Vacinas | Alvis Lo diz não ser necessária autorização de administração urgente Salomé Fernandes - 9 Dez 202014 Dez 2020 Depois de o Governo ter anunciado a chegada este mês de vacinas de emergência para o pessoal da linha da frente, o médico Alvis Lo Iek long disse que não é necessário autorizar a administração urgente. As vacinas vão ser gratuitas para residentes e tomadas de forma voluntária O Governo anunciou, no debate das Linhas de Acção Governativa, que iam chegar este mês vacinas urgentes para o pessoal da linha da frente, como médicos, enfermeiros e bombeiros. No entanto, o médico Alvis Lo Iek Long afirmou em conferência de imprensa na segunda-feira que a situação do território não requer a sua administração. “Com a actual situação epidémica de Macau, não é necessário que seja autorizada administração urgente da vacina”, diz uma nota do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Em comunicado, indica-se que as vacinas encomendadas por Macau incluem diferentes técnicas de produção e que não serão obrigatórias. “Alvis Lo sublinhou que a introdução de vacinas por parte do Governo da RAEM terá como grande princípio a sua segurança e a eficácia, e que a vacinação terá como pressuposto a voluntariedade”, descreve. A distribuição das primeiras vacinas vai ser ajustada de acordo com a quantidade, mas mantém-se a prioridade de vacinação para os trabalhadores da linha da frente, ou residentes com necessidade de se deslocarem ao estrangeiro. O médico escudou-se em acordos de confidencialidade relacionados com negociações comerciais assinados com diferentes laboratórios para não dar pormenores sobre a quantidade e calendários de aquisição de vacinas. De acordo com a TDM Rádio Macau, Alvis Lo Iek Long reconheceu que numa fase inicial a maioria das pessoas pode esperar por ter receio, e que os residentes serão incentivados a tomá-la, mas garantindo que não vão ser usados meios de obrigatoriedade. Além disso, confirmou que as vacinas serão gratuitas para residentes, deixando para o futuro se a isenção de pagamento também se vai aplicar a trabalhadores não residentes. Autorizações e rejeições Até dia segunda feira foram recebidos 139 pedidos para entrada de 158 indivíduos em Macau. Recorde-se que a partir deste mês os estrangeiros que tenham estado no Interior da China nos 14 dias antes de entrarem em Macau podem entrar no território, mediante uma aprovação prévia do Governo que é cedida em situações excepcionais, como reunião familiar, actividades profissionais ou educacionais. Dos pedidos registados, 20 foram autorizados e 11 foram rejeitados por não cumprirem os requisitos. Por outro lado, desde o início da pandemia até domingo já 20.376 pessoas foram encaminhadas para quarentena. Na segunda feira estavam em observação médica 1.492 indivíduos, duas em instalações dos Serviços de Saúde e as restantes nos hotéis designados. O Grande Coloane Resort voltou a fazer parte dos hotéis usados para quarentenas, com 200 quartos disponíveis. Entre 30 de Novembro e 6 de Dezembro foram testadas mais de 97 mil pessoas em Macau, e submetidas 807 pessoas a observação médica. Macau não regista casos importados de covid-19 há mais de 160 dias.
Diplomacia | Rita Santos quer usar posição internacional para promover Macau João Santos Filipe - 9 Dez 202014 Dez 2020 Os novos membros do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas foram recebidos por Edmund Ho, que considerou os cargos uma forma de ajudar o país Rita Santos acredita que os cidadãos de Macau podem ser uma força no âmbito das relações internacionais. A mensagem da vice-presidente do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas foi deixada num encontro com Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo e um dos vice-presidentes da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Num encontro em que participarem os outros três membros de Macau nomeados para o organismo com ligações à ONU, Marco Ting, Herman Ng e Joyce Wong, Rita Santos comprometeu-se diante do ex-chefe do Executivo a fazer “o seu melhor para demonstrar que os cidadãos de Macau são capazes de dar o seu contributo no âmbito do trabalho internacional”. Ao mesmo tempo, a responsável afirmou que no âmbito da diversificação económica haverá oportunidades para o desenvolvimento de mais empresas europeias na RAEM, em áreas como o sector financeiro, a medicina e ainda a alta tecnologia. Mas as trocas, no entender de Rita Santos, não funcionam apenas num sentido e haverá oportunidades para as empresas da RAEM. Segundo a também conselheira das comunidades portuguesas, o Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China das Nações Unidas vai trabalhar com o objectivo de criar uma “série de plataformas de intercâmbio”, que irão permitir às empresas locais participar nos negócios entre a Europa e África. Na vertente cultural, Rita Santos explicou a Edmund Ho que existe a esperança de que o Centro venha a organizar visitas de estudo para os residentes locais se deslocarem à Europa de modo a “expandirem a sua perspectiva internacionalmente”. Promoção da RAEM Por sua vez, o ex-Chefe do Executivo, Edmund Ho, elogiou as nomeações de Rita Santos, Marco Ting, Herman Ng e Joyce Wong para o Centro e considerou tratar-se de “uma óptima oportunidade para a participação nos assuntos internacionais”. Segundo Ho, esta é ainda uma oportunidade para “promover as características da população da RAEM” e “desenvolver um bom trabalho” no Departamento dos Assuntos Económicos e Culturais do Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural entre a China e a França. O vice-presidente do CCPPC elogiou ainda o papel do Centro que caracterizou como uma “organização internacional influente das Nações Unidas” e “uma ponte importante entre a França e a China”. Edmund Ho apontou ainda que a cooperação é cada vez mais importante “especialmente nos dias de hoje em que a situação internacional tem sido muito complicada”. Neste sentido, salientou que os quatro convidados recebidos podem “dar um bom contributo para o desenvolvimento do país”.
Estudo | Maioria dos inquiridos desconhece “habitação para classe sanduíche” Hoje Macau - 9 Dez 202014 Dez 2020 A Associação Love Macau, de Cloee Chao, realizou um inquérito sobre o conceito de “habitação para a classe sanduíche”, cujos resultados foram ontem apresentados. Cerca de 70 por cento dos inquiridos nunca ouviu falar da ideia associada a uma classe média que não cumpre os requisitos para se candidatar a uma habitação pública e que não tem capacidade para adquirir casa no mercado privado As dificuldades começam logo pelo conceito em si. Cerca de 70 por cento das pessoas ouvidas no âmbito de um inquérito realizado pela Associação Love Macau, da activista Cloee Chao, nunca ouviu falar do conceito de “habitação para a classe sanduíche” ou não sabe bem o que isso significa. O estudo, ontem apresentado em conferência de imprensa, foi realizado a partir de meados de Outubro e tem como base 783 inquéritos válidos. Segundo Cloee Chao, esta foi uma das principais dificuldades encontradas para realizar este inquérito. “Muitos participantes não souberam responder, ou porque não têm nenhuma ideia sobre o que é a habitação para a classe sanduíche, ou porque não sabem sequer da existência deste conceito.” Cloee Chao admitiu que este estudo não pode representar as posições de toda a população porque a maioria dos residentes inquiridos não revelou conhecimentos suficientes sobre a habitação para a classe sanduíche. Lei Man Chao, vice-presidente da direcção da associação, acredita que o conceito de habitação para a classe sanduíche é confundido com o de habitação económica. Nesse sentido, o responsável sugere que o Governo, após implementar as devidas regulamentações ao nível dos terrenos e dos critérios de candidaturas, deixe a habitação para a classe sanduíche desenvolver-se no mercado privado de forma liberal. Mais T2 Outros resultados do inquérito mostram que 55 por cento dos inquiridos deseja ver construídos mais apartamentos T2, enquanto que apenas 39,97 por cento quer ver mais fracções de tipologia T3. O estudo mostra ainda que mais de 60 por cento dos participantes quer que os candidatos a este tipo de habitação não tenham imóveis em seu nome antes da candidatura. Além disso, quase 80 por cento dos participantes defende que as candidaturas só devem estar abertas a residentes permanentes.
Hong Kong | Os primórdios da educação de matriz portuguesa Andreia Sofia Silva - 9 Dez 202013 Dez 2020 Jason James Santos, cidadão português a residir em Hong Kong, fez um levantamento exaustivo, no âmbito de uma tese de mestrado, sobre as escolas de matriz portuguesa criadas em Hong Kong no período compreendido entre 1841 e 1941. Da existência de “escolas livres”, fundadas por portugueses, a situação evoluiu para a fundação do Colégio de São José e Colégio La Salle, que ainda hoje existem e se destinam apenas a rapazes A data da ocupação britânica do território de Hong Kong, em 1841, coincide com o início da aposta não apenas numa educação de matriz protestante, mas também católica. Foi nessa altura que começaram a aparecer as primeiras escolas de matriz portuguesa. Estas e outras informações constam no ensaio “Portuguese Education in Colonial Hong Kong – 1841-1941”, elaborado por Jason James Santos no âmbito de uma tese de mestrado que o académico está a desenvolver na Universidade Nova de Lisboa. Jason James Santos é professor do ensino secundário em Hong Kong. Este é um passo que nunca tinha sido dado, tendo obrigado Jason James Santos a enfrentar vários desafios durante a pesquisa de material. “Fiz um levantamento que nunca tinha sido feito, e mesmo no que toca à história de Hong Kong, na versão inglesa, tem havido muito pouco interesse nesta área. Fiz um levantamento muito simples, mas exaustivo, dos registos públicos que existem em Hong Kong”, contou ao HM. Essa viagem no tempo levou-o a descobrir que, nas primeiras décadas da Administração britânica de Hong Kong, as escolas portuguesas proliferavam, mas pouco se sabia sobre elas. Eram as chamadas “Free Schools” [Escolas Livres] e delas apenas se sabe a rua, o nome do director e o número de alunos. “Qualquer pessoa poderia abrir uma escola, em qualquer lugar, até em casa. Não havia controlo. Temos um sem número de escolas que existiam porque alguém tinha dinheiro e vontade de o fazer. As esposas de quem tinha dinheiro e que tinham disponibilidade para dar aulas, abriam uma escola.” Desta forma, no período compreendido entre 1849 e 1854 havia “uma série de escolas na mesma rua”, pelo que é possível que “a comunidade portuguesa estivesse concentrada na mesma zona”. Essa rua era a Wellington Street, hoje situada na zona central da ilha de Hong Kong. “Na primeira década temos escolas com 20 alunos, e algumas notas referem tratar-se de uma escola portuguesa, cujo director é o senhor João Pereira. Os alunos eram europeus, de educação católica, e havia 20 alunos do sexo masculino. São os únicos registos existentes”, frisou Jason James Santos. A supervisão dos conteúdos didácticos ou do ensino não existia. “Nas primeiras décadas da colónia não existia um departamento público destinado à educação, e foram os portugueses que impulsionaram a educação na colónia. Só em 1860 é que os britânicos sentiram necessidade de ter um pouco de controlo em relação ao que se estava a passar em termos de educação”, contou o investigador. A falta de supervisão explica os registos bastante vagos sobre a época. “[Numa das notas] surge o senhor J.J. Silva e Sousa como director de uma escola com 50 alunos, e depois surge a senhora J.J. Silva e Sousa como directora de uma outra escola, na mesma rua, só para raparigas.” Ainda assim, Jason James Santos acredita que neste período o ensino do inglês seria muito importante. “Quando se cria o secretariado da educação, já sob alçada do Governo colonial britânico, o primeiro secretário para a educação diz que é obsceno os alunos que estão a receber educação em Hong Kong não saberem falar inglês. Isso está numa carta que consta nos arquivos.” Além disso, “uns anos mais tarde, há um grupo enorme de portugueses que se juntam à Administração colonial britânica, ocupando uma série de cargos importantes, e que necessitam de falar inglês”. É também no ano de 1860 que é fundada o St. Saviour College, uma “escola comercial para a comunidade portuguesa”, lê-se no documento produzido por Jason James Santos. “Nos primeiros anos da nova colónia, alguns indivíduos e mesmo famílias inteiras mudaram-se para Hong Kong em busca de trabalhos com maior reputação com a Administração colonial ou para desenvolver negócios no novo entreposto comercial do Império Britânico. Em alguns casos, a transferência de Macau para Hong Kong foi determinada por entidades que desejavam transferir completamente as suas operações.” O Colégio de São José A ocorrência de um violento tufão, no ano de 1874, que afectou bastante Macau, levou muitas famílias a partirem para Hong Kong. O que seria uma mudança temporária acabou por se transformar numa residência permanente até à II Guerra Mundial. Neste período, “temos escolas com muitos mais alunos”. A partir da década de 70 do século XVIII surgem “uma série de escolas importantes”, sendo uma delas o Colégio de São José, que abre portas em 1875 e que à época se chamava Colégio de São Salvador. “Toda a informação que existe sobre esta escola está nos cofres do colégio, até ao dia de hoje. E o acesso não é facilitado. Vi alguns documentos quando lá trabalhei. A qualidade dos documentos é terrível, têm documentos com mais de 100 anos de idade dentro de sacos de plástico”, referiu. O Colégio de São José está localizado na Kennedy Road, em Central, e apenas aceita rapazes, estando no ranking das melhores escolas do território vizinho. Mas voltando às décadas de 70 e 80 do século XVIII, altera-se a designação de “Free Schools” para Escolas Portuguesas Privadas. Mantinha-se a génese de escolas profundamente elitistas e com separação de sexos, um modelo que ainda hoje persiste em Hong Kong. A Victoria Portuguese School Os arquivos revelam que, em 1914, é criada a Victoria Portuguese School, ainda que não se conheça a sua localização. Na década de 90 do século XX o nome é alterado para Nova Escola Portugueza. Em 1906 surge uma nova instituição de ensino, a “Equal Portuguese School” que tinha “as mesmas pessoas” da Victoria Portuguese School, e que mais tarde viria a chamar-se “English School for Portuguese”. Há depois uma terceira vaga de escolas portuguesas, onde se inclui a fundação do Colégio La Salle, em Kowloon, e que mais não era do que uma extensão do Colégio de São José. “Em 1932 passa a ter o nome de Colégio La Salle e depois tornou-se a escola com maior reputação em todo o território. Na década de 30 tinha quase mil alunos, o que para a época era um número impressionante. O Colégio de São José tinha cerca de 200.” Depois da II Guerra Mundial começaram a escassear as escolas de matriz portuguesa no território, o que coincide com a saída de muitos membros das comunidades portuguesa e macaense de Hong Kong, devido ao conflito mundial. Ainda assim, Jason James Santos destaca um “caso estranho e muito mal explicado” ao qual promete regressar nesta ou numa outra investigação: o da Escola Camões, que ainda hoje existe mas que está ligada ao ensino inglês e chinês, tendo mantendo apenas o nome. “Esta escola surge nos anos 50 e, segundo os seus estatutos, um grupo de portugueses queria reabilitar a educação portuguesa no território. Falei com professores que lá trabalharam que me disseram que o seu ordenado era pago pelo Estado português.” Jason James Santos estranha este caso após décadas de escolas portuguesas privadas. “No século XIX era tudo privado, e depois no século XX temos alguns registos de apoio financeiro vindo do Governo de Macau. O próprio Governador de Macau fez algumas visitas a Hong Kong na primeira metade do século XX e havia algum financiamento. No pós-II Guerra não há nenhuma ligação, mas estes professores juram que o seu ordenado era pago pelo Estado português”, rematou Jason James Santos.
O lado positivo Hoje Macau - 9 Dez 202014 Dez 2020 José Carlos Matias elogia trabalho jornalístico na cobertura da pandemia O presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), José Carlos Matias, considerou que o “jornalismo, a boa informação e a responsabilidade social dos jornalistas” destacaram-se num ano de desafios colocados pela covid-19. “Celebramos este aniversário no final de um ano em que enfrentámos, todos na sociedade, vários desafios resultantes da pandemia da covid-19. O jornalismo, a boa informação e a responsabilidade social dos jornalistas emergiram aos olhos de todos como um bem público precioso”, disse à Lusa José Carlos Matias, por ocasião do 15.º aniversário da AIPIM. Para o responsável, o sector dos média em português e inglês e a AIPIM beneficiaram muito com o “desenvolvimento extraordinário” da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) nos últimos 15 anos. José Carlos Matias destacou os laços com os meios de comunicação social e associações locais em língua chinesa, bem como o apoio e diálogo com “o Governo, instituições e sociedade civil, numa dinâmica bastante positiva ao longo dos anos”. Este foi um aspecto destacado pelo chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, numa mensagem de felicitações enviada à AIPIM. “A AIPIM tem estado empenhada em servir a RAEM, contribuindo para a sua harmonia e estabilidade, e aproveito esta oportunidade para lhe desejar os maiores sucessos no futuro”, escreveu. Com cerca de 100 associados, o responsável da AIPIM salientou ainda a “cooperação muito relevante no âmbito da União de Beneficências das Associações de Trabalhadores da Comunicação Social de Macau, bem como cações de formação para profissionais e palestras abertas ao público, na procura “de servir a RAEM e o jornalismo local de várias formas”. José Carlos Matias indicou ainda os “laços importantes” com associações de jornalistas dos países lusófonos. Na segunda-feira, no Clube Militar de Macau, a AIPIM festejou formalmente o 15.º aniversário, na presença de várias dezenas de convidados, associados e representantes de associações locais.
Transporte marítimo | Abertura para pedidos de novas carreiras Andreia Sofia Silva - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo está disposto a abrir novas carreiras marítimas com cidades do sul da China e já terá recebido um pedido de uma concessionária. A informação foi avançada na sexta-feira por Susana Wong, directora dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água. No então, a responsável não adiantou qual foi a concessionária que fez o pedido. “Uma companhia de navegação pretende criar uma nova carreira até à China e entendemos que somos capazes de angariar novas carreiras com as cidades do sul do Delta [do Rio das Pérolas]”, disse Susana Wong. Também o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que é “possível abrir mais rotas se as regiões vizinhas concordarem”. “Podemos abrir mais rotas nos terminais marítimos”, frisou. Susana Wong adiantou que “devido à pandemia o número de passageiros caiu bastante”. “Neste momento não temos planos para criar um novo terminal [marítimo], mas estamos a ver como podemos aproveitar os actuais terminais marítimos”, concluiu.
Na prisão ao telemóvel Hoje Macau - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]H[/dropcap]oje vou escrever-vos sobre um tema a quem ninguém agrada. Sobre as prisões em Portugal. A maioria dos portugueses não faz a mínima ideia das condições em que vivem os reclusos. Não vou defender criminosos, como os homicidas de mulheres e de crianças, os assaltantes de velhos com noventa anos para lhes roubar a pequena reforma ou os pedófilos que violam crianças de três anos que são suas enteadas. Se estão presos é porque foram sentenciados pelos tribunais, apesar de sabermos que muitos inocentes passaram anos e anos no interior de um presídio. Um director de uma cadeia convidou-me para visitar o seu local de trabalho e para que eu acreditasse com os meus olhos nas condições depauperadas que existem no interior de um estabelecimento prisional. Passei o dia na conversa com o director falando sobre o que se passa no nosso Portugal presidiário e duas horas sobre a cadeia que dificilmente dirige. Não sabia, por exemplo, que entre os criminosos havia estatutos de certa “ética” e “moral”… só vos digo que um indivíduo que tenha matado a mulher ou violado uma criança, que sofre no interior da prisão aquilo que nunca imaginou. Passam a ser criados dos outros presos para todas as tarefas, são alvo de pancadaria mal “metem o pé na poça”, são alvo de actos sexuais de todo o género, nomeadamente, terem de fazer diariamente sexo oral a um qualquer preso que lhe apeteça. Estatutos que variam conforme as cadeias espalhadas pelo país e há cadeias onde os pedófilos sentem todos os dias um pau a ser-lhes enfiado pelo ânus ou andar com um peso metálico atado ao pénis. O interior das cadeias é mesmo tenebroso. Os prisioneiros organizam-se em mafias, alguns deles que já anteriormente pertenciam ao crime organizado. Há mesmo sentenciados com dez e quinze anos de detenção que controlam e gerem negócios que se processam no exterior tais como os de tráfico de droga e de prostitutas. A higiene nas cadeias é um horror e as casas de banho são de tal forma que nem os porcos lá entravam. Algumas das celas são desumanas, não são para um ser humano dormir juntamente com a sanita que nem água deita. Os recreios são normalmente momentos de conspiração para o que acontecerá nos próximos tempos no interior da prisão e para aqueles que vão sair em liberdade. Os presídios em Portugal têm necessidades de toda a ordem. A alimentação é do pior que possam imaginar. O director mostrou-me a cozinha e confessou que se sente impotente para gerir as dificuldades que se lhe deparam por falta de verba e de pessoal competente. Quem dirige uma prisão tem forçosamente de ter um grupo de guardas prisionais de confiança. Grupo esse que tem de ter todas as benesses que entender, dias de folga nas datas que melhor lhes convier, liberdade para insultar ou agredir um prisioneiro, venderem aos reclusos os telemóveis topo de gama, fecharem os olhos aos bolos que as visitas transportam e que contêm no interior objectos letais. O director a dado momento disse-me o que me fez quase duvidar da sua palavra, apesar de ter dado a sua palavra de honra. “Sabe que se algum preso quiser fugir é coisa que consegue quando lhe apetecer. É só pagar a certos guardas prisionais. Eles é que nem casa têm lá fora e aqui têm cama e comida”. Obviamente que a conversa tinha de deambular para os guardas prisionais, para a sua formação, para a sua seriedade, para o seu salário, para as suas ligações ao mundo do crime e para a falta de pessoal, cujas organizações do tipo sindical estão sempre a reivindicar melhores condições de trabalho e um aumento substancial no número de activos e de justeza nas suas carreiras profissionais. O meu interlocutor é uma pessoa muito séria e trabalhadora. Às sete horas já está no gabinete de trabalho e na maioria dos dias só se retira para casa às vinte horas. Foi sério a responder-me a todas as perguntas e sobre os guardas prisionais não deixou de responder concretamente às questões mais melindrosas. Se os reclusos vivem num submundo, há guardas prisionais que não lhes ficam atrás. Há poucos dias soubemos que na cadeia de Paços de Ferreira havia guardas prisionais que geriam uma rede de tráfico de droga juntamente com alguns funcionários do estabelecimento prisional, corrupção com lucro exorbitante. Era um negócio que se fazia quase diariamente e há muito tempo. Os reclusos recebiam droga e telemóveis que eram colocados no interior do presídio por, pelo menos, quatro guardas prisionais. Apenas três foram presentes a julgamento porque o quarto morreu no entretanto, sem ter sido divulgada a razão do óbito. Os contactos entre guardas e familiares de alguns presos tinham lugar no exterior da cadeia e era aí que eram entregues os objectos proibidos. Negócios como estes estão enraizados em todo o país onde exista uma prisão, incluindo as de mulheres. Chega-se ao ponto de se namorar por telemóvel em vídeo-conferência de uma cadeia de mulheres para outra de homens. E não escrevo da tutela? Da Justiça? Não, não escrevo, porque o director que me recebeu, os presos e os guardas prisionais afirmam que a tutela vale zero. *Texto escrito com a antiga grafia André Namora
Colon e o Tratado de Tordesilhas José Simões Morais - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]N[/dropcap]o regresso da inaugural viagem às Índias, Cristóvão Colon chegou a Lisboa em Março de 1493 e, apesar de andar ao serviço de Espanha, visitou primeiro o Rei de Portugal D. João II e os seus matemáticos que, já antes dele partir, conheciam a existência de um continente no outro lado do Atlântico. Sabia-se também estar a Índia a 135º Leste de Espanha, logo Colon para aí chegar por Oeste precisara de ter viajado 225º. No mapa de Henricus Martellus do ano de 1489 aparecia o Oceano Índico já como um mar aberto, mas sem representação entre o Atlântico e a costa da China, e apresentava 24 fusos horários para os 360º da divisão da Terra, correspondendo cada fuso a 15º. O matemático cosmógrafo e navegador Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), autor do De Esmeraldo Situ Orbis, calculara o valor do grau de meridiano e o perímetro da Terra pelo Equador em 40.001 km; diferença de menos 74 km da actual. Os portugueses tinham transposto a linha do Equador em 1471, quando João de Santarém e Pêro Escobar encontraram o arquipélago de São Tomé e Príncipe e fruto da viagem de pesquisa de José Vizinho, em 1485 ficou pronta a Tabela da Altura do Sol no Equador. Nessa data, os físicos de Portugal, o cristão Rodriguo, o judeu Josefe e Martim de Boémia, criaram o astrolábio náutico. A chegada de Colon às Índias aguçou o apetite de Espanha nas viagens marítimas, enquanto a prioridade dos portugueses estava no explorar a Sul e a Sudeste do Atlântico para descobrir os ventos e correntes a facilitar o navegar até ao Índico e assim, abrir por Leste a rota para a Índia. “Portugal decidiu oferecer à Espanha um vasto território onde não existia qualquer comércio estabelecido, nenhuma cidade desenvolvida e nenhum porto construído para acolher navios, mas era perfeito para manter entretidos os exércitos de uma Espanha unificada, que ali iria ficar ocupada por largos tempos. Funcionou. A Espanha atirou-se à conquista do Novo Mundo…”, segundo Manuel da Silva Rosa, de quem provém muitas das informações encontradas no livro Portugal e o Segredo de Colombo, (Alma dos Livros, 2019), que revela ser Cristóvão Colon provavelmente Segismundo Henriques Jagiellon, neto do Infante D. Henrique. O Infante tivera uma relação com uma mulher da família Sá-Colonna e daí nasceu a Senhorita Anes, que se casou com o Rei Ladislau III da Polónia, Lituânia e Hungria, conhecido em Portugal por Henrique Alemão. Antes de partir para a segunda expedição, Cristóvão Colon recomendou à Rainha D. Isabel de Castela falar ao Papa Alexandre VI [o espanhol Rodrigo Borgia eleito em 1492] para criar um meridiano a dividir o mundo por conhecer entre a Espanha e Portugal. A inicial proposta portuguesa, não aceite por Espanha, foi dividir a Terra por meio dum paralelo traçado pelo Sul das Canárias, (que o Papa dera aos espanhóis o senhorio), ficando estes com a parte setentrional, excluindo-se contudo os Açores, pertença de Portugal, a quem cabia o hemisfério austral. A segunda viagem começou a 25 de Setembro de 1493 e desta vez seguiam três naus e catorze caravelas. Avistou as Pequenas Antilhas e foi a Martinica e depois para Norte chegou a Porto Rico. Voltou a Hispaniola (Haiti e Santo Domingos), mas a colónia fora arrasada pelos indígenas e deixando o seu irmão Bartolomeu com uma nova leva de homens, Cristóvão Colon rumou para Oeste, onde encontrou a Jamaica. Fundou La Isabela na actual Santo Domingos, República Dominicana, e regressou a Espanha em 1496. Desta vez trazia prova assinada na altura por os capitães dos barcos como, após explorar ao longo da costa [oriental de Cuba] e sem lhe ver fim, encontrara as costas do continente asiático, próximo da Aurea Chersoneso – (península de Malaca e Bornéu), registada por Ptolomeu com informações indianas chegadas a Alexandria. TRATADO DE TORDESILHAS O Papa Alexandre VI (1492-1503), por bulas Inter coetera de 3 e 4 de Maio de 1493, propôs aos reis da Península Ibérica criar um meridiano a 100 léguas para Oeste dos Açores e Cabo Verde, cabendo as terras ‘descobertas e por descobrir’ situadas a Oriente dessa linha a Portugal e para Ocidente, à Espanha. Ajudado nas complexas negociações por Duarte Pacheco Pereira, D. João II acreditava poder forçar D. Isabel de Castela a deixar-lhe um pedaço maior no Atlântico e propôs ser-lhe dado mais 120 léguas para Oeste, mas com a linha a ser medida desde Cabo Verde. As 100 léguas para Oeste dos Açores correspondiam a partir de Cabo Verde a 250 léguas, o rei português pedia agora 370 léguas para Oeste de Cabo Verde. Apenas mar para os espanhóis, mas permitia a Portugal ter no seu espaço um pouco da ainda então desconhecida terra de Vera Cruz. Procurando deixar de fora das conversações o Papa, em 1494 D. João II assentou directamente com os Reis Católicos [título concedido por o Papa em 1496 a Fernando de Aragão e a Isabel de Castela] o meridiano que pretendia, a dividir as duas zonas de influência. Com esta linha divisória foi assinado o Tratado de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494. Relativamente a esse meridiano, a passar a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde, o mundo ficava dividido entre o hemisfério ocidental para Espanha e Portugal com o oriental, sem saberem onde calhava essa fronteira no outro lado do mundo. A linha do Tratado correspondia hoje à longitude de 50º e o desvio mais para Oeste foi o suficiente para abranger no espaço português o Nordeste do Brasil, mas não a Terra Nova, que ficava já no lado espanhol. AS RESTANTES VIAGENS DE COLON Cristóvão Colon só chegaria da sua segunda viagem em Março de 1496, tendo até aí apenas contacto com os caraíbas das ilhas, experimentando o tabaco e visto animais, desconhecidos para os europeu, como papagaios, periquitos e perus e talvez provado alguns produtos da alimentação local como milho, mandioca, feijão, tomate, batata, abóbora, ou o ananás. A 30 de Maio de 1498, Colon iniciou a terceira viagem com seis naus e rumando a Cabo Verde, daí atravessou o Atlântico para Oeste numa atribulada navegação e encontrou a ilha da Trinidad. Depois, pisou pela primeira vez o continente. Voltou a São Domingos, em Hispaniola, onde na sua segunda viagem deixara o irmão Bartolomeu à frente da primeira colónia espanhola nas Américas e rumando a Sul, atingiu a 1 de Agosto de 1498 a costa da actual Venezuela. Procurava agora o estreito a dar passagem para o Índico. Regressou em 1500 à Hispaniola e entrou em conflito com o governador Francisco de Bobadilla, que enviou Colon com o seu irmão presos para Castela, mas logo à chegada foram libertados. Entre 1502 e 1504, a quarta e última viagem de Colon, que saiu de Cádis com quatro naus e avistou a Jamaica, andou no Yucatán, México e após uma grande tempestade chegou à pequena ilha de Guanaja nas Honduras. Avistou as costas da Nicarágua, Costa Rica e Panamá, mas com as naus muito maltratadas voltou a Hispaniola, de onde regressou a Espanha. O seu filho Diogo seria depois governador de Hispaniola. Cristóvão Colon morreu em Valladolid a 20 de Maio de 1506.
Horas Anabela Canas - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]À[/dropcap]s vezes este silêncio novo da cidade. Como uma atmosfera fina em que pequenos sons esparsos se fazem notar. Passos. Um esvoaçar mais nítido. Estalar manso de pequenas matérias, que sobe aos andares acima da rua, um carro que acorda ao longe a face habitual. Motores geradores exaustores e outros incómodos roedores da floresta urbana, dormem por agora esquecidos do seu trabalho de atordoar. Surgem mais tarde, atrasados mas infalíveis como a natureza a acordar. E as pessoas invisíveis. Quase o marulhar dos lençóis afastados aqui e ali. Uma roupa sacudida do torpor, uma máquina de café. Uma frescura inicial, sempre, a da manhã. O piar de pássaros como uma primavera fora do sítio. Sinos, depois. São dez horas. Horas e meias horas. Catorze horas e aquela sensação de não haver deveres urgentes a distrair a mente desta espécie de desnecessidade estranha e culpada. Dezoito e quinze e a luta contra a falta de vontade das inúmeras coisas da vida pendentes a precisar de um v de efectuadas. Coisas indizíveis de pequeninas e tirânicas e mesquinhas etapas para o momento seguinte simplesmente com a sensação, aí sim, de estarem feitas, na sua insignificante e vazia importância. Coisas a despender o tempo e a cumpri-lo. Se nenhum relógio consegue tornar substância o tempo, como o podem os inúmeros ângulos aprisionados de passagem pelos olhos, os incontáveis objectos tocados e movidos, os sons alinhados na sua vizinhança aleatória, os passos na casa percorrida às quinze horas já de quilómetros. Dezanove e treze, ainda se espera algo que seja mesmo não mais que somente uma faúlha. A empurrar a vida para um pouco mais à frente. Vinte e duas. A inspirar fervorosamente os segundos e a adiar um pouco mais o jantar como o fecho da emissão. É difícil explicar como ainda se espera que uma coisa pequenina e ínfima – e porque só dessa escala se trata de esperar – aconteça vinda como estrela cadente com a proporção exacerbada pela luz, a parecer maior e mais bonita e luminosa ou acontecida a rasgar o negro do que for. Sim mesmo se somente uma dessas evanescentes estrelas cadentes a colher esta inexistência e a pedir um desejo. Vinte e três e dezoito. Quase a arrumar o dia e a recolher para dentro. O que foi como um intervalo. Na sala que ninguém acede e que é ausente de todos os trabalhos os bons e os maus. Uma distracção a acompanhar o jantar sempre atrasado e uma distância final, de tudo, que mesmo à ideia de que algo poderia chegar é já quase avessa. O dia terminado. Uma parte da casa adormece mais cedo e a outra acende-se em tons baixos e silenciosos. Uma será já difícil de acordar, como criança de sono bom, a outra será difícil de levar para a cama como uma que nunca quer dormir. Jantar tardio. Um copo de água à beira da cama – depois – não vá aquela sede imensa a desarrumar o sono, dar azo a pensamentos que se querem livres da realidade. No silêncio muito se dissolve, ou deveria dizer: dilui. Mas também muito de subtil se torna visível. Como as noites de aldeia em que o céu é repleto de todas as estrelas de sempre mas que na poalha luminosa que se evapora dos poros citadinos, não se deixam ver. Há sempre um médium no qual algo acontece. O solvente. Há uma certa poesia nas qualidades objectivas da matéria. Dissolver: desorganizar, estragar, corromper, dissociar, dispersar, misturar num meio em qualquer estado. Diluir é acrescentar solvente, logo diminuir a concentração do soluto, cuja massa se mantém inalterada. Volume e concentração são inversamente proporcionais. Por isso diria que no silêncio tudo se dissolve e dependendo do grau de diluição, o sabor, o perfume ou as qualidades dos reagentes, tornam-se mais ou menos evidentes. Mas se de vida se tratar, sendo o silêncio o solvente, pode acontecer que as partículas se tornem mais óbvias. Dependendo da sua massa e capacidade de dissolução. Se estas características são inversamente proporcionais pode acontecer uma enorme subtileza na matéria por entre o silêncio e entre isso e a inexistência ser possível a confusão. A ilusão de um vazio total, apenas porque as partículas são ínfimas, ao nível do átomo invisível ao olho, mas inexoravelmente existente e poderoso. A televisão continua a desfiar coisas e vidas. Isso, fora de horas. Depois outra vez seis e meia. Sete, nove.
Cinemateca | Filmes de Taiwan em destaque nas selecções de Dezembro Pedro Arede - 7 Dez 20208 Dez 2020 Em vésperas de Natal, o cartaz da Cinemateca Paixão inclui duas obras de Taiwan que prometem dar que falar por prescindirem do uso da palavra em prol da imagem e do silêncio. Há películas do campo do fantástico e está ainda previsto um seminário sobre direitos de autor dedicado aos produtores locais no próximo sábado [dropcap]H[/dropcap]á histórias sem uma única palavra, criaturas fantásticas, humor negro e clássicos para lembrar que o Natal está aí à porta. Ao todo, o cartaz de Dezembro da Cinemateca Paixão inclui seis novas selecções, que colocam o cinema de Taiwan em destaque, com a inclusão de duas obras da Ilha Formosa. A primeira a merecer realce pela ousadia de prescindir de qualquer diálogo ou do uso de palavras é “Days”. Realizado pelo malaio Tsai Ming-Liang, “Days” testemunha, em silêncio, o encontro feliz de dois homens sozinhos numa terra estranha. Através da imagem, Kang e Non partilham lentidão, fragilidade e esperança antes de voltarem à sua rotina. “Days” será exibido na Cinemateca nos dias 8 (19h), 10 (21h30) e 18 (19h). Também de Taiwan directamente para a travessa da Paixão virá “The Silent Forest”. Realizado por Chen-Nien Ko “The Silent Forest” leva o espectador a conhecer de perto a vida de Chang Cheng, um adolescente surdo que, após ser transferido para um estabelecimento dedicado a crianças com necessidades especiais, é confrontado com um problemático e violento jogo, que rapidamente dissemina o medo entre os alunos. A obra de Chen-Nien Ko pode ser vista nos dias 9 e 20 às 19h, no dia 12 às 21h e nos dias 15, 17 e 30 às 21h30. De Taiwan, o cartaz da Cinemateca vai ainda à Coreia do Sul para apresentar o clássico de 1998 “Christmas in August”. O drama realizado por Hur Jin-ho, aborda a vida agri-doce de Jung-won, o proprietário de um estúdio fotográfico que descobre ter uma doença terminal pouco depois de encontrar o amor da sua vida. “Christmas in August” será exibido nos dias 13 (21h), 18 (21h30), 26 (16h30) e 30 (19h30) de Dezembro. No campo do fantástico, destaque ainda para produção espanhola e norte-americana “A Monster Calls”, de Juan Antonio Bayona. Longe do pai e a lidar com a doença da mãe e o bullying de que é alvo na escola, Conor O’Malley, de 12 anos, vai viver com a avó e cedo encontra refúgio no desenho e no seu imaginário. A aventura começa quando a criatura que idealizou ganha vida. “A Monster Calls” pode ser visto na Travessa da Paixão nos dias 16 e 24 de Dezembro às 19h. O cartaz de Dezembro é completado pelos filmes “Not Quite Dead Yet”, uma produção japonesa realizada por Shinji Hamasaki e ainda por “Tangerine”, realizado pelo norte-americano Sean Baker e cujo enredo é passado na véspera de Natal da turbulenta vida de Sin-Dee Rella, um transgénero que ganha a vida através da prostituição. Conhecer os direitos No próximo sábado, a Cinemateca Paixão irá ainda acolher um seminário dedicado aos direitos de autor na área do audiovisual. A iniciativa destina-se aos produtores locais e, segundo um comunicado oficial, tem como objectivo dar a conhecer os direitos que os profissionais detêm sobre as suas obras, sobretudo porque a publicação de trabalhos “em diferentes plataformas”, tem vindo a aumentar Dado que a pirataria não se limita só a produtos físicos como CD’s ou DVD’s, o seminário “Entretenimento & Leis dos Direitos de autor, Filme & Televisão” irá contar com a advogada local, Annie Lao, para partilhar informações, como a “definição de violação de direitos de autor, precauções ao usar obras de outras pessoas” e ainda “métodos para proteger os direitos de autor. A participação no seminário, que inclui tradução simultânea de cantonês para inglês, é gratuita e as inscrições podem ser feitas por email até quinta-feira.
Táxis | Agnes Lam diz que taxa de 300 patacas é “injusta” Andreia Sofia Silva - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] deputada Agnes Lam disse na sexta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), que a implementação de uma taxa mensal de 300 patacas a pagar pelos taxistas pelo uso do sistema inteligente nos veículos é uma medida “injusta”. No dia anterior, a deputada acompanhou um grupo de taxistas na entrega de uma petição na sede do Governo. “Dez patacas representa dez por cento do rendimento diário dos taxistas. Concordamos que este sector necessita de ser fiscalizado, mas não podemos punir todos os profissionais do sector. Eles não foram ouvidos e isto é uma injustiça. Parece pouco dinheiro, mas com o tempo este dinheiro significa muito. Será que o Governo pode suspender esta medida? Isto é extremamente injusto.” Os representantes do Governo lembraram que, o ano passado, os deputados não só discutiram este ponto como o aprovaram. “Quando elaboramos o regulamento administrativo em Maio de 2019 foi divulgada esta informação, não é uma novidade”, disse Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas. Lam Hin San lembrou que “todos são interessados” e que o pagamento da taxa é da responsabilidade do portador do alvará. “Nas reuniões das comissões da AL discutimos a nível técnico a gravação do som e imagem. Como seriam feitos uploads imediatos dos dados e os custos eram elevados, os deputados concordaram em usar este método”, rematou.
Secretário diz “não conseguir dar detalhes” sobre rede 5G Andreia Sofia Silva e Pedro Arede - 7 Dez 20208 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário lamentou não ter mais informações para adiantar acerca processo de implementação da rede 5G em Macau. Em resposta a Joye Lao, que procurou saber porque é que as Linhas de Acção Governativa (LAG) da tutela são omissas sobre o tema, Raimundo do Rosário afirmou ter “pena” por não conseguir adiantar mais detalhes, apontando, contudo, que o Governo não pretende, para já, fazer “um grande investimento”, na implementação de uma tecnologia que é, já de si, dispendiosa. “Vamos ver como é que conseguimos evitar que o menor investimento do Governo tenha um impacto negativo”, acrescentou. Raimundo do Rosário sublinhou ainda que o contrato com a CTM vai terminar no final de 2021, aspecto referido durante as intervenções de Wong Kit Cheng, Ma Chi Seng, Agnes Lam e Chan Hong. Entre as preocupações dos deputados estavam eventuais perigos relacionados com radiações devido à construção de estações em edifícios residenciais e a manutenção do monopólio da CTM quanto ao aluguer das estações. Na resposta, Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações, afirmou esperar que os activos da CTM “sejam libertados para a utilização de outras operadoras” e que a posição será de “abertura”. Sobre a questão da radiação, Derbie Lau afirmou que “se todos os moradores aceitarem a instalação de estações”, várias entidades académicas estarão incumbidas de “proceder a estudos”. “Se podemos instalar [as estações] em edifícios do Governo porque não podemos instalar também em edifícios residenciais? O 5G depende da construção de muitas estações em muitos edifícios e a grande altura para garantir a cobertura da rede”, acrescentou Raimundo do Rosário.
LAG 2021 | Raimundo do Rosário fala em “nova fase de crescimento de Macau” na área das obras públicas Pedro Arede - 7 Dez 20208 Dez 2020 Depois de anos de planeamento, Raimundo do Rosário diz que a maioria dos projectos “há muito aguardados” estão finalmente em condições de avançar em 2021. Apesar de admitir que existem problemas nos programas de habitação pública, o secretário diz a questão vai ser resolvida “gradualmente” [dropcap]E[/dropcap]stá na hora de arregaçar as mangas. A começar pelo desenvolvimento das áreas urbanas do aterro da Zona A, passando pela conclusão da elaboração do Plano Director e acabando no desenvolvimento das novas linhas previstas para o metro ligeiro, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário afirmou que, no decorrer do próximo ano, serão iniciados vários projectos fundamentais para o desenvolvimento futuro de Macau. “Estamos a promover projectos há muito aguardados e de grande importância para o futuro que, depois do devido trabalho de estudo, análise e planeamento, estão finalmente em condições de avançar. Prevemos que 2021 marque o início de uma nova fase de crescimento e de desenvolvimento de Macau”, começou por dizer na passada sexta-feira, o secretário para os Transportes e Obras Públicas durante o discurso de apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2021 da sua tutela. Sobre a habitação, que o secretário considerou ser “uma das principais preocupações da população”, durante o debate, foram vários os deputados, como Ella Lei, Sulu Sou e Leong Sun Iok que se mostraram preocupados com as dificuldades sentidas, sobretudo entre os mais jovens, quando é chegada a hora de comprar casa. Depois de Ella Lei ter frisado que ainda vai levar tempo até que as primeiras 3.000 fracções públicas previstas para a Zona A estejam concluídas e que é “difícil” ter sucesso ao apresentar uma candidatura “sem idosos” no agregado familiar, Raimundo do Rosário reconheceu o problema, mas assegura que, com o tempo e seguindo o plano traçado, tudo será resolvido. “Quanto à habitação económica (…) reconheço que uma candidatura sem idosos dificilmente consegue obter uma fracção. Mas agora temos três mil fracções e no próximo ano, cinco mil. Vamos trabalhar para esta meta e avançar com milhares de fracções, de cada vez. Vamos ter 24 mil fracções, em 20 terrenos. Esse problema vai ser resolvido gradualmente”, apontou o secretário. Já em resposta a Sulu Sou, que perguntou directamente ao secretário se não acha que os preços das habitações em Macau são altos, sobretudo para os mais jovens, cujo salário médio é de 18 mil patacas, Raimundo concordou, acrescentando que a criação de vagas específicas para os jovens nos concursos de habitação pública é uma questão que tem de ser estudada. Ainda na área da habitação, o secretário reiterou que serão continuadas as obras de habitação pública na Avenida Wai Long, Venceslau de Morais e Tamagnini Barbosa, estando prevista ainda “a conclusão da habitação social de Mong-Há” e o início da construção de 1.800 residências para idosos na Areia Preta (Lote P). Acerca dos receios apresentados pelo deputado Chan Iek Lap de que as fracções para idosos do tipo “estúdio” não seriam ideais, Raimundo do Rosário afirmou que mesmo que o projecto não seja “perfeito” é preciso “avançar” e que, consoante a experiência adquirida, o modelo pode vir a ser aperfeiçoado em futuras fases. Desejos a metro Quanto ao metro ligeiro, Raimundo do Rosário apontou como prioridades a definição do projecto da linha leste, que fará a ligação entre a Taipa e as Portas do Cerco através da Zona A, aumentando “consideravelmente a extensão da rede e os benefícios deste meio de transporte ecológico” e ainda as ligações a Hengqin e à Barra e a linha de Seac Pai Van. “Insistimos em concluir estas três até ao final do mandato”, acrescentou o secretário. Sobre o tema, Leong Sun Iok e Ella Lei apontaram que a sociedade gestora do metro ligeiro (MTR) deve estar debaixo de uma fiscalização mais apertada, não só para garantir a contratação e formação de trabalhadores locais qualificados após o despedimento de 79 trabalhadores, mas também para assegurar a boa utilização do erário público. Leong Sun Iok foi mais longe e perguntou se o Governo tenciona renovar contrato com a empresa em 2024, altura em que expira o contrato de prestação de serviços. Na resposta, o secretário afirmou que “a renovação ainda não está decidida”, lembrou que 80 por cento dos trabalhadores é local e que as despesas da MTR “não atingem as 100 milhões de patacas”. Para 2021, Raimundo do Rosário traçou ainda como metas, a continuação da obra da quarta ponte Macau-Taipa, a criação do segundo terminal do aeroporto e a definição de um novo regime de acesso à actividade do transporte aéreo. Outro dos “pilares” da tutela será a protecção ambiental, que deverá ser concretizada, segundo o secretário, através da “modernização de infra-estruturas” de tratamento de resíduos e da actualização da legislação vigente.
Jason Chao denuncia pressões da China para paragem de votação online em 2019 Salomé Fernandes - 7 Dez 202013 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap]lém dos ataques contra voluntários que promoviam o inquérito em bancas e ciberataques anteriormente denunciados, a Associação Novo Macau (ANM) terá enfrentado pressões da China Continental durante a votação online organizada no ano passado sobre o sufrágio universal para o Chefe do Executivo. A informação foi divulgada este fim-de-semana por Jason Chao ao intervir remotamente na conferência “g0v summit 2020”, em Taiwan. O activista, que divulgou posteriormente o conteúdo da apresentação na conferência, indicou que no Verão de 2019 um dos membros da organização da iniciativa viajou em trabalho à China Continental, e que aí foi exigida a paragem da votação e o cancelamento da conferência de imprensa sobre os resultados, que estava agendada para o dia da eleição do Chefe do Executivo. Jason Chao não adiantou mais pormenores sobre a situação – embora uma imagem da sua apresentação com a calendarização dos eventos assinala o dia 22 de Agosto com a expressão “tomada de refém na China Continental”. Recorde-se que a votação foi suspensa mais cedo do que era suposto e que na altura a ANM indicou que recebeu informação de que a associação podia enfrentar riscos de segurança. Poder da discrição Jason Chao apontou ainda que dois dias depois do lançamento do inquérito, a Associação Novo Macau se encontrou com Ho Iat Seng, na altura o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo, e que este não se opôs à continuidade da iniciativa. Apesar disso, o activista observou que a China decidiu “suprimir o voto”. O ex-líder da ANM observou que a supressão foi “discreta”, mas “poderosa”, acreditando que o motivo era evitar atrair mais atenção. No seu entender, este caso leva a que seja “extremamente difícil” organizar votações semelhantes a curto prazo. Jason observou ainda que tendo por base a experiência de 2014 , os voluntários e líderes da organização pretendiam que a votação se desse num ambiente de baixo risco – motivo pelo qual a iniciativa não foi intitulada de “referendo” e não foram recolhidos dados de identificação, com os números de telefone como único meio de verificação da participação das pessoas. O inquérito contou com a participação de 5.698 pessoas, das quais 5.351 votaram a favor de sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo em Macau.
Plano do ensino não superior a dez anos em consulta pública até Janeiro Salomé Fernandes - 7 Dez 20208 Dez 2020 O patriotismo é uma das directivas prioritárias no ensino e faz parte do Planeamento a Médio e Longo Prazo do Ensino Não Superior dos próximos dez anos, que está em consulta pública até 22 de Janeiro de 2021. A diminuição da pressão no ensino aparece também entre os objectivos do Governo [dropcap]A[/dropcap] consulta pública sobre o Planeamento a Médio e Longo Prazo do Ensino Não Superior até 2030 arrancou este fim-de-semana. “A prioridade na educação dos alunos deve focar-se na moralidade, tendo como objectivo cultivar o sentimento do amor pela Pátria e por Macau e a visão internacional dos alunos”, diz o documento de consulta da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). A tónica no patriotismo é um dos quatro pontos chave para o ensino nos próximos dez anos. Além da aposta para que os estudantes ganhem conhecimentos sobre assuntos nacionais e da cultura chinesa, o Governo quer que os alunos desenvolvam uma “visão global”, bem como “a compreensão e tolerância intercultural”. Entre os objectivos, está ainda o reforço da capacidade de comunicarem em mandarim, português e inglês. A nível curricular, a DSEJ inclui no plano uma revisão contínua e alteração dos materiais didáticos das disciplinas de educação moral e cívica, história e língua chinesa, para que sejam usados como referência nas escolas. O plano educacional aponta que as exigências na área da educação e a necessidade de mais quadros qualificados aumentaram, “criando a necessidade de uma maior qualidade e diversificação”. Outro dos pontos chave para o futuro, é o desenvolvimento do “soft power”, em que o Governo pretende que os estudantes tenham uma aprendizagem interdisciplinar e ganhem “capacidade crítica e o pensamento baseado na lógica” e filosofia. Neste âmbito, estão previstos recursos para promover a leitura. Menos pressão Em foco, estão ainda o aumento da felicidade e o reforço do ensino criativo e tecnológico. A saúde mental dos estudantes e a diminuição da pressão do ensino estão inseridas na direcção prioritária do “sentimento de felicidade”. As metas passam por “desenvolver a profundidade e amplitude dos serviços dos agentes de aconselhamento aos alunos destacados nas escolas, em especial com o objectivo de prevenção do bullying escolar, comportamentos desviantes e ansiedade na aprendizagem”. Já a aposta em competências de inovação e literacia informática, é voltada tanto para alunos como para professores – para os quais está prevista formação com o objectivo de gerar capacidades orientadas para a educação inteligente. No entanto, as medidas propostas vão além destas prioridades. O Governo pretende também criar uma base de dados dos alunos sobredotados e dos estudantes com necessidades educativas especiais. A par disto, será dado apoio à constituição de equipas do ensino inclusivo nas escolas e aumentado o investimento em recursos para os serviços terapêuticos. Por outro lado, é sugerida uma revisão do regime de retenção de ano. A consulta pública decorre até 22 de Janeiro de 2021. Para 2025, está prevista uma avaliação intercalar e revisão dos objectivos traçados pelo Governo.
Autocarros | Acidente na Taipa terá sido provocado pelo motorista Andreia Sofia Silva - 7 Dez 20208 Dez 2020 O violento acidente ocorrido na zona da Taipa velha, a 7 de Novembro, e que originou sete feridos, terá sido originado pelo cansaço do motorista, disse o director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego com base num relatório preliminar. Transmac irá pagar as indemnizações a seis feridos [dropcap]O[/dropcap] cansaço do motorista do autocarro 33, da concessionária Transmac, terá estado na origem do acidente de viação que ocorreu no passado dia 7 de Novembro na zona da Taipa velha. As informações foram avançadas por Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), no último debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Transportes e Obras Públicas. “Recebemos o resultado preliminar, e muito em breve vamos divulgar os resultados. Mas o incidente deveu-se ao motorista. Vamos dialogar com as empresas para que os motoristas tenham mais tempo para descansar”, frisou. Lam Hin San adiantou também que será a Transmac a pagar as indemnizações aos seis feridos. “Em termos de gravidade dos ferimentos, estamos a acompanhar um caso. Para os outros seis será a empresa a responsável pela indemnização.” O director da DSAT lembrou que, nos últimos cinco anos, “o número de acidentes tem diminuído”, além de que as concessionárias “prestam muita atenção à segurança”. Veículos velhos O deputado José Pereira Coutinho questionou o Governo sobre o facto de os contratos com as empresas de autocarros não preverem a protecção dos passageiros em caso de ocorrência de ferimentos. “Não vejo nos contratos uma cláusula que proteja os passageiros no caso de ferimentos graves e estes têm de gastar muito dinheiro com despesas médicas”, apontou. Lam Hin San confirmou o facto. “Quanto à protecção dos passageiros, sancionamos as empresas quando os acidentes geram mortes. Queremos incentivar as empresas a reforçarem a formação de motoristas.” Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, admitiu que muitas frotas das concessionárias são compostas por autocarros velhos. “A média de idade dos autocarros é elevada. Nos últimos dois anos não foram adquiridos novos autocarros.” No debate de sexta-feira, o Governo anunciou ainda que as câmaras de videovigilância instaladas nos autocarros vão passar a registar gravações de áudio. “Alguns autocarros já têm sistema de gravação de imagem. No futuro, também vai haver sonora. Pode saber-se o que se passa no interior dos autocarros e, assim, conseguir resolver problemas que possam ocorrer”, afirmou Lam Hin San.
Web Summit | Presidente da Xiaomi afasta acusações de partilha de dados pessoais Andreia Sofia Silva - 7 Dez 20208 Dez 2020 Wang Xiang, presidente da tecnológica Xiaomi, participou em duas sessões na Web Summit, em Lisboa, e voltou a rejeitar as acusações de que a empresa terá recolhido dados pessoais de utilizadores de forma ilegal. O empresário garante que a Xiaomi usa regulamentos muito semelhantes aos que vigoram na Europa na área da protecção de dados [dropcap]F[/dropcap]oi em Abril deste ano que a revista Forbes publicou uma reportagem que demonstrava como a Xiaomi estaria a recolher os dados pessoais dos usuários através dos smartphones da marca sem a sua autorização, levantando uma enorme questão de cibersegurança. Wang Xiang, presidente da Xiaomi foi orador na última edição da Web Summit, em Lisboa, e voltou a rejeitar estas acusações. “Não providenciamos dados a outras empresas do meu ponto de vista. Executamos regras de protecção de dados pessoais muito restritas e respeitamos regulamentos. Executamos regras na China semelhantes às que existem na Europa, não vendemos dados”, disse o empresário. Numa outra sessão online, moderada pela jornalista Xin Li, do grupo Caixin Media, Wang Xiang voltou a ser confrontado com este assunto. “Na verdade, somos bastante conservadores na área da protecção de dados pessoais. Passámos muito tempo a estudar as novas regulações que surgiram na Europa e tentámos aplicá-las a 100 por cento. Adiámos o lançamento de muitos produtos para rever vezes sem conta a questão da privacidade de dados.” O empresário, que entrou para a Xiaomi há apenas cinco anos, assegurou que “os dados de todos os produtos que são fornecidos para a Europa são armazenados fora da China, ficam na Europa”. “Este é um passo muito importante para garantir que tudo é seguro”, frisou. Para todos os bolsos Fundada há apenas dez anos, a Xiaomi desde sempre teve o “sonho” de criar tecnologia acessível a todas as bolsas. E um dos primeiros produtos em que apostou foi o purificador de ar, numa altura em que a qualidade do ar era uma enorme questão na China. “Definimos um mercado para o produto por nós próprios. Há uns anos a China tinha um enorme problema com a poluição do ar, mas um purificador de ar ficava extremamente caro para o consumidor. Custava cerca de 1000 dólares e queríamos resolver esse problema. Fizemos muitos esforços para encontrar os melhores engenheiros nessa área, ao nível dos filtros, por exemplo. Tornámo-nos na marca número um na venda de purificadores de ar na China”, contou o empresário. Uma das formas que a Xiaomi encontrou para o consumidor pagar muito menos por um produto semelhante à concorrência foi o uso exclusivo de plataformas online no processo de produção. Regular preços exigiu, para a empresa, “um grande esforço e determinação”. “O nosso sonho e modelo de negócio é que todos tenham uma vida melhor através da inovação. Inovámos em muitas áreas, melhorando a eficiência dos nossos canais de distribuição. No início da Xiaomi não vendemos nada através dos canais tradicionais porque iria custar muito dinheiro da fábrica até ao consumidor final, então usámos apenas canais online. Não gastamos nenhum dinheiro no mercado tradicional. Usamos 100 por cento canais online para comunicar as nossas ideias e produtos”, acrescentou. Actualmente, a Xiaomi possui um modelo de negócio que passa por deter posições minoritárias em startups com as quais podem operar ao nível da concepção e design do produto. “Investimos em mais de 100 empresas e investimos nessas startups, com acções minoritárias, para que façam parte da nossa empresa. Estas mantêm-se como startups e ficamos responsáveis pelo design do produto. Se os produtos destas empresas preencherem os nossos requisitos, vamos vender a nossa marca. É um modelo muito eficiente, produtivo e único. Alguns produtos são feitos a 100 por cento por nós, mas investimos em start-ups para construir esse sistema de igualdade.” IA é o futuro Olhando para o futuro, Wang Xiang não tem dúvidas de que ele passa pelo uso cada vez maior da Inteligência Artificial (IA) nas nossas vidas. “A IA vai ser uma tecnologia muito importante para mudar as vidas das pessoas, para as ajudar, então estamos a investir muito nessa área. Temos milhares de engenheiros na área da IA.” A pensar nisso, a Xiaomi desenvolveu uma série de produtos que podem ser programados através da voz, sem comandos ou botões. “Podemos falar para esse sistema e monitorar todos os aparelhos na nossa casa. Por exemplo, é possível ligar e desligar luzes, abrir ou fechar cortinas. Tudo isso pode ser monitorizado através do sistema de voz. Também se pode usar os comandos da televisão para seleccionar filmes ou programas, e não é preciso carregar nos botões, basta usar a voz.” Um exemplo de um produto inteligente da marca, e que é o mais usado por Wang Xiang, é a panela de cozer arroz. “É um dos meus produtos favoritos, porque podemos comprar o arroz e usar um smartphone para fotografar o código de barras e descobrimos de onde vem o arroz. Temos milhares de receitas com arroz guardadas em nuvem para ajudar o utilizador a cozinhar”, explicou. Com cerca de dois mil produtos ligados à área do Life and Style, a Xiaomi assume que não tem, para já, planos para entrar no mercado dos carros eléctricos. “Não posso responder se temos planos porque não trabalhamos nessa área agora. Estamos a produzir scooters eléctricas que são das mais populares no mundo. Na Europa já é muito fácil encontrar as nossas scooters, em Roma, Barcelona.” Um dos desafios que a marca necessita de enfrentar actualmente é a contratação de engenheiros que saibam responder a diversas valências e mercados. “Estamos em vários mercados tecnológicos. Produzimos smartphones, televisões inteligentes e scooters, e todos esses produtos têm tecnologias diferentes. Como podemos encontrar os melhores profissionais para garantir a inovação?”, questionou. Com uma presença em cerca de 90 mercados, e com um enorme crescimento na Índia, a Xiaomi diz ter uma mente aberta em relação a questões diplomáticas e medidas de proteccionismo económico que têm sido adoptadas. “A Xiaomi é uma empresa muito recente e aberta. Somos diferentes. A empresa foi fundada por um grupo de engenheiros e empreendedores, há dez anos, tal como qualquer start-up na Europa ou no resto do mundo. Estamos a tentar melhorar as vidas das pessoas e a terem acesso a uma melhor tecnologia. Estamos na bolsa de valores de Hong Kong desde Julho de 2018, somos muito abertos. Temos engenheiros em todo o mundo, na China, Japão, EUA. Temos nove centros de design fora da China. Somos uma empresa global e não me preocupo com essas questões”, rematou. A Web Summit, considerada a maior feira de tecnologia, startups e empreendedorismo do mundo, decorreu em Lisboa e chegou ao fim na sexta-feira, depois de três dias de uma edição inteiramente online devido à pandemia da covid-19.
Táxis | Pedida suspensão de coimas por ausência de sistema inteligente Hoje Macau - 4 Dez 20206 Dez 2020 [dropcap]U[/dropcap]ma petição assinada por 1.005 taxistas foi entregue ontem ao Chefe do Executivo Ho Iat Seng, com o objectivo de pedir a suspensão das coimas que começaram ontem a ser aplicadas para os condutores que não tenham instalado o sistema inteligente nos seus veículos. Segundo um comunicado divulgado ontem, os peticionários alegam que o sistema não é fiável e que devido às falhas técnicas do sistema de GPS têm vindo a perder receitas. Outro dos problemas, está relacionado com o montante de 300 patacas mensais de taxa de serviço, encargo sobre o qual “os taxistas não foram consultados”. Sob o pretexto de que devido à pandemia “as receitas dos taxistas desceram drasticamente” o documento pede ainda seja encontrada uma solução para suportar os encargos das taxas de serviço e que o Governo informe o sector sobre as condições de instalação, quando terminar o contrato com o actual fornecedor.
Automobilismo | Delfim Mendonça Choi quer tentar a WTCR Sérgio Fonseca - 3 Dez 2020 [dropcap]N[/dropcap]uma altura em que escasseiam novos valores do automobilismo de Macau nos palcos internacionais, Delfim Mendonça Choi tem intenções de fazer a sua estreia na Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) em 2021 e quiçá em mais provas internacionais da categoria TCR. Tendo-se estreado em 2017 nas corridas de carros de Turismo, Delfim nunca escondeu que a maior ambição na sua carreira desportiva passa por um dia “vencer uma corrida no Grande Prémio de Macau”, no entanto, agora a prioridade é outra. “Em princípio, para o ano vou correr na corrida da WTCR em Macau”, explicou o piloto macaense ao HM. “Este ano, eu queria correr na Corrida da Guia com um Audi RS 3 LMS TCR, igual ao do Filipe Souza, mas o meu chefe de equipa disse que como é um carro com volante à esquerda, e requer mais prática, pediu-me para o conduzir apenas no próximo ano”. Tal como todos os pilotos do território, devido às limitações nas viagens para o estrangeiro e dos constrangimentos financeiros, Delfim reconhece que planear a próxima temporada desportiva não é uma tarefa simples, no entanto, há uma coisa que o piloto da RAEM tem em mente para 2021: “Antes de Macau talvez vá à China correr na WTCR para me familiarizar com o carro da categoria TCR”. Outra possibilidade será fazer corridas do “TCR China ou do TCR Ásia, mas ainda não está definido”. Uma coisa é certa, Delfim vai trocar o volante do seu habitual Mitsubishi Evo9 por um Audi RS 3 LMS TCR, também preparado pela SLM Racing Team, equipa que este ano colocou em pista o carro de Ng Kin Veng na Corrida da Guia. A escolha do Audi deve-se à “melhor condução” do carro germânico que no Grande Prémio foi em pista o único a conseguir rivalizar directamente com os Lynk&Co e MG oficiais. Edição 2020 não muito feliz Candidato a um dos três lugares do pódio na Taça de Carros de Turismo de Macau, na categoria “1950cc ou Superior”, a 67ª edição do Grande Prémio de Macau não correu de feição ao ex-campeão do AAMC Challenge. “Correu muito mal, foram três dias em que o meu carro teve problemas”, relembra o piloto do Mitsubishi Evo9 preparado pela SLM Racing Team. “Este ano, estava muito concentrado na obtenção de um bom resultado, mas o carro não me ajudou nessa tarefa”. Depois de ter sido o décimo primeiro mais rápido no cômputo dos treinos livres e qualificação, Delfim apenas cumpriu três voltas na Corrida de Qualificação e desistiu na corrida de domingo ao fim de nove. “O motor estava sempre em altas temperaturas. Não conseguimos resolver o problema e no sábado meti um outro motor, mas voltamos a ter o mesmo problema, o que foi muito mau”. Para o ano, se a pandemia em curso assim o permitir, Delfim vai medir forças com os melhores pilotos de carros de Turismo da actualidade. Obviamente, o desafio que tem pela frente é enorme, mas provavelmente é isso de que Macau precisa, de jovens pilotos que arrisquem a sair da sua zona de conforto.
Turismo na economia (IV): a insustentável leveza do turista João Romão - 3 Dez 2020 [dropcap]É[/dropcap] quase sempre com leveza que partimos em viagem: a oportunidade de fugir às rotinas laborais quotidianas, a mudança de contexto e de cenário, a ausência de horários rígidos e obrigações inadiáveis, a oportunidade de ver e descobrir coisas novas, tudo isso faz normalmente parte da bagagem de quem viaja em férias. Por mais que pese o conteúdo das malas, há em geral uma agradável leveza no espírito, que aliás também se aplica com frequência a quem viaja por motivos profissionais, mesmo que os horários sejam apertados e as oportunidades para a descoberta relativamente limitadas. Mas essa leveza contrasta, evidentemente, com o peso da presença de turistas nos mercados globais massificados que caracterizam o turismo e a mobilidade internacionais nas sociedades contemporâneas. Com esse lastro, ou essa pegada ecológica, cultural ou económica, encerro este ciclo de quatro crónicas dedicadas à economia do turismo, desta vez sob o signo da sustentabilidade, palavra de magnífico efeito decorativo e poucas implicações concretas, a não ser, eventualmente, no branqueamento de práticas e políticas que em (quase) tudo contradizem o conceito de desenvolvimento sustentado e/ou sustentável. Desde logo, o impacto ecológico do turismo internacional é enorme e inevitável: segundo estimativas da Organização Mundial de Turismo, antes de o covid-19 decretar o encerramento generalizado e global das rotas turísticas internacionais, o transporte de passageiros, sobretudo em aviões e automóveis, era responsável por 5% das emissões globais de CO2 relacionadas com o consumo e utilização de energia. Não é só transporte, no entanto: segundo estudos diversos, o consumo de água feito por cada turista é aproximadamente o dobro do que faria a mesma pessoa na sua residência habitual e o consumo de energia (em particular eléctrica) aumenta significativamente em proporção da quantidade de estrelas dos hotéis – mais serviços, mais conforto e eventualmente maiores benefícios económicos para os destinos também implicam um maior impacto ecológico, por mais símbolos de sustentabilidade que ostentem as empresas de transportes e hotelaria. Estas características das dinâmicas actuais do turismo que se foi generalizando e massificando por todo o planeta justificam o título categórico utilizado por Colin Michael Hall (o mais prolífero e citado investigador em turismo no mundo, segundo os dados disponibilizados pela google.schoolar) num capítulo escrito para o livro “Tourism in the Green Economy” publicado em 2015: “Economic greenwash – on the absurdity of tourism and growth”. De facto, o discurso centrado na sustentabilidade ambiental e na economia “verde” – com os inerentes processos de certificação e de utilização de prestigiantes símbolos e logotipos – tem servido mais para dissimular e encobrir generalizadas práticas predatórias do ambiente e dos recursos, materiais, imateriais e humanos dos territórios do que para promover uma reavaliação crítica e sistemática das formas de produzir e consumir nas economias actuais e no sector do turismo em particular. Não parece significativamente melhor o impacto das dinâmicas turísticas contemporâneas sobre os outros dois “pilares” do desenvolvimento sustentado, tal como definido pela ONU como padrão e referência para as políticas de desenvolvimento económico a desenvolver no planeta. Também os impactos económicos são profundamente assimétricos nos destinos turísticos, com os benefícios largamente concentrados num conjunto relativamente pequeno de empresas de transporte e alojamento, frequentemente transnacionais, como discuti em crónica anterior. Mais do que isso, a intensificação da dependência das economias locais e regionais em relação a uma actividade altamente vulnerável a ciclos económicos, políticos ou de saúde pública, com fraca incorporação tecnológica, mão-de-obra intensiva e relativamente pouco qualificada e reduzida capacidade de gerar valor acrescentado, acaba frequentemente por se traduzir a longo prazo num inevitável processo de decadência económica. Desastroso parece ser também o efeito do turismo sobre o terceiro “pilar” da sustentabilidade, a coesão social. Mesmo olhando para uma das zonas supostamente mais desenvolvidas do planeta, a Europa, um estudo que publiquei em 2017 no jornal académico Habitat International mostrava como as regiões europeias cuja estrutura de emprego é mais dependente do turismo são também as que apresentam maiores níveis de desemprego. Outros estudos mostram, por exemplo, que mesmo em regiões com aparente grande sucesso no turismo, como Barcelona, os salários no sector têm valores cerca de 50% abaixo da média da economia da região. Na realidade, o turismo actual tem um impacto ecológico significativo e, apesar de alegadas potencialidades tecnológicas e criativas mais ou menos identificadas, contribui muito pouco para o crescimento económico dos destinos e ainda menos para a respectiva coesão social. Vivemos tempos obscuros, em que as vistas estão turvas pela omnipresença do covid e as esperanças possíveis apontam para o aparecimento de uma vacina da qual entretanto desconfiamos. Também desconfiamos dos governos que de forma mais ou menos errática tiveram a triste sorte de ter que lidar com esta inusitada situação. Desconfiamos das empresas e seus porta-vozes mais ou menos informais que clamam por desregulamentações, liberdades de circulação de capitais e outras formas de liberalismo mas que correm aos pedidos de subsídio ao primeiro sinal de crise – e que afinal não inovam, não se adaptam e só despedem, ainda mais, as pessoas de que afinal pensam não precisar. Desconfiamos de todo o sector turístico, pujante no seu magnífico crescimento nas últimas décadas, a engordar sistematicamente grupos económicos vários e especuladores diversos – às vezes os mesmos, aliás – e que afinal estão agora na linha frente dos que aparecem de mão estendida, como na sopa dos pobres. Já não é gourmet, naturalmente. E também não é sustentável.
Água António de Castro Caeiro - 3 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] água é o princípio. Tales de Mileto (624/623–548/545 a.C.) exprime o que pode – mas não deve – ser despedido como uma banalidade. Na água está pensada a humidade. Está pensado, por oposição, o seco. O seco é uma característica essencial da terra. Nos quatro elementos ou letras do alfabeto da realidade: água e ar, terra e fogo, encontram-se características que não são apenas estáticas, mas dinâmicas. A água metamorfoseia-se em diversos estados: líquido, sólido e gasoso. Mas os processos com que se transforma são também experimentados por nós. A pedra de gelo derrete sobre o chão da cozinha ou mistura-se com a bebida, arrefece a sopa, refresca o sumo. A água nas couvettes congela no frigorífico, a neve gela. A relva molhada pela rega seca ao sol, ao ar. Do rio sobe uma neblina. Há uma relação entre arrefecimento e humidade e aquecimento e secura. Podemos tentar compreender, assim, os diversos processos que efectivam diversos estados: evaporação que transforma a água em vapor, faz nuvens a partir de rios, lagos, mares, oceanos, mas também de plantas e animais por transpiração. A condensação transforma o estado gasoso em líquido. Cai chuva. A precipitação enche de novo o caudal dos rios. A água é bebida, sorvida e absorvida pelos seres vivos. Não terá Tales pensado a água neste ciclo hidrológico, as características de cada estado, os processos envolvidos na transição de um estado para o outro e a relação existente entre todos? Não é apenas um elemento que foi identificado, uma substância, por mais complexa que seja, mas o próprio processo de transformação, o vir a ser e o deixar de ser, a passagem a ser e transformação de uma mesma estrutura que se metamorfoseia. E a relação de todos os seres vivos com esse elemento, humanos, animais, vegetais, orgânicos e inorgânicos. Bebemos água potável. Respiramos água no ar. Deslizamos no gelo. Não vemos no nevoeiro, neblina. Sentimos a chuva a cair, o caudal dos rios engrossar, aumentar e diminuir a rapidez, nadamos, navegamos, mergulhamos. O ser vivo está implicado, envolvido por, água tanto que a falta de água globalmente põe em cheque a sobrevivência da própria vida. O que se percebe com a água na sua dimensão metafísica, percebe-se com a terra, o fogo e o ar e a versão mais rarefeita do ar, o éter. Mas não é por aqui que vamos. O que importa também ver, para lá da dessubstanciação da água e a compreensão do seu ser “verbal”, ser água é poder ser líquido, sólido e gasoso, é passar de um estado para outro, é relacionar-se com outras características que aumentam e/ou diminuem a sua quantidade: quente e frio, seco e húmido. Talvez seja o que está expresso pelo verbo “aguar”. A ligação da água com outros líquidos primordiais: sangue, suor, lágrimas, sémen é feita não por analogia, mas pelo isolamento de uma propriedade da água num dos seus estados: o estado líquido. A liquidez, a sua produção, no corpo humano, por exemplo, permite perceber à vista desarmada, que somos água, somos líquidos e não apenas por bebermos. Mas para Tales a água não é apenas um elemento físico, fundamental, mas um elemento que tem de ser posto em relação com outros elementos e que existem em estados diferentes. A água é arkhê, princípio. É elemento no sentido em que dizemos que uma atmosfera é um elemento. O nosso elemento humano é terrestre, embora tendamos a conquistar e ocupar outros elementos: os rios, lagos, mares, oceanos, como o ar e o éter do vasto cosmos. A água é uma atmosfera. Há ar líquido, húmido e frio. É onde existimos, o que respiramos e bebemos. Há uma relação entre o exterior e o corpo, uma relação de acção recíproca. Há água dentro de nós e fora de nós, entre nós e as coisas. É conhecida a relação da água com a sobriedade e o cansaço que empapa a cabeça, contrastante com o efeito de outro líquido que também tem água, mas com outros efeitos diferentes do da sobriedade, o vinho que embriaga. “Ter a cabeça em água”, depois de muitas horas de trabalho dedicado a coisas difíceis ou simples, mas depois de muito tempo. “Ter a cabeça nas nuvens”, quando nos distraímos e deixamos de ter os pés assentes no chão. São possibilidades humanas expressas metaforicamente. O vinho com que nos podemos relacionar tem efeitos contrários, mas os efeitos resultam do elemento água nele presente, também aquece e arrefece o corpo, embriaga quando encharca e deixa-nos sóbrios, ao abandonar-nos. A sua actuação no corpo e na mente é diferente da que a água produz. Mas é a água o melhor de tudo, como diz Píndaro na primeira Ode Olímpica? Mergulhamos, nadamos, navegamos nas águas de rios, lagos, mares, oceanos e também em águas paradas: tanques, poços e piscinas. Atravessamos o rio a nado, oceanos em barcos e navios, mergulhamos para nos refrescar sem ir ao fundo ou para sondar as profundezas oceânicas. Na travessia e no mergulho, estamos em elementos diferentes. Estamos expostos à manifestação da superfície das águas: calmas ou agitadas, da maré que enche ou vaza, do rio de maré cheia ou de maré vazia, na tempestade e na bonança. Mas no fundo do mar há correntes em dimensões muito mais complexas do que as águas dão a ver ao manifestarem-se à superfície, com ondas ou sem ondas, vagas sucessivas ou na formação de uma única gigante, no mar alto ou a abater-se sobre a orla marítima, em penhascos ou à beira mar. No mar, mergulhamos em várias correntes, de água quente e fria, que puxa muito ou não existe. Há lençóis de água que os pescadores ou caçadores submarinos conhecem mas nós não. No mar, voamos para o fundo e emergimos para o cimo, para a superfície. O mar é a vida. Talvez Tales de Mileto tivesse um contacto privilegiado com o ser da vida. Não é o mar que é uma metáfora da vida, mas a vida uma metáfora do mar. Píndaro. (2017) Odes Olímpicas. Tradução: António de Castro Caeiro. Lisboa.
Como tem passado? Sara F. Costa - 3 Dez 2020 “O sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais coisas, que não são mais que partes da vida?” Fernando Pessoa, em Carta a Ophélia Queiroz – 29 Nov. 1920 [dropcap]A[/dropcap]lguém passa à janela de sombra vazia. Pressinto a sua solidão. Os olhos que lhe cheiram a vento. Vai encarcerar-se mais cedo ou mais tarde, atrás da porta do quarto, no silêncio obrigatório dos divertimentos possíveis. Conheço gente assim. Pessoas trancadas que lêem cappucinos e bebem Cruzeiro Seixas. Gente incansavelmente alta que se estende para lá de si mesma para ver uma onda casual num mar permanente. Passam por elas madrugadas sem olfato. Por entretenimento, travam uma batalha com um peixe-mistério que se infiltrou na frota. Jantam as suas espinhas. Aquele quarto podia ser um poema mas é antes uma equação. Quantos óbitos se confirmam entre os recuperados? Vários webinars depois, o sol não parece menos contagioso do que ontem. Mas elas põe o coração de quarentena, reorganizam armários e lavam as mãos como quem lava os pés, como quem compreende o Inverno melhor do que os outros. E eu na fila de espera. Nós na fila de espera. Sento-me à máquina de escrever para te falar do meu dia. Este novo dia no novo normal. Esquecer-me de palavras: também eu deixei a minha sombra vazia e abandonei paisagens. A minha paisagem é esta, uma rua perto do mar por onde passam transeuntes ocasionais. Outrora foi uma visão para a metrópole pós-punk que é Pequim, noutra foi uma pequena estrada de passagem em Lisboa, noutra era um campo em Braga. É novamente dezembro. Mês de fecho. Fazem-se as várias contas, as referentes a contabilidade e as referentes a outro tipo de acertos a prestar com alguma entidade ou connosco próprios. Este olhar nostálgico pertence a uma disciplina importante: auto-conhecimento. Eu sei, a palavra tornou-se melosa. Esta época moderna, demasiado pós-positivista para qualquer decurso minimamente hermético. Pouco fã de abstrações. Não terei pudor em admitir que me dedico, também, ao auto-conhecimento. A todos os níveis. Avalio as minhas crenças e ações, as escolhas tomadas em alturas em que havia escolhas a tomar. Serei parte de uma lonjura imperativa ou estarei a desenhar um único trajeto? Penso, “não é relevante atribuir-lhe significado ou valor”. Começo antes por considerar a importância de me tornar mais íntima comigo mesma. Reconheço que parte da ansiedade exibida como forma de estar nas janelas contemporâneas, deriva da evasão. Os mecanismos que acreditamos serem a cura para ultrapassar, seguir em frente, fazer o que tem de ser feito, são tantas vezes, mera distração. O prolongamento inadiável da distração, que nos parece confortar, resulta antes em desconforto. Afinal, estamos desconfortáveis com a mera ideia de desconforto. Ou seja, mais prisão, menos prisão, não somos exclusivamente o que pensamos que somos. Resta-nos o abandono como exercício. O deixar para trás como mantra de dia-a-dia à hora do café. “Vai-se andando” “como se pode” e quem tem mais experiência disto de estar vivo sabe que tudo passa. Que importa se hoje deixo para trás algumas das percepções mais basilares da minha vida na última década? Alguém passa à janela e depois passa outra pessoa após algum tempo. Tudo passa. A crise, o desalento, o tédio, a indignação, as dores de cabeça, o cansaço, a falta de olfato e a solidão. Tudo passa. Até as pessoas.
IC | Um herói e festividades portuguesas representados por marionetas Salomé Fernandes - 3 Dez 2020 O último mês do ano é marcado por actuações todos os fins de semana – na zona das Casa da Taipa e no Porto Interior – que dão a conhecer desde festividades tradicionais portuguesas ao passado de Macau. O Porto Interior é também ponto de passagem devido a 25 murais pintados por grafitters locais [dropcap]E[/dropcap]ste fim de semana, o Adro da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, recebe duas actuações de teatro de marionetas, comunicou o Instituto Cultural (IC). “O Barbeiro” e “O Arraial” são promovidos pela Casa de Portugal e cada um dos espectáculos pode ser visto pelo público em três dias diferentes ao longo do mês. As histórias centram-se num herói português e nas festividades tradicionais lusitanas, respectivamente. Os dois teatros de marionetas fazem parte de um conjunto de espectáculos que sobe ao palco na Taipa durante os fins de semana de Dezembro. Os eventos, que duram cerca de meia hora, têm todos três sessões por dia: às 14h, 15h30 e às 17h sendo abertos ao público em geral. Nos dias 12 e 22 de Dezembro é a vez de “O Vendedor de Histórias” dar conhecer ao público elementos da história de Macau, nas Casas da Taipa. A peça de teatro móvel da Associação Teatro de Sonho combina a narração de histórias com teatro de marionetas. Já o “Poema de Pedro e Inês”, da autoria do The Funny Old Tree Theatre Ensemble, acontece nos dias 24 e 25 de Dezembro. A peça não tem lugar fixo, passando pelas Casas da Taipa, o Jardim Municipal da Taipa e a Fonte dos Amores. Explora “a arquitectura portuguesa e a obra de um poeta português para encenar uma história de amor solene”, descreve o IC. Estas duas iniciativas decorrem em cantonense. Fachadas transformadas Noutro ponto do território, a zona do Porto Interior recebe todos os fins de semanas a peça “Regresso de Barco” da autoria da Associação de Dança Ieng Chi. Em cada sessão, a rota passa pela Praça de Ponte e Horta, a Rua do Bocage e a Ponte nº9, para contar o passado e presente do Porto Interior. As explicações sobre os ecos do passado são complementadas por actuações de dança ligeira. Há limite de vagas, e as inscrições podem ser feitas através da página electrónica do IC. Na zona do Porto Interior criaram-se ainda outros pontos artísticos de passagem. Os grafitters de Macau Lam Ka Hou e Anny pintaram 25 murais na fachada dos armazéns da Nam Kwong, na Rua do Almirante Sérgio. “Os murais, baseados na vida quotidiana do Porto Interior, revelam elementos novos e antigos [no local], evidenciando igualmente a fusão entre as culturas chinesa e ocidental que caracteriza esta zona”, diz a nota.
Pornografia | Estudante detido por partilhar vídeos de menor com 13 anos Pedro Arede - 3 Dez 2020 Vítima de 13 anos apresentou queixa à PJ após o vídeo de índole sexual que gravou para enviar ao suspeito, ter sido partilhado pelos colegas da escola. O suspeito tem 16 anos e alega ter partilhado o conteúdo para se vingar das atitudes da vítima. Outros três estudantes terão partilhado o mesmo conteúdo [dropcap]U[/dropcap]m estudante local de 16 anos foi detido na passada segunda-feira por suspeita de praticar os crimes de pornografia de menor e devassa da vida privada. Em causa está a partilha de vídeos de índole sexual, cuja única interveniente é uma menor de 13 anos. Segundo revelou ontem a Polícia Judiciária (PJ) em conferência de imprensa, o caso terá começado em Setembro deste ano, quando a vítima de 13 anos, também ela estudante, iniciou uma relação amorosa com o suspeito, depois de se terem conhecido online. Sem nunca terem travado contacto presencial, a vítima terá gravado vários vídeos de si própria “sem roupa” com o objectivo de os enviar ao namorado virtual. No entanto, pouco depois do envio dos vídeos, os dois decidiram colocar termo à relação. No dia 20 de Novembro, enquanto estava na escola, a vítima apercebeu-se de que os vídeos que tinha registado e enviado ao suspeito, estavam a circular pelos seus colegas. Dias depois, no dia 30 do mês passado, juntamente com os seus encarregados de educação, a menor dirigiu-se à polícia para apresentar queixa, expondo o caso e confirmando ter gravado e enviado os conteúdos. A PJ viria a deter o suspeito de 16 anos em casa, que admitiu ter partilhado os vídeos e estar consciente de que a vítima é uma menor de 13 anos. De acordo com o porta-voz da PJ, o suspeito, que frequenta uma escola na zona norte de Macau, alegou ter agido dessa forma para se vingar, porque a vítima “dizia mal dele”. No decorrer da investigação, a PJ revelou ainda que, no mesmo dia da detenção, e com a colaboração da escola frequentada pela vítima (que não é a mesma do suspeito), contactou mais três estudantes que transmitiram também os mesmos vídeos. Na ordem do dia O caso seguiu para o Ministério Público (MP), onde o suspeito vai responder pela prática de crimes relacionados com “pornografia de menor”, podendo ser punido com uma pena de prisão de 1 a 5 anos e “devassa da vida privada”, pelo qual pode ser punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. Sobre o crime de “pornografia de menor”, em causa está o artigo do Código Penal que prevê a produção, distribuição, venda, importação, exportação ou difusão “a qualquer título ou por qualquer meio” ou aquisição e detenção para esses fins, de materiais relacionados com pornografia infantil. Recorde-se que os casos de pornografia de menores têm estado na ordem do dia, dado que, apesar de o relatório sobre a criminalidade divulgado na semana passada revelar que, entre Janeiro e Setembro de 2020, o número total de crimes caiu 33,1 por cento, os casos de abuso sexual de crianças e pornografia de menores aumentaram no mesmo período. O relatório revela que, ao fim de nove meses, “a polícia resolveu no total 59 casos de ‘pornografia de menor’”, tendo sido presentes 29 suspeitos ao MP “para efeitos de averiguação”.