Quarta ponte sobre o Canal do Panamá vai ser construída por um consórcio chinês

[dropcap]A[/dropcap] quarta ponte sobre o canal do Panamá, um mega projecto de 1.420 milhões de dólares adjudicado a um consórcio de empresas estatais chinesas, começará a ser construída a partir do último trimestre deste ano, segundo fontes oficiais panamianas.

O projecto da ponte, uma obra que ajudará a aliviar o tráfego na capital panamiana sobre a qual passará uma linha de metropolitano, está a cargo de um consórcio integrado pelas empresas China Communications Constrution Company LTD e China Harbour Engineering Company LTD, divulgou o Governo, em comunicado.

A primeira destas empresas foi a encarregada de construir a ponte mais longa do mundo, inaugurada recentemente e que une Hong Kong com Macau e Zhuhai, as três principais cidades do delta do Rio das Pérolas, no sul da China.

O concurso para a ponte foi aberto em Junho passado, mas o contrato só foi assinado a 09 de Novembro porque o consórcio ítalo-norte-americano Astaldi-Daelin apresentou uma reclamação que acabou por ser arquivada.

A infra-estrutura, que terá um comprimento de 6,5 quilómetros e suportada por tirantes, será construída ao norte da Ponte das Américas, uma das mais emblemáticas do país, situada próximo da entrada do Oceano Pacífico.

Além da ponte, as empresas chinesas adjudicaram contratos multimilionários com o Panamá, sobretudo um centro de convenções e um terminal de cruzeiros.

O Panamá converteu-se, em Junho de 2017, no segundo país da região, depois da Costa Rica, a entabular relações diplomáticas com a China e actualmente encontra-se em plenas negociações para firmar um tratado de livre comércio com o gigante asiático.

4 Abr 2019

Pequim endurece postura face a Taipé

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China reiterou ontem o endurecer da postura face a Taiwan, após o Panamá ter reconhecido Pequim como a única capital de toda a China, rompendo os laços diplomáticos com Taipé.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Governo chinês, Ma Xiaoguang, afirmou que não será permitido negar que Taiwan faz parte da China.

“Apenas reconhecendo que os dois lados fazem parte da China podem as relações entre ambos retornar à direcção correcta do desenvolvimento pacífico”, disse.

A decisão do Panamá, um dos aliados de Taiwan com maior peso económico, anunciada na segunda-feira, foi um sinal claro de que Pequim quer reforçar a pressão sobre a ilha, face à postura pró-independência da Presidente Tsai Ing-wen. O número de países que reconhecem Taiwan caiu consideravelmente nas últimas décadas, tendo permanecido estável apenas durante a governação de Ma Ying-jeou, nos últimos oito anos, quando as relações entre Pequim e Taipé entraram num período de desanuviamento sem precedentes. Esse período culminou numa cimeira entre Ma e o Presidente chinês, Xi Jinping, realizada em Singapura.

Em Janeiro de 2016, Tsai venceu as eleições pelo Partido Democrático Progressista (PDP), que tradicionalmente defende a independência da ilha e o afastamento da China comunista.

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça usar a força caso a ilha declare independência.

Já Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China.

Em perda

Após a decisão do Panamá, Taipé fica com vinte aliados diplomáticos, entre os quais 11 estão na América Latina e Caribe. Em Dezembro passado, São Tomé e Príncipe cortou também relações com a ilha e passou a reconhecer Pequim. Analistas chineses consideram que a China comunista vai continuar a exercer pressão económica e diplomática, até que Tsai adira ao “consenso de 1992”. Trata-se de um entendimento tácito alcançado em 1992 entre a China e Taiwan, na altura com um Governo liderado pelo Kuomintang (partido nacionalista), de que só existe uma China, deixando aos dois lados uma interpretação livre sobre o que isso significa.

Tsai Ing-wen atribuiu a ruptura dos laços diplomáticos com o Panamá à “pressão da China” e advertiu Pequim de que “não cederá perante pressões e intimidações”.

“Pequim nunca poderá negar a existência da República da China (nome oficial de Taiwan), nem o seu valor para a sociedade internacional ou a sua soberania”, disse.”Em nome dos 23 milhões de taiwaneses, digo a Pequim que não cederei perante pressões e intimidações”, acrescentou.

15 Jun 2017

Diplomacia | Panamá aproxima-se da China e corta relações com Taiwan

Era dos aliados mais antigos. O Panamá decidiu cortar relações com Taiwan e estabelecer laços diplomáticos com a China. É mais um golpe para a líder formosina, Tsai Ing-wen, depois de São Tomé e Príncipe ter saído da lista de parceiros. Pequim fica a ganhar

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ate-se com uma porta e, ao mesmo tempo, abre-se outra. Foi assim com São Tomé e Príncipe, em Dezembro passado, e a história repete-se agora com o Panamá. A lista de países que mantêm relações diplomáticas com Taiwan está a ficar cada vez mais curta. Do outro lado do Estreito, Pequim engrossa o rol de embaixadas, embaixadores e, claro está, de acordos e negócios.

Para Taipé, a notícia de que o Panamá decidiu aproximar-se da China foi um rude golpe. Para o Governo Central, a nova não podia ser melhor: Pequim consegue reforçar a sua presença no quintal norte-americano.

Num discurso transmitido pela televisão, o Presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, anunciou que o país estava a reforçar os laços comerciais com a China e a estabelecer laços diplomáticos com o segundo cliente mais importante do seu canal de transportes marítimos. “Acredito que este é o caminho correcto para o nosso país”, declarou Varela.

Em comunicado, o Governo do Panamá salientou que, a partir de agora, reconhece que há apenas uma China – ou seja, que Taiwan faz parte do país – e que corta relações com Taipé. “O Governo do Panamá põe hoje [ontem] fim aos laços diplomáticos com Taiwan e vai acabar com todas as relações e contactos oficiais com Taiwan.”

Um comunicado conjunto foi assinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, e pela homóloga Isabel Saint Malo (ver texto nestas páginas).

O poder do dinheiro

A reacção de Taipé ao virar de costas do Panamá não tardou. O Governo de Taiwan disse lamentar a decisão do antigo aliado e admitiu estar “zangado” com a troca feita pelo Panamá. Mas disse também que não vai competir com a China naquilo que descreve como sendo “o jogo diplomático do dinheiro”.

“O nosso Governo expressa objecções sérias e condena veementemente o facto de a China ter incitado o Panamá a cortar relações connosco, confinando o nosso espaço internacional e ofendendo o povo de Taiwan”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da ilha, David Lee, num encontro com a imprensa.

Os media formosinos salientavam ontem que os líderes Pequim têm fortes (e infundadas) suspeitas da líder de Taiwan, por acharem que Tsai Ing-wen quer avançar para a independência da ilha, não obstante ter já afirmado que pretende manter a paz com o Continente.

A luta pelos aliados diplomáticos entre os dois lados do Estreito acontece há anos e envolve frequentes vezes contrapartidas financeiras e económicas oferecidas pela China com que Taiwan não consegue competir.

O Panamá é o segundo país a trocar de aliado desde que Tsai Ing-wen assumiu o poder no ano passado, depois de São Tomé e Príncipe ter feito o mesmo em Dezembro. Recorde-se que era a única nação do espaço lusófono que estava afastada de Pequim. Agora, juntou-se aos restantes países e está presente também no Fórum Macau.

Lista magra

Com esta porta que agora se fecha, Taiwan passa a ser reconhecido formalmente apenas por 20 nações. O mais importante de todos eles é o Vaticano. Em meados dos anos 90, chegaram a ser 30. Os que hoje restam são sobretudo países pequenos e empobrecidos da América Latina e do Pacífico.

Pequim opõe-se fortemente ao reconhecimento de Taiwan, considerando que se trata de uma afronta à soberania chinesa.

Como é óbvio, a notícia de que o Panamá cortou relações diplomáticas não apanhou as autoridades formosinas desprevenidas: era uma hipótese veiculada há já alguns anos. A presença e influência chinesas no país têm vindo a crescer, pelo que se trata de um desfecho mais ou menos esperado. Mas, ainda assim, Taipé tentou evitar este volte-face.

No ano passado, em Junho, Tsai Ing-wen esteve na cerimónia que marcou a inauguração da expansão do Canal do Panamá, sendo que já na altura a presença foi tida como sendo uma tentativa de reforço dos laços com o aliado da América Latina. Tratou-se da primeira visita de Tsai ao estrangeiro desde que assumiu o cargo, a 20 de Maio, e foi recebida pelo Presidente Varela.

Já em Dezembro último, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Panamá tinha afirmado que não esperava qualquer mudança nas relações diplomáticas com Taipé. O comentário tinha sido feito na sequência dos acontecimentos que envolveram São Tomé e Príncipe, com alguns diplomatas em Pequim a garantirem que o país da América Latina seria o próximo a bater com a porta, apesar de ser dos aliados mais antigos.

Este ano, Tsai Ing-wen visitou alguns aliados da América Central, mas o périplo não incluiu uma paragem no Panamá.

A faixa e a rota

Em Pequim, a ministra dos Negócios Estrangeiros do Panamá, Isabel de Saint Malo, contou que o interesse em criar laços com a China tinha sido manifestado pelo Presidente Juan Carlos Varela há já dez anos.

Quanto a Pequim, as relações diplomáticas vão permitir reforçar a presença na América Central, uma zona estratégica para o modo como lida com os Estados Unidos. O Governo Central tem tentado seduzir a região com acordos na área da energia e das infra-estruturas, sobretudo a partir do momento em que Donald Trump decidiu que os Estados Unidos não iam estar na Parceria Transpacífico. As intenções do Presidente norte-americano em relação aos emigrantes da América Latina contrastam com a amizade que a China pretende fomentar.

Os interesses chineses no Panamá têm já uma forte expressão. Está neste momento em curso um projecto para construir um porto de águas profundas e um terminal de contentores junto ao Canal do Panamá. É um investimento de mil milhões de dólares que está a ser desenvolvido por chineses.

A China Landbridge comprou o maior porto do país, na ilha Margarita, tendo na altura anunciado que queria expandir e modernizar as infra-estruturas, o que deverá acontecer com o futuro porto de águas profundas.

Trata-se de um projecto que se insere na estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” e que vai permitir aumentar a capacidade do canal. A China tem apelado às empresas do país para que invistam em infra-estruturas no estrangeiro que possam melhorar os “laços comerciais globais”.

Ainda em relação ao Canal do Panamá, há empresas estatais chinesas que já mostraram interesse em desenvolver terrenos naquela zona. As autoridades anunciaram que vão abrir um concurso para concessionar 1200 hectares destinados à construção de um parque logístico. A China Communications Construction, a China Harbour Engineering e o China Railway Group já deram sinais de querem apostar na região, uma aposta que será agora facilitada com relações políticas mais favoráveis aos grandes negócios.

“A tendência irresistível”

O reconhecimento mútuo da soberania e o estabelecimento de relações diplomáticas corresponde aos interesses e desejos dos dois povos. A ideia foi deixada ontem num comunicado conjunto da China e do Panamá, assinado em Pequim pelos chefes da diplomacia dos dois países.

A Xinhua cita o documento para explicar que, a partir da data da assinatura do comunicado, as duas nações passam a ter relações diplomáticas efectivas, traduzidas pela presença de embaixadas.

A China e o Panamá chegaram a acordo em relação ao desenvolvimento de relações amigáveis com base no mútuo respeito pela soberania e integridade territorial, a não-agressão mútua, a não-interferência nos assuntos internos, a igualdade, os benefícios de ambos e a coexistência pacífica, indica ainda a agência oficial de notícias.

No comunicado lê-se também que o Governo do Panamá reconhece que só há uma China no mundo e que Taiwan é parte inalienável do território chinês, determinando o fim das relações diplomáticas com Taipé. O documento deixa claro que Pequim aprecia a posição tomada pelo Panamá.

Ontem, a Xinhua dava conta de declarações do porta-voz da China para os assuntos de Taiwan. Ma Xiaoguang considerou que a decisão do Panamá representa “uma tendência irresistível”.

O representante do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado fez referência ao Consenso de 1992, em que ficou acordado o princípio ‘uma só China’, para vincar que se trata do pilar para o desenvolvimento de relações pacíficas entre os dois lados do Estreito.

Ma deixou ainda um apelo à Administração de Taiwan, ao dizer que espera que os líderes da ilha tenham “uma leitura correcta da situação”, para que possam “fazer a escolha certa”.

14 Jun 2017