Ursula Von der Leyen espera cimeira “de escolhas” entre UE e Pequim

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considera que a cimeira entre a União Europeia (UE) e a China, no final da semana, será feita “de escolhas”, avisando que Bruxelas “não tolerará” mais desequilíbrios comerciais.

“Penso que esta é uma cimeira de escolhas. Temos uma relação muito complexa com a China […] e esta cimeira trata-se de múltiplas escolhas que podem ser tomadas, em primeiro lugar, nas nossas relações comerciais e desequilíbrios UE-China”, disse a líder do executivo comunitário em entrevista ao projecto European Newsroom.

De acordo com Von der Leyen, será também abordado “o posicionamento” chinês relativamente à invasão russa da Ucrânia e à guerra crise no Médio oriente. Além disso, serão abordadas “as escolhas que estão em cima da mesa para unir forças no combate às alterações climáticas e na protecção da biodiversidade”, elencou Ursula von der Leyen.

No âmbito comercial, a responsável reconheceu que a UE “é um importante parceiro comercial da China e vice-versa”, mas ainda persiste “um crescente desequilíbrio comercial” que duplicou nos últimos dois anos, atingindo um défice de quase 400 milhões de euros. Por essa razão, Bruxelas vai pedir nesta cimeira “equidade na relação comercial”.

Ursula von der Leyen avisou: “Os líderes europeus não tolerarão, ao longo do tempo, desequilíbrios nas relações comerciais e temos ferramentas para proteger o nosso mercado, embora tenhamos preferência por soluções negociadas”.

“O desequilíbrio é visível, por exemplo, quando olhamos para as exportações da China para a União Europeia, que são três vezes superiores […] ou, por outras palavras, se tiver três contentores que vão da China para a Europa, dois destes contentores regressam vazios, regressando a casa”, pelo que “é do nosso interesse reequilibrar as relações comerciais e é do nosso interesse que tenhamos um comércio sustentável entre a União Europeia e a China”, vincou.

“Acho importante que não vejamos apenas a China como parceiro comercial e potência industrial, mas também como concorrente tecnológico no poder militar e como um actor global que tem visões distintas e divergentes sobre a ordem global. Olhando para o défice comercial, vemos isso e vamos discutir a […] falta de acesso ao mercado chinês para as empresas europeias”, disse ainda Ursula von der Leyen.

Pressão exterior

A UE vai também apelar para que Pequim “use a sua influência sobre a Rússia” para parar a guerra contra a Ucrânia, afirmou ontem a presidente da Comissão Europeia, realçando “a sua responsabilidade”.

“Em primeiro lugar, congratulo-me vivamente com o envolvimento chinês nos assuntos globais porque a China desempenha um papel importante. Olhando especificamente para a Ucrânia, a China é membro do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] e, com isso, tem uma responsabilidade específica” apontou Von der Leyen.

De acordo com a presidente da Comissão Europeia, a UE vai salientar que “é importante que a China use a sua influência sobre a Rússia”. “Ainda não fizeram, mas este é o nosso pedido, para que usem a sua influência sobre a Rússia também para defender a Carta das Nações Unidas, que assenta na integridade territorial e na soberania de um país”, a Ucrânia, salientou Ursula von der Leyen.

Para Ursula von der Leyen, também “é uma preocupação” a evasão da Rússia às sanções adoptadas pela Rússia. “Temos um diálogo muito intenso com a China, mostrando casos diferentes, e pedimos […] à China que aja sobre esses casos”, assinalou a responsável.

Ursula von der Leyen vai, juntamente com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o Alto Representante da União, Josep Borrell, representar o bloco europeu nesta cimeira, que se traduz num diálogo ao mais alto nível sobre as relações UE-China e também sobre questões internacionais.

Previstos estão encontros destes altos funcionários da UE, à margem da cimeira, com o Presidente chinês, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro, Li Qiang, em duas sessões separadas.

6 Dez 2023

Von der Leyen critica concorrência de empresas chinesas “fortemente subsidiadas” na UE

A Comissária Europeia criticou os subsídios estatais das empresas chinesas. Na resposta, a China chama atenção para o mesmo “pecado” em toda a Europa

 

A presidente da Comissão Europeia criticou ontem a concorrência de “actores estrangeiros fortemente subsidiados” na União Europeia (UE), numa alusão aos carros eléctricos chineses vendidos mais baratos que os europeus, prometendo acabar com “práticas desleais”. “No que respeita à concorrência desleal, as nossas empresas europeias enfrentam com demasiada frequência a concorrência de atores estrangeiros fortemente subsidiados. Pensemos na indústria automóvel. […], mas ao mesmo tempo os mercados mundiais são inundados por carros elétricos chineses baratos e o seu preço é mantido artificialmente baixo graças a enormes subsídios estatais”, declarou Ursula von der Leyen.

Intervindo na Cimeira sobre o Pacto Ecológico europeu, na capital checa, em Praga, a líder do executivo comunitário justificou que, por essa razão, a UE está a avançar com a investigação contra os subsídios aos veículos eléctricos provenientes da China, anunciada em meados deste mês. “As empresas europeias estarão sempre prontas para a verdadeira concorrência – a concorrência em termos de custo-eficácia e qualidade -, mas esta tem de ser justa e nós protegeremos as empresas europeias da concorrência desleal”, prometeu.

Estas declarações de Ursula von der Leyen surgem quando termina a viagem do vice-presidente executivo da Comissão Europeia com a pasta do Comércio, Valdis Dombrovskis, à China, ocasião na qual o responsável pediu cooperação a Pequim na investigação aberta por Bruxelas sobre subvenções chinesas, alegadamente ilegais, ao sector dos carros eléctricos, de acordo com fontes europeias.

Telhados de vidro

Sobre a investigação anti-subsídios da UE a propósito dos veículos eléctricos chineses, numa conferência de imprensa, Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, disse que “a China se opõe a todas as formas de protecionismo comercial e que as acções relevantes da UE não são conducentes à estabilidade da indústria automóvel global e das cadeias de abastecimento e não são do interesse de ninguém”. Mao instou a UE a criar um ambiente de mercado “justo, não discriminatório e previsível” para o desenvolvimento comum das indústrias chinesa e europeia de veículos eléctricos e a opor-se conjuntamente ao protecionismo comercial.

Cui Hongjian, professor na Beijing Foreign Studies University, salientou que, na perspectiva chinesa, a UE tomou nos últimos anos uma série de medidas de natureza proteccionista nos domínios do investimento, do comércio e das indústrias. “Todas estas questões têm de ser abordadas com urgência… a UE não pode adoptar uma atitude de culpar a China por todos os problemas”, afirmou ao Global Times.

“A investigação sobre os veículos eléctricos chineses não é a única medida proteccionista tomada pela UE. Na semana passada, entrou oficialmente em vigor a Lei Europeia dos Chips da UE, que implica subsídios maciços para reforçar a indústria de chips europeia. Em junho, a UE lançou a Estratégia Europeia de Segurança Económica, essencialmente um passo para “reduzir os riscos”, e afirmou que os fornecedores chineses de 5G, Huawei e ZTE, representam “riscos materialmente mais elevados do que outros fornecedores de 5G”. Sob esta retórica, alguns países da UE estão alegadamente a tomar medidas para excluir a Huawei e a ZTE, sendo a mais recente a Alemanha, o que provocou uma resposta dura da China e até da comunidade empresarial alemã”, concluiu Cui.

Outros observadores chineses afirmam que tais medidas, incluindo a mais recente investigação sobre os veículos eléctricos chineses, não são apenas tentativas de aumentar a influência da UE durante as conversações, mas também visam reduzir sistematicamente as chamadas “dependências” da China devido a “preconceitos geopolíticos e ideológicos”. Além disso, apesar de todas as suas medidas proteccionistas, os funcionários da UE têm afirmado repetidamente que não estão a tentar “dissociar-se” da China; no entanto, para a China, “a UE deve demonstrar a sua intenção com acções reais e não com retórica”, acrescentaram os peritos.

Problemas “não vêm da China”

Fang Dongkui, scretário-geral da Câmara de Comércio China-EU, instou ainda a UE a clarificar estas acções e a procurar consultas positivas e soluções adequadas com a parte chinesa. A UE “não deve recorrer facilmente a instrumentos comerciais e políticos que ultrapassam o conceito de segurança nacional e politizam as questões económicas e comerciais”, afirmou Fang.

“Se a UE quiser provar que está a reduzir os riscos e não a dissociar, o ónus da prova recai diretamente sobre a UE”, disse Bai Ming, investigador da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Económica, sob a alçada do MOFCOM, ao Global Times, na sexta-feira, sublinhando que o “comércio desequilibrado” se deve às políticas da UE e não às da China.

Segundo dados da Comissão Europeia, os carros elétricos chineses, que entraram recentemente na UE, já representam 8% do mercado total, sendo 20% mais baratos face à concorrência europeia. Em causa estão alegadas subvenções a empresas chinesas a investir no estrangeiro, principalmente em sectores estratégicos.

Dados da Associação de Fabricantes de Automóveis da China indicam que as exportações de veículos eléctricos pela China mais do que duplicaram (+110%), entre janeiro e agosto. No ano passado, foram vendidos na China quase seis milhões de carros elétricos – mais do que em todos os outros países do mundo juntos. A dimensão do mercado chinês e fortes apoios estatais propiciaram a ascensão de marcas locais, incluindo a BYD, NIO ou Xpeng.

27 Set 2023

Filipinas | Ursula von der Leyen inicia visita com encontro com Marcos

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, iniciou ontem uma visita oficial de dois dias às Filipinas com um encontro com o líder do país, Ferdinand Marcos Jr., no palácio presidencial em Manila

 

Esta é a primeira vez que um líder da Comissão Europeia (CE) visita as Filipinas, e Ursula von der Leyen espera “dar um novo impulso às relações bilaterais entre a UE [União Europeia] e as Filipinas” e abordar questões como o comércio, a transição energética e digital e a segurança, de acordo com uma declaração da União Europeia.

No encontro com Marcos Jr., a líder europeia pretende falar sobre comércio e investimentos, entre outros assuntos.
A reunião deverá abordar a manutenção de benefícios comerciais especiais, atribuídos pela UE às Filipinas desde 2014, que expiram em Dezembro e cuja continuidade depende do respeito por convenções internacionais sobre direitos humanos e laborais e pela protecção ambiental.

Em Fevereiro, um grupo de deputados europeus disse que Manila teria melhores hipóteses de manter os benefícios, incluindo tarifas reduzidas para uma vasta gama de produtos, se libertasse a líder da oposição e ex-senadora Leila de Lima.

De Lima, a crítica mais contundente do ex-presidente Rodrigo Duterte, foi detida em 2017 por acusações relacionadas com droga que a ex-senadora disse terem sido fabricadas pelo governo de Duterte para a impedir de investigar assassínios extrajudiciais. A morte de mais de seis mil pessoas no âmbito da campanha antidroga, desencadearam uma investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre possíveis crimes contra a humanidade. Em resposta, Duterte retirou as Filipinas do TPI em 2018.

Sinais positivos

Em Fevereiro, a deputada Hannah Neumann, que liderou uma delegação europeia numa visita às Filipinas, disse numa conferência que as condições no que toca aos direitos humanos sob o Governo de Marcos eram “melhores do que sob o presidente Duterte”. “Há muitos anúncios que podem realmente melhorar as coisas se forem implementados”, acrescentou.

Questionada se a eventual libertação de Leila de Lima e o regresso ao TPI aumentaria as possibilidades de as Filipinas continuarem a desfrutar dos benefícios comerciais da UE, Neumann disse que seria “um forte sinal da direcção o país quer seguir”.

Von der Leyen vai participar também num encontro com empresários organizado pela Câmara de Comércio UE-Filipinas e pelo Clube de Negócios de Makati, o distrito financeiro da capital, Manila.

A visita de Von der Leyen surge após um convite de Marcos, feito quando os dois líderes se reuniram em Dezembro, em Bruxelas, numa cimeira entre a UE e a Associação das Nações do Sudeste Asiático, e ocorre no 60º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a UE e as Filipinas.

1 Ago 2023

Rússia é “ameaça mais direta” à ordem mundial, diz von der Leyen no Japão

A Rússia é a “ameaça mais direta” à ordem internacional, devido à invasão da Ucrânia, declarou hoje a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Tóquio para participar na 28.ª cimeira UE-Japão.

Moscovo “é hoje a ameaça mais direta à ordem mundial com a guerra bárbara contra a Ucrânia e o perturbador pacto com a China”, disse Von der Leyen, depois de um encontro com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, na presença do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Nesta 28.ª cimeira, os dois lados comprometeram-se a reforçar a cooperação para aplicar “fortes sanções” à Rússia, na sequência da invasão na Ucrânia, e a levar à justiça os responsáveis pelos “crimes de guerra” cometidos no conflito.

Os líderes do Japão e da Europa deixaram ainda uma mensagem à China, de defesa de um “Indo-Pacífico livre e aberto” contra a ascensão militar de Pequim na região.

O Indo-Pacífico “é uma região cada vez mais próspera, mas com tensões crescentes”, destacou Von der Leyen, assinalando, em particular, os contínuos testes de armamento da Coreia do Norte e o elevado perfil militar da China.

A UE procura ter “um papel mais ativo” e “mais responsabilidade” numa região que considera “vital para a sua prosperidade”, acrescentou.

Kishida disse, por sua vez, que tanto o Japão como a UE “discutirão em conjunto quaisquer tentativas de alterar o ‘status quo’, ou de coerção económica” na região, com vista a promover um Indo-Pacífico “livre e aberto”.

12 Mai 2022

Sofagate: o Jogo das cadeiras diplomático

O mais recente “Sofagate” revelou algumas dinâmicas da política e do género no panorama internacional. Quando os líderes da Europa foram visitar o Presidente da Turquia confrontaram-se com um protocolo que se tornou viral nas redes sociais. O presidente não pareceu ter cadeiras suficientes para o número de convidados. Os homens prontamente sentaram-se nas cadeiras, a única mulher ficou em pé, de braços a questionar, “hmm”? O gesto disse tudo.

O desconforto poderá ter sido espoletado pela crescente tensão entre a Europa e a Turquia. Alguns discordam desta visão tão simplista. Há quem ache que tenha sido um gesto propositado de desrespeito contra uma mulher no poder. Não é fácil identificar a raiz do problema, o que é certo é que a esfera pública ruminou sobre o assunto. A recente retirada da Turquia da Convenção de Istambul pode ser sintomática desta re-definição de valores e prioridades.

A Convenção de Istambul foi redigida e assinada por vários países em 2012 para garantir que a violência contra as mulheres é legalmente penalizada. Mas a Turquia, uma das primeiras a assinar, saiu da convenção em 2021. A razão apresentada foi da linguagem inclusiva que normaliza os casais do mesmo sexo como protegidos pelos mesmos direitos. A preocupação com um possível “atentado contra os valores tradicionais” foi a justificação dada pelo governo Turco para sair do acordo que garantia os direitos das mulheres que lá vivem. Entretanto, coincidência, ou não, as mulheres na Turquia andam a morrer todos os dias, vítimas de violência dos seus namorados e ex-namorados. Um problema que parece não ter a atenção que precisa- Um movimento nas redes sociais – que esteve muito em voga há uns tempos – motivava as mulheres a fotografarem as suas fotos a preto e branco. Da mesma forma como as fotografias das mulheres que desapareceram aparecem nos jornais da Turquia, todos os dias.

Depois acontecem estes incidentes diplomáticos que nos deixam com a pulga atrás da orelha. Será que foi uma coincidência e falta de organização muito tristes? Ou será que foi uma demonstração flagrante do quanto se está a retroceder na proteção de direitos humanos?

Houve ali outras dinâmicas interessantes. A culpa pode não ser só da Turquia que só tinha duas cadeiras disponíveis para três pessoas. Os olhos ficaram postos no outro homem, o presidente do Conselho Europeu, que se sentou na única cadeira disponível num ápice. Se calhar achou que estavam a brincar ao jogo das cadeiras, onde o triunfo é dos mais rápidos que conseguem um assento. Diz o presidente do Conselho Europeu que agora não dorme com remorsos, já que ninguém tem poupado críticas à sua inacção. A posteriori percebeu a sua falta de sensibilidade. No momento, pareceu completamente a leste dos assuntos que importam verdadeiramente: o de não apoiar, de forma nenhuma, uma diplomacia potencialmente sexista.

A preocupação da Turquia estagnar o desenvolvimento de direitos humanos básicos, é real e preocupante. Por isso é que os olhos estão postos neles: os media e as redes sociais têm estado atentos às injustiças que se têm normalizado naquele país. Mas uma outra lição importante nestas questões de género é que é preciso entender as pessoas como agentes activos. Importante também é responsabilizar todos os que estão à volta para a forma como, inadvertidamente, podem estar a contribuir para um sistema medieval de desigualdade de género, em prol de protocolos ou conformismos desnecessários. A tendência de apontar dedos a culpados e de simplificar o que é complexo, deixa por analisar a forma como até aqueles que se dizem pelos valores humanos, ainda assim, não promovem a solidariedade necessária para que situações destas deixem de existir. Só assim é que se deixa a parvoíce de um jogo de cadeiras.

14 Abr 2021