TIMC | Filmes clássicos musicados por artistas locais este fim-de-semana Andreia Sofia Silva - 19 Nov 20204 Dez 2020 A segunda parte do festival This is My City acontece este fim-de-semana e traz às Oficinas Navais n.º2 cinema clássico do início do século XX musicado por bandas locais. O público poderá assistir, este sábado, ao filme “The Goddess”, realizado em Xangai em 1934 e musicado por Faslane e AKI. No domingo, será exibida uma série de curtas-metragens musicadas por Frog, Rui Rasquinho e Paulo Pereira, entre outros [dropcap]N[/dropcap]um ano diferente de todos os outros, o festival This is My City (TIMC) decidiu trazer uma nova componente que constituísse não só uma surpresa para o público mas também um desafio para os músicos locais. Foi com essa ideia em mente que surgiu a iniciativa de exibir filmes clássicos com uma nova roupagem musical. O evento decorre este fim-de-semana nas Oficinas Navais nº 2. Ao HM, Rui Simões, ligado à organização do festival, contou como surgiu esta iniciativa. “Estávamos a programar o festival numa altura em que ainda havia indecisões sobre o que iria acontecer, mas partíamos da premissa de que só poderiam ser artistas locais. Olhando para os músicos e artistas percebemos que todos eles já tinham tocado ao vivo, num formato conhecido do grande público. E começamos a pensar naquilo que poderíamos fazer de original e que fosse de alguma forma um desafio para os próprios artistas.” De imediato se pensou em criar “um registo mais improvisado”. Quanto às películas, o objectivo não era escolher “filmes demasiado conhecidos, para as pessoas se sentirem atraídas”. “De uma maneira ou de outra são filmes que são uma referência, ou porque têm efeitos especiais ou porque têm algo de diferente. A maior parte dos filmes não tem sequer uma narrativa muito clara, são mais exercícios artísticos”, explicou Rui Simões. Surrealismo e efeitos especiais O primeiro filme a ser exibido, já este sábado, a partir das 19h, é “The Goddess”, feito em Xangai em 1934, e que ganha uma nova composição musical da autoria da banda Faslane e de AKI, “que está bastante habituado a fazer bandas sonoras”. “Este filme retrata a vida de uma mulher, que é mãe, numa sociedade bastante fechada. É uma prostituta que tenta cuidar do seu filho e ela faz tudo por amor ao filho e estabelecem-se depois algumas relações com outros personagens. É uma história muito humana e com muita sensibilidade. A actriz do filme é uma das actrizes chinesas mais famosas da época e também tem uma história de vida trágica. Penso que as pessoas vão ficar apaixonadas por ela e pelo filme”, disse Rui Simões. No domingo, é dia de curtas-metragens. A primeira a ser exibida é “Alice no País das Maravilhas”, de Cecil Hepworth e Percy Stow, e que data de 1903. Este é um filme com muitos efeitos especiais, sendo esta a primeira adaptação feita para cinema da obra de Lewis Carroll. Segue-se “Ghosts Before Breakfast”, de Hans Richter, de 1928, que será musicado por Rui Rasquinho, artista e designer. “The Dancing Pig”, realizado em 1907, foi musicado por Paulo Pereira. Trata-se de um filme mudo com apenas quatro minutos de duração, e que teve produção da Pathé, conhecida empresa francesa. Nesta obra, “um porco gigante veste-se de roupas elegantes e dança com uma rapariga que, mais tarde, o deixa envergonhado quando tira as suas roupas.” Ainda no domingo serão exibidas mais duas curtas-metragens. Uma delas é “A Trip to Jupiter”, de Segundo de Chomón, realizado em 1909, musicado por Iat U Hong. Esta película não é mais do que uma “viagem gótica” feita com inspiração no “Voyage dans la Lune”, realizado em 1902 por George Meliés, quando o cinema dava os primeiros passos. Por último, será exibido “The Frog”, de Segundo de Chomón, de 1908, musicado por Dickson Cheong. Esta sexta-feira, também inserida na segunda parte do TIMC, acontece a inauguração da exposição multimédia de OS Wei, às 18h30. Será também realizada, às 19h30, uma performance de caligrafia com os artistas Elvis Mok e Aquino da Silva. Estão ainda agendadas sessões de yoga, que trazem, pela primeira-vez, a vertente do bem-estar a este festival.
GP Macau | Antevisão de um fim-de-semana invulgar Sérgio Fonseca - 19 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] programa do 67º Grande Prémio de Macau contempla cinco corridas de automóveis, já que o Grande Prémio de Motos foi cancelado devido à falta de quórum, não tendo sido possível encontrar uma prova substituta. Numa edição inédita, devido às perturbações causadas pela pandemia da covid-19, não há Taças do Mundo da FIA para atribuir este ano e também não haverá estrelas internacionais, com a excepção de Rob Huff, que assumirá o mesmo papel que Dieter Quester há precisamente cinquenta anos. O facto de o nível competitivo não ser comparável ao que estávamos habituados a ver nas últimas três ou quatro décadas, poderá não ter impacto no espectáculo, que deverá ser tão ou mais animado dentro de pista do que em anos anteriores, visto que o factor imprevisibilidade é ainda maior. Ainda para mais quando é esperada a visita da chuva no sábado. Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 Dada a inexperiência da maior parte dos dezassetes participantes em circuitos citadinos, o favoritismo da corrida pesa todo nos dois pilotos locais: Andy Chang e Charles Leong. Será quase como um “tira-teima” entre os dois pilotos em quem a RAEM mais investiu na última década. Numa jornada que vale pontos a dobrar para o Campeonato Chinês de F4, para o qual os dois pilotos de Macau não pontuam, Zijian He lidera destacado e deverá sagrar-se campeão. Ainda à geral, há que contar com a inscrição de última hora de Kang Ling, um piloto chinês que fez quatro épocas de monolugares na Europa ao mais algo nível. Corrida da Guia Macau Talvez a corrida que terá maior cobertura além fronteiras este ano tem três motivos de interesse. Primeiro, Rob Huff irá tentar bater o seu recorde de nove vitórias em corridas no Circuito da Guia e para isso terá que triunfar na corrida de domingo. Segundo, há um enorme interesse para ver quem sai vencedor do duelo entre os dois gigantes da indústria automóvel chinesa – Lynk&Co (Geely) e MG (SAIC). E por fim, a decisão do título do campeonato TCR China, onde Ma Qing Hua (Lynk&Co) tem oito pontos de vantagem para Rodolfo Ávila (MG), sendo que ambas as corridas valem pontos. A prova, que teve o máximo de inscritos possível, contará com a presença dos pilotos macaenses Filipe Souza, Eurico de Jesus e o regressado Jo Merszei. Taça GT Macau A corrida para carros das categorias FIA GT3 e GT4 será um duelo entre os “veteranos” de Hong Kong Darryl O’Young e Marchy Lee, que terá como engenheiro Duarte Alves, e a nova geração de pilotos chineses, bem representadas por Leo Ye Hongli e David Chen. Será também um duelo a seguir muito atentamente em Ingolstadt e Affalterbach, as sedes dos departamentos de competição da Audi e Mercedes-AMG respectivamente. Taça de Carros de Turismo de Macau Praticamente um assunto entre pilotos de Macau este ano, a popular corrida para os pilotos locais irá coroar novamente os vencedores de duas categorias determinadas pela cilindradas das viaturas participantes: 1950cc e Acima e 1600cc Turbo. A corrida ,que por tradição costuma ser animada e ter a participação de vários pilotos macaenses e nomes portugueses, este ano não é excepção contando com a participação de Rui Valente, Sabino Osório Lei, Delfim Medonça Choi, Luciano Lameiras, Jerónimo Badaraco e Célio Alves Dias. Taça GT – Corrida da Grande Baía Na teoria, a menos interessante de todas as corridas, junta alguns carros da classe GT4 e carros da defunta Taça Lotus nas suas diferentes iteracções. O vencedor da edição passada, Kevin Tse de Macau, não está inscrito, pois reside em Hong Kong e não teve disponibilidade para cumprir a quarentena obrigatória. Curiosidades – Lo Pak Yu, Lo Ka Chun e Lo Hung Pui são respectivamente filho, pai e avô, naquela que será a primeira vez que três gerações participam numa mesma corrida (Taça GT Macau). – Antes de Rodolfo Ávila, outro português conduziu um MG no Circuito da Guia – Macedo Pinto em 1954. No arranque, estava tão nervoso que ficou com as calças presas na alavanca de velocidades e esqueceu-se de desengatar o travão de mão. O Mercedes-AMG GT4 de e Eric Kwong n.º23 da Taça GT Cup tem um autocolante a dizer “Obrigado pai e mãe”. Os pais do piloto de 38 anos eram contra a sua participação na corrida de Macau e na sua primeira participação inscreveu-se “Eric K” para evitar ser apanhado em flagrante delito. Os únicos dois pilotos estrangeiros que ganharam corridas na China Interior em 2020 foram dois portugueses e de Macau: Rodolfo Ávila, no TCR China, e Rui Valente, no GIC Challenge. Factos: O programa do 67º Grande Prémio de Macau é o mais pequeno de sempre desde 1966 É a primeira vez desde 1967 que não há uma corrida de motas – É a primeira vez desde 1983 que não haverá corrida de F3 – É a primeira vez desde 1986 que não haverá pilotos portugueses residentes em Portugal à partida em nenhuma das corridas – Será a primeira vez que Macau acolherá uma prova de F4 Sexta-feira 6h00: Fecho do Circuito 6h30-7h00: Inspecção do Circuito 7h20-7h50: Carros de Segurança e Intervenção Rápida -Voltas de teste 8h00-8h35: Taça de Carros de Turismo de Macau – Treino livre 1 8h50-9h25: Taça GT – Corrida da Grande Baía – Treinos livres 1 9h40-10h15: Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 – Treinos livres 1 10h30-11h05: Corrida da Guia Macau – Treinos livres 1 11h20-11h55: Taça GT Macau – Treinos livres 1 12h25-13h00: Taça de Carros de Turismo de Macau – Treinos Livres 2 13h15-13h50: Taça GT – Corrida da Grande Baía – Treinos livres 2 14h05-14h40: Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 – Treinos livres 2 14h55-15h30: Corrida da Guia Macau – Treinos livres 2 15h45-16h20: Taça GT Macau – Treinos livres 2 18h00: Abertura do Circuito Sábado 6h00: Fecho do Circuito 6h30-7h00: Inspecção do Circuito 7h30-7h50: Taça de Carros de Turismo de Macau – Cronometrado 8h15-8h35: Taça GT – Corrida da Grande Baía – Cronometrado 9h00-9h20: Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 – Cronometrado 9h45-10:05: Corrida da Guia Macau – Cronometrado 10h30-10h50: Taça GT Macau – Cronometrado 11h35-12h05: Evento Especial 12h30-13h00: Taça de Carros de Turismo de Macau (Prova Classificativa) – 8 voltas 13h25-13h55: Taça GT – Corrida da Grande Baía (Prova Classificativa) – 8 voltas 14h20-14h50: Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 (Prova Classificativa) – 8 voltas 15h15-15h45: Corrida da Guia Macau (Prova Classificativa) – 8 voltas 16h10-16h40: Taça GT Macau (Prova Classificativa) – 8 voltas 18h00: Abertura do Circuito Domingo 6h00: Fecho do Circuito 6h30-7h00: Inspecção do Circuito 7h30-8h30: Carros de Segurança e Intervenção Rápida -Voltas de teste 9h00-9h40: Taça de Carros de Turismo de Macau – 12 voltas 10h05-10h45: Taça GT – Corrida da Grande Baía – 12 voltas 11h40-12h20: Corrida da Guia Macau – 12 voltas 12h45-13h25: Taça GT Macau – 12 voltas 13h40-14h30: Evento Especial 15h10-15h20: Dança do Leão 15h30-16h10: Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 – 12 voltas 18h00: Abertura do Circuito
Eutanásia | O fim da vida analisado por Governo, médicos e Igreja Salomé Fernandes - 19 Nov 20204 Dez 2020 A falta de consenso sobre a eutanásia faz com que o Governo não tenha intenções legislar o tema. Porém, o Executivo abre a hipótese ao testamento vital, um mecanismo que permite aos doentes terminais “um fim de vida com menos dor”. A presidente da Associação de Médicos de Macau considera que a maioria dos médicos apoia a eutanásia [dropcap]A[/dropcap] eutanásia tem sido debatida em várias partes do mundo, com alguns países a permitirem a prática ou o suicídio assistido, embora com condicionantes diferentes. Em 2002, a Bélgica legalizou a eutanásia para algumas situações, que envolvem sofrimento constante e intolerável, tendo alargado em 2014 essa possibilidade para menores de idade. Na Suíça admite-se o suicídio assistido. A Nova Zelândia aprovou recentemente a eutanásia depois de o diploma ter obtido luz verde através de referendo. A lei, que permite a morte assistida a pacientes terminais adultos, com expectativa de vida inferior a seis meses, deve entrar em vigor em Novembro do próximo ano. Já em Macau, o tema mantém-se longe da esfera pública e o Governo não tem intenção de o legislar. “A questão da eutanásia é um assunto relativamente complicado, especialmente na sociedade chinesa. Ela envolve não apenas a vida e a morte do paciente, mas também os direitos humanos, código deontológico dos médicos, leis, recursos sociais, ética e religião. Há muita controvérsia na comunidade local e não há consenso, portanto, o Governo da RAEM não tem intenções legislativas nesta fase”, respondeu ao HM o gabinete da secretária dos Assuntos Sociais e Cultura. Apesar da falta de consenso, não faltam profissionais da saúde a favor. A presidente da Associação de Médicos de Macau disse ao HM que “a maioria dos médicos apoia a eutanásia”. A falta de certeza quanto à eficácia da intervenção médica na situação clínica dos doentes, ou quanto ao tempo de vida que lhes resta, são argumentos que pesam na opinião favorável. “Quando uma pessoa estiver gravemente doente e o valor médico não for alto, o hospital deve tratar o doente segundo a sua vontade e apoiá-lo neste assunto. Caso o doente tenha vontade, acho que é aceitável”, comentou Cheong Lai Ma. Relativamente à legislação, a representante considera necessário que a eutanásia seja tema de debate social, para que os cidadãos expressem a sua opinião de forma informada. Outras associações de médicos no território contactadas pelo HM não quiseram tomar uma posição sobre a eutanásia ou explicaram que de momento não têm uma posição definida sobre o tema. O director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, disse na Assembleia Legislativa que o número de suicídios relacionados com doenças crónicas aumentou significativamente nos primeiros nove meses do ano. A informação foi avançada num debate no final de Outubro, em que Agnes Lam destacou o número de suicídios registados em 2020, ano de pandemia, tentando perceber se as pessoas que se suicidaram estavam a ser acompanhadas por assistentes sociais. De acordo com dados apresentados pelo director dos SS, nos primeiros nove meses deste ano registaram-se 56 casos de suicídio, um aumento em comparação com os 48 casos detectados no mesmo período de 2019. Lei Chin Ion destacou o número de casos em que o suicídio foi associado a doenças crónicas – que no período em análise subiu de 13 para 19 – algo que descreveu como “um aumento bastante elevado”. Por outro lado, comentou que o suicídio devido a doenças com problemas psicológicos aumentou de 12 para 13. “Segundo estes números, devido às doenças crónicas houve um aumento do número de suicídios. Mas quanto às doenças psicológicas apenas aumentou um caso”, afirmou Lei Chin Ion. No início do mês, este jornal procurou saber junto dos SS quais as principais doenças crónicas em causa, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Lei da vida Em Macau, a eutanásia não está tipificada como crime, mas isso não significa que não seja censurável do ponto de vista penal. Já em 2001, uma crónica publicada pela Polícia Judiciária, explicava que tirar a vida a alguém a seu pedido também constitui um crime e que a eutanásia viola o Código Penal. A lei determina uma punição até cinco anos de prisão para quem matar outra pessoa a pedido da vítima. Para ilustrar, a PJ deu o exemplo de uma “vítima” que pede ajuda para “atenuar o tormento resultante de doença” e que declara por escrito que não deseja procedimento criminal nem civil contra quem a auxilia, e depois de um pedido sério, repetido e expresso “o agente decide desligar o equipamento médico que é indispensável para a sobrevivência da vítima, ou não lhe fornece medicamentos apropriados, o que resulta na morte”. No ano passado foi conhecido em tribunal que uma vítima de violência doméstica ponderou a eutanásia para se libertar do sofrimento depois de um ataque com óleo a ferver e ácido cometido pelo marido. Em tribunal, o pai da vítima revelou que esta lhe pediu para escrever uma carta ao Chefe do Executivo de Macau a pedir permissão para morrer. Perguntas do HM sobre se o actual Chefe do Executivo alguma vez recebeu pedidos para o recurso à eutanásia, ou se tem conhecimento de cartas enviadas aos seus antecessores nesse sentido, ficaram sem resposta. O Gabinete de Comunicação Social disse apenas que “actualmente, não existe qualquer consenso na sociedade de Macau sobre a questão da eutanásia e o Governo da Região Administrativa Especial de Macau não tenciona, neste momento, legislar a matéria”. Futuro precavido A situação muda quando se fala sobre a criação de legislação para o registo do testamento vital – documento onde é manifestada, antecipadamente, a vontade consciente, livre e esclarecida sobre os cuidados de saúde que se deseja receber, caso se verifique uma situação em que seja impossível expressar vontade pessoal e autónoma. O gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura indicou que Macau tem uma sociedade cada vez mais envelhecida em que os tumores são a principal causa de morte. Em resposta, aponta que a criação de um sistema de directivas médicas antecipadas e de serviços para doenças irreversíveis “proporciona aos doentes terminais um fim de vida mais pacífico e com menos dor”. Neste contexto, a Comissão Ética para as Ciências da Vida de Macau tem, ao longo do tempo, discutido e pesquisado se deve ser criada legislação sobre directivas antecipadas, os regulamentos mais práticos a ser adoptados com base no princípio ‘evitar a morte e salvar vidas’ e a forma como alterar as leis conflituantes. Sobre o testamento vital, Cheong Lai Ma considera importante que as decisões sobre tratamentos sejam tomadas em consciência. “Quando uma pessoa estiver em estado crítico, as medidas de socorro não salvaguardam realmente a vida. Neste sentido, acho que pode ser expressa a vontade de aceitar, ou não, estas medidas quando ainda tem consciência”, disse a presidente da associação. Olhar religioso A postura da Diocese de Macau é de oposição à eutanásia, ainda que a intenção seja eliminar sofrimento. “Não interessa qual o motivo ou método usado, é para acabar com a vida de portadores de deficiência, ou doentes à beira da morte. A eutanásia é eticamente inaceitável. Se a morte é um meio para aliviar sofrimento, uma acção ou inacção, independentemente da intenção, constitui homicídio, o que é uma séria violação da dignidade humana e desrespeito por Deus e a sua criação”. Em resposta ao HM, a Comissão Diocesana da Vida frisou que a “verdadeira compaixão” não deve matar, mas sim aliviar sofrimento através de “carinho, companhia e oração”. De acordo com a diocese, a mensagem de Jesus de “amar o próximo como a ti próprio”. Apesar de reconhecer que a doença e o sofrimento criam desafios, sentimento de impotência, limitações ou mesmo a morte, os ensinamentos da Igreja recordam que o sofrimento também tem valor de expiação para os outros. “Ao participar voluntariamente no sofrimento e morte de Cristo, este sofrimento torna-se numa forma de participar no projecto de salvação de Jesus”, disse. A Comissão Diocesana da Vida observou que os pacientes terminais e doentes crónicos têm o direito de ser aceites e tratados, e que a família e pessoal médico são responsáveis ao nível dos cuidados médicos e companhia espiritual. “Não deixem que os doentes sintam que são um fardo para os outros”, apelou. Além disso, recordou a mensagem do Papa no Dia Mundial do Doente. Na ocasião, o líder da Igreja Católica pediu para se ter constantemente em vista a dignidade e vida da pessoa, “sem qualquer cedência a actos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se for irreversível o estado da doença”.
Caso Huawei | Canadá teme por segurança de testemunha que está em Macau João Santos Filipe - 19 Nov 20204 Dez 2020 Reformado da polícia do Canadá, uma das principais testemunhas do caso que envolve a vice-presidente da Huawei, Meng Wanzhou, está a viver em Macau e recusa ser ouvido. As autoridades do país norte-americano temem pela segurança do ex-polícia [dropcap]O[/dropcap] Departamento de Justiça do Canadá teme que a segurança de um ex-polícia a viver em Macau esteja em causa, após o homem ter recusado testemunhar no processo de Meng Wanzhou, filha do dono da gigante tecnológica Huawei. A informação sobre o caso da magnata, detida no Canadá desde Dezembro de 2018, foi avançada ontem pelo South China Morning Post. O agente em causa chama-se Ben Chang, era responsável pelo departamento de “integridade fiscal” e depois de se reformar da Royal Canadian Mounted, em Janeiro do ano passado, veio trabalhar e viver para Macau. Era esse o seu paradeiro em 2019, quando foi contacto pela Royal Canadian Mounted. O homem é visto como uma testemunha com especial importância para o processo, porque no momento da detenção de Meng Wanzhou terá mantido conversações com as autoridades americanas. Os Estados Unidos fizeram um pedido para que o Canadá extradite a empresária e o processo está a ser decidido no Supremo Tribunal da Colúmbia Britânica. A defesa de Meng pretendia ter acesso ao registo das conversas entre Ben Chang e Kerry Swift, uma vez que Swift é trabalhador do Departamento de Justiça Americano, de onde partiu o pedido de extradição. O acesso ao documento foi garantido a 24 de Julho deste ano, mas inicialmente tinha sido recusado devido ao “interesse público”, especificado com a necessidade de garantir a segurança de Ben Chang, que se encontra actualmente em Macau. Segundo o South China Morning Post, a defesa de Meng Wanzhou está preocupada com a recusa de Ben em testemunhar, porque considera que haverá “um número de consequências” imprevisíveis para o processo. Central de contactos Apesar de ter recusado testemunhar, Ben Chang prestou anteriormente um depoimento, que consta nos autos do processo, com várias informações sobre contactos mantidos nas horas anteriores e posteriores à detenção. Chang terá afirmado ter a “crença” de que o FBI pediu dados para aceder aos equipamentos electrónicos de Meng. Porém, recusou ter sido ele o alvo dos pedidos do FBI ou de qualquer outra autoridade dos EUA e negou ter cometido qualquer ilegalidade. Porém, segundo a defesa de Meng, Chang trocou emails com o coordenador do FBI para a extradição em Vancouver, Sherri Onks, assim como com um polícia da mesma força de investigação, John Sgroi. Por outro lado, Chang terá também dito que um “ministro chinês” entrou em contacto consigo sobre a detenção. Um dos argumentos da defesa de Meng é a acção que levou ao acesso pelas autoridades americanas de informação confidencial, que terá violado a lei de protecção de dados. O Supremo Tribunal da Colúmbia Britânica vai continuar a ouvir testemunhas no âmbito do processo de extradição, que se pode arrastar por vários anos, devido à possibilidade de haver vários recursos.
Excursões | Governo Central não está a considerar retoma de programa para Macau Pedro Arede - 19 Nov 20204 Dez 2020 O Ministério da Cultura e Turismo da República Popular da China não está a ponderar a retoma das excursões transfronteiriças de turistas do Interior para vir a Macau. A revelação foi feita na quarta-feira pela Directora dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes [dropcap]A[/dropcap] responsável da DST avançou com a informação que afasta, para já, a vinda de grupos excursionistas para o território, durante a segunda reunião plenária de 2020 do Conselho para Desenvolvimento Turístico (CDT). “Devido ao mecanismo de prevenção e controlo conjunto por parte do País, por enquanto, não está a ser considerado o recomeço do turismo das excursões transfronteiriças, mas o Governo da RAEM irá entretanto continuar a esforçar-se para atingir esse objectivo”, pode ler-se numa nota oficial divulgada ontem. Durante a apresentação dos últimos dados do sector, a directora da DST frisou ainda que, deste a retoma da emissão de vistos turísticos a residentes de todo o Interior da China a 23 de Setembro, “verificou-se uma tendência contínua de aumento do número de visitantes a Macau”, registando-se em Outubro um aumento de 26 por cento da média diária de turistas (19.000), relativamente a Setembro. Em Novembro, a tendência continuou a crescer tendo ultrapassado os 20.600 visitantes de média diária, com o dia 6 de Novembro a registar, até agora, o número mais elevado do mês (25.444). Quanto à ocupação hoteleira, segundo os dados provisórios fornecidos à DST, a taxa de ocupação média dos estabelecimentos em Outubro foi de 38,1 por cento, e na primeira semana de Novembro esteve entre 33 e 45 por cento. Sobre a retoma de eventos e promoção turística como a plataforma de promoções “Macau Ready Go”, o programa de excursões locais “Vamos! Macau!” foi dito que os seus benefícios económicos e impacto promocional são “satisfatórios”. Já quanto ao “Plano de alargamento das fontes de cliente, revitalização da economia e garantia do emprego”, que continua em curso, foi revelado que que foram usados 265.541 cupões de consumo offline, no valor de 4,13 milhões de renminbis que impulsionaram um consumo de cerca de 113,67 milhões de patacas. Discos pedidos Durante a reunião, os membros do CDT verbalizaram, para além do desejo que o Governo continue a “mover esforços” para a retoma das excursões do Interior da China, a vontade de reactivar a emissão de vistos online, de aumentar a frequência de emissão de vistos para visitantes da província de Guangdong e a promoção de Macau enquanto cidade segura e onde são dispensadas medidas de isolamento junto das regiões de baixo risco do Interior da China.
Isenções | Deputados pedem explicações sobre poderes do director das Finanças João Santos Filipe - 19 Nov 20204 Dez 2020 A 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa questiona vários aspectos da proposta de lei que vai permitir que empresas ligadas à inovação científica e tecnológica obtenham benefícios fiscais [dropcap]O[/dropcap]s deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa querem saber se o Director dos Serviços de Finanças está obrigado a seguir as opiniões da Comissão de Avaliação das Actividades de Inovação Científica e Tecnológica, quando decide autorizar isenções fiscais. Este é um dos assuntos em discussão no âmbito no novo regime de benefícios fiscais para o exercício das actividades destinadas à inovação científica e tecnológica, que tem como objectivo promover a diversificação da economia. O diploma está a ser discutido pela 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, mas a natureza da chamada Comissão de Avaliação não é clara para os deputados. “Sabemos que o director da Direcção de Serviços de Finanças autoriza os benefícios para as empresas, mas não é claro se tem de ouvir a opinião da comissão de avaliação”, afirmou o deputado Ho Ion Sang, que preside à comissão. “Também não entendemos a natureza dos pareceres, será que são vinculativos? Ou será que o director das Finanças pode escolher não seguir as opiniões da comissão? Vamos questionar o Executivo sobre este aspecto”, acrescentou. Os membros e o mérito Outro assunto que não é claro para os legisladores que analisam o diploma na especialidade é a nomeação dos membros da futura Comissão de Avaliação das Actividades de Inovação Científica e Tecnológica, assim como a renovação dos mandatos. Ho Ion Sang explicou que os deputados acham a proposta pouco clara nestes aspectos. “Diz-se que os mandatos têm duração de dois anos. E depois? Há renovação automática? Temos de ver esta questão esclarecida”, indicou. A composição da comissão suscita mais dúvidas aos legisladores. Segundo o texto da lei, haverá “dois representantes de reconhecido mérito no sector industrial e comercial, dentro da área da ciência e tecnologia”. A mesma terminologia é utilizada para dois representantes do sector académico. Contudo, os legisladores dizem que não percebem a utilização dos termos “representantes de reconhecido mérito”. “São termos muito vagos e amplos, não nos parecem muito claros”, considerou Ho Ion Sang. Finalmente, os deputados admitiram ainda questionar o Executivo sobre os pagamentos aos membros da comissão através de senhas, para perceberem como funciona o procedimento.
Fronteiras | Agnes Lam defende entrada de estrangeiros em casos especiais Pedro Arede - 19 Nov 20204 Dez 2020 A pandemia continua no centro das preocupações dos deputados, com Agnes Lam, Song Pek Kei e Mak Soi Kun a defenderem o relaxamento de restrições. A nível económico, Ho Ion Sang e Ip Sio Kai pediram uma terceira fase do plano de apoio às PME, ao passo que Ella Lei espera que o Governo cumpra a palavra e não reduza benefícios sociais [dropcap]A[/dropcap]gnes Lam considera que existe margem para aligeirar as exigências nas fronteiras, de forma a permitir a entrada de estrangeiros em Macau que se encontrem em dificuldades, cabendo ao Governo definir com urgência quem são esses estrangeiros. “Nos últimos meses, o Interior da China, Taiwan e Hong Kong admitiram, uns a seguir aos outros, requerimentos para entrada de estrangeiros, por razões como o reencontro ou emprego. De facto, o Governo da RAEM também pode permitir, em virtude de uma autorização excepcional, a entrada de estrangeiros em necessidade, que devem submeter-se a quarentena adequada após a entrada em Macau. Quem são os ‘estrangeiros em necessidade’? Está em questão uma ordem de prioridade que a Administração tem de decidir”, apontou a deputada durante o período dedicado às intervenções antes da ordem do dia. Perante o actual contexto, a deputada considerou ainda “ridículo” que seja permitida a entrada no território a pilotos estrangeiros do Grande Prémio, com 14 dias de isolamento, por provar que o Executivo tem capacidade para prevenir a epidemia em relação a quem vem do exterior. “O Governo preferiu levantar as referidas restrições para aumentar o ‘brilho’ do Grande Prémio, em vez de dar luz verde aos familiares que estão no estrangeiro. Muitas famílias locais estão a sofrer por causa da separação ou com dificuldades de sobrevivência”, referiu Agnes Lam. Assim sendo, a deputada sugere que o Governo permita que os familiares dos residentes de Macau que estão no estrangeiro possam fazer um registo preliminar que possibilite ao Governo, de acordo com a situação concreta de cada um, autorizar a entrada “por motivos humanitários, de emergência ou de reunião familiar”, mediante observação médica e sob o pressuposto “de se ter realizado todo o trabalho de inspecção, de isolamento (…) e de negociação com as regiões vizinhas de Macau”. Sobre a organização de eventos e actividades, Agnes Lam acusou o Governo de tratar os organizadores com “duplo critério”, acabando umas vezes por “condenar” e outras por “apelar” à realização das actividades. “O Governo pode organizar diversas actividades com grande número de participantes e muita publicidade, mas limita o número de pessoas noutras actividades organizadas por entidades privadas”, sublinhou. Por seu turno, lembrando que “os governos estão a procurar o equilíbrio entre a prevenção da epidemia e a retoma económica”, Song Pek Kei defendeu que, a longo prazo, deve ser ponderado o levantamento adequado das medidas de prevenção para acelerar a recuperação do mercado. A título de exemplo, a deputada sugeriu que sejam relaxadas as medidas sobre a obrigatoriedade de apresentar o teste de ácido nucleico para residentes e estrangeiros que entram nos casinos e que seja revisto o limite máximo de três pessoas por mesa de jogo. Também Mak Soi Kun defendeu a simplificação das regras de apresentação do certificado de ácido nucleico, sob pena de afastar turistas de Macau. “Porque é que se considera que [os turistas] não estão seguros depois de expirar o certificado do teste de ácido nucleico e têm de o fazer novamente para poderem entrar nos casinos? Os turistas entendem que, assim, mais vale não vir a Macau”, apontou o deputado. Continuar a apoiar Sobre o impacto da pandemia a nível económico, Ho Ion Sang espera que o Governo e defina “o quanto antes” o modo de distribuição do cheque pecuniário e que estude o terceiro plano de apoio económico às PME, para que “sobrevivam”. Partilhando a mesma opinião, Ip Sio Kai propõe que a terceira fase seja aplicada no “apoio a bancos comerciais e outras instituições financeiras”, permitindo-lhes ter a liquidez necessária para responder aos pedidos das PME. Importa referir que o deputado é presidente da Associação de Bancos de Macau e vice-director-geral da sucursal de Macau do Banco da China. Por seu turno, Ella Lei espera que o Governo não reduza os apoios destinados à população. Mais concretamente, a deputada espera que se encontre solução para assegurar que cerca de 70 mil idosos e deficientes continuem a receber 7 mil patacas nas contas do regime de previdência central não obrigatório, medida que não consta nas LAG para o próximo ano. Quanto ao emprego dos residentes, a deputada pretende que o Chefe do Executivo esclareça as medidas a adoptar, dado que Ho Iat Seng se limitou a dizer na passada terça-feira que “a recuperação económica está dependente da vacina”.
Arábia Saudita | Cimeira virtual do G20 aborda pandemia, crise económica e ajudas a países pobres Hoje Macau - 19 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] pandemia de covid-19, a crise económica daí oriunda e as ajudas económicas aos 73 países mais pobres do mundo vão centrar, no próximo fim de semana, a cimeira virtual das 20 economias mais industrializadas do planeta (G20). Organizada pela primeira vez por um país árabe, a Arábia Saudita, e no formato inédito de videoconferência, a cimeira vai abordar a questão das implicações da pandemia no contexto económico e sanitário mundial – a covid-19 já infectou quase 56 milhões de pessoas e matou mais de 1,3 milhões – e eventuais medidas para relançar a economia no mundo. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), se, por um lado, a esperança na eficácia das vacinas está a subir, a economia, por outro, está ainda longe de ver a luz ao fundo do túnel, uma vez que as projeções apontam para que o Produto Interno Bruto (PIB) global deva diminuir 4,4% em 2020. Os países do G20 gastaram já cerca de 11.000 biliões de dólares para salvar a economia mundial e têm pela frente uma “bomba-relógio”: a dívida dos países pobres, que se confrontam com um colapso (menos 700.000 milhões de dólares, segundo a Organização para a Cooperação e desenvolvimento Económico – OCDE) do seu financiamento externo. A 13 deste mês, os ministros das Finanças do G20 acertaram um “quadro comum”, que implica pela primeira vez a China e os credores privados, para aliviar o peso da dívida, um avanço em relação à moratória de pagamento de juros implementada em abril, mas ainda insuficiente para as organizações não-governamentais (ONG). “O G20 está a manter a cabeça na areia e não responde à urgência da situação”, numa altura em que, segundo perspectivou o Banco Mundial (BM), entre 88 e 115 milhões de pessoas deverão cair na extrema pobreza”, referiu Katherine Tu, dirigente da Action Aid. Uma das soluções seria usar os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês) do FMI, um instrumento de financiamento já usado durante a crise económica de 2008. Numa entrevista recente ao Financial Times, o ministro das Finanças saudita, Mohammed al-Jaddan, disse estar confiante nessa solução, apesar das reservas iniciais dos Estados Unidos, cuja participação ao mais alto nível na cimeira ainda está em dúvida, uma vez que Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas de 03 deste mês, não confirmou a presença. “Isso diz muito do seu interesse [de Trump] na cimeira do G20. Estas grandes reuniões são, de facto, menos válidas para um programa oficial muito consensual ou para o comunicado de imprensa final, muitas vezes muito suave, do que para as separações entre pessoas poderosas, os laços forjados à mesa, nos intervalos para café, nos corredores ou salas de ginástica dos hotéis”, comentou John Kirton, diretor do Centro de Investigação do G20. No entanto, para o também professor da Universidade de Toronto, a “diplomacia digital” também tem as suas vantagens, ainda que apenas por questões de logística e segurança, numa região sob grande tensão. Por outro lado, para Camille Lons, investigadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), a cimeira é “uma oportunidade claramente perdida” para a Arábia Saudita, que “quis aproveitar para melhorar um pouco sua imagem”, maculada pelo assassínio, há dois anos, do jornalista Jamal Khashoggi. Menos importante a nível global, o tema dos direitos humanos na Arábia Saudita não deixa de estar em foco, uma vez que as organizações não-governamentais terão a oportunidade de interpelar a comunidade internacional sobre uma questão que gera grandes críticas à atuação das autoridades de Riad. Parentes de ativistas presos chegaram mesmo a apelar aos líderes mundiais para boicotarem a cimeira ou para, pelo menos, pressionarem os líderes sauditas a libertar os presos políticos e a garantir o respeito pelos direitos humanos. A repressão às vozes dissidentes manchou a imagem do príncipe herdeiro Mohammad bin Salmane, que está, simultaneamente, a operar reformas para aligeirar as leis muito conservadoras no reino muçulmano. Além da Arábia Saudita, o G20 é integrado pela África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, bem como pela União Europeia (UE) e pela Espanha, como país convidado permanentemente.
Xi Jinping rejeita que a China queira desassociar-se economicamente dos EUA Hoje Macau - 19 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, rejeitou hoje sugestões de que o seu país procurará desassociar-se economicamente dos Estados Unidos e outros parceiros comerciais, numa altura de crescentes tensões em torno do comércio e tecnologia. Numa intervenção ‘online’ durante uma reunião com executivos da região Ásia Pacífico, Xi prometeu continuar a abrir o mercado chinês, mas não anunciou nenhuma iniciativa para responder às reclamações de que o Partido Comunista subsidia indevidamente as empresas chinesas, enquanto as protege da competição externa. Xi rejeitou as sugestões de que Pequim poderia responder às sanções dos EUA contra as suas empresas de tecnologia libertando-se da ligação a parceiros globais, visando a auto-suficiência. O Partido Comunista promoveu os seus próprios padrões tecnológicos, ao bloquear o acesso de firmas estrangeiras à rede doméstica. Isto gerou temores de que os mercados mundiais se possam dividir em segmentos menores, com padrões industriais incompatíveis, prejudicando a produtividade. “Nós nunca iremos recuar na História e tentar separar-nos ou formar um ‘pequeno círculo’ para manter os outros de fora”, disse Xi. O evento de hoje ocorreu na véspera da reunião entre os líderes da Organização de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) organizada pela Malásia. Os comentários de Xi seguiram-se à assinatura, no domingo, do maior acordo de livre comércio do mundo, a Parceria Económica Compreensiva Regional, que inclui a China e 14 países asiáticos. O acordo atrai outros países em desenvolvimento porque reduz as barreiras ao comércio de produtos agrícolas, bens manufaturados e componentes. O documento é, no entanto, pouco abrangente para serviços e acesso de empresas estrangeiros nas economias de cada país, um objetivo dos Estados Unidos e outras nações desenvolvidas. A administração de Donald Trump cortou o acesso do grupo chinês de tecnologia Huawei à maioria dos componentes e tecnologia dos Estados Unidos, por motivos de segurança. A Casa Branca está ainda a pressionar o proprietário chinês do serviço de vídeo TikTok a vender a sua operação nos Estados Unidos. Xi prometeu reduzir taxas alfandegárias, mas não deu detalhes. “Vamos reduzir ainda mais as taxas alfandegárias e custos burocráticos, cultivar uma série de zonas de inovação e promoção do comércio de importação, e expandir as importações de produtos e serviços de alta qualidade de vários países”, prometeu. As repetidas promessas da China de estabelecer zonas de comércio livre e aliviar as restrições às importações geraram reclamações por parte dos Estados Unidos, Europa, Japão e outros parceiros comerciais, de que Pequim está a usar essas medidas isoladas para evitar cumprir com as promessas feitas quando aderiu à Organização Mundial do Comércio, em 2001, de permitir às empresas estrangeiras competirem livremente na sua economia, nos setores bancário, financeiro e outros serviços.
Covid-19 | Quase um milhão de pessoas foram vacinadas na China, diz farmacêutica estatal Sinopharm Hoje Macau - 19 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]Q[/dropcap]uase um milhão de pessoas foram testadas com uma das vacinas em desenvolvimento na China para o novo coronavírus, até à data, “sem efeitos adversos significativos”, disse Liu Jingzhen, presidente da farmacêutica estatal Sinopharm. Liu apontou numa entrevista divulgada hoje pela imprensa local que “a vacina foi testada em quase um milhão de pessoas” e que “apenas um pequeno grupo teve efeitos adversos leves”. O responsável acrescentou que “diplomatas e estudantes que viajaram para mais de 150 países não apresentaram teste positivo para o coronavírus após serem vacinados”. Em 22 de julho passado, a China autorizou o uso de vacinas candidatas contra o coronavírus para certos casos excecionais, como “proteção de pessoal da saúde, funcionários de programas de prevenção, inspectores portuários e funcionários do serviço público”. Embora Liu não tenha detalhado se a vacina testada foi em todos os casos a da Sinopharm, indicou que este grupo está prestes a concluir a terceira fase de testes clínicos, realizados em dez países, com a participação de cerca de 60 mil pessoas. “Terminamos a coleta de sangue de 40 mil pessoas 14 dias depois de receber as duas injeções necessárias para vacinação. O resultado é muito bom”, afirmou. As autoridades chinesas não revelaram quando poderão comercializar as vacinas em larga escala, mas o diretor do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão Nacional de Saúde, Zheng Zhongwei, indicou no final de outubro que o país asiático planeia fabricar 610 milhões de doses, antes do final deste ano, e mil milhões em 2021.
Filme “Listen” de Ana Rocha de Sousa exibido em festival em Singapura Hoje Macau - 19 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] filme “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, faz parte da programação do True Colors Film Festival 2020, festival de cinema de Singapura, que começa no dia 3 de Dezembro. Segundo informação disponível na página oficial do festival, “Listen” estará na secção “Spotlight”. Devido à pandemia de covid-19, todos os filmes do festival, que decorre até 12 de dezembro, serão transmitidos ‘online’ de forma gratuita. “Listen” estará disponível entre as 13:00 locais de 05 de dezembro e as 13:00 do dia seguinte para espectadores em vários territórios asiáticos, incluindo Macau e Timor-Leste. Já esta semana, foi anunciado que “Listen” vai ser o candidato de Portugal a uma nomeação para Melhor Filme Internacional nos Óscares do próximo ano. “Listen” é a primeira longa-metragem de ficção de Ana Rocha de Sousa, um drama familiar inspirado numa história real, sobre uma família portuguesa emigrada em Londres, a quem é retirada a guarda dos filhos, por suspeitas de maus-tratos. A narrativa acompanha os esforços da família em provar aos serviços sociais e judiciais britânicos que as suspeitas são infundadas. Com coprodução luso-britânica, o filme foi rodado nos arredores de Londres com elenco português e inglês, encabeçado por Lúcia Moniz, Ruben Garcia e Sophia Myles. O filme venceu seis prémios no Festival de Veneza, entre os quais o “Leão do Futuro”, para uma primeira obra, e o prémio especial do júri da competição Horizontes. Ainda que com uma reduzida presença de espectadores em sala, “Listen” colocou-se no topo dos filmes portugueses mais vistos este ano, com 32.162 entradas, segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual, contabilizados até 18 de novembro.
Plano Director V – Da Morfologia Urbana – O espaço Canal Hoje Macau - 18 Nov 20204 Dez 2020 (Continuação de dia 13) [dropcap]A[/dropcap] afirmação das ruas como a unidade espacial mais elementar de toda a organização social e económica urbanas, já não aconteceu nas cidades que optaram pela sua expansão em vez da sua intensificação. Isso aconteceu a reboque da utilização de transporte automóvel particular ter passado a estar ao alcance de todos, e é também razão porque essas cidades dependem hoje em dia exclusivamente de centros comerciais dentre de edifícios na periferia, porque nunca fixaram populações em densidade que permitisse o aparecimento nessas periferias de uma rede de ruas verdadeiramente comerciais, onde se abastecessem localmente. A razão para a expansão das cidades em bairros/cidades periféricas fundou-se também no aval do estado da urbanização mundial no 2.º quartel do sec. XX. A intensificação descontrolada e o excesso de tráfego tornaram as ruas das cidades impróprias para a habitação, nomeadamente na modalidade em que a habitação em banda dependia exclusivamente da orientação para essas ruas. O mesmo aval recomendava que a intensificação da ocupação urbana deveria processar-se antes pela construção em altura, com edificações mais distanciadas entre si, libertando mais espaço ao nível do solo, e resguardadas da circulação rodoviária por cinturas de vegetação. Os exemples mais notáveis disso em Macau são a torre habitacional de Chorão Ramalho na Av. Sidónio Pais, recuada em relação ao plano marginal da rua, e as Torres da Barra de Manuel Vicente. Por outras palavras, o mesmo significou um modelo de ocupação com características que foram mais a tradição do norte da Europa e menos as mediterrânicas. Como a proliferação do mesmo significou o abandono do “espaço canal” de rua e a decadência do elaborado modelo económico e social que resultou do desenvolvimento e intensificação das cidades, e que se renovava em cada geração desses habitantes. Efectivamente não foram modelos de baixa densidade o que caracteriza a cidade de Macau, tanto na génese da sua morfologia como no seu crescimento. Mesmo quando o território foi excedente de solo em relação ao que fora densamente ocupado na península, e foi excedente de solo nas ilhas quando a península estava densamente ocupada na sua totalidade. Se avistarmos do ar os bairros antigos revela-se uma elevação de construção com uma altura predominante, rasgada por canais. As torres que aí esporadicamente se impõem pautaram-se pela modalidade de acréscimo de volume de reconstrução que acontece apenas recuadamente, e que assenta sobre uma base (um pódio), o qual respeita o plano marginal da rua original. Foi também esse o modelo adoptado em novas urbanizações tais como a Zona de Aterros do Porto Exterior (o ZAPE) ou o bairro do Hipódromo, em sentido de manutenção da tradição do espaço canal (a rua), com a altura e largura achadas adequadas, e com todas as valências funcionais que caracterizam essa tipologia de espaço urbano a que chamamos “rua”. Enquanto isso, nas cidades onde se seguiu o modelo de torres isoladas, rodeadas por verde ambiental, tal como preconizado pelo urbanismo moderno, o mesmo não contribui para a socialização do espaço urbano. O acréscimo desse espaço, se nuns casos significou mais espaço para todos, noutros também significou mais espaço para ninguém. A segurança que resultou desse modelo de ocupação foi menor que a do espaço de rua tradicional, nomeadamente logo que as ruas mais exaustas e degradadas foram reabilitadas e o tecido social foi recuperado. O que aconteceu, entretanto, foi também que as mesmas ruas passaram a ter os limites de ocupação regulados, as actividades passaram a ser criteriosas e a circulação ajustada e condicionada à dimensão das vias e aos usos. Por outro lado, as ruas novas adoptaram logo de início condições geométricas e funcionais melhor ajustadas. O espaço canal nos bairros antigos é ainda portador de uma capacidade intrínseca de salvaguarda de património histórico. A rede de artérias, seja consequência de uma topografia ou de um modelo racional abstracto, confere às cidades aspectos próprios e únicos que são mais persistentes do que a vida económica ou o interesse nos edifícios aí construídos. Essa salvaguarda reside no facto de que o plano marginal do espaço urbano constitui uma barreira entre domínios, o púbico e o privado, que só é possível anular por medidas excepcionais. Em verdade, ao fim de algumas décadas, uma cidade pode ter o seu parque edificado inteiramente substituído, mas continuará a manter sinais expressivos da mesma cidade, que resultam da matriz do seu espaço público, e que não dependem exclusivamente das edificações que lá existiram. É exactamente disso que Macau é um bom exemplo. Por sua vez, a rigidez dos planos marginais do espaço urbano é algo que carrega tradição e elaboração, a que correspondem modalidades diversas de espaços vestibulares ou espaços de transição que, por sua vez, variam com características e tradições locais. Por razões diversas não se passa directamente de um espaço predominantemente público para um espaço predominantemente privado, como não se passa directamente de um espaço interior para um espaço exterior. Principalmente quando, o que acontece lá fora é demasiado mundano, e onde recorrentemente faz muito calor ou muito frio, ou frequentemente chove, ou o sol é abrasador. As componentes arquitectónicas configuradas para essa finalidade têm nomes, como alpendre, vestíbulo, arcada, peristilo ou nártex. Disto resulta que os atributos de uma rua ou de uma praça possam ser muitos e diversos, tornando o espaço urbano rico em elaboração. O projecto de Plano Director para a RAEM não discorreu sobre as características tipológicas do espaço urbano a preconizar nas novas urbanizações, seja na salvaguarda de uma tradição local que se desenvolveu e se ajustou, seja na vertente do seu aperfeiçoamento ou inovação.
A poesia como refúgio António Cabrita - 18 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]T[/dropcap]rump não é louco, está a experimentar até onde vai a tolerância dos americanos no jogo entre a verdade e a mentira, se ele se der como aval. Sente-se como um ratazana esperta a manipular uma enorme manada de elefantes que se porta como galinholas, enquanto ele faz manobras à esquerda e à direita. Ou Trump é louco e está convencido de que é Moisés a separar as águas do Mar Vermelho. As duas hipóteses são plausíveis. A terceira hipótese é eu ser Crazy Horse e estar à beira da trombose, na véspera de Little Bighorn. Por via das dúvidas, para me desviar da alucinação, abro A Bola, e leio o que pensa sobre Mohamed Salah, o goleador do Liverpool, a antiga estrela egípcia Mido: «Salah cometeu o erro de marcar presença do casamento do irmão poucos dias antes do jogo da selecção do Egipto. Mostrou uma enorme negligência na prevenção contra o coronavírus e o resultado é que ficou infetado. A selecção também perdeu um jogador importante para um jogo decisivo e ainda arriscou a saúde dos companheiros de selecção. Ele não deveria ter estado no casamento e ainda por cima com 800 pessoas, das quais metade abraçaram e beijaram Salah. Outra crítica é o silêncio dos responsáveis sobre a atitude do jogador e que confirma que o jogador é maior do que a selecção…», afirmou Mido, em declarações à Imprensa local . E apanho-me a pensar que o “mais velho” tem toda a razão e que esta cedência à vaidade deveria ser recompensada com o despedimento sumário. Salah devia a partir de agora ser retido na necrópole de Saqqara como manicurista e pedicurista de múmias. Nas eleições do Brasil, Bolsonaro perdeu e o PT também, mas o Ciro Gomes não ganhou um palmo: uma honestidade comprovada em várias décadas de vida pública não faz vibrar um sino. Coitado, é dos poucos que estuda os dossiers e nunca fala barato, mas como ninguém lhe denuncia uma falcatrua parece um morrão de cinza num cinzeiro, i.é. um marrão pouco credível. Esqueçamos a política do ventre. Consolemo-nos com quatro poemas de Louise Gluck, transcriados para ir fazendo a mão à sua voz. O ESPELHO : Olho-te reflectido no espelho/ e interrogo-me como será ser-se tão bonito/ e por que ao invés de amares a ti mesmo/ te cortas, te barbeias como se fosses cego?/ E acho que me deixas observar-te/ para que te possas voltar contra ti mesmo/ com redobrada violência;/ precisas de me mostrar como arranhas/ a carne com desdém e sem hesitação,/ até te veja corretamente, como um homem ferido/ e não o mero reflexo que me engancha no desejo. POEMA DE AMOR: A dor sempre serve para alguma coisa./ A tua mãe faz malha./ Despacha cachecóis em todos as gamas de vermelho./ Eram para o Natal, e mantinham-te quente/ enquanto ela casava, uma vez e outra, levando-te/ consigo. Como poderia ter dado certo/ se ela escondeu o seu coração de viúva todos esses anos,/ na ideia de que os mortos pudessem regressar?/ Não admira que sejas como és,/ a tua cagufa ao sangue, as tuas mulheres/ como tijolos um após o outro na parede fria. F O R M A G G I O: O mundo/ estava inteiro porque/ se destroçou. Quando se destroçou soubémos o que era.// Nunca se curou./ Mas nas fissuras profundas apareceram mundos mais pequenos:/ foi uma coisa boa que os seres humanos engendraram;/ pois os seres humanos sabem o que precisam/ melhor do que qualquer deus.// Na Huron Avenue multiplicaram-se/ num fartote de tendas; converteram-se/ em Fishmonger, Formaggio. Foram/ o que foram, venderam o que venderam,/ a sua função era semelhante: eram imagens de segurança. Como/ um lugar de descanso. Os vendedores/ agiam como se fossem paizinhos; parecia/ terem sempre ali vivido. Em geral,/ mais gentis do que os próprios pais.// Afluentes/ que desembocavam num grande rio: eu tinha/ muitas vidas. Naquele mundo provisório/ abancava onde ficava a fruta,/ caixas de cerejas, clementinas,/ sob as flores de Hallie.// Vidas não me faltaram. Desembocavam/ num rio, o rio/ entroncava um grande oceano. Se o eu/ se torna invisível, é porque desapareceu?// Fui prosperando. Não vivia completamente só, sozinho/ mas não completamente – se estranhos/ me rodeavam.// Esse é o mar:/ existimos em segredo.// Tive vidas antes desta, hastes/ de um ramo de flores: convertidos/ numa única coisa, sujeita a um laço no centro,/ um laço visível sob a mão. Sobre a mão,/ o futuro ramificando-se, hastes/ que rematam em flores./ E o punho cerrado/ que seria o eu no presente. O JARDIM: Não aguentaria fazê-lo novamente,/ dificilmente suportaria vê-lo;// no jardim, sob a chuva miudinha/ o jovem casal planta/ uma fileira de ervilhas, como se/ ninguém nunca tivesse feito aquilo antes:/ os grandes problemas todos ainda/ atirados para trás das costas.// Reveem-se até esse momento imaculados / de qualquer sujeira, como começar/ despidos de perspectivas/ se nas colinas ao fundo, verdes e pálidas,/ alastra a nuvem de pólen?// Ela deseja deter aquele instante;/ ele prefere chegar até o fim,/ permanecer nas coisas.// É ela quem ao acariciar-lhe uma face/ abre uma trégua, os dedos engelhados pela chuva primaveril;/ enquanto pela relva macia/ reponta o vermelho açafrão.// Mesmo aí, então no princípio do amor,/ a sua mão ao afastar-se da face/ dá uma impressão de despedida,// e eles julgam-se/ capazes de ignorar/ esta tristeza. Nem tudo está perdido, mas temos um minuto para achar a chave e a escrivaninha tem oitenta gavetas.
Cidades, Escher e o demónio Luís Carmelo - 18 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]D[/dropcap]esde criança que desenho cidades. O meu pai construía-as em cartolina e iluminava-as com luz eléctrica num sótão de Santarém que nunca conheci. O meu irmão sempre as desenhou geométricas, bastante ensimesmadas e a três dimensões muito antes de se falar em 3D. No meio desta genealogia familiar, as minhas cidades são as mais selvagens em toda a linha: traços desordenados, proporções sem cabimento, perímetros desconsabidos. No entanto, vistas como quem observa arte informalista, reconheço que há nelas um certo jogo de volumes, linhas de força apreciáveis e uma poética que rasga os planos da lógica. No fundo, não são cidades; serão vincos fundados por uma qualquer civilização invisível. Chego assim de modo rápido à minha definição preferida: uma cidade é um vinco. Sim, um vinco cavado e escavado num território particularmente desejado onde os humanos decidiram um dia viver. Vincar é uma forma de ênfase que remete para sublinhar, acentuar ou adensar. É isso precisamente que uma cidade faz à paisagem que a rodeia: enruga-a, marca-a, dobra-a, numa palavra – perdoe-se-me a insistência – vinca-a. Este vinco está sempre em mutação, razão pela qual o citadino sente um inevitável desfasamento entre a cidade da sua infância, a da velhice e a que o sucederá no futuro. “Esta já não é a minha cidade” ou “não chegarei nunca a ver a minha cidade tal como a imaginei” são frases que traduzem a ocupação da urbe pelo seu habitante. Este imaginário existencial de um continuado estaleiro que, ao fim e ao cabo, se confunde com a própria essência da cidade, foi levado ao extremo por Baudelaire. Toda a sua poética reflecte a perda e a perdição da Paris que o viu nascer face aos projectos de Haussmann que, como se sabe, demoliu e redesenhou toda a cidade no terceiro quartel do século XIX. O “spleen” e figuras como o “dandy” ou o “flâneur” – todas elas fruto desta impiedosa metamorfose – fazem parte de uma cidade que Baudelaire nunca, de facto, viria a conhecer. O habitante do campo não vê projectado no seu exterior este tipo de descaminho, pois a erosão da natureza é muito mais lenta. O “spleen” campestre é cíclico e sazonal, por isso mesmo previsível. De algum modo, o despovoamento sublima a violência da cidade mas não a cura. É-lhe indiferente. Por outro lado, dentro da cidade, aquilo que é incurável torna-se amiúde em matéria de fascínio. Logo no início do ‘Livro do Desassossego’, Pessoa fala-nos do restaurante localizado numa sobreloja que frequentou durante um certo período da sua vida. Passei por lá há algum tempo e constatei que o edifício fica estrategicamente virado para um dos cruzamentos da baixa. Todo o encadeamento geométrico daquela parcela de Lisboa parece avistar-se das vidraças da sobreloja. E vi-me intuitivamente a concluir que todos os mais de cem heterónimos de Pessoa serão afinal esquinas da baixa de Lisboa, imaginadas como um profuso labirinto pintado ao jeito de Maurits Escher. A visão plural do poeta está de facto ali vincada, acentuada, marcada. Eis como a cidade pode ser uma redoma capaz de encerrar – e ampliar – os limites do humano e das suas visões. O ócio dos personagens de Eça também só tem sentido dentro desta mesma área da cidade. Quando o horizonte de Eça se centra em Leiria, no norte ou no Alentejo, este ‘fastio de dandy acaciano’ esvai-se de imediato. Só a cidade, na verdade, o vinca e lhe concede um milagre que não é, de modo nenhum, apenas literário. No reverso, a cidade – na sua longa história – também se atreve a excluir. Se lermos a parte final da ‘República’ de Platão, compreendemos que as excitações dos bardos e poetas são um perigo para a cidade perfeita. A um território reduzido, compacto e tão habitado deverá, pois, corresponder tão-só elevação e racionalidade. Se lermos a biografia de Aristóteles, ficamos a saber que, logo após a morte de Alexandre o Magno, teve que fugir de Atenas para a ilha de Eubeia – onde viveria só mais um ano de vida – não fosse perseguido pela caça às bruxas aos macedónios. Se lermos a ‘Cidade de Deus’ de Santo Agostinho e, embora saibamos que se trata de uma poderosa metáfora, não deixa esta obra de ser a apologia de um mundo que desaloja e abjura um outro. Uma cidade vinca e existe para vincar em todo o sentido do verbo, sejamos claros. Todas as muralhas construídas – em pedra ou não – se viraram sempre contra um qualquer demónio. Ser cidade é, pois, uma forma de organismo sobrevivente que se fecha e que, ao mesmo tempo, deseja a sua própria mutação e depuração. Ora é centrípeta, ora é centrífuga. Ora se refugia no umbigo e inspira, ora escapa de si através de linhas de fuga e expira. Cesário disse-o através de metáforas chãs, mas muito lúcidas: “O tecto fundo de oxigénio, d´ar/ Estende-se ao comprido, ao meio das trepadeiras; Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,/ Enleva-me a quimera azul de transmigrar”. Porventura é na arte informalista e também nas abstrações líricas de um Kandinsky ou de um Pierre Soulages – ou, ao invés, nos geometrismos patológicos como o do já citado Escher – que a poética da cidade melhor se entenderá. Onde haja uma folha de paisagem vincada com pessoas reunidas a pensar o vento, então haverá cidade. Continuarei, por isso mesmo, a reinventá-las. Até porque é o tipo de poesia que mais me fascina.
AFA | Art Garden recebe “A Way to Exist, Away to Exist”, nova exposição de Alice Kok Andreia Sofia Silva - 18 Nov 20204 Dez 2020 É já este sábado, dia 21, que é inaugurada no espaço Art Garden a exposição “A Way to Exist, Away to Exist”, da autoria de Alice Kok. Desta vez, a artista apostou num trabalho multicultural, feito entre Macau e o Tibete, e que revela o contraste entre a natureza e a ocupação pelo ser humano, com as estruturas artificiais por si criadas [dropcap]A[/dropcap] artista Alice Kok está de regresso às exposições em nome individual com “A Way to Exist, Away to Exist”. A mostra será inaugurada este sábado, dia 21, no espaço Art Garden, da associação AFA – Art for All Society, onde estará patente até ao dia 18 de Dezembro. Esta é uma exposição onde Alice Kok, que preside ainda à AFA, decidiu apresentar um conjunto de trabalhos que “exploram a troca entre a prática espiritual e a comunidade usando a produção de imagem, objectos, entrevistas e pintura”. A ideia para esta exposição começou a ser trabalhada no Tibete, para onde a artista viaja com frequência. A pandemia da covid-19 obrigou-a a repensar a ideia e a trabalhá-la em Macau, o que faz com que esta mostra tenha obras dos dois lugares. “Comecei esta exposição o ano passado com algumas imagens que tirei no Tibete. Este ano tinha planeado regressar e continuar esta série de imagens, mas depois não consegui regressar devido à pandemia. Tenho estado em Macau este ano e comecei a pensar em fazer algo aqui, continuando a ideia que tive no Tibete, onde captei imagens da paisagem e de estruturas artificiais à volta”, contou ao HM. Alice Kok criou então este contraste sobre a forma como existimos na natureza e recriamos estes espaços à nossa medida. “No Tibete o meio ambiente natural está rodeado por estruturas artificiais criadas por humanos, ou por uma arquitectura mais comercial. Quando voltei para Macau percebi que também temos lugares assim. Temos as ilhas, temos terra reclamada ao mar. Em muitos destes locais há posters que mostram aquilo que vai ser construído. Temos o Galaxy, por exemplo, onde se vê como vai ser o novo hotel. Trabalho com isso mas faço uma pixelização das imagens, colocando as partes que deveriam pertencer à natureza”, explicou a artista. Além desta modificação da imagem, Alice Kok coloca também, em alta definição, “as imagens do que é suposto ser o futuro, mas que ainda não existe”. “É um paradoxo em como se pode sobreviver, em como somos parte da natureza mas, ao mesmo tempo, construímos muitos espaços artificiais à sua volta. Parece que não vemos a realidade como é, vemos, ao invés disso, imagens dos espaços artificiais que estamos a construir. O título da exposição é a minha forma de interpretar esta questão existencial”, frisou. Sonho meu Além do trabalho feito em fotografia e com a modificação das imagens, Alice Kok apresenta também uma instalação de vídeo, com o nome “Through the Looking Glass”. “Convidei pessoas da comunidade, amigos de amigos, a virem ao meu atelier e a contarem-me os seus sonhos, mas uso mosaicos para cobrir a identidade das pessoas. Tudo isto é também sobre privacidade, porque os sonhos podem revelar o inconsciente da pessoa, é algo muito íntimo. Aqui há também muita comunicação porque adoptei o formato de entrevista”, contou a artista. Alice Kok decidiu também colocar, do lado de fora do edifício do Art Garden, alguns excertos de um livro auto-biográfico que começou a escrever no Tibete. Esses excertos serão acompanhados por caracteres chineses de cor amarela. “Isso também envolve muito a comunidade, porque quem passa por ver os cartazes, são mensagens que podem ser vistas por todos.” Esta é, sobretudo, uma mostra onde se revela a relação da artista ao nível da identidade, escrita e paisagem, experiências que são “pessoais e que são partilhadas com outros”. Para a AFA, “as fotografias da artista tiradas em Macau e no Tibete têm em conta a produção de identidades interculturais. Alice Kok distorceu parcialmente as imagens convidando-nos a ver novamente a relação com o movimento e a comunicação com lugares distantes. Estes temas, abstractos para muitos de nós, têm um significado directo para a artista, cuja família está separada entre estes dois lugares”.
Turismo | Fim-de-semana celebrado com várias actividades João Santos Filipe - 18 Nov 20204 Dez 2020 O “Carnaval Para Desfrutar Macau” traz para a rua nada mais do que doze eventos virados para as corridas, comida, música e ainda uma pista de neve. Também a mascote Mak Mak vai andar a fazer aparições pela Península e Ilhas [dropcap]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau vai ser a grande atracção do fim-de-semana, mas as actividades não se ficam pelos automóveis. Numa mega operação de charme dos Serviços de Turismo para atrair turistas do Interior, o fim-de-semana vai receber nada menos do que doze actividades, entre corridas, festas, exposições e festivais de comida. Para mostrar a história e o impacto do Grande Prémio para a cidade vão decorrer cinco eventos em diferentes bairros locais. Um deles é organizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e tem como nome “Carros de Corrida Circulam Por Toda a Cidade”. A actividade está dividida pelo Campo da FAOM, nas Portas do Cerco, e os diversos centros comunitários da associação, decorre desde hoje até segunda-feira, e permite aos visitantes perceberem melhor a importância das corridas para a RAEM. O hall de chegadas do Terminal Marítimo da Taipa é outro local que permite aos interessados entrarem em contacto com parte da história do Grande Prémio de Macau, até domingo. Com o nome “Exposição de Retrospectiva Histórica dos 67 anos do Grande Prémio de Macau”, o evento é organizado pelo Grupo CSI. Para os que preferem a proximidade com a comunidade, e a pensar nas famílias, a alternativa passa por ir ao Bairro do Iao Hon, nomeadamente ao jardim ao pé do mercado, durante o fim-de-semana. Com o nome “Super Motor e Rotação para a Zona Norte 2020”, vão ser instaladas várias tendas com jogos, workshops e zonas de fotografias sobre o Grande Prémio. A entrada é gratuita e o evento é organizado pela Associação Industrial e Comercial da Zona Norte de Macau. Não é só na Zona Norte da Cidade que se vai sentir o ambiente do Circuito da Guia, o mesmo vai acontecer Arraial na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida 2020, que decorre na Freguesia de São Lázaro até 6 de Dezembro e é organizado pela Associação Promotora para as Indústrias Criativas na Freguesia de São Lázaro. Além de “mini-corridas” e da exibição de materiais sobre automóveis, os interessados podem assistir a filmes, partilha de histórias, assim como concertos. Finalmente, também a Doca dos Pescadores vai receber uma exibição sobre o Grande Prémio, na Praça dos Romanos, que está a cargo da Associação Comercial Federal da Indústria de Convenções e Exposições de Macau. Comes, bebes e… neve Para realmente “desfrutar Macau” é essencial comer uma boa refeição e a ida ao Festival de Gastronomia é obrigatória. A celebrar o vigésimo aniversário, o evento já se encontra a decorrer, mesmo que com menos barracas do que em anos anteriores, devido à pandemia. Os interessados podem experimentar a comida de 120 restaurantes ou snack-bars. O festival é realizado na Praça do Lago de Sai Van e está a ser organizado pela União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, até 29 de Novembro. Além da comida, há ainda um espaço para jogos e concertos ao vivo, com artistas locais. Ao lado do festival de gastronomia, os visitantes vão ainda poder visitar o a 3.ª Edição do Carnaval de Inverno em Macau, que tem como tema a “construção de uma cidade saudável e demonstração da vitalidade do turismo”. O carnaval de Inverno decorre até 27 de Dezembro e o grande atractivo é um parque com neve sintética que vai permitir esquiar e realizar outras actividades de Inverno. Além disso vai haver barracas com jogos e ainda mais concertos ao vivo. O evento está a cargo da Associação Internacional de Macau de Festas de Carnaval e vai decorrer na Praça da Torre de Macau. O Mak Mak vai às Ilhas A animação do fim-de-semana não se esgota na Península, também na Taipa e em Coloane vai haver festa. No caso da Taipa, começa hoje a “Festa na Taipa”, um evento na Praça dos Bombeiros que dura até domingo e que tem música ao vivo, jogos de perguntas com prémios e ainda tendas com jogos para os participantes. O mesmo modelo vai ser seguido em Coloane, neste caso a partir de amanhã. No Largo Eduardo Marques os interessados vão poder encontrar música, e jogos em barracas com prémios. Estes eventos com um cariz mais comunitário estão a ser organizados pela Federação Industrial e Comercial das Ilhas de Macau. O mesmo modelo de festa vai ser adoptado ainda na Rotunda Carlos da Maia, também conhecida como a Rotunda dos Três Candeeiros. Neste caso, o evento arranca na sexta-feira e fica a cargo da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos. Além destes festivais, a mascote de Macau, o Mak Mak, vai fazer aparições surpresa nos diferentes bairros para tirar fotografias com residentes e turistas. As aparições acontecem entre as 11h e as 21h30 de sábado e domingo e vão acontecer nos seguintes locais: Jardim do Mercado Iao Hon, Rotunda Carlos da Maia, Rua de Tomás da Rosa, Doca dos Pescadores, Praça do Lago de Sai Van, Rua da Torre de Macau, Largo dos Bombeiros na Taipa e ainda Largo Eduardo Marques, em Coloane. AGENDA Grande Prémio de Macau – 67.ª Edição Local: Circuito da Guia Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 14 mil pessoas Arraial na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida 2020 Local: Freguesia de São Lázaro Data: 7 de Novembro a 6 de Dezembro Estimativa de participantes: 4,5 mil pessoas Carnaval de Inverno em Macau – 3.ª Edição Local: Rua da Torre de Macau Data: 12 de Novembro a 27 de Dezembro Estimativa de participantes: 140 mil pessoas Festival de Gastronomia – 20.ª Edição Local: Praça do Lago de Sai Van Data: 13 a 29 de Novembro Estimativa de participantes: 500 mil a 600 mil pessoas Festa de Taipa Local: Largo dos Bombeiros Data: 19 a 21 de Novembro Estimativa de participantes: 6 mil pessoas Festa de Coloane Local: Largo Eduardo Marques Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 5 mil pessoas Festa nos Distritos Centro e Sul Local: Rotunda de Carlos da Maia Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 6 mil pessoas Paixão para a Pista 2020 Local: Doca dos Pescadores, Praça dos Romanos Data: 20 a 22 de Novembro Estimativa de participantes: 40 mil pessoas Super Motor e Rotação para a Zona Norte 2020 Local: Jardim do Mercado do Iao Hon Data: 21 a 22 de Novembro Exposição de retrospectiva história dos 67 anos do Grande Prémio Local: Hall de Chegada do Terminal Marítimo da Taipa Data 19 de Outubro a 22 de Novembro Carros de Corrida Circula Por Toda a Cidade Local: Campos dos Operários e Centros Comunitários Data: Novembro Flash Mob “Mak Mak” Local: 20 a 22 de Novembro Data: Vários locais na Península, Taipa e Macau
CPU | Preservação de fachadas e falta de orientações em debate Salomé Fernandes - 18 Nov 20204 Dez 2020 Foi ontem discutida em reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico a manutenção da fachada de um jardim da família Tong. A falta de orientações sobre as características urbanas que devem ser preservadas esteve também em foco no debate [dropcap]U[/dropcap]m terreno na Avenida do Coronel Mesquita, onde se localizava um jardim da família Tong, gerou ontem um debate numa reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico. Em causa esteve a preservação da fachada da antiga entrada principal, situada ao lado da Escola São João de Brito. Chan Chio I disse que “era um dos famosos jardins de Macau” e que a fachada também é “muito importante”, apelando à sua conservação. Já Lui Chak Keong, sugeriu que se reserve uma distância entre o terreno e a escola. No entanto, houve também quem se mostrasse preocupado com a sua preservação no local original, nomeadamente por problemas de inundação na zona ou dificuldades de desenvolvimento urbano. O representante do Instituto Cultural (IC) afirmou que é necessário avaliar a paisagem da cidade. Como o terreno não fica numa zona tampão, questionou se um edifício novo conseguirá manter o estilo da fachada. Com base no parecer do IC, o projecto de planta de condições urbanísticas – que acabou por ser aprovado – prevê a manutenção do muro de vedação e das características do espaço livre. Labirinto urbano Vários membros do Conselho do Planeamento Urbanístico apelaram para serem definidas directrizes sobre os elementos que devem ser preservados nos edifícios. Choi Wan Sun considera que há “falta de direcção” sobre que características da paisagem urbanística devem ser preservadas durante as construções. Apontando que legislar implica tempo, Yeung To Lai defendeu que se oiçam opiniões do sector e se elaborem instruções. A questão foi levantada durante a análise de uma planta de condições urbanísticas na Rua dos Mercadores. Au Chung Yee questionou se a longo prazo existem orientações e instruções para toda a zona antiga ou para aquela rua em específico. A conselheira considera que é necessário “pensar mais no ponto de vista de viabilidade” e de arquitectura para perceber se é possível “integrar elementos antigos na nova construção”. “Macau está com um problema muito grave”, disse Chan Chio I, referindo-se à falta de instruções. A especialista lamentou que os casos estejam constantemente a ser discutidos olhando para edifícios individualmente, e observou que há pareceres diferentes sobre estruturas na mesma rua. O representante do Instituto Cultural disse que as opiniões iam ser registadas para servirem de referência no futuro.
Areia Preta | Habitação para idosos adjudicada por 2,1 mil milhões Salomé Fernandes - 18 Nov 20204 Dez 2020 O projecto-piloto de habitação para idosos que vai ser construído na Areia Preta foi adjudicado à Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau), num valor superior a dois mil milhões de patacas. O projecto será desenvolvido no lote previsto para o Pearl Horizon [dropcap]A[/dropcap] empreitada para conceber e construir a habitação para idosos no lote onde estava previsto ser erigido o empreendimento Pearl Horizon, na Areia Preta, foi adjudicada à Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau). Dados do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) revelam que o preço é de quase 2,1 mil milhões de patacas. O prazo para as obras é de 860 dias de trabalho e inclui metas obrigatórias. O GDI aponta que a adjudicação directa foi feita a uma empresa com experiência na concepção e construção de obras semelhantes, considerando que isso permite diminuir o prazo de construção. O organismo aponta que os trabalhos preliminares já começaram e que foram encontradas várias estacas durante a inspecção ao local da obra. “Encontra-se em curso a contabilização e avaliação das estacas a reutilizar ou a remover por forma a concluir com maior brevidade possível o projecto de execução das fundações e a criar condições para o início dos trabalhos da empreitada ainda no corrente ano”, explica o GDI. O projecto-piloto vai ter 1.800 fracções de tipologia T0 e vários equipamentos sociais. A conclusão está prevista para daqui a três anos. Anteriormente, o Governo afirmou que o prédio planeado para a Areia Preta teria como destinatários residentes idosos a morar em prédios de cinco andares sem elevador. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura indicou que seria um bairro com serviços ao domicílio e equipamentos inteligentes para ajudar essa camada da população. De acordo com o GDI, esta é “a primeira obra pública na RAEM” construída através de pré-fabricação. Entre as vantagens apontadas pelo GDI, estão o alívio da carga no aterro para Resíduos de Materiais de Construção e a velocidade das obras. O projecto será uma “base de aprendizagem e formação” relativamente a pré-fabricados, com o GDI a admitir que poderão ser utilizados em construções futuras nos Novos Aterros Urbanos. Controlo de despesas O GDI explica ainda que encarregou uma consultora da medição de trabalhos e materiais para supervisionar os custos durante todo o período da empreitada, que vai também gerir as cláusulas contratuais. O objectivo do Governo é o cumprimento do orçamento previsto. Nos contratos é estipulado que os Serviços de Medição de Trabalhos e Materiais da empreitada foram adjudicados à Rider Levett Bucknall Macau Limitada, com um valor de 9,15 milhões patacas e um prazo mais extenso: até 1125 dias.
Poder do povo considera que direito de reunião foi limitado Pedro Arede - 18 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] presidente da associação Poder do Povo, Iam Weng Hong considera que o seu direito de reunião foi limitado, quando as autoridades pediram para desmobilizar a banca montada nas Portas do Cerco, dedicada ao combate à corrupção. Sobretudo, quando o responsável está autorizado a fazê-lo até ao dia 7 de Dezembro. A posição foi avançada ontem durante a entrega de uma carta ao Chefe do Executivo. “Não nos deixaram instalar materiais como mesas e cadeiras, exibir mensagens e slogans, nem reunir nos espaços cobertos [das Portas do Cerco]. Só nos deixam utilizar os materiais nos espaços desprotegidos, coisa que não aconteceu no ano passado. Se não atenderem aos nossos pedidos, vamos continuar”, apontou à margem. Tal como já tinha acontecido no final de Outubro, na carta entregue ontem a Ho Iat Seng, Iam Weng Hong voltou a pedir que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) investigue todas as obras feitas durante o mandato do anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On, incluindo a instalação obrigatória do sistema de terminal inteligente nos táxis. Sobre a manifestação que chegou a estar agendada para o dia 6 de Novembro e que a associação viria a cancelar devido a “algumas pressões”, Iam Weng Hong concretizou ontem perante os jornalistas que estava preocupado que a acção pudesse “enfurecer o Governo”, acabando por influenciar negativamente as decisões das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2021. Perante o cenário, o responsável admitiu ainda não excluir o agendamento de uma nova manifestação anti-corrupção, caso continue a sentir “limitações” à sua actuação nas Portas do Cerco. Imprecisões na origem Na origem do descontentamento está a instalação do sistema de terminal inteligente nos táxis. Recorde-se também que, no início de Outubro, segundo o canal chinês da TDM-Rádio Macau, o CCAC terá recebido queixas de taxistas sobre as despesas obrigatórias inerentes à instalação do sistema. Na altura, os taxistas queixaram-se que quando foram discutidas as alterações à lei que regula o sector não sabiam o preço das despesas da instalação do novo taxímetro, de 300 patacas por mês, nem que teriam problemas no cálculo da distância percorrida.
AL | Comissão recusou incluir perguntas de deputados para “acelerar” trabalhos João Santos Filipe - 18 Nov 20204 Dez 2020 Vong Hin Fai negou que a comissão a que preside tenha medo de perguntas “sensíveis” de alguns deputados, e diz que todos podem falar quando estiverem frente-a-frente com o Governo. Por agora, o objectivo é sempre acelerar os trabalhos [dropcap]A[/dropcap] 3.ª Comissão Permanente terminou a primeira análise do novo Estatuto dos Agentes das Forças e Serviços de Segurança no meio de polémica. Após a reunião de ontem, a comissão presidida por Vong Hin Fai vai enviar um rol de perguntas ao Governo, que depois serão respondidas por escrito. Esta é também uma forma de preparar as futuras reuniões entre as partes. No entanto, a reunião terminou com polémica porque nem todas as perguntas dos deputados foram aceites. O caso levou mesmo a uma deliberação interna, em que a maioria impediu que outros membros pudessem contribuir com perguntas no documento que será enviado ao Executivo. A razão foi “acelerar os procedimentos”. A situação foi confirmada pelo presidente da comissão, que recusou qualquer tipo de limitação do trabalho dos colegas. “Não há limitações nas perguntas que os deputados podem fazer [ao Executivo]. Mas, para acelerarmos os trabalhos, e ter uma reunião quanto antes com o Governo, deliberámos enviar em primeiro lugar uma lista sobre as políticas”, começou por responder o deputado que preside à comissão. “É uma lista para os representantes do Governo estarem preparados para a reunião, e depois nessa reunião cada membro pode fazer as questões técnicas que entender, quando estivermos com o Governo”, acrescentou. Por outro lado, o presidente da comissão recusar ter havido censura: “Nós deliberamos apresentar uma lista com questões, um memorando sobre as políticas. Não é por serem questões sensíveis ou técnicas, mas achamos que tínhamos de fazer uma selecção para acelerar os trabalhos”, sublinhou. Vong Hin Fai apontou ainda que a comissão está a trabalhar contra o tempo, porque nas próximas três semanas vão decorrer os debates sobre as Linhas de Acção Governamental, que tiram tempo aos deputados. Comissão quente O novo Estatuto dos Agentes das Forças e Serviços de Segurança proposto pela tutela do secretário para a Segurança tem estado longe de gerar consensos, mesmo na comissão. Esta não é a primeira vez que o debate aqueceu e o mesmo aconteceu na sexta-feira da semana passada. Na altura, após uma reunião em que se analisou a responsabilização dos agentes por acções praticadas fora do expediente de serviço e ainda a proibição de queixas anónimas contra superiores hierárquicos, Vong Hin Fai admitiu que as propostas estavam longe de ser consensuais, mas recusou explicar em detalhe as preocupações dos colegas. Contudo, traçou um cenário em que a maioria pode estar mesmo contra as sugestões de Wong Sio Chak: “Se a maioria dos membros não concorda com a proposta de lei, isso será reflectido no parecer. Agora, o porquê de eles não concordarem, não posso responder. Como presidente, apenas posso aqui dizer quais foram as preocupações dos membros da comissão”, afirmou.
Revisão da lei orgânica do FDIC chega este ano ao Conselho Executivo Andreia Sofia Silva - 18 Nov 20204 Dez 2020 Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, assegurou ao deputado José Pereira Coutinho que o projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, de onde saíram os empréstimos para a falida Viva Macau, chega ainda este ano ao Conselho Executivo [dropcap]O[/dropcap] projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) deverá chegar ao Conselho Executivo para análise ainda este ano. A garantia é dada por Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, numa resposta a uma interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho. “Procura-se que o projecto de alteração seja submetido este ano ao Conselho Executivo para discussão”, apontou Tai Kin Ip, que adiantou alguns detalhes daquilo que poderá mudar na lei orgânica. “Serão regulamentados os mecanismos de apreciação e aprovação das candidaturas de apoios e de supervisão. Serão incluídas as normas relativas à verificação de qualificação e à prestação de garantia adequada, a fim de assegurar o património do fiador que possa ser executada de forma mais eficaz no futuro através do processo judicial.” Além disso, “no que concerne ao mecanismo de monitorização, aplicar-se-á, pela abordagem baseada no risco, uma monitorização dinâmica aos apoiados”, aponta ainda a resposta do director dos Serviços de Economia. Relatório acompanhado Tai Kin Ip destacou o facto de o FIDC ter vindo a acompanhar as sugestões e críticas feitas pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) este ano relativamente ao caso dos empréstimos concedidos à Viva Macau, no valor de 212 milhões de patacas. “O FDIC manifestou a sua total aceitação das opiniões e sugestões levantadas pelo CCAC, tendo já sido iniciados os trabalhos de acompanhamento. O FDIC também irá aperfeiçoar o seu processo de apreciação, aprovação e gestão, através da alteração do diploma legal, criação do mecanismo de garantias, realização de gestão e de alerta de risco, e reiteração das responsabilidades profissionais e deveres do pessoal”, lê-se. Os empréstimos à Viva Macau foram concedidos em 2009, mas só este ano é que o CCAC concluiu a investigação sobre o caso. No relatório, conclui-se não ter havido crime de corrupção ou fraude no empréstimo, mas que houve negligência por parte do Executivo.
LAG | Académicos apontam 2021 como época dourada da diversificação económica Pedro Arede - 18 Nov 20204 Dez 2020 Num debate promovido pela Universidade de Macau, Fong Ka Chio considerou que as LAG para 2021 são as “mais importantes dos últimos 20 anos” e mostrou-se confiante sobre o sector do jogo e a vinda de turistas durante o ano novo chinês. A possibilidade de trocar o cheque pecuniário por cartões de consumo não deve acontecer no próximo ano [dropcap]E[/dropcap]specialistas e académicos ligados à economia e às ciências sociais consideram que o próximo ano é uma oportunidade de ouro para colocar finalmente em marcha os anseios de diversificação económica de Macau, através do desenvolvimento do sector financeiro e da indústria da medicina tradicional chinesa. À margem de um debate promovido pela Universidade de Macau (UM) que se debruçou sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2021, Fong Ka Chio, deputado e Director do Instituto para o Estudo do Jogo Comercial da Universidade de Macau, começou por sublinhar que estas são as LAG “mais importantes dos últimos 20 anos, desde a transição” e que é necessário traçar uma estratégia para o desenvolver os sectores descritos no documento. Reforçando que não existe melhor “timing” para finalmente passar à prática, o também professor da Faculdade de gestão de Empresas da Universidade de Macau, lembrou que existe consciência social sobre a contracção da economia mundial devido à pandemia de covid-19 e que, por isso, a população compreende ser urgente delinear uma estratégia de acção. Começando pelo sector financeiro, Fong Ka Chio refere que esta é uma aposta fundamental para ajudar a economia local, porque Macau tem uma certificação internacional e detém na indústria do jogo, uma fonte de receitas “muito importante”. “Compreendemos que o Chefe do Executivo está pronto para implementar as ideias mas qual é a estratégia? O Governo, para capitalizar as suas fontes de financiamento, deve tornar Macau num centro financeiro, até para ajudar o Governo Central, e especialmente a área da Grande Baia, a obter suporte financeiro e a estimular o desenvolvimento económico. Por isso, acho que é uma grande oportunidade”, apontou. A opinião mantém-se sobre o sector da medicina tradicional chinesa em Macau, que considera poder vir a gerar receitas de milhões, à imagem do que acontece em Hong Kong e Guangdong. Sobretudo, quando, ao longo dos anos, já foram feitos investimentos em Macau ao nível de patentes e investigação. Além disso, caso a proposta de lei intitulada “Regime jurídico do registo e gestão de medicamentos tradicionais chineses” seja aprovada pela Assembleia Legislativa, este tipo de produtos pode vir a ser exportado para outras regiões do globo. “Agora é o momento apropriado para transformar o investimento numa indústria capaz de capitalizar finalmente essa aposta. O Governo de Macau está a tentar atrair essas empresas [de Hong Kong e Guangdong com receitas anuais de 10 mil milhões de renminbis] para criar uma sucursal regional em Macau e, a partir daí, tirar partido da cooperação com Henqgin para que as grandes empresas (…) se fixem aí”, referiu Fong Ka Chiu. Concordando com a visão do deputado, Xu Jianhua, responsável pelo departamento de Sociologia da UM, acrescenta que a viabilidade de desenvolver o sector financeiro em Macau está dependente “da determinação do Governo”, lembrando que o Governo Central tem vindo a apoiar Macau sobre a matéria, sobretudo “devido à tensão política que se vive em Hong Kong”. Vão vir charters Sobre as receitas de jogo, que têm atingido registos históricos pelas piores razões ao longo do ano, Fong Ka Chiu mostrou estar confiante em relação ao futuro e ao mercado de massas, esperando que, por altura do ano novo chinês, Macau venha a receber um número de turistas considerável. “Se conseguirmos controlar a pandemia, acredito vivamente que cada vez mais turistas queiram vir, especialmente durante o ano novo chinês. Aí espero que haja uma nova vaga de turistas porque, neste momento, estamos num pico problemático em relação à pandemia a nível mundial. Se conseguirmos ultrapassar a situação, a mensagem de que Macau é uma cidade saudável vai ser espalhada pela comunidade chinesa”, partilhou. Acerca da possibilidade de trocar o cheque pecuniário por cartões de consumo, Wong Seng Fat, professor associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau é da opinião que “é uma boa estratégia”, pois obriga os residentes “a gastar o dinheiro no território”. Por seu turno, Fong Ka Chiu referiu que a mudança não deve ser para já, pois “a maioria dos residentes prefere receber o valor em dinheiro” e que, por isso, “o Governo está a considerar seriamente manter a atribuição como é habitual”.
Ensino | Intercâmbio de docentes da China custou mais de 145 milhões de patacas João Luz - 18 Nov 20204 Dez 2020 Desde que começou, no ano lectivo 2008/2009, o “plano de intercâmbio de docentes excelentes do Interior da China para Macau” custou em salários mais de 145 milhões de patacas, para contratar 319 professores. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura assegurou que não desempenham funções pedagógicas, enquanto um professor local referiu ao HM que os seus colegas encaram estes professores com reverência [dropcap]“A[/dropcap] educação não tem preço. Sua falta tem um alto custo.” A frase do escritor brasileiro António Gomes Lacerda explica com simplicidade a importância de investir no ensino, mas, como máxima que é, não entra na complexidade de programas pedagógicos e na forma como se traduzem em frutos educativos. Recentemente, o programa de intercâmbio que todos os anos, desde 2008/2009, traz para Macau dezenas de professores do Interior da China voltou à ordem-do-dia, quando a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, referiu que neste ano lectivo a rede escolar da RAEM conta com o serviço de 40 docentes. Segundo informação prestada pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), desde o ano de implementação do “Plano de intercâmbio de docentes excelentes do Interior da China para Macau”, vieram para as escolas da RAEM um total de 319 professores do Interior. O HM tentou saber quanto custou, até agora, este programa de intercâmbio aos cofres públicos e chegou ao número 145.455.240, mais de 145 milhões de patacas só em salários. O resultado de muitas somas foi conseguido com a ajuda da DSEJ, que esclareceu como são renumerados estes profissionais. “Durante o período em que permanecem em Macau, estes docentes do Interior da China, em conformidade o “Regime do Contrato de Trabalho nos Serviços Públicos”, trabalham como técnicos especializados em regime de contrato individual de trabalho, exercendo funções técnicas especializadas, nas áreas de investigação pedagógica e formação”. Portanto, tendo em conta o número de docentes por cada ano lectivo, o índice de vencimento e os escalões correspondente, conclui-se que em 2020/2021 o custo anual dos salários destes profissionais será, no total, mais de 21,9 milhões de patacas, com cada um a receber um vencimento mensal de 39.130 patacas. Segundo uma estimativa de um docente, com larga experiência em Macau, o salário médio, nos primeiros anos, de um docente que lecciona numa instituição integrada na rede escolar pública ronda as 20 mil patacas, se tiver BIR, ou 15 mil patacas se for estrangeiro. Contas de somar Quando o programa teve início, em 2008/2009, e nos dois anos lectivos seguintes, chegaram a Macau 20 professores, com o mesmo índice de remuneração. Durante os três anos iniciais, o plano de intercâmbio custou em salários mais de 21,3 milhões de patacas, correspondente a um vencimento mensal de 25.370 patacas. No ano lectivo 2011/2012, o índice de remuneração subiu, enquanto o número de profissionais “importados” se manteve nas duas dezenas, o que se reflectiu na subida do custo anual com salários dos professores do Interior para 7.464.800 de patacas. Em cerca de oito anos, o peso no erário público da despesa com salários destes docentes, que não têm funções pedagógicas duplicou, e neste ano lectivo quase triplicou. Uma vez que os docentes chegam de fora, o HM tentou apurar se estão previstas ajudas de custos nos vínculos profissionais. “O alojamento e outras despesas, relacionadas com a subsistência em Macau, ficam a cargo dos respectivos docentes”, esclareceu a DSEJ. Outro dos aspectos que importa referir é a necessidade de contratar profissionais ao exterior, ao abrigo da legislação que regula a função pública, sem dar prioridade aos trabalhadores locais. Um argumento inúmeras vezes apresentado por deputados, e elementos associativos. É de ter em conta que o regime do contrato de trabalho nos serviços públicos estabelece que “a contratação de trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho, na RAEM ou no exterior, para servirem como consultores ou em funções técnicas especializadas, só é admitida em situações de escassez de profissionais ou por virtude da especial qualificação profissional do trabalhador a contratar”. Os inúmeros porquês Sem funções pedagógicas, sem dar ou preparar aulas, o que fazem, afinal, estes docentes? A DSEJ respondeu ao HM desta forma: “Têm como funções principais auxiliar a implementação do ‘Quadro da organização curricular da educação regular do regime escolar local’ e das ‘Exigências das competências académicas básicas da educação regular do regime escolar local’ de Macau, ajudar as escolas a criarem um mecanismo de investigação pedagógica próprio e a promoverem uma cultura de investigação pedagógica, incentivar o desenvolvimento contínuo e profissional dos docentes, elevar a eficácia do processo de ensino e aprendizagem das escolas de Macau, e organizar actividades de visita e intercâmbio profissional entre os docentes de Macau e os de outras regiões”. Resposta que, mais tarde, seria publicada em comunicado na plataforma de comunicação do Governo. O HM tentou perceber no que se materializa, na prática, o trabalho destes docentes. Um professor, com larga experiência em Macau, afirmou ao HM que, como não domina o mandarim, praticamente não contactou com estes professores, “que mal falam cantonês”. “Não participam nas reuniões administrativas da escola e integram a equipa de matemática ou de mandarim. Assistem a uma aula de cada professor e dão a sua opinião, que suponho ser mais de natureza de consulta, do que supervisão”, apontou o professor. O profissional que falou com o HM, e que partiu apenas da sua experiência pessoal, revelou que o restante corpo docente das escolas por onde passou, desde que começou o intercâmbio, encara os colegas do Interior com muito respeito. “É uma relação de cordialidade. Nem sei como dizer. Respeito ou reverência. São tratados como se fossem hierarquicamente superiores, ou um tesouro para a escola. Suponho que a reverência é por se predisporem a estar longe de casa e virem ensinar o que se sabem”, contou o professor, que preferiu não se identificar. Locais e nacionais Na semana passada, a DSEJ acalmou as críticas que temiam que este programa pudesse “roubar” empregos aos professores locais sublinhando a sua natureza temporária. “Estes docentes, após terem completado 1 a 3 anos de serviço, voltam, de imediato, ao seu local de residência original. Nenhum destes profissionais é contratado pela DSEJ, sob qualquer forma, após a conclusão do plano”, esclareceu o organismo liderado por Lou Pak Sang. Uma das vozes críticas do programa foi Sulu Sou, que destacou o problema da língua e de cultura educativa. “Eles não percebem o ambiente de ensino e as instituições locais. A língua é outro dos problemas, porque, como os professores do Interior da China orientam os docentes de Macau em mandarim durante a preparação das aulas, incentivam à utilização do mandarim”, comentou na sexta-feira o deputado. A DSEJ adiantou ainda que “actualmente, cerca de 70 por cento das escolas de Macau participam no plano de intercâmbio, que tem tido uma aceitação entusiástica e o número de projectos apresentados pelas escolas tem vindo a aumentar de ano para ano. Este ano lectivo, mais de 40 escolas apresentaram o seu pedido de adesão, abrangendo o nível de ensino Infantil e determinadas disciplinas dos ensinos Primário e Secundário, nomeadamente, Língua Chinesa, Matemática, Artes Visuais, História (ensino secundário), Geografia, Tecnologias de Informação e Comunicação, e Ciências Naturais, entre outras”. Curriculum vitae Quanto às competências dos docentes “importados”, a DSEJ indicou que devem possuir licenciatura e graus académicos superiores; ter 8 ou mais anos de experiência pedagógica nas respectivas disciplinas; ter exercido funções, na área da investigação pedagógica, numa instituição especializada, ou ter 5 ou mais anos de experiência nessa área; ter 3 ou mais anos de experiência a orientar investigações pedagógicas. Além dos requisitos exigidos por Macau, a DSEJ acrescentou que os departamentos de educação das diferentes regiões do Interior da China também estabelecem critérios e condições de apreciação e selecção, de acordo com as suas próprias exigências. Quanto a esses critérios, no final de Maio deste ano, o Jornal Tribuna de Macau noticiou a partilha no Interior da China de um anúncio, emitido pelo Departamento de Educação da Província de Hunan, a publicitar as vagas em Macau, ao abrigo deste programa. A mesma fonte referiu que os critérios de selecção incluíam “ter uma posição política firme”, “insistir no princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e amar a pátria”. Face a esta informação, o Governo de Macau não se pronunciou. “Os critérios e as condições de selecção, estabelecidos pelos serviços de educação de diferentes regiões do Interior da China, não foram objecto de comentário por parte da DSEJ.”
Polícia de Hong Kong detém três ex-deputados pró-democracia por desacatos no parlamento Hoje Macau - 18 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong deteve hoje três antigos deputados da oposição por perturbarem as reuniões legislativas em Maio, num momento em que crescem as preocupações com a repressão sobre o campo pró-democracia. Ted Hui, Eddie Chu e Raymond Chan deixaram mensagens na rede social Facebook a informar que tinham sido detidos devido aos incidentes no parlamento local, quando o trio tentou impedir as reuniões legislativas nas quais se procurava aprovar a lei do hino, em maio e junho. A polícia de Hong Kong indicou que tinha detido três antigos deputados sob a acusação de desacatos no Conselho Legislativo. Os três antigos legisladores perturbaram as reuniões em que se debateu a agora aprovada portaria do hino, que criminaliza qualquer insulto ou abuso sobre o mesmo. Entre maio e junho, Hui largou uma planta podre e tentou pontapeá-la na direção do presidente do Conselho Legislativo, Chu espalhou um líquido malcheiroso, algo que Chan também tentou fazer, antes de ter sido detido pelos seguranças. Os três tentaram novamente perturbar a aprovação da proposta de lei em 04 de junho, mas foram todos expulsos. A lei passou nessa sessão e o trio foi mais tarde condenado a pagar até 252 mil dólares de Hong Kong por danos causados. Os serviços de emergência chegaram a ser chamados ao local e vários deputados pró-Pequim disseram sentir-se indispostos.