Ambiente | Identificar fontes de emissão de poluentes é prioritário

[dropcap]O[/dropcap] investigador Yongjie Li, da Universidade de Macau, defende que a identificação das principais fontes de emissão de poluentes tem de ser uma prioridade, na medida em que só assim será possível elaborar políticas eficazes

“A maior prioridade da nossa cidade deve ser a aposta na identificação das fontes de emissão e captar um quadro geral da situação”, afirmou à Lusa Yongjie Li. Para o especialista em poluição atmosférica, “sem tais evidências científicas não será possível uma política eficaz sobre como controlar as emissões”, pelo que as autoridades têm de ser mais pró-activas.

Dados oficiais indicam que, em 2017, registaram-se em quase todas as estações que medem o índice de qualidade do ar (AQI, na sigla inglesa) mais de 20 dias insalubres. “Este é um grande desafio e o Governo de devia colocar [a qualidade do ar] numa prioridade maior do que a que está a fazer”, defende o professor.

Na mesma linha do especialista ambiental, que apontou falhas na identificação e captação das fontes de emissão de poluentes, têm surgido na última semana críticas por parte da sociedade civil e de activistas ambientais, que apontam falhas nos dados sobre a qualidade do ar recolhidos pelo Governo.

“Infelizmente, o que o Governo está a fazer em Macau não é suficiente em termos de política sustentável, que ainda está muito atrasada em relação ao resto do mundo”, afirmou à Lusa Annie Lao, um dos principais rostos de uma petição que reuniu milhares de assinaturas contra o plástico descartável.

O Relatório do Estado do Ambiente de Macau de 2017 indica que as emissões de dióxido de carbono (CO2) subiram 6,2 por cento entre 2007 e 2016. “A percentagem das emissões estimadas de gases com efeito de estufa em 2016 aumentou 5,9 por cento comparando com 2015. Tal deve-se, principalmente, ao aumento da emissão estimada de CO2 resultante da incineração de resíduos, dos transportes marítimos e da produção local de energia eléctrica”, lê-se no relatório.

Metas para 2019

Nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019, o Governo estabeleceu, entre outras metas, controlar o crescimento do número de veículos para que a taxa de crescimento anual se fixe em 3,5 por cento em 2020, prometeu o aumento de lugares de carregamento de veículos eléctricos para 210 até 2019 e que 40 por cento da iluminação pública seja feita através de luzes LED.

Macau tem aproximadamente 230 mil veículos motorizados, não tem metro, e os transportes movidos a energias sustentáveis são reduzidos. Até Setembro, havia 43.928 pessoas com dois ou mais veículos, numa população de sensivelmente 660 mil habitantes. Existem ainda 1.498 táxis, dos quais apenas 30 eléctricos, segundo dados fornecidos à Lusa pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

Outra das preocupações de Annie Lao prende-se com os casinos por serem os maiores utilizadores de recursos como “água, energia e plástico”. “Banir palhinhas de plástico por parte dos casinos é apenas um pequeno passo, mas não é de todo suficiente porque os hotéis usam e grande número de plásticos descartáveis e que muitos deles não podem ser reciclados”, apontou a activista.

Hong Kong | SF Express recusa enviar material religioso para Macau

A filial de Hong Kong da empresa SF Express recusou o envio de uma encomenda com cruzes para a RAEM por se tratar de “material religioso”. O gestor da empresa acabou demitido e companhia admitiu que situação foi um erro

 

[dropcap]A[/dropcap] filial de Hong Kong da SF Express, empresa de entregas por correio de Shenzhen, recusou enviar uma encomenda para Macau, por haver “material religioso” entre os itens, nomeadamente cruzes feitas à mão. A notícia foi confirmada pela própria empresa, depois de uma investigação interna e do caso ter vindo parar os jornais do território vizinho.

O caso terá sucedido na quarta-feira passada, quando um voluntário católico foi à loja da SF Express de To Kwa Wan, em Kowloon, para enviar uma encomenda com presentes, cartões e cruzes feitas à mão para um evento católico que ia decorrer em Macau. Contudo, um funcionário da loja informou o voluntário que a encomenda não poderia ser entregue na RAEM, uma vez que tinha “material religioso”. Na sequência da sua natureza ou finalidade, os objectos acabaram por não ser aceites pela SF Express.

Após a divulgação do caso, a empresa iniciou uma investigação e na sexta-feira fez um pedido de desculpas. “De acordo com os requisitos legais, os padrões para o recebimento e a entrega de encomendas têm de estar de acordo com as leis aplicáveis nas alfândegas dos territórios envolvidos. Contudo, o gestor da SF Express Hong Kong falhou em perceber os requisitos legais e em treinar de forma adequada os trabalhadores, fazendo com que os empregados tivessem padrões mais exigentes do que aquilo que seria necessário”, explicou a companhia, num comunicado citado pelo portal Hong Kong Free Press.

Estado de choque

A SF Express afirmou ainda estar “chocada” com o ocorrido e prometeu tomar medidas para que estes casos não se repitam. “O nosso grupo decidiu que o administrador geral da SF Express Hong Kong vai assumir a responsabilidade e demitir-se. O nosso grupo pede as mais sinceras desculpas às pessoas afectadas e agradece a atenção dos órgãos de comunicação social para este caso”, é acrescentado no comunicado.

Em relação ao envio de materiais de e para Macau não são conhecidos casos semelhantes. No entanto, no Domingo, 13 de Janeiro, o autor Leung Man-Tao, de Hong Kong, tinha-se queixado que a empresa tinha recusado enviar três livros de Taiwan para Hong Kong. Na altura, terá sido dito a Leung que havia “restrições ao nível do conteúdo de livros aplicadas pelo Governo Chinês”. Também neste caso a empresa veio a público admitir que tinha havido um erro e negou qualquer restrição no envio de livros de Taiwan para Hong Kong.

ETAPM | Função pública consultada sobre segunda fase de revisão

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) realizaram uma consulta junto dos serviços públicos e das associações dos trabalhadores no âmbito dos trabalhos da revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM).

A segunda fase de revisão do ETAPM, após a primeira ter entrado em vigor a 1 de Janeiro, centrar-se-á no regime de subsídios e abonos com vista a que “o ETAPM possa adaptar-se às necessidades de funcionamento e gestão administrativa dos serviços públicos actuais e salvaguardar os direitos dos trabalhadores”, indicaram os SAFP em comunicado.

Além do envio do documento de consulta aos serviços públicos, os SAFP também realizaram quatro sessões de esclarecimento que reuniram mais de 500 participantes. A consulta da segunda fase de revisão do ETAPM termina no próximo dia 31.

Assistentes Sociais | Governo exige 45 horas de formação a cada três anos

[dropcap]O[/dropcap]s assistentes sociais vão ter de acumular 45 horas de formação contínua a cada três anos. Esta é uma exigência feita pelo Governo na nova versão da lei que vai regular a profissão.

Segundo Chan Chak Mo, presidente da comissão da Assembleia Legislativa que está a discutir o diploma, na primeira versão da lei apenas era exigido que fosse realizada formação contínua sem haver requisitos ao nível do tempo exigido. A nova versão apresentada pelo Governo veio resolver o problema.

Um outro aspecto que a comissão também queria ver resolvido e que não tem, para já, solução é a distinção entre assistentes sociais do sector público e privado. Os deputados pretendiam um regime universal para ambos os tipos de trabalhadores. Contudo, o Governo explicou que a função pública não tem uma carreira específica para assistentes sociais e que vai ter de continuar a haver uma distinção.

Por este motivo, os funcionários que trabalhem para o Governo na área social ficam dispensados de fazer o registo na profissão. Já os trabalhadores do sector privado vão ter de cumprir essa obrigação para poderem aceder ao título profissional.

Hino | Deputados aceitam justificação do Governo e levam lei ao Plenário

Sónia Chan tinha dito que não haveria mais discussão sobre a hipótese do Executivo solicitar a cooperação dos média na divulgação do hino e os deputados concordaram. O diploma retorna à AL apesar da Associação de Jornalistas pedir a revisão deste ponto

 

[dropcap]A[/dropcap]s opiniões sobre a alteração à lei do hino por parte da Associação de Jornalistas de Macau (AJM) são “bem-vindas”, mas o parecer já foi assinado e vai ser levado à votação no Plenário. Foi desta forma que os deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa recusaram eliminar o artigo da futura lei que permite ao Governo “solicitar” aos órgãos de comunicação social que ajudem na promoção do hino nacional.

Segundo o presidente da comissão, Ho Ion Sang, a carta com a sugestão da associação foi distribuída aos deputados antes da reunião de sexta-feira. Mas o facto de os órgãos de comunicação social “não precisarem de assumir responsabilidades”, caso optem por não cooperar com o Governo, fez com que os legisladores concordassem com Sónia Chan. Na quinta-feira, a secretária para a Administração e Justiça tinha justificado que não ia haver mais discussão [sobre a lei], uma vez que o artigo criticado pela Associação de Jornalistas de Macau não tinha qualquer punição para quem não cumprir com as solicitações. Ainda de acordo com a governante, esta parte da lei serve essencialmente para responsabilizar o Governo por tomar a iniciativa de procurar a cooperação dos órgãos de comunicação social.

Na quinta-feira, a AJM tinha divulgado uma carta a defender que o artigo em causa restringe a liberdade dos órgãos de comunicação social e a recusar que os média sejam utilizados como ferramentas de propaganda da ideologia do Governo.

Contudo, o documento vai agora ser votado na especialidade e, caso seja aprovado pelos deputados, vai entrar em vigor no dia a seguir à publicação no Boletim Oficial da RAEM.

Carimbos como no Interior

De acordo com o parecer da comissão, uma das dúvidas levantadas pelos deputados durante a discussão do diploma foi o facto dos emblemas nacionais não constarem nos carimbos da RAEM, uma vez que são utilizados os emblemas regionais.

A dúvida foi suscitada pelos deputados, após compararem a lei do hino do Interior da China com a lei que agora vai ser aplicada em Macau e que surge na sequência da actualização da lei no Interior.

Segundo a explicação do Executivo, tal deve-se ao facto da RAEM não ser um órgão nacional, antes um órgão regional, o que faria com que não fosse adequado o uso de carimbos com o desenho do emblema nacional.

Ao mesmo tempo, o Governo considera que o formato actual, com a utilização da flor do Lótus é suficiente para identificar a RAEM: “além do desenho do emblema regional, existe ainda o texto e a designação dos respectivos serviços públicos, conseguindo-se assim, em princípio, o efeito de identificação”, consta no parecer, sobre a resposta do Governo.

Medicina chinesa | Deputados visitam hoje a Ilha da Montanha

[dropcap]O[/dropcap]s deputados deslocam-se hoje ao Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong e Macau.

Inaugurado oficialmente em 2011, o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa, com uma área de 0,5 quilómetros quadrados, localiza-se na zona de desenvolvimento tecnológico da Ilha da Montanha.

Foi o primeiro projecto de construção implementado oficialmente no âmbito da cooperação entre Guangdong e Macau, desde a assinatura do Acordo-Quadro de Cooperação, no mesmo ano.

Ensino Superior | Apoio para material escolar sobe para 3.300 patacas

[dropcap]O[/dropcap] Governo vai aumentar o “subsídio para a aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior” para 3.300 patacas. O valor em questão é referente ao ano lectivo de 2018/2019. Esta é a primeira vez desde o ano 2012/2013 que o montante, que antes era de 3.000 patacas, é actualizado.

O apoio é disponibilizado aos alunos do ensino superior com Bilhete de Identidade de Residente que estejam matriculados neste ano lectivo. Os interessados devem registar-se para receber o apoio público entre 29 de Janeiro e 15 de Março.

De acordo com o Governo, a medida vai abranger cerca de 34 mil pessoas e irá custar 112,2 mil patacas aos cofres da RAEM. Este subsídio foi criado no ano lectivo de 2011/2012. À altura, o valor era de 2.000 patacas.

Finanças | Governo quer contabilistas e auditores numa só classe

O Governo continua a tomar medidas de reorganização do sector financeiro e desta vez vai fundir as classes dos contabilistas e dos auditores. O objectivo é seguir a tendência mundial e evitar confusões para os investidores

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo apresentou uma proposta de lei que vai fazer com que as profissões de contabilistas e auditores de contas se transformem numa única classe. A proposta foi apresentada pelo Conselho Executivo, na sexta-feira. Segundo o porta-voz deste organismo, Leong Heng Teng, a medida vai permitir que a profissão no território “se coadune ainda mais com as práticas internacionais”.

“O objectivo é estabelecer um regime de registo e exercício da profissão de contabilistas aplicável às pessoas singulares que pretendam obter qualificações profissionais e a qualificação de contabilistas, e às pessoas que se queiram registar como sociedades de auditores”, afirmou o porta-voz.

A proposta de lei em apreço vai substituir o actual Estatuto dos Auditores de Contas e o Estatuto dos Contabilistas Registados. Os dois diplomas encontram-se em vigor desde 1999.

Segundo as explicações do Director do Serviços de Finanças, Iong Kong Leong, também presente na conferência de imprensa, o facto de actualmente haver contabilistas e auditores de contas em Macau provoca confusão.

Com o novo estatuto vai ser também criada uma Comissão de Registo dos Contabilistas, um órgão colegial que vai implementar o regime de acreditação, registo e emissão de licenças para o exercício da profissão. Além disso, a entidade vai supervisionar as normas de conduta dos profissionais do sector. Neste sentido, a principal diferença é que a comissão que anteriormente estava sob a alçada da Direcção dos Serviços de Economia passa a ser independente. A escolha dos membros só vai ser definida em regulamento administrativo mais tarde, mas terá representantes provenientes da Administração Pública, profissionais e académicos da área da contabilidade.

Multas até meio milhão

De acordo com as alterações propostas pelo Governo, os contabilistas e as sociedades de auditores que cometerem infracções disciplinares podem ser multados com uma quantia entre 5 mil e 5 milhões de patacas. Nos casos mais leves a punição poderá passar por uma advertência e nos casos mais graves, em que se prova a existência de dolo, a sanção passa pelo cancelamento do registo ou licença para exercer a profissão. Sobre os valores das multas, Iong Kong Leong explicou que houve uma actualização face a 1999 de acordo com o índice de preços no consumidor.

Ainda no que diz respeito às pessoas que pretendam aceder à profissão, quem se encontra a desempenhar as funções vai ser registado automaticamente. No entanto, os novos candidatos têm de provar que têm dois anos de experiência relevante no sector e têm de obter aprovação nas provas contabilistas reconhecidas pela Comissão de Registo dos Contabilistas.

Por último, as sociedades de auditores ficam obrigadas a ter, pelo menos, dois accionistas.
Actualmente, estão registados 119 auditores e 188 contabilistas no território. Há ainda 14 sociedades de auditoria e 3 empresas de contabilidade.

MUST | Nova licenciatura em medicina recebeu 80 candidaturas no primeiro dia

No dia de abertura de inscrições para o novo curso de medicina, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau recebeu 80 candidaturas. Manson Fok, director da Faculdade de Ciências da Saúde da MUST, disse que a Universidade do Porto vai ser uma das instituições do ensino superior parceiras, além da Universidade de Lisboa, e rejeitou a possibilidade de virem a ser formados médicos em excesso para as necessidades do território

 

[dropcap]O[/dropcap] evento atraiu a atenção de tanta gente que foi necessário marcar outra sala para acolher alunos e professores interessados em saber todos os detalhes da nova licenciatura em medicina e cirurgia que arranca já no próximo ano lectivo 2019/2020 na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa).

Sob o slogan “formar os médicos do amanhã” realizou-se no sábado uma sessão de esclarecimento sobre o novo curso. Sophia Liu, natural de Jiangsu, já é estudante do curso de hotelaria e gestão na MUST, mas gostaria de um dia ser médica.

“Estou interessada, e acho que os meus pais iam gostar que entrasse no curso”, contou ao HM. “Com este curso poderia ajudá-los caso tenham algum problema de saúde. Além disso, o curso vai ter bons professores que nos podem transmitir muitos conhecimentos”, apontou.

Durante a apresentação da licenciatura, Manson Fok, director da Faculdade de Ciências da Saúde da MUST e filho do magnata Henry Fok, quis deixar claro que o objectivo primordial é a qualidade dos docentes, mas, sobretudo, dos alunos.

“Queremos que os alunos pensem, que não se limitem a estudar e decorar informações. O nosso primeiro objectivo é ter 50 estudantes no primeiro ano. Não basta termos bons professores e um programa curricular, também precisamos de bons alunos.”

Além disso, Manson Fok também deixou alguns recados aos futuros estudantes. “Têm de estar preparados para estudar, porque o curso de medicina é muito exigente. O ensino será sempre feito em grupo e não individualmente”, apontou.

O acesso ao curso será também aberto a pessoas com mais de 23 anos, mas é exigida determinada nota nas disciplinas de química e biologia, sem esquecer a matemática e as línguas, tais como o chinês e inglês. Os alunos que realizaram os exames finais do ensino secundário em Hong Kong e Malásia também se podem candidatar, apesar da primazia dada aos que nasceram em Macau.

Além das notas, os candidatos serão depois submetidos a uma entrevista onde lhes são exigidos conhecimentos não apenas do sistema médico do território como de todas as regiões que integram o projecto de cooperação da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

Durante a apresentação foi ainda reiterado que os licenciados serão reconhecidos pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) e que, durante o curso, poderão escolher realizar o estágio do sexto ano em países como Austrália, Reino Unido, Portugal ou Estados Unidos. Estes estágios são fruto de parcerias anteriormente estabelecidas, garantiu Manson Fok. “Várias universidades com quem mantemos protocolos questionaram-nos porque que Macau não tinha um curso de medicina”, referiu na sua apresentação.

Corrida ao curso

Apesar de querer apenas meia centena de estudantes, Manson Fok adiantou à margem do evento que a MUST recebeu 80 candidaturas no dia em que abriram as inscrições. Isto apesar do valor da propina do curso ser de 55 mil patacas anuais, para uma licenciatura de seis anos. Neste aspecto, o director da Faculdade de Ciências da Saúde comprometeu-se a apoiar financeiramente os estudantes que necessitem.

“As propinas são elevadas e a nossa universidade vai-se responsabilizar pelos custos. Qualquer apoio do Governo será sempre no formato bolsas de estudo e espero que a população de Macau também veja a faculdade de medicina como parte do seu serviço para a comunidade e dê o seu apoio. Os professores não vão servir apenas para formar os alunos, mas também os médicos especialistas que já exercem”, justificou.

Manson Fok não teme que os alunos de Macau optem por estudar medicina em Portugal pelo facto de serem portadores do passaporte português. Nas universidades portuguesas as propinas são mais baixas do que os valores cobrados pela MUST, mas existem outros factores a equacionar. “Em Portugal, se não estou em erro, nem todos os estudantes que querem seguir medicina conseguem entrar, porque os critérios de acesso são muito rígidos. Aqui queremos seleccionar os melhores alunos e queremos concentrar os nossos recursos para formar bons alunos, para que se transformem em bons médicos habilitados também a trabalhar no estrangeiro.”

Apesar da MUST ser uma das universidades privadas que mais fundos públicos recebe, sobretudo da Fundação Macau, Manson Fok não negou que o apoio do Governo é fundamental para garantir a qualidade formativa.

“O nosso dever não é apenas disponibilizar um bom currículo, mas também ter os melhores recursos. Com mais recursos podemos enviar os melhores alunos para as principais instituições em todo o mundo. Mas isso vai estar limitado pelos recursos disponíveis. Os custos principais serão suportados pela universidade, esse é o nosso compromisso.”

Durante cinco anos, os alunos vão ter uma componente teórica e prática feita em hospitais e clínicas estrangeiras. “O currículo que será ensinado é aquele que já é ensinado nas universidades da região”, disse Manson Fok.

“A diferença é que, num período que corresponde entre três semanas a seis meses, os alunos serão enviados para vários sítios no exterior para terem contacto com outras patologias”. Na Austrália, Europa e Estados Unidos, os estudantes terão acesso “a diferentes tipos de ensino e aprendizagem”, acrescentou Manson Fok, que deu o exemplo do cancro de pele como uma doença rara em Macau que implica formação no exterior.
Aos jornalistas, o director da Faculdade de Ciências Médicas deixou claro que os hospitais e clínicas do território não têm capacidade para acolher estagiários ávidos por adquirir conhecimentos sobre patologias diversas. Além da aposta na internacionalização, a MUST assume querer investir também na localização.

“Os médicos formados na China regressam, mas aqui existem regulamentos diferentes. Por exemplo, na China eles podem receitar medicamentos ocidentais e medicamentos da medicina tradicional chinesa, mas em Macau não. Na nossa formação não haverá esse problema, pois só adoptamos padrões internacionais”, admitiu. Aliás, no capítulo da internacionalização importa salientar que as faculdades de medicina das universidades de Lisboa e do Porto vão ser instituições parceiras da MUST.

“Números são números”

Apesar do Governo ter dado luz verde ao novo curso recentemente, a verdade é que a MUST começou a preparar a licenciatura há cerca de três anos. As parcerias estão estabelecidas, o corpo docente formado e tudo parece estar a postos para receber os primeiros alunos já em Setembro. Manson Fok optou por não responder directamente se acreditava que, à partida, o Executivo iria aprovar o pedido de um novo curso. “Se perguntar à comunidade, não há dúvidas de que as pessoas querem médicos melhor formados. Macau tem vindo a ter progressos e vai tornar-se numa cidade internacional, e os nossos médicos também precisam ter uma perspectiva internacional. É isso que queremos trazer para a comunidade.”

Para o futuro, a MUST deverá cooperar com a Academia Médica, um projecto do Governo a ser operacionalizado pelos Serviços de Saúde. “Claro que vamos trabalhar com toda a comunidade médica de Macau. Esperamos que a nossa faculdade seja apoiada, porque não queremos que seja apenas uma faculdade da MUST. Temos hospitais e clínicas, e queremos partilhar todos os recursos para formar médicos. Os médicos que vamos formar vão servir toda a Macau e não apenas o hospital da MUST.”

Confrontado com as críticas de que em poucos anos o curso irá formar médicos a mais, tendo em conta a pequena dimensão do território, Manson Fok referiu que “números são números”. “Se olharmos para a proporção (de médicos em relação à população), continuamos com níveis muito baixos face ao resto do mundo. Cerca de 20 por cento dos médicos estão a aproximar-se da idade da reforma e vamos ter um novo hospital daqui a uns anos, que vai exigir uma grande quantidade de médicos”, concluiu o director da nova faculdade.

Camboja condena medidas sobre o arroz impostas pela UE

[dropcap]O[/dropcap] Governo do Camboja acusou a União Europeia (UE) de violar as regras do comércio internacional, depois de Bruxelas ter anunciado que vai re-introduzir direitos de importação sobre o arroz proveniente daquele país e do Myanmar.

A decisão tomada na quarta-feira pela Comissão Europeia tem como pano de fundo a protecção dos produtores europeus, uma medida solicitada por vários Estados-membros, entre os quais Portugal, e entra em vigor já esta semana.

Contudo, o Ministério do Comércio do Camboja defende que a medida não está em conformidade com as regras do comércio internacional, nem reflecte uma boa cooperação entre o Camboja e a UE, tratando-se de “uma arma que matará” os produtores cambojanos endividados.

“A decisão de introduzir medidas proteccionistas (…) vai privar os agricultores dos seus rendimentos e vai forçá-los à morte”, condenou o ministério, em comunicado. Neste sentido, o país asiático pediu às autoridades europeias para reverem a decisão que descreveu como “injustificável” e assegurou que está a estudar a legalidade da mesma.

O Camboja e Myanmar (antiga Birmânia) são beneficiários do regime de comércio “Tudo Menos Armas” da UE, que concede unilateralmente acesso ao seu mercado, com isenção de direitos aduaneiros e sem limites quantitativos, aos países menos avançados do mundo (excepto para armas e munições).

O pedido inicial de instituição de medidas de salvaguarda sobre as importações de arroz foi apresentado por Itália há quase um ano, em Fevereiro de 2018, com o apoio de todos os outros Estados-membros produtores de arroz: Portugal, Espanha, França, Grécia, Hungria, Roménia e Bulgária.

Chan Meng Kam emprestou 96 milhões e diz-se enganado

[dropcap]O[/dropcap] antigo deputado à Assembleia Legislativa (AL) e empresário Chan Meng Kam afirma ter sido enganado num caso ligado a um empréstimo de 96 milhões de patacas concedido a uma imobiliária ligado ao bairro criativo localizado perto da Rua dos Ervanários, perto das Ruínas de São Paulo. De acordo com a TDM, a Polícia Judiciária (PJ) já se encontra a investigar o caso de burla avaliado em cerca de 200 milhões de patacas e que terá atingido cerca de 30 pessoas.

“Algumas vítimas disseram que a mulher de nome Chiang usou a agência de imobiliário dela para levar a cabo o esquema. Ofereceu taxas de retorno entre um a seis por cento ao mês de forma a que as pessoas investissem ou lhe emprestassem dinheiro. Depois deixaram de conseguir contactar com ela e foi então que as queixas começaram a chegar à PJ”, explicaram as autoridades em conferência de imprensa, segundo declarações transmitidas pela TDM.

O local tem sido palco do Festival da Travessa do Armazém Velho, organizado por uma associação liderada pelas mesmas pessoas que são proprietárias da agência imobiliária que recebeu os empréstimos, apurou o All About Macau. Chan Meng Kam emprestou dinheiro à imobiliária Fomento Predial Kou Fu, propriedade de Isabel Chiang, que é também a accionista principal da empresa Number 81, dona de 12 lojas que compõem o bairro criativo e que se situam entre o Pátio de Chon Sal e Rua de Nossa Senhora do Amparo. Em 2015, a Number 81 adquiriu essas lojas por 100 milhões de patacas.

Isabel Chiang surge também na documentação consultada como gerente-geral do Grupo Ana Chiang. Cheang Ka Hang (tradução fonética), sobrinho de Isabel Chiang, é também presidente da direcção da Associação de Promoção ao Desenvolvimento de Distritos Históricos de Macau, que tem vindo a organizar o festival. Desde o ano passado que Isabel Chiang está desaparecida, sendo que o sobrinho adiantou à TDM que não se encontra em Macau.

Uma fonte ligada ao sector comercial, ouvida pela publicação chinesa, garante que a imobiliária desenvolveu os seus negócios até que o mercado abrandou, o que levou a dificuldades no pagamento dos empréstimos pedidos a várias figuras e entidades.

Chan Meng Kam admitiu ao jornal que emprestou dinheiro à imobiliária, tendo esta prometido ceder o direito de propriedade de dois imóveis. Chan Meng Kam veio mais tarde a perceber que essas fracções estavam hipotecadas no banco. Além disso, também tinham servido de garantia a outros empréstimos concedidos a Isabel Chiang. O ex-deputado considera-se vítima, uma vez que nunca mais conseguiu chegar à fala com o proprietário da imobiliária.

Para continuar

Choi Chi Seng, secretário-geral substituto da associação, não negou, em entrevista ao All About Macau, que existem problemas financeiras, tendo explicado que existe uma “ligação estreita” com o Grupo Ana Chiang. A relação com a imobiliária existe apenas porque esta é proprietária de muitas lojas na zona.

Nesse sentido, Choi Chi Seng não espera grandes consequências da falta de pagamento dos empréstimos. “Falei com um advogado para pedir uma opinião sobre o caso e ele disse-me que a situação não vai ter grandes consequências”, disse.

Choi Chi Seng garantiu que a associação não tem problemas financeiros, tendo pedido apoios ao Governo que, porém, ainda não foram recebidos. Para já, o responsável deixa a garantia de que outras actividades culturais, que não o festival, deverão continuar a acontecer.

Sulu Sou | Proibição de entrada de activista com motivações políticas

[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou considera que teve motivações políticas a proibição de entrada em Macau, na quarta-feira, de Yvonne Leung, uma antiga líder estudantil do chamado movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’ de Hong Kong.

“Não vejo nenhum motivo pelo qual Yvonne Leung põe em risco a segurança. Como em muitos casos no passado, isto tem motivações políticas”, afirmou o mais jovem deputado de Macau à agência Lusa.
Em declarações à agência de notícias France-Presse (AFP), a ex-presidente da União dos Estudantes da Universidade de Hong Kong Yvonne Leung afirmou que as autoridades a informaram de que suspeitavam que quisesse entrar no território “para participar em certas actividades que poderiam comprometer a segurança pública ou a ordem pública”. Um argumento, de resto, utilizado anteriormente pelas autoridades de Macau.

“A polícia muitas vezes abusa das razões de segurança e confidencialidade”, apontou Sulu Sou.
Yvonne Leung, de 25 anos, participou no movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’, em 2014, que paralisou o território durante mais de dois meses, e foi a única mulher da delegação estudantil presente nas negociações com as autoridades de Hong Kong durante os protestos.

Nos últimos anos, porém, Yvonne Leung retirou-se de qualquer actividade política ou activista.

Manga ocidental?

[dropcap]R[/dropcap]egresso ao tema da manga japonesa, que tratei em crónica anterior para dar conta da minha decepção enquanto aficcionado ao constatar que no Japão há ainda uma profunda segregação de género relacionada com este tipo de literatura, que se traduz em recorrentes estereotipadas representações do corpo feminino de acordo com supostos padrões de beleza masculinos, na reprodução sistemática de tradicionais papéis sociais supostamente inerentes ao género sexual e até na existência de publicações diferentes para os públicos masculino e feminino.

Há excepções, no entanto, e uma delas tornou-se recentemente um sucesso comercial nacional e internacional. Traduzido à letra, o título em português seria “Sou teu” ou “Sou tua” (“Kimi no na wa”), ainda que o título da edição internacional em inglês tenha sido adaptado para “O teu nome” (Your name). Começou por ser um filme de animação (anime) dirigido por Makoto Shinkai, tendo depois sido publicado como novela pelo mesmo autor e finalmente como banda desenhada (manga) em três preciosos volumes com a colaboração do ilustrador Ranmaru Kotone.

O enredo contradiz ao máximo as ideias da representação tradicional dos papéis de género: um rapaz com uma vida cosmopolita numa grande cidade e uma rapariga de uma pequena vila em ambiente rural trocam sistematicamente de identidade e vivem temporariamente no papel do outro, sem saberem quando isso vai acontecer e em que momento vai acabar. Explorando as limitações das representações tradicionais de género, o enredo aborda também os limites entre o sonho e a realidade ou as contradições entre a vida quotidiana e as possibilidades de um futuro diferente.

O sucesso da obra acabou por atrair uma produtora cinematográfica de Hollywood, disposta a produzir uma nova versão, com actores, actrizes e cenários “reais”, o que foi anunciado em finais de 2017. No entanto, mais de um ano passou sem que se conhecessem desenvolvimentos do projecto, tendo o previsível argumentista desta nova versão (Eric Heisserer) adiantado alguma explicação em entrevista recente: segunda afirma, os detentores (japoneses) dos direitos de utilização da obra exigem que o filme tenha um ponto de vista “ocidental”. A razão que adiantam é aparentemente simples (para ter uma perspectiva “oriental” podiam fazer o filme no Japão), mas acaba por remeter para uma questão maior e mais complexa: o que é uma perspectiva “ocidental” e em que se traduz essa dicotomia “oriental” vs “ocidental”, sobretudo quando se trata de uma história de dois adolescentes que tem características bastante universais (no sentido em que nada do que na história é essencial é particularmente específico do Japão)?

Vivo com essa questão de forma recorrente desde que me instalei quase em permanência no Japão. É frequente usar-se essa dicotomia “oriental” vs “ocidental” em conversas informais, em notícias da imprensa ou em discussões científicas em ambientes académicos. Reconheço a minha dificuldade: não percebo o que é “ocidental”, nem o que é “oriental”, e muito menos onde está a fronteira entre esses dois supostos universos. Ficando pelo caso do cinema, que é o assunto da crónica e serve como exemplo suficiente: terá a mesma “perspectiva ocidental” um filme produzido em Portugal, em França, na Alemanha, no Brasil, na Argentina, no México ou nos Estados Unidos? Ou de outra forma, ficando pelo mesmo país: será a mesma “perspectiva ocidental” a que é transmitida num filme realizado por, digamos, Quentin Tarantino, Steven Spielberg, Martin Scorsese, David Fincher Fincher ou Spike Lee? Talvez sejam muito maiores as diferenças que as semelhanças entre as abordagens destes realizadores, ainda que todos sejam, não só “ocidentais”, como da mesma nacionalidade.

O mesmo se passa, naturalmente, em relação à suposta “perspectiva oriental”. Serão assim tão semelhantes as abordagens cinematográficas no Japão, na China, no Vietname ou nas Filipinas? Haverá uma linguagem ou um fundamento comum que as distinga de uma qualquer “perspectiva ocidental”? Não há diferenças significativas de abordagens dentro de cada um destes países? Pela parte que me toca, confesso o meu limitado (ou nulo) entendimento do que me querem dizer quando no Japão me falam em “perspectiva ocidental”, o que acontece com frequência e em contextos muito diferentes. Espero, em todo o caso, que com estas singelas crónicas não esteja a representar toda uma perspectiva civilizacional “ocidental” e me responsabilize apenas a mim próprio.

Elogio dos filmes longos

[dropcap]H[/dropcap]á um famigerado, sacramental e tácito postulado entre os “dealers” e leiloeiros de arte nova iorquinos segundo o qual qualquer quadro terá de caber nos elevadores dos edifícios de apartamentos de Park Avenue.

Também no cinema é princípio consuetudinário que a duração dos filmes se inscreva entre os 80 e os 120 minutos. Em ambos os casos o propósito é o mesmo: não afastar consumidores por motivos meramente logísticos. Tanto um filme demasiado curto como um desmedido desorganizam os horários das salas de cinema impedindo-as de realizar a habitual quantidade de sessões às horas do costume.

A extensão dos filmes foi o combustível de uma “cause celebre” que definiu de vez a relação de poderes da indústria cinematográfica. Em 1925 o realizador Erich von Stroheim das 85 horas que havia filmado insistiu numa versão final de “Greed” com cerca de 8 horas e o jovem Irving Thalberg, há pouco tempo posto à cabeça dos estúdios da MGM, tirou-lho das mãos, mandou-o remontar sob a sua supervisão e deu à luz uma cópia com 140 minutos. A queda em desgraça do primeiro e o prestígio do segundo consubstanciaram-se com tal desfecho, mas além desta consequência imediata o que definitivamente ficou estabelecido foi assegurar que o produtor é quem na verdade imprime a sua marca no resultado final de um filme.

De modo que os filmes longos, muito longos, passaram a ser uma raridade circunscrita a um cinema de distribuição marginal. Até porque, é uma evidência, ninguém tem vida para se enfiar numa sala durante mais de 5 horas – ou bastante mais…

Há porém outra e menos referida causa para tal raridade, que não se detém na paciência do espectador, sequer nas dificuldades de produção. Um filme de longa duração exige uma segurança e uma maestria invulgares na manipulação do elemento mais volátil, impertinente, indómito, implacável, unívoco e, no fundo, essencial do cinema – o tempo.

Na verdade o rabo é o grande sensor da capacidade de envolvência de um filme, ao qual produtores e realizadores costumam – ou deviam – dar atenção. Quando as sinapses trazem ao cérebro sinais de incómodo do rabo no contacto com a cadeira é porque o enfado está a tomar conta dos nossos sentidos. E o enfado, como se sabe, é irreversível.

Quer isto dizer que duração não é demora. Sobram por aí curtas-metragens ditas de autor que abrem num plano estático e por lá ficam. Vasculhamos com o olhar os quatro cantos do enquadramento, tornamos a dar a volta e aquilo ainda ali está sem nada mais para dizer mesmo quando tem árvores batidas ao vento. Ao cabo de um punhado de prolongadíssimos minutos percebe-se que tanta e tão pretensiosa solenidade comparece unicamente para remediar o vácuo, que a coisa tem bazófia de sinfónica, mas é composição de uma nota só. A sensação de morosidade de um filme depende, portanto, da sua redundância, não do comprimento.

Fomos acostumados a que os filmes nos exijam concentração e esperteza para seguir as subtilezas do enredo, palpitação emocional para viver as alegrias e tristezas das personagens, contemplação ou deslumbramento perante as vistas e panoramas que ele nos dá a ver. Em troca é suposto devolverem um troço de vida condensada; em 90 minutos podem passar lá dentro décadas de história ou uns intensos momentos de drama.

Um filme verdadeiramente longo obriga à disponibilidade de uma viagem de avião intercontinental, sem mais nada que fazer senão estar ali. Ora isto tem potencial para originar um enorme prazer, equivalente ao de uma imersão total num universo paralelo. Estou em condições de afirmar que me custou sair de “Satantango” (1992) de Bela Tarr com 7h30m ou do documentário “Near Death” (1989) de Federick Wiseman com 6h, porque em ambos já me havia integrado neles e acomodado a permanecer ali dentro.

Noutros casos são filmes oceânicos, nos quais mergulhamos e vamos nadando durante um tempo, sabendo que não poderemos ir até ao seu fundo nem atravessá-los com as nossas pequenas braçadas – são muito maiores do que nós. A experiência de assistir a “Hitler” (1977) de Syberberg com 7h22m ou de “Le Soulier de Satin” (1985) de Manoel de Oliveira com 6h50m é a de começar a sentir que “aquilo” subsistirá para sempre independentemente de mim.

Ver um filme longo, tal como a difícil arte de ficar um ínterim sem fazer nada, oferece-nos um benefício precioso e cabal, que é o de ganharmos uma percepção do tempo doutro modo inalcançável.

Recomeçar, sempre

[dropcap]T[/dropcap]odos os dias a vida recomeça. Dormir marca o reinício do nosso sistema operativo. No sono e no sonho, embora sentados na cadeira de comando, não somos nós que pilotamos. Melhor: é outra instância da identidade, uma à qual só temos acesso abdicando da lucidez e do controlo. O sonho tem a consistência da vida. Tudo quanto nos acontece no sonho nos parece tão real como aquilo que, de facto, tomamos como o sendo. Na verdade, não podemos afirmar com certeza não estar a viver um sonho. Não há nenhuma prova de que estamos acordados que não possa ser produzida num sonho. Esta é a premissa de muitos filmes de ficção científica, nomeadamente do Matrix.

Outro dos problemas filosóficos equacionados no filme é o da relação entre a lucidez e a felicidade. Tendo em conta que passamos mais de um terço da nossa vida a dormir, se pudéssemos controlar os nossos sonhos, e tendo em conta o absoluto valor de verdade que lhes emprestamos quando os vivemos, que seria preferível? Estar acordado e sofrer ou sermos felizes a sonhar? Os sonhos não são normalmente sequenciais, como a vida o é. O adormecer e o acordar estão ligados por uma continuidade de sentido a que damos o nome de vida. Cada sonho, por sua vez, é um acontecimento fechado. E se não o fosse? Ao contrário do que acontece agora, os sonhos podiam ter o formato narrativo da vida. Poderia dar-se o caso de nos vermos confrontados com a escolha de Cypher, do filme supracitado? “Sabe, eu sei que este bife não existe. Eu sei que quando o ponho na boca, a Matrix está a dizer ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após nove anos, sabe o que é que percebi? A ignorância é uma bênção.”

A maior parte de nós passa por tormentas na vida cuja resolução é improvável ou difícil. “Quem me dera dormir e acordar com tudo bem”. Já dissemos e/ou já ouvimos isso mais que uma vez. Alguns de nós não descartariam inclusive passar uma boa parte da vida numa simulação na qual pudéssemos ser tudo o que não fomos ou, pelo menos, felizes. Entre um estado de lucidez e um sonho, a diferença é unicamente o estatuto.

No entanto, temos dificuldade em aceitar a possibilidade de estarmos equivocados quanto ao estatuto da nossa experiência. Até podemos escolher viver na mentira, desde que tal corresponda a uma decisão nossa e saibamos onde começa um estado e acaba outro. O que não conseguimos aparentemente tolerar é a possibilidade de estarmos na ilusão sem saber a que corresponde a realidade. O nosso ponto de vista está calibrado, nas palavras de um professor de ontologia que tive, na “precisão indespedível da verdade”. O estatuto da experiência vital não nos é acessório. Pelo contrário, este apego transcendental à verdade ocupa uma posição mais central e decisiva do que felicidade. Sucede é que na maior parte do tempo pensamos estar na posse de uma compreensão adequada do que se está a passar. Por isso nos parece que a felicidade é o ponto arquimédico sobre o qual assenta o edifício da existência. Querem uma prova? Experimentem acordar num quarto fechado, sem se lembrarem de como lá foram parar. Qual é a primeira pergunta que se imaginam fazer?

A realidade é demasiado perseverante, demasiado ubíqua. Está por todo o lado. Há dias em que gostaríamos de lhe fechar a porta e a ela voltar remendados, refeitos, curados. Mas quando fechamos a porta, seja ela qual for, o que fica do lado de dentro não difere em nada daquilo que fica lá fora. Mesmo que diminuta, a realidade restante ainda nos consegue esmagar. Deveríamos saber como dormir mais e melhor. Como encadear os sonhos ao jeito de contas num fio. Ou como tornar cada recomeço “o dia inicial e limpo” da Sophia.

Cinestesia 2

[dropcap]O[/dropcap]bjectos parados parece que estão em movimento. Objectos em movimento parece que estão parados. A nossa perspectiva influencia o aspecto das coisas. Ganho perspectiva que me permite ver uma coisa que antes não via, antes de a perspectiva ter sido constituída. Levanto-me da secretária e vejo o livro que caiu. Sento-me. De novo, perco o livro do horizonte da visão, mas sei que está junto à parede, onde caiu. Perco a perspectiva, perco o alvo em mira. Abaixo-me e estico-me para apanhar o livro. O livro parece aumentar de tamanho. Só no tacto é do mesmo tamanho. Pequenas são as coisas ao longe. Não: parecem pequenas. Não: parecem menores. À medida que nos aproximamos delas ou elas de nós parecem ser maiores. As coisas parecem aumentar e diminuir de tamanho: tão perto que não percebemos as suas formas geométricas e tão longe que deixamos de as ver. Há um cânone: entre o longe e o perto, entre a quantidade máxima com que nos surgem e a quantidade mínima com que nos podem surgir. Mas as coisas têm sempre o mesmo tamanho, a mesma forma, a mesma configuração. É com essa identidade em vista que achamos que as coisas não se deformam, nem mudam de configuração, não se transformam. Também sucede que julgamos bem quando dizemos que as coisas estão paradas ou estão em movimento, quando aparentam estar em movimento ou paradas. Na estrada, vejo lá ao fundo as bermas intersectarem-se mas sei que a largura da estrada é a mesma, aqui onde me encontro e lá ao fundo onde estarei daqui a breves instantes.

Tenho a percepção tácita de que para trás a base do triângulo também não se alarga, mas mantem exactamente o mesmo paralelismo. Se olho para trás, tenho a sensação de que lá ao fundo de onde venho também as linhas paralelas das bermas se encontram. Não há o acompanhamento do juízo lógico: a base do triângulo alarga. Antes estreita. Mas as linhas paralelas definidas pelas bermas da estrada não se encontram apenas aparentemente. Tenho a sensação de que a estrada lá ao fundo está mais elevada, que é como se estivesse a subir uma alameda. Eu encontro-me num plano inferior relativamente ao plano superior da estrada lá ao fundo. Olho para trás e não tenho a sensação de que a estrada no ponto de partida esteja num ponto ainda mais inferior. Antes pelo contrário, verifico que o ponto de partida como o ponto de chegada estão em planos superiores. O que sucede é então provocado pela perspectiva criada pela distância. Tudo o que está ao longe está à frente ou atrás num plano mais elevado, superior. O longe tende a conglomerar as coisas. Os pontos onde as coisas se encontram não são tão dispersos pelos diversos planos que definem entre o ponto em que nos encontramos e o plano de fundo criado pela linha do horizonte. Os pontos são atraídos, sugados e puxados pela linha do horizonte, pela abóbada celeste, tendem a estar no plano definido pela abóbada, lá ao fundo: pontos concentrados e colados todos eles pelo longe. Todas as coisas que se encontram em pontos que definem planos entre o nosso ponto de vista e o plano de fundo estão espalhados.

Cada coisa em cada ponto, no seu ponto, define um plano. Mas há muitos mais planos do que os que são definidos pelas coisas que realmente aparecem. Eu estou no meio de uma esfera, de uma atmosfera, de um horizonte hemisférico que define potencialmente planos em todos os pontos em que eu possa focar a visão.
Há tantos hemisférios quantas as perspectivas que se abrem no horizonte. Posso olhar absorto para o horizonte, como quando estou no lugar do morto e alguém conduz o carro ou como quando estou a olhar para a frente sentado no banco do autocarro. Mas quando fixo o olhar na estrada, é no carro da frente ou no outro a seguir. Ou então olho para a frente para o ponto em que de modo aparente as linhas definidas pelas bermas da estrada se encontram. Mas posso olhar também para o céu ao crepúsculo e ver as estrelas do céu ou as nuvens que passam. Deixo de olhar para a frente que noto que o faço através do vidro do carro. Olho para o porta luvas para apanhar um CD ou então um lenço de papel. Entrego-o à J. que conduz. Olho de novo em frente. Constitui sempre alvos diferentes. Consoante os sítios em que se encontram percebo que estão definidos hemisférios diferentes. O plano de fundo pode ser o interior do carro, sem que perda a noção do seu exterior. Quando olho de novo para o horizonte, o exterior do carro é o campo extremo da minha percepção que engole não apenas o interior do carro mas a estrada com todas as viaturas que aí transitam. É também interior o céu e as nuvens que passam ou as estrelas espalhadas e distribuídas pela sua vasta extensão. Para onde quer que olho, frente, trás, cima, baixo, direita e esquerda, dentro e fora, percebo sempre um plano de fundo Relativamente a esse plano de fundo defino potencialmente diversos planos onde as coisas estão distribuídas. Fixo os meus óculos, e os olhos e o nariz e parte do bigode. Entre o aqui muito próximo em que me encontro e o ali há todo um conjunto de planos definidos entre o mais próximo coincidente comigo e o mais longínquo longe. Tudo é sempre frente. Eu tenho a noção da nuca e da parte de trás invisível do meu corpo, das nádegas, das costas assentes na cadeira, tenho noção do interior, mas eu vejo apenas de frente. Tenho noção dos objectos que vejo de frente, mas percebo que só vejo deles o lado deles que está virado para mim: não vejo nunca o interior dos objectos e não vejo o lado deles tapado por outros objectos. Entre nós e as coisas só há o plano definido pelo espaço intermédio entre o aquém e o além de nós e dos objectos. Tenho noção de coisas atrás de mim. Elas não desaparecem apenas por deixar de vê-las, elas não desaparecem quando passo por elas. O lado dos quartos que não vemos não desaparece e está a fazer sistema com o lado dos quartos para que estamos a olhar. Eu não vejo o quadro na sala atrás de mim e posso ver a porta lá ao fundo. Não vejo a porta porque estou a olhar para o ecrã do computador. Ainda assim, penso na porta lá ao fundo como uma ausência tão completa para a visão como o quadro que sei que está pendurado atrás de mim. Olho para a porta e deixo de ver o computador. Olho para trás e vejo o quadro.

Deixo de ver tudo o que estava a ver. Estamos continuamente a poder deixar de ver tudo o que estamos a ver ou poderíamos ver, ao olhar de frente, quando mudamos de enfoque. Se da esquerda passamos para a direita, se de cima para baixo, se do longe para o perto, se do interior para o exterior: e tudo continuamente ou nunca. Mesmo que nunca virasse a cabeça ou fixasse pontos diferentes do espaço, nunca faria a ideia de que as coisas desapareceriam se eu deixasse de me focar nelas e passasse a focar outras noutros planos. Do mesmo modo se estivesse continuamente e mudar de enfoque, a alterar a perspectiva, a constituir aspectos diferentes às coisas, não me perderia na velocidade estonteante com que tudo se altera convulsivamente. E o que se passa com a atenção prestada e não dada às coisas?

Festival Fringe | Lei Sam I à procura do sentido da vida num supermercado

O festival Fringe recebe nos dias 25 e 26 deste mês um espectáculo fora dos palcos habituais. “Pequeno Escape” acontece no supermercado Tai Fung do edifício Vai Chun Garden, na Taipa, e é nele que Lei Sam I vai reflectir sobre a sua vida e como devemos aproveitar o momento presente

 

De onde surgiu a ideia para este projecto?

Sempre que fico frustrada com a vida, o meu passeio preferido é, muitas vezes, deambular entre as prateleiras e corredores dos supermercados. Olhar para os produtos organizados nas prateleiras sempre me deu algum conforto. Uma vez estava a olhar para os produtos, e na parte de fora lia-se: preço, ingredientes, data do produto e a data de validade. E eu pensei: “Até que ponto nos parecemos com isto, a nossa vida enquanto seres humanos e produtos?”. Temos data de nascimento, qualificações pessoais e valores de vida. A única coisa que nos falta saber é qual será o último dia das nossas vidas. Fiquei intrigada e isso levou-me a reflectir sobre o que, de facto, me interessa, neste preciso momento. Foi aí que quis começar a escrever um guião sobre a vida de uma rapariga, desde a sua juventude até à velhice, e de como ela vai enfrentando as diferentes dificuldades ao longo da vida. Além disso, procura também a coisa mais importante da sua vida. Espero que, com este espectáculo, e em conjunto com o público, possamos encontrar uma resposta para ela e para mim.

Como vai ser o espectáculo, exactamente?

O palco será num supermercado e o espectáculo decorre durante as horas de abertura do estabelecimento. Durante a performance o público vai ter auscultadores com descrições áudio da história do espectáculo. Vai ser uma viagem sobre a mudança entre a realidade (o supermercado que funciona nas horas de expediente) e a ficção (o espaço teatral) e a protagonista (que serei eu). Todos estes elementos vão guiar o público para diferentes fases da vida da protagonista, e vão levar as pessoas a perceber como é que ela cresceu e se transformou entre uma idade e outra. Vão também decorrer sessões de jogos e outras actividades interactivas ao longo do espectáculo, que está cheio de gargalhadas e emoção.

Que mensagem pretende transmitir com este espectáculo?

Aproveitem o momento. Com esta actuação especial gostaria de recordar às pessoas que, independentemente do quão stressante a vida pode ser, e de como algumas memórias podem ser dolorosas, ou até de como nos arrependemos de algumas decisões que tomamos, nunca nos podemos esquecer que não há nada melhor do que aproveitar o “momento”.

Qual é a importância de fazer espectáculos em lugares onde as pessoas vão diariamente, como é o caso dos supermercados?

Tem tudo a ver com a investigação de um propósito meu, que é a forma como vivo o momento presente. Talvez seja uma auto-reflexão filosófica no teatro sobre a minha própria vida. Shakespeare disse uma vez: “O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres são meros actores”. Pergunto-me como é que as pessoas encaram estas palavras. O teatro pertence à vida mas está além dela, então como é que encaramos a vida? Como é que todo o “momento” que acontece em palco é diferente daquele que acontece na vida real? Para encontrar a resposta, a ideia de “pôr no palco a vida real” não me saía da cabeça, numa tentativa de “construir a ficção sobre a realidade”, e chegar a ideias mais profundas que variam entre os dois “momentos”. Espero quebrar o status quo teatral ao mudar o auditório, mudando, assim, a perspectiva do público, para que o possa levar a ter a uma experiência ainda mais única.

Acha que este tipo de projectos deveriam acontecer mais em Macau? Porquê?

Em termos de dimensões e estilos, há variadíssimos supermercados em Macau, mas a viabilidade desta performance não está limitada à nossa comunidade. Cada região e país têm os seus próprios supermercados com características diferentes, além da história que é gravada previamente, e depois difundida no palco, podemos perfeitamente imaginar em colocar este espectáculo em qualquer supermercado do mundo. Tudo o que precisamos é de uma mudança na linguagem e da tradução. Isso seria fascinante.

Professor da UM fora da corrida a reitor da Universidade de Coimbra

Yang Chen, professor da Universidade de Macau, desistiu de concorrer à reitoria da Universidade de Coimbra por a audição pública dos candidatos ao cargo ter que ser feita em português, uma língua que não domina

 

[dropcap]Y[/dropcap]ang Chen, um dos cinco aspirantes a reitor da Universidade de Coimbra, retirou a sua candidatura ao cargo. A informação foi avançada pela própria instituição de ensino superior num comunicado, divulgado na noite de quarta-feira, que não adiantava, porém, os motivos.

“Disseram-me que tenho de fazer a apresentação em português, língua que eu não falo”, explicou ontem o professor de Matemática da Universidade de Macau ao HM, referindo-se à audiência pública dos candidatos, marcada para o próximo dia 4 de Fevereiro.

Na entrevista concedida ao HM, publicada na edição de quarta-feira, o académico, natural de Singapura, tinha antecipado a possibilidade de não chegar à fase da audição pública dos candidatos, dado que estava a aguardar por uma resposta ao e-mail que enviara sobre a possibilidade de fazer a apresentação em inglês, por não falar a língua de Camões.

Actos e omissões

O regulamento eleitoral deixa claro que o programa de acção a submeter aquando da apresentação das candidaturas tinha de ser redigido em português – algo que Yang Chen cumpriu e por isso foi aceite como candidato. No entanto, as regras nada referem sobre a língua a ser usada na audição pública.

Com a saída de Yang Chen, o número de candidatos à liderança da Universidade de Coimbra fica reduzido a quatro. Além do actual vice-reitor Amílcar Falcão, do docente e investigador na área da inteligência artificial Ernesto Costa e do director da Faculdade de Letras, José Pedro Paiva, participa na corrida a astrónoma brasileira Duília Fernandes de Mello, que passou a ser agora a única estrangeira aspirante ao cargo.

A eleição do reitor da Universidade de Coimbra para o mandato 2019-2023 vai ser feita numa reunião plenária do Conselho Geral, marcada para o próximo dia 11 de Fevereiro. O Conselho Geral da Universidade de Coimbra é constituído por 18 representantes dos professores e investigadores, cinco estudantes, dois trabalhadores não docentes e não investigadores e dez elementos externos à instituição.

Estacionamento ilegal | Três jovens acabam presos

[dropcap]T[/dropcap]rês jovens foram detidos e acusados pelas autoridades da prática do crime de furto pelo facto de terem retirado um bloqueador de um veículo que estava estacionado no parque de estacionamento de um hotel do Cotai há dois meses.

De acordo com o jornal Ou Mun, um dos jovens, que é proprietário do automóvel, está também acusado do crime de burla, tendo recusado pagar o montante de 40 mil patacas relativo aos dois meses de estacionamento.

O dono do carro, que já foi presente ao Ministério Público, disse que estacionou o veículo no local porque um amigo lhe disse que o serviço era gratuito. Dois meses depois descobriu que tinha uma dívida de 40 mil patacas, tendo ido com os outros dois detidos, na quinta-feira da semana passada, retirar o bloqueador do carro.

TSI | Pedro Chiang perde recurso

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) negou ontem provimento a um recurso interposto por Pedro Chiang contra um despacho proferido por uma juíza do Tribunal Judicial de Base.

Em causa estará uma questão jurídica relacionada com a prescrição de um dos processos em que esteve envolvido. O empresário foi condenado à revelia nomeadamente por subornar o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas Ao Man Long.

Património | Recolhidas 200 opiniões sobre classificação de nove bens imóveis

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) recebeu aproximadamente 200 opiniões sobre a classificação do segundo grupo de bens imóveis desde a entrada em vigor da Lei da Salvaguarda do Património Cultural, durante a consulta pública, que terminou no passado dia 5, ao fim de dois meses.

Em comunicado, divulgado ontem, o Instituto Cultural (IC) indicou que a maioria dos que participaram nas três sessões de consulta pública manifestou apoio à classificação do conjunto, sem especificar quantos.

Em causa, figuram nove bens imóveis. A saber: o Posto do Guarda-Nocturno (Patane), o Templo de Sin Fong, as Ruínas do Colégio de S. Paulo (Antigo Muro, troço na Rua de D. Belchior Carneiro, n.º 35), o Edifício na Calçada do Gaio, n.º 6, o Edifício na Estrada da Vitória, n.º 30, as Casas Moosa, o Cemitério de S. Miguel Arcanjo, o Antigo Mercado do Tarrafeiro e a Feira do Carmo (Antigo Mercado Municipal da Taipa).

O IC tem agora um máximo de 180 dias para apresentar o relatório final relativamente às opiniões recolhidas.

Oito projectos culturais vão receber financiamento do IC

[dropcap]O[/dropcap]ito de 16 projectos foram escolhidos no âmbito do programa de subsídios à arte da comunidade 2019, anunciou ontem o Instituto Cultural.

“Minha História na Jornada” (Comuna de Pedra), “Borboleta Colorida Espalhando Asa – Projecto de Coesão Comunitária de Teatro Uma Pessoa Uma História” (Zero Distance Cooperative), “Luzes Cintilantes e Flores Resplandecentes – Projecto de Arte Comunitária” (Dream Theater Association) figuram entre os seleccionados.

O projecto “Mapa da Comunidade de Coloane e Visita guiada dos Moradores” (Rolling Puppet Alternative Theatre), “Diário da Comunidade do Porto Interior 2019” (Arts Empowering Lab), “O Que Eu Posso Fazer?” (Godot Art Association), “Sobre Nós” (Four Dimension Spatial) e “Exposição Temporária – Plano de Consolidação Comunitária da Rua dos Ervanários” (Own Theatre) completam a lista de projectos seleccionados para receber financiamento do IC.

O programa, lançado pela primeira vez em 2013, tem como finalidade encorajar os grupos artísticos locais a entrarem nos bairros comunitários ou numa comunidade social particular instando os residentes a desenvolverem criações artísticas.

Casinos | Pedidos de exclusão de acesso com aumento significativo em 2018

[dropcap]A[/dropcap] Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) registou, no ano passado, um total de 490 pedidos de exclusão de acesso aos casinos, ou seja, mais 114 do que em 2017. Do total, 417 foram de auto-exclusão (85,1 por cento) enquanto os restantes 73 foram submetidos por terceiros, de acordo com dados publicados no ‘site’ da entidade reguladora.

Ao abrigo da lei, que condiciona a entrada, trabalho e jogo nos casinos, o director da DICJ pode interditar o acesso a todos os casinos, ou a apenas alguns, pelo prazo máximo de dois anos, às pessoas que o requeiram ou confirmem requerimento apresentado para este efeito por cônjuge, ascendente, descendente ou parente em 2.º grau.

O número de pedidos de exclusão de acesso aos casinos tem seguido uma tendência de aumento desde a entrada em vigor da lei, em 1 de Novembro de 2012. A título de exemplo, em 2013 foram registados 276 pedidos, contra 351 em 2016 e 376 em 2017.

Casinos | Número de menores de 21 anos recusados à entrada em 2018 diminui

[dropcap]M[/dropcap]ais de 400 mil menores de 21 anos foram impedidos de entrarem em casinos durante o ano passado. Dados facultados ao HM pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) indicam que 401.851 foram bloqueados à entrada, enquanto 173 foram apanhados no interior dos casinos.

O número global (402.204) traduz uma diminuição face a 2017, ano em que aproximadamente 430 mil menores de 21 anos tentaram infringir a lei de condicionamento da entrada, do trabalho e do jogo nos casinos, ao abrigo da qual as concessionárias estão impedidas de contratar ou de permitir o acesso aos espaços de jogo por parte de menores de 21 anos.

A lei prevê sanções administrativas para quem violar as regras, cujas multas oscilam entre as mil e dez mil patacas. É ainda imposto um “dever de fiscalização” às concessionárias de jogo, cujo incumprimento é penalizado com coimas que vão de dez mil patacas até 500 mil patacas.

Além do Corpo de Polícia de Segurança Pública e da Polícia Judiciária, são autoridades competentes para solicitar a identificação dos frequentadores dos casinos e para ordenar a sua expulsão, quando em exercício de funções, inspectores da DICJ e respectivas chefias, e os directores dos casinos. A lei determina que “os trabalhadores das concessionárias no exercício das funções de fiscalização da entrada nos casinos podem solicitar prova da idade às pessoas que pretendam frequentar os casinos e vedar a entrada a quem a recuse”.