Teatro | “Projecto d’ Homens” estreia hoje na BlackBox do Antigo Tribunal João Luz - 21 Nov 2021 A companhia d’As Entranhas Macau apresenta hoje e amanhã no Antigo Tribunal a peça “Projecto d’ Homens”. O HM falou com Vera Paz, responsável pela encenação, direcção artística e dramaturgia, sobre os momentos que antecedem as pancadas de Molière, a adaptação de um guião que passou a ser interpretado a três línguas e a desconstrução de estereótipos A horas do último ensaio geral antes da estreia de “Projecto d’ Homens”, Vera Paz confirmava que tudo estava a postos para a première hoje às 20h30 na BlackBox do Antigo Tribunal. Em vez de nervosismo, a actriz que tomou as rédeas dramatúrgicas da adapção da peça apresentada em Portugal em 2017, prefere falar do sentimento de responsabilidade que, “à medida que os anos passam, fica cada vez maior”. “Projecto d’ Homens”, que será apresentado também amanhã no mesmo lugar e hora, tem a duração de uma hora ao longo de um acto único sem interrupção, onde três actores se desdobram enquanto protagonistas, actores secundários e figurinos, numa performance que alia a fisicalidade e monólogos e diálogos em português, inglês e cantonês. Angústias, pensamentos, amores e desamores são elementos emocionais que atravessam a narrativa, exorcizando os demónios das crises de meia idade. Em palco vão estar Jorge Vale, Kelsey Wilhem e Machi Chon. Antes do ensaio geral, a encenadora descreveu ao HM o processo que culmina mais logo em palco. “Gostei muito desta experiência. Eles são muito generosos, não são actores profissionais. Os actores amadores têm a particularidade de se entregarem e amarem, de facto, aquilo que estão a fazer. Para mim, foi uma descoberta com eles, um crescendo de confiança, de segurança de parte a parte e fomos construindo assim”, conta. Na impossibilidade de trazer a Macau o formato original de “Projecto d’ Homens”, devido a todas as complicações originadas pela covid-19, a peça foi adaptada com grande entrega dos actores. “Os monólogos foram escritos pelos actores e adaptados por mim. Não têm uma componente biográfica, mas realidade e ficção tocam-se”, conta. A mulher do leme Desta vez, Vera Paz não estará em palco, assumindo a direcção artística, dramaturgia e encenação. “A minha experiência profissional é principalmente como actriz, mas herdei este projecto do encenador de Portugal. A encenação é totalmente nova e o guião totalmente diferente. Apenas o conceito se mantém (o que é isto de ser homem).” Seguindo o método criativo d’As Entranhas, a improvisação é preponderante num processo sem guião estruturado à partida, mas composto em colaboração com os actores. Além disso, sem tradução simultânea e com três línguas em palco, a peça será um reflexo da cidade. “Macau também é esta realidade que todos conhecemos, este lost in translation, mas onde existe uma identidade própria”, descreve a encenadora, confessando que a confluência de línguas foi uma opção assumida. “Com certeza que haverá algo que irá escapar a quem não domine as três línguas. Mas o espectáculo também tem uma componente plástica e visual bastante forte, muito física. Portanto, acho que isso não será um problema”, explica Vera Paz. No que diz respeito ao guião, à mensagem, cada personagem chega ao palco da Blackbox com viagens diferentes e respectivas crises com variações diversas de revolta e angústia. No rescaldo do movimento #Metoo e num mundo ainda intensamente dividido e desigual, Vera Paz não considera que “Projecto d’ Homens” seja uma afirmação. “Não acho que seja um manifesto, acho até que é mais um anti-manifesto, que pretende mais levantar questões do que dar respostas”, afirmou. Durante uma hora, além de angústias e inquietações masculinas, “Projecto d’ Homens” põe em causa clichés, desconstrói estereótipos, por vezes espelhando-os, expondo as entranhas de um tema eterno e sem resolução.
Covid-19 | Governo apresenta aplicação para registar itinerários João Santos Filipe - 21 Nov 202121 Nov 2021 Era para ser voluntária e assim será no período experimental. Mas, Leong Iek Hou deixou ontem o aviso: a aplicação de registo de percurso pode tornar-se obrigatória. Segundo o Executivo, as informações sobre o trajecto “apenas” ficam registadas numa aplicação do telemóvel e o acesso depende do consentimento do utilizador O Governo apresentou ontem uma aplicação para telemóvel que vai registar o percurso de todos os cidadãos. A instalação do software será voluntária, numa primeira fase, mas, ao contrário do prometido em conferências anteriores, Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, avisou que há grandes probabilidades de passar a ser obrigatória. Durante a fase experimental será voluntária e vai ter três funções: servir de código de saúde, registar o percurso dos utilizadores e o cruzar o percurso dos utilizadores com o de infectados e casos de contacto próximo. A última funcionalidade permite detectar se o utilizador é um caso de contacto próximo, alterando automaticamente a cor do código de saúde, o que irá implicar a realização de teste de ácido nucleico e obrigatoriedade de cumprir quarentena. “Pretendemos através desta aplicação saber que pessoas estiveram em contacto com infectados e contactos próximos. É uma aplicação para acelerar a eficácia do combate à epidemia”, justificou Leong Iek Hou. Segundo Leong, os estabelecimentos vão ter um código QR único. Assim, quando o utilizador digitalizar esse código, a informação sobre a localização vai ser guardada no telemóvel, onde fica durante 28 dias. Após esse prazo, o Governo diz que o registo é eliminado. Também numa primeira fase, a informação sobre o percurso não pode ser acedida pelas autoridades sem o consentimento do utilizador, mesmo em caso de infecção. “Após o consentimento do infectado, o seu percurso é carregado no sistema e pode ser utilizado para comparar com o percurso de outros utilizadores”, informou. “É uma aplicação que, por agora, tem como função auxiliar as pessoas a registarem o seu trajecto. Esta informação é muito importante para combater a epidemia”, justificou. Obrigações de excepção Em caso de “surto grave”, as autoridades não afastam a possibilidade de aceder ao registo do percurso de infectados. O cenário foi admitido por Leong, que afirmou depender da “situação real”. A aplicação entrou numa fase experimental e já pode ser utilizada nas instalações dos Serviços de Saúde (SSM), no Grande Prémio de Macau e no Festival de Gastronomia. Dependendo do período experimental, o sistema poderá ser alargado a outros espaços como “estabelecimentos de comes e bebes”, que terão o seu código QR único. Também por agora, é possível usar o código de saúde normal, mas o Governo já antevê o encerramento do site. “A manutenção do site para declaração de saúde vai depender da utilização. Se as pessoas vão na maioria utilizar a aplicação, então vamos desligar o website”, explicou a médica. No caso de haver cidadãos sem telemóveis, os SSM estão a estudar a instalação de máquinas em estabelecimentos comerciais, e outros espaços afins, para registar a identidade dos clientes, assim como as horas a que entraram e saíram. Descontos só com registo A partir de 11 de Dezembro os utilizadores do Macau Pass só podem gozar do desconto de três patacas caso associem o cartão à sua identidade. Se viajarem de forma anónima, perdem o desconto actualmente em vigor e têm de pagar seis patacas, tal como acontece quando o transporte é pago com dinheiro vivo. O registo para associar o documento de identificação ao Macau Pass arranca a 27 de Novembro e pode ser feita no portal www.macaubusreg.com.
Eleições | Secção do Partido Socialista vai escolher nova direcção João Santos Filipe - 21 Nov 2021 José Rocha Diniz, secretário-coordenador, pediu para deixar a direcção e os socialistas vão ter de eleger um novo representante. O prazo das candidaturas termina a 26 de Novembro A secção do Partido Socialista (PS) vai escolher uma nova direcção no dia 3 de Dezembro, em Assembleia Eleitoral que vai acontecer entre as 18h e 22h no Clube Militar. A convocatória já foi anunciada e as eleições surgem depois de José Rocha Diniz, actual secretário-coordenador, ter pedido para abandonar o cargo. “Não tenho intenções de me candidatar. Fui eu que pedi para fazerem eleições, porque já estou no cargo há mais de 20 anos [ndr. com uma interrupção] e, por isso, não tenho intenção de me candidatar a nada, a absolutamente a nada”, afirmou Rocha Diniz, em declarações ao HM. De acordo com o secretário-coordenador, a decisão já havia sido tomada há vários meses, mas devido à pandemia só nesta altura foi possível avançar para um novo acto eleitoral. “Entendi que queria deixar a direcção há vários meses. Só que com a pandemia havia dificuldades, portanto, e, apenas por isso, as eleições só vão poder ser realizadas agora”, indicou. “Mas as eleições vão acontecer porque eu pedi para deixar de estar na direcção”, sublinhou. Até à manhã de ontem, a mesa da Assembleia Geral da secção de Macau do Partido Socialista ainda não tinha recebido qualquer candidatura. Os interessados têm como data limite para avançarem as 23h59 de 26 de Novembro, ou seja, na próxima sexta-feira. “Ainda não recebi nenhuma candidatura”, confirmou Tiago Pereira, presidente da mesa. De acordo com os dados avançados, nesta altura, há mais de 20 militantes activos na secção do PS de Macau. O número representa uma quebra face ao passado. “Tivemos alguns militantes que saíram de Macau. Não foi propriamente nos últimos tempos, porque a grande maioria saiu ainda antes de 2020. As saídas não estão propriamente relacionadas com a pandemia”, acrescentou o presidente da mesa. Um dever As eleições de Dezembro podem marcar uma mudança na história mais recente da secção local do PS. Incentivado a fazer um balanço sobre os seus mandatos, Rocha Diniz optou por focar que tudo se tratou de um dever. “Não faço balanço nenhum, é uma realidade local e não posso fazer um balanço. Sou militante do Partido Socialista e cumpri uma obrigação”, apontou. “É uma obrigação, nem quero entrar em considerações se foi, ou não, uma experiência gratificante”, acrescentou. As eleições para a secção local acontecem a pouco mais de um mês das Legislativas de Portugal, agendadas para 30 de Janeiro. No Consulado de Portugal em Macau, o acto deverá ocorrer entre os dias 29 e 30 de Janeiro. Questionado se as eleições locais podem ter impacto no acto para a Assembleia República, Rocha Diniz deixou antever uma menor participação da comunidade portuguesa face a actos anteriores, mas por motivos diferentes. “O que vai afectar a votação é a saída de muitos portugueses de Macau, militantes e simpatizantes do PS. Saíram durante a pandemia e isso é que vai afectar”, argumentou. O ainda secretário-coordenador desvalorizou a importância dos votos dos portugueses em Macau para os resultados em Portugal. “Quando Mário Soares venceu a primeira eleição em Portugal, perdeu em Macau com uma margem superior a 90 por cento. Os votos em Macau são sempre muito poucos”, explicou. As urnas de Macau são contabilizadas no círculo fora de Europa, que elege dois dos 230 deputados que vão constituir a Assembleia da República. Os actuais deputados eleitos por este círculo são José Cesário (PSD) e Paulo Porto (PS).
AL | Comissão vai debater sobre concessões e rede 5G João Santos Filipe - 21 Nov 2021 A Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas definiu ontem os temas de debate para o primeiro ano da Legislatura. O sector do jogo vai ser abordado, mas os moldes ainda não estão definidos A questão das telecomunicações vai ser o primeiro assunto em discussão na Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, que tem como presidente o deputado José Chui Sai Peng. O agendamento foi discutido ontem, entre os deputados da comissão, e ao longo do ano legislativo, que termina a 15 de Agosto, deverá haver espaço para focar o sector do jogo. “Em primeiro lugar, vamos abordar as concessões que vão terminar a curto prazo, para vermos quais são os trabalhos que podem ser feitos. Esperamos que as reuniões nos permitam fazer um ponto da situação sobre as diferentes concessões, perceber se os trabalhos estão a ser bem feitos, e avaliar bem as responsabilidades de todas as partes”, afirmou José Chui Sai Peng, no fim do encontro. Os deputados acordaram também solicitar ao Executivo um “mapa” com a informação sobre as concessões existentes e a validade dos contratos firmados. As concessões das telecomunicações vão ser as primeiras a ser discutidas. Espera-se que ao longo do próximo ano o Executivo emita as primeiras licenças para a utilização da tecnologia 5G. “Na próxima reunião vamos discutir o tema relacionado com as telecomunicações e queremos discutir o regime de convergência e a implementação da rede 5G. É o ponto mais importante que vai ser discutido, e vamos convidar representantes do Governo”, explicou. E o jogo? Na apresentação da agenda para o ano legislativo, José Chui Sai Peng não mencionou o tema das concessões do jogo, cujas concessões e subconcessões terminam no Verão do próximo ano. Porém, quando questionado sobre o assunto, admitiu que este poderá ser um tema abordado. “As concessões do jogo não são um tema simples. Está a decorrer uma consulta pública sobre o assunto, e, em breve, também vamos discuti-las”, avançou. Outros assuntos na agenda dos membros da comissão, deverão ser a concessão do Aeroporto de Macau (CAM), e também do Metro Ligeiro. O debate sobre a hasta pública de terrenos também não está afastado. “Discutimos a concessão de terrenos, a hasta pública, a dívida de terrenos, são temas a que damos importância”, concluiu.
Orçamento | Deputados preocupados com aumento de contratações Pedro Arede - 21 Nov 2021 Numa altura em que a ordem é para poupar, o aumento das contratações em seis serviços públicos levantou questões aos deputados que estão a analisar a lei do orçamento para 2022. Ao todo, vão integrar a Função Pública mais de 500 trabalhadores Os deputados que se encontram a analisar lei do orçamento para 2022 estão preocupados com o facto de o diploma prever o aumento de pessoal em seis serviços públicos, em mais de 500 funcionários. Isto, quando 30 mil milhões de patacas vão sair da reserva financeira extraordinária para cobrir as despesas orçamentadas para 2022 e a tónica é para utilizar o erário público com parcimónia. Segundo o presidente da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), Chan Chak Mo, durante a reunião de ontem ficou definido que o próximo passo será a obtenção de esclarecimentos junto da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP). “Quanto ao número de pessoal, sabemos que é preciso simplificar a nossa máquina administrativa e racionalizar os quadros, mas estamos a ver que há seis serviços públicos que contrataram [cada um] mais de 50 trabalhadores. Vamos reunir com os SAFP para nos explicar as razões para o aumento das contratações”, explicou o deputado. Questionado sobre os serviços em causa, Chan Chak Mo detalhou tratar-se da Polícia Judiciária (PJ), Direcção das Forças dos Serviços de Segurança de Macau, Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Universidade de Macau (UM), Serviços de Saúde (SSM) e o recém-criado Instituto para a Supervisão e Administração Farmacêutica. Feitas as contas de quem entra e sai, o orçamento para 2022 prevê que os quadros da PJ cresçam em 65 trabalhadores, os da Direcção das Forças dos Serviços de Segurança de Macau em 140, da DSEDJ em 62, da UM em 138, dos SSM em 5 e do Instituto para a Supervisão e Administração Farmacêutica em 133. Especificamente sobre o organismo dedicado à supervisão farmacêutica, Chan Chak Mo adiantou ainda que a comissão vai perguntar ao Governo se os 110 trabalhadores que vão abandonar os SSM após terem sido contratados 115 fazem parte dos que vão reforçar os quadros do organismo recém-criado. Depressa e bem O deputado partilhou ainda que a discussão da lei do orçamento terá que terminar em sede de comissão antes de 9 de Dezembro e que durante o período “curto” que falta até lá, será entregue uma lista com 39 questões ao Governo. Questionado sobre se entre as questões dos deputados estão temas como a ausência de verbas para uma nova ronda de cartões de consumo ou o subsídio de previdência central de 7.000 patacas destinado aos idosos, Chan Chak Mo não afastou a possibilidade de a comissão abordar o Governo acerca desses assuntos. “O Chefe do Executivo já disse que pode apresentar sugestões para o reforço do orçamento em qualquer altura. [Ontem] não discutimos sobre o subsídio para idosos porque tudo foi feito de acordo com a lei, mas não afastamos a possibilidade de colocar essa questão ao Governo na próxima reunião”, disse.
Ana Bárbara Pedrosa, escritora: “Ser mulher é irrelevante no que escrevo” Andreia Sofia Silva - 21 Nov 2021 Com apenas dois romances lançados, Ana Bárbara Pedrosa é considerada uma das novas vozes da literatura portuguesa. O HM conversou com a escritora no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos sobre o seu último romance, “Palavra do Senhor”, onde a autora fez um exercício de desconstrução de uma série de dogmas presentes na Bíblia O seu percurso como escritora é muito recente. Como surgiu esta oportunidade? Simplesmente escrevi um romance, enviei-o para a editora que o quis publicar, neste caso o “Lisboa Chão Sagrado” [2019]. O processo de edição foi relativamente rápido. Já publiquei, entretanto, outro, “Palavra do Senhor”, depois da pandemia, o que me tem permitido um maior contacto com os leitores. Penso que tem uma premissa que agarra, que é a hipótese: “E se de Deus escrevesse um romance?” Em “Palavra do Senhor” abordou a questão da religião, que gera sempre algum debate, nomeadamente a relação de Deus com Maria, que é repensada. Porque decidiu enveredar por aí? Não houve propriamente uma decisão ponderada, não tive muito tempo para pensar no assunto. Os escritores têm sempre aqueles livros na cabeça, que sabem que um dia vão pegar, aqueles temas. Eu também tenho isso, temas que ainda não agarrei por, talvez, não ser o momento, por achar que não tenho a maturidade necessária para escrever a narrativa que vou formando na cabeça. No meu caso, “Palavra do Senhor” não teve nada disso. Tinha acabado de publicar, uns meses antes, “Lisboa, Chão Sagrado”, e tinha começado uma outra narrativa, mas houve uma altura em que comprei o volume do Frederico Lourenço, a nova edição do Novo Testamento, da Quetzal. Um dia sentei-me para ler os quatro evangelhos do Novo Testamento e pensei que um crente terá sempre de ter um problema, porque o que está ali é a palavra que deve ser lei, uma questão de dogma, mas a verdade é que essa palavra se contradiz em minudências. Por exemplo: Maria saiu do túmulo em silêncio ou de lado? Há duas versões. Há pormenores em que se denota que aquilo que é dito como uma verdade divina tem, na verdade, erros humanos, ou tem uma interpretação. Partindo dessa premissa, como começou o trajecto para a criação literária? Pensei que a única forma de o problema se resolver era que esse Deus, essa entidade de que todos os crentes falam, mas que nunca deu [sinal] de si, dissesse qual era a verdade, estabelecesse a última versão das várias versões em que os crentes têm acreditado. A minha abordagem à Bíblia, aqui, não é uma coisa religiosa, no sentido em que não proponho uma nova leitura, mas a questão da abordagem literária, o interesse pela história. Da mesma forma que existe literatura de ficção científica, aqui interessou-me fazer uma coisa diferente e entrar nessa cabeça que nos está vedada em termos de história, porque há quem diga coisas em nome de um Deus que nunca falou, e na História nunca existiu. A partir do momento em que se parte para o “E se?”, é para começar a escrever. Quando se cogita “o que será ser esse Deus, que nunca falou, mas de quem todos têm uma opinião”, e escrever o que ele acha e o que pode ser verdade ou mentira dentro da história contada. Depois foi muito divertida a questão de dirigir o primeiro olhar sobre as coisas, mas também de criá-las. Naquele capítulo em que falo da criação dos dinossauros, estou a criá-los. O problema deste livro não é um imbróglio religioso. Não tenho muito interesse [nesse tema]. É religiosa? Fui criada como católica, mas sou ateia. É uma coisa que acho da vida, não tenho paciência nenhuma para os dogmas, mas como instrumento literário é uma coisa muito forte. É um livro escrito na primeira pessoa e eu gostei muito de ser essa personagem. A linguagem do romance está injectada com algum sentido de humor. Foi um instrumento para descomplicar a temática? Não quis, mas foi surpreendente porque depois de o livro sair toda a gente me falou do sentido do humor dele. Quando o entreguei [à editora] achava que estava a entregar um livro sério. Tenho tendência para fugir para a piada e se calhar é natural criar alguns cenários humorísticos. Terá sido isso que aconteceu, sem ter essa intenção. Mas é bom que os leitores possam ter esse sentido. Há um ridículo de um Deus que está sempre a fazer asneiras. Se olharmos para a história do planeta e da humanidade, ao assumirmos que há um Deus que criou tudo isto e que ama os humanos, também é inevitável pensar nos erros. Tive uma dificuldade acrescida neste livro. Qual foi? Como partia da história do planeta, tive de encaixar isso no sentido de um fio condutor da narrativa. Estava a criar os dinossauros, mas a seguir tinha de os matar. Tive de fazer esta criatura toda poderosa a brincar, a experimentar, e depois a fazer isso com as personagens humanas. E há depois a questão da paixão por Maria em que eu inverto o paradigma, pois ela passa a ser o cerne da religião e Jesus o instrumento. Ao contrário do que a religião católica nos conta. Aí, a Maria é um útero fértil, não existe como pessoa. Mas existem versões que dão um papel mais importante a Maria. Mas não são canónicas, e nunca é um papel pessoal, mas de fêmea. A função reprodutora de Maria. Sim, e engravidar de um Deus sem permissão é quase uma violação divina. A verdade é que Maria foi uma mãe que perdeu o filho para a construção da Igreja. O tempo que passa com Jesus acaba por ser muito reduzido, porque ele tem a missão de construir a Igreja. Para uma mãe, não parece um rumo feliz. Pretende explorar mais esta tema no futuro? Nunca pretendo nada depois de um livro. Posso recuperar alguma coisa, mas a partir do momento em que ele é entregue para edição a ideia fica aí. Para mim, a temática não é religiosa, mas sim a construção de uma personagem, o “e se?”. Pode falar da próxima obra depois de “A Palavra do Senhor?” Prefiro não falar até as coisas estarem decididas. Escrevi algo que está na gaveta e acho que daqui a uns meses vou recuperar. Como é o seu processo de escrita? Como decide “é isto” e não outra coisa? Varia muito. Escrevi o “Lisboa, Chão Sagrado” em dois meses. Mas primeiro tive uma ideia, escrevi 20 páginas, e acho que vou incluir isso num quarto livro, que já escrevi há uns anos, mas que está péssimo. Com o “Palavra do Senhor” reescrevi uma parte. Escreve crónicas no jornal digital “A Mensagem” e também no Observador. Como salta para este tipo de escrita, onde decerto aborda outros temas? Os temas da crónica também estão no romance, as ligações entre pessoas, que é o que me interessa mais no romance, tanto do ponto de vista da escrita como da leitura. Claro que um romance é um projecto mais ambicioso, com mais dúvidas e que demora muito a planear. E nunca se tem certeza de nada. A crónica apanha um momento fugaz. Há quem a considere uma das novas vozes femininas da literatura portuguesa… Não sou uma voz feminina, sou uma voz literária. Acontece muito isso, ninguém diz a um homem que é um autor masculino, aparece sempre como neutro. A questão de ser mulher é irrelevante naquilo que escrevo. Não escrevo sobre mulheres. O que me interessa na literatura é ser o outro, e não me interessa ser outras mulheres, por exemplo. Como é a sua relação com o leitor? É evidente que, a partir do momento em que se escreve com a intenção de publicar, é essencial respeitar o leitor. Às vezes, mais na poesia, naquele tipo de escrita mais fragmentária, parece-me que a criação assenta mais em apontamentos individuais que não têm o objectivo de contar uma história. Às vezes parece uma vaidade de palavras, como se escrever complicado fosse bom. Em Portugal há isso, no Brasil nem tanto. Não cumpre o jogo da comunicação, é pretensioso. Claro que ao escrever também me interessa comunicar com o leitor.
Taça GT: Pneus desconhecidos criam problema às equipas Sérgio Fonseca e João Santos Filipe - 18 Nov 202118 Nov 2021 Para as equipas da Taça GT Macau a edição deste ano reveste-se de um grande desafio suplementar. Ao contrário do ano transacto, onde a escolha de pneus era livre, um pneu obrigatório, que é do total desconhecimento de todos os participantes, vai complicar a vida das equipas este fim de semana “Estamos este ano limitados a um único fornecedor de pneus, o qual não tem estado presente em campeonatos GT a nível internacional, nem regional, o que leva a obtenção de dados para podermos afinar os carros de maneira segura em pista muito difícil”, explicou ao HM, Duarte Alves, o engenheiro responsável pela UNO Racing Team, a equipa oficial da Aston Martin Racing Asia. Para dificultar a vida dos participantes, “o anúncio tardio também por parte da AAMC no que refere aos regulamentos e pneus não deu oportunidade às equipas para testarem os limites dos pneus. Portanto, para todos será um autêntico tiro no escuro, onde na minha perspectiva, até poderá ser um problema de segurança, pois não sabemos até onde podemos “puxar” e obviamente que todas as equipas e pilotos estão no Grande Prémio para lutar por bons resultados”, acrescenta o engenheiro do território. No início da semana, as equipas ainda estavam à espera de receber um boletim da marca com as especificações técnicas das borrachas disponíveis, assim como os limites que poderiam explorar numa pista com as especificações tão particulares do Circuito da Guia. À luz destes regulamentos e com decisões em cima da hora, o responsável macaense afirma que “faria mais sentido optar por um fornecedor que a maiorias das equipas já conhecesse e tivesse competido nos campeonatos GT da China continental, onde todas as equipas competiram este ano, e conseguir assim trabalhar dentro da margem de segurança e poder optimizar a performance dos carros”. Regresso britânico Esta será a primeira vez desde 2015 que a Aston Martin enfrenta a Taça GT Macau com ambições. Além de Marchy Lee, segundo classificado na pretérita edição, a equipa de Hong Kong inscreve também um carro para David Pun, o vencedor da Taça GT – Corrida da Grande Baía de 2020. Contudo, apesar das aparências, os carros que vieram a Macau são bastante diferentes daquele que Stefan Mücke levou ao quarto lugar na Taça do Mundo de há seis anos. “Este ano a UNO Racing Team inscreveu os mais novos Aston Martin Racing Vantage GT3, onde para além dos desafios que já mencionei, é um carro a que a nível mundial não existe informação sobre como afiná-lo para o Circuito da Guia. Partimos de antemão com esse ‘handicap‘ comparado às outras marcas, as quais já estiveram presentes em várias edições”, conclui Duarte Alves, que não se arrisca a prognósticos, visto que “o Marchy nunca correu com o Aston Martin e o David é um piloto amador. Porém, um carro no pódio e o outro no Top-10 seria um resultado muito positivo”. Drones | Proibição de voar em toda a Península Devido à realização do Grande Prémio de Macau fica proibida a utilização de drones na Península de Macau, entre 19 a 21 de Novembro, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial.” São proibidas, entre 19 a 21 de Novembro de 2021, todas as actividades de voo com aeronaves não tripuladas na península de Macau, excepto as actividades oficiais expressamente autorizadas pela Autoridade de Aviação Civil”, pode ler-se no despacho assinado por Chan Weng Hong, presidente da Autoridade de Aviação Civil. TDM | Cobertura com 26 câmaras na pista A Teledifusão de Macau assegura a transmissão televisiva do Grande Prémio de Macau e vai dedicar 26 das 31 câmaras disponíveis para o evento do Circuito da Guia. Além destas, existem ainda três câmaras instaladas ao nível do chão e duas para seguir as conferências de imprensa. “Temos 31 câmaras, das quais 3 câmaras são ao nível do chão – para ter ângulos mais espectaculares – e duas câmaras a servir o centro de imprensa. E temos 26 câmaras na pista”, afirmou Frederico do Rosário, membro da Comissão Executiva, citado pela própria emissora. Prémios | Quase 200 mil dólares de Hong Kong para distribuir Ao longo do fim-de-semana, a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau vai distribuir aos pilotos quase 200 mil dólares de Hong Kong, mais precisamente 198 mil. A informação consta do regulamento das diferentes competições. Se, por um lado, a corrida de Fórmula 4 é a principal do programa, o que é atestado pela Dança do Leão e pela presença do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, antes da partida, por outro, na hora de recompensar os vencedores, não há diferenças para os organizadores. Com o fim-de-semana divido em duas corridas por categoria, apenas a última vai atribuir prémios monetários. Os pilotos que ficarem no pódio no sábado limitam-se a receber os troféus, a garrafa de champanhe e a coroa de flores. Já no domingo, os vencedores das seis corridas vão receber 16 mil dólares de Hong Kong, ou seja, mais 10 mil do que a maioria pagou só para se inscrever no Grande Prémio. À excepção do Fórmula 4, todos os outros pagam 6 mil patacas. Os pilotos que ficarem no segundo lugar são recompensados com um cheque de 11 mil dólares de Hong Kong. O terceiro classificado recebe 6 mil dólares de Hong Kong, ou seja o que é pouco mais que o prémio pago só pela inscrição. Feitas as contas, cada corrida atribui 33 mil dólares de Hong Kong em prémios, o que multiplicando pelas seis competições representa 198 mil. Para receberem os prémios, os pilotos precisam de comparecer na Cerimónia Oficial de Atribuição dos Prémios, ou seja, um jantar que normalmente acontece na noite de domingo.
Taça de Turismo: Rui Valente prudente na sua 29.ª participação Sérgio Fonseca - 18 Nov 202118 Nov 2021 Na sua 29.ª participação no Grande Prémio de Macau, Rui Valente é um sério candidato, pelo menos, a um lugar no pódio na Taça de Carros de Turismo de Macau, uma corrida que conta com uma exuberante lista de trinta carros inscritos este ano. Na pretérita edição, em que os carros de cilindrada 1600cc correram em conjunto com os concorrentes da categoria Road Sport (1950cc e Acima), Rui Valente obteve um terceiro lugar nos 1600cc. Este ano, os dois primeiros classificados na categoria, Jerónimo Badaraco e Cheong Chi On, mudaram-se para outras corridas, o que coloca o veterano português novamente na lista de favoritos aos lugares de pódio para a edição deste ano. Contudo, Rui Valente prefere assumir uma posição cautelosa sobre o assunto. “Este ano é possível pensarmos assim [terminar nos lugares do pódio da geral], pois corremos todos numa só classe”, afirma o piloto do MINI Cooper S nº20, carro que o vem a acompanhar nos últimos anos. “Se tudo correr bem, porque não pensar assim?”. Este ano a Taça de Carros de Turismo de Macau terá à partida um número significante de participantes que vai fazer a sua estreia no desafiante circuito de 6,2 quilómetros. Isso não preocupa Rui Valente, ele que fez a sua estreia no Grande Prémio em 1988 na então Corrida de Iniciados, onde terminou no terceiro lugar. “Macau não é fácil para qualquer principiante”, relembra o piloto que irá fazer a sua 32.ª corrida no evento (ndr: em tempos idos era possível realizar mais do que uma corrida no GP). “Espero que vão com calma e que se adaptem ao ritmo de corrida, evitando eventuais surpresas.” Este foi um ano sem grande actividade para os pilotos da RAEM. Contudo, Rui Valente foi uma presença, sempre que possível, nas corridas do “GIC Challenge” no Circuito Internacional de Guangdong, em Zhaoqing, ganhando com isso ritmo de corrida que poderá ser valioso no fim de semana mais importante do automobilismo no sul da China. “Como qualquer outra modalidade desportiva, quanto mais vezes a praticares durante o ano, a tua performance melhora”, explica o piloto. “Neste caso, manténs o teu ritmo de corrida e Macau sendo a última prova do ano queres sempre fazer o melhor aqui”. Tecnicamente, o pequeno MINI também sofreu algumas alterações com vista a melhorar a sua performance. “Vou utilizar pneus diferentes, da Michelin, e optei por um óleo de motor diferente, para rodar mais solto que o habitual. De resto, é tudo praticamente igual, apenas mudamos algumas peças por novas, para aumentar a fiabilidade, como esticadores da correia, a própria correia, para além de calços de travões ou rotores novos”, esclarece.
Antevisão | Grande Prémio marcado pelo segundo ano consecutivo por restrições transfronteiriças Sérgio Fonseca - 18 Nov 202118 Nov 2021 As restrições de entrada em Macau fazem com que pela primeira vez desde 1954 o Grande Prémio seja disputado sem qualquer estrangeiro. E como o azar de uns é a sorte de outros, nestas condições especiais Charles Leong pode tornar-se no primeiro piloto de Macau a vencer de forma consecutiva a principal prova do Grande Prémio Para os mais críticos e astutos na arte de maldizer, esta será mais uma edição de chacha, com uma chama em que nada se aproxima das edições de outros tempos. Infelizmente, as limitações fronteiriças não permitem muito mais que isto, embora haja um consenso generalizado no paddock que muito mais poderia ter sido feito no campo desportivo. Em termos de imagem para o exterior, independentemente da qualidade das corridas e dos seus intervenientes, a verdade é que Macau vai mais uma vez passar uma mensagem de resiliência e o Grande Prémio, que no tempo da administração portuguesa resistiu a tufões, ameaças de morte, crises políticas, financeiras e sociais, mantém-se de “pedra e cal” após o regresso à Pátria Mãe e a sua honrosa continuidade mantém-se sem sair beliscada. Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 Com uma lista de inscritos que em tudo se assemelha à vista em 2020, e pelo que assistimos no ano passado, teremos novamente um duelo entre os jovens locais Charles Leong, vencedor na estreia da Fórmula 4 no Circuito da Guia, e Andy Chang. Qualquer outro resultado, que não a vitória de um destes dois, será uma surpresa. Se Leong ganhar, será o primeiro piloto de Macau a vencer por duas vezes a prova rainha do Grande Prémio. Corrida da Guia Macau O 50.º aniversário da Corrida da Guia merecia, pelo menos, a presença da MG, pois existe o risco de um domínio fácil dos Lynk & Co oficiais de Ma Qing Hua e Jason Zhang, vencedor da controversa Corrida da Guia no passado. Os dois pilotos da Teamworks vão igualmente disputar o título do TCR Asia nas ruas de Macau, tendo Zhang 22 pontos de vantagem sobre Ma. Felizmente, Andy Yan (Honda), Lo Sze Ho (Hyundai) e Filipe Souza dão garantias de que o resultado não está decidido à partida. O piloto macaense, um dos três representantes de Macau na prova, vai tentar, pelo menos, conquistar um resultado no pódio, algo que nenhum piloto do território conseguiu em 49 edições Taça GT Macau Talvez a única das corridas cuja qualidade dos participantes melhorou ligeiramente de um ano para o outro. O vencedor da corrida Leo Ye Hongli (Porsche) está de volta, assim como o vencedor da primeira edição, Darryl O’Young (Mercedes). A estes, há que juntar o segundo classificado do ano passado, Marchy Lee (Aston Martin), o segundo classificado de 2013, Alexandre Imperatori (Porsche), o terceiro classificado de 2020 e campeão chinês de resistência, David Chen (Audi), Taça GT Grande Baía A chegada de mais carros da classe GT4 ao outro lado das Portas do Cerco, a que se juntam os carros que ainda sobram da defunta Taça Lotus, permitem uma grelha de partida colorida, com oito marcas diferentes. Sem os dois vencedores anteriores desta corrida presentes, Chang Chien Shang (BMW) seria o favorito, se Kelvin Leong Ian Veng (BMW), que se estreia nesta corrida, não estivesse à partida. Taça de Carros de Turismo de Macau A corrida volta ao formato utilizado de 2014 a 2016, apenas para carros de cilindrada 1600cc. Sem os dois primeiros classificados da pretérita edição, apesar de não ter a melhor máquina, – essa será provavelmente o Chevrolet Cruze do local Ryan Wong – o veterano português Rui Valente (MINI) assume-se como um dos favoritos à vitória, assim como Célio Alves Dias (MINI), que num dia bom pode discutir pódios. Ainda entre os macaenses, destaque para a presença de Sabino Osório Lei (Ford), que já provou ser capaz de subir ao pódio, e do estreante Junio Pereira (Ford). Taça Challenge Macau Separados dos congéneres de motorizações de 1600cc, os “monstros” com cilindradas acima de 1950cc correrão a solo e um pódio sem pilotos de Macau seria como uma hecatombe. Wong Wan Long (Mitsubishi) quererá repetir as vitórias de 2013 e 2020, mas os pilotos de matriz portuguesa poderão ter uma palavra a dizer. Jerónimo Badaraco (Mitsubishi) regressa a uma corrida que conhece após ter conquistado o troféu dos 1600cc Turbo no ano passado e Luciano Lameiras (Mitsubishi) dominou as corridas de treino em Zhaoqing no Verão. Delfim Mendonça Choi (Mitsubishi) trocou de carro este ano e já mostrou que pode acompanhar os mais experientes rivais. O traquejado Eurico de Jesus (Honda) vai tentar a sua sorte com uma viatura completamente diferente das restantes. Factos: Este não é o primeiro Grande Prémio em que os estrangeiros não foram convidados a participar. A primeira edição, em 1954, também só permitiu a participação de pilotos de Macau e Hong Kong, apesar do interesse de pilotos de outras paragens. A Corrida da Guia celebra a sua 50.ª edição, com uma corrida de 12 voltas no domingo. A primeira edição, disputada em 1972, teve 53 voltas ao Circuito da Guia, – Este é o segundo ano consecutivo em que não haverá pilotos portugueses residentes em Portugal à partida em nenhuma das corridas. A última vez em que se registou um período tão longo de ausência de representação da “metrópole” durou de 1966 a 1986, A nova Taça Challenge Macau mais não é que a antiga corrida Macau Road Sport Challenge que se disputou de 2008 a 2016 Curiosidades: Os prémios monetários a atribuir nas seis corridas são todos iguais este ano. Os vencedores das corridas levam para casa HK$ 16,000, os segundos classificados HKD$ 11,000 e os terceiros classificados HK$ 6,000. Rob Huff, Edoardo Mortara, Alessio Picariello ou Juju Noda (a filha de 15 anos do ex-piloto de F1 Hideki Noda) foram alguns pilotos que terão ponderado participar no evento, mesmo sabendo da obrigatoriedade da quarentena. A prova deste ano vai ser marcada pela estreia de três construtores automóveis chineses no Circuito da Guia: Dongfeng Honda, GTMC (GAC Toyota Motor Co) e Changan Automobile. A Avon será a fornecedora de pneus exclusiva da Taça GT Macau, Corrida da Guia e Taça GT Grande Baía. Esta será a primeira vez que a marca inglesa equipa pneus de uma prova internacional de TCR e a primeira desde há quase uma década de corridas de carros GT3.
UE | Mobilizados 700 mil euros em ajuda humanitária para fronteira bielorrussa-polaca Hoje Macau - 18 Nov 2021 A Comissão Europeia anunciou ontem a mobilização de 700 mil euros da União Europeia (UE) em ajuda humanitária para “aliviar o sofrimento” dos migrantes em situação vulnerável na fronteira bielorrussa-polaca, numa altura de forte pressão migratória. “Respondendo imediatamente a um apelo, a Comissão Europeia atribuiu 200 mil euros de financiamento humanitário ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho”, anuncia o executivo comunitário em comunicado, especificando que esta verba será gerida pela Cruz Vermelha bielorrussa para “fornecer a tão necessária assistência de socorro, incluindo alimentos, ‘kits’ de higiene, cobertores e ‘kits’ de primeiros socorros” aos milhares de migrantes concentrados na fronteira. Além disso, “a UE mobilizou mais 500 mil euros em financiamento humanitário e está actualmente em contacto com as organizações humanitárias parceiras para a implementação dos fundos”, acrescenta a Comissão Europeia. Citado pela nota de imprensa, o comissário europeu responsável pela Gestão de Crises, Janez Lenarčič, observa que “a UE está a apoiar os seus parceiros humanitários para ajudar a aliviar o sofrimento das pessoas presas na fronteira e em outras partes da Bielorrússia”. “Apelo ao acesso contínuo das organizações humanitárias de ambos os lados para que cheguem a este grande grupo de refugiados e migrantes para lhes prestar assistência urgente”, exorta o responsável. A Comissão Europeia adianta na informação ontem divulgada estar “pronta a fornecer financiamento humanitário adicional em resposta a necessidades humanitárias claramente definidas caso o acesso das organizações parceiras humanitárias na Bielorrússia melhore”. “Toda a ajuda humanitária da UE é baseada em princípios humanitários internacionais. A UE fornece assistência humanitária baseada nas necessidades às pessoas atingidas por catástrofes naturais e provocadas pelo homem, com particular atenção às vítimas mais vulneráveis [sendo que] a ajuda é canalizada de forma imparcial às populações afectadas, independentemente da sua raça, grupo étnico, religião, sexo, idade, nacionalidade ou filiação política”, adianta a instituição. Resposta europeia O anúncio surge depois de, na segunda-feira, o Conselho da UE ter alterado o seu regime de sanções à Bielorrússia, alargando os critérios de listagem a cooperantes do regime, para responder à instrumentalização de migrantes e aos ataques híbridos de Minsk. Com o alargamento dos critérios, as sanções da UE podem agora “visar indivíduos e entidades que organizam ou contribuem para actividades do regime de (Presidente bielorrusso, Alexander) Lukashenko, que facilitam a passagem ilegal das fronteiras externas” do bloco. Com esta alteração, a UE poderá incluir as pessoas e empresas, como companhia aéreas, que colaboram com a Bielorrússia na condução de migrantes para as fronteiras com o bloco europeu, nomeadamente a da Polónia. A decisão segue-se às conclusões do Conselho Europeu de 21 e 22 de Outubro, nas quais os líderes da UE declararam que não aceitariam qualquer tentativa de países terceiros de instrumentalizar os migrantes para fins políticos, condenaram todos os ataques híbridos nas fronteiras da UE e afirmaram que responderiam em conformidade. As sanções à Bielorrússia têm sido ampliadas progressivamente, desde Outubro de 2020, acompanhando a situação no país, depois de terem sido adoptadas em resposta às eleições presidenciais de Agosto do ano passado, que a UE considera terem sido fraudulentas e manipuladas, não reconhecendo a reeleição de Lukashenko.
Uma simples brecha Luís Carmelo - 18 Nov 2021 É certo que não existe hospitalidade na leitura do mundo. O sentido é um curto-circuito que apenas esporadicamente se transforma em explosão. Todavia, para compreender o que se avizinha – ou o que estará por vir -, a tentação manda que se procure sempre uma luz sob a qual persistirá a mais estranha das obscuridades. Foi o que me aconteceu ao seguir os sublinhados da minha leitura, há alguns anos, do romance Túnel de Ernesto Sabato. O livro não se inicia em estado de clímax, como é evidente. Afinal, mais do que permitir ao leitor cair imerso e desamparado no vórtice da cena, o autor limita-se a dar voz ao protagonista para que anuncie o que é decisivo na narrativa: “Bastará dizer que sou Juan Pablo Castel, o pintor que matou Maria Iribarne”. O jogo parece ficar todo à mostra, poderá pensar-se, mas não é isso que realmente acontece. Até porque um clímax coloca em jogo actos, factos e situações, enquanto a tensão criada pela declaração de Castel apenas gera um estado de alerta. Mas um alerta que cativa e que conduzirá o leitor a ter que virar a página. A mestria começa justamente aí. O enredo abre-se depois do mesmo modo que se abre um desdobrável: no dia da inauguração do Salão da Primavera de Buenos Aires de 1946, uma mulher fica muito tempo parada diante de um quadro do próprio Castel. A figuração impunha, em primeiro plano, uma cena onde contracenavam mãe e filho, uma imagem levemente desfocada sobre o seu realismo momentâneo. Mas o que acaba por cativar Maria Iribarne – a anónima visitante do salão –, alheada das vozes circundantes e do solilóquio dos críticos, é um detalhe do quadro a que fica intensamente presa durante minutos e minutos. Como se um pormenor da pintura – era uma simples janela – pudesse isolar-se do mundo inteiro, tornando-se numa espécie de luz ao fundo do túnel de toda a criação, de toda a imaginação, de todos os textos. Este facto viria a mudar a vida de Castel. A partir da timidez e silêncio em que se resguardava, seguiu obsessivamente o fascínio da mulher pelo detalhe do seu quadro. Vira-a ao longe no Salão durante minutos – uma eternidade –, até que Maria Iribarne abandonou a exposição: “Durante os meses que se seguiram, só pensei nela, na possibilidade de a voltar a ver. E de certo modo só a pintei a ela. Foi como se a pequena cena da janela começasse a crescer e a invadir toda a tela e toda a minha obra”. O ponto de partida de O Túnel de Sabato (1948) é tão simples quanto admirável. Uma mudança radical a partir de um aceno breve e aparentemente sem peso. Mas o suficiente para carburar uma trama intensa. O relato tornar-se-á permeável às coincidências e a uma série de contingências algo inesperadas. O suficiente para que ambos se encontrem e para que o voyeurismo de Castel se torne doentio. Cada vez mais abismado. A atracção acabará por tornar-se fatal. Há cartas, telefonemas, idas de comboio à casa de campo de Maria Iribarne. E há sobretudo o ciúme e a conjectura fantasmática que farão da saga aventurosa uma tragédia à procura do seu sentido. É claro que de um grande ponto de partida nem sempre se deduz o que é esperado, sobretudo quando o leitor já sabe aquilo que o espera. Raramente as expectativas e o peso bruto dos factos pactuam. E a regra parece cumprir-se neste romance de Sabato: “Quando me entreguei, na esquadra, eram quase seis horas./ Através da janelita do meu calabouço, vi como nascia um novo dia, como um céu sem nuvens. Pensei que muitos homens e mulheres começariam a acordar e logo tomariam o pequeno-almoço e leriam o jornal e iriam ao emprego, ou dariam de comer aos filhos e ao gato, ou comentariam o filme da noite anterior/ Senti que uma caverna negra ia aumentando dentro do meu corpo”. Mas o que interessará a potencialidade da narrativa e até o modo como o inimaginável se debruça sobre a enseada do imaginável? Afinal, a literatura mais não visa do que uma brecha. Um clarão capaz de tornar o olhar numa súbita visão. Ainda que muitíssimo breve. A janela de Maria Iribane teve efectivamente esse condão.
Imprensa | China e EUA comprometem-se a diminuir restrições sobre jornalistas Hoje Macau - 18 Nov 2021 O clima de tensão entre os dois países está a diminuir. Nas vésperas da cimeira virtual entre Xi e Biden, saiu um acordo que visa aliviar as restrições impostas aos órgãos de comunicação social de ambas as nações A China e os Estados Unidos concordaram em aliviar as restrições para trabalhadores de órgãos de comunicação social dos dois países, reflectindo uma ligeira diminuição das tensões entre os dois lados. O jornal oficial chinês em língua inglesa China Daily noticiou que o acordo foi alcançado antes da cimeira virtual de terça-feira entre o Presidente da China, Xi Jinping, e o homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden. Ao abrigo deste este acordo, os EUA vão emitir vistos de entradas múltiplas de um ano para trabalhadores de órgãos de comunicação social chineses e iniciarão imediatamente um processo para tratar de questões sobre a “duração das acreditações”, apontou o China Daily. A China vai retribuir ao conceder tratamento igual aos jornalistas dos EUA, assim que as políticas norte-americanas entrarem em vigor, e ambos os lados vão emitir vistos para novos candidatos “com base nas leis e regulamentos relevantes”, acrescentou. Em declarações à agência de notícias Associated Press (AP), o Departamento de Estado norte-americano disse que a China se comprometeu a emitir vistos para um grupo de jornalistas dos EUA “desde que sejam elegíveis, de acordo com todas as leis e regulamentos aplicáveis”. “Também vamos continuar a emitir vistos para jornalistas [chineses] que são elegíveis, de acordo com as leis dos EUA”, apontou a mesma fonte, citada pela AP. A China também se comprometeu a aumentar o prazo de validade dos vistos dos jornalistas norte-americanos actualmente a trabalhar no país asiático, dos atuais 90 dias para um ano. “Numa base recíproca, estamos comprometidos em aumentar a validade dos vistos emitidos para jornalistas da RPC [República Popular da China] para um ano também”, de acordo com o comunicado do Departamento de Estado. Ambos os lados também vão oferecer vistos de entradas múltiplas, indicou. Ano difícil No ano passado, os EUA cancelaram 20 vistos emitidos para funcionários de órgãos oficiais chineses e exigiram aos restantes um registo como agentes estrangeiros, entre outros regulamentos. A China retaliou através da expulsão de jornalistas que trabalhavam para órgãos norte-americanos e restringiu severamente as condições para aqueles que continuaram a trabalhar no país. O novo acordo surgiu como “resultado de mais de um ano de difíceis negociações sobre o tratamento dos órgãos de comunicação em ambos os países”, disse o China Daily. O Departamento de Estado disse que permaneceu em consulta com os jornais afectados, bem como outros órgãos que enfrentam falta de pessoal devido às decisões do Governo chinês. “Estamos gratos por os correspondentes poderem retornar à China para continuarem o trabalho. Congratulamo-nos com este progresso, mas vemo-lo apenas como um passo inicial”, apontou, em comunicado. O Departamento de Estado acrescentou que vai continuar a trabalhar para expandir o acesso e melhorar condições para os órgãos norte-americanos e estrangeiros na China. “Continuaremos a defender a liberdade de imprensa como um reflexo dos nossos valores democráticos”, afirmou o Departamento de Estado.
Cinema | Propaganda do Estado Novo analisada em seminários João Luz e Andreia Sofia Silva - 18 Nov 202123 Nov 2021 A Casa Garden é anfitriã de uma série de seminários que mostram como o Estado Novo usou o cinema para impor uma imagem de Portugal enquanto país pluricontinental e multirracial. “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema” é o resultado de anos de pesquisa da académica Maria do Carmo Piçarra Na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, realiza-se a segunda parte de uma série de quatro seminários sobre o papel do cinema na propaganda usada pelo Estado Novo para transmitir uma imagem positiva do exercício do poder nas antigas colónias, incluindo no Oriente. Com o título “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema”, e apresentação da académica Maria do Carmo Piçarra, os seminários estão divididos em quatro partes. A primeira decorreu ontem, e as próximas serão apresentadas na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, e nos dias 1 e 9 de Dezembro à mesma hora. Além da possibilidade de serem seguidos online, através do Zoom, os seminários serão transmitidos em directo na Casa Garden. As quatro sessões resultam de anos de pesquisa da investigadora da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. “Estes seminários são quase uma síntese de uma década e meia de pesquisas, em que andei por arquivos militares, da cinemateca, museu de etnologia, para perceber como o Estado Novo usou o cinema para veicular um determinado tipo de propaganda”, conta ao HM Maria do Carmo Piçarra. No grande ecrã era transmitida uma narrativa estatal, que o espectador recebia, pela via do entretenimento, e assumia como sua, sem se aperceber que o discurso lhe estava a ser incutido. A produção audiovisual da máquina de propaganda do Estado Novo só começou a promover a realização de filmes no Oriente a partir de 1951, sobretudo documentários. “Em relação a Macau, o discurso era um bocadinho sobre o exotismo e as particularidades do território. Já sobre Goa, os filmes davam muito enfoque à questão dos templos e à suposta aceitação do regime português da diversidade religiosa”, conta a investigadora, que aponta também a intensificação da propaganda nos retratos de Timor-Leste. A caminho de Oz Em Macau, e nas restantes colónias a Oriente, Maria do Carmo Piçarra destaca na produção fílmica desta época dois grandes nomes: Ricardo Malheiro e Miguel Spiegel. Em 1952, estreava “Macau, Cidade do Nome de Deus”. Na locução do filme documental, Fernando Pessa apresentava a cidade desta forma: “Na placidez das águas dos mares do sul da China, animadas pelo exotismo dos seus barcos e rodeadas pelo encanto das suas ilhas e costas verdejantes e coloridas, ergue-se uma velha e maravilhosa cidade portuguesa, rica de colorido e ineditismo, e diferente, muito diferente de todas as outras cidades portuguesas. Essa cidade é Macau, terra de colinas e outeiros, de jardins de sonho e frondoso arvoredo com um governo português que conta quatrocentos anos.” Era desta forma complacente que se apresentava o território. “Joia do Oriente”, de Miguel Spiegel é outro exemplo do tipo de produção que fez durante o período de pré-guerra colonial. Estes filmes mostravam as colónias portuguesas, também em África, “focando as especificidades de cada uma, mas também sempre com a ideia luso-tropicalista de que o colonialismo português era diferente, mais brando, de aceitação da diversidade cultural, racial e religiosa”, conta. No entanto, a académica recorda que eram produzidos outro tipo de filmes, altamente controlados pelas autoridades. “Por um lado, havia vontade de promover as ofertas turísticas de territórios como Macau, Angola, Moçambique ou Timor. Por outro lado, nunca se queria mostrar (em Macau isso é óbvio) os bairros onde viviam pessoas em situações de grande pobreza”, afirma Maria do Carmo Piçarra. A académica encontrou nos arquivos de Macau referências expressas, por exemplo, a locais onde era proibido filmar, acrescentando que “havia sempre alguém do Centro de Informação e Turismo, destacado para acompanhar as equipas de rodagem quando iam fazer a repérage[escolha dos locais de rodagem] dos sítios em que se podia filmar”. Estas produções privadas, muitas vezes estrangeiras (em particular de Hong Kong), eram escrutinadas até ao limite. As próprias histórias não podiam retratar aspectos negativos das colónias. Em Macau, tudo era controlado. Delegados do Centro de Informação e Turismo faziam relatórios detalhados sobre a produção, que iam parar às mãos do Governador, e que incluíam mesmo informação sobre os hotéis onde as equipas de produção ficavam instaladas. Com organização do Centro de Investigação para Estudos Luso-Asiáticos, Fundação Oriente e Universidade de Macau, o ciclo de seminários será ministrado em português e a entrada é livre. De frisar que as próximas sessões deste seminário, ou seja, da segunda à quarta sessão, serão transmitidas exclusivamente online, via Zoom. As ligações para as sessões podem ser consultadas neste link.
Saúde | Comunidade filipina em situação frágil devido a baixa literacia João Santos Filipe - 18 Nov 2021 Um estudo elaborado por académicos do Instituto de Enfermagem do Hospital Kiang Wu conclui que a comunidade filipina na RAEM está menos informada sobre cuidados de saúde do que compatriotas seus que trabalham noutras regiões A comunidade Filipina em Macau tem grandes dificuldades em obter informação, conhecimentos e cuidados médicos. Esta é uma das conclusões de um estudo elaborado pelo Instituto de Enfermagem do Hospital Kiang Wu, publicado em Outubro na revista científica Healthcare. No documento intitulado a “Literacia em Saúde entre os Trabalhadores Domésticos Filipinos em Macau”, os académicos Cheong Pak Leng, Wang Hui, Cheong Wan e Lam Mei Ieng estudaram os conhecimentos da comunidade, na perspectiva da literacia em saúde. Este conceito diz respeito à capacidade de acesso a informação, à sua compreensão e utilização de forma a promover e manter um estado de boa saúde. Os 379 questionários válidos feitos na comunidade filipina de empregadas domésticas mostram que a maioria “não tem capacidade de aceder, compreender, avaliar e comunicar as suas necessidades face a diferentes situações do estado de saúde”. Os dados apurados demonstraram também que a proporção de indivíduos com conhecimentos para responder adequadamente ao estado de saúde é de 37,4 por cento em Macau, dado é inferior ao das comunidades filipinas em regiões como o Myanmar, Vietname, Indonésia, Cazaquistão, Malásia e Taiwan. Os mais novos são os que estão menos atentos às questões de saúde e que menos conhecimentos têm. Porém, esta tendência é vista pelos autores como generalizada em grupos com poucas qualificações académicas. Sobre os factores que contribuem para a baixa literacia, um dos principais é a falta de conhecimentos de chinês e inglês a um nível mais elevado. Em relação a este aspecto, os investigadores detectaram uma relação que explica que quanto melhor inglês falam, mais preparadas as pessoas se mostram. Contudo, o domínio do chinês é um desafio, porque apenas seis inquiridos disseram ter um bom nível. Ao mesmo tempo, 337 consideram o seu chinês “pobre”, enquanto 36 afirmaram ser “razoável”. Condições de vida complicadas O inquérito foi composto por 12 perguntas sobre a dificuldade ou facilidade a completar determinadas acções, como chamar uma ambulância, obter informações sobre o programa de vacinação de Macau ou pedir apoio caso sofram problemas mentais como depressão ou excesso de stress. A acção que levantou mais problemas à comunidade de trabalhadores domésticos foi o conhecimento sobre as vacinas necessárias em Macau, com 45 por cento dos inquiridos a considerar muito difícil obter a informação. Este foi um ponto destacado pelos autores, uma vez que o inquérito foi feito numa altura de pandemia. Os académicos sublinharam ainda que a população inquirida vive em condições de pobreza, com 39,6 por cento a sobreviver com um salário entre 4.001 e 4.500 patacas. Ainda mais abaixo, 36,7 por cento aufere rendimento igual ou inferior a 4.000 patacas, e apenas 17,4 por cento afirmou receber mensalmente um salário acima de 4.501 patacas.
Taiwan | Políticos locais apoiam as posições de Xi Jinping Nunu Wu e João Santos Filipe - 18 Nov 2021 Tina Ho, Kou Hoi In, Liu Chak Wan e Chui Sai Peng foram alguns dos políticos que vieram a público apoiar o Presidente Xi Jinping, após a conferência com Joe Biden, e a defender a inevitabilidade da reunificação com Taiwan Um grupo de políticos e personalidades de Macau apoiou publicamente Xi Jinping e declarou total intransigência face a movimentos independentistas de Taiwan. A posição de representantes de forças tradicionais foi tomada ontem num artigo no jornal Ou Mun, na sequência da cimeira online entre Xi Jinping e Joe Biden. Tina Ho, presidente da Associação Geral das Mulheres e irmã do Chefe do Executivo, sublinhou que a reunificação com Taiwan é uma certeza absoluta. De acordo com a dirigente, tudo vai ser feito para que a reunificação pacífica se torne uma realidade. A histórica dirigente da Associação Geral das Mulheres afirmou que os residentes devem explicar a todos os compatriotas “o sucesso” do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, que no seu entender é um exemplo que Taiwan vai querer seguir, impulsionando a reunificação. Também Liu Chak Wan, membro permanente do Comité Nacional do CCPPC, indicou apoiar totalmente o Presidente Xi, e destacou a mensagem contra qualquer força separatista que vise cortar o cordão umbilical entre Taiwan e a China. Liu vincou também que os próprios EUA se mostraram contra a independência da Ilha Formosa, mostrando respeitar os três comunicados, ou seja, os documentos que defendem a existência de uma única só China e que permitiu reestabelecer as relações diplomáticas entre os dois países. Por sua vez, a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) também manifestou o apoio total a Xi Jinping, com o vice-presidente, Fong Ka Fai, a afirmar que o destino da China passa pela reunificação com Taiwan, que considera inevitável. Fong destacou ainda que a maioria da população de Taiwan, assim como de Hong Kong e Macau, almeja a reunificação e que quem promover a divisão do país vai ser punido severamente. “Player” internacional Kou Hou In, presidente da Assembleia Legislativa, veio também a público tomar uma posição sobre as conversações entre os presidentes da China e dos Estados Unidos da América. Segundo o líder do órgão legislativo da RAEM, apresentado no artigo como presidente da Associação Comercial de Macau, após a transferência da soberania, Macau tornou-se num agente internacional com a responsabilidade de promover a reunificação, ao mesmo tempo que desempenha um papel positivo na construção de uma relação saudável entre a China e os EUA. O presidente da AL manifestou ainda total apoio a Xi nas políticas necessárias para a reunificação e para conduzir as relações com os EUA. Finalmente, o deputado José Chui Sai Peng considerou que a conversa entre os dois países foi honesta e que a relação bilateral saiu valorizada. Chui Sai Peng destacou igualmente que os EUA entendem que uma relação saudável entre os dois países é positiva para a ordem global.
Ho Iat Seng pede a Coutinho para não “magoar” funcionários públicos Pedro Arede - 18 Nov 2021 O Chefe do Executivo Ho Iat Seng acusou Pereira Coutinho de “magoar” os funcionários públicos ao ter referido que, no decurso da crise gerada pela pandemia de covid-19, a moral dos trabalhadores do sector nunca foi tão baixa. Segundo Ho Iat Seng, ao expressar “um ponto de vista tão radical”, o deputado está a afectar os trabalhadores públicos, não reconhecendo o esforço que vários departamentos têm feito para combater a pandemia. “Não concordo com a sua opinião de que a moral dos funcionários públicos está em baixo. Está a magoar os funcionários públicos ao dar um ponto de vista tão radical. Estamos a falar de mais de 35 mil trabalhadores e claro que há trabalhadores menos motivados, mas todos estão a cumprir o seu dever e a trabalhar de forma adequada. Peço ao deputado para não afectar ou magoar os funcionários públicos”, apontou o Chefe do Executivo na sessão de perguntas e respostas sobre as LAG para 2022. “Nunca varremos as questões para debaixo do tapete. Diz que a moral é baixa, mas está a exagerar. O contributo que os trabalhadores deram durante a testagem em massa da população foi grande (…) e houve quem tivesse trabalhado 24 horas para receber os residentes que chegam do exterior. Os Serviços de Saúde, a polícia e o IAM trabalharam e esforçaram-se muito”, complementou. No seguimento da resposta, Ho Iat Seng pediu ainda a Pereira Coutinho para analisar bem a situação. “Não foi o deputado que teve de intervir durante os tufões e a evacuação de pessoal do hotel de quarentena afectado. Foram os funcionários públicos. Analise a situação antes de tomar a parte pelo todo”, rematou. À margem da sessão, Pereira Coutinho apontou ao HM que Ho Iat Seng tem uma “visão diferente” daquilo que é a moral dos trabalhadores e está arredado de informação importante acerca do assunto, nomeadamente quanto às promoções e pensões do sector público. “O Chefe do Executivo não está a par da realidade [da função pública] e tem muito que fazer. Não tem conhecimento, nem traquejo da máquina administrativa que não é fácil de compreender. Além disso, não tem acesso a essa informação porque os trabalhadores não se atrevem a falar destas questões porque (…) podem ser despedidos (…) e não podem apresentar queixa à DSAL”, disse ao HM. Pensem bem Durante a sua intervenção, Pereira Coutinho questionou ainda Ho Iat Seng sobre o que está a ser feito para garantir que os residentes de Macau não sejam burlados aquando da compra de imóveis no Interior da China. Em resposta, o Chefe do Executivo disse que já encomendou um estudo ao Conselho dos Consumidores (CC) para reforçar a fiscalização e licenciamento e que o Governo tem mantido comunicação próxima com as autoridades do Interior da China, mas lembrou que a área de actuação do Executivo é limitada. Por isso, Ho Iat Seng disse que o melhor é os residentes pensarem bem antes de avançarem para a compra de imóveis. “O Governo nunca deixou de estar em contacto com as autoridades do Interior. Isto também é crime no Interior da China e temos de aguardar pelos tribunais. O Governo de Macau não pode querer tomar conta de assuntos que são da China. Só posso dizer aos residentes para pensarem bem antes de adquirem imóveis lá”, referiu.
Apoios | Ho Iat Seng diz que “não pode depender tudo do Governo” e afasta mais dinheiro este ano Pedro Arede - 18 Nov 202118 Nov 2021 O Chefe do Executivo afastou ontem a possibilidade de injectar qualquer montante adicional nos cartões de consumo até ao final do ano, pediu desculpa aos idosos e deixou um aviso: “não pode depender tudo do Governo”. Sobre o alargamento do prazo dos testes à covid-19 para sete dias nas fronteiras, Ho Iat Seng apontou que “falar é fácil” e que é preciso controlar bem a pandemia numa altura em que a China regista novos surtos O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng foi ontem peremptório ao afirmar que até ao final do ano, o Governo não vai voltar a injectar mais dinheiro nos cartões de consumo. Durante a sessão plenária dedicada a responder às perguntas dos deputados acerca do Relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2022, Ho Iat Seng avisou ainda que a injecção de capital não é “ilimitada” e que “não pode depender tudo do Governo”. Respondendo a uma questão lançada por Ella Lei, deputada ligada aos Operários, o Chefe do Executivo começou por apontar que, até ao final do ano, há montantes por utilizar afectos à ronda ainda em vigor do cartão de consumo e pediu a compreensão da população. Até porque, desde o início da pandemia, já saíram mais de 100 mil milhões de patacas dos cofres do Governo para esse e outros fins relacionados. “Este ano não o vamos fazer, porque o cartão de consumo tem uma validade e não podemos injectar capital de forma ilimitada. Estamos quase no final do ano e ainda há valores excedentes que as pessoas não utilizaram”, começou por explicar Ho Iat Seng. Sublinhado que, tanto o governo como os residentes estão a sofrer uma “grande pressão” devido à pandemia, o Chefe do Executivo pediu a “compreensão de todos”. “Já pagámos quase 110 mil milhões de patacas para injectar nos cartões de consumo e suportar despesas”. No seguimento da ideia, Ho Iat Seng avisou ainda a população que o Governo não pode ser a solução para todos os problemas e o responsável por dispensar dinheiro sempre que há dificuldades. “Não pode depender sempre tudo do Governo. Se uma pessoa está em dificuldades claro que temos garantias e protecção para os residentes, mas tem de haver uma compreensão mútua entre o Governo e a população. Não se pode pedir dinheiro sempre que acontece qualquer coisa”, explicou o governante. Ho Iat Seng reforçou ainda a impossibilidade de conceder mais verbas à população no curto prazo, dada a queda abrupta das receitas dos casinos e lembrou que a leitura que é possível fazer da taxa de desemprego excluí os trabalhadores em regime de licença sem vencimento. “Será que quando uma pessoa não trabalha um dia temos logo de ir compensar esse dia de trabalho?”, atirou. Pedido de desculpas Apesar de Ella Lei também ter pedido explicações acerca da ausência do subsídio de previdência central de 7.000 patacas destinado aos idosos no orçamento para 2022, somente quando respondeu a José Pereira Coutinho sobre este assunto Ho Iat Seng referiu nada poder fazer porque não está “acima da lei”. Ainda assim, o governante fez questão de dirigir um pedido de desculpas aos idosos. “Esta questão tem a ver com a lei e não está relacionada com o facto de não querermos dar as 7.000 patacas aos idosos. Como Chefe do Executivo tenho de cumprir a lei e não tenho o poder para (…) abusar dos meus poderes”, começou por dizer. “Temos de ter saldo positivo para atribuir esse dinheiro aos idosos. O deputado está sempre a falar em responsabilização e [naturalmente] não vou pedir ao secretário para violar a lei e ser acusado pelo deputado. Peço desculpa aos idosos de Macau, mas é a lei”, acrescentou. Vamos persistir Durante a sessão de perguntas e respostas sobre as LAG, o Chefe do Executivo afastou também a possibilidade de vir a alargar, a breve trecho, o prazo de apresentação do resultado negativo do teste de ácido nucleico das actuais 48 horas para sete dias, com o objectivo de cruzar as fronteiras entre Macau e o Interior da China. Em resposta à deputada Ella Lei, Ho Iat Seng disse estar ciente da enorme vontade da população nesse sentido e dos benefícios que isso traria para Macau, mas apontou que a actual situação epidémica da China não é estável e que é necessário manter as medidas actuais. “Não há rosas sem espinhos. Se volta a haver surtos em Macau, os residentes voltam a estar impedidos de sair de Macau. Muitas pessoas falam em aumentar o prazo para sete dias, mas falar é fácil. Nem no Interior da China está a ser possível levantar todas as restrições. Estamos todos a sofrer, mas o Governo quer controlar bem a pandemia. É o único método”. Sobre a reabertura das fronteiras, Ho disse que o Governo tem muita vontade de agir, mas que a questão é mais complexa do que aparenta ser. “O poder não está connosco. O Governo quer agir (…) e estamos constantemente a aplicar esforços e em diálogo com as diferentes regiões e zonas afectadas para permitir o levantamento de restrições”, assegurou. Cibersegurança | Ho considera que jovens de Macau são imaturos “Temos de sensibilizar os jovens para se protegerem melhor. Como não são muito maduros é fácil serem induzidos a praticar actos ilegais”, afirmou ontem Ho Iat Seng, em resposta a um deputado nomeado, Kou Kam Fai, a propósito dos riscos que os mais jovens correm online. O deputado e director da Escola Secundária Pui Ching afirmou que é preciso consciencializar a população para os perigos da Internet, necessidade sublinhada pelo facto estatístico de que mais de 90 por cento dos jovens entre os 6 e os 17 anos consome conteúdos online. Devido à exposição aos perigos online, o Chefe do Executivo afirmou que o Governo tem dado “grande atenção” ao fenómeno, inclusive através de campanhas de sensibilização dirigidas aos mais novos e vulneráveis e integrando no Código Penal crimes como pornografia de menores, introduzido com uma iniciativa legislativa que entrou em vigor em 2017. Referindo as medidas de introdução de leis no ordenamento jurídico da RAEM, Ho Iat Seng afirmou que “é o Governo que domina esse trabalho, mas cabe às escolas e aos pais educarem e sensibilizarem as crianças”. O governante defendeu ainda que é responsabilidade dos pais analisar e decidir o que é permitido aos filhos quando acedem à internet. Saúde | Chefe do Executivo quer residentes tratados em Macau A necessidade de sair de Macau para receber tratamento médico é algo que Ho Iat Seng quer resolver com a entrada em funcionamento do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. “Esperamos que os nossos doentes sejam tratados em Macau. Estou confiante porque vamos ter um centro hospitalar de renome e uma boa equipa da área de saúde”, apontou ontem o Chefe do Executivo, respondendo às questões da deputada Wong Kit Cheng. Um dos trunfos do Governo é a parceria com a Peking Union Medical College Hospital, entidade que irá participar na exploração, gestão e prestação de serviços do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, e na formação de profissionais de saúde. Neste aspecto, Ho Iat Seng afirmou que pretende atrair jovens de Macau que tenham completado o curso de medicina no exterior para estagiar no Hospital das Ilhas, realçando que no complexo não será aplicado o mesmo modelo de funcionalismo público. Porém, o governante deixou uma garantia: “Quanto a equipamentos, vamos comprar os melhores do mundo para que o hospital esteja bem apetrechado”. Seguindo a toada argumentativa de que o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas contribuirá de forma decisiva para a reforma do sector da saúde no território, Ho Iat Seng afastou a possibilidade de criar um seguro de saúde universal. A insuficiência de médicos no sector privado foi a razão apontada pelo líder do Governo. De momento, saem dos cofres públicos 10 mil milhões de patacas para despesas da área da saúde. Fatia orçamental que Ho Iat Seng prevê fazer crescer com a entrada em funcionamento do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. “Pretendemos promover a indústria Big Health, assim como prestar serviços de saúde subsidiados pelo Governo. Mas, com esta envergadura, não podemos depender apenas de recursos do erário público”, apontou o Chefe do Executivo.
Militares usam gás lacrimogéneo para repelir migrantes na fronteira da Polónia João Santos Filipe - 17 Nov 2021 As forças de segurança polacas usaram ontem gás lacrimogéneo e granadas atordoantes contra um grupo de migrantes concentrados na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, segundo imagens divulgadas pela televisão bielorrussa e pela agência estatal Belta. De acordo com as mesmas fontes, os migrantes romperam as cercas na zona de passagem da fronteira de Bruzgui-Kuznica para tentar entrar na Polónia, ou seja, no espaço da União Europeia (UE), e atiraram pedras contra os militares polacos. A situação também foi divulgada pelo Ministério da Defesa polaco, que, numa declaração divulgada através da rede social Twitter, descreveu os acontecimentos em Kuznica. “Kuznica: Os migrantes estão a atacar os nossos soldados e oficiais com pedras e a tentar destruir a cerca para entrar na Polónia”, escreveu o ministério, acrescentando que “as forças [polacas] usaram gás lacrimogéneo e granadas atordoantes para repelir o ataque dos migrantes”. Depois do confronto, a situação acabou por acalmar e os migrantes regressaram ao seu acampamento improvisado, em território bielorrusso. A generalização dos confrontos com os seus vizinhos europeus foi precisamente o que o Presidente bielorrusso afirmou ontem que quer evitar. Alexander Lukashenko garantiu que quer evitar a escalada da crise migratória na fronteira com a Polónia, da qual é acusado de ser responsável, e adiantou ter conversado com a chanceler alemã sobre uma possível solução. Segundo o regime de Minsk, o Presidente bielorrusso propôs, durante uma conversa telefónica realizada na segunda-feira com a chanceler alemã, Angela Merkel, uma forma de resolver a crise migratória na fronteira, mas escusou-se a referir pormenores. “Decidimos com Merkel que, para já, não vamos falar especificamente sobre isso. Ela pediu tempo, uma pausa, para discutir essa proposta com os membros da UE”, justificou. Lukashenko adiantou que aguarda um novo telefonema de Merkel para continuar a discutir uma possível solução e sublinhou que o maior problema é a situação dos mais de 2.100 migrantes que se reuniram perto da passagem da fronteira em Bruzgui-Kuznica, no lado bielorrusso da fronteira com a Polónia. “O problema, como disse Merkel, é que se não salvarmos estas pessoas, todos perderemos: a Bielorrússia, mas também e ainda mais a UE, que não permitiu a entrada destes refugiados. É por isso que a situação dos refugiados deve ser resolvida imediatamente”, referiu. Troca de acusações Varsóvia tem acusado a Bielorrússia de usar migrantes, maioritariamente oriundos do Médio Oriente, para desestabilizar a UE, atraindo-os com vistos e facilitando-lhes a chegada à fronteira com países do bloco comunitário. Na semana passada, Merkel conversou telefonicamente com o Presidente russo, Vladimir Putin, tendo afirmado considerar “inaceitável e desumana a instrumentalização de migrantes” na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, onde milhares de pessoas estão concentradas em acampamentos precários, sem alimentos e expostas a baixas temperaturas, à espera de uma oportunidade para entrar no espaço da UE. Na segunda-feira, Bruxelas e Washington anunciaram querer ampliar, nos próximos dias, as sanções ao regime de Minsk, já sancionado devido à repressão contra a oposição desde as eleições de 2020. “O principal hoje é defender o nosso país, o nosso povo e evitar confrontos”, disse Lukashenko, citado esta terça-feira pela agência Belta. “Este problema não deve transformar-se num confronto feroz”, concluiu.
O mesmo não chega Carlos Morais José - 17 Nov 2021 O Chefe do Executivo começou ontem a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) sem que este primeiro discurso tenha trazido novidades importantes no âmbito político, económico ou social. Teremos talvez de esperar pelos Secretários para compreender em profundidade se este Governo produz novas ideias que aliviem a situação que a RAEM enfrenta ou se, pelo contrário, a exemplo de Governos anteriores, teremos “mais do mesmo”, o que seria efectivamente muito pouco. Por aqui todos sabemos que, para a economia de Macau, é fundamental a abertura a Hong Kong. E tal não parece ser ainda uma prioridade para Ho Iat Seng que coloca nas mãos de Pequim essa medida. O problema é que a economia real de Macau (leia-se, além do Jogo) tem muitas dificuldades em sobreviver sem o turismo da ex-colónia britânica. A razão é simples de perceber, dir-se-ia, numa linguagem que agrada a este Governo, uma razão “científica”. O nível de vida dos turistas do interior que nos visitam é inferior ao de Macau e os preços locais muito superiores aos praticados no interior. Por outro lado, a maior parte dos turistas do interior trazem já quase tudo pago e marcado. Logo, não são eles quem vai gastar dinheiro suficiente para manter vivos os pequenos negócios desta cidade. Por outro lado, o nível de vida de Hong Kong é superior ao de Macau. As coisas aqui são mais baratas e por isso é fácil ao residente de Hong Kong aqui gastar dinheiro. Que o digam os donos dos restaurantes e das pequenas lojas, entre outros. Por este motivo, parece-nos muito difícil recuperar a nossa economia enquanto os cidadãos de Hong Kong não puderem vir à RAEM sem passar por uma quarentena. Dantes, quando havia muito poucos turistas da China, Macau era sustentado basicamente por gente de Hong Kong e chegava. A economia explica porquê. E cientificamente, não é? Sendo certo que “a pátria é o sustentáculo do desenvolvimento de Macau” (Ho Iat Seng), não podemos esquecer que Hong Kong faz parte da pátria e que a sua capacidade económica e financeira é fundamental para a RAEM. Por isso, parece-nos que o Governo devia ter como prioridade a abertura desta fronteira aos compatriotas de Hong Kong. Neste ponto surge o grande falhanço deste Governo: a vacinação. É realmente incompreensível que Macau apresente uma taxa tão baixa e o próprio Chefe do Executivo reconheça que tenha havido um “problema de comunicação”. Um problema não. Um grande problema para uma cidade que vive do turismo. Sinceramente, não compreendemos a razão pela qual o Governo não toma medidas que levem as pessoas a vacinar-se como, por exemplo, não permitir a não-vacinados certos usufrutos como frequentar restaurantes e supermercados, entrar em edifícios públicos, passar a fronteira com Zhuhai, etc.. A postura passiva do Governo nesta matéria é, no mínimo, estranha. E faz pensar. Haverá algo por detrás deste “desinteresse? A vacinação não faz a fortuna de ninguém? E com os testes em massa, será que existem alguns beneficiados? Muito se insiste nos testes e muito pouco nas vacinas. Por quê? De facto, pode ter existido um problema de comunicação, mas o maior problema é que o problema continua. E o que pretende fazer o Governo? Contudo, nem só de turismo vive esta cidade. E é neste ponto que será interessante analisar que medidas se propõe o Governo criar para aliviar a situação em que se encontram actualmente os residentes, que vão para além do cheque e do cartão de consumo. Estas medidas, sendo importantes para as famílias, de modo nenhum resolvem os problemas, como todos reconhecem. Na verdade, não passam de, como se diz em português, “paninhos quentes”, que não tratam da “ferida”, simplesmente aliviam um pouco as “dores”. Então, o que fazer? Na nossa opinião, o Governo deveria lançar vários programas que permitissem, com mútuas vantagens, uma melhor distribuição de dinheiro pela população. Não falamos aqui, com certeza, de grandes obras, que essas levam o dinheiro para as empresas de construção que não são locais. Falamos, isso sim, de projectos de bairro, de melhoramentos na qualidade de vida das pessoas, mas que contem com a sua participação. Por exemplo, já que a densidade dos turistas é consideravelmente menor, por que não lançar um programa de recuperação dos bairros antigos, que inclua a criação de mais e melhores pontos de interesse? Nomeadamente, uma maior e melhor musealização da cidade, sempre com a colaboração das pessoas locais, que permita a criação de novos empregos e a efectivação de uma cidade histórica, voltada para o turismo, mas conservando a sua identidade e autenticidade. Por outro lado, Macau tem como dever face à Pátria estimular as relações entre a China e os Países Lusófonos, algo que nem sempre tem sido feito da maneira mais eficaz. Querem ideias que vão além do Fórum Macau e seus diplomatas? Ou seja, pretendem também que esta ponte seja construída pelos residentes de Macau ou vamos deixar a coisa só na mão de diplomatas e políticos? Ele há tanto por fazer nesta área… Esperamos então para ouvir os Secretários e as suas medidas, na jubilosa esperança que as LAG não sejam “mais do mesmo”. É que, em tempos de pandemia e colapso económico de muitas famílias, o “mesmo” claramente não chega.
Almas gémeas Nuno Miguel Guedes - 17 Nov 2021 O sol de Inverno lisboeta parece ter a particularidade de trazer à superfície conversas improváveis em lugares improváveis. Ou então é a força deste azul, não sei. No meu caso, esses diálogos parecem vir ter comigo, alheios, fresquinhos e prontos a usar nestas funções. O cronista que vive dos dias, amigos, é um bisbilhoteiro credenciado, um agente discreto com licença para escutar. E então uma vez mais aconteceu: ao passar por uma paragem de autocarro retive migalhas preciosas de uma troca de palavras entre duas raparigas que aparentavam pouco mais de vinte anos. Disse uma delas (e cito de memória, não exijam demasiado, leitores): “X. está tão contente com o Y, não está?”, ao que a outra moça respondeu: “Pois está. São duas almas gémeas!”. Foi aqui que parei. Em primeiro lugar algo surpreendido pela expressão “almas gémeas” ainda ser utilizada no quotidiano e logo por duas jovens; e depois também ainda como sinónimo de perfeição espiritual e entendimento amoroso. Sim, adivinharam: o suave rabugento de serviço a estas teclas considera que a expressão “almas gémeas”, tal como é correntemente utilizada – na verdade não conheço outras utilizações… – é sobrevalorizada. Caminhem comigo, leitores: quem diabo quer uma alma em tudo igual à nossa? Eu não, garanto. O que faz um interlocutor ser interessante em todas as áreas – intelectuais, de amizade ou amorosas – não é o reflexo mas o complemento. A possibilidade de nós que nos escapou, possibilidade essa que é infinita mas que é rara de encontrar. Dito assim isto pode parecer a velha teoria de Lacan, personagem que não me é grato, que afirma que o que nós pensamos que somos existe apenas em função do outro. Não: somos antes de que haja outro olhar. Somos formados, concedo, por milhares de olhares, actos e palavras que com sorte nos vão atravessando a vida. Mas existe algo – e aqui chamemos-lhe alma com alguma propriedade e mistério – que faz com que rejeitemos ou aceitemos o que nos vai sendo proposto. A ideia de ser igual ao outro para o entender é para mim tão ridícula como perigosa. Preciso de referências, gostos e valores básicos comuns, certamente; mas é na diferença que se medra, sob pena de vivermos num perpétuo espelho deformado. No amor e ainda mais na amizade, o que nos conforta e refastela não é apenas o que nos é familiar mas sim o que nos provoca e por vezes faz doer. Quando alguém me diz que encontrou a sua “alma gémea” lamento-o. Remete-me logo para o mito do doppelganger e mais exactamente para o conto de Borges O Outro, em que o velho Borges encontra o jovem Borges. E isso, garanto, não é pacífico. A ter algum parentesco, que a alma do outro não seja gémea. Um primo afastado, uma amante perdida, um filho que não conhecíamos. Só assim vale a pena abrir a porta do que somos e deixar entrar com medos mas gratidão.
Livraria Portuguesa acolhe exposição de livros de artista Pedro Arede - 17 Nov 202117 Nov 2021 Da pintura à banda desenhada, passando pela escultura, fotografia e arquitectura, a Livraria Portuguesa alberga a partir de sexta-feira uma exposição de livros de artista com trabalhos de mais de 50 autores portugueses e locais. Do conjunto de obras que, muitas vezes, não eram para ser ou serviram de base para criações artísticas, destaque para produções de Julião Sarmento, Blaufuks, Rusty Fox e Chong Hoi A partir de sexta-feira, a Livraria Portuguesa acolhe uma exposição dedicada a livros de artista, que junta cerca de 68 obras de mais de 50 autores portugueses e locais. Organizada pela Associação Cultural 10 Marias, a segunda edição da “Book Hop” em Macau vai exibir publicações independentes, de pequena escala, únicas ou que tenham servido de esboço para criações artísticas ou profissionais, nas mais diversas áreas, como a escultura, a pintura, a banda desenhada ou a arquitectura. Depois de em 2018, a 1.ª edição do evento no território ter servido, sobretudo, para mostrar o que era feito em Portugal na área, a exposição que pode ser apreciada na galeria da Livraria Portuguesa até 5 de Dezembro pretendeu integrar mais artistas locais, especialmente de matriz chinesa. “A exposição que fizemos em 2018 foi essencialmente para mostrar o ‘estado de arte’ daquilo que se fazia em Portugal ao nível dos livros de artista. Trouxemos para Macau a maior parte dos livros e entrámos em contacto com alguns artistas locais como o Carlos Marreiros, o Alexandre Marreiros, o Konstantin Bessmertny, entre outros. No fundo, arranjámos um núcleo aqui de Macau, mas mais ligado à lusofonia digamos assim”, começou por explicar ao HM o curador da Book Hop, Paulo Côrte-Real. “Da edição passada para esta (…) temos agora muito mais artistas locais connosco, especialmente chineses. Isto para nós é importante porque há uma diferença em termos de pensamento e de abordagem aos assuntos, entre as pessoas de Macau de matriz portuguesa e de matriz chinesa. Integrá-los neste evento é uma boa maneira de juntarmos toda a gente”, acrescentou. A exposição conta com a participação de artistas portugueses como Julião Sarmento, Daniel Blaufuks, João Louro, Leonor Antunes, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Pousada, Alexandre Baptista, João Miguel Barros e artistas locais como Chong Hoi, Alan Ieon, Rusty Fox, Jack Wong, Tang Kuok Hou, Yolanda Kog ou Yang Sio Maan. Sublinhando que um dos objectivos da curadoria passa por “ir buscar o maior número possível de disciplinas”, Paulo Côrte-Real destaca a presença do recém-falecido artista multidisciplinar e “internacionalmente reconhecido”, Julião Sarmento, os trabalhos fotográficos de Rusty Fox e Daniel Blaufuks e as criações de João Louro e Pedro Valdez Cardoso nas áreas do desenho e da escultura. De referir ainda, a obra de “corte e colagem” feita a partir de revistas dos anos 20 da autoria do Anonymous Art Project. Faz-se caminhando Para Paulo Côrte-Real, o facto de existir uma exposição em Macau dedicada aos livros de artista pode contribuir para “abrir os horizontes” e fazer com que “mais pessoas percebam que um livro pode ser uma obra de arte”. “Há pessoas que não fazem ideia que este tipo de objectos pode ser exposto. Tendo cuidado e construindo o conceito como uma ‘obra de arte’, um livro ou um caderno pode até acabar exposto na parede como uma pintura. Pode ser que mais tarde se aventurem a fazer também as suas criações”, acrescentou. Sobre a exposição propriamente dita, o curador aponta que tanto a disposição como a sequência em que vão ser apreciadas as obras está ainda ser definida, mas a organização poderá respeitar motivações temáticas, cronológicas ou cromáticas. Entre os exemplares expostos, haverá ainda obras originais e outras reproduções de edições inferiores a 300 exemplares. Perante o apoio demonstrado pelos artistas locais à iniciativa, agora em maior número, no futuro a ideia será levar mais autores locais, sobretudo de matriz chinesa, para Portugal, numa evolução de sentido inverso relativamente às origens do Book Hop, cuja primeira edição portuguesa aconteceu em Coimbra, no Centro de Artes Visuais. “Com a inclusão de mais artistas locais queremos virar o conceito ao contrário, ou seja, em vez de trazermos os artistas portugueses até Macau, queremos dar a conhecer os artistas de Macau a Portugal. Estamos a começar a pensar nisso e na forma de concretizar esta ideia”, rematou o curador, apontando para a possibilidade de isso acontecer já no próximo ano.
Xi e Biden baixam o tom agressivo dos últimos tempos Hoje Macau - 17 Nov 2021 A cimeira China-EUA conseguiu trazer alguma “normalidade” à conversa entre os dois países O Presidente chinês Xi Jinping apelou na terça-feira ao desenvolvimento de uma relação sólida e estável entre a China e os EUA durante uma reunião virtual com o Presidente dos EUA Joe Biden. “A China e os Estados Unidos deveriam respeitar-se mutuamente, coexistir em paz, prosseguir uma cooperação vantajosa para ambas as partes, e gerir bem os assuntos internos, assumindo simultaneamente responsabilidades internacionais”, disse Xi, que tratou o presidente americano por “velho amigo”, dando o tom a uma conversa mais afável que o esperado. O presidente chinês salientou que tanto a China como os EUA se encontram em fases críticas de desenvolvimento, e que a “aldeia global” da humanidade enfrenta múltiplos desafios. Assumir a responsabilidade de ser grande Xi Jinping afirmou que ambos devem assumir as responsabilidades de grandes países e liderar a resposta global aos desafios pendentes. Para o presidente chinês, a China e os Estados Unidos precisam de apelar ao estabelecimento de um mecanismo de cooperação para a saúde pública global e a prevenção e controlo das doenças transmissíveis, e promover mais intercâmbios e cooperação internacional. “A COVID-19 não será a última crise de saúde pública que a humanidade enfrenta”, salientou Xi. “A resposta a qualquer doença importante deve basear-se na ciência”, disse, acrescentando que politizar doenças não faz bem mas apenas mal. Xi disse também que a prioridade premente na resposta global da COVID é abordar os défices de vacinas e colmatar as lacunas. A China está entre os primeiros a oferecer vacinas aos países em desenvolvimento carenciados, fornecendo mais de 1,7 mil milhões de doses de vacinas acabadas e a granel ao mundo e irá considerar fazer doações adicionais à luz das necessidades dos países em desenvolvimento, referiu Xi. Igualdade e benefício mútuo “A China e os EUA devem respeitar-se mutuamente, coexistir em paz, e prosseguir uma cooperação vantajosa para ambas as partes”, disse Xi, expressando a sua disponibilidade para trabalhar com o Presidente Biden para construir um consenso e tomar medidas activas para fazer avançar as relações entre a China e os EUA numa direcção positiva. “Se o fizermos, tal será no interesse dos dois povos e irá ao encontro das expectativas da comunidade internacional”, acrescentou Xi. Xi Jinping descreveu as relações económicas e comerciais entre a China e os EUA como sendo de natureza mutuamente benéfica, e disse que as questões económicas e comerciais entre os dois países não devem ser politizadas. “Os dois lados precisam de tornar o bolo maior para a cooperação”, disse Xi. O presidente chinês acrescentou que “a China leva a sério os desejos da comunidade empresarial dos EUA de viajar mais facilmente para a China”, e concordou em actualizar o acordo acelerado, o que irá melhorar ainda mais as trocas económicas e comerciais entre a China e os Estados Unidos e impulsionar a recuperação das duas economias. “Os Estados Unidos deveriam deixar de abusar ou de esticar demasiado o conceito de segurança nacional para reprimir as empresas chinesas”, concluiu. Taiwan: sem descarrilar “A China será obrigada a tomar medidas resolutas, caso as forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’ nos provoquem, forcem a nossa mão ou mesmo atravessem a linha vermelha”. Xi atribuiu as actuais tensões às repetidas tentativas das autoridades de Taiwan de procurar o apoio dos EUA para a sua agenda para a independência, bem como à intenção de alguns americanos de utilizar Taiwan para conter a China. “Tais movimentos são extremamente perigosos, tal como brincar com o fogo”, disse Xi. “Quem brincar com o fogo, será queimado”. “O princípio de uma só China e as três declarações conjuntas China-EUA são a base política das relações China-EUA”, disse Xi, observando que as anteriores administrações dos EUA assumiram todas compromissos claros sobre este assunto. “O verdadeiro status quo da questão de Taiwan e o que está no coração de uma China”, salientou Xi, “são os seguintes: existe apenas uma China no mundo e Taiwan faz parte da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa a China”. Chamando à realização da reunificação completa da China uma aspiração partilhada por todos os filhos e filhas da nação chinesa, Xi disse: “Temos paciência e lutaremos pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a máxima sinceridade e esforço”. “Dito isto, se as forças separatistas para a ‘independência de Taiwan’ nos provocarem, forçarem as nossas mãos ou mesmo atravessarem a linha vermelha, seremos obrigados a tomar medidas resolutas”, disse Xi. Por seu lado, o presidente dos EUA, Joe Biden, reafirmou a política de longa data do governo dos EUA de uma só China, e declarou que os EUA não apoiam a “independência de Taiwan” e expressou que a paz e a estabilidade devem ser mantidas no Estreito de Taiwan. Xi Jinping acrescentou ainda que “a China não aprova a utilização dos direitos humanos para se imiscuir nos assuntos internos de outros países”, referindo-se a Hong Kong e Xinjiang. “A China não tem intenção de vender o seu próprio caminho de desenvolvimento em todo o mundo. Pelo contrário, a China encoraja todos os países a encontrar caminhos de desenvolvimento adaptados às suas respectivas condições nacionais”, disse Xi. Cooperação em grandes questões “Sendo as duas maiores economias mundiais e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e os EUA precisam de aumentar a comunicação e a cooperação, cada uma delas gerir bem os seus assuntos internos e, ao mesmo tempo, assume a sua quota-parte de responsabilidades internacionais, e trabalha em conjunto para fazer avançar a nobre causa da paz e desenvolvimento mundiais”, disse Xi. “Este é o desejo partilhado pelos povos dos dois países e de todo o mundo, e a missão conjunta dos líderes chineses e americanos”, concluiu. Xi salientou que uma relação sólida e estável entre a China e os EUA é necessária para fazer avançar o respectivo desenvolvimento dos dois países e para salvaguardar um ambiente internacional pacífico e estável, incluindo encontrar respostas eficazes aos desafios globais como as alterações climáticas e a pandemia da COVID-19. Para Xi, “é imperativo que a China e os Estados Unidos mantenham a comunicação sobre políticas macroeconómicas, apoiem a recuperação económica mundial e se protejam contra riscos económicos e financeiros”. “Os Estados Unidos deveriam estar atentos aos efeitos colaterais das suas políticas macroeconómicas internas, e adoptar políticas macroeconómicas responsáveis”, acrescentou Xi.
Rui Carreiro Barbeiro “renasce” no Pátio da Cabaia João Luz - 17 Nov 2021 A completar sete anos de portas abertas em Macau, o espaço Rui Carreiro Barbeiro vai abrir num novo local no Pátio da Cabaia, bem no centro da cidade. Em tempos económicos difíceis, o segredo do negócio continua a ser a essência que não cede às marés das tendências e aposta no capricho no atendimento Faz amanhã sete anos que o espaço Rui Carreiro Barbeiro abriu na Calçada da Rocha, no centro da península de Macau, indo muito além da convencional oferta de corte barba e cabelo. Quis o destino e um rol de circunstâncias bem mundanas, que a festa de aniversário fosse também celebração de abertura do novo espaço, com a mudança para o n.º 25 do Pátio da Cabaia, a 2 minutos do Leal Senado, bem no coração de Macau. A festa está marcada para o próximo sábado, no espaço da nova loja, a partir das 17h. O local muda, mas o espírito mantém-se. “Não há que reinventar muito. Não sigo tendências, sigo a essência”, afirma convicto Rui Carreiro. No fundo, o novo barbeiro apresenta “uma roupagem nova, mas continua a aposta numa imagem retro, ligada às raízes, aos Açores, com muitos pormenores”, conta. Ao entrar no espaço, um enorme mural transporta o cliente para um universo kitch tropical, num espaço mais amplo, adequado às regras exigidas pelas novas licenças para cabeleireiros. Mimos aos molhos Navegando nas águas agitadas da crise económica gerada para pandemia e subsequentes restrições fronteiriças e encerramentos compulsivos, Rui Carreiro viu-se forçado a encerrar o projecto de comida vegetariana Urban Tribe. “A minha clientela era maioritariamente estrangeira, pessoas que trabalhavam nos casinos, principalmente no The House of Dancing Water, este era o tipo de pessoas que suportava a Urban Tribe”, conta. O próximo passo foi o foco no novo espaço do Rui Carreiro Barbeiro, que, como o próprio conta, vai muito além do tratamento de barba e cabelo. “Nunca quis embarcar no mesmo conceito dos grandes cabeleireiros, como quando trabalhava em Lisboa na L’Oréal e na Wella, onde o negócio se a assemelha a um matadouro, uma linha de produção”, explica. Assim sendo, no novo espaço há lugar para artesanato português, peças de design de artistas que apelam ao gosto de Rui Carreiro e mil e um pormenores que prendem o olhar. Entre as marcas representadas no espaço, destaque para Katty Xiomara e Pé de Chumbo, assim como para uma marca muito pessoal, “Saravá, meu pai”, que conjuga sabonetes de sal grosso e alecrim e outros produtos, como velas, com um bem-humorado ascendente espiritual. Além da múltipla panóplia de produtos à venda, e dos serviços de barba e cabelo, o espaço Rui Carreiro Barbeiro oferece paz de espírito, um local onde o burburinho da cidade esmorece, em troca de dois dedos de conversa, um café e um cigarro.
Investigador alerta para perigo do peso de mochilas escolares João Santos Filipe - 17 Nov 2021 Cerca de três por cento dos alunos locais com idades entre 8 e 15 anos sofre de escoliose, uma deformação lateral da coluna. O académico Kou Seng Man pede às autoridades que sejam mais activas na prevenção de problemas decorrentes do peso das mochilas O académico Kou Seng Man, do Instituto de Pesquisa Académica Internacional (Macau), alerta para os perigos do peso excessivo das mochilas escolares. O aviso surge após a divulgação dos resultados de uma investigação que concluiu que três por cento dos alunos de Macau, com idades entre 8 e 15 anos, sofrem de escoliose, ou seja, de deformação lateral da coluna vertebral. Ao Jornal do Cidadão, Kou Seng Man explicou que a escoliose nos mais novos é originada pelo peso excessivo das mochilas. Além disso, os problemas de coluna também podem surgir pela forma desequilibrada como é distribuída a carga, ou seja, com o peso a recair mais num ombro. O académico acrescenta também que o problema é agravado pelo facto de as crianças estarem em fase de crescimento, com músculos pouco consolidados e ossos mais susceptíveis de serem alterados por interferências externas, como o peso excessivo. Kou Seng Man revelou igualmente ter participado em exercícios para ensinar as crianças de escolas locais a distribuírem melhor os materiais quando arrumam as mochilas e preparam o dia seguinte. No entanto, reconheceu que os resultados foram limitados, porque mesmo que a mochila esteja bem arrumada o peso continua a ser demasiado. Medidas de fundo O investigador defende assim que as autoridades devem ser mais activas e intervir nesta matéria. Apesar de reconhecer que no passado foram formuladas orientações que limitam o peso das mochilas a 15 por cento do peso das crianças, não há uma prática generalizada de cumprimento e fiscalização, entre encarregados de educação e directores das escolas. O académico considera necessário “criar nos alunos o hábito de arrumar a mochila diariamente e evitar materiais desnecessários”, “escolher mochilas mais leves e feitas a pensar na redução do impacto para a coluna”, “realizar alongamentos aos músculos” e ainda “racionalização pelas escolas dos recursos necessários para as aulas”, para evitar que se carreguem pesos desnecessários. Em relação às editoras dos manuais escolar, Kou considera que devem fazer uma divisão dos temas por diferentes livros, para que não seja necessário carregar muito peso de uma só vez.