Conferência | Cultura na Grande Baía discutida a partir de domingo

O académico português Rogério Miguel Puga, da Universidade Nova de Lisboa, é um dos oradores convidados da conferência que arranca este domingo, intitulada “A Missão Cultural para o Desenvolvimento e a Construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, promovida pelo Governo. Ao HM, o investigador revela que vai abordar sobretudo “o papel pioneiro de Macau nas relações sino-ocidentais desde o século XVI”, um ponto diferenciador face às restantes cidades que integram o projecto político de Pequim

 

[dropcap]M[/dropcap]uito se fala do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau como o próximo hub tecnológico do sul da China, à semelhança de Silicon Valley, nos Estados Unidos. Contudo, o Governo da RAEM decidiu olhar para o projecto desenvolvido pelo Governo Central de uma perspectiva cultural, ao organizar a conferência “A Missão Cultural para o Desenvolvimento e a Construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”. A iniciativa é da Direcção dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, liderada por Mi Jian, e tem lugar entre este domingo e a próxima quarta-feira, dia 14.

Um dos convidados portugueses é Rogério Miguel Puga, académico da Universidade Nova de Lisboa (UNL) que se tem debruçado nos últimos anos sobre o estudo da história e cultura de Macau e que vai falar da importância que o território tem para a história e cultura da zona da Grande Baía.

Ao HM, o investigador adiantou o tema da sua palestra. “Falarei sobre o papel pioneiro de Macau nas relações sino-ocidentais desde o século XVI, sobretudo até à fundação de Hong Kong pelos britânicos”. À data, o pequeno território no sul da China teve um papel “primordial como porta de entrada dos ocidentais na China e de saída de chineses, onde, nessa câmara de descompressão cultural, se habitavam as costumes e línguas ocidentais”.

Macau desempenhou esse papel “único” até ao século XIX, possuindo uma importante história no contexto do Delta do Rio das Pérolas, na China, em Portugal (a nível nacional) e a nível internacional, pois “a partir do ano de 1700 chega a Companhia das Índias Inglesas e no final do século XVIII os norte-americanos”.

Primeira em quase tudo

Não é por acaso que Pequim deseja que Macau desempenhe um papel primordial no contexto da Grande Baía, dando um enorme destaque político ao seu posicionamento. Rogério Miguel Puga recorda que foi em Macau que começou quase tudo o que estava ligado ao Ocidente.

“Foi através do território que se introduziu a medicina ocidental na China, onde houve o primeiro hospital e a primeira universidade ocidentais na China, teve o primeiro farol ocidental e a primeira imprensa ocidental. Aliás, os marcos históricos das relações sino-ocidentais até 1842 envolvem sempre Macau”, recorda.

O Templo de Kun Iam foi o local escolhido para a assinatura do primeiro tratado sino-americano, algo que aconteceu “na mesa de pedra que ainda lá está”. O território acolheu também o primeiro museu na China, organizado por ingleses e americanos, “a primeira biblioteca em língua inglesa e foi o espaço feminino do comércio ocidental na China, pois as mulheres ocidentais não podiam entrar na China”.

Estas ficavam então estabelecidas em Macau, “onde ajudavam a cuidar dos negócios dos maridos quando eles subiam a Cantão, como aconteceu com Rebecca Kinsman, cujo marido está sepultado no Cemitério Protestante de Macau”.

Neste sentido, o académico português considera que “a dimensão histórica e cultural da Grande Baía, nomeadamente no que diz respeito às relações sino-ocidentais, não pode ser esquecida, e este congresso é prova de que não está a ser”. “Macau foi pioneiro nas relações exteriores da China e tem uma relação especial com Portugal, podendo reclamar a si esse papel simbólico”, acrescentou.

“Uma posição ímpar”

Tendo em conta todo este manancial histórico, Rogério Miguel Puga defende que o Governo deve fomentar o relacionamento de Macau com o espaço lusófono, pois o território foi “o primeiro espaço-fronteira de contacto contínuo com ocidente, onde sempre houve tolerância cultural”. Deve-se, por isso, “estimular as relações com os países lusófonos e continuar a rentabilizar, em termos de património e de turismo cultural, a dimensão portuguesa do passado histórico da cidade. Como, aliás, tem sido feito”.

Questionado sobre a preservação da cultura macaense face a outras expressões culturais da China, Rogério Miguel Puga adiantou que devem ser aproveitadas as “especificidades culturais e históricas, como RAEM da China, para destacar a sua identidade própria no seio da China multicultural e diversificada”.

Macau “é uma cidade-fronteira e de contacto desde o século XVI, virada para o mar, que nasceu da pesca e do comércio internacional, logo é um símbolo essencial e antigo da Grande Baía e da actual Rota da Seda, é um Janus cultural, como alguém já lhe chamou”.

No que diz respeito a Hong Kong, Rogério Miguel Puga acredita que existem “objectivos idênticos, comuns”. “Deve ser levado a bom porto os objectivos do desenvolvimento sustentável da Grande Baía, também através das relações e dos negócios com o estrangeiro. Deve existir um papel local, regional, nacional e internacional, como Macau sempre teve”, frisou.

Outras áreas abordadas

O HM contactou a Direcção dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional no sentido de saber a lista completa de oradores. O organismo dirigido por Mi Jian esclareceu que foram convidados para o evento “60 académicos, incluindo dois portugueses”. Até ao fecho da edição, não o HM não conseguir confirmar a identidade do outro convidado português.

A conferência irá debruçar-se sobre áreas como a história, filosofia, religião, política, Direito, linguagem, arte e literatura nas nove cidades que compõem a iniciativa da Grande Baía.

O Governo de Macau justifica a realização desta conferência com o facto de Macau “ter uma missão muito explícita e específica que é diferente de outras cidades da Grande Baía”, uma vez que o próprio projecto do Governo Central tem a missão de se desenvolver “na base do intercâmbio e cooperação onde a cultura chinesa é a base e diversas culturas coexistem”.

Além disso, este papel constitui “uma afirmação das raízes profundas de Macau no que diz respeito ao seu estatuto cultural e histórico”, sendo que Pequim “depositou grandes expectativas para o próximo papel que Macau irá desempenhar no intercâmbio cultural global e na integração”.

A direcção de serviços liderada por Mi Jian relembra ainda que “a história única de Macau formou uma ecologia cultural muito especial”, existindo não apenas uma forte presença da cultura chinesa, mas também de um multiculturalismo “baseado na cultura Ocidental, que tem vindo a espalhar-se”.

A realização desta conferência tem como objectivo “responder à confiança e expectativa do país” e também demonstrar “as características humanísticas únicas e o charme da coexistência multicultural de Macau”, sem esquecer a promoção do conceito de “construir uma comunidade com um futuro partilhado em mente”.

Activistas de Hong Kong pedem renúncia do governo em conferência inédita

[dropcap]T[/dropcap]rês membros do movimento pró-democracia de Hong Kong fizeram hoje uma conferência de imprensa inédita em que usaram máscaras e pediram a renúncia da chefe do executivo e uma investigação à acção da polícia nas manifestações locais.

Além da renúncia de Carrie Lam e da investigação à polícia, os representantes do movimento pró-democracia de Hong Kong pediram uma amnistia para os manifestantes e a suspensão da polémica lei de extradição para a China.

A conferência de imprensa foi dada, segundo explicaram, para não deixar o monopólio da comunicação ao executivo da cidade, alinhado com Pequim. Hong Kong está a viver a pior crise política do território desde que voltou a pertencer à China, em 1997, contando já dois meses de manifestações, com confrontos cada vez mais frequentes entre pequenos grupos radicais e a polícia anti-motim.

O movimento pró-democracia não assumiu, no entanto, nenhum líder claro por medo de retaliações, e a organização das suas acções é feita nas redes sociais. Vestidos com a roupa associada ao protesto, uma camisa preta e um chapéu amarelo, dois homens e uma mulher com as caras tapadas por máscaras falaram com os jornalistas, naquela que foi a primeira conferência de imprensa de representantes do protesto.

“Esta plataforma visa contrabalançar o monopólio do governo sobre o discurso político”, explicou um deles, assegurando que não falavam em nome de nenhum partido político, mas sim “em nome do povo”.

“Pedimos ao governo que capacite as pessoas e responda aos apelos dos cidadãos de Hong Kong”, afirmaram, em declarações lidas em inglês e em cantonês.

Hoje, a polícia de Hong Kong anunciou que deteve 148 pessoas na segunda-feira, à margem das manifestações pró-democracia na ex-colónia britânica. Na segunda-feira, a polícia de Hong Kong já tinha avançado ter detido 420 pessoas desde que os protestos começaram, há nove semanas.

Numa outra conferência de imprensa dada pelo porta-voz do Gabinete de Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês, a China avisou os responsáveis pelos protestos em Hong Kong de que “serão punidos”, chamando-lhes “criminosos e radicais”. O porta-voz lembrou ainda que ninguém deve subestimar “o imenso poder do Governo central”.

“Nunca subestimem a forte determinação e o imenso poder do Governo central” e “não confundam contenção com fraqueza”, disse numa conferência de imprensa, um dia após uma greve geral e manifestações marcadas por mais confrontos com a polícia na antiga colónia britânica.

“Deve ficar muito claro para o pequeno grupo de criminosos violentos e sem escrúpulos e às forças repugnantes por detrás deles: aqueles que brincam com fogo morrerão pelo fogo”, disse.

“No final, eles serão punidos, (…) é uma questão de tempo” e “terão de enfrentar a Justiça”, acrescentou, ao mesmo tempo que reiterou o apoio de Pequim à chefe do Governo de Hong Kong e à polícia, sublinhando que têm capacidade para reprimir os actos criminosos e violentos e para restaurar a ordem pública”. “Aqueles que brincam com fogo morrerão pelo fogo”, avisou.

China suspende compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos

[dropcap]A[/dropcap] China anunciou hoje a suspensão da compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos em resposta ao recente anúncio de Washington de que aumentará as taxas alfandegárias sobre 300 mil milhões de dólares de bens importados do país asiático.

Em comunicado, o ministério chinês do Comércio considerou o aumento anunciado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e que entra em vigor a partir de 1 de Setembro, como “uma séria violação do encontro entre os chefes de Estado da China e dos Estados Unidos”.

“Foi acordado que a Comissão de Taxas Alfandegárias do Conselho de Estado não descarta taxar a importação sobre os produtos agrícolas norte-americanos adquiridos depois de 03 de Agosto, e as empresas chinesas relacionadas suspenderam a compra de produtos agrícolas dos EUA”, indica o texto.

O ministério do Comércio apontou o “enorme mercado” do país asiático e diz que há “grandes perspectivas para a importação de produtos agrícolas americanos de alta qualidade”.

No entanto, enfatizou que essas “perspectivas” dependem que Washington “cumpra com o consenso alcançado na reunião entre os chefes de Estado da China e dos EUA”.

Os dois Governos impuseram já taxas alfandegárias sobre milhares de dólares às importações de ambos.

Na segunda-feira, a moeda chinesa, o yuan, caiu abaixo da barreira dos sete yuan por um dólar, o valor mais baixo em mais de dez anos, o que levou Washington a classificar a China de “manipulador cambial”.

China avisa que “serão punidos” os “criminosos e radicais” de Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] China apelidou hoje de “criminosos e radicais” os responsáveis pela violência dos protestos em Hong Kong, advertiu-os de que “serão punidos” e avisou que ninguém deve subestimar “o imenso poder do Governo central”.

“Nunca subestimem a forte determinação e o imenso poder do Governo central” e “não confundam contenção com fraqueza”, disse o porta-voz do Gabinete de Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês, Yang Guang, numa conferência de imprensa, um dia após uma greve geral e manifestações marcadas por mais confrontos com a polícia na antiga colónia britânica.

“Deve ficar muito claro para o pequeno grupo de criminosos violentos e sem escrúpulos e às forças repugnantes por detrás deles: aqueles que brincam com fogo morrerão pelo fogo”, disse Yang.

“No final, eles serão punidos, (…) é uma questão de tempo” e “terão de enfrentar a Justiça”, acrescentou, ao mesmo tempo que reiterou o apoio de Pequim à chefe do Governo de Hong Kong e à polícia, sublinhando que têm capacidade para reprimir os actos criminosos e violentos e para restaurar a ordem pública”.

Na semana passada, o exército chinês divulgou um vídeo no qual os seus soldados simulavam operações anti-motim. Questionado pelos jornalistas, o porta-voz do Gabinete de Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês nunca admitiu uma eventual intervenção militar no território, que regressou à China em 1997.

O alto responsável chinês adiantou que desde o início dos protestos ficaram feridas 900 pessoas, 130 das quais são polícias, e que os quase dois meses de contestação “têm tido um grande impacto na prosperidade” de Hong Kong, dando como exemplo os protestos de segunda-feira que obrigaram ao cancelamento de 250 voos e bloquearam durante cinco horas a circulação no metro.

O impacto negativo na economia de Hong Kong, insistiu, já é visível nas estatísticas dos primeiros seis meses, tanto na ocupação de hotéis, como ao nível do investimento.

Uma “desordem” cuja responsabilidade Yang atribuiu também às forças anti-China que estão, sustentou, a “tentar escalar as tensões sociais” e a “provocar os elementos radicais contra a polícia”.

E explicou: “É tempo de as pessoas de Hong Kong se erguerem e protegerem o seu território”, de se “acabar com a violência e restaurar a ordem”.

O responsável fez ainda questão de repetir as palavras proferidas na segunda-feira pela chefe do Governo da região administrativa especial chinesa, Carrie Lam, que afirmou que os protestos estão a colocar a cidade “à beira de uma situação muito perigosa”.

Hong Kong vive há quase dois meses um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Uau, o Chefe reagiu

Bastaram umas notícias sobre o silêncio do Chefe do Executivo relativamente ao seu alegado envolvimento na futura Sociedade Gestora do Fundo para o Desenvolvimento e Investimento da RAEM, ou sobre casos de corrupção, para se organizar uma conferência de imprensa.

Este silêncio por parte do Chefe do Executivo não surpreende, pois há muito que se depreende que a RAEM é governada em modo piloto automático. O dinheiro dos casinos está sempre a entrar, Pequim determinou o papel de Macau como plataforma, criaram-se umas comissões para o projecto da Grande Baía e “Uma Faixa, Uma Rota” e o resto vai-se fazendo e contornando de forma bastante unilateral em cada secretaria tirando, claro, eventuais excepções e casos pontuais em que toda a equipa do Governo reúne.

Não é preciso ser-se um especialista em ciência política para perceber que há muito que cada secretário está a fazer o seu trabalho. Raimundo do Rosário tenta resolver a maioria dos problemas que Macau tem, pois arcou com a pasta dos Transportes e Obras Públicas. Sónia Chan assina acordos que em Portugal são considerados inconstitucionais, mas está tudo bem.

Wong Sio Chak entretém-se com a lei da protecção civil e da cibersegurança e Lionel Leong mantém o seu silêncio sobre o futuro do jogo. Mas está tudo bem. Afinal de contas, o Governo muda já em Dezembro.

A primeira e última opera seria de Offenbach

[dropcap]Q[/dropcap]uando Jacques Offenbach começou a escrever a ópera Les contes d’Hoffmann (Os Contos de Hoffmann) em 1877, a sua derradeira obra, apesar da sua fama, o compositor queria ser conhecido por mais do que apenas as suas operetas superficiais, desejando que os Contos de Hoffmann o estabelecessem como um mestre reconhecido de ópera séria. Embora fosse exactamente isso que aconteceu, infelizmente, o compositor não viveu o suficiente para o constatar.

Durante a sua vida, Offenbach tornou-se mundialmente famoso como compositor de operetas – geralmente comédias leves, ostentando dezenas de melodias cativantes que muitas vezes sobreviveram às obras para as quais foram escritas. O principal exemplo é o ubíquo “Can-Can” da sua opereta Orfeu nos Infernos – um número que lança três ou quatro melodias instantaneamente reconhecíveis, tudo no espaço de cerca de noventa segundos.

A ópera em três actos, com prólogo e epílogo, Os Contos de Hoffmann, é baseada numa peça dos escritores Jules Barbier, que escreveu o libreto, em francês, e Michel Carré. A peça, Les contes fantastiques d’Hoffmann, que Offenbach viu, produzida no Théâtre Odéon em Paris em 1851, faz do poeta alemão da vida real, E.T.A. Hoffmann, um personagem nalgumas das suas próprias histórias fantasiosas. O drama de Offenbach segue o mesmo esquema, colocando o personagem principal em três histórias fantásticas de amor fracassado, Der Sandmann (O Homem de Areia), 1816, Rath Krespel (Conselheiro Krespel), 1818, e Das verlorene Spiegelbild (A Reflexão Perdida), 1814. O resultado é uma das óperas mais grandiosas e expressivas de toda a ópera francesa do século XIX – alcançando uma combinação de profundidade emocional e brilho musical que apenas os melhores compositores de ópera igualaram.

Les Contes d’Hoffmann foi agendada para estrear no teatro Gaîte-Lyrique de Paris durante a temporada de 1877-78 mas, por dificuldades de orçamento, acabaria por ficar destinada a outro teatro, a Opéra-Comique. Mas Offenbach morreu em Outubro de 1880, quatro meses antes da estreia, enquanto a produção ainda estava em ensaios, deixando a partitura incompleta. A primeira apresentação, numa versão abreviada, tinha ocorrido em privado em casa de Offenbach, no dia 18 de Maio de 1879, na presença do compositor, do director da Opéra-Comique, Léon Carvalho e do director do Ringtheater Wien, Franz von Jauner. Ambos solicitaram os direitos, mas Offenbach conferiu-os a Carvalho. A primeira apresentação pública teve lugar na Opéra-Comique no dia 10 de Fevereiro de 1881, sem o terceiro acto, atingindo a centésima representação no dia 15 de Dezembro do mesmo ano, mas um fogo em 1887 destruiu as partes orquestrais e a produção foi suspensa. Apesar disso, uma verão em quatro actos com recitativos foi encenada no Ringtheater, em Viena, no dia 7 de Dezembro de 1881.

Não voltaria a ser encenada em Paris até 1893, no Théâtre-Lyrique, mas com apenas 20 representações. Uma nova produção de Albert Carré (incluindo o terceiro acto) foi encenada na Opéra-Comique em 1911, permanecendo em repertório até à Segunda Guerra Mundial, e alcançando 700 representações no teatro. Em Março de 1948 Louis Musy criou a primeira produção do pós-guerra em París, dirigida por André Cluytens. A Ópera de Paris produziu pela primeira vez a obra em Outubro de 1974, dirigida por Patrice Chéreau com a participação do famoso tenor Nicolai Gedda no papel principal.

A ordem original de Offenbach, recentemente recuperada, é: Prólogo–Olympia–Antonia–Giulietta–Epílogo – pois durante muito tempo representou-se o acto de Giulietta como o segundo e o de Antónia como o terceiro. Idealmente, as três intérpretes, que não são senão diferentes encarnações dos amores de Hoffmann, deveriam ser interpretadas pela mesma cantora, o que nem sempre aconteceu. Porém é normal que os quatro papéis de “vilão” (Lindorf, Coppelius, Miracle e Dapertutto) sejam interpretados pelo mesmo barítono, já que os quatro são encarnações diferentes do mesmo génio do mal que em cada ocasião frustram Hoffmann. Alguns outros papéis podem ser dobrados.

No Prólogo, numa taberna em Nuremberga, a musa aparece, tomando a aparência de Niklausse (nesta ópera interpretado por uma mulher), o fiel companheiro de Hoffman, explicando que tem sido responsável pelo fracasso de todos os amores do poeta, para ele se devotar inteiramente à poesia. A primadonna Stella, a actuar na ópera Don Giovanni de Mozart, envia um bilhete a Hoffmann, marcando encontro para aquela noite, no seu camarim, depois da récita. O bilhete e a chave do camarim são interceptados por Lindorf, que assume em toda ópera várias versões do espírito maléfico do poeta. Os estudantes chegam à taberna e pedem a Hoffmann para lhes cantar a Balada de Kleinsack. A meio da história, em vez de descrever a cara do anão, Hoffmann começa a divagar, obcecado com a imagem de Stella, que amou outrora.

De seguida, propõe contar a história dos seus três malogrados amores, dando início ao Acto Um. O primeiro dos seus amores é Olímpia, uma linda boneca de corda. O seu inventor, Spalanzani, apresenta-a ao poeta como sua filha. O cientista Coppelius, que lhe constrói os olhos, quer uma participação financeira na invenção. Chegam convidados para ver o prodígio.

Esta canta a famosa ária “Les oiseaux dans la charmille” em que vai ficando sem corda. Hoffmann dança maravilhado com Olímpia, que vai levando mais corda, num crescendo vertiginoso até se desconjuntar toda, perante o olhar horrorizado do poeta.

No Acto Dois, passado num quarto em casa de Crespel, em Munique, Hoffmann conhece o seu segundo amor: Antónia, uma jovem cantora lírica com tuberculose. Sempre que Antónia se lembra da sua defunta mãe, também cantora, começa a cantar, piorando a sua condição. O seu pai Crespel, tem-na fechada. Hoffmann aparece e apaixonam-se. O doutor Miracle chega convencendo Crespel que tem a receita para a cura da sua filha e embora Hoffmann tente fazer ver que o doutor Miracle é o espírito do mal, Miracle alicia Antónia a cantar, dizendo-lhe que não se pode perder um talento assim. Saca do seu violino e toca freneticamente até a jovem sucumbir, desaparecendo logo a seguir. Quando o pai regressa e vê a filha morta, culpa Hoffmann do sucedido.

No Acto Três, passado num salão de festas de um palácio em Veneza, à beira do Grande Canal, os convidados esperam a bela cortesã Giulietta, que canta com Niklausse a muito famosa barcarola de Offenbach “Belle nuit, ô nuit d’amour”. Giulietta acompanhada do seu amante Schlemil convida todos para uma partida de cartas. Dapperttutto tira um grande diamante do bolso e revela o meio de fazer Giulietta apaixonar-se por Hoffmann. É só olharem para o diamante para este fazer as suas almas fundirem-se. Ambos caem apaixonados, e Schlemil rancoroso quer vingar-se, desafiando Hoffmann para um duelo. Com a espada de Dapertutto, o poeta consegue matar o rival, obtendo ainda a chave do quarto de Giulietta. Nesse momento vê-a passar no canal, nos braços de outro amante.

A história termina na taberna de Luther, assim como a ópera Don Giovanni. Sem dúvida que Stella personifica os três amores de Hoffmann, mas este está tão embriagado que nem repara que é com Lindorf que a primadonna sai da taberna.

 

Sugestão de audição da obra:
Jacques Offenbach: Les contes d’Hoffmann
Plácido Domingo (tenor) as Hoffmann; Edita Gruberova (soprano) as Olympia, Giulietta and Antonia; James Morris (bass) as Miracle; Christa Ludwig (mezzo-soprano) as Antonia’s mother; Choeur de Radio France; Orchestre Nationale de France, Seiji Ozawa – Deutsche Grammophon: 4276822

A mulher do Primo Basílio

[dropcap]E[/dropcap]stava uma daquelas manhãs perfeitas de Inverno em São Paulo, em que a temperatura ronda os 20° centígrados com um céu completamente limpo. Fui a pé até ao sebo do escritor Evandro Affonso Ferreira, junto à FNAC de Pinheiros – que já não existe mais – para uns dedos de conversa e a tentativa de encontrar uma edição boa e barata das obras de Monteiro Lobato. Depois de uma boa hora de conversa e passar os olhos em algumas possíveis edições da obra que queria – só uma delas não estava incompleta – Evandro pede-me desculpa, mas tinha de tratar de um assunto pelo telefone, antes de sairmos para almoçar, deixando-me a passear sozinho pelo sebo. Àquela hora raramente entravam pessoas. Quis o destino que nesse dia entrasse uma mulher muito branca, magra, com um vestido comprido e os cabelos ruivos apanhados em rabo de cavalo. Tinha à volta dos seus quarenta anos, a mesma idade que eu na altura em que vivia em Sampa. Dirigiu-se a mim e, confundindo-me com o dono do sebo, denunciando ser a sua primeira vez, pergunta-me se tenho uma edição de “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós. Respondi-lhe que não trabalhava ali e que o meu amigo já a atendia, assim que deixasse o telefone. Reparando no meu sotaque, deixou saiu um “ah, português!”, que denunciou também não pertencer a este lugar. Evandro demorava e a curiosidade aumentava. Do meu lado por saber o que fazia uma estrangeira em Sampa à procura de “O Primo Basílio”, do lado dela por querer saber quem era este portuga, que tinha um amigo num sebo de Sampa. Chamava-se Simone, era francesa e vivia em Sampa há seis anos. Tinha vindo em 2000 com uma bolsa da PUC para estudos brasileiros e acabou por ficar cá. Agora ensinava na universidade “leitura criativa” e tinha acabado de se mudar para o bairro de Pinheiros. O seu interesse no livro de Eça de Queirós vem de há muito e não era para ler, mas para reler, pois nas mudanças acabou por perder uma das caixas dos livros, aquela onde estava o seu exemplar. E preparava-se para ministrar um curso sobre esse livro, segundo semestre. Há muito que não lia esse livro de Eça e fiquei curioso acerca do interesse de Simone.

Ela sorriu e disse: “venha assistir às minhas aulas”. Perguntei: “E posso?” Podia, claro.
Evandro finalmente largou o telefone, e atendeu Simone. Arranjou-lhe um exemplar da Editora Estadão, da colecção Ler é Aprender. O Evandro fez questão de me apresentar como um escritor português, que estava a viver agora no Brasil. Trocámos os telefones e os emails, ela saiu, o Evandro e eu fomos almoçar com outro nosso amigo – quem há meses me apresentara Evandro – o Guilherme Resstom. O almoço correu bem, como usualmente, e eu regressei a casa. Ao abrir o email, tinha uma mensagem de Simone, que gostava de tomar café comigo um dia destes. Encontrámo-nos no Pirajá – icónica cervejaria de Sampa, que tem o melhor chopp do mundo –, passado uma semana ao fim da tarde.

No primeiro dia não tinha reparado, mas desta vez não me escapou como ela aparentava ser triste. À medida que fomos conversando, fui ficando convencido de se tratar de um evidente caso de tristeza aparente. Simone era triste por fora. Triste para transeunte ver. Em certo momento, disse: “Vivo sem cães, sem gatos, sem filhos, sem homens.” Mais tarde conheci-lhe a casa – quase sem móveis, sem objectos desnecessários – e pude comprovar o quanto era espartana. Os livros eram a sua verdadeira companhia. Os livros e a música, que estava continuamente a tocar num aparelho estéreo. Música clássica, maioritariamente.

Desde esse dia no Pirajá, passamos a ser cúmplices, a trocar mensagens sobre literatura e sobre a experiência de ser-se estrangeiro no Brasil, ainda que estrangeiros diferentes. Como ela mesma costumava dizer, uma mulher é sempre mais estrangeira, para onde quer que imigre.

Por sua causa reli “O Primo Basílio”, assisti ao seu curso e isso de algum modo mudou a minha vida. A intensidade da sua leitura, o seu modo de ver por dentro as personagens, as situações de vida – a existência, no fundo – marcou o modo como leio hoje essa obra de Eça de Queirós.

Esta obra era apenas um dos cursos que dava, maioritariamente o seu ensino era sobre Guimarães Rosa e Stendhal.

Um dia perguntei-lhe porque não regressava a França, ao que me respondeu: “Não se pode querer compreender a literatura de um país, à distância. À distância podemos gostar de todas as literaturas, mas para as compreendermos temos de viver onde elas foram escritas. Não sei muito sobre a literatura portuguesa, como sei sobre a brasileira, nem sequer sobre Eça de Queirós. Como você viu, o meu curso sobre “O Primo Basílio” é um curso impressionista e existencial, de quem gosta e se identifica muito com essa obra. Mas não é como quando ensino Guimarães Rosa ou Stendhal.” Deixei São Paulo, acabámos por deixar de trocar mensagens, mas ainda hoje me lembro do nome que lhe passei a chamar, que a fazia rir: “A mulher do Primo Basílio”.

Giacomo Leopardi

[dropcap]E[/dropcap]steve uma imensa Lua-Cheia, a última da Primavera, e o tempo é vertical nestes momentos e quase sempre estamos mais perto do espaço sideral; subitamente recordo-me como ela será no deserto e vejo então o «Pastor errante da Ásia» esse canto noturno de Leopardi! Nada nos traz mais viva a Galáxia que um poema destes, nem as sombras da noite nos cansam a marcha, nem a Lua nos entontece, há aqui um caminho de estrelas a seguir, que todas elas e a Lua nos oferecem rotas prodigiosas. Parece que se passa lá para o Médio Oriente, entre a terra do Sião e a Pérsia, é certamente próximo destes territórios, onde iria ele buscar os rebanhos e a contemplação de uma noite assim? – «… tu sabes, por certo, a que doce amor sorria a Primavera/ mil coisas tu sabes, mil coisas descobres, que ficam ocultas ao simples pastor…/ que quer dizer esta imensa solidão? E eu, quem sou?».

Leopardi foi um dos maiores poetas italianos do século XIX, romântico, central na cultura literária do seu tempo, a sua curta vida pareceu não ser um acaso feliz já que Leopardi de saúde frágil se tornou um enclausurado, nesta clausura teve mestres eclesiásticos dado a severa rigidez moral de uma família cuja mãe funcionava como o maior “aperto” para a cura. Nobre por nascimento, tinha na biblioteca paterna o único refugio e talvez a forma de pastorear o seu rebanho debaixo de uma Lua imaginária do tamanho da sua própria solidão. Era um classicista, um homem cheio de Mediterrânio; traduz Homero, é um pensador notável, um ensaísta brilhante e filólogo, mas é na poesia que recorre à sua possível libertação de homem condenado. Ela ser-lhe-á vital para prolongar os dias da sua vida. O Iluminismo dá-lhe também alento de prosseguir na demanda de um pensamento, não só absolutamente bem estruturado, como libertador.

Se nos detivermos na sua vida pouco fértil em movimento, vamos paradoxalmente achar nela um homem de visão cosmológica impressionante, como se na quietude observa-se de um ponto remoto o Universo, e poemas como «Infinito» estão plasmados no seu interior por janelas que contemplam a distância, e também esse pensamento, essa forma de sentir em meditação lhe conferem ampla beleza e acentuada lucidez. É um poema sublime! Projecta-se em grandes interrogações filosóficas e quase temos um taumaturgo que a partir de bases precárias indaga as suas desconhecidas sugestões como um enamorado face à maravilha da possível existência do amor. Leopardi, também aqui não foi feliz! Experiências dolorosas o deixam ainda mais à beira da fadiga e quase disfere um golpe cínico e fatal em « Aspasia» uma espécie de vingança, uma luta que trava no seu interior, este homem, que afinal tinha um coração imenso que batera toda a vida, fá-lo parar, sem antes dizer que era a única beleza do mundo, mundo que devia ser pequeno, a ver pela amplitude de como falava da imensidão.

Leopardi morreu por esta altura de Junho, quem sabe se na última Lua-Cheia da Primavera, e é dos tais poetas que estão escondidos nas nebulosas dos nossos sonhos, mas que não podemos passar sem eles, estava a trabalhar em « Moralidade Operette» reunido em «Pensamentos» e em tom satírico e irónico o seu género poético exigiu aqui o abandono do estilo lírico adoptando um ritmo narrativo mais crítico face ao pensamento contemporâneo, as questões sociais nunca foram deixadas de fora na sua inquietação, mas, sem dúvida que as analisava também a partir da infeliz experiência da sua própria vida. A sua força foi imensa, e só para o fim se lhe apodera um estado de espírito céptico para o qual a sua transbordante natureza de poeta não conseguiu lidar com governação e esperança renovada. Tinha trinta e nove anos durante uma epidemia de cólera e a sua saúde sempre frágil não resistiu. Talvez se o tivessem amado…Mas os poetas não são para amar. Quem lhes dera serem compreendidos e ternamente suportados por um sincero carinho de alguém. Não sendo o caso, a morte, que tanto desejou, deve-lhe ter parecido abençoada. A Terra é local maravilhoso para se erigirem templos de fogo!
E ainda a Lua, a sua Lua de pastor:

Isto eu conheço: que estas eternas caminhadas do meu frágil ser, algum bem ou contentamento outros terão…. para mim a vida é mal. Mil coisas tu sabes que ficam ocultas a um simples pastor….

As noites de Lua-Cheia das últimas Primaveras. Leopardi é um nome também inesquecível, é como o silêncio, tem a fome e a beleza nas vogais… vagueia só pelas savanas e a morte ronda-lhe o corpo alto como um anel de vento. Esquelético e vertiginoso, esquece a sua demanda osmótica na paisagem, e salta para a vida como uma última fronteira.

Óbito | Morreu o realizador D.A. Pennebaker, mestre do documentário

[dropcap]O[/dropcap] cineasta norte-americano D.A. Pennebaker, considerado um mestre do género documental e muito atento à música popular, morreu na quinta-feira aos 94 anos, informou ontem a revista especializada Variety.

O realizador, que filmou documentários sobre Bob Dylan, David Bowie ou o Festival de Monterrey de 1968 foi uma figura central do designado “Direct Cinema”, um subgénero do documental que na década de 1960 tentou reflectir a realidade da forma mais objectiva possível, incluindo a espontaneidade e sem omitir no resultado final os erros técnicos ou as imperfeições.

Em 2012, Pennebaker, natural de Evanston (Illinois), recebeu um Óscar honorífico pelo seu longo percurso, onde sobressaem documentários não ficcionais como “Bob Dylan: Dont Look Back” (1967), “Monterey Pop” (1968), “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1973), “The War Room” (1993), “Down from the Mountain” (2000), “Elaine Stritch at Liberty” (2002) ou “Kings of Pastry” (2009).

Após os seus primeiros passos no cinema e na direcção de várias “curtas”, participou em “Primary” (1960), um influente documentário sobre o confronto entre dois políticos norte-americanos, John F. Kennedy e Hubert H. Humphrey, para a nomeação democrata na corrida à Casa Branca.

Grande Muralha da China | Badaling ganhou controlo de turistas 

[dropcap]B[/dropcap]adaling deixou de ser a zona mais visitada da Grande Muralha da China, em Pequim, desde que as autoridades chinesas impuseram um limite de 65 mil turistas por dia a partir do dia 1 de Junho deste ano. De acordo com a agência noticiosa Xinhua, esse número foi estabelecido para garantir a segurança não apenas dos turistas mas também do monumento.

Ainda assim, no final do mês de Julho a zona de Badaling tinha recebido mais de 2.23 milhões de visitantes, tendo sido lançados quatro alertas vermelhos sobre o excesso de capacidade do local. Só em 2018 mais de 9.9 milhões de pessoas visitaram Badaling, tendo o número de turistas flutuado entre as épocas baixas e altas. A enorme popularidade do local afectou o lado patrimonial, pelo que passou a ser obrigatória a marcação de visitas, de acordo com as autoridades que gerem a zona.

Localizada no distrito de Yanqing, em Pequim, a 60 quilómetros na zona norte da capital, Badaling tem sido o local mais conhecido para visitar a Grande Muralha da China. Muitas personalidades estrangeiras passaram pelo local desde a década de 50.

Exposição | Depois de Londres, iniciativa da associação YunYi regressa a Macau

A capital do Reino Unido foi a morada escolhida pela Associação de Artes e Comunicações Culturais YunYi para a exposição itinerante deste ano. Um total de 20 artistas, dez de Londres e dez de Macau, expuseram na Europa. Os trabalhos chegam ao Oriente este mês e em Dezembro, ficando expostos na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap]H[/dropcap]á muito que a Associação de Artes e Comunicações Culturais YunYi (YunYi Arts & Cultural Communications Association) se dedica a mostrar obras de arte de artistas consagrados e dos que estão a dar os primeiros passos nesta área. O objectivo é que estas obras não fiquem num sítio específico mas sejam apresentadas não apenas em Macau mas também ao público europeu.

Desta vez o local escolhido para a exposição, intitulada “London x Macao Art of Illustration” foi, tal como o nome indica, a capital londrina, tendo curadoria de Eric Wong. Um total de 20 artistas, dez de Macau e dez de Londres expuseram os seus trabalhos, com o objectivo de “promover os artistas naturais de Macau e também uma colaboração cultural”, disse Eric Wong ao HM.

A exposição esteve patente apenas entre os dias 2 e 4 de Agosto, na Leyden Gallery, mas não quer dizer que a iniciativa se esgote aqui. Christine Hong Barbosa, presidente da associação, disse ao HM que as obras vão voltar a estar expostas em Macau já este mês e em Dezembro, na galeria da Fundação Rui Cunha.

De Macau participam artistas como Angela Ramos, Eric Wong, Christina Kong e Dilys Leong, entre outros. No que diz respeito aos artistas londrinos, constam nomes como Arnelle Woker, Adam Latham ou Qiong Wu.

Christine Hong Barbosa adiantou ao HM que a escolha dos artistas acabou por acontecer de forma natural, uma vez que muitos deles já conheciam o projecto. “Estamos próximos e fomos recomendados por pessoas que conhecem o nosso evento. Alguns são artistas que descobrimos online ou através de diferentes plataformas. Alguns são artistas emergentes, outros já estão no mercado e alguns estão interessados em tornar-se artistas”, referiu.

Partilhas em rede

O principal foco desta mostra é a ilustração. Nas palavras de Christine Hong Barbosa, “a ilustração constitui uma representação geográfica de um mundo real ou imaginário, incluindo uma matriz de técnicas como o retrato, a fotografia ou a pintura”. Esta representação artística “é usada para transmitir pensamentos, sentimentos, factos e emoções, com o papel de atrair as atenções, persuadir, criar contexto, informar, entreter um público ou levar a uma compreensão”.

Com este evento, a YunYi pretende “criar uma rede entre a comunidade de artistas emergentes e consagrados e providenciar-lhes a oportunidade de partilharem informação sobre os novos desenvolvimentos do seu trabalho, para que se possam promover”.

Além das exposições, a associação também promove seminários e workshops a fim de “aumentar a consciência sobre esta forma particular de arte junto do grande público”.

Christine Hong Barbosa frisou ainda que o principal objectivo da associação que dirige sempre foi “colaborar com organizações artísticas que trabalham para promover a arte e a cultura de e à volta de Macau”. “O nosso objectivo é providenciar aos artistas locais as oportunidades para que possam expandir e fazer crescer as suas carreiras, e para que possam partilhar o seu trabalho junto do grande público numa larga escala”, adiantou.

Além disso, a YunYi “reúne artistas de Macau com outros artistas internacionais de vários pontos do globo, a fim de promover uma partilha intelectual de ideias entre todas as culturas”.

“Esperamos que este projecto nos faça dar um passo em frente para atingir o nosso objectivo”, rematou a responsável da associação.

PJ | Detido alegado operador de uma rede de cartões de crédito falsos 

[dropcap]U[/dropcap]m homem oriundo do Zimbabwe, com 46 anos de idade, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) por alegadamente ter feito pagamentos numa pensão com um cartão de crédito falso.

A investigação preliminar das autoridades concluiu que o homem terá sido contratado por uma rede criminosa de falsificação de cartões de crédito para operar a mesma rede em Macau. Suspeita-se que desde Junho o homem terá feito cerca de 30 pagamentos no valor total de dez mil dólares de Hong Kong.

A PJ descobriu ainda que os dados dos cartões de crédito incluem países como a Austrália, Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul, tendo sido detectados seis cartões falsos. O indivíduo já foi presente ao Ministério Público, sendo suspeito do crime de contrafacção, passagem de moeda falsa e burla informática.

Suncity Group | Alvin Chau impedido de entrar na Austrália

Alvin Chau está proibido de entrar na Austrália pelo Ministério do Interior australiano, por suspeita de ligação a organizações criminosas envolvidas em lavagem de dinheiro em larga escala. Chau reagiu, afirmando que não pretende ir à Austrália nos próximos doze meses

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente executivo do Suncity Group, Alvin Chau, foi impedido de entrar na Austrália pelas autoridades locais. O motivo apontado foi o alegado envolvimento da maior empresa de junkets que opera em Macau em crimes de branqueamento de capitais, em associação com a operadora Crown Resorts Limited que explora os casinos australianos, revela o jornal The Age.

A suspeita partiu de uma investigação jornalística que envolveu as plataformas The Age, The Sydney Morning Herald e o 60 Minutes que ligava a Crown a associações criminosas, com as quais mantinha esquemas de lavagem de dinheiro. De acordo com as reportagens, uma entidade ligada ao jogo em Macau teria sido directamente licenciada pela Crown para operar na Austrália e exercer a actividade de junket, atraindo grandes apostadores.

A investigação baseou-se no acesso a e-mails internos, documentos privados e depoimentos de ex-trabalhadores do grupo Crown.

Alerta dado

Os media australianos revelam ainda a ligação da Crown com o Suncity Group, comprovada por um relatório interno do Hong Kong Jockey Club de Maio 2017 em que, as autoridades australianas indiciam os responsáveis do grupo junket como suspeito de ligações a figuras do crime organizado relacionadas com “operações de lavagem de dinheiro em larga escala”.

O relatório avança que “as entidades responsáveis do Suncity Group (…) [incluindo] Alvin Chau (…) colocam riscos criminais e de reputação ao clube [Hong Kong Jockey]”. “As personalidades-chave da Suncity Group demonstraram ligações com numerosas tríades de sociedades e figuras do crime organizado”, dizia o relatório, acrescentando que Chau e um colega eram supostamente membros da tríade de 14K.

Segundo o The Age, a parceria entre o Suncity Group e a Crown estende-se à exploração de jogo VIP no Crown Casino Melbourne, e também ao seu rival na Austrália, o The Star.

Em resposta às acusações, a Crown Resorts Limited acusa o trabalho dos jornalistas de ser “sensacionalista” e “infundado”.

Já Alvin Chau reagiu ontem através de um comunicado enviado pelo grupo Suncity à Bolsa de Hong Kong a referir que não tinha qualquer conhecimento da investigação por parte das autoridades australianas e que não pretendia deslocar-se àquele país nos próximos doze meses.

O melhor parceiro

Para aumentar as receitas do jogo VIP proveniente de jogadores internacionais, a direcção executiva da Crown Resorts Limited começou, em 2014, a reforçar os laços com o Suncity Group, refere a mesma fonte, acrescentando que, “como muitos dos principais operadores de casinos, a Crown contorna as leis chinesas que proíbem o fluxo de grandes somas de dinheiro da China continental”. O Suncity Group traz assim apostadores de alto risco, oferece empréstimos sem juros e faz a cobrança das dívidas, contextualiza o The Age.

Na altura, o chefe de marketing internacional da Crown Resorts Limited, Michael Chen afirmava que “O Suncity é o maior grupo de junkets em Macau e está a tornar-se numa peça importante no sector do jogo”. “A sua abordagem agressiva, a projecção de marca e orientação de serviço fazem deles um óptimo parceiro para a Crown”, acrescentava um memorando da operadora.

Por cá tudo bem

Recorde-se que o Suncity Group foi, no mês passado, acusado por um jornal do grupo da agência estatal chinesa Xinhua de ter um mega-esquema de jogo online no Interior da China, com recurso a cartões de telemóvel de Macau, para a realização de apostas à distância.

Depois da publicação do artigo no Economic Information Daily, o Suncity Group emitiu um comunicado a negar qualquer prática ilegal.

Após a notícia, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos reuniu com um representante da companhia de junkets e avisou a que mesmo as actividades fora de Macau podem fazer com que lhe seja retirada a licença para operar como promotora do jogo.

DSEC | Capital de novas sociedade cresce exponencialmente

[dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Direcção de Estatísticas e Censos (DSEC) revelam que no primeiro semestre deste ano constituíram-se 3.278 sociedades, mais 3,3 por cento face a igual período de 2018. O capital social destas sociedades cifrou-se em 3,40 mil milhões de patacas, o que representa um aumento de 647 por cento. Nos primeiros seis meses dissolveram-se 421 sociedades, que registavam um capital social de 157 milhões de patacas.

Em termos anuais, e até ao segundo trimestre deste ano, o número de sociedades registadas totalizou 69.042, ou seja, mais 5.255. Olhando para os números relativos apenas ao segundo trimestre, houve menos 55 sociedades constituídas, num total de 1665 empresas criadas, face a igual período de 2018. Pelo contrário, houve um aumento de 879,6 por cento no seu capital social, cifrando-se em 2,16 mil milhões de Patacas.

De entre as sociedades constituídas no segundo trimestre, 529 exploraram as actividades do comércio por grosso e a retalho e 395 os serviços prestados às empresas. No trimestre de referência dissolveram-se 211 sociedades e o capital social destas sociedades alcançou 76 milhões de patacas.

O capital social das sociedades de Macau cifrou-se em 1,93 mil milhões de patacas, representando 89,4 por cento do total. O capital social das sociedades constituídas de Hong Kong foi de 151 milhões de patacas, enquanto que das empresas oriundas do Interior da China ficou-se em 72 milhões de patacas.

As sociedades provenientes de cidades que constituem o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau contabilizaram um capital social de 62 milhões de patacas, sendo que só a cidade de Zhuhai representou 90,1 por cento desse montante.

Hong Kong | Jornalista falsifica cartão do JTM para cobrir manifestações

Conhecido por se ter envolvido numa altercação com o activista Edward Leung, Lo Wing-ying, trabalhador do jornal de Hong Kong Ta Kung Pao fez-se passar por profissional do Jornal Tribuna de Macau para cobrir as manifestações da região vizinha

 

[dropcap]O[/dropcap] jornalista Lo Wing-ying fez-se passar por profissional do Jornal Tribuna de Macau (JTM) para fazer a cobertura dos incidentes em Hong Kong. O caso foi revelado ontem pela Campus TV, canal da Associação de Estudantes da Universidade de Hong Kong, que apresenta imagens do cartão falsificado da publicação de Macau.

Na identificação falsa, Lo Wing-ying aparece com o nome de Lo Ho-yin. A posição assumida no JTM seria a de repórter e o número de funcionário o 426. Quando a Campus TV divulgou a notícia, avançou que o cartão era falsificado e que Lo é trabalhador do Ta Kung Pao, publicação pró-Pequim de Hong Kong.

Ao HM, o administrador do Jornal Tribuna de Macau, José Rocha Diniz, confirmou que não existe qualquer funcionário com este nome e que a identidade dos repórteres do JTM pode ser confirmada através da ficha técnica da publicação.

“Não é repórter e não conheço essa pessoa. Aliás, como se pode ver pela ficha técnica [do jornal]. Nem sei quem é essa pessoa. Essa pessoa não existe [no jornal]”, disse o administrador.

“Não sei quem é, mas vou ponderar apresentar queixa dele. Não existem acreditações do tribuna a não ser para os nossos jornalistas. Mas, o facto de ter o número 426 até dá vontade de rir… parece que temos uma redacção enorme”, acrescentou.

José Rocha Diniz fez ainda questão de frisar que não tem qualquer ligação com o jornalista ou a publicação em causa: “É evidente que não tenho nada a ver com isto”, sublinhou.

No cartão apresentado por Lo pode ainda ler-se a palavra “pressione”, uma tradução automática para português da palavra “imprensa”.

Cara conhecida

O facto de Lo Wing-ying utilizar um cartão falso para fazer a cobertura dos eventos está relacionada com dois aspectos. Por um lado, o jornal Ta Kung Pao é marcadamente pró-Pequim, com posições e notícias muitas vezes vistas como apenas a “voz do dono”, ou seja, um meio para o Governo Central passar mensagens.

Numa das manifestações a 16 de Junho, que passou à frente da sede do jornal, houve vários gritos contra a publicação. Um dos slogans mais repetidos foi o pedido para que o Ta Kung Pao fosse comer fezes.

Por outro lado, Lo não é uma cara totalmente desconhecida do público. A 13 de Agosto de 2016, o jornalista terá alegadamente atacado o activista Edward Leung, na estação de metro de Taikoo.

Como resultado, Lo e Edward Leung foram detidos e posteriormente libertados, com a promessa de que não cometeriam mais infracções à lei durante um período de 12 meses. Tiveram ainda de pagar mil dólares de Hong Kong.

Depois da notícia da falsificação começar a circular, o jornal Ta Kung Pao emitiu um comunicado a condenar alegadas agressões a um dos seus jornalistas, na noite de domingo. Segundo a publicação da região vizinha, parte do material do seu funcionário foi roubado.

Macau People Power quer colégio eleitoral eleito democraticamente

[dropcap]A[/dropcap] Associação Macau People Power entregou ontem uma carta ao Governo a pedir que os eleitores qualificados de Macau possam ter direito a eleger os 400 membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo na Sede do Governo.

Como argumento para a reivindicação, o presidente da associação, Si Tou Fai, recordou o princípio “Um País, Dois Sistemas” proposto pelo ex-presidente chinês Deng Xiaoping, que confere a Macau e a Hong Kong, as duas regiões administrativas especiais da China, “um alto grau de autonomia”. Como tal, seria prevista a implementação de uma eleição democrática “mais moderna”.

“No entanto, para a eleição do quinto Chefe do Executivo, o Governo voltou a adoptar o método do “voto de membros do grupo”, para eleger os membros do colégio eleitoral, lamentou.

Embora a Lei Básica de Macau não determine que o Chefe do Executivo possa ser eleito pelos residentes, para Si Tou Fai, o colégio eleitoral deve ser “amplamente representativo” das intenções de voto da população, pelo que deve ser eleito por ela.

Pouco exemplar

Por outro lado, este ano marca o vigésimo aniversário do “Retorno de Macau à Pátria”, e é o momento em que se realiza a quinta eleição do Chefe do Executivo do território, sendo que em Janeiro, numa palestra por ocasião dos 40 anos da divulgação da “Mensagem aos Compatriotas de Taiwan”, o actual Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng e único candidato ao mais alto cargo do Governo, afirmaram que Macau implementou com sucesso o princípio “Um País, Dois Sistemas”, salientando que Macau é um “exemplo de sucesso”, apontou Si Tou Fai aos jornalistas na altura em que entregava a missiva ao Governo.

O representante da Macau People Power sublinhou ainda que devido à recente situação de conflitos em Hong Kong, o Governo de Taiwan e os seus residentes consideram que o princípio de “Um País, Dois Sistemas”, e um alto grau de autonomia não passa de uma mentira. O mesmo se aplica à actual situação eleitoral de Macau, “em ter apenas um único candidato ao cargo de Chefe do Executivo”. Desta forma é impossível convencer Taiwan a acreditar no princípio proposto por Deng Xiaoping e na autonomia que o ex-presidente chinês ambicionava para as regiões especiais da China.

Cheias | Executivo à espera do Governo Central para construção de comporta

[dropcap]O[/dropcap] projecto da construção da comporta contra marés continua à espera de resposta do Governo Central. O ponto de situação foi feito ontem na Assembleia Legislativa por Shin Chung Low Kam Hong, subdirector das Obras Públicas.

As autoridades centrais são uma parte interessada no processo, uma vez que a comporta poderá afectar as águas no lado de Zhuhai. “Concluímos o estudo de viabilidade em Abril e apresentámos um projecto revisto ao Governo Central. Estamos à espera da resposta”, explicou o dirigente, em resposta a uma interpelação do deputado Leong Sun Iok, dos Operários.

Tufões | Governo equaciona encerramento de autocarros dourados na Ponte HKZM

Raimundo do Rosário criticou o facto de com o sinal tufão número 8 haver serviços públicos que estão fechados por segurança, enquanto alguns particulares se mantêm em funcionamento. O secretário mostrou-se preocupado com a segurança da população, em particular na travessia pela Ponte HKZM

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo vai rever a situação dos autocarros dourados da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, que continuaram a operar apesar de no território estar içado o sinal 8 de tufão. Na semana passada, com a passagem do tufão Wipha, a situação levou a que vários passageiros ficassem retidos à entrada em Macau, porque depois de passarem a fronteira não havia transportes públicos a funcionar.

“Vamos discutir a situação com a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e com a empresa autocarros directos que circulam na ponte. Uma hora e meia depois de ser içado o sinal n.º 8, os transportes públicos ficam suspensos. Estes autocarros dourados também deviam ficar suspensos”, afirmou ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, que esteve ontem na Assembleia Legislativa a responder às perguntas dos deputados.

Devido ao caos na nova ponte, como medida excepcional, foi restabelecido parte dos serviços de transporte colectivo. Porém, Raimundo do Rosário mostrou-se muito preocupado com o número de passageiros acumulados na Praça de Ferreira do Amaral. “Queremos que o serviço na ponte deixe de funcionar durante o sinal n.º 8. Nós tivemos autocarros especiais, mas não passavam pela Ferreira do Amaral. Mesmo assim, havia muitas pessoas que estavam lá à espera de serem levadas para a ponte. Na fronteira da nova ponte ainda há locais cobertos para esperar, mas na Praça de Ferreira do Amaral não. Será que esta situação não é perigosa? Acho que devemos suspender todos os transportes”, completou.

Ao mesmo tempo, Raimundo do Rosário sublinhou a necessidade de assegurar a segurança e afirmou não entender o facto de os serviços públicos fecharem com o sinal n.º 8, mas haver privados que continuam a operar. “Não precisamos de trabalhar quando está içado o sinal n.º 8, por motivos de segurança.  (…) Por questões de segurança os serviços públicos e alguns privados ficam suspensos. Mas depois há outros que funcionam. Será que isto não coloca a segurança em causa”, perguntou. “Como os serviços ficam a funcionar não podemos excluir a hipótese de as pessoas saírem, irem ao cinema e jantar foram. Mas isso não é perigoso?” questionou.

AL | Mi Jian esteve no plenário

[dropcap]A[/dropcap]pesar de estar a ser investigado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), na sequência de uma carta anónima que denunciou várias irregularidades na Direcção de Serviços de Estudos e Políticas e Desenvolvimento Regional, o director Mi Jian esteve na Assembleia Legislativa e garantiu que o Executivo vai “proteger os recursos de solos” e manter o “desenvolvimento económico de Macau”.

Mi Jian sublinhou também que Chui Sai On não atribuiu nenhuma concessão a privados nos novos aterros. A questão foi colocada pelo deputado Ng Kuok Cheong e mais nenhum deputado interveio sobre o assunto.

Chuva Intensas | Governo pede que se saia mais cedo de casa

[dropcap]P[/dropcap]ara lidarem com as situações de chuvas intensas e os caos nos transportes, os cidadãos devem precaver-se e sair mais cedo de casa. A receita foi deixada por Raimundo do Rosário, ontem, perante interpelação da deputada Angela Leong, que ainda deixou um exemplo pessoal.

“Uma vez num dia de serviço, eu era a única pessoa que tinha chegado às 09h30. Com as chuvas intensas as pessoas têm de sair de casas mais cedo. Se fizerem os horários normais vão chegar atrasadas”, afirmou.

“As pessoas têm de tomar precauções. Sugiro também que instalem a aplicação móvel dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, para saberem as previsões do tempo e de chuvas intensas”, frisou.

Governo justificou contrato de 5,9 mil milhões no Metro por falta de conhecimento especializado

[dropcap]R[/dropcap]aimundo do Rosário explicou o contrato de 5,9 mil milhões de patacas com a empresa MTR de Hong Kong para a operação do Metro Ligeiro com o facto de faltarem conhecimentos especializados nesta área em Macau. A justificação foi apresentada ontem na Assembleia Legislativa, onde o secretário respondeu a interpelações dos deputados.

“Estes milhões são para operar a Linha da Taipa, assim como o Parque de Materiais e Oficina”, respondeu o secretário quando questionado sobre o assunto. “O Metro Ligeiro é um novo transporte e não há conhecimentos sobre como operar estes sistemas”, acrescentou.

Ontem, em mais uma sessão do Plenário, Raimundo do Rosário voltou a reconhecer que a Linha da Taipa vai ter um efeito muito limitado, enquanto transporte. “Acho que faz parte do senso comum perceber que a Linha da Taipa, só por si, não vai ter um efeito muito grande no sistema de transportes. Uma ligação entre os Jardins do Oceano e o Pac On tem muitos obstáculos. Mas tínhamos de avançar com uma linha primeiro”, frisou. “Em 2023 é possível fazer com que a ligação chegue à Estação Intermodal da Taipa e, nessa altura, os efeitos vão ser sentidos”, acrescentou.

Por outro lado, o director do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), Lam Wai Hou, anunciou os números das pessoas contratadas para a representação de Macau da MTR. Um terço dos trabalhadores são locais. Os lugares ocupados por trabalhadores não-residentes são principalmente de gestão. “Entre os 570 trabalhadores três quartos são locais.

Mais de 450 trabalhadores têm licenciatura. Entre estes, 115 são formados na área das obras e mais de 200 em transportes”, disse Lam Wai Hou. “Entre os 30 por cento dos trabalhadores não-residentes, contamos com gente com muita experiência e conhecimento especializado, que vão ocupar principalmente cargos de direcção”, complementou.

Com a entrada em operação da MTR, o GDI vai ser extinto. Segundo Rosário, o Governo vai tentar transferir as obras para a MTR, que assim organizariam a expansão da linha de metro.

Contudo, caso tal não seja possível, o secretário garante que o Executivo vai arranjar um departamento para lidar com as obras. Rosário disse ainda que na segunda metade do ano vai ser aberto o concurso público para a atribuição das obras da Linha de Seac Pai Van.

Fundo soberano | Coutinho critica “escândalo” através de vídeo

[dropcap]P[/dropcap]ereira Coutinho considera “inadmissível” o “escândalo do desvio de 60 mil milhões do erário público”, anunciando que iria “votar contra” tal decisão na reunião plenária de amanhã, que, entretanto, excluiu a respectiva matéria da agenda.

O deputado manifestou a sua posição, através de um vídeo publicado no Youtube, onde revelou estar contra a proposta de alteração da Lei Orçamental de 2019 para a criação da sociedade gestora do fundo.

Pereira Coutinho considera que o Governo pretendia forçar a iniciativa, sem consulta pública e sem esclarecimentos prestados aos legisladores, apesar dos “200 milhões entregues à Viva Macau através do FDIC que, até hoje, não estão explicados” e enquanto espera resposta do “CCAC que ainda não conseguiu apurar responsabilidades” sobre o sucedido.

O deputado comentou que “60 mil milhões para uma empresa fazer aplicações financeiras é um grande risco”, lembrando semelhantes experiências feitas pelos governantes de Singapura que esvaziaram os cofres da cidade-estado.

Fundo soberano | Criação de sociedade gestora já não vai ser votada na AL

A proposta de alteração orçamental que prevê a criação da sociedade gestora do Fundo para o Desenvolvimento e Investimento da RAEM não vai ser votada amanhã na Assembleia Legislativa. A decisão repentina foi dada a conhecer ontem por Chui Sai On, com a justificação de que necessita de consulta pública

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo percebeu ontem que era necessária uma consulta pública para recolher opiniões dos residentes sobre a proposta de alteração orçamental de 2019 que prevê a criação da sociedade gestora do Fundo para o Desenvolvimento e Investimento da RAEM. A proposta que estipulava a injecção de 60 mil milhões de patacas do erário público no referido fundo, com votação na generalidade marcada para o plenário da Assembleia Legislativa (AL) de amanhã, foi retirada da agenda do hemiciclo.

“É preciso prestar o devido esclarecimento à população e avançar para a consulta pública “, apontou o Chefe do Executivo, Chui Sai On, ontem numa conferência de imprensa agenda com meia hora de antecedência, fazendo antever a urgência da comunicação. “Estamos a verificar que a sociedade tem grandes dúvidas e opiniões e achamos que é necessário fazer uma consulta pública”, acrescentou o Chefe do Governo.

A tomada de decisão permite “oportunidades para auscultar mais opiniões e prestar mais esclarecimentos”, completou o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong.

Para já, a proposta não será votada na generalidade, como previsto, e será sujeita a consulta pública, decisão que segundo Lionel Leong foi tomada momentos antes da conferência de imprensa. “A consulta pública foi decidida há pouco” disse.

Após a auscultação das opiniões dos residentes, será realizado um relatório de modo a proceder, se necessário, “a um reajustamento”, apontou o secretário. “Findo o relatório já saberemos se a proposta vai sofrer alterações (…) e achamos que a opinião da população é uma base para a criação deste sistema e também pode ser uma boa referência para o próximo Governo”, acrescentou Chui Sai On.

Projecto adiado

Desta forma, a criação da sociedade gestora do Fundo para o Desenvolvimento e Investimento da RAEM vai ser adiada, podendo mesmo não avançar este ano, apontou Lionel Leong, ao mesmo tempo que salientou a importância da iniciativa. “De modo a gerir de forma eficaz a reserva financeira da RAEM, achamos necessário ter mais contribuições da verba pública. Em 2014 concluímos que se Macau criar um fundo de verbas públicas pode ter mais retribuições”, apontou. Foi esta a razão que levou a à inclusão do fundo no plano quinquenal, pelo que em 2019 o Governo “gostaria de materializar” a iniciativa.

O plano era para já ter sido cumprido em 2018, no entanto “estávamos no fim do ano e por isso não efectuámos a alteração orçamental”. Por outro lado, o Executivo não sabia na altura a melhor forma seria criar uma empresa pública ou uma sociedade gestora.

Também esclarecida ontem ficou a intenção de Chui Sai On em não ocupar cargos nesta nova entidade. “Eu não vou assumir qualquer cargo nesta sociedade”, sublinhou várias vezes.

Chui aproveitou a ocasião para revelar os seus planos futuros. “Gostaria de descansar e de acompanhar a minha família. Tive a minha missão ao longo destes 20 anos. Amo Macau e amo a pátria e espero continuar a contribui para Macau e para a pátria”, disse.

Fora da agenda de amanhã da AL fica ainda a votação na generalidade da proposta de lei de combate à criminalidade informática. O motivo prende-se com a ausência de Macau do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

Novo Macau exigiu e ganhou consulta pública sobre fundo de 60 mil milhões

[dropcap]A[/dropcap] Associação Novo Macau (ANM) entregou ontem uma carta ao Chefe do Executivo para que fosse retirada da votação plenária de amanhã a proposta de “Alteração à Lei Orçamental de 2019” que previa a criação da sociedade de gestão do Fundo de Investimento e Desenvolvimento”, com uma dotação de 60 mil milhões de patacas de capital público. A pretensão dos pró-democratas viria a ser conseguida ao final da tarde de ontem.

O deputado Sulu Sou assinalava, em conferência de imprensa ao fim da manhã, a “tentativa apressada” do Governo em aprovar a medida, anunciada uma semana antes aos membros da Assembleia Legislativa (AL), sem ter entregue qualquer “informação ou documentação relevante sobre os estatutos da empresa, a forma de selecção dos candidatos aos quadros de topo, o plano de investimentos, a estrutura de pessoal, os actos e decisões que vão estar sujeitos a publicação ou relatórios”, entre outras dúvidas que considera descredibilizar o Executivo na recta final do seu mandato.

Uma das principais denúncias do deputado pró-democrata é a “muito pouca transparência” que envolve esta proposta, sem passar por qualquer consulta pública e sem necessitar de divulgar informações específicas sobre o que vai fazer com os dinheiros do erário público. Sulu Sou condenou assim a atitude dos governantes, que quererem introduzir com urgência o tema “no vagão do último comboio”, para evitar a discussão com a sociedade antes do final do mandato.

A Novo Macau acusou o Governo de tratar a AL como mera “entidade carimbadora de leis”, e de querer “utilizar de forma arbitrária o dinheiro público consoante a sua vontade”. Sulu Sou acrescentou ainda que “não havia necessidade de o Governo estar agora a criar uma situação de descontentamento social”, a poucos meses das comemorações do 20º aniversário da transferência de soberania de Macau.

População descontente

Sulu Sou relembrou também as semelhanças deste caso com a antiga proposta de lei das compensações para os altos cargos dirigentes, que acabou por cair em 2014, depois da população local sair indignada para as ruas.

A maior preocupação da ANM é o vazio legal em relação a este tipo de empresas privadas criadas para gerir fundos públicos. “Actualmente, não existe nenhuma lei específica para monitorizar esse tipo de entidades de capitais públicos. E tanto o Governo como a Comissão dos Assuntos Financeiros da AL estão bem conscientes disso, mas não tentaram resolver essa lacuna legislativa. E continuaram a criar mais e mais sociedades como esta”, revelou Sulu Sou, que adianta existirem “pelo menos outras 16 empresas fundadas com capitais públicos em Macau”, sem que haja fiscalização da sua actividade ou dos lucros eventualmente obtidos.
Também não existe obrigação legal para que estas sociedades publiquem relatórios anuais ou divulguem o balanço financeiro, comentou o deputado.

 

Legislação | Falta de lei permite abusos não escrutinados

O vazio legal sobre a criação de empresas privadas de gestão de fundos públicos não é novidade, segundo a Associação Novo Macau, que ontem nomeou alguns casos em que nada se sabe sobre a respectiva actividade até à data. A opinião pública local tem criticado o Executivo pelos sucessivos exemplos de constituição destes “reinos independentes e não regulamentados” à custa do dinheiro público.

Os casos das empresas Tai Lei Loi Building Development Company e Lei Pou Fat Building Development Company, que anunciaram repentinamente a sua liquidação, não foram explicados pelo Governo, que nunca revelou a situação financeira das mesmas nem o montante recuperável pelo tesouro público após as respectivas liquidações, lembraram os pró-democratas.

Já o exemplo da Macau Investment and Development Company, constituída em 2011, é outro modelo de “difícil supervisão”, por adoptar uma hierarquia de poderes que se subdivide “em 3 subsidiárias, que por sua vez controlam outras 17 subsidiárias”. Todas elas justificam a sua actuação com afirmações latas de investimento em “projectos para desenvolver a Região da Grande Baía” ou para “participar na cooperação regional” ou ainda para “promover o desenvolvimento e diversificação da economia de Macau”.

A Novo Macau recordou ainda o contributo dos 20 mil milhões de yuans para o Fundo de Desenvolvimento e Cooperação Guangdong-Macau, no ano passado, cujo acordo prevê a possibilidade de virem a ser injectados até 100 mil milhões de yuan, sem que se saiba qual é a participação local na tomada de decisões sobre a aplicação das verbas naquela província.