AL | Mak Soi Kun diz que serviços desconhecem regras para obras públicas

Os legisladores estiveram a analisar o PIDDA e depararam-se com um cenário em que os governantes desconhecem as competências e burocracias relacionadas com as leis que regulam as empreitadas públicas

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados estiveram a analisar a execução do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) e chegaram à conclusão que há vários serviços do Governo com problemas para compreenderem as regras das empreitadas públicas. Por isso, segundo Mak Soi Kun, que preside à comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, os responsáveis pelos serviços deviam receber formação ou cursos para saberem como proceder.

“Não são todos os serviços [com problemas]. Mas há serviços onde falta clareza em termos das competências. Há serviços que não tem uma percepção clara dos projectos que precisam de passar primeiro pela apreciação das Obras Públicas para depois poderem avançar”, contou Mak Soi Kun. “Houve casos em que foram enviados projectos para apreciação prévia das Obras Públicas, mas passado um ano concluiu-se que não era necessária a apreciação ou aprovação pelas Obras Públicas”, acrescentou.

Entre os exemplos mencionados, o presidente da comissão falou do projecto para o Centro de Formação dos Serviços de Administração e Função Pública, que esteve um ano à espera da aprovação das Obras Públicas, quando tal não era necessário. É este tipo de “vai e vem” de documentação desnecessária que a comissão quer ver chegar ao fim, porque considera que as esperas desnecessárias “prejudicam a sociedade”.

Face a este desconhecimento das leis em vigor, os membros da AL defendem que é necessário dar acções de formação: “Podemos sugerir a realização de acções de formação ou sessões de esclarecimento juntos dos serviços para haver uma compreensão melhor das competências”, afirmou.

Ao mesmo nível, houve igualmente serviços que pediram às Obras Públicas que executassem determinados projectos, porém, à luz das leis em vigor esses mesmos serviços tinham a autonomia para serem eles os encarregados pelos trabalhos. Em relação a estes casos, Mak Soi Kun não avançou com exemplos.

Falta de coordenação

Outro dos problemas identificados pelos deputados passa pela falta de coordenação entre os diferentes serviços para a realização de obras.

Por exemplo, a construção do Departamento Policial das Ilhas na Taipa teve de ser cancelada porque não foram cumpridas as exigências do concurso público.
Os deputados consideram que se tivesse havido uma melhor comunicação, o problema teria sido logo detectado no início.

Os membros da comissão debruçaram-se ainda sobre a execução dos gastos do PIDDA e, segundo os dados apresentados pelo Governo, até ao final do terceiro trimestre havia 39 projectos sem qualquer gasto das verbas orçamentadas. Foram ainda contabilizados 96 projectos que tinham despendido uma quantia inferior a 50 por cento do orçamentado.

AL | Mak Soi Kun diz que serviços desconhecem regras para obras públicas

Os legisladores estiveram a analisar o PIDDA e depararam-se com um cenário em que os governantes desconhecem as competências e burocracias relacionadas com as leis que regulam as empreitadas públicas

 
[dropcap]O[/dropcap]s deputados estiveram a analisar a execução do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) e chegaram à conclusão que há vários serviços do Governo com problemas para compreenderem as regras das empreitadas públicas. Por isso, segundo Mak Soi Kun, que preside à comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, os responsáveis pelos serviços deviam receber formação ou cursos para saberem como proceder.
“Não são todos os serviços [com problemas]. Mas há serviços onde falta clareza em termos das competências. Há serviços que não tem uma percepção clara dos projectos que precisam de passar primeiro pela apreciação das Obras Públicas para depois poderem avançar”, contou Mak Soi Kun. “Houve casos em que foram enviados projectos para apreciação prévia das Obras Públicas, mas passado um ano concluiu-se que não era necessária a apreciação ou aprovação pelas Obras Públicas”, acrescentou.
Entre os exemplos mencionados, o presidente da comissão falou do projecto para o Centro de Formação dos Serviços de Administração e Função Pública, que esteve um ano à espera da aprovação das Obras Públicas, quando tal não era necessário. É este tipo de “vai e vem” de documentação desnecessária que a comissão quer ver chegar ao fim, porque considera que as esperas desnecessárias “prejudicam a sociedade”.
Face a este desconhecimento das leis em vigor, os membros da AL defendem que é necessário dar acções de formação: “Podemos sugerir a realização de acções de formação ou sessões de esclarecimento juntos dos serviços para haver uma compreensão melhor das competências”, afirmou.
Ao mesmo nível, houve igualmente serviços que pediram às Obras Públicas que executassem determinados projectos, porém, à luz das leis em vigor esses mesmos serviços tinham a autonomia para serem eles os encarregados pelos trabalhos. Em relação a estes casos, Mak Soi Kun não avançou com exemplos.

Falta de coordenação

Outro dos problemas identificados pelos deputados passa pela falta de coordenação entre os diferentes serviços para a realização de obras.
Por exemplo, a construção do Departamento Policial das Ilhas na Taipa teve de ser cancelada porque não foram cumpridas as exigências do concurso público.
Os deputados consideram que se tivesse havido uma melhor comunicação, o problema teria sido logo detectado no início.
Os membros da comissão debruçaram-se ainda sobre a execução dos gastos do PIDDA e, segundo os dados apresentados pelo Governo, até ao final do terceiro trimestre havia 39 projectos sem qualquer gasto das verbas orçamentadas. Foram ainda contabilizados 96 projectos que tinham despendido uma quantia inferior a 50 por cento do orçamentado.

Presidente da AL prioriza leis relacionadas com segurança do Estado 

[dropcap]K[/dropcap]ou Hoi In, presidente da Assembleia Legislativa (AL), defendeu, numa entrevista concedida à agência noticiosa Xinhua, que a sua prioridade neste cargo são as leis relativas à segurança do Estado, assegurando que o debate no hemiciclo é inevitável.

“Quando o assunto é a segurança nacional, há o consenso entre todos os deputados de que deve ser defendida a segurança e os interesses do país. Com essa concordância, as propostas de lei relativas a esse assunto são aprovadas mais rapidamente na AL”, disse. Kou Hoi In deu o exemplo da lei de bases da organização judiciária, aprovada este ano, que determina que apenas juízes de nacionalidade chinesa podem julgar crimes relacionados com a defesa e segurança do Estado.

No que diz respeito aos trabalhos da AL, Kou Hoi In determina que a sua principal tarefa deve ser apoiar a acção governativa, para que tudo esteja de acordo com as leis em vigor em Macau. Quanto aos seus trabalhos futuros, prendem-se com a protecção da Lei Básica e da Constituição chinesa, não permitindo eventuais atropelos ao princípio “Um País, Dois Sistemas”, além de salvaguardar os interesses da China.

“Qualquer lei produzida pela AL está sempre de acordo com a Lei Básica e deve ser comunicada ao Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional para registo. Até agora não houve nenhuma proposta de lei devolvida”, assegurou Kou Hoi In.

Em nome da população

No diz respeito à vida da população, o presidente da AL destacou a importância de diplomas como o regime de segurança social e do regime de subsídio de invalidez e dos cuidados de saúde prestados em regime de gratuitidade, entre outros, onde são garantidas as necessidades básicas dos trabalhadores ou empregados com baixos salários, bem como portadores de deficiência e idosos.

Com a nova lei de habitação económica, Kou Hoi In acredita que está assegurado à população necessitada o direito a uma casa. Quanto ao planeamento legislativo, o presidente do hemiciclo apontou que deve ser dada prioridade às leis relacionadas com a vida da população, bem como o desenvolvimento e interesses da sociedade.

Edmund Ho destaca patriotismo dos residentes de Macau

O primeiro Chefe do Executivo de Macau, Edmund Ho, elogia a implementação da Lei Básica na região sob soberania de Pequim, numa entrevista à imprensa estatal chinesa, que está a usar o aniversário da transição para credibilizar a fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’

 

[dropcap]O[/dropcap]s residentes de Macau de todas as idades têm uma compreensão completa e precisa da Lei Básica [miniconstituição de Macau] e da Constituição nacional, o que levou à implementação sem contratempos da fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’ com características de Macau”, afirmou Edmund Ho, em entrevista à agência noticiosa oficial Xinhua.

Apontando a melhoria nos índices económicos, sociais ou de segurança da região, Ho concluiu que “Macau não teria alcançado essas conquistas sem o forte apoio do Governo Central, as suas políticas e os esforços dos residentes locais”. “Algo importante de ressaltar é que, nos últimos 20 anos, Macau combinou organicamente o seu próprio destino e desenvolvimento com os da pátria, o que não só ajudou Macau a alcançar progressos, mas também estabeleceu uma base sólida para a região desempenhar um importante papel no desenvolvimento nacional”, acrescentou.

O actual vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o principal órgão de consulta do Governo da República Popular, sublinhou que, “depois de um período de altos e baixo”, Macau conquistou várias realizações, “apoiada por uma pátria forte e por mais de mil milhões de compatriotas no continente chinês”.

“Todos sentem gratidão pela pátria, pelo qual o espírito patriota de toda a sociedade de Macau tem vindo a aumentar”, sublinhou.

Baía fértil

Macau celebra este mês 20 anos da aplicação no território da fórmula “Um País, Dois Sistemas”, um modelo que confere autonomia administrativa, mas que foi originalmente pensado para Taiwan, que o recusou, e que é hoje também posto em causa por uma grave crise política em Hong Kong.

As autoridades chinesas têm aproveitado o aniversário do retorno de Macau para enfatizar a viabilidade da fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’, sublinhando a importância do “patriotismo” na sociedade local e a integração do território nos planos de desenvolvimento de Pequim para a província vizinha de Guangdong.

“A Área da Grande Baía é uma oportunidade de ouro para o povo de Macau”, afirmou Edmund Ho, referindo-se ao plano de Pequim para criar uma metrópole mundial, construída a partir de Hong Kong e Macau, e nove cidades de Guangdong, através da criação de um mercado único e da crescente conectividade entre as vias rodoviárias, ferroviárias e marítimas.

Citado pela Xinhua, o antigo Chefe do Executivo enalteceu ainda o posicionamento de Macau como plataforma para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa. “Se Macau puder fazer bom uso desse papel singular, poderá maximizar plenamente as suas características e vantagens, o que ajudará a resolver muitas dificuldades no processo de diversificação adequada da economia”, afirmou.

RAEM 20 anos | Analistas desvalorizam ausência de Costa e Marcelo nas cerimónias

A presidente da Casa de Portugal acha normal que o Presidente da República e o primeiro-ministro português não tenham sido convidados para as celebrações dos 20 anos do estabelecimento da RAEM. Pereira Coutinho considera que ambos os representantes dariam um brilho extra à ocasião, mas afirma que as relações entre Portugal e China continuam sólidas. Por fim, o cônsul-geral recusa comentar a situação

 

[dropcap]A[/dropcap] política e as relações diplomáticas são mesmo assim. No passado dia 1 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu em Macau a hipótese de voltar no final do ano, para as celebrações do 20.º aniversário da transição da administração do território de Portugal para a China. Muito ao seu jeito, o Presidente da República falou de forma emocionada, depois de uma visita de um dia a Macau. Passados uns meses, tornou-se evidente que na eventualidade de Portugal marcar presença oficial no dia que celebra os 20 anos do estabelecimento da RAEM esta presença seria na pessoa do primeiro-ministro António Costa.

Porém, ontem o jornal Ponto Final revelou que António Costa não marcará presença nas cerimónias, informação confirmada oficialmente pelo gabinete do próprio primeiro-ministro. A confirmação foi dada dias depois de a Presidência da República também ter avançado que Marcelo Rebelo de Sousa não viria a Macau.
Segundo o Ponto Final, os dois governantes portugueses não foram convidados. Aliás, Portugal não recebeu qualquer convite para enviar um representante.

Como tal, Paulo Cunha Alves, o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, será o representante do Estado português. Uma situação que se repetiu aquando da celebração dos 10 anos da implementação da RAEM, facto recordado pela presidente da Casa de Portugal, Amélia António. “Tenho ideia que não veio cá ninguém especialmente para os 10 anos. Não é uma coisa extraordinária. Agora, ainda mais óbvio isso é, porque penso que a China considera que isto é uma data interna, um assunto interno”, comentou.

A presidente da Casa de Portugal considera que este não é o momento adequado para enfatizar as relações entre China e Portugal e que a presença dos altos dignatários portugueses, nesta altura, “provavelmente acarretaria alguns problemas diplomáticos devido ao que se passa em Hong Kong”. Ainda para mais, face às interferências e opiniões manifestadas por diplomatas britânicos e de outros países.

Apesar do cuidado diplomático que a advogada entende ser a postura de Pequim, principalmente “para evitar situações desconfortáveis numa data que pretendem que decorra com brilho e serenidade”, não acha que a China encare Portugal como encara a Inglaterra. “A China, de certeza, que não pensa que exista o risco de interferência, porque Portugal tem expressado muitas vezes a sua posição pelos canais próprios. Penso que a China sabe que esses riscos não existem”, aponta Amélia António, acrescentando que neste clima político, facilmente se fomenta a especulação e se aguçam declarações.

O autor e académico Arnaldo Gonçalves embarca também na ideia de que para Pequim este é um assunto interno: “Eles seguem a mesma metodologia de Hong Kong. Acham que a RAEM é uma realidade chinesa e que não têm de convidar o antigo poder colonial. Não nos devemos sentir acintosos por isso.”

Dois para tango

Já o deputado e conselheiro das comunidades portuguesas José Pereira Coutinho acha que “a presença destas duas importantes individualidades daria mais brilho à efeméride. No fundo seria a confirmação do sucesso da RAEM nos últimos 20 anos sem esquecer a pacífica presença portuguesa nos últimos 500 anos”. O legislador sublinha que a Lei Básica é um garante da continuidade da maneira de viver das várias comunidades que residem em Macau e que a tornam “uma cidade aberta e internacional muito diferente das regiões adjacentes”. Para Pereira Coutinho, o que Macau é hoje em dia deve-o a ambos os lados

Quanto às declarações recentes de Marcelo Rebelo de Sousa que referiu que os princípios e valores patentes no ordenamento jurídico da RAEM devem ser protegidos e não ser afectados por condicionalismos regionais, numa alusão a Hong Kong, as personalidades ouvidas pelo HM não acham que aqui poderá estar a razão para a ausência de convite. “O Presidente da República tem as suas próprias responsabilidades e não acho que essas declarações sejam impeditivas. Mas esta é uma ocasião em que altos valores se sobrepõem a tudo o resto”, comenta Pereira Coutinho.

Também Fernando Lima, jornalista e ex-assessor de Cavaco Silva que acompanhou de perto as negociações para a transição de Macau, encara esta situação com naturalidade. “Acho isso normal, porque as autoridades portuguesas nunca foram convidadas. A China considera as cerimónias um assunto interno. Há 10 anos, quando o Presidente chinês foi a Macau para a tomada de posse do novo Chefe do Executivo, isso também não aconteceu. Se quer que lhe diga até fiquei surpreendido com as notícias de que seriam convidados.”

Amélia António partilha da perplexidade sentida por Fernando Lima. “Penso que as pessoas não estavam à espera que a visita acontecesse, toda a gente também conhece bem o Presidente, diz as coisas que lhe vêm ao coração num determinado momento”, comentou a presidente da Casa de Portugal.

No domínio do simbolismo político, Fernando Lima destaca um episódio recente que considera mais marcante em termos diplomáticos. “Achei significativas as cerimónias na Fundação Gulbenkian, onde marcaram presença o Presidente da República portuguesa e o embaixador da China em Lisboa”, comentou, acrescentando que a presença do diplomata chinês reconhece que Portugal também assinala estes 20 anos.

O jurista que participou nas negociações para a transição sublinha que “a China faz questão em proteger os assuntos internos”, e que apenas a comunicação social deu a entender que seria possível um convite oficial.

Pasodoble diplomático

Em relação ao momento político entre os dois países, Amélia António não vê nesta circunstância um passo atrás nas relações entre Portugal e China. “Penso que isto não é um caso, é normal e decorre da análise política que a China faz do momento. Acho que não tem a ver declaradamente com Portugal, cujas posições têm sido claras”, comentou.

Para a presidente da Casa de Portugal, a presença de governantes portugueses em Macau seria mais importante durante a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em primeiro lugar, Amélia António sublinha a evidência de que os representantes do Governo português são sempre bem-vindos a Macau.

Porém, deixa uma ressalva. “Não nos esqueçamos, por exemplo, que no 10 de Junho, uma data relevante para os portugueses a todos os níveis, havia o hábito de virem, algo que não se verificou nos últimos anos”, recorda.

Enquanto residente portuguesa de Macau, Amélia António entende que “quando são os nossos momentos históricos, a presença de uma entidade portuguesa tem muito mais relevância do que neste momento”. “Para a comunidade portuguesa isso tem mais peso do que o facto de não estarem cá neste momento a festejar um momento histórico cuja relevância maior é para a República Popular da China”, completou.

O HM pediu uma reacção ao cônsul-geral Paulo Cunha Alves, que respondeu por e-mail referindo “não ter qualquer comentário a tecer sobre a notícia mencionada”.

RAEM 20 anos | Analistas desvalorizam ausência de Costa e Marcelo nas cerimónias

A presidente da Casa de Portugal acha normal que o Presidente da República e o primeiro-ministro português não tenham sido convidados para as celebrações dos 20 anos do estabelecimento da RAEM. Pereira Coutinho considera que ambos os representantes dariam um brilho extra à ocasião, mas afirma que as relações entre Portugal e China continuam sólidas. Por fim, o cônsul-geral recusa comentar a situação

 
[dropcap]A[/dropcap] política e as relações diplomáticas são mesmo assim. No passado dia 1 de Maio, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu em Macau a hipótese de voltar no final do ano, para as celebrações do 20.º aniversário da transição da administração do território de Portugal para a China. Muito ao seu jeito, o Presidente da República falou de forma emocionada, depois de uma visita de um dia a Macau. Passados uns meses, tornou-se evidente que na eventualidade de Portugal marcar presença oficial no dia que celebra os 20 anos do estabelecimento da RAEM esta presença seria na pessoa do primeiro-ministro António Costa.
Porém, ontem o jornal Ponto Final revelou que António Costa não marcará presença nas cerimónias, informação confirmada oficialmente pelo gabinete do próprio primeiro-ministro. A confirmação foi dada dias depois de a Presidência da República também ter avançado que Marcelo Rebelo de Sousa não viria a Macau.
Segundo o Ponto Final, os dois governantes portugueses não foram convidados. Aliás, Portugal não recebeu qualquer convite para enviar um representante.
Como tal, Paulo Cunha Alves, o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, será o representante do Estado português. Uma situação que se repetiu aquando da celebração dos 10 anos da implementação da RAEM, facto recordado pela presidente da Casa de Portugal, Amélia António. “Tenho ideia que não veio cá ninguém especialmente para os 10 anos. Não é uma coisa extraordinária. Agora, ainda mais óbvio isso é, porque penso que a China considera que isto é uma data interna, um assunto interno”, comentou.
A presidente da Casa de Portugal considera que este não é o momento adequado para enfatizar as relações entre China e Portugal e que a presença dos altos dignatários portugueses, nesta altura, “provavelmente acarretaria alguns problemas diplomáticos devido ao que se passa em Hong Kong”. Ainda para mais, face às interferências e opiniões manifestadas por diplomatas britânicos e de outros países.
Apesar do cuidado diplomático que a advogada entende ser a postura de Pequim, principalmente “para evitar situações desconfortáveis numa data que pretendem que decorra com brilho e serenidade”, não acha que a China encare Portugal como encara a Inglaterra. “A China, de certeza, que não pensa que exista o risco de interferência, porque Portugal tem expressado muitas vezes a sua posição pelos canais próprios. Penso que a China sabe que esses riscos não existem”, aponta Amélia António, acrescentando que neste clima político, facilmente se fomenta a especulação e se aguçam declarações.
O autor e académico Arnaldo Gonçalves embarca também na ideia de que para Pequim este é um assunto interno: “Eles seguem a mesma metodologia de Hong Kong. Acham que a RAEM é uma realidade chinesa e que não têm de convidar o antigo poder colonial. Não nos devemos sentir acintosos por isso.”

Dois para tango

Já o deputado e conselheiro das comunidades portuguesas José Pereira Coutinho acha que “a presença destas duas importantes individualidades daria mais brilho à efeméride. No fundo seria a confirmação do sucesso da RAEM nos últimos 20 anos sem esquecer a pacífica presença portuguesa nos últimos 500 anos”. O legislador sublinha que a Lei Básica é um garante da continuidade da maneira de viver das várias comunidades que residem em Macau e que a tornam “uma cidade aberta e internacional muito diferente das regiões adjacentes”. Para Pereira Coutinho, o que Macau é hoje em dia deve-o a ambos os lados
Quanto às declarações recentes de Marcelo Rebelo de Sousa que referiu que os princípios e valores patentes no ordenamento jurídico da RAEM devem ser protegidos e não ser afectados por condicionalismos regionais, numa alusão a Hong Kong, as personalidades ouvidas pelo HM não acham que aqui poderá estar a razão para a ausência de convite. “O Presidente da República tem as suas próprias responsabilidades e não acho que essas declarações sejam impeditivas. Mas esta é uma ocasião em que altos valores se sobrepõem a tudo o resto”, comenta Pereira Coutinho.
Também Fernando Lima, jornalista e ex-assessor de Cavaco Silva que acompanhou de perto as negociações para a transição de Macau, encara esta situação com naturalidade. “Acho isso normal, porque as autoridades portuguesas nunca foram convidadas. A China considera as cerimónias um assunto interno. Há 10 anos, quando o Presidente chinês foi a Macau para a tomada de posse do novo Chefe do Executivo, isso também não aconteceu. Se quer que lhe diga até fiquei surpreendido com as notícias de que seriam convidados.”
Amélia António partilha da perplexidade sentida por Fernando Lima. “Penso que as pessoas não estavam à espera que a visita acontecesse, toda a gente também conhece bem o Presidente, diz as coisas que lhe vêm ao coração num determinado momento”, comentou a presidente da Casa de Portugal.
No domínio do simbolismo político, Fernando Lima destaca um episódio recente que considera mais marcante em termos diplomáticos. “Achei significativas as cerimónias na Fundação Gulbenkian, onde marcaram presença o Presidente da República portuguesa e o embaixador da China em Lisboa”, comentou, acrescentando que a presença do diplomata chinês reconhece que Portugal também assinala estes 20 anos.
O jurista que participou nas negociações para a transição sublinha que “a China faz questão em proteger os assuntos internos”, e que apenas a comunicação social deu a entender que seria possível um convite oficial.

Pasodoble diplomático

Em relação ao momento político entre os dois países, Amélia António não vê nesta circunstância um passo atrás nas relações entre Portugal e China. “Penso que isto não é um caso, é normal e decorre da análise política que a China faz do momento. Acho que não tem a ver declaradamente com Portugal, cujas posições têm sido claras”, comentou.
Para a presidente da Casa de Portugal, a presença de governantes portugueses em Macau seria mais importante durante a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em primeiro lugar, Amélia António sublinha a evidência de que os representantes do Governo português são sempre bem-vindos a Macau.
Porém, deixa uma ressalva. “Não nos esqueçamos, por exemplo, que no 10 de Junho, uma data relevante para os portugueses a todos os níveis, havia o hábito de virem, algo que não se verificou nos últimos anos”, recorda.
Enquanto residente portuguesa de Macau, Amélia António entende que “quando são os nossos momentos históricos, a presença de uma entidade portuguesa tem muito mais relevância do que neste momento”. “Para a comunidade portuguesa isso tem mais peso do que o facto de não estarem cá neste momento a festejar um momento histórico cuja relevância maior é para a República Popular da China”, completou.
O HM pediu uma reacção ao cônsul-geral Paulo Cunha Alves, que respondeu por e-mail referindo “não ter qualquer comentário a tecer sobre a notícia mencionada”.

IFFAM | Give me Liberty arrecada prémio para melhor filme

Na Competição Internacional, o prémio de melhor filme foi para Give me Liberty, dos Estados Unidos da América. Lynn + Lucy, uma co-produção de Inglaterra e França arrecadou os galardões de melhor realizador e melhor actriz. Já na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês o melhor filme foi Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang

 

[dropcap]E[/dropcap] no final, o amor do Milwaukee acabou mesmo por vencer. Give me Liberty, filme nascido das profundezas do cinema independente dos Estados Unidos da América e realizado pelo russo Kirill Mikhanovsky venceu o galardão de melhor filme da Competição Internacional do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM). Cinco anos depois de um conturbado processo, quer a nível financeiro, quer a nível de produção, até pelo “simples” facto de o filme contar com actores não-profissionais (alguns com mais de 80 anos) e outros, portadores de deficiências, o realizador russo e a argumentista norte-americana Alice Austen mostraram-se radiantes após a distinção.

“É um sentimento incrível, sobretudo pelo trabalho de todas as pessoas que fizeram parte deste filme, que por pouco não existia. Cada momento que contribuíu para a produção deste filme é um milagre. Estamos aqui para celebrar a comédia da vida, pois essa é a única maneira de enfrentar a realidade”, disse Kirill Mikhanovsky. “Este filme é muito dramático mas conseguimos sempre encontrar sentido de humor nos momentos mais difíceis”, acrescentou Alice Austen.

Acerca do filme, passado num dia da vida de um jovem que conduz uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde na “segregada” e complexa cidade do Milwaukee, o realizador disse há dias, numa entrevista concedida ao HM, que o filme “não é sobre pessoas com deficiência, nem sobre racismo. É um filme sobre humanidade, com uma história muito simples, que se assume como um pretexto para um tema maior, uma ponderação filosófica quase, acerca do destino da América e também do mundo”.

Lynn + Lucy foi outro dos vencedores da noite, ao arrecadar dois prémios da Competição Internacional do IFFAM: Melhor Realizador, atribuído a Fyzal Boulifa, e Melhor Actriz, atribuído a Roxanna Scrimshaw. Lynn e Lucy fala da história de duas amigas desde os tempos da escola, que acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance.

“Depois do prémio de melhor actriz nunca pensei que pudessemos ganhar mais um. Fico muito contente por todos os que fizeram parte deste filme e em especial pela Roxanna Scrimshaw porque ela não tinha qualquer experiência prévia em cinema”, foi desta forma que reagiu Fyzal Boulifa após Lynn + Lucy ter sido distinguido com dois prémios.

Já o prémio de Melhor Actor foi a tribuído a Sarm Heng, pelo seu desempenho em Buoyancy, filme realizado pelo australiano Rodd Rathjen que conta a história de Chakra, um jovem do Cambodja com 14 anos, que acaba juntamente com o seu colega Kea, por ser escravizado por um capitão de um barco de pesca tailandês, após ter partido em busca oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica. Buoyancy foi ainda galardoado com o prémio do público.

Por fim, o prémio de Melhor Argumento foi para o neo-zelandês Hamish Bennet, realizador e argumentista de Bellbird, filme que a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher Beth, morre inesperadamente.

O presidente do Júri da Competição Internacional, Peter Chan sublinhou o facto de os membros do júri terem “uma ideia comum” e de não ter havido discussões para encontrar os vencedores. “Decidimos rapidamente os prémios e isso, para mim, é um sucesso”, disse Peter Chan. O presidente do júri enalteceu ainda a juventude dos realizadores presentes no festival que estão a produzir as suas primeiras ou segundas obras.

Os melhores da China

Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang venceu o prémio de melhor filme na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Inspirado no título de uma famosa pintura chinesa de Huang Gongwang, Dwelling in the Fuchun Mountains conta o drama familiar de quatro irmãos que assistem ao declínio de saúde da mãe, ao longo das quatro estações do ano. Já com o troféu nas mãos, o realizador agradeceu o apoio de todos os que ajudaram a obra a tornar-se realidade e falou da homenagem à cultura chinesa que o filme pretende também ser.

“Este filme conta a história de uma família contemporânea (…) que tem de cuidar da sua mãe, assumindo-se como um reflexo actual da sociedade chinesa. O processo de gravação foi muito difícil pois o filme passa-se em quatro estações, o que implicou fazer gravações durante dois anos”, referiu.

Já o prémio de Melhor Realizador foi atribuído a Anthony Chen, pelo seu trabalho em Wet Season, filme que tem como pano de fundo Singapura. “É um honra ganhar este prémio e agradeço ao Festival de Cinema de Macau. Acho que este filme é muito especial até porque, no início, não estava à espera de voltar a utilizar os mesmos actores”, apontou Anthony Chen.

Zhou Dong Yu foi a vencedora do prémio de Melhor Actriz pela sua prestação em Better Days, filme realizado por Derek Kwok-cheung Tsang. Adaptado do romance “In His Youth”, Better Days conta a história de uma jovem estudante vítima de bullying, no contexto da preparação dos exigentes exames de admissão à Universidade na China, intitulados de gaokao.
Para a actriz receber este prémio foi “um momento muito emocionante. Penso que este tema do bullying das escolas é uma questão social que conseguimos chamar à atenção do público”, explicou Zhou Dong Yu.

Já o prémio de Melhor Actor foi atribuído a Wu Xiao Liang pela sua prestação em Wisdom Tooth. O melhor actor da competição do Novo Cinema Chinês admitiu que o prémio “foi uma surpresa” e sublinhou que este foi um filme “muito difícil de fazer e que tem muita paixão”, até pelas condições climatéricas adversas que encontraram no norte da China. “Havia momentos em que estava tanto frio que era impossível abrir a boca para dizer as deixas”, partilhou.

Por fim, o prémio de Melhor Argumento distinguiu Johnny Ma pelo seu trabalho em To Live to Sing, que o próprio também realizou. Para Ma, apesar de o processo ter sido “muito difícil” é depois compensador quando “oferecemos uma história ao público”. “Quero, por isso, agradecer à minha equipa, pois comparado com outros lugares, a China é o lugar mais difícil para se fazer um filme”, desabafou Johnny Ma.

Distinções Honrosas

Além dos principais prémios, outras menções foram também anunciadas por ocasião da Cerimónia de Entrega de Prémios.

2019 Asian Blockbuster Film 2019: Parasite (Coreia do Sul)
NETPAC Award: “To Live to Sing”, de Johnny Ma
“Spirit of Cinema” Achievement Award: Li Shao Hong (A City Called Macau)
Cinephilia Critic’s Award: “Wet Season”, de Anthony Chen
Cinephilia Critic’s Award for Best Macau Film: “Years of Macao, de Tou Kim Hong, Penny Lam, Albert Chu, Emily Chan, Peeko Wong, Chao Koi Wang, Maxim Bessmertny, Ao Leong Weng Fong e António Caetano de Faria

IFFAM | Give me Liberty arrecada prémio para melhor filme

Na Competição Internacional, o prémio de melhor filme foi para Give me Liberty, dos Estados Unidos da América. Lynn + Lucy, uma co-produção de Inglaterra e França arrecadou os galardões de melhor realizador e melhor actriz. Já na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês o melhor filme foi Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang

 
[dropcap]E[/dropcap] no final, o amor do Milwaukee acabou mesmo por vencer. Give me Liberty, filme nascido das profundezas do cinema independente dos Estados Unidos da América e realizado pelo russo Kirill Mikhanovsky venceu o galardão de melhor filme da Competição Internacional do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM). Cinco anos depois de um conturbado processo, quer a nível financeiro, quer a nível de produção, até pelo “simples” facto de o filme contar com actores não-profissionais (alguns com mais de 80 anos) e outros, portadores de deficiências, o realizador russo e a argumentista norte-americana Alice Austen mostraram-se radiantes após a distinção.
“É um sentimento incrível, sobretudo pelo trabalho de todas as pessoas que fizeram parte deste filme, que por pouco não existia. Cada momento que contribuíu para a produção deste filme é um milagre. Estamos aqui para celebrar a comédia da vida, pois essa é a única maneira de enfrentar a realidade”, disse Kirill Mikhanovsky. “Este filme é muito dramático mas conseguimos sempre encontrar sentido de humor nos momentos mais difíceis”, acrescentou Alice Austen.
Acerca do filme, passado num dia da vida de um jovem que conduz uma carrinha de transporte de pessoas que necessitam de cuidados de saúde na “segregada” e complexa cidade do Milwaukee, o realizador disse há dias, numa entrevista concedida ao HM, que o filme “não é sobre pessoas com deficiência, nem sobre racismo. É um filme sobre humanidade, com uma história muito simples, que se assume como um pretexto para um tema maior, uma ponderação filosófica quase, acerca do destino da América e também do mundo”.
Lynn + Lucy foi outro dos vencedores da noite, ao arrecadar dois prémios da Competição Internacional do IFFAM: Melhor Realizador, atribuído a Fyzal Boulifa, e Melhor Actriz, atribuído a Roxanna Scrimshaw. Lynn e Lucy fala da história de duas amigas desde os tempos da escola, que acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance.
“Depois do prémio de melhor actriz nunca pensei que pudessemos ganhar mais um. Fico muito contente por todos os que fizeram parte deste filme e em especial pela Roxanna Scrimshaw porque ela não tinha qualquer experiência prévia em cinema”, foi desta forma que reagiu Fyzal Boulifa após Lynn + Lucy ter sido distinguido com dois prémios.
Já o prémio de Melhor Actor foi a tribuído a Sarm Heng, pelo seu desempenho em Buoyancy, filme realizado pelo australiano Rodd Rathjen que conta a história de Chakra, um jovem do Cambodja com 14 anos, que acaba juntamente com o seu colega Kea, por ser escravizado por um capitão de um barco de pesca tailandês, após ter partido em busca oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica. Buoyancy foi ainda galardoado com o prémio do público.
Por fim, o prémio de Melhor Argumento foi para o neo-zelandês Hamish Bennet, realizador e argumentista de Bellbird, filme que a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher Beth, morre inesperadamente.
O presidente do Júri da Competição Internacional, Peter Chan sublinhou o facto de os membros do júri terem “uma ideia comum” e de não ter havido discussões para encontrar os vencedores. “Decidimos rapidamente os prémios e isso, para mim, é um sucesso”, disse Peter Chan. O presidente do júri enalteceu ainda a juventude dos realizadores presentes no festival que estão a produzir as suas primeiras ou segundas obras.

Os melhores da China

Dwelling in the Fuchun Mountains, de Gu Xiaogang venceu o prémio de melhor filme na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Inspirado no título de uma famosa pintura chinesa de Huang Gongwang, Dwelling in the Fuchun Mountains conta o drama familiar de quatro irmãos que assistem ao declínio de saúde da mãe, ao longo das quatro estações do ano. Já com o troféu nas mãos, o realizador agradeceu o apoio de todos os que ajudaram a obra a tornar-se realidade e falou da homenagem à cultura chinesa que o filme pretende também ser.
“Este filme conta a história de uma família contemporânea (…) que tem de cuidar da sua mãe, assumindo-se como um reflexo actual da sociedade chinesa. O processo de gravação foi muito difícil pois o filme passa-se em quatro estações, o que implicou fazer gravações durante dois anos”, referiu.
Já o prémio de Melhor Realizador foi atribuído a Anthony Chen, pelo seu trabalho em Wet Season, filme que tem como pano de fundo Singapura. “É um honra ganhar este prémio e agradeço ao Festival de Cinema de Macau. Acho que este filme é muito especial até porque, no início, não estava à espera de voltar a utilizar os mesmos actores”, apontou Anthony Chen.
Zhou Dong Yu foi a vencedora do prémio de Melhor Actriz pela sua prestação em Better Days, filme realizado por Derek Kwok-cheung Tsang. Adaptado do romance “In His Youth”, Better Days conta a história de uma jovem estudante vítima de bullying, no contexto da preparação dos exigentes exames de admissão à Universidade na China, intitulados de gaokao.
Para a actriz receber este prémio foi “um momento muito emocionante. Penso que este tema do bullying das escolas é uma questão social que conseguimos chamar à atenção do público”, explicou Zhou Dong Yu.
Já o prémio de Melhor Actor foi atribuído a Wu Xiao Liang pela sua prestação em Wisdom Tooth. O melhor actor da competição do Novo Cinema Chinês admitiu que o prémio “foi uma surpresa” e sublinhou que este foi um filme “muito difícil de fazer e que tem muita paixão”, até pelas condições climatéricas adversas que encontraram no norte da China. “Havia momentos em que estava tanto frio que era impossível abrir a boca para dizer as deixas”, partilhou.
Por fim, o prémio de Melhor Argumento distinguiu Johnny Ma pelo seu trabalho em To Live to Sing, que o próprio também realizou. Para Ma, apesar de o processo ter sido “muito difícil” é depois compensador quando “oferecemos uma história ao público”. “Quero, por isso, agradecer à minha equipa, pois comparado com outros lugares, a China é o lugar mais difícil para se fazer um filme”, desabafou Johnny Ma.

Distinções Honrosas

Além dos principais prémios, outras menções foram também anunciadas por ocasião da Cerimónia de Entrega de Prémios.
2019 Asian Blockbuster Film 2019: Parasite (Coreia do Sul)
NETPAC Award: “To Live to Sing”, de Johnny Ma
“Spirit of Cinema” Achievement Award: Li Shao Hong (A City Called Macau)
Cinephilia Critic’s Award: “Wet Season”, de Anthony Chen
Cinephilia Critic’s Award for Best Macau Film: “Years of Macao, de Tou Kim Hong, Penny Lam, Albert Chu, Emily Chan, Peeko Wong, Chao Koi Wang, Maxim Bessmertny, Ao Leong Weng Fong e António Caetano de Faria

Maria Helena de Senna Fernandes, presidente da comissão organizadora do IFFAM : “A média de lotação tem sido de 80%”

[dropcap]E[/dropcap]m entrevista, a Directora dos Serviços de Turismo e Presidente da comissão organizadora do Festival Internacional e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (IFFAM), Maria Helena de Senna Fernandes fez um balanço dos últimos quatro anos de festival e apontou, apesar das muitas dificuldades, que a edição deste ano foi pautada por um sentimento de consolidação e de maior adesão por parte do público e da indústria.

“O Mike [Goodridge] disse-me que este ano foi mais fácil atrair novos projectos que nos anos anteriores (…). Temos que dar confiança às pessoas, aos filmes e sobretudo às distribuídoras, que nos oferecem os seus filmes. Este ano foi já muito mais fácil do que nos anos anteriores e isso é bom sinal”, referiu Maria Helena de Senna Fernandes.

A presidente da comissão organizadora do IFFAM recordou as dificuldades que marcaram as primeiras edições, onde foi “preciso aprender quase tudo acerca da realização de um festival” e as mudanças que foram feitas a partir da segunda edição, que classificou com um ano de “reorganização”, marcado por uma nova direcção artística chefiada por Mike Goodridge. Depois de uma terceira edição apostada em atrair “bons projectos e bons filmes”, Maria Helena de Sena Fernandes sentiu grandes melhorias, consistência ao nível dos conteúdos e, sobretudo, menor preocupação com a organização, porque “a equipa está cada vez mais madura e sabe o que é necessário”.

“De facto, de todos os quatro anos, este ano foi aquele em que fizemos menos reuniões internas, porque quase toda a gente já sabe o que é necessário e conhecem melhor (…) os pontos em que temos de ter mais atenção. Por causa disso eu não tenho que chamar as pessoas a atenção este ano e isso é bom sinal”, explicou a Directora dos Serviços de Turismo.

Quanto à adesão, apesar de admitir “continuar a ser uma batalha”, Maria Helena de Sena Fernandes afirmou que a quarta edição do IFFAM assistiu a uma procura superior, até porque a “equipa de programação está agora mais sensível ao gosto do público”. Sublinhando que “nem todos os filmes estiveram lotados porque (…) há muita oferta” e existe a vontade de criar “o hábito de comprar bilhetes”, a lotação média em sala tinha sido positiva, tendo chegado aos 80 por cento.

Para continuar

Não querendo comprometer-se com a realização da próxima edição do IFFAM em 2020 por não ter ainda tido oportunidade de debater o assunto com a nova secretária para os Assuntos Sociais e Cultura do novo Executivo, Ao Ieong U, Maria Helena de Sena Fernandes afirmou contudo que, seja de que forma for, a aposta do Governo nas indústrias criativas, e em particular no cinema é para continuar. “Esta é uma aposta do Governo, que sempre deu oportunidades às indústrias criativas, até porque em Macau há muita gente que quer fazer filmes e entrar no circuito de produção. Por isso, temos de dar oportunidades e haverá sempre maneira de apoiar”, explicou.

Juliette Binoche, actriz: “Estou solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente aqui”

A “embaixadora-estrela” da quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM), defende que “há muitas formas de ser livre”, mesmo quando existe censura

 

[dropcap]J[/dropcap]uliette Binoche, aclamada actriz francesa que se tornou na primeira a ser galardoada com o prémio de Melhor Actriz nos três principais festivais de cinema europeus, mostrou-se ontem solidária com os artistas que têm de ver as suas obras escrutinadas pela censura chinesa. No entanto, para Binoche que só sabe “viver de forma independente”, há sempre maneira de continuar a desenvolver qualquer forma de arte.

“Eu quero ser livre e vou ser livre, mas há muitas formas de o ser. Como actores também temos limites: temos de saber as nossas deixas, as nossas marcações e, às vezes, só temos a oportunidade de fazer um take. Mas no interior, temos de encontrar o nosso caminho (…). Por isso há sempre formas de nos expressar e estou solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente aqui”. “Há sempre limites, mas para mim a arte deve ser levada o mais longe possível”, partilhou Juliette Binoche quando questionada pelos jornalistas sobre a forma como iria lidar com a censura na China, caso aceitasse o convite lançado no dia anterior por Diao Yinan, realizador chinês que em 2014 venceu o Urso de Ouro em Berlim pelo filme “Black Coal, Thin Ice”, para participar num filme por ele realizado.

Acreditando que a essência do seu trabalho como actriz, e no limite, de uma boa cena, está numa “certa incerteza” e “na energia que existe em saltar para o desconhecido”, Juliette Binoche falou da importância que a descoberta e a vontade de aprender têm para si.

“A curiosidade é a base da humanidade. É possível aprender interagindo, viajando (…) é essa paixão que me leva a ir, a paixão de aprender o contacto com grandes artistas”, referiu.

Realizar? Talvez um dia

Questionada sobre a possibilidade de vir a realizar os seus próprios filmes, a actriz francesa admite que até “pode acontecer”, mas que, neste momento, se sente sortuda por trabalhar com realizadores e equipas fantásticas. “Se não tivesse essa oportunidade provavelmente escreveria e realizava eu”, explicou Juliette Binoche, vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária pela sua prestação em “O Paciente Inglês” (1997), uma das obras destacadas no evento “Em conversa com Juliette Binoche” do IFFAM.

“O momento da pós-produção é quando o realizador tem verdadeiramente o poder. É aqui que o filme está mesmo a ser feito e o realizador pode mostrar a sua inteligência, sabedoria e também o artista que é, ao nível do ritmo, por respeitar ou não aquilo que foi gravado, por adicionar música ou confiar pura e simplesmente na forma como estava planeado”, referiu Juliette Binoche.

“Lembro-me de uma cena que o Anthony Minghella, realizador do Paciente Inglês, gravou entre o Kip e a minha personagem no sótão da casa, e ele, que acabou por cortar essa parte, resolveu usar uma reacção minha gravada nessa cena, noutro contexto completamente diferente, onde o Willem Dafoe revela ser o paciente inglês. E nesse momento a minha personagem passa a ouvir o que se está a passar e a estar envolvida no segredo. Fiquei impressionada por ele ter sido capaz de fazer isso”, exemplificou a actriz francesa.

Casinos | Restrições a vistos e visita de Xi Jinping com impacto negativo

[dropcap]D[/dropcap]ezembro poderá ser um mês com desafios para o sector do jogo, uma vez que três empresas ligadas ao ramo da análise financeira prevêem uma quebra nas receitas oriundas das apostas de massas. De acordo com o portal informativo GGR Asia, a empresa correctora Nomura Instinet LLC acredita que as receitas desse segmento “podem ser piores” do que a queda anual prevista de oito a dez por cento. A informação foi avançada aos investidores esta segunda-feira.

“As nossas mais recentes consultas sugerem uma semana mais fraca em termos de números das receitas das apostas de massas, devido ao passo dado no que diz respeito às restrições de vistos relacionado com a visita do Presidente Xi ainda este mês, algo que tem vindo a ocorrer desde Outubro”, escreveram os analistas Harry Curtis, Daniel Adam e Brian Dobson. De frisar que a visita de Xi Jinping ao território ainda não foi confirmada pelas autoridades.

Os analistas da Nomura Instinet LLC destacaram ainda o facto de as receitas das apostas de massas nos primeiros oito dias de Dezembro terem sido de “cerca de 713 milhões de patacas, uma quebra aproximada de sete por cento se compararmos com a média do mês anterior, que foi de 763 milhões de patacas por dia, e aproximadamente abaixo dos 19 por cento registados no igual período do ano passado”. Os mesmos analistas acrescentaram ainda, na mesma nota, que a possível visita de Xi Jinping “pode trazer um impacto mais negativo nas visitas e receitas do jogo de massas do que o esperado”.

O GGR Asia citou também a nota oficial do banco de investimentos Credit Suisse relativa ao controlo de concessão de vistos no terceiro trimestre pelas autoridades chinesas que poderia “amortecer a procura” pelo jogo de massas e apostas VIP entre os meses de Novembro e Dezembro.

O banco citou fontes relacionadas com o sector que explicaram que as autoridades decidiram impor “de forma temporária” medidas administrativas de controlo entre “22 de Novembro e 20 de Dezembro”. Essa medida terá sido implementada para “limitar o tráfego” para Macau “aquando da visita dos membros do Governo chinês no aniversário dos 20 anos da RAEM”.

Fraqueza na mesa de jogo

A análise da Brokerage Sanford C. Bernstein Ltd dá também conta de uma performance mais negativa do segmento de massas na primeira semana de Dezembro. “Estimamos que as apostas do segmento de massas possam descer um ponto percentual em termos anuais, enquanto que as receitas do segmento VIP possam descer além dos 30 por cento”, escreveram os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu. A Brokerage Sanford C. Bernstein Ltd acrescentou ainda que “a fraqueza dos dois segmentos de jogo tem sido exacerbada pelos maiores controlos de concessão de vistos (algo que começou em Novembro) no contexto da preparação da visita a Macau do Presidente Xi Jinping em finais deste mês”. A empresa correctora prevê que as receitas possam cair entre 12 a 16 por cento em termos anuais, no que diz respeito ao segmento do jogo de massas.

Casinos | Restrições a vistos e visita de Xi Jinping com impacto negativo

[dropcap]D[/dropcap]ezembro poderá ser um mês com desafios para o sector do jogo, uma vez que três empresas ligadas ao ramo da análise financeira prevêem uma quebra nas receitas oriundas das apostas de massas. De acordo com o portal informativo GGR Asia, a empresa correctora Nomura Instinet LLC acredita que as receitas desse segmento “podem ser piores” do que a queda anual prevista de oito a dez por cento. A informação foi avançada aos investidores esta segunda-feira.
“As nossas mais recentes consultas sugerem uma semana mais fraca em termos de números das receitas das apostas de massas, devido ao passo dado no que diz respeito às restrições de vistos relacionado com a visita do Presidente Xi ainda este mês, algo que tem vindo a ocorrer desde Outubro”, escreveram os analistas Harry Curtis, Daniel Adam e Brian Dobson. De frisar que a visita de Xi Jinping ao território ainda não foi confirmada pelas autoridades.
Os analistas da Nomura Instinet LLC destacaram ainda o facto de as receitas das apostas de massas nos primeiros oito dias de Dezembro terem sido de “cerca de 713 milhões de patacas, uma quebra aproximada de sete por cento se compararmos com a média do mês anterior, que foi de 763 milhões de patacas por dia, e aproximadamente abaixo dos 19 por cento registados no igual período do ano passado”. Os mesmos analistas acrescentaram ainda, na mesma nota, que a possível visita de Xi Jinping “pode trazer um impacto mais negativo nas visitas e receitas do jogo de massas do que o esperado”.
O GGR Asia citou também a nota oficial do banco de investimentos Credit Suisse relativa ao controlo de concessão de vistos no terceiro trimestre pelas autoridades chinesas que poderia “amortecer a procura” pelo jogo de massas e apostas VIP entre os meses de Novembro e Dezembro.
O banco citou fontes relacionadas com o sector que explicaram que as autoridades decidiram impor “de forma temporária” medidas administrativas de controlo entre “22 de Novembro e 20 de Dezembro”. Essa medida terá sido implementada para “limitar o tráfego” para Macau “aquando da visita dos membros do Governo chinês no aniversário dos 20 anos da RAEM”.

Fraqueza na mesa de jogo

A análise da Brokerage Sanford C. Bernstein Ltd dá também conta de uma performance mais negativa do segmento de massas na primeira semana de Dezembro. “Estimamos que as apostas do segmento de massas possam descer um ponto percentual em termos anuais, enquanto que as receitas do segmento VIP possam descer além dos 30 por cento”, escreveram os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu. A Brokerage Sanford C. Bernstein Ltd acrescentou ainda que “a fraqueza dos dois segmentos de jogo tem sido exacerbada pelos maiores controlos de concessão de vistos (algo que começou em Novembro) no contexto da preparação da visita a Macau do Presidente Xi Jinping em finais deste mês”. A empresa correctora prevê que as receitas possam cair entre 12 a 16 por cento em termos anuais, no que diz respeito ao segmento do jogo de massas.

Guia dos sexos

[dropcap]N[/dropcap]inguém escapa ao sexo. Pensamos e agimos com a consciência que o sexo está por aí, pronto para gozar ou por ser gozado – tantos sexos. Essas fontes inesgotáveis de ideias, apetites e desejos. Não será surpresa que há lugares mais criativos do que outros. Nas grandes metrópoles por esse mundo fora, onde a diversidade fervilha por todas as direcções, o sexo floresce com esplendor. Uma cidade como Londres, por exemplo, tem a oferta mais impressionante de experiências sexuais. Até porque o sexo fora de casa não existe só em bordeis, são centenas de espaços de expressão criativa sexual.

Mas antes de explorar o mundo do sexo lá fora, primeiro temos que responder à pergunta do que é que realmente gostamos. Uma pergunta que muitos de nós não tem a paciência de se perguntar. As fantasias sexuais ou os apetites particulares não nos aparecem só como impulsos inexplicáveis. A disponibilidade para fantasiar e a masturbação produzem as condições necessárias para apanhar o barco da exploração sexual também. Essa exploração, que a maior parte das vezes acontece individualmente, pode ser acompanhada por imensos brinquedos sexuais. Dildos de vários tamanhos, para quem gosta de penetração, varinhas ‘mágicas’ para quem gosta de estimulação do clítoris ou uma tampinha anal para os iniciados e já praticantes na exploração anal.

Depois desta exploração se tornar hábito – a masturbação não produz epifanias sexuais instantâneas, é mais uma prática de auto-cuidado que deve ser estimulada ao longo da vida, com ou sem parceiro sexual (porque não são experiências mutuamente exclusivas) – é que a nossa cabeça começa a explodir de ideias. Ideias que podem exigir mais ou menos recursos porque, infelizmente, as experiências e acessórios sexuais não são para todas as carteiras. Abrimos assim a possibilidade de estarmos atentos para novas formas de sexo. Fetiches são um bom começo, por exemplo. Ao reconhecermo-los torna-se mais fácil encontrar outras mentes que partilhem dos mesmos prazeres, e a internet é uma óptima forma de os juntar. Depois, claro, de certeza que existirão eventos que estimulam a concretização de fantasias. O BDSM aglomera um conjunto de práticas e fetiches que torna mais fácil identificar uma comunidade de gentes que partilham o mesmo fascínio por jogos de submissão e dominação. Pelo que tenho visto, muitas actividades sexuais urbanas são desta natureza. Há festas e speed-dating para amantes do BDSM, há a possibilidade de contratar uma dominatrix na vossa cidade de residência para satisfazer os fetiches mais variados: chuvas douradas, para os que gostam de praticar desportos aquáticos (é mesmo esse o termo) até chuvas castanhas, que não é preciso especificar do que se trata.

Depois também há outras actividades que se cruzam com desejos de BDSM ou não. Por exemplo, um clube de sexo de pessoas anonimizadas com máscaras é, na verdade, uma possibilidade para o mundo real, e não é tão inatingível quanto isso. Aliás, foi com alguma satisfação que me apercebi que existem grupos de mulheres – e.g. Killing Kittens – que organizam festas mistas onde só as mulheres é que podem dar o primeiro passo. Escusado será dizer que este tipo de eventos e serviços vivem da exigência de que todo o sexo é consensual. O grande lema para o sexo verdadeiramente prazeroso.

Ao olhar para esta variedade de sexos não nos é possível cair no erro de que há o sexo normal e o anormal. A decisão é muito mais individual: há sexo que nos interessa e sexo que não nos interessa. Os guias dos sexos criam-se assim, pelos aborrecidos e pelos curiosos, explorando o sexo de forma criativa.

Lobos

[dropcap]D[/dropcap]ois membros da Câmara de Comércio dos EUA em Hong Kong foram proibidos de entrar em Macau. O facto levantou um coro de críticas nas redes sociais, sobretudo ao Governo local. De facto, é prática já habitual do nosso Executivo proibir a entrada de certos indivíduos, geralmente de Hong Kong, aparentemente conotados com o movimento pró-democracia, alegando que poderiam perturbar a ordem pública ou não alegando nada.

Especificidades de Macau… normalmente criticadas porque não se entende como não existe liberdade total de circulação entre as duas RAEs que, afinal, fazem parte do mesmo país. Contudo, desta vez, o Governo local não tem nada a ver com isto. Para os menos atentos, a China indignada, em resposta aos Acts americanos sobre HK e o Xinjiang, resolveu dificultar os movimentos de diplomatas e membros de ONGs americanas no seu território.

Portanto, tudo indica que a proibição de entrada em Macau dos membros da Câmara de Comércio se insere nesta medida. O que, obviamente, iliba desta vez o Governo de Macau. Este é um dos problemas: por tudo e por nada se grita lobo, exagerando a presença da alcateia. Depois, o problema não é toda a gente ignorar os gritos quando o lobo realmente vier, como no caso do menino Pedrinho, mas o facto de o lobo se sentir convidado a vir porque, segundo os críticos, já cá está e morde a torto e a direito.

A Inquisição que veio do frio

[dropcap]A[/dropcap]pesar de tudo, uma pessoa vem para esta vida com algumas esperanças. Uma delas, pelo menos no meu caso, era não ter de assistir ao que se está a passar na Noruega desde há algum tempo. Discute-se, coisa extraordinária e assustadora, o que é ou não permitido escrever num livro. Sim, a coisa chegou a esse ponto. No caso norueguês, pilar do socialismo-porque-temos-petróleo, agrava-se: nada de escrever na primeira pessoa do singular. A literatura não deve – não deve, reparai ! – dizer “eu” porque toda a cultura política e social se inclina para a diluição do indivíduo face ao colectivo. Ora isto, politicamente, já teve e tem exemplos. Quem quiser que os adopte. Mas não deixa de ser assustador que haja ainda quem pense que a arte deva ser sujeita a uma ortodoxia, seja ela qual for. Pior ainda quando essa ideia nasce numa democracia liberal. Estamos longe dos artistas de regime. E mesmo esses… Lembro a conhecida anedota, contada pelos russos, sobre a morte de Maiakosvki, poeta futurista maior e entusiasta da revolução bolchevique. Até que um dia deixou de o ser. A história diz que se suicidou; o povo, arguto e impiedoso, conta que as suas últimas palavras foram “Não disparem, camaradas”.

Na Noruega a chamada “literatura da realidade” ou no original virkelighetslitteratur (rótulo vago, como todos) está sob ataque há pelo menos quatro anos. Este fenómeno voltou a ganhar força muito à conta do sucesso dos livros autobiográficos de Karl Ove Knausgard, seis volumes sob o título A Minha Luta (todos publicados em português pela editora Relógio de Água).

É uma luta antiga e futura: gente que se revê nas personagens de romances e que fica indignada. Que o autor não tem direito, porque ninguém perguntou nada, porque a fotografia não fica bonita. Percebe-se, porque nenhum escritor escreve a partir do nada. Que haja um debate em que uma das partes diga que isso não é eticamente correcto (o que implica naturalmente outra coisa muito sintomática destes dias: toda a arte tem de reflectir uma ética) , isso,volto a dizer, é que é preocupante. Há gente, neste debate, que reclama um código ético para a literatura, uma espécie de livro de estilo de comportamento que não se pode transgredir. Uma vez que o faça, o autor é maldito. E pior: deixa de ser literatura. Sim, eu sei: nobody expects the norwegian Inquisition.

Nem vou falar do desconhecimento da história da literatura: haverá gente melhor para isso e eu não passo de um leitor inquieto. Mas escuso de invocar todos os escritores que se basearam em pessoas reais para criarem ficção. Que haja quem se reveja e se aborreça é coisa normal e já tratada (é rever o As Faces de Harry, de Woody Allen). Azarinho. Há e haverá sempre um autor, vivo, pulsante, individuo que olha, regista e cria. E o que cria é parte dele, e o que faz é parte legítima da sua auctoritas – autor, autoridade. Negar oficialmente e de forma proibitiva essa possibilidade é negar toda a criação. Por mim, se a coisa continua assim, estou pronto para a resistência e pegar em armas. Ou então talvez não: estou tão cansado destes dias em que a arte e a vida têm de ser um panfleto que há dias em que me apetece contradizer Maiakovski e implorar: disparem, camaradas!

Adornar

CCB, Lisboa, 1 Dezembro

[dropcap]O[/dropcap]utra folha no calendário, se as tivesse, amarfanhando a miserável anterior, com a tristeza pingando para a deste mês. As linhas são pequenas ondas de maré, quem nota perceberá a chuva miudinha? É que me espera, finda esta conversa, tarefa lutuosa. À mesa beira-Tejo do Obra Aberta sentaram-se engenheiro e ilustrador, ambos senhores de outros ofícios. O mano Tiago [Ferreira], da Conserveira de Lisboa e da Academia versão robótica, inclusão de última hora a substituir poeta adoentado, trouxe mão-cheia de questões prementes e desafiantes: a sustentabilidade do comércio tradicional, a inteligência artificial e o absurdo delirante do quotidiano. André [Letria], muito a pretexto do seu – na ilustração, e do pai, José Jorge Letria, no texto –, «Guerra» (ed. Pato Lógico), pintou nuvens ainda mais negras do que as que pontuavam a paisagem e encharcavam camones ao de leve. Bastou trazer as leituras de «O Mundo de Ontem, de Stefan Zweig (ed. Assírio & Alvim), e de «Sobre as Falésias de Mármore», de Ernst Jünger (ed. Vega). O testemunho de uma Europa a cair para dentro, a cavar precipícios no seu coração, ressoa nos nossos dias como nunca. E a brutal alegoria de um Jünger esquecido parece querer ganhar corpo de verdade um pouco por todo o lado. Como bem sabe qualquer objector de consciência, a guerra jamais nos abandonou, apesar dos momentos de ilusão pacificadora. Pior: insecto insidioso, mancha os mapas em inúmeros lugares, faz-se subtil que nem bota da tropa e morde-nos os calcanhares.

Mymosa, Lisboa, 3 Dezembro

Valha-nos Santa Coincidência! Meio a despropósito, partilhava com velho amigo a minha admiração pelo trabalho sobre a memória, em prosa estilhaçada e vibrante, que o João Paulo Borges Coelho entreteceu em «Ponta Gea» (ed. Caminho). Eis senão quando o escritor atravessa as mesas ao meu encontro. Demorei uns nanosegundos a fazer-me crer no que os meus olhos viam. Um nada, mas que me iluminou o dia. Adiámos prolongamento da conversa e não estou seguro que tenha levado a sério aparvalhada estória. A maré dos pensamentos levou-me depois a uma das personagens maiores do romance, publicado muito antes da Beira, em Moçambique, se liquefazer. «É a primeira e mais persistente lembrança: a água como substância da cidade. Uma água quieta, no mangal como nos capinzais, nos tandos de arroz e nos baldios urbanos cuja noite o monótono som dos grilos trespassava; insidiosa também, na onda paciente que escavava a areia grossa e se espraiava até lamber a raiz torturada das casuarinas, enchendo os corvos de maus presságios e de indignação; e avassaladora, nas chuvadas súbitas e no ar carregado que toldava o horizonte e nos pesava, derrotados, sobre os ombros. Uma água cálida onde nadam todos, aqueles de cujo rasto ainda a espaços me vou apercebendo, e os outros, os que vogam em círculos como peixes aprisionados no aquário do esquecimento.»

Barraca, Lisboa, 4 Dezembro

A ditadura das circunstâncias foi empurrando a apresentação dos «Poemas», de Georg Trakl, em Lisboa. Para mais queríamos incluir um pequeno concerto dos «No Precipício Era o Verbo», abrindo apetites para novo projecto que se avizinha, todo ele em torno deste poeta do soturno. E foi um dos momentos da noite, o caminho dedilhado do Carlos [Barretto] em direcção a paisagens sonoras graves e pujantes, a corpo a fundir-se com instrumento e a prolongar os versos, deixando-os a ecoar algures no mais íntimo. «Tu regressas sempre, melancolia,/ Oh, doçura da alma solitária./ Um dia dourado abrasa até ao fim.// Humildemente, o paciente curva-se perante a dor/ Ressoando harmonia e uma leve loucura.» Quem, como Trakl o farmacêutico, canta a contumaz melancolia? Esperava que o mano António [de Castro Caeiro], dissertasse um pouco esse obscuro objecto de desejo, mas conteve-se ao mínimo. O Fernando [Pinto do Amaral] encenou belo e cabal enquadramento para o poeta e a época, a vida e os temas, enfim, as paisagens, no fora da geografia como no dentro dos versos. Vão rareando, mas ainda se encontram bons leitores.

Nacional, Lisboa, 5 Dezembro

Palco soprado bola de cristal dá nisto. «O Futuro Próximo» não apazigua ninguém, antes perturba e desinquieta. Depois dos vibrantes, e bastante mais espelhados, «Presente» e «Futuro Distante», sempre baralhando os tempos, encontro-me prisoneiro de asilo de velhos. Em apneia, estendo as mãos e só toco línguas. Avancemos por entre o patético e o angustiante, com passagem pelo ignominioso. À terceira, o Gonçalo [Waddington] fez entrar «O Nosso Desporto Preferido» definitivamente no campo do negro, ou este cinza-escuro da nuvem que a Ângela Rocha estacionou sobre o lar-palco, sistema vital que ora configura volutas de intestino ora circunvoluções do cérebro. (Ver foto de cena de Filipe Ferreira algures na página). Cérebro-intestino, eis o reflexo maior de uma civilização sem necessidades. Tudo se torna chão, os prazeres e os dissabores. Mas chão enlameado de tanto sentido espezinhado, de tanta ideia perdida, de egos purulentos, de gargalhadas hiperbólicas, de lágrimas tóxicas. De novo: a gargalhada e a lágrima podem bem ser excrescências espremidas na lamela do dia, sem direito a serem vistas ao microscópio. O humano está reduzido a uma erecção, inextinguível priapismo. Até a poesia foi reduzida a automatismo, aqui laudatório, além sentimentalista, sempre nauseabundo. As máscaras, queridos caretos da Antropologia, surgem como sinal gritante da decadência, sem nisso tolherem a expressividade das Carlas [Bolito e Maciel], da Teresa Sobral, do Tónan Quito ou do Gonçalo-Michel, apesar deste, uma vez morto, ter ganho direito ao seu rosto. No envelhecer perdemos individualidade, todos os velhos de manhã serão iguais? Escrito isto, estou ansioso pelo desenlace, que este final soa-me a falso. Um peido.

Salitre, Lisboa, 7 Dezembro

Em preparação de projecto próximo, o Álvaro [Rosendo] põe-me no complexo sistema mãos-olhos um enormeno catálogo. Pequeno no formato, fechado em mais de cinco dezenas de dobras, mas enorme nos metros desdobrados. E nos instantes que dá a ver. «Tempografias», oriundo de exposição no século passado em galeria sobrevivente e por isso Monumental, capturou o movimento de modelos e estruturas. Não estão nas fotografias a fazer nada, estão a acontecer, mesmo quando um túnel subterrâneo brinca com a luz ou um armário de chaves dança e envelhece a olhos vistos. Mais uma máquina de contar tempo, o mesmo é dizer, gente.
Bem que gostaria de ter visto o alvarolhar sobre opíparo jantar de trufas brancas, servido pelo querido Tanka Sapkota, no Come Prima. Desprezamos o peso do perfume. Na mão, no olhar.

Tejo, Lisboa, 8 Dezembro

Dois pés de cada lado, nunca um no cais, outro na embarcação. O mestre grita, mas soa a sussurro. Nenhum dos três periga, nem marujo ou cais, menos o casco que me recebe com gemido de madeira. Aceitei o elogio e tentei retribuir com vigorosa ternura quando lhe pus a mão, com indirecto respeito, no leme. Fixo o olhar no bugio e o balanço atravessa-me a floresta estúpida de burocracias, temendo que sejam infestantes, inúteis até para chá; e a mortandade inquieta a pedir horizonte de quietude, ou melhor, a gestão dos quedos a trazê-lo à babugem dos dias; mai-lo ego de próximos sorridentes espraiado lago fétido, balde pequeno de vírgulas e embirrações, sinais parados, mortiços, logo antes da mordedura. Atento às profundidades, diz o mestre, foge das margens. Um dos marinheiros de água doce passou repete vezes sem conta, sem ponta de narcisismo: Que belo espelho!
E está. Espreito para me ver nas urgências esquecendo o importante. Portanto, adorno.

Hong Kong | Carrie Lam promete investigar professores detidos

[dropcap]A[/dropcap] líder de Hong Kong disse ontem que o Executivo vai “acompanhar seriamente” o caso dos professores detidos durante os protestos, por temer que a violência se tenha tornado norma nas escolas da região semi-autónoma chinesa.

Em conferência de imprensa, que antecedeu a reunião semanal do Conselho Executivo, Carrie Lam observou que 40 por cento das seis mil pessoas detidas nos últimos seis meses de protestos são estudantes, de acordo com a emissora pública RTHK.

A líder do Executivo afirmou estar muito preocupada ao ver que as detenções incluem crianças de cerca de 300 escolas secundárias do território, indicou a rádio.

A violência “entrou no ‘campus’ das escolas” e isso afecta a segurança dos alunos, disse Lam, que acrescentou ter já encarregado o responsável pela pasta da educação de investigar os professores detidos nos protestos.
Professores e vários alunos foram detidos na segunda-feira por suspeita de tentar bloquear estradas em Sheung Shui. No mesmo dia, a polícia disse ter descoberto duas bombas de fabrico caseiro perto da escola secundária Wah Yan.

“Ambos os dispositivos têm apenas uma função: matar e mutilar pessoas”, disse o responsável do Departamento de Desactivação de Explosivos da Polícia de Hong Kong, Alick McWhirter.

“Dada a quantidade de explosivos e fragmentação, se esses dispositivos tivessem sido colocados e se tivessem funcionado, eles teriam matado e ferido um grande número de pessoas”, acrescentou.

Os responsáveis da escola afirmaram já publicamente não terem encontrado “qualquer prova de professores ou alunos terem sido responsáveis por colocar ou fabricar” engenhos explosivos.

“O local onde as bombas foram descobertas pertencia à escola, mas é uma área aberta fora dos portões e por isso acessível ao público”, disse a escola, em comunicado.

Tudo na mesma

De acordo com o jornal South China Morning Post, Carrie Lam voltou a reiterar, ainda na conferência de imprensa, que não pretende fazer mudanças na equipa governativa, depois de vários órgãos de comunicação social locais terem noticiado que a secretária da Justiça, Teresa Cheng Yeuk-wah, pediu a demissão no mês passado.

“De tempos em tempos, nos últimos meses, sempre houve alguns rumores e especulações sobre uma mudança de equipa, incluindo os principais funcionários e os conselheiros executivos”, disse Lam.

“A minha primeira prioridade agora é restaurar a lei e a ordem em Hong Kong”, afirmou.
Cerca de 800.000 manifestantes pró-democracia, segundo a organização Frente Cívica dos Direitos Humanos, marcharam no domingo pelas ruas de Hong Kong, um dia antes de se assinalarem seis meses de protestos antigovernamentais.

Hong Kong | Carrie Lam promete investigar professores detidos

[dropcap]A[/dropcap] líder de Hong Kong disse ontem que o Executivo vai “acompanhar seriamente” o caso dos professores detidos durante os protestos, por temer que a violência se tenha tornado norma nas escolas da região semi-autónoma chinesa.
Em conferência de imprensa, que antecedeu a reunião semanal do Conselho Executivo, Carrie Lam observou que 40 por cento das seis mil pessoas detidas nos últimos seis meses de protestos são estudantes, de acordo com a emissora pública RTHK.
A líder do Executivo afirmou estar muito preocupada ao ver que as detenções incluem crianças de cerca de 300 escolas secundárias do território, indicou a rádio.
A violência “entrou no ‘campus’ das escolas” e isso afecta a segurança dos alunos, disse Lam, que acrescentou ter já encarregado o responsável pela pasta da educação de investigar os professores detidos nos protestos.
Professores e vários alunos foram detidos na segunda-feira por suspeita de tentar bloquear estradas em Sheung Shui. No mesmo dia, a polícia disse ter descoberto duas bombas de fabrico caseiro perto da escola secundária Wah Yan.
“Ambos os dispositivos têm apenas uma função: matar e mutilar pessoas”, disse o responsável do Departamento de Desactivação de Explosivos da Polícia de Hong Kong, Alick McWhirter.
“Dada a quantidade de explosivos e fragmentação, se esses dispositivos tivessem sido colocados e se tivessem funcionado, eles teriam matado e ferido um grande número de pessoas”, acrescentou.
Os responsáveis da escola afirmaram já publicamente não terem encontrado “qualquer prova de professores ou alunos terem sido responsáveis por colocar ou fabricar” engenhos explosivos.
“O local onde as bombas foram descobertas pertencia à escola, mas é uma área aberta fora dos portões e por isso acessível ao público”, disse a escola, em comunicado.

Tudo na mesma

De acordo com o jornal South China Morning Post, Carrie Lam voltou a reiterar, ainda na conferência de imprensa, que não pretende fazer mudanças na equipa governativa, depois de vários órgãos de comunicação social locais terem noticiado que a secretária da Justiça, Teresa Cheng Yeuk-wah, pediu a demissão no mês passado.
“De tempos em tempos, nos últimos meses, sempre houve alguns rumores e especulações sobre uma mudança de equipa, incluindo os principais funcionários e os conselheiros executivos”, disse Lam.
“A minha primeira prioridade agora é restaurar a lei e a ordem em Hong Kong”, afirmou.
Cerca de 800.000 manifestantes pró-democracia, segundo a organização Frente Cívica dos Direitos Humanos, marcharam no domingo pelas ruas de Hong Kong, um dia antes de se assinalarem seis meses de protestos antigovernamentais.

Gitanjali Rao, realizadora de Bombay Rose: “É possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte”

Gintali Rao decidiu contar uma história sobre Bombaím e as suas pessoas através de quadros animados. Bombay Rose é o único filme de animação seleccionado para a Competição Internacional do Festival de Cinema de Macau e, segundo a actriz e realizadora indiana, fala de trabalho infantil, homossexualidade e dos “heróis” que não têm histórias de sucesso para contar

 

Bombay Rose é uma história sobre restrições, amor e busca por novas paisagens e condições de vida. Que mensagem pretende passar com este filme?

[dropcap]E[/dropcap]ssencialmente queria contar esta história há muito tempo, que fala de duas personagens, que imigraram para Bombaím. Vivo rodeada de pessoas como eles diariamente em Bombaím e descobri que as suas histórias nunca são contadas porque não são histórias de sucesso, não são as histórias convencionais. Mas é muito interessante de conhecer, do ponto de vista humano, as dificuldades pelas quais passaram, as pequenas aldeias de onde vieram e perceber, chegados a Bombaím, que nem todos os seus sonhos se tornaram realidade. Por isso queria contar uma história sobre como enfrentar as dificuldades e o que tiveram de fazer para sobreviver. Aqui não se trata de uma sobrevivência normal, são jovens que também se apaixonam, assistem a filmes de Bollywood e que também têm as suas fantasias, escapes e sentem falta do sítio de onde vieram. Por isso, este filme fala destas questões complexas e da forma como a cidade lida com elas, mantendo estas pessoas longe dos privilégios dos mais ricos, pois eles constroem, limpam e mantêm a cidade, mas são quase obrigados a viver na rua.

Bombay Rose aborda vários temas sociais, novos e intemporais, que são críticos na sociedade, como a religião ou a homossexualidade. Como é que estas questões são abordadas no filme?

Para mim, quando penso em personagens elas vêm com os seus problemas, porque é assim que acontece na realidade. É impossível separar alguém da língua e cultura do sítio de onde veio. Quando estas pessoas chegam a um novo sítio têm de sobreviver e estão constantemente a ser confrontadas com questões éticas acerca daquilo que devem ou não fazer e a maneira como lidam com essas situações. Queria que tudo isso viesse com as personagens, não queria que fossem só bonitas e simples para as pessoas as perceberem melhor. As personagens têm de trazer consigo os seus problemas e, a partir daí, faz sentido contar as suas histórias e de que forma conseguiram ultrapassar os problemas. Porque há três ou quatro personagens, e cada uma vem de um sítio diferente e tem um contexto diferente, retratando também um problema diferente, quer seja trabalho infantil ou a homossexualidade. Aqui, podemos fazer de duas formas. Ou não mostramos os problemas e só damos a ver as partes boas, ou mostramos os dois lados. Para mim é bom mostrar as duas partes e acreditar que é possível lutar e sobreviver. Para mim esses é que são os heróis. Não se trata de ter muito sucesso, mas de pequenos sucessos perante as dificuldades.

Porquê animação e como enveredou pelo mundo do cinema?

Depois de estudar comecei a trabalhar num estúdio onde aprendi animação. Ser actriz foi algo que surgiu em paralelo com o meu trabalho diário e com os estudos, porque eu era actriz de teatro e não tinha dinheiro para sobreviver se só fizesse teatro. Por isso, para mim, a animação foi algo que aprendi fazendo e foi uma forma de trazer as minhas qualidades artísticas enquanto pintora, para a realização. Mas também o que aprendi como actriz foi muito útil na animação para fazer com que as personagens do filme se comportem de forma realista, pois não possuem nenhum tipo de exagero nos seus gestos, são quase como pessoas reais. Nem mesmo actores são tão realistas. Para mim trata-se sempre de pintar, frame a frame, sem fazer qualquer tipo de animação 3D. Adoro fazê-lo sozinha e, para além disso, da forma como eu vejo a história, é possível contar inúmeras verdades dolorosas através da arte, porque se torna mais poético, torna-se lírico e estético. Acho que não conseguiria contar assuntos tão brutais num filme com actores.

Como vê actualmente o cinema asiático?

Para o ocidente é uma revelação mas para nós, a verdade é que temos feito isto desde sempre. Acho que o que tem acontecido ultimamente é que o espectro mudou. Quando era mais nova e procurava filmes nos anos 90 não via assim tantos filmes asiáticos, via sim muitos filmes europeus a toda a hora, em festivais. Era essa a influência. E os filmes americanos que apareciam nas salas de cinema. Até num país como a Índia, onde existem mais de 20 regiões diferentes, com línguas diferentes e que fazem o seu próprio cinema. Acho que a exposição daquilo que temos estado a fazer há muitos anos na Ásia está a tornar-se cada vez mais interessante para o resto da Europa. Na minha opinião, isto também acontece porque estes países são jovens em termos de desenvolvimento e têm muito mais coisas novas para dizer e isso está a tornar-se cada vez mais interessante para a audiência global. Na Ásia existe uma geração mais nova que está agora a fazer filmes em oposição ao ocidente onde as gerações mais antigas estão a fazer filmes. Por isso agora acho que o interesse está naquilo que é fresco, o que é novo e é bom, porque fazia falta há muito tempo.

Sente que o IFFAM pode ser um veículo importante para esse crescimento?

Sem dúvida. Acho que tudo isto está a acontecer na Ásia porque os países daqui estão a levar o cinema muito mais a sério e não apenas como um negócio. Porque nos países asiáticos é comum ver menos aposta na arte e mais no negócio. Com os festivais, é dada maior importância à parte artística, por isso eventos como este estão a fazer a diferença na forma como o público vê filmes. Quando era mais nova existia apenas um festival na Índia, agora devemos ter cerca de 100, em apenas 20/25 anos. Por isso está definitivamente a fazer a diferença.

Metro Ligeiro abre com bilhetes grátis até ao fim do ano

O Metro Ligeiro abriu ontem a Linha da Taipa. Três horas e meia depois da cerimónia de inauguração, as primeiras carruagens começaram a circular. Os preços dos bilhetes, para quem paga em dinheiro, variam entre as 6 e as 10 patacas, consoante a distância percorrida. Quem pagar com o cartão do transporte terá um desconto de 50 por cento, seguindo o princípio das tarifas aplicadas aos autocarros

 

[dropcap]O[/dropcap]ntem foi um dos dias mais aguardados pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. Depois de mais de uma década, pelas 11h, realizou-se a cerimónia de entrada em funcionamento da Linha da Taipa do Metro Ligeiro de Macau, com as primeiras carruagens a circular a partir das 15h33 (3h33, hora escolhida tendo em conta o carácter auspicioso do número 3 na cultura chinesa). “Penso que tem a ver com Feng Shui, presumo que o 3 é muito próximo da palavra Vida em chinês, portanto, é para correr bem, para que tenha uma nova e saudável vida”, explicou o secretário da tutela a escassas horas da partida da primeira composição.

Depois do discurso de Ho Cheong Kei, presidente da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, Raimundo do Rosário mostrou um misto de emoções.

No mesmo dia em que abriu ao público, ficou esclarecido o mistério quanto às tarifas do transporte, que será por zonas, mas tendo o preço dos autocarros como padrão.

Assim sendo, e segundo despacho assinado pelo Chefe do Executivo e publicado ontem em Boletim Oficial, as tarifas para quem pagar em dinheiro será de 6 patacas para um percurso que passe por até três estações, 8 patacas para uma viagem até 6 estações e 10 patacas para a linha completa. Quem tiver o cartão do Metro Ligeiro, à semelhança do que acontece nos autocarros públicos, paga metade destes valores, ou seja, 3, 4 e 5 patacas consoante a distância percorrida.

Estão isentos do pagamento de tarifa as crianças com altura inferior a um metro, bem como os titulares de cartão electrónico para idosos ou para pessoas portadoras de deficiência. Os estudantes beneficiam de redução da tarifa na ordem dos 75 por cento. A partir do momento em que o título de transporte é validado, o passageiro tem 60 minutos para permanecer na zona de acesso pago.

“Tivemos grande preocupação com o preço dos bilhetes, para que seguissem o mesmo sistema dos autocarros, com uma diferença. Porque o sistema do metro é muito caro, achámos que não era razoável fazer como nos autocarros. Entendemos que não deveria haver um preço fixo, e criámos o sistema de zonas”, explicou o secretário. Para já, o Governo não pondera introduzir passes, também à semelhança dos autocarros.

Regresso ao futuro

Depois de estimar que a obra completa custaria 11 mil milhões de patacas, Raimundo do Rosário revelou ontem que o preço final para meter a circular o Metro Ligeiro na Linha da Taipa, se fixou em 10,2 mil milhões de patacas.

Porém, a despesa que a obra implicou não deve referência para o futuro alargamento da rede, de acordo com o secretário para os Transportes e Obras Públicas. Isto porque uma parcela significativa da obra pagou a construção do Parque de Materiais e Oficina, custo irrepetível. Outra despesa foi para o “coração” operacional do transporte, invisível à vista dos passageiros, que é a sala de controlo das carruagens (que circulam sem condutor, com tracção eléctrica e sobre carris de betão).

Finalmente, os trabalhos de construção civil necessários para a operação foram, naturalmente, uma parte significativa da despesa. Quanto à extensão da rede que trará o transporte para a Península de Macau, mais precisamente para a Estação da Barra, o secretário sublinhou que irá custar 4,5 mil milhões de patacas e estará pronta até 2023.

Além das despesas de manutenção e segurança, há um número que demonstra a enormidade do projecto em termos financeiros. “Estimamos que o custo anual de electricidade para a Linha da Taipa e do Parque de Materiais e Oficina será na ordem dos 40 milhões de patacas por ano”, revelou Raimundo do Rosário. Segundo o governante, o preço da factura a pagar à CEM, além de demonstrar que o funcionamento do Metro Ligeiro não será barato, coloca em perspectiva os preços das tarifas, uma receita “que não servirá de muito”.

O percurso entre a primeira e última estação, com as devidas paragens, deverá rondar 25 minutos para percorrer os 9,3 quilómetros da Linha da Taipa. O Governo adquiriu 110 carruagens, com uma capacidade máxima de 100 pessoas por carruagem, e cada composição terá entre duas e quatro carruagens, num total de 400 pessoas.

Balanço de cinco anos

Apesar de não se querer comprometer com um número, Raimundo do Rosário referiu que existe uma estimativa de cerca de 20 mil passageiros por dia, “um valor altamente falível, porque tem vindo sucessivamente a ser ajustado”. Ainda assim o governante não arrisca prever o futuro. “Como se trata de um meio de transporte novo, temos muita dificuldade em acertar. Porque não faço ideia do grau de receptividade que o Metro Ligeiro vai ter”, referiu Raimundo do Rosário.

Uma das formas de cativar passageiros são as viagens grátis até ao fim do ano. “Fizemos isso para dar tempo às pessoas, para ver se as atraímos. Recomendo vivamente que andem, pelo menos, de um ponto de vista de lazer.

Acho que vale a pena um lugar à janela porque dá outra perspectiva e permite ver outra Taipa. Recomendo que todos vejam a Taipa de um plano mais elevado”.

No dia em que foi inaugurado o primeiro transporte sobre carris de Macau, Raimundo do Rosário puxou a fita atrás e fez um resumo dos trabalhos realizados para o Metro Ligeiro durante o mandato que está prestes a terminar.

A primeira pedra no caminho foi o contrato para a construção do Parque de Materiais e Oficina. “Tomei posse em Dezembro de 2014 e levámos um ano a chegar a acordo com a empresa. Julgava, na altura, que demorava menos tempo, e que resolvia isto nuns meses, mas foi necessário um ano”, recordou Raimundo do Rosário.

Outro processo moroso foi a contratação e formação de mais de seis centenas de profissionais. “Foram contratadas e formadas mais de 600 pessoas que vão assegurar o funcionamento desta linha a partir de esta tarde [ontem]. Cerca de 80 por cento destes trabalhadores são residentes de Macau”, explicou o secretário.

Peso a mais

Além da extinção do Gabinete para as Infra-Estruturas de Transportes, e da criação da sociedade que irá gerir o Metro Ligeiro, sob a alçada da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, a produção legislativa foi outra das questões que implicou tempo. “Tudo na vida precisa de legislação”, vaticinou o secretário referindo-se à Lei do Metro Ligeiro, o regulamento administrativo e aos despachos necessários para a operação.

Depois de completa a cerimónia, Raimundo do Rosário era um homem visivelmente emocionado. “Por um lado, estou muito contente, mas por outro estou um pouco apreensivo. À tarde, quando isto começar, faço votos para que tudo corra bem. Tenho consciência, que a primeira impressão é muito importante, fizemos tudo e mais alguma coisa para que tudo corra bem, não só no primeiro dia, mas nos restantes”, referiu. Porém, cerca de meia hora depois da entrada em funcionamento ao público, por volta das 16h, um alerta do sistema de monitorização de segurança das composições soou quando o metro chegou à Estação do Posto Fronteiriço da Flor de Lótus, em direcção à Estação do Terminal Marítimo da Taipa. Para garantir a segurança da viagem, todos os passageiros foram transferidos para outras composições, operação que não foi completada prontamente porque o metro seguinte estava sobrelotado o que levou alguns passageiros a permanecer na plataforma.

Em comunicado, a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau referiu que “vai proceder à revisão de todas as medidas implementadas no primeiro dia de operação”.

Tal como apontou Raimundo do Rosário, a preocupação principal com a entrada em funcionamento do Metro Ligeiro é a segurança e o funcionamento regular e sem contratempos. “Mas cá estamos para gerir contratempos, que eu espero que não haja”, referiu o Governante.

Opinião de arquitecto

O arquitecto Rui Leão, que marcou presença na cerimónia, declarou que, “independentemente de todos os atrasos e contratempos”, o Metro Ligeiro é “muito importante como um projecto de futuro em Macau”. O arquitecto prometeu usar o transporte, sempre que possível, mas ressalvou que a eficácia depende “articulação com o sistema de autocarros”, a via para rentabilizar e tornar útil, a Linha da Taipa. “Para já é só uma linha, mas temos de perceber que este é um projecto a longo-prazo. Tem de se dar um primeiro passo, e este já tem uma extensão bastante grande. O mais importante agora é continuar o planeamento e construção da rede”, concluiu.

Números a realçar

Gasto anual com electricidade: 40 milhões de patacas

Estimativa do número de passageiros por dia: 20 mil passageiros

Custo total da Linha da Taipa: 10,2 mil milhões de patacas

Extensão da Linha da Taipa: 9,3 quilómetros

Duração do percurso completo: perto de 25 minutos

Carruagens: 110, com capacidade máxima para 100 pessoas por carruagem

Fronteira | Jornalista retido durante duas horas

[dropcap]U[/dropcap]m jornalista do South China Morning Post, Phila Siu, esteve ontem retido durante cerca de duas horas no Terminal do Porto Exterior, depois de ter viajado para Macau de Ferry, mas acabou por conseguir entrar. A situação foi revelada pelo deputado José Pereira Coutinho, com quem o profissional do jornal de Hong Kong tinha uma entrevista agendada.

“O jornalista chegou às 11 da manhã ao Terminal Marítimo de Macau e ficou retido pelos Serviços de Emigração. Ligou-me às 13h00, dizendo que estava dentro de uma pequena sala detido pelas autoridades policiais”, disse o deputado. Depois de receber a chamada, Coutinho foi ao terminal e o jornalista acabou por conseguir entrar: “Por felicidade após 45 minutos libertaram o jornalista que conduzi no meu carro particular. Ainda bem que ficou tudo resolvido”, revelou.

Fronteira | Jornalista retido durante duas horas

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“O jornalista chegou às 11 da manhã ao Terminal Marítimo de Macau e ficou retido pelos Serviços de Emigração. Ligou-me às 13h00, dizendo que estava dentro de uma pequena sala detido pelas autoridades policiais”, disse o deputado. Depois de receber a chamada, Coutinho foi ao terminal e o jornalista acabou por conseguir entrar: “Por felicidade após 45 minutos libertaram o jornalista que conduzi no meu carro particular. Ainda bem que ficou tudo resolvido”, revelou.

Eleições | Wong Wai Man condenado por violação de liberdade de reunião e manifestação

Em Setembro de 2017, o “soldado comunista” pegou no microfone e acusou o líder da Lista Novo Macau de ser um “falso democrata” e “homossexual”. Ontem foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas, mas promete recorrer da decisão

 

[dropcap]O[/dropcap] candidato às legislativas Wong Wai Man, conhecido pelas roupas do Partido Comunista e pelos gritos de guerra, foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas pela prática do crime de violação da liberdade de reunião e manifestação. A sentença do caso que envolvia ainda os também cabeças de lista do acto eleitoral de 2017, Lei Kin Yun e Lee Sio Kuan, foi lida ontem, com estes dois arguidos a serem absolvidos.

De acordo com a juíza, Wong foi punido porque no dia 13 de Setembro de 2017, ou seja, durante o período eleitoral, actuou com dolo, quando perturbou uma acção de campanha da lista apoiada pela Associação Novo Macau. Segundo a sentença, o tribunal deu como provado que o Wong Wai Man utilizou um carrinho-de-mão com um altifalante para gritar que Sulu Sou era “um falso democrata” e “homossexual”, numa tentativa de intimidar os membros da lista.

O “soldado comunista” viu-lhe aplicada uma pena de 120 dias de multa, que correspondeu ao valor de 90 patacas por dia. Segundo a Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa da RAEM, o crime de violação da liberdade de reunião e manifestação tem como pena máxima 360 dias de multa, ou pena de prisão de 3 anos.

Após a leitura, a juíza teve o cuidado de perguntar a Wong Wai Man, assim como aos outros arguidos, se tinham percebido a sentença. Todos responderam que sim, mas o “soldado comunista” foi mais longe: “Vou recorrer da pena porque tenho liberdade de expressão!”, atirou.

Momento caricato

A sentença do caso foi lida ontem à tarde no Tribunal Judicial de Base (TJB) e apenas compareceram à sessão os três arguidos, que estiveram sempre juntos. Segundo o tribunal, os outros dois arguidos foram absolvidos porque “as provas circunstanciais não indicaram que tanto Lee Sio Kuan como Lei Kin Yun tivessem conhecimento que decorria uma acção de campanha”.

No entanto, Lei Kin Yun mostrou-se insatisfeito e pediu para usar da palavra para “complementar alguns factos sobre o caso”. Porém, Wong interrompeu-o: “Cala-te! Não foste considerado culpado”, afirmou o único condenado, num tom de voz elevado.

Lei Kin Yun ainda começou a defender que não havia uma acção de campanha naquela altura porque a lista de Sulu Sou estava fora dos locais autorizados para acções do género. Contudo, acabou mesmo por acatar o “conselho” de Wong Wai Man e calou-se.

Os factos analisados no julgamento decorreram a 13 de Setembro de 2017, em plena campanha para as eleições legislativas, quando a lista Associação do Novo Progresso de Macau, agendou uma acção no cruzamento entre a Rua do Canal Novo e a Rua Nova da Areia Preta. Apesar de tudo estar a decorrer de forma pacífica, surgiu no local um grupo de pessoas, onde se incluíam Wong Wai Man, Lee Kin Yun, e Lee Sio Kuan, que se intrometeu na acção.

Eleições | Wong Wai Man condenado por violação de liberdade de reunião e manifestação

Em Setembro de 2017, o “soldado comunista” pegou no microfone e acusou o líder da Lista Novo Macau de ser um “falso democrata” e “homossexual”. Ontem foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas, mas promete recorrer da decisão

 
[dropcap]O[/dropcap] candidato às legislativas Wong Wai Man, conhecido pelas roupas do Partido Comunista e pelos gritos de guerra, foi condenado a pagar uma multa de 10.800 patacas pela prática do crime de violação da liberdade de reunião e manifestação. A sentença do caso que envolvia ainda os também cabeças de lista do acto eleitoral de 2017, Lei Kin Yun e Lee Sio Kuan, foi lida ontem, com estes dois arguidos a serem absolvidos.
De acordo com a juíza, Wong foi punido porque no dia 13 de Setembro de 2017, ou seja, durante o período eleitoral, actuou com dolo, quando perturbou uma acção de campanha da lista apoiada pela Associação Novo Macau. Segundo a sentença, o tribunal deu como provado que o Wong Wai Man utilizou um carrinho-de-mão com um altifalante para gritar que Sulu Sou era “um falso democrata” e “homossexual”, numa tentativa de intimidar os membros da lista.
O “soldado comunista” viu-lhe aplicada uma pena de 120 dias de multa, que correspondeu ao valor de 90 patacas por dia. Segundo a Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa da RAEM, o crime de violação da liberdade de reunião e manifestação tem como pena máxima 360 dias de multa, ou pena de prisão de 3 anos.
Após a leitura, a juíza teve o cuidado de perguntar a Wong Wai Man, assim como aos outros arguidos, se tinham percebido a sentença. Todos responderam que sim, mas o “soldado comunista” foi mais longe: “Vou recorrer da pena porque tenho liberdade de expressão!”, atirou.

Momento caricato

A sentença do caso foi lida ontem à tarde no Tribunal Judicial de Base (TJB) e apenas compareceram à sessão os três arguidos, que estiveram sempre juntos. Segundo o tribunal, os outros dois arguidos foram absolvidos porque “as provas circunstanciais não indicaram que tanto Lee Sio Kuan como Lei Kin Yun tivessem conhecimento que decorria uma acção de campanha”.
No entanto, Lei Kin Yun mostrou-se insatisfeito e pediu para usar da palavra para “complementar alguns factos sobre o caso”. Porém, Wong interrompeu-o: “Cala-te! Não foste considerado culpado”, afirmou o único condenado, num tom de voz elevado.
Lei Kin Yun ainda começou a defender que não havia uma acção de campanha naquela altura porque a lista de Sulu Sou estava fora dos locais autorizados para acções do género. Contudo, acabou mesmo por acatar o “conselho” de Wong Wai Man e calou-se.
Os factos analisados no julgamento decorreram a 13 de Setembro de 2017, em plena campanha para as eleições legislativas, quando a lista Associação do Novo Progresso de Macau, agendou uma acção no cruzamento entre a Rua do Canal Novo e a Rua Nova da Areia Preta. Apesar de tudo estar a decorrer de forma pacífica, surgiu no local um grupo de pessoas, onde se incluíam Wong Wai Man, Lee Kin Yun, e Lee Sio Kuan, que se intrometeu na acção.