O mesmo não chega

O Chefe do Executivo começou ontem a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) sem que este primeiro discurso tenha trazido novidades importantes no âmbito político, económico ou social. Teremos talvez de esperar pelos Secretários para compreender em profundidade se este Governo produz novas ideias que aliviem a situação que a RAEM enfrenta ou se, pelo contrário, a exemplo de Governos anteriores, teremos “mais do mesmo”, o que seria efectivamente muito pouco.

Por aqui todos sabemos que, para a economia de Macau, é fundamental a abertura a Hong Kong. E tal não parece ser ainda uma prioridade para Ho Iat Seng que coloca nas mãos de Pequim essa medida. O problema é que a economia real de Macau (leia-se, além do Jogo) tem muitas dificuldades em sobreviver sem o turismo da ex-colónia britânica.

A razão é simples de perceber, dir-se-ia, numa linguagem que agrada a este Governo, uma razão “científica”. O nível de vida dos turistas do interior que nos visitam é inferior ao de Macau e os preços locais muito superiores aos praticados no interior. Por outro lado, a maior parte dos turistas do interior trazem já quase tudo pago e marcado. Logo, não são eles quem vai gastar dinheiro suficiente para manter vivos os pequenos negócios desta cidade.

Por outro lado, o nível de vida de Hong Kong é superior ao de Macau. As coisas aqui são mais baratas e por isso é fácil ao residente de Hong Kong aqui gastar dinheiro. Que o digam os donos dos restaurantes e das pequenas lojas, entre outros.

Por este motivo, parece-nos muito difícil recuperar a nossa economia enquanto os cidadãos de Hong Kong não puderem vir à RAEM sem passar por uma quarentena. Dantes, quando havia muito poucos turistas da China, Macau era sustentado basicamente por gente de Hong Kong e chegava. A economia explica porquê. E cientificamente, não é?

Sendo certo que “a pátria é o sustentáculo do desenvolvimento de Macau” (Ho Iat Seng), não podemos esquecer que Hong Kong faz parte da pátria e que a sua capacidade económica e financeira é fundamental para a RAEM. Por isso, parece-nos que o Governo devia ter como prioridade a abertura desta fronteira aos compatriotas de Hong Kong.

Neste ponto surge o grande falhanço deste Governo: a vacinação. É realmente incompreensível que Macau apresente uma taxa tão baixa e o próprio Chefe do Executivo reconheça que tenha havido um “problema de comunicação”. Um problema não. Um grande problema para uma cidade que vive do turismo. Sinceramente, não compreendemos a razão pela qual o Governo não toma medidas que levem as pessoas a vacinar-se como, por exemplo, não permitir a não-vacinados certos usufrutos como frequentar restaurantes e supermercados, entrar em edifícios públicos, passar a fronteira com Zhuhai, etc..

A postura passiva do Governo nesta matéria é, no mínimo, estranha. E faz pensar. Haverá algo por detrás deste “desinteresse? A vacinação não faz a fortuna de ninguém? E com os testes em massa, será que existem alguns beneficiados? Muito se insiste nos testes e muito pouco nas vacinas. Por quê? De facto, pode ter existido um problema de comunicação, mas o maior problema é que o problema continua. E o que pretende fazer o Governo?

Contudo, nem só de turismo vive esta cidade. E é neste ponto que será interessante analisar que medidas se propõe o Governo criar para aliviar a situação em que se encontram actualmente os residentes, que vão para além do cheque e do cartão de consumo. Estas medidas, sendo importantes para as famílias, de modo nenhum resolvem os problemas, como todos reconhecem. Na verdade, não passam de, como se diz em português, “paninhos quentes”, que não tratam da “ferida”, simplesmente aliviam um pouco as “dores”.

Então, o que fazer? Na nossa opinião, o Governo deveria lançar vários programas que permitissem, com mútuas vantagens, uma melhor distribuição de dinheiro pela população. Não falamos aqui, com certeza, de grandes obras, que essas levam o dinheiro para as empresas de construção que não são locais. Falamos, isso sim, de projectos de bairro, de melhoramentos na qualidade de vida das pessoas, mas que contem com a sua participação.

Por exemplo, já que a densidade dos turistas é consideravelmente menor, por que não lançar um programa de recuperação dos bairros antigos, que inclua a criação de mais e melhores pontos de interesse? Nomeadamente, uma maior e melhor musealização da cidade, sempre com a colaboração das pessoas locais, que permita a criação de novos empregos e a efectivação de uma cidade histórica, voltada para o turismo, mas conservando a sua identidade e autenticidade.

Por outro lado, Macau tem como dever face à Pátria estimular as relações entre a China e os Países Lusófonos, algo que nem sempre tem sido feito da maneira mais eficaz. Querem ideias que vão além do Fórum Macau e seus diplomatas? Ou seja, pretendem também que esta ponte seja construída pelos residentes de Macau ou vamos deixar a coisa só na mão de diplomatas e políticos? Ele há tanto por fazer nesta área…

Esperamos então para ouvir os Secretários e as suas medidas, na jubilosa esperança que as LAG não sejam “mais do mesmo”. É que, em tempos de pandemia e colapso económico de muitas famílias, o “mesmo” claramente não chega.

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