Tribunal | Ajuda cunhado a obter empréstimo com negócio simulado e acaba “traído” João Santos Filipe - 24 Jul 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Setembro de 2008, um empresário com negócios no Interior da China pretendia contrair um empréstimo de 500 mil patacas, junto do Banco Nacional Ultramarino, com o intuito de investir na expansão da sua actividade. Como não tinha posses para obter o valor que pretendia, pediu ajuda à sua irmã mais nova. Preocupada com o empresário, a irmã acabou por sugerir que o marido transferisse um imóvel para o irmão, com o objectivo de o empresário conseguir as garantias bancárias necessárias. Transferido o imóvel para o nome do empresário e da esposa, mesmo que na realidade não tenha havido transferências de verbas entre os familiares, o empréstimo foi garantido, com condições mais vantajosas para o comerciante, nomeadamente ao nível dos juros. Cumpridas as formalidades e com as 500 mil patacas para investir no Interior, o empresário recusou cumprir a sua parte do acordo e, mesmo sem ter pago pelo imóvel, recusou transferi-lo de novo para o cunhado. Recurso aos tribunais Enganado, o marido da irmã mais nova do empresário viu-se forçado a recorrer aos tribunais para evocar negócio simulado e recuperar o imóvel. Depois de o Tribunal Judicial de Base (TJB) ter analisado o caso, foi considerado que o cunhado enganado tinha razão. “Existia entre C [cunhado enganado], A e B [empresário e esposa] acordo de vontades, tendo havido entre eles uma comunicação suficiente, em ordem a chegar-se a esta ideia que ia no sentido de obter um empréstimo bancário para A. A conduta de C, A e B tinha, por objectivo, defraudar o banco, convencendo-o de que, se A e B comprassem o imóvel, lhes concedia, em consequência, o empréstimo. Pelo exposto, as condutas dos três preencheram os elementos de simulação fraudulenta”, considerou o TJB. Neste sentido, o TJB considerou ainda que até o recurso a um agente imobiliário no “negócio” foi uma forma de legitimar a transacção falsa perante o banco, uma vez que como todos se conheciam e tinham acesso ao imóvel, que nada justificava que fosse paga uma comissão de 15 mil patacas. O empresário ainda contestou a decisão no Tribunal de Segunda Instância, contestando a análise dos factos do TJB, mas acabou por perder a causa. A decisão foi revelada pelo portal dos tribunais na segunda-feira.
Offshores | BCP Macau recebeu de Portugal 32,6 milhões de euros entre 2011 e 2014 Andreia Sofia Silva - 24 Jul 2019 O jornal Público noticiou esta segunda-feira dados das transferências de dinheiro de Portugal para paraísos fiscais no período compreendido entre 2011 e 2014. Macau tem uma presença residual neste esquema, com a sucursal do Banco Comercial Português que recebeu 32,6 milhões de euros de um total de 18.219 milhões de euros que saíram do país sem pagar impostos [dropcap]J[/dropcap]á são conhecidos os montantes que saíram de Portugal para paraísos fiscais no período entre 2011 e 2014, e que estavam ocultos devido a um apagão ocorrido no sistema informático na base de dados da Autoridade Tributária e Aduaneira em Portugal. De acordo com uma notícia publicada no jornal Público esta segunda-feira, Macau foi um dos destinos desse dinheiro, uma vez que a sucursal do Banco Comercial Português (BCP) recebeu 32,6 milhões de euros. No total, o BPC transferiu para o exterior 1405,5 milhões de euros. É de frisar que a sucursal do BCP em Macau apenas teve carácter offshore de 1 de Julho de 1993 até 11 de Maio de 2010. Além do BCP, o antigo Banco Espírito Santo (BES) e a PDVSA – Petróleos da Venezuela dominaram 60 por cento do fluxo do dinheiro, num total de 18.200 milhões de euros transferidos para offshores. O jornal escreve que “hoje o ritmo dos fluxos é ainda maior”, mas que, na altura, “o país estava longe de saber quem enviava mais dinheiro para os paraísos fiscais”. Além disso, “parte da informação comunicada pelos bancos, correspondente a 10.000 milhões, não ficou registada na base central de dados da autoridade tributária”. Os dados publicados pelo diário português “não permitem identificar nem a razão das transferências nem o destino, seja o país para onde seguiu o dinheiro seja a conta de chegada”. No caso do BCP, a administração do banco “não se quis pronunciar sobre o motivo das transferências”. O porta-voz da entidade bancária apenas disse ao jornal que “não comenta situações específicas que envolvem clientes”. No entanto, essas mesmas transferências “não se referem a clientes da instituição, mas sim a sociedades do BCP que foram, elas próprias, ordenantes desses fluxos”. MP investiga O apagão de dados do sistema informático está a ser investigado pelo Ministério Público em Portugal, mas, até agora, ainda não há arguidos, apesar do inquérito ter sido aberto em Agosto de 2017. As autoridades suspeitam da prática de crimes como sabotagem informática ou abuso de poderes, que podem ser imputados a altos dirigentes do Governo português. Uma das vozes mais críticas deste caso tem sido a ex-eurodeputada Ana Gomes, que, ao Público, defendeu que “há todas as razões para suspeitar que parte destas transferências diz respeito a bancos e empresas envolvidos em escândalos diversos revelados com a crise financeira” que se viveu em Portugal.
Aeroporto | Terminal de carga evacuado devido a mercadoria suspeita Hoje Macau - 24 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] polícia de Macau evacuou ontem, durante três horas, o terminal de carga do aeroporto internacional do território depois de ter encontrado mercadoria suspeita, anunciou a Autoridade de Aviação Civil. Pelas 13h (o edifício foi bloqueado pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), que procedeu à inspecção da mercadoria suspeita, de acordo com um comunicado. O mesmo comunicado indicou que as autoridades aeroportuárias, ao detectarem a mercadoria suspeita, activaram de imediato o centro de operações de emergência do aeroporto, liderado pelo CPSP. Às 16h10, a polícia levantou o bloqueio e o terminal retomou as operações normais.
Obras no Centro de Ciência de Macau terminam no início de Outubro João Santos Filipe e Juana Ng Cen - 24 Jul 2019 Sio Hon Pan, curador do centro, antevê que as obras de reparação da infra-estrutura fiquem prontas em Outubro, ou seja mais de dois anos após a passagem do tufão Hato, e que custem 120 milhões de patacas [dropcap]A[/dropcap]s obras de reparação do Centro de Ciência de Macau, após os danos causados pelo tufão Hato em Agosto 2017, devem ficar concluídas no início de Outubro. A informação foi avançada ontem por Sio Hon Pan, curador do Centro de Ciência, em declarações aos jornalistas, citadas pelo jornal Ou Mun. Segundo Sio, o orçamento de 120 milhões de patacas para os arranjos vais ser cumprido, sem que se registem gastos extra. O responsável revelou que o andamento dos trabalhos é “ideal” e que metade dos andaimes, que nos últimos dois anos coloriram de verde a infra-estruturas, já foram removidos. “A conclusão das obras está prevista para o final de Setembro ou para o início de Outubro. As obras não vão exceder os 120 milhões de patacas”, afirmou Sio Hon Pan. De acordo com o responsável, uma vez que se espera que as chuvas possam abrandar o ritmo normal das obras, os trabalhadores vão fazer horas extra para compensar o período em que os trabalhos vão ser afectados pela precipitação. Porém, em relação a este aspecto, Sio sublinhou que o aspecto da segurança vai estar sempre acima de qualquer outra prioridade. Ainda de acordo com os pormenores dos trabalhos, desta vez foi utilizado no revestimento das paredes um material mais resistente, que se espera poder aguentar tufões severos, como o Hato, sem sofrer os danos do passado. Já em relação à construção de diques na orla costeira daquela zona, que estão a ser erigidos ao mesmo tempo que as restantes obras, Sio explicou que os trabalhos devem ficar concluídos até ao final de Setembro. Obras sem fim A visão do Centro de Ciência de Macau rodeado por andaimes com protecções verdes tem sido uma constante desde 2015. Em 2017, o Hato causou danos graves ao exterior da estrutura. Porém, logo em 2015 um incêndio de grandes dimensões também causou estragos de grande dimensão. O caso aconteceu em Novembro, quando estavam a ser realizadas obras de manutenção. Na origem do incêndio estiveram trabalhos de soldadura que levaram a um fogo que esteve activo durante quase duas horas. Na altura, foi necessário retirar do edifício 260 veículos e o Corpo de Bombeiros combateu as chamas com uma equipa de 54 membros e ainda 13 viaturas. Para Sio Hon Pan, as obras têm tido um efeito negativo no número de visitantes do centro, que nos últimos dois anos registou uma quebra no número total de utilizadores. Durante este ano entre 350 mil e 380 mil pessoas visitaram o Centro de Ciência, um registo inferior ao de 2017. O curador está confiante que após o fim dos trabalhos o número de visitantes volte a aumentar.
Ponte HKZM | Coutinho quer auto-silo aberto ao público Hoje Macau - 24 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho quer saber se o Governo vai abrir ao público o auto-silo da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. De acordo com o legislador, o espaço tem capacidade para 6089 viaturas, mas normalmente apenas é ocupado por cerca de 300 carros. “Vai o Governo disponibilizar os referidos parques aos cidadãos que residem na zona norte da cidade, incluindo os que pretendem estacionar os seus veículos para deslocarem a Zhuhai evitando o abandono e desuso do megaparque de estacionamento que foi construído a custo do erário público?”, questionou o deputado. José Pereira Coutinho quer ainda saber os passos que vão ser dados para que os cidadãos possam circular livremente na ponte, sem necessidade de quota prévia.
Habitação | 120 milhões para apoiar candidatos em lista de espera Hoje Macau - 24 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] Governo tem um orçamento de 120 milhões de patacas destinado ao plano provisório de atribuição de abono de residência a agregados familiares da lista de candidatos à habitação social, revelou ontem o porta-voz do Conselho Executivo Leong Heng Teng. A medida está prevista no projecto de regulamento administrativo que altera o prazo de atribuição deste apoio, permitindo que volte a ser posto em prática. Recorde-se que a medida foi aprovada em 2008 e prorrogada até Agosto de 2017. Assim sendo, os agregados familiares que se encontram na lista de espera para aceder a uma fracção de habitação social publicada a 13 de Fevereiro deste ano, vão beneficiar de um apoio mensal com efeitos retroactivos desde 1 de Março. O plano tem a duração de doze meses, ao longo dos quais os agregados compostos por uma ou duas pessoas vão receber 1650 patacas mensalmente. Os agregados compostos por mais de duas pessoas têm direito a 2500 patacas por mês. De acordo com os dados revelados ontem por Leong Heng Teng, existiam a 13 de Fevereiro 6349 agregados em lista de espera. Os interessados têm 90 dias para se candidatar a este rendimento a contar do dia de publicação da lista de espera, um prazo que termina no próximo dia 30 de Julho.
Protecção Civil | Associação das Mulheres apoia criminalização de rumores Juana Ng Cen e Sofia Margarida Mota - 24 Jul 2019 A Associação Geral das Mulheres de Macau é a favor da polémica criminalização de divulgação de notícias falsas prevista na proposta de lei de bases da protecção civil. De acordo com Un Sio Leng, a medida é positiva, mas o Governo deve esclarecer a população [dropcap]A[/dropcap] Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM) quer mais informações sobre a lei que criminaliza a disseminação de rumores em caso de catástrofe, medida prevista na lei de bases da protecção civil. A entidade defende que a legislação pode ser usada para limitar, num curto espaço de tempo, a proliferação de informações que causem pânico à população. Em declarações ao Jornal do Cidadão, a vice-presidente do Conselho Executivo da AGMM, Un Sio Leng, defendeu a proposta que tem causado polémica e que levou, inclusive, a alterações ao artigo referente à divulgação de informações falas. “Muitas pessoas interpretaram de forma errada o conteúdo do artigo, dizendo que é destinado a rumores. Mas, obviamente, isso não está certo, dado que é apenas usado em casos que envolvem a protecção civil”, frisou. No entanto, a responsável admite tratar-se de uma situação que tem causado alguns mal-entendidos, apelando ao Governo a “definição mais estrita do crime, incluindo âmbito, situação, alvo, intenção subjectiva e entre outras que possam diminuir as dúvidas dos residentes”, acrescentou. Un Sio Leng também sugeriu que as autoridades continuem a aperfeiçoar o mecanismo de divulgação de informações do Governo com notícias correctas e atempadas em caso de catástrofe. Para isso, a dirigente associativa recorda que podem ser utilizados vários meios para o efeito, “incluindo SMS, canais de TV, plataformas e redes sociais e aplicações de telemóvel”. Desta forma, as notícias falas também seriam evitadas, defende. Un recordou a passagem do tufão Hato por Macau em que por falha das telecomunicações e de electricidade, muitas informações ficaram por chegar à população. “É necessário que, ao declarar o estado de prevenção imediata ou superior” de incidentes de protecção civil, os rumores não sejam espalhados indiscriminadamente por falta de informação correcta. Ainda a respeito desta matéria, o director do Centro de Estudo do Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng também mostrou o seu apoio à lei de bases de protecção civil, argumentando que pode prevenir, de facto, a disseminação de informações falsas que causem pânico aos residentes. Manifestações de fora No início desta semana, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, esclareceu que as manifestações e reuniões não constituem incidentes súbitos de natureza pública, e como tal não estão abrangidos pela lei em causa. As “actividades de reunião e de manifestação legais não irão, por si, acarretar prejuízos para a sociedade ou a segurança individual de pessoas, não se constituindo, obviamente, em ‘incidentes súbitos de natureza pública’”, apontou o governante em resposta às preocupações do pró-democrata Jason Chao. Recorde-se que, na semana passada, Chao afirmou recear que o Governo aplique o crime contra a divulgação de informações falsas a manifestações de protesto ao serem incluídas na categoria de incidente de segurança na sociedade – um dos quatro tipos de incidentes contemplados na proposta.
Infracções informáticas | Proposta de lei criminaliza emissoras simuladas Sofia Margarida Mota - 24 Jul 2019 A proposta de lei de combate à criminalidade informática, apresentada ontem em Conselho Executivo, vai criminalizar o uso de redes emissoras de telecomunicações, agravando as penas quando forem usadas para fins criminosos. O aumento deste crime justifica a iniciativa legislativa [dropcap]A[/dropcap] utilização de dispositivos informáticos que simulam emissoras de telecomunicações vai ser criminalizada e punida com penas de prisão de um a cinco anos se implicarem a promoção de outros tipos de crime. “Caso se verifiquem circunstâncias agravantes, nomeadamente se o objectivo for lucrativo ou se a estação simulada for utilizada para facilitar a prática de outro crime, ou para transmitir qualquer tipo de publicidade proibida por lei ou para disseminar, divulgar informações pornográficas ou actividades de jogo ilícito”, as penas são agravadas, disse ontem o porta voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. As novidades foram ontem apresentadas em conferência de imprensa que anunciou a proposta de lei de combate à criminalidade informática. Se estas circunstâncias agravantes não se verifiquem, o crime pode ser punível com multa ou pena de prisão até três anos, acrescentou. A medida reflecte “a intenção do Governo no combate a este tipo de estações emissoras”, revelou o Leong. Já o director da Polícia Judiciária (PJ), Sit Chong Meng, referiu que as infracções detectadas nesta área pelas autoridades têm vindo a aumentar. “Em 2017, a PJ detectou sete casos e em 2018, 19 casos”, disse, sendo que durante as operações de investigação, “a polícia verificou que há redes de prostituição transfronteiriças envolvidas” neste tipo de situações. A criminalização desta prática surge na sequência da identificação de “muitos grupos criminosos que se estão a aproveitar das emissoras simuladas para a prática de crimes”, sublinhou. Acesso à nuvem alheia Outra das mudanças que a proposta prevê é o acesso por parte das autoridades locais a dados armazenados em nuvem que estejam num servidor localizado noutro país. Para que tal seja possível, a proposta admite a obtenção de cópias de dados após autorização emitida em despacho judicial. “Hoje em dia a tecnologia é muito avançada e há muitos criminosos que conservam ou armazenam dados em nuvens em servidores fora da RAEM”, começou por explicar Sit Chong Meng. “O que vamos fazer, quando temos provas suficientes do acto criminoso e de que as provas estão fora do território, é solicitar aos juízes das jurisdições em causa autorização para que possamos ter uma cópia”, acrescentou o director da PJ. Desta forma, as autoridades podem usar estes dados para constituir provas em processo penal. Para avançar com a medida, o Governo teve em conta as práticas já utilizadas pela União Europeia e por Singapura. “Hoje em dia podemos tratar de todos os assuntos sem sair de casa e os grupos criminosos também podem armazenar dados no computador e mesmo na nuvem. Quando há provas suficientes, estas regiões já podem pedir através dos juízes uma cópia das provas informáticas”, referiu Sit. Entretanto, o crime de violação de segredo profissional vai ser autonomizado. Desta forma, “quem, no exercício das suas funções ou por causa delas, tomar conhecimento da vulnerabilidade crítica da segurança, de sistema, dispositivo ou programa informático e, com qualquer intenção ilegítima, revelar esse facto a outrem, de forma adequada a criar perigo da prática de crime, será punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa”, revelou Leong Heng Teng. Tendo em conta a “harmonização desta proposta com a lei da cibersegurança vai ainda existir uma maior protecção penal dos sistemas informáticos pelos operadores de infra-estruturas críticas”, bem como pelas instituições que estão sob a tutela do Governo Central situadas em Macau. Nestes casos as penas vão ser agravadas em um terço. Estes crimes vão ainda ser qualificados como crimes públicos, passando a não depender de queixa para se iniciar o procedimento penal. De acordo com o porta-voz do Conselho Executivo, o diploma vai entrar já na Assembleia Legislativa e poderá entrar em vigor a 22 de Dezembro deste ano, “para estar a par com a lei da cibersegurança”.
Conselho de Segurança | Guterres afasta mudanças no sistema de veto Andreia Sofia Silva - 24 Jul 2019 António Guterres defende que será difícil concretizar, a curto prazo, a reforma política da Organização das Nações Unidas, nomeadamente quanto às mudanças no sistema de veto do Conselho de Segurança, que tem a China como membro permanente. Apesar das críticas, Guterres defende que tem agido em matéria de direitos humanos [dropcap]M[/dropcap]uitos dos conflitos que deflagram no mundo enfrentam um impasse institucional devido ao actual sistema de veto no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual fazem parte 15 países. Deste universo de nações, cinco são membros permanentes: China, Rússia, Estados Unidos, França e Reino Unido. Estes Estados são decisivos para avançar ou travar políticas da ONU, uma vez que têm direito de veto sobre todos os restantes membros. Em entrevista à RTP, transmitida sexta-feira, António Guterres, secretário-geral da ONU, deixou claro que uma reforma política que altere o funcionamento do Conselho de Segurança não deverá acontecer tão cedo. “Qualquer alteração do regime do Conselho de Segurança necessita, não apenas de dois terços de votos na assembleia-geral, mas de um voto favorável dos cinco membros permanentes. Como digo, acho que é mais útil da minha parte fazer um esforço para modernizar os aspectos da ONU em que tenha uma intervenção directa do que gastar o essencial do meu esforço em coisas que não dependem de mim.” Contactado pelo HM, Carlos Gaspar, professor de ciência política e relações internacionais da Universidade Nova de Lisboa, defendeu que uma mudança profunda depende do acordo de todos os Estados-membros. “Só é possível resolver esse impasse no caso improvável de os P5 – os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – estarem todos de acordo entre si para partilhar o poder que garante a sua posição cimeira na hierarquia internacional das grandes potências, o que nunca aconteceu desde a fundação da Organização das Nações Unidas. Há quem chame à comissão de reforma das Nações Unidas o ‘comité sem fim’”, apontou. Maria Teresa Nogueira, coordenador do grupo co-China da Amnistia Internacional (AI), acredita mesmo que António Guterres “é impotente para levar a cabo uma reforma das Nações Unidas, em especial quanto aos poderes do Conselho de Segurança”. “Nenhum dos cinco Estados com direito de veto vai abdicar desse poder, que é a capacidade de bloquear qualquer resolução que não lhes agrade”, adiantou Maria Teresa Nogueira ao HM, alertando para o facto de esse bloqueio ter consequências mais notórias em matéria de direitos humanos. “É de notar que estes cinco estados são os maiores produtores e vendedores de armas no mundo – aqueles que deveriam ser responsáveis pela paz e segurança mundiais são os que mais contribuem para manter inúmeros conflitos mundiais com o seu cortejo de violações massivas dos direitos humanos.” Silêncio face a Xinjiang António Guterres entra agora na segunda fase do seu mandato como secretário-geral e, na entrevista à RTP, respondeu a todos os que o criticam de não ser suficientemente interveniente em matéria de direitos humanos. “Não há silêncio em relação a todos os problemas onde tem havido intervenção. Na ONU há uma alta comissária para os direitos humanos e há todo um conjunto de mecanismos em relação aos direitos humanos. Eu continuo extremamente activo em todas as áreas onde isso se justifique. Por isso, não creio que essa expressão de silêncio tenha qualquer significado.” Guterres disse ainda ser “evidente” que haja diferenças de actuação nesta matéria face aos seus antecessores, tal como Ban Kin-moon e Kofi Annan. “A situação política hoje é extremamente complexa e procurar um protagonismo que limite a minha capacidade de exercer o meu mandato, por razões de vaidade pessoal, seria uma estupidez.” Esta segunda-feira, Kenneth Roth, director-executivo da Human Rights Watch, escreveu um artigo demolidor no jornal Público cujo título é “António Guterres, secretário-geral da ONU, desilude no plano dos direitos humanos”. E fala da pouca acção em relação ao que se passa em Xinjiang. “Guterres continua a pisar ovos no que toca aos EUA e a outras grandes potências. A título de exemplo, o secretário-geral não quis condenar publicamente a detenção em massa de um milhão de muçulmanos turcos na China em acampamentos de “educação política”, tendo elogiado a Belt and Road Initiative [Nova Rota da Seda] de Pequim, na qual os direitos humanos não têm lugar. As vítimas desta detenção arbitrária em massa têm motivos para se sentirem abandonadas pelo secretário-geral da ONU, bem como as vítimas de dura repressão no resto do mundo.” Maria Teresa Nogueira acredita numa mudança da composição da Comissão de Direitos Humanos da ONU. “Os direitos humanos também têm sido postos em causa pela inclusão na Comissão de Direitos Humanos de países que manifestamente os violam. Talvez a composição dessa comissão pudesse vir a ser alterada. Não seria fácil, mas não impossível. E aí, talvez, António Guterres pudesse ter um papel a desempenhar.” A responsável da AI em Lisboa defende ainda que António Guterres deveria fazer uma “defesa intransigente do edifício internacional de direitos humanos (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais e Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e outros tratados internacionais) que têm sido atacados sistematicamente pela China, que afirma ‘querer construir uma comunidade com um destino comum para a Humanidade’, liderada pelo país”. A título de exemplo, Maria Teresa Nogueira recorda a publicação, em 2013, do Documento nº 9 do Partido Comunista da China, onde foi “claramente afirmado que a promoção dos valores universais e dos direitos humanos era uma estratégia do ocidente para destruir os valores nucleares do socialismo. Além disso, a China repetidamente afirma que o sistema de direitos humanos das Nações Unidas deve ser substituído pelo conceito de ‘win-win’ em que cada país deveria adoptar os direitos humanos que melhor se adaptassem à sua circunstância”. O PCC também defendeu que “o tipo de relação entre o povo e o Estado deve ser estabelecido pelo respectivo Governo, sem interferência externa”, frisou a responsável da AI. Guterres não foi questionado pela RTP sobre a situação específica da China, mas teceu comentários sobre a realidade que se vive no Myanmar, nomeadamente no que diz respeito à perseguição da minoria rohingya. “As coisas tenderão a piorar antes, de eventualmente melhorarem. Há uma convenção de protecção dos refugiados e há que garantir que essa convenção é respeitada. Infelizmente, não tem sido por vários Estados, nomeadamente no mundo desenvolvido, e a nossa posição é muito clara. É preciso restabelecer a integridade do direito internacional de protecção dos refugiados.” Relativamente à relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, Guterres disse “não ter dúvidas nenhumas de que os dois Estados querem um acordo”. E alerta para a necessidade de paz. “Dificilmente o mundo suportaria mais um confronto de grande escala no Golfo, isso teria consequências extremamente graves para a segurança e para a economia mundiais. Temos mantido os nossos ofícios e contactos, mas não temos ilusões sobre a influência que a ONU possa ter a esse nível.”
Singapura apreende várias toneladas de escamas de pangolim e marfim Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]T[/dropcap]reze toneladas de escamas de pangolim pertencentes a cerca de 2.000 desses mamíferos em perigo e quase 10 toneladas de marfim de elefante foram apreendidas na Singapura, anunciaram hoje as autoridades. O Conselho do Parque Nacional, a Alfândega da Singapura e a Autoridade os Postos de Segurança da Imigração anunciaram hoje que esta foi a terceira maior apreensão de escamas de pangolim deste ano e a maior de marfim de elefante até à data. Foram apreendidas precisamente 13,1 toneladas de escamas de pangolim, e também presas de quase 300 elefantes, que estavam em contentores que seriam levados para o Vietname. A quantidade de escamas de pangolim encontradas tinha o valor de 35,7 milhões de dólares e as presas de elefante valiam 12,9 milhões de dólares. O pangolim é o mamífero mais traficado no mundo e as suas escamas, que contêm queratina, são usadas para medicinas tradicionais.
Boris Johnson eleito líder do partido Conservador será o próximo PM britânico Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson foi hoje declarado em Londres o vencedor da eleição para a liderança no partido Conservador, e vai suceder a Theresa May à frente do governo na quarta-feira. O resultado da eleição foi anunciado pela deputada Cheryl Gillan, uma das responsáveis pelo escrutínio interno no partido, no centro de conferências Queen Elizabeth II, perto de Westminster. Boris Johnson ganhou com 92.153 votos, enquanto o outro candidato finalista, o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, reuniu apenas 46.656 votos. O resultado é o desfecho de um processo que se prolongou por seis semanas e decidido pelo voto limitado a cerca de 160 mil militantes do partido Conservador. Foi desencadeado pela renúncia de Theresa May à liderança do partido a 7 de Junho devido à dificuldade em fazer aprovar no parlamento o acordo de saída para o ‘Brexit’ que concluiu em Novembro com Bruxelas. Boris Johnson só será nomeado primeiro-ministro pela rainha Isabel II após a demissão de Theresa May na tarde de quarta-feira, após o debate semanal com os deputados na Câmara dos Comuns.
Morreu Li Peng, antigo primeiro-ministro chinês, aos 91 anos Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] antigo primeiro-ministro chinês Li Peng, que liderou a “ala dura” do Governo durante os protestos de Tiananmen, em 1989, morreu na noite de segunda-feira aos 91 anos, de doença não especificada, informou hoje a agência Xinhua. Li Peng, que ocupou o cargo de primeiro-ministro da China entre 1987 e 1998, foi responsável por ordenar o exército a colocar fim aos protestos que ocupavam a praça de Tiananmen, em Pequim, com a aprovação do então Presidente, Deng Xiaoping. Li Peng era visto como um político aguerrido, que passou duas décadas no topo da hierarquia política chinesa, antes de se aposentar em 2002, deixando um legado de crescimento económico, aliado a um autoritário controlo político. Embora tenha ficado muito desacreditado internacionalmente com os incidentes dos protestos de Tiananmen, o seu nome ficou ligado ao ressurgimento da China, após um longo período de isolamento diplomático e económico. “Livrando-se da situação de intimidação imperialista, humilhação e opressão, o povo chinês (…) soube levantar-se”, disse Li, em 1995, num discurso comemorativo do aniversário da revolução de 1949. Durante os seus últimos anos no poder, Li aprovou o seu projecto de estimação: a gigantesca e controversa barragem das Três Gargantas, no Rio Yangtze, que obrigou 1,3 milhão de pessoas a deixarem o país, depois de as suas casas terem ficado submersas. Li deixou o cargo de primeiro-ministro em 1998, tornando-se presidente do Congresso Nacional do Povo, o parlamento da China. Li aposentou-se do Comité Permanente do partido, composto por sete membros, em 2002, como parte de uma transferência do poder para uma nova geração de líderes, liderada por Hu Jintao. Nos seus últimos anos, Li raramente aparecia em público, e geralmente era visto apenas em reuniões oficiais destinadas a mostrar unidade do regime, como aconteceu em 2007, no 80º aniversário da fundação do Exército Popular de Libertação.
Hong Kong | Partido de Regina Ip sugere distribuição de 8 mil dólares aos residentes João Santos Filipe - 23 Jul 201923 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] New People’s Party, partido pró-Governo de Hong Kong que tem como presidente a deputada Regina Ip, esteve reunida com o Governo da RAEHK e sugeriu a distribuição de um cheque pecuniário aos residentes de 8 mil dólares de Hong Kong. Segundo Regina Ip, citada pela imprensa local, apesar da Guerra Comercial a região de Hong Kong está em crescimento e tem capacidade para suportar uma medida que vai custar mais de 50 mil milhões de dólares aos cofres da região vizinha. Esta é uma medida sugerida a pensar nas eleições para os District Council, que ocorrem na RAEHK já em Novembro. Actualmente o New People’s Party tem 18 representantes nos District Council, mas o facto de ter sido um dos partidos que se envolveu no apoio à controversa Lei de Extradição poderá fazer com que saia penalizado nas próximas eleições. Além desta medida, o partido liderado por Regina Ip sugere várias outras iniciativas que vão pensar nos cofres da RAEHK, como aumento dos apoios às Pequenas e Médias Empresas, aumento do valor do Fundo para o Desenvolvimento da Ciência ou isenções fiscais. Nas últimas semanas o território de Hong Kong tem sido palco de várias manifestações depois de Carrie Lam ter tentado forçar a aprovação de uma lei que ia permitir a extradição para o Interior da China. No maior protesto contra a iniciativa, mais de 2 milhões de residentes de Hong Kong foram para as ruas.
Sobrinho de Edmund Ho desejou que “amor de Yuen Long” se espalhe por Hong Kong João Santos Filipe - 23 Jul 2019 [dropcap]E[/dropcap]ric Ho, empresário e sobrinho de Edmund Ho, apelou a que a violência perpetuada pelos ‘camisas brancas’ contra os manifestantes e transeuntes que circulavam no metro de Hong Kong, na noite de domingo, se espalhasse pela cidade. Segundo o também presidente da empresa We Solutions, é preciso que o “amor” se espalhe e que seja ensinada uma lição aos camisas pretas, ou seja, aos manifestantes contra a lei de extradição. “Espero que o amor mostrado em Yuen Long se espalhe pelas outras partes de Hong Kong. É preciso ensinar às pessoas com camisas pretas uma lição”, escreveu o sobrinho do ex-Chefe do Executivo de Macau na rede social Facebook, de acordo com o jornal Apple Daily. Eric Ho é um empresário pró-Governo e em 2009, de acordo com um artigo da revista EastWeek integrava mesmo o Comité Municipal de Pequim da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Violência no metro No domingo, por volta das 23h um grupo de pessoas vestidas de branco, que têm sido ligado às tríades pela imprensa de Hong Kong, atacou os manifestantes contra a lei de extradição, que vestiam de preto, transeuntes e jornalistas. O ataque aconteceu na estação de metro de Yuen Long, já na área dos Novos Territórios. O acto do grupo de branco levou a várias críticas à polícia, que só apareceu depois de os atacantes terem fugido do local. Vários relatos e vídeos a circular online mostram alguns polícias a abandonar o local momentos antes do ataque. Por sua vez, o chefe da polícia de Hong Kong, Stephen Lo, recusou haver qualquer tipo de tolerância para a violência pró-polícia e responsabilizou os manifestantes contra a lei de extradição pela falta de policiamento. Segundo Lo, não havia polícia no metro porque estava concentrada na zona de central, onde foi a manifestação. Lo disse ainda que as autoridades policiais fecharam as portas e recusaram as queixas dos cidadãos. As razões para encerrar a estação foram justificadas com “motivos de segurança”.
Imposto digital David Chan - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] última cimeira do G20 aprovou a implementação do imposto digital, para ser aplicado a empresas que fornecem serviços digitais (as DPC sigla em inglês). Das empresas deste ramo destacam-se o Facebook, o Google, a Apple e a Amazon, conhecidas em todo o mundo. No universo online, onde vivemos actualmente, as DPC vendem e-books, publicidade e colocam os seus motores de busca ao nosso dispor, para nos permitir procurar todo o tipo de informação. Os consumidores pagam estes serviços. Estes pagamentos geram os lucros das DPC. Sem um imposto digital não há forma de taxar as DPC e, ao contrário das empresas tradicionais, as DPC pagam impostos baixos. Quando na cimeira do G20 foi estabelecida a necessidade de cobrar o imposto digital, foram avançados dois princípios. O primeiro consistiu na regulação das taxas. Debateu-se se os impostos deveriam ser cobrados nos países onde os serviços são prestados ou nos locais onde as empresas estão sediadas. Mas, como as DPC não são empresas físicas, nem estão registadas num determinado país, estabeleceu-se que as taxas seriam cobradas pelos países onde os serviços são prestados. Serão, pois, os Governos dos países consumidores destes serviços a cobrar o imposto. Nestas questões a justiça fiscal é importante. Se os países não tiverem implementado o imposto digital, por mais dinheiro que as DPC ganhem, os governos não o podem cobrar. Para a economia desses países também é injusto que empresas que facturam milhões não contribuam com uma parte dos seus lucros. Em segundo lugar, a cimeira decidiu que se estabeleceria uma taxa mínima para esta contribuição fiscal. Este princípio é bom, mas encerra alguns problemas. A Irlanda e o Luxemburgo já têm imposto digital, cobrado a uma percentagem relativamente baixa. Para evitar pagar mais, as DPC têm-se estabelecido nos países que cobram taxas baixas. Nos países que cobram imposto mais alto, as DPC só têm fornecido os seus serviços. Se for criada uma percentagem global para o imposto digital, as vantagens que os países como a Irlanda e o Luxemburgo oferecem vão ser significativamente reduzidas; por isso estes países têm-se oposto à percentagem global. Se esta questão não for resolvida, vai ser difícil o G20 estabelecer uma regulamentação global até 2020. Singapura já tinha anunciado a implementação do registo de fornecedores estrangeiros para 2020. Neste regime DPCs com uma receita anual superior a 1 milhão de dólares, e uma facturação local superior a 100.000 dólares, deverá pagar este imposto. O Japão reviu os impostos ao consumo em 2015 e expandiu a taxação a empresas estrangeiras que vendam produtos digitais em solo japonês. Desde que a transacção ocorra no Japão, o fornecedor tem de pagar imposto ao Governo nipónico. A definição do local da transacção foi alterada de “localização do fornecedor do serviço” para “morada do consumidor do serviço”. Estamos, pois, perante a eclosão de um novo imposto global. De que forma deverão Hong Kong e Macau lidar com esta situação? Se Hong Kong continuar a manter o seu sistema fiscal, ou seja, omitindo o imposto digital, pode vir a atrair para o seu território muitas DPCs. Mas se isto se verificar, o Governo de Hong Kong vai perder uma fonte de rendimento fiscal. Actualmente, a maior parte dos dividendos do Governo de Hong Kong são obtidos através da venda de terras. É uma receita instável. Para além disso, existem poucos impostos em Hong Kong. Do ponto de vista dos cofres da cidade, seria uma boa decisão a implementação do imposto digital Saliente-se ainda que a comunidade internacional defende a criação deste imposto num futuro próximo e, para se manter alinhado com o resto do mundo, Hong Kong também o deveria implementar. A receita do Governo de Macau provém sobretudo dos casinos. Após a reunificação da China, os casinos são fonte de enormes lucros e a receita do Governo também tem vindo a subir. Para já, em Macau o imposto digital não parece ser uma prioridade. Outra vantagem possível da não implementação deste imposto é o encorajamento ao crescimento do comércio online na cidade. Pode vir a atrair DPCs estrangeiras para aqui se estabelecerem. De qualquer forma, continuemos a acompanhar os desenvolvimentos da implementação do imposto digital e depois tiraremos mais conclusões. Legal consultant of Macau Jazz Promotion Association Associate Professor, Macao Polytechnic Institute Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk Sem desculpa Andreia Sofia Silva - 23 Jul 2019 [dropcap]E[/dropcap]m 2014, o movimento Occupy Central surpreendeu tudo e todos pela dimensão e pelo ponto de viragem que representou. Na altura, as autoridades policiais viram-se confrontadas com uma nova realidade e foram alvo de muitas acusações, algumas correctas, outras infundadas. Mas desta vez a polícia de Hong Kong não tem desculpa para o que aconteceu. Num território onde ainda vigora um certo Estado de Direito não podem haver ataques infundados por parte de um grupo de pessoas que não se identificam sem que a polícia intervenha. Não se compreende como é que numa estação de metro, pessoas vestidas com camisolas brancas batem em outras usando bastões de bambu sem que nada seja feito. Em 2014, a polícia lamentou-se. Ontem deu algumas explicações. Há semanas, Carrie Lam, a Chefe do Executivo, chorou na televisão. Mas agora qualquer pedido de desculpas ou quaisquer justificações numa conferência de imprensa parecem não ter qualquer credibilidade. A população de Hong Kong tem recorrido a um direito básico e não há direito de pessoas inocentes serem agredidas desta forma sem terem a protecção da polícia. Não há desculpas. Hong Kong vive, sem dúvida nenhuma, tempos difíceis. Evocação Amélia Vieira - 23 Jul 2019 … Não te aconselhes com loucos porque não sabem guardar segredo BEN-SIRA- versículo 17- capítulo 8 [dropcap]S[/dropcap]erá certamente um erro grosseiro o elo permanente com a narrativa alheia devido a tanto ditirambo, razões soltas (ao invés de um conjunto de factos que permita a justa visão) delírios interpretativos, e ainda a mordaça que desestabiliza a forma de olhar correctamente para as coisas, criando a dessacralização do que deve ficar entre pares. Ter direito aos segredos é um exercício de empatia que configura saúde e satisfação para as partes intervenientes que assim recriam uma brecha de paraíso inexpugnável. Evoquemos as naturezas obreiras que se satisfazem nos labores e se dão bem no seu secreto sigilo sem que para tanto necessitem do que de fora vem como justificação para sê-lo, quando isso corre bem, o mundo anda melhor, e quando os grupos sigilosos são grandes perde-se tal eficácia: os loucos o que são, afinal? Os que escusam a interpretação, os devoradores das realidades alheias que no vazio de uma vida insana são arautos de todas as formas de comunicação desregulada e fazem assim realidade a partir de dispositivos falaciosos e surpreendentemente alterados. A confiança é a base da Obra, onde ela não estiver pode haver retrocessos que são nocivos para todos, pois que muitos padecem do confiar como medida de eleição para fazer, e sempre que se deixa entrar essa cicatriz reducionista perdem os seres o vínculo de uma eleição. Não somos feitos de transparências, não nos inoculamos nas fímbrias de uma consciência maior, que é o ter deixado esta mesma consciência onde nada acontece de inovador a não ser a circunstância que a produz, que não sendo também ela inovadora, apenas nos parece nova pela diferença de contexto. Não somos ainda o rio de Heraclito, e destas águas se faz o hábito de se continuar louco. Os seres intermediários nem sempre se encontram junto a nós, e as nossas virtudes não chegam para amparo nas ondulosas vagas da caminhada, por isso, o dom da evocação deve saber estar presente quando queremos dar livre curso a essa arbitrariedade de que somos possuidores; talvez um mantra, uma oração, uma chamada, aligeire a nociva tendência para o naufrágio em série. Que toda a palavra é feita para criar um campo vibratório que se transforma em realidade, por isso, ela deve ser, não só a factualidade encontrada, como o comando imperativo da nossa vontade. Se o mundo fosse telepático, a linguagem não sonora retrataria ainda assim uma outra, que se faria entender num glossário alfabético de maior fascinação, impedindo a cadeia do desastre e repondo níveis de desordem com mais celeridade. Mas as Vozes estão sempre presentes na ressonância das ondas cerebrais de cada um. Do Deus manifestado ao audível vai uma marcha tão grande que se suspeita até nem ser o mesmo, do criado ao não gerado vai um abismo… A procura da energia da Criação não será a nossa barca de Caronte que só admitia nela quem lhe pagasse a passagem, nem se deseja ir ali com aqueles órfãos todos em modelo sombra – se na outra margem ainda os mandarem embora… – Por isso, evoquemos os mantras da libertação. Parece não haver mesmo nada de novo nas águas… e debaixo do céu também não. Lá navegam os que fogem e se metem de Inferno para Inferno em condições que fazem as trevas chorar. Levantam-se outras, que dizem: não passarão! As portas dos “paraísos” estão guardadas com seus anéis de fogo, e neste deambular as medidas tardam e nada se esclarece de muito mais a não ser o sabermos que os mitos têm razão e sabem falar de nós como se fôramos um programa tal, que nos abismamos. O impulso ficcionista por vezes impede a objetividade, e se não for tudo isto ficcional, então como chamar a uma armadilha que anda à solta fazendo-se passar por dinâmica tentativa de criar soluções? – Repete uma palavra cem vezes-! Depois, espera pela resposta que escutarás como um chamamento em forma de código, segreda-o a quem amas e não a discutas mais. Os segredos são grandes fórmulas sagradas e sem eles ficamos frágeis, mas nada em ti te impeça de agir, dizendo aquilo que a falta de coragem dos que apenas falam não consegue pronunciar. No meio disto saberemos que o sacrifício dos mais nobres é fonte a que sempre, em nossa incompletude, retornaremos. Canivete suíço para corações Paulo José Miranda - 23 Jul 2019 [dropcap]C[/dropcap]onheci Marlene num bar da Vila Madalena, em São Paulo, entre amigos de amigos de amigos. Tinha o cabelo preto – curto como um haiku –, que contrastava claramente com o exagero da sua pele branca. A sua juventude via-se no modo despreocupado com que se entregava ao sorriso, dela e dos outros. Num tom provocador, diz, quase rente à boca de Julie, “o amor não serve para nada”. E riam-se, quase se beijando. Marly (Marlene) estava interessada em Julie, mas ainda mais interessada em Patty, que estava sentada ao meu lado e mais empenhada em convencer as pessoas acerca do que pensava do que nos corpos disponíveis, que poderia ter se quisesse. Quase todas aquelas jovens mulheres poderiam ser no corpo de outrem, por isso a displicência com que não atentavam nos sinais do desejo. Marly tocava-nos enquanto falava, sorria, olhava-nos nos olhos. Julie estava claramente interessada apenas em Marly e era um erro. Erro que se paga com a vida e tarde de mais se percebe. Patty falava que só há dois tipos de pessoas no mundo: as que fazem a guerra e as que fazem a paz; o resto eram sub-divisões que tentavam ocultar a diferença máxima e que realmente importava para o mundo. Entregar-se à discussão, à maledicência era fazer a guerra, furtar-se ou evitá-las era procurar a paz. Continuava neste tom até alcançar os cumes gelados da religião, onde cristianismo, islamismo e judaísmo faziam parte do mesmo partido da guerra, contrariamente ao budismo, que era claramente uma procura da paz. Marly, que estava nesse momento levantada, dirige-se a Patty por trás, toca-lhe nos longos cabelos loiros, apanha-os com uma das mãos e sussurra-lhe ao ouvido algo que fez a rapariga da paz estremecer, enrubescer e soltar um som rouco, embaraçado. Marly deu-lhe um beijo no lado esquerdo do rosto, junto aos lábios, sentou-se no seu lugar e beijou demoradamente Julie, tendo desta vez toda a atenção do mundo – a paz e a guerra – por parte de Patty. Esperei um pouco, virei-me para a Patty e disse: “Estava dizendo…” Ela olhou-me como se acabasse de acordar. Ficou tão claro que não basta uma pessoa existir, fazer-se ver a outra, para lhe entrar dentro da pele, é preciso construir um cavalo de Tróia, é preciso um gesto, uma palavra, algo que faça com que a realidade desapareça e que o que é passe a parecer. Marly era um autêntico canivete suíço nos nossos corações. Agora, não havia naquela mesa, naquele bar, naquela cidade, um só coração que não batesse em uníssono com o coração de Marly. Tudo o que fazia era perfeito e transformava-nos a todos numa criança no primeiro dia em que estremece pela imagem de um outro corpo. Nem ela mesma sabia o que fazia. Tocar-nos os corações não era um conhecimento, era um destino. Ria-se com a alegria de quem vive no paraíso e não numa rua da cidade de São Paulo, no mundo, e repetia de quando em quando como um refrão “o amor não serve para nada”. A noite foi crescendo, tal como um filho, mais depressa que o esperado. Já à saída do bar, e com o dia a espreguiçar-se, perguntei-lhe: “Marly, que disse ao ouvido da Patty?” Ela riu alto, abraçou-me e rente ao ouvido, disse: “Portuga, se lhe contar, vou ficar com a sua alma para sempre. Quer mesmo que isso aconteça?” Por estranho que pareça, a sua resposta não me surpreendeu. Sorri e disse-lhe: “Não, querida, deixe p’ra lá, assim está de bom tamanho”. Seria estultícia querer desafiar a natureza e o desconhecido. No céu, começava-se a ver as nuvens rarefeitas, deslizando no céu como se Deus fumasse. O primeiro retrato de Offenbach da vida parisiense contemporânea Michel Reis - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap]ssinalam-se este ano 200 anos do nascimento do compositor e violoncelista romântico francês Jacques Offenbach, nascido Jakob Eberst em Colónia no dia 20 de Junho de 1819, um paladino da opereta e precursor do teatro musical moderno. A sua ópera bufa, ou opereta La vie parisienne, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, é o primeiro retrato completo que Offenbach faz da vida parisiense contemporânea, contrastando com as suas obras de época anteriores, mais fantásticas e mitológicas, e tornou-se uma das operetas mais populares do compositor. No final dos anos 50 do séc. XIX, Paris começou a viver um período de frivolidade e a decadência do Segundo Império, o regime monárquico bonapartista implantado por Napoleão III de 1852 a 1870, entre os períodos históricos da Segunda e da Terceira República, na França. Durante esse período, Paris foi centro de exposições mundiais, para onde convergiam a divulgação do progresso cultural e industrial do mundo. A cidade, administrada pelo Barão Georges-Eugène Haussmann, passava por um moderno processo de urbanização, caracterizado pela abertura de novas e amplas avenidas, chamadas boulevards. Os espectáculos teatrais começaram a explorar humoristicamente o espírito, a inteligência e o divertimento característicos da vida parisiense. Foi, assim, durante o período do Segundo Império que estreou a primeira opereta de Offenbach, Orphée aux enfers (1858), um grande sucesso de bilheteira, que salvou Offenbach e a sua companhia de dificuldades financeiras. A fama e a popularidade de Offenbach subiram às alturas e, nas duas décadas que se seguiram, o compositor escreveu numerosas operetas, a maioria de grande sucesso, como La belle Hélène (1864), La vie parisienne (1866), La Grande-duchesse de Gérolstein (1867), e La Princesse de Trébizonde (1869), num total de mais de noventa! Em 1864, o Théâtre du Palais-Royal apresentou uma comédia-vaudeville em um acto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy intitulada Le photographe (O Fotógrafo). Dois anos antes, uma comédia pelos mesmos autores, La clé de Métella (A Chave de Métella) tinha sido apresentada no Théâtre du Vaudeville. No ano seguinte, os mesmos tinham apresentado no Théâtre du Palais-Royal Le Brésilien, uma comédia em um acto. Estas três peças pressagiam o libreto de La vie parisienne, datado do final de 1865. A opereta foi estreada no dia 31 de Outubro de 1866 no Théâtre du Palais-Royal em Paris com cinco actos, e foi uma sensação, ainda mais do que a opereta Barbe-bleu, também de Offenbach, levada à cena poucos meses antes, tendo tido, inclusive, como espectadores, entre outras, personalidades como o Príncipe de Gales, no início de Dezembro de 1866, e Napoleão III e a sua esposa que assistiram à sua 58ª representação no dia 28 de Dezembro de 1866. O Czar da Rússia e os seus dois filhos assistiram à 217ª representação no dia 5 de Junho de 1867 e a opereta manteve-se em cena até ao dia 24 de Julho de 1867, com 265 representações. É reposta no dia 9 de Março de 1868 e atinge as 293 representações no dia 5 de Abril de 1868 e depois, de 2 a 31 de Outubro de 1969, atinge as 323 representações. Seguidamente, foi montada em várias cidades de província, como Marseille, Rouen, Lille, Lyon e Nantes. No dia 30 de Março de 1872, ocorreu a sua estreia no Holborn Theatre, em Londres, numa versão do dramaturgo Francis Burnand. No dia 25 de Setembro de 1873, foi estreada a versão curta de quatro actos (sem o quarto acto original) no Théâtre des Variétés da capital francesa, versão reposta em 1875. A obra chegou ao Booth Theatre, em Nova Iorque, no dia 12 de Junho de 1876. O timing não poderia ter sido melhor para La vie parisienne, pois os visitantes internacionais da Exposição Universal de Paris de 1867 ficaram intrigados com a trama, que gira em torno das aventuras e desventuras amorosas de um Barão e Baronesa suecos, os Gondremarcks, no decorrer das suas férias em Paris. No primeiro ato, os barões e um brasileiro rico, Frick, enredam-se numa teia tecida por dois homens, Raoul de Gardefeu e Bobinet, desesperadamente apaixonados por uma “mulher da vida”, Métella, numa estação de comboios. Os próximos quatro actos incluem todos os elementos necessários para uma opereta bem-sucedida: criados que se apresentam como membros da classe alta, identidades ocultas, ligações frustradas, hedonismo e consumo de bebidas alcoólicas. La vie parisienne foi o primeiro empreendimento de grande sucesso de Offenbach no género opereta com um cenário contemporâneo, assuntos actuais e personagens com roupagens modernas. Semelhanças com Die Fledermaus (O Morcego) de Johann Strauss (1874) abundam. La vie parisienne é um trabalho alegre e cómico em louvor a Paris, mas não sem reservas. Quando os Gondremarcks são transportados e enganados, começam a perceber que Paris não é tão fascinante quanto foram levados a acreditar pela sua imaginação. É, no entanto, fascinante o suficiente e tem coisas novas para lhes oferecer, ou seja, amor, dança e bebida. Sugestão de audição da obra: Jacques Offenbach: La vie parisienne Régine Crespin, Mady Mesplé, Luis Masson, Michel Sénéchal, Michel Trempont, et al, Orchestre du Capitole de Toulouse, Michel Plasson – EMI Classics, 2002 Japão | Shinzo Abe sem votos suficientes para reforma constitucional Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] coligação política do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, venceu as eleições parciais de domingo, mas sem conseguir os dois terços necessários na câmara alta do parlamento para levar avante uma reforma constitucional, foi ontem noticiado. Dos 124 lugares que foram a votos, 71 terão sido conquistados pelo conservador Partido Liberal Democrático, de Shinzo Abe, e pelo seu aliado político, Komeito, de acordo com os resultados compilados e divulgados pelo canal público de televisão NHK. As eleições de domingo foram convocadas para eleger metade dos parlamentares que compõem o Senado, a câmara alta do parlamento (Dieta) nipónico. A restante composição será eleita num escrutínio agendado para 2022. Assim, e apesar de garantir a maioria naquele órgão legislativo (141 lugares num total de 245), Abe não alcançou o número de assentos necessários para poder pressionar uma revisão constitucional. O objectivo de Abe é emendar a Constituição, adoptada após a Segunda Guerra Mundial, para alterar o carácter pacifista e também para que as forças militares, actualmente denominadas Forças de Autodefesa, tenham um papel mais activo. Esta alteração tem de ser aprovada por ambas as câmaras e submetida a referendo. Embora na câmara baixa, Abe e os aliados assegurem dois terços dos lugares, o mesmo não acontecer na câmara alta, desde a votação deste domingo. “A eleição para a câmara alta não foi realizada para ganharmos dois terços dos assentos, foi para manter a estabilidade”, relativizou Abe, em declarações a outra televisão nipónica. Bolsa de Xangai | Emissão de títulos de alta tecnologia estreia a subir 520% Hoje Macau - 23 Jul 2019 O novo mercado para emissão de títulos de tecnológicas chinesas abriu ontem, em Xangai, a subir até 520 por cento, na sessão de estreia, com os investidores animados para comprar acções das primeiras 25 empresas listadas [dropcap]I[/dropcap]nspirado no norte-americano NASDAQ, o STAR Market reflecte o desejo do Partido Comunista Chinês de canalizar capital privado para os seus planos de desenvolvimento, dando aos pequenos investidores chineses uma oportunidade de comprar títulos em indústrias de tecnologia que até agora se voltaram para Wall Street. No arranque da sessão, as primeiras acções subiram até 520 por cento, face à cotação nas ofertas públicas iniciais. Mais de 140 empresas de tecnologia e ciência em toda a China inscreveram-se para negociar as suas acções no novo mercado, que é administrado pela Bolsa de Valores de Xangai, a principal praça financeira do continente chinês. As 25 empresas que começaram ontem a negociar já arrecadaram 37 mil milhões de yuan. O novo mercado é o único na China com incentivos para empresas de tecnologia, incluindo acções de duas classes, o que garante aos fundadores que mantêm controlo sobre as empresas. O novo índice é também o único na China continental que permite vendas curtas (“short selling”), prática que pretende tirar partido da queda do valor das acções: os investidores pedem acções emprestadas para as vender no mercado e, posteriormente, adquiri-las a um preço mais baixo. O valor das acções no novo mercado pode oscilar até 30 por cento, antes de os reguladores imporem uma suspensão de 10 minutos. Nas principais praças financeiras chinesas, os títulos deixam de ser negociados durante o resto da sessão, caso subam ou desçam 10 por cento. Capital e social Empresas como a fabricante de módulos de células solares Anji e a fabricante de chips Montage Technology subiram até 520 por cento e 285 por cento, respectivamente, beneficiando da ausência de limites na oscilação dos preços, durante os primeiros cinco dias de negociação. Durante a sessão da manhã, seis das 25 acções subiram mais de 200 por cento e todas as acções avançaram mais de 100 por cento. A Star exige que as empresas listadas aloquem pelo menos metade das suas acções listadas para fundos mútuos, previdenciários ou de seguro, e limitam a negociação a investidores com um saldo de pelo menos 500.000 de yuan e dois anos de experiência a negociar em bolsa. As bolsas de valores da China, em Xangai e Shenzhen, foram criadas no início dos anos 90 para arrecadar dinheiro para a indústria estatal, e passaram mais tarde a incluir empresas privadas, mas continuam a ser dominadas por empresas sob tutela do Governo, como a PetroChina Ltd. e a China Mobile Ltd. Privadas como os gigantes do comércio electrónico Alibaba e JD.com, ou o motor de busca Baidu, emitiram milhares de milhões de dólares em títulos em Wall Street, numa operação inconveniente e cara para empresas mais pequenas. As empresas que ainda não registaram lucros podem negociar no novo mercado se gastarem pelo menos 15 por cento das suas receitas em pesquisa e desenvolvimento ou se tiverem drogas ou outras tecnologias num estágio avançado de desenvolvimento. Roberto Fernández Retamar morre aos 89 anos Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] poeta e ensaísta cubano Roberto Fernández Retamar, Prémio Nacional de Literatura e presidente da prestigiosa Casa das Américas, morreu este sábado em Havana, aos 89 anos. “Perdemos um dos maiores poetas e pensadores da nossa América e do mundo: Roberto Fernández Retamar. Deixa-nos um trabalho excepcional, focado na descolonização e anti-imperialismo”, escreveu na rede social Twitter o ex-ministro da Cultura da ilha, Abel Prieto. Jornalista, poeta, ensaísta, professor universitário e diplomata, Fernández Retamar (1930-2019) começou a trabalhar muito cedo como jornalista na revista “Alba”, para a qual entrevistou o vencedor do Prémio Nobel da Literatura norte-americano Ernest Hemingway. Na década de 1950 colaborou com a revista emblemática “Origens” e envolveu-se na luta clandestina contra o regime de Fulgencio Batista. Após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro em 1959, ocupou vários cargos em instituições culturais, incluindo a Casa das Américas, onde dirigiu pela primeira vez a revista da instituição desde 1965 e assumiu a presidência de 1986 até hoje. Fernández Retamar também fundou e editou até 1964 a revista “Unión” juntamente com os renomados intelectuais Nicolás Guillén, Alejo Carpentier e José Rodríguez Feo. Foi membro da Academia Cubana da Língua, que dirigiu entre 2008 e 2012, e membro correspondente da Real Academia Espanhola. Escrita reconhecida Autor de uma vasta obra em prosa e verso, os seus livros foram traduzidos para uma dúzia de idiomas e o seu ensaio “Caliban, notas sobre a cultura da Nossa América” (1971) é considerado um dos mais importantes da literatura latino-americana do século XX. Fernández Retamar era membro do Conselho Cubano de Estado – o órgão máximo do Governo no país – e deputado na Assembleia Nacional entre 1998 e 2013. Em 1989 foi agraciado com o Prémio Nacional de Literatura, o mais importante do género na ilha, e depois o Prémio Nacional de Ciências Sociais em 2012 e o Prémio Internacional José Martí da Unesco em Janeiro passado, entre outras distinções. Os restos mortais de Roberto Fernández Retamar serão incinerados e, na próxima semana, uma homenagem será preparada como despedida na Casa das Américas. Cinema | Filme nomeado para os Césares 2019 em cartaz na Cinemateca Paixão Raquel Moz - 23 Jul 2019 O que leva as pessoas a resistir e a seguir em frente, perante a adversidade, é eterno e intemporal. “Amanda” é uma história de família sobre as mudanças que ocorrem após um violento ataque terrorista. Nomeado para os Césares 2019, o filme está em exibição até à próxima terça na Cinemateca Paixão [dropcap]A[/dropcap] perda e a dor colectiva causada pelos ataques terroristas islâmicos em cidades europeias é o ponto de partida para este filme francês, realizado por Mikhaël Hers, que também assina o argumento a meias com Maud Ameline. “Amanda” (2018) é um drama contemporâneo sobre valores familiares, que está em exibição na Cinemateca Paixão até ao dia 30 de Julho. Trata-se de uma história normal sobre pessoas normais num país europeu normal. São os acontecimentos dolorosos que vão obrigar as personagens a amadurecer e a repensar na vida após a tragédia. Toda a gente é forçada a reagir, mas não é a raiva e a impotência que o filme explora, é antes o processo de superação e a humanidade que se manifesta através dos compromissos inevitáveis que se estabelecem entre os protagonistas. A Amanda do título é uma menina de sete anos que vive em Paris e é criada pela mãe, Sandrine, solteira e professora, com a ajuda irregular do seu irmão mais novo, David, um jovem de 20 anos, que vai trabalhando aqui e ali, a tomar conta de apartamentos e fazer tarefas de manutenção. Quando é preciso, David faz de baby-sitter à sobrinha, vai buscá-la à escola e toma conta dela. A mãe ausente de David e Sandrine é inglesa e vive em Londres, sem grande relação com os filhos. David tem o sonho de ir assistir a um jogo de ténis em Wimbledon, mas não quer saber sequer da progenitora. A vida de David muda quando a irmã é assassinada no meio de um ataque terrorista que acontece numa praça pública de Paris. A Amanda vai ter que ficar a seu cargo e ambos vão aprender a adaptar-se à nova situação. Segundo a crítica internacional, o filme é bem-intencionado, evita o cliché dos confrontos religiosos, não explora as questões políticas contra o islamismo, opta antes pela autenticidade das relações e pelo retrato honesto do quotidiano de quem tem que continuar a viver o dia-a-dia. Passagem pelo Indie O filme foi acolhido e reconhecido em diversos festivais internacionais, vencendo o prémio principal e o melhor argumento do Festival Internacional de Tóquio 2018, para Mikhaël Hers e Maud Ameline. “Amanda” foi igualmente nomeado para os Césares 2019, nas categorias de melhor actor, com Vincent Lacoste, e melhor música original, de Anton Sanko; nomeado para os Lumiere Awards 2019, como melhor filme e melhor actor; nomeado para os Laurier du Cinéma 2019 e para a Selecção Orizzonti do 75º Festival de Cinema de Veneza. O filme esteve ainda presente na competição do IndieLisboa 2019, indigitado para o Prémio Silvestre como melhor filme, que viria a ser atribuído ex-aequo a “I Do Not Care If We Go Down In History As Barbarians”, de Radu Jude, e a “M.”, de Yolande Zauberman. Mikhael Hers é já um nome habitual no Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, por onde passaram os seus três primeiros filmes: “Primrose Hill”, “Memory Lane” e “Ce Sentiment de L’Été”. Mikhaël Hers nasceu em França em 1975 e estudou produção cinematográfica em La Fémis, em Paris. Formou-se em 2004 e começou então a produzir e realizar os seus próprios filmes. Escreveu e dirigiu as médias-metragens “Charell” (2006), “Primrose Hill” (2007) e “Montparnasse” (2009), todas estreadas no Festival de Cinema de Cannes e, esta última, vencedora do Prémio Jean Vigo. “Memory Lane” (2010) é a sua primeira longa-metragem. A segunda, “Ce Sentiment de L’Été” (2015), venceu o Grande Prémio do Júri no Festival Internacional de Cinema de Bordéus, em França, e foi apresentado ainda no Festival de Roterdão, na Holanda. As sessões da Cinemateca Paixão acontecem entre hoje, dia 23, e terça-feira, de 30 de Julho, sempre às 19h30, excepto no sábado, em que a sessão é às 21h30. O filme é exibido na língua original, em francês, com legendas em chinês e inglês. A duração é de 106 minutos e os bilhetes estão disponíveis por 60 patacas na bilheteira ou na página web. Ambiente | Agente causador da cólera detectado em Cheoc Van Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades alertaram ontem a população para a presença do agente causador da cólera nas águas da praia de Cheoc Van, em Coloane, o que levou ao hastear da bandeira vermelha. “Os testes à água da praia de Cheoc Van deram positivo para a presença da bactéria da cólera”, informou, em comunicado, a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, após notificação do laboratório do Instituto para os Assuntos Municipais. A cólera é provocada pela bactéria ‘Vibrio cholerae’, transmite-se pelo consumo de água e comida contaminadas, manifesta-se sob a forma de diarreia infecciosa e pode matar em apenas algumas horas. Segundo o comunicado, na praia de Cheoc Van “está içada a bandeira vermelha que indica a proibição de entrar no mar” e está igualmente “afixado um aviso para alertar o público sobre a situação”, acrescentou. Em Hac Sa não foi detectado qualquer problema, segundo as autoridades autoridades, que prometeram continuar a monitorizar a situação. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Sem desculpa Andreia Sofia Silva - 23 Jul 2019 [dropcap]E[/dropcap]m 2014, o movimento Occupy Central surpreendeu tudo e todos pela dimensão e pelo ponto de viragem que representou. Na altura, as autoridades policiais viram-se confrontadas com uma nova realidade e foram alvo de muitas acusações, algumas correctas, outras infundadas. Mas desta vez a polícia de Hong Kong não tem desculpa para o que aconteceu. Num território onde ainda vigora um certo Estado de Direito não podem haver ataques infundados por parte de um grupo de pessoas que não se identificam sem que a polícia intervenha. Não se compreende como é que numa estação de metro, pessoas vestidas com camisolas brancas batem em outras usando bastões de bambu sem que nada seja feito. Em 2014, a polícia lamentou-se. Ontem deu algumas explicações. Há semanas, Carrie Lam, a Chefe do Executivo, chorou na televisão. Mas agora qualquer pedido de desculpas ou quaisquer justificações numa conferência de imprensa parecem não ter qualquer credibilidade. A população de Hong Kong tem recorrido a um direito básico e não há direito de pessoas inocentes serem agredidas desta forma sem terem a protecção da polícia. Não há desculpas. Hong Kong vive, sem dúvida nenhuma, tempos difíceis.
Evocação Amélia Vieira - 23 Jul 2019 … Não te aconselhes com loucos porque não sabem guardar segredo BEN-SIRA- versículo 17- capítulo 8 [dropcap]S[/dropcap]erá certamente um erro grosseiro o elo permanente com a narrativa alheia devido a tanto ditirambo, razões soltas (ao invés de um conjunto de factos que permita a justa visão) delírios interpretativos, e ainda a mordaça que desestabiliza a forma de olhar correctamente para as coisas, criando a dessacralização do que deve ficar entre pares. Ter direito aos segredos é um exercício de empatia que configura saúde e satisfação para as partes intervenientes que assim recriam uma brecha de paraíso inexpugnável. Evoquemos as naturezas obreiras que se satisfazem nos labores e se dão bem no seu secreto sigilo sem que para tanto necessitem do que de fora vem como justificação para sê-lo, quando isso corre bem, o mundo anda melhor, e quando os grupos sigilosos são grandes perde-se tal eficácia: os loucos o que são, afinal? Os que escusam a interpretação, os devoradores das realidades alheias que no vazio de uma vida insana são arautos de todas as formas de comunicação desregulada e fazem assim realidade a partir de dispositivos falaciosos e surpreendentemente alterados. A confiança é a base da Obra, onde ela não estiver pode haver retrocessos que são nocivos para todos, pois que muitos padecem do confiar como medida de eleição para fazer, e sempre que se deixa entrar essa cicatriz reducionista perdem os seres o vínculo de uma eleição. Não somos feitos de transparências, não nos inoculamos nas fímbrias de uma consciência maior, que é o ter deixado esta mesma consciência onde nada acontece de inovador a não ser a circunstância que a produz, que não sendo também ela inovadora, apenas nos parece nova pela diferença de contexto. Não somos ainda o rio de Heraclito, e destas águas se faz o hábito de se continuar louco. Os seres intermediários nem sempre se encontram junto a nós, e as nossas virtudes não chegam para amparo nas ondulosas vagas da caminhada, por isso, o dom da evocação deve saber estar presente quando queremos dar livre curso a essa arbitrariedade de que somos possuidores; talvez um mantra, uma oração, uma chamada, aligeire a nociva tendência para o naufrágio em série. Que toda a palavra é feita para criar um campo vibratório que se transforma em realidade, por isso, ela deve ser, não só a factualidade encontrada, como o comando imperativo da nossa vontade. Se o mundo fosse telepático, a linguagem não sonora retrataria ainda assim uma outra, que se faria entender num glossário alfabético de maior fascinação, impedindo a cadeia do desastre e repondo níveis de desordem com mais celeridade. Mas as Vozes estão sempre presentes na ressonância das ondas cerebrais de cada um. Do Deus manifestado ao audível vai uma marcha tão grande que se suspeita até nem ser o mesmo, do criado ao não gerado vai um abismo… A procura da energia da Criação não será a nossa barca de Caronte que só admitia nela quem lhe pagasse a passagem, nem se deseja ir ali com aqueles órfãos todos em modelo sombra – se na outra margem ainda os mandarem embora… – Por isso, evoquemos os mantras da libertação. Parece não haver mesmo nada de novo nas águas… e debaixo do céu também não. Lá navegam os que fogem e se metem de Inferno para Inferno em condições que fazem as trevas chorar. Levantam-se outras, que dizem: não passarão! As portas dos “paraísos” estão guardadas com seus anéis de fogo, e neste deambular as medidas tardam e nada se esclarece de muito mais a não ser o sabermos que os mitos têm razão e sabem falar de nós como se fôramos um programa tal, que nos abismamos. O impulso ficcionista por vezes impede a objetividade, e se não for tudo isto ficcional, então como chamar a uma armadilha que anda à solta fazendo-se passar por dinâmica tentativa de criar soluções? – Repete uma palavra cem vezes-! Depois, espera pela resposta que escutarás como um chamamento em forma de código, segreda-o a quem amas e não a discutas mais. Os segredos são grandes fórmulas sagradas e sem eles ficamos frágeis, mas nada em ti te impeça de agir, dizendo aquilo que a falta de coragem dos que apenas falam não consegue pronunciar. No meio disto saberemos que o sacrifício dos mais nobres é fonte a que sempre, em nossa incompletude, retornaremos.
Canivete suíço para corações Paulo José Miranda - 23 Jul 2019 [dropcap]C[/dropcap]onheci Marlene num bar da Vila Madalena, em São Paulo, entre amigos de amigos de amigos. Tinha o cabelo preto – curto como um haiku –, que contrastava claramente com o exagero da sua pele branca. A sua juventude via-se no modo despreocupado com que se entregava ao sorriso, dela e dos outros. Num tom provocador, diz, quase rente à boca de Julie, “o amor não serve para nada”. E riam-se, quase se beijando. Marly (Marlene) estava interessada em Julie, mas ainda mais interessada em Patty, que estava sentada ao meu lado e mais empenhada em convencer as pessoas acerca do que pensava do que nos corpos disponíveis, que poderia ter se quisesse. Quase todas aquelas jovens mulheres poderiam ser no corpo de outrem, por isso a displicência com que não atentavam nos sinais do desejo. Marly tocava-nos enquanto falava, sorria, olhava-nos nos olhos. Julie estava claramente interessada apenas em Marly e era um erro. Erro que se paga com a vida e tarde de mais se percebe. Patty falava que só há dois tipos de pessoas no mundo: as que fazem a guerra e as que fazem a paz; o resto eram sub-divisões que tentavam ocultar a diferença máxima e que realmente importava para o mundo. Entregar-se à discussão, à maledicência era fazer a guerra, furtar-se ou evitá-las era procurar a paz. Continuava neste tom até alcançar os cumes gelados da religião, onde cristianismo, islamismo e judaísmo faziam parte do mesmo partido da guerra, contrariamente ao budismo, que era claramente uma procura da paz. Marly, que estava nesse momento levantada, dirige-se a Patty por trás, toca-lhe nos longos cabelos loiros, apanha-os com uma das mãos e sussurra-lhe ao ouvido algo que fez a rapariga da paz estremecer, enrubescer e soltar um som rouco, embaraçado. Marly deu-lhe um beijo no lado esquerdo do rosto, junto aos lábios, sentou-se no seu lugar e beijou demoradamente Julie, tendo desta vez toda a atenção do mundo – a paz e a guerra – por parte de Patty. Esperei um pouco, virei-me para a Patty e disse: “Estava dizendo…” Ela olhou-me como se acabasse de acordar. Ficou tão claro que não basta uma pessoa existir, fazer-se ver a outra, para lhe entrar dentro da pele, é preciso construir um cavalo de Tróia, é preciso um gesto, uma palavra, algo que faça com que a realidade desapareça e que o que é passe a parecer. Marly era um autêntico canivete suíço nos nossos corações. Agora, não havia naquela mesa, naquele bar, naquela cidade, um só coração que não batesse em uníssono com o coração de Marly. Tudo o que fazia era perfeito e transformava-nos a todos numa criança no primeiro dia em que estremece pela imagem de um outro corpo. Nem ela mesma sabia o que fazia. Tocar-nos os corações não era um conhecimento, era um destino. Ria-se com a alegria de quem vive no paraíso e não numa rua da cidade de São Paulo, no mundo, e repetia de quando em quando como um refrão “o amor não serve para nada”. A noite foi crescendo, tal como um filho, mais depressa que o esperado. Já à saída do bar, e com o dia a espreguiçar-se, perguntei-lhe: “Marly, que disse ao ouvido da Patty?” Ela riu alto, abraçou-me e rente ao ouvido, disse: “Portuga, se lhe contar, vou ficar com a sua alma para sempre. Quer mesmo que isso aconteça?” Por estranho que pareça, a sua resposta não me surpreendeu. Sorri e disse-lhe: “Não, querida, deixe p’ra lá, assim está de bom tamanho”. Seria estultícia querer desafiar a natureza e o desconhecido. No céu, começava-se a ver as nuvens rarefeitas, deslizando no céu como se Deus fumasse.
O primeiro retrato de Offenbach da vida parisiense contemporânea Michel Reis - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap]ssinalam-se este ano 200 anos do nascimento do compositor e violoncelista romântico francês Jacques Offenbach, nascido Jakob Eberst em Colónia no dia 20 de Junho de 1819, um paladino da opereta e precursor do teatro musical moderno. A sua ópera bufa, ou opereta La vie parisienne, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, é o primeiro retrato completo que Offenbach faz da vida parisiense contemporânea, contrastando com as suas obras de época anteriores, mais fantásticas e mitológicas, e tornou-se uma das operetas mais populares do compositor. No final dos anos 50 do séc. XIX, Paris começou a viver um período de frivolidade e a decadência do Segundo Império, o regime monárquico bonapartista implantado por Napoleão III de 1852 a 1870, entre os períodos históricos da Segunda e da Terceira República, na França. Durante esse período, Paris foi centro de exposições mundiais, para onde convergiam a divulgação do progresso cultural e industrial do mundo. A cidade, administrada pelo Barão Georges-Eugène Haussmann, passava por um moderno processo de urbanização, caracterizado pela abertura de novas e amplas avenidas, chamadas boulevards. Os espectáculos teatrais começaram a explorar humoristicamente o espírito, a inteligência e o divertimento característicos da vida parisiense. Foi, assim, durante o período do Segundo Império que estreou a primeira opereta de Offenbach, Orphée aux enfers (1858), um grande sucesso de bilheteira, que salvou Offenbach e a sua companhia de dificuldades financeiras. A fama e a popularidade de Offenbach subiram às alturas e, nas duas décadas que se seguiram, o compositor escreveu numerosas operetas, a maioria de grande sucesso, como La belle Hélène (1864), La vie parisienne (1866), La Grande-duchesse de Gérolstein (1867), e La Princesse de Trébizonde (1869), num total de mais de noventa! Em 1864, o Théâtre du Palais-Royal apresentou uma comédia-vaudeville em um acto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy intitulada Le photographe (O Fotógrafo). Dois anos antes, uma comédia pelos mesmos autores, La clé de Métella (A Chave de Métella) tinha sido apresentada no Théâtre du Vaudeville. No ano seguinte, os mesmos tinham apresentado no Théâtre du Palais-Royal Le Brésilien, uma comédia em um acto. Estas três peças pressagiam o libreto de La vie parisienne, datado do final de 1865. A opereta foi estreada no dia 31 de Outubro de 1866 no Théâtre du Palais-Royal em Paris com cinco actos, e foi uma sensação, ainda mais do que a opereta Barbe-bleu, também de Offenbach, levada à cena poucos meses antes, tendo tido, inclusive, como espectadores, entre outras, personalidades como o Príncipe de Gales, no início de Dezembro de 1866, e Napoleão III e a sua esposa que assistiram à sua 58ª representação no dia 28 de Dezembro de 1866. O Czar da Rússia e os seus dois filhos assistiram à 217ª representação no dia 5 de Junho de 1867 e a opereta manteve-se em cena até ao dia 24 de Julho de 1867, com 265 representações. É reposta no dia 9 de Março de 1868 e atinge as 293 representações no dia 5 de Abril de 1868 e depois, de 2 a 31 de Outubro de 1969, atinge as 323 representações. Seguidamente, foi montada em várias cidades de província, como Marseille, Rouen, Lille, Lyon e Nantes. No dia 30 de Março de 1872, ocorreu a sua estreia no Holborn Theatre, em Londres, numa versão do dramaturgo Francis Burnand. No dia 25 de Setembro de 1873, foi estreada a versão curta de quatro actos (sem o quarto acto original) no Théâtre des Variétés da capital francesa, versão reposta em 1875. A obra chegou ao Booth Theatre, em Nova Iorque, no dia 12 de Junho de 1876. O timing não poderia ter sido melhor para La vie parisienne, pois os visitantes internacionais da Exposição Universal de Paris de 1867 ficaram intrigados com a trama, que gira em torno das aventuras e desventuras amorosas de um Barão e Baronesa suecos, os Gondremarcks, no decorrer das suas férias em Paris. No primeiro ato, os barões e um brasileiro rico, Frick, enredam-se numa teia tecida por dois homens, Raoul de Gardefeu e Bobinet, desesperadamente apaixonados por uma “mulher da vida”, Métella, numa estação de comboios. Os próximos quatro actos incluem todos os elementos necessários para uma opereta bem-sucedida: criados que se apresentam como membros da classe alta, identidades ocultas, ligações frustradas, hedonismo e consumo de bebidas alcoólicas. La vie parisienne foi o primeiro empreendimento de grande sucesso de Offenbach no género opereta com um cenário contemporâneo, assuntos actuais e personagens com roupagens modernas. Semelhanças com Die Fledermaus (O Morcego) de Johann Strauss (1874) abundam. La vie parisienne é um trabalho alegre e cómico em louvor a Paris, mas não sem reservas. Quando os Gondremarcks são transportados e enganados, começam a perceber que Paris não é tão fascinante quanto foram levados a acreditar pela sua imaginação. É, no entanto, fascinante o suficiente e tem coisas novas para lhes oferecer, ou seja, amor, dança e bebida. Sugestão de audição da obra: Jacques Offenbach: La vie parisienne Régine Crespin, Mady Mesplé, Luis Masson, Michel Sénéchal, Michel Trempont, et al, Orchestre du Capitole de Toulouse, Michel Plasson – EMI Classics, 2002 Japão | Shinzo Abe sem votos suficientes para reforma constitucional Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] coligação política do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, venceu as eleições parciais de domingo, mas sem conseguir os dois terços necessários na câmara alta do parlamento para levar avante uma reforma constitucional, foi ontem noticiado. Dos 124 lugares que foram a votos, 71 terão sido conquistados pelo conservador Partido Liberal Democrático, de Shinzo Abe, e pelo seu aliado político, Komeito, de acordo com os resultados compilados e divulgados pelo canal público de televisão NHK. As eleições de domingo foram convocadas para eleger metade dos parlamentares que compõem o Senado, a câmara alta do parlamento (Dieta) nipónico. A restante composição será eleita num escrutínio agendado para 2022. Assim, e apesar de garantir a maioria naquele órgão legislativo (141 lugares num total de 245), Abe não alcançou o número de assentos necessários para poder pressionar uma revisão constitucional. O objectivo de Abe é emendar a Constituição, adoptada após a Segunda Guerra Mundial, para alterar o carácter pacifista e também para que as forças militares, actualmente denominadas Forças de Autodefesa, tenham um papel mais activo. Esta alteração tem de ser aprovada por ambas as câmaras e submetida a referendo. Embora na câmara baixa, Abe e os aliados assegurem dois terços dos lugares, o mesmo não acontecer na câmara alta, desde a votação deste domingo. “A eleição para a câmara alta não foi realizada para ganharmos dois terços dos assentos, foi para manter a estabilidade”, relativizou Abe, em declarações a outra televisão nipónica. Bolsa de Xangai | Emissão de títulos de alta tecnologia estreia a subir 520% Hoje Macau - 23 Jul 2019 O novo mercado para emissão de títulos de tecnológicas chinesas abriu ontem, em Xangai, a subir até 520 por cento, na sessão de estreia, com os investidores animados para comprar acções das primeiras 25 empresas listadas [dropcap]I[/dropcap]nspirado no norte-americano NASDAQ, o STAR Market reflecte o desejo do Partido Comunista Chinês de canalizar capital privado para os seus planos de desenvolvimento, dando aos pequenos investidores chineses uma oportunidade de comprar títulos em indústrias de tecnologia que até agora se voltaram para Wall Street. No arranque da sessão, as primeiras acções subiram até 520 por cento, face à cotação nas ofertas públicas iniciais. Mais de 140 empresas de tecnologia e ciência em toda a China inscreveram-se para negociar as suas acções no novo mercado, que é administrado pela Bolsa de Valores de Xangai, a principal praça financeira do continente chinês. As 25 empresas que começaram ontem a negociar já arrecadaram 37 mil milhões de yuan. O novo mercado é o único na China com incentivos para empresas de tecnologia, incluindo acções de duas classes, o que garante aos fundadores que mantêm controlo sobre as empresas. O novo índice é também o único na China continental que permite vendas curtas (“short selling”), prática que pretende tirar partido da queda do valor das acções: os investidores pedem acções emprestadas para as vender no mercado e, posteriormente, adquiri-las a um preço mais baixo. O valor das acções no novo mercado pode oscilar até 30 por cento, antes de os reguladores imporem uma suspensão de 10 minutos. Nas principais praças financeiras chinesas, os títulos deixam de ser negociados durante o resto da sessão, caso subam ou desçam 10 por cento. Capital e social Empresas como a fabricante de módulos de células solares Anji e a fabricante de chips Montage Technology subiram até 520 por cento e 285 por cento, respectivamente, beneficiando da ausência de limites na oscilação dos preços, durante os primeiros cinco dias de negociação. Durante a sessão da manhã, seis das 25 acções subiram mais de 200 por cento e todas as acções avançaram mais de 100 por cento. A Star exige que as empresas listadas aloquem pelo menos metade das suas acções listadas para fundos mútuos, previdenciários ou de seguro, e limitam a negociação a investidores com um saldo de pelo menos 500.000 de yuan e dois anos de experiência a negociar em bolsa. As bolsas de valores da China, em Xangai e Shenzhen, foram criadas no início dos anos 90 para arrecadar dinheiro para a indústria estatal, e passaram mais tarde a incluir empresas privadas, mas continuam a ser dominadas por empresas sob tutela do Governo, como a PetroChina Ltd. e a China Mobile Ltd. Privadas como os gigantes do comércio electrónico Alibaba e JD.com, ou o motor de busca Baidu, emitiram milhares de milhões de dólares em títulos em Wall Street, numa operação inconveniente e cara para empresas mais pequenas. As empresas que ainda não registaram lucros podem negociar no novo mercado se gastarem pelo menos 15 por cento das suas receitas em pesquisa e desenvolvimento ou se tiverem drogas ou outras tecnologias num estágio avançado de desenvolvimento. Roberto Fernández Retamar morre aos 89 anos Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] poeta e ensaísta cubano Roberto Fernández Retamar, Prémio Nacional de Literatura e presidente da prestigiosa Casa das Américas, morreu este sábado em Havana, aos 89 anos. “Perdemos um dos maiores poetas e pensadores da nossa América e do mundo: Roberto Fernández Retamar. Deixa-nos um trabalho excepcional, focado na descolonização e anti-imperialismo”, escreveu na rede social Twitter o ex-ministro da Cultura da ilha, Abel Prieto. Jornalista, poeta, ensaísta, professor universitário e diplomata, Fernández Retamar (1930-2019) começou a trabalhar muito cedo como jornalista na revista “Alba”, para a qual entrevistou o vencedor do Prémio Nobel da Literatura norte-americano Ernest Hemingway. Na década de 1950 colaborou com a revista emblemática “Origens” e envolveu-se na luta clandestina contra o regime de Fulgencio Batista. Após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro em 1959, ocupou vários cargos em instituições culturais, incluindo a Casa das Américas, onde dirigiu pela primeira vez a revista da instituição desde 1965 e assumiu a presidência de 1986 até hoje. Fernández Retamar também fundou e editou até 1964 a revista “Unión” juntamente com os renomados intelectuais Nicolás Guillén, Alejo Carpentier e José Rodríguez Feo. Foi membro da Academia Cubana da Língua, que dirigiu entre 2008 e 2012, e membro correspondente da Real Academia Espanhola. Escrita reconhecida Autor de uma vasta obra em prosa e verso, os seus livros foram traduzidos para uma dúzia de idiomas e o seu ensaio “Caliban, notas sobre a cultura da Nossa América” (1971) é considerado um dos mais importantes da literatura latino-americana do século XX. Fernández Retamar era membro do Conselho Cubano de Estado – o órgão máximo do Governo no país – e deputado na Assembleia Nacional entre 1998 e 2013. Em 1989 foi agraciado com o Prémio Nacional de Literatura, o mais importante do género na ilha, e depois o Prémio Nacional de Ciências Sociais em 2012 e o Prémio Internacional José Martí da Unesco em Janeiro passado, entre outras distinções. Os restos mortais de Roberto Fernández Retamar serão incinerados e, na próxima semana, uma homenagem será preparada como despedida na Casa das Américas. Cinema | Filme nomeado para os Césares 2019 em cartaz na Cinemateca Paixão Raquel Moz - 23 Jul 2019 O que leva as pessoas a resistir e a seguir em frente, perante a adversidade, é eterno e intemporal. “Amanda” é uma história de família sobre as mudanças que ocorrem após um violento ataque terrorista. Nomeado para os Césares 2019, o filme está em exibição até à próxima terça na Cinemateca Paixão [dropcap]A[/dropcap] perda e a dor colectiva causada pelos ataques terroristas islâmicos em cidades europeias é o ponto de partida para este filme francês, realizado por Mikhaël Hers, que também assina o argumento a meias com Maud Ameline. “Amanda” (2018) é um drama contemporâneo sobre valores familiares, que está em exibição na Cinemateca Paixão até ao dia 30 de Julho. Trata-se de uma história normal sobre pessoas normais num país europeu normal. São os acontecimentos dolorosos que vão obrigar as personagens a amadurecer e a repensar na vida após a tragédia. Toda a gente é forçada a reagir, mas não é a raiva e a impotência que o filme explora, é antes o processo de superação e a humanidade que se manifesta através dos compromissos inevitáveis que se estabelecem entre os protagonistas. A Amanda do título é uma menina de sete anos que vive em Paris e é criada pela mãe, Sandrine, solteira e professora, com a ajuda irregular do seu irmão mais novo, David, um jovem de 20 anos, que vai trabalhando aqui e ali, a tomar conta de apartamentos e fazer tarefas de manutenção. Quando é preciso, David faz de baby-sitter à sobrinha, vai buscá-la à escola e toma conta dela. A mãe ausente de David e Sandrine é inglesa e vive em Londres, sem grande relação com os filhos. David tem o sonho de ir assistir a um jogo de ténis em Wimbledon, mas não quer saber sequer da progenitora. A vida de David muda quando a irmã é assassinada no meio de um ataque terrorista que acontece numa praça pública de Paris. A Amanda vai ter que ficar a seu cargo e ambos vão aprender a adaptar-se à nova situação. Segundo a crítica internacional, o filme é bem-intencionado, evita o cliché dos confrontos religiosos, não explora as questões políticas contra o islamismo, opta antes pela autenticidade das relações e pelo retrato honesto do quotidiano de quem tem que continuar a viver o dia-a-dia. Passagem pelo Indie O filme foi acolhido e reconhecido em diversos festivais internacionais, vencendo o prémio principal e o melhor argumento do Festival Internacional de Tóquio 2018, para Mikhaël Hers e Maud Ameline. “Amanda” foi igualmente nomeado para os Césares 2019, nas categorias de melhor actor, com Vincent Lacoste, e melhor música original, de Anton Sanko; nomeado para os Lumiere Awards 2019, como melhor filme e melhor actor; nomeado para os Laurier du Cinéma 2019 e para a Selecção Orizzonti do 75º Festival de Cinema de Veneza. O filme esteve ainda presente na competição do IndieLisboa 2019, indigitado para o Prémio Silvestre como melhor filme, que viria a ser atribuído ex-aequo a “I Do Not Care If We Go Down In History As Barbarians”, de Radu Jude, e a “M.”, de Yolande Zauberman. Mikhael Hers é já um nome habitual no Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, por onde passaram os seus três primeiros filmes: “Primrose Hill”, “Memory Lane” e “Ce Sentiment de L’Été”. Mikhaël Hers nasceu em França em 1975 e estudou produção cinematográfica em La Fémis, em Paris. Formou-se em 2004 e começou então a produzir e realizar os seus próprios filmes. Escreveu e dirigiu as médias-metragens “Charell” (2006), “Primrose Hill” (2007) e “Montparnasse” (2009), todas estreadas no Festival de Cinema de Cannes e, esta última, vencedora do Prémio Jean Vigo. “Memory Lane” (2010) é a sua primeira longa-metragem. A segunda, “Ce Sentiment de L’Été” (2015), venceu o Grande Prémio do Júri no Festival Internacional de Cinema de Bordéus, em França, e foi apresentado ainda no Festival de Roterdão, na Holanda. As sessões da Cinemateca Paixão acontecem entre hoje, dia 23, e terça-feira, de 30 de Julho, sempre às 19h30, excepto no sábado, em que a sessão é às 21h30. O filme é exibido na língua original, em francês, com legendas em chinês e inglês. A duração é de 106 minutos e os bilhetes estão disponíveis por 60 patacas na bilheteira ou na página web. Ambiente | Agente causador da cólera detectado em Cheoc Van Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades alertaram ontem a população para a presença do agente causador da cólera nas águas da praia de Cheoc Van, em Coloane, o que levou ao hastear da bandeira vermelha. “Os testes à água da praia de Cheoc Van deram positivo para a presença da bactéria da cólera”, informou, em comunicado, a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, após notificação do laboratório do Instituto para os Assuntos Municipais. A cólera é provocada pela bactéria ‘Vibrio cholerae’, transmite-se pelo consumo de água e comida contaminadas, manifesta-se sob a forma de diarreia infecciosa e pode matar em apenas algumas horas. Segundo o comunicado, na praia de Cheoc Van “está içada a bandeira vermelha que indica a proibição de entrar no mar” e está igualmente “afixado um aviso para alertar o público sobre a situação”, acrescentou. Em Hac Sa não foi detectado qualquer problema, segundo as autoridades autoridades, que prometeram continuar a monitorizar a situação. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Japão | Shinzo Abe sem votos suficientes para reforma constitucional Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] coligação política do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, venceu as eleições parciais de domingo, mas sem conseguir os dois terços necessários na câmara alta do parlamento para levar avante uma reforma constitucional, foi ontem noticiado. Dos 124 lugares que foram a votos, 71 terão sido conquistados pelo conservador Partido Liberal Democrático, de Shinzo Abe, e pelo seu aliado político, Komeito, de acordo com os resultados compilados e divulgados pelo canal público de televisão NHK. As eleições de domingo foram convocadas para eleger metade dos parlamentares que compõem o Senado, a câmara alta do parlamento (Dieta) nipónico. A restante composição será eleita num escrutínio agendado para 2022. Assim, e apesar de garantir a maioria naquele órgão legislativo (141 lugares num total de 245), Abe não alcançou o número de assentos necessários para poder pressionar uma revisão constitucional. O objectivo de Abe é emendar a Constituição, adoptada após a Segunda Guerra Mundial, para alterar o carácter pacifista e também para que as forças militares, actualmente denominadas Forças de Autodefesa, tenham um papel mais activo. Esta alteração tem de ser aprovada por ambas as câmaras e submetida a referendo. Embora na câmara baixa, Abe e os aliados assegurem dois terços dos lugares, o mesmo não acontecer na câmara alta, desde a votação deste domingo. “A eleição para a câmara alta não foi realizada para ganharmos dois terços dos assentos, foi para manter a estabilidade”, relativizou Abe, em declarações a outra televisão nipónica.
Bolsa de Xangai | Emissão de títulos de alta tecnologia estreia a subir 520% Hoje Macau - 23 Jul 2019 O novo mercado para emissão de títulos de tecnológicas chinesas abriu ontem, em Xangai, a subir até 520 por cento, na sessão de estreia, com os investidores animados para comprar acções das primeiras 25 empresas listadas [dropcap]I[/dropcap]nspirado no norte-americano NASDAQ, o STAR Market reflecte o desejo do Partido Comunista Chinês de canalizar capital privado para os seus planos de desenvolvimento, dando aos pequenos investidores chineses uma oportunidade de comprar títulos em indústrias de tecnologia que até agora se voltaram para Wall Street. No arranque da sessão, as primeiras acções subiram até 520 por cento, face à cotação nas ofertas públicas iniciais. Mais de 140 empresas de tecnologia e ciência em toda a China inscreveram-se para negociar as suas acções no novo mercado, que é administrado pela Bolsa de Valores de Xangai, a principal praça financeira do continente chinês. As 25 empresas que começaram ontem a negociar já arrecadaram 37 mil milhões de yuan. O novo mercado é o único na China com incentivos para empresas de tecnologia, incluindo acções de duas classes, o que garante aos fundadores que mantêm controlo sobre as empresas. O novo índice é também o único na China continental que permite vendas curtas (“short selling”), prática que pretende tirar partido da queda do valor das acções: os investidores pedem acções emprestadas para as vender no mercado e, posteriormente, adquiri-las a um preço mais baixo. O valor das acções no novo mercado pode oscilar até 30 por cento, antes de os reguladores imporem uma suspensão de 10 minutos. Nas principais praças financeiras chinesas, os títulos deixam de ser negociados durante o resto da sessão, caso subam ou desçam 10 por cento. Capital e social Empresas como a fabricante de módulos de células solares Anji e a fabricante de chips Montage Technology subiram até 520 por cento e 285 por cento, respectivamente, beneficiando da ausência de limites na oscilação dos preços, durante os primeiros cinco dias de negociação. Durante a sessão da manhã, seis das 25 acções subiram mais de 200 por cento e todas as acções avançaram mais de 100 por cento. A Star exige que as empresas listadas aloquem pelo menos metade das suas acções listadas para fundos mútuos, previdenciários ou de seguro, e limitam a negociação a investidores com um saldo de pelo menos 500.000 de yuan e dois anos de experiência a negociar em bolsa. As bolsas de valores da China, em Xangai e Shenzhen, foram criadas no início dos anos 90 para arrecadar dinheiro para a indústria estatal, e passaram mais tarde a incluir empresas privadas, mas continuam a ser dominadas por empresas sob tutela do Governo, como a PetroChina Ltd. e a China Mobile Ltd. Privadas como os gigantes do comércio electrónico Alibaba e JD.com, ou o motor de busca Baidu, emitiram milhares de milhões de dólares em títulos em Wall Street, numa operação inconveniente e cara para empresas mais pequenas. As empresas que ainda não registaram lucros podem negociar no novo mercado se gastarem pelo menos 15 por cento das suas receitas em pesquisa e desenvolvimento ou se tiverem drogas ou outras tecnologias num estágio avançado de desenvolvimento.
Roberto Fernández Retamar morre aos 89 anos Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] poeta e ensaísta cubano Roberto Fernández Retamar, Prémio Nacional de Literatura e presidente da prestigiosa Casa das Américas, morreu este sábado em Havana, aos 89 anos. “Perdemos um dos maiores poetas e pensadores da nossa América e do mundo: Roberto Fernández Retamar. Deixa-nos um trabalho excepcional, focado na descolonização e anti-imperialismo”, escreveu na rede social Twitter o ex-ministro da Cultura da ilha, Abel Prieto. Jornalista, poeta, ensaísta, professor universitário e diplomata, Fernández Retamar (1930-2019) começou a trabalhar muito cedo como jornalista na revista “Alba”, para a qual entrevistou o vencedor do Prémio Nobel da Literatura norte-americano Ernest Hemingway. Na década de 1950 colaborou com a revista emblemática “Origens” e envolveu-se na luta clandestina contra o regime de Fulgencio Batista. Após o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro em 1959, ocupou vários cargos em instituições culturais, incluindo a Casa das Américas, onde dirigiu pela primeira vez a revista da instituição desde 1965 e assumiu a presidência de 1986 até hoje. Fernández Retamar também fundou e editou até 1964 a revista “Unión” juntamente com os renomados intelectuais Nicolás Guillén, Alejo Carpentier e José Rodríguez Feo. Foi membro da Academia Cubana da Língua, que dirigiu entre 2008 e 2012, e membro correspondente da Real Academia Espanhola. Escrita reconhecida Autor de uma vasta obra em prosa e verso, os seus livros foram traduzidos para uma dúzia de idiomas e o seu ensaio “Caliban, notas sobre a cultura da Nossa América” (1971) é considerado um dos mais importantes da literatura latino-americana do século XX. Fernández Retamar era membro do Conselho Cubano de Estado – o órgão máximo do Governo no país – e deputado na Assembleia Nacional entre 1998 e 2013. Em 1989 foi agraciado com o Prémio Nacional de Literatura, o mais importante do género na ilha, e depois o Prémio Nacional de Ciências Sociais em 2012 e o Prémio Internacional José Martí da Unesco em Janeiro passado, entre outras distinções. Os restos mortais de Roberto Fernández Retamar serão incinerados e, na próxima semana, uma homenagem será preparada como despedida na Casa das Américas.
Cinema | Filme nomeado para os Césares 2019 em cartaz na Cinemateca Paixão Raquel Moz - 23 Jul 2019 O que leva as pessoas a resistir e a seguir em frente, perante a adversidade, é eterno e intemporal. “Amanda” é uma história de família sobre as mudanças que ocorrem após um violento ataque terrorista. Nomeado para os Césares 2019, o filme está em exibição até à próxima terça na Cinemateca Paixão [dropcap]A[/dropcap] perda e a dor colectiva causada pelos ataques terroristas islâmicos em cidades europeias é o ponto de partida para este filme francês, realizado por Mikhaël Hers, que também assina o argumento a meias com Maud Ameline. “Amanda” (2018) é um drama contemporâneo sobre valores familiares, que está em exibição na Cinemateca Paixão até ao dia 30 de Julho. Trata-se de uma história normal sobre pessoas normais num país europeu normal. São os acontecimentos dolorosos que vão obrigar as personagens a amadurecer e a repensar na vida após a tragédia. Toda a gente é forçada a reagir, mas não é a raiva e a impotência que o filme explora, é antes o processo de superação e a humanidade que se manifesta através dos compromissos inevitáveis que se estabelecem entre os protagonistas. A Amanda do título é uma menina de sete anos que vive em Paris e é criada pela mãe, Sandrine, solteira e professora, com a ajuda irregular do seu irmão mais novo, David, um jovem de 20 anos, que vai trabalhando aqui e ali, a tomar conta de apartamentos e fazer tarefas de manutenção. Quando é preciso, David faz de baby-sitter à sobrinha, vai buscá-la à escola e toma conta dela. A mãe ausente de David e Sandrine é inglesa e vive em Londres, sem grande relação com os filhos. David tem o sonho de ir assistir a um jogo de ténis em Wimbledon, mas não quer saber sequer da progenitora. A vida de David muda quando a irmã é assassinada no meio de um ataque terrorista que acontece numa praça pública de Paris. A Amanda vai ter que ficar a seu cargo e ambos vão aprender a adaptar-se à nova situação. Segundo a crítica internacional, o filme é bem-intencionado, evita o cliché dos confrontos religiosos, não explora as questões políticas contra o islamismo, opta antes pela autenticidade das relações e pelo retrato honesto do quotidiano de quem tem que continuar a viver o dia-a-dia. Passagem pelo Indie O filme foi acolhido e reconhecido em diversos festivais internacionais, vencendo o prémio principal e o melhor argumento do Festival Internacional de Tóquio 2018, para Mikhaël Hers e Maud Ameline. “Amanda” foi igualmente nomeado para os Césares 2019, nas categorias de melhor actor, com Vincent Lacoste, e melhor música original, de Anton Sanko; nomeado para os Lumiere Awards 2019, como melhor filme e melhor actor; nomeado para os Laurier du Cinéma 2019 e para a Selecção Orizzonti do 75º Festival de Cinema de Veneza. O filme esteve ainda presente na competição do IndieLisboa 2019, indigitado para o Prémio Silvestre como melhor filme, que viria a ser atribuído ex-aequo a “I Do Not Care If We Go Down In History As Barbarians”, de Radu Jude, e a “M.”, de Yolande Zauberman. Mikhael Hers é já um nome habitual no Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, por onde passaram os seus três primeiros filmes: “Primrose Hill”, “Memory Lane” e “Ce Sentiment de L’Été”. Mikhaël Hers nasceu em França em 1975 e estudou produção cinematográfica em La Fémis, em Paris. Formou-se em 2004 e começou então a produzir e realizar os seus próprios filmes. Escreveu e dirigiu as médias-metragens “Charell” (2006), “Primrose Hill” (2007) e “Montparnasse” (2009), todas estreadas no Festival de Cinema de Cannes e, esta última, vencedora do Prémio Jean Vigo. “Memory Lane” (2010) é a sua primeira longa-metragem. A segunda, “Ce Sentiment de L’Été” (2015), venceu o Grande Prémio do Júri no Festival Internacional de Cinema de Bordéus, em França, e foi apresentado ainda no Festival de Roterdão, na Holanda. As sessões da Cinemateca Paixão acontecem entre hoje, dia 23, e terça-feira, de 30 de Julho, sempre às 19h30, excepto no sábado, em que a sessão é às 21h30. O filme é exibido na língua original, em francês, com legendas em chinês e inglês. A duração é de 106 minutos e os bilhetes estão disponíveis por 60 patacas na bilheteira ou na página web.
Ambiente | Agente causador da cólera detectado em Cheoc Van Hoje Macau - 23 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades alertaram ontem a população para a presença do agente causador da cólera nas águas da praia de Cheoc Van, em Coloane, o que levou ao hastear da bandeira vermelha. “Os testes à água da praia de Cheoc Van deram positivo para a presença da bactéria da cólera”, informou, em comunicado, a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, após notificação do laboratório do Instituto para os Assuntos Municipais. A cólera é provocada pela bactéria ‘Vibrio cholerae’, transmite-se pelo consumo de água e comida contaminadas, manifesta-se sob a forma de diarreia infecciosa e pode matar em apenas algumas horas. Segundo o comunicado, na praia de Cheoc Van “está içada a bandeira vermelha que indica a proibição de entrar no mar” e está igualmente “afixado um aviso para alertar o público sobre a situação”, acrescentou. Em Hac Sa não foi detectado qualquer problema, segundo as autoridades autoridades, que prometeram continuar a monitorizar a situação.