GP Macau | Luca Engstler ainda recupera do acidente Sérgio Fonseca - 12 Jan 2025 Apesar de todos os anos a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau colocar vários recursos e muita energia na segurança dos pilotos, o Circuito da Guia continua, e continuará, a ser um dos mais perigosos e arriscados do mundo. Este ano, o jovem alemão Luca Engstler, que participou pela primeira vez num carro GT3, sentiu na pele a velha máxima deste circuito: “os erros pagam-se caro” Passadas oito semanas após o acidente mais grave da sua carreira, o piloto de 24 anos ainda está a recuperar do aparatoso infortúnio na sessão de qualificação da Taça do Mundo de GT da FIA do 71.º Grande Prémio de Macau. Na tarde de sexta-feira, com o cronómetro a contar e quando tentava melhorar a sua marca, Luca Engstler perdeu o controlo do seu Lamborghini Huracán GT3 EVO na temida Curva do Mandarim, batendo a mais de 230 km/h nas barreiras de protecção. O carro inscrito pela Liqui Moly Team Engstler, mas preparado e colocado a correr pela Grasser Racing Team, ficou completamente destruído e o piloto germânico chegou mesmo a ficar inconsciente após o impacto. “Este é um evento único, o andamento dos Lamborghini não estava muito bom e para estarmos à frente tínhamos que arriscar mais que os outros. Basicamente, fui completamente a fundo e não tive sucesso”, explicou assim Luca Engstler, na altura, o acidente que sofreu. Dois meses depois daquele que foi “o dia mais horrível da minha vida até hoje”, o ex-campeão alemão de Turismo (TCR) ainda se encontra em processo de recuperação. “Foi realmente um grande impacto”, recordou Luca Engstler, em conversa com o portal especializado Motorsport-Total.com, que precisou de uma cadeira de rodas após o acidente. “O grande problema foi que o meu tornozelo direito sofreu bastante. Rasguei os ligamentos laterais e tive bastantes hemorragias na tíbia e na fíbula, o que causou alguma preocupação”, relembrou. Voltar a caminhar normalmente foi também um grande desafio para o jovem piloto da Lamborghini, que na temporada de 2024 venceu de forma impressionante duas corridas da DTM e participou pela primeira vez num carro GT3 em Macau. “Demorei bastante tempo para conseguir andar”, recordou. “Nos primeiros dois ou três dias, estive mesmo de cadeira de rodas, porque simplesmente não conseguia fazer nada e todos os ossos me doíam”, descreveu Engstler à publicação do seu país, referindo que “tinha hematomas por todo o lado e tudo estava difícil”. A recuperar Ainda assim, Lucas Engstler, no final do dia do acidente, já no Centro Hospitalar Conde de São Januário, fez uma publicação nas redes sociais a afirmar que estava tudo bem. O piloto, que se encontrava em Macau acompanhado pelo seu pai, Franz Engstler — também piloto e uma figura bem conhecida do automobilismo asiático —, quis tranquilizar os mais próximos. Dois dias após o acidente, apareceu na grelha de partida da Taça do Mundo de GT da FIA, no domingo, sem muletas, apenas ligeiramente apoiado por um guarda-chuva. “O que era importante para mim era não querer fazer um grande alarido sobre isto”, explicou ao portal germânico. “No final, o acidente parecia muito grave, mas isso só demonstra o quão seguros são os carros”, realçou. O piloto continua a recuperar das sequelas do forte impacto. Aproveitou a pausa de Inverno para fazer uma viagem de autocaravana até à Suécia com o seu melhor amigo. “Está tudo a correr bem”, afirmou, esclarecendo que já consegue correr. “Diria que estou a 95 por cento e não tenho danos permanentes.” Após o acidente, o alemão trabalhou na sua recuperação na região do Allgäu, na sua terra Natal, “com alguns conhecidos, que são fisioterapeutas e médicos. Recebi uma excelente assistência”. Regresso para breve Luca Engstler admite que se tornou impaciente durante o processo de recuperação. “Disseram-me que só poderia voltar a fazer desporto no início de Fevereiro, mas claro que isso não consegui aceitar”, reconhecendo que começou a treinar mais cedo do que o recomendado. Felizmente para Luca Engstler, o DTM só começa no último fim de semana de Abril. Nos próximos tempos, o piloto planeia voltar a sentar-se novamente ao volante, possivelmente num kart de aluguer para começar. O objectivo é estar em forma para o início da pré-temporada e dos testes de preparação do popular campeonato alemão, agendados para meados de Fevereiro e início de Março. Quanto ao Grande Prémio de Macau, dois dias depois do acidente, Luca Engstler foi bastante claro: “Disse a todos que o meu objectivo é regressar e tentar lutar pela vitória nesta grande corrida.”
Portugal | Vinho, azeite ou cortiça cruzam Nova Rota da Seda Hoje Macau - 12 Jan 202512 Jan 2025 O transporte ferroviário assume-se cada vez mais como uma alternativa eficaz ao comércio por via marítima entre Portugal e a China Reportagem de João Pimenta, agência Lusa No centro do vasto território chinês, a mais de mil quilómetros do litoral, centenas de produtos portugueses chegam semanalmente em comboios de carga, reflectindo a crescente importância do transporte ferroviário no comércio China – Europa. Carregados com vinho, azeite, flor de sal, produtos de cortiça ou os tradicionais sabonetes Ach Brito, os contentores partem de Tilburg, nos Países Baixos, e percorrem quase 11.000 quilómetros, atravessando a Alemanha, Polónia, Bielorrússia, Rússia e Cazaquistão, até chegar a Chengdu, a capital da província de Sichuan. “É muito vantajoso: permitiu que a posição de Chengdu no interior da China se convertesse de periférica para central e reduziu o tempo de transporte, que foi afectado pela instabilidade no Mar Vermelho”, explicou à agência Lusa Ni Xiaozhen, co-fundadora do Pavilhão de Portugal, um espaço destinado à exposição e venda a grosso de produtos portugueses, situado no Porto Ferroviário Internacional de Chengdu. A crise no Mar Vermelho, suscitada pelos ataques dos rebeldes Houthis, forçou as empresas de transportes a desviar navios de mercadorias para o Cabo da Boa Esperança, o que triplicou os preços dos fretes e aumentou o tempo de viagem em 15 dias. “O transporte naval demora, pelo menos, quatro meses. A ligação ferroviária permite reduzir o tempo para apenas 13 dias”, explicou Ni, que emigrou para Portugal em 1998. O custo é também apenas um quinto do frete aéreo. Ainda antes da crise no Mar Vermelho, o transporte ferroviário de mercadorias pela Eurásia foi impulsionado pela pandemia da covid-19, beneficiando das interrupções nas vias aérea e marítima. Pequim construiu na última década alguns dos maiores portos secos do mundo nos países da Ásia Central, capazes de descarregar um comboio de contentores em menos de 50 minutos. A primeira ligação ferroviária foi inaugurada em 2013, com destino final em Almati, a maior cidade do Cazaquistão. Nos últimos anos, novas vias passaram a incluir o resto da Ásia Central, Médio Oriente e a região do Cáucaso, com paragem final na Alemanha, Países Baixos, Polónia, Bélgica ou Espanha. Bem público No ano passado, o valor das mercadorias transportadas por comboios representou mais de 7 por cento do comércio total entre a China e a Europa, segundo dados das alfândegas chinesas. O transporte ferroviário insere-se na Iniciativa Faixa e Rota, ou Nova Rota da Seda, um gigantesco projecto internacional de infraestruturas lançado por Pequim e inspirado nas milenares rotas comerciais que outrora ligaram a China Antiga ao mediterrâneo. “O serviço de comboios de mercadorias China – Europa é um importante vector de cooperação aberta e de benefício mútuo entre os países envolvidos na Iniciativa Faixa e Rota e uma nova rota de transporte, para todas as condições meteorológicas, de elevada capacidade e com baixas emissões de carbono, que se tornou num bem público internacional”, descreveu à Lusa um funcionário da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo de planeamento económico da China. A iniciativa aproximou Pequim da Ásia Central, região historicamente sob a órbita de Moscovo, composta por cinco repúblicas ex-soviéticas (Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão). Na semana passada, o Presidente do Quirguizistão, Sadyr Japarov, deu início à construção da linha ferroviária China – Quirguizistão – Uzbequistão, que terá uma extensão total de 522,94 quilómetros. Presença regular Com uma área de 500 metros quadrados, o Pavilhão de Portugal foi inaugurado em 2021, resultado de uma parceria entre empresários portugueses e chineses. O espaço reúne dezenas de marcas portuguesas, incluindo vinhos, azeite, cortiça ou têxtil. Além do espaço de exposição e venda em Chengdu, o Pavilhão de Portugal tem uma presença regular em feiras especializadas de produtos internacionais na China. Situados em pontos opostos na vasta massa terrestre da Eurásia, Portugal e China distinguem-se também pela dimensão. Com cerca de 1,4 mil milhões de habitantes, o país asiático é a segunda maior economia do mundo e o principal mercado para diversos produtos, desde matérias-primas ou produtos alimentares a bens acabados. Esta escala, no entanto, nem sempre é compatível com a reduzida capacidade de produção das empresas portuguesas, alertou Ni Xiaozhen. “Existe mercado na China para os produtos portugueses, mas falta volume a Portugal para responder à dimensão das encomendas”, explicou. “Mas julgo que, desde que haja trabalho sério, será possível definir estratégias que fomentem o comércio”, vincou.
Pequim lança maior emissão de obrigações de sempre em Hong Kong para apoiar moeda Hoje Macau - 10 Jan 2025 A China vai lançar uma emissão de obrigações no valor de 60 mil milhões de yuan, a maior realizada através de Hong Kong, para apoiar o câmbio do renmimbi. Num comunicado publicado ontem, a Autoridade Monetária de Hong Kong, o regulador financeiro da região semiautónoma chinesa, anunciou que estas obrigações terão uma maturidade de seis meses. A agência de notícias financeiras Bloomberg notou que este é um número recorde em leilões deste tipo realizados pelo banco central da China através da antiga colónia britânica, desde que começaram em 2018, e salientou que a instituição vai absorver a quantidade de yuan actualmente disponível no mercado, gerando assim procura pela moeda. “A absorção de liquidez provavelmente limitará o financiamento ‘offshore’ de yuan no curto prazo, mas a força do dólar [norte-americano] e as incertezas tarifárias contínuas provavelmente continuarão a pressionar o yuan para baixo”, disse Wee Khoon Chong, analista do banco de investimento BNY, citado pela Bloomberg. O banco central da China não recorre a emissões de obrigações para apoiar a moeda desde 2023, e as previsões de liquidez apertada em Hong Kong fizeram com que os custos de financiamento do renmimbi atingissem o valor mais elevado desde meados de 2021. Nos últimos meses, o banco central chinês fixou repetidamente taxas de câmbio oficiais mais fortes do que o previsto – em relação às quais a taxa ‘onshore’, a que é transacionada nos mercados chineses, só pode flutuar num máximo de 2 por cento por dia – para defender a moeda, tornando também público o compromisso de manter a estabilidade cambial. Esta semana, o yuan esteve muito perto de cair para o valor mais baixo desde finais de 2007. Final infeliz Desde meados de 2024 até ao final de Setembro, o valor da moeda chinesa registou tendência ascendente, devido às expectativas de cortes nas taxas de juro nos Estados Unidos e de um prolongamento significativo das medidas de apoio à economia chinesa, face a uma recuperação aquém do esperado após a pandemia da covid-19. No entanto, a curva inverteu-se perante a desilusão dos investidores com as medidas de estímulo anunciadas por Pequim e a vitória eleitoral nos EUA do republicano Donald Trump, que iniciou em 2018 uma guerra comercial contra a China, durante o seu primeiro mandato, e prometeu impor novas taxas alfandegárias sobre as importações do país asiático. A Oxford Economics estimou que a China permitirá uma depreciação entre 20 por cento e 25 por cento no caso de Trump cumprir a sua promessa de aumentar as taxas para 60 por cento, embora veja um cenário mais realista de as taxas subirem da média actual de 17 por cento para 30 por cento, o que se traduziria numa perda de valor entre 6 por cento e 8 por cento para a moeda chinesa.
“Cartão dourado” mais cintilante Paul Chan Wai Chi - 10 Jan 2025 Em 2024, Macau teve desempenhos excepcionais a vários níveis. Por exemplo, o número de turistas que visitaram a cidade, entre Janeiro e Novembro, atingiu os 31,88 milhões, um aumento de 26.2 por cento em comparação com o mesmo período de 2023. Na sequência da implementação, a partir de 1 de Janeiro de 2025, das políticas de “uma entrada por semana” (residentes de Zhuhai de visita a Macau) e “visto para várias entradas” (residentes da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin de visita a Macau) acredito que o sector comercial de Macau vai ficar ainda mais vibrante e mais próspero. Sob a alçada da Mãe Pátria, o “cartão de visita dourado” de Macau parece brilhar mais intensamente. Mas, na realidade, a seguir ao fim dos benefícios electrónicos oferecidos através do “Grande prémio para o consumo em Macau”, houve pedidos de todos os sectores da sociedade para a reintrodução do “Plano de Benefícios do Consumo por Meio Electrónico”. O número de lojas que têm vindo a fechar por toda a cidade não diminuiu apesar do aumento do turismo e os casos de suicídio são frequentes. Sob o “cartão de visita dourado” escondem-se problemas com que o novo Chefe do Executivo de Macau, Sam Ho Fai, terá de lidar, sendo as eleições para a Assembleia Legislativa o mais importante. No Sufrágio Directo das eleições para a Assembleia Legislativa em 2021, o número de cidadãos com direito a voto aumentou em cerca de 20.000, mas a taxa de afluência às urnas caiu em quase 15 pontos percentuais, em comparação a 2017. Se a diminuição da taxa de afluência às urnas pode ser atribuída ao impacto da pandemia, como explicar que os votos nulos tenham duplicado e os votos em branco tenham quadruplicado? Em última análise, este fenómeno pode estar associado à desqualificação de 21 candidatos que pretendiam concorrer às eleições para a Assembleia Legislativa nesse ano. Na sequência da desqualificação de alguns candidatos, as eleições para a Assembleia Legislativa de 2021 podem ser descritas como as eleições onde participaram “patriotas”. Ao longo dos últimos anos, os residentes de Macau têm acompanhado o desempenho da Assembleia Legislativa. A revisão da “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau”, aprovada em 2024, aplicou na prática o princípio “Macau governado pelos patriotas”. Por outro lado, a tarefa de verificação do “patriotismo” dos candidatos foi entregue à “Comissão de Defesa da Segurança do Estado da Região Administrativa Especial de Macau”. Os candidatos que não são aceites depois de escrutinados não podem apresentar reclamação ou interpor recurso contencioso, ao passo que os que foram desqualificados em 2021 ainda tiveram a oportunidade de descobrir os motivos da desclassificação e de recorrer. Embora tenha havido razões para rever a “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau”, os efeitos dessa revisão foram contraproducentes e devem ser analisados e rectificados. A “Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau” revista estipula que os indivíduos que tenham sido desqualificados para as eleições à Assembleia Legislativa estão impedidos de se recandidatar nos próximos cinco anos. Por outras palavras, perdem a oportunidade de concorrer a duas eleições consecutivas para este parlamento. Num lugar como Macau, com uma ecologia política desequilibrada, encontrar candidatos que possam concorrer às eleições para a Assembleia Legislativa e que tenham hipótese de ganhar é uma tarefa bastante desafiante. A Associação de Novo Macau, liderada pelo ex-deputado Ng Kuok Cheong, precisou de se esforçar durante 17 anos para conseguir que três dos seus membros fossem eleitos deputados da Assembleia. Para além da prosperidade económica, a democracia e o estado de direito são igualmente importantes para o sucesso de qualquer local. Uma das funções da Assembleia Legislativa é apoiar o Executivo da RAEM a alcançar uma governação efectiva. No Sufrágio Directo das eleições para a Assembleia Legislativa em 2025, onde se espera que venham a existir mais 10.000 eleitores, para inverter a tendência anterior de diminuição da afluência às urnas será necessário um esforço por parte das pessoas envolvidas no processo. Por exemplo, através de um reforço de divulgação das actividades eleitorais, incluindo a forma como as autoridades incentivam mais “patriotas” a candidatar-se e a participarem na governação. Para fazer com que o “cartão de visita dourado” fique mais cintilante é de crucial importância encontrar os agentes certos que lhe puxem o brilho.
Hong Kong | Festival das Artes traz teatro, ópera e dança já em Fevereiro Andreia Sofia Silva - 10 Jan 202510 Jan 2025 Já é conhecido o cartaz da 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que traz um programa repleto de ballet, dança, música e teatro que promete agradar a todos, sem esquecer uma vertente educativa. Entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março apresentam-se vários espectáculos de um grupo de ópera de Xangai ou uma tragédia grega Teatro, dança, ópera chinesa. São várias as artes que podem ser vistas na 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que decorre entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março em diversas salas de espectáculo da região vizinha. Um dos destaques é a série de vários espectáculos protagonizados pelo grupo Shanghai Yue Opera House, que acontecem entre os dias 27 de Fevereiro e 1 de Março no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong. O Shanghai Yue Opera House é descrito como “um dos mais importantes grupos de artes performativas da China”, celebrando este ano 70 anos de existência. Este grupo dedica-se à ópera Yue, um dos cinco géneros principais da ópera chinesa, inspirando-se em outros formatos de ópera chinesa, como a de Pequim, a ópera Kun e ópera Shao. A ópera Yue é oriunda de Zhejiang, e no caso específico deste grupo de Xangai, a sua estreia em Hong Kong fez-se em 1960. Assim, o cartaz do 53.º Festival apresenta quatro programas, “a moderna ópera Yue Family, adaptada de um romance de renome; o adorado clássico The Jade Hairpin; uma das produções mais icónicas da trupe; The Butterfly Lovers (versão Yuan e Fan); bem como uma selecção magistral de excertos”, descreve-se na apresentação oficial do programa. Já os amantes de ballet, podem assistir ao espectáculo do Ballet Nacional da República Checa, “La Sylphide”, que se apresenta entre os dias 6 e 8 de Março, também no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong. Esta é a oportunidade para o público se deixar “enfeitiçar por uma história de conto de fadas”, protagonizada por “uma heroína mágica, um belo herói de kilt e uma bruxa malvada”. “La Sylphide” é um bailado bastante antigo, foi criado para o Royal Danish Ballet por August Bournonville em 1836, tendo sido “cuidadosamente preservado desde então”. Este espectáculo proporciona a oportunidade para recordar “o ballet romântico do início do século XIX”, tendo a Escócia como cenário e em que os bailarinos usam os tradicionais kilts escoceses. Segundo o cartaz, “a requintada dança de Bournonville irá cativar os amantes do ballet, enquanto as personagens animadas e a história de conto de fadas fazem deste um programa ideal para toda a família”. Dançar com RV No dia 29 de Março o Festival apresenta um espectáculo de música clássica com a China National Centre for the Performing Arts Orchestra, em que os músicos liderados pelo maestro Lu Jia vão interpretar composições de Franz Liszt e Richard Wagner. Esta edição do Festival de Artes de Hong Kong traz também um espectáculo de dança interactiva com recurso à realidade virtual, intitulado “Le Bal de Paris”, de Blanca Li. Apresentado no Studio Theatre do Centro Cultural de Hong Kong, no dia 27 de Fevereiro e entre os dias 4 e 9 de Maio, proporciona ao público uma experiência de 40 minutos em que se mistura dança e realidade virtual, num projecto da coreógrafa espanhola e cineasta Bianca Li. É como se fosse um grande baile em Paris em que cada participante tem o seu próprio avatar, estando o espectáculo programado para dez espectadores e dois bailarinos profissionais em palco. Da Grécia chega, nos dias 1 e 3 de Março, uma peça que remete para a mitologia grega, com a tragédia “Hippolytus”, do National Theatre of Greece, e que se baseia num clássico de Eurípides. Nesta peça, Hipólito, filho ilegítimo de Teseu e defensor declarado da castidade, ofende a deusa do amor, Afrodite, ao recusar a paixão carnal que ela tanto lhe pede. Assim, para o castigar, a deusa vingativa faz com que a sua madrasta se apaixone por ele, marcando o início da sua queda. “Hippolytus” é uma produção de 2023 dirigida pela distinta encenadora e directora artística do Festival de Epidauro de Atenas, Katerina Evangelatos, tendo no elenco o total de 20 actores, mais um coro e um grupo de músicos. Esta peça apresenta-se no Lyric Theatre na Hong Kong Academy for Performing Arts. Citada por um comunicado, Flora Yu, directora-executiva do Festival de Artes de Hong Kong, disse que esta edição “apresenta uma vasta gama de programas excepcionais destinados a inspirar e encantar o público, prometendo experiências inesquecíveis aos festivaleiros de todas as idades e origens”. A responsável destacou as apresentações com “mestres de renome de Hong Kong e de todo o mundo”, e “uma série de obras-primas inspiradas na literatura clássica da China e do mundo ocidental”. Haverá ainda actividades no programa PLUS, com uma vertente mais pedagógica e educacional, que inclui “um extenso programa de divulgação e educação destinado a introduzir artes performativas de qualidade à próxima geração”, referiu Flora Yu. Os bilhetes começaram a ser vendidos em Dezembro, sendo que mais de 50 por cento foram vendidos no período de pré-venda.
GP Macau | Maro Engel esclareceu episódio da Taça do Mundo de GT Sérgio Fonseca - 10 Jan 2025 Maro Engel venceu, numa corrida imprópria para cardíacos, a Taça do Mundo de GT da FIA no 71.º Grande Prémio de Macau. Contudo, a quarta vitória do alemão entre nós foi tudo menos pacífica. Maro Engel aproveitou uma entrevista à revista alemã Motorsport Aktuell para explicar o que se passou nas ruas do território e que lhe valeu tantas críticas O piloto germânico, que este ano irá completar 40 anos de idade, teve uma temporada de 2024 repleta de sucessos: venceu o GT World Challenge Europe, foi o melhor dos representantes da Mercedes-AMG no DTM e conquistou um quarto triunfo no Grande Prémio de Macau. Todavia, Maro Engel prefere não destacar um único feito na sua temporada de sonho de 2024, tendo referido à revista especializada do seu país que “em termos de prestígio, a vitória em Macau tem de ser destacada. Mas, sinceramente, não quero destacar um único momento como o grande feito deste ano incrível. Trabalhei arduamente para alcançar todos esses sucessos.” Na RAEM, o triunfo do piloto bávaro foi oferecido de bandeja quando os dois primeiros classificados da corrida, Antonio Fuoco (Ferrari) e Raffaele Marciello (BMW), se desentenderam na travagem para a Curva Lisboa a duas voltas do fim. Porém, Maro Engel já tinha estado envolvido noutro incidente, quando, no início da corrida, nos Esses da Solidão, o seu Mercedes-AMG GT3 deu um toque subtil na traseira do BMW de Dries Vanthoor, que seguia à sua frente na terceira posição. O jovem belga foi projectado contra as barreiras, acabando por abandonar devido a danos na suspensão do M4 GT3, enquanto Maro Engel viria a ver a bandeira axadrezada em primeiro lugar, com uma vantagem de 11 segundos. Já no final da corrida, o Colégio de Comissários Desportivos deliberou que o toque mencionado merecia uma penalização de 5 segundos, o que não teve impacto no resultado final, levando o responsável da BMW Motorsport, Andreas Roos, a afirmar à imprensa que o incidente “não foi penalizado de forma adequada”. Dries Vanthoor, que era também um candidato à vitória, foi mais longe e disse na altura que, quando “empurras outro carro para fora de pista, não deverias ser capaz de ganhar a corrida.” Não foi de propósito O estilo agressivo de Maro Engel foi criticado na altura, mas o piloto, que se estreou a vencer em Macau em 2014, prefere salientar que “faz tudo dentro dos limites do fair play” e julga ser “difícil acusar um piloto de não tentar tudo para vencer ali (em Macau).” Na situação em questão, Maro Engel quis esclarecer que “estava claramente mais rápido. Na parte larga do circuito, na parte inferior, não tinha hipótese de atacar, então tentei na parte de cima. Acabou por correr mal, e isso não era a minha intenção. Pedi desculpa ao Dries depois. De uma forma geral, corro para ganhar. O dia em que já não der tudo para isso, penduro o meu capacete. Definitivamente, não estou aqui para fazer novos amigos.” Apesar da “dança de cadeiras” entre os construtores automóveis envolvidos na classe GT3 nesta pré-temporada, Maro Engel vai continuar a defender as cores da Mercedes-AMG, algo que faz desde 2008, e naturalmente será uma das escolhas da marca de Estugarda para a Taça do Mundo no mês de Novembro, no Circuito da Guia. O piloto natural de Munique não se vê a retirar das pistas tão cedo, pois “ainda não cheguei ao meu auge e continuo a encontrar prazer nas corridas.” No seu currículo, em provas realizadas em Macau, Maro Engel tem duas vitórias na Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA (2015 e 2024) e outras duas na Taça GT Macau (2014 e 2022), mas promete não ficar por aqui.
Eléctricos | Vendas em Pequim aumentaram 40,7% em 2024 Hoje Macau - 10 Jan 2025 As vendas de automóveis eléctricos e híbridos na China aumentaram 40,7 por cento em 2024, em termos homólogos, segundo dados publicados ontem por uma associação do sector, confirmando a liderança do país asiático numa indústria com forte apoio estatal. Quase 11 milhões de modelos híbridos ou eléctricos foram vendidos no mercado chinês em 2024, de acordo com as estatísticas da Federação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CPCA). Estes modelos representam 47 por cento dos quase 23 milhões de veículos vendidos na China em 2024. O mercado chinês de veículos eléctricos e híbridos tem crescido a passos largos nos últimos anos. O fabricante chinês de veículos eléctricos líder, a BYD, domina quase 40 por cento do mercado, com 4.272.145 de veículos vendidos em 2024, segundo dados publicados na semana passada pela empresa. Mas a situação é menos positiva no mercado internacional, onde as medidas proteccionistas aumentaram nos últimos meses, incluindo na Europa, que aumentou as taxas alfandegárias sobre as importações de veículos chineses. O gigante BYD realizou apenas 12 por cento das suas vendas no mercado externo em Dezembro, de acordo com dados da empresa. Esta situação poderá agravar-se com a entrada em funções, no final de Janeiro, do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu aumentar as taxas sobre as importações chinesas.
Pequim confirma primeiro surto de nova variante do vírus Mpox Hoje Macau - 10 Jan 202510 Jan 2025 A China confirmou ontem o primeiro caso da nova variante clade Ib do mpox (varíola dos macacos), que remonta a um cidadão estrangeiro com historial de viagens e residência na República Democrática do Congo. De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) do país asiático, as cidades de Pequim e Tianjin e as províncias de Guangdong e Zhejiang activaram um mecanismo conjunto de prevenção e controlo para o rastreio epidemiológico, encontrando mais quatro casos em pessoas infectadas, após contacto próximo com o estrangeiro. “Apresentam sintomas como erupções cutâneas e herpes zoster, que são relativamente ligeiros. As pessoas infectadas estão a receber tratamento médico e a ser observadas. A epidemia está a ser eficazmente controlada”, declarou o centro num breve comunicado. No dia 14, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou uma emergência sanitária internacional devido à propagação da varíola dos macacos, especialmente em África, onde foram registados milhares de infecções e centenas de mortes. Apenas dois dias depois, as autoridades chinesas anunciaram um reforço de seis meses das medidas de vigilância nas suas fronteiras para evitar a entrada do vírus, obrigando todos os aviões e navios provenientes de zonas afectadas pela doença a cumprir medidas sanitárias. A China está também a desenvolver uma vacina contra a doença, que já se encontra na fase de investigação clínica. Contagiosa e mortífera A Suécia confirmou o primeiro caso da variante clade 1b fora de África a 15 de Agosto. A Tailândia confirmou o primeiro caso na Ásia a 22 de Agosto. O alarme da OMS no Verão passado centrou-se na rápida propagação e na elevada mortalidade em África desta nova variante (clade Ib), da qual foram identificados vários casos fora do continente em pessoas que viajaram para partes de África. Esta variante difere da clade II, que causou um violento surto em África em 2022, bem como centenas de casos na Europa, na América do Norte e em países de outras regiões, e que já levou à declaração de uma emergência sanitária internacional entre 2022 e 2023. O mpox é uma doença infecciosa que pode causar uma erupção cutânea dolorosa, gânglios linfáticos inchados, febre, dores de cabeça, dores musculares, dores nas costas e falta de energia.
Economia | Inflação abranda em Dezembro na China Hoje Macau - 10 Jan 2025 Os valores de Dezembro fixaram o aumento anual acumulado da inflação em 0,2 por cento. Um resultado semelhante ao registado em 2023 O índice de preços no consumidor (IPC) na China continuou a abrandar em Dezembro para 0,1 por cento, fixando a subida acumulada no ano de 2024 em 0,2 por cento, e acentuando as pressões deflacionistas na segunda maior economia do mundo. O valor de Dezembro é inferior em uma décima ao do mês anterior, mas cumpre as previsões da maioria dos analistas, enquanto o acumulado de 2024 está exactamente ao mesmo nível do ano anterior, de acordo com os dados revelados ontem pelo Gabinete Nacional de Estatística (NBS) do país asiático. Enquanto a variação homóloga de 0,1 por cento é a mais baixa desde Março, na comparação mensal os preços mantiveram-se ao mesmo nível de Novembro, mês em que caíram 0,6 por cento em relação a Outubro. A economia chinesa permanece à beira da deflação há mais de um ano, indicando que a recuperação nos gastos não se materializou, depois de as autoridades terem abolido a política de zero casos de covid-19, no início de 2023. A pressão deflacionista está a empurrar os rendimentos das obrigações para mínimos históricos. O rendimento das obrigações do Tesouro da China a 10 anos tem oscilado em torno de mínimos históricos desde o início do ano, o que, segundo os analistas, reflecte as expectativas dos investidores quanto a uma perspectiva de baixo crescimento e deflação para a economia. A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida. O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente gravoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias. Dieta de Ano Novo O funcionário do gabinete de estatística do NBS, Dong Lijuan, atribuiu a evolução dos preços ao equilíbrio entre a subida do preço dos bilhetes de avião e dos serviços de viagem, devido à proximidade do Ano Novo Lunar, e a descida do preço dos legumes e frutas devido ao bom tempo, que facilitou a produção, o armazenamento e o transporte. O responsável destacou ainda que a carne de porco, principal fonte de proteína animal na dieta chinesa, reduziu a sua queda de preço devido à recusa dos produtores em vender enquanto continuam a engordar os seus porcos em preparação para a época alta que marca o Ano Novo Lunar, a principal época festiva no país asiático. Dong quis sublinhar que a inflação de base – uma medida que elimina o efeito dos preços dos alimentos e da energia devido à sua volatilidade – subiu 0,4 por cento, em termos homólogos, mais 0,1 por cento do que no mês anterior. Os dados do NBS indicaram também que o índice de preços no produtor, que mede os preços industriais, reduziu a sua queda de 2,5 por cento para 2,3 por cento em Dezembro, fixando a contracção no conjunto do ano em 2,2 por cento. Este indicador está em território deflacionário há 28 meses, contabilizando Dezembro.
Viagem no Grande Canal por Jiangnan José Simões Morais - 10 Jan 2025 A praça central de Wulin (武林门) em Hangzhou era o principal local do mercado e até 2005 o cais terminal do Grande Canal (Da Yunhe, 大运河), onde durante 1400 anos se descarregaram as mercadorias vindas do Norte, como peles e carvão, e em sentido inverso partiu muito cereal e arroz. O edifício no meio da praça, apesar de parecer um local governamental, é a sala de exposições da cidade. Na parte Oeste, dois grandes centros comerciais, um deles com cinema, prolongam a rua por onde somos levados até ao ancoradouro do Grande Canal. Num pequeno resguardo à entrada do cais de embarque vendem-se os bilhetes de barco para Suzhou [estamos em finais dos anos 90 do século XX] e todos os dias dali parte um barco às cinco e meia da tarde, numa viagem feita noite dentro pelo canal Jiangnan [Jiangnan yunhe (江南运河)]. Outrora, o percurso ia a Wuxi, mas esse serviço estava há dois anos desconectado. O Canal Jiangnan começa em Zhenjiang, na margem Sul do Changjiang (Yangzi ou Yangtzé), após o Grande Canal cruzar o terceiro maior rio do mundo, e para Sul segue o seu curso por Danyang (丹阳), Changzhou (常州), Wuxi (无锡), Suzhou (苏州), Pingwang (平望), chegando a Hangzhou onde se conecta ao Rio Qiantang. No guiché, que parecia guardar o beco a levar à porta de embarque, compramos para o dia seguinte por 98 yuan o pequeno [qual de citadino autocarro] bilhete de uma cama, em compartimento de um beliche, pois as cabinas de duas camas a custarem 115 yuan estão esgotadas. Pedem para chegarmos às cinco da tarde, meia hora antes da partida. Olhava o cais de onde dois anos antes partira de barco até Suzhou e regressava agora preparado para repetir a viagem, mas ao chegar ao cais verifico que este está a ser demolido. Os barcos dessas viagens aí continuam ancorados, mas estas foram agora suspensas por tempo indeterminado. Por mero acaso, apercebemo-nos da movimentação registada ao fundo do cais, com pessoas à espera ao lado de uma placa em triângulo a indicar a paragem do barco. Indagando, ficamos a saber não se efectuar já a viagem até ao antigo cais de embarque de Nanxingqiao (南星桥), situado pouco antes de chegar ao templo Sanlang, próximo do terminal Sul de autocarros. Agora estava aberta uma carreira de barco, que numa curta viagem de dez minutos para jusante, encosta por breves momentos na paragem de Baziqiao zhan (坝子桥站), junto à ponte Bazi (坝子桥), para depois regressar ao cais de onde tínhamos partido. Por cinco yuan podemos olhar uma das comportas dos canais da cidade, que apesar de fechada deixa escorrer fios de água para o Grande Canal e parecendo um lugar atraente, uma ponte com três arcos coberta por um telhado de madeira é a porta de um ramal do canal. Também por cinco yuan, somos levados até à ponte antiga de Gongchen, junto à praça onde está o Museu do Grande Canal Beijing-Hangzhou. E assim voltamos para visitar esse excelente museu, que veio criar um novo pólo turístico à cidade de Hangzhou. Aí se encontram expostas miniaturas de barcos, e se podem ver os percursos das viagens marítimas ao longo dos séculos e os séculos de construção do Grande Canal, os seus patrocinadores e o modo como foram resolvidos os obstáculos apresentados para fazer desta via uma ligação directa entre a capital do Norte e o resto da China. NO GRANDE CANAL Só com a nova abertura do país ao turismo realizada em 1978 apareceu o interesse para tirar um novo proveito desta grande obra de engenharia. Pelo Grande Canal continuavam a ser transportadas as mercadorias, apesar de partes do percurso estarem interrompidos, pois a navegação fora já abandonada desde os finais do século XIX. Como resposta, em 1981 as entidades turísticas de Wuxi abriram uma viagem entre Suzhou e Yangzhou e outra, do lago Tai até Hangzhou. O barco colocado à disposição do turismo era uma réplica fiel do barco-dragão do Imperador Sui, Yangdi. Nos finais dos anos 90, as viagens fazem-se entre Hangzhou e Suzhou e daí até Wuxi os barcos são já normais barcos de passageiros com dois andares. Depois, no segundo ou terceiro ano após o início do III milénio, a viagem deixou de se fazer para Wuxi e apenas se realizava entre Hangzhou e Suzhou e no ano 2007 esta foi interrompida. Cremos nós, para a reestruturar e preparar novos barcos para os turistas aproveitarem as belezas das paisagens e a História do Grande Canal. Às cinco da tarde chegamos ao cais, meia hora antes da partida. Quinze minutos depois da hora, às seis menos um quarto estamos a navegar pelas águas do Grande Canal. O atraso deve-se a ter de se arrumar no barco as bicicletas do grupo de cicloturismo, chegado em cima da hora da partida. O barco onde viajamos tem dois andares e aproximadamente vinte cabinas, com quartos de banho comuns, a cozinha e um pequeno salão, onde são tomadas as refeições, jantar e pequeno-almoço. A viagem será feita à noite pela região conhecida por Jiangnan [Sul do Rio], que atravessa as terras a Sul do Changjiang (Rio Yangzi), nas províncias de Zhejiang e Jiangsu, de onde provém o nome do canal construído na dinastia Qin com 85 km de comprimento e alargado em 605. De Hangzhou passa por terras de Huzhou e Jiaxing e saindo da província de Zhejiang entra na de Jiangsu e contornando a Leste o lago Tai, segue até Suzhou, onde de barco terminará a nossa viagem. De Hangzhou partíamos para Suzhou, na comparação do viajante veneziano Marco Polo, cidades gémeas a nível de beleza, Paraísos na Terra. A noite cai em Hangzhou quando cruzamos a ponte Gongzhen, construída em 1631 toda de pedra com três arcos e que nos traz despertos no convés, apesar de chuviscar, por dar início ao percurso ainda não navegado. Um barco de passageiros passa transportando apenas uma pessoa, não sendo de estranhar pois a neblina e o chuviscar durante toda a tarde retira o prazer da viagem. Os choupos enfileirados ao longo das margens empedradas são subitamente iluminados pelas lanternas vermelhas de um restaurante na borda da água de estilo antigo à espera de clientes. A beleza da paisagem talvez apenas se deva às sombras da noite. O trânsito de barcos é intenso e todos são de carga, alguns grandes, onde cabem contentores, outros transportando areia, carvão ou toros de madeira. O barco com o casco plano e a proa em U, navega a rasar a borda de água. Na popa da embarcação, no topo da cabina-habitação encontram-se as luzes de sinalização, com a verde no lado direito e no esquerdo, a vermelha. Leva um foco de luz branca intenso a iluminar o canal de frente e ao cruzar com outras embarcações desvia-o, ou apaga. Ganha-se a escuridão. Antes de cruzar com outros barcos, uns em sentido contrário, outros para serem ultrapassados, volta a acender por segundos o holofote a avisar e visualizar o tamanho das embarcações. Junto a um desvio do canal, uma bomba de gasóleo na margem espera para reabastecer de combustível quem por ali passa. As águas transportam detritos de esferovite e ramos de árvores. De quando em vez, uma fábrica nas margens tem o seu cais fazendo proveito desta via privilegiada de transporte para receber matéria prima a enviar a produção. O tamanho em largura do canal vai variando e por vezes permite a passagem ao mesmo tempo de quatro barcos, mas noutros locais para três já é apertado. Cruzamos com um comboio de barcos puxado por um rebocador, onde se situam as cabinas dos trabalhadores, levando atrelado dez longos barcos contentores. Um ligeiro toque no nosso barco faz-se sentir. Se nas primeiras duas horas de viagem o buzinar é constante, depois apenas solta um estridente som de apito ao passar por um conjunto de casas e quando se cruza em sentido inverso com o barco da companhia. Adormecemos, não sem antes sentirmos mais um toque entre embarcações e desta vez a pancada é mais forte. Chegamos de manhã cedo ao destino, após mais de nove horas de viagem a navegar no Grande Canal. Às 5:30, o barco aportou junto à Ponte do Precioso Cinto (Baodai Qiao, 宝带桥) na parte Sudeste de Suzhou, no distrito de Wuzhong, mas apenas dele saímos às seis e meia. Dois autocarros esperam na Rua Changqiao (长桥街道) para levar os passageiros até ao centro da cidade, a seis quilómetros. Baodai Qiao é considerada uma das pontes mais representativas da China e tem esse nome pois foi construída entre 816 e 819 à custa da venda do valioso cinto de Wang Zhongshu, governador de Suzhou na dinastia Tang. Com uma extensão de 317 metros e 4,1 metros de largura, conta 53 arcos, tendo três aberturas é suficiente para permitir aos barcos continuar pelo Grande Canal e também atravessar o Rio Daidai e o lago Tantai. O resto da ponte faz de cais, ficando ao nível das embarcações que aí acostavam e facilmente descarregavam as mercadorias.
Contrabando | Jovens vestiam uniformes escolares para não levantarem suspeitas na fronteira João Santos Filipe e Nunu Wu - 10 Jan 2025 Um grupo de três adolescentes foi interceptado no âmbito de operação conjunta da Polícia Judiciária (PJ) e os Serviços de Alfândega (SA) contra uma rede de contrabando para o Interior. O caso foi divulgado na quarta-feira, e de acordo com a versão das autoridades, a rede contratava adolescentes que tinham desistido da escola para realizar operações de contrabando. Aos jovens, eram fornecidos uniformes escolares de diferentes instituições do ensino básico, que estes vestiam na altura de atravessar a fronteira com os produtos. A utilização dos uniformes visava não levantar suspeitas junto das autoridades. Quando a PJ e os SA realizaram uma rusga num armazém na Avenida Venceslau Morais, onde a rede guardava a mercadoria para ser levada para o Interior, apreendeu mais de 20 mil produtos, como material electrónico e processadores em segunda mão, com um valor de mercado de 17 milhões de patacas. No armazém, estavam ainda 40 peças de roupa de uniformes de diferentes escolas. As autoridades ainda estão à procura dos responsáveis pelo armazém. Fumo da traição De acordo com a PJ, o alerta para a situação foi dado por uma das escolas, que recebeu denúncias de transeuntes sobre a possibilidade de estarem alunos da instituição a fumar junto às Portas do Cerco. As denúncias indicavam também a possibilidade de os alunos estarem envolvidos no transporte ilegal de produtos para o Interior. Alertada, a PJ e os SA seguiram três suspeitos, até que estes entraram no armazém na Avenida Venceslau Morais. Quando saíram, vinham vestidos com os uniformes escolares e chamaram um táxi para as Portas do Cerco. Ao atravessarem a fronteira, os três adolescentes foram interceptados e uma revista mostrou que preso à perna dos adolescentes estavam 552 processadores de computadores antigos. Ainda de acordo com as autoridades, por cada vez que os jovens atravessavam a fronteira recebiam 200 patacas. Quando o caso foi revelado, as autoridades deixaram ainda o apelo aos jovens para não serem “gananciosos” e não arriscarem o futuro a troco de “pequenos lucros”.
EPM | Livre pede solução para contratação de docentes João Santos Filipe - 10 Jan 2025 O partido liderado por Rui Tavares questiona o fim da atribuição dos bilhetes de identidade de residente e insiste na necessidade de negociar com a RAEM condições mais favoráveis para os docentes que vêm de Portugal para Macau O Partido Livre pretende saber como é que Governo de Portugal vai criar condições para a contratação de professores pela Escola Portuguesa de Macau, o que diz ser uma das suas obrigações. A questão do partido liderado por Rui Tavares consta de uma missiva enviada pelo grupo parlamentar ao Governo, através da Assembleia da República. Segundo o grupo parlamentar, “em 25 anos de existência, com excepção do período da pandemia, a Escola Portuguesa de Macau sempre recrutou grande parte do seu corpo docente em Portugal, sem grandes constrangimentos”. Contudo, os deputados lamentam que tal não se verifique actualmente, o que dizem causar “graves prejuízos ao ensino e aprendizagem dos alunos, bem como grande apreensão às suas famílias”. O partido defende também que a recusa anterior da emissão de novas licenças especiais para leccionar em Macau, apesar das autorizações dos estabelecimentos de ensino, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação de Portugal, “veio prejudicar todo o processo de análise e selecção e provocar atrasos no recrutamento de docentes que são essenciais ao bom funcionamento da escola”. “Sabendo-se que a falta de professores afecta o território nacional, como pensa o Governo cumprir as suas obrigações com a Escola Portuguesa de Macau e a comunidade portuguesa que ali reside?”, questionam os deputados. “A decisão tomada teve em conta as obrigações legais do Estado português?”, insistem. Facilitar as regras No documento, o Livre indica que a contratação de professores portugueses em Macau ficou mais difícil devido ao fim da medida preferencial de atribuição do estatuto de residente aos cidadãos portugueses. Os deputados querem agora saber se o Governo de Portugal vai negociar com o da RAEM uma forma de voltar a facilitar as contratações. “Em 1997 a Escola Portuguesa de Macau foi criada por despacho conjunto dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação, o que testemunha a importância da iniciativa, não restrita aliás à questão da língua. Pensa o Governo português, estes anos passados e este contexto criado, desenvolver esforços junto do Governo da RAEM em ordem a agilizar as apertadas regras com que a EPM se confronta na contratação de professores em Portugal?”, é perguntado. Por último, o grupo parlamentar pretende saber quais são “as orientações” do Ministério da Educação, Ciência e Inovação para que a escola continue a ensinar português, e a forma como pretende resolver um cenário que causa “danos” aos alunos, a nível do ensino e da preparação para os exames nacionais.
Gripe | SS apelam à utilização de máscara Hoje Macau - 10 Jan 2025 Os Serviços de Saúde apelaram às pessoas com febre e tosse e que utilizem máscara, para evitar a propagação de doenças respiratórias. O apelo foi deixado ontem, através de um comunicado publicado pelo Gabinete de Comunicação Social (GCS). “Macau está no período do pico da gripe. Se os residentes apresentarem sintomas respiratórios como febre e tosse, a imunidade baixa e o organismo torna-se mais vulnerável a infecções. Use máscara ao sair à rua para prevenir a infecção simultânea por outros vírus respiratórios, evitar o agravamento da doença e reduzir a sua propagação”, consta no comunicado. “Mesmo que não tenha qualquer sintoma de indisposição, pode levar consigo uma máscara ao sair e usá-la quando tal for necessário, a fim de prevenir infecções respiratórias”, foi acrescentado. Dengue |Identificado terceiro caso importado Os Serviços de Saúde anunciaram o registo de mais um caso importado de febre de dengue, o terceiro desde o início do novo ano. O infectado é um residente local, com 32 anos, que esteve de viagem no Vietname, entre 29 de Dezembro e 1 de Janeiro. Após regressar a Macau, o homem começou a ter febre e dores musculares, pelo que recorreu ao Hospital Kiang Wu para tratamento médico. Devido à persistência dos sintomas, recorreu novamente, na quarta-feira, ao Hospital Kiang Wu para tratamento, tendo ficado internado. Após análise da amostra de sangue feita pelo Laboratório de Saúde Pública foi confirmada a reacção positiva à febre de dengue tipo II. O estado clínico do paciente é considerado estável. As pessoas com quem o homem viajou e os familiares com quem coabita não apresentaram sintomas de indisposição.
MPay | App cobra mais de 70 tarifas de autocarro em cinco minutos João Luz e Nunu Wu - 10 Jan 2025 Uma residente publicou uma fotografia da sua conta de MPay a mostrar a cobrança de mais de 70 viagens de autocarros públicos durante escassos minutos. A empresa afirmou que as tarifas eram relativas a viagens feitas em 2021. A Autoridade Monetária afirma não terem sido encontrados problemas ou vulnerabilidades na segurança da aplicação Uma internauta publicou na noite de quarta-feira uma captura de ecrã da aplicação MPay com a dedução de mais de setenta cobranças de tarifas de viagens de autocarros públicos em cerca de 5 minutos, por volta das 04h da madrugada de quarta-feira. No total, a conta de MPay ficou com menos 220 patacas. Surpreendida com a rápida avalanche de tarifas, a utente ligou para a empresa Macau Pass, responsável pela aplicação móvel, a apresentar queixa. A resposta que obteve foi que as cobranças diziam respeito a tarifas que estavam por pagar. “O responsável do Departamento do Apoio ao Cliente afirmou que eu tinha dívidas em atraso referentes a tarifas de viagens feitas em 2021. Como recentemente, o sistema do MPay foi actualizado, disseram-me que foi por isso que foram cobradas todas as tarifas”, pode ler-se na publicação. A chamada telefónica deixou a internauta enfurecida, confessando também perplexidade por nunca ter recebido uma notificação sobre pagamentos em atraso, e que a sua conta de MPay sempre teve saldo suficiente. Além disso, achou suspeito o facto de as tarifas demorarem tantos anos a serem cobradas. Importa referir que a aplicação tem um sistema de segurança que impede a criação de novos códigos QR para pagar autocarros depois de duas tarifas não pagas por falta de saldo. Ou seja, o MPay permite a geração de dois códigos mesmo que a aplicação não tenha saldo suficiente. Situação que aumentou a confusão da utente. “O dirigente não conseguiu dar uma resposta completa, só confirmou um reembolso de 220 patacas e oferece-me uma versão especial do cartão da Macau Pass. Em raiva, perguntei porque a empresa não admitiu o problema, desviando a responsabilidade para o cliente,” criticou. Está tudo bem Na sequência da publicação viral, onde a utente questiona a confiança que a população deve depositar no MPay, a Autoridade Monetária de Macau emitiu ontem um comunicado a revelar ter solicitado “de imediato à instituição que realizasse uma investigação completa e apresentasse um relatório de investigação”. “Após uma investigação preliminar, a organização informou que o incidente não envolveu quaisquer problemas de segurança da rede, como a utilização não autorizada de contas ou a vulnerabilidade do sistema em termos de segurança, nem afectou o serviço normal do sistema. O incidente esteve principalmente relacionado com o processo de dedução das tarifas de autocarro, ou seja, quando a tarifa de um utilizador não é deduzida no momento do pagamento do serviço de autocarro, o sistema processa a dedução mais tarde,” lê-se no comunicado. A AMCM solicitou à organização que contactasse os utilizadores afectados o mais rapidamente possível para explicar a situação e melhorar o mecanismo de dedução suplementar, de modo a minimizar o impacto nos utilizadores. Na quarta-feira, a Macau Pass já publicou um anúncio na sua página a dizer que vai melhorar o mecanismo de dedução suplementar.
IAM | Autoridades garantem segurança e saúde de árvores Hoje Macau - 10 Jan 2025 O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) assegurou, em resposta a uma interpelação do deputado Ngan Iek Hang, que tem assegurado a saúde e segurança das árvores, procedendo “ao registo de cada caso de queda de árvores, incluindo o horário do incidente, o local, a espécie de árvore, a análise da causa e a conclusão”. Numa resposta ainda assinada por José Tavares, ex-presidente do IAM, foi ainda garantido que o sistema de gestão de árvores foi actualizado em 2022, tendo sido “optimizado as funções de registo de informações de árvores, gestão, inspecção, manutenção e gestão de adjudicação, entre outras áreas”. Sobre o incidente no Parque Municipal da Colina da Guia, José Tavares explicou ao deputado que foi substituída “a gestão em grupo de árvores nos taludes junto aos passeios pedonais pelo registo individual de árvores no sistema, para efeitos de inspecção e registo pormenorizado”, além de que foi aumentada “a frequência das inspecções”. Segundo o IAM, o acidente que feriu uma pessoa que foi atingida por um tronco de árvore deveu-se ao facto de a Colina da Guia ser uma “zona de alta incidência de podridão radicular e um local com grande fluxo de pessoas”.
Economia | Leong Sun Iok defende modelo do cartão de consumo João Santos Filipe e Nunu Wu - 10 Jan 2025 Com o Interior da China a adoptar incentivos para a compra de novos electrodomésticos e produtos digitais, como forma de promover o consumo, Leong Sun Iok considera que Macau pode seguir o exemplo. Porém, o deputado prefere uma nova ronda de cartão de consumo Leong Sun Iok defende que se o Chefe do Executivo lançar medidas de apoio à economia deve optar por uma nova ronda do cartão de consumo. A opinião do deputado que integra a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) foi partilhada em declarações ao jornal Exmoo. A criação de mais uma ronda do cartão do consumo, uma medida adoptada durante a pandemia, através da qual o Governo distribuiu montantes entre 3 mil e 8 mil patacas aos residentes, foi defendida, depois de o Governo Central ter lançado várias medidas de subsídio à compra de electrodomésticos e equipamentos digitais. Segundo a mais recente medida revelada na quarta-feira pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma e pelo Ministério das Finanças do Interior, a compra de electrodomésticos e produtos digitais vai ser comparticipada, tal como acontece igualmente no Interior da China com a compra de veículos eléctricos. Neste contexto, o legislador considerou plausível que seja lançada mais uma ronda do cartão de consumo em Macau, até porque o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, admitiu a hipótese de estudar medidas de incentivo ao consumo. Olhar para dentro No entanto, Leong Sun Iok considera que as medidas de incentivo ao consumo precisam ter em conta o contexto de Macau, que é diferente daquele do Interior, porque o tecido económico é diferente. O deputado explicou que o subsídio para aquisição de novos electrodomésticos e equipamentos digitais teriam um impacto mais limitado em Macau, porque não ajudaria alguns sectores importantes económicos, como acontece a restauração. “Para o sector da restauração, o modelo de incentivo à compra de novos produtos não tem utilidade”, afirmou. A restauração no norte da península tem atravessado maiores dificuldades nos últimos meses, devido à maior concorrência do Interior, onde os preços são mais baratos. Em termos da economia local e das medidas implementadas, o deputado fez uma avaliação crítica do Grande Prémio para o Consumo em Macau, uma iniciativa de incentivo ao comércio local que terminou no final do ano passado. Ao abrigo do Grande Prémio para o Consumo, os clientes que utilizassem meios de pagamento electrónicos no comércio local durante a semana ficavam habilitados a participar num sorteio imediato que distribuía cupões com descontos. Esses descontos só podiam ser utilizados no fim-de-semana seguinte, para evitar que as pessoas apenas consumissem no Interior.
Economia | Tai Kin Ip encontrou-se com Associação de Bancos de Macau Hoje Macau - 10 Jan 2025 O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, pediu aos bancos que continuem “a proporcionar aos seus clientes planos flexíveis de reembolso de empréstimos, a fim de aliviar as pressões financeiras das pequenas e médias empresas”. A solicitação ao sector bancário foi deixada num encontro de quarta-feira entre o governante e a Associação de Bancos de Macau. Em causa, está a medida que tem permitido a algumas PME adiarem o pagamento dos empréstimos feitos durante a pandemia, limitando-se apenas a pagar os juros. Além do apoio com o adiamento do pagamento dos empréstimos, de acordo com a versão oficial do encontro, Tai Kin Ip indicou que “para dar maior suporte ao desenvolvimento das PME, os serviços competentes estão empenhados no planeamento de projectos que visam estimular o desenvolvimento da economia comunitária”. Os projectos não foram revelados, com o director a prometer que a informação vai ser anunciada “em tempo oportuno”. A comitiva liderada pelo secretário foi recebida pelo presidente e presidente executivo da Associação dos Bancos de Macau, Jia Tianbing e Ip Sio Kai, e durante o encontro foram trocadas opiniões sobre “desenvolvimento do sector financeiro de Macau, o desenvolvimento conjunto de Macau-Hengqin, o ambiente de negócios, o apoio às PME e a formação de quadros qualificados”.
Guangzhou | Aprovado financiamento para atrair talentos de Macau Hoje Macau - 10 Jan 2025 As autoridades de Guangzhou lançaram um pacote de medidas destinadas a impulsionar o desenvolvimento através da inovação, com recompensas pecuniárias para colaborações com empresários de Macau e Hong Kong. As medidas têm como objectivo atrair talentos das regiões administrativas especiais para o distrito de Nansha na capital da província vizinha, com particular incidência em sectores estratégicos como tecnologia marinha, tecnologia aeroespacial, biomedicina e economia digital. Segundo a Macau News Agency, será disponibilizado financiamento para projectos e plataformas desenvolvidos em conjunto com Hong Kong e Macau, com os apoios a variarem entre 1 milhão e 5 milhões de renminbis. Os principais destaques das medidas incluem a criação de infra-estruturas tecnológicas adaptadas às necessidades industriais do distrito e à participação em projectos internacionais de megaciência. Neste caso de projectos de grande dimensão, o financiamento pode chegar a 20 milhões de renminbis. As autoridades de Guangzhou vão atribuir por ano até 100 milhões de renminbis para apoiar investimentos de empresas dedicadas à investigação. Além do sector empresarial, também a academia será apoiada, com subsídios a universidades e institutos de investigação.
Seminário | Xia Baolong diz que Macau tem de se adaptar aos tempos João Luz - 10 Jan 2025 Num seminário para estudar a implementação dos “importantes discursos” de Xi Jinping durante a última visita a Macau, o director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado afirmou que é preciso reconhecer e adaptação aos novos tempos. Xia Baolong sublinhou as elevadas expectativas de Governo Central para Macau e Hong Kong Realizou-se ontem em Pequim o seminário para estudar a implementação dos “importantes discursos” proferidos por Xi Jinping durante a visita a Macau para a celebração dos 25 anos da RAEM. No evento, organizado pela Associação Nacional dos Estudos sobre Hong Kong e Macau, o director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado, Xia Baolong, vincou a expectativa de que as regiões administrativas especiais reconheçam os novos tempos que se vivem e saibam adaptar-se às mudanças. Num discurso pautado por citações do Presidente Xi Jinping, Xia Baolong vincou que Macau e Hong Kong devem seguir as importantes missões práticas do princípio “Um País, Dois Sistemas”, na nova era, contribuindo para a construção de um país forte e para o rejuvenescimento nacional. O responsável salientou que este é o caminho, “claramente indicado nos importantes discursos do Presidente Xi Jinping”, para atingir “um melhor desenvolvimento”. O director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau referiu a importância de cumprir as “três expectativas” apontadas pelo Presidente chinês para Macau, e que estas também se devem aplicar a Hong Kong. Estas expectativas são: o alargamento da visão e do posicionamento da RAEM no desenvolvimento nacional e no plano internacional; persistindo no amor patriótico, ter a abertura para atrair talentos; aproveitar as vantagens institucionais do princípio “Um País, Dois Sistemas”. Para tal, Xia Baolong vincou a necessidade de todos os sectores sociais de Macau e Hong Kong, não só os seus governos, seguirem “a tendência de desenvolvimento dos tempos, reconhecer e responder proactivamente às mudanças, reforçar a aprendizagem mútua, os intercâmbios e a cooperação entre Hong Kong e Macau” e continuar a abertura ao novo mundo. Todos juntos Xia Baolong afirmou ainda que os “importantes discursos” de Xi Jinping sobre “Um País, Dois Sistemas” claramente propõem os valores da paz, tolerância, abertura e partilha, demonstrando o seu “grande significado contemporâneo e importância global”. O director salientou a importância de compreender a “essência espiritual e rica conotação” da aderência de longo prazo ao princípio que concilia os dois sistemas. Como tal, concluiu que o princípio “Um País, Dois Sistemas” está em conformidade com os “interesses fundamentais de Macau e Hong Kong, conta com o sincero apoio dos seus residentes e das mais de 1,4 mil milhões de cidadãos chineses”. “É do interesse dos investidores de todo o mundo e tem recebido apoio internacional”, acrescentou.
Política | Macau retrocede em termos de representação feminina Andreia Sofia Silva - 10 Jan 2025 As deputadas lutam mais por temas relacionados com mulheres do que os seus colegas. A representação feminina na política local, nomeadamente no hemiciclo, continua “abaixo das médias globais e asiáticas”. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas” Macau está ainda aquém em termos de igualdade de géneros na política. Esta é a principal conclusão da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan defendida em Novembro de 2023 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no ramo da Sociologia, e intitulada “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”. Da análise da académica retira-se a ideia de que em Macau prevalece “uma representação feminina abaixo das médias globais e asiáticas” e, para esta conclusão, foram analisadas 95 interpelações escritas dos deputados na Assembleia Legislativa (AL) “relacionadas com os interesses das mulheres” entre os anos de 1999 e 2022, entre a primeira à sétima legislatura. Assim, “os resultados revelam que o número de deputadas permanece consistentemente num patamar relativamente baixo, mantendo-se em cinco desde 1999 até ao presente”. Segundo a autora do estudo, “embora se tenham registado flutuações ao longo desse período, com um máximo de sete e um mínimo de quatro deputadas, em termos gerais a evolução no número de deputadas tem sido muito limitada”. Salienta-se também que, com o aumento do número de assentos de deputados na AL (33), “a proporção de deputadas em relação ao total tem diminuído”, pelo que “em Macau, as mulheres que constituem metade da população não alcançam um ‘reflexo exacto’ no órgão legislativo”. Constata-se ainda que tem existido uma diminuição, nos últimos anos, da presença feminina no hemiciclo, ao contrário do que se verifica a nível regional e até mundial. “Constatámos que o número de mulheres em órgãos legislativos em muitas regiões está a aumentar, enquanto Macau está a experienciar uma tendência oposta. No caso da AL, o número de lugares ocupados por deputadas não é optimista. Em 1999, com 23 lugares, apenas 5 eram ocupados por mulheres, e quando o número de lugares aumentou para 33 lugares, em 2023, as mulheres continuaram a ocupar apenas 5 lugares.” “Este número pessimista lembra-nos a baixa percentagem de representação descritiva das mulheres no órgão legislativo de Macau, com os homens a ocupar consistentemente o papel predominante neste espaço político”, pode ler-se. Saúde e violência No que diz respeito às interpelações analisadas, abordam “temas como violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”, sendo que, “em termos quantitativos, as deputadas adoptam uma posição mais activa em relação a estas questões quando comparadas com os seus colegas do sexo masculino”. Das 95 interpelações, 61 foram apresentadas por deputadas e as restantes por deputados, o que mostram que são elas que “tomam mais acção para as mulheres”. É referido também na dissertação que “nas discussões de políticas, as deputadas abordam estas questões com uma perspectiva de género, destacando as situações específicas enfrentadas pelas mulheres em vários contextos”. É, assim, “mais provável que demonstrem a vida, as perspectivas e as necessidades das mulheres de uma forma específica e multidimensional”. Desta forma, a autora do trabalho académico entende que “são as deputadas que melhor representam os interesses das mulheres”. Em termos do volume de interpelações escritas com questões colocadas ao Governo, a autora conclui que “os deputados masculinos e as deputadas femininas empreendem acções para promover os interesses das mulheres”, mas persistem “nuances relevantes que apoiam a conclusão de que são as deputadas quem melhor representa os interesses das mulheres”. A maioria dos temas das interpelações sobre “questões femininas” incidem sobre “maternidade, violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Destes, “os três primeiros temas representam aproximadamente quatro quintos de todas as interpelações”. Para a autora, “esse foco reflete a preocupação dos deputados em garantir a protecção dos direitos das gestantes e das mães, bem como a prevenção e o combate à violência e aos crimes sexuais”. O facto de os deputados colocarem estas questões “reflecte uma relativa negligência em relação às questões de saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Desta forma, verifica-se um “desequilíbrio na atenção dada a diferentes aspectos das questões das mulheres”, algo que se pode relacionar “com estereótipos de género comuns na sociedade”. Falta de perspectiva O estudo analisa também a forma como os temas relacionados com a vida das mulheres são tratados consoante o género dos deputados. Assim, refere-se que “o único campo que não apresenta diferenças significativas é o da violência doméstica”, pois “os deputados e deputadas concentram as suas interpelações em medidas práticas para mitigar os danos causados às vítimas de violência doméstica e contribuem para a formulação de leis para combater e prevenir a violência doméstica”. Porém, “no que diz respeito aos demais temas, as interpelações das deputadas revelam maior diversidade, abordando questões a partir de diversas perspectivas e enfatizando as necessidades e desafios das mulheres em contextos pertinentes”. Um dos exemplos apontados diz respeito às interpelações sobre crimes sexuais, onde “as deputadas salientam a situação das mulheres enquanto vítimas, destacam a existência oculta do assédio sexual e do assédio verbal no local de trabalho, assim como com a ausência de respeito pelas mulheres no discurso das redes sociais em resposta a casos de assédio sexual em espaços públicos”. As diferentes visões dos deputados consoante o género verificam-se no tema da relação da mulher com a maternidade e o mercado de trabalho. Neste caso, “os deputados sublinham a relação entre as mulheres e a reprodução, com foco na maternidade das mulheres”, enquanto “as deputadas destacam as pressões enfrentadas por grávidas no equilíbrio do trabalho e parentalidade, juntamente com as possíveis injustiças no ambiente de trabalho que podem surgir durante esse processo”. As deputadas são ainda “as únicas a demonstrar preocupação com os serviços médicos e a saúde das grávidas”. Mulheres como vítimas Outro tema que a autora procurou analisar foi a forma como as mulheres de Macau são representadas tendo em conta as questões colocadas pelos deputados nas interpelações escritas. Assim, “devido ao destaque conferido aos temas mais discutidos, como maternidade, violência doméstica e crimes sexuais, torna-se evidente que nas discussões de políticas na AL as mulheres são predominantemente associadas à identidade de mães e ao papel de grupos vulneráveis, tais como vítimas de violência doméstica e de crimes sexuais”. Neste contexto, “as mulheres são frequentemente retratadas como vítimas, que precisam de auxílio, geradoras da reprodução humana e mães trabalhadoras que necessitam de equilibrar a vida familiar e profissional”. Chan Wong Kuan diz ter encontrado apenas um exemplo de uma interpelação que encara as mulheres de outra perspectiva, “como tomadoras de decisões, desvinculadas de papéis maternos e laços familiares, representando-as como promotoras do desenvolvimento harmonioso e estável da sociedade”. A interpelação assinada por Iong Weng Ian, a 30 de Dezembro de 2005. Desta forma, a académica entende que “as mulheres são predominantemente retratadas como figuras associadas à maternidade e vulnerabilidade, com poucas representações de outras possibilidades”. “A diversidade das mulheres está negligenciada, uma vez que as declarações dos deputados enfatizam a vulnerabilidade e as necessidades das mulheres em contextos específicos, ao mesmo tempo que negligenciam a multiplicidade de papéis que as mulheres podem desempenhar. As mulheres não se limitam a ser apenas vítimas ou mães; elas também podem actuar como profissionais, líderes, participantes da comunidade, entre outros”, é referido. Assim, a dissertação diz mesmo que os deputados, ao “ignorar essa diversidade” podem contribuir para a “simplificação e perpetuação de estereótipos em relação ao papel das mulheres, o que pode afectar a atenção aos seus direitos integrais”. Destaque ainda para o facto de, em 95 interpelações, a autora ter encontrado apenas uma apresentada por um deputado cuja temática versava sobre a promoção da igualdade de género. Já a deputada Wong Kit Cheng é referida como o exemplo a seguir, pois não só foi “a deputada mais activa” como apresentou interpelações sobre todos os temas acima descritos relacionados com as mulheres. Assim, é destacado “o papel crucial desempenhado pela deputada Wong Kit Cheng como uma protagonista fundamental na promoção dos interesses das mulheres”.
Moeda | Yuan atinge menor valor em 16 meses Hoje Macau - 9 Jan 2025 A moeda chinesa atingiu esta semana um mínimo de 16 meses, apesar dos esforços do banco central da China para acalmar os investidores sobre a possível imposição de taxas alfandegárias punitivas pelos Estados Unidos, sob presidência de Donald Trump. O yuan tem atingido consecutivamente novos mínimos desde que Trump venceu as eleições, com a promessa de taxar até 60 por cento todas as importações oriundas da China. O índice de ações CSI 300, que reúne as maiores empresas do país asiático, também se desvalorizou 4,5 por cento, ao longo do último mês. O índice registou as maiores perdas semanais em mais de dois anos na semana passada, quando caiu 5 por cento. Em resposta, as praças financeiras chinesas pediram a vários grandes fundos de investimento, na semana passada, que restringissem as suas vendas de acções para evitar fortes correções nos mercados, segundo a imprensa internacional. As bolsas de valores de Xangai e Shenzhen também se reuniram recentemente com instituições estrangeiras, informaram ambas as praças financeiras no domingo, para assegurar os investidores que vão continuar a abrir os mercados de capitais da China.
Advogados desmentem fuga de presidente sul-coreano deposto Hoje Macau - 9 Jan 2025 Os advogados do presidente deposto da Coreia do Sul negaram ontem que Yoon Suk-yeol esteja em fuga, como alega a oposição. As declarações da equipa jurídica surgem numa altura em que as autoridades preparam uma segunda operação para tentar deter Yoon, depois da execução de um primeiro mandado de detenção ter falhado, na sexta-feira, devido a um bloqueio da segurança na residência presidencial. Os advogados encontraram-se com Yoon na residência na terça-feira à noite, disse, em conferência de imprensa, a equipa jurídica do presidente deposto, que está a ser investigado por ter declarado lei marcial a 3 de Dezembro. Um dos advogados, Yun Gap-keun, insistiu que a defesa de Yoon continua a recusar-se a acatar uma investigação baseada naquilo a que voltou a chamar de mandado de detenção inválido e ilegal contra o dirigente, destituído pela Assembleia Nacional a 14 de Dezembro. “O que é claro é que se o Gabinete de Investigação da Corrupção [CIO] solicitar o mandado [de detenção] a um tribunal do Distrito Ocidental de Seul, que está fora da jurisdição, não o podemos aceitar”, disse Yun, sublinhando que o poder para julgar a alegada insurreição de Yoon cabe aos tribunais do Distrito Central de Seul, os principais tribunais do país. Yun fez estas declarações depois de, na terça-feira, ter sido concedida ao CIO uma prorrogação do prazo de execução de uma ordem de detenção emitida por um tribunal da área ocidental da capital sul-coreana. Os advogados do presidente deposto também insistiram que a investigação do alegado crime de insurreição não é da responsabilidade do CIO, mas sim do Ministério Público. As divergências entre o gabinete anticorrupção e o Ministério Público remontam ao tempo de Yoon Suk-yeol como procurador-geral. Sem sucesso O CIO foi criado pelo anterior governo liberal, em 2021, para limitar os poderes do Ministério Público na investigação de titulares de altos cargos da administração pública, depois de uma investigação de Yoon ter levado à demissão do então ministro da Justiça. A sucessora no cargo criou então o CIO, que, por sua vez, forçou a demissão do actual presidente deposto. Três meses depois, Yoon candidatou-se pelos conservadores às eleições de 2022, conduzindo ao cenário actual, marcado por um profundo ressentimento entre as agências e os dois principais partidos políticos, o PPP e o Partido Democrático.
A borboleta de Edward Lorenz Olavo Rasquinho - 9 Jan 2025 Há algumas dezenas de anos a previsão meteorológica era feita apenas para um ou dois dias. Os meteorologistas traçavam manualmente as cartas meteorológicas de superfície, de seis em seis horas, e de altitude a vários níveis, de 12 em 12 horas, baseados em observações efetuadas nas estações meteorológicas nas chamadas horas sinóticas. Estas cartas abrangiam áreas muito vastas que se estendiam por regiões continentais e oceânicas. Recorrendo às últimas cartas e a sequências de cartas anteriores, os meteorologistas deduziam a evolução espácio-temporal dos sistemas de pressão e das frentes, traçando cartas de prognóstico. Tudo isto era feito manualmente, não sendo possível, nessa altura, proceder a cálculos baseados nas equações que regulam o comportamento da atmosfera. Claro que os meteorologistas, baseados em conhecimentos físico-matemáticos e na experiência, associavam os centros de ação (anticiclones e depressões), as massas de ar e as frentes a determinadas características de tempo. As equações que traduzem o comportamento da atmosfera já eram bem conhecidas nessa altura, mas a lentidão dos computadores e o fraco poder de cálculo não permitiam ainda produzir cartas de prognóstico com base nas quais se poderiam extrair, em tempo útil, as previsões em linguagem clara. De nada serviria uma previsão que só estivesse pronta depois do período de validade. Claro que isto se fez durante algum tempo, para testar os primeiros modelos de previsão matemática1 do tempo que então ainda eram bastante rudimentares. As primeiras tentativas de previsão numérica do tempo, levadas a cabo por Lewis Fry Richardson2 (1881-1953), foram completamente falhadas. Richardson chegou mesmo a ser ridicularizado pelo facto das suas previsões só estarem prontas bastante tempo depois do período de validade. Os cálculos eram então feitos à mão por colaboradores seus, para regiões restritas. Com o advento dos computadores, nos anos quarenta, as suas experiências começaram a fazer algum sentido, mas ainda longe de resultados satisfatórios. Só em 1950 foi alcançada a primeira previsão matemática do tempo relativamente bem-sucedida, com recurso a um computador eletrónico. A experiência foi levada a cabo com base no trabalho de Richardson. Assim, em 8 de março de 1950, usando o computador “Electronic Numerical Integrator and Computer” (ENIAC), a equipa composta, entre outros, pelo matemático John von Neumann e pelos meteorologistas Jule Charney e Ragnar Fjørtoft, terminou com êxito uma previsão para um dia, mas que demorou cerca de 24 horas a estar disponível. A previsão numérica do tempo progrediu grandemente na década de sessenta, devido ao advento dos satélites meteorológicos e aos modelos de previsão do tempo cada vez mais aperfeiçoados. Computadores com maior poder de cálculo permitiram a resolução rápida das equações complexas que regulam o comportamento da atmosfera, tendo como resultado previsões com maior fiabilidade e para períodos mais longos. Em 1975 foi criado, na Europa, o Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo (“European Centre for Medium-Range Weather Forecasts” – ECMWF). Nos Estados Unidos da América, o “Global Forecast System” (GFS) começou a operar na década de 1980. O ECMWF fazia inicialmente previsões para 5 dias, mais tarde para 7 a 10 dias e, desde 1992, para 15 dias. No que se refere ao GFS, o período de validade era inicialmente de 5 a 7 dias, aumentando para 10 dias e, no final da década de 1990, passou para 16 dias. Entre os numerosos produtos destes centros contam-se cartas meteorológicas de 6 em 6 horas, além de produtos para áreas específicas, como navegação aérea e marítima, agricultura, índices de incêndios florestais e de qualidade do ar, etc. Todo este progresso foi devido ao aumento do poder de cálculo dos computadores e a assimilação de dados mais eficiente, obtidos com recurso a estações meteorológicas terrestres e oceânicas, balões meteorológicos, satélites, aviões, navios e boias oceânicas. Há um certo consenso, por parte dos meteorologistas operacionais, que as previsões do ECMWF são mais fiáveis. Estão, no entanto, apenas disponíveis para os países membros. Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau, por exemplo, quando a RAEM estava sob administração portuguesa, recebia produtos do ECMWF, o que deixou de acontecer a partir da transição para a administração chinesa. Os americanos disponibilizam as suas previsões sem essas restrições. Poder-se-á perguntar “por que não se fazem previsões para períodos mais longos?”. O determinismo, sendo uma teoria filosófica que sustenta que todos os acontecimentos são causados por eventos anteriores, pode-se aplicar às previsões meteorológicas, na medida em que, uma vez conhecidos os parâmetros que caracterizam o tempo num determinado momento (ou seja, as condições iniciais do estado da atmosfera), a evolução das condições meteorológicas poder-se-ia prever sem quaisquer barreiras. Acontece, porém, que a atmosfera é um sistema caótico, o que implica que, se os valores observados estiverem imbuídos de alguma imprecisão, os erros se repercutem, aumentando em função do tempo (“tempo” aqui refere-se a tempo cronológico). Também as pequenas perturbações na atmosfera, parecendo insignificantes, podem contribuir para grandes alterações no seu comportamento futuro. Daí o meteorologista Edward Lorenz (1917 – 2008) se ter referido a que uma pequena perturbação na atmosfera, como a causada pelo bater das asas de uma borboleta, poder, potencialmente, influenciar o tempo num lugar distante, algum tempo depois. Lorenz introduziu o conceito “efeito borboleta” na apresentação “Predictability: does the flap of a butterfly’s wings in Brasil set off a tornado in Texas?”, realizada em Washington D.C., em 1972. Trata-se de uma metáfora para enfatizar que pequenas alterações nos parâmetros meteorológicos (e.g., temperatura ou pressão atmosférica), podem influenciar eventos futuros num sistema caótico como a atmosfera. Nesta palestra, Edward Lorenz destacou a realidade de que a fiabilidade das previsões tem limites devido ao sistema complexo que é a atmosfera e ao seu caracter caótico. Pequenas alterações nas condições meteorológicas iniciais nos modelos de previsão como, por exemplo, o arredondar dos valores da temperatura, podem induzir alterações nos resultados da previsão. Para tornar as previsões mais fiáveis, os grandes centros mundiais de previsão do tempo recorrem também, além das previsões determinísticas, às previsões “ensemble” (previsões de conjunto), fazendo correr o mesmo modelo de previsão numérica várias vezes, mas com as condições inicias ligeiramente alteradas. O conjunto de resultados permite concluir, em termos probabilísticos, qual o tempo mais provável que ocorrerá num determinado local e num determinado período. Há, portanto, a necessidade de combinar modelos determinísticos com modelos probabilísticos, a fim de que se possa lidar com a incerteza inerente ao sistema atmosférico. As previsões tipo “ensemble” são de grande utilidade para gerir a incerteza sobre a evolução de certas situações meteorológicas. Os resultados destas previsões, que abrangem todo o globo, são disponibilizados aos centros nacionais de previsão do tempo a fim de que os meteorologistas locais as adaptem para as respetivas regiões. Com o avanço da ciência e da tecnologia, poder-se-á perguntar qual o papel que a Inteligência Artificial (IA) terá para melhorar a previsão do tempo. Será que contribuirá significativamente para obstar as dificuldades inerentes ao caos que caracteriza a atmosfera? Entretanto já decorrem estudos sobre a aplicação da IA na tentativa de aumentar o período de validade e a fiabilidade das previsões determinísticas e do tipo “ensemble”. Combinando IA com modelos de previsão do tempo já em uso, e com os avanços no que se convencionou chamar “machine learning”4, espera-se que, num futuro não muito longínquo, se possam detetar de maneira mais eficiente sinais precoces de eventos meteorológicos extremos como, entre outros, ondas de calor, furacões, tufões e tornados. No entanto, a atmosfera nunca deixará de ser um sistema caótico… Meteorologista Referências: Previsão matemática do tempo – também designada por “previsão numérica do tempo”. Lewis Fry Richardson (1881-1950) – Matemático, físico e meteorologista inglês que se salientou por ter sido um dos pioneiros na aplicação da matemática à previsão do tempo. Richardson foi também conhecido como pacifista. Segundo o seu neto, Thomas Körner, Professor de matemática na Universidade de Cambridge, o facto do seu avô ter sido ativista contra a guerra, fez com que destruísse estudos seus que pudessem ser utilizados para maior eficiência de armas químicas, usadas na primeira guerra mundial. Edward Lorenz: Matemático e meteorologista americano.Foi um dos fundadores da moderna teoria do caos, que consiste num ramo da matemática que estuda o comportamento de sistemas dinâmicos altamente sensíveis às condições iniciais. O conceito de “efeito borboleta” tem sido aplicado a muitas situações fora do contexto da meteorologia para ilustrar que uma pequena alteração num determinado comportamento, pode, eventualmente, ser a causa de consequências maiores. “Machine learning” (Aprendizagem automática) – trata-se de um subsistema da IA cujos algoritmos, em vez de seguirem instruções predefinidas, utilizam dados para identificar padrões, construir modelos e melhorar o seu desempenho ao longo do tempo. “Machine learning” (Aprendizagem automática) – trata-se de um subsistema da IA cujos algoritmos, em vez de seguirem instruções predefinidas, utilizam dados para identificar padrões, construir modelos e melhorar o seu desempenho ao longo do tempo.
Geogastronomia e a Ásia Jorge Rodrigues Simão - 9 Jan 2025 “All I ask is that it’s respectful. All I ask is that they pay tribute and understand it and [the food is] an homage to where it came from.” Chef David Chang A relação entre a geografia e a alimentação é reconhecida há séculos. Embora várias culturas tenham desenvolvido práticas culinárias exclusivas das suas regiões, o estudo sistemático destas interacções começou a cristalizar-se no final do século XX. Estudiosos pioneiros, como Claude Lévi-Strauss, lançaram as bases para a compreensão da comida como um símbolo cultural influenciado por factores geográficos e ambientais. Na Ásia, esta relação é particularmente acentuada devido à diversidade de climas, topografias e populações do continente. O contexto histórico da Ásia em termos de comércio e migração influenciou profundamente a sua paisagem culinária. A Rota da Seda, por exemplo, facilitou não só a troca de bens, mas também a partilha de conhecimentos culinários. Especiarias, ervas aromáticas e técnicas culinárias atravessaram grandes distâncias, remodelando as cozinhas regionais. O início da geogastronomia realça a importância destas rotas comerciais históricas e a sua influência duradoura na gastronomia contemporânea e na cultura alimentar local. A geogastronomia revela até que ponto a geografia tem impacto nas práticas culinárias na Ásia. Factores como o clima, os tipos de solo e a disponibilidade de água afectam directamente a agricultura e a produção alimentar. Por exemplo, o arroz, um alimento básico em muitas dietas asiáticas, prospera em condições climáticas específicas e é cultivado extensivamente em regiões como o Sudeste Asiático e a China. O cultivo do arroz liga não só as práticas agrícolas, mas também as identidades culturais e as cozinhas de toda a Ásia. Além disso, a diversidade geográfica da Ásia conduz a uma grande variedade de tradições culinárias. Desde os pratos ricos e condimentados da Índia até aos sabores delicados da cozinha japonesa, a geografia de cada região influencia a sua gastronomia. A disponibilidade de ingredientes autóctones, como as malaguetas no Sudeste Asiático, o marisco nas regiões costeiras e os vários cereais no interior, molda tanto os sabores como as técnicas de confecção exclusivas dessas culturas. Várias personalidades contribuíram substancialmente para a compreensão e o desenvolvimento da geogastronomia na Ásia. Uma dessas figuras é o historiador e investigador alimentar Michael Pollan. O seu trabalho enfatiza a importância dos ingredientes locais e a relação entre ecologia e alimentação. A defesa de Pollan de práticas agrícolas sustentáveis influenciou muitos chefes asiáticos e especialistas em culinária, encorajando o renascimento de métodos de cozinha tradicionais que respeitam tanto o ambiente como o património culinário. Além disso, chefes como David Chang e Nobu Matsuhisa desempenharam um papel crucial na popularização da cozinha asiática a nível mundial. Os seus conceitos de restauração sublinham a importância da aquisição de ingredientes locais e do respeito pelos métodos tradicionais. As suas contribuições ajudam a colmatar o fosso entre a geografia e a gastronomia, mostrando como as práticas baseadas no local inspiram escolhas alimentares inovadoras. A exploração da geogastronomia na Ásia suscita frequentemente diversas perspectivas. Os antropólogos culinários defendem que é essencial compreender o contexto sociocultural da alimentação. O vegetarianismo na Índia, por exemplo, está enraizado nas crenças religiosas e na geografia local, reflectindo uma perspectiva mais ampla do papel da alimentação na sociedade. Para além do mero sustento, a comida serve de veículo à identidade cultural e às relações comunitárias. Por outro lado, alguns críticos argumentam que a globalização ameaça a autenticidade das cozinhas tradicionais. A proliferação de cadeias de “fast food” nas zonas urbanas muda as práticas alimentares e altera as culturas alimentares locais. Esta dualidade suscita debates sobre a autenticidade, a acessibilidade e o futuro das práticas culinárias na Ásia. Ambas as perspectivas são válidas, realçando a relação em constante evolução entre a geografia e a gastronomia. Uma análise contemporânea da geogastronomia na Ásia revela a forma como as práticas culinárias locais se adaptam aos tempos de mudança. Por exemplo, durante a pandemia da COVID-19, muitos chefes de cozinha e cozinheiros domésticos voltaram-se para as receitas e métodos tradicionais, reforçando os laços culturais enquanto enfrentavam a escassez de alimentos. A sua criatividade e resiliência levaram a um renovado apreço pelos ingredientes e práticas locais, ilustrando o poder duradouro da geogastronomia em tempos de crise. (continua)