AL | Juiz Tong Hio Fong preside à comissão das eleições de Novembro 

No dia 24 de Novembro será escolhido um novo deputado que irá ocupar o lugar deixado vago por Ho Iat Seng, que renunciou à presidência do hemiciclo para ser candidato a Chefe do Executivo. O juiz Tong Hio Fong volta a presidir à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa

 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) o despacho, assinado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, que determina a composição da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), que irá coordenar as eleições para a escolha de um novo deputado pela via indirecta, em substituição de Ho Iat Seng, que se candidata às eleições para o Chefe do Executivo.

O juiz Tong Hio Fong, do Tribunal de Segunda Instância (TSI), volta a presidir à mesma comissão que dirigiu em 2017, aquando da realização das eleições legislativas. Seguem-se Lai U Hou, delegado do Procurador, o presidente do Instituto para os Assuntos Municipais, José Tavares, Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública, e Victor Chan, director do Gabinete de Comunicação Social. A data para a eleição do novo deputado está marcada para o dia 24 de Novembro, também de acordo com um despacho publicado ontem em BO.

Mais dinheiro para candidato

Para esta eleição, cada candidato pode gastar até um máximo de 3.549 milhões de patacas, valor que também foi fixado em despacho. A saída de Ho Iat Seng da AL não só obriga à eleição de um novo deputado como leva também à escolha de um novo presidente, algo que acontece amanhã. Até ao momento têm sido apontados para a presidência do hemiciclo os nomes de Kou Hoi In e Chui Sai Cheong, apesar da TDM Rádio Macau ter noticiado que Kou Hoi In deverá ser o escolhido.

Além de ser o deputado mais antigo da AL, uma vez que desempenha essas funções desde 1991, Kou Hoi In é também delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional e presidente da Associação Comercial de Macau. Chui Sai Cheong deverá manter-se no cargo de vice-presidente, adiantou ainda a emissora, não se esperando que chegue à presidência por ser irmão do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On.

A deputada Chan Hong, eleita pelo sector dos serviços sociais e educação, deverá ser promovida a primeira secretária da Mesa. Para o lugar de segundo secretário deverá ser escolhido o deputado Ho Ion Sang, que representa a União Geral das Associações dos Moradores.

Pansy Ho diz que Ho Iat Seng é a pessoa certa para Chefe do Executivo

Uma nova era de desenvolvimento traz a Macau desafios para os quais Ho Iat Seng, enquanto Chefe do Executivo, é a solução. A ideia foi defendida pela empresária Pansy Ho, que considera também que ao sector do jogo podem ser exigidas mais responsabilidades no momento de atribuição das licenças de exploração

 

[dropcap]A[/dropcap] empresária Pansy Ho, filha do magnata do jogo Santley Ho, disse à Lusa que o ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL) de Macau Ho Iat Seng é a pessoa indicada para ocupar o cargo de chefe do Governo. “É a pessoa certa”, afirmou em entrevista a multimilionária que lidera um grupo com investimentos em Macau, Hong Kong e China na área do imobiliário, transportes, hotelaria e construção civil, quando se está a pouco mais de um mês das eleições para Chefe do Executivo, agendadas para 25 de Agosto.

Uma das accionistas de referência da Sociedade de Jogos de Macau e da MGM China, disse estar convencida de que Ho Iat Seng é capaz de liderar a nova geração para uma nova era de gestão de recursos.

Na AL, “viu e estudou os problemas que Macau enfrenta, (…) sabe de experiência directa quais são os problemas”, começou por explicar a empresária.

Pansy Ho sublinhou que Ho Iat Seng chegará ao cargo numa nova era, com melhores acessibilidades a servirem Macau, perante o desafio e oportunidade que representa a criação da metrópole mundial da Grande Baía, e também com grandes reservas financeiras à disposição.

Sobre este último ponto, uma das herdeiras do império do jogo de Stanley Ho é clara: o desafio hoje não é mais “fazer mais dinheiro, mas como fazer melhor uso dele e dos recursos”.

Uma nova era

Mas o “assunto crítico” é “o futuro da próxima geração de Macaenses”, até porque “estamos agora numa encruzilhada”, sustentou. “Continuamos a dizer que queremos reposicionar Macau, diversificar Macau, combater a dependência da economia da indústria do jogo”, bem como “agarrar a oportunidade da Grande Baía”, recordou, para concluir que tal não será conquistado por “uma mão-cheia de investidores”.

“Será a nova geração de Macau a fazer a diferença”, defendeu. “Precisamos de um Chefe do Executivo que consiga mobilizar, encorajar e convencer a nova geração. E penso que [Ho Iat Seng] é a pessoa certa”, declarou.

A empresária disse ainda que Macau, após ter construído um ‘milagre’ turístico, tem agora de afirmar-se como ‘resort’ integrado e ‘crescer’ para o projecto chinês da Grande Baía.

“Há uma limitação de espaço e Macau precisa de crescer para a Grande Baía”, acrescentou, referindo-se ao projecto de Pequim de criação de uma metrópole mundial a partir dos territórios de Hong Kong, Macau e nove cidades da província chinesa de Guangdong.

A Grande Baía é uma região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto que ronda os 1,3 biliões de dólares, maior que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.

Macau não tem o mesmo estatuto comercial e financeiro de Hong Kong, mas tem mais-valias ao nível geográfico e de posicionamento em áreas como o turismo integrado, indústrias criativas, medicina tradicional chinesa e plataforma cultural, destacou Pansy Ho que, desde 2018, é embaixadora da Organização Mundial do Turismo, agência especializada da ONU.

“Macau tem a capacidade de se tornar num ‘resort’ integrado”, de se apresentar como tal, mas tem de “ser capaz de se expandir e crescer para a Grande Baía”, defendeu a multimilionária.

Este já não é o tempo “dos ‘manda-chuvas’ a realizarem investimentos bilionários”, mas “das centenas de milhares de pessoas que estiveram expostos ao desenvolvimento” e que podem singrar profissionalmente para além dos casinos, “no retalho, no turismo de negócios de eventos e até nas artes”, afirmou.

“Não é menos do que um milagre que um local sem grandes atracções turísticas naturais se tenha conseguido transformar desta forma num período de apenas 20 anos”, frisou a empresária, defendendo que Macau não precisa do dinheiro extra das taxas turísticas, num momento em que o Governo estuda o assunto.

“Sabemos que o trabalho que temos pela frente é fazer de Macau um destino mais atractivo na área de Turismo de Negócios e Eventos”, superar “a forte fundação que construímos [indústria do jogo]]” e “sermos capazes de, pelo menos, atrairmos mais viajantes asiáticos”, defendeu.

Pansy Ho sublinhou que “não se deve pensar em menos turistas, mas em os distribuir por diferentes atracções”, garantindo que “fiquem mais dias em Macau”. Ou seja, “devemos e temos de começar a falar (…) como integrar chegadas e distribuir turismo em Macau”, disse a empresária que pertence à direcção da sociedade que gere o aeroporto internacional de Macau, e que detém participações em companhias de transporte (ferries, helicópteros e autocarros) entre Hong Kong e Macau.

Mais exigências ao jogo

Entretanto, o Governo de Macau deve exigir mais da indústria do jogo, apontou a Pansy Ho, acrescentando que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) está a preparar-se para a atribuição das licenças em 2022.

Menor preocupação com o número de concessões a atribuir, manter os actuais promotores na exploração do jogo em Macau, não ceder à tentação de mudar simplesmente as ‘caras’ e a convicção de que os investidores norte-americanos não serão excluídos devido à guerra comercial EUA/China são algumas das ideias expressas pela filha mais velha do magnata do jogo Stanley Ho sobre as novas licenças a atribuir pelo Governo em 2022.

As recentes movimentações que protagonizou no início do ano, relacionadas com duas sociedades fundadas pelo pai, nada têm a ver com questões relacionadas com os investidores norte-americanos, garantiu aquela que é copresidente e accionista de referência da MGM China, que resultou de uma parceria entre a empresária e a norte-americana MGM Resorts para explorar casinos em Macau.

“No passado, a estrutura montada não era propícia a uma gestão eficiente e é por isso que temos de estar preparados”, afirmou, ela que, em Janeiro, anunciou uma aliança com a Fundação Henry Fok para garantir o controlo da SJM Holdings Ltd e da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM).

Segundo os analistas, em causa está a luta pelo poder por aquele que é o maior império do jogo em Macau, criado por Stanley Ho que, até ao final de 2001, beneficiou do facto de deter o monopólio da concessão dos casinos no território.

Em 2018, a irmã e parceira de negócios de Pansy Ho passou a ocupar a presidência da SJM Holdings, na qual também pontua a quarta mulher de Stanley Ho, Angela Leong, directora executiva, e importante accionista individual, mas que poderá ver reduzida no futuro a sua influência na gestão da empresa.

“Vamos entrar num processo de voltar a licitar nos próximos dois a três anos e é por isso que é mais crítico agora que a empresa tenha uma direcção certa e uma estratégia bem definida para o futuro”, sublinhou.

A origem do capital e a nacionalidade dos investidores não é para Pansy Ho um potencial problema a considerar: “Se [os candidatos] responderem aos critérios e às exigências, acredito que não haverá uma deliberada exclusão”, sustentou.

A empresária defende que o Governo não deve ficar preso a um eventual número de licenças a atribuir, mas ser capaz de definir o caminho e exigir a prestação de contas aos concessionários.
Depois, explicou, “todos os que se chegarem à frente têm de demonstrar que são capazes de trazer “algo extra a Macau”.

Pansy Ho disse acreditar que, do ponto de vista do mercado, os concessionários têm menos de cinco anos para responder a uma segunda fase de diversificação e defendeu que os actuais devem manter-se, pela experiência que acumularam, pelo que investiram e para acautelar qualquer mudança abrupta na indústria do jogo em Macau.

Em Maio, o Governo avisou que as futuras concessionárias do jogo vão ser obrigadas a promover outras indústrias e a assumir mais responsabilidades sociais, algo que ficará plasmado nas exigências do concurso público em 2022.

Crescimento da economia chinesa no segundo trimestre é o mais baixo em quase 30 anos

[dropcap]A[/dropcap] economia chinesa cresceu, no segundo trimestre deste ano, ao ritmo mais lento das últimas três décadas, segundo dados hoje divulgados, ilustrando o fim do ciclo que transformou um país pobre e isolado na segunda maior economia mundial.

O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 6,2% no segundo trimestre, menos 0,5 pontos percentuais, face ao mesmo período de 2018, e menos duas décimas do que no trimestre anterior, segundo os dados oficiais hoje divulgados.

Trata-se da taxa de crescimento mais baixa desde que o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês começou a publicar os dados, em 1992, no início de três décadas de crescimento económico que transformaram a China.

A contracção, em Junho, das exportações, um dos principais motores da economia chinesa, foi a principal causa do abrandamento. O consumo doméstico e o sector imobiliário permaneceram resilientes, mas a economia acabou por sofrer o impacto de uma guerra comercial com Washington, que começou no verão passado e se tem vindo a agravar.

As vendas a retalho aumentaram 8,4%, no conjunto da primeira metade do ano, com o ritmo de crescimento a abrandar uma décima no segundo trimestre, face aos três meses anteriores.

Nos primeiros seis meses do ano, o investimento em fábricas, imóveis e outros activos fixos aumentou 5,8% – uma subida de 0,2%, face ao período entre Janeiro e Maio -, reflectindo os esforços de Pequim para estimular a economia, incluindo reduzir as restrições no acesso ao crédito e aumento do investimento público.

“Nós prevemos que a economia continue a fraquejar”, considerou Julian Evans-Pritchard, economista para a China na consultora Capital Economics. “Olhando para o futuro, duvidamos que os dados, melhores do que o esperado para Junho, marquem o início de uma recuperação”, acrescentou.

A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA ditou o início de uma guerra comercial entre Washington e Pequim, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.

O porta-voz do GNE, Mao Shengyong, disse que a redução na carga fiscal, no início do ano, ajudou a estimular a economia a evitar a pressão externa. “O crescimento económico da China depende cada vez mais da procura doméstica, sobretudo do consumo”, afirmou.

A economia chinesa teve um período de abrandamento, após as sanções económicas impostas por países ocidentais, na sequência da sangrenta repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, esmagado na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, mas recuperou a partir de 1992.

A economia voltou a desacelerar durante a crise financeira asiática, no final da década de 1990, e após a crise financeira global de 2008.

Mais de 20 feridos e 37 detidos após confrontos entre polícia e manifestantes em Hong Kong

[dropcap]M[/dropcap]ais de 20 pessoas ficaram feridas, seis com gravidade, e 37 foram detidas após os confrontos de domingo entre manifestantes e a polícia de Hong Kong, noticiou hoje a imprensa local.

Os confrontos ocorreram ao final do dia, quando a polícia começou a dispersar os manifestantes após um protesto pacífico que reuniu milhares de pessoas em Sha Tin, no norte de Hong Kong, contra a controversa proposta de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China.

De acordo com o jornal South China Morning Post, que cita fonte hospitalar, pelo menos 22 pessoas – entre activistas e polícias – foram hospitalizadas na sequência dos confrontos. Duas encontram-se em estado crítico e quatro em estado grave.

Em declarações à imprensa esta manhã, o comissário da polícia Stephen Lo condenou de forma veemente as acções dos manifestantes, que classificou de “bandidos” e considerou serem responsáveis pelas “cenas caóticas” de domingo em Sha Tin.

“A multidão perdeu o controlo e o seu comportamento foi horrível”, disse Lo. Por seu lado, alguns deputados acusaram a polícia de recorrer a “tácticas violentas” no centro comercial New Town Plaza – principal palco dos confrontos – tendo bloqueado manifestantes que apenas queriam deixar o local.

Ainda de acordo com o diário de Hong Kong, pelo menos 37 pessoas foram detidas na sequência dos confrontos que tiveram lugar após o protesto pacífico registado durante todo o dia.

Há mais de um mês que Hong Kong é palco de protestos maciços. O mais concorrido, segundo a organização, aconteceu a 16 de Junho, quando cerca de dois milhões de pessoas (mais de um terço da população) saíram à rua para protestar contra a lei. Dois dos protestos, a 12 de Junho e a 1 de Julho, foram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que chegou a usar balsas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.

A 1 de Julho, os manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong. A Chefe do Executivo, Carrie Lam, depois de pedir desculpa em duas ocasiões distintas, em Junho, chegou mesmo a afirmar já este mês que a lei estava “morta”.

No entanto, uma nova grande manifestação contra esta lei e a violência policial está agendada para 21 de Julho, disse à Lusa na sexta-feira a porta-voz do movimento que tem liderado os maciços protestos no território, Bonnie Leung.

“Como as nossas cinco reivindicações não foram ainda atendidas, acreditamos que é muito importante que continuemos os protestos (…) e temos uma obrigação de juntar as pessoas outra vez”, sublinhou a vice-coordenadora da Frente Civil de Direitos Humanos.

Filipinas declaram alerta nacional devido a surto de dengue que já fez 456 mortos

[dropcap]A[/dropcap]s Filipinas declararam hoje estado de alerta nacional devido a um grave surto de dengue, com mais de 106.000 casos registados no primeiro semestre do ano e 456 mortos, a maioria crianças com menos de cinco anos.

A propagação do dengue naquele país asiático aumentou 85% comparativamente a igual período do ano passado, informou em conferência de imprensa o ministro da Saúde filipino, Francisco Duque.

O responsável esclareceu que não se trata ainda de uma epidemia a nível nacional, mas que já se verifica uma epidemia em pelo menos quatro regiões do centro do país.

Neste sentido, Duque anunciou que o Ministério da Saúde activou o “código azul” – alerta nacional – para monitorizar a situação em conjunto com o Gabinete Nacional de Redução do Risco de Desastres.

As Filipinas sofreram uma queda acentuada na taxa de vacinação, uma descida causada, em parte, pelo escândalo da Dengvaxia, uma vacina contra a dengue que foi administrada nas escolas entre 2016 e 2017 e está ligada à morte de várias crianças no país.

Em vários países do Sudeste asiático, como a Malásia, Vietname, Camboja e Singapura, o número de casos de dengue duplicou comparativamente com o período homólogo do ano passado.

Com o grave surto registado nas regiões vizinhas, as autoridades de Macau já elevaram também o risco de uma epidemia no território e apelaram à prevenção. Segundo o último balanço dos Serviços de Saúde, divulgado a 10 de Julho, a região administrativa especial já registou oito casos importados desde o início do ano.

No final do ano passado, Macau contava com 188.480 trabalhadores não-residentes, o maior número desde que há registos, sendo uma esmagadora maioria proveniente das Filipinas e do Vietname.

Presidente de Taiwan reitera apoio ao Haiti, um dos 17 aliados diplomáticos da Ilha

[dropcap]A[/dropcap] Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, reiterou no sábado o seu apoio ao Haiti, no início de uma visita a quatro países caribenhos que mantêm relações diplomáticas com a ilha Formosa. Tsai Ing-wen foi recebida pelo presidente do Haiti, Jovenel Moise, a quem prometeu apoio taiwanês na forma de investimentos, embora não tenha especificado nenhum plano.

“Estou aqui para expressar a nossa solidariedade e manter a amizade entre o Haiti e Taiwan. Estamos felizes com esta relação entre os dois países”, disse Ing-wen, no Museu Nacional do Panteão no Haiti.

A Presidente da Ilha Formosa disse que “Taiwan quer apoiar o desenvolvimento do Haiti” e contribuir para o desenvolvimento deste país, o mais pobre da América. “Taiwan quer fazer mais investimentos para apoiar o Haiti e queremos um Haiti próspero”, acrescentou a chefe de Estado.

A visita de Tsai Ing-wen aos países caribenhos acontece um ano depois de a República Dominicana e El Salvador romperem relações com Taipei e reconhecerem a China. No mesmo ano, o Panamá também passou a reconhecer a China.

Apenas 17 países reconhecem Taiwan actualmente. O périplo de Tsai, de 12 dias, incluiu ainda paragens em São Vicente e Granadinas, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, nações que mantém relações diplomáticas com a Ilha Formosa.

Tsai Ing-wen chegou ao Haiti vinda dos Estados Unidos onde advertiu que o povo taiwanês “nunca se sentirá intimidado” apesar dos protestos de Pequim, que recusam reconhecer Taiwan como território soberano.

A visita ocorreu apesar dos protestos de Pequim, que pediu aos EUA que não permitam que Tsai Ing-wen transite pelo país e que tratem com “cautela” as questões relacionadas com Taiwan.

Mas, na mesma semana, o Departamento de Estado norte-americano aprovou uma venda de armamento a Taiwan no valor de 2,2 mil milhões de dólares, numa outra decisão que Pequim considera provocativa.

Embora Tsai Ing-wen tenha visitado os EUA antes, esta foi a sua primeira viagem como líder de Taiwan a Nova Iorque, onde Taiwan mantém uma representação consular e comercial não oficial, próximo da sede das Nações Unidas.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. No entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana.

Pequim cortou os mecanismos de diálogo com Taipé desde a eleição de Tsai Ing-wen, em 2016, e afirma que só aceita voltar atrás se a líder taiwanesa declarar que a ilha é parte da China.

Desde o XIX Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), em 2017, que as incursões de aviões militares chineses no espaço aéreo taiwanês se intensificaram, levando analistas a considerarem como cada vez mais provável que a China invada Taiwan.

Washington, que rompeu relações diplomáticas com Taipei em 1979 e passou a reconhecer o Governo de Pequim como o único representante da China, continua a ser o maior aliado de Taipé e o seu principal fornecedor de armas.

Portugal | Criadores de galgos dizem que polémica em torno das corridas “não passa de populismo barato”

Reportagem de José Pedro Gomes, da Agência Lusa

 

[dropcap]E[/dropcap]m Portugal, os criadores de galgos consideram que a intenção de alguns partidos políticos em proibir a realização de corridas com estes animais “não passa de populismo barato”, rejeitando as acusações de maus tratos aos cães.

“É uma questão política, porque partidos como o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) ou o Bloco de Esquerda criaram um movimento contra esta actividade, mas sem conhecimento de causa. Não passa de um populismo barato”, afirmou à Lusa Vítor Costa, vice-presidente da Associação Galgueira e Lebreira do Norte.

O dirigente garantiu que todos os criadores registados na associação, e que participam nas provas, “têm o máximo de cuidado com o bem-estar dos animais”, lembrando que esta é uma actividade que está “devidamente regulamentada”.

“A associação é inflexível nas regras de tratamento destes cães. Todos têm documentos a comprovar o seu bom estado de saúde. Só pode participar quem tiver as devidas licenças. As regras são rígidas e as autoridades são envolvidas neste processo. Todas as provas são devidamente licenciadas”, garantiu Vítor Costa.

Quanto à alegada existência de apostas ilegais em torno das corridas, o líder associativo também respondeu negativamente. “Da parte dos criadores não acontece. Isto é uma actividade lúdica, que se desenvolve por carolice, com pessoas que não têm fundo de maneio para se envolverem nessas coisas”, vincou Vítor Costa, que supervisionou a corrida que hoje aconteceu na freguesia de Estela, na Póvoa de Varzim, no distrito do Porto.

A vontade dos criadores de galgos desmistificarem a polémica em torno da realização deste tipo de eventos foi presenciada no local pela agência Lusa, com vários a lembrarem que “corridas como esta, devidamente tuteladas e supervisionadas, podem ser presenciadas por toda gente”.

“Qualquer um pode vir cá ver a forma como tratamos estes animais. E se, ainda assim, o PAN e o Bloco de Esquerda continuarem e mentir e dizerem que estes animais têm uma vida de sofrimentos, convido-os, desde já, a virem a minha casa e ver a forma como cuido dos meus galgos”, desafiou Susana Martins, criadora desta raça.

Apaixonada por estes animais há vários anos, Susana garantiu que os seus cães “são diariamente acarinhados, bem alimentados e com condições de acomodação muito especiais”, vincando que “nunca são abandonados”.

“Mesmo quando já não têm condições para correr, ficam connosco até ao fim da sua vida, e sempre muito mimados com tudo do melhor. São animais que, por instinto, gostam de correr, é genético, não são forçados a fazer. Sinto, até, que se não o fizessem seriam infelizes”, apontou a criadora.

Para Susana Martins, toda polémica que se instalou recentemente “é um questão política de pequenos partidos que se querem impor e dar nas vistas, mas sem fazer o trabalho de casa”, considerando que se está a chegar a “extremismos”.

“Qualquer dia vão querer proibir que a minha filha possa brincar com o cão e atirar-lhe uma bola para ele apanhar?”, ironizou. A acusação de maus tratos a estes animais é o que mais tem revoltado os criadores de galgos, e António Ressurreição, que há quase 50 anos está no meio, garante que são os próprios criadores a “supervisionarem-se mutuamente”.

“Há como se fosse um código de honra que não nos permite compactuar ou estar indiferente aos maus tratos animais. Em tantos anos que levo disso nunca vi um ‘galgueiro’ fazer mal a um cão. Fala-se muito deste tema, mas sem conhecimento”, afirmou António Ressurreição.

Embora não estando, actualmente, ligado à actividade de criador, que passou para outra geração da família, António, de 70 anos, ganhou o gosto pelos galgos através do seu pai, lembrando que, em Portugal, esta é uma actividade feita “meramente por prazer e pela paixão por estes animais”, deixando um desafio aos mais cépticos.

“Tenho a certeza que os criadores são os maiores interessados em mostrar o gosto que têm por estes animais. E se os que têm dúvidas tiverem a inteligência de vir ao terreno e, até de surpresa, aparecer nas corridas ou em casa dos criadores, as portas estarão certamente abertas”, reiterou António Ressurreição.

Em Macau o Governo encerrou as portas do Canídromo, local onde se faziam apostas em corridas de galgos, depois de várias denúncias de alegados maus tratos cometidos aos animais. A ANIMA concluiu recentemente um longo processo de adopção dos galgos que diariamente corriam na zona do Fai Chi Kei.

Hóquei em Patins | Selecção portuguesa sagra-se campeã do mundo

[dropcap]P[/dropcap]ortugal sagrou-se ontem campeão mundial de hóquei em patins, em Barcelona, 16 anos depois da última conquista, ao vencer a Argentina, por 2-1, no desempate por grandes penalidades, após um nulo no final do encontro.

No desempate por grandes penalidades, Gonçalo Alves e Hélder Nunes marcaram para Portugal, enquanto pela Argentina apenas conseguiu marcar Nicolia.

A formação das ‘quinas’ conquistou o 16.º título mundial, menos um do que a recordista Espanha, reconquistando um título que lhe fugia desde 2003, em Oliveira de Azeméis. Fora de Portugal, a ‘equipa das quinas’ não vencia um título desde 1993, sendo que, em Espanha, apenas se tinha sagrado campeão mundial uma vez, em 1960.

Entretanto o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou vivamente a selecção portuguesa de hóquei em patins pela conquista do campeonato do mundo, e prometeu recebê-la em breve, logo que seja possível.

“Acabado de chegar de Paris, o Presidente da República felicita vivamente a selecção portuguesa que acaba de vencer o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, o que não acontecia há 16 anos”, afirmou o chefe de Estado, numa declaração enviada à agência Lusa.

Marcelo Rebelo de Sousa felicitou “os jogadores, técnicos e dirigentes” e adiantou que “irá recebê-los em Belém logo que possam, depois da chegada a Lisboa”.

Automobilismo | António Félix da Costa termina temporada da Fórmula E na sexta posição

[dropcap]O[/dropcap] piloto português António Félix da Costa (BMW) terminou o campeonato de Fórmula E para carros eléctricos na sexta posição, depois de ontem ter sido nono classificado na última corrida, disputada em Nova Iorque.

Saindo da 14.ª posição da grelha, Félix da Costa ainda perdeu duas posições na primeira volta, devido a um incidente que envolveu pilotos que seguiam à sua frente, ficando bloqueado.

A partir dessa altura, o português iniciou uma recuperação que terminou com o nono lugar, conquistado na última volta, graças à colisão que deixou fora de prova o alemão Max Gunther (Geox) e o brasileiro Lucas di Grassi (Audi).

O piloto de Cascais terminou, assim, a 11,727 segundos do vencedor, o holandês Robin Frijns (Virgin). O francês Jean-Éric Vergne (DS), sétimo classificado nesta derradeira prova, tornou-se no primeiro piloto a sagrar-se bicampeão nos cinco anos em que se realiza a competição.

Quanto a Félix da Costa, terminou a época na sexta posição, com 99 pontos, o melhor resultado na sua carreira na Fórmula E.

Campeão Shanghai SIPG de Vítor Pereira vence no campeonato chinês

[dropcap]O[/dropcap] Shanghai SIPG, treinado pelo português Vítor Pereira, juntou-se no sábado ao Guangzhou Evergrande no segundo lugar do campeonato chinês de futebol, ao vencer por 3-0 no estádio do Jiangsu Suning, em jogo da 17.ª jornada da prova.

O avançado brasileiro Hulk inaugurou o marcador logo aos dois minutos, tendo o defesa Wei Zhang, aos 17, e o compatriota Oscar, aos 56, após assistência do antigo jogador do FC Porto, aumentado a vantagem, num jogo em que a equipa anfitriã terminou com nove jogadores, devido às expulsões de Ye Chongqiu, aos nove, e Xie Pengfei, aos 70.

O Shanghai SIPG, que na época passada se sagrou pela primeira vez campeão chinês, sob o comando técnico de Vítor Pereira, quebrando uma série de sete títulos seguidos do Evergrande, igualou a equipa de Guangzhou no segundo lugar, ambos com menos dois pontos do que o líder, Beijing Guoan, depois de os rivais já terem vencido os respectivos jogos na 17.ª ronda.

Lusodescendente leva sabores de Portugal ao centro da China

João Pimenta, da agência Lusa

 

[dropcap]F[/dropcap]ilho de portugueses emigrados na Alemanha, o ‘chef’ Mário Vieira viveu em 18 países, antes de se instalar numa das mais vibrantes cidades da China, onde serve pratos tradicionais portugueses num resort de luxo.

“Os chineses gostam muito de marisco e de bacalhau”, diz à agência Lusa o lusodescendente, radicado há 12 anos em Changsha, cidade com cerca de oito milhões de habitantes e capital da província de Hunan.

“Também faço feijoada, cozido à portuguesa, trouxas de ovos ou pão-de-ló”, enumera. Outro prato que “sai bem” é o frango piri-piri: “Às vezes são duas da manhã e estou na piscina a fazer frango no churrasco”.

Mário Vieira nasceu na Alemanha há 50 anos, filho de um casal de Alcobaça, distrito de Leiria. Trabalha na cozinha há três décadas, com passagens por Grécia, Itália, Rússia, Egipto, Tailândia ou Vietname.

Em 2007, uma firma alemã encarregou-o de uma visita de prospecção à China, para estudar a abertura de um restaurante. “Fui do Norte ao Sul da China e quando cheguei a Changsha, com base na informação que obtive sobre os planos de desenvolvimento da cidade, decidi ficar”, recorda.

Não se enganou: Nos últimos dez anos, o PIB (Produto Interno Bruto) de Changsha cresceu 460%, o ritmo mais alto entre todas as cidades da China, segundo dados oficiais, reflectindo a estratégia de Pequim de descentralizar a riqueza concentrada no litoral.

Capital da dinastia Han, há mais de dois mil anos, a cidade conservou poucos traços desse passado: dezenas de arranha-céus erguem-se hoje nas margens do rio Xiang, onde, quando Mário chegou, “não existia nada”.

“Aqui, numa semana, muita coisa muda. Não sei o que se vai passar nos próximos cinco anos”, descreve o lusodescendente, acrescentando que se identifica com a dinâmica local. “Não há um dia igual”, diz. A cidade é também sede da Hunan Broadcasting System, a segunda maior cadeia televisiva da China, a seguir à estatal CCTV, e produtora de alguns dos mais populares programas de televisão do país e da Mango TV, plataforma ‘online’ com cerca de 50 milhões de usuários diários e programação original.

Milhares de jovens chineses acorrem todos os anos a Changsha na esperança de integrarem a crescente indústria de entretenimento do país, alimentando uma vibrante vida nocturna, com discotecas, bares de ‘karaoke’ e restaurantes cheios até de madrugada, durante toda a semana.
“O chinês de Changsha gosta muito de sair”, retrata Mário. “Esta cidade não para, durante 24 horas”.

Em 2014, Mário casou-se com uma chinesa, com quem, entretanto, teve um filho. A ligação à gastronomia vem do pai, que era também ‘chef’ de cozinha e tinha um hotel e um restaurante na cidade alemã de Dusseldorf.

O pai queria que estudasse medicina ou que fosse para padre, mas Mário sempre quis ser chefe, “apesar dos sacrifícios” que a profissão exige. “Tens que ter tempo para toda a gente, menos para ti”, aponta. “Os ‘chefs’ são como os palhaços: têm que fazer rir as pessoas, estejas cansado ou com problemas, tens que estar sempre pronto”, descreve.

De Portugal, que já não visita há quatro anos, diz gostar sobretudo da tranquilidade do norte: “Lisboa é muito interessante, mas eu prefiro o sossego”. E sente saudades da costa, apesar das vastas praias do Oceano Pacífico. “Não há cheiro igual ao do oceano Atlântico”, diz.

Hong Kong | China não aceitou pedido de demissão de Carrie Lam, escreve Financial Times

[dropcap]P[/dropcap]equim não terá aceite o pedido de demissão da Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, apresentado no contexto dos recentes protestos relacionados com a lei da extradição.

A notícia foi avançada este domingo pelo jornal Financial Times, que escreve que a Chefe do Executivo quis demitir-se “em várias ocasiões nas últimas semanas”, citando duas fontes próximas do processo.

Uma das fontes, que o jornal afirma ter conhecimento directo da situação, disse que o Governo Central terá dito a Carrie Lam que ela teria de se manter no cargo “para resolver a confusão que ela criou”. “Ninguém mais pode resolver a confusão e ninguém quer ocupar o cargo”, adiantou a mesma fonte.

Milhares de pessoas continuam a exigir que a proposta de lei da extradição seja suspensa por completo, mesmo que a Chefe do Executivo já a tenha considerado como “morta”. Entretanto, este domingo a polícia da região vizinha envolveu-se em confrontos com manifestantes durante um protesto de milhares de pessoas que exigem a renúncia de Carrie Lam e uma investigação sobre as queixas de violência policial.

Hong Kong | Manifestantes voltam a exigir renúncia de Carrie Lam

[dropcap]P[/dropcap]rotestos voltaram a encher ontem as ruas de uma cidade no norte de Hong Kong, exigindo a renúncia da Chefe do Executivo e uma investigação sobre as denúncias de violência policial, alargando as queixas contra os líderes do território.

Muitos entre os mais de 10 mil manifestantes que marcharam em Sha Tin pediam eleições genuinamente democráticas, na antiga colónia britânica, enquanto um punhado também pediu independência.

Os manifestantes exigiram uma investigação às queixas de violência policial em manifestações anteriores contra a lei de extradição. Alguns carregavam cartazes que diziam: “A polícia é mentirosa” ou “Defenda Hong Kong”. O protesto na cidade Sha Tin, no norte de Hong Kong, foi pacífico durante a maior parte do dia, mas registaram-se confrontos ao anoitecer, quando agentes da polícia com capacetes e escudos começaram a limpar as ruas, noticia a Associated Press.

Centenas de manifestantes, muitos com capacetes e máscaras cirúrgicas, como protecção contra o possível uso de ‘spray’ de gás pimenta ou gás lacrimogéneo pela polícia, retiraram-se para um centro comercial, onde alguns atiraram guarda-chuvas e garrafas de água sobre a polícia que os seguiu. Segundo a Associated Press, houve repórteres que assistiram aos confrontos em corredores de vários andares do complexo comercial, nos quais manifestantes e polícias se agrediam com guardas-chuvas e agarravam nos capacetes uns dos outros.

No sábado, a polícia usou bastões e gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão de jovens manifestantes que pediam maior controlo sobre os empresários que visitam Hong Kong. Os críticos dizem que estão a prejudicar indevidamente as empresas locais.

No passado dia 7 de Julho, um grupo de jornalistas de Hong Kong marchou até ao escritório de Lam para destacar as queixas sobre polícias que espancaram e obstruíram repórteres em manifestações anteriores. Os jornalistas entregaram uma carta endereçada ao comissário de polícia do território, a um funcionário. “Parece que atacaram deliberadamente os jornalistas”, disse Chris Yeung, presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong.

Da Taipa ao Centro

[dropcap]U[/dropcap]m artigo publicado recentemente num jornal português defendia que as pessoas em Macau têm “perspectivas de realização individual, nomeadamente a nível de aquisição de habitação particular”. Não conheço o autor em causa, mas fiquei contente por ele.

Deve ter um belo salário e acredito genuinamente que o mereça. Mas, não sei que Macau frequenta. Suspeito que viva numa bolha e que as suas deslocações se limitem entre a Taipa e o Centro da cidade, com umas passagens por Hong Kong. Se calhar são muitos os anos sem passar pelo Iao Hon ou o Toi San. Mas podendo ser este o caso, basta olhar para as estatísticas da DSEC e DSF.

A mediana do salário dos residentes é de 20 mil patacas. Segundo a DSF, em Junho, o metro quadrado custava em média 111.806 patacas e a área útil das casas vendidas era em média 57 metros, o que dá um preço médio de 6,37 milhões de patacas por casa. Claro que as pessoas pagam mais do que a área útil e ainda têm de assumir o custo do empréstimo bancário.

Porém, neste caso, se uma pessoa poupar metade das 20 mil patacas, precisa de 53 anos para pagar a casa. Mas alguém com um ordenado de 20 mil patacas consegue poupar assim tanto, com despesas como comida, renda, roupa, saúde, deslocações e, de vez em quando, férias ou deslocações a Hong Kong? Mesmo numa vida em casal, com rendimentos duplicados, basta as pessoas “darem-se ao luxo” de ter filhos para dizerem adeus à casa. Ao mesmo tempo, a maioria dos jovens de cultura chinesa paga uma “prestação” aos pais sobre o ordenado que recebem…

Fazendo as contas muito por alto, para a maioria da população a casa não passa de uma miragem. Claro que há a habitação económica, mas mesmo essa é para os gananciosos dos Porsches e Mercedes que se “divorciam”, omitem rendimentos e aldrabam os concursos.

Ainda a vacinação, parte primeira

[dropcap]D[/dropcap]o início do ano a 3 de Julho de 2019, 1.109 casos de sarampo foram diagnosticados em 28 estados dos EUA. Este é o valor mais alto de casos registados no país desde 1992. A doença foi considerada erradicada no ano 2000.

Como é que uma doença de incidência basicamente residual se transforma num problema de saúde pública? Poderíamos recuar aos primórdios do movimento anti-vacinação que, não surpreendentemente, coincide com os primórdios da vacinação, neste caso na França do séc. XVIII. As primeiras vacinações eram, na verdade, inoculações com amostras “vivas” do vírus. Faziam-se incisões superficiais na pele do paciente nas quais era introduzido fluído de uma pústula de um doente infectado na esperança de que o receptor desenvolvesse uma versão moderada da doença e, ulteriormente, imunidade. O método ficou conhecido como “variolização” e tinha uma taxa de mortalidade reduzida: de 0,5% a 2% dos pacientes submetidos ao procedimento morriam, consideravelmente menos do que os 20%-30% que faleciam em cada surto de varíola, uma percentagem que, nas crianças, era muito superior.

Voltaire, que viveu em Inglaterra de 1726 a 1729, era um acérrimo defensor da variolização. O seu contacto com a realidade inglesa e com as vantagens da inoculação levava-o a pensar na questão de um ponto de vista matemático, uma equação cujos benefícios ultrapassavam largamente os custos. Perante a resistência dos franceses ao processo, Voltaire escreve, na Carta XI, “mas não gostam os franceses da vida?” O problema de fundo, argumentou com acuidade o médico italiano Angelo Gatti num livro da sua autoria, de 1767, assentava na perspectiva subjectiva do risco. Uma possibilidade de morte na profilaxia de uma doença, mesmo que residual, era inadmissível para a maior parte dos franceses, que preferiam arriscar a sorte na lotaria do contágio. A variolização encontrou resistência em França até a implementação da vacina propriamente dita, preparada a partir da versão bovina do vírus da varíola, uma descoberta de Edward Jenner, médico inglês, em 1796, cujas observações o levaram a concluir que as mulheres encarregadas de ordenar as vacas não contraíam varíola por terem sido expostas à varíola bovina (daí o nome “vacina”, de “vaccinia”, cujo radical é o étimo latino para vaca, “vacca”). O último caso mortal de varíola remonta a 1978, quando um cientista foi infectado com o vírus num laboratório.

O movimento anti-vacinação contemporâneo está umbilicalmente ligado à taxa de incidência de autismo e muito especialmente a um artigo de Andrew Wakefield, médico inglês que em 1998 publicou um estudo no qual afirmava provar uma correlação entre a inoculação da vacina tríplice e o número de casos de autismo. Desmentido por dezenas de estudos posteriores, Wakefield vê a sua licença médica cassada e emigra para os Estados Unidos, onde continua a sua cruzada anti-vacinação. Apesar de ter sido formalmente acusado de fraude na elaboração do estudo referente à possível ligação entre vacinas e autismo e de terem sido publicados dezenas de estudos amplamente consensuais a refutá-lo, Wakefield continua a predar comunidades vulneráveis e a difundir a sua mensagem. No Minesota, circa 2007, a comunidade Somali, convencida de que apresenta uma taxa de autismo superior ao dos restantes grupos, vê-se de repente invadida por activistas anti-vacinas entre os quais, não surpreendentemente, se encontra o ex-doutor Wakefield. A taxa de vacinação, que rondava os 92% em 2004 baixa para 42% em 2014. A incidência de sarampo sobe na proporção inversa. Os números do autismo, malgrado os esforços anti-vacinação, mantém-se inalterados.

A continuar.

Confúcio e a Questão dos Ritos

[dropcap]O[/dropcap] jesuíta Matteo Ricci (1552-1610) numa primeira abordagem interpretou como supersticiosos os ritos chineses, mas para os compreender melhor estudou a doutrina de Confúcio, na qual se baseava a sociedade chinesa e o seu sistema político com os princípios de Ordem, Paz e Harmonia.

O nome de Confúcio foi dado por Ricci a Kong Fu Zi (孔夫子, 551-479 a.n.E.), mestre Kong (Kongzi), que nascera no Período Primavera-Outono (770-476 a.n.E.), havia dois mil anos. Viveu durante a Dinastia Zhou do Leste, quando centenas de pequenos reinos até então federados começaram a ser conquistados e grande instabilidade surgia pelas contínuas guerras entre os reinos cada vez maiores e mais fortes. Sem governantes capacitados para esse novo espaço de gestão estratégica, apareceram muitos ilustrados mestres, entre eles Kongzi, que ofereciam os seus conhecimentos, colocando-os ao serviço do rei para a governação.

Kongzi reorganizou os conhecimentos antigos e sendo um grande educador transmitiu-os aos discípulos. Incutiu o respeito pelos Antepassados, como modo de vida propunha o aperfeiçoar da ética pela rectidão, benevolência e virtudes. Como filosofia, o caminho da sabedoria prática pela harmonia na vida social, na educação e na política, atribuindo grande importância à Paz, Harmonia e Ordem como princípio do bem governar e organizar o Estado. Após a sua morte em 479 a.n.E., os ensinamentos, apesar de no tempo terem passado à margem, tiveram seguidores confucionistas, administradores exímios e poderosos. Em 213 a.n.E. boa parte dos escritos foram destruídos pelo fogo, mas reproduzidos de memória perpetuaram-se na sociedade chinesa a partir da dinastia Han (206 a.n.E-220).

Kongzi advogava o conceito de Harmonia: um Universo ordenado, em que o ser humano deve procurar manter as relações harmoniosas com a Natureza, consigo mesmo e com o próximo.

Regulou as relações humanas, para as quais encontrou cinco fundamentais: soberano e súbditos, pais e filhos, marido e mulher, irmão mais velho e os mais novos e entre amigos. “Observados os deveres entre uns e outros há harmonia; de contrário, reina a desarmonia. A relação mais importante é a do pai e filho e a virtude central que a governa é a piedade filial (孝, hau). Sobre esta virtude e as que a acompanham – obediência, respeito e serviço – construiu-se a estrutura da sociedade chinesa.” Entre aspas está o que creio ser do Padre Benjamim Videira Pires, mas poderá ter outro autor e por esta falta me penitencio e agradeço a quem corrija e nos desfaça tal dúvida. O artigo a partir daqui está estruturado sobre esse texto, de onde provêm as citações, pois creio merecer o assunto importância suficiente para ser publicado.

O kau-tau nos ritos

“A piedade filial não deve cessar com a morte dos pais; o filho deve continuar a servi-los como se vivessem, e este dever estende-se a todos os antepassados da família. Confúcio ao estender a piedade filial aos mortos fomentou essa virtude em vida”, levando as acções a serem realizadas como mostra de respeito aos antepassados e desejo de alcançar as suas perfeições com a ajuda do exemplo, imitando-os; – a melhor maneira de honrar a família.

Em memória dos Antepassados realizavam-se rituais nas casas onde se encontravam as tabuletas em madeira inscritas com os nomes dos defuntos antepassados masculinos, pai, avô e bisavô, pois chegando a trisavô passava a tabuleta a ter direito a constar no Templo de Família, até entrar ao fim de algumas gerações no dos Ancestrais. Às tabuletas dirigiam-se expressões de reverência e respeito, num ambiente com flores, velas, incenso, pois a intenção é “arranjar um certo lugar ou termo para onde possam elevar as suas mentes; e para o qual, como para uma pintura, possam dirigir as costumadas honras, como se eles estivessem presentes.” Nesta cerimónia fazia-se “o kau-táu (bater cabeça), em que uma pessoa se ajoelha e inclina profundamente até tocar com a testa no solo. É o costume chinês do respeito: nove prostrações ao trono nas recepções imperiais; prostrações nos tribunais perante os magistrados e dos filhos perante os pais e sogros. Assim, nada há de religioso nas prostrações nos funerais diante do caixão e não se podia afirmar que se tratava de adoração dos mortos.”

Tudo isto levou Ricci a modificar a primitiva opinião: “o que ao europeu parecia superstição e adoração, para o chinês era apenas uma expressão simbólica da piedade filial. O facto de usarem as mesmas cerimónias para os vivos levava a crer que não se tratava de actos religiosos quando aplicados aos mortos. Tal era o caso da queima do incenso (…). As pessoas educadas costumavam receber os hóspedes com incenso, que era parte do cerimonial da etiqueta, que dava graça e harmonia às relações sociais, sendo um sinal de respeito. Não havia, pois, razão para lhe dar um significado religioso quando era usado nos funerais, perante as tabuletas ou nas salas de Confúcio.”

Após longas discussões com os amigos chineses, Ricci concluiu nada haver de idólatra nos ritos ancestrais nem talvez de supersticioso e “submeteu estas opiniões a Valignano, que as discutiu com os seus consultores. A conclusão foi ser permitido participar nos ritos solenes em honra dos antepassados da família com a condição de não se queimar o papel-dinheiro, mas não era permitido tomar parte nas cerimónias solenes em honra de Confúcio com o sacrifício duma vítima, porque, segundo dizia Furtado, (Cit. por Dunne, Generation of Giants).” Em dias prescritos pelo ritual, com aparência de sacrifícios religiosos, oferecia-se aos antepassados um animal (imolado no local), vinho, seda…, seguindo um banquete familiar.

Outras cerimónias os jesuítas permitiam e até observavam. “Por ocasião da morte de alguém, os amigos, que vinham dar os pêsames, envergavam, como luto, uma veste de seda branca; ao entrar no quarto, faziam quatro vezes o kau-t’au diante do defunto; os filhos do defunto repetiam então o mesmo gesto; o visitante, aproximando-se mais do caixão, voltava a fazer a mesma cerimónia.

Os ritos em honra de Confúcio eram apenas praticados pelos letrados e não diferiam no essencial das cerimónias ancestrais,” sendo após a “passagem nos exames feitas prostrações perante a tabuleta de Confúcio numa sala dedicada ao mesmo. Iguais ritos, prostrações e queima de incenso eram observados pelos oficiais e letrados nos dias da lua nova e lua cheia.”

O confucionismo baseia-se nos ensinamentos de Kong Fuzi, reformador que a partir dos ritos dos Zhou reorganizou a ordem da sociedade e estruturou na China o pensamento humano pelos conceitos de virtude, justiça, tolerância e generosidade. Para a sabedoria prática, a importância da Astronomia e na preparação do Calendário, pois qualquer incorrecção perturba o balanço entre o Céu e a Terra.

Uma respiração sustenta-se

[dropcap]A[/dropcap]onde ides nessa lesta ligeireza? Ainda agora aqui estáveis, mas em piscando os olhos, já vos ides? Vinde cá, meu tão certo secretário, que não vos faço testemunha de queixumes ou lamentos, outras penas, mas desta admiração franca que sempre aqui venho escrevendo. Vinde cá, papel, em que as minhas leituras desafogo, para que vos diga que o livro se chama «Um quarto em Atenas» e que o escreveu Tatiana Faia; sim, meu tão certo secretário: é bem a prova de que a poesia encarrilha em regras próprias, muito suas, nem sempre facilmente apreensíveis. Encarreira em percursos que nem sonhais, quando faz do «mapa do mundo» «a sua miniatura». Tal como se diz da personagem/mulher que habita um dos mais fortes e densos poemas do livro (e por que não dizer belo, se de impressões de leitura, somente, aqui se trata?) intitulado «Cinco Visões de Paraíso», torna-se, também, ao correr do livro, indistinta «a fronteira entre a mente e o corpo», quando nos poemas se anota, a cada verso, «a distância/ entre lacuna e entendimento». São estas as manhas da grande poesia: provocar tensão entre o nosso modo de reconhecimento e a percepção da linguagem do poema, dos mundos que ele resgata e recupera, num mapeamento de percursos, em profunda irrequietude.

No final de «Um quarto em Atenas», num texto dedicado a agradecimentos que se tornam numa arte poética, breve, desinteressada, diz-nos Tatiana: «Nunca se sabe bem onde um poema começa, a barreira entre pensar sobre literatura e escrever é sem dúvida uma ténue parede através da qual se pode conversar.». Assim também ler: há certos poemas cuja leitura torna indivisa a barreira entre ler e pensar sobre que coisa é um poema; de que modo produz a poesia os seus significados, melhor, o seu assombramento: aquela força quase física de uma tensão que começa a balancear o texto e que abala o leitor, o perturba, desinquieta.

É equilibrado na barreira ténue entre «lacuna e entendimento» que o leitor reconhece, estranhando, os espaços do poema (uns físicos, outros mentais), as referências, os autores convocados, poemas, filmes, pessoas, personagens, tempos que se perpassam. E, essencialmente, um ponto de vista: os sítios de onde se olha («esses lugares todos/onde para lá do acidente convergimos») para o lugar que se olha. Este é um livro feito de territórios, locais de vigia sobre o mundo: janelas, afinal, para outros lugares, que se observa, com a nostalgia irónica de quem analisa em distância e explode nas suas inquietações e nervosismos. Um processo em tudo similar ao que se diz do grito de Munch, que, afinal, não representa, simplesmente, um homem a gritar, mas «um homem a tentar conter/como as barreiras de um rio/ o grito de tudo o que o rodeia». Será isto. A tensão do grito desta poesia resiste na busca de contenção de tudo o que a rodeia, também.Sim, meu tão certo secretário, tendes razão: estou a roubar versos, tão somente, para dizer dos poemas aquilo que quereria dizer; uma forma, eu sei, de os canibalizar.

Mas canibalizar o verso alheio é o mínimo que podemos fazer a um poema, deformando-o, torcendo-o, até que ele nos diga aquilo, meu secretário, que gostaríamos de ter dito. Que mais podemos fazer com os poemas, se não isso: usar-lhes os versos, como um canivete suiço, para esventrarmos um pouco o caroço do nosso próprio pensamento de leitura?

Nesse texto no final do livro, Tatiana diz que uma vez tentou «explicar a um crítico que [mantinha] o hábito questionável de usar pessoas que são parte da [sua] vida para escrever.».

Enumera-as e são várias; assim como as diversas referências, modernas atravessando as clássicas, que falam nestes poemas sempre longos, a desafiar a tensão que pode atingir a língua de um poema; escrever assim é canibalizar, incorporar, absorver pessoas, textos, vidas. Até os locais e datas (paratexto que acompanha muitos dos poemas) se tornam, no livro, itinerários, não dos lugares onde a autora esteve, e onde escreveu (isso pouco nos interessa), mas dos ângulos de onde se olha a parte do mundo em que não se está, sublinhando a errância — nostalgicamente irónica –, como um fio condutor destes poemas. Como se diz, a dado momento: «a mais absoluta nostalgia/tem determinado todos os poemas.».

Duas referências assombram o livro, acima de todas as outras: Jorge de Sena e Ruy Belo assomam não só como autores citados, expressamente ou camuflados ou aglutinados, mas essencialmente como um ângulo de visão, um ponto de vista: o ponto de vista da distância, seja nas perspectivas sobre o tempo detergente (sempre o nosso), onde nunca foi possível o puro pássaro, seja pela ditosa pátria amada, em que ninguém merece ter nascido. O longo poema «Retorno, 2016», de que cito o final, é bem o exemplo desta errância de onde se olha, por exemplo, para o país:

[…]
« e um poeta com menos discernimento
neste país tão europeu que se enche
de painéis de publicidade em inglês
como selvas se enchem de vegetação
e certos quadros da renascença italiana
se enchem de cabeças cortadas

alinharia aqui os três fs e concluiria
que não tem sido fácil calcular a distância certa
que nos pode salvar do orgulho de estar sós
sem grande artifício há no coração desta
bela cidade uma enorme praça de touros
a ternura desarmante e sem dentes
de todos os empregados de mesa
um falo gigante num dos parques principais
e a ruína esfomeada de tudo o que cresce ou não cresce à volta

e o poeta que esta noite fechar a sua janela sobre o tejo
sabe que só é preciso fechar os olhos a metade
ou mesmo olhar para tudo com um olho a menos
para poder continuar a amar em paz o resto

Este prima de onde se olha para a realidade, como se se estivesse à janela de um quarto distante também absorve a visão crítica e irónica sobre o acto de escrita e o papel (não tu, meu tão certo secretário, outro) tão amarrotado, já, do poeta, bem evidente em textos como «Como reconhecer o seu autor feliz», «O grande fardo de palha do poeta comprometido» ou «Literatura para Falcões», imenso poema.

É de esguelha, de vários cantos, num percurso nómada, que se vê Europa como espaço e tempo e os seus horrores, presentes e passados (a perseguição acossada do nazismo é uma sombra do livro ainda, como uma memória de que se quer ainda sentir a culpa): «sábio/ deve ser só quem se consegue lembrar/depois de tudo roubado/do dever da própria memória», lê-se no poema, justamente intitulado « O filho de Saul».

Ler «Um quarto em Atena» é tentar a decifração de espanto a cada verso; espécie de vertigem, que sente as palavras em tensão. Não é a língua, a história literária ou cultural que nos dá o melhor diapasão para avaliarmos um livro de poesia. Não, meu tão certo secretário. É como vos digo: as leis da física oferecem instrumentos bem mais adequados. Um bom poema é aquele que põe a língua, as certezas, os leitores, a lógica do discurso, as referências, o dizer, num equilíbrio tenso, em tensão: esta medida de grandeza que avalia a força de tracção a um objecto. Ou ele se quebra ou se deforma ou volta ao seu intacto estado inicial (quase nunca).

Sim, meu tão certo secretário, é esta tensão, sem mais explicações, que parece definir a poesia de Tatiana Faia; a expectativa, o espanto, de ver algo a quebrar-se no poema, ou simplesmente ( e não é de somenos) assistir à força, à velocidade, à inquietação de sentir as palavras da poesia retomarem a forma original. No texto final de «Agradecimentos», a poeta lembra de passagem Ruy Belo, «autor de poemas longos e inesperados, […] onde se pode sublinhar muitos versos». É o que se espera de um leitor perante um bom livro de poesia: que lhe sublinhe os versos, tomando-os para si, levando-os no bolso, que há-de surgir o dia em que esses versos nos possam valer. É, no fundo, meu tão certo secretário, esta certeza que fica da escrita de Tatiana Faia: «enquanto ela escrevinhar/uma respiração sustenta-se e é tudo».

Tatiana Faia, Um quarto em Atenas, Lisboa, Tinta da China, 2019</h4

Huawei ainda não viu benefícios de trégua na guerra comercial

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Huawei, Liang Hua, disse que não “viu ainda mudanças”, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter prometido desbloquear a exportação de tecnologia chave para o grupo chinês das telecomunicações.

A decisão “injusta” de colocar o maior fabricante de equipamentos de rede na lista negra do Departamento de Comércio norte-americano, restringindo as vendas ao grupo, está a prejudicar os fornecedores norte-americanos e clientes da Huawei em todo o mundo, afirmou Liang Hua, em conferência de imprensa.

Washington tem pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei na construção de infraestruturas para redes de quinta geração (5G), a Internet do futuro, acusando a empresa de estar sujeita a cooperar com a espionagem chinesa.

Em Maio passado, o Governo norte-americano emitiu uma ordem executiva que exige às empresas do país que obtenham licença para vender tecnologia crítica à Huawei, num golpe que se pode revelar fatal para o grupo.

Após um encontro entre os líderes da China e EUA, Xi Jinping e Donald Trump, em Junho passado, os dois países anunciaram um período de tréguas, visando chegar a um acordo.
Trump prometeu então levantar a interdição sobre as vendas à Huawei, mas Liang afirmou que “até à data”, a empresa “não viu mudanças tangíveis”. “Julgamos que a nossa empresa deve ser completamente retirada da lista negra”, afirmou. O presidente da Huawei afirmou ainda que, apesar daquelas restrições, as receitas do grupo aumentaram no primeiro semestre do ano, sem detalhar números.

As restrições nas vendas ao grupo constituem também um golpe para os fornecedores norte-americanos de chips e outras tecnologias, já que a Huawei é um dos maiores clientes.
Liang disse que a Huawei está decidida a responder à possível perda de acesso ao sistema operacional Android, da norte-americana Google. O grupo desenvolveu o seu próprio sistema operacional, o Hongmeng, mas até agora não o utilizou em nenhum dos seus telemóveis. “O sistema operacional e o ecossistema Android ainda são a nossa primeira escolha”, disse Liang. “É claro que, se os EUA não nos permitirem usá-los, poderemos, no futuro, desenvolver o nosso próprio Hongmeng como sistema operacional? Ainda não decidimos”, apontou.

A Huawei também está a desenvolver os seus próprios chips e outras tecnologias chave, o que reduziria as compras de componentes fabricados nos EUA e ajudaria a proteger a empresa contra possíveis retaliações de Washington.

Xinjiang | Quase 40 países apoiam China sobre discriminação de minoria

Trinta e sete países, incluindo Rússia e Síria, apoiaram a China junto da ONU, após 22 Estados, principalmente ocidentais, terem enviado uma carta à organização a condenar a actuação chinesa sobre as minorias na região de Xinjiang

 

[dropcap]O[/dropcap] grupo de 37 países, em que também constam a Arábia Saudita, a Coreia do Norte, o Qatar, a Argélia, a Nigéria e as Filipinas, escreveu igualmente uma missiva às Nações Unidos, documento esse que foi divulgado na passada sexta-feira pela China no último dia da 41.ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra (Suíça).

Na missiva, endereçada ao presidente do Conselho, Coly Seck, e à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, os países signatários apoiantes de Pequim “congratulam a China pelas notáveis realizações em matéria de direitos humanos”.

Segundo estes países, “o terrorismo, o separatismo e o extremismo religioso têm provocado enormes prejuízos para todos os grupos étnicos em Xinjiang (no noroeste da China)”. “Perante o grave desafio do terrorismo e do extremismo, a China tomou uma série de medidas contra o terrorismo e a radicalização em Xinjiang, nomeadamente a criação de centros de educação e de formação profissional”, prosseguiram os países signatários, realçando que “a segurança regressou” à região.

O grupo de 37 países indicou ainda que a China convidou diplomatas e jornalistas a deslocarem-se a Xinjiang, defendendo que as recentes informações relativas à região “contradizem completamente aquilo que foi relatado nos ‘media’”.

Em tom de conclusão, os países pedem à comunidade internacional para não avançar com acusações com base em “informações não confirmadas antes de visitar Xinjiang”.

A outra carta

Em Março, Michelle Bachelet disse que esperava ter “luz verde” de Pequim para ter “pleno acesso” a esta vasta região autónoma chinesa, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão.

Após vários atentados atribuídos a membros da minoria muçulmana turcófona Uigures, o Governo chinês impôs fortes medidas de segurança neste território.

A China é suspeita de ter colocado cerca de um milhão de pessoas em espaços conhecidos como campos de reeducação. Pequim nega tais números e prefere falar em “centros de formação profissional” destinados a ensinar conhecimentos e a impulsionar a luta contra a radicalização islâmica.

Na quarta-feira, 21 países ocidentais (como Reino Unido, Canadá, França ou Alemanha) e o Japão enviaram uma carta à ONU para expressar a sua preocupação perante “relatos credíveis que dão conta de detenções arbitrárias (…), bem como de uma vigilância e restrições generalizadas, visando particularmente os Uigures e outras minorias em Xinjiang, na China”.

Nessa carta, os países exortaram Pequim a permitir a liberdade de movimentos dos Uigures e de outras comunidades minoritárias.

MAM | Escolhidos trabalhos para Exposição de Artistas de Macau

[dropcap]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM), em parceria com o Instituto Cultural (IC), deu por concluída a selecção das obras que vão estar presentes na Exposição de Artistas de Macau”, depois do processo de candidaturas que reuniu 148 artistas. De acordo com um comunicado, foram seleccionados três Prémios de Júri, sete Prémio de Excelência e 66 obras (conjuntos) finalistas.

Da lista final constam trabalhos como “In the Mountain”, de Tam Chon Kit, “Walls III”, de Lam Un Mei e “Historical Memory” de Mak Kuong Weng, entre outros. Todos os trabalhos seleccionados serão enviados a Pequim onde serão incluídos na “Exposição de Artistas de Macau 2019”, a ter lugar no Museu Nacional de Arte da China. Em Novembro será a vez de o MAM receber a mostra “Beleza na Nova Era – Obras-primas da Colecção do Museu Nacional de Arte da China”, com o objectivo de promover o intercâmbio artístico entre Pequim e Macau.

Anim’Arte Nam Van | Inaugurada nova exposição de graffiti

[dropcap]F[/dropcap]oi inaugurada na passada sexta-feira uma nova exposição no espaço Anim’Arte Nam Van, intitulada “Lake Up Graffiti Jam”, que nasce de uma colaboração entre o Instituto Cultural (IC) e a Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau.

Como tal, as entidades convidaram os artistas CEET e MCZ para decorar conjuntamente um mural, com o tema “Alegria para Todos”, que visa “potenciar a atmosfera cultural e criativa do Anim’Arte Nam Van com uma nova exposição de graffiti”, aponta o IC, em comunicado.

Neste trabalho, “os dois artistas procuram apresentar uma combinação de elementos diferentes, tais como um sorriso inocente, um duende de energia positiva e um guardião da felicidade, através da sua linguagem comum – o grafitti”. Além disso, os artistas cooperaram com a Macau Association for Community Care Children, convidando quatro famílias para participar no processo criativo.

CEET é um artista francês contemporâneo mundialmente reconhecido e considerado exímio na técnica tipográfica de “estilo selvagem”, prevalente no graffiti, transformando completamente as letras e produzindo um efeito impressionante através do forte contraste de cores. O artista tem um particular interesse em partilhar os seus trabalhos com os outros, recorrendo a paredes, esculturas, design gráfico e pinturas a óleo para expressar a sua experiência de vida e a sua atitude em relação à vida.

O IC aponta que CEET vive na China desde 2003, e que participou em várias exposições e projectos artísticos, onde se inclui o título de embaixador artístico de uma série de marcas internacionalmente conhecidas. Já MCZ é um artista de graffiti natural de Macau, cujo estilo incorpora o conceito de autonomia, criando personagens ilustradas tais como o balão amarelo sorridente, esculturas e instalações, para transmitir alegria ao público através de obras artísticas que podem ser vistas em diferentes partes da cidade.

Arte contemporânea | MOCA Taipei celebra 18 anos com nova exposição 

Chama-se “Once Upon a Time – Unfinished Progressive Past” e é a nova exposição que marca os 18 anos de existência do museu de arte contemporânea da Ilha Formosa. Para marcar o aniversário do MOCA Taipei, está também a ser pensado um projecto de cinco anos que incide sobre a história e a sociedade de Taiwan

 

[dropcap]O[/dropcap] primeiro museu de arte contemporânea de Taiwan está de parabéns e, para recordar esse marco está programada a inauguração de uma nova exposição, no próximo dia 20 de Julho, que tem como nome “Once Upon a Time – Unfinished Progressive Past”, com curadoria de Kao Chien-Hui, um crítico de arte e curador que trabalha a partir de Chicago.

A mostra estará patente no MOCA Taipei (Museu of Contemporary Art) até ao dia 31 de Outubro e contém trabalhos de 16 artistas que nasceram entre os anos de 1950 e 1980, tal como Leo Liu, Dean-E Mei, Chien-Chi Chang e Ruey-Shiann, entre outros.

De acordo com um comunicado oficial do evento, a exposição pretende constituir “um ponto crucial da história cultural de Taiwan, quando a arte contemporânea da região começou a ganhar forma”.

As obras que vão estar patentes ao público “exploram as vidas e as memórias culturais de três gerações do pós-guerra, entre 1950 e 1990, partilhando também o seu passado de repressão e revolta”, sendo que também espelham um sentimento de retrospecção. Isto porque as obras “revelam o impacto das memórias colectivas, bem como das suas aproximações estéticas”.

Desta forma, os artistas participantes nesta iniciativa “reexaminam as suas motivações, o contexto histórico e a sua transformação ao nível da linguagem artística, elementos que têm feito parte da emergente arte contemporânea de Taiwan”. “Once Upon a Time” mostra também ao público “a consciência, não só dos artistas, mas talvez de toda a sociedade, e uma resposta face à identidade da ilha e do território, sistema social, passado colonial e influência ocidental”. Desta forma, consegue-se traçar um mapa “do desenvolvimento cultural de Taiwan”.

Olhar o futuro

Além da exposição, a direcção do MOCA Taipei está também a pensar noutros projectos que façam uma reflexão sobre o desenvolvimento da entidade local. Citada pelo mesmo comunicado, Yuki Pan, directora do museu, explica que “uma vez que celebramos 18 anos de existência, uma marca de entrada na idade adulta, estamos a lançar o nosso projecto a cinco anos na área da arte contemporânea”, o qual “traça uma retrospectiva do desenvolvimento da arte contemporânea na região e também olha para o futuro”.

Com “Once Upon a Time”, o MOCA Taipei pretende “mostrar o contexto do nascimento da arte contemporânea em Taiwan e permitir que os visitantes explorem a relação entre arte e sociedade”, acrescentou Yuki Pan.

Este projecto a cinco anos não é mais do que uma iniciativa que convida um curador a trabalhar na exposição que responde a cinco tópicos, tais como o desenvolvimento da arte contemporânea, a criação especial, a crítica do sistema social, a arte contemporânea em Taiwan e o lado multidisciplinar da arte contemporânea.

Além destas iniciativas, o MOCA Taipei apresenta também, até ao dia 28 deste mês, uma exposição individual do artista taiwanês Chu Chun Teng, intitulada “Rooftop”, que explora as dificuldades sentidas pelos residentes da Ilha Formosa na cidade transfronteiriça de Tengchong.

O público poderá também ver a mostra “Why Did You Come to Taiwan?”, de 3 de Agosto a 29 de Setembro, com a curadoria de Cheng Shao-Hung.

Saúde | 71 residentes de Macau aderiram ao seguro de Zhuhai

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Saúde informou no passado sábado que, até ao dia 10 de Julho, 71 cidadãos de Macau tinham aderido ao projecto piloto do Seguro Básico de Saúde dos Residentes da Cidade de Zhuhai. O acesso dos residentes locais ao seguro de saúde de Zhuhai é possível desde o dia 1 de Julho, uma medida que permite estender o direito de cuidados médicos a cerca de 8 mil residentes da RAEM que vivem em Zhuhai.

Em declarações aos meios de comunicação social, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, assinalou que foram tidos em conta “o espírito e os princípios dos cuidados médicos para grupos vulneráveis em Macau, sendo que estes grupos de pessoas também são objecto de apoio médico gratuito em Macau”.

Os grupos mais vulneráveis que participam no seguro recebem um subsídio de 410 patacas do Governo da RAEM. Contudo, o sistema de segurança médica implementado em Macau possui cobertura superior à do sistema de seguro médico no Interior da China.

Os grupos vulneráveis, os pacientes de longo prazo e os portadores de doenças graves ou especiais são tratados gratuitamente no território. Os residentes, de modo geral, têm atendimento gratuito nos centros de saúde, gozando da redução de 30 por cento em despesas no hospital.

Macau Special Olympics contra inclusão de deficientes no salário mínimo

[dropcap]H[/dropcap]etzer Siu, director-executivo da Macau Special Olympics e ex-candidato às eleições legislativas na lista de Angela Leong, defendeu, de acordo com o Jornal do Cidadão, que os portadores de deficiência não devem ser incluídos na lei do salário mínimo universal.

“Se os deficientes também beneficiarem desta lei, ao terem acesso ao salário mínimo universal, podem ver as suas oportunidades limitadas, uma vez que não respondem aos requisitos necessários para arranjar um trabalho.”

Para Hetzer Siu, “quando uma pessoa com deficiência tem suficiente capacidade de trabalho, deve receber um salário na totalidade como manda a lei”. “No entanto, algumas pessoas não têm total capacidade de trabalho e não conseguem responder a cem por cento, e podem arranjar emprego recorrendo a outros mecanismos flexíveis”, acrescentou.

O responsável lembrou que na Austrália é dado um subsídio aos portadores de deficiência que lhes permite atingir o nível do salário mínimo que é pago no país, enquanto que em Hong Kong existe um mecanismo de avaliação ocupacional das pessoas com deficiência.

Uma protecção

Celeste Vong, presidente do Instituto de Acção Social (IAS) também referiu ao mesmo jornal que o Governo teve “uma boa intenção” ao excluir os portadores de deficiência do salário mínimo universal, uma vez que não existe um mecanismo de avaliação de capacidade de trabalho. Ainda assim, a presidente do IAS defende que as empresas devem ter mais confiança para contratar portadores de deficiência.

O facto da lei não incluir este grupo de pessoas tem como objectivo protege-las em termos de oportunidades de emprego, uma vez que, enquanto não houver forma de avaliar a verdadeira capacidade dos deficientes, estes podem continuar a ser contratados com um salário, ainda que menor face ao que consta na lei.