Economia | Edmund Ho pede atenção às PME

O ex-Chefe do Executivo e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Edmund Ho, considerou que os investimentos de Macau em Hengqin não devem levar a que se desconsidere a situação das Pequenas e Médias Empresas em Macau.

As declarações foram prestadas durante um simpósio, realizado na segunda-feira, em que participaram os membros de Macau da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, e que teve como objectivo debater os discursos de Xi Jinping, aquando da sua passagem por Macau.

De acordo com o jornal Ou Mun, Edmund Ho considerou que o futuro de Macau tem de passar por Hengqin e pela criação de uma situação com vantagens para os dois territórios, mas que ao mesmo tempo é necessário apoiar as PME locais. Edmund Ho afirmou também que toda a sociedade de Macau tem de se unir para apoiar o desenvolvimento da Zona de Cooperação em Cantão.

Residência para idosos | Novas candidaturas até amanhã

Termina amanhã o prazo para entrega de candidaturas para a segunda ronda que dá acesso ao arrendamento de fracções na Residência do Governo para Idosos. Até à passada segunda-feira, o Instituto de Acção Social recebeu 440 propostas

 

O prazo para submeter candidaturas para a segunda ronda de acesso às fracções para arrendamento na Residência do Governo para Idosos, na Areia Preta, termina amanhã, alertou o Instituto de Acção Social (IAS) num comunicado divulgado na terça-feira à noite.

Desde o início desta ronda, que arrancou no dia 1 de Janeiro, até à passada segunda-feira, “o IAS recebeu um total de 440 candidaturas à Residência do Governo para Idosos”. O organismo liderado por Hon Wai esclareceu que o Instituto de Acção Social vai começar a avaliar as candidaturas submetidas na segunda ronda em meados deste mês.

“O IAS irá activar, em meados do corrente mês, os trabalhos de avaliação da nova ronda de candidaturas à Residência do Governo para Idosos, pelo que os idosos que pretendem mudar-se para a Residência, com a maior brevidade possível, devem apresentar a sua candidatura até 14 de Fevereiro de 2025 (a apresentação de forma presencial deve ser realizada dentro do horário de expediente e a apresentação online será até às 23h59 da referida data)”, foi anunciado.

O IAS acrescentou ainda que as candidaturas apresentadas depois de sexta-feira serão integradas nos trabalhos de avaliação na ronda seguinte.

O que fazer

Quem quiser apresentar candidaturas para as fracções pode fazê-lo através do “Sistema Electrónico de Candidatura à Residência do Governo para Idosos”, www.olderpersonsapart.ias.gov.mo. Além da candidatura online, os idosos podem deslocar-se a 15 locais, incluindo a Sede do IAS, Centros de Acção Social, zona de exposição da Residência do Governo para Idosos, ou aos 62 equipamentos sociais coordenados pelo IAS. Nesses locais podem beneficiar de assistência na apresentação de candidatura online.

A Residência para Idosos, que se situa no lote P no terreno que estava destinado para o empreendimento Pearl Horizon, na Areia Preta, tem 37 andares e oferece 1.815 apartamentos residenciais, em forma de apartamento estúdio.

Este tipo habitação pública é construído a pensar nas pessoas independentes com mais de 65 anos, atribuído através de contratos de arrendamento com valores abaixo do mercado.

Cheques pecuniários | Um “conforto” económico que tem gerado debate

O programa de comparticipação pecuniária arrancou em 2008 para distribuir os frutos do desenvolvimento da RAEM pelos residentes. Porém, voltou à ordem do dia a possibilidade de deixar de fora quem não vive em Macau. Sonny Lo descreve a medida como um “conforto” económico, enquanto José Félix Pontes diz que alterar a política acarreta “coragem”

 

Todos os anos os residentes permanentes e não-permanentes, quer tenham muitas ou poucas posses económicas, recebem, respectivamente, dez mil patacas e seis mil patacas do Governo. Um cheque que se obtém apenas por se ser portador do BIR – Bilhete de Identidade de Residente, quer o residente more ou não em Macau. De acordo com o Governo, o objectivo do programa de comparticipação pecuniária sempre foi a partilha do sucesso económico do território com a população, obtido em grande parte com os impostos cobrados sobre o jogo.

Porém, nas últimas semanas não faltam vozes, sobretudo na Assembleia Legislativa (AL), a pedir que quem vive fora de Macau deixe de receber o cheque. O assunto voltou a ser discutido ontem no programa matinal Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, com Nelson Kot, presidente da Associação de Estudos Sintético Social de Macau, a defender que os cheques deveriam ser atribuídos mediante o rendimento das diversas classes sociais. Assim, os valores seriam diferentes.

“Alguns idosos não têm muitos rendimentos e dependem da reforma para viver. Se este grupo de pessoas receber um cheque de maior valor, a sua vida pode melhorar. Se considerar o princípio da justiça social, o Governo deve considerar a forma de distribuição dos cheques pecuniários consoante as diversas classes sociais, aproveitando formas de aumentar os direitos de alguns grupos”, disse.

Lei Chun Kwok, vice-presidente da Associação Económica de Macau também participou no programa, recordando que aquando do lançamento dos cheques, em 2008, a economia local sofria com o impacto da crise mundial desse ano, pelo que a concessão dos cheques visava apoiar a população a lidar com o aumento da inflação.

Depois, na pandemia, lembrou Lei Chun Kwok, acabou por constituir mais um apoio, dada a atribuição dos cheques com antecedência. O também académico da Universidade de Macau lembrou que para os residentes que não moram em Macau, o potencial destes cheques para estimular o consumo é limitado. “Tendo em conta a perspectiva económica, se os titulares dos cheques que moram no exterior só os depositam nas contas bancárias, poupando todo o dinheiro, tal não beneficia os interesses gerais de Macau, porque o dinheiro não entra no sistema económico nem ajuda a criar actividades económicas.”

Leong In Pong, subchefe do conselho de assuntos sociais da União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), também defendeu no mesmo programa que os residentes, para receberem os cheques, devem viver em Macau pelo menos 183 dias por ano, regra também imposta aos beneficiários do regime de previdência central não-obrigatório, assim como para renovar os BIR não-permanentes.

50 por cento em vouchers

Para o economista José Félix Pontes, não deverá haver alterações a curto prazo da política. “Para os anos futuros, e no pressuposto de que o Governo manterá a medida (que defendo), dever-se-ia restringir [a atribuição] a quem resida na RAEM, pelo menos, 183 dias em cada ano, seguindo-se o critério de ‘residente fiscal’ da RAEM”, sugeriu ao HM.

Porém, o economista entende que devem ser criadas excepções, caso a limitação avance, nomeadamente para “estudantes de Macau que estudem no exterior, ou residentes permanentes tratados em estabelecimentos hospitalares da China ou no estrangeiro por períodos longos, ou professores que leccionem em instituições de ensino fora de Macau”.

É também sugerido por este economista que o montante de cada cheque deveria ser atribuído em duas componentes, nomeadamente metade em cheque e metade em formato “voucher”, “para poderem ser utilizados exclusivamente em estabelecimentos comerciais na RAEM”.

Porém, José Félix Pontes considera que “será difícil alterar a situação e será sempre uma medida em que o Governo da RAEM terá de revelar determinação e coragem políticas”.

Para o analista Sonny Lo, os cheques deixam “uma sensação de conforto entre os residentes e, idealmente, deveriam continuar, ainda que o montante possa ser reduzido um pouco em termos anuais”. Os cheques representam, assim, “um factor de bem-estar que tem levado à satisfação política e social em Macau”.

Caso haja mudanças, Sonny Lo não prevê perturbação social, dado que “em Macau as pessoas são politicamente muito calmas e dão relativo apoio ao Governo”.

Focar os objectivos

Olhemos para os números: em 2008, primeiro ano de lançamento do programa de comparticipação pecuniária, foram dados cheques a 534,672 residentes, no valor global de 2.545 milhões de patacas; sendo que actualmente os beneficiários são cerca de 750 mil, o que acarreta uma despesa anual para a Administração de 7,5 mil milhões de patacas.

Para José Félix Pontes, a questão dos beneficiários não é nova, pois “desde o início da distribuição destes cheques que se tem questionado se esta se deveria limitar apenas a quem, na realidade, esteja a viver permanentemente na RAEM, ou se deveria incluir, independentemente do local efectivo de residência, todo e qualquer portador de bilhete de residente permanente ou residente não-permanente”.

“Também a questão do ‘nível dos rendimentos’ de cada residente tem sido colocada em causa, havendo quem defenda que estes cheques deveriam ter como beneficiários residentes com menores rendimentos, ou, então, que fossem de montantes escalonados consoante os rendimentos de cada um. Finalmente, a eventual atribuição dos cheques aos trabalhadores portadores de ‘blue card’ (trabalhadores não-residentes), tem sido, de forma muito ‘soft’, referida de tempos a tempos, já que os mesmos também contribuem, em diversos sectores, para o desenvolvimento da economia de Macau”, lembrou.

A verdade é que, no ressurgir deste debate, a possível inclusão dos TNR, por exemplo, nunca foi directamente considerada. O deputado Ron Lam tem sido um dos defensores de alterações ao programa de comparticipação pecuniária, devendo o Governo esclarecer se a medida é um apoio financeiro ou distribuição de dividendos. O deputado disse que, actualmente, há cerca de 100 mil residentes a viver fora de Macau. Ron Lam referiu ainda que, segundo os dados das propostas orçamentais para o ano económico de 2025, o Governo poupou 79,32 milhões de patacas com cheques que não foram depositados dentro do prazo de três anos. O deputado defendeu um levantamento das razões para que esses cheques não tenham sido depositados ou levantados. Também a deputada Lo Choi In defendeu o fim dos cheques para quem está fora de Macau.

José Félix Pontes entende que está na hora de pensar no verdadeiro objectivo desta política. “Tem de se ter presente o objectivo definido para a distribuição dos cheques pecuniários, que consistiu em partilhar com a população residente na RAEM o sucesso financeiro na evolução da economia, que está, indissoluvelmente, ligado às receitas auferidas pelo Governo no imposto sobre o jogo. Daí falar-se na distribuição dos dividendos do jogo. Porém, a medida tem de ser vista não só como uma partilha de ganhos económicos, mas também, e em certa medida, como um reforço da segurança social dos residentes da RAEM ou de promoção da economia local.”

O HM questionou uma residente de Macau, de nacionalidade portuguesa, que não quis ser identificada, e que deixou o território há cerca de um ano, vivendo actualmente em Portugal. Porém a residente já ponderou um eventual regresso ao território. Sobre os cheques, diz que é importante analisar as intenções do Executivo.

“Se a ideia dos cheques é distribuir a riqueza dos casinos pelas gentes de Macau, para as pessoas que são residentes, não faz sentido acabarem com eles, porque as pessoas continuam a ter uma ‘costela’ de Macau de alguma forma. Se a perspectiva for esse altruísmo, aí não faz sentido pararem com os cheques para quem está fora. Se a questão é haver uma recompensa, aí é diferente. Os cheques são o quê, afinal? Não são a distribuição da riqueza pelas pessoas de Macau? Ou se contribuíres para Macau recebes uma recompensa? Essa é a questão central. Se for para distribuir a riqueza dos casinos todos têm direito.”

A residente destaca o exemplo de uma pessoa que toda a vida viveu em Macau, reformou-se e foi para outro país por “vários motivos, até de saúde”. “É importante saber esse tipo de casos. Mas o fundamental é mesmo saber o que é o cheque pecuniário e para que serve. A mim sempre me foi dito que era a distribuição da riqueza”, rematou.

McDonald’s | Planeada abertura na China de mais mil restaurantes este ano

A maior cadeia de comida rápida do mundo, a McDonald’s, planeia abrir cerca de mil novos restaurantes na China em 2025, quase metade dos 2.200 que vai inaugurar em todo o mundo.

Numa conferência com analistas após a apresentação dos resultados do último trimestre, o director financeiro da empresa norte-americana, Ian Frederick Borden, revelou estes números, que no caso da China vêm na sequência do número de aberturas anunciadas nos dois últimos exercícios.

“Estamos a assistir a sinais encorajadores de estabilização na China”, declarou o responsável sobre o desempenho da empresa no país asiático durante 2024, quando os lucros globais caíram 3 por cento, em relação ao ano anterior.

Em 2024, o presidente executivo da McDonald’s, Chris Kempczinski, já tinha destacado o “forte crescimento” na China, apesar da pressão sobre a confiança dos consumidores face aos problemas de recuperação económica, e afirmou: “Faremos o que for preciso para manter a nossa competitividade nesse mercado”.

A cadeia de hambúrgueres tem cerca de seis mil pontos de venda na China e tem como objectivo ultrapassar os dez mil até 2028. Actualmente, existem mais de 40 mil restaurantes McDonald’s em todo o mundo.

No final de 2023, a McDonald’s anunciou um acordo para comprar a participação de 28 por cento que a empresa de investimento Carlyle detinha no seu negócio na China, por um valor estimado de 1,8 mil milhões de dólares, aumentando a sua participação de 20 por cento para 48 por cento, com o banco de investimento chinês Citic a controlar os restantes 52 por cento.

EUA | Pyongyang denuncia “acto militar hostil”

A Coreia do Norte acusou na segunda-feira os Estados Unidos de cometer um “acto militar hostil”, depois de um submarino da Marinha norte-americana ter atracado na Coreia do Sul para reabastecimento.

“Estamos muito preocupados com o perigoso acto militar hostil dos Estados Unidos, que pode levar o agudo confronto militar na região da Península Coreana a um conflito armado total”, destacou um porta-voz do Ministério da Defesa, citado num comunicado divulgado pela agência de notícias estatal KCNA.

Pyongyang pediu aos Estados Unidos que “parem com as provocações que alimentam a instabilidade”, acusando-os de ignorarem as preocupações de segurança da Coreia do Norte. A agência de notícias Yonhap, da Coreia do Sul, informou que o USS Alexandria, um submarino nuclear norte-americano, chegou na segunda-feira à base naval de Busan, na Coreia do Sul, na segunda-feira. Uma visita semelhante tinha ocorrido em Novembro.

“As nossas forças armadas estão a monitorizar de perto o frequente aparecimento de activos estratégicos dos EUA na Península Coreana e estão prontas para utilizar todos os meios para defender a segurança e os interesses do Estado, bem como a paz regional”, sublinhou ainda o porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Norte.

A Coreia do Norte enfatizou a importância de desenvolver as suas capacidades de autodefesa e referiu a promessa do líder Kim Jong Un, em Janeiro, de continuar o programa nuclear do seu país “por tempo indeterminado”.

Bons velhos amigos

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou na sexta-feira a intenção de construir pontes com o regime norte-coreano de Kim Jong-un. “Acho que é uma grande vantagem para todos que eu me dê bem com ele. Eu gosto dele, quer dizer, eu dou-me bem com ele, ele dá-se bem comigo. E isso é uma coisa boa, não é uma coisa má”, frisou o republicano.

Mas a Coreia do Norte respondeu que as armas nucleares que possui não são moeda de troca para negociar, mas uma força para deter ameaças, e justificou o reforço do armamento com as aspirações geopolíticas do Ocidente.

A declaração sugere que Pyongyang não tem interesse em voltar à mesa de negociações com Washington. No primeiro mandato enquanto Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump propôs à Coreia do Norte acabar com as armas nucleares em troca de apoio no desenvolvimento económico.

A mensagem norte-coreana mencionou ainda as recentes declarações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e da União Europeia, que reafirmaram que não vão reconhecer a Coreia do Norte como potência nuclear. Pyongyang acusa o Ocidente de ser uma força desestabilizadora da paz.

Pyongyang denunciou, além disso, a crescente participação dos países da NATO e da Europa nas manobras militares em torno da península coreana, acusando-os de procurarem o confronto e o desarmamento do país asiático, não por razões de segurança, mas para “atingir os seus objectivos políticos e militares impuros”.

Ano da serpente e ofiússa

Lunar, o calendário chinês não deixa margem para dúvidas que ao conquistar o mundo imprimiu em nossas vidas arquétipos adormecidos e características marcantes onde todos ganhamos nessa vasta esteira de culturas e civilizações. Há já algum tempo que também festejamos este ciclo extremamente belo e iniciático como se incorporássemos mais um rito àqueles conhecidos e deles nos tornássemos cúmplices e por isso mais fraternos.

Começa na primeira Lua-Nova do calendário gregoriano aprovado pela China em 1912, e como de um calendário lunar se trata em seu bestiário, ele reinará por um ano a Oriente, enquanto nós, vamos ainda demarcando mês a mês o código astral em nossas Estações onde o ponteiro roda em ciclo solar. Existe porém neste novo ano uma chamada de atenção para as nossas ancestrais raízes numa fascinante e estranha simbologia, que quanto à parte tangível, há ainda que saber diferenciar uma serpente de uma cobra.

Ofiússa ou a Terra Das Serpentes! — Pois bem, assim foi denominado pelos gregos em tempo muitíssimo remoto o actual território português, a terra dos «ofis», um povo montanhoso que vivia mais a norte indo até à Galiza e que provavelmente se situava também na foz dos rios (foz de Ofir).

Para os gregos este local era no mar desconhecido, mas Ulisses, o bravo herói, não se deixava amedrontar pela vastidão marítima, e crê-se que aportou nestas costas, e tanto ele como seus homens ficaram estarrecidos pela beleza destas terras, onde se crê, reinava uma rainha de vontade indómita com aparência de serpente, fascinante, sedutora, e extremamente afável para os que descobriam o seu reino vindos de extremidades distantes, ela parece ainda uma espécie de Urizen quando do alto das colinas onde hoje é Lisboa, dizia: «Sou eu rainha para toda a eternidade». Mas, e não raro, os fascinantes também se apaixonam, que ao ver Ulisses, caíra na própria armadilha da sua carga magnética. Ulisses, que agora à distância nos parece ter sido um homem difícil, recusou-a, mas não sem antes por amor ao local que considerou o mais belo do mundo, o ter nomeado de Ulisseia, em pleno território da Serpente, a magnífica.

Muito mais tarde quando o manuelino imperou, nós iriamos recuperar esse condão lendário em cordas -serpentes aladas- correntes que sobem, fios que descem, círculos e sinuosidades, encontrando de facto uma das mais eloquentes manifestações artísticas que impregnaram o nosso olhar e jamais nos subjugariam a uma linha recta.

A perfusão de todo este elenco para se colocar de pé com os pesos que uma certa horizontalidade transporta, talvez tenha sido, e é, a deriva da Serpente que em nós se não esgotara (que no fundo sempre fomos muito pouco góticos). Na modalidade psíquica foi diabólica, e poderemos sentir-lhe ainda a inércia, a falta de critério que devora tudo que lhe sai ao caminho, e essa paz medonha de quem se crê hipnótico, características próprias de demónios a “rebentar pelas costuras” com pupila sagaz para um estranho rastejar que não é subserviência mas uma incrível e tenaz produtora de “venenos”.

Também a arquitectura octogonal que nos foi tão querida nos remete para o bastão de Mercúrio e suas duas serpentes entrelaçadas que ao formarem inúmeros oitos quase desaguam nas nossas muito ilustres Capelas Imperfeitas. A razão por terem sido nomeadas assim, prende-se, quem sabe, a esse estranho mundo sem abóbodas, tectos e telhas, que nos remete para um movimento anti-foguetão e a uma impressão que se inscreve na mandala do infinito sempre em círculo, que afinal, tudo no vasto universo parece serpenteante. Quanto a nós, ao sermos dúbios não significa ainda ser maléfico, cabemos na dualidade e mutabilidade das nossas percepções, mas o que outrora nos fora propostos era mesmo uma triangulação que superasse a definição redutora de um certo conceito binário.

«Ophis» em grego, mas também a vara de Moisés nos indica que um objeto estanque e a direito se pode converter numa outra coisa quando se transforma em flexibilidade e superação. As serpentes gostam de leite, e há passagens belíssimas de como respondem ao chamamento de terrinas repletas, como aquelas que Ernst Junger nas «Falésias de Mármore» nos descreveu, dizendo que se dispunham nesse banquete fazendo um ardente símbolo solar.

Quem nunca a viu diante de si? Caleidoscópica… fascinante…imprópria, mas nunca banal. Afinal, nem foi ela que matou Jesus, ao que consta, apenas lhe fez companhia. Quem o matou foram os homens.

Um grande Ano para o mundo.

Galaxy Arena | Jason Zhang traz digressão a Macau em Março

O cantor chinês Jason Zhang (Zhang Jie) estará em Macau em Março para três espectáculos na Galaxy Arena, integrados na digressão “FUTURE LIVE – Leave For 1982”. Eis a oportunidade para ouvir um cantor que tem construído uma carreira em torno da música pop desde 2014 e que recentemente gravou “Adrenaline” ao lado de James Blunt

 

“FUTURE LIVE – Leave For 1982” é o nome da digressão que o cantor chinês Jason Zhang (Zhang Jie) tem levado a vários palcos e que, em Março, traz a Macau três concertos, entre os dias 7 e 9. Os espectáculos acontecem na Galaxy Arena a partir das 19h30, sendo que os bilhetes já se encontram à venda desde esta terça-feira.

Os espectáculos prometem oferecer ao público e aos fãs as melhores canções pop do cantor que começou nas lides musicais em 2004. Serão, segundo divulgação da Galaxy, uma espécie de “jornada através do tempo, um comboio a caminho de 1982, um momento em que o passado se encontra com o futuro”.

1982 é, aliás, a data de nascimento do artista, natural de Chengdu, e que no final de 2023 já contava com um total de 15 álbuns gravados e 87 concertos. O começo de toda uma feliz carreira aconteceu em 2004, quando se sagrou vencedor do concurso “My Show”. Essa participação valeu-lhe um contrato com a produtora Universal Music na China e, a partir daí, Zhang Jie não mais parou de fazer música e conquistar o seu público.

Nessa fase inicial da carreira, Zhang Jie lançou, em 2005, o primeiro álbum, intitulado “The First Album”, tendo ganho o prémio “Global Chinese Music Chart Most Popular Male Newcomer”, destinado, como o nome indica, a novos artistas. O segundo álbum chegou no ano seguinte, com o nome “Love Me Again”, consagrando-se então como artista pop com um repertório de baladas românticas.

A sua carreira tem-se pautado também por algumas parcerias com músicos e “boys band” ocidentais, com destaque para o concerto que deu no Fórum BOAO em 2010 em que cantou duas músicas do astro Michael Jackson, “Billie Jean” e “Beat it”. De resto, em 2012, Jason Zhang foi convidado para cantar a canção “My Love” num concerto dos Westlife.

“Adrenalina” com James Blunt

A mais recente colaboração de Jason Zhang com um artista estrangeiro é “Adrenaline”, single de 2021 gravado com James Blunt, que ficou conhecido pelos êxitos “You’re Beautiful” e “Goodbye My Lover”. Aquando do lançamento de “Adrenaline”, Jason Zhang declarou, nas redes sociais, que “foi uma honra gravar a nova canção ‘Adrenaline’ com James Blunt”, “uma boa música que espero que possa ser ouvida por mais fãs”.

No ano passado Jason Zhang arrancou com a digressão, na China, “FUTURE LIVE: To 1982”, com 17 espectáculos em cinco cidades, incluindo alguns concertos em paragens internacionais. Segue-se, agora, uma nova digressão com passagem por Macau.

Jason Zhang é um dos cantores mais conhecidos no país, tendo, em 2020, entrado para a posição 86 do “Forbes China Celebrity 100”, ou seja, o ranking das 100 maiores celebridades chinesas. O último álbum do artista foi lançado em 2023 e intitula-se “Wainan Street 1982”.

China | Reforçadas regras para publicação de informações militares na Internet

A China vai impor novas regras que limitam a informação que pode ser partilhada sobre o Exército de Libertação Popular (ELP) na Internet, que poderão dificultar o acompanhamento do seu desenvolvimento e evolução.

De acordo com uma circular emitida pelas Forças Armadas do país, os “fornecedores de informações militares na Internet” serão proibidos, a partir de 1 de Março, de “produzir, copiar, publicar ou divulgar” informações anteriormente não divulgadas, incluindo pormenores sobre sistemas de armamento e instalações militares.

As novas regras proíbem a publicação de informações que envolvam “segredos militares e de tecnologia de defesa nacional”, tais como “investigação e desenvolvimento, produção, testes, transporte, estado do equipamento e manutenção de armas e equipamento, [bem como] desempenho táctico e técnico de armas e equipamento”.

Proíbe igualmente a divulgação de informações sobre a estrutura organizacional das forças armadas, a sua cadeia de comando, os comandantes anteriores e pormenores sobre unidades militares que não tenham sido divulgados oficialmente.

As regras, que também visam “informações militares falsas e a fuga de segredos militares na Internet”, foram adoptadas pela Comissão Militar Central e pela Administração do Ciberespaço da China no sábado.

De acordo com especialistas citados pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, muitos utilizadores da Internet que seguem o ELP serviram como fonte de informações valiosas sobre o seu desenvolvimento, publicando fotografias de novos equipamentos, como caças e porta-aviões. No entanto, as autoridades consideram agora que essas informações “põem em risco a segurança nacional” e podem tornar os dados sensíveis “vulneráveis à exploração por espiões estrangeiros”.

Limpar as armas

A nova directiva proíbe a publicação de informações que “neguem ou ataquem a política de defesa nacional e a estratégia militar da China”, incluindo a “construção, desenvolvimento e utilização de forças nucleares estratégicas”.

A circular estabelece igualmente que os utilizadores das redes sociais que pretendam ser identificados como “contas militares” devem cumprir uma série de requisitos, incluindo o fornecimento de dados pessoais e o registo junto das autoridades militares e do ciberespaço.

Nos últimos anos, a China apelou à mobilização de “toda a sociedade” para “prevenir e combater a espionagem” e anunciou uma série de medidas para “reforçar a defesa nacional” contra as “actividades dos serviços secretos estrangeiros”.

Desde 2024, o ELP tem levado a cabo uma ampla campanha anticorrupção que resultou no despedimento de pelo menos nove generais e de vários executivos da indústria da Defesa.

Espaço | Criada equipa de defesa planetária face a possível embate de asteroide

A China começou a reunir uma equipa de defesa planetária, na sequência da descoberta de um grande asteroide que poderá atingir a Terra dentro de sete anos, avançou ontem a imprensa local.

De acordo com o jornal South China Morning Post, a Administração Estatal de Ciência, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional da China está à procura de profissionais com experiência em monitorização de asteroides e sistemas de alerta precoce. A iniciativa está em linha com a estratégia de defesa planetária mais alargada do país asiático, que inclui uma missão de desvio de asteroides planeada para 2027.

A China tem estado a trabalhar no desenvolvimento de tecnologias para seguir, analisar e potencialmente alterar a trajectória de objectos próximos da Terra. A NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA) tiveram programas semelhantes no passado. Na sexta-feira, a ESA actualizou para 2,2 por cento a probabilidade de o asteroide 2024 YR4 atingir a Terra em 2032, colocando-o no topo da lista de risco da agência.

O asteroide, com uma largura estimada entre 40 e 90 metros, foi descoberto pelo Instituto de Astronomia da Universidade do Havai no final de Dezembro. A descoberta activou mecanismos globais de resposta a asteroides, depois de as probabilidades de impacto com a Terra terem ultrapassado um limiar de monitorização internacional.

Defesa a três

O anúncio da Administração Estatal de Ciência, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional da China visa o recrutamento de três profissionais para um “posto de defesa planetária”.

O centro, que é responsável pela investigação e implementação de engenharia aeroespacial e pela observação da Terra, está a recrutar licenciados para estudar a monitorização de asteroides e criar métodos de alerta precoce, de acordo com o anúncio, publicado na conta WeChat da revista China Space Science and Technology.

Existem vários métodos que podem ser utilizados para tentar impedir que um asteroide atinja a Terra. No primeiro teste de defesa planetária bem-sucedido do mundo, em 2022, a agência espacial norte-americana Nasa alterou a trajectória de um asteroide ao provocar um embate contra uma nave.

Os cientistas poderão seguir o 2024 YR4 até Abril de 2025, com a próxima oportunidade de observação a chegar em 2028. No início de Fevereiro de 2025, a NASA colocou o asteroide no nível 3 da Escala de Perigo de Impacto de Torino, uma classificação que indica uma situação que merece atenção, mas não preocupação imediata.

Xangai | Nova fábrica de baterias da Tesla começa a funcionar

A fabricante norte-americana de veículos eléctricos Tesla iniciou ontem a produção numa nova fábrica de baterias de armazenamento na metrópole de Xangai, no leste da China, informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

O complexo começou a ser construído no final de Maio de 2024 e deveria ter começado a funcionar antes do final do ano, com o objectivo de se tornar uma “base de produção e exportação muito importante”, segundo um responsável da empresa.

A imprensa oficial sublinhou, no entanto, que o tempo decorrido entre o lançamento da primeira pedra e a inauguração das instalações foi de apenas oito meses, e enalteceu o que descreveu como “velocidade Tesla”: em 2019, a ‘gigafábrica’ da empresa norte-americana em Xangai foi construída em apenas um ano.

Neste novo complexo, a Tesla vai fabricar os seus ‘Megapacks’, baterias de armazenamento de energia utilizadas para estabilizar as redes eléctricas e evitar cortes de energia.

De acordo com a empresa, cada ‘Megapack’ pode armazenar mais de três megawatts-hora (MWh) de energia, “o suficiente para alimentar uma média de 3.600 casas durante uma hora”. A capacidade de produção inicial está estimada em cerca de 10 mil unidades do dispositivo por ano, o que equivale ao consumo anual de electricidade de 50 mil casas.

De acordo com as autoridades locais, a Tesla investiu cerca de 1,45 mil milhões de yuan na fábrica, situada num terreno de 200 mil metros quadrados. A Tesla já tem uma destas ‘megafábricas’ em Lathrop, no estado da Califórnia, no sudoeste dos EUA, onde fabrica cerca de 10 mil baterias por ano, que somam um armazenamento de cerca de 40 gigawatts-hora (GWh).

Laços poderosos

Em 2019, a Tesla abriu a sua primeira ‘gigafábrica’ fora dos Estados Unidos em Xangai. A fábrica produziu cerca de 947 mil veículos em 2023, o que, de acordo com a Xinhua, representou pouco mais de metade das vendas globais da empresa.

Desde 2019, a Tesla intensificou o seu investimento na Zona de Comércio Livre de Lingang, a área de Xangai onde tem operações, expandindo a produção na sua ‘gigafábrica’ e construindo instalações adicionais, como uma fábrica de produção para os seus ‘supercarregadores’ de veículos eléctricos.

O presidente executivo da Tesla, Elon Musk, que é o homem mais rico do mundo e um aliado próximo do novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantém boas relações com as autoridades da China, país que visitou várias vezes e onde tem um dos seus principais mercados.

IA | Governos provinciais na China começam a utilizar DeepSeek

Vários governos locais na China começaram a incorporar o modelo de inteligência artificial (IA) DeepSeek para ajudar nas tarefas administrativas e melhorar a assistência às necessidades públicas, informou ontem a imprensa local.

Grandes cidades como Shenzhen, Cantão ou Suzhou aderiram já ao novo grande modelo de linguagem chinês, segundo o jornal oficial Global Times.

O distrito de Longgang, em Shenzhen, instalou o modelo Deepseek-R1 na sua rede externa com acesso a todos os departamentos, enquanto Suzhou, na província de Jiangsu, junto a Xangai, incorporou este modelo e também o Deepseek-V3 na sua plataforma de tecnologias de informação de serviço público.

“O objectivo é fazer da IA um assistente eficiente para as tarefas do governo e transformar a forma como as suas operações são conduzidas, tornando-a mais inteligente, colaborativa e orientada para os dados”, disse o director do Gabinete de Gestão de Dados e Serviços Governamentais de Shenzhen, Xi Wei, citado pelo portal Shenzhen News.

No caso de Suzhou, o modelo será aplicado para pesquisa e geração de imagens, entre outros fins. A DeepSeek causou uma grande agitação no sector global da IA após o lançamento, há algumas semanas, do seu modelo V3, que terá levado apenas dois meses a desenvolver e custou menos de seis milhões de dólares.

Diplomacia | China não confirma conversa que Trump diz ter tido com Xi Jinping

A China não confirmou ontem que o Presidente chinês, Xi Jinping, tenha falado com o homólogo norte-americano, após a sua tomada de posse, a 20 de Janeiro, como revelou Donald Trump na segunda-feira.

Uma reunião entre os líderes das duas maiores potências mundiais poderia facilitar as relações bilaterais, ainda ameaçadas por uma potencial guerra comercial iniciada por Donald Trump. Numa entrevista transmitida pelo canal de televisão norte-americano Fox News, na segunda-feira, um jornalista perguntou a Donald Trump se tinha falado com Xi Jinping desde o início do seu segundo mandato.

“Sim, falei com ele e também falei com as pessoas da sua equipa”, disse o Presidente norte-americano, embora nem Washington nem Pequim tenham alguma vez relatado esse telefonema. Questionado ontem sobre se a conversa efectivamente aconteceu, um porta-voz de Pequim limitou-se a recordar a conversa que teve lugar três dias antes da tomada de posse de Trump.

“O Presidente Xi Jinping teve uma conversa por telefone com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 17 de janeiro. A China emitiu uma declaração sobre o assunto”, disse Guo Jiakun, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa. Desde que tomou posse, Trump anunciou a imposição de taxas punitivas sobre os seus principais parceiros comerciais, incluindo a China, o México e o Canadá.

Histórias da Música Chinesa

Ana Cristina Alves, Coordenadora do Serviço Educativo do CCCCM

Fevereiro de 2025

Diz a tradição chinesa que as obras clássicas da cultura não eram apenas quatro livros: os Analectos (《論語/1论语》Lúnyǔ), o Livro de Mâncio (《孟子》Mèngzǐ), o Grande Estudo (《大學/大学》Dàxué) e a Doutrina do Meio (《中庸》Zhōngyōng)] , e cinco clássicos: O Clássico das Mutações (《易經易经》Yì jīng), O Livro das Odes (《詩經诗经》Shījīng), A História (《史記/太史公記//史记/太史公记》Shǐjì/tàishǐ gōngjì), Os Ritos (《禮記礼记》Lǐjì), Os Anais da Primavera e do Outono (《春秋》Chūnqiū)), mas quatro livros e seis clássicos, porque havia mais um relativo à música (樂經/乐经) Yuè Jīng, que entretanto se perdeu.

No entanto, a “música” (樂/乐 yuè) é tão importante para os chineses que o seu sinograma se confunde na forma escrita com o de “alegria” (樂/乐 lè). Do ponto de vista etimológico, é o pictograma de um instrumento musical, cuja base representa a parte de madeira e o topo as cordas do mesmo. Este, pela satisfação que suscita quando é tocado, servirá por extensão de sentido para figurar o sinograma da alegria.

A música antes de pertencer à humanidade, depende das divindades da religião animista popular chinesa e de forças naturais como o vento ou seres biológicos como os pássaros, ou mitológicos como as fénices. Sabe-se que o Imperador Amarelo (黄帝Huángdì), governou numa antiguidade mítica a que remonta a civilização chinesa organizada. Mas este, segundo um dos grandes filósofos taoistas da antiguidade chinesa, Lie Yukou (列御寇Liè Yùkòu”) em obra homónima Liezi (列子“lièzǐ·) coloca o imperador a realizar viagens espirituais nas quais encontra divindades femininas dos tempos matriarcais, como Huaxu (華胥/华胥Huáxū),mãe do primeiro imperador chinês Fuxi(伏羲Fúxī) e, portanto, matriarca ancestral de todos os chineses ou, ainda, a Mãe e/ou Mulher Misteriosa do Nono Céu (九天聖(圣)母/九天玄女 Jiǔtiān shèngmǔ/jiǔtiān xuánnǚ),que lhe terão ensinado muito, inclusive no caso desta última a apreciar música, poesia, tendo sido também iniciado por ela, que possuía rosto humano e corpo de fénix, nas artes do amor.

Quanto à fénix é a ave que simboliza a vida eterna e a paz; ao renascer das próprias cinzas, transporta a esperança de seres inteiros, renovados e pacíficos, já que apenas surge no mundo em tempos de tranquilidade e harmonia. Mas também se encontra em estreita relação com a música, porque é um pássaro mitológico que canta, tal como o vento, cujo som é composto para os chineses pelo melodioso bater das asas das aves, quando se trata de brisa, ou pelo alvoroçado batimento das mesmas em tempestade.

Linglun (伶倫/伶伦Líng Lún) criou os doze tons na sequência de um pedido do Imperador Amarelo, que depois de devidamente educado e treinado o seu ouvido musical pela Mulher Misteriosa do Nono Céu, se aborrecia nas viagens de inspeção pela terra com a monotonia das melodias. Este grande músico apressou-se a cumprir ordens e entregou-se de alma e coração a escutar todos os sons da natureza para obter a inspiração requerida à missão. Mas foi na Montanha sagrada Kunlun (崑崙山/昆仑山 Kūnlún shān) que ele obteve a iluminação necessária para a criação dos doze tons por recurso a doze tubos de bambu. Como verificou ele tratar-se dos tons certos? “Carregando os doze tubos de bambu, Linglun chegou ao sopé da montanha Kunlun para ouvir o canto das fénix. Quando as aves cantavam, o macho dava seis gritos e a fêmea respondia-lhes com outros seis. Linglun comparou os doze gritos com os seus sons e constatou que havia uma correspondência perfeita entre eles.” (Wang e Alves, 2009, 48)

Tinha atingido o seu objetivo. Já os tons seguiam o modelo dos das fénices, quando apresentou a sua criação ao Imperador Amarelo, tendo sido justamente recompensado com o título de Deus da Música [音樂(乐)之神 Yīnyuè zhī Shén] e o mundo desde então encheu-se das mais belas melodias.

Passando agora para a filosofia, o cosmos encarado como um misterioso instrumento musical é uma das metáforas preferidas de um dos grandes filósofos taoistas, o Príncipe de Huainan, Liu An [劉(刘)安Liú’ān, 179?-122 a.C] que nos deixa uma obra dos primórdios da dinastia Han, intitulada Huainanzi (《淮南子》Huáinánzǐ). A obra é conhecida na tradição chinesa também com o título de (《淮南子鴻烈》Huáinánzǐ Hóngliè), cujo significado é “A Luz Irradiante do Mestre Huainan”, tendo sido o sexto capítulo traduzido pelo sinólogo canadiano Charles Le Blanc, sob o título Huainanzi 淮南子 Philosophical Synthesis in Early Han Thought, contendo o sugestivo subtítulo The Idea of Resonance (Kan-Ying 感應) with a Translation and Analysis of Chapter six.

Supor que todo o universo se encontra ligado, à maneira das cordas de um instrumento, a espalhar o som, a ecoar e ressoar quando se toca numa das cordas, terá a sua contrapartida ocidental no misticismo do filósofo pré-socrático Pitágoras e no seu pressuposto da “música das esferas”, ou seja, da melodia produzida pelos astros nas suas trajetórias celestiais.

Voltando ao Mestre de Huainan, é-se informado na secção II das IX do sexto capítulo, que “A Mútua resposta das coisas pertencendo à mesma categoria é profundamente misteriosa e extremamente subtil” (Blanc, 1985, 116), à qual corresponde o texto original se encontra no Apêndice 1 (Blanc, 1985, 221-215): “夫物類之相應玄妙深微知不能論” (6/ 3a.5)2 . Estas linhas podem ser explicadas por recurso a um outro postulado, “a mútua influência do Qì espiritual 3 (天神氣 Shén Qì)” “”(6/4a. 1 ), cuja ação visível se manifesta na semelhança das formas exteriores das coisas, mas também no jogo complementar das forças feminina e masculina que as torna criativas e transformantes, sendo que a ação superior, tal como acreditam os taoistas, é baseada na resposta mútua invisível e silenciosa (相應Xiāngyìng), ou seja, não discursiva, o que não obsta a que seja intuitiva e melodiosa.

A mútua ressonância é sustentada por um jogo complementar das energias Yin (陰/阴Yīn) e Yang (陽/阳Yáng) aos mais variados níveis, guiado pelo princípio da causalidade, que tanto age entre seres semelhantes, como nos diferentes, porque surge o Qì a viabilizar e unir o que é distinto, numa ressonância perfeita, de modo a figurar o cosmos como Taiji ou “Supremo Último” (太极/太極Tàijí) . Desta forma, se alcança a secção IV do capítulo VI, onde é exposta a ressonância musical (6/6b.9-11), que funciona metaforicamente para introduzir a ressonância universal, implicando uma “Grande imersão” na “Suprema Harmonia”, impossível de explicar (Blanc, 1985, 138). É-nos dito que um afinador de sè (瑟), um instrumento de cordas chinês com 25 cordas (recordando vagamente um alaúde árabe), ao tocar numa corda, obterá a resposta em mútua harmonia de uma mesma corda num outro instrumento. Porém “se alguém mudar a afinação de uma corda de modo a que não responda a qualquer das cinco notas, mas ao tocá-la obtenha uma ressonância com as 25 cordas, então há uma diferença no que respeita ao som, sucedendo que foi evocado aquele a governar todos os outros.” (Ibidem) “改調一弦其於無音無所比鼓之而二十五弦皆應此未始”(6/6a.11).

O sábio, santo ou supremo músico será aquele que consegue colocar-se em ligação intuitiva direta com o Tao (道 Dào), sem que ele próprio possa fornecer as razões para tal. Mergulha no mundo numenal, brinca e mistura essências, transforma-se no que quiser e vive em ressonância mútua, musical absoluta e total, com tudo o que existe, e não apenas de um modo relativo com o seu “semelhante”.

Há uma história musicada para guqin (古琴gǔqín), um outro instrumento de cordas chinês, com sete cordas, contada pelo filósofo taoista Liezi no capítulo da obra homónima anteriormente mencionado, Imperador Amarelo, 11ª secção, (《列子·黄帝》第十一部分Lièzǐ·Huángdì” dì shíyī bùfèn), que ilustra bem esta ressonância universal, mais fácil de obter a quem tem uma mente espontânea, como sucede às crianças, sendo que como nos recorda o fundador o Taoismo Laozi (老子Lǎozǐ), o coração-mente (心 xīn ) perfeito é a de um recém-nascido. Na história de que a seguir apresento a minha tradução, o protagonista é um rapaz com os quais os pássaros brincam naturalmente, mas quando o pai deste lhe pede para capturar um deles, a fim de também ele se entreter, as aves distanciam-se, por isso a partitura para guqin se intitula “O distanciamento das Corujas de Água” 《鷗鷺忘機/鸥鹭忘机》Ōu lù wàng jī 4 https://www.youtube.com/watch?v=KGte7WzUt1Y

原文 Texto original (Chinês clássico)

海上之人有好漚鳥者,每旦之海上,從漚鳥遊,漚鳥之至者百住而不止。其父曰:「吾聞漚鳥皆從汝遊,汝取來,吾玩之。」明日之海上,漚鳥舞而不下也。故曰:至言去言,至為無為。齊智之所知,則淺矣。5

Chinês contemporâneo

海边有个喜欢鸥鸟的人,每天早上到海上去,跟鸥鸟玩耍,鸥鸟来玩的有成百只以上。他父亲说:“我听说鸥鸟都爱跟你游玩,你抓一只来,我玩玩。”第二天他来到海上,鸥鸟都在空中飞翔而不下来。所以说:“最好的语言是没有语言,最高的作为是没有作为。同别人比试智慧的想法,那是很浅陋的。

Havia perto do mar um rapaz que muito gostava de corujas de água. Todos os dias, costumava passear à beira-mar onde brincava com as aves, mais de cem. Certa vez, o pai comentou: “Ouvi dizer que as corujas de água costumam brincar contigo, agarra uma para mim, a fim de que eu também me possa entreter com elas. ” Na manhã seguinte, à beira-mar, as aves dançavam sobre a cabeça dele, mas não se aproximaram. Por esta razão se diz: “o melhor discurso é sem palavras, a melhor ação é não-agir. Se a sabedoria se pode comparar, então é superficial!”

Referências Bibliográficas

Alves, Ana Cristina. 2022. “Mãe Misteriosa do Nono Céu 九天玄母 jiǔtiān xuán mǔ” Visitações. Fafe: Labirinto.

Baidu. 2025.《列子·黄帝》(Imperador Amarelo, in Liezi) Disponível em: https://baike.baidu.com/item/%E5%88%97%E5%AD%90%C2%B7%E9%BB%84%E5%B8%9D/8828591#1-1, acedido a 31 de janeiro de 2025.

Bessada, Dennis. 2014. “A Gênese da Harmonia das Esferas do Antigo Pitagorismo”. Revista Música 14(1):85. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/312106396_A_Genese_da_Harmonia_das_Esferas_no_Antigo_Pitagorismo, acedido a 5 de fevereiro de 2025.

Blanc, Charles Le (Org. e Trad). 1985. Huainanzi 淮南子 Philosophical Synthesis in Early Han Thought. The Idea of Resonance (Kan-Ying 感應) with a Translation and Analysis of Chapter six. Hong Kong: Hong Kong University Press.

《鸥鹭忘机》(O Distanciamento das Corujas de Água). Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=KGte7WzUt1Y, acedido a 5 de fevereiro de 2025.

Wang Suoying, Ana Cristina Alves. 2009. “Linglun cria os doze tons伶伦作十二乐律Líng lún zuò shí’èr yuèlǜ” Mitos e Lendas da Terra do Dragão. Lisboa; Caminho.

Os títulos relativos obras clássicas e/ou sinogramas antigos são apresentados em chinês tradicional e contemporâneo para que se possa analisar a evolução da língua no seu percurso rumo à simplificação.

A numeração é diferente no texto traduzido por Charles Le Blanc e no original, razão pela qual surgem duas numerações neste artigo, sendo a do tradutor identificada com a citação que segue o sistema de referências bibliográficas autor-data e o texto original com a numeração do manuscrito chinês da edição de Liu Wen-tien.

Procedeu-se à padronização da fonética chinesa pelo sistema Pinyin (拼音 Pīnyīn), adotado na República Popular da China.

“O distanciamento das Corujas de Água” é uma música para guqin, composta pelo músico da dinastia Song Liu Zhifang (宋代刘志芳). A partitura, que se teve o privilégio de escutar no CCCM pela professora e música Du Wanzhen (杜婉贞) em finais de 2024, foi pela primeira vez publicada por Zhu Quan da dinastia Ming (明代朱权), na edição das “Partituras Secretas Mágicas” (《神奇秘谱》). Esta peça antiga, que chegou aos nossos dias, demonstra os esquemas e cálculos humanos não funcionarem com os pássaros, mas apenas a livre espontânea brincadeira.

O texto clássico foi convertido para chinês tradicional.

Este espaço conta com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, sendo que as opiniões expressas no artigo são da inteira responsabilidade dos autores. https://www.cccm.gov.pt/

Monóxido de carbono | Idoso hospitalizado devido a intoxicação

Os Serviços de Saúde revelaram ontem que um idoso de 79 anos teve de receber tratamento médico no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário depois de ter desmaiado devido a uma intoxicação por monóxido de carbono.

O caso aconteceu na tarde de domingo no Edifício Vai Long (Bloco I), na Alameda da Tranquilidade, quando o residente tomava um duche numa casa de banho onde está instalado um esquentador a gás. O residente “começou a sentir tonturas súbitas e acabou por cair inanimado no chão da casa de banho”, onde foi encontrado por familiares, que chamaram de imediato uma ambulância. No Hospital Conde de São Januário fez testes laboratoriais, que revelaram concentrações de hemoglobina de monóxido de carbono. O idoso foi “submetido a tratamento de oxigenoterapia hiperbárica” e encontra-se actualmente em estado considerado estável.

As autoridades acrescentam que o esquentador a gás foi instalado na casa de banho há mais de uma década, e que apesar da instalação de um exaustor de ventilação, a casa de banho não tem janelas. No momento da ocorrência, o exaustor não estava ligado e as autoridades suspeitam que o incidente tenha sido causado pela falta de manutenção do aparelho e pela acumulação de gás residual num ambiente com má ventilação.

Jogo | JP Morgan indica melhorias na procura

Apesar da tendência mais positiva, a JP Morgan admite que em relação a Fevereiro do ano passado possa haver mesmo uma redução das recitas brutas

 

Após o Ano Novo Lunar, a procura pelo jogo nos casinos de Macau está “melhor do que o temido”. As conclusões fazem parte do relatório mais recente do banco de investimento JP Morgan Securities (Asia Pacific) sobre o território, que não deixa de moderar as expectativas de crescimento sobre a principal indústria do território.

“As receitas brutas do jogo estabilizaram depois do Ano Novo Lunar”, escreveram os analistas DS Kim, Mufan Shi e Selina Li, num relatório citado pelo portal GGR Asia.

No entanto, nem tudo são boas notícias para a economia local, e os analistas indicam agora que as receitas brutas do jogo “talvez só cresçam ao nível de um dígito, entre um por cento e quatro por cento ao longo deste ano, face ao período homólogo”.

Em relação ao mês de Fevereiro, os analistas esperam que as receitas brutas fiquem entre 18,3 mil milhões de patacas e os 19,4 mil milhões de patacas. Estes valores significam que em comparação com o ano passado, no pior cenário, as receitas podem apresentar uma quebra de um por cento, e que no melhor cenário podem crescer até cinco por cento.

“As receitas brutas do jogo pós-Ano Novo Lunar acabaram por ser melhores do que o previsto, atingindo 725 milhões de patacas por dia, graças a uma procura sólida no final do ano, o que está a compensar, de certa forma, a fraqueza [das receitas] do Ano Novo Lunar”, foi justificado.

Por outro lado, a JP Morgan indica que a fraqueza das receitas está mais relacionada com as expectativas anteriores da indústria, do que efectivamente com o montante gerado pelas mesas do território, que entre 1 e 5 de Fevereiro foram de 900 milhões de patacas por dia. O relatório indica assim que nos primeiros nove meses do ano as receitas foram de 7,4 mil milhões de patacas.

Revisão em baixa

O cenário traçado pela JP Morgan pós-Ano Novo Lunar, contrasta com aquele que foi vivido durante as festividades e que levou outro banco de investimento, o Citigroup, a reduzir as previsões sobre a expansão do jogo de Macau ao longo deste ano.

Num relatório publicado na segunda-feira, os analistas do Citigroup, George Choi e Timothy Chau, apresentaram um cenário em que as receitas brutas do jogo registam um crescimento de 3 por cento, o que contrasta com o optimismo anterior, quando se esperava que a expansão do sector chegasse a 7 por cento. E na primeira metade do ano, o banco de investimento admite que as receitas brutas registem mesmo uma redução de cerca de um por cento.

Fai Chi Kei | Multa de 600 patacas por atirar cutelo pela janela

No final do ano passado, um indivíduo foi detido por ter atirado para a rua da janela do apartamento onde vive um cutelo. Segundo o gabinete do secretário para a Segurança, o homem foi multado em 600 patacas por ter violado normas estabelecidas no Regulamento Geral dos Espaços Públicos.

A questão foi levantada numa interpelação escrita assinada por Nick Lei e, em resposta, o chefe substituto do gabinete de secretário, Cheong Chang, sublinhou que como o incidente não provocou feridos ou danos patrimoniais o acto de atirar um cutelo para a via pública não constituiu um crime. Porém, se fosse provada intenção para causar ferimentos, morte ou danos patrimoniais, o homem poderia ser acusado de crimes de ofensa grave à integridade física, homicídio ou dano.

Por outro lado, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Jurídicos salientou que as leis e regulamentos de Macau estabeleceram mecanismos para responsabilizar infractores. Quanto à questão de saber se o acto de atirar objectos de lugares altos deve ser classificado como um crime separado, o Governo indica que é preciso estudar a necessidade e viabilidade de criminalização.

Gripe | Mais 11 mil vacinas. Marcações abrem hoje

O aumento significativo de cidadãos que querem tomar a vacina contra a gripe levou os Serviços de Saúde a comprar um lote adicional de 11 mil doses. As marcações para tomar as vacinas foram alargadas e abrem hoje. O Governo comprou mais 45 mil doses do que na época de gripe do ano passado

 

Após a corrida à vacinação contra a gripe durante o fim-de-semana passado, levando mais de 5.400 residentes a centros de saúde e hospitais, o Governo anunciou na segunda-feira à noite que iria comprar mais 11 mil doses urgentemente para corresponder à procura.

Assim sendo, após a chegada ontem à noite dos lotes, as marcações para tomar a vacina abriram hoje na página de internet dos Serviços de Saúde, com as autoridades a vincar que pessoas com mais de 65 anos e crianças entre os 6 meses e os 9 anos de idade estão isentas de marcação.

Os Serviços de Saúde adquiriram para esta época gripal (2024/2025) 225 mil doses da vacina contra a gripe, um aumento de 45 mil doses em relação (ou 25 por cento). Até segunda-feira, as autoridades contabilizaram 204 mil doses administradas, total que representa um aumento de 22,2 por cento face ao mesmo período do ano passado, quando tinham sido administradas 167 mil vacinas. Recorde-se que a corrida à vacinação no fim-de-semana passado ocorreu depois de duas residentes terem falecido na sequência de complicações após infecções de gripe A.

Macau e o mundo

O Governo salienta que as taxas de vacinação contra a gripe este ano entre grupos de riscos são “ideais” e aumentaram em relação ao ano passado.

Entre os utentes de lares de idosos, mais de 90 por cento tomaram a vacina, enquanto nos infantários a taxa ultrapassa 65 por cento, nos jardins de infância de escolas primárias mais de 80 por cento das crianças foram vacinadas, enquanto no ensino secundário a taxa de inoculação é de 70 por cento. No cômputo geral, entre os residentes com mais de 65 anos de idade, a taxa de vacinação é de quase 60 por cento.

O tipo de vacinas que Macau compra são destinadas ao hemisfério norte e, como tal, a sua validade expira entre Maio e Junho de cada ano. Portanto, o Governo sublinha que “o programa anual de vacinação contra a gripe terminará quando as vacinas existentes se esgotarem ou expirarem”.

Habitação | Empréstimos hipotecários caíram 17,9% em Dezembro

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) revelou ontem que os novos empréstimos hipotecários para habitação aprovados pelos bancos de Macau em Dezembro caíram 17,9 por cento em relação a Novembro, para um total de 1,01 mil milhões de patacas. Destes empréstimos, 96,6 por cento foram contraídos por residentes locais, num montante total de 975,39 milhões de patacas, menos 17,7 por cento do que em Novembro. Também o componente não-residente decresceu 22,6 por cento.

A AMCM indica que, “até finais de 2024, atendendo a que se verificou, neste período, o reembolso de vários empréstimos de elevado montante, o saldo bruto dos empréstimos hipotecários para habitação chegou a 218,14 mil milhões de patacas, correspondendo a uma diminuição de 0,5 por cento relativamente ao mês anterior e 4,9 por cento em termos anuais.

Os novos empréstimos comerciais para actividades imobiliárias ainda caíram mais em Dezembro face a Novembro, com um decréscimo 22,7 por cento para 685,51 milhões de patacas.

A AMCM indica também que no final do ano passado, o crédito malparado nos empréstimos hipotecários para habitação atingiu 3,5 por cento, valor que corresponde a um aumento de 0,1 por cento face a Novembro e a uma subida de 2,7 por cento em termos anuais.

O crédito malparado para empréstimos comerciais está num valor ainda mais elevado, correspondendo a 5,3 por cento do valor total destes empréstimos, um aumento de 0,5 por cento em relação a Novembro e mais 2,3 por cento em termos anuais.

Circulação | Deputado alerta para abusos de veículos de HK

O deputado de Hong Kong Adriano Ho alertou que o sistema de quotas para a circulação de veículos de Hong Kong em Macau está a ser alvo de abusos. A queixa foi apresentada através de uma publicação no Facebook, em que o deputado fala de falsificação de informações.

“Recentemente recebi muitas queixas de que o sistema está a ser alvo de abusos. Depois de as pessoas terem detectado as lacunas que existem no sistema começaram a surgir agências que cobram dinheiro para falsificar as informações, de forma a simularem que os clientes têm ligações com Macau”, escreveu o deputado. Segundo os regulamentos de Hong Kong, as quotas são atribuídas a quem mostre ter ligações com a RAEM.

“Algumas pessoas criaram empresas fantasma às quais foram atribuídas quotas, e depois venderam essas empresas para lucrarem com a quota. Isto faz com que as pessoas com negócios em Hong Kong e Macau, ou que trabalham em Macau, tenham dificuldades no acesso às quotas, o que desvirtua o objectivo inicial do programa”, acrescentou.

Por esta razão, o também sobrinho de Edmund Ho pediu às autoridades de transporte e logística de Hong Kong para que revejam e reformem o sistema de quotas e eliminem as lacunas, além de pedir que sejam divulgados os dados sobre a utilização efectiva das quotas.

Correios | Anunciada retoma de serviço para os EUA

Os correios de Macau retomaram o envio de pequenos pacotes e encomendas para os Estados Unidos, mas avisaram que não se pode excluir novas suspensões devido às políticas do Serviço Postal dos EUA

 

Os correios de Macau e Hong Kong anunciaram ontem a retoma do envio de pequenos pacotes e encomendas para os Estados Unidos, após cinco dias de suspensão. Num comunicado, os Correios de Macau (CTT) anunciaram que irão voltar a aceitar, a partir de 11 de Fevereiro, “todos os objectos de correio (…) destinados aos Estados Unidos”.

Na mesma mensagem da Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau, os CTT lembraram que a suspensão “poderá ter originado um acumular de correspondência, o que resultará possivelmente em atrasos na entrega de envios destinados aos EUA”.

“Adicionalmente, não se pode excluir a possibilidade de eventuais alterações nas políticas dos Serviços Postal dos Estados Unidos [USPS, na sigla em inglês] a qualquer momento”, alertou a empresa.

A mensagem dos correios de Macau foi antecedida por uma da congénere de Hong Kong, em que estes diziam que tinham sido “formalmente notificados” pelo Serviço Postal dos Estados Unidos de que as autoridades norte-americanas “de momento não impõem taxas adicionais a artigos postais com mercadoria”.

Em 5 de Janeiro, a empresa disse que tinha sido notificada pelo USPS de que só poderia enviar pacotes ou encomendas que os clientes tivessem registado junto da Alfândega e a Protecção das Fronteiras dos Estados Unidos (CBP, na sigla em inglês).

O registo exigiria “os documentos de importação necessários e o pagamento de taxas feito através de um despachante aduaneiro”, acrescentaram os Correios de Hong Kong. Após a suspensão do envio, a empresa “continuou a negociar” com o USPS e “pode retomar temporariamente” o serviço postal para os Estados Unidos.

Suspensões temporárias

A 4 de fevereiro, o USPS anunciou que iria deixar temporariamente de aceitar encomendas provenientes da China e de Hong Kong (sem qualquer referência a Macau) “até nova ordem”.

Mas, horas depois, o USPS reverteu a decisão, sem dar qualquer justificação, afirmando apenas que ia trabalhar com a CBP para implementar um processo de cobrança para as novas taxas impostas sobre bens chineses, a fim de evitar interrupções na entrega.

O novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou as taxas alfandegárias sobre as importações oriundas da China em 10 por cento, depois de ter recuado nos planos de cobrar taxas ao Canadá e ao México.

A grande maioria das mercadorias enviadas a partir da China chega fora do sistema de correio, mas a ordem de Trump eliminou especificamente uma isenção tarifária para produtos de baixo valor, adquiridos directamente por consumidores e enviados através do serviço postal.

Essa isenção abrangia artigos de valor inferior a 800 dólares americanos. A medida da USPS poderia bloquear ou atrasar as encomendas feitas através das plataformas de comércio eletrónico chinesas Shein e Temu.

IAS | Em quatro anos foram atribuídos subsídios a 80 cuidadores

Desde a implementação do subsídio para cuidadores, em Dezembro de 2020, até ao fim de 2024, o Instituto de Acção Social (IAS) recebeu 111 pedidos referentes a casos de pessoas portadoras de deficiência intelectual sem grau atribuído, de grau grave ou profundo.

Deste universo, 80 pedidos reuniram os requisitos de atribuição, indicou o presidente do IAS, Hon Wai, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Song Pek Kei. Nos moldes actuais, o subsídio para cuidadores destina-se a famílias com baixo rendimento.

Desde o início do projecto piloto, o IAS tem alargado o leque de destinatários do apoio, começando por acamados permanentes que não se conseguem levantar ou sentar sem auxílio e portadores de deficiência intelectual, sem grau atribuído, de grau grave ou profundo. Mais tarde, foi alargado a pessoas autistas e às pessoas portadoras de deficiência motora. Três anos depois do início do projecto piloto, o subsídio para cuidadores passou a ser permanente.

Em Macau existem 13 equipamentos sociais que acolhem pessoas deficientes, com cerca de 1.060 vagas, volume que Hon Wai considera “satisfazer as necessidades dos serviços em causa”.

Salário mínimo | Au Kam San criticou valor reduzido

O ex-deputado Au Kam San considera que o valor do salário mínimo é demasiado baixo e que nada justifica que esteja abaixo dos valores praticados em Taiwan (46,53 patacas) ou Hong Kong (41,25 patacas). Foi desta forma que o democrata reagiu ao recente ranking da revista Forbes sobre os países e regiões mais ricos no mundo. A RAEM surge em segundo lugar na lista com o Produto Interno Bruto per capita de 134.140 dólares americanos.

“Macau é uma cidade rica, mas o salário mínimo por hora é apenas 34 patacas, enquanto o salário mínimo por mês é de 7.072 patacas. Olhamos para o Luxemburgo, que ocupou o primeiro lugar no ranking, e não só a sua riqueza é a mais alta no mundo, como o salário mínimo também é o mais elevado no mundo, com 2.500 euros mensais [20.705 patacas]”, lê-se numa publicação do ex-deputado no Facebook.

O ex-deputado recordou que durante a sua carreira na Assembleia Legislativa, participou na elaboração de lei sobre o salário mínimo e o processo era difícil. “Arrastou-se durante muitos anos, antes da legislação ser aprovada, e o salário inicial foi de apenas 30 patacas por hora. Desde 2016 até agora, só foi aumentado para 34 patacas por hora, num período de nove anos, e isto é vergonhoso,” destacou.

Ensino | O Lam espera que universidades sejam “campos de batalha”

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura quer que as instituições de ensino avancem com a integração da educação, ciência e tecnologia, ao mesmo tempo que desenvolvem um conjunto de quadros qualificados reconhecimentos internacionalmente

 

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura pediu às instituições do ensino superior locais para se assumirem como “campos de batalha”, seguindo as orientações do presidente Xi Jinping na atracção de quadros qualificados conhecidos internacionalmente. A solicitação foi deixada num encontro entre a governante e os representantes das universidades locais.

De acordo com o Governo, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, abordou com as universidades o desenvolvimento de Macau “como um local de agregação de quadros qualificados internacionais”. O Lam indicou aos presentes que Macau tem de seguir o “importante discurso” de Xi Jinping e que deve “promover o desenvolvimento integrado da educação, da ciência e da tecnologia, bem como dos quadros qualificados”, além de “introduzir e cultivar vigorosamente vários tipos de quadros qualificados e criar um local de agregação de quadros qualificados internacionais de destaque”.

A secretária vincou também que o discurso se constitui assim como “uma direcção clara para o trabalho de Macau em matéria de educação, ciência e da tecnologia, bem como para os quadros qualificados, definindo objectivos, canais e as principais áreas de actuação”.

O Lam referiu ainda as instituições de ensino superior têm um papel crucial na “agregação de quadros qualificados internacionais de destaque” e que se devem constituir como “as plataformas mais importantes e os principais campos de batalha”.

Nação forte

Durante o encontro com os representantes das universidades locais, O Lam afirmou esperar que o Governo e as instituições de ensino trabalhem “em conjunto para implementar firmemente o espírito da directiva do Presidente Xi e fazer um bom trabalho no ensino superior, na construção de plataformas de investigação científica e na internacionalização do pessoal docente”.

A responsável pediu também às universidades que continuem a “aproveitar plenamente a vantagem única de Macau de ‘Um País, Dois Sistemas’ e o seu papel como plataforma de intercâmbio”. Desta forma a dirigente acredita que Macau pode tornar-se “num local de agregação de quadros qualificados internacionais de destaque, contribuindo com os pontos fortes de Macau para a construção de uma nação forte”.

A Universidade de Macau fez-se representar pelo reitor Song Yonghua, o Instituto de Gestão de Macau pelo presidente Samuel Tong Kai Chung, a Universidade Politécnica de Macau, pelo reitor Marcus Im Sio Kei, a Universidade de Turismo de Macau pela reitora Fanny Vong Chuk Kwan, a Escola Superior das Forças de Segurança de Macau pelo director Wong Chi Fai, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau pelo reitor Joseph Hun-wei Lee, a Universidade da Cidade de Macau pelo reitor Liu Jun, a Universidade de São José pelo vice-reitor Zhang Shuguang , e o Instituto de Enfermagem Kiang Wu de Macau, pelo presidente Van Iat Kio.

Estudo | Governo relutante em legislar testamento vital

Um estudo de Man Teng Iong, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, e Vera Lúcia Raposo chama a atenção para a ausência da “Directiva Antecipada de Vontade”, ou testamento vital, do ordenamento jurídico da RAEM. O documento permite que uma pessoa decida previamente se quer ou não receber tratamentos médicos na fase terminal da vida

 

Há vários anos que em Portugal qualquer cidadão pode assinar uma Directiva Antecipada de Vontade (DAV), também conhecida como testamento vital, que permite a decisão consciente sobre o tipo de tratamentos médicos a receber em determinado contexto de saúde. Estando longe de constituir uma forma legal de eutanásia, o documento permite conhecer a vontade do paciente quando este, por motivos de saúde, não o poder fazer.

Em Macau, o DAV não está legislado e as autoridades têm revelado sinais de relutância em avançar no processo. É o que conclui o estudo “Advance Directives in Macao: Not Legally Recognised, but. . .” [DAV em Macau: Sem Reconhecimento Legal, mas…”, assinado por Man Teng Iong, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), e Vera Lúcia Raposo, ex-docente da mesma faculdade e actualmente professora na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. O estudo foi publicado recentemente pela Cambridge University Press, embora tenha sido o tema da tese de mestrado de Man Teng Iong defendida há uns anos.

Os autores analisam o enquadramento jurídico da questão em Macau, concluindo que “até à data, o Executivo de Macau assumiu uma atitude de precaução em relação às DAV, aceitando (ou tolerando) estes instrumentos, mas não investigando este assunto com a força necessária”.

“Tem sido reportado que, devido ao envelhecimento da população de Macau, e à luz da adopção da legislação sobre DAV nos últimos vinte anos em países como os Estados Unidos, Austrália, Canadá e Singapura, o Executivo reconheceu a necessidade de legislar as DAV”, é acrescentado.

Os autores indicam que as autoridades locais até reconhecem os factores positivos de ter acesso a este tipo de documento legal. “Tais instrumentos legais de vontade não vão apenas aumentar a qualidade de vida e proteger a dignidade dos pacientes no fim das suas vidas, mas também reduzir despesas médicas desnecessárias. A 3 de Dezembro de 2019, os Serviços de Saúde (SS), e a sub-entidade da Comissão de Ética para as Ciências da Vida, introduziram as ‘Directrizes para Questões e Política Futura das DAV’ em Macau, concordando em legitimar [a matéria]. Porém, apesar da concordância em torno da implementação das DAV, o Executivo insiste em manter numa fase preliminar as discussões em torno das DAV.”

Desta forma, os autores consideram que a “hesitação pode reflectir o receio da entidade [SS] em enfrentar dificuldades e controvérsias em torno dos planos para a sua implementação”.

Consenso como argumento

Os autores destacam que as “barreiras para a implementação” do quadro jurídico das DAV em Macau surgem “de uma baixa consciência por parte do público face à legislação das DAV e a possibilidade dos pacientes poderem mudar a forma de encarar o fim de vida, bem como a disposição dos familiares do paciente em cumprir com as vontades do paciente”.

O estudo salienta que os SS sempre argumentaram que “tem sido feita uma extensiva e profunda acção de sensibilização e educação junto do público, nas áreas académicas, sociais e jurídicas sempre que necessário, e que a lei que regulamenta as DAV apenas pode ser implementada depois de obtido o consenso de todos os sectores”.

Porém, o estudo refere que “é possível argumentar que a posição do Executivo carece de justificação adequada”, pois “este tipo de consenso invocado para adiar a regulação das DAV não é possível de atingir, devido à multiplicidade de visões legais, éticas e até religiosas sobre a matéria”. Além disso, os autores salientam que “mesmo que um consenso desse género pudesse ser atingido, o Executivo não tomou os passos necessários para encorajar ou facilitar a discussão, ou a consciencialização, junto da população”.

São mesmo referidos dados sobre um estudo feito acerca das noções da população de Macau sobre a matéria, concluindo-se que “a falta de informação sobre as DAV foram o principal factor determinante na decisão das pessoas em fazerem a DAV”.

“O estudo também descobriu que 73,6 por cento da amostra (724 pessoas) estavam dispostas a completar uma DAV caso o documento tivesse reconhecimento legal”.

“Resistência” social e política

Assim, os autores do estudo alertam para a existência de “uma grande resistência – da parte de certos grupos de residentes de Macau e do Executivo – para a implementação de uma regulamentação adequada das DAV”. “Uma possível razão para esta hesitação passa pelo medo de que legislar formalmente as DAV pode levar à eutanásia, uma prática proibida em Macau, mesmo que as duas situações sejam claramente diferentes”, denotam os autores, que entendem ser “imperativo que o Executivo regule as DAV”.

Neste ponto concreto, uma nova lei deveria “clarificar alguns aspectos legais, como os requisitos para a realização [das DAV] e para ficarem legalmente operacionais”, garantindo a autonomia de decisão do paciente e assegurando “uma solução mais adequada do ponto de vista dos direitos humanos”.

Os autores chamam a atenção para a influência da lei portuguesa de 2012 na legislação das DAV em Macau, chamando-se a atenção para o facto de as DAV terem uma maior compatibilidade com o que consta actualmente no Código Civil local.

Porém, legislar as DAV acarreta também uma discussão do ponto de vista cultural, é apontado. “Não é claro se a regulamentação das DAV estaria em concordância com os valores generalizados da comunidade chinesa predominante, que tem ainda uma grande ligação à família. São necessários mais estudos para clarificar esta e outras matérias, uma vez que, por exemplo, não existem dados sobre as estimativas dos números e implementação das DAV na jurisdição de Macau”, além de existir “uma necessidade urgente de mais investigações que explorem as perspectivas dos médicos em torno das DAV”.

É referido o caso do Hospital Kiang Wu, que no centro de cuidados paliativos “The Hospice & Palliative Care Centre” disponibiliza tratamento para doentes terminais com cancro. Porém, antes da admissão destes doentes, é exigida a assinatura do documento “Consent for the Hospice & Palliative Care Centre”, uma espécie de consentimento que acaba por ser, na maior parte das vezes, assinada pelos familiares e não pelo próprio doente. Além disso, “não é um documento de autorização, por parte dos pacientes, da atribuição, ou não, de procedimentos médicos, mas uma aceitação dos termos e condições do hospital”.

O que a lei actual permite

Em termos gerais, as DAV em Macau têm algum enquadramento jurídico, nomeadamente no Código Civil, apesar de não estarem legisladas com uma lei própria. Os autores concluem, porém, que “subsiste alguma incerteza sobre até que ponto as DAV seriam efectivas, em particular tendo em conta que os médicos tendem a rejeitar qualquer documento que rejeite um tratamento de suporte e manutenção de vida”.

“Em Macau a discussão em torno das DAV é quase inexistente. Sem um debate claro e transparente que inclua especialistas e estudos com argumentos jurídicos, não haverá desenvolvimentos jurídicos relacionados com a natureza, conteúdo e utilização das DAV num futuro próximo”, descreve-se.