IC | Turistas impedidos de fotografar Centro Cultural de Macau

A situação foi relatada por um residente local que convidou amigos do exterior a virem até Macau. “A sociedade de Macau aparenta estar a progredir, mas na realidade está em retrocesso”, desabafou, quando denunciou a situação no canal chinês da Rádio Macau

 

Um grupo de três turistas, guiado por um residente local, foi impedido por seguranças de fotografar o Centro Cultural de Macau (CCM). O caso foi relatado pelo residente num telefonema para o Fórum Macau, programa do canal chinês da Rádio Macau, e citado pelo jornal Cheong Pou, o que levou o Instituto Cultural a pedir desculpas à população.

De acordo com o relato apresentado, o residente convidou três amigos do exterior a virem a Macau por altura do Grande Prémio. Durante a estadia, os visitantes tiraram fotografias da cidade, algumas das quais nos Lagos Nam Van e Sai Van, e também no Centro Cultural de Macau.

Foi neste último local que começaram os problemas. Após montarem um tripé para a máquina fotográfica e “suportes de luz” para aumentar a iluminação das fotografias à frente do CCM, o residente e os turistas foram imediatamente abordados pelos seguranças contratados pelo instituto público.

Aos turistas foi dito que era ilegal tirar fotografias dos edifícios sem autorização, pelo que tinham de parar.

O cidadão explicou também que as luzes utilizadas para iluminar a fotografia tinham uma dimensão reduzida, e que a máquina utilizada é “profissional”, mas bastante comum nos dias que correm. Foi desta forma que o residente recusou a hipótese do entrevistador da TDM, que sugeriu que os turistas podiam ter sido confundidos com uma equipa de filmagem profissional, e que os seguranças poderiam ter entendido que era necessária autorização do Governo para filmar em locais públicos.

Como comentário face ao incómodo causado aos amigos, o residente ainda desabafou que “a sociedade de Macau aparenta estar a progredir, mas na realidade está em retrocesso”. O cidadão lamentou igualmente pensar que estava a contribuir para o turismo local ao convidar pessoas de fora a visitar Macau, mas que apenas contribuiu para lhes causar problemas.

Pedido de desculpas

Após o caso ter sido revelada em directo, o Instituto Cultural reagiu e em declarações à Rádio Macau pediu desculpa. Numa resposta transmitida pela TDM, o IC prometeu “reforçar a capacidade dos guardas de segurança de comunicar educadamente” com a população.

O IC pediu ainda “desculpa pelo incómodo causado ao público” afectado pela situação e garantiu que vai assegurar a “capacidade dos seguranças para comunicarem com o público de forma cortês, de modo a que o público possa ter uma melhor experiência de turismo”.

No entanto, defendeu a actuação dos guardas no sentido de garantir que os propósitos de filmagens e fotografias à porta do IC são compreendidos, para se poder impedir situações ilegais.

O IC complementou também que as situações que exigem autorização de filmagem podem ser consultadas no seu portal online.

“Iluminar Macau” | Nova edição a partir de 7 de Dezembro

Começa a 7 de Dezembro mais uma edição do evento “Iluminar Macau”, que tem como tema “Imersão do Tempo e do Espaço” e que se prolonga até 25 de Fevereiro. Segundo uma nota da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), o evento “conta com a participação de artistas estrangeiros, do Interior da China, de Hong Kong e de Macau”, ficando a promessa da apresentação de “instalações emblemáticas e interactivas”, bem como espectáculos de vídeo mapping.

Participam nesta edição 18 artistas e equipas de design, nomeadamente de oito cidades consideradas “Cidades Criativas do Design”, como Pequim, Xangai, Chongqing, Shenzhen, Nagoya, Cidade do México, Montreal e Sydney, além de Macau e Hong Kong, e contando ainda com a participação de Portugal e da Nova Zelândia.

De Portugal, chega João Jorge Magalhães, Zhu Xi, de Xangai; Li Wei, de Pequim; e “Miss Elephant”, de Hong Kong. O evento apresenta temas em seis zonas da cidade, num total de 31 instalações e três espectáculos de vídeo maping. Os seis subtemas são “Pulse of the Future”, na zona da Praia do Manduco; “Interlude of the Ocean”, na Praia Grande; “Glourious Epoch”, no NAPE; “Realm of Fantasy”, na zona norte da península; “Fusion of Arts and Culture”, na Taipa, e “Nostalgic Aura”, em Coloane. As instalações podem ser visitadas entre as 19h e as 22h.

Um dos espectáculos de vídeo mapping acontece na praça em frente ao Centro de Ciência de Macau, com o Japão a apresentar “Create the Future”. Os restantes dois espectáculos de vídeo mapping, “Connect” e “100 FUN”, serão apresentados no Largo dos Bombeiros, na Taipa. As sessões de vídeo mapping terão lugar diariamente entre as 19h00 e as 21h30, em cada 30 minutos.

Violência doméstica | Um terço das vítimas são crianças

Na primeira metade deste ano, o Instituto de Acção Social (IAS) registou 29 casos suspeitos de violência doméstica, com 11 vítimas do sexo masculino e 18 do sexo feminino.

O registo agregado no sumário do relatório semianual de 2024 (1.º semestre) do Sistema Central de Registo de Casos de Violência Doméstica indica que entre os 29 casos suspeitos, 16 eram referentes violência contra cônjuge (quatro do sexo masculino e 12 do sexo feminino), enquanto 10 casos foram contra crianças. O IAS deu ainda conta de três casos que vitimizaram idosos.

A larga maioria dos casos, 23, foram de violência física, quatro situações de ofensa psíquica, um caso de cuidados inadequado e um caso de ofensas violentas múltiplas. Recorde-se que o Executivo indicou recentemente não haver necessidade de rever a Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica.

Novo Bairro | Levantadas restrições para vender apartamentos

Apesar de ter pago pelo terreno na Ilha da Montanha, a empresa Macau Renovação Urbana só conseguiu alterar as condições de venda aos residentes de Macau com a autorização das autoridades de Cantão

 

A empresa Macau Renovação Urbana levantou várias restrições para tentar vender mais apartamentos no projecto em Hengqin. O anúncio foi feito na quarta-feira, através de um comunicado em língua inglesa, numa altura em que o mercado do imobiliário do Interior atravessa uma crise sem precedentes nos tempos mais recentes.

“Os critérios para a aquisição de unidades residenciais no Novo Bairro de Macau (MNN) em Hengqin foram ajustados, incluindo a remoção do limite de idade, a remoção da restrição de revenda nos cinco anos após a compra e o ajustamento do limite à aquisição de unidades residenciais”, foi comunicado.

Com a alteração ao nível da idade dos compradores, os menores possam a poder ser proprietários de um apartamento no Novo Bairro de Macau, o que até agora estava afastado.

Outra alteração passa pelo facto de o período de congelamento da revenda ter sido eliminado. Anteriormente, os compradores estavam impedidos de revender as fracções num prazo de cinco anos após a compra. Em teoria, agora passam a poder fazer a revenda no dia a seguir à compra.

No sentido de permitir um maior número de vendas, cada membro do casal pode ser proprietário de um apartamento no projecto construído com dinheiro público da RAEM. Esta é outra novidade, porque até aqui cada casal só podia comprar uma fracção.

Em crise

Construído no Interior, na chamada Zona de Cooperação Aprofundada entre Cantão e Macau, os apartamentos do Novo Bairro de Macau foram colocados à venda em plena crise do mercado imobiliário, que já resultou na falência de várias construtoras.

Como consequência, a procura por habitações no outro lado da fronteira tem vindo a diminuir, o que levou as autoridades locais a adoptarem várias medidas de levantamento de restrições que antes serviam para arrefecer a procura.

O Novo Bairro de Macau segue agora a tendência de levantamento das restrições, depois de ter conseguido a aprovação das autoridades do Interior. E no comunicado em que anunciou as mudanças, a Macau Renovação Urbana fez questão de agradecer à autoridade que supervisiona a Zona de Cooperação.

Anteriormente, Peter Lam, presidente da Macau Renovação Urbana, admitiu na Assembleia Legislativa de Macau que a empresa não tem a opção de baixar o preço de venda, sem autorização prévia das autorizações de Cantão.

De acordo com os números divulgados pela empresa em Setembro deste ano, até essa data, no espaço de praticamente um ano desde o início das vendas, tinham sido vendidos 1.300 apartamentos dos 4.000 construídos, o que representa um terço das fracções.

Função pública | Pereira Coutinho pede aumento de salários

José Pereira Coutinho defendeu ontem o aumento do salário dos trabalhadores da função pública, com o índice 100 da tabela indiciária a ser actualizado das actuais 94 patacas para 97 patacas. Com estas alterações, cada 100 pontos da tabela de vencimentos dos funcionários públicos passariam a valer 9.700 patacas, em vez das actuais 9.400 patacas.

A proposta foi feita ao futuro Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, depois do actual, Ho Iat Seng, ter afirmado no princípio da semana que deixava a decisão para o sucessor. “Sugerimos ao novo Chefe do Executivo […] que em 2025, seja actualizado em três pontos da tabela indiciária dos vencimentos dos trabalhadores da função pública, passando dos actuais 94 para 97 pontos tendo em conta a contínua perda do poder de compra da maioria dos trabalhadores da função pública”, afirmou Coutinho.

O deputado criticou ainda Ho Iat Seng por considerar que “houve uma baixa taxa de execução do Programa Político apresentado em 2019”, e por ter criado uma espécie de ‘jobs for de boys’, na função pública. “Criam-se serviços públicos ou nomeiam as pessoas para cargos de direcção e de chefia ao seu “gosto”, uma espécie de ‘Job for Boys and Girls’ em que se escolhem a dedo certas pessoas da sua preferência passando por cima da meritocracia e experiência profissional de trabalhadores mais competentes”, apontou.

Economia | Ho Iat Seng agradece apoio de empresas chinesas

Decorreu na quarta-feira um encontro entre o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, e Fu Jianguo, presidente da Associação das Empresas Chinesas de Macau. Segundo uma nota, Ho Iat Seng destacou a colaboração das empresas com capitais chineses no desenvolvimento de Macau, tendo dado “contribuições indispensáveis em prol da prosperidade e da estabilidade do território”.

O governante agradeceu ainda “o apoio prestado na aceleração da construção de infra-estruturas de grande dimensão, na melhoria do sistema de transportes e na concretização de projectos de instalações culturais, recreativas, desportivas, educativas e dos serviços públicos”.

Por sua vez, o presidente Fu Jianguo agradeceu ao Governo “pelo apoio que tem prestado ao crescimento das empresas de capitais chineses em Macau”, tendo destacado também a construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”, que, na sua visão, “tem sido solidamente promovida, criando uma base concreta para o desenvolvimento sustentável da RAEM”.

Sobre o futuro, a associação deverá continuar o trabalho de “enraizar-se em Macau, servir e construir em prol de Macau”, cooperando na política governamental de diversificação económica, assente no modelo “1+4”, a fim de “demonstrar o papel positivo das empresas de capitais chineses no impulsionamento do desenvolvimento socioeconómico da RAEM”.

Governo | Possível revolução na equipa de Sam Hou Fai

Ainda sem a apresentação do elenco que irá formar o próximo Governo, o semanário Plataforma avançou ontem a possibilidade de uma “revolução” tecnocrata na equipa de Sam Hou Fai, com Wong Sio Chak a ser o único secretário actual a permanecer, mas a passar para a pasta da Administração e Justiça

 

O seminário Plataforma avançou ontem uma lista com possíveis candidatos aos mais altos cargos do Governo que será liderado por Sam Hou Fai. Entre os nomes avançados, destaque para a ausência de grandes empresários e membros de famílias tradicionais de Macau.

Segundo o semanário, a grande estrela em ascensão poderá ser o actual secretário da Segurança, Wong Sio Chak, que poderá passar para a pasta da Administração e Justiça e subir a número dois do Executivo. Cargo que não pareceu ser auspicioso para o futuro político de André Cheong que, segundo as previsões, poderá transitar para a liderança do Comissariado da Auditoria.

O Plataforma refere que a possível passagem de Wong Sio Chak para a pasta da Administração e Justiça abre a porta para o Conselho Executivo e para substituir o Chefe do Executivo quando este se ausentar.

A verificar-se o novo elenco, Wong Sio Chak será o único secretário do Governo de Ho Iat Seng a transitar para o próximo Executivo. Para o substituir na pasta da Segurança, foi avançado o nome de Chan Tsz King, o actual Comissário contra a Corrupção.

Um nome que tem surgido repetidamente em várias previsões é O Lam, vice-presidente do Conselho de Administração do IAM e delegada de Macau no Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A neta de Ke Lin, antigo director do Hospital Kiang Wu, tem sido avançada como possível substituto de Elsie Ao Ieong U, na pasta dos Assuntos Sociais e Cultura. Porém, o Plataforma coloca O Lam como possível secretária para a Economia e Finanças.

Livro dos nomes

A mesma fonte indica o forte apoio que Sónia Chan tem entre as associações tradicionais, em especial a Associação Geral das Mulheres de Macau, e que poderia avançar para a Economia e Finanças. Porém, a ex-secretária para a Administração e Justiça do Governo de Chui Sai On não terá intenção de abandonar o cargo que ocupa actualmente na liderança da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos.

Outra possibilidade apontada para o lugar, é a actual directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, direcção

Um previsão que se mantém, é a saída do Governo de Raimundo do Rosário. Para o seu lugar à frente da secretaria para os Transportes e Obras Públicas, poderá avançar o actual director dos Serviços das Obras Públicas, Lam Wai Hou.

Um dos protagonistas preteridos na lista avançada pelo Plataforma é André Cheong, indicado para liderar o Comissariado da Auditoria. Recorde-se que o actual secretário esteve cinco anos à frente do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), antes de pegar na pasta que tem liderado no Governo de Ho Iat Seng.

Por último, é indicado o nome da magistrada que preside ao colectivo de juízes dos Tribunais de Primeira Instância, Lou Ieng Ha, para liderar o CCAC.

Finanças | Orçamento aprovado na Assembleia Legislativa

Os deputados aprovaram ontem na generalidade o orçamento da RAEM para o próximo ano, que prevê receitas de jogo de 240 mil milhões de patacas, um crescimento de 11 por cento face a este ano.

O Governo prevê também para 2025 um saldo positivo do orçamento ordinário integrado num valor superior a 7,7 mil milhões de patacas, com receitas de quase 121,09 mil milhões de patacas e despesas de 113,384 mil milhões de patacas.

Durante o debate, os deputados Leong Sun Iok e Ella Lei, ligados aos Operários, mostraram-se preocupados com a falta de aumentos na Função Pública. Na perspectiva de Ella Lei, estes aumentos são importantes, porque tendem a reflectir-se não só no sector público, mas também ao nível das empresas privadas, que acompanha o exemplo do Governo.

Leong Sun Iok alertou para o facto de os bairros comunitários não estarem a beneficiar da recuperação da economia, pelo facto dos turistas terem novos hábitos de consumo. Esta foi uma preocupação também partilhada por Lo Choi In, que vincou que as PME estão a atravessar muitas dificuldades e que o Governo tem de oferecer respostas para o problema.

Por sua vez, Leong Hong Sai, dos Moradores, pediu mais dinheiro para os professores, por considerar que precisam de melhores salários e protecção depois da reforma.

Desemprego | Ma Io Fong alerta para “grave situação” dos jovens

O deputado Ma Io Fong alertou ontem para o desemprego jovem, que diz ter atingido uma proporção de 28,8 por cento, entre o total da população desempregada. O assunto foi abordado ontem na Assembleia Legislativa, numa intervenção antes da ordem do dia.

“Com a retoma económica, a situação do emprego melhorou […] No entanto, a situação de emprego dos jovens vai no sentido contrário. Segundo o inquérito ao emprego referente ao terceiro trimestre deste ano, a taxa de emprego só diminuiu nos grupos etários dos 16 aos 24 anos e dos 25 aos 34 anos; este último grupo apresentou a taxa de desemprego mais alta, 28,8 por cento”, alertou. “E 42,4 por cento da população desempregada têm habilitações académicas do ensino superior. Estes números demonstram a grave situação de emprego dos jovens”, sublinhou.

Sem criticar directamente a falta de ineficácia do que afirmou terem sido as medidas lançadas pelo Governo para promover o emprego dos jovens, Ma Io Fong não deixou de destacar que “há quem entenda que faltam medidas complementares” e que “o apoio é insuficiente em termos da eficácia e duração”.

O legislador da bancada da Associação das Mulheres alertou também para os impactos futuros: “Esta situação não é benéfica para o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade nem para a preparação dos quadros qualificados necessários à diversificação económica”, atirou.

AL | Deputado apela à promoção do “orgulho étnico” nos jovens

Ho Ion Sang apelou ao Governo que promova entre os mais jovens o “orgulho étnico” e o “reconhecimento da sua identidade nacional”. O deputado pediu também a organização de actividades que celebrem a vitória contra o Japão e o fascismo

 

O deputado Ho Ion Sang pediu ontem ao Governo da RAEM que promova o orgulho étnico” entre os jovens de Macau e que insista no “reconhecimento da sua identidade nacional”. O apelo foi deixado durante uma intervenção antes da ordem do dia no plenário da Assembleia Legislativa, em que o deputado também defendeu uma nova revisão aos materiais sobre educação patriótica.

Numa intervenção em que focou a necessidade de incutir sentimentos nacionalistas nos jovens, Ho Ion Sang, deputado dos Moradores, pediu que o Governo promova nas escolas grandes celebrações dos 80 anos do fim da guerra entre o Japão e a China. “No próximo ano, celebram-se os 80 anos da vitória na Guerra contra o Japão e também da vitória mundial contra o fascismo. Sugere-se que o Governo preste atenção e realize uma série de actividades para comemorar aquelas vitórias e estude a respectiva divulgação em diversas actividades juvenis”, pediu.

Ho Ion Sang indicou também que as celebrações devem ter como objectivo “aumentar o conhecimento dos jovens sobre a história das guerras e o contributo dos seus heróis, incutindo nos jovens o reconhecimento da sua identidade nacional e o orgulho étnico”.

Rever materiais escolar

No âmbito da promoção do nacionalismo entre os mais jovens, Ho Ion Sang defende ainda a revisão dos manuais escolares e a adopção de outras formas de ensino, com recurso ao teatro e à música. “Rever, oportunamente, os manuais das disciplinas de educação cívica e de história, e inovar a educação patriótica, para integrar a cultura tradicional chinesa nas aulas, enriquecer e optimizar os recursos e apoios didácticos”, pediu. “Há que promover a variedade de micro-aulas e vídeos didácticos, e criar projectos artísticos de música, belas-artes, caligrafia, dança e teatro para promover o patriotismo, no sentido de orientar os jovens a conhecerem a longa história e a cultura esplêndida da nação chinesa, a defenderem-na e a transmitirem os seus genes”, vincou.

“Sendo os jovens os futuros líderes do país e da RAEM, há que reforçar o sentido de identidade, de orgulho e de pertença deles em relação ao país, à nação e à civilização chinesa”, acrescentou. “Deve ser cultivado neles, desde pequenos, o espírito de amor pela pátria e por Macau, para desenvolverem um profundo sentimento patriótico”, frisou.

António Branco, investigador da área da inteligência artificial: “Macau pode liderar”

Docente da Universidade de Lisboa, e cientista da área da inteligência artificial e processamento de linguagem natural, António Branco está em Macau para o 9º Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Português como Língua Estrangeira na Ásia. O académico considera que Macau pode liderar no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial

 

Quais os riscos e oportunidades do uso da Inteligência Artificial (IA) generativa no ensino de línguas?

É sobejamente conhecido que as novas tecnologias trazem benefícios que anteriores tecnologias não conseguiam assegurar, mas sabe-se também que a introdução de novas tecnologias tem o potencial de aprofundar a desigualdade entre os seus utilizadores se tal efeito não for mitigado com contramedidas. A tecnologia da IA, e em concreto na sua aplicação ao ensino da língua, não é excepção. Tem o potencial de fazer avançar mais rápida e eficazmente a aprendizagem da língua, mas estudos recentes vêm mostrar que pode também levar os alunos a uma desvantagem, que é o facto de não conseguirem ultrapassar essas suas desvantagens se não existir a devida mediação pedagógica na exploração destas tecnologias.

Desta forma, que medidas devem as escolas adoptar para melhor se adaptarem a este salto evolutivo?

Guardadas as devidas distâncias, ainda assim pode ajudar a analogia com o que aconteceu há cerca de duas décadas atrás, com o advento das novas tecnologias digitais e da internet. Nessa altura, e desde então, uma medida das mais importantes tem sido dar formação aos professores para que melhor possam tirar partido da tecnologia. Com o recente advento da IA, um novo impulso de formação dos professores é imperativo.

Além do trabalho como investigador, é também director-geral da PORTULAN CLARIN. De que se trata concretamente?

É uma Infraestrutura de Investigação para a Ciência e Tecnologia da Linguagem e pertence ao Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Relevância Estratégica, sendo o nó nacional [em Portugal] da infra-estrutura internacional CLARIN ERIC. A sua missão é apoiar investigadores e inovadores, mas também professores e estudantes da língua cujas actividades dependem de resultados da Ciência e Tecnologia da Linguagem através da distribuição de recursos científicos, do fornecimento de apoio tecnológico, da prestação de consultoria e da disseminação científica. Os serviços de processamento da língua, por exemplo o conjugador ou os analisadores sintáticos, são disponibilizados gratuitamente e podem ser facilmente experimentados online na bancada da infraestrutura. Assim, fazem parte do portfólio de novos instrumentos de apoio ao ensino e aprendizagem da língua.

Está em Macau para participar num colóquio focado no ensino de português como língua estrangeira. Poderia o território tornar-se numa zona experimental para o desenvolvimento deste tipo de plataformas digitais?
Macau beneficia do efeito combinado da sua herança histórica que lhe confere a vantagem de ser um território que promove o multilinguismo, bem como da sua integração na área da Grande Baía, que o coloca no epicentro da inovação tecnológica. Mais do que uma zona experimental, Macau poderá liderar o desenvolvimento e a exploração da nova tecnologia de IA, e em muito particular a sua aplicação à tecnologia e processamento da linguagem natural.

Acredita que livros e manuais escolares como hoje os conhecemos poderão desaparecer e dar lugar a e-books e conteúdos feitos por IA? Ou haverá espaço para complementaridade?

O passado recente, de exposição a novas tecnologias disruptivas, ensina-nos que devemos ser prudentes a vaticinar a extinção de anteriores formas e práticas sociais e culturais. Por exemplo, o livro em papel foi declarado em extinção acelerada, mas afinal continua connosco com grande vitalidade, em complementaridade com outros tipos de suporte e canais de disseminação. Estou inclinado a pensar que o mesmo se vá passar relativamente aos benefícios da aplicação da IA no ensino. Acima de tudo, o que precisamos urgentemente neste momento é de desenvolver novas formas de mediação pedagógica que ajudem os alunos a tirar o melhor partido possível deste benefício. A IA, por si própria, tal como um navegador da web, não é uma ferramenta pedagógica, também em si mesmo uma chatbot não é um instrumento pedagógico, mas nas mãos e com a orientação dos professores pode certamente transformar-se num dos mais importantes meios de aprendizagem da língua.

Há possibilidade de uma maior conexão dos modelos “Albertina” e “Gervásio” de linguagem IA generativa, sistema por si coordenado em Portugal, com as instituições de Macau e o seu sistema de ensino?

A possibilidade de os modelos de linguagem de IA generativa desenvolvidos pelo nosso grupo de investigação, o “Albertina” e o “Gervásio”, poderem reflectir a realidade linguística e cultural de Macau encontra-se a ser trabalhada. Com o apoio de instituições de Macau, assim como do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa, há um corpus de texto de Macau que está a ser recolhido. Esse é um primeiro passo para se poder afinar os modelos. Muito gostaria que este encontro desta semana em Macau sobre o ensino da língua portuguesa na Ásia, possibilitasse encontrar mais parceiros para passos seguintes.

Os modelos “Albertina” e “Gervásio”

Se falarmos do desenvolvimento da IA em Portugal, o nome de António Branco surge nas últimas tendências e projectos. No caso da IA generativa, o cientista é coordenador dos modelos “Albertina” e “Gervásio” que integram o ecossistema dos grandes modelos de linguagem IA generativa. No caso dos modelos “Albertina”, que são codificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo “Albertina 1.5B”; enquanto que aos modelos “Gervásio”, descodificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo 7B.

Segundo o website da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, António Branco considera que este ecossistema de modelos de linguagem IA generativa “é crucial para a tecnologia da língua portuguesa e esta expansão representa um passo da maior importância na preparação da língua portuguesa para a era da IA”. O cientista acrescentou ainda que “estas classes de modelos estão na base de toda a gama de aplicações de IA generativa, incluindo as mais mediáticas, como os chatbots ou os tradutores automáticos, e sendo maiores, estes novos modelos têm melhor desempenho”.

Ainda segundo o mesmo portal, este ecossistema “é líder mundial em termos de grandes modelos de linguagem desenvolvidos especificamente para a língua portuguesa que são totalmente abertos e documentados”, sendo que o primeiro modelo Albertina foi disponibilizado em Maio do ano passado. Este foi “um marco histórico na preparação tecnológica da língua portuguesa para a era digital, ao ser o primeiro grande modelo de linguagem aberto desenvolvido especificamente para o português, para ambas as variantes”.

António Branco irá falar hoje, a partir das 10h, de todo este universo na sessão inaugural do 9º Encontro, promovido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), e que decorre até amanhã no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. O investigador irá partilhar o auditório com João Laurentino Neves, ex-director do IPOR e actual director-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que irá discorrer sobre “Tecnologias da língua e língua de tecnologias – O IILP na era dos conteúdos e dos dados”.

Ministros dos países do sudeste asiático reunidos no Laos

Os chefes da defesa dos países do sudeste asiático iniciaram ontem uma reunião de dois dias no Laos, numa altura de tensões marítimas na região e de escalada da guerra na Ucrânia e no Médio Oriente.

O encontro entre os ministros da Defesa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que inclui o Myanmar, Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Tailândia, Singapura e Vietname, deve contar com a presença dos seus homólogos norte-americanos e chineses Lloyd Austin e Dong Jun, respectivamente.

As tensões no sudeste asiático, em particular a guerra civil no Myanmar, que se prolonga há mais de três anos, e as disputas territoriais no mar do Sul da China, entre Pequim e os países vizinhos, deverão estar no centro das discussões.

A China, que reivindica a quase totalidade do mar do Sul da China, uma via estratégica para o comércio mundial, disputa territórios com países como a Malásia, o Brunei, o Vietname e as Filipinas, tendo-se registado nos últimos meses vários episódios de confrontos entre navios chineses e, sobretudo, filipinos.

O mar do Sul da China é uma das questões que opõem a China aos Estados Unidos, que não têm reivindicações territoriais na região, mas têm um acordo de defesa mútua com as Filipinas e um interesse em defender a livre circulação nos mares estratégicos.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, participará no Laos na reunião prevista para hoje com os parceiros da ASEAN, depois de ter visitado a Austrália e as Filipinas, onde prometeu “apoio contínuo” à defesa do país insular.

Austin enviou uma mensagem de tranquilidade antes do regresso à Casa Branca de Donald Trump, que exige maior autonomia aos países aliados em questões de segurança, o que suscitou preocupações na região, cuja defesa continua a depender largamente de Washington.

O ministro da Defesa da China, Dong Jun, também é esperado no Laos e, segundo a imprensa indiana e japonesa, deverá encontrar-se com os seus homólogos Rajnath Singh e Nakatani Gen, num período de tensões territoriais históricas entre a China e os dois países.

À margem das questões regionais, os conflitos na Ucrânia, em Gaza e no Líbano deverão dominar as reuniões e encontros bilaterais, numa altura de escalada. China e EUA mantêm também posições antagónicas nestas questões.

Mundo em jogo

O Presidente russo, Vladimir Putin, parceiro do líder chinês, Xi Jinping, aprovou na terça-feira uma doutrina nuclear que permite responder com armas nucleares a ataques convencionais que ameacem a soberania da Bielorrússia e da Rússia, que ainda não confirmou se vai enviar o seu ministro da Defesa, Andrei Belousov, ao Laos.

A decisão surge depois de a imprensa internacional ter noticiado que os EUA autorizaram a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance para defender as suas posições na região russa de Kursk, onde Moscovo está a ser assistida por soldados da Coreia do Norte, no âmbito de uma aproximação entre Moscovo e Pyongyang.

O exército israelita intensificou também nos últimos dias os seus ataques a Gaza e ao Líbano na sua guerra contra o Hamas e o Hezbollah.

Enquanto a China apela a um cessar-fogo, defende a solução dos dois Estados e critica o apoio dos EUA a Israel como um exemplo da “duplicidade de critérios” do Ocidente, Washington espera que Pequim exerça mais pressão sobre o seu parceiro Irão, que está por trás do chamado “Eixo da Resistência”, que inclui o Hezbollah e o Hamas.

A sensibilidade trágica perdida dos Estados Unidos (I)

“Americans have forgotten that historic tragedies on a global scale are real. They’ll soon get a reminder.”

Hal Brands

Os Estados Unidos deixaram de imaginar a catástrofe, no meio da introversão popular e da tranquilidade da classe dirigente. O declínio do pensamento estratégico foi substituído por teorias hiper-racionais. O moralismo da juventude e a cultura popular niilista em que tudo pode ser dito sobre os Estados Unidos nos últimos trinta anos, excepto que mantiveram uma abordagem estratégica equilibrada. Pode mesmo dizer-se que fizeram o contrário.

De que outra forma pode-se definir a destruição da classe média (rejeitada com há sempre vencedores e vencidos), o envolvimento crónico em guerras intermináveis, a pretensão de ocidentalizar a China, a ilusão de antagonizar a Rússia sem pagar o preço, a extensão descuidada dos compromissos face a uma contracção consciente dos meios? Como foi possível negligenciar a tal ponto uma visão prudente e clarividente? E porque é que a América parece hoje paralisada?

Concentramo-nos aqui num factor entre muitos, mas raramente observado. Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos deixaram de pensar em termos trágicos. De imaginar uma possível catástrofe. De prever as consequências mais devastadoras das suas acções e omissões. De agir com sentido de proporção. A sensibilidade trágica é uma caraterística essencial do pensamento estratégico. “A arte de governar não pode ser praticada na ausência de perspicácia literária”, escreveu Charles Hill, um mestre e veterano da diplomacia americana. A literatura e a tragédia fornecem lições cruciais sobre como manter uma comunidade saudável. Cultivam uma forma de sabedoria que é o oposto do cinismo, porque mantém unido o peso da força e da indignação perante a injustiça. Dão elasticidade mental para apreender as condições da história, fundidas na realidade e não em teorias abstractas.

Alimentam o método geopolítico, com o seu confronto com as razões de cada um. Contam histórias que são também úteis à população, para compreender e legitimar os dilemas dos poderosos ou para os criticar responsavelmente. Estas lições não são agora ouvidas. Três gerações após a última guerra mundial, os americanos já não vivem a morte e a devastação em grande escala. A memória das catástrofes anteriores está a definhar. A classe intelectual e política tem dela apenas um conhecimento académico, formal e preciso, e também frio, sem humanidade e empatia. Qualidades que se obtêm através dos clássicos. Educação, no entanto, cada vez mais negligenciada nas universidades e na cultura popular.

Uma condição comum nas suas premissas a muitos países ocidentais, mas única nas suas consequências. Porque, se não for corrigida, a ausência de sensibilidade trágica pode causar os cataclismos que a América já não consegue imaginar. A amnésia da tragédia suscitou um debate limitado mas influente na América. Segundo alguns, o problema é a população. Esta imagina o presente como eterno, dá por garantida a base geopolítica da sua prosperidade e tem relutância em sacrificar sangue e tesouros. Para outros, a falha é da classe dirigente. Aplicou de forma irresponsável a supremacia dos anos 1990-2000 e corroeu a solidez da República, as fontes de poder e a credibilidade, e por conseguinte a capacidade de dissuasão, dos Estados Unidos. Para os primeiros, o pecado original é o da negligência; a introversão. Para os segundos, o pecado original é o da arrogância; a extensão excessiva. O debate gira em torno de dois volumes recentes como “The Lessons of Tragedy: Statecraft and World Order” de Hal Brands e Charles Edel (2019) e “The Tragic Mind: Fear, Fate, and the Burden of Power” de Robert Kaplan (2023).

Ambas obras são de íntimos do poder. Mas muito diferentes, não só pelas teses quase opostas que defendem. Kaplan, de 72 anos, é um famoso repórter de guerra dos Balcãs e do Médio Oriente, um apoiante irredutível da invasão do Iraque, um amante da geografia política (chama-lhe geopolítica) e autor de estudos para o Pentágono. Brands e Edel, ambos na casa dos 40 anos, sempre educados em Yale no altamente selectivo programa de grande estratégia do historiador John Gaddis, pertencem à nova geração de intelectuais. O primeiro, Hal Brands, titular da cátedra Henry Kissinger na Johns Hopkins e editor do texto de referência “The New Makers of Modern Strategy: From the Ancient World to the Digital Age”. O segundo, Robert Kaplan, reservista da Marinha e figura de proa do emblemático Centro Segurança Internacional e Estudos Estratégicos. Para ambos, uma passagem de dois anos pelos gabinetes de planeamento dos Departamentos de Defesa e de Estado, em meados da década de 2010.

Para Brands e Edel, a tragédia é a catástrofe. A tragédia é o medo da catástrofe e a sua função é educar os cidadãos para os interesses estratégicos da comunidade. Para os gregos, escrevem, “o teatro e outras representações dramáticas eram educação pública. As tragédias serviam para admoestar e aterrorizar os cidadãos e para os inspirar. As elites acreditavam que Atenas só poderia ascender a grandes alturas se o público compreendesse o abismo em que se poderia afundar sem grande esforço, coesão e coragem”. A melhor definição deste papel estaria nas “Rãs” de Aristófanes. Por que razão admirar os poetas, pergunta Ésquilo a Eurípides; resposta é que “Para o juízo sábio, para o conselho correcto para que possamos converter os nossos concidadãos ao bem”. As virtudes da tragédia, estabelecem os autores, citando a “Retórica” de Aristóteles, residem na arte da persuasão, na prontidão para o sacrifício, ao aceitar a autoridade do Estado para preservar a ordem da desordem.

Embora reconheçam que o teatro grego incutia lucidez e humildade no público, insistem no seu apelo à força e determinação comuns. Mesmo numa peça como “Os Persas”, em que Ésquilo faz com que o público se solidarize com a queda do inimigo, salientam a sugestão do autor de que a vitória de Atenas não foi mérito de heróis individuais, mas de uma comunidade unida capaz de evitar os erros de cálculo do adversário.

Segundo Brands e Edel, a trágica perda de sensibilidade da América reside no fracasso da vontade popular de defender o império. Algo está quebrado nos Estados Unidos, pois os cidadãos já não querem pagar os custos inerentes ao papel de garante da ordem. Mas, ao fazê-lo, deitam tudo a perder, porque o “Número Um” não pode fazer menos sem induzir um colapso mais geral. A base deste afastamento remonta ao fim da Guerra Fria em que a população exige e obtém uma redução de algumas despesas do império para se concentrar na frente interna; entretanto, a classe intelectual e empresarial convence-se de que a globalização é a lei e o destino da humanidade, a natureza dos seres humanos está a mudar para melhor, a guerra é coisa de arquivos e o sistema internacional sustenta-se mesmo sem a América (John Ikenberry).

(continua)

USJ | Saúde e bem-estar dos mais jovens em debate

A Universidade de São José (USJ) organiza entre amanhã e sábado a segunda edição do Simpósio Internacional sobre a Saúde e o Bem-Estar das Crianças e dos Jovens, que acolhe durante dois dias, no campus da Ilha Verde, um conjunto de académicos para falar de um tema actual.

Segundo um comunicado da USJ, trata-se de um “simpósio interdisciplinar destinado a académicos, profissionais e decisores, com o objectivo de estabelecer ligações e dar contributos significativos para o conhecimento e a elaboração de políticas sobre a saúde e o bem-estar das crianças e dos jovens”.

O evento é organizado pela USJ e por outras entidades académicas, nomeadamente o Observatório de Desenvolvimento Social de Macau da USJ, a Escola de Enfermagem Kiang Wu de Macau ou o Departamento de Serviço Social da Universidade Shue Yan de Hong Kong, entre outros.

Irão, assim, ser discutidos temas como a saúde mental e pública, as políticas direccionadas para adolescentes e a relação com a família. A título de exemplo, serão apresentadas palestras como “Estilo Parental e Dependência Online da Criança na China: Efeito de mediação da intervenção parental”, por Chien-Chung Huang; ou ainda “Qualidade de vida dos jovens em Macau e Zhuhai: uma comparação”, por Johnston HC Wong.

Já Yu Xiang, vai apresentar a palestra “Um modelo para promover o bem-estar dos adolescentes na área da Grande Baía: O caso da formação em Serviço Social”.

Haverá também um debate sobre o ensino especial, nomeadamente com a apresentação de “Processamento temporal e leitura em crianças chinesas com dislexia”, por Xu Zhengye, da Universidade de Educação de Hong Kong; bem como “Desenvolvimento da juventude e questões de saúde mental em Taiwan”, por Chang Kou-Wei, da Universidade de NhuHua, em Taiwan.

Halftone | Lançada décima edição da revista de fotografia

“Halftone Meet #10” foi lançada esta terça-feira e é mais uma edição da revista de fotografia que conta com trabalhos de fotógrafos profissionais e amadores, nomeadamente Jane Xu, Sara Augusto, Carmen Cerejo ou Nuno Calçada Bastos, entre outros. Esta é a oportunidade para folhear uma edição com estilos diversos de fotografia

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) acolheu esta terça-feira o lançamento da décima edição da revista “Halftone”, um projecto da Associação Halftone. Trata-se de uma edição com imagens de alguns dos membros da associação, nomeadamente Jane Xu, Sara Augusto, Carmen Cerejo, Nuno Calçada Bastos, Cassia Schutt e Hosoe Eikoh, a quem é prestada homenagem póstuma.

Nesta edição, abrange-se um espectro fotográfico desde a fotografia documental até à expressão artística, a cores ou a preto-e-branco, em que “os trabalhos desafiam narrativas previsíveis, evocam respostas emocionais profundas e exploram as complexidades da experiência humana”, segundo a nota editorial da revista.
De acordo com a organização, “a chegada à décima edição da nossa revista representa um marco significativo no nosso percurso nos últimos três anos”.

“Esta conquista não só demonstra a nossa resiliência num cenário editorial desafiante, como também reflecte o nosso compromisso em promover a criatividade e o diálogo através da arte da fotografia”, acrescenta-se na mesma nota.

A associação afirma ainda que foi construído “um espaço onde os artistas podem explorar e expressar as complexidades da experiência humana, promovendo um sentimento de pertença e compreensão partilhada”.

Reflexão e partilha

Dez edições depois, a Halftone, que nasceu com o objectivo de revelar a fotografia que se faz no território, em todos os géneros e por todo o tipo de profissionais parece ter atingido o seu propósito. Lançar dez revistas serve, para a associação, como motivo “para reflectir sobre os temas que apresentamos e as ligações que cultivamos”.

“Olhando para trás, reconhecemos como estas narrativas ressoam com o nosso compromisso contínuo com o discurso social e a exploração cultural”, é acrescentado.

Destaque para o facto de “Halftone Meet #10” servir ainda de homenagem a Hosoe Eikoh, recentemente falecido, lembrado pela “fotografia magistral [que] deixou uma marca indelével no mundo da arte”.

“A capacidade de Eikoh de entretecer luz e sombra com uma grande profundidade emocional, convida os espectadores a envolverem-se com a condição humana de uma forma que ressoa para além das fronteiras culturais. O seu trabalho serve como uma memória comovente das narrativas tecidas em cada um dos projectos apresentados, reforçando a ideia de que, no seu âmago, toda a fotografia procura contar uma história”, remata a associação na mesma nota.

Ainda sobre os autores das imagens, destaque para Sara Augusto, que além da dedicação à fotografia é professora universitária na Universidade Cidade de Macau. Sara Augusto é formada nas áreas das humanidades e literaturas em português, tendo sido docente no Instituto Português do Oriente. Além disso, fez o Curso Profissional de Fotografia, ministrado pelo Instituto Português de Fotografia no Porto, em 2016.

Nuno Calçada Bastos, também residente em Macau, tem dedicado a sua carreira à fotografia e organização de eventos, assumindo também uma paixão pela fotografia de viagens, além do lado mais comercial que esta arte pode assumir.

Economia | Taxa de juro de referência mantém-se em 3,1%

O Banco Popular da China anunciou ontem que vai manter a taxa de juro de referência em 3,1 por cento, após o corte de Outubro, indo ao encontro das expectativas dos analistas. Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de juro de referência a um ano (LPR) permanecerá nesse nível pelo menos até daqui a um mês.

Este indicador, estabelecido como referência para as taxas de juro em 2019, é utilizado para fixar o preço dos novos empréstimos – geralmente destinados às empresas – e dos empréstimos a taxa variável que estão a ser reembolsados.

É calculado com base nas contribuições de preços de uma série de bancos – incluindo pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais elevados e maior exposição a empréstimos não produtivos – e tem como objectivo reduzir os custos dos empréstimos e apoiar a “economia real”. Em Outubro, o banco central reduziu a LPR a um ano em 25 pontos base para 3,1 por cento.

Esta foi a segunda redução em 2024, com os especialistas a sugerirem que o banco central estava a ser cauteloso face à divergência com outras grandes economias – onde as taxas tinham tido uma tendência de subida para conter a inflação – e à consequente pressão sobre a taxa de câmbio da moeda nacional, o yuan.

Em Julho, o banco central tinha anunciado um corte de 10 pontos base para 3,35 por cento. O banco central também indicou ontem que a LPR a 5 anos ou mais – a referência para os empréstimos hipotecários – se manterá nos 3,6 por cento, depois de ter caído 15 pontos base em Outubro, também em linha com as expectativas dos analistas.

Nas últimas semanas, Pequim anunciou uma série de medidas de estímulo, na sequência de uma descida das taxas de juro nos Estados Unidos, tendo o Presidente chinês, Xi Jinping, apelado a esforços redobrados para atingir o objectivo de crescimento económico de cerca de 5 por cento para este ano.

HK | Pequim acusa magnata Jimmy Lai de ser “agente das forças anti-China”

O magnata de Hong Kong, Jimmy Lai, é “um agente e um peão das forças anti – China”, acusou ontem Pequim, depois de o empresário testemunhar pela primeira vez na antiga colónia britânica, num julgamento por crimes contra a segurança nacional.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lin Jian disse ontem em conferência de imprensa que “Hong Kong é uma sociedade regida pelo Estado de direito” e que “ninguém pode usar a bandeira da liberdade para se envolver em actividades ilegais e tentativas de escapar à lei”.

Lin afirmou que o sistema judicial de Hong Kong “exerce o seu poder judicial de forma independente, em conformidade com a lei, com procedimentos justos e imparciais e com audiências abertas e transparentes”.

“O Governo central chinês apoia firmemente a região administrativa de Hong Kong na protecção da segurança nacional”, acrescentou, manifestando “oposição” à “interferência de países individuais nos assuntos internos da China, desacreditando e minando o Estado de direito em Hong Kong”.

O processo contra Lai, que já está a cumprir uma pena de mais de cinco anos sob a acusação de fraude por alegadas violações do contrato de arrendamento da sua empresa multimédia, foi retomado ontem em Hong Kong com o seu testemunho, após quase quatro anos de detenção.

Lai, de 76 anos, um crítico do Partido Comunista Chinês (PCC), e as suas empresas enfrentam três acusações ao abrigo da rigorosa Lei de Segurança Nacional de Pequim em Hong Kong, incluindo alegada conivência com “forças estrangeiras” e sedição.

As acusações estão relacionadas com alegados apelos a sanções internacionais contra a cidade e a China por parte do magnata, bem como com o seu papel “no incitamento ao ódio público” durante protestos maciços contra o governo de Hong Kong, em 2019.

Nuclear | Pequim apela à calma após Rússia rever doutrina

A China apelou ontem à calma e à contenção, na sequência da assinatura pelo Presidente russo, Vladimir Putin, de um decreto que alarga as suas opções para a utilização de armas nucleares.

“Nas actuais circunstâncias, todas as partes devem manter a calma e usar de contenção e trabalhar em conjunto através do diálogo e consultas para aliviar as tensões”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, em conferência de imprensa.

“A posição da China, que encoraja todas as partes a desanuviar as tensões (…) e a empenhar-se numa resolução política da crise ucraniana, mantém-se inalterada”, acrescentou o porta-voz.

No milésimo dia da sua ofensiva contra a Ucrânia, Vladimir Putin assinou na terça-feira um decreto que alarga o âmbito da utilização de armas nucleares, pouco depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com mísseis de longo alcance de fabrico norte-americano.

Putin avisou, no final de Setembro, que qualquer ataque levado a cabo por um país não nuclear mas apoiado por uma potência com armas nucleares poderia ser considerado uma agressão “conjunta”, exigindo potencialmente o uso de armas nucleares.

Na terça-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou a “escalada” russa na Ucrânia, apelando a Vladimir Putin para que “ouça a razão”.

Macron pediu ao Presidente chinês, Xi Jinping, que faça valer “todo o seu peso” sobre Moscovo. “Pedi ao Presidente Xi Jinping que utilize toda a sua influência, a sua pressão e o seu poder de negociação para que o Presidente Putin ponha termo aos ataques”, afirmou.

Inteligência Artificial | Xi Jinping alerta para “riscos e desafios”

Além dos benefícios da nova tecnologia, o Presidente chinês alerta para os perigos imprevisíveis que daí podem advir

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, destacou ontem os avanços da Inteligência Artificial (IA) e o seu “impacto transformador no mundo”, mas alertou para os “riscos e desafios imprevisíveis” desta tecnologia emergente.

Numa intervenção por videoconferência na abertura da Conferência Mundial da Internet em Wuzhen, na província chinesa de Zhejiang, Xi apelou a um “ciberespaço inclusivo e seguro”, sublinhando a necessidade de cooperação internacional para enfrentar os desafios da era digital, segundo a televisão estatal CCTV.

No seu discurso, Xi sublinhou que “o avanço das tecnologias de IA melhorou a capacidade dos humanos para mudar o mundo, mas também trouxe uma série de riscos e desafios imprevisíveis”.

Reafirmou o compromisso de Pequim em trabalhar com outros países para “construir uma comunidade com futuro partilhado no ciberespaço”, uma fórmula que também defende para outras questões.

O evento, organizado pela Administração do Ciberespaço da China, conta com a participação de líderes empresariais e delegações internacionais e centra-se em temas como a governação da IA e do ciberespaço ou a inovação digital.

O vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, sublinhou durante a cerimónia que “a IA, juntamente com a Internet, os grandes volumes de dados (‘big data’) e a computação em nuvem, está a impulsionar o desenvolvimento económico e social, mas o fosso digital continua a aumentar e a questão da segurança no ciberespaço continua a ser preocupante”.

Palco da tecnologia

A cimeira, que inclui 24 fóruns e a participação de representantes de 53 países, aborda também a criação de um comité especial sobre IA e um programa de cooperação internacional entre grupos de reflexão.

Estes esforços têm como objectivo promover um desenvolvimento digital mais inclusivo e responsável. Entre os participantes encontra-se Lei Jun, fundador do gigante tecnológico chinês Xiaomi, que participou na cerimónia de abertura.

Num contexto de tensões tecnológicas entre a China e os Estados Unidos, o evento reflecte a estratégia de Pequim para consolidar o seu modelo de governação da Internet, caracterizado por um controlo estatal rigoroso e pela exclusão de plataformas estrangeiras.

Apesar do seu carácter mais regional nos últimos anos, não atraindo figuras de destaque dos gigantes tecnológicos ocidentais, como Tim Cook, da Apple, e Sundar Pichai, da Google, presentes em edições anteriores, a cimeira continua a ser para a China um palco para impulsionar iniciativas internacionais na esfera digital.

A China – onde milhares de portais, aplicações e redes sociais ocidentais, estão bloqueados – acolhe há 10 anos a conferência internacional sobre a Internet, que procura igualmente promover a cooperação internacional no ciberespaço.

A última noite do Império I

Por Luis Nestor Ribeiro (1)

Introdução: Uma Macau Multicultural

Viver e trabalhar como profissional num meio de comunicação social em Macau, especialmente nos anos que antecederam a transferência de administração para a China em 1999, foi uma experiência imersiva e transformadora. No coração desse território pequeno e vibrante, não fui apenas um mero observador, mas também um interveniente empenhado, em experienciar na primeira pessoa, uma das mais complexas fusões culturais do mundo. No Passado, Macau não foi uma simples colónia europeia em território chinês, foi primordialmente um lugar onde o Oriente e o Ocidente não apenas coexistiram, mas também se entrelaçaram: – num diálogo constante, às vezes harmonioso, outras vezes tenso, sempre fascinante.

Desde os meus primeiros dias em Macau, fui atraído pela riqueza cultural que moldava a vida quotidiana da cidade. Nos becos e ruas estreitas, havia sinais da longa presença portuguesa, com suas igrejas barrocas e casas coloniais, enquanto os mercados fervilhavam com a energia dos vendedores chineses. O cheiro de chá acabado de preparar pairava no ar enquanto o som de sinos dos templos budistas ecoava ao longe. Essa singular fusão de culturas constituiu sempre a sua essência, e para entender a transferência de administração (2) que se aproximava, era necessário compreender primeiro o que fazia de Macau um lugar tão único.

A Fusão de Culturas

A história de Macau conheceu novos protagonistas no século XVI, quando os portugueses chegaram como navegadores e mercadores, transformando paulatinamente um pequeno lugar num importante entreposto comercial no sudeste asiático (3). Desde então, o território tornou-se num verdadeiro caldeirão de culturas. O impacto dessa colonização portuguesa nunca se limitou à política ou à economia; foi um processo que deixou marcas profundas nas tradições, na língua e no modo de vida dos seus habitantes.

Passei a residir em Macau no início da década de 1980, por motivos profissionais. Ao deambular pelas ruas da cidade no papel privilegiado de voyeur (4) sem pressa, a quem fora permitido observar um grande laboratório multicultural em plena produção no Extremo Oriente, era impossível passar despercebida a ubíqua influência portuguesa: embora o ritmo da cidade fosse marcado pela vertiginosa actividade chinesa nas lojas e negócios, o ambiente do casario e suas elegantes fachadas coloniais convocava as emoções para um distante lugar mediterrânico. As calçadas com seus padrões ondulantes configurados por pedras alvinegras, conferiam às ruas uma beleza singular, ligando-as simbolicamente a Portugal, enquanto a serenidade das igrejas católicas contrastava com o misticismo fumegante dos templos chineses, como o Templo de A-Má, reverenciado pela comunidade chinesa local, em particular pelos pescadores e população flutuante, abrigada em sampanas e juncos no Porto Interior.

Macau nessa época(5) não era mais do que um pequeno anão adormecido à sombra de um gigante. Com escassos portugueses, pouco passavam de mil os que tinham vindo directamente de Portugal. Na generalidade eram funcionários públicos, professores, advogados e alguns militares a prestar serviço nas forças de segurança. A língua portuguesa era falada por cerca de 15 mil pessoas, numa população que rondava os 450 mil habitantes, cuja língua veicular predominante era o cantonense. A maioria comprimia-se numa estreita faixa, a península de Macau, com cerca de 5,7 km2 no que constituía um recorde mundial para a mais alta densidade populacional. Em conjunto, o território de Macau(6), administrado por Portugal, incluía as ilhas de Taipa e Coloane, com uma área total aproximada 15,3 km².

Macau era uma urbe envolta numa languidez entorpecida em contraciclo com a economia dos tigres asiáticos(7). Só existia uma ligação viária entre a península e as ilhas, assegurada pela elegante ponte Nobre de Carvalho, inaugurada em 1974. Apesar de possuir apenas duas estreitas vias de circulação, foi uma obra essencial para o desenvolvimento, facilitando o transporte de pessoas e mercadorias, impulsionando o crescimento urbano. O trânsito era caótico e pouco disciplinado. As viaturas podiam circular livremente pelo Largo do Senado, no coração da cidade. Tinham ainda a possibilidade de estacionar mesmo defronte do edifício do Leal Senado. O lixo amontoava-se nas ruelas e a sua recolha pelos serviços municipais não era eficiente. Ao longo da Rua da Praia Grande, na margem do rio, ainda existiam barracas de pescadores, em forma de palafita, com redes de pesca suspensas e puxadas através de um sistema de roldanas artesanais. No emaranhado de ruas, havia inúmeras tendinhas onde era confeccionada uma profusão de petiscos e comidas, – genuína street food antes de virar moda, – servida mesmo à frente do cliente. Aromas de arroz glutinoso, massa, peixe e carne, com legumes caldeados por molhos e temperos fumegantes que emprestavam ao ar um odor característico, estimulando o apetite dos fortuitos transeuntes. Um ambiente denso e carregado de fumo, não parava de cativar o forasteiro, dia e noite. Em redor dos casinos, era permanente a azáfama.

A gastronomia reflectia esse carácter eclético de forma deliciosa. Nos restaurantes, a comida era uma celebração da diversidade cultural. Nas imensas visitas a casas de chá e restaurantes locais, provei variados pratos que misturavam ingredientes chineses e técnicas culinárias portuguesas. O minchi, um prato tradicional macaense de carne moída com batatas e ovo frito, temperado com molho de soja, era um exemplo perfeito dessa mistura, representando a cozinha do dia a dia dos macaenses. Outros pratos, como o caldo verde e o pastel de nata, conviviam lado a lado com receitas chinesas mais tradicionais, como o dim-sum e o pato laqueado.

Além da comida, havia também a música, uma presença constante em Macau. Nas festas de rua e eventos culturais, ouvia-se o som do fado, cantado em português interpolado por árias de ópera de Pequim, mesclados ao ritmo das danças chinesas e dos tambores rituais das festividades, com destaque para o Ano Novo Lunar. E, claro, o patuá — a língua crioula única de Macau, que misturava português e cantonense, falada principalmente pelos mais idosos e hoje quase em extinção.

Nesse tempo as comunicações intercontinentais eram complexas e de difícil acesso. Para um português residente em Macau o contacto regular com os familiares distantes constituía um quebra-cabeças. As redes telefónicas fixas só permitiam o acesso directo a chamadas locais. A tecnologia de suporte a ligações de longa distância pressupunha a utilização de comunicações via satélite. Para o efeito, era necessário proceder presencialmente à reserva de circuitos na sede dos Correios, para um determinado horário, sujeito a confirmação e na presença de um telefonista de serviço. Essa complexidade acentuava ainda mais a sensação de isolamento em relação ao resto do mundo. Eram também frequentes os apagões de energia eléctrica, em virtude de a central geradora de electricidade no território não ser auto-suficiente. Uma parte substancial da energia necessária era importada da China, revelando uma dependência de Macau, de forma a satisfazer os requisitos de consumo quotidiano, cuja tendência era de aumento gradual.

A Identidade Macaense

Com o tempo, fui percebendo que a identidade macaense era muito difícil de definir, pressupondo uma mescla de complexidade e fluidez. Os macaenses, descendendo primordialmente de portugueses e chineses, com o contributo genético ocasional de outros povos meridionais do continente asiático(8), eram fruto directo dessa fusão cultural. Uma comunidade híbrida que vivia entre dois mundos, com um pé na Europa e outro na Ásia. O que os unia não era uma etnia, mas uma cultura compartilhada — uma cultura que, nos últimos 450 anos, se tinha desenvolvido de forma autónoma, sob o olhar distante tanto de Portugal quanto da China.

Numa observação muito superficial, para os portugueses, os macaenses eram vistos como diferentes, como “os orientais” — assumindo em muitos casos, a face visível da administração local – graças à faculdade que detinham, de poderem comunicar nos dois idiomas principais. Já os chineses nativos de Macau, viam muitas vezes os macaenses como “ocidentais”, portadores de valores e hábitos europeus. No entanto, os próprios macaenses não se reviam exactamente como europeus nem completamente como asiáticos. A sua identidade estava profundamente enraizada na singularidade de Macau, e muitos temiam que essa identidade fosse descaracterizada com a transferência de administração para o controlo chinês.

Essa incerteza era palpável nas conversas frequentes que eu tinha no seio do meu círculo mais restrito de amigos. Alguns sentiam orgulho na dualidade da sua herança; outros receavam que o retorno de Macau à pátria chinesa pudesse significar uma perda de suas tradições e liberdades. Essa identidade complexa era, para muitos, algo que devia ser protegido com determinação.

Notas

1-Author, Media Consultant, TV Director / Producer. Lived and worked in Macau for 25 years, between 1983 and 2008.

2-Neste artigo considero que a Cerimónia de Transferência de Poderes em 20 de dezembro de 1999 foi essencialmente isso – uma passagem de testemunho entre nações que se respeitavam e que souberam manter um entendimento cordial ao longo de mais de quatro séculos e meio, não obstante haver autores que a designam como ‘Transferência de Soberania’, em linha com o que se passou em Hong-Kong em 1997, entre a R.P.C. e a coroa inglesa. No caso específico de Macau, a soberania chinesa sobre o território já tinha sido formalmente reconhecida pelas autoridades portuguesas em 1979. Quando a República Popular da China e a República Portuguesa estabeleceram formalmente relações diplomáticas, o estatuto de Macau em termos de Direito Internacional foi finalmente esclarecido. Na altura, os dois países definiram na acta de conversações por meio de acordo confidencial que “Macau é território chinês sob administração portuguesa”, o que veio a ser confirmado na Constituição da República Portuguesa e no Estatuto Orgânico de Macau.

3-Sobre o estabelecimento dos portugueses em Macau as evidências documentais são pouco claras e por vezes revelam-se ambíguas. Não existe qualquer documento da época que comprove como os portugueses se instalaram no território do Sul da China. Resta acrescentar o facto, esse indiscutível, de os portugueses se terem fixado em Macau desde a segunda metade do século XVI e de ali terem permanecido ininterruptamente, com o acordo, ou pelo menos, a tolerância dos chineses. O seu estabelecimento gradual foi pacífico, não ocorrendo qualquer emprego de força, um acto de guerra que determinasse a sua anexação territorial, em contraste com o sucedeu em meados do séc. XIX com Hong-Kong

4- Inspirado pelo flâneur de Charles Baudelaire.

5-Início da década de oitenta do século passado

6-É oportuno recordar que durante o mandato do Governador Almeida e Costa (1981 a 1986) tiveram início os Grandes Empreendimentos, como o fecho da Baía da Praia Grande e os novos aterros do Porto Exterior (NAPE). Foi possível concretizar um entendimento pragmático com a nova liderança da nação chinesa que visava uma maior abertura ao exterior, criando as condições políticas adequadas para o arranque e concretização de alguns projectos importantes para a modernização do território, como a Estação de Televisão – TDM (1984), o porto de águas profundas em Ka Ho, Coloane (1992), o Terminal Marítimo do Porto Exterior (1993), a nova travessia para a Taipa através da Ponte da Amizade (1994) e a construção numa ilha artificial do novo Aeroporto Internacional (1995), tendo esta última obra levado 10 anos a realizar. Com o passar do tempo, a área de Macau aumentou significativamente devido aos sucessivos projectos de aterro, como a faixa de Cotai (Cotai Strip), que cobre o antigo istmo que ligava Taipa a Coloane e é ocupado actualmente pela maioria dos grandes casinos e resorts.

7-Grupo constituído por quatro economias do sudeste asiático, Hong-Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan, que registou um vertiginoso crescimento do PIB entre as décadas de 1970 e 1990. Durante esse período, essas quatro economias passaram por uma rápida industrialização, altas taxas de crescimento e melhorias significativas nos padrões de vida. Essa transformação é frequentemente designada por ‘Milagre Asiático’

8-Com destaque para os antigos reinos e territórios do Sião (Tailândia), Pegu (Myanmar), Malaca (Malásia) Goa (Índia), Batávia (Indonésia) e Filipinas, entre outros.

Tradução | UM e BFSU organizam Concurso de Tradução

A Universidade de Macau (UM) e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (BFSU) realizam a 22 de Novembro o 3.º Concurso de Tradução Chinês-Português, anunciou na terça-feira a instituição de ensino de Macau.

Além de “promover o intercâmbio no ensino da língua portuguesa entre as universidades” de Macau e do interior da China, o concurso quer “incentivar os estudantes” de português a “participarem na prática da tradução e descobrir talentos de qualidade” nesta área, de acordo com um comunicado da UM.

Um total de 84 estudantes de 26 universidades dos dois lados da fronteira vão participar no evento, que teve a primeira edição em Outubro de 2019. Em 2022, 51 instituições de ensino superior ofereciam programas de língua portuguesa no interior da China, segundo uma compilação divulgada pelo académico da Universidade Politécnica de Macau Manuel Duarte João Pires nesse mesmo ano. No caso de Macau, são cinco universidades com programas de português.

PJ | Sub-director afirma que jogo ilegal foi erradicado

O sub-director da Polícia Judiciária, Sou Sio Keong, afirmou ontem que vários crimes relacionados com jogo estão actualmente em níveis mais baixos do que em 2019, com particular destaque para o crime organizado de exploração de jogo ilegal, que o responsável diz ter “basicamente desaparecido”.

Em declarações à TDM – Rádio Macau, o sub-director da PJ, revelou que desde que entrou em vigor a lei que criminalizou a troca de dinheiro ilegal, no final de Outubro, até à passada sexta-feira, foram identificados 25 casos pelas autoridades, que resultaram na detenção de 38 pessoas.

No total, estes casos levaram à apreensão de mais de 3 milhões de dólares de Hong Kong e fichas no valor de 1,1 milhões de dólares de Hong Kong. O responsável revelou também que o crime de burla com ingressos para espectáculos em Macau tem aumentado nos últimos meses e que está a ser equacionada a introdução de dados pessoais nos bilhetes para identificar o espectador e prevenir a revenda a preços inflacionados.

Macau Legend | Oposição de Cabo Verde quer esclarecimentos

O partido liderado por Julião Varela defende que é necessário “clarificar o que acontecerá, tendo em conta os investimentos já realizados” pela empresa ligada a David Chow e Levo Chan

 

O PAICV, maior partido da oposição cabo-verdiana, instou o Governo de Cabo Verde a esclarecer a reversão do projecto turístico da Macau Legend Development (MLD), apelando a um diálogo com a população e a autarquia da capital para encontrar alternativas.

“Seguramente faltarão muitas outras informações”, afirmou o secretário-geral do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Julião Varela, considerando que o Governo anunciou, há meses, em Macau, que estava a procurar novos investidores para o empreendimento que incluía o ilhéu de Santa Maria.

“Com a resolução do contrato, é evidente que todas as possibilidades de negociação foram esgotadas. Agora, importa clarificar o que acontecerá, tendo em conta os investimentos já realizados”, sustentou.

Para o PAICV, “é necessário que haja um forte diálogo”, que deve envolver a Câmara Municipal da cidade da Praia e os cidadãos na procura por soluções.

Em resposta aos pedidos de esclarecimento, o Governo cabo-verdiano reconheceu ir analisar alternativas ao empreendimento turístico e de jogo da Macau Legend, que prometia mudar a face da capital, Praia, um dia depois de terminar os contratos, justificando-se com incumprimento dos investidores.

“O Governo estará a analisar soluções alternativas para o referido Projeto de Requalificação da Gamboa e do Ilhéu de Santa Maria”, lê-se num comunicado.

De “boa-fé”

Na mesma nota, o Governo referiu ter agido “de boa-fé”, ao enviar “várias cartas à MLD, dando-lhe inúmeras oportunidades de retoma das obras, paradas há cerca de três anos, para negociar a venda das acções ou a cedência da sua posição contratual a um potencial interessado”, acrescentou.

O desfecho acabou por ser “a resolução das convenções de estabelecimentos e dos contratos delas derivados, com a reversão dos bens”, publicados na segunda-feira, em Boletim Oficial da República.

“Até à presente data, foram efectivamente concretizados um edifício com oito pisos”, que permanece vazio, “e uma ponte de ligação ao Ilhéu de Santa Maria”, numa zona da marginal da Praia que tem permanecido vedada.

Na segunda-feira, o Governo cabo-verdiano declarou que a MLD violou “de forma flagrante e reiterada” as obrigações num investimento turístico e de jogo, na Praia, ao justificar a sua resolução e reversão, publicadas na segunda-feira.

Assinado em 2015, o acordo com David Chow previa um investimento de 250 milhões de euros, cuja primeira pedra foi lançada em 2016.

O plano envolvia a construção de uma estância turística com uma área de 152.700 metros quadrados, marina, hotel com casino – estrutura construída, mas que continua vazia e fechada – e várias instalações para restaurantes e bares.

Em Setembro deste ano, durante audiência prévia, a MLD negou qualquer culpa no processo, atribuindo os atrasos à pandemia da covid-19, argumento rejeitado pelo Governo.

Economia | Volume de negócios a retalho caiu 17% até Setembro

Nos primeiros três trimestres do ano, o volume de negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho caiu 16,9 por cento, fixando-se em 53,48 mil milhões de patacas, o equivalente a 95 por cento do resultado obtido no mesmo período de 2019.

Os sectores mais afectadas pela crise nos primeiros nove meses do ano foram os negócios de relógios e joalharia, artigos de couro e artigos de comunicação, que registaram quebras anuais de 26,6, 24,4 e 24,3 por cento, respectivamente. Por outro lado, a venda de automóveis aumentou 14,4 por cento nos primeiros três trimestres do ano.

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) acrescenta que “eliminados os factores que influenciam os preços”, o volume de vendas do comércio a retalho caiu 21,2 por cento nos primeiros três trimestres deste ano, face ao mesmo período de 2023.

Segundo dados divulgados ontem pela DSEC, no terceiro trimestre deste ano, os negócios do comércio a retalho cifraram-se em 16,59 mil milhões de patacas, o que representou um aumento de 2,5 por cento face ao trimestre anterior, mas uma quebra anual de 15,5 por cento.

Os negócios de relojoaria e joalharia registaram a maior quebra anual no terceiro trimestre, com uma descida de 30,9 por cento, seguidos dos negócios dos artigos de couro, que desceram 26,5 por cento, seguidos dos produtos cosméticos e higiene, cujo volume de negócio caiu 23,7 por cento em termos anuais.

Em relação à expectativa para o último trimestre do ano, 43,5 por cento dos responsáveis por estabelecimentos do comércio a retalho estimam que o volume de negócios continue a diminuir, enquanto 39,5 por cento antecipa estabilização.