Enfrentar a fúria dos ventos

[dropcap]U[/dropcap]ma intensa tempestade tropical, o Higos, começou a atingir Macau na tarde de 17 de Agosto. Foi levantado o sinal N.º 8 na tarde de dia 18 e o sinal Nº10 às 5.00 da madrugada de dia 19. Em apenas dois dias, Macau voltou a sentir os efeitos de um super tufão.

A comunicação social divulgou que 15 pessoas ficaram feridas durante a passagem do Higos por Macau. Foi ainda necessário evacuar 2.722 moradores das zonas baixas da cidade, tendo-se registado também 274 acidentes, na sua maioria queda de árvores e de objectos suspensos em edifícios.

Os registos metereológicos indicam que a força do Higos foi apenas suplantada pela do Hato, que passou na cidade em 2017, tendo sido superior à do Mangkhut, que assolou Macau em 2018. Na passagem do Hato houve cortes de água e de electricidade em várias zonas da cidade. As telecomunicações foram afectadas e os telemóveis ficaram sem rede. Tragicamente o Hato provocou 10 mortes, das quais sete resultaram de afogamento em lojas e parques de estacionamento subterrâneos.

A forma como as autoridades lidaram com a eminência da passagem do Hato provocou muito descontentamento popular. A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos levantou respectivamente os sinais N.º 8 e N.º 9 no espaço de menos de 3 horas, acabando por levantar o sinal mais elevado o N.º 10.

Devido ao aviso muito em cima da hora, a população não teve tempo de se preparar. No rescaldo da tempestade, os dirigentes da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos sofreram acções disciplinares e este organismo anunciou que as medidas de protecção face a este tipo de tempestades iriam ser reformuladas.

O Hato devastou Macau provocando inúmeros estragos. De acordo com a Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau e com a Lei Garrison da RAEM, o então Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, solicitou o auxílio das forças do Exército de Libertação do Povo estacionadas em Macau. Foi a primeira vez que o Exército de Libertação do Povo participou em operações de salvamento numa região administrativa especial.

Com a experiência do Hato, quando o tufão Mangkhut se começou a aproximar de Macau, muitas pessoas correram aos supermercados para se abastecerem de água e comida. Alguns clientes tiveram de esperar mais de meia hora na fila da caixa, e outros já nem se conseguiram abastecer. A realidade é que o Hato tinha assustado as pessoas e, com a eminência da passagem de outro tufão, todos ficaram muito perturbados.

Com os ensinamentos retirados pela passagem do Hato, o Governo de Macau desenhou um plano de evacuação das zonas baixas que foi implementado quando o Mangkhut chegou a Macau. Os moradores destas áreas foram retirados e colocados em abrigos e residências temporárias, as Portas do Cerco, o Posto Fronteiriço do Parque Industrial Transfronteiriço, e o Posto Fronteiriço de Cotai foram encerrados. Além disso e, pela primeira vez, os Casinos também fecharam as portas.

Com a vinda do Mangkhut, Macau sofreu inevitavelmente inundações, cortes de energia, queda de árvores e vários danos materiais, sobretudo nas zonas ribeirinhas. Para facilitar a limpeza da cidade e a reparação dos danos, a 17 de Setembro de 2018, os funcionários públicos não essenciais foram dispensados do trabalho, as escolas secundárias e as primárias, os jardins de infãncia e os centros de educação especial também encerraram.

Comparando os três tufões, o Hato, o Mangkhut e o Higos, podemos observar os seus impactos que têm vindo a diminuir. E isto verifica-se porque os níveis de alerta têm vindo a subir. A consciência do perigo dos tufões aumentou e o Governo tem reforçado as medidas de protecção. Em consequência disso, desta vez Macau sofreu a mais baixa taxa de danos na passagem do super tufão Higos.

Os ligeiros danos causados por esta tempestade são resultado de esforços continuados. Devemos continuar a a estar atentos às várias vertentes da protecção civil, controlo do abastecimento de água, planeamento urbanístico, divulgação para melhorar a capacidade de resitência de Macau à passagem de tufões, especialmente no que diz respeito às emergências causadas pelas inundações nas zonas baixas, para que os seus moradores deixem de temer a passagem dos tufões.

Os tufões vão continuar a assolar Macau e temos de preparar hoje a vinda daquele que chegará amanhã. Macau é a nossa casa; que cada um de nós se empenhe em trabalhar nas medidas de protecção contra desastres futuros.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

Derradeiro e único

[dropcap]G[/dropcap]abriel Fauré é legitimamente considerado o compositor francês mais avançado da sua geração. O seu estilo musical altamente personalizado, reflectido em melodias modais cheias de alma e numa linguagem harmónica colorida, influenciou bastante as gerações de compositores subsequentes. Acima de tudo, Fauré era um professor venerado e um administrador proactivo em nome da música. Tornou-se professor de composição no Conservatório de Paris em 1896, tendo como alunos, entre outros, Maurice Ravel, Georges Enescu e Nadia Boulanger. E quando foi nomeado director do Conservatório em 1905, reformou ardentemente o currículo dessa instituição musical de maior prestígio na França. Durante grande parte da carreira composicional de Fauré, a música para e com o piano ocupou o centro do palco.

Para a sua composição final – o Quarteto de Cordas em Mi menor, Op. 121, o único quarteto de cordas que compôs, concluído em 1924, pouco tempo antes de falecer com 79 anos, o compositor afastou-se do seu instrumento favorito, o piano, e, em vez disso, escreveu música para o género prototípico de agrupamento da Música Clássica, quarteto de cordas. Ravel tinha-lhe dedicado o seu Quarteto de Cordas em 1903 e ele e outros incitaram-no a compor o seu próprio quarteto; Fauré declinou alegando que era muito difícil. Quando finalmente se decidiu a compô-lo, fê-lo com receio. A obra foi composta em Annecy-le-Vieux, em Paris e em Divonne-les-Bains entre Setembro de 1923 e Setembro de 1924. “Iniciei a composição de um quarteto de cordas, sem piano”, Fauré escreveu à sua mulher, que se encontrava em Paris, a partir de Annecy. “Este é um género tornado particularmente famoso por Beethoven, e por isso quem não seja Beethoven tem pavor de o fazer”.

O Allegro de abertura proporciona um início tranquilo e contemplativo banhado na linguagem melódica e harmónica tipicamente etérea de Fauré. Um diálogo musical tranquilo entre o primeiro violino e o violoncelo domina grande parte deste andamento, senão toda a composição. Breves intensificações da linguagem musical à parte, com o violoncelo incitando a conversa musical, este andamento nunca se desvia de um estado de emotividade contida. A estética musical contemplativa introduzida no primeiro andamento é ainda mais ampliada no lento Andante, já que Fauré fornece um coro instrumental de lamento. Na Allegro conclusivo, que combina as funções de scherzo e finale, o violoncelo canta uma melodia insistente, acompanhada por cordas superiores em pizzicato. Na verdade, o acompanhamento de pizzicato fornece o pulso musical a grande parte do andamento, permitindo apenas uma explosão emocional singular nos compassos finais da peça.

A obra tem sido descrita como uma meditação íntima sobre as últimas coisas, e uma obra extraordinária, independentemente do ponto de vista, etérea e de outro mundo com temas que parecem ser constantemente ser puxados “em direcção ao céu”. O quarteto foi estreado após a morte de Fauré, pois o compositor declinou uma oferta deste ser executado em privado para si nos últimos dias, pois a sua audição tinha-se deteriorado ao ponto dos sons musicais soarem horrivelmente distorcidos aos seus ouvidos.

Sugestão de audição:
Gabriel Fauré: String Quartet in E minor, Op. 121
Leipziger Streichquartet – Musikproduktion Dabringhaus und Grimm, 2007

Comuna de Han-Ian apresenta videoinstalação de reflexão sobre Macau esta sexta-feira

“New Promise Land” é o nome da exposição promovida pela associação Comuna de Han-Ian que será inaugurada esta sexta-feira, dia 28. Seis artistas, divididos em três grupos, olham para a Macau dos dias de hoje e para as promessas que fizeram a RAEM nascer. As detenções feitas no Leal Senado o ano passado são um dos temas abordados através de uma perspectiva interactiva com o público

 

[dropcap]M[/dropcap]acau, terra anteriormente administrada por portugueses com o aval da China. A RAEM, território peculiar nascido de promessas feitas no âmbito da Declaração Conjunta, e de promessas e objectivos apresentados pela China. É este retrato socio-político apresentado na nova exposição promovida pela associação Comuna de Han-Ian, que inaugura esta sexta-feira, dia 28, na Avenida do Coronel Mesquita, Mong-Há.

“New Promise Land – Video and Art Installation” é um olhar sobre a Macau contemporânea que deixou Portugal para abraçar a China em definitivo. Mas é também uma metáfora daquilo em que a sociedade de Macau se tornou. Numa nota divulgada pela Comuna de Han-Ian nas redes sociais, o nome “New Promise Land” [A Nova Terra Prometida] é um conceito oriundo do Velho Testamento da Bíblia, quando Deus prometeu aos judeus que, desde que estes fossem obedientes, haveria uma terra fértil para eles no final de todas as tormentas.

Mas “New Promised Land” é também o nome de um restaurante birmanês em Macau, pelo que o nome da exposição é também o reflexo do território que há muito acolhe trabalhadores migrantes para as mais diversas actividades económicas, enfrentando as mais diversas dificuldades.

“Macau tornou-se na ‘Terra Prometida’ para muitos grupos étnicos nos últimos anos”, acrescenta a mesma nota.

As detenções feitas pela Polícia Judiciária o ano passado na zona do Leal Senado, quando alguns jovens tentaram demonstrar apoio aos protestos de Hong Kong, acabaram por se tornar no mote para esta exposição. “Em Agosto sabíamos o que estava a acontecer em Hong Kong e sabíamos que alguns jovens queriam dar o apoio, e que a polícia não tinha autorizado a manifestação. Nesse momento queríamos fazer algo sobre isso e levar as pessoas a perguntar porque é que tudo isso estava a acontecer, e se podíamos fazer algo. Foi essa a motivação para nos juntarmos”, contou ao HM Peeko Wong, coordenadora da exposição.

O tema das detenções será abordado numa zona comum, com maior interactividade com os visitantes, segundo explicou Ao Ngan Wa, uma das artistas participantes.

“Vamos tentar recriar a situação que aconteceu no ano passado e questionar o que podemos fazer. Ainda estamos a trabalhar nesta zona comum, [mas a ideia é pensar no facto de] o receptor da promessa ter o direito a dizer sim ou não. Nessa zona comum [da exposição] vamos tentar usar essa ocorrência do ano passado e levar o público a pensar nessas questões”, disse ao HM.

Para Peeko Wong, o objectivo desta mostra é levar o público a pensar não apenas sobre as promessas feitas, mas também sobre as soluções para o futuro.

Pensar o amanhã

A exposição é composta por trabalhos de seis artistas, três de Macau e três de Portugal, Hong Kong e Taiwan, organizados em três grupos diferentes. Cada grupo aborda um tema relacionado com o território. No caso de Ao Ngan Wa, actualmente a estudar artes na Polónia, o trabalho é feito em conjunto com o português João Garcia Neto.

“O João aborda as promessas que os portugueses nos deixaram, enquanto que eu abordo as promessas feitas pela China para o futuro”, contou a artista.

Ao Ngan Wa lamenta que a sociedade de Macau se limite simplesmente a ouvir e a obedecer. “Parece que há apenas um caminho, que a Grande Baía é um grande projecto e que tudo vai correr bem na economia. Do lado de Macau só estamos aptos a dizer sim, não havendo lugar a discussão ou negociação. As promessas tornaram-se ordens”, defendeu.

Além da dupla Ao Ngan Wa e João Garcia Neto, participam também a dupla Iao Fong Lam e Chang Ciao Yu, este de Taiwan, cujo projecto de video aborda as crenças da população local e as diferentes religiões existentes no território. Chang Ciao Yu reside actualmente em Hong Kong e partilha também a sua visão sobre as promessas feitas, estabelecendo um diálogo com os artistas de Macau. Por sua vez, Veronica Bassetto, de Hong Kong, junta-se a Lao Keng U.

Maioria das escolas reabre a 1 de Setembro

O regresso às aulas está marcado para Setembro, com 60 por cento das escolas a abrir portas no primeiro dia do mês. A Escola Portuguesa de Macau e o Jardim de Infância Costa Nunes dão início ao novo ano lectivo no dia 7 de Setembro. As escolas de Macau retomam actividades com horários diferenciados. A DSEJ apela aos encarregados de educação para prestarem atenção ao trânsito e às medidas de combate à epidemia

 

[dropcap]A[/dropcap]pós um período atípico marcado pelo cancelamento do normal desenrolar das actividades escolares devido à pandemia, os alunos de Macau regressam às aulas a partir do dia 1 de Setembro, de forma faseada e com horários diferentes. De acordo com um comunicado divulgado ontem pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), a maioria das escolas abre portas no primeiro dia do mês.

“A maioria das escolas começa no início de Setembro, o ano lectivo 2020/2021, sendo que mais de 60 por cento delas terão início a 1 de Setembro, 15 por cento a 2 de Setembro, e as restantes, a 3 de Setembro ou após esta data”, pode ler-se no comunicado.

Também ontem, a DSEJ publicou um documento onde constam as datas e os horários estipulados para a reabertura de todos os 78 estabelecimentos de ensino de Macau. Detalhando, a Escola Portuguesa de Macau (EPM) abre portas no dia 7 de setembro, tanto para o ensino primário (9h00) como secundário (11h00). No mesmo dia, o Jardim de Infância “D. José da Costa Nunes” dará início às suas actividades do ensino infantil, a partir das 8h30.

Já o Colégio de Santa Rosa de Lima (secção inglesa e chinesa) e o Colégio do Sagrado Coração de Jesus iniciam o novo ano lectivo no dia 1 de Setembro em todos os graus escolares. Excepção feita ao ensino secundário da secção chinesa do Colégio de Santa Rosa de Lima, que retoma actividades a 4 de Setembro.

Também no primeiro dia de Setembro, estão de volta as actividades de todos os níveis escolares e secções do Colégio Diocesano de São José, à excepção do ensino infantil da secção chinesa do Colégio Diocesano de São José, que abre portas no dia 2 de Setembro.

Este dia é também o agendado para acolher os alunos da Escola Hou Kong, nas sucursais de Macau e Taipa em todos os níveis escolares.

Quanto os alunos da Escola para Pais e Filhos dos Operários, o regresso está previsto para o dia 3 de Setembro.

O regresso às aulas na escola Pui Tou está previsto para os dias 4 e 5 de Setembro. Nas sucursais de Macau, o ensino primário e secundário começa no dia 4 de Setembro, ao passo que o ensino infantil começa a 5 de Setembro. Já nas sucursais da Taipa, o ensino primário acontece no dia 4 de Setembro e os restantes níveis no dia seguinte.

Mais vale prevenir

Com o aproximar do novo ano lectivo, a DSEJ fez ainda um apelo dirigido aos encarregados de educação, no sentido de “prestarem atenção às medidas preventivas da epidemia do Governo (…), ao trânsito, ao tempo e às condições físicas dos seus educandos”, para lhes transmitir conhecimentos sobre a importância de manter bons hábitos de higiene.

O organismo aponta ainda que “tem mantido uma estreita comunicação com as escolas”, de forma a preparar o novo ano lectivo e ajudar na aplicação de medidas preventivas e manutenção da “limpeza e higiene das suas instalações”.

Sobre o previsível aumento do trânsito durante o reinício das actividades escolares, a DSEJ afirma ter contactado a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e outras entidades, com o objectivo de “reduzir, o mais possível, os atrasos dos alunos devido à situação do trânsito”.

Covid-19 | Residentes vão ter de pagar segunda quarentena

Os residentes não precisam de pagar a primeira observação médica que fizerem. Mas, a partir de Setembro, têm de assegurar os custos da segunda quarentena. O médico Alvis Lo defendeu ontem a continuidade do uso de máscaras em sítios públicos ao ar livre

 

[dropcap]A[/dropcap] partir de 1 de Setembro, os residentes que fizerem uma segunda quarentena nos hotéis designados vão ter de a pagar a estadia. A informação foi avançada na habitual conferência da saúde sobre o novo tipo de coronavírus por Betty Fok, da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A observação médica nos hotéis custa 5.600 patacas.

Em causa está a normalização da situação de pandemia e o uso racional do erário público. “Os residentes têm de ser cautelosos quando quiserem deslocar-se a outras regiões ou outros países, e como a quarentena precisa de mobilizar os cofres públicos será necessário que na segunda vez comecem a pagar os respectivos custos”, disse Betty Fok. As estadias de quarentenas anteriores a Setembro também são contabilizadas para a nova medida. Fica isento de pagamento quem se deslocar ao exterior em missão oficial.

O Governo não afasta a hipótese de levantar excepções para casos especiais, avaliados caso a caso. “Devido à situação epidémica, não encorajamos as pessoas a saírem de Macau, recomendamos que permaneçam em Macau nos locais mais seguros, ou até podem ir para as províncias mais seguras do Interior da China. Só quando há uma situação muito especial, com um motivo muito bem justificado é que vamos observar a situação. Não temos qualquer padrão fixado para pedido de isenção de pagamento”, explicou o médico Alvis Lo.

De acordo com os dados apresentados ontem, havia 1348 pessoas em observação médica nos hotéis. Destas, 525 são residentes, 781 turistas e 42 trabalhadores não residentes.

Alerta contínuo

Questionado sobre a necessidade de continuar a usar máscara em locais públicos ao ar livre, Alvis Lo respondeu que não há “grande margem para deixar de usar máscara”. O médico reconheceu a estabilidade da situação em Macau e a vontade de regressar à normalidade, mas alertou que já foram tomadas medidas para flexibilizar a passagem de fronteiras e “há alguns riscos”. Relativamente à inoculação, o responsável deu a entender que se vai esperar por uma vacina com eficácia comprovada antes de ser administrada.

Outras margens

A partir das 6h de amanhã é retomada a passagem fronteiriça de veículos com matrícula dupla nos postos de Hengqin e da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, enquanto nas Portas do Cerco haverá triagem consoante o último número da matrícula. Os veículos com números ímpares vão passar em dias diferentes dos pares. Deixa assim de haver marcação online.

Ian Chan Um, representante dos Serviços de Alfândega, disse que não será autorizada a passagem aos veículos pesados e que as regras se mantêm para os veículos oficiais.

Sinergia de Macau acusa DSSOPT de irresponsabilidade sobre insegurança das janelas

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação da Sinergia de Macau, Ron Lam, acusou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de ser irresponsável e de não agir por não avisar ou alertar os proprietários para verificarem as janelas, noticiou o jornal Cidadão.

Ron Lam recordou que os residentes dos Edifícios Nova Taipa Gardens entregaram uma petição ao Chefe do Executivo, alegando que anteriormente a DSSOPT nada tinha feito e o Secretário para os Transportes e Obras Públicas negou o problema. Por outro lado, o presidente da Sinergia de Macau indicou que, durante ao período de propaganda eleitoral, Ho Iat Seng afirmou que iria valorizar o tema.

Como as janelas de fracção pertencem ao espaço privado e o conselho de administração de cada edifício não tem autorização para tratar do assunto, Ron Lam defende que há razões suficientes em Macau para tornar a verificação de janelas obrigatória. Até à criação de uma lei relevante, o responsável acha que as autoridades devem intervir nos edifícios com acidentes frequentes de queda de janelas, exigindo o pagamento das despesas decorrentes aos proprietários das fracções.

Código Tributário concluído, mas sem data para regresso à AL

Depois de avanços e recuos, a Direcção dos Serviços de Finanças acabou a proposta de lei do Código Tributário. No entanto, as eleições legislativas do próximo ano estão entre as justificações para explicar a falta de uma data para submeter a proposta à Assembleia Legislativa

 

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) terminou a proposta de lei do Código Tributário. Mas apesar de poder ser remetida à Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça para análise formal das leis, não há compromissos em levar o diploma a debate nesta sessão legislativa.

A questão não é nova. Já foi submetida no passado à Assembleia Legislativa (AL) uma proposta de Código Tributário, mas foi retirada em 2012, com o Governo explicar que pretendia primeiro rever todo o regime fiscal.

Além disso, importa referir que ao despedir-se da AL, Ho Iat Seng disse em conferência de imprensa que era “preocupante” Macau não ter um código tributário, tendo em conta o desenvolvimento económico e social do território.

“Considerando a realização de novas eleições legislativas no próximo ano, o vasto âmbito de aplicação da proposta de lei, a alta profissionalização e tecnicidade, bem como o tempo eventualmente muito prolongado no processo de apreciação, o Governo da RAEM vai, observando o progresso do trabalho de produção legislativa, decidir, novamente, sobre a melhor oportunidade para submeter a citada proposta de lei à apreciação da Assembleia Legislativa”, explicou agora o director da DSF, Iong Kong Leong, em resposta a uma interpelação escrita.

O texto da proposta tem 347 artigos, divididos em oito títulos, e aborda áreas como os procedimentos fiscais ou o processo judicial tributário. O objectivo é juntar os vários temas relacionados com a administração fiscal, que estão “dispersos por diversas leis fiscais avulsas”, e acrescentar o conteúdo correspondente às normas internacionais. “O Governo da RAEM resolveu propor a elaboração do Código Tributário, sendo expectável que o mesmo possa constituir, daí por diante, uma lei-quadro para o sistema tributário”, apresentou Iong Kong Leong.

Medidas provisórias

A interpelação de Wong Kit Cheng apontava para a desactualização do sistema tributário e complexidade dos procedimentos. A deputada defendeu que as medidas de apoio durante a epidemia suscitaram problemas sobre a declaração de impostos, e que “merece a atenção da sociedade a questão dos ajustamentos que vão ser introduzidos nas políticas de benefícios fiscais e na revisão do referido código”.

No documento, a deputada pediu também mais benefícios fiscais para a população. Quis saber se o ajustamento feito este ano na devolução do imposto profissional se vai tornar regular. “O Governo deve ajustar o limite de isenção do imposto profissional tendo em conta a inflação e a mediana salarial registadas nos últimos anos, e lançar mais medidas fiscais para apoiar a classe sanduíche e as famílias. Vai fazê-lo?”, questionou Wong Kit Cheng.

O responsável da DSF respondeu que os benefícios da devolução do imposto profissional e o aumento do valor limite de parte das contribuições “são medidas provisórias”. Frisou que o Governo toma uma decisão depois de analisar as finanças públicas, desenvolvimento económico e condições da vida da população, mas ressalvou que são tidas “como referência, sem, no entanto, indexar a decisão a determinados índices”.

Deputados defendem advertência para restaurantes que violam regras de higiene

[dropcap]O[/dropcap] Governo está a ponderar seguir a sugestão dos deputados da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) e implementar um mecanismo de advertência para os restaurantes e estabelecimentos de pequena dimensão que prevariquem pela primeira vez, ao invés de aplicar, de imediato, multas pelo incumprimento de regras de higiene e segurança.

Em causa está o regime sancionatório previsto na proposta de lei que regula a actividade dos estabelecimentos hoteleiros e que esteve ontem a ser analisada numa reunião que contou com membros do Governo.

Chan Chak Mo, deputado que preside à comissão, revelou ontem que as multas previstas para os restaurantes localizados dentro de hotéis situam-se entre 50 e 70 mil patacas, ao passo que nos estabelecimentos de refeições simples, quiosques, bares e salas de dança a multa é de 10 a 30 mil patacas.

Segundo o deputado, a comissão questionou se o Governo considera a situação justa, sobretudo para os pequenos restaurantes.

“Questionámos o Governo sobre o conteúdo que sanciona o acto de comer, cuspir ou tossir na zona de manipulação, preparação e armazenamento de alimentos. Ou seja, se a pessoa tem de tossir, terá que pagar uma multa de 10 mil patacas? Isto é razoável? Se calhar é preciso mexer na redacção ou então vão ter de usar toalha para tapar boca”, apontou Chan Chak Mo.

De acordo com Chan Chak Mo, os “deputados entendem que isto é um pouco rigoroso para os pequenos restaurantes” e, por isso, sugerem que o Governo introduza mecanismos de advertência para os casos em que as infracções acontecem pela primeira vez.

“Sugerimos outras leis que adoptam um mecanismo de advertência, tal como a lei da cibersegurança no seu artigo e a lei do ensino não superior (…), onde, no caso de violar a lei pela primeira vez, existe uma advertência. O Governo diz que vai ponderar (…), temos de ver se a próxima versão da lei já contém o termo ‘advertência’”, sublinhou.

Rigor linguístico

Chan Chak Mo revelou ainda que uma das alterações introduzidas à nova versão da proposta de lei em análise, garante mais rigor quanto ao idioma em que têm de estar redigidos os nomes dos estabelecimentos autorizados pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST).

Segundo o novo texto, os estabelecimentos apenas poderão ter uma designação em inglês, depois de definida a sua redacção em chinês e português. Isto quando, a versão inicial do diploma, chegou a prever que a redacção fosse obrigatória apenas numa das línguas oficiais, antes de poder ter uma versão em inglês.

Saúde | Extinta Comissão de acompanhamento de novas infra-estruturas 

Criada em 2011 pelo ex-Chefe do Executivo Chui Sai On, a Comissão de Acompanhamento da Rede de Infra-estruturas do Sistema de Saúde chega agora ao fim por decisão de Ho Iat Seng sem que várias das obras do sector tenham sido concluídas, como é o caso do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas

 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho, assinado pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que dá conta da extinção da Comissão de Acompanhamento da Rede de Infra-estruturas do Sistema de Saúde, criada em 2011 pelo anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On.

Até ao fecho desta edição o HM não conseguiu obter esclarecimentos adicionais sobre o trabalho desenvolvido por esta entidade junto dos gabinetes de Ho Iat Seng ou de Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, nem sobre as razões para a extinção deste órgão.

Aquando da sua criação, em 2011, o despacho de Chui Sai On dava conta da importância do estabelecimento da Comissão tendo em conta o necessário desenvolvimento das infra-estruturas na área da saúde.

À época já se notava “uma crescente procura dos serviços de cuidados de saúde”, dado “o desenvolvimento rápido da sociedade e da economia”, associado ao rápido crescimento da população e ao seu envelhecimento.

O despacho de Chui Sai On fazia referência à “baixa taxa de camas hospitalares em relação à população, a ameaça de doenças graves e o surgimento de novas doenças transmissíveis, bem como o prosseguimento do reforço da capacidade de resposta das Ilhas em situação de emergência”. Situações que tornavam “necessária a melhoria e o reordenamento da rede de infra-estruturas de saúde”.

À Comissão cabia a missão de “assegurar a coordenação, acompanhamento e avaliação, a nível global, dos investimentos públicos a efectuar no contexto do ‘Projecto de Melhoramento das Infra-estruturas do Sistema de Saúde’”, bem como implementar calendários e “garantir a articulação interdepartamental no desenvolvimento e implementação do Projecto”.

Por fazer

A 1 de Março de 2011 a Comissão foi oficialmente apresentada. Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) disse, citado por um comunicado oficial, que este órgão iria coordenar o “Projecto de Melhoramento das Infra-estruturas do Sistema de Saúde”, pensado para 10 anos. Este tinha como objectivo “melhorar as instalações médicas de Macau em três direcções” através das “obras de ampliação e reconstrução, o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas e a rede dos cuidados de saúde primários”. O orçamento previsto era de 10 mil milhões de patacas “para o aperfeiçoamento das infra-estruturas do sistema de saúde de Macau”.

No entanto, nove anos depois, vários dos planos previstos para este Projecto ainda não foram concluídos, como é o caso do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas.

Segundo as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, as estruturas principais do hospital geral, edifício de apoio logístico, edifício da Administração e edifício multi-serviços, bem como arruamentos e infra-estruturas em áreas periféricas, deverão estar concluídas em 2022.

Em relação ao edifício para os trabalhadores, também incluído no Projecto a 10 anos, só estará concluído em 2022, enquanto que o edifício do laboratório central deverá estar finalizado em 2023. Por concluir, está também o edifício de especialidades médicas do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), que inclui uma zona de isolamento e laboratório.

Apesar do incumprimento de vários prazos, o Executivo inaugurou nos últimos anos alguns centros de saúde, bem como o novo serviço de urgência do CHCSJ, em 2013, que foi alvo de uma ampliação. Em 2016, seria inaugurado o Centro Clínico de Saúde Pública no Alto de Coloane. Também o projecto do edifício do Alojamento dos Trabalhadores de Emergência de Saúde Pública, junto ao CHCSJ, foi inaugurado.

China | Campanha contra desperdício alimentar chega às redes sociais

Vídeos de pessoas a ingerir enormes quantidades de comida são o alvo mais recente da campanha chinesa de luta contra o desperdício alimentar. A política lançada por Xi Jinping deu azo a especulação quanto à capacidade para alimentar os 1,4 biliões de cidadãos, numa altura em que o país enfrenta desafios em múltiplas frentes como inundações, pandemia, pragas e tensões comerciais

 

[dropcap]O[/dropcap] que tem de apelativo ver alguém comer grandes quantidades de comida? A resposta pode cobrir um amplo leque de motivações psicológicas, mas não chega para explicar a popularidade imensa de alguns vloggers que ganham a vida a enfardar descomunais pratadas de comida.

Nascida há 35 anos em Fukuoka, Yuka Kinoshita é uma das youtubers mais populares do género, com quase 5,5 milhões de subscritores e mais de 2 biliões de visualizações. Apesar da figura elegante, os vídeos da japonesa documentam refeições que dão para alimentar uma família numerosa com muita fome, por vezes chegando às 23 mil calorias ingeridas. Por exemplo, no início do ano, mais de 1,5 milhões de pessoas viram Yuka mandar abaixo 200 peças de sushi, e quase 2 milhões assistiram à hercúlea tarefa de comer quatro quilos de salmão e um quilo de sopa miso.

Este fenómeno, que ganhou imensa popularidade nos últimos 10 anos, em particular na Ásia, dá pelo nome de mukbang, expressão nascida do coreano da conjugação das duas palavras “comer” e “transmitir”.

Além das críticas que apontam estes programas como a derradeira glorificação da bulimia, o mukbang ganhou recentemente um poderoso inimigo: o Governo chinês.

Tudo começou quando o Presidente chinês, Xi Jinping, declarou guerra ao desperdício alimentar. Estava dado o mote para o lançamento da campanha “prato limpo”, com o Presidente a detalhar que a pandemia de covid-19 “fez soar o alarme” para o desperdício de alimentos, acrescentando que a China deve manter atenta em relação a uma potencial crise de segurança alimentar.

Dieta na net

Das palavras à acção, vários meios de comunicação oficiais materializaram a condenação social dos autores deste tipo de conteúdo audiovisual. A CCTV transmitiu várias reportagens críticas sobre o mukbang e os seus protagonistas, e as próprias redes sociais chinesas entraram no jogo adicionando avisos para os internautas que procuram termos como “programa de comida” ou “comer em directo”.

A adaptação não se fez esperar, com vloggers e produtores de conteúdos a emitir avisos no Douyin, a versão chinesa do TikTok, para “aproveitar a comida”, “comer de forma apropriada” ou “estima a comida, recusa o desperdício, come com responsabilidade e leva uma vida saudável”.

As mensagens parecem anunciar o fim do festim deste tipo de canais na China, ou pelo menos nas redes sociais chinesas, uma vez que não surgem em aplicações fora do Continente, como a TikTok.

Em declarações à BBC, a analista de media chineses Kerry Allen explica que “há algum tempo que as redes sociais chinesas mostram nervosismo face à possibilidade de terem conteúdos que possam ser considerados como maus ou imorais pelo Estado”.

Porém, a analista refere que os receios não são unilaterais, e que também o Governo encara com algum cuidado as novas liberdades que advêm da hipótese de transmitir vídeo em directo, algo que as novas aplicações tornaram extremamente popular. Assim sendo, foi com naturalidade que surgiram regras rígidas de transmissão e publicação de vídeos, em particular vídeos na via pública, ou que aparentem ter conteúdo “sedutor”.

Aliás, foi a partir da fixação de parâmetros rígidos quanto ao conteúdo que começaram a surgir vídeos de pessoas a cantar ou a comer.

Resposta popular

Seguindo a máxima de quanto mais alto maior a queda, após a condenação pública os próprios espectadores começaram a reagir negativamente aos conteúdos, em particular às estrelas chinesas conhecidas como “reis do estômago grande”, que levam o conceito de refeição para o campo da proeza circense. Estes vídeos começaram a ser censurados com edições que impossibilitam o espectador de ver o que se passa.

A BBC relata que muitos destes vídeos foram a retirados pelos próprios autores, depois do ataque de internautas que aproveitaram a oportunidade para divulgar a identidade dos vloggers e envergonhá-los como desperdiçadores.

Porém, a condenação dos excessos não se fica pela internet. O The New York Times (NYT) relata outros exemplos de medidas que procuram combater o desperdício alimentar, como uma escola que fez depender a inscrição dos alunos com base no nível de comida desperdiçada na cantina, ou um restaurante colocou uma balança à entrada para tentar impedir algo contraproducente ao negócio: que o cliente não peça demasiada comida.

A disciplina gastronómica faz parte da imagem que o Partido Comunista da China tem cultivado do seu líder, Xi Jinping, um homem que luta oficialmente contra o excesso e a gula. “Cultivem hábitos de consumo frugais e promovam um ambiente social em que o desperdício é uma prática vergonhosa e a frugalidade é aplaudida”, referiu o Presidente chinês num artigo publicado no Diário do Povo.

Política e ecos

O artigo salienta que, “além da ser uma necessidade básica da população, a cultura gastronómica sempre foi muito importante para os chineses”. “Porém, à luz do forte desenvolvimento da indústria alimentar de hoje, o desperdício alimentar tornou-se proeminente”.

O jornal oficial descreve ainda que durante 2018, em média por cada refeição 93 gramas de alimento foram parar ao caixote do lixo, o que representou uma taxa de desperdício de 11,7 por cento. De acordo com um estudo da Academia Chinesa de Ciências e do Fundo Mundial da Vida Selvagem, citado pelo Diário do Povo, entre 2013 e 2015, os consumidores chineses desperdiçaram cerca de 18 milhões de toneladas de comida, o suficiente para alimentar, durante um ano, entre 30 a 50 milhões de pessoas.

É aqui que a política de Xi Jinping enfrenta um obstáculo cultural que ocupa o centro da mesa de qualquer jantar na China. A própria tradição dita que se peça comida em excesso e que o desperdício seja interpretado como demonstração de generosidade em relação a familiares, clientes, parceiros de negócios e convidados especiais.

A mensagem de combate ao desperdício tem sido transmitida de forma mais alargada, apontando no sentido da procura da autossuficiência alimentar principalmente face às disrupções comerciais resultantes do caos geopolítico e das tensões diplomáticas com os Estados Unidos, além das dificuldades trazidas pelas cheias e a pandemia, que podem mexer nas reservas de alimentos.

Tempos complicados

No mês de Julho, o preço dos alimentos na China subiu 13 por cento, em comparação com o período homólogo do ano passado, de acordo com as estatísticas oficiais. O preço da carne de porco, produto essencial, aumentou cerca de 85 por cento no mesmo período em análise, em parte devido ao efeito devastador que as cheias estão a ter nas rotas de abastecimento.

Segundo um relatório divulgado no Diário da Juventude Chinesa (China Youth Daily em inglês), agricultores da província central de Henan, região estratégica no que diz respeito à produção de cereais, admitiram armazenarem grande parte das colheitas deste ano na esperança que os preços aumentem.

É neste contexto que o curioso fenómeno de internet mukbang tem recuado, quase em vergonha, na China. A imagem de uma jovem a sorver quatro quilos de noodles é completamente oposta a esta citação sobre a campanha “prato limpo”, publicada no Diário do Povo: “No prato do jantar, todos os grãos são o resultado do trabalho árduo de alguém”.

Daí que se tenha tornado normal nos últimos dias expressões de arrependimentos dos “reis do estômago grande” chineses. O NYT cita uma autora chinesa que mudou o seu nome de “Big Stomach Mini”, ou mini estômago grande, para o mais austero cognome “Dimple Mini”, ou covinhas mini, numa retração.

A popular vlogger, que chegou a publicar um vídeo em que comeu um carneiro assado inteiro, postou um vídeo a apelar aos fãs que saboreassem todas as dentadas e que levassem para casa as sobras. O vídeo atraiu mensagens positivas de mais de 11 milhões de fãs. A vlogger acrescentou que “não há problema nenhum em apreciar delícias culinárias” e apelou aos fãs para não desperdiçarem ou incorrerem em comportamentos extravagantes.

Covid-19 | China autorizou uso de potencial vacina desde Julho em funcionários hospitalares

[dropcap]A[/dropcap] China autorizou o uso de potenciais vacinas para a covid-19 em funcionários hospitalares, para “casos de emergência”, desde 22 de Julho passado, revelou hoje um alto responsável da Comissão de Saúde do país.

Em entrevista à televisão estatal CCTV, o diretor do Departamento de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão de Saúde, Zheng Zhongwei, revelou que pessoal médico e funcionários das alfândegas foram vacinados.

“Estes grupos foram escolhidos porque têm maior exposição ao novo coronavírus. A maioria dos casos que a China agora regista são importados, então as autoridades fronteiriças são um grupo de alto risco também”, justiçou.

Zheng não detalhou quantas pessoas receberam injecções ou qual a vacina que foi administrada, entre aquelas que o país está a desenvolver. O mesmo responsável acrescentou que o programa de vacinação vai expandir-se para pessoas que trabalham nas indústrias dos transporte e serviços ou nos mercados de rua, para “criar uma barreira de imunidade”.

Zheng indicou que “as vacinas chinesas serão acessíveis ao público”, assim que estiverem prontas e que o preço poderá ser “ainda mais baixo” do que o anunciado, na semana passada, por Liu Jingzhen, o presidente da estatal China National Biotec Group, que faz parte do grupo Sinopharm- Pharmaceutical.

Liu disse que a vacina do grupo vai estar pronta “provavelmente em Dezembro”, a um preço inferior a 1.000 yuan, e que via começar a ser comercializada assim que for concluída a terceira fase de testes, nos Emirados Árabes Unidos.

Outra das vacinas em desenvolvimento pelo país, a do Instituto Científico Militar e da biofarmacêutica chinesa CanSino Biologics, também está na terceira fase de testes, no Paquistão.

Segundo o jornal oficial China Daily, a China tem cinco vacinas candidatas que já passaram, pelo menos, na segunda fase de testes.

O período para uma vacina estar disponível para uso em massa é, por norma, de entre 12 a 18 meses, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pequim acelerou o processo devido à emergência de saúde pública e tem permitido que algumas das fases de teste sejam realizadas em simultâneo.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 805 mil mortos e infectou mais de 23 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Covid-19 | China regista 16 casos nas últimas 24 horas, todos oriundos do exterior

[dropcap]A[/dropcap] China diagnosticou, nas últimas 24 horas, 16 casos da covid-19, todos oriundos do exterior, informaram hoje as autoridades. A Comissão de Saúde da China detalhou que os casos “importados” foram diagnosticados na cidade de Xangai e nas províncias de Fujian, Sichuan, Yunnan, Shanxi e Shandong.

As autoridades de saúde informaram ainda que, nas últimas 24 horas, 30 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infectadas activas no país asiático se fixou em 215, incluindo dois em estado considerado grave.

Desde o início da pandemia, a China registou 84.967 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. As autoridades chinesas referiram que 811.824 pessoas que tiveram contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre as quais 13.220 permanecem sob observação.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 805 mil mortos e infectou mais de 23 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Pelo menos cinco mortos e 17 feridos em ataque à bomba nas Filipinas

[dropcap]P[/dropcap]elo menos cinco soldados morreram hoje e 17 outros militares e civis ficaram feridos num ataque à bomba numa cidade no sul das Filipinas, apesar da segurança reforçada motivada pelas ameaças do movimento extremista islâmico Abu Sayyaf.

O porta-voz militar regional, capitão Rex Payot, e a polícia disseram que as explosões danificaram lojas e dois camiões do exército em Jolo, na província de Sulu. Uma informação inicial indicava que a primeira bomba foi colocada numa motocicleta estacionada.

Uma segunda explosão foi ouvida na zona pouco depois, mas não ficou claro se causou mais vítimas ou danos no centro da cidade, que foi isolado por soldados e polícias. Dois oficiais militares disseram que cinco soldados do exército morreram na explosão inicial, mas não forneceram outros detalhes.

O ataque não foi reivindicado até ao momento, mas os militantes de Abu Sayyaf foram responsabilizados pela maioria dos atentados mortais em Sulu e nas províncias remotas, onde estão presentes.

Os militares estão a empreender uma ofensiva há meses contra o Abu Sayyaf, um grupo pequeno, mas violento, alinhado com o Estado Islâmico e colocado na lista negra dos Estados Unidos e das Filipinas por atentados, sequestros de resgate e decapitações.

Covid-19 | Timor-Leste foi país do Pacífico que mais gastou na resposta à pandemia

[dropcap]T[/dropcap]imor-Leste foi o país do Pacífico que mais gastou na resposta à pandemia, em termos do Produto Interno Bruto (PIB), com a maior fatia em apoio social, segundo um estudo da Universidade Nacional Australiana (ANU).

Em concreto, Timor-Leste gastou na sua resposta à pandemia da covid-19 o equivalente a 8,3% do PIB não petrolífero, mais dois pontos percentuais que o segundo país com mais gastos, Tonga, que dedicou às várias medidas cerca de seis por cento do PIB.

A análise, dos professores Stephen Howes e Sherman Surandiran, foi publicada hoje num blogue do Centro de Política de Desenvolvimento da Crawford School of Public Policy da Universidade Nacional Australiana, em Camberra. O texto compara dados de vários países do Pacífico – Fiji, Papua Nova Guiné, Samoa, Ilhas Salomão, Tonga e Vanuatu e Timor-Leste – e analisa a forma em que os vários países responderam à pandemia da covid-19.

Para isso olha para as percentagens de gastos em seis categorias – saúde, apoio social, apoio às empresas, segurança alimentar, infra-estruturas e outras despesas –, e para o que isso representa em termos de PIB.

Em termos de categorias de gasto, Timor-Leste dedicou cerca de 43% do total da resposta à covid-19 em medidas de apoio social directo a famílias, segundo valor mais elevado atrás do Vanuatu, que dedicou a este componente 72% do total dos seus gastos.

Em média, os gastos líquidos no apoio social foram a principal prioridade deste grupo de países, representando cerca de 22% dos gastos totais dos países abrangidos, acima dos 21% em despesas na saúde, 13% no apoio empresarial, nove% em segurança alimentar e 4% em infra-estruturas.

Admitindo alguma limitação nos dados disponíveis, o estudo coloca uma fatia de 31% em “outras despesas” – que inclui gastos como forças de segurança, medidas de contingência e fundos sectoriais. Os gastos dos países em apoio social representaram 1% do PIB, com as despesas em saúde a ser de 0,5% do produto, e os apoios às empresas a representarem 0,4%.

Em Timor-Leste o apoio social representou 3,5% do PIB com as restantes categorias a ficarem abaixo dos 0,1%. Seis dos sete países reportam gastos em apoio social, apoio às empresas e segurança alimentar, e cinco registaram despesas em saúde, com apenas dois a reportarem despesas com infra-estruturas.

“Este resultado é inesperado porque os países do Pacífico têm sido criticados por terem redes fracas de apoio social financiadas pelo Governo fraco. A maior parte dos países do mundo que não têm um sistema de proteção social em vigor estão no Pacífico”, assinalou-se no estudo.

Ainda que os gastos em apoio social tenham sido uma “clara prioridade”, no estudo notou-se as abordagens “muito diferentes” adoptadas nos vários países.

“Timor-Leste destaca-se tanto por destinar a maior quantidade de fundos para este objectivo (3,5% do PIB), como por adotar uma abordagem universal e não apenas a focar-se no sector formal”, explica-se, indicando um apoio de 200 dólares dado a praticamente todas as famílias do país.

“O facto de Timor-Leste já ter em vigor uma série de pagamentos em dinheiro – a famílias pobres com crianças, veteranos e idosos, entre outros, – provavelmente tornou-o mais inclinado a olhar para além do setor formal. Outros países, no entanto, concentraram-se no setor formal”, refere-se no estudo.

Além de apoio social, Timor-Leste implementou apoio a empresas para a manutenção do emprego, subsídios para electricidade, apoio a estudantes no estrangeiro e subsídios para trabalhadores da linha da frente, entre outras medidas.

No estudo apontou-se, porém, que apesar de positivo, o apoio a famílias levanta “questões óbvias sobre sustentabilidade”, especialmente por durarem apenas três meses.

O Governo timorense está actualmente a incorporar nos Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2020 e 2021 um conjunto de medidas de recuperação económica que vão incluir apoio a famílias e empresas.

Timor-Leste tem actualmente um caso activo de covid-19, com 25 doentes recuperados e está actualmente no quarto período de estado de emergência que o Governo deverá alargar mais 30 dias.

Respiração

[dropcap]P[/dropcap]ara o pensamento arcaico a sede das emoções e da consciência era o diafragma (R. B. Onians 1951). Não era o coração. Muito menos o cérebro. Para os velhos estoicos, o “eu” estava localizado no externo, porque um grego gesticula como qualquer mediterrânico e toca com o dedo no externo quando diz eu ou bate com a mão violentamente no peito para se revelar corajoso. Para nós, contemporâneos, o coração está arraigado nos nossos idiomas. Aprendemos coisas “de cor”, usando a palavra latina no original para coração. Alguém tem bom coração. Há quem não tenha coração. Acedemos ao passado pela memória, mas quando queremos entrar por ele adentro é pela re-cor-dação, um modo de reverberar o coração. O coração bate rápido e depressa com medo e na excitação do amor. Cai-nos o coração ao chão, quando ficamos para morrer, pelo susto que apanhamos. O valente tem coração de leão. Os santos aproximavam-se do santo dos santos com o coração nas mãos, como oferta, símbolo vivo da vida. A simbologia do coração foi destruída (Sloterdjik 1988) com o advento da anatomia contemporânea. Passamos a falar de “máquina”. A metonímia faz perceber que o coração perdeu a riqueza semântica capaz de significar o aprender, o ficar em pânico, sentir-se apaixonado, lembrar-se do passado, ser corajoso, expor-se vulneravelmente à fé em Deus.

Agora, o batimento cardíaco, a pulsação, o ritmo, são interpretados de acordo com a metáfora da máquina como se o coração fosse um motor, com peças substituíveis. O próprio coração pode ser substituído. Não é pessoal nem intransmissível. Já não é pessoal. Lá não estou eu. Nem a quem pertenceu. Um dia poderá ser produzido por material ainda mais consistente do que a carne humana, talvez. Vemos o “coração” como objecto, tal como o coração é, sem aura pessoal, sem metáforas nem símbolos. O ganho claro e maravilhoso da ciência é a perda da metáfora. Onde estou eu senão no coração. A que chamo eu coração então?

Para o pensamento arcaico, era no diafragma que se situavam as emoções e a consciência. Não é metafórico também este pensamento? O que é que eles queriam dizer com isto? No oriente ainda há uma atenção dada à respiração completamente diferente da que lhe damos no ocidente. Os guerreiros árabes antes do combate estavam um dia inteiro a fazer colectivamente hiperventilação. Para se perceber o estado em que ficavam, experimentemos inspirar pela boca e expirar violentamente pelo nariz durante umas 20 vezes. Ficamos embriagados. A oxigenação transtorna. O sangue transforma-se. O batimento cardíaco altera-se. Se googlarmos “The Iceman”, verificamos que Wim Hof tem o mesmo método de respiração com preparação para mergulhar nas águas frígidas que congelariam qualquer um. A respiração Luta/Fuga (ofegante) dá lugar à respiração Sossego/Digestão. O controle da respiração tem de ser feito consoante a situação. Se um perigo nos aparecer não vamos querer respirar como o fazemos depois de um almoço tradicional de domingo ou a dormitar em frente à TV. Se quisermos adormecer, não vamos querer ter uma discussão acesa. Como inverter as respirações? O ponto é este. No controlo respiratório, na sua plasticidade, é possível alterar o estado de espírito.

A palavra para espírito em grego diz-se pneuma, sopro. A vida para os gregos era um sopro. Todas as formas de respiração não são interiores apenas. São o nosso contacto com o mundo exterior, com a atmosfera, com o ar que respiramos. O ar está em nós e fora de nós. Circula através de nós. Inspiramos oxigénio e libertamos óxido de carbono. A respiração tem uma inspiração que não pode ser infinita e uma expiração que não pode ser infinita. Se inspirarmos e não expirarmos ou se expirarmos e não inspirarmos, morremos. É simples.

Qualquer situação tem o seu modo passivo correspondente de respiração. Foi isso que o pensamento arcaico percebeu. No diafragma manifesta-se exteriormente o modo como alguém lida com a situação. Não há interior nem exterior. O ser humano é atmosférico. Há bafos de sorte e podemos ser bafejados. Há algo que “cheira” bem ou mal, que não nos cheira. Sopramos para arrefecer ou bafejamos para aquecer. A palavra para alma em grego, psychê, quer dizer refrescar, sopro vital, dentro de cada um de nós e a envolver-nos a todos nós. Respiramos de alívio, depois de termos ficado sem respirar. Caímos em situações de cortar a respiração. Expiram prazos. Nós próprios entre a primeira inspiração e a última expiração, datamos a entrada do espírito e a saída do espírito.

Deus, dizem, não se manifesta no trovão, nem na tempestade, nem no tremor de terra, nem no fogo, mas no “murmúrio de uma leve brisa”. (1 Reis 19:12).

Malásia | Cientistas pretendem clonar rinoceronte de Sumatra

O último rinoceronte de Sumatra que vivia na Malásia morreu no ano passado, mas cientistas malaios procuram financiamento para recuperar a população da espécie usando uma técnica de clonagem de células-tronco num projecto pioneiro

 

[dropcap]”T[/dropcap]emos confiança na tecnologia para conseguir isso, mas precisamos de cinco milhões de ringgit (um milhão de euros). Estamos a procurar patrocinadores”, disse à agência de notícias EFE Muhammad Lokman, investigador da Universidade Islâmica Internacional da Malásia.

Após o seu desaparecimento na Malásia, apenas cerca de 80 rinocerontes de Sumatra (“Dicerorhinus sumatrensis”) permanecem na Indonésia e estão “perigo crítico” de extinção.

Lokman afirmou que já receberam cerca de um milhão de ringgit (cerca de 200 mil euros) do Governo da Malásia e preservaram tecidos vivos de diferentes órgãos como rins, fígado, pele ou coração dos últimos três espécimes de rinoceronte que morreram no país.

Uma equipa liderada por Lokman está a trabalhar para obter óvulos de um rinoceronte africano no zoológico de Kuala Lumpur com a intenção de fertilizá-los com células somáticas dos espécimes extintos. “Extraímos o núcleo dos óvulos e inserimos as células somáticas (dos rinocerontes extintos) para que no óvulo se desenvolva num embrião que possamos transferir para o útero de um animal substituto, que pode ser outra espécie de rinoceronte ou outro mamífero como um cavalo”, explicou Lokman. O objectivo é clonar pelo menos cinco ou seis exemplares para garantir a reabilitação da espécie na Malásia.

Dias contados

Esta técnica foi usada para clonar a ovelha Dolly, em 1997, mas é a primeira vez que foi aplicada para reviver espécimes extintos num determinado local.

O projecto de clonagem começou depois de Imam, o último rinoceronte de Sumatra na Malásia, ter morrido de cancro aos 25 anos em Novembro do ano passado. A morte de Imam, uma fêmea, na província malaia de Sabah, na ilha de Bornéu, chocou muitos malaios e a comunidade de cientistas e conservacionistas, depois de o último macho da espécie ter falecido seis meses antes.

Os últimos 80 exemplares desta espécie, a menor entre os rinocerontes, medindo até 1,3 metros de altura na cernelha, eram encontrados principalmente na ilha de Sumatra e, em menor extensão, na parte indonésia de Bornéu.

A Indonésia também abriga o rinoceronte de Java (“Rhinoceros sonicus”), a espécie de rinoceronte e provavelmente o mamífero mais ameaçado do mundo, com apenas 70 espécimes restantes na ilha de Java.

De acordo com a organização não-governamental Save the Rhino International, também existem cerca de 3.500 rinocerontes indianos na Ásia, enquanto que em África existem entre 5.300 e 5.600 rinocerontes pretos e entre 17.000 e 18.000 rinocerontes brancos.

As maiores ameaças aos rinocerontes são a caça furtiva – principalmente para recolher os seus chifres, muito procurados pelos consumidores da medicina tradicional -, bem como a perda de ‘habitat’ natural.

Tecnologia | Utilizadores do WeChat nos EUA e TikTok processam Trump

Utilizadores do WeChat nos Estados Unidos estão a processar Donald Trump, numa tentativa de bloquear a ordem executiva que, segundo defendem, impediria o acesso à aplicação chinesa de mensagens extremamente popular nos EUA. Entretanto, a TikTok vai também avançar com uma queixa contra o Governo norte-americano

 

[dropcap]A[/dropcap] queixa, registada na sexta-feira em São Francisco, foi apresentada pela organização sem fins lucrativos “US WeChat Users Aliance” e várias outras pessoas que dizem confiar na aplicação para trabalhar ou manter contacto com familiares na China, garantindo que não são associados ao WeChat, nem à Tencent, multinacional chinesa que detém a aplicação.

Os utilizadores recorreram a um tribunal federal e pretendem impedir a ordem executiva de Trump, alegando que a mesma viola a liberdade de expressão dos utilizadores dos Estados Unidos, o livre exercício da religião e outros direitos constitucionais.

Em 6 de Agosto, Donald Trump assinou uma ordem executiva a proibir transações com os proprietários chineses do WeChat e de outro aplicativo de consumo popular, o TikTok, defendendo que ambos são uma ameaça à segurança nacional, política externa e economia norte-americanas. O chefe de Estado falou de uma “emergência nacional” e acusou a rede social TikTok de espionagem de utilizadores norte-americanos em nome de Pequim, num contexto de crescentes tensões comerciais e políticas com a China.
As ordens executivas devem entrar em vigor em 20 de Setembro, ou 45 dias a partir da data de emissão.

O tico e o teco

A aplicação chinesa de partilha de vídeos TikTok, acusada de espionagem pelo presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que vai avançar na próxima semana com uma queixa contra o Governo dos Estados Unidos.

“Para garantir que a lei é cumprida e que os nossos negócios e utilizadores são tratados de forma justa, não temos escolha a não ser contestar a ordem executiva (assinada pelo senhor Trump) através do sistema judicial”, afirmou o grupo, numa declaração enviada à agência de notícias francesa AFP.

Na quarta-feira, o Presidente dos Estados Unidos disse apoiar uma oferta da Oracle para a compra do TikTok, apesar de estarem já em curso negociações com a Microsoft, segundo a Bloomberg.

Segundo a agência de notícias económicas, a empresa informática Oracle, cujo presidente, Larry Ellison, ofereceu milhões de dólares em fundos para a campanha presidencial de Trump, estará na corrida para a aquisição das actividades do TikTok nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

A administração Trump deu 90 dias ao grupo chinês proprietário do TikTok, ByteDance, para vender rapidamente as operações da rede nos Estados Unidos, sob pena de as bloquear no país.

Miguel Oliveira conquista primeira vitória portuguesa em MotoGP

[dropcap]”F[/dropcap]izemos história, hoje, para Portugal”, afirmou ontem Miguel Oliveira (KTM), após ter conquistado a primeira vitória de um português no Mundial de MotoGP, ao vencer o Grande Prémio de Estíria, na Áustria.

“Não sei o que dizer, estou muito emocionado. Há tanto que gostaria de dizer. Quero começar por agradecer a toda a gente que acreditou em mim, a começar pela família, à equipa, os patrocinadores, os fãs portugueses, mostrámos que somos os melhores”, começou por dizer o português, após o triunfo na quinta prova da temporada.

Prosseguindo com o agradecimento ao “apoio” dos adeptos, Miguel Oliveira destacou o feito, inédito, do motociclismo nacional. “Fizemos história, hoje, para Portugal. Não podia estar mais feliz por tê-lo conseguido aqui em casa da Red Bull e da KTM”, sublinhou o piloto da Tech3.

Miguel Oliveira, que cumpre a segunda temporada em MotoGP, tinha como melhor resultado o sexto lugar no Grande Prémio da República Checa, em Brno, disputado em 9 de Agosto último.

O português seguia no terceiro lugar e, na última curva do circuito de Spielberg, aproveitou a ‘luta’ entre o australiano Jack Miller (Ducati) e o espanhol Pol Espargaro (KTM) para vencer a corrida.
Miller, que terminou no segundo lugar, felicitou Oliveira, destacando “a importância da vitória do Miguel para Portugal”.

Tudo começou com Miguel Oliveira a partir do sétimo lugar da grelha, conquistando várias posições na segunda partida, para as últimas 12 voltas, depois do acidente do espanhol Maverick Viñales (Yamaha).

Orgulho oficial

Com este resultado, Miguel Oliveira somou 43 pontos e subiu do 14.º ao nono lugar da classificação de pilotos, que continua a ser liderada pelo francês Fabio Quartararo (Yamaha), com 70, mais três do que o italiano Andrea Dovizioso (Ducati).

A próxima etapa do Mundial de MotoGP, que vai terminar em Portimão, em 22 de Novembro, está marcada para 13 de Setembro, em Misano, em Itália.

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto classificou como “extraordinária” a vitória de Miguel Oliveira (KTM) no Grande Prémio de MotoGP de Estíria, considerando que esta “enche de orgulho o país”.

“A vitória na Áustria, apenas na sua segunda época na prova rainha do motociclismo e a correr numa mota que não é de fábrica só confirma o que há muito sabíamos: O Miguel Oliveira é um piloto extraordinário”, afirmou João Paulo Rebelo, em declarações à agência Lusa.

O governante, que endereçou os parabéns ao piloto da Tech3, referiu que o triunfo no Grande Prémio de Estíria, em Spielberg, na Áustria, na quinta prova do campeonato, “enche de orgulho o país e o motociclismo nacional”.

Símbolos da nostalgia

“(…) onde estão as boas pessoas quando acontecem coisas más? Quando acontecem coisas más, as boas pessoas ou estão caladas ou então a agir mal”
George Orwell (1903 – 1950)

 

[dropcap]A[/dropcap] geometria do vazio traz consigo escolhas de vida, gestos variados, sentidos diversos – um mundo de passagem. São ciclos de vida. “Envelhecendo eu revelo o meu carácter não a minha morte”, até porque, e segundo Max Weber (1864 – 1920), “os homens já não morrem saciados da vida, mas simplesmente cansados”.

As sociedades modernas quebraram, fruto do tédio, do privilégio e da agonia intelectual. Não alimentamos os sentimentos. Não se cresceu com o que se aprendeu. É triste. O medo faz parte da estratégia – “este não é tempo para a indiferença” -, o medo paralisa o Homem, a Humanidade. George Orwell usa esta sugestiva frase: “O importante não é manter-nos vivos, é manter-nos humanos”.

Paramos, bloqueamos. O medo é uma infecção contagiosa. O medo ajuda a impôr as ditaduras.
O que nos dizem e como nos dizem, o que existe e como existe, o que fazemos e como fazemos, está certo? Não podemos cristalizar o desejo, a escolha, a opinião. Temos de pensar de mente aberta e criativa. Temos de descobrir algo de novo e pungente a cada dia. Acabar com estes caminhos obscuros de fragmentos de ignorância.

Não há presente sem futuro – “um futuro que se constrói igual ao passado, não é futuro e por isso não tem futuro” -, só que a raiz dos males futuros está a ser plantada (?) nos erros que se cometem no presente. Percebem?

Somos de hábitos sem grandes vícios. Existimos.
Franquear fronteiras?
À fé? À fantasia? Ao pecado? À caridade? À fraternidade?

Há uma peça belíssima de Alves Redol (1911 – 1969), justamente apelidada de “Fronteiras Fechadas”, editada postumamente, em 1972. Relembro aqui o autor de “Barranco de Cegos”, após anos de ausência, não só pelo Homem, um dos grandes entre os maiores do Neorrealismo, mas sobretudo pelo seu carácter, já que, ao longo da sua obra, sempre tentou ser “um operário das letras ao serviço de uma obra artística colectiva”.

Temas quentes nessa peça do autor de “Gaibéus”: a coragem de quem passa fronteiras clandestinamente à procura de uma vida melhor e/ou a fuga da opressão – cinco mulheres – a condição feminina; as ideologias; a cláusura; o enriquecimento ilícito dos traficantes; a avareza. Apesar dos anos, “Fronteiras Fechadas” mantém uma grande actualidade, também porque os grandes temas de Alves Redol foram, são e serão sempre, aos olhares atentos, temas do presente. As suas grandes questões são políticas, económicas, sociais e culturais – faltou-lhe a questão da saúde.

No passado dia 10 de Junho, nas “Comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas”, o Cardeal José Tolentino de Mendonça deixou uma mensagem em que alertava para os perigos do modelo de sociedades que se estão a construir, palavras que merecem uma reflexão. E passo a citar “O desafio da integração é imenso porque se trata de ajudar a construir raízes e essas não se improvisam: são lentas, requerem tempo, políticas apropriadas e uma participação do conjunto da sociedade” e, acrescentava, “Sem compaixão e fraternidade fortalecem-se apenas os muros e aliena-se a possibilidade de lançar raízes. A comunidade não se reforça esquecendo as periferias, mas fazendo delas motor da sua própria coesão”. É preciso que a identidade germine e o orgulho de pertença cresça, para que todos nós – sem excepção de credos e etnias -, possamos participar no bem comum da cidade.

Razão que persiste e se perpetua. Ao espanto ou desencanto? Ao desencontro ou ao encontro?
Para quando a confissão dos pecadores e/ou perdão dos hereges?

Onde estão os “sacerdotes” da ordem e do poder? Por onde se passeiam os perdedores do culto das palavras, vãs e inúteis?

Não esperem um novo ciclo de “Concertos da Vida”. A época foi adiada.
A incompetência não é negociável, até lá, as ideias continuarão a ser uma forma de contaminação e intimidade. Até quando?

Estamos a viver uma fase crítica. Recuamos no tempo. Vivemos numa época subordinada aos três movimentos de Newton (1643 – 1727), que são as leis de base da mecânica clássica: aceleração, reacção e inércia. Haja saúde!

“O Mundo é o que é, os humanos que não são nada, que se permitem não ser nada, não têm lugar neste mundo.” V.S. Naipul (1932 – 2018)

Dia acima

[dropcap]T[/dropcap]odos os dias um estado inicial. Uma exaltação de sentidos a reter. A rever. A esquecer ou a ignorar. A libertar. A procurar. Uma estrutura e tudo reside aí, mesmo no mistério do caos. E até para as leis da gravidade há um antídoto que nos protege de afundar terra adentro, forças em equilíbrio. Sobra o etéreo mas férreo domínio das ideias. Como perscrutar os pontos cardeais. Uma orientação física no universo de extensões em que se distende o pensamento. Como viadutos sobrepostos.

O que se procura em frente. Quando se caminha – foge. A fuga para a frente, é ter o acordar congénito de todos os dias. Temer a queda. Esquecendo que um percurso, como um passado estimado ou não, retoma o seu lugar de partida, onde chega por inerência do que se é e da eterna questão que se revolve por detrás de brumas, mas volta. Volta irreversivelmente em qualquer curva distraída. Às vezes como uma terra estranha. E lastro, esse passado, mas necessário à definição de futuro. De sentido. Sem peso a mais nem a menos.

Sempre esta impressão de que é ascendente, o dia. Como a acompanhar o sol na sua ilusória subida no horizonte, levando consigo a inclinação das plantas, porque é natural e o olhar de algumas. Uma inclinação que dificulta, ou a subida para uma ideia acima e uma etapa a conquistar. Difícil. Carregamos sobre os ombros o peso de tudo o que temos e tudo o que não temos. Dos que nos amam e dos que não nos amam.

Dos que nos respondem e dos que não nos respondem. Do que fizemos e do que não fizemos e de uma relação estranhamente aleatória entre as coisas e a reacção do mundo a umas ou outras. Num requebro amargo, como ombro amigo, de vez em quando, penso nos que se recusam a perdoar. O que lhes fizemos e a si próprios o que nos fizeram. Neste mundo de humanos e de ideias. Os seus duplos em palco ou sombras produzidas para dentro. Anjos que se recusam a salvar ou que se lhes acalme as feridas. Não são anjos, simplesmente dores. E nenhum anjo gosta de as ser, nem o humano de as ter.

O mito do peso. Do que é árduo de levar e do esforço sem recompensa. De novo o Sisifo. E a pedra que carregamos dia acima. Com o peso dos sentidos e da procura obsessiva mas também o deslumbramento de encetar o dia novo das mesmas questões, com a possibilidade de um olhar lavado. Pequenas tonalidades a diferenciar uma cor forte da véspera. O que parecia definitivo, a mudar com a luz, a diluir com uma lágrima, que mancha inesperada a forma global. Uma nódoa que desfeia. Poeiras que atenuam. Um redundante início, como uma emenda ao inevitável. As inércias inalteráveis e as predisposições difíceis de mover. Ou em face de Jano, deus das transições, a contemplar o que ele vê: passado e futuro. As portas, sempre entrada para o que se entrevê ou saída em renúncia. Um início ou um fim. Um olhar como da primeira vez. Porque da véspera não transitou um sentido.

O meu ombro está carregado. É isso. Do peso que obriga a procurar. E peso é essa força da gravidade boa, que nos mantém ligados a terra. Comprometidos.

Um novo registo: peso e medida. O que é o peso que nos arrasa os ombros e nos curva para a frente e dói. O que é a medida certa. Um artefacto de alumínio, de boca em corte oblíquo e que se enterra fortemente numa saca de arroz para dizer um litro e o que pagar por um litro. De assentimento e continuação De lealdade. De amor ou amizade.

E o que são dois pesos e duas medidas, nesta economia de trocas? Há uma ética. Estruturas, preconceitos. A diferença entre estar fora ou por dentro a subverter. Ou, afinal e dizendo melhor, alicerces. Que nos ajudaram a construir e que é necessário verificar. A sua própria corrosão a abalar o todo. Existem sempre. mas temos talvez desonestidade afectiva. Podemos deixar de parte preconceitos éticos e analisar. Quem tem, por pequena que seja, uma dose de poder, esquece o poder que esse poder tem, ou não esquece, e faz justiça ou injustamente o usa. Com critérios restritos e orlas que se quedam de fora. Favorecimento ou prejuízo. Num exercício simultâneo de coragem e cobardia. A coragem de fazer bem fazendo mal, a coragem de fazer mal e a cobardia de não fazer bem. Ou de não fazer bem nem mal. O que às vezes é bem e outras vezes é mal. É arrasador verificar até à profundidade do sentir. O que se desculpa e o que se institui como culpa.

Um estudo diário que sintetiza as estruturas confortáveis e estabelecidas. Ética, moral, todos os dogmas, egoísmos. Afectos. Um Deus que não ajuda mas pune. E à sua semelhança um mundo que parece castigar diariamente, por causa desconhecida. E nos devolve a desconfiança de que algo teremos feito mal. A culpa desde os confins do tempo, que advém desta procura, destes erros ou de um gesto sem intenção. Mas nenhum gesto é inocente. Nenhum vazio. Rebelamo-nos desde cedo. Tudo é útil, nos sentidos que nos propõe e tudo é contestável. Há que fazer as contas. Escrever o sentido. Caminhar sobre ele.

Acordo de madrugada e abro a janela às flores que me alegram os olhos e me prendem. De uma utilidade por defeito e que não é sentido nem ofício, mas a inerência do seu papel no equilíbrio de tudo. Essa utilidade que não temos. E se não temos, não há equilíbrio no desgaste que produzimos ao todo.

Aquieto-me. Sinto. Faço isto todos os dias muitas vezes. É talvez só isto que faço e o resto são intervalos. Ficar quieta e pensar que é isto viver. Olhares circulares por aquilo que me cerca, as flores, as dificuldades das minhas flores, o mistério das portadas a regular o sol que até ele pode ser demais neste habitat construído para descansar os olhos. Distrai-los, serenar a respiração que tende a sinais de inquietação. Paro todos os dias porque algo em mim dispara todos os dias. Um disparate de sentir. Uma pele mista de zonas frágeis e de carapaças. Porque, por mais que acorde de madrugada, com o dia ainda a custar a romper das sombras do sono, tenho sempre à beira a desconfiança de que o dia traz a dúvida de sempre. Como resolver a questão? A do sentido e da inutilidade de tudo. Esta procura de definição de sentido. Assim uma coisa como: temos que ser livres, ser felizes. Úteis. Por exemplo.

Os portos francos de Macau

[dropcap]A[/dropcap]inda antes de João Maria Ferreira do Amaral ser nomeado Governador-Geral da Província de Macau, Timor e Solor, o que ocorreu a 22 de Dezembro de 1845, já Macau no mês anterior se tornara porto franco. A 20 de Novembro, “por Decreto da Rainha a Senhora D. Maria II, referendado pelo Ministro da Marinha e do Ultramar Joaquim José Falcão, foram declarados francos ao comércio de todas as nações os portos de Macau, – tanto o interno, denominado do rio, como os externos, da Taipa e da Rada, – podendo ser neles admitidas a consumo, depósito e reexportação todas as mercadorias e géneros de comércio, sem pagamento de direitos”, segundo Marques Pereira. Assim, Ferreira do Amaral trazia já como propósito fazer uma fortificação na Taipa quando tomou posse a 21-4-1846.

A Taipa, Tanzai para os chineses, era então formada por duas ilhas, Taipa Grande separada da Taipa Pequena por um canal de mar. O Governador Ferreira do Amaral encarregou o então Capitão do Porto, Tenente Pedro da Silva Loureiro, para levar a cabo a construção da fortaleza na ilha da Taipa Pequena, de frente para a Fortaleza do Bom Parto em Macau, e localizada “na Xisha, ou Ponta do Areal Ocidental”, como refere Pedro Dias, que lembra, “Na verdade o Governador José Gregório Pegado tinha iniciado em 1842 conversações com o Vice-Rei de Cantão, ou alto-comissário imperial Ki-Ying, com vista à ocupação e posse efectiva da ilha, sendo tal desiderato facilitado pelo governante cantonense. Três anos depois, o Governo de D. Maria II declarou o Porto da Taipa como porto franco, tal como já era o de Macau” desde 4-10-1844. O porto da Taipa era onde hoje está o Campo da Corrida de Cavalos, refere Domingos Lam. Ferreira do Amaral em 1847 tomou posse da ilha e “decidiu-se pela efectiva ocupação, com a construção de uma fortaleza,” onde foi hasteada a bandeira portuguesa a 9 de Setembro desse ano.

A Taipa, cuja entrada se assemelha a um semicírculo, era designada na dinastia Ming por Long Wan e o Mou Tai Miu, construído em 1488 e dedicado ao deus da Guerra, era o templo mais antigo da ilha.

Nos finais do século XVII outra referência à Taipa, quando a população da ilha recebeu mal o ancorar de um barco inglês. Passou a ser porto de aguada aos navios que daí seguiam para em Cantão comerciar, quando em 1717 o governo chinês proibiu os juncos dos mercadores chineses de comercializarem com estrangeiros, exceptuando Macau, o que traz à cidade um novo dinamismo. Benjamim Videira Pires refere, em 1717 “a Cidade do Nome de Deus recebeu, transmitida pessoalmente pelo Vice-rei de Cantão, a seguinte ordem do Imperador Kang-shi (Kangxi, 1662-1722): . Por influência, contudo, do jesuíta, Pe. André Pereira, conseguiu-se isentar Macau dessa lei, facto que trouxe, de novo, à Cidade, durante quatro anos, o monopólio do comércio externo da China, sobretudo com Batávia”. Já Pedro Dias ressalta, nesse ano, a ordem do Imperador da China “mandando que todos os navios que desejassem subir para Cantão, até ao porto de Whampoa, tivessem que embarcar um ou mais intérpretes e um piloto nesta ilha, autorizando simultaneamente que os habitantes locais fizessem trocas comerciais com os passantes.”

“Inicialmente, antes dos portugueses se interessarem em ocupá-la, só era habitada por pescadores congregados em pequenas aldeias, como as de Linjiacun e Zuojiacun”, prossegue Pedro Dias, que refere, “Em meados do século XIX a Ilha da Taipa passou a ter algum comércio, com mercados e lojas, seis templos e uma igreja católica. O seu ancoradouro principal, conformando uma baía pequena e suave, era refúgio seguro contra as forças da Natureza, e até assaltantes, para muitas dezenas de barcos de pesca.”

Expulsão do Mandarim

O Capitão-de-Mar-e-Guerra Ferreira do Amaral era maçon e viera como Governador preparar a colónia a tornar-se politicamente independente do governo chinês e logo concebeu o plano de despojar o Mandarim de parte dos poderes de que estava revestido, ampliando a esfera de atribuições da Procuratura, único tribunal em Macau para julgamento de chineses. Segundo Carlos José Caldeira, ordenou “a supressão dos direitos de tonelagem, chamados medição, que abusivamente se cobrava para o imperador, sobre os navios portugueses, que entravam no porto de Macau” e “mandou fechar definitivamente a Alfândega Chinesa de Macau”, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, ter o Governador a 5 de Março de 1849 proibido aos Hopus de Macau “cobrarem quaisquer direitos às mercadorias exportadas de Macau para os portos da China, pedindo ao Vice-Rei de Cantão que mandasse retirar os funcionários chineses que exerciam os seus cargos em Macau, dentro do prazo de oito dias.”

Assim foi abolido de Macau o Hopu, Alfândega Chinesa, o qual já só exercia jurisdição no Hopu Grande da Praia Pequena (Largo da Ponte e Horta), o mais antigo e importante da cidade, pois o Hopu Pequeno da Praia Grande, de menor importância, encerrara em 1847.

Como o Vice-Rei de Cantão não ordenara a retirada dos funcionários do Hopu, a 12 de Março o Governador mandou fechar a porta principal do Hopu Grande e colocou em frente um piquete de soldados e uma canhoeira de mar “para protegerem o desembarque de todas as mercadorias e víveres, acabando assim com o último vestígio da interferência chinesa na administração desta Colónia.”

Encerrada a alfândega chinesa em Macau, os funcionários desta repartição foram expulsos. “O governo de Cantão respondeu com a transferência dos mercadores chineses para Huangpu, o que resultou na depressão do comércio em Macau”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra.

Sendo Macau porto franco, tornava necessário a supressão da alfândega portuguesa [criada em 1784], única fonte até ali da receita pública. Para remediar a precária situação financeira, o Governador logo estabeleceu um novo sistema de impostos, reformando em vários pontos outros ramos da administração, e reduziu as despesas dela a dois terços do que antes consumia.

Ainda em 1849, decretava o fim do pagamento do foro pelo arrendamento de Macau, assente desde 1573, e tomou posse de toda a península, tornando-a colónia portuguesa. O mandarim, com jurisdição em Macau sobre os chineses, fugiu para Chin-san e o Procurador ficou então também com esse encargo.

A 22-8-1849, junto à povoação de Monghá o Governador Ferreira do Amaral foi assassinado por sete chineses. Segundo João Guedes, estes pertenciam à Sociedade dos Rios e dos Lagos (ou Irmandade dos Primogénitos), no que parece ter sido a primeira grande manifestação de força das seitas em Macau. A 16 de Setembro, o Vice-Rei da Cantão participou ao Conselho Governativo de Macau ter sido já preso e executado Sen-Chi-Leong, o verdadeiro assassino do Governador, cuja mão e cabeça levadas para Cantão e expostas pelas ruas, foram restituídas a Macau em 16 de Janeiro do ano seguinte.

Cinema | InspirARTE em Festa com oito filmes destinados a jovens

Voltado para crianças e adolescentes, o “Cinema InspirARTE em Festa” apresenta filmes que exploram relações interpessoais, luta contra injustiças e aventuras segundo perspectivas de realizadores de diferentes países

 

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do “Cinema InspirARTE em Festa”, que se realiza entre quinta-feira e domingo, tem oito filmes dedicados ao público mais novo. Organizado pelo Centro Cultural de Macau (CCM), o evento traz perspectivas fílmicas de outros países, como a França, República Checa, passando pela Noruega e pela Rússia. O festival aposta na projecção de filmes dirigidos a crianças, a partir dos 3 anos, e a adolescentes. Em comunicado, o CCM descrever o cinema como o “espaço onde a imaginação corre à solta e as possibilidades são infinitas”.

“Passando valores como a amizade, empatia e respeito pelos outros, algumas destas histórias também poderão incentivar à autodescoberta. Sejam estas inspiradas em acontecimentos reais ou de ficção, tanto os pequeninos como os mais crescidos acabarão por descobrir que os problemas são muitas vezes mais simples de resolver do que possam pensar”, descreve o CCM na sua página electrónica.

Entre as histórias que vão passar no ecrã do CCM está a “Balada do Tibete”, galardoado com o título de melhor filme do 13º Festival Internacional de Cinema Infantil da China. É inspirado na aventura verídica de um grupo de crianças invisuais tibetanas que viajou do Monte Evereste à cidade de Shenzhen, para cantar num concurso de talentos televisivo. Thupten quer ver o mundo antes de perder por completo a visão, e guia os seus companheiros cegos em direcção à cidade vizinha.

A mostra de cinema traz de volta ao ecrã personagens já conhecidas, como a Abelha Maia, que em “Jogos de Mel” ofende uma governante quando se insurge contra a exigência de metade da produção de mel reverter para os cofres imperiais. As histórias dos Moomins surgem no ecrã depois de uma nova adaptação feita por Tove Jansson, que acompanha o crescimento de Moomintroll.

Relacionamentos e aventuras

O evento arranca na quinta-feira, com a exibição de “O Príncipe Perdido”, às 19h30. O filme aborda a dinâmica familiar entre Djibi e a sua filha Sofia, de oito anos. O pai assume o papel de príncipe encantado na “Terra dos Contos”, onde vão à noite antes de a menina adormecer. “Cinco anos depois, Sofia afasta-se das histórias do pai, inventando os seus próprios contos. À medida que o seu papel, tanto na vida real como na Terra dos Contos, começa a mudar, Djibi tem de encontrar forma de permanecer o herói da sua filha”, descreve o site do CCM.

A encerrar o programa está “Harvie e o Museu Mágico”, no domingo às 17h. A narrativa da melhor longa-metragem de animação do Festival Internacional de Cinema Infantil de San Diego 2018 é passada à volta de Harvie, um rapaz que gosta de jogos de computador, que acidentalmente faz com que peças de um museu de marionetes ganhem vida.

Os outros filmes que integram o programa são “Rocca Muda o Mundo”, “Klara a Super Estrela” e “Agência de Detectives Jerry e Maya – O Primeiro Mistério”.

Os bilhetes custam 60 patacas. Apesar de a mostra de cinema terminar no domingo, o site do CCM aponta para a possibilidade de se comprarem bilhetes para sessões adicionais a partir de segunda-feira. De acordo com as orientações do CCM, o uso de máscara é obrigatório durante o evento, e vão ser impostas medidas de distanciamento social.

UNESCO | Governo diz que pagamento de dívidas está em curso

O pagamento da dívida de cerca de 25 mil patacas de Macau à UNESCO está a ser processado. As contribuições de dois anos às Nações Unidas estão em atraso, mas a RAEM pagou uma quantia idêntica referente à anuidade da Organização das Cidades Património Mundial

 

[dropcap]É[/dropcap] incerto quando será feito, mas o pagamento das dívidas de Macau à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) está em andamento. “O pagamento está em processamento”, respondeu o gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura ao HM. Em causa estão 3.118 dólares americanos (cerca de 25 mil patacas) que deviam ter sido pagos pela RAEM como contribuição para o orçamento regular enquanto membro associado da organização.

O Jornal Tribuna de Macau avançou que as contribuições estavam em falta em Junho. Desde então, os relatórios semanais da UNESCO não apontam mudanças à situação de Macau, cujo último pagamento foi feito em Fevereiro de 2018. As 25 mil patacas em falta correspondem à soma das anuidades de 2019 e deste ano.

Até 13 de Agosto, as dívidas dos diferentes membros à UNESCO atingiram 157 milhões de dólares americanos, dos quais mais de 26 milhões são contribuições em falta até ao final do ano passado. Em 2020, só 47 por cento dos membros apoiaram a organização, apesar do esquema de incentivo que concedia desconto nas contribuições de 2022 a quem saldasse todas as dívidas até 29 de Fevereiro.

Investimento em nova organização

Se de um lado há dívidas, do outro há investimento. Macau aderiu este mês à Organização das Cidades Património Mundial (OWHC), que é composta por mais de 300 cidades com sítios incluídos na Lista do Património Mundial da UNESCO. As vantagens de integrar o organismo estão dependentes do pagamento de uma anuidade – e a RAEM já pagou a sua para 2020. O Governo pagou uma taxa de 3.111 dólares americanos à OWHC, indicou o Instituto Cultural ao HM.

“Todas as cidades membro têm o direito de votar na nossa Assembleia Geral, e podem participar em todos os nossos programas e actividades, a nível regional e global”, respondeu a OWHC sobre os benefícios que Macau passa a ter. Os direitos da RAEM passam pela participação em projectos como o prémio Jean-Paul-L’Allier e “Youth on the Trail” para o património, bem como acesso a apoio financeiro para a participação em actividades da OWHC, especialmente congressos mundiais. As cidades membro que deixam de pagar perdem acesso a alguns dos serviços.

Na página electrónica da OWHC, são apresentados critérios para o registo de Macau. Aponta-se que tem uma “localização estratégica” e que a relação entre as autoridades chinesas e portuguesas “favoreceram ao longo de vários séculos um importante intercâmbio de valores humanos nos diversos domínios da cultura, ciências, tecnologia, arte e arquitectura”. O seu testemunho do encontro entre o Ocidente e a China ao longo de séculos e a arquitectura que o representa também mereceram menção, bem como o intercâmbio entre civilizações cujas ideias “motivaram diretamente a introdução de mudanças cruciais na China”.