Director executivo da aplicação de vídeo TikTok demite-se Hoje Macau - 27 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] director executivo da TikTok renunciou hoje ao cargo, no momento em que os EUA pressionam o proprietário chinês a vender a popular aplicação de vídeo, que a Casa Branca diz ser um risco para a segurança nacional. Numa carta aos funcionários, Kevin Mayer disse que sua decisão surge depois de o “contexto político ter mudado drasticamente”. A demissão acontece depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter ordenado a proibição do TikTok, a menos que a proprietária, a Bytedance, venda as suas operações nos EUA a uma empresa norte-americana num prazo de 90 dias. “Fiz uma reflexão significativa sobre o que as mudanças estruturais empresariais exigirão e o que isso significa para o papel global com o qual me comprometi”, escreveu Mayer. “Neste contexto, e como esperamos chegar a uma resolução muito em breve, é com o coração pesado que gostaria de informar (…) que decidi deixar a empresa”, salientou o ex-executivo da Disney, que assumiu o cargo de director executivo da TikTok em maio. Os EUA aumentaram o escrutínio das empresas de tecnologia chinesas, justificando a ação com preocupações de que possam representar uma ameaça à segurança nacional. A Bytedance está actualmente em negociações com a Microsoft para que a empresa norte-americana compre as operações da TikTok nos EUA.
Covid-19 | Coreia do Sul com 441 novos casos, pior registo diário desde Março Hoje Macau - 27 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] Coreia do Sul registou 441 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, anunciaram as autoridades, o pior balanço diário desde 7 de Março, quando o país contabilizou 483 infecções. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul informou que 315 dos novos casos são provenientes da área metropolitana de Seul, onde vive metade da população do país, que conta com 51 milhões de habitantes. O aumento de casos já levou os peritos de saúde a alertar para a possibilidade de os hospitais esgotarem a capacidade para acolher novos doentes. A Assembleia Nacional de Seul foi hoje encerrada e mais de uma dúzia de deputados do partido no poder foram forçados a entrar em quarentena, após um jornalista que cobriu uma reunião dos líderes do partido ter testado positivo, segundo a agência de notícias Associated Press (AP). Na semana passada, o Governo da Coreia do Sul alargou a todo o país uma série de restrições em vigor até ali apenas na capital, Seul, devido ao aumento de casos de covid-19. As restrições, que correspondem ao nível 2 de uma escala de 3, incluem o encerramento de espaços públicos e estádios desportivos, a redução do número de alunos até um terço do total, o encerramento de cafés e salas de ‘karaoke’ e o cancelamento dos serviços religiosos dominicais. As reuniões em espaços fechados com mais de 50 pessoas e com mais de uma centena em espaços ao ar livre também passaram a estar proibidas a nível nacional. Já em 25 de agosto, a Coreia do Sul ordenou que as escolas em Seul retomassem o ensino à distância. As autoridades sanitárias descreveram o surto das últimas duas semanas como a maior crise do país desde o surgimento da covid-19, e já alertaram que, se a propagação não abrandar, poderão vir a elevar as medidas para o nível 3. As autoridades temem, no entanto, que essas medidas, que limitariam a economia às actividades essenciais, prejudiquem a recuperação do país. O banco central da Coreia do Sul baixou hoje as suas perspectivas de crescimento para a economia nacional, prevendo uma contração de 1,3%. A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 820 mil mortos e infetou mais de 23,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Lojistas de Macau duvidam que reinício de vistos turísticos tragam retoma Hoje Macau - 27 Ago 2020 [dropcap]C[/dropcap]omerciantes do centro histórico de Macau ouvidos pela Lusa duvidam que a vaga inicial de vistos da província vizinha de Guangdong, responsável pela maioria do mercado turístico chinês, garanta a retoma do turismo, devastado pela pandemia. Na Rua Pedro Nolasco da Silva, a poucos metros do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e da sede da Casa de Portugal em Macau, o senhor Lam, dono de uma loja dos famosos chás, tem o seu estabelecimento praticamente sem clientes e não augura grandes mudanças. “A meu ver, o valor de negócio não vai rapidamente aumentar porque os vistos são só para a província de Guangdong e a maioria dos turistas vem para Macau só para jogar”, conta à Lusa. “A abertura de vistos é uma boa notícia, mas não sei se é fácil serem aprovados”, disse. Neste momento, admite, as suas receitas dão apenas para pagar o aluguer do pequeno espaço, o salário aos funcionários, electricidade e água. Nem o facto de ser período de férias, nem os cartões de consumo que o Governo deu aos residentes para ser gasto no comércio local, ajudou: “Pensava que o negócio ia melhorar, mas …”, desabafa, sem acabar a frase. Lam sabe que se a situação se mantiver estável em termos de contágios, a China planeia autorizar em todo o país a emissão de vistos turísticos para Macau a partir de 23 de Setembro e isso deixa-o moderadamente confiante: “Se a situação da pandemia melhorar no futuro há mais abertura de vistos para mais províncias, mas mesmo assim o negócio não vai aumentar nos próximos dois, três meses”. A tónica do discurso dos vários comerciantes ouvidos pela Lusa foi praticamente sempre a mesma: expectantes, pouco esperançados, a pedirem mais apoios ao Governo e a desejar que 23 de Setembro traga a luz verde para a emissão dos vistos em toda a China. Vistas largas Um pouco mais à frente, já no coração do centro histórico, a Rua de São Paulo, que alberga as famosas ruínas, está praticamente vazia, com apenas alguns residentes de férias ou a aproveitarem o fim da hora de almoço. Nesta zona, provavelmente a mais movimentada do território e que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes, um funcionário da loja Feng Cheng Recordação Macau diz que até agora só vendeu 10 por cento em relação ao ano anterior. O número avançado pelo funcionário está em sintonia com os últimos valores avançados pelo Governo: o número de visitantes em Macau caiu mais de 90 por cento em Junho e 83,9 por cento no primeiro semestre, nos primeiros sete meses do ano as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8 por cento e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre foi de 58,2 por cento. “O valor agora pode aumentar agora um pouco com os vistos, mas acho que é impossível voltar para o nível do mesmo período do ano passado”, aposta. Até porque, explica, mesmo com a emissão de vistos, “há uma série de limitações para passar a fronteira, como a obrigação de fazer o teste de ácido nucleico e usar máscara”. Em frente a este estabelecimento de recordações, a loja Kin Seng Mobílias encontra-se também sem clientes e a viver a mesma incerteza. “Por causa da epidemia quase não há nenhum negócio”, evidencia a proprietária, a senhora Sio, atirando logo de seguida: “espero que a situação melhore e com isso mais províncias tenham vistos para cá”.
A Covid-19 e o medo Jorge Rodrigues Simão - 27 Ago 2020 “Pandemic is not a word to use lightly or carelessly. It is a word that, if misused, can cause unreasonable fear, or unjustified acceptance that the fight is over, leading to unnecessary suffering and death.” Dr. Tedros Adhanom – director geral da OMS [dropcap]O[/dropcap] medo é um alerta que nos ajuda a reagir face a potenciais perigos, activando o corpo e a mente para desenvolver os recursos necessários para enfrentar ou evitar uma ameaça, bem como para a prevenir. Assim, mesmo perante uma emergência como a propagação da infecção COVID-19, ter medo é absolutamente normal e saudável. O primeiro passo para ultrapassar o medo é aceitá-lo, o segundo é geri-lo e o terceiro é enfrentá-lo. Porque os medos não devem tornar-se excessivos e descontrolados, especialmente face a uma pandemia, onde a invisibilidade do inimigo pode desencadear reacções fortes e levar ao pânico. Nem devem transformar-se em fobias, um poderoso condicionamento da nossa liberdade de agir e do seu impulso infeccioso. Neste momento, o medo e a ansiedade habitam na alma e no corpo de todos, forçados a abdicar de muitas liberdades e oportunidades para nos proteger deste inimigo impiedoso e invisível. Nestes meses, muitos falaram, tentando dar conselhos, alguns estão a minimizar mostrando-se na rua sem protecção recomendada, outros vêem nesta emergência uma situação apocalíptica. Em todos, porém, o medo e a sensação de perigo encontraram um lar e guiaram o nosso comportamento. Gerir o medo significa, antes de mais, ter informação correcta, não só sobre o perigo actual (neste caso a ameaça de infecção, o modo de transmissão, a duração, o risco de graves consequências sanitárias e económicas), mas também sobre as emoções que nos afectam. Emoções que infelizmente são desagradáveis e causam grande desconforto, mas que podem ter um valor fundamental para nos orientar para comportamentos que nos podem salvar. Sem ter a presunção de oferecer receitas improváveis para se tornar corajoso e fazer desaparecer o medo, é necessário que se compreenda o mesmo nas suas expressões, nas suas funções e nos seus mecanismos e como distinguir o medo “pequeno”, o normal, do “grande”, patológico, a que mais correctamente podemos chamar de fobia. Partindo da premissa de que não é a intensidade da emoção experimentada que distingue o medo da fobia, mas a experiência e o contexto em que ocorre, é preciso agarrar e compreender as implicações emocionais do medo em situações não urgentes. As pessoas têm de aprender técnicas comportamentais e práticas sobre como gerir o medo e lidar com a fobia, mesmo que, no caso de perturbações fóbicas, a ajuda de um profissional seja essencial para reconquistar a liberdade perdida. É importante conhecer as implicações emocionais que a propagação do vírus tem induzido em todos, especialmente nos seus componentes de medo e ansiedade, tornando-nos temporariamente fóbicos por necessidade. Além disso, é urgente que as pessoas sejam ajudadas a gerir o stress e a dirigir os seus recursos psicológicos da forma correcta para enfrentar com confiança este momento difícil, em que a COVID-19 está a perturbar radicalmente as nossas vidas individuais e colectivas. Além da normal prevenção que tem sido feita, o suporte psicológico é de primordial importância e tem falhado substituído pelo crescente alarmismo dos números de mortos, infectados e recuperados que a cada minuto a média fornece. A pandemia COVID-19 é um acontecimento que nos apanhou de surpresa nos últimos meses, mas não é a única emergência epidémica que a humanidade conheceu. Também noutros períodos históricos (durante a propagação de doenças infecciosas como a peste, varíola, gripe espanhola, asiática, Ébola, SARs, só para citar algumas…) o homem teve de enfrentar riscos e perigos que são substancialmente invisíveis aos seus olhos, mas extremamente agressivos. E é precisamente a invisibilidade do inimigo que pode desencadear em nós fortes reacções de ansiedade e medo e levar ao pânico, popularmente entendido como uma emoção de extremo medo e angústia. Nestes momentos, a nossa mente joga à defesa a fim de minimizar os riscos e obriga-nos a comportamentos que limitam a nossa capacidade de explorar, pondo-nos em espera até ficarmos imobilizados. Face a um perigo como a pandemia, será correcto ter medo? Uma das principais funções da nossa inteligência emocional é ajudar-nos como indivíduos e ao ser humano, como comunidade e espécie, a sobreviver. A bagagem das nossas emoções primárias é composta por uma emoção positiva, alegria; uma neutra, surpresa; e quatro negativas que são a raiva, medo, repugnância e tristeza. Assim, cerca de 67 por cento das nossas emoções primárias são negativas, porque o processo evolucionário seleccionou as emoções negativas como o melhor sistema de defesa para a nossa sobrevivência. Portanto, viver o medo, a raiva e a tristeza num momento perigoso como indivíduos e para a humanidade, é absolutamente natural. Nesta perspectiva, a sensação generalizada de medo e ansiedade, se por um lado cria desconforto, por outro, reforça a nossa capacidade de nos defendermos, estimulando a atenção, a cautela, tornando-nos mais reactivos. O medo e a ansiedade tornam-se assim amigos preciosos para pôr em prática todas as defesas e comportamentos necessários para superar o momento difícil. É de lembrar que ter medo e ansiedade perante o perigo é normal e útil. Uma das melhores estratégias que a nossa mente põe em prática, face a uma ameaça como o vírus, é identificar o mais possível o inimigo. Por esta razão, agarramo-nos às notícias, emissões de televisão e rádio, catapultamo-nos ansiosamente para o mar magnífico da Web, procurando notícias, sugestões, garantias, com o risco de sermos atraídos pelo que queremos ver e de cairmos num estado de confusão, esmagados pela incerteza devido aos montões de informação contraditórios. É pouco mais do que uma gripe trivial, é perigosa apenas para os idosos, tem uma taxa de mortalidade muito superior à da gripe, destruirá a economia, os cuidados de saúde entrarão em colapso, temos um dos sistemas de saúde mais válidos do mundo, ficamos em casa, trabalhamos, usamos máscaras, as máscaras não são tão úteis, e assim por diante. A confusão, a incerteza, a sensação de impotência assaltam-nos e invadem-nos cada vez mais, libertando ansiedades e medos que são acompanhados por comportamentos nem sempre realmente úteis, se não mesmo prejudiciais. Como podemos ter a quantidade certa de medo? A reacção emocional deve obviamente ser proporcional ao perigo que enfrentamos e a resposta é tanto mais apropriada quanto mais o perigo é conhecido. Ter informação clara, precisa e fácil de compreender é a chave para encontrar o nível certo de ansiedade, alerta, e medo. A responsabilidade pela comunicação adequada por parte dos órgãos institucionais e da imprensa é crucial, tal como a nossa capacidade de discriminar entre informação fidedigna e informação não verdadeira. Quando o perigo não está bem definido e a informação é inconsistente, então colocamo-nos no mais alto grau de ansiedade, alerta, e medo. É de lembrar que para se ter uma reacção de ansiedade e medo adequada, é essencial ter informação clara e correcta. Em situações de emergência, a informação desempenha um papel fundamental, porque nos permite activar correctamente as nossas defesas de forma mais apropriada. Face a qualquer perigo, só podemos escolher o comportamento ideal se tivermos uma ideia clara do “inimigo” que enfrentamos, e quando este é invisível, como no caso de infecções bacterianas e virais, torna-se ainda mais crucial poder escolher onde obter informações válidas. Muitas vezes estas fontes são os peritos na matéria, que têm as ferramentas para melhor ler a situação, como com uma espécie de lupa, e que nos fornecem dados e opiniões que nos ajudam a ter a melhor imagem possível da situação. Contudo, frequentemente nestas circunstâncias, os líderes de opinião e peritos parecem estar divididos em duas categorias distintas, o “tranquilizador” e o “catastrófico”. Pessoas de alto perfil e experientes discutem dados, medidas, experiência profissional e trazem diferentes pontos de vista. Então, porquê toda esta confusão? Porque é que os peritos e pessoas de reconhecida sabedoria dão tanta informação incoerente e opiniões muito diferentes ou mesmo opostas? A resposta reside no chamado “viés confirmatório” que, em resumo, não representa mais do que a tendência muito tenaz de se cingir aos seus pontos de vista de uma forma prejudicial. Mesmo os peritos, todos, estão à mercê deste limite. A expressão viés confirmatório (literalmente “tendência para confirmar”) define em psicologia um dos fenómenos mais humanos e frequentes em cada tempo e latitude. É um termo técnico, mas poderia simplesmente ser definido como preconceito, no seu significado mais comum de julgamento que é dado antes de conhecermos factos ou pessoas, e que condiciona o que vemos e o que ouvimos. Em suma, a nossa mente, através deste mecanismo, forma uma opinião sobre um assunto ou uma pessoa, baseada em crenças pessoais ou comummente aceites, após o que procura todas as notícias e informações que confirmam o seu pré-julgamento, tornando-se cega a tudo o que contrarie a sua ideia inicial. O preconceito confirmatório não tem consequências particularmente graves quando nos perguntamos se o mar ou as montanhas são melhores para a nossa saúde mental, mas pode levar-nos a comportamentos perigosos para nós e para os outros face a ameaças difíceis de identificar e não directamente observáveis. E como podemos abrir os olhos e desvendar as opiniões dos peritos? A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo. Para combater os nossos pré-julgamentos devemos deixar as opiniões em paz e confiar em factos, números e ser guiados na interpretação destes dados por fontes autorizadas e reconhecidas. Uma vez escolhidas as fontes que são respeitáveis, é essencial ouvi-las mesmo quando fazem declarações que nos parecem erradas, porque colidem com os nossos preconceitos. E se quiséssemos ser ainda mais eficazes contra o nosso preconceito de confirmação, deveríamos prestar mais atenção e procurar precisamente todos esses dados e informações e, porque não, as opiniões de fontes autorizadas e pessoas que contradizem as nossas crenças e pontos de vista, seguindo um princípio chave do método de pensamento científico desenvolvido por um dos grandes filósofos do século passado, Karl Popper, que é o princípio da falsificação das nossas hipóteses. No final deste caminho, depois de concordarmos em ouvir “realmente” aqueles dados e opiniões que não sentimos que sejam nossos, só então poderíamos tirar conclusões capazes de encapsular a complexidade das situações e que se aproximem da verdade. Quais são as fontes de informação mais fiáveis? Nunca como agora são demasiadas pessoas a expressar opiniões pessoais e que podem alimentar medos excessivos, bem como comportamentos exagerados (como encher o frigorífico com comida fresca). Na procura de informação, que actualmente depende demasiado facilmente da inclusão de palavras-chave em algum motor de busca, é essencial ter em mente uma escala de fiabilidade de fontes como Organização Mundial de Saúde, Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças e os departamentos nacionais responsáveis de cada país; peritos reconhecidos a nível internacional e nacional que exprimem frequentemente as suas opiniões pessoais com base na sua experiência e não em dados e para as restantes fontes de informação, a fiabilidade parece insuficiente para as considerar algo mais do que uma opinião pessoal. É de não esquecer que se deve ouvir apenas informação de fontes fiáveis. Que especialistas ouvir em caso da pandemia? Devem ser os peritos mais adequados para interpretar factos e dados são os epidemiologistas, infectologistas, imunologistas e virologistas. A experiência adequada em investigação científica fomenta o desenvolvimento de uma mente crítica apropriada que, embora não isente tais peritos de pré-julgamentos, pode ajudá-los a ter uma visão mais realista e completa do contexto. Neste sentido, o cientista especialista não decide mas tenta informar correctamente, traduzindo os dados em informação compreensível para não especialistas, ou seja, cidadãos e instituições, que em vez disso devem tomar as decisões mais adequadas, com base em informação mais próxima da verdade. É de lembrar que a fim de obter informações correctas, devemos recorrer a cientistas especializados que nos informem e nos ajudem a tomar as decisões mais adequadas. Melhores dados ou opiniões? As opiniões pessoais, mesmo de figuras de autoridade no campo médico-científico ou de pessoas respeitadas no mundo político, tendem a ser superficiais, se não forem apoiadas por uma interpretação correcta dos dados. Números, modelos matemáticos, previsões estatísticas são ferramentas úteis para melhorar as opiniões, torná-las mais fiáveis e úteis para esclarecer a verdadeira extensão de um perigo. É importante não dar demasiada importância às opiniões e ler os dados e factos tentando tomar a sua decisão. Qual deve ser o nosso comportamento face ao perigo de contágio? Quando somos confrontados com um perigo, não só activamos as nossas emoções negativas, como também activamos automaticamente três comportamentos defensivos que são a imobilização, luta e fuga. Face a um perigo grave e iminente, paralisamo-nos, na esperança de que o inimigo não nos veja. Quando pensamos que o perigo é demasiado grande para ser combatido, então fugimos; quando pensamos que temos a força para o enfrentar e ultrapassar, então lutamos. Estes comportamentos, como a história do desenvolvimento evolutivo do homem e dos seres vivos diz-nos, provaram ser os mais eficazes para a sobrevivência. É de recordar que estar zangado e triste com a pandemia é normal e deve ser aceite. Outro sentimento que nos acompanha durante a emergência pandémica é a perplexidade, a sensação de que o tempo parou. Esta novidade perturbadora e incerta, este sentimento de ser confrontado com um perigo real mas também não bem definido, a quebra dos nossos hábitos, a impossibilidade de planear o futuro próximo, desencadeia em todos nós, uma das reacções mais típicas do medo, a imobilização. Quando somos confrontados com um perigo, o nosso cérebro está predisposto a activar três mecanismos de defesa a luta, fuga ou imobilização. A luta é activada quando somos confrontados com um perigo que podemos vencer, que de alguma forma sabemos enquadrar e sentir que podemos vencer; a fuga é activada quando somos confrontados com um perigo conhecido e claramente superior às nossas forças. A imobilização, que é frequentemente a primeira reacção face a um perigo inesperado, está ligada precisamente à incerteza sobre o inimigo que temos de enfrentar e à impossibilidade de avaliar qual é a melhor estratégia, seja para lutar ou para fugir. A imobilização traduz-se em perplexidade, abrandando a sensação de tempo, incerteza e espera. Este estado de suspensão cria uma espécie de silêncio interior que nos permite aguçar os sentidos e a mente em busca da informação e das pistas que podem lançar luz sobre o perigo que temos de enfrentar, planeando a acção mais apropriada para activar, a luta ou a fuga. Tentamos compreender o que está a acontecer, quais são os riscos, qual é a força do inimigo que temos de enfrentar, quais são os nossos recursos, com quem podemos contar e, no caso específico da COVID-19, tentamos compreender como é transmitida, quem a pode transmitir, como nos podemos defender e prevenir da infecção, como as instituições nos podem ajudar, como fazer as compras correctamente, como trabalhar eficazmente no trabalho inteligente, e assim por diante. Há muitas perguntas que precisamos de fazer a nós próprios para termos uma imagem suficientemente clara que nos permita agir. Sentimo-nos “entre cores que estão suspensas”, nas palavras de Dante em O Inferno, e esperamos que a natureza, a ciência, os médicos e, porque não, também Deus, nos dêem a sensação de certeza e previsibilidade necessárias para voltar a planear o futuro e a agir.
Holandeses voadores – IV Luís Carmelo - 27 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]gora que o céu começou a abrir, reconheço no ar uma voz que desfalece nas clareiras dos pinheiros mansos e no lago do parque. Uma rememoração de abelhas, paixões e pequenas fugas. A paisagem faz eco das chuvas silenciosas do passado, das melodias de circo, e dos casais inflados da belle époque a desvairar por um remanso de pele nua onde tocar com os dedos. Um fogacho tão breve como o dos gansos que esvoaçam em frente às vidraças onde aguardo o meu aluno. Dava aulas no Instituto Real dos Trópicos, razão por que todos os dias viajava do bairro do Jordaan até perto de um equador imaginário, liso como uma iluminura. Os alunos aprendiam Português antes de seguirem para Moçambique, Brasil, S. Tomé ou Angola onde iriam trabalhar. Geralmente eram pequenos grupos, mas, durante esses meses em que o céu me permitiu reconhecer memórias alheias que afinal me pertenciam sem eu saber, apenas tive um único aluno, um médico chileno. Curiosamente, o médico falava Português. Articulava a língua com a mestria dos flamingos que tingem a plumagem com os caranguejos que devoram. A sua presença no curso era meramente burocrática, embora fosse um requisito obrigatório da bolsa que o levaria depois até à Guiné, seu destino final. Confessou-me logo de início que as semanas de curso que iríamos partilhar seriam um enfado, um despropósito, uma aura em ponto morto. Mas eu continuava a olhar para as vidraças, por trás da fisionomia sonolenta do meu aluno, e reconhecia naquela visão uma paleografia familiar. Era como se este trecho de vida já tivesse sido escrito. No segundo dia de aulas, levei comigo um livro de John Ruskin que me tinha sido oferecido por um amigo de passagem pela Holanda. Ao ver o livro, o médico ficou esfuziante, mesmo perturbado, pois a sua primeira viagem na Europa concluíra-se em Veneza e ficara alojado precisamente no hotel onde o romântico inglês tinha vivido. Na hora de conversa que se seguiu, percebi que o meu aluno era um esteta que estaria a fugir para África, devido a uma tragédia amorosa e não à habitual generosidade do seu ofício sem fronteiras. Talvez tudo isto não passasse de um sinal. Foi no último dia do curso que a bicicleta surgiu do outro lado das vidraças. Em vez do carrinho de bebé, era num cesto de verga que ela agora transportava as folhas dos plátanos. Dançava ainda dentro do vestido vermelho do dia anterior. Fiquei paralisado, diluído no éter. O médico usurpou-me o mutismo e sorriu com ventania de gávea, parecendo conhecer uma longa história que não era a sua e que há poucas horas se iniciara. É verdade que só voltei a vê-la quando, dias mais tarde, a vi reaparecer de dentro da loja marroquina. Nesse fim de tarde, dadas as coincidências, o meu aluno contou-me tudo. E eu então desapareci a bordo daquela pequena morte que mal sacia os ossos, quanto mais um remanso de pele nua a arder. Talvez tudo isto fosse de facto um sinal. 8 Há asas que só batem no infinito. São aquelas que eu suporto nos meus braços. Sempre temi os animais com penas, mesmo os cisnes que vivem cem anos em paciente monogamia e que em terra vagueiam com pouco jeito, desequilibrando prumadas. No entanto, acabadas as aulas, o que mais desejava era espraiar o tempo e, nessa operação de perda voluntária, vê-los a deslizar na água e perceber na sua navegação uma vasta epopeia em silêncio. As linguagens dos humanos não conseguem captar uma tal gesta, como também não conseguem detectar a matéria escura do universo. Os cisnes não proferem matemática, nem gastam palavras, preferem concentrar o esforço nos movimentos do seu longo pescoço, uma verdadeira galáxia branca ligada gravitacionalmente a formas secretas de compaixão. Até que a chuva miúda reaparecesse, sentava-me no banco do parque a observar aqueles relatos que vibravam como se fossem um irrepetível amor à primeira vista. Até que nos encontrámos os dois na cidade de Utreque para ver e ouvir tocar Astor Piazzola e, no intervalo, eu rumorejei-lhe estas teorias idiotas ao ouvido. Ela adorou a ideia de uma compaixão que não se reduzisse ao esquisso “dói-me a dor do outro”. Não é o luto do desperdício que cura a existência, segredou, e, de seguida, agarrou-me no braço e conduziu-me para o palco em contradança sem que as palhetas livres do bandoneón sequer nos vislumbrassem. A chuva miúda regressaria ao fim da tarde sem um foco definido. Um tango sem o propósito de ser tango para que amar pudesse ser a transcendência dos mundanos. Estava cansado de horas e horas de aulas, mas persistia. Observava cuidadosamente a locomoção dos cisnes e percebia nela cada vez mais uma fala que se desvanece. Como se o dizer do apaixonado fosse a alegria do desperdício, o verbo que desaverba. Nesse tempo eu fumava cigarros de enrolar, ou seja, fazia de mim uma nuvem ou uma tenaz e manuseava a febre dos objectos metálicos que se transformam em fogo ou nos acessos em labareda da música de Piazolla. O privilégio do fumador é atar os pulmões às suas paixões, respirando os andamentos dos cisnes com a dupla profundidade de um tango. Por isso, cobria a cabeça com o capuz e preferia não subir para o eléctrico. Seguia a pé durante alguns quilómetros pela margem do Canal dos Príncipes, entrava e saía sempre que me apetecia no palco por entre as palhetas livres do bandoneón e lembrava-me demasiadas vezes da história do médico chileno de que, entretanto, me despedira. (continua)
A palavra e a teia António Cabrita - 27 Ago 2020 [dropcap]T[/dropcap]erça-feira, dia 25, no Teatro da Rainha, terá lugar mais uma sessão do Diga 33, as conversas em torno da poesia moderadas pelo Henrique Fialho, e desta vez o convidado sou eu. Imprudência minha em ter aceitado e do Henrique em dirigir-me o convite pois sou um medíocre orador. Chego depois de uma semana no Algarve, assombrada pelo “esplendor” ártico das águas; mas onde, com um entusiasmo juvenil me apanhei numa actividade que há décadas não praticava: a apanha de conquilhas na maré baixa, única forma exaltante de não pensar no frio. Não as sondava com o pé, drago as areias com as mãos, penetro com os dedos os seus mantos suaves para lhes perscrutar os nós, os bivalves. Ainda tenciono ler um ensaio sobre a metáfora da filósofo e poeta de Barcelona Chantal Maillard, que me ajudará a aclarar algumas ideias para a conversa, pois tenho muitas afinidades com o que ela pensa. Mas poderei desde já apontar alguns princípios, os meus “nós”: – a poesia e a ciência são as duas formas de conhecimento que admitem por atracção e desencadeamento o desconhecido; – o poema não é uma transcrição de um mundo conhecido de antemão mas sim um processo em que a intercepção e a descoberta andam a par; – o poeta não escreve só para expressar-se mas igualmente para orientar-se dentro da sua própria vida ; – a realidade não pode ser postulada sem o esforço simultâneo para a compreendermos, sendo a arte e a poesia, como processos contínuos, um testemunho desse desejo; – a palavra é na verdade uma fibra e o poema um feixe de fibras que se organiza como uma intrincada rede de densidade semântica. O mais próximo do poema é a teia de aranha, visto que no poema como naquela “o todo está inteiro em cada uma das suas partes” (logrando uma dimensão fractal) e que, igualmente, quando algo toca um fio da teia do poema esta vibra inteira; daí que uma só palavra errónea possa destruir o poema; – o poema arma a teia para capturar insectos mas a qualidade da atenção que desperta, a intensidade da sua atracção, só eclode quando lá caem pássaros e essa eclosão do inesperado é que abre espaço para o mistério (uma forma de inteligência não circunscrita cujas leis clamam por tornar-se conhecidas) que todo o verdadeiro poema sonda; – a este “inesperado” que rompe o fluxo chama-se comumente irracionalidade, imaginação, compulsão isomórfica ou revelação – quatro maneiras de designar o mesmo: há níveis diferentes de realidade e modos distintos de percepção duma mesma realidade; – o realismo, como se diz na Índia, é apenas um dos quarenta modos de decoração da realidade, i. é, a sê-lo não se equivale ao modo restringido e em auto-decapitação como é de uso concebê-lo nas poéticas hoje mais em voga na nossa tradição mas antes como um modo de abrir “poros” na realidade; – o poema abre “poros” para além da esquadria da retórica e de uma visibilidade à cabotagem; – um bom poeta aprende a utilizar em seu proveito as forças do acaso para as reenquadrar na sua pauta de referências, não para as sufocar, mas antes como um plinto ou um “acelerador de partículas” e a um ponto que, paradoxalmente, não pareça haver nada de casual na sua obra, nem nenhum elemento gratuito que obscureça a percepção do poema; – há uma irracionalidade descendente e uma irracionalidade ascendente: Eugenio D’Ors, chama a esta o “nível angélico” (uma espécie de supraconsciência, que material e fenomenicamente é o polo contrário do subconsciente freudiano), embora este possa ter pouco de pio, sendo apenas o acesso a um nível cognitivo onde voltam a re-ligar-se os padrões e pulsa uma nova inteligibilidade da totalidade, que no plano anterior era apenas intuída; admitida a hipótese de que haja devir e seja fito do homem superar-se; – a um ateu como eu é mais fácil admitir com o Fausto de Pessoa, que os deuses têm os seus próprios deuses, e que no fundo o sentimento do religioso é um saudável princípio de proporcionalidade que o poeta não se deve abster de possuir; no que ajuda ter a honestidade de integrar-se numa tradição e num sistema de “admirações” que lhe dão lastro e perspectiva, sabotando de antemão o seu ego q.b.; – toda a simplicidade é um resultado e não um postulado criativo; ou seja, é mais fácil a um barroco ser simples quando o texto assim o exige do que a um “militante da austeridade” ser criativo; – a quantas palavras deve recorrer o poeta, na sua paleta, ou qual deve ser a extensão do seu léxico? As suficientes para lembrar a pertinência com que Wittgenstein observava que os limites do nosso mundo são os limites da nossa linguagem. Se numa cesta de frutos só houver nozes, o nosso conhecimento dos insectos será mais limitado do que se houver um pomar na nossa cesta. É neste sentido que Harold Bloom defendeu, num livro de setecentas páginas, que Shakespeare (que usou quase trinta mil palavras) foi quem “inventou o humano”. Este pôde entender novos e mais subtis modos de relacionamento humano e político e até de afecções sentimentais porque as iluminou pela primeira vez num plano distinto de acções com a amplitude das modulações da sua imersão numa linguagem total; – “Quando encontro/ neste meu silêncio/ uma palavra/ está fundida na minha vida/ como um abismo”, escreveu Ungaretti, descrevendo com exactidão a minha relação com a palavra: por estar imerso no silêncio e no deserto é-me mais difícil falar do que escrever. Não sei se vou conseguir explicar estes meus princípios, ou se me evadirei contando histórias. Fica o esboço.
Covid-19 | Ai Weiwei estreia novo documentário filmado em Wuhan Andreia Sofia Silva - 27 Ago 2020 O artista e activista Ai Weiwei acaba de apresentar um novo documentário onde revela como a cidade de Wuhan viveu a pandemia da covid-19, mas que é também uma crítica à alegada ocultação de números e de informações sobre a doença. Disponível em plataformas pagas de streaming, “Coronation” foi filmado por cidadãos de Wuhan que ajudaram o artista neste projecto [dropcap]A[/dropcap] dimensão de uma cidade sobressai mais quando está vazia. Em Wuhan, no início do ano, debaixo de uma neve intensa e com baixas temperaturas, essa dimensão era ainda maior com uma população fechada em casa a proteger-se de uma pandemia. Nos hospitais, médicos vestiam as batas e punham as máscaras, iniciando jornadas de trabalho sem fim. Lá fora, as estradas estavam vazias, ou então enchiam-se de ambulâncias. Depois, havia os prédios cheios de luzes, o vazio, o silêncio no meio do caos. Ao mesmo tempo, a velocidade na construção de novos hospitais. O novo documentário de Ai Weiwei, intitulado “Coronation”, foi filmado com a ajuda da esposa, Wang Fen, que tem irmãos a viver em Wuhan. O filme, com cerca de uma hora de duração, é o resultado de mais de 500 horas de gravações. O projecto não pretende apenas mostrar a realidade vivida no epicentro da pandemia, mas constitui também uma crítica à alegada ocultação do número de mortes por covid-19 e dos primeiros casos. Disponível para compra ou aluguer nas plataformas de streaming Alamo on Demand [para os EUA] e Vimeo [para o resto do mundo], “Coronation” tem como protagonistas os cidadãos que ficaram presos em Wuhan devido ao fecho das fronteiras da cidade, os que só regressaram muitas semanas depois por estarem fora antes do confinamento ou os médicos exaustos que adormecem em cadeiras dos hospitais com os fatos de protecção. Mas não só. Há também relatos de pessoas que passaram a viver no limbo, tal como um filho que se vê sujeito a um extenso processo burocrático para conseguir ficar com as cinzas do pai vítima de covid-19 ou um trabalhador da construção civil, voluntário, que não consegue regressar a Henan, a sua cidade natal, depois de terminar o seu trabalho. Apesar dos telefonemas, explicando a situação, este não consegue sair de Wuhan e acaba a dormir no carro. O jornal The Guardian noticiou o suicídio deste voluntário. A nota final O papel do Partido Comunista Chinês (PCC) no processo de combate à pandemia é também retratado neste documentário, quer pela cerimónia de boas-vindas a médicos e enfermeiros que receberam o prémio de adesão ao PCC, quer através de uma conversa com uma idosa. No sofá da sua casa, esta militante defende que a China continua a ser um bom país para se viver, criticando aqueles que querem emigrar e que, no estrangeiro, se vêem obrigados a pagar elevadas quantias para ter acesso a cuidados de saúde. Pelo meio, Ai Weiwei apostou em cenários quase futuristas de uma cidade vazia, com música a condizer, para depois terminar com uma mensagem. “O primeiro caso de covid-19 surgiu em Wuhan a 1 de Dezembro de 2019. Durante várias semanas as autoridades ocultaram informações sobre a transmissão do vírus entre humanos, bem como os dados relativos às infecções e mortalidade. A 23 de Janeiro de 2020, Wuhan foi sujeita ao fecho de fronteiras.” Sobre a China Ao jornal New York Times, Ai Weiwei revelou que este documentário é, acima de tudo, uma tentativa de mostrar como é o seu país. “Os espectadores têm de perceber que isto é sobre a China. Sim, é sobre a quarentena, mas, acima de tudo, tenta reflectir o que os cidadãos chineses comuns tiveram de enfrentar.” “O filme leva-nos ao coração dos hospitais temporários e unidades de cuidados intensivos, mostrando todo o processo de diagnóstico e tratamento. Os pacientes e as suas famílias são entrevistados, revelando o que pensam sobre a pandemia, ao mesmo tempo que expressam raiva e confusão sobre as restrições da liberdade impostas pelo Estado”, escreve o artista no seu website. “Coronation” mostra também o conflito entre a necessidade de liberdade pessoal e a luta pela saúde pública, um debate surgido em vários países do mundo graças à pandemia. “Apesar da escala e da rapidez da quarentena de Wuhan, estamos perante uma questão mais existencial: a civilização consegue sobreviver sem humanidade? As nações conseguem confiar umas nas outras sem transparência?”, escreve o artista no seu website oficial. O documentário “examina o espectro político do controlo estatal chinês desde o primeiro até ao último dia do confinamento em Wuhan”, apontou Ai Weiwei. “Coronation” retrata também “a brutal eficiência do Estado e a resposta militarizada para controlar o vírus”. Sobre o apoio de Wang Fen nas filmagens, Ai Weiwei contou ao jornal norte-americano que ela “teve um envolvimento emocional muito profundo” com o projecto. O artista chinês, actualmente radicado na Europa, onde dirigiu e produziu o documentário, apontou que gostava de o ter estreado num festival de cinema. No entanto, os festivais de Veneza e Toronto terão rejeitado a obra, bem como as plataformas de streaming Amazon e Netflix.
House of Dancing Water | Ex-funcionário apresenta queixa à DSAL Salomé Fernandes - 27 Ago 2020 Um antigo trabalhador do espectáculo The House of Dancing Water apresentou queixa na DSAL contra a TDAB Sociedade Unipessoal Limitada. Os Recursos Humanos informaram Alastair Pullan de que lhe tinham marcado um voo de regresso a casa, depois de este já ter avisado que pretendia marcar o seu próprio voo e informado que já tinha feito uma reserva [dropcap]A[/dropcap]lastair Pullan trabalhou seis anos no espectáculo The House of Dancing Water. Saiu em Junho, quando teve lugar um despedimento colectivo, e apresentou queixa à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) contra a TDAB Sociedade Unipessoal Limitada, empresa controlada pela Melco que assegura a estrutura operacional do espectáculo. Em causa está o pagamento da viagem para o local da sua residência habitual. Recorde-se que em Junho, a Melco Resorts & Entertainment anunciou suspensão do espectáculo The House of Dancing Water até Janeiro de 2021. Ao mesmo tempo, foram despedidas dezenas de pessoas. A Melco confirmou a eliminação de vários postos de trabalho de trabalhadores não-residentes, mas não divulgou o número total. Quando a sua relação laboral terminou, Alastair Pullan informou que pretendia marcar o seu próprio voo, ficando o pagamento sob responsabilidade da empresa. A lei da contratação dos trabalhadores não residentes (TNR) prevê direitos especiais do trabalhador, um dos quais o repatriamento. É especificado que: “o direito ao repatriamento consiste no direito ao pagamento pelo empregador, no termo da relação laboral, do custo do transporte do trabalhador para o local da sua residência habitual”. No entanto, trocas de e-mails entre as duas partes mostram que a empresa insistiu em marcar o bilhete do voo em vez de reembolsar o ex-funcionário, indicando ser responsabilidade da empresa providenciar a viagem. Na semana passada, Alastair Pullan informou a empresa de que tinha reservado um voo e frisou as regras impostas pelo Reino Unido para viagens, tendo em conta o novo tipo de coronavírus. Descreve também que iria enviar o recibo do voo para ser reembolsado. No dia seguinte, a resposta cingiu-se aos detalhes de um voo distinto que a empresa alegadamente marcou sem o consultar. “Estou a pedir à empresa para me dar dinheiro de forma a poder pagar o meu próprio voo. O voo que pagaram custou 13.000 patacas, e o meu era de 11.200 patacas”, disse Alastair Pullan ao HM. Falta de flexibilidade Na queixa apresentada ontem – uma declaração suplementar a outra que já tinha efectuado há cerca de um mês – explica que a parte patronal lhe deu um bilhete de voo para dia 9 de Setembro, mas que por ter animais domésticos não era uma opção viável. O roteiro mais apropriado era um outro voo que marcou por si próprio. Motivo pelo qual requer à parte patronal que lhe dê antes o dinheiro do custo do regresso. O ex-funcionário do espectáculo acredita que a falta de flexibilidade da empresa se deve a “rancor” contra si, uma vez que sabe de colegas a quem a empresa está a prestar apoio, nomeadamente para assegurar a saída de Macau com animais. “Não fizeram isto comigo, não houve discussão, mesmo depois de lhes ter dito que ia fazer os meus próprios preparativos de viagem, continuaram a dizer que iam marcar um voo. Nem sequer verificaram comigo, simplesmente fizeram-no”, descreveu. Pullan acrescentou ainda que quando confrontou o chefe adjunto dos Recursos Humanos do espectáculo sobre o seu voo ser mais barato, este lhe disse não ser o dinheiro a estar em causa. “Parece estranho dizerem que não é sobre o dinheiro quando acabaram de despedir 100 pessoas e puseram a maioria das pessoas que teve a sorte de ficar a receber a 50 por cento do salário”, disse. Se o caminho agora é tentar chegar a uma solução através da DSAL, não estão excluídas outras opções. “Se não for resolvido através da DSAL estou preparado para agir judicialmente contra a empresa. Tenho um conselheiro jurídico preparado com toda a informação”, disse Alastair Pullan. O HM tentou contactar a Melco, que acusou a recepção das perguntas, mas até ao fecho desta edição não obtivemos comentários.
Ensino superior | Oito cabo-verdianos finalistas deixam Macau a 4 de Setembro Andreia Sofia Silva - 27 Ago 2020 Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, adiantou ao HM que oito estudantes finalistas do ensino superior deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4 de Setembro, regressando a Cabo Verde. Quanto aos novos alunos, abrangidos por programas de intercâmbio, terão aulas online até poderem viajar para Macau e para a China [dropcap]U[/dropcap]m total de oito alunos cabo-verdianos finalistas de ensino superior em Macau deixam o território na próxima sexta-feira, dia 4, apoiados pelo Governo do seu país. A informação foi adiantada ao HM por Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde junto do secretariado permanente do Fórum Macau, e que tem coordenado o processo de saída destes estudantes. A maior parte dos alunos frequentaram cursos no Instituto Politécnico de Macau (IPM), embora a Universidade de Macau (UM) também tenha acolhido alguns estudantes. No total, 27 alunos terminam as suas licenciaturas, mas muitos deles tiveram aulas online já em Cabo Verde. “Apesar de os estudantes terem concluído o curso em finais de Junho, conseguimos, através dos contactos que fizemos junto do IPM, a autorização para a sua permanência na residência de estudantes até termos uma oportunidade de regresso a Cabo Verde”, adiantou Nuno Furtado. Os voos de regresso serão feitos por Seul, na Coreia do Sul, seguindo-se um segundo voo entre Lisboa e Cabo Verde. “Há muitas limitações para sair de Macau e através de Taipé também não é fácil. O Governo de Cabo Verde financiou a compra dos bilhetes e deu um subsídio para a subsistência destes alunos”, frisou o delegado do Fórum Macau. Quanto aos restantes alunos, que frequentam os segundo e terceiro ano dos cursos, vão continuar em Macau, adiantou o responsável. Intercâmbio no limbo Com um novo ano lectivo prestes a arrancar, os novos alunos abrangidos pelos programas de intercâmbio não poderão voar para Macau nos próximos tempos. “Temos alunos inscritos no curso de tradução e de Administração Pública, mas as orientações que temos da direcção do IPM é para que a sua entrada fique suspensa por um determinado período. Não é aconselhada a sua vinda para Macau”, disse Nuno Furtado. Ainda assim, a frequência dos cursos não fica afectada, uma vez que o IPM irá disponibilizar aulas online. Nuno Furtado encara este processo como “sendo complexo”. “Há muita pressão psicológica, há estudantes que já não contam com a atribuição de uma bolsa, e por isso é que foi necessário conseguirmos junto do Governo de Cabo Verde algum apoio. Até os estudantes macaenses na Europa também enfrentam algumas dificuldades para sair de Macau. Temos de trabalhar num quadro muito bem organizado”, concluiu. Ao HM, o IPM confirmou que os alunos finalistas concluíram os cursos de Ensino da Língua Chinesa como Língua Estrangeira e de Gestão de Jogo e Diversões. Quanto ao intercâmbio, “não ficará suspenso devido à pandemia”, estando previsto o acolhimento de novos estudantes no novo ano lectivo. A UM não respondeu, até ao fecho desta edição, às questões colocadas. A embaixada de Cabo Verde em Pequim está a acompanhar o regresso de 22 estudantes que se encontram na China, também marcado para o início de Setembro. Esta terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, adiantou que há também alunos retidos no Brasil que aguardam o regresso do período lectivo nas universidades, mas estão a ser acompanhados pela rede consular. “Vamos continuar a acompanhar a situação epidemiológica no Brasil, onde em termos da pandemia de covid-19 é muito grave”, admitiu o ministro. O Governo de Cabo Verde garantiu na segunda-feira o repatriamento de um grupo de 140 estudantes cabo-verdianos retidos no Brasil devido à pandemia.
Governo recua nos locais da Biblioteca Central e Campus de Justiça Salomé Fernandes e Pedro Arede - 27 Ago 2020 O Governo recuou na construção da nova Biblioteca Central no edifício do Antigo Tribunal. O arquitecto Carlos Marreiros, autor do projecto, espera continuar à frente do trabalho, assim que for revelado o novo local. Entretanto, também o plano de construção do Campus de Justiça na Zona B dos novos aterros caiu por terra [dropcap]A[/dropcap] nova Biblioteca Central afinal não vai ser construída no edifício do Antigo Tribunal, na Praia Grande, avançou ontem a TDM Rádio Macau. O arquitecto Carlos Marreiros – líder do atelier que ganhou o concurso público para a nova biblioteca – disse ao HM que oficialmente não soube desta decisão. Apesar disso, frisou a importância de se fazer a Biblioteca Central, descrevendo-a como “um equipamento fundamental na chamada sociedade líquida da pós-modernidade”. “Há um novo Chefe do Executivo, um novo elenco governamental, novas estratégias (…). A Biblioteca Central não sendo aí, será noutro local, porquanto é uma ideia fundamental que Macau necessita de uma Biblioteca Central”, sublinhou o arquitecto. Se o projecto que tinha em mãos, enquanto coordenador-chefe de uma equipa de projectistas, mudar de local, Carlos Marreiros julga que continuará a ter as mesmas responsabilidades que lhe foram atribuídas depois de ter vencido o concurso público para o Antigo Tribunal “a grande custo”. Quanto à suspensão dos trabalhos, o arquitecto, à altura do contacto do HM, ainda desconhecia a novidade. “Formalmente, nem por palavras nem por escrito, não recebi ainda qualquer informação”. De acordo com a TDM Rádio Macau, o Governo decidiu dar outra utilização às instalações do Antigo Tribunal. O HM tentou apurar junto do Instituto Cultural (IC) qual será o fim do edifício, assim como a nova localização prevista para a nova Biblioteca Central, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Foi em Novembro de 2018 que o IC anunciou que a proposta do ateliê do arquitecto Carlos Marreiros, com um valor de 18,68 milhões de patacas, era a vencedora do concurso público em que tinham sido admitidas nove propostas. Chegaram a surgir alegações de plágio, mas Carlos Marreiros negou ter copiado o Auditório da Cidade de León na elaboração do projecto, e as suas explicações foram acolhidas pelo IC. A adjudicação do projecto em 2018 teve lugar uma década depois da anulação do primeiro concurso público, em 2008. Na altura, o Comissariado contra a Corrupção sugeriu o fim do concurso. No ano passado, a presidente do IC dizia que o projecto estava a seguir os trâmites normais, apesar de não se comprometer com datas para o arranque das obras. No entanto, em Junho deste ano, o Governo disse que a localização e o plano de construção da nova Biblioteca Central iam voltar a ser estudadas depois de ser feito o Plano Director. Justiça móvel Noutra frente, o Governo confirmou que o Campus de Justiça já não vai ser construído na Zona B dos novos aterros, avançou ontem a TDM Rádio Macau. Segundo a mesma fonte, o plano, que previa a construção de sete edifícios, foi abandonado pelo Governo, depois de ter ficado decidido que as obras vão ser transferidas para a zona dos Lagos Nam Van (zonas C e D) perto da Assembleia Legislativa. Para além dos novos edifícios dos tribunais Judicial de Base, Segunda Instância e Última Instância, a planta de condições urbanísticas, entretanto concluída, inclui ainda um novo edifício do Ministério Público e as sedes dos Comissariado contra a Corrupção e de Auditoria e dos Serviços de Polícia Unitários. Sulu Sou, que no dia anterior recebeu uma resposta da directora da DSSOPT, Chan Pou Ha, a uma interpelação onde questionou o desenvolvimento futuro das zonas B, C e D dos novos aterros, sublinhou a importância de o Governo ter o mais rapidamente possível, na sua posse, o Plano Director e de preservar a paisagem da península. “Insistimos no nosso princípio de querermos que o Governo tenha o Plano Director para todas as zonas, porque é uma localização importante da península de Macau, onde não devem existir edifícios altos”, disse ontem deputado durante uma conferência de imprensa na sede da Associação Novo Macau. Sulu Sou sugeriu ainda esperar que a integridade da zona da Colina e da Igreja da Penha seja protegida, sobretudo quando a consulta pública sobre o Plano Director está prevista para Setembro. “Podem sugerir a construção do Campus de Justiça nas zonas C e D, mas vamos insistir em defender a zona sul da península e da Penha. Além disso, devem restringir a construção de edifícios altos nestas zonas. Será essa a nossa maior luta para a consulta pública do próximo mês”.
AL | Sulu Sou submeteu projecto para garantir participação sindical Pedro Arede - 27 Ago 2020 O vice-presidente da Novo Macau apresentou um projecto de lei para proteger a participação dos trabalhadores em associações laborais e regular a responsabilidade criminal dos empregadores. Temas polémicos como a negociação colectiva ou o direito à greve foram excluídos, para garantir que o Governo e a Sociedade “aceitam melhor a lei” [dropcap]S[/dropcap]ulu Sou submeteu no passado dia 14 de Agosto um projecto de lei à Assembleia Legislativa (AL) com o objectivo de proteger a participação dos trabalhadores em associações laborais e regular a responsabilidade criminal dos empregadores. O anúncio foi feito ontem na sede da Associação Novo Macau. Começando por enfatizar que “esta lei não é a lei sindical”, o também deputado referiu que o projecto visa “preencher a lacuna legal existente quanto a permitir que os trabalhadores participem na vida sindical, garantindo a sua protecção”. Isto, considerando que a actual legislação não contempla punições específicas sobre estes comportamentos, nomeadamente, que os trabalhadores não são prejudicados ao associar-se a organizações laborais. “Sabemos que (…) temos várias leis para proteger estes direitos, mas não há nada que garanta especificamente que os trabalhadores não são prejudicados por exercer o seu direito de associação a sindicatos. Particularmente as leis falham em regular a responsabilidade criminal dos empregadores, como por exemplo, a obstrução à participação sindical”, começou por dizer Sulu Sou. O deputado frisou ainda que o projecto de lei submetido à AL não aborda temas controversos, como a negociação colectiva ou o direito à greve. Sulu Sou argumentou que a decisão é estratégica e que os conteúdos polémicos devem ser debatidos aquando da realização da consulta pública sobre a Lei sindical, prevista para o terceiro trimestre deste ano. “É uma estratégia. Sabemos que a negociação colectiva e o direito à greve são temas polémicos, sobre os quais não tem havido nenhuma discussão pública nos últimos anos, mas espero que a consulta pública sirva para fazer esses debates. Neste momento acho que devemos chamar a atenção para conteúdos que reúnam consenso social, de forma a que tanto o Governo, como a sociedade, aceitem melhor a lei”, explicou. Questionado sobre o timing para a apresentação do projecto, Sulu Sou argumenta que se deve ao facto de não se saber quando é que o Executivo vai avançar com a lei sindical. “Apesar de lançarem a consulta pública sobre a lei sindical (…), não há qualquer tipo de calendarização para completar a legislação. Não sabemos quantos mais anos vamos ter de esperar”. Além disso, aponta Sulu Sou, devido à crise económica provocada pela pandemia, “não há dúvidas que a voz e o interesse dos trabalhadores estão a ser postos de lado e sacrificados”, levando mais pessoas a tirar licenças sem vencimento, verem o seu salário reduzido, congelado ou pago fora de horas ou, no limite, a serem despedidas. Olhos no caminho Sobre as expectativas de ver o projecto de lei admitido pela AL, Sulu Sou referiu que não só o resultado é importante, mas também o processo e os efeitos colaterais do acto, sobretudo porque permite “manter a atenção social sobre este assunto”. “Quando submeto um novo projecto de lei perguntam-me sempre o mesmo e eu respondo sempre da mesma maneira: o resultado é muito importante, mas o processo é igualmente importante”, afirmou o deputado. Como exemplo, Sulu Sou relembrou o projecto de lei que submeteu sobre o salário mínimo em 2018. Apesar de ter sido rejeitado, o Governo acabaria por avançar com uma proposta de lei sobre o tema.
Mar do Sul da China | Exercícios militares chineses reacendem polémicas antigas João Luz - 27 Ago 2020 Um exercício de larga escala ao longo da costa do Pacífico, em quatro regiões diferentes, relançou receios da tomada de territórios disputados pela força. Além disso, revelou o músculo militar chinês e a capacidade para actuar em múltiplos teatros de operações. Pequim queixa-se de que o exercício foi “espiado” por um avião norte-americano [dropcap]O[/dropcap] Golfo de Bohai, uma parte do Mar Amarelo e os mares sul e este da China têm sido palco de um exercício militar de larga escala das Forças Armadas Chinesas. Entre os muitos “brinquedos”, a China estreou o navio anfíbio de assalto Type 075, que saiu de Xangai no dia 5 de Agosto e terminou no passado fim-de-semana a sua primeira viagem. Vídeos e fotografias partilhados em portais de internet dedicados a questões militares mostram o gigantesco navio a aportar na tarde de domingo na doca naval de Hudong-Zhonghua, a “casa” da maior construtora naval de defesa do estado chinês, a China State Shipbuilding Corp. De regresso à base, depois do primeiro teste de mar, o Type 075 trazia a chaminé chamuscada por fumo, um detalhe na boa nova para o Exército de Libertação Popular que terá assim um novo trunfo pronto para ser usado. Citado pelo China Daily, o analista militar Wu Peixin referiu que o facto de o baptismo do navio de guerra ter demorado 18 dias, antes de regressar ao porto de partida, deve significar que teve um bom desempenho nos muitos testes que terá realizado ao longo da jornada inaugural. Caso contrário, o exercício teria acabado muito mais cedo. O Type 075 foi apenas uma das estrelas do exercício que continua, por exemplo, ao largo de Hainan até sábado. Importa referir que a ilha de Hainan, que fica cerca de 400 quilómetros de Macau, é local de “estacionamento” de um dos porta-aviões chineses. Ao mesmo tempo que se desenrolavam os treinos militares ao largo da ilha, as autoridades da província de Guangdong montavam um cordão de segurança para controlar o tráfico marítimo. Também no Mar Amarelo, ao largo de Lianyungang, uma área de mar ficou com acesso restrito durante os exercícios navais com fogo real. De acordo com o South China Morning Post, até 30 de Setembro estão previstos exercícios militares com fogo real no Golfo de Bohai. Sinais de alerta O conjunto de exercícios militares têm sido vistos por analistas internacionais e governos como um sinal forte de prontidão operacional para um confronto de larga escala com o Estados Unidos e Taiwan. Mesmo sem intenção de iniciar uma guerra, a altura escolhida, durante as convenções partidárias na corrida presidencial norte-americana, pode ser encarada como uma forma de demonstrar capacidade de mobilização de vários tipos de forças para múltiplos locais em simultâneo. Importa referir também que estes exercícios acontecem apenas um mês depois de uma outra demonstração bélica de larga escala, incluindo manobras perto de Taiwan, na altura em que a região foi visitada pelo representante da saúde da Administração Trump, Alex Azar. Além disso, em Julho, as forças armadas chinesas já haviam realizado exercícios, em particular de defesa aérea, nas mesmas regiões, mas separadamente, depois de manobras de dois porta-aviões norte-americanos no Mar do Sul da China. Outra leitura, que vai para lá da reacção política com demonstrações de força, é a localização dos exercícios. Se a proximidade do Golfo de Bohai a Pequim indica uma postura militar meramente defensiva, os restantes teatros de operações podem ter diferentes leituras. Nesse sentido, o ministro dos Negócios Estrangeiros das Filipinas, Delfin Lorenzana, declarou no domingo que os direitos históricos que a China alega na disputa do Recife de Scarborough não existem e que a China ocupa ilegalmente o disputado território, ao largo da maior ilha filipina Luzon. Lorenzana condenou particularmente a actuação da guarda costeira chinesa e de frotas piscatórias como actos de “confiscação ilegal”. Resposta de Hanói Também o Governo do Vietname condenou a presença de forças militares, em particular de bombardeiros, a sobrevoar as ilhas Paracel, um arquipélago praticamente equidistante entre os territórios chinês e vietnamita, com cerca de 130 pequenas ilhas de coral. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Vietname comentou os exercícios chineses como actos que “comprometem a paz”. “O facto de terem sido enviados bombardeiros não só viola a soberania do Vietname como coloca em perigo a situação na região”, referiu o porta-voz do ministério, citado pela agência Reuters. Espião espia espião Ontem, de acordo com a agência Xinhua, Pequim acusou os Estados Unidos de enviarem um avião espião U-2 que terá “trespassado” uma zona proibida, para observar os exercícios conduzidos pelo Exército de Libertação Popular. O aparelho de reconhecimento a elevada altitude terá entrado no espaço aéreo chinês no teatro de operações do norte, de acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa chinesa, Wu Qian. “A violação do espaço aéreo não só afectou severamente os normais exercícios e as actividades de treino, como também violou as regras de comportamento para a segurança aérea e marítima entre a China e os Estados Unidos e as práticas internacionais”, declarou Wu. O porta-voz prossegui referindo que “a actuação norte-americana poderia facilmente ter resultado em maus julgamentos e mesmo acidentes”. Em comunicado enviado à CNN, a Força Aérea norte-americana do Pacífico confirmou o voo do U-2, mas negou ter violado qualquer regra. “Um aparelho U-2 conduziu operações na área do Indo-Pacífico dentro leis internacionais aceites e de acordo com os regulamentos de voo. O pessoal das Forças Aéreas de Pacífico vai continuar a voar e a operar onde as leis internacionais permitirem, quando melhor achar”, lê-se no comunicado. O U-2 é dos aviões mais antigos do inventário das Forças Armadas norte-americanas. O primeiro modelo foi desenvolvido nos anos 1950, durante a Guerra Fria, para espiar a expansão militar soviética, algo que os críticos da política internacional de Washington, inclusive Pequim, acusam estar de volta. Os modelos antigos conseguiam voar a altitudes fora do alcance das baterias antiaéreas. Corrida às armas Para gáudio das multinacionais de defesa, também do outro lado do espectro geopolítico se investem biliões em armamento. Além da injecção financeira, categorizada na campanha eleitoral de Donald Trump como a reconstrução do exército, esta semana o Wall Street Journal publicou um editorial escrito por Mark Esper, secretário da Defesa. O governante referiu que em resposta à aposta militar de Pequim, os Estados Unidos estão a acelerar a Estratégia de Defesa Nacional. Com o objectivo de modernizar e adaptar as forças armadas norte-americanas, a competição bélica da China é o pano de fundo para o vigoroso investimento militar. “Para a liderança política chinesa, o poder militar é central para atingir os objectivos que pretendem. Entre estes objectivos mais proeminentes, destaca-se a remodelação da ordem internacional de formas que colocam em perigo regras globalmente aceites e que normalizam o autoritarismo. Este reordenamento oferece condições ao Partido Comunista Chinês para poder exercer coerção sobre outros países e infringir as suas soberanias”, escreveu o secretário da Defesa. Na sequência deste jogo de pingue-pongue diplomático, o governante revelou que se prepara para visitar o Pacífico com reuniões marcadas com os líderes da região, parando no Havai, Palau e Guam. A visita deverá ter na agenda a preparação da RIMPAC, o mega exercício militar naval, que acontece de dois em dois anos sob a batuta do Pentágono. O exercício deveria estar a realizar-se neste momento, mas foi sofrendo sucessivos atrasos devido à pandemia da covid-19.
Os dias não podem continuar Paulo José Miranda - 26 Ago 2020 [dropcap]N[/dropcap]athalie Delacroix já sabia muito bem que a tristeza é o céu que se avista da terra quando escreveu o seu romance «Estes Dias Não Podem Continuar». Com apenas vinte e sete anos viu os nazis invadirem a França, a sua mãe morrer de apoplexia e nunca tivera pai. Para piorar as coisas, desde a adolescência que sempre gostara de mulheres que nunca gostaram dela. No seu livro, escreve de modo mais universal: «Não é novidade nenhuma gostarmos de quem não gosta de nós. Foi assim que viemos ao mundo. A história do mundo é a história de alguém que não de outro. Foi assim com Eva e Adão, embora poeticamente tenham falado de uma cobra, e foi assim com deus e os homens, embora estupidamente tenham falado de livre arbítrio.» Embora se trate de um livro político, no sentido em que fala da ocupação alemã em França, de uma mudança impensável no mundo – «Só faltava agora começarmos a não podermos sorrir uns para os outros, a não nos podermos abraçar. O medo não pode ser a coleira com que alguém nos leva à rua […]» –, é acima de tudo um livro que fala da impossibilidade do humano ser feliz. Escreve à página 56: «Há apenas três modos de se ser escritor e o resto são subdivisões: aqueles que escrevem porque gostam muito de si mesmos; aqueles que escrevem porque se detestam; e aqueles que escrevem em busca de uma redenção de não gostarem de si. Os primeiros são alucinados, os segundos realistas e os terceiros ingénuos. Infelizmente suspeito fazer parte deste último grupo.» Nathalie, como é sabido, morreria numa rua de Par Há uma passagem muito conhecida deste livro de Nathalie – como ela é nomeada em França –, que Beauvoir costumava citar: «Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar o sexo de um beijo bom que nos fosse dado? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar a cor da pele cujo toque nos extasiasse? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos capazes de identificar a religião de alguém que dissesse “amo-te”? Será que de olhos fechados e coração aberto seríamos realmente capazes de viver?» Não se entende bem porque um autor passa a não ser lido, esquecido. E menos ainda quando ele tem tudo o que precisamos, não apenas o nosso tempo, isso é evidente, mas também os nossos corações. Nathalie Delacroix tem tudo o que precisamos de ouvir, mas também tem muito do que não gostamos e esse é o problema, principalmente nos dias de hoje onde tudo precisa «ser sexy» para ser escutado ou visto. Nathalie não fala apenas dos escritores de modo rude e desencantado, fala também de nós, ao falar dela. No seu livro acerca de Nathalie, Beauvoir escreve uma passagem das Investigações Filosóficas, de Wittgenstein, «A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento da linguagem.», à qual Beauvoir acrescenta: «e assim também a vida de Nathalie.» «Os Dias Não Podem Continuar» é uma espécie de auto-ficção em que a autora proclama não apenas o fim do mundo – evidente ao tempo da escrita com o nazismo e o comunismo –, mas a completa ilusão que temos acerca do humano. Escreve: «Como não quer saber quem é, por medo, por suspeitar que há um mal terrível que o habita, inventa tudo o que pode para esquecer não apenas a sua vida, mas o próprio mundo. Os humanos os futuros dinossauros.» Há páginas do livro em que vemos a rapariga que Nathalie amava: «Jacqueline trazia sempre os seus olhos azuis a combinar com os cabelos loiros caídos sobres os ombros e sobre a testa. Abria um sorriso quando me via e dizia com aquela sua voz doce, que não existe: “Olá, bela!” E por momentos o mundo deixava de ser o que era. Eu mesma deixava de ser o que era para ser o que via nos seus olhos, no seu rosto, no seu corpo. O mundo transformava-se através da beleza diante de mim. Só se vê o mundo se o transformarmos. E, nesse tempo já o sabia, o amor é o grande transformador.» Mas não nos enganemos. O amor, embora transformador, é raro e não dura. Escreve: «Jacqueline durou o tempo de um fósforo.» Nathalie esforçava-se por não se enganar a si mesma, isso perpassa por todo o livro e é difícil para nós leitores estarmos constantemente a lembrarmo-nos de quem tentamos não tentamos procurar, isto é, de nós. Leia-se esta passagem à página 134: «E seria possível que tentássemos de verdade ver quem somos, se não investigamos com seriedade as palavras que usamos, se não sabemos o que elas querem ou podem querer dizer? Que queremos dizer quando dizermos “amor”? Que queremos dizer quando dizemos “detesto”? Que queremos dizer quando dizemos “conheço bem”? E não me refiro a falar com os outros, que outro dê uma conotação diferente da minha, refiro-me a mim mesma, a quando penso para comigo acerca do que penso.» Como também outro filósofo escreveu acerca dela, E. M. Cioran: «Nathalie aproximava-se de Kierkegaard, mas sem Deus. Aproximava-se de si mesma sem Deus e consciente de não saber quem era. Não procurava sequer, como Kierkegaard, ser honesto, procurava a solidão perfeita. Que conseguiu nas páginas do seu livro.» «Estes Dias Não Podem Continuar» não é apenas um livro sobre a ocupação nazi, é fundamentalmente um livro sobre a ocupação do humano, pela indiferença, pela incultura, pelo desconhecimento e, desconfia-se, pelo contínuo crescimento desta ocupação que, contrariamente à nazi, parece não ter fim.
Macau com menos 89,4% de convenções e exposições no segundo trimestre Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] número de exposições e convenções realizadas em Macau no segundo trimestre caiu 89,4% em relação ao período homólogo do ano passado, devido à pandemia, anunciou hoje a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em comunicado, a DSEC informou que se realizaram apenas “38 reuniões, conferências e exposições” no segundo trimestre do ano, “devido ao contínuo impacto gerado pela pandemia”, com o número de participantes e visitantes a cair para 22.000, menos 93,9% em termos anuais. Contas feitas ao primeiro semestre de 2020, “efectuaram-se 152 reuniões, conferências, exposições e eventos de incentivo”, menos 582 eventos que no semestre homólogo de 2019, com o número de visitantes a ficar pelos 102.000, uma queda de 85,2%, segundo a nota. Os resultados estão em linha com a redução do número de visitantes em Macau, que no ano passado registou cerca de 40 milhões de entradas. Segundo os dados mais recentes do Governo, o número de visitantes diminuiu mais de 90% em junho e 83,9% no primeiro semestre, devido à pandemia de covid-19, que levou igualmente à anulação de conferências e exposições. As restrições às viagens levaram mesmo ao cancelamento do maior evento da indústria do jogo em Macau, o Global Gaming Expo Asia (G2E Asia), anunciou a organização em 13 de agosto, após sucessivos adiamentos, primeiro para julho e depois para dezembro. Nos primeiros sete meses do ano, as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8%, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair 58,2% no primeiro semestre. O território registou 46 casos da doença desde final de janeiro, não tendo registado transmissão comunitária, nem contando atualmente com nenhum caso activo. Apesar disso, as entradas no território continuam a ser limitadas, com mais um passo para a abertura progressiva da fronteiras dado hoje, data a partir da qual a província chinesa de Guangdong retoma a emissão de vistos turísticos para Macau, suspensos desde o início da pandemia. A medida é considerada fulcral para a economia do território, já que Guangdong representa 80% das receitas do jogo provenientes de visitantes da China, responsáveis por cerca de 90% do total das receitas, como explicou à Lusa Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix, em meados de julho. Se a situação se mantiver estável em termos de contágios, a China já indicou que planeia autorizar em todo o país a emissão de vistos turísticos para Macau a partir de 23 de setembro.
Trabalhos de resgate terminam em prédio desabado na Índia com 16 mortos Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]s equipas de resgate concluíram hoje os trabalhos de procura de sobreviventes entre os escombros do edifício que desabou na segunda-feira no oeste da Índia, causando 16 mortes e nove feridos. “A operação de busca e resgate, que começou imediatamente depois do acidente” na tarde de segunda-feira na localidade de Mahad, no Estado de Maharashtra, foi hoje concluída, segundo o porta-voz da administração do distrito de Raigad, Manoj Shivaji Sanap, em declarações à agência espanhola Efe. Esta manhã foi recuperado o último corpo dos escombros, de uma mulher de 63 anos, elevando o total de vítimas para 16 mortos e nove feridos, dos quais cinco já tiveram alta hospitalar, explicou o porta-voz. Para trás ficaram os momentos de euforia como o que aconteceu na terça-feira, quando as equipas de resgate encontraram um menino de quatro anos vivo depois de passar 19 horas sob os escombros. As causas do incidente estão ainda por apurar, embora o desmoronamento de edifícios seja comum na Índia durante a época das monções (de junho a setembro). As chuvas torrenciais afetam as fundações dos edifícios, deixando-os fragilizados. O imóvel demorou dez anos a ser construído em fundações “instáveis”, declarou à cadeia de televisão TV9 Marathi, um antigo deputado de Mahad, Manik Motiram Jagtap. “[O edifício] desmoronou-se como um baralho de cartas. Foi assustador”, sublinhou. As monções desempenham um papel central no sul da Ásia, nomeadamente na agricultura, mas provocam também numerosas mortes e semeiam a destruição em grande escala, entre inundações e desmoronamentos de edifícios. Desde o início do ano, as monções provocaram a morte a cerca de 1.200 pessoas, mais de 800 delas só na Índia.
Filme “El Crimen del Padre Amaro” exibido na próxima terça-feira na FRC Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]É[/dropcap] já na próxima terça-feira, 1 de Setembro, que a Fundação Rui Cunha (FRC) exibe, no espaço da galeria, o filme “El Crimen Del Padre Amaro”, do realizador Carlos Carrera, baseado na obra com o mesmo nome do escritor português Eça de Queiróz. A iniciativa acontece com o apoio da Associação dos Amigos do Livro em Macau e do IPOR – Instituto Português do Oriente. Antes da exibição do filme, a professora Alexandra Domingues fará uma apresentação sobre o romance. O evento integra o Programa Comemorativo dos 120 anos da morte de Eça de Queiroz, repartido em três sessões, que trouxe ao público de Macau a oportunidade de reviver o expoente da literatura do realismo português, sob diferentes prismas: Eça o Diplomata, Eça na Ópera e Eça no Cinema. O filme El Crimen del Padre Amaro conta com interpretações Gael García Bernal (no papel de padre Amaro), Ana Claudia Talacón e Sancho Garcia, que veio a ser nomeado como Melhor Filme Estrangeiro para as cerimónias dos Óscares e dos Golden Globes norte-americanos de 2003. Trilogia encerrada Este evento encerra a trilogia dedicada a Eça de Queiroz. A sessão inicial aconteceu no dia 13 de Agosto, no Auditório do Consulado Geral de Portugal, com o convidado Carlos Frota, primeiro Cônsul-Geral de Portugal na RAEM, que procurou dar a conhecer a faceta de diplomata do escritor. O tema focou a carreira diplomática de José Maria Eça de Queiroz e a discussão sobre as influências do jornalista e do romancista cáustico na defesa dos interesses de Portugal. Na sessão do dia 20 de Agosto, a professora Ana Paula Dias apresentou “Eça na Ópera”, trazendo alguns trechos musicais reveladores da intenção do autor, na intersecção entre a música e as palavras, e excertos literários declamados por Liliana Miguel Pires. A ópera e as árias líricas, referenciadas nos romances do escritor, foram também analisadas pelo médico e musicólogo Shee Va, no contexto das «Conversas Ilustradas com Música: A Ópera na Literatura», cujo ciclo realiza mensalmente na Fundação Rui Cunha.
Hong Kong | Dois deputados pró-democracia detidos por participarem nos protestos de 2019 Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]D[/dropcap]ois deputados pró-democracia de Hong Kong foram hoje detidos, acusados de participarem em protestos anti-governamentais no verão passado, numa operação em que foram detidas mais 14 pessoas, segundo a imprensa local. Fonte policial ouvida pela agência de notícias France-Presse (AFP) confirmou a detenção dos deputados Lam Cheuk-ting e Ted Hui, bem como a de mais 14 pessoas, numa operação relacionada com as manifestações pró-democracia de julho de 2019. Os dois deputados da oposição no Conselho Legislativo (LegCo) são conhecidos pelas críticas às autoridades chinesas e de Hong Kong, tendo Hui sido expulso do parlamento durante a discussão da polémica lei que criminalizou insultos ao hino chinês, no final de maio. Numa publicação na página de Lam na rede social Facebook indica-se que foi detido por suspeitas de “ter participado num motim em 21 de julho” de 2019, sendo ainda acusado de obstrução à Justiça, de “causar distúrbios” e de participar na “destruição de propriedade pública”. Nesse dia, o representante eleito e dezenas de manifestantes foram brutalmente atacados na cidade de Yuen Long por apoiantes do Governo, alguns dos quais suspeitos de pertencerem às tríades. A polícia demorou a chegar e alguns agentes foram filmados a deixar partir os atacantes armados, um incidente que contribuiu para a desconfiança da população em relação às forças da ordem, durante os maiores protestos desde a transferência do território para a China, em 1997. Para além dos dois deputados, pelo menos mais 14 pessoas foram igualmente detidas hoje, associadas aos protestos de 2019, segundo a estação de televisão local TVB e o jornal em língua inglesa South China Morning Post. As detenções ocorrem duas semanas após o magnata dos ‘media’ de Hong Kong Jimmy Lai e a activista Agnes Chow terem sido detidos, ao abrigo da polémica nova lei de segurança nacional imposta ao território por Pequim. Os detidos nessa altura, nove pessoas no total, foram mais tarde libertados sob caução. A lei de segurança nacional criminaliza actos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para interferir nos assuntos da cidade. O documento entrou em vigor em 30 de junho, após repetidas advertências do Governo de Pequim contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.
Fórmula 1 confirma quatro últimas corridas da temporada. China ausente Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] Fórmula 1 confirmou esta terça-feira as últimas quatro corridas da temporada, que terá um total de 17 provas, incluindo o regresso do Grande Prémio da Turquia, ausente desde 2011. “Podemos confirmar que Turquia, Bahrain (que recebe duas corridas) e Abu Dhabi integram o calendário revisto para esta temporada”, lê-se no comunicado da Fórmula 1, no qual fica, também, confirmada a ausência da China do calendário deste ano, prova que tinha sido inicialmente adiada. Desta forma, o GP da Turquia realiza-se a seguir ao de Portugal, de 13 a 15 de novembro. Seguem-se as duas corridas no Bahrain, nos dias 29 de novembro e 06 de dezembro, com o campeonato a terminar no dia 13 de dezembro, em Abu Dhabi. “Lamentamos não podermos cumprir algumas das corridas planeadas para este ano, mas estamos confiantes de que a nossa temporada começou de forma positiva e continuará a mostrar muita animação”, disse o norte-americano Chase Carey, responsável máximo da Fórmula 1.
Xi Jinping aposta no consumo interno face a “mudanças turbulentas” no ambiente externo Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, alertou que a China vai enfrentar um período de “mudanças turbulentas”, marcado por “maiores riscos externos”, pelo que vai apostar no fomento do consumo interno para sustentar o seu crescimento económico. Xi, que participou na segunda-feira à noite num simpósio sobre o plano económico quinquenal a ser lançado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) no próximo ano, disse que “a China deve estar preparada para o desafio”, face aos “ventos cada vez mais contrários no ambiente externo”, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua. O Presidente chinês frisou que “é preciso estabelecer um novo padrão de desenvolvimento”, que tenha o mercado interno “como base” e que permita que os mercados interno e externo se “reforcem”. “O mercado interno vai dominar o ciclo económico nacional no futuro”, disse, citado pela Xinhua. Xi Jinping afirmou crer que a pandemia da covid-19 está a acelerar as mudanças “inéditas num século” e que a China deve “aproveitar as oportunidades” que surgirem. A China vai assim tentar crescer através da inovação científica e tecnológica “independente” e investir no “desenvolvimento de tecnologias essenciais o mais rápido possível”. Sobre a diplomacia, o chefe de Estado chinês indicou que a China “fará com que o seu estatuto continue a elevar-se na economia mundial”. O país asiático enfrenta uma prolongada guerra comercial e tecnológica com os Estados Unidos, à medida que a administração de Donald Trump procura reduzir a interdependência entre as duas maiores economias do mundo e conter a ascensão do país asiático. A União Europeia afirmou também recentemente que a China não fez os avanços esperados desde a última cimeira, em 2019, para reduzir as barreiras no acesso ao seu mercado, o que afecta a Europa, o maior investidor estrangeiro e parceiro comercial do país asiático. A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 809 mil mortos e infectou mais de 23,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Equipas de resgate encontram criança com vida nos escombros de edifício que ruiu na Índia Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]s equipas de resgate retiraram esta terça-feira uma criança de 4 anos viva dos escombros do edifício que desabou na segunda-feira em Mahad, oeste da Índia, incidente que provocou a morte a pelo menos 13 pessoas. De acordo com um vídeo consultado pela agência France-Presse (AFP), a multidão presente no local aplaudiu quando o menino foi retirado dos escombros e transportado para uma maca. O edifício com 47 apartamentos que desabou na segunda-feira, provocou a morte a pelo menos 13 pessoas, explicitou o porta-voz da Força Nacional de Resposta e Desastres, Sachidanand Gawde. Pelo menos 60 pessoas poderão estar soterradas nos escombros deste prédio. “Ninguém sabe exactamente quantas [pessoas] estão presas dentro” do prédio, disse à AFP um funcionário da polícia de Mahad, sob a condição de anonimato. As autoridades temiam inicialmente que houvesse cerca de 200 pessoas soterradas, mas um balanço posterior reviu os números para cerca de 60. Vários residentes encontravam-se longe das habitações no momento do colapso do edifício.
Operadora de restaurantes Burger King na China multada devido a ingredientes fora do prazo Hoje Macau - 26 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] operadora de seis restaurantes da cadeia Burger King no sul da China, que usou ingredientes fora de prazo, foi multada em mais de 400.000 dólares americanos, anunciou ontem um regulador chinês. Um dos restaurantes na cidade de Nanchang, a capital da província de Jiangxi, foi criticado, em 16 de julho passado, num programa difundido pela televisão estatal chinesa e dedicado à proteção do consumidor. O Burger King pediu desculpa na altura e prometeu cooperar com a investigação. Os restaurantes são operados por uma empresa local, que foi multada em 916.504 yuans, anunciou o Gabinete de Supervisão do Mercado de Nanchang. A agência também confiscou “receitas ilegais”, elevando o total para 2,8 milhões de yuan. A segurança alimentar é um tema sensível na China, que nos últimos anos foi abalada por escândalos envolvendo leite contaminado, medicamentos e outros produtos falsos ou de má qualidade que resultaram na morte ou intoxicaram consumidores.
Estudantes cabo-verdianos em Macau repatriados em setembro Hoje Macau - 26 Ago 202026 Ago 2020 [dropcap]P[/dropcap]elo menos 30 estudantes cabo-verdianos retidos na China e em Macau devido à pandemia de covid-19 começam a ser repatriados para Cabo Verde no início de setembro, anunciou o Governo esta terça-feira. Em conferência de imprensa realizada na Praia, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, Luís Filipe Tavares, explicou que em Macau estão neste momento retidos oito estudantes universitários, finalistas, com dificuldades no regresso a Cabo Verde. Somam-se mais 22 estudantes na China, que também terminaram os respetivos cursos e vivem com dificuldades, aguardando o repatriamento. Segundo o esclarecimento feito pelo governante, as representações diplomáticas cabo-verdianas estão a apoiar estes estudantes na aquisição de viagens de regresso, que devem iniciar-se a partir de 04 de setembro. Luís Filipe Tavares acrescentou que alguns estudantes cabo-verdianos ainda permanecem também no Brasil, aguardando a retoma do período lectivo nas universidades, mas que estão a ser acompanhados pela rede consular. “Vamos continuar a acompanhar a situação epidemiológica no Brasil, onde em termos da pandemia de covid-19 é muito grave”, admitiu o ministro. O Governo de Cabo Verde garantiu na segunda-feira o repatriamento de um grupo de 140 estudantes cabo-verdianos que estavam retidos no Brasil devido à pandemia de covid-19. O voo chegou ao aeroporto internacional da Praia ao final do dia de segunda-feira, tendo sido organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades de Cabo Verde. Cabo Verde está fechado a voos comerciais internacionais desde 19 de março, para conter a pandemia de covid-19, não tendo sido ainda avançada qualquer data para a retoma dessas ligações, que já esteve prevista para julho e depois para a segunda quinzena de agosto. Até ao início deste mês tinham sido realizados 15 voos de repatriamento do arquipélago. Entretanto, desde 01 de agosto que Portugal e Cabo Verde estabeleceram um corredor aéreo para voos essenciais, por motivos de doença, negócios, estudos, profissionais, oficiais e familiares, com a condição de realização de testes de virologia à covid-19 nos dois sentidos. “Estamos a trabalhar para reabrirmos as nossas fronteiras o mais rápido possível. A promessa é abrirmos em agosto, vamos continuar a trabalhar para que assim seja nos próximos dias, de acordo com a programação que nós tínhamos feito”, afirmou anteriormente o ministro Luís Filipe Tavares. Cabo Verde registava na segunda-feira um acumulado de 3.522 casos de covid-19, com 37 mortes.
Brevíssimo ensaio sobre o ciúme Nuno Miguel Guedes - 26 Ago 2020 Este fogo Que só com fogo Se pode apagar Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu [dropcap]H[/dropcap]á pouco tempo aconteceu isto: um jantar de amigos a decorrer segundo todas as normas de segurança, pelo menos aparentemente. No essencial, que é a amizade e a alegria, as normas foram mandadas às urtigas que não há máscara que sustenha este contágio benigno. Mas divago. Um jantar, dizia. A dada altura aproxima-se da nossa mesa um cavalheiro que saúda todos mas em particular a mulher de um dos amigos que jantava à minha frente. Trocaram meia dúzia de palavras, um sorriso e o homem despediu-se e foi à sua vida. Mas eu, que estava à frente do casal vi: a face em chamas do meu amigo, o olhar rútilo em direcção ao estranho, dardejante, violento. Espantei-me, nunca o tinha visto assim. Perguntei a quem estava a meu lado se tinha reparado naquela extraordinária reacção de um indivíduo que eu tinha como pacato e fleumático. «O tipo que veio aqui dizer olá foi namorado da mulher dele. Aquilo que viste são ciúmes». Ciúme! Que emoção injustamente esquecida, filtrada como podemos pelas nossas convenções e educação. Algo que parece anacrónico e remoto. Mas existe, oh se existe. E toca a todos, direi. A minha amaldiçoada memória musical atacou de imediato, lembrando uns versos de Cruel dos Prefab Sprout, talvez uma das melhores canções sobre essa inquietação em labareda e a forma como lhe tentamos fugir sem êxito. Diz o narrador: “I’m a liberal guy, too cool for the macho ache” e daí segue para a afirmação de que apesar disso não suporta a visão da mulher que ama a dar atenção a outros. Há uma longa herança de anatomias do ciúme. O que não existe é muitas formas magnificas de o confessar. Othello de Shakespeare leva a coisa ao limite e pelo caminho é um aviso ao que somos como humanos – mas esta conclusão é a que podeis esperar deste nem por isso solar cronista. Vou talvez dizer algo que não vos importa mas que cabe aqui: o amor não é livre, caramba. Implica desejo, amizade, toque, proximidade e sim – posse. Posse recíproca, acordada, enfim não sei. Tudo menos livre no sentido de “vai e faz o que te apetecer”. Quando esta formulação aparece quem já viveu um bocadinho sabe que não é um convite mas sim um desafio. Querer que alguém que amamos nos dedique toda a atenção é parvo e pode ser perigoso. Se realmente amarmos esse alguém o que nos pode confortar e envaidecer é justamente o contrário: que os outros se encantem com o nosso ser amado, que o deixemos ser o que sempre foi e – eis o milagre! – que depois dos olhares regresse para o pouco e tudo que somos. Se é fácil? Não. O ciúme é um exercício de insegurança e de vaidade que afecta todos os que amam com variados graus de intensidade. Mas é um instinto primevo e o desgraçado do bardo inglês percebeu-o: o monstro de olhos verdes. Não faz distinções nem poupa ninguém, mesmo o que lhes querem fugir, por mais eruditos e ponderados que sejam. Vede como a história do grupo literário de Bloomsbury correu. Ou a patetice do “amor livre” da contracultura beat e hippie. Ou todas as tentativas civilizadas e cultas que o mesmo tentaram professar. Nem Byron, nem Casanova nem os libertinos nem mesmo os Cínicos de Diógenes conseguiram escapar a esta jaula gentil que o amor traz. Só que não é a jaula que importa mas sim lidar com as chaves. A ilusão da fronteira do amor é desenhada pela forma que se ama. Não há melhor nem pior e nem sequer aquela que parece mais descontraída é a menos possessiva. Por mais vividos, urbanos e mais coisas que sejamos o que tememos sempre é a perda, neste caso de alguém que amamos muito. Ou seja: muito parecido com o provável sentido da vida.
Indie Lisboa 2020 / 17ª Edição Rui Filipe Torres - 26 Ago 2020 [dropcap]E[/dropcap]ntre o dia 25 de Agosto e 5 de Setembro esta edição do Indie Lisboa leva às salas dos cinemas S. Jorge, cinema Ideal e Culturgest, 240 filmes seleccionados de cinematografias “periféricas” à grande indústria americana. Se é demonstrável que o cinema contemporâneo não vive a dicotomia indústria versus arte, é igualmente demonstrável que fora da majores da grande indústria dificilmente os orçamentos permitem que se ultrapasse o regime da contenção, o que nem sempre é necessariamente mau, diga-se. O cinema Indie, é esse vastíssimo universo de filmes produzidos fora dos grandes orçamentos e também, da pressão de sucesso de bilheteira da grande indústria. Neste dia de abertura destacamos os filmes da secção Silvestre, assim apresentada pela organização: “… obras de jovens cineastas e autores consagrados, esta secção competitiva encontra na singularidade a sua norma. Mostramos sobre a asa do Silvestre, obras que rejeitem fórmulas consagradas, que despertem novas linguagens e cuja rebeldia espelhe o espírito do festival” e um documentário na secção IndieMusic. À sala Manuel de Oliveira no cinema S. Jorge, chega à tela, a longa metragem documentário State Funeral de Sergei Loznitsa, realizador Ucraniano. O filme teve a sua estreia mundial a 6 de Setembro de 2019, no Festival de Veneza . A morte de Josef Stalin em Março de 1953 foi um acontecimento de dimensão planetária, o líder da “revolução proletária internacional” tombava na efemeridade da universal condição humana. Como se sabe, as narrativas dos homens precisam dessa força icónica que ata o humano, mesmo quando com fios que se corroem com as sucessivas abordagens dos tempos que vão chegando, a dimensões próximas do mito. É essa não só a razão das histórias da história, como um dos motivos do fascínio perante a tela cinematográfica. O poder e os homens de Estado precisam e são investidos colectivamente nessa narrativa, a dos homens condutores de homens, gigantes na banalidade quotidiana. Todo o funeral de um homem de estado é investido formalmente nessa carga simbólica. Quando se trata de alguém que liderou uma visão e organização do mundo com a dimensão de uma União da Repúblicas Socialistas Soviéticas, essa morte é a ascensão ao território do mito, um híper acontecimento político. Sobre o filme, quando da estreia em Veneza, Anton Dolin escreveu na revista Meduza: “Este funeral é uma produção notável, uma performance grandiosa. Como se costuma dizer hoje, envolvente. Os espectadores são seus participantes de pleno direito, sem os quais a acção não teria ocorrido. O público na sala onde o filme de Loznitsa é exibido também. Stalin transformou-se num artefacto, ele está prestes a se tornar uma múmia, para sempre encarnado de um objeto físico em um símbolo. Mas as pessoas vivas estão olhando para ele, de quem nada sabemos, mas cuja realidade está além de qualquer dúvida. Embora os motivos permaneçam incrivelmente vagos: e se eles não sofrerem realmente, e se estiverem interiormente regozijando-se? Se disserem adeus não ao seu amado tirano, mas à era da tirania que vai embora sem deixar vestígios? No final, nós também ficamos hipnotizados por essa ação sem pressa, esse ritual sagrado.” Trabalho ficcional construído com recurso ao arquivo onde os procedimentos desde o anúncio da morte às cerimónias do mega funeral de estado são tema e matéria fílmica. Antes, às 19 horas, também na mesma secção e na mesma sala, é exibido o filme “ La femme de mon frére”, ficção, 107 minutos, uma produção canadiana realizado por Monia Chokri que, conjuntamente com Justine Gauthier, também assina a montagem. O filme tem nova sessão no dia 3 às 21h30m no Grande Auditório da Culturgest. Foi o filme de abertura no Festival de Cannes 2019 da secção “ Un Certain Regard”, onde foi vencedor no júri “coup de coeur”. Já exibido no Festival de Hamburg, Motovun Film Festival, é a primeira longa metragem da realizadora. A crítica em Cannes não efusivamente favorável, construído numa sucessão de skectchs é um filme que chega a Lisboa e que desperta curiosidade. Se o jornal “Le Figaro” lhe atribui uma estrela, e o L´Humanité duas, os Cahiers du Cinema , Paris Match, Liberacion, Elle, ou Les Inrockuptibles atribuíram 4 . O filme é apresentado como: “… inscrito na tradição do filme familiar quebequense, mas também na subtileza e cosmopolitismo de autores como Noah Baumbach ou Greta Gerwig, esta é a comédia dramática acerca de uma jovem já não tão jovem, recém doutorada, que, sem planos de futuro, procura compensação emocional na relação com o seu irmão. A ironia constante é a grande arma de boa disposição maciça, mas, através da alternância entre o cómico e a dor verdadeira – algo que a adtriz Anne-Élisabeth Bossé domina na perfeição – as personagens geanham outra vida e profundidade.” (Carlos Natálio – catálogo do festival) . Um filme e uma actriz a ver nesta ou noutras oportunidades. Ainda nesta noite, na sessão IndieMusic, secção com filmes que trabalham temas de músicos e bandas, e os contextos políticos e sociais em que existem, sempre muito do agrado do público, chega ao ecrã do grande auditório da Culturgest às 21h30m, o documentário Billie de James Erskine. É uma produção do Reino Unido de 2019, 96 minutos. Billie Holiday é uma lenda do jazz norte-americana. No final dos anos 60, enquanto preparava uma biografia, o jornalista Lipnack Kuehl gravou mais de 200 horas de entrevistas com outros músicos, familiares, amigos e amantes da cantora. James Erskine com este material, registos de performances, e outras imagens de arquivo, constrói um filme sobre a vida de Billie Holiday . A cantora é uma das mega vozes do século XX. Nasceu em 1915, viveu em excesso e euforia, em 1959 era admirada por Duke Ellington, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald. Vamos acompanhar com atenção a edição do Festival que se apresenta como uma “ aposta na exibição de obras que preencham o vazio da circulação cinematográfica moldado pela produção mainstream que domina o mercado.” Assunto nada displicente e que nos merecerá a devida atenção.