Porto de Ká-Hó | Macauport com contrato estendido por sete anos Diana do Mar - 3 Abr 2019 [dropcap]O[/dropcap] Secretário para os Transportes e Obras Públicas vai assinar “brevemente” a escritura pública relativa ao adicional contrato de concessão da exploração do Porto de Ká-Hó com a Macauport, que expira no próximo dia 11. Segundo informações facultadas ao HM pela Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, o contrato de concessão vai ser estendido por sete anos, terminando em 2026. Em declarações aos jornalistas, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa, Raimundo do Rosário afirmou ontem não haver mexidas de maior e que a alteração mais importante tem que ver com o transporte de produtos perigosos, dado que foi proibido por via terrestre. “A grande alteração foi com a Macauport uma forma de assegurar a entrada por via marítima designadamente de fogo-de-artifício e de outros produtos”, explicou. A Macauport – Sociedade de Administração de Portos, que tem Ambrose So como presidente do conselho de administração, fechou 2017 com lucros de 5,9 milhões de patacas, contra 18,8 milhões em 2016. A sociedade responsável pela operação do Terminal de Contentores do Porto de Ká-Hó, em Coloane, atribuiu os resultados ao decréscimo da carga movimentada pelas empresas subsidiárias e associadas e a factores como o abate do custo de obras em curso. Os resultados do exercício do ano passado ainda não foram publicados em Boletim Oficial.
IPM | Lançado sistema de tradução com reconhecimento de voz Hoje Macau - 3 Abr 20193 Abr 2019 O Instituto Politécnico de Macau (IPM) lançou ontem um novo sistema de reconhecimento de voz e interpretação simultânea chinês-português-inglês, com o qual espera aliviar o trabalho de tradutores e intérpretes [dropcap]”Q[/dropcap]uando um orador discursa, o sistema reconhece automaticamente as palavras e transforma-as num discurso escrito, depois, de forma simultânea e automática, faz a tradução”, explicou o coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM. Gaspar Zhang falava aos jornalistas à margem do lançamento, que decorreu no âmbito de uma conferência sobre os novos desafios e oportunidades na área da tradução, com recurso à inteligência artificial. “Assim, podemos ver no ecrã um discurso na língua de partida e na língua de chegada”, acrescentou, sublinhando que a interpretação simultânea automática é agora “uma realidade”. O sistema foi desenvolvido pelo Laboratório de Tradução Automática Chinês-Português-Inglês do IPM, inaugurado em Outubro de 2016 pelo primeiro-ministro português, António Costa. Desde a criação do laboratório, o IPM tem investido muito na área do ‘big date’ e na área da inteligência artificial, lembrou Zhang, mencionando, entre outros, o sistema de tradução chinês-português. O uso deste “sistema auxiliar de tradução chinês-português/português-chinês de documentos oficiais” foi acordado, em Março, com o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No entanto, Gaspar Zhang ressalvou que o sistema lançado agora foi desenhado para aliviar o trabalho dos tradutores e intérpretes, e não para os substituir. “Neste momento, pelo menos hoje, as máquinas não podem substituir os tradutores nem intérpretes. O nosso objectivo é ajudar os tradutores e os intérpretes”, salientou. Bolsas para portugueses O Instituto Politécnico de Macau prevê lançar, no próximo ano lectivo, um programa de bolsas de estudo para atrair mais estudantes dos países de língua portuguesa, no âmbito dos futuros mestrados e doutoramentos da instituição. Este novo programa prevê estender as ajudas de custo aos estudantes pós-graduados, uma vez que o Politécnico (IPM) já dispõe de bolsas para estudantes de licenciatura, explicou o presidente da instituição, Marcus Im Sio Kei. “Num futuro próximo, esperamos receber mais alunos dos países de língua portuguesa. Temos um plano para oferecer bolsas a estes estudantes”, afirmou o responsável, em declarações aos jornalistas à margem de uma conferência na qual se debateram os novos desafios e oportunidades na área da tradução, com recurso à inteligência artificial. Actualmente, o IPM tem cerca de 200 alunos provenientes dos países lusófonos, um número que pode vir a crescer com o lançamento deste novo regime, que prevê uma dedução até 20 por cento do custo global das propinas. Língua portuguesa, computação e administração pública são as áreas dos três futuros programas de doutoramento, ainda sujeitos à aprovação do Governo de Macau, adiantou Marcus Im Sio Kei. A instituição prevê que sejam lançados até ao final do ano. Além disso, deverão ser lançados, no mesmo prazo, mais quatro cursos de mestrado, em áreas que vão da enfermagem às artes visuais, acrescentou. “Em toda a divisão, incluindo os novos mestrados e programas de doutoramento, planeamos receber mais 300 alunos” provenientes de Macau e de várias regiões, afirmou Im Sio Kei. No mês passado, o Governo já tinha aprovado o plano de estudos de dois novos mestrados, incluindo um mestrado em tradução e interpretação chinês-português. O mestrado terá duas áreas de especialização, tradução e interpretação, e dois anos de duração, de acordo com o despacho do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. No ano lectivo 2018/2019, o número de estudantes de português no IPM ronda os 500, de acordo com dados disponibilizados à Lusa no final do ano passado.
AL | Mesma resposta para perguntas diferentes vale contestação de Sulu Sou sobre Ho Iat Seng João Santos Filipe - 3 Abr 20193 Abr 2019 O presidente da AL referiu o ordenado de Sulu Sou no Plenário e agora não se consegue livrar do deputado. Apesar da queixa oficial ter sido recusada, Ho Iat Seng volta a ser visado, desta vez porque recusou uma contestação com os mesmos argumentos, sem alterações ou explicações adicionais [dropcap]S[/dropcap]ulu Sou apresentou queixa do presidente da Assembleia Legislativa à Mesa do hemiciclo, porque considera que a figura máxima da AL ignorou um pedido de esclarecimentos. Em causa estão as declarações do presidente sobre o ordenado do legislador durante a suspensão e o facto de Ho ter respondido à última contestação com a mesma fundamentação que estava a ser contestada, sem mais explicações. A revelação foi feita ontem pela Associação Novo Macau que justifica a queixa com a luta do deputado com o espírito de renovação da Assembleia Legislativa. “A intenção de aderir a esta batalha processual durante quase oito meses não se justifica apenas com a necessidade de corrigir o tratamento injusto […] mas pelo espírito de ‘Renovação da Assembleia’”, é justificado em comunicado. Este é mais um capítulo de uma “batalha” dentro da Assembleia entre o pró-democrata e o presidente do hemiciclo, que dura há cerca de oito meses, quando se discutiu as alterações à Lei de Reunião e Manifestação. Nessa discussão, Sulu Sou tentou usar um aspecto técnico para que a lei fosse alterada e acabou por ser repreendido por Ho Iat Seng. O presidente do hemiciclo deixou críticas ao deputado devido ao desconhecimento das normas internas e afirmou que este tinha continuado a receber um ordenado de cerca de 100 mil patacas, apesar de ter estado suspenso. As afirmações levaram a uma queixa por escrito de Sulu Sou a Ho Iat Seng, por motivos de conduta imprópria, que posteriormente foi reencaminhada para a Comissão de Regimentos e Mandatos da AL. A comissão recusou a queixa, uma vez que considerou que devia ter sido apresentada logo no Plenário em que Ho proferiu as palavras. Falar para o boneco Este parecer da comissão foi depois utilizado por Ho Iat Seng para recusar a queixa inicial. Sulu Sou levantou depois várias dúvidas sobre o parecer da Comissão de Regimento e Mandatos, mas recebeu como resposta o mesmo parecer, sem mais explicações. É este ponto que o deputado vem agora contestar junto da Mesa da Assembleia Legislativa. “O despacho de reclamação que aponte erros a um parecer, não pode, naturalmente, voltar a remeter para o parecer. Tal significaria um desrespeito pela reclamação – que contém argumentos novos, posteriores ao parecer e sobre o parecer – um desrespeito pelo Deputado reclamante e um desrespeito pela lei”, consta na queixa mais recente. “Indeferir a reclamação voltando a remeter para o Parecer [da Comissão de Regimento e Mandatos] é ignorar – não conhecer – dos vícios alegados na reclamação”, é acrescentado. As reuniões das Comissão de Regimento e Mandatos em que foram tomadas as decisões sobre a primeira decisão foram contestadas tanto por Sulu Sou como pelo deputado José Pereira Coutinho. Em causa está o facto do primeiro encontro marcado por Kou Hoi In, presidente da comissão, não ter sido do conhecimento de todos os deputados, o que contraria as normais internas da Assembleia Legislativa. A Mesa da AL, que agora recebeu a queixa, é constituída pelo presidente, Ho Iat Seng, vice-presidente, Chui Sai Cheong, 1.º Secretário, Kou Hoi In, e 2.ª Secretária, Chan Hong. Por este motivo, Ho e Kou vão analisar a contestação das decisões que são partes interessadas. No entanto, o comunicado da Novo Macau deixa uma promessa: “O Sulu Sou e os membros da sua equipa nunca se vão manter calados perante qualquer restrição e interpretação arbitrária”.
Residentes vão poder abrir contas bancárias na China usando apenas o BIR Hoje Macau - 3 Abr 20193 Abr 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem assinado um protocolo de cooperação entre o Governo e o Banco da China, acordo que constitui mais um passo na integração regional do território. De acordo com um comunicado oficial, os portadores de bilhete de identidade de residente de Macau passam a poder abrir contas nas sucursais do Banco da China no continente. “Seguindo-se a premissa do respeito pelas leis, regulamentos e requisitos de fiscalização da China, os residentes de Macau podem utilizar nas instituições do Banco da China na Grande Baía o seu bilhete de identidade como documento legal para tratar de abertura de contas bancárias, de cartões, de registos e de transacções, usufruindo de serviços financeiros rápidos para pagamentos, bem como de créditos e serviços para empresas e particulares.” O acordo de cooperação inclui também as mais de 500 instituições do Banco da China no exterior, nas quais os residentes “podem usar os bilhetes de identidade como documento legal para tratar de abertura de contas, cartões, registos e transacções no estrangeiro”. O Banco da China vai ainda permitir uma gestão integrada de tesouraria e pagamentos transfronteiriços para as empresas locais, “abrindo canais de circulação de capitais entre Guangdong, Hong Kong, Macau e para o mundo”. De acordo com o mesmo comunicado, os residentes de Macau “podem, apenas com o BIR, gerir negócios financeiros na Grande Baía ou até nas sucursais dos bancos comerciais estatais nos países participantes da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”. Além disso, esta medida “permitirá aos residentes usufruir de um ‘tratamento equitativo em comparação com os residentes da China interior’, referido nas Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, e poderão aceder mais facilmente aos serviços financeiros dos bancos da China interior”. O Governo considera que, com este protocolo, “poder-se-á verdadeiramente promover a circulação de pessoas na Grande Baía, com facilidade e conveniência, o que terá um impacto positivo e profundo na participação da RAEM na estratégia de desenvolvimento nacional”.
Fiscais do Metro Ligeiro ‘perdem’ poder de autoridade pública Diana do Mar - 3 Abr 20193 Abr 2019 O Governo cedeu aos deputados e retirou a norma que dotava os futuros agentes de fiscalização do Metro Ligeiro de poderes de autoridade pública [dropcap]O[/dropcap]s fiscais vão perder os poderes de autoridade pública que lhes eram atribuídos na proposta de lei do sistema do Metro Ligeiro. A mexida foi revelada ontem pelo presidente da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que analisa o diploma na especialidade. Trata-se de uma das principais cedências do Governo aos deputados que anteriormente tinham manifestado “preocupações” a esse respeito, recordou Vong Hin Fai. Retirado do diploma foi também o capítulo relativo à expropriação, que tinha sido igualmente colocado em causa pelos deputados que questionaram as razões que levaram o Governo a prever expressamente uma possibilidade já contemplada no Regime de Expropriações por Utilidade Pública. Situação idêntica tinha sido sinalizada no capítulo relativo à responsabilidade penal que, segundo alertou a assessoria da AL, prevê normas semelhantes às já existentes, designadamente quanto à violação das regras de operação e segurança. “Essas normas relativas às infracções deixaram de constar, porque há remissão ao Código Penal”, indicou Vong Hin Fai. A retirada de normas nas três ‘frentes’ referidas, que fizeram a proposta de lei encolher de 66 para 47 artigos, marcou o ponto final na discussão entre deputados e Governo. “Acabou. Agora segue-se a redacção final, toques e retoques, não há mais reuniões”, afirmou o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, aos jornalistas, à saída da reunião. Nomeações para breve Já questionado sobre quem vai administrar a recém-constituída Metro Ligeiro de Macau, a sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, que vai ser responsável pela operação do sistema de metro ligeiro, Raimundo do Rosário escusou-se a adiantar pormenores. “É o que há-de vir a seguir”, respondeu. A empresa, que nasce a meses da entrada em funcionamento da linha da Taipa, prevista para a segunda metade do ano, vai implicar a extinção do Gabinete de Infra-estruturas e Transportes (GIT) como, de resto, era conhecido. Algo que deve acontecer “talvez no espaço de semanas, poucos meses”. “Temos um conjunto bastante grande de coisas a fazer, quer em termos legislativos, quer no que diz respeito à constituição da empresa, à extinção do GIT e à passagem das pessoas e dossiês, portanto, há imensa coisa para fazer”, argumentou. A relação entre a nova empresa e a MTR, de Hong Kong, à qual foi entregue as operações do Metro Ligeiro nos primeiros cinco anos de funcionamento da linha da Taipa também tem gerado dúvidas, nomeadamente no seio da 3.ª Comissão Permanente da AL. Ora, como explicou Raimundo do Rosário, quem vai dirigir, operar e coordenar tudo o que diz respeito ao Metro Ligeiro será a nova sociedade de capitais públicos que tem ao seu dispor três formas de o fazer: “fazer ela própria [essa tarefa], através de uma subconcessão, dado que vai ser concessionária ou por via da aquisição de serviços”. No caso concreto, complementou, o Governo firmou um contrato de prestação de serviços com a MTR que vai passar para a Metro Ligeiro, assumindo a posição contratual do Governo. Não obstante, no futuro, como ressalvou Raimundo do Rosário, existem as três possibilidades sobre a mesa.
Autocarros | Ho Ion Sang pede aumentos para não-residentes Hoje Macau - 3 Abr 20193 Abr 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang, ligado aos Moradores, quer saber quando é que o Governo vai implementar a subida de preços para os não-residentes que viajam nos autocarros. É este o conteúdo de uma interpelação divulgada ontem pelo membro da Assembleia Legislativa. Esta é uma proposta antiga da Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que foi deixada cair devido aos custos da implementação de um sistema diferenciado. Contudo, Ho Ion Sang quer agora saber quando é que o Governo vai chegar a um novo consenso e aplicar preços mais caros para os trabalhadores não-residentes e turistas. Por outro lado, o legislador pergunta também as medidas que podem ser aplicadas para que a qualidade do serviço aumente.
China | Analistas defendem reforço da posição da UE no contexto da guerra comercial Andreia Sofia Silva - 3 Abr 20193 Abr 2019 Situada no meio da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a União Europeia deve clarificar relações com a Ásia para desenvolver as suas empresas e travar eventuais pressões dos EUA ou de países do norte da Europa que tentem sabotar essas parcerias. O tema “A ascensão da RPC no tabuleiro internacional do pós-Guerra Fria” esteve ontem em debate na Universidade do Porto [dropcap]N[/dropcap]o princípio era a União Soviética e os Estados Unidos, mas, com a queda da URSS, a China tem assumido cada vez mais um papel de relevo, tanto a nível económico como diplomático. No meio está a União Europeia (UE), que deve clarificar e reforçar o seu posicionamento no contexto da guerra comercial que se vive nos dias de hoje. A Universidade do Porto (UP), em Portugal, acolheu ontem a palestra “A ascensão da República Popular da China (RPC) no tabuleiro internacional do pós-Guerra Fria”, que contou com a presença de Rui Lourido, presidente do Observatório da China (OC), Jorge Cerdeira, docente da Faculdade de Economia da UP, e António Lázaro, director do Instituto Confúcio da Universidade do Minho. Em declarações ao HM, Rui Lourido defendeu que é altura da UE assumir a importância do seu posicionamento geoestratégico. “A Europa tem de compreender que a China não é um inimigo, mas sim um concorrente com o qual deve fazer parcerias e estabelecer um relacionamento pacífico e de mútuo interesse”, começou por dizer. Neste sentido, a Europa “deve abrir-se às negociações com a China de igual para igual, sem prescindir das suas alianças que podem ligar o continente à América, mas elas não são incompatíveis, bem pelo contrário, deverão ser complementares”. Também Jorge Cerdeira defende que a UE é, nos dias de hoje, “um dos principais players internacionais, tal como a China ou os Estados Unidos”, “ocupando uma posição de destaque na produção, exportações, importações e investimento a nível internacional”. Neste contexto, a UE deve compreender qual o seu papel no seio destas relações diplomáticas. “Naturalmente que nesta fase em que existem muitas incertezas sobre o futuro das relações económicas internacionais, a Europa deverá ter uma posição clara e unida sobre o assunto e ser capaz de assumir o seu papel de relevo no xadrez internacional.” Para Jorge Cerdeira, essa necessidade não tem sido cumprida “muito devido aos constrangimentos internos que tem sofrido (que incluem a crise das dívidas soberanas, a questão dos refugiados, o processo do Brexit ou as diferentes posições dos países relativas à política da União)”, defendeu. Pressões americanas No passado dia 5 de Março o Conselho da UE aprovou as novas regulações que serão feitas aos investimentos estrangeiros provenientes de países terceiros em sectores estratégicos, como têm sido os investimentos chineses. Para Rui Lourido, a UE deve analisar as propostas chinesas de acordo com os seus interesses, mas defende que neste processo de regulação há não só uma pressão dos países do norte da Europa, como é o caso da Alemanha ou França, mas também dos Estados Unidos, a quem não interessa “uma Europa unida”. “Vejo estes regulamentos que têm vindo a ser levantados na sequência de pressões americanas e desta guerra comercial que é nefasta para o relacionamento e desenvolvimento das empresas europeias.” Para Rui Lourido, “as empresas alemãs são concorrentes das empresas chinesas e não há mal nenhum nisso”, uma vez que “ambas as empresas devem fazer parcerias no sentido de aproveitarem o mercado chinês”. O presidente do OC recorda os 17 acordos que recentemente Portugal assinou com a China no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”, que incluem acções de investimento no Porto de Sines e mais ligações ferroviárias. “Quando Portugal faz isto cria inimizade ou concorrência com os portos do norte da Europa, que até hoje têm sido centrais para o comércio europeu. Estes países, ao verem que este comércio se pode deslocar para sul, algo que já acontece também com a Grécia, com os investimentos no porto de Piréu, pressionam Portugal para não entrar nestas parcerias que propiciam este desenvolvimento”, defendeu Rui Lourido. O presidente do OC acha que, neste âmbito, “a perspectiva de Portugal tem de ser autónoma” e considera que “não se deve perder o foco face aos investimentos no sul da China e no espaço da Grande Baía e África, que serão centrais para a construção de um mundo pacífico, rentável e produtivo”. Regular é preciso Apesar de falar de pressões dos países do Norte da Europa e dos Estados Unidos, Rui Lourido acredita que a regulação do investimento directo estrangeiro na UE é necessária. “Este relacionamento deve ser escrupulosamente encaminhado e regulado nos interesses comuns de ambas as empresas”. Jorge Cerdeira recorda que os investimentos chineses na Europa têm aumentado progressivamente desde que o país entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. “À Europa cabe, dentro da ideologia do nacionalismo pragmático que hoje se apregoa no que concerne à atracção e restrição do investimento directo estrangeiro, seleccionar os investimentos que entende serem favoráveis e rejeitar os que entende serem menos interessantes.” Se Rui Lourido fala de pressões em prol da regulação, Jorge Cerdeira interpreta estas iniciativas como naturais. “Tal prática, comum noutros países (tal como, por exemplo, na China), deve ser encarada com naturalidade, ainda que, evidentemente, reste saber como é que esse processo de ‘filtragem’ (do investimento directo estrangeiro) vai ser efectivamente feito na prática”, disse ao HM. “Fecharmo-nos ao relacionamento com a China não é bom, é o caminho inverso que a Europa e Portugal devem ter. A China é neste momento a segunda grande nação a registar as patentes de investigação, está quase colada aos Estados Unidos. Considero que esta aliança com empresas chinesas que detém esse know-how torna-se fundamental para a expansão das empresas portuguesas e a sua expansão nos mercados”, acrescentou Rui Lourido. Guerra Fria 2.0 Apesar dos vários encontros, não há ainda uma resolução para o fim definitivo do conflito comercial que opõe a China aos Estados Unidos. Jorge Cerdeira não consegue prever se estamos perante uma nova Guerra Fria, ainda que com outros contornos, mas fala de um futuro “incerto”. “O futuro da relação entre os EUA e a China, bem como a guerra comercial que tem existido, é incerto. Há dados e estudos que sugerem que a guerra comercial já custou aos EUA cerca de 8 mil milhões de dólares. Resta saber qual é a reação que as autoridades de política dos EUA e da China vão ter perante os resultados pouco favoráveis que advêm desta guerra.” Incertezas à parte, o professor da UP acredita que “os últimos dois anos têm contribuído para uma maior afirmação das políticas proteccionistas face ao que verificou nos anos anteriores”. Rui Lourido também não consegue prever uma nova Guerra Fria, mas fala de um mundo mais perigoso num futuro próximo caso estes conflitos continuem. “Essa guerra comercial que se tenta expandir a outros sectores com grande perigosidade torna o mundo mais instável. A China tem substituído o papel de equilíbrio que a América desempenhava nessas instituições e defende hoje o multilateralismo e a própria ONU.” As relações de conflito neste contexto “devem ser mediadas pela ONU e não por reacções caso a caso”, sem esquecer o papel que entidades como a OMC ou o Mercosul devem ter, defendeu Lourido. “A economia americana perdeu energia com a crise de 2008 e a forma mais inteligente de ultrapassar isso é com um relacionamento concorrencial, mas amigável. Há forças que não pensam assim e temos o presidente norte-americano (Donald Trump) a sair de tratados internacionais e a tentar desestruturar a Europa, porque à América não interessa uma Europa unida e forte.” “Isso leva à criação de conflitos que os europeus devem ver de acordo com os seus interesses e estabelecer parcerias com a Ásia para que possam balancear a sua influência, com países como a China, Índia e Japão”, concluiu Rui Lourido.
Autoridades detectam tráfico de petróleo Hoje Macau - 3 Abr 2019 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Zhuhai detectaram um caso de transporte ilegal de petróleo por parte de uma embarcação que viajava entre Hong Kong e Macau. O caso foi relatado ontem pelo canal chinês da Rádio Macau, que cita as autoridades da cidade vizinha. Segundo a informação divulgada, as suspeitas do tráfico foram confirmadas depois de uma inspecção, já depois do navio em causa ter sido obrigado a atracar. Durante a investigação, as autoridades detectaram a existência de um compartimento secreto com capacidade para o transporte 30 toneladas de combustível.
Deputados criticam ritmo das obras públicas na prevenção e redução de catástrofes Diana do Mar - 3 Abr 2019 [dropcap]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da Assembleia Legislativa (AL) criticou ontem o andamento das obras públicas para a prevenção e redução de catástrofes, lamentando que muitas continuem a ser uma miragem, a dois meses do arranque da nova temporada de tufões. Os planos das Obras Públicas incluem uma dezena de empreitadas, como as de aumento da altura de muretes, mas a maioria encontra-se “em fase de estudo”. “Estamos atentos aos riscos dos residentes que estão a morar nas zonas baixas”, realçou a presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da AL, lamentando que o Governo tenha adiantado apenas “algumas medidas a curto prazo”, das quais algumas têm data prevista de conclusão em 2021. Explicações que, como apontou, deixaram os deputados “insatisfeitos”. Uma das mexidas nos planos prende-se com a zona oeste de Coloane – que vai passar a cobrir Lai Chi Vun. “Não estava previsto, mas disseram que vai abranger, mas não há calendarização”, apontou, lembrando que chegou a ser apresentado ao Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) um projecto que vai, por conseguinte, sofrer alterações, dadas as mexidas face ao plano inicial. A deputada reconheceu, porém, que outras obras carecem do aval de Pequim, tornando “difícil de controlar” o calendário. É o que sucede com as comportas, exemplificou Ella Lei, recordando que o Governo Central validou o estudo de viabilidade, mas deu instruções para a realização de outros, entretanto iniciados, mas ainda dependentes da ‘luz verde’ de Pequim. “Dois anos depois [do tufão Hato] é difícil avaliar a nossa capacidade para enfrentar tufões fortes. Estamos preocupados com algumas obras”, sublinhou Ella Lei, apontando o dedo à falta de coordenação entre departamento e à ausência de informações ao público. “Havendo um mecanismo de divulgação de informações, a população pode, pelo menos, saber descansadamente o que o Governo está a fazer, o que vai fazer e qual a sua protecção antes das catástrofes”, observou a presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da AL. Em concreto, para este ano, segundo a apresentação da Ella Lei, prevê-se a concretização de duas medidas de curto prazo: a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água estima finalizar, em Junho, as obras para aumentar a capacidade de recuo das águas no Porto Interior, instalar comportas amovíveis de retenção nos muretes; enquanto o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) vai substituir as válvulas que permitem escoar a água para o mar, calculando iniciar as obras em Julho. Válvulas que, no entanto, “não dão resposta a 100 por cento às inundações provocadas por tufões”, servindo “apenas para resolver o problema da maré astronómica”, dado que visam “prevenir o refluxo da água do mar”, observou Ella Lei. Protecção civil à frente Já ao nível da tutela da Segurança os trabalhos encontram-se numa fase mais adiantada. Na próxima terça-feira, dia 9, a Protecção Civil vai reunir-se, juntando 29 serviços e departamentos que irão expor as medidas e equipamentos para a prevenção e redução de catástrofes. A título de exemplo, o Governo adiantou que vão ser aditados 50 sistemas de alerta sonoro em postos de CCTV e em pontos altos da cidade, indicou Ella Lei.
Gestão privada da TAP “não tem sido a mais correcta”, diz Observatório da China Andreia Sofia Silva - 2 Abr 20192 Abr 2019 [dropcap]R[/dropcap]ui Lourido, presidente do Observatório da China (OC), disse ao HM que a gestão privada da companhia aérea portuguesa TAP não tem sido a mais correcta, quando questionado sobre a mais recente saída da chinesa HNA da estrutura accionista. “Em todos os negócios a rentabilidade é a alma. Quando atribuímos a privados empresas que são fundamentais para a expansão de uma imagem da economia nacional, há sempre esse risco. Portugal decidiu dar a nossa empresa bandeira mas este Governo não conseguiu privatizar tudo. Mas não me parece que a gestão privada da TAP seja a mais correcta.” O responsável defendeu, por isso, a continuação da aposta numa parceria chinesa na área da aviação, mas com outra empresa. “Talvez a escolha da empresa chinesa não tenha sido a mais pertinente. Deveríamos ter uma parceria chinesa, sem dúvida, e Portugal deve lutar por essa parceria com uma grande empresa de transporte aéreo, para que faça as rotas directas com Pequim e Cantão. Há outras empresas interessadas. O Estado português deveria ter encontrado um parceiro chinês sólido e não estar apenas dependente do lucro”, frisou. Foi a 28 de Março que se soube que o representante da HNA na estrutura accionista da TAP ia sair, depois da empresa ter vendido a sua participação de 20 por cento no grupo que detém 45 por cento da TAP, a Atlantic Gateway, por 55 milhões de dólares americanos. Com o Governo de António Costa, primeiro-ministro português, o Estado voltou a ter 50 por cento das acções da TAP, sendo que os privados possuem 45 por cento e os trabalhadores os restantes cinco por cento. O negócio, anunciado à bolsa de valores de Xangai, aconteceu devido a problemas de liquidez que a HNA enfrenta há cerca de um ano.
Sarampo | Serviços de Saúde fazem levantamento sobre imunidade das empregadas filipinas Diana do Mar - 2 Abr 20193 Abr 2019 [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde vão iniciar hoje o processo de levantamento de informações sobre a imunidade ao sarampo das empregadas domésticas filipinas. A pesquisa de anticorpos vai contar com uma amostra de 100 trabalhadoras, instadas a inscrever-se voluntariamente, informaram ontem os Serviços de Saúde em comunicado. O organismo, liderado por Lei Chin Ion, espera, através da pesquisa aleatória, inteirar-se da capacidade imunitária das empregadas domésticas das Filipinas, considerando que a situação epidémica naquele país é a mais grave. Segundo dados oficiais, Macau conta actualmente com 24.412 empregadas domésticas, das quais 15.945 provenientes das Filipinas. As inscrições, que podem ser feitas através por telefone (62520680) durante o horário de expediente, abrem hoje e terminam quando as vagas estiverem esgotadas. As inscrições podem ser efectuadas pelas próprias trabalhadoras ou através dos empregadores. A colheita de sangue vai ter lugar no próximo sábado, dia 6, entre as 10h e as 12h, em três centros de saúde (Tap Seac, Areia Preta e no da Nossa Senhora do Carmo, na Taipa). Segundo os Serviços de Saúde, uma semana depois, será enviada uma mensagem às empregadas domésticas, informando-as da possibilidade de levantar o relatório no Centro de Prevenção e Controlo de Doenças. A intenção dos Serviços de Saúde passa por alargar, posteriormente, a pesquisa a outros grupos de trabalhadores não residentes. Embora de um modo geral, a maioria seja imune ao sarampo, devido à possibilidade de terem sido infectados no país de origem, dado que a grande parte vem designadamente de áreas epidémicas do sudeste asiático, “há falta de dados concretos da situação imunitária”, referem os Serviços de Saúde, na mesma nota de imprensa. Soma e segue O número de casos de sarampo registados desde o início do ano subiu para 27. O mais recente caso foi diagnosticado ontem numa enfermeira do Serviço de Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar Conde de S. Januário, elevando para nove o total de profissionais de saúde infectados com a doença altamente contagiosa. A paciente, de 32 anos, natural de Macau, estava vacinada contra o sarampo. Segundo os resultados dos testes laboratoriais, entre os profissionais de saúde infectados, apenas um não estava imune ao sarampo, indicaram os Serviços de Saúde. O organismo facultou também ontem ao HM os dados em falta do levantamento à imunidade dos profissionais de saúde, dando conta de que, além dos 362 (228 médicos e dos 134 enfermeiros), 55 de 882 auxiliares de enfermagem e dos serviços gerais também não estariam protegidos contra o sarampo durante o recente surto, elevando o total para 417. Isto por não terem a certeza se foram vacinados ou se contraíram a doença anteriormente. Todos foram entretanto vacinados.
Polícia chinesa detém educadora suspeita de envenenar 23 crianças Hoje Macau - 2 Abr 2019 [dropcap]A[/dropcap] polícia chinesa deteve hoje uma educadora de infância suspeita de envenenar deliberadamente 23 crianças num infantário no leste da China, em mais um ataque no país contra menores. Identificada como Wang, a professora terá adulterado a comida das crianças com nitrito de sódio, revelou a polícia da cidade de Jiaozuo. A exposição àquela substância tóxica pode ser fatal. A polícia disse que ainda não aclarou o motivo do incidente, ocorrido na semana passada. Crianças em idade escolar têm sido alvo de ataques na China, muitas vezes fatais, normalmente protagonizados por pessoas com problemas psicológicos ou ressentimentos com a sociedade. No início deste ano, 20 crianças ficaram feridas num ataque perpetrado por um homem numa escola primária em Pequim. Em Abril de 2018, um homem armado com uma faca matou sete estudantes e feriu 19, quando os jovens regressavam a casa, no norte do país. A lei chinesa proíbe rigorosamente a venda e posse de armas de fogo, pelo que os ataques são geralmente feitos com facas, explosivos de fabrico artesanal ou por atropelamento. O último caso de envenenamento remonta a 2002, quando 42 pessoas, a maioria crianças em idade escolar, morreram na cidade de Nanjing, leste do país. O assassino, que alegadamente tinha inveja do negócio próspero do seu concorrente, foi rapidamente condenado à pena de morte e executado.
Cinema | Cartaz do Índie Lisboa celebra os 20 anos de transferência de soberania de Macau Andreia Sofia Silva - 2 Abr 20192 Abr 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi hoje apresentado em Lisboa o cartaz da edição deste ano do festival de cinema Índie Lisboa. Além da antestreia de “Hotel Império”, filme de Ivo Ferreira, bem como de três episódios da sua nova série, intitulada “Sul”, serão exibidos alguns filmes que visam celebrar o aniversário dos 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China. Na categoria “Especial Macau 20 anos” será exibido “Foco Macau – 20 anos depois” de Lou Ka Choi, bem como “The Cricket Dynasty”, de Chang Seng Pong, ambos de 2018. O cartaz conta também com a película “G.D.P.: Grandmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong, e “Rabbit Meets Crocodile”, de Sam Kin Hang, um filme de animação também produzido em 2018. “Sheep”, de Mak Kit Wai, também do mesmo ano, encerra o cartaz dedicado ao cinema local. O Índie Lisboa leva também um pedaço do cinema asiático a Lisboa, com a curtas-metragen chinesa“A Fly in the Restaurant”, de Xi Chen e Xu An, bem como “Wong Ping’s Fables 1”, de Hong Kong. “A Million Years”, uma curta de Danech San, em representação do Cambodja, também será exibida. No painel das longas metragens há também lugar para “Present.Perfect.”, de Shengze Zhu, um documentário que nasce de uma produção conjunta entre os EUA e Hong Kong, realizada este ano. O Índie Lisboa acontece entre os dias 2 e 12 de Maio em vários locais da capital lisboeta e contará com mais de 50 filmes portugueses, presentes em toda a programação, entre estreias mundiais, estreias nacionais e primeiras obras. Há 17 filmes na competição de curtas-metragens.
FBI devolve a família judia pintura roubada há 75 anos pelos nazis em França Hoje Macau - 2 Abr 2019 [dropcap]O[/dropcap] FBI devolveu esta segunda-feira uma pintura do holandês Salomon Koninck aos seus legítimos proprietários, uma família francesa judia, 75 anos após ter sido roubada pelos nazis em França na Segunda Guerra Mundial. A peça, “Um filósofo afiando a sua pena”, pintado por Koninck em 1639, foi entregue à família Schloss, numa cerimónia realizada no consulado francês em Nova Iorque, Estados Unidos, com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país europeu, Jean-Yves Drian. “Foi roubado no nosso território pela Gestapo e levado para Munique com a cumplicidade de colaboradores franceses, em 1943, e tinha sido perdido o seu rasto”, explicou Drian, que estava acompanhado pelo procurador do distrito sul de Nova Iorque, Geoffrey Berman, e um representante do gabinete de investigação criminal do FBI em Washington, Michael Driscoll. “Finalmente que se reencontrou com os seus donos, os herdeiros de Adolphe Schloss [um coleccionador de arte francesa] e os seus cinco filhos”, acrescentou o ministro. Presentes na cerimónia estavam também os bisnetos de Schloss, Laurent e Michel Vernay, assim como a sua nora, Eliane Demartini, que descreveu o regresso da pintura como uma “pequena vitória” e lembrou que ainda há muitas peças de arte que foram roubadas, mas que continuam desaparecidas. O governante francês destacou que o seu país prossegue esforços para acelerar a identificação e restituição de obras roubadas durante o regime de Hitler, e observou que mais de dois terços das 100.000 peças usurpadas pelos nazis foram encontradas logo após o fim do conflito. “Um filósofo afiando a sua pena” foi encontrado em 2017, quando o seu então proprietário, o chileno Renate Stein, contactou a casa de leilões Christie com a intenção de o vender em Nova Iorque, depois da sua família o ter adquirido na Alemanha, nos anos 50. Drian também enfatizou o actual aumento do anti-semitismo e frisou os esforços do seu Governo para o combater, denunciando a falta de acção por parte dos Estados Unidos. “Algo similar deve ser feito em território norte-americano, onde muita nostalgia do nazismo se esconde por detrás da Primeira Emenda para desencadear a propaganda do ódio”, sublinhou. Por sua parte, o procurador do distrito sul de Nova Iorque observou que o que aconteceu com a pilhagem de obras de arte que se encontravam nas mãos dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial “não foi apenas injusto, mas desumano”. “Temos um imperativo moral de agir, que é o que estamos a fazer agora e continuaremos a fazer”, acrescentou. Por sua parte, o representante do FBI explicou as árduas investigações que têm ser realizadas neste tipo de casos para demonstrar a origem das peças, e ressaltou a importância vital da colaboração das casas de leilões na identificação e comunicação de peças roubadas.
Novo julgamento de Scott Chiang marcado para 30 de Abril Diana do Mar e João Santos Filipe - 2 Abr 20193 Abr 2019 [dropcap]A[/dropcap] repetição do julgamento de Scott Chiang, que tinha sido condenado pela prática de um crime de reunião e manifestação ilegal, foi agendada para 30 de Abril. No início, o deputado Sulu Sou também era arguido no mesmo processo, relacionado com a manifestação contra a doação da Fundação Macau à Universidade de Jinan, mas como não recorreu da sentença – opção tomada para regressar mais rapidamente à Assembleia Legislativa – não é afectado. Segundo o HM conseguiu apurar, Scott Chiang vai enfrentar uma acusação por ter infringido o artigo 14 da Lei de Reunião e Manifestação, ou seja vai acusado do crime pelo qual tinha sido condenado com uma pena de multa de 120 dias, que correspondeu a 27.600 patacas. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) mandou repetir o julgamento porque inicialmente os arguidos eram acusados de um crime de desobediência qualificada e foram condenados por outro crime, sem que houvesse direito ao contraditório. Só quando a juíza Cheong Weng Tong condenou Scott Chiang e Sulu Sou é que foi referida pela primeira vez a possibilidade de serem condenados por reunião e manifestação ilegal. Por este motivo, o TSI considerou que foi feita uma “‘alteração da qualificação jurídico-penal’ sem que ao recorrente tenha sido dada a oportunidade de sobre ela exercer o contraditório, requerendo o que por bem entendesse em sua defesa”. Por seu turno, Sulu Sou foi condenado com uma pena de multa de 120 dias, que corresponde a 40.800 patacas, num processo que levou a que o seu mandato de deputado fosse suspenso pelos outros membros da Assembleia Legislativa. Para colocar um fim à suspensão, o legislador abdicou do recurso e aceitou uma condenação, apesar de manter a versão de que é inocente. Aviões de papel Foi a 15 de Maio de 2016 que a Associação Novo Macau organizou um protesto contra a doação de 100 milhões de yuan por parte da Fundação Macau à Universidade de Jinan. Em causa estava não só o montante, mas um eventual conflito de interesses do Chefe do Executivo, Chui Sai On, que ocuparia o cargo de vice-presidente do Conselho Geral da universidade e de presidente do conselho geral de Curadores da fundação. No dia da manifestação, Scott Chiang, Sulu Sou e um grupo de activistas atiraram aviões de papel para dentro da residência oficial de Chui Sai On, onde pretendiam entregar uma carta, após terem sido impedidos de passar pela polícia. Durante o julgamento, a defesa apontou que a manifestação já tinha terminado por esta altura. No entanto, a juíza Cheong Weng Tong considerou que a manifestação nunca tinha terminado e que os activistas sabiam que não podiam aceder à área, uma vez que esse percurso tinha sido sugerido e rejeitado, no pedido inicial da manifestação.
Casa de Macau em Portugal quer ensinar patuá e ter mais sócios chineses Andreia Sofia Silva - 2 Abr 20192 Abr 2019 Maria de Lurdes Albino não pode voltar a candidatar-se à presidência da Casa de Macau em Portugal, mas pondera participar numa nova lista. Em entrevista concedida em Lisboa, a responsável fala dos projectos que pretende realizar apesar das dificuldades financeiras. O ensino do patuá é um deles, bem como a abertura da Casa de Macau a jovens bolseiros chineses [dropcap]A[/dropcap] vivenda situada na avenida Almirante Gago Coutinho, em Lisboa, deixa adivinhar um espaço cheio de história. A sua decoração interior também. Notam-se uns jornais de Macau em cima da mesa, a tradicional mobília chinesa, a publicidade a eventos ligados a pedaços do Oriente que se realizam na capital portuguesa. No primeiro andar, permanece a sala destinada à pessoa que ocupa o cargo de presidente da Casa de Macau em Portugal (CMP), ainda que seja muito pouco utilizada. Descansam uns móveis doados por macaenses ou associações e sobressaiu um quadro que marca a memória da visita do ex-presidente da República Jorge Sampaio, que acompanhou o processo de transferência de soberania de Macau. As paredes estão ocupadas por quadros de pintores da terra como Herculano Estorninho e fotografias de importantes sócios da casa, como o empresário Ng Fok. No rés-do-chão da casa dispõem-se mais salas onde um grupo de sócios joga bridge uma tarde por semana. A visita guiada pela casa que guarda pedaços de Macau é conduzia por Maria de Lurdes Albino, a actual presidente da CMP que não pode recandidatar-se a um novo mandato, mas que pondera fazer parte de uma lista candidata às próximas eleições. Maria de Lurdes Albino não acompanhou de perto o processo de transição, pois veio jovem estudar para Portugal e por cá casou. Mas nunca perdeu a ligação à sua terra, que visita várias vezes por ano. Roque Choi, importante figura da comunidade chinesa que fazia a ligação com as autoridades portuguesas, era visita frequente da sua casa. Presidente desde 2013 (as últimas eleições foram em 2018), Maria de Lurdes Albino cumpre um segundo triénio de mandato e traça um balanço positivo dos trabalhos associativos que têm sido feitos, mas revela que as dificuldades financeiras foram sempre uma realidade. “Não tem sido fácil fazer a gestão da Casa, mas temos conseguido ultrapassar as situações. Temos as actividades habituais, como as festas de Natal ou da Páscoa, e depois temos outras actividades que organizamos e que nos permitem continuar a auferir algum lucro para continuarmos a desenvolver o nosso trabalho sem grandes oscilações.” Os subsídios chegam da Fundação Casa de Macau, bem como do Conselho das Comunidades Macaenses pela via da Fundação Macau, sempre que há os habituais encontros anuais da comunidade. A CMP sofre de um problema comum a todas as entidades associativas de macaenses espalhadas pelo mundo: a falta de jovens. “Embora os nossos associados tenham uma idade mais avançada, temos conseguido captar pessoas um pouco mais jovens, embora gostássemos de ter ainda mais”, assegurou ao HM. Tal pode passar pela implementação de outro tipo de actividades, “mais ligadas aos interesses dos jovens hoje em dia, como as novas tecnologias, por exemplo”, disse. Contudo, “não existem os meios adequados para tal”, adiantou Maria de Lurdes Albino. “Vamos fazendo o que podemos, com os subsídios que vamos tendo, que são usuais, porque a casa é uma entidade de utilidade pública sem fins lucrativos. Portanto, não podemos ter propriamente actividades que gerem lucros.” Maria de Lurdes Albino tem uma fórmula para renovar a CMP em termos de sócios, que passa “por suscitar o interesse dos jovens bolseiros” chineses que vão temporariamente para Portugal estudar a língua portuguesa ou outras áreas. “Neste momento, não têm grande capacidade de se tornarem sócios, porque estão cá pouco tempo e depois vão embora, mas isso não quer dizer que nós, enquanto direcção, não estejamos a pensar na hipótese de arranjar uma solução em que eles se tornem sócios temporariamente ou, eventualmente, manterem-se depois sócios mesmo regressando a Macau. Estamos a ponderar essa via”, frisou. Dialecto na agenda Numa altura em que o ensino do mandarim está na moda em Portugal, a CMP continua a oferecer cursos de cantonês que, garante Maria de Lurdes Albino, continuam a ser muito procurados. “Neste momento, começa a haver menos interesse pela frequência dos cursos de mandarim e começamos a ter pedidos de cursos de cantonês.” A presidente encontra uma explicação “talvez demasiado simplista” para esse facto. “As pessoas vão muito a Macau. Há quem tenha lá trabalho, porque Macau é mais atractivo para os portugueses devido à existência de uma comunidade portuguesa. Mesmo as pessoas que vão em viagem a Macau ou que vão aos encontros da comunidade e que não são macaenses, ou que não têm raízes, pedem porque precisam de saber falar no dia-a-dia. Neste momento, está a haver uma procura muito grande. Poderá haver outras razões.” Ao nível do ensino de idiomas, a CMP gostaria de abrir cursos de patuá, um objectivo que ainda não foi possível de concretizar. “Temos isso em mente e no nosso plano de actividades, mas é muito difícil de realizar. Fizemos muitos contactos em Lisboa e Portugal, mas não conseguimos arranjar alguém que domine o patuá, porque quem domina o dialecto já são pessoas mais antigas.” “Em Macau não é tanto assim porque houve uma transmissão do patuá entre gerações, mas aqui em Portugal temos esse problema. Não é fácil e já fizemos imensos contactos e ainda não conseguimos. É um projecto que gostava imenso de levar a cabo”, acrescentou a responsável. Maria de Lurdes Albino garantiu que existe muita procura pelo ensino do patuá. “Penso que vamos ter alunos suficientes porque já houve várias pessoas que demonstraram interesse no patuá. Estamos inseridos na sociedade portuguesa e estamos dispersos, e não há muitas pessoas que saibam. Não é fácil passar para outras gerações alguns aspectos da cultura macaense. Mas tenho esperança de que vamos conseguir.” Elogios a Alexis Quando o HM conversou com Maria de Lurdes Albino, Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, tinha recebido há dias o doutoramento Honoris Causa da Universidade de Lisboa. A presidente da CMP esteve presente na cerimónia e dedica os maiores elogios ao governante. “Foi falada essa questão da língua portuguesa em Macau e o estabelecimento de uma ponte entre a cultura portuguesa, através da língua. Estes jovens bolseiros, quando vêm aprender português, chegam a Macau e têm a possibilidade de continuarem os seus estudos de português, e essa é uma via muito importante para manter a cultura portuguesa viva e fazermos a ligação entre as duas culturas.” “Os chineses não têm a cultura de matriz portuguesa, mas já têm alguma aprendizagem que me parece bastante boa para depois dinamizarem em Macau essa ligação e continuarem os seus estudos. Gostei muito de ouvir o doutor Alexis Tam e acho que ele tem feito um excelente trabalho nesse aspecto”, frisou. Maria de Lurdes Albino não quis comentar questões políticas por ser algo que vai contra os estatutos da CMP, mas adiantou que “não há mais ou menos interesse” na língua portuguesa entre os governos de Edmund Ho e Chui Sai On. “Penso que houve sempre bastante interesse da parte do governo da RAEM, com Edmund Ho e Chui Sai On. Não é uma questão de haver mais ou menos interesse, talvez seja uma questão de oportunidades. Durante o mandato de Edmund Ho houve muito interesse demonstrado pela cultura portuguesa, tal como agora haverá. Talvez agora haja um maior impacto em termos de divulgação, devido aos 20 anos da transição”, adiantou. Sucesso da gastronomia De entre as várias actividades que a CMP organiza, os eventos gastronómicos têm imenso sucesso, como comprovam as centenas de pessoas inscritas. “O interesse pela gastronomia é enorme, e quando organizamos aqui eventos temos imensa gente interessada em aprender.” Para Maria de Lurdes Albino, a gastronomia é um ponto chave para responder a uma pergunta que está eternamente sem resposta. “Passamos a vida a debater a questão da identidade, do que é ser macaense, e nunca há uma resposta. Há diversos aspectos que confluem para uma característica diferente, específica em termos culturais, mas é muito difícil definir o que é a identidade macaense. Passa pela definição das várias vertentes. A gastronomia macaense é um dos pontos chave para que não se perca esta identidade. Outra seria o patuá, que seria importante manter.” A presidente da CMP assume não ser muito dada à cozinha, mas ainda guarda consigo muitas das receitas da sua família. Em casa, há sempre um minchi pronto a comer. “Hoje há muitos livros publicados, mas cada família tem a sua forma de cozinhar e as suas próprias receitas, com algumas diferenças. E não havia um conhecimento público do que se fazia. Até que as pessoas resolveram começar a colocar em livros. Quando era miúda havia pessoas que não queriam divulgar as receitas da família, que eram sagradas. É uma pena que não tenhamos a gastronomia macaense mais divulgada.” Os 50 anos da existência da CMP em Portugal comemoraram-se em 2016 com uma festa que reuniu grandes figuras ligadas ao território. Depois de Sampaio, Maria de Lurdes Albino confessa que “gostava de voltar a receber a visita de um governante chinês ou português”.
Presidente da AL reencaminhou carta de Coutinho a Vong Hin Fai João Santos Filipe - 2 Abr 20192 Abr 2019 O presidente do hemiciclo informou José Pereira Coutinho que as dúvidas sobre os trabalhos da 3.ª Comissão Permanente, da qual é membro, podem ser esclarecidas directamente com o presidente dessa comissão [dropcap]O[/dropcap] presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, disse ao deputado José Pereira Coutinho que pode perguntar directamente na 3.ª Comissão Permanente a razão de não se reunirem para debaterem a lei das agências de emprego. Foi esta a resposta ao legislador, após uma carta enviada na semana passada, em que Coutinho procurava saber as razões da comissão dirigida por Vong Hin Fai não se encontrar “há meses” para debater este diploma. Apesar de ter reencaminhado a carta para Vong, Ho Iat Seng recordou a José Pereira Coutinho que ele é um dos membros da comissão em causa e que poderia ter feito a pergunta junto do presidente da Comissão. “Respeito o trabalho e a autonomia das comissões. Como Vossa Excelência é membro da 3.ª Comissão Permanente e participa nos respectivos trabalhos, poderá, directamente, diligenciar junto do Presidente da Comissão, no sentido de se inteirar do andamento do processo legislativo em causa”, escreve Ho Iat Seng. “Agradeço a atenção dispensada por Vossa Excelência em relação à proposta de lei intitulada ‘Lei da actividade de agência de emprego’, e vou fazer chegar o ofício de V. Ex.ª ao Presidente da 3.ª Comissão Permanente”, é acrescentado. Ainda sobre as comissões, Ho Iat Seng recorda que os presidentes da comissões são eleitos pelos deputados e que é aos presidentes que compete organizar os trabalhos, nomeadamente “no que se refere à marcação e condução das reuniões” e “à coordenação dos trabalhos com o Governo e com o Presidente da Assembleia Legislativa”. Reuniões de assessoria Em relação ao andamento dos trabalhos, Ho Iat Seng explicou que no passado dia 6 de Março foi enviada uma nova versão da lei à 3.ª comissão, pelo Governo, e que têm sido feitas reuniões entre os assessores do Governo e da Assembleia Legislativa para estudar e debater a nova proposta. Na carta que tinha enviado sobre os trabalhos da comissão, o deputado ligado à Associação de trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) revelava que a comissão não se encontrava para debater a lei desde Agosto de 2018. Segundo Coutinho, estas reuniões teriam acontecido às “portas fechadas” e desde então não tinha havido novidades. “Entretanto já decorreram vários meses, sendo que a reunião foi em 2 de Agosto de 2018 e esta Comissão ainda está à espera de poder reunir com o Governo sobre as questões pendentes”, foi notado. A comissão tem agendadas duas reuniões até ao dia 18 de Abril, mas nenhuma vai ter como assunto a discussão da lei das agências de emprego.
Navios-escola de Portugal e Espanha repetem viagem de circum-navegação de Magalhães Hoje Macau - 2 Abr 2019 [dropcap]P[/dropcap]ortugal e Espanha apresentaram ontem o programa de acções conjuntas para comemorar os 500 anos da primeira volta ao mundo, da qual faz parte uma viagem de circum-navegação pelos navios-escola “Sagres” (português) e “Juan Sebastián Elcano” (espanhol). O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, e a vice-primeira-ministra espanhola, Carmen Calvo, fizeram ontem em Madrid uma primeira apresentação das comemorações da viagem “comandada” pelo português Fernão da Magalhães e “finalizada” pelo espanhol Juan Sebastián Elcano entre 1519 e 1522. “A expedição foi organizada e financiada pelo Reino de Espanha e concebida e proposta por um navegador português, Fernão de Magalhães”, explicou Santos Silva. O responsável português sublinhou que cada país terá de “interpretar e valorizar a viagem à sua maneira”, sem fazer qualquer referência à polémica inicial, já ultrapassada, quando a imprensa de direita espanhola acusou Portugal de estar a promover uma candidatura unilateral, junto da UNESCO, da viagem de circum-navegação do globo a património da humanidade. “Esta expedição poderia ser considerada como o primeiro grande feito de globalização do nosso planeta”, consideram os Governos português e espanhol numa declaração publicada. A viagem de circum-navegação da rota de Magalhães-Elcano, a empreender entre 2020 e 2021 pelos navios-escola dos dois países é uma das acções previstas no programa que também inclui a candidatura da viagem a Património Mundial da Humanidade “promovida conjuntamente por Portugal e Espanha, juntamente com os demais países da Rota”. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “talvez a actividade que marque mais plenamente o significado desta associação entre” os dois países ibéricos seja a conferência internacional “Oceanos, Conhecimento e Globalização” que terá lugar em Portugal e Espanha no primeiro trimestre de 2021. “A ideia é simplesmente aproveitar-se da circum-navegação como fonte de inspiração para pensar, hoje, o futuro dos oceanos e o futuro da globalização”, considerou Santos Silva, acrescentando que se pode e deve “interpretar Magalhães e Elcano como ponto de partida para pensar a regularização da globalização e o aproveitamento cooperativo e sustentável dos recursos comuns da Humanidade”. Uma exposição itinerante organizada pelos Ministérios da Cultura dos dois países, a co-produção de uma série televisiva, a elaboração de um estudo sobre a “Projecção mundial do espanhol e do português” e a apresentação de uma Declaração dos Ministros da Cultura da União Europeia sobre o significado da circum-navegação são outras acções apresentadas. As embaixadas de Portugal e de Espanha também vão coordenar a organização de actividades conjuntas nos países da Rota de Magalhães-Elcano: Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Filipinas, Brunei, Indonésia, Timor-Leste, Moçambique, África do Sul e Cabo Verde. A participação de Portugal como país convidado na Feira do Livro de Sevilha de 2019 – 23 de Maio a 2 de Junho – subordinada ao tema “Lendo vou, viajando venho” também faz parte das comemorações. “A nossa ambição é que o mundo entenda que há 500 anos um conjunto de homens valentes” fez esta viagem, disse a vice-primeira-ministra espanhola, Carmen Calvo, que também fez referência ao programa do país para as comemorações com “193 actividades”. O programa de acções conjuntas do V centenário da viagem de circum-navegação complementa os programas nacionais que já foram apresentados por Portugal e por Espanha. Nas actividades espanholas destaque para palestras na Sociedade Geográfica de Lisboa, um colóquio sobre literatura de viagens e vários concertos, em Lisboa e na Universidade de Coimbra. A companhia aérea nacional espanhola Iberia também irá baptizar com o nome de Juan Sebastián o próximo avião A350 que receber, mantendo ele essa designação até 2022. Pelo lado de Portugal está previsto, entre outras acções, a construção de uma réplica das naus que constituíram a esquadra de Fernão de Magalhães, a reedições de livros e cartas náuticas, mapas, como o Planisfério de Cantino (1502), conferências científicas e seminários temáticos. Augusto Santos Silva e Carmen Calvo vão repetir a apresentação das comemorações conjuntas esta tarde em Lisboa.
Sarampo | Um em cada dez médicos não estava imune durante surto Diana do Mar - 2 Abr 20192 Abr 2019 Mais de 360 médicos e enfermeiros dos hospitais e centros de saúde não estavam protegidos contra o sarampo durante o recente surto. Todos foram, entretanto, vacinados [dropcap]O[/dropcap]s dados foram revelados ontem pelos próprios Serviços de Saúde: 14 por cento dos médicos e 6 por cento dos enfermeiros não estavam imunes contra o sarampo durante o surto da doença altamente contagiosa, traduzido, desde o início do ano, em 26 casos, dos quais oito envolvendo profissionais de saúde (três médicos, três enfermeiros, um auxiliar de enfermagem e um outro trabalhador), todos pertencentes ao Hospital Kiang Wu. O número facultado pelo director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, foi extraído dos dados recolhidos junto dos profissionais de saúde e apenas fornecido após todos terem sido vacinados. Contas feitas, com base em estatísticas oficiais, não estavam vacinados ou imunes (porque não contraíram a doença anteriormente), 228 de 1.633 médicos e 134 de 2.235 enfermeiros, ou seja, 362. Desconhece-se, porém, a taxa de imunidade ao sarampo de outros profissionais de saúde, como auxiliares de enfermagem. Embora prometidos para a tarde de ontem, os resultados completos do levantamento, levado a cabo através de um inquérito, não foram divulgados até ao fecho desta edição. De recordar que, na semana passada, os Serviços de Saúde reconheceram inicialmente desconhecer a proporção de profissionais de saúde vacinados ou imunes ao sarampo, estimando, depois, com base na taxa de imunidade da população em geral, uma cobertura na ordem dos 95 por cento. À espera de vacinas Segundo dados facultados pelos Serviços de Saúde, só na quinta e na sexta-feira foram administradas mais de 200 vacinas por dia. Vacinas destinadas actualmente apenas aos grupos definidos como prioritários: crianças com menos de 2 anos, pessoal de creches e profissionais de saúde. Macau possui actualmente aproximadamente de 1.300 doses de vacina contra o sarampo, rubéola e parotidite epidémica (papeira), mas encomendou, entretanto, 15 mil doses da vacina. Esta semana deve chegar a primeira remessa de 5.400, um número definido pelo director dos Serviços de Saúde como “suficiente” para responder à actual procura. Relativamente às restantes 9.600 vacinas “não há prazo” estimado de chegada, afirmou Lei Chin Ion, apontando que os fornecedores vão priorizar os países e regiões com surtos de sarampo de maior dimensão. O director dos Serviços de Saúde falava à margem da cerimónia de inauguração do Hospital de Reabilitação de Ká-Hó, em Coloane, que contou com a presença do Chefe do Executivo, Chui Sai On, e do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Nenhum dos dois prestou declarações aos jornalistas. Macau sinalizou, desde o início do ano, 26 casos de sarampo. Todos os pacientes receberam alta hospitalar. Nos últimos quatro dias não houve registo de novos casos. Edifício de infecto-contagiosas sem abertura à vista O edifício de doenças infecto-contagiosas, a nascer junto ao Centro Hospitalar Conde de S. Januário (CHCSJ), ainda não tem data de abertura prevista. Segundo o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, a obra das fundações, que arrancou em 2018, deve estar concluída no próximo ano, não havendo calendário para a abertura. A construção do edifício, junto ao CHCSJ, foi fortemente contestada por moradores da zona, bem como por deputados que defenderam que seria mais conveniente erguer a nova unidade junto ao futuro Hospital das Ilhas, mas em vão.
Fronteiras I António de Castro Caeiro - 2 Abr 201918 Abr 2019 Dedicado a José António Tenedório [dropcap]A[/dropcap] palavra fronteira tem vários sentidos. O primeiro que ocorre é geográfico. A fronteira delimita países geograficamente. Mas historicamente alteram-se tal como diferentes foram os diversos povos que habitaram o espaço delimitado por uma mesma fronteira. Há fronteiras naturalmente geográficas: rios e montanhas. Outras foram forçadas política ou militarmente. O conceito de fronteira tem múltiplas dimensões. Definem-se espaços dentro das fronteiras nacionais e além-fronteiras. Além disso, ser fronteira não define apenas estaticamente localidades, locais, lugares, regiões, províncias terrestres, mas também há fronteiras marítimas que são território nacional de um país e vão muito além do território terrestre. Ser fronteira não é assim definido bem por uma linha geográfica. Ela é difusa ao olhar ainda que bem definida em latitude e longitude. Ser fronteira não é assim um objecto apenas realmente existente. Ao olhar para o globo terrestre como um todo, encontramos morfologias marítimas e terrestres que são as únicas heterogeneidades que encontramos a olho nu. Ser fronteira permite compreender o que é entrar num país e sair de outro país, o que é invadir e defender, acolher e exilar-se, regressar e partir. São muitos os infinitivos que estão conjugados no ser fronteira. A expansão das fronteiras nos impérios historicamente relevantes permite compreender também outros sentidos. Do ponto de vista do império e do invasor colonizador, o projecto para o mundo inteiro é integrar dentro dos seus limites. Do ponto de vista dos colonizados é ter sido invadido e ter perdido a identidade nacional dada pelo corpo definido na anatomia da sua fronteira. Aquém e além, dentro e fora, no interior e no exterior, acolher e libertar são determinações pensadas no fundo da concepção de fronteiras. A cabeça da serpente que era Roma para o seu império tinha as suas fronteiras numa periferia móvel. Um historiador como Tácito compreende o império a partir da relação tensa que há entre a fronteira na Germânia por exemplo e o que se passa na cidade. O arco tenso entre o núcleo duro do senado romano e as fronteiras do império funda o espaço interior estruturante do próprio império. A nossa vida tem diversas fronteiras vitais. Os sítios que habitamos na nossa existência estão localizados num mapa vital que pode ser partilhado com outras pessoas. Enquanto mapa definido pela vida humana desmultiplica-se em múltiplos sítios, lugares, localidades. Há tantos países quantas as pessoas que são naturais dos seus países e uma única pessoa conhece vários países. Há tantos globos terrestres quantas as pessoas que o habitam, ainda que só lhe acedam pelo ângulo particular do canto do olho. Há múltiplos globos terrestres vistos por uma única pessoa conforme o país que habita ou visita apenas e o duplo olhar que se constitui como natural de um país ou como habitante, provisória ou definitivamente, de um outro país. O conceito de fronteira corresponde em certa medida ao conceito de horizonte. Mesmo que compreendamos a existência de fronteiras e elas possam ser efectivamente ultrapassadas, mesmo que consigamos ver fronteiras representadas ou fotografadas na contemporaneidade ou ao longo da história, a interpretação do ser fronteira implica sempre uma vivência existencial do sentido, do que é estar em casa, em segurança, de um modo acolhedor, cómodo, familiar. E por outro lado, o que é projectado para fora dessa comodidade, o que é inóspito e inospitável, o que é estranho, está fora de casa, nos faz sentir como peixes fora de água. Gizamos, assim, as nossas próprias fronteiras ou vemos como elas são projectadas a partir do interior da existência humana. Define-se para nós de algum modo desde sempre o espaço estrutural do que é familiar e nós é próprio, do que nos pertence, e o espaço inóspito do que provoca alienação em nós, nos é estranho e não nos pertence. O espaço desta fronteira é afectivo ou sentimental. As fronteiras alteram-se a partir da intimidade da nossa sensibilidade que nos faz sentir em casa no mesmo sítio que nos faziam sentir não em casa. E vice versa: podemos deixar de nos sentir em casa no mesmo sítio a que outrora chamávamos casa. Há fronteiras delineadas com outros que ficam borradas, quando os outros desaparecem. Há fronteiras definidas com outros, quando não havia nenhuma linha a determinar qualquer horizonte de habitabilidade. Há fronteiras que são imaginadas, quando no passado eram inimagináveis, e passamos a habitar um sítio que é bom de ser habitado. Há mundos perfeitos que desabam por não terem fronteiras afectivas. Não por desaparecerem, mas porque nos lembram cidades fantasma inabitáveis pelos próprios nós que já foramos e não seremos outra vez ou só muito dificilmente. Cada pessoa giza as fronteiras do seu próprio império e tem que se ver com as fronteiras dos impérios que são as existências dos outros. Ao sermos com outros, somos por eles e contra elas, passamos por eles na nossa mais completa indiferença, ou ficamos presos uns aos outros pela ausência de indiferença, quando os outros fazem a diferença e nós fazemos a diferença nas suas vidas. Cruzam-se várias nações com outras pessoas, esboçam-se mundos, refazem-se mundos, desfazem-se mundos, constrói-se impérios e destroem-se impérios. Somos Roma e as zonas limítrofes mais periféricas, de nós mesmos e dos outros. As fronteiras são desenhadas a partir do próprio que é nosso, a partir do interior, da intimidade da nossa própria vida. A vida nas suas múltiplas formas com outros e sem eles, sensibilidades, impactos afectivos, crises emocionais, ganhos e perdas é vista a partir da Roma do império que somos nós com outros até à periferia do mundo inteiro na sua totalidade. É aí que se definem os outros na importância muita, pouca, nenhuma ou total das nossas vidas nas dos outros e das dos outros nas nossas vidas. É nesse interior que se define o ateniense em nós e os bárbaros, os que são nossos e os outros. É aí que nos definimos, que percebemos se riscamos ou não riscamos, se somos importantes, muito, pouco ou nada, ou somos tudo parar os outros. E nós próprios na multidão de gente que somos, na múltipla personalidade que é a nossa, definimos também fronteiras para o nosso eu mais íntimo, aquele mesmo que nós somos, e para os outros eus que desprezamos, de quem temos medo, que segregamos, que não afirmamos ou até negamos que alguma vez tenham existido. À superfície da consciência ou sou quem giza a fronteira entre o aquém de mim e o além de mim, quem eu integro e quem eu expulso. Que fronteiras são estas? Qual é o sentido do ser fronteira em que eu entro e saio, eu integro e expulso, eu segrego e acolho? Cancelar-me-ei de mim próprio ou estou sempre continuamente numa posição de apropriação? E a fronteira da vida que é o seu limite, o além, depois da morte?
Joseph Lau quer que tribunais evitem extradição para Macau João Santos Filipe - 2 Abr 20192 Abr 2019 Os advogados do empresário fizeram entrar um pedido em tribunal para evitar a possível entrega para cumprimento de pena em Macau. Lau foi condenado por corrupção activa para acto ilícito e branqueamento de capitais e tem uma pena de 5 anos e 3 meses por cumprir [dropcap]O[/dropcap] empresário Joseph Lau quer garantias de que não poderá ser entregue a Macau ao abrigo da nova proposta de lei de extradição em Hong Kong, que vai permitir o envio de fugitivos para o Interior da China, Macau e Taiwan. A revelação foi feita ontem pelo escritório de advogados Sit, Fung, Kwong e Shum, em representação de Lau, que fez entrar um pedido na primeira instância do Tribunal Superior de Hong Kong, para que sejam feitas alterações à proposta de lei. Joseph Lau foi condenado em Macau a uma pena de 5 anos e 3 meses devido à prática de um crime de corrupção activa para acto ilício e de um crime de branqueamento de capitais. Como o empresário está actualmente em Hong Kong e não há acordo de entrega de fugitivos, não pode ser enviado para Macau, onde é procurado para cumprir pena. No entanto, com o Governo de Carrie Lam a querer aprovar uma lei para que a entrega de fugitivos possa ser feita com jurisdições com as quais não há este tipo de acordos, onde se incluem Macau e o Interior da China, a porta para a transferir Lau pode mesmo abrir-se. É este o cenário que os advogados do multimilionário pretendem afastar. Segundo o pedido, cujo conteúdo foi publicado na integra pelo portal Hong Kong Free Press, os representantes legais do magnata pretendem assegurar algumas garantias. A primeira é que se declare que a entrega do empresário é contrária à Carta dos Direitos de Hong Kong. Em causa está o artigo número 10, que define o direito à “igualdade perante os tribunais e a um julgamento justo e aberto ao público, mas também o artigo 5, que define o direito à liberdade e à prisão dentro de condições justas e pré-definidas. Sem retroactivos Mas no caso da proposta do Governo de Hong Kong ser aprovada sem alterações ao texto actual, os advogados de Joseph Lau querem uma declaração dos tribunais a dizer que não se aplica de forma retroactiva, ou seja, que apenas incida sobre casos que se registem após a entrada em vigor da lei. A primeira sessão de discussão do diploma está agendada para amanhã no Conselho Legislativo, o órgão legislativo de Hong Kong. Também a secretária da Justiça do Executivo de Hong Kong, Theresa Chang, recebeu uma cópia dos pedidos que entraram em tribunal. O Executivo de Hong Kong decidiu apresentar esta proposta de extradição em resposta ao alegado homicídio cometido por um residente de Hong Kong que terá assassinado a namorada, que estava grávida. O crime aconteceu em Fevereiro do ano passado e o suspeito conseguiu regressar a Hong Kong, escapando à justiça taiwanesa. Apesar dos pedidos das autoridades taiwanesas, e face à inexistência de acordo de extradição entre as duas regiões, o adolescente de 19 anos não foi enviado para Taiwan. A proposta de alteração legal que será apreciada pelos legisladores de Hong Kong visa colmatar estas lacunas de cooperação judiciária.
Seul inicia trabalhos para exumação de vítimas da guerra Hoje Macau - 2 Abr 2019 A operação de investigação dos restos mortais das vítimas da Guerra da Coreia foi decidida durante o encontro entre o Presidente sul-coreano Moon Jae-in, e o líder norte-coreano, Kim Jong-um, em Setembro do ano passado [dropcap]A[/dropcap] Coreia do Sul lançou ontem o trabalho preparatório na zona desmilitarizada (DMZ) para a exumação dos restos mortais das vítimas da Guerra da Coreia (1950-1953), apesar do silêncio de Pyongyang, que inicialmente concordou em participar neste projecto. O Ministério da Defesa da Coreia do Sul divulgou que a Coreia do Norte não respondeu aos seus apelos e que o exército sul-coreano iniciaria hoje [ontem] o trabalho preparatório de escavação ao sul da zona desmilitarizada entre os dois países. “Estamos a lançar os preparativos para que esta possa tornar-se uma operação norte-sul, assim que a Coreia do Norte responda”, disse aos jornalistas o porta-voz adjunto do Ministério, Roh Jae-cheon. Esta operação foi decidida em Setembro, durante uma cimeira em Pyongyang entre o Presidente sul-coreano Moon Jae-in, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Os dois líderes haviam assinado um acordo militar para contribuir para a redução das tensões na península norte-coreana, prevendo-se ainda que uma centena de pessoas de ambos os lados participaria nas operações de investigação dos restos mortais entre 1 de Abril e 31 de Outubro. No entanto, nenhum progresso foi feito desde então sobre a questão fundamental da desnuclearização na península coreana. Banho-maria Kim e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniram-se em Hanói em Fevereiro numa cimeira que terminou sem uma declaração conjunta, fracasso que lançou uma sombra sobre as perspectivas de cooperação entre as Coreias. Moon, que se reuniu com Kim três vezes em 2018, promove há muito uma maior cooperação com os norte-coreanos para reverter os anos de tensão entre os dois países. O Presidente sul-coreano desempenhou um papel fundamental na reaproximação excepcional entre Pyongyang e Washington. Numa reunião de ontem com os seus principais conselheiros, Moon disse que o fracasso da cimeira de Hanói representou uma “dificuldade temporária”. “Foi confirmado que a Coreia do Sul, a Coreia do Norte e os Estados Unidos não pretendem voltar atrás”, disse Moon. O Presidente sul-coreano vai visitar Washington na próxima semana. Moon disse que esta rápida reunião organizada com Trump mostra que os dois aliados querem relançar “a dinâmica do diálogo o mais rápido possível”.
Director do IHMT | Malária continua um grande problema em todos os países africanos lusófonos Hoje Macau - 2 Abr 20191 Abr 2019 [dropcap]O[/dropcap] director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Paulo Ferrinho, defende que a malária continua um grande problema em todos os países africanos lusófonos e um desafio maior em matéria de doenças tropicais. “A malária continua a ser um grande problema em todos os países lusófonos em África, sem excepção. Não podemos dizer que a situação está controlada e, em situações de crise, como a que temos agora em Moçambique, com cheias, esperamos um agravamento da situação”, disse Paulo Ferrinho, em entrevista à agência Lusa. “A malária continua realmente a ser o nosso grande desafio”, acrescentou. Mais de 90% dos 219 milhões de casos de malária de 2017 e das 435.000 vítimas mortais registaram-se no continente africano, a maioria crianças com menos de cinco anos. Moçambique é o único país lusófono que no grupo de 11 países em que se registaram 70% de casos (151 milhões) e mortes (274 mil) em 2017 e, por isso, foi escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aplicar uma nova estratégia de combate à doença. É o país com a terceira maior percentagem (5%) de casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas), segundo o relatório anual sobre a doença divulgado em Novembro pela OMS. Angola surge em 13.º lugar com 2% do total mundial de casos. A Guiné-Bissau registou cerca de 144 mil casos suspeitos de malária em 2017 e 296 mortes, segundo o relatório. No pólo oposto, entre os países próximos da erradicação da doença está Cabo Verde, que registou, no entanto, em 2017, um surto de paludismo, concentrado sobretudo na ilha de Santiago, com 423 casos – incluindo uma vítima mortal -, nove vezes mais do que os registados no ano anterior. São Tomé e Príncipe está também próximo da erradicação da doença, com cerca de 2.240 casos suspeitos e sem registo de mortes. O director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) falava, à Lusa, antecipando o 5.º Congresso Nacional de Medicina Tropical, que vai reunir, em Lisboa, de 10 a 12 de Abril, especialistas lusófonos, europeus e de outros países para debater as políticas e serviços de saúde no espaço da lusofonia. Paulo Ferrinho alertou também para a existência nestes países de outras doenças transmitidas por mosquitos (veCtores) “que vão ganhando terreno”. “Em Angola, temos dengue, Zika, chikungunya, febre-amarela. São doenças que também estão presentes na Guiné-Bissau, mas algumas ainda não estão presentes em Moçambique, onde o grande problema é a malária em todo o território nacional, mas sobre o dengue só temos conhecimento em Nampula, no Norte”, disse. O reforço dos sistemas de saúde e a promoção do acesso universal à saúde, com ênfase nos sistemas de saúde dos países lusófonos em África, será o foco do congresso, que irá ainda abordar a saúde dos viajantes nestes países e as migrações para a Europa. Nesse sentido, explicou Paulo Ferrinho, estarão em análise aspectos “considerados os principais estrangulamentos” dos sistemas de saúde, nomeadamente a formação, planeamento e recursos humanos em saúde, a regulação económica do sector ou o apoio laboratorial aos serviços de saúde. “Vamos ter uma sessão sobre serviços de saúde para viajantes nos países lusófonos. Será uma primeira vez em que vamos fazer um levantamento do que é que se faz nos países lusófonos em relação à saúde dos viajantes. Vamos ter também uma sessão sobre migrantes, olhando para os migrantes de acordo com as necessidades em trânsito para os países de acolhimento, quais as dificuldades e o que se faz para apoiar e acolher esses migrantes”, disse. Há tendência de globalização de doenças antes restritas ao trópicos Paulo Ferrinho, alertou, em entrevista à agência Lusa, para a tendência de globalização das doenças tropicais, admitindo a possibilidade de “surtos esporádicos” de malária na Europa. “A tendência actual das doenças tropicais é de uma convergência cada vez maior entre o tropical e o global. É cada vez mais difícil separar o tropical do global por causa das alterações de contexto, desde as alterações climáticas, à mobilidade das populações, das mercadorias e dos vectores (mosquitos), o que leva à globalização de doenças que antes estavam restritas aos trópicos”, disse Paulo Ferrinho. O especialista em saúde pública e medicina tropical assinalou que o agente vector (aedes albopictus) de várias destas doenças “é um invasor destemido, que avança mundo fora” e já está “a penetrar na Europa”. “Ao entrar na Europa, criou alguns surtos de doenças transmitidas por vectores, como a chikungunya, em alguns países europeus. Já temos o aedes albopictus em Portugal e temos de estar atentos para o controlar e para que não se instalem em Portugal doenças que até há pouco tempo eram tropicais”, acrescentou. Paulo Ferrinho lembrou que o vírus da sida, que surgiu na República Democrática do Congo, levou 80 anos a globalizar-se, mas alertou que a disseminação de doenças pode ser hoje muito mais rápida. “Há risco de termos surtos esporádicos de malária na Europa. Aliás, já tivemos, por exemplo, na Grécia e em Itália. O vector existe e é preciso estar atento e aconselhar os viajantes sobre como se comportar quando se deslocam a países de risco, mas também estar atentos aos migrantes desses países”, afirmou. Cerca de mil milhões de pessoas ficarão expostas a doenças como a febre dengue se o aquecimento global continuar, segundo um estudo científico publicado, na quarta-feira, no boletim científico PLOS, que se baseou no registo mensal das temperaturas mundiais. Os cientistas concluíram que as doenças de climas tropicais estão em expansão e atingirão zonas do globo com climas actualmente menos favoráveis aos mosquitos, porque os vírus que estes propagam provocam epidemias explosivas quando se verificam as condições certas. Fundado em 1902, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) dedica-se ao ensino e à investigação da saúde pública, medicina tropical, ciências biomédicas e epidemiologia, com especial incidência na ligação com os países de língua oficial portuguesa.
Nova Zelândia | Pequim pede ambiente de investimento justo e transparente Hoje Macau - 2 Abr 2019 A pressão do primeiro-ministro chinês sobre a sua homóloga neo-zelandesa, que se encontra de visita a Pequim, surge na sequência das restrições impostas por Wellington à utilização de equipamentos da Huawei no desenvolvimento da rede 5G no país [dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro da China, Li Keqiang, pediu ontem à homóloga da Nova Zelândia que assegure um ambiente de investimento “justo, transparente e conveniente”, depois de Wellington ter imposto restrições à gigante chinesa das telecomunicações Huawei. As relações bilaterais deterioraram-se nos últimos meses, depois de os serviços secretos da Nova Zelândia terem impedido a empresa nacional de telecomunicações Spark de usar equipamento da Huawei no desenvolvimento de redes de Quinta Geração (5G). No início de um encontro com Jacinda Ardern, em Pequim, Li Keqiang não mencionou a Huawei, mas disse que a China quer melhorar as relações para servir os interesses das empresas de ambos os lados. “A China está disposta a, com base no respeito mútuo e igualdade de tratamento, elevar a confiança política mútua com a Nova Zelândia, expandir a cooperação prática e aumentar o intercâmbio humano”, disse Li a Ardern, no Grande Palácio do Povo, após uma cerimónia formal de boas-vindas. “Esperamos que (…) quando as empresas de cada lado investem em negócios do outro, possam desfrutar de um ambiente justo, transparente e conveniente”, disse. Acordos assinados Nas suas declarações públicas, Ardern não abordou questões sobre investimento, mas agradeceu a Li por expressar condolências pelo ataque que matou 50 fiéis, em duas mesquitas, na Nova Zelândia. A primeira-ministra nova-zelandesa reunir-se ontem com o Presidente chinês, Xi Jinping, depois de a visita ter sido encurtada devido aos ataques de 15 de Março. No entanto, Ardern disse que, apesar do momento, manteve a visita a Pequim “para sublinhar a importância” que a Nova Zelândia atribui ao relacionamento com a China. “É uma das relações mais importantes e de maior alcance para nós, um ponto que frisei nos meus discursos públicos, no ano passado”, disse. Após a reunião, os dois líderes assistiram à assinatura de acordos nas áreas agricultura, intercâmbio financeiro, ciência e pesquisa, e para evitar a dupla tributação. Repúdio nacional A decisão dos serviços de inteligência da Nova Zelândia de restringir o uso de equipamento da Huawei, por representar um “risco significativo para a segurança”, provocou indignação na China. A imprensa estatal chinesa condenou a decisão e ameaçou com retaliação económica. A China é o maior parceiro comercial da Nova Zelândia e um importante mercado para os produtos lácteos e outros produtos agrícolas do país. Segundo o Governo da Nova Zelândia, o comércio entre os dois países quase triplicou nos últimos dez anos, desde que um acordo de livre comércio entrou em vigor, em 2008. No mês passado, Ardern disse que não foi ainda tomada uma decisão final sobre o uso de equipamento da Huawei na rede 5G do país. As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas, pelo que vários Governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional.