíbrio entre o maior aliado, os Estados Unidos e o maior parceiro comercial, a China, será para manter no próximo Governo [dropcap]”D[/dropcap]ecidi renunciar ao cargo de primeiro-ministro”, disse Shinzo Abe em conferência de imprensa na sexta-feira, explicando que sofreu uma recaída da sua doença crónica, colite ulcerosa. A intenção, que já tinha sido avançada por órgãos de comunicação social nipónicos, foi confirmada depois de uma reunião com altos responsáveis na sede do partido. “As minhas condições de saúde não são perfeitas. Uma saúde fraca pode resultar em decisões políticas erróneas”, disse Abe, sublinhando que, “em política, o mais importante é gerar resultados”. Questionado pelos jornalistas, o primeiro-ministro japonês que reteve o poder durante mais tempo escusou-se avançar nomes de um eventual sucessor, mas afirmou que irá manter o cargo até ser encontrado o próximo líder do Governo. Para já, o núcleo de aspirantes é composto por dirigentes de peso, como o ex-secretário geral do Partido Liberal Democrático (PLD) e ex-ministro da Defesa, Shingeru Ishiba, de 63 anos, favorito nas sondagens entre os potenciais sucessores, embora menos popular dentro do partido no poder. A lista inclui ainda o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e chefe político do PLD, Fumio Kishida, de 63 anos, o chefe de gabinete, Yoshihide Suga, de 71 anos e o ministro da Defesa e ex-titular dos Negócios Estrangeiros, Taro Kono, de 56 anos. A maioria dos potenciais sucessores têm um historial de lealdade a Abe, com a complicada excepção de Ishiba. O ex-ministro da Defesa foi dos poucos políticos do PLD que abertamente criticou o Governo. Um dos sinais do posicionamento político de Shingeru Ishiba foi a recusa em visitar um templo (Yasukuni) dedicado aos combatentes japoneses mortos, incluindo alguns condenados por crimes de guerra, considerado no estrangeiro como um símbolo negro do passado militar japonês. O especialista em assuntos japoneses da Universidade de Tsinghua, Liu Jiangyong, encara esta posição como um sinal positivo numa possível relação futura entre Tóquio e Pequim. “Isto pode significar que Ishiba será mais amigável para com a China, e menos extremista na reforma constitucional”, comentou o académico, citado pelo South China Morning Post. A virtude do meio Apesar de recentemente a relação entre China e Japão ter sido abalada por algumas controvérsias, como troca de galhardetes motivada pela pandemia de covid-19, a lei da segurança nacional em Hong Kong e as velhas disputas marítimas, a mudança de elenco governativo em Tóquio não é encarada por analistas como passível de alterar a dinâmica diplomática entre os países. Assim sendo, o próximo primeiro-ministro deverá continuar a linha de Shinzo Abe na abordagem à China, equilibrando os laços económicos entre o maior parceiro comercial e o aliado estratégico norte-americano. “Manter a aliança com os Estados Unidos ao mesmo tempo que dá continuidade às relações com a China, vão continuar a ser as prioridades do Japão, isso não vai mudar”, projecta o académico japonês, Michito Tsuruoka, citado pelo South China Morning Post. O professor da Universidade de Keio em Tóquio, faz, porém, a ressalva de que esta posição pode ser colocada em causa se a posição de Washington endurecer face à China. “Se Donald Trump for reeleito e continuar as políticas agressivas contra a China, as relações sino-japonesas podem sair afectadas”, comenta o académico, acrescentando que a eleição do democrata Joe Biden pode levar a uma abordagem “menos extrema” a Pequim. O Governo de Abe tentou sempre evitar posições de conflito com a China, “uma política que privilegia abordagens realistas e pragmáticas”, considera o especialista em relações internacionais da Universidade de Renmin, Huang Dahui, citado pelo South China Morning Post. Quebrar o gelo China e Japão têm uma história repleta de conflito e tensão. Recentemente, Shinzo Abe e Xi Jinping suavizaram diplomaticamente a relação, como ficou demonstrado na visita a Tóquio do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Maio de 2018 e a ida de Abe a Pequim no ano seguinte. Os porta-vozes do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying e Zhao Lijian, demonstraram apreço pelos esforços de Abe para melhorar as relações entre o Japão e a China e desejaram as melhoras ao primeiro-ministro demissionário. Analistas citados pelo jornal oficial chinês Global Times destaca o contributo de Shinzo Abe, durante os dois mandatos, para a construção de uma relação estável e recíproca entre os dos países, apesar de o ponto de partida ter sido o mais baixo em termos de relações bilaterais. Em relação ao futuro, Zhao Lijian refere que “a China está disposta a trabalhar com o Japão para aprofundar a cooperação no controlo da pandemia e no desenvolvimento das relações económicas e sociais entre os dois países”. O Global Times destaca também que, “no início do primeiro mandato, Shinzo Abe decidiu visitar primeiro a China, em vez dos Estados Unidos, construindo uma imagem de não-hostilidade para com a China”. A jornal cita mesmo analistas que categorizam Abe como o “bombeiro” que apagou o fogo diplomático entre os dois gigantes asiáticos. Processo complicado A rápida sucessão de poder é a prioridade política do momento no Japão. Os dirigentes do PLD tiveram logo uma primeira reunião de emergência, horas depois de confirmado o desejo de Abe resignar ao cargo, para preparar o cenário, tendo ficado o secretário-geral do partido, Toshihiro Nikai, encarregado de delinear todo o processo. “Se houvesse tempo suficiente, os votos dos membros do partido deveriam ser considerados, mas queremos ouvir as opiniões e julgar o que se vai fazer”, afirmou Nikai, em declarações aos jornalistas, depois da primeira reunião de emergência. Num processo normal, o líder do PLD elege uma assembleia que integra os legisladores do partido, dirigentes territoriais e representantes dos militantes que se reúnem a cada três anos para nomear o dirigente máximo desse grupo político. No entanto, em casos como o actual, existe um processo que por razões de urgência implica seleccionar o candidato a primeiro-ministro entre os legisladores do partido e representantes das 47 prefeituras do país. A primeira opção, ainda que mais lenta em procedimentos, é mais ampla quanto aos apoios políticos necessários, contrariamente à segunda opção, em que os legisladores têm mais peso, tendo sido este o sistema escolhido em 2007 para designar o sucessor de Abe quando este renunciou ao cargo um ano depois devido a uma doença inflamatória intestinal. As propostas para eleger o próximo primeiro-ministro serão amanhã levadas a uma reunião do conselho geral do partido, momento em que se estima será escolhido o dia das eleições para o novo líder, apontado para meados de Setembro, e como a eleição será feita. Legado e família Shinzo Abe ficou conhecido no estrangeiro sobretudo devido à sua política económica apelidada de “Abenomics”, lançada no final de 2012, que combinava flexibilização da política monetária, grande estímulo fiscal e reformas estruturais. No entanto, na ausência de reformas realmente ambiciosas, este programa teve apenas sucessos parciais e que agora foram ofuscados pela crise económica ligada à pandemia do novo coronavírus. Segundo Masamichi Adachi, economista do banco UBS, entrevistado pela agência de notícias AFP, Shinzo Abe agiu como “um populista” e não impôs as reformas económicas, necessariamente “dolorosas”, o que será uma das principais razões da sua longevidade no poder. A grande ambição de Abe, herdeiro de uma grande família de políticos conservadores, era rever a constituição pacifista japonesa de 1947, escrita pelos ocupantes norte-americanos e desde então nunca alterada. Tendo construído parte de sua reputação com base na firmeza em relação à Coreia do Norte, Abe queria a existência de um exército nacional no lugar das actuais “forças de autodefesa” japonesas, mas a Constituição estipula que o Japão deveria renunciar à guerra para sempre. Também defendeu um Japão descomplexado de seu passado, recusando-se em particular a carregar o fardo do arrependimento pelos actos do exército japonês na China e na península coreana na primeira metade do século XX. No entanto, Abe absteve-se de ir ao santuário Yasukuni em Tóquio, um foco de nacionalismo japonês, após a sua última visita ao local no final de 2013, que indignou Pequim, Seul e Washington. As relações entre Tóquio e Seul deterioraram-se claramente nos últimos dois anos, tendo como pano de fundo disputas históricas, enquanto as relações com Pequim aqueceram, embora continuem tortuosas. Em relação aos Estados Unidos, Abe adaptou-se a cada mudança de Presidente, demonstrando nos últimos anos a sua cumplicidade com Donald Trump, com quem compartilha a paixão pelo golfe. Uma estratégia com resultados mistos e complicada pelo lado imprevisível do Presidente norte-americano. Shinzo Abe teve também o cuidado de não ofender o Presidente russo, Vladimir Putin, na esperança de resolver a disputa pelas Ilhas Curilas do Sul (chamadas de “Territórios do Norte” pelos japoneses), anexadas pela União Soviética ao fim da Segunda Guerra Mundial e nunca mais devolvidas ao Japão. Também tentou brilhar no cenário internacional, por exemplo, assumindo o papel de mediador entre o Irão e os Estados Unidos ou sendo o apóstolo do livre comércio. Regularmente salpicado por escândalos que afectam os seus familiares, Abe costuma aproveitar eventos externos – os disparos de mísseis norte-coreanos ou desastres naturais – para distrair a atenção e colocar-se como o chefe necessário na adversidade. Shinzo Abe soube aproveitar-se da ausência de um rival à sua altura no PLD e da fragilidade da oposição, que ainda não recuperou da desastrosa passagem pelo poder entre 2009 e 2012. A sua popularidade, entretanto, diminuiu acentuadamente desde o início da pandemia do novo coronavírus, pois a sua acção foi considerada muito lenta e confusa. Também se apegou à esperança de manter as Olimpíadas de Tóquio no Verão de 2020, que seria um dos pontos altos de sua gestão, mas a realização do evento foi adiada por um ano devido à pandemia de covid-19.
Ministro do Petróleo diz que política em Timor-leste colocou “a carroça à frente dos bois” Hoje Macau - 30 Ago 2020 [dropcap]T[/dropcap]imor-Leste meteu “a carroça à frente dos bois” na estratégia para o sector petrolífero, com a política à frente das questões técnicas e de viabilidade económica, algo que tem agora de ser revertido, disse o ministro da tutela. “Temos primeiro de ouvir dos técnicos, ver o resultado da análise de viabilidade económica. Vamos aguardar por esse parecer. O Estado timorense comprometeu-se com povo com a ideia de que o gasoduto tem de vir para Timor-Leste. Se não for no Tasi Mane [costa sul] pode ser no Tasi Feto [costa norte]”, disse Victor Soares, ministro do Petróleo e Assuntos Minerais em entrevista à Lusa. “Mas, se não for viável não vamos perder dinheiro. Esse é o princípio do negócio. Isso é que vamos defender. O que ocorreu até aqui, foi colocar a carroça à frente dos bois: os políticos decidiram e os técnicos foram atrás dos políticos. Temos de reverter isso”, afirmou. No cargo há apenas dois meses e no intuito de imprimir esse novo cunho, Soares já levou a cabo uma ampla reestruturação na liderança das várias instituições que actuam no sector do petróleo, com mudanças no comando da petrolífera, a Timor Gap, da Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais (ANPM) e do Instituto de Petróleo e Geologia (IPG). As equipas cessantes estiveram envolvidas no que foram, até agora, os passos mais amplos dados por Timor-Leste neste sector, incluindo a delimitação das fronteiras permanentes com a Austrália, o projecto de desenvolvimento da costa sul para o setor petrolífero e os poços do Greater Sunrrise, onde a Timor Gap comprou uma participação maioritária por 650 milhões de dólares. Todos trabalharam de perto com o líder timorense Xanana Gusmão, o principal arquitecto da política para o sector – incluindo o projecto Tasi Mane de desenvolvimento da costa sul e do gasoduto dos poços de Greater Sunrise para Timor-Leste. “Vi o desenvolvimento deste sector ao longo do tempo e considerei que era essencial fazer mudanças. Temos de fazer mudanças de forma estruturante, para responder às expectativas da população”, afirmou. “Este sistema foi montado há mais de 10 anos, mas não vejo que as coisas funcionem de acordo com as políticas decididas e sinto que é necessário fazer alterações tendo em vista uma nova estratégia”, afirmou. Soares é claro sobre o investimento no consórcio do Greater Sunrise: “Penso que foi um grande erro que o Governo fez”, disse. “Não deveria ter sido feito. Pagou para uma coisa que não é nada. Isso foi um erro. Não foi baseado na análise técnica da empresa ou dos técnicos. Foi uma decisão meramente política. Logo nas primeiras reuniões que tive com direcção da Timor Gap, da ANMP e do IPG, confirmamos que o projecto não foi feito com base num estudo de viabilidade”, explicou. Victor Soares sublinha a importância do sector petrolífero para o país: “É fundamental e vital para o progresso de desenvolvimento de Timor-Leste”. Questionado sobre os cenários técnicos e até económicos apresentados por Xanana Gusmão ao longo do tempo, o ministro considera que sempre assentaram “mais em questões políticas que técnicas”, não dando informações certas sobre as análises de viabilidade. Victor Soares disse ainda que o Governo está a debater solicitar uma auditoria externa a “todo o projecto” para ver o que foi feito, como foi feito, o que está certo ou não. Victor Soares é um dos elementos no Governo da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), o maior partido do país, que se juntou ao actual Executivo para o viabilizar no que resta de mandato, que termina a 2023. O partido votou contra o tratado de fronteiras marítimas e o projecto do Greater Sunrise e contestou a compra da participação maioritária pela Timor Gap. Publicamente, o partido não contesta a decisão de trazer para Timor-Leste um gasoduto do Greater Sunrise – talvez o assunto mais complexo e polémico de todo o projecto, que tem dividido timorenses e australianos e sido contestado pelas petrolíferas internacionais. Em privado, porém, dirigentes do partido questionam não só a viabilidade do gasoduto, mas até a localização da unidade de gás natural liquefeito a criar, admitindo a sua transferência da costa sul, como prevê o actual projecto, para a costa norte. Com a questão do gasoduto a ser politicamente colada ao tema da soberania nacional – posição vincada por Xanana Gusmão e defendida na política do actual Governo – o partido admite que apresentar uma versão contrária poderia ter um custo político ou eleitoral. Questionado pela Lusa sobre o facto de a Fretilin não admitir publicamente as suas reservas sobre o assunto, Victor Soares refere-se à “euforia” da população. “Esta política tem vindo a ser desenvolvida, e os timorenses ouviram e expressaram que a fronteira marítima devia ser definida e o gasoduto ou oleoduto devia vir para Timor-Leste. Isto foi consumo público e toda a gente está com esta euforia de ter esta soberania e a nossa riqueza, mesmo a qualquer custo”, disse. “As pessoas mais formadas que conhecem a área e que têm acesso às informações específicas sabem que não é totalmente viável. Mas como a política já foi decidida, temos de ter cuidado com o partido. O nosso eleitorado não são todos políticos, não têm conhecimento de nível alto. Vamos ter esse cuidado”, admitiu. Independentemente disso, insiste, o importante é que os técnicos da Timor Gap e da ANMP concluam “uma análise de viabilidade económica de todo o projecto”, tendo em conta vários cenários para o preço do crude e os novos “parâmetros” no quadro do impacto da covid-19. “Temos de tomar uma decisão dependendo do estudo de viabilidade económica”, disse. “Mas estamos a pensar agora fazer um ajustamento, definir uma nova estratégica. Deixemos os técnicos do Timor Gap, os parceiros do consórcio e outras partes envolvidas no projeto, que vejam se é viável ou não, se é lucrativo ou não. E depois disso apoiaremos a escolha”, referiu. O Governo, explicou, partiu dessa base de que o gasoduto tem que vir para a costa sul do país, porém, sublinha Soares, essa opção terá necessariamente impacto naquela que é uma das principais zonas de agricultura do país, sector de que vive a ampla maioria da população. Motivo pelo qual, disse, a política tem que também ter em conta um adequado plano territorial que analise as melhores localizações possíveis. Empresa estatal na calha O Governo timorense quer criar uma empresa estatal, equivalente à petrolífera Timor Gap, para os minerais, e uma autoridade específica que permita regulamentar adequadamente o sector, adiantou também o ministro da tutela. “Tem de haver uma empresa estatal, como a Timor Gap. Vai haver discussão do código mineiro na especialidade e com certeza vai passar. Mas depois temos que elaborar os regulamentos e estabelecer uma autoridade específica para o sector dos minérios”, referiu. Actualmente a responsabilidade regulatória recai na Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais (ANPM) que, segundo Victor Soares, vai ser dividida em duas, para que a nova entidade “possa fazer regulamento mais específicos para toda as actividades mineiras”. O governante garante que “várias empresas locais e internacionais expressaram intenção de investir nessa área” e que, para isso, há que terminar toda a regulamentação necessária. No cargo há apenas dois meses e no intuito de imprimir esse novo cunho, Soares já levou a cabo uma ampla reestruturação na liderança das várias instituições que actuam no sector do petróleo, com mudanças no comando da petrolífera, a Timor Gap, da Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais (ANPM) e do Instituto de Petróleo e Geologia (IPG). Um dos elementos centrais do trabalho no sector é o futuro Código Mineiro, aprovado no final de Julho na generalidade no Parlamento e que vai agora ser analisado na especialidade, eventualmente com o apoio de técnicos especializados. Em preparação há vários anos, o código suscitou amplas diferenças de opinião entre partidos, interpretações sobre como o sector deve ser gerido, questões sobre licenças ambientais e até sobre a criação ou não de uma empresa pública para o sector. Uma primeira proposta apresentada ao Parlamento caducou, dado o fim da legislatura – Timor-Leste teve eleições legislativas em 2017 e antecipadas em 2018, tendo a versão aprovada na generalidade sido apresentada em julho de 2019, assinada por deputados do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), do Partido Libertação Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) – que integravam a anterior coligação do Governo – e ainda do Partido Democrático (PD). No sector, um dos projectos que se arrasta há vários anos é o da unidade de produção de cimento em Baucau, o TL Cement, onde têm havido avanços e recuos e onde se está prestes a esgotar o prazo da valência de um ‘depósito’ de 50 milhões de dólares, pelo Governo, como parceiro no projecto. Victor Soares explica que têm havido contactos com a empresa, mas que depois dos fundos já investidos pelo Governo é preciso que a empresa “contribua com o seu capital”. Igualmente em curso continua o projecto, no sector do petróleo ‘onshore’, da empresa Timor Resources, na zona sul do país. “Estivemos com os representantes timorenses, fizemos uma vídeo-conferência com a CEO [directora executiva] e o diálogo foi muito positivo. Estão interessados em continuar a investir e pediram o apoio político, da ANMP e Timor Gap para que possam continuar”, referiu. Em termos gerais, Victor Soares sustenta que Timor-Leste está “bem”, com um Governo “em pleno funcionamento e um parlamento com ampla maioria” e que a viabilidade está garantida. “Os investidores e os nossos parceiros não devem ter anseios e dúvidas e desconfianças porque Timor está bem e vamos trabalhar até ao fim do nosso mandato. Sempre encorajo todos a que devem confiar neste Governo”, disse. “Devem acreditar que Timor está no rumo certo” afirmou.
Covid-19 | China regista mais nove casos e está há 14 dias sem detectar contágios locais Hoje Macau - 30 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] China registou nove casos importados nas últimas 24 horas, mas está há 14 dias consecutivos sem detetar qualquer contágio local com o novo coronavírus, informou hoje a Comissão Nacional de Saúde. Os nove casos “importados” foram detectados em Xangai (3) e nas províncias de Fujian (2), Sichuan (2), Tianjin (1) e Guangdong (1). As autoridades de saúde indicaram que mais 27 pacientes tiveram alta, com o número total de infectados activos na China continental a fixar-se nos 244, quatro dos quais em estado grave. A Comissão Nacional de Saúde não anunciou novas mortes por covid-19, mantendo-se o total de óbitos nos 4.634, entre os 85.031 infetados desde o início da pandemia. Mais de 80 mil pessoas foram dadas como recuperadas. A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 838 mil mortos e infetou quase 24,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Exposição | Artistas locais apresentam instalações e mímica na Torre de Macau Pedro Arede - 30 Ago 2020 Mel Cheong e Nada Chan são as responsáveis pelo projecto Curioser & Curioser, inspirado na obra “Alice no País das Maravilhas”. Numa confluência entre instalações artísticas e performances de mímica, o objectivo é levar a audiência a interagir, nem que seja parando um pouco para “olhar para o céu” [dropcap]A[/dropcap] minha ideia é que, tal como a Alice, as pessoas queiram explorar mais e também explorar-se a si próprias, de forma a saber o que querem. Se não pararmos um pouco para pensar sobre isso, nunca saberemos”. As palavras são de Mel Cheong, artista local responsável pelas instalações do projecto Curioser & Curioser, inspirado na obra literária “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, patente na Torre de Macau entre 12 de Setembro e 10 de Outubro. O evento, organizado pela Rota Artes Associação, pretende levar os visitantes, crianças ou adultos, a interagir com as obras expostas e a sair da rotina. “A minha ideia inicial era criar um género de festival dedicado às crianças e à forma como podem perseguir os seus sonhos e manter uma mente curiosa à medida que crescem. Ao mesmo tempo é também para adultos, porque queremos que saibam que podem continuar a perseguir os seus sonhos. Para fazer isso, começámos a pensar que simplesmente expor as instalações, não seria suficiente porque queremos que as pessoas interajam mais”, partilhou Mel. Daí nasceu a colaboração com Nada Chan, artista responsável pelas performances de mímica que vão acontecer no mesmo espaço. “Por um lado, não queria um ambiente de museu totalmente em silêncio, queria ter algo a acontecer, mas não o caos instalado. Por isso, pedi à Nada para pensar numa performance, tendo em conta a minha instalação artística”, explica Mel Cheong. Para a artista, Macau é uma cidade onde “faz falta tempo para pensar” e a ligação “visceral” com os casinos leva a que muitos embarquem numa rotina de trabalho frenética, onde o pouco tempo disponível acaba por ser usado para usufruir de “experiências luxuosas”, em detrimento de “enriquecimento interior”. “As pessoas estão tão absortas no seu dia-a-dia e, a dada altura, também eu tive de decidir se ia trabalhar ou não num casino. Temos de encorajar os residentes que cá trabalham a não pensar só em casinos e a estar disponíveis para outras coisas. As pessoas querem desfrutar de experiências luxuosas, mas não estão realmente focadas no lado humano. Por exemplo, ler um livro também é um luxo, mas é algo que não acontece porque a rotina diária não o permite”, conta Mel. Por isso, a exposição inclui uma instalação que recria um mar de nuvens que convida os visitantes a “tirar um tempo para pensar, ter uma conversa pessoal e pôr em palavras qualquer coisa que lhes ocorra”, enquanto desfrutam de um conjunto de nuvens espelhadas por cima das suas cabeças. “Tenho medo que as pessoas se sentem na exposição e fiquem a olhar para os telemóveis e, por isso, vamos espalhar notas com dicas para agirem e explorarem o espaço”, confessou Mel. Falar com o corpo Responsável pela performance de mímica, Nada Chan dá também corpo à ideia de explorar estímulos fora da rotina, desta vez através de movimentos, formas e cores materializadas por actores. “A história da performance baseia-se em pessoas que fazem sempre o mesmo (…) e se focam, de tal forma no seu mundo, que acabam por se tornar monstros. Depois de repetirem sempre o mesmo, um deles descobre que há algo no céu (…) que podem simplesmente admirar e interiorizar com a mente”, explica Nada Chan, que é também presidente da Rota Artes Associação. Sobre o panorama artístico do território, Nada Chan considera que “Macau precisa de diferentes tipos de arte”, em vez de sítios onde as pessoas “chegam, sentam, assistem ao espectáculo e vão embora”. “Acho que esta geração precisa de novos estímulos, pois contacta com muita informação digital, que é unidimensional (…) ao contrário de estímulos reais que obrigam as pessoas a interagir”, acrescentou.
Memória | Pastelaria tradicional continua a fazer história apesar da pandemia Pedro Arede e Nunu Wu - 30 Ago 2020 A receita tem décadas e, noutros tempos, os biscoitos só podiam ser comprados aos vendilhões. Fundada em 1957, a Pastelaria Chui Heong faz parte da moldura da Rua do Gamboa, no Porto Interior. Sem filas de turistas devido à pandemia, o espaço continua a subsistir e a reinventar-se. Com 83 anos, a vida da Senhora Lai, fundadora da casa, cruza-se com a história de Macau [dropcap]A[/dropcap] textura é seca como o baque que se ouve ao entrar. Madeira contra madeira. Sobre o balcão de ferro, pirâmides de areia doce à espera de ser desmoronadas. O método é o mesmo há anos. Primeiro entram as amêndoas. Depois, a areia conquista o resto do espaço dentro dos moldes, que mais parecem barquinhos de três lugares. A espátula trata de acondicionar a mistura. O excesso é retirado ao ritmo das batidas bambas de uma baqueta preta, que serve também para garantir a consistência. O processo repete-se por mais pares de mãos. Aos três de cada vez, os protótipos de biscoitos são meticulosamente plantados numa rede que se prepara para dançar em vários fogareiros de carvão que, lentamente, e à vez, tratam de conferir aos biscoitos a sua cor e textura final. Está sempre calor neste estaleiro. Ventoinhas forram as paredes e, ao entrar, é impossível não reparar no pequeno altar desordenado e encrustado entre o espelho, tabuletas de preços, umas chaleiras e a entrada para a cozinha, que serve apenas para dar alguma privacidade a quem lá trabalha. Apesar de apertado, nos dias que correm, dá para circular com algum à vontade dentro da Pastelaria Chui Heong e isso é estranho. Bastaria recuar ao início de Janeiro para observar o rebuliço e as filas de turistas que se alongavam ao passeio da Rua do Gamboa, no Porto Interior, à espera da sua vez para usar os dois metros quadrados de área útil no interior da loja, para fazer os pedidos. Na altura, tal era a procura, que os pasteleiros não tinham mãos a medir e seria normal os biscoitos de amêndoa saírem quentes directamente da feitura para as mãos dos compradores. Chegou a covid-19 e passou a ser normal servir biscoitos já frios. As filas desapareceram com a procura, e foram fixados turnos definidos para o fabrico das diferentes especialidades. A fundadora do espaço é Lai Oi Chan, uma mulher de fibra, com 83 anos de idade, que viu Macau com vários olhos. Apesar de já não ter intervenção directa na gestão da pastelaria e estar já reformada, continua a dar ordens sempre que lá passa. Foi sentada debaixo do pequeno altar vermelho em honra do Imperador de Jade, que recordou como eram os dias em que começou a vender biscoitos, mesmo antes da loja na Rua do Gamboa ser uma realidade. Teria pouco mais de 20 anos quando a rotina diária era vender as várias especialidades produzidas pelo marido, a vendedores ambulantes de café, espalhados por Macau. A fome existia e era preciso fazer escolhas. Todos os dias, bem cedo pela manhã, Lai colocava uma vara ao ombro, com largos bidons de ferro, tipo jerrican, fixados nas extremidades, onde transportava biscoitos, de vendilhão em vendilhão. Às costas, era normal o seu primeiro filho, ainda bebé, fazer-lhe companhia durante as vendas. O peso era aliviado aos 8 e 9 centavos por biscoito, cada vez que fazia negócio. Os vendedores de café, por sua vez, davam o produto aos clientes em troca de 10 centavos. “Todos os dias caminhava a pé com o meu bebé às costas. Um dia, ia para perto da rua de São Lourenço, noutro para o bairro de San Kio ou, às vezes, para a zona da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida. Mais tarde, já crescidos, os meus filhos passaram a cuidar dos irmãos mais novos e era menos um peso para mim. No entanto, naquela altura não era fácil ganhar o suficiente para comer uma refeição. Preferia não almoçar ou jantar para que os meus filhos pudessem ter uma boa refeição”, conta ao HM. A matriarca da casa Chui Heong recorda os anos 50 do século passado, com muita gente a mendigar nas ruas. “Antigamente, a vida era muito difícil em Macau e a cidade bastante pobre. Nas ruas, era possível ver pessoas agachadas a pedir esmola, pois não tinham nem comida, nem casa”, lembra Lai. “Hoje em dia, Macau está melhor e eu sou feliz por termos trabalho e refeições para comer”, acrescentou. Quem está, está! Os pasteleiros são os únicos que continuam de pé. Mais uma cesta de biscoitos é colocada a arrefecer depois de passados pelo carvão. O calor não dá sinais de abrandar, enquanto os restantes funcionários continuam à espera que alguém passe a porta. Outros aproveitam para almoçar. A calma é interrompida quando um casal decide entrar. Chegaram de mota. À saída, um saco em cada mão, cheios de caixas de biscoitos. Chao é um cliente habitual que conhece a Pastelaria Chui Heong desde que se lembra. “Os biscoitos são deliciosos e o aroma tradicional. Já quando era criança havia filas. Moro nas Portas do Cerco e, nos últimos anos, tenho comprado sobretudo para levar aos meus amigos do Interior da China”, disse. Confrontado com a realidade actual, onde os clientes que entram a cada hora se contam pelos dedos das mãos, admite que aquela rua está agora irreconhecível, mas que, por isso, tem aproveitado para lá voltar mais vezes. “Normalmente são os turistas que costumam ficar na fila, apesar de haver sempre clientes locais. É uma loja com bastante fama que fica numa zona comunitária, por isso muitos moradores acabam por vir comprar. Eu, como não quero ficar na fila, só entro quando passo de mota e não vejo que não tenho de esperar, como agora”, sublinha. Casamentos e receitas O discurso dá a volta e a tempos repete-se, mas termina normalmente com um sorriso no final de cada frase. Ao todo, são cinco os filhos de Lai Oi Chan, todos nascidos em Macau, após ter vindo com o marido da sua terra natal, Shiqi, na cidade de Zhongshan, província de Guangdong. Com 18 anos casou-se numa união combinada entre os seus pais e os pais do futuro marido, Lei Kai Ioc. Naquela altura, recorda Lai, “ainda se transportava a noiva numa cadeira vermelha até junto do noivo, levada em braços por quatro pessoas”. Pouco tempo depois de casarem, trataram dos vistos para vir para Macau, onde se fixaram num pequeno apartamento situado na Rua da Prainha. No mesmo edifício alugaram um pequeno espaço para começar a produzir os biscoitos que viriam, mais tarde, a ganhar fama. Estávamos em 1957 e a pastelaria Chui Heong era oficialmente fundada pelo casal. Para manter o sustento do lar, o marido trabalhava todos os dias até à meia-noite no fabrico das especialidades antes de Lai sair de manhã para fazer negócio. “Erámos poupados porque precisávamos de garantir o nosso sustento. O meu marido dedicou-se durante vários anos a melhorar a receita e os métodos de produção dos biscoitos. Ao longo do tempo foi investigando como podia melhorar o que fazia e descobriu que, se os biscoitos fossem bonitos, havia mais pessoas a comprá-los”, conta Lai. E assim foi. As receitas produziram biscoitos cuja qualidade passou de boca em boca, não tardando a fazer parte da compra assídua de moradores, vizinhos, familiares e conhecidos. O negócio vingou e, depois de uma passagem prévia pela Rua do Barão, com o apoio de familiares, surgiu a oportunidade, já nos anos 80, de comprar outro espaço na Rua do Gamboa, onde, até hoje, mora a Pastelaria Chui Heong. Sem segredos A Pastelaria Chui Heong emprega, no total, 12 funcionários. Na ausência do marido, entretanto falecido, quem assume as rédeas do espaço é Lei Chi Iong, um dos filhos. Questionado sobre qual o segredo para continuar a encher as medidas dos clientes, sejam turistas ou locais, Lei diz não haver nada a esconder e que apenas é privilegiada a utilização de matérias primas de qualidade. “Não temos qualquer segredo, apenas fazemos questão de utilizar ingredientes bons para alcançar o melhor sabor possível. Para o fabrico utilizamos ingredientes simples como ovos, açúcar, pasta de amendoim, óleo e farinha de feijão mungo”, explica o filho de Lai Oi Chan. Da oferta disponível, a bolacha de amêndoa é a mais popular, mas também há noz, com gema de ovo e carne de porco. Quanto ao impacto provocado pela covid-19, Lei Chi Iong não tem dúvidas que o negócio “está muito pior”, sobretudo pela falta de turistas oriundos do Interior da China e de Hong Kong. Por outro lado, revela que a pandemia tem levado o negócio a tirar partido das novas tecnologias para continuar a vender. “Antes da pandemia vendíamos mais de 400 caixas de biscoitos por dia, e agora vendemos apenas algumas dezenas, ou seja, passámos de uma facturação diária situada entre as 20 e as 30 mil patacas, para receitas de 1.000 ou 2.000 patacas. Graças à pandemia tivemos de recorrer a ferramentas como o Facebook e o WeChat para fazer negócio online”. Apesar das dificuldades, Lei, ao leme do negócio desde que abandonou o emprego num casino, garante que, para já, “não tem planos para despedir funcionários” ou “reduzir horários”. Com o equilíbrio de um optimismo racional, espera que a situação melhore ainda este ano, quando os turistas do interior da China começarem a aparecer no estabelecimento em maior número. Quanto ao negócio, Lei admite a evoluir os processos “já bem diferentes do modelo conservador do passado”. “Vou continuar a mudar”, remata. O produto, esse, vai continuar a ser o melhor, garante.
Primeiro-ministro japonês resigna por motivos de saúde Hoje Macau - 28 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro japonês, no cargo desde 2012, anunciou hoje a sua renúncia por motivos de saúde, após ter sido acometido por uma doença inflamatória intestinal que já o tinha forçado a deixar o poder em 2007. “Decidi renunciar ao cargo de primeiro-ministro”, disse Shinzo Abe em conferência de imprensa, explicando que sofreu uma recaída da sua doença crónica, colite ulcerosa. A intenção, que já tinha sido avançada por órgãos de comunicação social nipónicos, foi confirmada depois de uma reunião com altos responsáveis na sede do partido. “As minhas condições de saúde não são perfeitas. Uma saúde fraca pode resultar em decisões políticas erróneas”, disse Abe, sublinhando que, “em política, o mais importante é gerar resultados”. Questionado pelos jornalistas, Abe escusou-se a avançar nomes de um eventual sucessor. Shinzo Abe, cujo mandato termina em Setembro de 2021, deverá permanecer até que um novo líder do partido no poder, o Partido Liberal Democrático, seja eleito e o seu nome formalmente aprovado como primeiro-ministro pela câmara baixa do parlamento. As preocupações sobre o problema crónico de saúde de Abe voltaram à discussão pública desde o início do verão e intensificaram-se neste mês, quando deu entrada por duas vezes num hospital de Tóquio, para realizar exames não especificados. Em 2007, Abe demitiu-se abruptamente, na primeira vez que ocupou o cargo, também devido a problemas de saúde, e lidera o Governo desde final de 2012, um recorde de longevidade para um primeiro-ministro japonês. O primeiro-ministro japonês demissionário reconheceu ter colite ulcerosa desde que era adolescente e disse que o seu estado foi controlado com tratamento. É considerado um político de sangue azul que foi preparado para seguir os passos de seu avô, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi. A sua retórica política concentrava-se frequentemente em fazer do Japão uma nação “normal” e “bonita”, com um exército mais forte e um papel maior em assuntos internacionais. Citado pela agência de notícias Associated press (AP), Hiroshige Seko, secretário-geral do partido para a Câmara Alta do parlamento, confirmou que Abe disse aos membros do partido que renuncia ao cargo de primeiro-ministro para não causar problemas. Shinzo Abe tornou-se o primeiro-ministro mais jovem do Japão em 2006, aos 52 anos, mas sua primeira passagem excessivamente nacionalista terminou abruptamente um ano depois por causa da sua saúde. Em dezembro de 2012, regressou ao poder, dando prioridade a medidas económicas na sua agenda nacionalista. Ganhou seis eleições nacionais e conquistou o poder com firmeza, reforçando o papel e a capacidade de defesa do Japão e a sua aliança de segurança com os EUA. Também intensificou a educação patriótica nas escolas e aumentou a projeção internacional do Japão. Abe tornou-se já esta semana, dia 24, o primeiro-ministro que mais tempo serviu no Japão por dias consecutivos no cargo, superando o recorde de Eisaku Sato, seu tio-avô, que serviu 2.798 dias de 1964 a 1972. Mas a sua segunda visita ao hospital na segunda-feira acelerou as especulações e as manobras políticas em direção a um regime pós-Abe. A colite ulcerosa causa inflamação e, às vezes, pólipos nos intestinos. Pessoas com a doença podem ter uma expectativa de vida normal, mas os casos graves podem envolver complicações com risco de vida. Depois de as suas recentes visitas ao hospital serem conhecidas, altos funcionários do gabinete de Abe e do partido no poder disseram que o primeiro-ministro estava sobrecarregado e precisava de descanso. As preocupações com a sua saúde aumentaram a especulação de que os dias de Abe no cargo estavam contados. Os seus apoios já estavam em níveis muito baixos devido ao modo como lidou com a pandemia do coronavírus e o seu severo impacto na economia, além de vários escândalos políticos. Há uma grande quantidade de políticos a desejar a substituição do chefe do Governo. Shigeru Ishiba, um ex-ministro da defesa, de 63 anos, e arquirrival de Abe, é o líder favorito nas sondagens entre os potenciais sucessores, embora seja menos popular dentro do partido no poder. Um ex-ministro das Relações Exteriores, Fumio Kishida, o ministro da Defesa, Taro Kono, o secretário-chefe de gabinete, Yoshihide Suga, e o ministro da Revitalização Económica, Yasutoshi Nishimura, encarregado das medidas contra o coronavírus, são também referidos nos ‘media’ japoneses como potenciais sucessores. Abe, que enfrentou críticas públicas devido à forma como lidou com o surto de coronavírus, foi frequentemente ofuscado pela governadora de Tóquio, Yuriko Koike, que é vista como uma candidata potencial a primeira-ministra por alguns. Contudo, teria que primeiro ser eleita para o parlamento para concorrer ao cargo mais alto. O fim da primeira passagem de Shinzo Abe como primeiro-ministro foi o início de seis anos de mudança anual de liderança, lembrada como uma era de política de “porta giratória” que carecia de estabilidade e políticas de longo prazo. Quando voltou ao cargo em 2012, Abe prometeu revitalizar o país e tirar a sua economia da estagnação deflacionária com sua fórmula “Abenomics”, que combina estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais. As medidas impopulares que tomou para fazer face ao coronavírus fizeram com que os seus apoio diminuíssem, já antes dos seus problemas de saúde. Talvez o seu maior fracasso tenha sido a sua incapacidade de cumprir uma meta longamente acalentada pelo seu avô, de reescrever formalmente o esboço da constituição pacifista dos Estados Unidos. Abe e os seus apoiantes ultraconservadores veem a constituição elaborada pelos EUA como um legado humilhante da derrota do Japão na segunda guerra mundial. Não atingiu também o seu objetivo de resolver vários legados inacabados do tempo de guerra, incluindo a normalização dos laços com a Coreia do Norte, a resolução de disputas nas ilhas com vizinhos e a assinatura de um tratado de paz com a Rússia.
Ocupação hoteleira em Macau cai 81 pontos percentuais em Julho Hoje Macau - 28 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] ocupação hoteleira em Macau foi de 12,1% em Julho, menos 81 pontos percentuais em relação ao período homólogo de 2019, anunciou hoje a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em Julho, os 114 hotéis e pensões abertos ao público no território hospedaram 152 mil pessoas, menos 87,9% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo um comunicado da DSEC. Os hotéis de cinco estrelas sofreram o maior impacto face à ausência de turistas, devido à pandemia de covid-19, com a taxa de ocupação a ficar-se pelos 7,8% no último mês, menos 86,2 pontos percentuais em termos anuais. Devido às restrições fronteiriças, o número de hóspedes da China (55 mil) e de Hong Kong (11 mil) desceu mais de 90%, em termos anuais, acrescentou a DSEC na mesma nota. Em compensação, o número de hóspedes locais (81 mil) cresceu 49,5%, já que os hotéis continuaram a realizar promoções de pacotes de alojamento para residentes. No mês de Julho, “não se registou nenhum visitante em excursões no território”, devido “à suspensão da emissão de vistos turísticos aos residentes do interior da China”, reativada apenas esta quarta-feira, e “à proibição da entrada de visitantes de outros países”. Nos sete primeiros meses do ano, a taxa de ocupação média de quartos de hotéis e pensões foi de 25%, uma redução de 66,4 pontos percentuais relativamente ao mesmo período do ano anterior. No período em análise, os hotéis e pensões hospedaram 1.983.000 pessoas, menos 75,7% em relação aos primeiros sete meses do ano anterior, indicou a DSEC. Em 2019, mais de 14 milhões de pessoas ficaram alojadas nos hotéis e pensões de Macau. Na quarta-feira, foram retomados os vistos turísticos da província de Guandgong, de onde vem a maioria dos jogadores nos casinos, uma medida considerada essencial para a recuperação económica do território, já que as receitas do jogo representam cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) de Macau. Se a situação se mantiver estável em termos de contágios, a China já indicou que planeia autorizar em todo o país a emissão de vistos turísticos para Macau a partir de 23 de Setembro. O território contabilizou 46 casos da doença desde final de Janeiro, não tendo registado transmissão comunitária, nem contando atualmente com nenhum caso activo.
Macau Legend anuncia perdas de 569,47 milhões de dólares de HK no primeiro semestre Hoje Macau - 28 Ago 202030 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] grupo Macau Legend anunciou perdas de 569,47 milhões dólares de Hong Kong no primeiro semestre de 2020, devido à crise económica derivada da covid-19. O grupo, que opera vários casinos em Macau sob a bandeira da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), fundada pelo magnata do jogo Stanley Ho, anunciou ainda uma receita de 364 milhões dólares de Hong Kong, de acordo com um comunicado divulgado na quinta-feira. No mesmo período do ano passado, o grupo tinha registado receitas de 1,08 mil milhões dólares de Hong Kong. A Macau Legend é uma empresa com investimentos na agricultura, banca, casino e hotelaria, estando actualmente a desenvolver um projeto turístico em Cabo Verde. Em relação ao projecto de turismo no país, a empresa indicou que a construção do novo complexo hoteleiro e de casino está em curso “embora afectada pelas medidas preventivas da covid-19”. “O Grupo irá trabalhar com o Governo local e empreiteiros para prosseguir com a construção de uma forma mais eficaz e económica”, salientou na mesma nota. Aquando da apresentação dos resultados do primeiro trimestre, em março, o grupo anunciou que previa inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, em Cabo Verde, depois de em 2019 ter previsto a conclusão da obra para o final de 2020. No início do mês de agosto, o Governo cabo-verdiano admitiu que a pandemia de covid-19 deverá atrasar a conclusão do hotel-casino que o grupo Macau Legend está a construir na Praia, mas disse acreditar que o investimento não está em causa. Em declarações à agência Lusa, o ministro do Turismo cabo-verdiano, Carlos Santos, garantiu que tal como o empreendimento que o grupo está a implantar entre o ilhéu de Santa Maria e o litoral da Praia, os grandes investimentos no setor turístico em Cabo Verde não foram colocados em causa pelos promotores, até ao momento, apesar das consequências da covid-19. Em 2015, o responsável do Macau Legend David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento, tendo sido lançada a primeira pedra do projeto em fevereiro de 2016. Trata-se do maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros – cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano – para a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados, inaugurando a indústria de jogo no arquipélago. A obra envolve a construção de um hotel com ‘boutique casino’, de 250 quartos, uma grande piscina e várias instalações para restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais, além de uma marina. Contudo, uma minuta de adenda ao acordo entre a empresa e o Governo cabo-verdiano, de abril de 2019, refere que, “considerando que, face à evolução da envolvente nacional do empreendimento nos últimos dois anos, o promotor sugeriu, e o Governo entendeu aceitar, uma proposta de realização do projeto de investimento por fases”. Assim, nesta primeira fase do projeto, que devia estar concluída dentro de 22 meses, serão investidos 90 milhões de euros. O empresário David Chow recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, o equivalente a cerca de 1,2 milhões de euros. A promotora recebeu também uma licença especial para explorar, em exclusividade, jogo ‘online’ em todo o país e o mercado de apostas desportivas durante dez anos.
Festival de ‘curtas’ de Macau regressa em Dezembro com mais de uma centena de filmes Hoje Macau - 28 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] 11.ª edição do Festival Internacional de Curtas de Macau vai realizar-se em dezembro, com mais de uma centena de filmes entre os finalistas a concurso, tendo recebido 4.232 submissões, anunciaram os organizadores. Organizado pelo Centro de Indústrias Criativas – Creative Macau e pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau, com o apoio do Governo do território, o festival, que vai decorrer de 01 a 08 de dezembro, promove a competição de profissionais e amadores, com “produções curtas independentes de reduzido orçamento”, segundo o comunicado divulgado hoje. Tal como em anos anteriores, o festival inclui duas competições, “Shorts” (para curtas-metragens) e “Volume” (que premeia vídeos musicais). Das 4.232 submissões recebidas este ano, a maioria veio da Europa (43%), Ásia (32%), América do Norte (11%) e América do Sul (9%), segundo a nota, havendo ainda trabalhos de África (3%), Oceânia (1%) e outras regiões (1%). As curtas-metragens finalistas da seleção oficial, com 124 filmes no total, incluem 68 ficções, 26 documentários e 30 animações de quase 40 países, incluindo Portugal, pode ler-se no comunicado. Nove vídeos musicais vão ainda competir na vertente “Volume”. Os prémios incluem distinções para o melhor filme, ficção, documentário, animação, “identidade cultural de Macau” e prémios do público, entre outros. O júri deste ano é constituído por João Francisco Pinto, jornalista e diretor do canal de televisão TDM (Teledifusão de Macau), que preside ao painel, pelo realizador belga de curtas-metragens Julien Dykmans e pela realizadora sueca Måns Berthas. Esta 11.ª edição, que se realiza no Teatro Dom Pedro V, inclui 152 filmes e nove vídeos musicais, além de sessões especiais para escolas de cinema, concertos e encontros com o júri e finalistas.
O Paraíso Perdido da Infância Sara F. Costa - 28 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap]lho para o meu filho, ausculto-lhe o nascimento. Nasce-se e nunca se está verdadeiramente pronto para sobreviver, quanto mais para existir. Existir começa com o contacto com o outro. Eu só existo por oposição ao outro. É do contacto com os primeiros cuidadores que o universo inteiro se desembrulha, com todas as assunções subliminares que a nossa micro-relação interpessoal com os nossos guias-protectores no mundo nos incutem para sempre, como uma genética emocional, gravada, perpétua por ser a primeira aprendizagem, a primeira experiência. Os primeiros medos, as primeiras formas de amar, tudo surge dessa cartografia afectiva que nos foi deixando mapas inconscientes aos quais regressamos sempre para explicar um fenómeno ou para reagir a um determinado estímulo. Este mundo que nos é atirado para as mãos como um presente é um privilégio que vamos ter de justificar, muitas vezes, para nós mesmos, para o resto das nossas vidas. A infância é o laboratório social que nos modela a personalidade e por isso precisamos de voltar a ela. Não é aqui a psicanálise o mesmo que uma teologia da personalidade humana, a criação de uma mitologia pessoal que vamos tentar descortinar, sem qualquer certeza. Foram a secularização e o desenvolvimento da economia e da sociedade burguesa que permitiram esta afirmação sem precendentes do poder do indivíduo como único, quase omnipotente. Podemos verdadeiramente depender desta assunção? “Dichtung” em alemão significa simultaneamente poesia e verdade, é Goethe quem traz à humanidade esta brilhante ideia de relacionar o passado com o presente, a criança com o adulto, a criança interior que fica para sempre lá dentro, dentro do adulto. Goethe usa o termo “Dichtung” para descrever a sua vida, porque ele a sabe inabitável, uma passagem onde se mantém algumas derrapagens na desarticulação natural da memória. A infância é uma carapaça com língua. A infância é poesia e verdade entre o acontecimento empírico e factual, e a projeção idealizada. É ficção e racionalidade, o lugar de todos os encontros. Saímos dela inconscientes, regressamos a ela com um espírito científico, analítico, sedento de consciência, sedento de se apropriar do que é inconsciente para o tornar consciente. Primeiro existir, depois criar, primeiro a nossa infância, depois a infância dos nossos filhos. O “confrontamento hermenêutico com o conteúdo vivido” (Jacobs). O sujeito escava-se, encontra material, lê nisso as intervenções mais ou menos intencionais do próprio sujeito para lhe conferir perspectiva e significado. É desta forma que podemos esquematizar o privilégio emocional como soldados intelectuais com ferramentas psicanalíticas, colectar dados, procurar de padrões, tornar a vida em ciência. A poesia em facto. Por isso, a superação anual dos níveis de privilégio emocional entre a população deveria ser estipulada prioridade política. Uma educação para o amor. Amar o ser, ausente de socialização, primitivo, amar a sua existência sem condicionamentos, amar um filho como quem explica o fogo.
A evolução às bolinhas Valério Romão - 28 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] história da nossa evolução enquanto espécie está fundamentalmente ligada a uma característica específica do humano a que comummente chamamos inteligência. No reino animal a que pertencemos, não somos os mais fortes, os mais altos, os mais velozes ou os mais ágeis. Não temos a visão mais aguda ou a audição mais apurada. Fisicamente e descontando a postura vertical e o polegar oponível, não apresentamos nenhuma característica que nos separe de forma radical dos restantes animais. Pelo contrário. Em termos físicos – e até genéticos – somos muito semelhantes aos chimpanzés, por exemplo. É difícil (e não cabe de todo no espaço de uma crónica) definir inteligência. Como inúmeros conceitos com os quais operamos quotidianamente, o significado de inteligência recai sob o paradoxo agostiniano da definição de tempo: “se ninguém me perguntar o que é, eu sei; se me perguntarem, eu não sei”. A linguagem – porventura a mais emblemática das conquistas da inteligência – não é transparente para si própria. Mas funciona (mais ou menos, mas essa é outra conversa). Tomemos da inteligência apenas um dos seus componentes mais simples: a capacidade de resolver um determinado problema. Este pode ser o acto de abrir um coco (ou um crânio) com recurso a uma pedra ou o de postular a equação pela qual se rege a força da gravidade. A inteligência visa tudo. É uma forma peculiar de desocultamento progressivo da realidade e a pedra basilar do nosso vasto domínio enquanto espécie. É graças a ela que o macaco relativamente imberbe que somos se tornou o predador incontestado de todos os restantes animais, da terra e dos seus recursos (e aqui cabe tanto orgulho quanto vergonha). De um ponto de vista evolutivo, a inteligência é o meio pelo qual acedemos ao trono deste ínfimo recanto do universo, para o qual espreitamos com a curiosidade de um recém-nascido incapaz chegar aos brinquedos pendurados sobre o berço. Estatisticamente, a inteligência (ou pelo menos o QI, a sua medida) tem vindo a aumentar desde que começámos, no Séc. XX, a aferi-la globalmente. Parece haver razões contextuais para isso, nomeadamente o aumento da qualidade de vida por vida da medicina e da nutrição (é sabido que um estômago vazio pensa pior). Neste momento da nossa história enquanto espécie, há autores que defendem que nos próximos cem anos ela continuará a aumentar de forma continuada e outros que dizem exactamente o contrário, ou seja, que chegámos a um ponto de inflexão e que daqui para diante seremos – como dizer – cada vez mais estúpidos. Isto por que, de um ponto de vista evolutivo, a inteligência deixou de ser o factor capaz de fazer a diferença entre a sobrevivência e o seu oposto. Resumindo: o macaco imberbe cansou de ser esperto. Se olharmos à nossa volta – e sem necessitarmos de ser excessivamente dramáticos, até porque a maior parte dos indicadores de qualidade de vida nos colocam numa posição mais confortável do que aquela em que estávamos no século passado – não é difícil verificar – e até é relativamente corriqueiro – que esta “capacidade de resolver problemas” não é a principal forma pela qual as pessoas asseguram a sua sobrevivência. A sobrevivência parece depender sobretudo do país em que se nasce; da cidade, do bairro, da língua, da cor da pele, da família em que se nasce. Até por que – em havendo dinheiro – a resolução de muitos dos problemas práticos da vida pode ser banalmente adquirida. A sobrevivência não depende tanto da capacidade do humano de resolver o mundo em seu redor (até porque este já se encontra a esse nível e na sua maior parte, resolvido) mas das posses que abrem ou fecham as diversas possibilidades que o mundo – como num cardápio – oferece. A possibilidade de um decréscimo global da inteligência coloca outros problemas. Embora sejamos a espécie regente do burgo, a nossa sobrevivência a longo prazo não está de todo assegurada. Talvez o facto de sermos cada vez mais e possivelmente cada vez mais estúpidos não seja uma vantagem. E, na verdade, talvez não haja nada a fazer em relação a isso.
O Anel de Giges António de Castro Caeiro - 28 Ago 2020 [dropcap]C[/dropcap]onta Platão que um certo Giges tinha um anel com poderes extraordinários. Quando punha o anel ficava invisível. Se o tirava, podia ficar à vista de toda a gente. A experiência do pensamento leva Platão a considerar que se um justo pudesse usar esse anel, agiria de forma injusta. Tirava sem pagar o que lhe apetecesse, entrava na casa de quem quer que fosse e deitar-se-ia na cama de quem desejasse, as ruas estariam cheias de cadáveres das pessoas assassinadas por esse justo e as mulheres grávidas dele. Ele libertaria os seus amigos e meteria na prisão os seus inimigos. O justo não poderia ser já considerado justo. Nem sequer poderia usar o nome “justo”. Todas as suas acções seriam injustas. Não esperaria pela calada da noite para praticar os seus actos. De dia ficava invisível. Não tinha de prestar contas a ninguém. Obteria sempre tudo o que lhe apetecesse ter. Não tinha de responder perante ninguém. De manhã à noite o sentido da sua vida seria o dos seus desejos e caprichos, imporia sempre a sua vontade, sem respeito por ninguém e ninguém saberia pôr-se no seu caminho. É uma tese de Sócrates que Platão quer ilustrar. Ser injusto é fazer triunfar a sua opinião de alguém sobre outrem, esteja ela ou não fundamentada. Ser injusto é fazer o que nos apetece, como se isso fosse ter muito poder. Ser injusto é usar o outro como objecto de desejo e das nossas vontades. Ao impor-se o injusto não apenas neutraliza o outro, subjuga-o, submete-o, sujeita-o, violenta-o. Mas será que Giges ou quem tiver o anel fica invisível a si mesmo? Não se apercebe das suas acções? Não compreenderá o que é agir injustamente ou ser, mesmo que uma única vez, injusto? O pensamento na sua experiência tem de projectar a consequência possível de alguém ser injusto e fruir de todas as suas injustiças, mesmo quando achar que se sacrifica por um bem maior. Pode não ser sádico e sentir prazer sempre em ser injusto, mas nunca transformará a culpa que sente em remorso. Há-de repetir sempre o mal que faz. Nunca ser arrependerá ao ponto de arrepiar caminho. Há-de continuar a dizer o que lhe apetece, a impor a sua vontade, a fazer o que lhe apetece, a exercer a violência da mínima à máxima, física à psicológica. E servir-se-á, abusando dos outros todos ou só usando alguns. Sob a capa do anonimato, torna-se invisível para todos os outros, para aqueles sobre quem exerce violência e aos eus próprios olhos não aparecerá como injusto, mas como alguém que forte, audaz, para quem os outros não são vítimas mas fracos. Se não for ele, serão outros a fazer o que ele tem de fazer. Continuará a tomar o que é seu sem qualquer direito a tomá-lo. Não lhe chamará roubo. Será reclamação do direito. Continuará a entrar na casa de quem lhe apetecer e não será arrombamento mas outra coisa. Deitar-se-á com mulheres e homens porque lhe apetecerá e não será violação mas outra coisa. Matará e será execução. Meterá na prisão em nome de uma qualquer justiça. Soltará criminosos e não é por serem amigos, mas para se fazer justiça. No exercício da violência, na expressão da vontade de poder, está a pequenez que Platão identifica. Fazer vingar a opinião não é saber. É fazer vingar a superstição pelo medo ou pelo terror ou por um qualquer sentimento a que se chamará amor mas não é amor a qualquer coisa que se chamará pátria mas não é pátria e concidadãos mas serão apenas parceiros de crime. E todos os que forem executados, todas mulheres e filhas violadas serão em nome do que é guerra, mas é outra coisa e se for guerra é em nome apenas de si, da afirmação de si, do próprio. O injusto há-de prevalecer na sua opinião, condenando e absolvendo os seus, há-de extorquir, expulsar da cidade e matar, há-de violar, há-de fazer o que lhe apetecer. O injusto será finalmente reduzido ao que é, um odre cheio de buracos, uma pipa gigantesca furada, sem nunca ficar cheia e quando fica cheia sem conseguir reter o que quer que seja. Todas as suas vontades são de tudo e nada. De manhã à noite, será escravo de si próprio e o próprio o que é: esse mesmo odre do tamanho do universo, um buraco negro, que aspira tudo, tudo traga e de nada se enche para todo o sempre. Não sabemos se Giges, rei da Lídia terá tido esse anel. Se terá havido um único ou dois não pode ser a nossa dúvida. Enquanto eu for injusto- perdoe-me o leitor falar eu agora na primeira pessoa do singular- ninguém há-se saber, no pensamento, mais do que em acto, quando em acto, é na realidade, a injustiça é bem escondida. Ou assim, acho. Mas não nos enganemos. O anel cai-nos do dedo, mesmo quando em nome da transparência defende o inominável, a injustiça. É que mais vale sofrer a injustiça do que cometê-la. Ao sofrer-se, dói. Mas ao ser-se injusto, perde-se a humanidade. Convidamos a grande besta!
Automobilismo | Festivais de Corridas de Macau este fim-de-semana em Zhaoqing Sérgio Fonseca - 28 Ago 2020 Apesar de todas as restrições e obstáculos criados pela pandemia mundial da covid-19, a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) vai avançar com dois eventos para os pilotos da RAEM. No entanto, desta vez, quebrando uma tradição de quase duas épocas, os dois eventos que serão realizados do outro lado das Portas do Cerco, não irão ser de apuramento para o Grande Prémio de Macau [dropcap]I[/dropcap]nicialmente agendados para o Circuito International de Zhuzhou, na província de Hunan, os dois Festivais de Corridas de Macau, mas agora numa versão aligeirada, serão pelo terceiro ano consecutivo realizados no Circuito Internacional de Guangdong (GIC, na sigla inglesa), nos arredores da cidade continental chinesa de Zhaoqing. A primeira prova está agendada para este fim-de-semana, enquanto que o segundo confronto está marcado para o fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro. Visto que estes dois eventos não contam com uma representação significativa de pilotos de Hong Kong, a AAMC terá achado por bem que estas duas provas não deveriam servir de apuramento para as corridas de apoio da 67ª edição do Grande Prémio. Assim, os pilotos de Macau que se apuraram para a 66ª edição do Grande Prémio terão “entrada directa” na edição de 2020, existindo a possibilidade que outros pilotos da RAEM possam também participar no evento, ocupando vagas que o ano passado foram preenchidas por pilotos da região vizinha ou por pilotos estrangeiros. Estes dois eventos para os pilotos de carros de Turismo terão corridas separadas para três categorias diferentes. A categoria para viaturas com motores 1600cc de cilindrada turbo, será também aberta a concorrentes com carros até 1600cc mas sem turbo, o que abre a porta a vários modelos como o Honda Fit ou o Toyota Yaris que frequentemente competem nas provas amadoras na China Interior. Por seu turno, a categoria “1950cc e Superior”, que no Grande Prémio de Macau se junta à “1600cc Turbo” para dar corpo à Corrida de Carros de Turismo de Macau, irá continuar a albergar os carros da defunta Road Sport Challenge, assim como os carros de Turismo da classe internacional TCR. A estes estarão autorizados a juntar-se os carros das categorias N2000 e S2000, viaturas que já não podem disputar o Grande Prémio, mas que ainda são vistos a correr em provas regionais de menor dimensão um pouco por todo sudeste asiático. Por fim, a exemplo de 2019, haverá uma categoria destinada a carros de Grande Turismo, numa mistura de carros da categoria GT4 e viaturas provenientes da extinta Taça Lotus, e que foram vistos pela primeira vez a competir o ano passado no Circuito da Guia na “Taça GT – Corrida da Grande Baía”. Todas estas categorias terão que realizar duas corridas por fim-de-semana. Como estas corridas são geralmente inscritas no calendário internacional da FIA, a participação nestas provas permitirá aos pilotos do território manter as licenças desportivas internacionais de nível “C” no ano seguinte, documento necessário para competirem no Grande Prémio e muito importante para todos aqueles que ambicionem realizar provas noutros países e de campeonatos internacionais. Vários portugueses Das três classes, aquela que reúne mais inscritos para o próximo fim-de-semana é a “1950cc e Superior”, com dezassete concorrentes à partida e várias caras conhecidas do automobilismo local. Jerónimo Badaraco vai conduzir um Mitsubishi EVO9, enquanto Luciano Castilho Lameiras, que terminou no pódio desta classe no pretérito Grande Prémio de Macau, irá alinhar com o seu Mitsubishi EVO10. Igualmente presente estará Delfim Mendonça Choi, com o Mitsubishi EVO7 preparado pela SLM Racing Team, cujos resultados a temporada passada foram bastante animadores. O vencedor da classe na Taça de Carros de Turismo em 2019, Filipe Souza, também estará presente, mas não com o Audi RS3 LMS TCR, mas sim com um Volkswagen Golf GTI da equipa T.A. Motorsport, dado “que o Audi não está ainda pronto”. O facto dos Honda Integra DC5, um carro com uma longa história no automobilismo do território, ser aceite nestas corridas, permitirá que Rui Valente recorra ao seu exemplar, que tantas alegrias lhe tem dado no GIC Challenge, a competição organizada pelo circuito de Guangdong em que habitualmente participa. O piloto português prevê correr na classe “1600cc Turbo” no Grande Prémio, mas o seu Mini Cooper S está a ser poupado para a prova mais importante da temporada. “O Mini vou prepará-lo melhor para Macau e depois faço duas simulações de corrida para ver, sempre melhor assim do que estar a desgastá-lo”, explicou Rui Valente ao HM. Célio Alves Dias e Eurico de Jesus, dois nomes incontornáveis do automobilismo do território, irão igualmente retirar das garagens os “velhinhos” Honda DC5 para estas corridas que, acima de tudo, servem para muitos dos pilotos voltarem a ganhar ritmo após nove meses sem qualquer actividade neste desporto. Entre os onze carros inscritos na classe “1600cc Turbo”, destaque para a presença de Sabino Osório Lei, que irá conduzir um dos Ford Fiesta da SLM Racing Team, enquanto não define com que carro irá competir na grande prova do mês de Novembro. Por fim, há oito inscritos na classe de GT: um BMW M4 GT4, três Ginetta G50 GT4, um Audi R8 LMS e três Lotus Exige.
LGBTQ+ | “Pose” convida ao desfile em estilo dos anos 70 e 80 Salomé Fernandes - 28 Ago 2020 O grupo Macau LGBTQ+ Social Club apresenta esta noite um evento no espaço D2 com base no estilo “voguing” e que conta com um concurso de poses. Um dos objectivos dos eventos organizados pelo grupo é permitir um melhor entendimento da comunidade LGBTQ+ [dropcap]O[/dropcap] estilo “voguing” dos salões de dança de Harlem Nova Iorque dos anos 70 e 80 serve de inspiração ao evento “Pose”, que decorre esta noite no Clube D2. Canalizar a supermodelo interior de cada um – é o desafio proposto pelo Macau LGBTQ+ Social Club. O evento começa às 22h00 e conta com um concurso em três categorias: “supermodelo lendário”, “diva com atitude” e “hot wet & saucy glamour”. A entrada tem um custo de 130 patacas. O Macau LGBTQ+ Social Club foi criado por Jimmy Chung entre o final de Dezembro e início de Janeiro, altura em que se mudou para Macau e se apercebeu de que não havia clubes LGBTQ+ ou bares gay. “Achei que seria bom começar algo para retribuir à comunidade”, disse ao HM. Lançou primeiro o grupo na plataforma “meetup”, levando mais estrangeiros a residir em Macau a juntarem-se. “No primeiro evento houve 38 pessoas, e a cada evento foi crescendo até 168 pessoas”, descreveu. Quando começou a abordar locais em Macau onde realizar os eventos, as reacções nem sempre foram positivas quando informava que eram LGBTQ. Encontrou pretextos e sugestões para arranjar sítios mais privados. “Alguns locais em Macau ainda são assim”, disse, explicando que nalguns locais a mensagem não é transmitida directamente, mas percebe-se nas entrelinhas que é melhor procurar outro espaço. A noite de hoje arranca com uma apresentação de Jimmy Chung e três co-apresentadores, num visual de alta-costura e andrógeno, semi-drag, a lançar o tema do evento. Vai ter também um sorteio de dinheiro, em que o montante ganho com a venda de rifas é dividido em duas partes, uma para o vencedor do público e outra para angariar fundos para ajudar a cobrir as despesas das actividades do grupo organizador. Fuga ao estereótipo O objectivo passa por aproximar a comunidade dos residentes locais, criando um espaço seguro para as pessoas se juntarem e conhecerem pessoas interessantes de diferentes contextos. “Para um melhor entendimento do que a comunidade LGBTQ+ significa, sem o estigma, a conotação negativa e o estereótipo da comunidade”, lançou. Uma abertura que Jimmy Chung considera ser possível promover sem passar uma mensagem política. “Estamos só a tentar [transmitir] que somos como qualquer outra pessoa, não somos diferentes de ninguém na comunidade de Macau. A única diferença é que não estamos aqui para promover ou julgar o ponto de vista de ninguém, quer da comunidade LGBTQ+ ou da chamada comunidade hetero”. Encara o grupo e os eventos como “um lugar seguro” para as pessoas que questionam a sua própria sexualidade fazerem perguntas, amigos, e um dia terem coragem de se assumirem “quando perceberem o que é certo, ou errado e o que realmente querem”. Mas que cria também espaço para pessoas que não são da comunidade LGBTQ apesar de a apoiarem, ou que têm curiosidade, explorarem esse lado e verem que “não é o típico ambiente estereotipado que se vê nos filmes e nos programas televisivos”. Jimmy nasceu em Hong Kong, de onde saiu quando ainda era criança. Cresceu no Canadá, e não esteve isento de dificuldades. “Qualquer pessoa a crescer como uma pessoa LGBTQ+, em qualquer comunidade, vai experienciar algum racismo, [reacções negativas], discriminação e ameaças”, descreveu, apontando que ao longo dos anos notou menos discriminação e pessoas a compreenderem melhor a comunidade. Já passou por França e novamente por Hong Kong, mas acabou por decidir mudar-se para a RAEM. “Apaixonei-me por Macau, pela cultura, o ambiente, as pessoas, o riso e a amabilidade das pessoas aqui é incrível”, descreveu.
China cria ‘lista negra’ de destinos de jogo no estrangeiro Hoje Macau - 28 Ago 2020 Pequim anunciou na quarta-feira a criação de uma ‘lista negra’ de destinos turísticos de jogo por perturbarem a “ordem comercial do mercado de turismo no estrangeiro da China”. Apesar de ainda não se conhecerem os países abrangidos, analistas do sector entendem que a medida pretende controlar apostas online e a actividade dos junkets no Sudeste Asiático [dropcap]“M[/dropcap]acau não é considerado estrangeiro”, disse à Lusa o analista da consultora de jogo IGamix Ben Lee, numa alusão ao comunicado das autoridades chinesas. A China não identificou os países incluídos nesta ‘lista negra’, contudo, Ben Lee disse acreditar que as Filipinas e o Camboja poderão estar abrangidos devido ao jogo online, que as autoridades chinesas têm tentando combater. Lee considerou que a ideia das autoridades chinesas é estancar as apostas online que “estão totalmente descontroladas”, um desejo há muito almejado por Pequim e que tem sido motivo para pressão diplomática. Recorde-se que no ano passado, as entidades cambojanas comprometeram-se em deixar de emitir autorizações para serviços de apostas online, prática que demonstraram querer diminuir progressivamente até expirarem as licenças em vigor. O Governo chinês tentou também interceder junto das autoridades das Filipinas, nomeadamente para controlar o jogo transmitido por vídeo e as apostas online, pedido que não foi bem-recebido com o governo de Duterte a sublinhar que essa seria uma decisão soberana que apenas caberia às Filipinas. Ordem perturbada De acordo com o comunicado do Ministério da Cultura e do Turismo chinês, “algumas cidades estrangeiras abriram casinos para atrair turistas chineses, perturbando a ordem comercial do mercado de turismo da China no estrangeiro e pondo em perigo a segurança pessoal e patrimonial dos cidadãos chineses”. Por essa razão, foi estabelecida uma ‘lista negra’ de destinos turísticos transfronteiriços de jogo, e serão tomadas “medidas restritivas de viagem contra cidadãos chineses que viajam para cidades estrangeiras e locais” na referida lista, justificaram as autoridades chinesas. Em declarações ao jornal de Macau Exmoo, o membro da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau Lam Kai Kong considerou que esta medida das autoridades chinesas está de acordo com a política do país e “destina-se a desencorajar a saída excessiva de capital”. Ao mesmo jornal, o professor associado do Instituto Politécnico de Macau Loi Hoi Ngan afirmou que esta “política não é dirigida a Macau” “Se o Continente quer regular Macau, há muitas formas de o fazer, e não há necessidade de recorrer a um método tão criterioso como a ‘lista negra’, que se acredita ser dirigida a regiões estrangeiras com casinos”, observou. Uma nota da JP Morgan, citada pelo portal GGRAsia, avança na mesma direcção. “Macau não é considerado um mercado de jogo no estrangeiro pelo Governo Central. Macau faz parte da China e o jogo é perfeitamente legal na região.” Citada pela a mesma fonte, a consultora Union Gaming Securities LLC foi mais longe, em termos de repercussão da medida no mercado local. “Ao mesmo tempo que a lista negra exclui Macau, enquanto região administrativa especial da China, a potencial disrupção do mercado de junkets poderá prejudicar a recuperação do jogo VIP a curto-prazo. Muitos junkets operam em Macau e em jurisdições estrangeiras”. Opinião de Leong Leong Sun Iok acha que Macau, como única região da China onde o jogo é legal, não será incluído na lista negra, de acordo com declarações prestadas ao jornal Ou Mun. Com o mercado dos casinos a acumular anos sucessivos de ganhos milionários, o deputado entende a criação de inúmeros casinos em países vizinhas da China, porque a maioria dos clientes são chineses. Porém, sublinhar ao Ou Mun que o jogo transfronteiriço é um fenómeno gerador de crimes como de burla, de branqueamento de capitais, de sequestro, de organização criminosa e de agiotagem. O legislador entende que a medida tomada pelo Governo Central vai beneficiar o desenvolvimento saudável do sector do jogo de Macau.
Construção civil | Chinesa CCCC compra 30 por cento da Mota-Engil Andreia Sofia Silva - 28 Ago 2020 A construtora portuguesa Mota-Engil anunciou ontem a venda de 30 por cento do grupo a um “novo parceiro”, que a imprensa portuguesa diz tratar-se da empresa pública chinesa CCCC. O negócio estava a ser preparado desde Dezembro e levou à valorização da companhia [dropcap]É[/dropcap] mais uma entrada de capital chinês na economia portuguesa. O grupo Mota-Engil, ligado ao sector da construção civil, anunciou ontem a venda de 30 por cento das acções a um “novo parceiro” de renome mundial, que os jornais portugueses Observador e Jornal de Negócios confirmaram tratar-se da CCCC, empresa pública chinesa. O negócio estaria a ser discutido e ultimado desde Dezembro, conforme noticiou a agência Bloomberg. O Observador escreve que o acordo valoriza a Mota-Engil a um preço muito acima do actual valor da empresa no mercado. A avaliação base aponta para 750 milhões de euros, estando previsto “um acordo de parceria e investimento com o grupo português para desenvolver um conjunto de oportunidades comerciais”. Por sua vez, a CCCC compromete-se a subscrever uma participação “relevante” num aumento de capital até 100 milhões de novas acções. Com este acordo, a Mota-Engil participações, que actualmente é o maior accionista do grupo, passa a deter apenas 40 por cento da estrutura accionista. Num comunicado citado pelo Observador, a Mota-Engil diz que a manutenção dos 40 por cento sinalizam o “total empenho e alinhamento com a sua posição histórica no grupo, apesar de representar a perda da maioria do capital”. Cotada em bolsa, a Mota-Engil viu ontem as suas acções valorizarem mais de 12 por cento. Infra-estruturas em crise A entrada da CCCC na estrutura accionista da Mota-Engil surge numa altura em que o sector das infra-estruturas em Portugal atravessa uma crise, culminando em vários negócios. Foi o caso da Ascendi, concessionária de auto-estradas, que foi alienada aos franceses da Ardian. Por sua vez, as operações portuárias, que incluem a Liscont, foram vendidas à Yilport, da Turquia. Também o grupo José de Mello vendeu a Brisa, a maior concessionária de autoestradas do país, a vários fundos internacionais.
Covid-19 | Crianças com menos de três anos excluídos de infantários Salomé Fernandes e Nunu Wu - 28 Ago 2020 A DSEJ decidiu que os infantários só podem ser frequentados por crianças com mais de três anos de idade, a idade mínima recomendada para usar máscara. A novidade significa que as creches subsidiadas só vão funcionar para as medidas de cortesia [dropcap]A[/dropcap]s crianças com menos de três anos não vão poder frequentar o infantário, anunciou ontem Kong Chi Meng, subdirector dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). O responsável indicou que cerca de mil crianças não poderão frequentar o infantário por não terem a idade mínima. A medida foi justificada por não ser recomendado o uso de máscara por crianças até essa idade. “As crianças vão entrar no infantário quando perfizerem os três anos de idade. Assim, os alunos vão começar as aulas em datas diferentes. Vamos pedir às escolas para serem flexíveis no que toca ao início das aulas destes alunos”, disse Kong Chi Meng. O médico Alvis Lo frisou que uma criança com menos de três anos pode não saber usar ou ter o cuidado necessário com a máscara. E reiterou que, apesar de a situação em Macau ser moderada, as medidas de flexibilidade das fronteiras não podem ser esquecidas: “poderemos ainda contar com um possível risco de contaminação ou infecção”. Por outro lado, o subdirector da DSEJ também explicou que os estudantes transfronteiriços podem fazer o teste de ácido nucleico a partir de amanhã e que o processo de reembolso vai ser simplificado. “Os encarregados de educação (…) não têm de trazer o talão comprovativo do pagamento para obter o reembolso do montante pago. Apenas têm de fazer o registo, levar a criança para o teste e depois iremos tratar do pagamento junto das instituições”, referiu. Em cima da hora O responsável da DSEJ frisou que o organismo tem feito “uma avaliação constante” à situação epidémica e que a necessidade de aguardar por orientações levou a decisões “muito em cima da hora”. Tranquilizou também preocupações com o aproveitamento dos alunos e explicou que o programa curricular vai sofrer ajustes para permitir às escolas adaptarem-se à nova situação. De acordo com o canal chinês da TDM – Rádio Macau, o director da Escola Choi Nong Chi Tai, Vong Kuoc Ieng, disse que a DSEJ devia ter anunciado a medida mais cedo. Ainda assim, considera que, no contexto da pandemia, a medida é compreensível. Por sua vez, o subdirector da Escola Secundária Pui Ching, mostrou-se surpreendido. Kuok Keng Man explicou que no novo ano lectivo a escola tem mais de 160 alunos no nível infantil, e que um quarto não atinge três anos quando começar as aulas. Dada a proximidade da abertura das aulas, o responsável considera que esta política vai causar incómodo aos familiares e aumentar o volume de trabalhos dos professores. Impacto nas creches A decisão também tem impacto no funcionamento das creches, que vão manter apenas as medidas de cortesia. Choi Sio Un, do Instituto de Acção Social (IAS), explicou que as medidas de cortesia vão continuar para os casos de crianças que não têm quem tome conta delas, e que os pais podem apresentar o pedido nas creches subsidiadas. Apresentado o pedido, são as creches a avaliar os destinatários do apoio, de acordo com a circunstância de cada agregado familiar. Previa-se que sete mil crianças fossem este ano às creches subsidiadas, das quais cerca de 1.400 podem aproveitar a medida de cortesia. No entanto, a capacidade permite apenas cerca de mil crianças por dia nas creches subsidiadas. Manter distância A maioria dos 178 estudantes inscritos no ensino superior em Portugal não pretende regressar para continuar os estudos, disse ontem Vong Iut Peng, da DSES. Em causa está a situação epidemiológica no país e medidas de prevenção, além da dificuldade em arranjar transporte para Portugal. Alguns destes estudantes beneficiam de bolsa da Fundação Macau e da DSES. Caso suspendam a matrícula têm de comunicar às instituições. A DSES contactou o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o Conselho Coordenador dos Institutos Superior Politécnicos, que indicaram que “a maior parte das instituições de ensino superior vão iniciar as aulas do ano lectivo 2020/2021 de forma presencial”. Já os não residentes com visto para estudar em Macau, continuam sem poder voltar ao território, e vão assistir a aulas online. Quinze professores universitários, que são trabalhadores não residentes, também não conseguem voltar a Macau. Quarentena | Primeira isenção requer residência frequente na RAEM A partir de Setembro, a isenção da cobrança da despesa da primeira quarentena é para os residentes que “residem frequentemente em Macau”, ou seja, quem estiveram no território pelo menos 183 dias nos 365 dias antes de entrar na fronteira. A informação foi dada por Lau Fong Chi, da Direcção de Serviços de Turismo (DST). Os residentes que não cumpram o requisito podem requerer isenção se estiverem a estudar com reconhecimento das autoridades locais, internamento hospitalar, por missão oficial, ou se forem trabalhadores a prestar serviço fora de Macau para empregadores inscritos no Fundo de Segurança Social. A DST deixou ainda a ressalva de que apesar de o custo actual ser 5.600 patacas, o valor pode ser ajustado no futuro, de acordo com as ofertas dos hotéis. Ontem 1252 pessoas cumpriam quarentena nos hotéis designados, das quais 497 residentes. Máscaras | Nova ronda começa no domingo A 21ª ronda do plano de fornecimento de máscaras do Governo arranca no domingo. Cada pessoa pode comprar 30 máscaras por 24 patacas, nos postos de venda habituais, segundo revelou o médico Alvis Lo. Na 20ª ronda foram vendidas cerca de 16 milhões, contribuindo para um total de 116 milhões vendidas. No âmbito das medidas de prevenção contra a covid-19, o médico avançou que já foram concluídos os testes de ácido nucleico aos trabalhadores da linha da frente das seis operadoras de jogo. Até dia 26, foram testadas 53.025 pessoas.
PJ | Pereira Coutinho quer quadro legal unificado para acções dos agentes infiltrados Andreia Sofia Silva - 28 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho pretende que o Governo reveja as leis que regulamentam as acções dos agentes secretos da Polícia Judiciária (PJ). “O Governo pondera rever o actual regime disperso das acções infiltradas reforçando as garantias dos direitos fundamentais dos cidadãos contra as eventuais práticas abusivas? No caso afirmativo, qual a sua calendarização para a sua apresentação?”, questiona na sua interpelação escrita. O deputado quer também que sejam revistos os “mecanismos de fiscalização periódicos das acções infiltradas”, como “os mecanismos processuais da competência das autoridades judiciárias, de forma a proteger os direitos fundamentais dos cidadãos”. Além disso, o deputado pretende saber, caso venha a ser implementado um novo regime jurídico, “como serão garantidos os anonimatos dos agentes infiltrados em sede de audiência de discussão e julgamento, sem prejudicar a observância do princípio do contraditório”. As alterações ao estatuto da PJ foram aprovadas recentemente na Assembleia Legislativa. José Pereira Coutinho recorda que não existe em Macau “um regime unificado regulamentador das acções infiltradas, o que pode colocar em causa os direitos fundamentais dos cidadãos, nomeadamente o direito à privacidade e a segurança quanto a detenções ilegais e arbitrárias”.
Deputado Vong Hin Fai acumula funções em múltiplos conselhos consultivos João Luz - 28 Ago 2020 Nomeado esta semana para o Conselho Administrativo da TDM, Vong Hin Fai não tem mãos a medir só em cargos de administração e consulta. Além de presidir ao Conselho Fiscal da Fundação Macau, o deputado acumula ainda funções no Conselho da Universidade de Macau, na presidência da Administração da Canais de Televisão Básicos de Macau e noutros organismos, com destaque para as áreas da segurança e saúde [dropcap]A[/dropcap] agenda de Vong Hin Fai deve ser um pesadelo organizacional. Entre o trabalho como advogado e de deputado eleito pela via indirecta pelo sector profissional, Vong desdobra-se em múltiplas funções consultivas e de gestão em organismos públicos, além de presidir à 3ª Comissão Permanente e de ocupar o cargo de secretário na Comissão de Regimento e Mandatos da Assembleia Legislativa. Antes de mais, importa referir que Vong Hin Fai é membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e da Comissão Política e Consultiva da Cidade de Tianjin da República Popular da China. Na passada quarta-feira, o deputado foi nomeado por despacho assinado pelo Chefe do Executivo para a conselho de administração da TDM, área na qual tem experiência uma vez que também preside ao Conselho de Administração da Canais de Televisão Básicos de Macau, S.A. Um dos cargos de maior destaque no vasto currículo do deputado é o de presidente do Conselho Fiscal da Fundação Macau, posição que ocupa desde 2016, nomeado por Chui Sai On. No campo da segurança, Vong Hin Fai coloca a sua experiência à disposição do Conselho Geral da Escola Superior das Forças de Segurança de Macau, enquanto membro da categoria de “Personalidades de prestígio”, e da Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança de Macau. Saúde e sorte No final de Julho último, Vong Hin Fai foi nomeado membro do Conselho da Universidade de Macau até Julho de 2023. A instituição, alma mater do deputado, onde se licenciou em Direito, contou ainda com os préstimos do antigo aluno no grupo de trabalho para a revisão dos Estatutos da Universidade de Macau. Ainda no sector do ensino, importa referir que o deputado é membro do Conselho Fiscal da Fundação da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Recorde-se que no final de Julho foram divulgados os apoios da Fundação Macau, que atribuiu à Fundação da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau 42 milhões de patacas para o ano lectivo de 2020/2021 e o Hospital Universitário. O deputado está no conselho fiscal de ambas as instituições. Além do ensino, o advogado também desempenha papéis de relevo em diversas entidades dedicadas à saúde pública. Por exemplo, é membro da Comissão de Ética para as Ciências da Vida desde 2014. Esta não é a única entidade do sector da saúde pública onde Vong Hin Fai participa, acumulando funções como membro (Figura Pública) do Conselho para os Assuntos Médicos, desde 10 de Julho deste ano. Além disso, o deputado figura como vogal na Comissão para os Assuntos do Cidadão Sénior, uma entidade subordinada ao Instituto de Acção Social. No plano das políticas de fundo, destaque para o papel como coordenador do grupo de consulta sobre as políticas e interacção do Conselho Consultivo para a Reforma da Administração Pública. O organismo tem como missão ajudar o Governo em políticas de gestão da máquina pública como o governo electrónico, formação dos trabalhadores dos serviços públicos, gestão do desempenho, reforma do regime jurídico da função pública e gestão de arquivo. Na área das políticas de justiça, destaque para a posição como membro da Conselho Consultivo da Reforma Jurídica e presidente da direcção da Associação de Agentes da Área Jurídica de Macau.
Governo quer mais produtos de investimento e transacções em renmimbi Andreia Sofia Silva - 28 Ago 2020 Chan Sau San, director da Autoridade Monetária e Cambial de Macau, garantiu ao deputado Leong Sun Iok que o desenvolvimento do sector financeiro passa por cinco áreas, como a aposta em mais produtos de investimento e transacções em renmimbi. Na calha, está também a criação de uma “Central de Depósitos de Títulos” com ligação ao mercado financeiro internacional [dropcap]O[/dropcap] Governo pretende diversificar o sector financeiro de Macau e captar novos produtos de investimento. Esta é a garantia deixada por Chan Sau San, director da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM), numa resposta a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok. Para atingir esse objectivo, foi anunciado, em Junho, o projecto “Gestão Financeira Transfronteiriça”, em parceria com o Banco Popular da China e Autoridade Monetária de Hong Kong. Tal vai permitir “o alargamento do leque dos clientes interessados em produtos de financiamento emitidos pelas instituições do interior da China e dos países de língua portuguesa”, explicou o responsável máximo da AMCM. A ideia é que “empresas e instituições de boa qualidade do Interior da China e dos países de língua portuguesa sejam atraídas para emitirem obrigações em Macau, incentivando a participação pró-activa dos países de língua portuguesa no desenvolvimento das operações de investimento e financiamento em renmimbi em Macau”, acrescenta a mesma resposta. A AMCM assume que “o mercado financeiro local tem vindo a ser dominado pelas actividades de depósitos e empréstimos, com ausência de produtos de investimento e financiamento diversificados”. No total, são cinco as acções a desenvolver para diversificar o sector financeiro. Outro dos projectos a desenvolver pela AMCM passa pela criação de uma “Central de Depósito de Títulos” com ligação ao mercado financeiro internacional. Segundo Chan Sau San, esta central de depósitos “possibilita a disponibilização das obrigações emitidas em Macau aos investidores internacionais, bem como o alargamento da margem de mercado para as instituições do Interior da China e dos países de língua portuguesa realizarem directamente financiamentos em Macau”. Aposta no RMB Outro dos passos a adoptar para a diversificação do sector financeiro para por uma maior aposta em acções financeiras em renmimbi. A AMCM pretende realizar uma “optimização” das actuais infra-estruturas em prol de uma regularização, uma vez que funciona, desde 2016, o “sistema de liquidação imediata em tempo real em renmimbi de Macau”. Por sua vez, em 2018, foi autorizado o funcionamento, por parte das autoridades chinesas, do Banco de Compensação de RMB de Macau. O objectivo, aponta Chan Sau San, é que Macau “seja um centro de liquidação em RMB para os países de língua portuguesa” e também uma “plataforma de serviços financeiros” entre a China e os países falantes de português. Na área offshore a AMCM quer estabelecer “regras de liquidez em RMB”. No final de 2019, foi celebrado o “Acordo Swap” de Moedas com o Banco Popular da China, com um valor superior a 30 mil milhões de RMB. No primeiro trimestre deste ano arrancaram as transacções da conversão de patacas em RMB e operações relativas aos contratos de “Swaps”. Segundo a AMCM, estas acções permitem disponibilizar liquidez em RMB no mercado monetário local, o que “motiva o desenvolvimento estável das operações em RMB em Macau”. Ao nível dos recursos humanos, a AMCM quer desenvolver programas de cursos e estágios coordenados pelo Instituto de Formação Financeira, em parceria com instituições do ensino superior.
Jenny Ip, gestora de operações da In Limitada, responsável pela gestão da Cinemateca Paixão Pedro Arede - 28 Ago 2020 Ao fim de dois meses, a nova gestora da Cinemateca Paixão quebrou o silêncio. Jenny Ip, a gestora de operações da Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada conta como os principais inimigos da perfeição têm sido o tempo e as comparações com a CUT. Manter a confidencialidade dos clientes é a razão apresentada para que não se saiba mais sobre o passado da empresa [dropcap]C[/dropcap]omo está a ser o processo de reabertura da Cinemateca tendo em conta a continuidade do trabalho que tem vindo a ser feito? Estaria a mentir se dissesse que não estamos a sentir a pressão do público mas, somos uma equipa nova de jovens que tem, na capacidade de ouvir, a sua maior força. Talvez seja verdade que não temos toda a experiência da equipa responsável pelo que foi construído ou feito aqui, mas somos uma equipa com paixão que quer fazer melhor. Por isso, estamos a fazer todos os possíveis e tudo o que está ao nosso alcance para ouvir o feedback e os conselhos do público, de forma a aplicar mudanças imediatas e promover bons programas nos próximos anos, ao mesmo tempo que asseguramos serviços de qualidade e procuramos corresponder às expectativas do público. Temos enfrentado muitas dificuldades, sobretudo porque somos constantemente comparados com a antiga gestora [CUT]. Pessoalmente, sempre fui fã da Cinemateca Paixão, sempre vim cá ver filmes. Por isso, na verdade, este tipo de pressão funciona como fonte de motivação e isso faz-nos lutar para estar ao nível das expectativas do público. Mas provavelmente o nosso maior desafio tem sido o tempo, porque desde que nos comprometemos com este projecto, não tivemos muito tempo para nos prepararmos, especialmente quando começámos a abordar os distribuidores de filmes. A nossa programação de Setembro é composta essencialmente por clássicos, honestamente, tem sido difícil encontrar distribuidores disponíveis durante o Verão. Tem sido muito desafiante, mas somos persistentes. Porquê a decisão de focar a programação de Setembro nos clássicos? A ideia passa por compreender o impacto que a pandemia teve em cada um de nós e na indústria do cinema, que compete hoje com uma miríade de plataformas online em crescimento. Perante isto perguntámo-nos qual será o futuro do cinema, as alterações que a indústria está a enfrentar e como é que a cultura cinematográfica está a evoluir em termos de visionamento. Por isso, nesta reabertura queremos prestar tributo ao cinema com o programa “Uma carta de amor ao cinema: Produção cinematográfica nos grandes ecrãs”. Nesta programação seleccionámos nove trabalhos de diferentes territórios que estão relacionados com o cinema. Em termos de bilheteira, os números têm sido animadores e considero que tem sido um bom começo. Queremos convidar o público a vir e entrar nas mentes destes realizadores para ver filmes que falam de filmes. Por isso é como se estivéssemos a escrever cartas de amor ao cinema e a partilhar esse amor com o público. Muitos produtores locais estão desiludidos com a ausência do cinema independente e de produções locais. Que comentário faz? À parte deste festival com um tema definido, temos também aquilo a que chamamos a “Selecção de Setembro”, onde temos quatro filmes artísticos, que nunca passaram em Macau. Ao nível das produções locais, um dos principais objectivos passa por garantir que são exibidas na Cinemateca, porque em Macau não existem muitos cinemas interessados em passar filmes locais, optando antes por filmes mais comerciais. Acreditamos que temos um papel importante em assegurar que as produções locais são vistas. Ao longo do ano vamos exibir filmes locais e já iniciámos contactos com alguns realizadores e produtores de Macau. O que é que a In está a fazer para reconquistar a confiança dos produtores locais? Em Outubro, haverá outro festival, onde vão ser exibidos filmes de Macau e de territórios vizinhos, como a China, Taiwan e Hong Kong. Vamos continuar a contactar produtores locais, este é um passo muito importante. Claro que não os conhecemos a todos, mas queremos mostrar que estamos aqui para ajudar. Não queremos excluir ninguém. Queremos ter uma relação próxima porque, pessoalmente, dou muito valor ao trabalho dos produtores de Macau. A sua persistência é inegável quanto a perseguir os seus sonhos e concluir projectos, mesmo com recursos limitados. Achamos também que as oportunidades que existem actualmente para que sejam vistos, não são suficientes e que, apesar de a Cinemateca desempenhar um papel importante, continua a ser um sítio pequeno. Temos de os tornar visíveis nas regiões vizinhas e no resto do mundo. Esta é a visão que queremos alcançar nos próximos três anos, ou seja, explorar o maior número de oportunidades e colaborações com outras regiões. Por exemplo, em Taiwan ou na China há vários cinemas ligados a produções artísticas com os quais já estamos em contacto para trazer alguns filmes independentes e vice-versa. Além disso, vamos promover encontros mensais com produtores das regiões vizinhas para partilhar ideias. Acredito que este tipo de eventos vai contribuir para o desenvolvimento do cinema de Macau e para recuperar a confiança dos produtores locais. Porque se queremos que os produtores locais confiem em nós não basta dizer para o fazerem, é preciso mostrar que os podemos ajudar a explorar mais oportunidades e recursos. O que tem a dizer ao grupo “Macau Cinematheque Matters” que tem sido bastante crítico quanto à nova gestão? Claro que compreendemos as preocupações que têm vindo a mostrar porque não têm certezas sobre a nossa experiência. Isto é perfeitamente compreensível e agradecemos todo o feedback que nos possam dar. Claro que não somos perfeitos, somos uma equipa jovem, mas temos vontade de ouvir, ajustar e fazer mudanças. Esperamos que durante estes três anos possamos provar que partilhamos um objectivo comum, que é fazer deste lugar um dos mais importantes de Macau. Desde que o novo website da Cinemateca foi lançado, surgiram reacções negativas sobre falta de informação, a impossibilidade de comprar bilhetes online e a inexistência de versões em chinês simplificado e português. Porque é que estas funcionalidades não foram implementadas? O que podemos assegurar é que no dia 1 de Setembro tudo estará a funcionar correctamente, incluindo as versões em chinês simplificado e português e a bilheteira online. Claro que lamentamos qualquer inconveniente causado, mas estamos a trabalhar para que no primeiro dia, quando as portas abrirem ao público, esteja tudo de acordo com o caderno de encargos do concurso público. Mas o problema foi a falta de tempo? Sabíamos o que tínhamos de fazer e inicialmente a ideia era apenas deixar tudo pronto no dia 1 de Setembro. Mas também percebemos que o público queria saber mais sobre os filmes e comprar os bilhetes com antecedência e, por isso, preparámos tudo para começar a funcionar uma semana antes. Durante esta semana estamos a testar intensamente o sistema de venda de bilhetes online para garantir que não há erros e que tudo está pronto antes do lançamento. Claro que tenho de admitir que o tempo, desde o momento em que agarramos o projecto até agora, é muito curto tendo em conta o trabalho que há para fazer. Estavam à espera de receber a advertência escrita por parte do Instituto Cultural (IC)? Como tem sido essa relação? Na verdade, temos estado em constante conversação com o IC. Temos um grupo de Whatsapp onde comunicamos praticamente todos os dias e reunimos todas as semanas para garantir que estamos a remar para o mesmo lado. Não estávamos à espera da advertência do IC, mas aceitamo-la, porque compreendemos que temos muito espaço para melhorar. Na verdade, até acaba por ser mais um factor de motivação. Porque é que até hoje a In Limitada não foi capaz de apresentar exemplos da sua experiência na área do cinema? Acredito que este projecto da Cinemateca Paixão é um dos maiores actualmente em curso na empresa e já lançámos, entretanto, o nosso próprio website onde revelamos algumas das nossas experiências passadas. Compreendemos as preocupações do público mas, na verdade, após comunicarmos internamente, a razão pelo qual não podemos revelar muito prende-se com questões de confidencialidade dos nossos clientes. Até porque temos recebido muita atenção por parte do público. Por isso, o feedback que recebemos dos clientes não tem sido positivo em relação a revelarmos a sua identidade. A forma como estamos a lidar com o assunto passa por tentar manter a confidencialidade dos clientes. Adoraria revelar mais, mas não posso. Mas assim não parece que estão a esconder alguma coisa? Sim, nós compreendemos, mas é difícil fazer essa gestão. Por um lado, queremos revelar mais mas, ao mesmo tempo, temos de proteger os clientes, evitando que se transformem em focos de atenção. Por isso, estamos concentrados em dar a conhecer a nossa equipa, porque agora somos nós que estamos ao leme deste projecto, não é a antiga gestora. Queremos muito que as pessoas conheçam a nossa equipa e quem somos, em vez de se focarem naqueles sobre quem não podemos falar. Mesmo sem revelar clientes, qual a experiência da equipa na área do cinema? A nossa directora de operações Tung Mei Yi tem experiência na gestão de cinemas em Hong Kong e juntamente com a June Wu, tem ajudado muito a levar o projecto para a frente. Eu e algum do staff recém recrutado, participámos em trabalhos relacionados com o cinema e a produção cinematográfica nos últimos anos. Por isso, apesar poucas pessoas nos conhecerem, temos experiência. Acreditamos que, apesar de as pessoas não estarem muito confiantes que somos capazes de fazer este trabalho, nos próximos meses, com a programação e a estratégia que vamos apresentar, vão ver o esforço que estamos a fazer. Se não estivermos a fazer um bom trabalho, por favor, digam-nos e nós vamos mudar. Então porquê manter o silêncio ao longo de tanto tempo? Não considera que isso contribuiu para danificar uma relação já de si complicada? Compreendemos e lamentamos que tenha sido assim. Tínhamos muita coisa na cabeça no início do projecto e não era o momento apropriado para desvendar as nossas ideias porque tínhamos acabado de vencer o concurso público e era necessário construir a equipa. Tudo leva tempo. Compreendemos que as pessoas possam pensar “será que nos estão a esconder alguma coisa?”, mas garanto que não. Apenas estamos a preparar tudo antes de aparecermos com uma postura forte sobre o que queremos fazer e os nossos objectivos. Pode partilhar mais acerca do proprietário da empresa? O proprietário é o senhor Leong Chan Weng e foi ele que construiu a equipa quando foi anunciado que a empresa venceu o concurso público. Está à frente da In desde a sua fundação e partilha connosco o objectivo de querer fazer parte da indústria cinematográfica, pela qual tem uma grande paixão. Não sei como descrevê-lo, mas é, simultaneamente, um apaixonado pelo cinema e um homem de negócios que nos uniu nesta missão e que quer muito que o projecto vá para a frente. Consegue esclarecer a relação que existe entre a In e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau (MFTP), presidida por Alvin Chau, e que organiza o Festival Internacional de Cinema (IFFAM)? Tanto quanto sei, não existe qualquer ligação com essa empresa. Mas a nossa equipa já participou nalguns trabalhos do IFFAM e outros festivais. Como equipa, não temos qualquer ligação com a MFTPA. Sente que existe liberdade na escolha dos conteúdos a exibir? Sim, sem dúvida. Mas sob a monitorização atenta do IC. A minha única preocupação é que seja bom para o público e que vão ao encontro da expectativas e exigências do IC. Que comentário tem a fazer sobre o orçamento da In e o apresentado pela CUT, que era mais do dobro? Acho que a melhor forma de mostrar ao público a nossa qualidade é através da programação porque, por exemplo, a obtenção dos direitos para a exibição dos clássicos em Setembro é bastante rara e não é propriamente barata. Desde o dia em que começámos a preparar a participação no concurso, não sabíamos como é que os outros candidatos iriam calcular os gastos mas, até agora, não estamos em qualquer risco de défice e o orçamento está sob controlo. Não podemos comentar como é que os outros calculam os gastos. De que forma a Cinemateca Paixão irá participar no Festival Internacional de Cinema? Até agora ainda não fomos contactados por ninguém em relação ao IFFAM.
DSEC | Taxa de desemprego regista aumento e cifra-se nos 2,7 por cento Andreia Sofia Silva - 27 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgou ontem os últimos dados relativos à taxa de desemprego, que foi de 2,7 por cento entre os meses de Maio e Julho. Trata-se de um aumento de 0,2 por cento por comparação aos meses de Abril a Junho deste ano. Já a taxa de desemprego dos residentes situou-se nos 3,8 por cento, um aumento de 0,3 por cento. No geral, a população desempregada era composta por 11.100 pessoas nestes três meses, mais mil face ao período anterior. O número de desempregados à procura do primeiro emprego representou 9,2 por cento do total da população desempregada, ou seja, mais 3,7 pontos percentuais, dado que os novos graduados entraram no mercado de trabalho. A DSEC adiantou também que, “de entre os desempregados à procura de novo emprego, o número dos que trabalharam anteriormente no ramo de actividade económica das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos foi o que mais aumentou”. Entre Maio e Julho a população empregada foi de 395.400 pessoas, uma redução de 6.500 trabalhadores face aos meses de Abril a Junho, “devido principalmente ao número de trabalhadores não residentes que viviam em Macau ter descido”, explica a DSEC. Registou-se também uma quebra no número de residentes empregados, de 1.600 pessoas. O número de residentes empregados correspondeu a 277.700 pessoas. A DSEC conclui ainda que “o número de residentes empregados das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos, bem como do comércio a retalho decresceu”. No entanto, “o número de residentes empregados da construção aumentou”.