Crime | Perde 150 mil yuan após conversar nu

Um residente foi chantageado em 150 mil yuan, depois de ter aceitado conversar nu num telefonema com uma “amiga” virtual, durante cerca de um minuto.

O caso foi divulgado ontem pela Polícia Judiciária (PJ) e citado pelo jornal Ou Mun. Após ter aceitado participar na conversação sem roupas, a “amiga” desligou a chamada e enviou uma mensagem à vítima a pedir 10 mil yuan para não divulgar online as imagens. O homem aceitou pagar.

Após ter feito o primeiro pagamento, recebeu mais três chamadas de outras três pessoas, a pedir mais dinheiro. Com receio de ver as imagens divulgadas, o homem fez uma nova transferência de 140 mil yuan, através de um código QR. Com receio de receber novos pedidos de transferências, o homem acabou por contactar as autoridades e relatar o crime. O dinheiro ainda não foi recuperado, nem houve detidos.

Caso MCB | Empréstimos justificados com apoios na pandemia

A ex-presidente do Banco Chinês de Macau, Yau Wai Chu, justificou os empréstimos feitos a várias empresas ligadas a familiares e amigos de Liu Wai Gui, com os apoios à economia e a crença de que as companhias teriam capacidade para devolver o dinheiro

 

Apoios para ajudar as empresas que atravessavam dificuldades durante a pandemia. Foi desta forma que Yau Wai Chu, ex-presidente do Banco Chinês de Macau (MCB na sigla em inglês), justificou vários empréstimos aprovados para empresas de familiares do arguido Liu Wai Gui.

As declarações foram prestadas durante o segundo dia do caso MCB, que decorre no Tribunal Judicial de Base e tem como principais arguidos Yau Wai Chi e Liu Wai Gui. De acordo com a acusação, os dois criaram uma associação criminosa, com apoio de familiares de Liu, e utilizaram empresas fictícias para pedir empréstimos junto do banco e apropriarem-se de dinheiro da instituição. O esquema terá causado perdas de 456 milhões de patacas ao banco.

Segundo o jornal All About Macau, Yau Wai Chi foi confrontada com vários empréstimos feitos a empresas de familiares de Liu Wai Gui que não ofereciam garantias financeiras.

Além da restruturação da dívida à Companhia de Engenharia Junpam, de Liu Wai Gui, que atingiu 120 milhões de patacas, Yau foi questionada sobre o aumento do crédito concedido à empresa Fong Si (tradução fonética), propriedade de Ng Hong, primo de Liu Wai Gui. Este crédito foi aumentado de 13 milhões de patacas para 27 milhões de patacas. O delegado do Procurador do Ministério Público, Pao In Hang questionou os motivos do empréstimo ser aumentado, quando Ng tinha mais de 5 milhões de patacas em créditos pessoais por pagar.

A ex-presidente do Banco Chinês de Macau teve igualmente de responder sobre um empréstimo de 60 milhões de patacas à empresa Ian Pok Kuok Tsai (tradução fonética), propriedade de Liu e da sua irmã, apesar de, segundo o delegado do procurador, a companhia não ter qualquer actividade.

Em cima da mesa, esteve ainda o crédito de 130 milhões à empresa Ou In Chi Si, que tinha como accionista Bobo Ng, madrinha de Liu Wai Gui e ex-proprietária do jornal Hou Kong.

Perspectivas futuras

Por sua vez, Yau Wai Chi insistiu que a aprovação dos empréstimos teve por base os planos de negócios das empresas, considerados viáveis, mas também diferentes garantias sobre a capacidade dos empréstimos serem devolvidos.

A ex-presidente do MCB afirmou que durante a pandemia, a política de empréstimos dos bancos visou apoiar as empresas que estivessem em dificuldades, quando se acreditava que as empresas teriam capacidade para dar a volta à situação.

Sobre Liu Wai Gui, a arguida indicou que este apresentou provas de estar a trabalhar com diferentes concessionárias do jogo e que os negócios lhe estavam a correr bem, a partir do momento em que abdicou de tentar fazer grandes obras e começou a aceitar trabalhos de menor dimensão. No entanto, Yau recusou ser amiga de Liu, que na sessão anterior do julgamento até acusou de a ter enganado. Ao contrário de Yau, que está em prisão preventiva, Liu Wai Gui está a ser julgado à revelia, não se encontrando em Macau.

A ex-presidente do banco foi igualmente questionada sobre a alteração ao método de aprovação dos empréstimos. O modelo que exigia uma decisão colectiva, de vários membros do conselho administrativo. Contudo, foi alterado, com Yau Wai Chi a concentrar todas as decisões. Sobre este aspecto, a ex-presidente afirmou que a mudança resultou da decisão de todo o conselho de administração, apesar de ter sido ela a apresentar a proposta.

Droga | Planta canábis em casa e apanha nove anos de prisão

Um residente foi condenado a nove anos e três meses de prisão depois de ter sido apanhado com plantações de canábis em casa. O caso remonta a 2021, quando o homem adquiriu “esporos de canábis e plantou-os na sua residência em Macau conforme as informações da internet”, descreve o acórdão.

Em Março de 2022, com o intuito de expandir a plantação, o arguido arrendou uma fracção de um edifício industrial, tendo “consumido a droga colhida em Macau várias vezes”, além de deter utensílios para consumo. Além disso, vendeu “sem autorização, ofereceu ou pôs à venda a supracitada droga canábis plantada por si a outrem por várias vezes”.

Na primeira instância, o homem foi condenado a 12 anos de prisão, por cúmulo jurídico, pela prática de um crime de “produção ilícita de estupefacientes”, um crime de “tráfico ilícito de estupefacientes” e ainda um crime de “detenção indevida de utensílio”. Porém, na apresentação do recurso para o Tribunal de Segunda Instância, a pena foi reduzida para nove anos e três meses, sendo o homem absolvido do crime de tráfico ilícito de estupefacientes. Não conformados, tanto o homem como o Ministério Público recorreram para o Tribunal de Última Instância (TUI), que resolveu manter a pena.

Burlas | Quatro membros de grupo em prisão preventiva

A Justiça de Macau aplicou prisão preventiva a quatro alegados membros de um grupo criminoso dedicado a burlas telefónicas. Os arguidos, oriundos do Interior da China, podem ser condenados a penas até 10 anos de prisão

 

Quatro dos cinco membros de um grupo de burlões detidos recentemente vão esperar julgamento em prisão preventiva, segundo informação divulgada pelo Ministério Público (MP), enquanto o quinto elemento ficou sujeito a termo de identidade e residência. O MP acrescenta que o Juiz de Instrução Criminal justificou as medidas de coacção aplicadas com o objectivo de evitar a fuga de Macau, “a continuação da prática de actividade criminosa da mesma natureza, bem como a perturbação da ordem processual e tranquilidade social”.

Indiciados pelos crimes de burla de valor consideravelmente elevado (superior a 150 mil patacas), e burla de valor elevado (mais de 30 mil patacas), os arguidos podem ser condenados a penas de prisão entre cinco e 10 anos.

Para já, a investigação autoridades ao grupo em questão relevou “dois casos recentes de burla telefónica”, com duas vítimas burladas em 120 mil dólares de Hong Kong e 240 mil patacas.

Os cinco indivíduos do Interior da China “fizeram-se passar por familiares dos dois ofendidos em chamadas telefónicas, alegando a necessidade urgente de dinheiro para caução e indemnização devido a um suposto incidente de agressão”, releva o MP. Após o contacto, as vítimas seguiram as instruções dos arguidos e entregaram o dinheiro a um membro do grupo que se apresentou como advogado.

O não caso

Após conversarem com familiares, as vítimas do esquema perceberam que foram enganadas e acabaram por denunciar o caso à polícia. Também depois das duas burlas, outro cidadão de Macau recebeu uma chamada semelhante e reconheceu a tentativa de burla, acabando por denunciar a ocorrência às autoridades. O MP realçou que a apresentação rápida da denúncia permitiu o “acompanhamento e investigação em tempo útil por parte da polícia” e a detenção dos cinco membros do grupo.

O MP salientou ainda que este tipo de crime “prejudica gravemente não só a segurança do património dos cidadãos como também a ordem social, daí que se torna necessária a colaboração concertada de todas as partes da sociedade para a prevenção e luta contra o crime”.

Além dos crimes resultantes do acesso a dados bancários e esquemas on-line, as burlas telefónicas, em que os suspeitos se fazem passar por funcionários do Governo ou de polícias, têm aumentado e passaram a ser um dos destaques das estatísticas da criminalidade em Macau.

Restauração | Negócios com quebra superior 10% em Agosto

Em comparação com Agosto de 2023, os restaurantes de comida chinesa queixam-se de uma redução do volume de negócios de 16,6 por cento. No comércio a retalho, as quebras foram superiores a 20 por cento

 

No passado mês de Agosto, o sector da restauração sofreu uma quebra de 10,2 por cento do volume de negócios, face a Agosto do ano passado, de acordo com o “inquérito de conjuntura à restauração e ao comércio a retalho referente a Agosto de 2024”, elaborado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Segundos os dados mais recentes, os proprietários de restaurantes de gastronomia chinesa sentiram o maior impacto com a redução do negócio, que atingiu 16,6 por cento, face ao período homólogo. Este número significa que por cada dez patacas que recebiam em Agosto de 2023 no negócio, os restaurantes perderam 1,6 patacas e passaram a receber 8,4 patacas, em Agosto.

O comunicado da DSEC não refere a tendência em termos anuais para os restantes tipos de restauração, como os restaurantes que oferecerem outras gastronomias asiáticas ou ocidentais, mas indica que “o volume de negócios dos proprietários entrevistados [para o inquérito] de todos os tipos de restauração desceu em termos anuais”.

Em termos mensais, a DSEC indicou que o volume de negócios dos proprietários da restauração cresceu 2,6 por cento em Agosto face a Julho. “Salienta-se que o volume de negócios dos restaurantes ocidentais subiu 2,3 por cento, porém, o dos restaurantes japoneses e coreanos diminuiu 1,1 por cento”, foi apontado.

As perspectivas para Setembro, cujos dados ainda não foram revelados, também não são optimistas, com 53 por cento dos empresários da restauração admitiram à DSEC que esperam nova redução do volume de negócios.

Tendência geral

A redução anual do volume de negócios não se fica pela restauração e abrangeu igualmente o “comércio a retalho”. “No mês em análise o volume de negócios dos retalhistas entrevistados baixou 22,2 por cento, em termos anuais”, consta no comunicado da DSEC. “O volume de negócios dos relógios e joalharia, dos produtos cosméticos e de higiene, bem como das mercadorias de armazéns e quinquilharias caíram 37,3 por cento, 22 por cento e 21,5 por cento”, foi acrescentado.

Os supermercados apresentaram uma maior resistência à quebra do consumo, dado que o volume de negócios cresceu 0,1 por cento.

Em relação a Setembro, 47 por cento dos retalhistas anteviram uma nova redução no volume de negócios, com o pessimismo imperar nos sectores das quinquilharias e dos produtos cosméticos e de higiene, em que 75 por cento e 70 por cento dos empresários esperavam novas reduções nos negócios.

Encontro | Ho Iat Seng recebeu Erwin Neher, Nobel da Medicina de 1991

Ho Iat Seng teve um encontro com Erwin Neher, prémio Nobel da Medicina em 1991, que colabora desde 2016 com a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês), como dirigente do Laboratório de Biofísica e Medicamentos Inovadores.

Segundo o Gabinete de Comunicação Social, durante a reunião, o alemão Neher prometeu “empenhar todos os esforços em promover a cooperação académica internacional” em Macau, “liderar a equipa de investigação científica” do laboratório na acumulação de mais experiência e comprometeu-se a “promover o desenvolvimento de alta qualidade de medicamentos inovadores” no território. Neher terá ainda dito que vai promover “o equilíbrio do desenvolvimento entre a formação de quadros qualificados e a popularização das ciências”.

Por sua vez, Ho Iat Seng terá começado por dar os parabéns ao investigador, por ter sido “agraciado com o Prémio de Amizade do Governo Chinês”. Este foi o primeiro prémio do género atribuído a um académico estrangeiro a viver em Macau ou Hong Kong. Ho terá também agradecido ao alemão por apoiar o desenvolvimento nacional e contribuir para a construção de uma universidade de alto nível na RAEM. “A educação é muito importante e Macau reúne condições em atrair mais quadros qualificados locais e do exterior, fornecendo um forte suporte para o desenvolvimento socioeconómico de Macau”, complementou o Chefe do Executivo.

Erwin Neher foi distinguido em 1991 com Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina, devido à investigação no âmbito das funções dos canais iónicos nas células do corpo humano.

MIF | Feira registou aumento de 14% de participantes

Terminou no sábado a 29.ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF) e a Exposição de Franquia de Macau (MFE), que durante quatro dias atraíram um total de 66 mil visitantes, dos quais 9.600 eram visitantes profissionais, representando um aumento de 14 por cento em relação ao ano passado.

O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) salientou os “mais de mil encontros comerciais” e a assinatura de 103 acordos de cooperação (quase metade dos acordos envolveram as quatro indústrias prioritárias para a diversificação económica).

Ainda antes das feiras, 18 empresas afirmaram a intenção de estabelecer-se em Macau, sete das quais concluíram as formalidades relevantes durante a MIF e a MFE. Além disso, mais 22 empresas indicaram ter um plano de estabelecimento em Macau durante os contactos realizados no período das exposições.

As duas exposições deste ano contaram com quatro pavilhões e dez zonas de exposição, numa área total de exposição de 38.000 metros quadrados, atraindo mais de 1.300 expositores provenientes de 18 países e regiões.

Economia | Agência portuguesa procura tecnológica chinesa

A agência de promoção de investimento de Oeiras veio a Macau atrair tecnológicas chinesas para um parque empresarial cuja construção deverá começar este ano. Na deslocação à RAEM, a agência foi representada pelo seu presidente António Martins da Cruz, ex-ministro do Governo de Durão Barroso

 

O presidente da Oeiras Valley Investment Agency (OVIA), António Martins da Cruz, disse que o concelho do distrito de Lisboa “está interessado em captar mais investimento, sobretudo da área tecnológica e da área da construção”.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo liderado por Durão Barroso recordou que Oeiras já tem “o maior investimento chinês para 2025” em Portugal, um parque empresarial e habitacional, com 18 edifícios, cuja construção das infra-estruturas deverá arrancar “provavelmente já este ano”.

Este projecto é uma parceria entre a subsidiária em Macau da maior construtora do mundo, a estatal China State Construction Engineering Corporation (CSCEC) e o grupo português Teixeira Duarte. “Mas há oportunidade de mais investimentos aproveitando a capacidade que têm as empresas chinesas desta área da Grande Baía”, defendeu Martins da Cruz.

Uma cidade rotunda

No sábado, a delegação de Oeiras teve a agenda preenchida com reuniões com várias empresas na vizinha Hengqin (ilha de Montanha), que “estão interessadas em ir para Portugal, quer investir, quer encontrar parcerias”, disse o presidente da OVIA. “Macau é obviamente a plataforma obrigatória para os portugueses, é uma janela de oportunidade que nós queremos aproveitar”, sublinhou Martins da Cruz.

Recorde-se que a China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003 e, nesse mesmo ano, criou o Fórum de Macau. Este mecanismo multilateral integra, além da China, nove países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Martins da Cruz disse que, quando o parque empresarial em Oeiras estiver terminado, o que deverá demorar até três anos, deverá sobretudo acolher empresas chinesas, mas sublinhou que o projecto “está obviamente aberto a todas as empresas”. “A nossa mensagem é clara: Querem investir na União Europeia? Venham para Portugal e venham para Oeiras”, disse o presidente da OVIA.

Martins da Cruz falou aos jornalistas à margem de um workshop sobre a OVIA realizado na Universidade Cidade de Macau. A delegação de Oeiras visitou também, na semana passada, a Feira Internacional de Macau, cuja 29.ª edição terminou no sábado.

Cláudia Ribeiro, autora: “A Europa parece um museu”

Autora do livro “No Dorso do Dragão”, Cláudia Ribeiro viveu na China nos anos 80, fez investigações independentes no país e algumas traduções de chinês para português. Ao HM, explica que, para perceber a China, é preciso ir além do taoísmo e confucionismo. Cláudia Ribeiro abordou estes temas na última quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa

 

Como começou o interesse pelos estudos asiáticos, sobretudo pela China?

Começou na mais baixa infância. O fascínio com os caracteres chineses começou quando os vi pela primeira vez nos créditos de um filme de animação japonês, “O pequeno príncipe e o dragão das oito cabeças”, de 1963. Devia ter cerca de seis anos e fiquei colada à cadeira, extasiada, a olhar para os caracteres dos créditos. Pouco tempo depois li “O Loto Azul”, a aventura de Tintim na China e, de novo, fiquei fascinada com os caracteres e com a China e os chineses. Mas, já antes dos caracteres, lembro-me de uma arca chinesa lacada na casa de uma velha senhora. Os objectos criados pelos chineses atraíam-me. E japoneses. Quanto aos Estudos Asiáticos enquanto área de conhecimento, era algo totalmente fora do meu radar na época em que ingressei na faculdade. Essa opção, simplesmente, não existia em Portugal e não existiu durante as duas décadas seguintes. Havia um curso livre de chinês na Faculdade de Letras, leccionado por Alexandre Li Ching. Claro que me inscrevi e com uma alegria louca. Nos anos 1980, era o único local em todo o país onde era possível aprender chinês.

Quais as primeiras dificuldades que sentiu quando chegou à China?

As normais com que nos deparamos quando se vai viver para um país diferente pela primeira vez. Encontrava-me numa universidade e, portanto, tinha colegas ocidentais e japoneses que já lá estavam há mais tempo e que transmitiam informação aos novatos. Depois, foi adquirir novos hábitos, estoicos. O que me custou foi o frio, sou africana.

Foi desafiante o contacto com uma cultura e línguas tão diferentes?

Fui para lá precisamente em busca desse desafio. Queria contactar com aquela língua e aquela cultura diferente. Nasci e cresci nos anos finais da Angola colonial, no Lubango. Quando vim para Portugal, durante o processo de descolonização, tive de me adaptar a um país e a um povo muitíssimo diferentes de Angola e dos brancos nascidos na Angola colonial. Sentia uma falta tremenda de viver com outros povos e culturas. Felizmente, Portugal tem-se vindo a tornar num país multi-étnico e multi-cultural, o que é muito mais interessante.

No Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) falou sobre a China como a conheceu, nos anos 80. Como era encarado o estrangeiro nessa época?

Estive na China como estudante de chinês interessada em “viver” o país. Era a era de Deng Xiaoping, uma China a dar os primeiros passos para sair de um nível de vida muito humilde e a pressentir já um futuro diferente, pelo qual os chineses, em especial os jovens, ansiavam com impaciência. Era, por isso, uma época de esperança. Havia maior liberdade de expressão e muitas mudanças a terem lugar a nível económico e cultural.

Como se denotava essa liberdade?

Havia uma abertura, cautelosa, a actuações de músicos pop, como os Wham!, e exposições de artistas contemporâneos ocidentais, como Robert Rauschenberg. Foi a década em que floresceu a arte contemporânea chinesa e em que resmas de livros de filósofos, historiadores e escritores ocidentais eram traduzidas, publicadas e lidas com sofreguidão. Era também uma China onde os chineses ainda não podiam viajar livremente. O seu contacto com ocidentais tinha sido muito limitado e a maioria da população olhava-os como se fossem extraterrestres. A curiosidade por eles era desmedida, sobretudo se fossem americanos. Os chineses gostam da riqueza material e julgavam que todos os americanos eram ricos, como tinham visto na série televisiva “Dallas”. Queriam muito saber se tínhamos carro, frigorífico, televisão e quanto tinham custado. O frigorífico era ainda um luxo e o carro particular um bem muitíssimo difícil de adquirir. Os chineses moviam-se a bicicleta e transportes públicos.

Publicou “No Dorso do Dragão” em 2001, que fala dessa experiência. Que diferenças destaca na China entre a data da publicação do livro e o período actual?

Publiquei, entretanto, uma versão revista desse livro em 2023. “No Dorso do Dragão” foi escrito entre 1995 e 1998, e quando o estava a escrever a China já era diferente daquela em que eu tinha vivido. A China é sempre um mesmo-outro, desenvolve-se por camadas e, se raspamos um pouco, afloramos o seu passado. Há muitos aspectos em que permanece idêntica, e muitos outros em que se tornou diferente. É um país que retirou da pobreza 850 milhões de pessoas em quarenta anos, um feito absolutamente extraordinário e que nunca é demais frisar. Mas o germe da China de hoje, desse país vibrante, cheio de vida e de esperança, que caminha confiante rumo ao futuro, já estava presente nos anos oitenta. Nas cidades chinesas, basta sair para a rua e é palpável uma trepidação, um ímpeto avassalador. Por comparação com os chineses, os europeus parecem zombies, gente mole, refastelada, auto-complacente. E a Europa parece um museu que se exibe sem se renovar.

Até que ponto a filosofia, ou correntes como o taoísmo e o confucionismo, podem ajudar a compreender o sujeito chinês e a sua forma de pensar?

Para tentar compreender qualquer povo há que ter em conta os sistemas de crenças mais decisivos, religiosas e filosóficas, assim como outros factores, a geografia, a história política. É possível compreender os europeus sem compreender o cristianismo, o judaísmo e o islamismo? Não. No caso da China, não só o taoísmo e o confucionismo, como ainda o legalismo e a religião popular, que são autóctones; mas também sistemas de crenças estrangeiros, como o budismo, proveniente da Índia, e o marxismo, proveniente da Europa, e depois o maoísmo. Dominar tudo isso é uma tarefa ciclópica. A China é como um dodecaedro infinito de espelhos.

Portugal continua a não ter muitos sinólogos. Como explica essa questão?

Portugal não tem sinólogos. Um sinólogo é alguém capaz de ler e compreender fluentemente o chinês antigo, com um conhecimento muito profundo e alargado acerca da China clássica. Uma estirpe rara que possivelmente está em extinção no Ocidente. Na maioria das universidades adopta-se o termo Estudos Chineses ou Asiáticos, ou ainda da Ásia Oriental. A explicação pode vir da História, pois os sinólogos, como os cientistas ou os filósofos, não brotam da terra como os poetas populares, os pintores naïfs e os cantadores. Formam-se. A aprendizagem deve ser exigente, começar cedo e avançar sem interrupções. Mas Portugal tem sofrido de uma enorme instabilidade institucional e tudo quanto exige tempo e perseverança acaba por soçobrar. Portugal é um país que se tem esvaziado ciclicamente. Esvaziou-se de população com os Descobrimentos, tornando as instituições periclitantes durante um largo período de tempo. Esvaziou-se de população em Alcácer Quibir, esvaziou-se de população com a imigração e a ida para as colónias, esvaziou-se em extensão geográfica e, simbolicamente, com o desmoronar do império. Agora esvazia-se de jovens promissores. Esta ausência parece ter-se tornado endémica.

Mas há um contacto com a China desde há séculos. O que ficou?

Em matéria de obras científicas, o que resultou da era dos Descobrimentos foram uns poucos tratados dispersos e de cariz coleccionista, dependentes da observação: descrição de espécimes, história natural, botânica. Homens como Garcia da Orta, na área da botânica, Duarte Pacheco Pereira, na área da geografia, e D. João de Castro, na área do magnetismo terrestre, são excepções e não deixaram escola, embora tivessem deixado obra. Mas quem os leria? Só os estrangeiros e o punhado de portugueses que sabia ler. Certo é que o desamor pelos livros está profundamente arreigado nos portugueses. A ausência de livros nas casas dos nobres portugueses sempre chocou os forasteiros. Instalou-se uma desconfiança em relação ao saber teórico quando há problemas imediatos a ser resolvidos, por exemplo, de subsistência económica, como se fosse possível resolvê-los sem teoria. Há uma valorização da aplicação e das actividades práticas. Ora, a sinologia não se pode desenvolver sem um profundo amor pelos livros, desde logo porque os chineses são um povo da escrita e, portanto, da leitura e dos livros.

Isto reflecte-se no que sucede aos estudantes portugueses que se deslocam ao estrangeiro munidos de bolsas para assimilarem o conhecimento que lá fora se faz, coisa que se pratica desde a Idade Média.

Em que sentido?

Os estudantes acabam por ficar lá devido às condições de vida e de trabalho superiores ou, por mais brilhantes que sejam, não correspondem às expectativas quando regressam ao país. E isso porque não encontram estruturas de apoio nem uma sociedade capaz de apreciar aquilo que estudaram. Já os estrangeirados do séc. XIX se debatiam com este problema, com a impossibilidade de aumentar e difundir o conhecimento numa sociedade atavicamente inculta e pouco receptiva ao saber.

Também passou por isso quando voltou a Portugal?

Sim. Nos anos 1980 as pessoas tomavam a minha decisão de estudar chinês e de ir para a China como uma esquisitice incompreensível. E, quando regressei, no início dos anos 1990, deparei-me, é claro, com o mesmo deserto de que partira. Até prosseguir o estudo da língua chinesa era difícil. Só havia aulas de níveis inferiores ao meu. A curiosidade das pessoas pela China era igual a zero. Perguntavam-me “Então, gostaste, não foi?” e tratavam era de falar da vida delas. Quanto aos Estudos Chineses, a questão do estado larvar em que se encontram em Portugal tem muito a ver com tudo isto. Além disso, estiveram subjugados pelo peso do estudo dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa que é limitado a uma Ásia contemplada através dessa perspectiva.

Há cada vez mais estudos sobre a língua e cultura chinesas em Portugal, mas o que precisa verdadeiramente mudar?

Há que resolver uma série de problemas para que se consigam desenvolver plenamente. O investimento na aprendizagem e na formação tem de aumentar, assim como o acesso a fontes de origem asiática e a colaboração com investigadores asiáticos. Em princípio, seria possível agora construir instituições estáveis, um ensino capaz e maduro. Mas, para tanto, é preciso vontade colectiva e quebrar o círculo vicioso da ignorância para que o povo valorize a cultura.

Hong Kong quer replicar projecto português de teatro para jovens

Hong Kong está interessada em replicar um projecto da maior rede de teatros com financiamento público da Europa que tem os jovens como público-alvo e parte da criação, disse à Lusa a portuguesa Cláudia Belchior. “Já há vários parceiros aqui em Hong Kong que estão muito interessados em trabalhar com os nossos membros europeus e fazer peças em conjunto”, disse a presidente da European Theatre Convention (ETC), fundada em 1988.

A líder da ETC, que reúne 63 teatros de 31 países, incluindo quatro de Portugal, esteve na região para participar na Hong Kong Performing Arts Expo, uma conferência de profissionais das artes de palco, que terminou na sexta-feira.

Na quarta-feira, Belchior foi à Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKICC, na sigla em inglês) explicar o projecto Young Europe (Europa Jovem), que convida dramaturgos a ir às salas de aulas e envolver os jovens na criação de peças.

O director da Escola de Criatividade Lee Shau Kee da HKICC, Yan Pat-to, “ficou muito entusiasmado”. “Tivemos uma reação fantástica”, disse a também assessora artística da Fundação Centro Cultural de Belém.

Possibilidades asiáticas

Embora a 4.ª edição (2011-2014) da Young Europe não tenha contado com a participação de teatros portugueses, Belchior defendeu que o projecto “pode ser feito na Ásia, pode ser feito em Portugal, pode ser feito num outro país europeu”.

O último tema foi “Vozes não dominantes” (‘Non-dominant voices’) e levou à criação de peças sobre assuntos como ‘fat-shaming’ (a discriminação contra pessoas com excesso de peso), suicídio, saúde mental, imigração e religião, sublinhou a presidente da ETC.

“É interessante para os próprios escritores, que percebem que há muito material que é necessário escrever, com outra linguagem, com outros temas, portanto, tem sido uma descoberta incrível”, referiu Belchior.

“As peças são trabalhadas com os jovens (…) e depois são mostradas nas escolas, porque consideramos também que a sala de aula é um espaço mais seguro para eles se manifestarem. E depois trabalhamos com pedagogos”, explicou a dirigente.

O tema do Young Europe para os próximos quatro anos é “Cuidar” (‘Care’), porque, ao olhar “para a Europa toda, há uma grande diferença nos miúdos de 14, 15 anos”, sendo esta “uma geração que cresceu num mundo em conflito”, lamentou a presidente da ETC. “São jovens que falam com muito mais abertura da importância da saúde mental” e dos problemas de isolamento e solidão, sublinhou Belchior, depois de terem também vivido “os anos brutais, fechados” da pandemia de covid-19.

André Luiz Reis fala hoje sobre política externa do Brasil na FRC

A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta hoje, a partir das 18h30, a primeira sessão do ciclo de palestras intitulado “Roda de Ideias”, sendo que o debate de hoje tem como nome “Política Externa Brasileira: Qual é o lugar do Brasil no mundo?”, que terá como orador convidado André Luiz Reis da Silva, professor associado da Faculdade de Ciências Económicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Brasil. A conversa será moderada por Francisco Leandro, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau (UM).

O tema em reflexão será o lugar do Brasil no mundo, que se encontra em permanente redefinição. No comunicado, que explicita o tema do debate de hoje, lê-se que o Brasil, “quer seja designado como potência emergente ou como potência média ou regional, o tamanho do país não lhe permite desempenhar um papel menor, que não passe de uma simples boleia das grandes potências ou que permaneça acomodado”.

Ao mesmo tempo, “exige-se uma constante avaliação das suas capacidades e limitações conjunturais e estruturais, na procura de uma leitura adequada dos seus interesses e condições de actuação no sistema internacional”, refere a proposta de intenções.

Uma história no estrangeiro

Em termos históricos, “na primeira década do século XXI o país fortaleceu os seus activos diplomáticos nas várias esferas; no entanto, estes foram sendo lentamente consumidos ao longo da segunda década”.

Desta forma, a palestra que hoje se apresenta “aborda a política externa brasileira do início do século XXI até os dias de hoje, tendo como eixos de análise as matrizes de inserção internacional, formuladas nos âmbitos regional, multilateral e bilateral, procurando analisar as principais características, os dilemas e as opções da actuação externa do Brasil do novo Governo Lula, iniciado em Janeiro de 2023, tais como Integração regional, Brasil-China, BRICS, Sul Global e actuação multilateral”, pode ler-se.

A passagem por Macau do professor André Reis insere-se no projecto que estuda a geopolítica do Brasil, como parte do esforço que a Universidade de Macau está a fazer no contexto da promoção do estudo das relações internacionais dos Países de Língua Portuguesa.

Bienal de Veneza | O sucesso de Maria Madeira e o impacto na arte timorense

Maria Madeira foi a primeira artista timorense a ver o seu nome escolhido para representar o país numa exposição internacional tão importante como é a Bienal de Veneza, que termina a 24 de Novembro. A artista confessou que esta presença constitui “um ponto de viragem” no que se faz de artístico e cultural em Timor. Alguns trabalhos da artista podem ser vistos na mostra local “Policromias Lusófonas”

 

Maria Madeira, a primeira artista a representar Timor-Leste na Bienal de Veneza, disse à agência Lusa que o sucesso da participação timorense vai ser “um ponto de viragem” para a arte contemporânea no país. A 60.ª edição da principal mostra internacional de arte contemporânea, sob o tema “Estrangeiros em todo o lado”, com curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, começou em 20 de Abril e vai decorrer até 24 de Novembro.
O projecto de Maria Madeira, “Kiss and don´t tell”, sobre a história da luta das mulheres contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, teve “um grande impacto” e despertou enorme interesse, disse a artista. “Segundo a curadora [a australiana Natalie King] e os organizadores, foi uma das exposições mais faladas”, disse Madeira, que após a abertura da instalação recebeu pedidos de entrevistas vindos de vários países.
A instalação, com 25 metros de comprimento e três metros de altura, vai ser adquirida pela National Gallery of Victoria, o mais antigo museu da Austrália, onde a artista está radicada, mas Madeira demonstrou esperança em que possa ser exibida também em Portugal.

A presença política

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, esteve presente na inauguração e a artista de 58 anos disse acreditar que “o Governo finalmente viu como a arte pode ter um grande impacto no mundo”.
Timor-Leste tem “muito talento e artistas incríveis, mas simplesmente não têm oportunidades suficientes”, lamentou Madeira, recordando que, 22 anos depois da independência, o país não tem uma escola de artes.
Em 2021, as autoridades timorenses despejaram o Arte Morris do espaço na capital, Díli, onde o grupo artístico tinha vindo a trabalhar há cerca de 20 anos, criando o único centro de arte contemporânea do país. Maria Madeira acredita que a decisão do Governo teria agora sido diferente, depois de ver, na Bienal de Veneza, “como a arte é tão importante para comunicar com o mundo”, e que mesmo a perspetiva dos jovens artistas emergentes timorenses mudou.
Madeira já expôs na Austrália, Portugal, Brasil, Macau e Indonésia, mas o sucesso em Itália tem “aberto portas a torto e a direito” à artista, que quer aproveitar a oportunidade de “usar esta plataforma e fazer avançar a arte contemporânea” timorense.
Além de querer voltar a viver em Timor-Leste, “talvez no espaço de dois anos”, Madeira espera poder abrir uma galeria de arte, montar um estúdio e “talvez até trabalhar e contribuir para um currículo artístico nas escolas”, algo que ainda não existe.
“Sou a única timorense com um doutoramento em filosofia da arte e a única professora timorense qualificada de arte na história do país”, lamentou a artista.
Madeira disse que gostaria em especial de trabalhar com grupos mais desfavorecidos, como órfãos e pessoas com deficiência, “que raramente são vistos em público”.

Exposição em Macau

Madeira está em Macau para a inauguração, na segunda-feira, de uma mostra que reúne obras da timorense, do fotógrafo brasileiro Luiz Bhering e do artista local Wilson Chi Ian Lam. A exposição, que estará patente até 24 de novembro, faz parte do programa da 16.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa.
A mostra em questão intitula-se “Policromias Lusófonas”, sendo esta a quarta edição desta iniciativa. Nesta mostra o público poderá ver obras como “Kolonizasaun”, “Foremothers Fingerprints”, “Contemporary Issues (Asuntus Kontemporáneus)” e “Ba Lia (with details)”.
Maria Madeira já realizou mais de 30 exposições em países como a Austrália, Portugal, Brasil ou Indonésia. De 1996 a 2000 trabalhou como assessora cultural na Austrália.

Prémio Sahkarov | Activistas da Venezuela, Israel e Palestina e Azerbaijão finalistas

A líder da oposição da Venezuela María Corina Machado, as organizações israelo-palestinianas Women Wage Peasse e Women of the Sun e o activista azeri Gubad Ibadoghlu são os finalistas do Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu, foi ontem anunciado.

Os três candidatos ao Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2024 resultaram de uma votação realizada ontem pelos membros das comissões dos Negócios Estrangeiros e do Desenvolvimento do Parlamento Europeu.

Com 53 anos, Gubad Ibadoghlu, é um activista dos direitos humanos do Azerbaijão, académico e crítico anticorrupção na indústria do petróleo e do gás que se tornou, em 2021, investigador na London School of Economics.

Foi detido no Azerbaijão em 2023 e continua sob investigação, mas ainda sem acusação, pelo que a comunidade internacional considera ter-se tratado de uma decisão com motivações políticas.

María Corina Machado, de 57 anos, é líder da oposição a Maduro na Venezuela e foi deputada da Assembleia Nacional entre 2011 e 2014, mas teve o seu mandato cessado nessa altura. Recentemente, o Presidente venezuelano afirmou que a líder das forças democráticas teria fugido do país e ido para Espanha, o que Machado negou.

Também na lista, constam os movimentos de defesa da paz Women Wage Peasse, de base israelita, formado logo após a guerra de Gaza em 2014, e o Women of the Sun, fundado em 2021 como um movimento para ajudar as mulheres a encontrar o seu lugar na cena política da Palestina.

O vencedor do prémio, que receberá 50 mil euros, será anunciado a 24 de Outubro, depois de uma conferência dos presidentes. No ano passado, o prémio foi atribuído a Jina Mahsa Amini e ao movimento Mulher, Vida, Liberdade no Irão.

Reino Unido | Confirmada visita de MNE à China

A China confirmou ontem a visita do ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Lammy, entre amanhã e sábado, estando previsto um encontro com o homólogo chinês, Wang Yi.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático, Mao Ning, disse em conferência de imprensa que esta é a primeira visita à China de um ministro do novo governo britânico e que as duas partes se vão concentrar em “aumentar a confiança mútua e reforçar o diálogo e a cooperação em vários domínios”.

“A China está disposta a trabalhar com o Reino Unido para promover benefícios mútuos e resultados benéficos, bem como laços estáveis e de longo prazo”, acrescentou. De acordo com a porta-voz, as relações estáveis são do interesse da “unidade da comunidade internacional para responder aos desafios globais e promover a paz e o desenvolvimento mundiais”.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou na quarta-feira, na sua comparência semanal no Parlamento, que vai apelar ao Governo chinês para que levante as sanções contra vários deputados britânicos, bem como para que liberte o empresário e activista britânico Jimmy Lai, detido em Hong Kong.

O primeiro-ministro confirmou também que o seu governo irá sancionar as empresas ou cidadãos chineses que ajudem a Rússia na guerra contra a Ucrânia.

ONU | Pelo menos 1,1 mil milhões de pessoas vivem em pobreza

Pelo menos 1,1 mil milhões de pessoas vivem na pobreza, das quais quase metade (455 milhões) estão em países em guerra ou em paz frágil, indica um relatório publicado ontem pela ONU em colaboração com a Universidade de Oxford.

Segundo o estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que ontem se assinalou, mais de metade dos pobres, 584 milhões, são crianças, e a situação é geralmente mais grave nas zonas rurais, onde 28 por cento da população mundial é pobre, do que nas zonas urbanas, onde esta condição afecta 6,6 por cento das pessoas.

Elaborado em conjunto com a Iniciativa para a Pobreza e o Desenvolvimento Humano da Universidade de Oxford, o estudo indica que grande parte da população que vive na pobreza (83,2 por cento dos 1,1 mil milhões) se encontra nas regiões da África Subsariana (553 milhões) e no Sul da Ásia (402 milhões).

Na África Subsaariana, sub-regiões como o Sahel ou a parte oriental do continente são especialmente afectadas, refere a análise, que classifica o Níger, o Chade, a República Centro-Africana, o Burundi, Madagáscar e o Mali como os países mais pobres da região.

Ainda de acordo com o relatório, 3 por cento dos 1,1 mil milhões de pobres (34 milhões) vivem na América Latina.

Dois terços da pobreza concentram-se nos países em desenvolvimento, onde vivem 749 milhões de pessoas nesta situação, indica o PNUD, que aponta ainda que metade da população pobre não tem electricidade (579 milhões) e 482 milhões vivem em famílias onde uma ou mais crianças tiveram de abandonar a escola.

Violência e miséria

Numa análise detalhada da relação entre conflitos e pobreza, o estudo conclui que nos países em guerra a taxa de pobreza é de 34,8 por cento da população total, enquanto nos restantes é de 10,9 por cento. Dos 455 milhões de pessoas pobres que vivem em países em conflito, 218 milhões vivem em países em guerra.

“Os conflitos intensificaram-se e multiplicaram-se nos últimos anos, deslocando milhões de pessoas e causando perturbações generalizadas nas vidas e nos meios de subsistência”, argumentou o director do PNUD, Achim Steiner.

“A nossa investigação mostra que dos 1,1 mil milhões de pessoas que vivem em pobreza multidimensional, quase 500 milhões vivem em países expostos a conflitos violentos. Temos de reforçar as medidas para os apoiar”, defendeu, acrescentando que são necessários “recursos e acesso a intervenções especializadas de desenvolvimento e de recuperação precoce para ajudar a quebrar o ciclo da pobreza e da crise”.

A mudança do século

A 10 de Outubro de 1911, eclodiu um tiroteio na zona de Wuchang, mais precisamente na cidade chinesa de Wuhan, marcando o fim do reinado imperial da dinastia Qing, que durou 268 anos, e o início da Revolução Xinhai.

A 23 de Julho de 1921, o Partido Comunista Chinês foi fundado em Xangai, dando entrada no palco da História do país, Em 1949, o PCC derrubou o Governo Nacionalista e instituiu a República Popular da China. A 18 de Setembro de 1931, o Exército Kwantung do Japão, estacionado ao longo da Linha Férrea do Sul da Manchúria, lançou um ataque ao nordeste da China sob o pretexto de ter ocorrido uma explosão na ferrovia, tendo ocupado posteriormente três províncias (Liaoning, Jilin e Heilongjiang) do nordeste da China, e ajudado o destronado imperador Qing a estabelecer o estado fantoche de Manchukuo.

A guerra de resistência contra a invasão japonesa durou uns longos 14 anos. A 7 de Dezembro de 1941, o Serviço Aéreo da Marinha Japonesa lançou um ataque surpresa à base dos EUA no Pacífico, a Frota americana fundeada em Pearl Harbour. Este ataque provocou a declaração de guerra da América ao Japão, no quadro da II Guerra Mundial que só terminou em 1945.

Um século mais tarde, a história parece repetir-se. Muitas pessoas estão preocupadas com a possibilidade da operação militar especial da Rússia contra a Ucrânia puder vir a desencadear uma guerra nuclear, ou seja, a III Guerra Mundial. Relativamente às grandes mudanças que acontecem uma vez em cada século, Macau também enfrenta os seus próprios desafios.

A decisão de Ho Iat Seng de renunciar à reeleição quebrou a tradição de o Chefe do Executivo de Macau ter garantido um segundo mandato desde o regresso de Macau à soberania chinesa. Actualmente, apesar da retórica optimista do Governo, a receita fiscal de Macau nos primeiros oito meses de 2024 é apenas 77 por cento da correspondente ao mesmo período de 2019. A mudança da demografia turística e a redução das sofisticadas salas de jogo VIP dos casinos vão dificultar a obtenção de receitas fiscais semelhantes às do período pré-pandémico. Quanto à iniciativa conceptual de Diversificação das Indústrias “1+4”, podemos ter uma ideia da extensão dos seus benefícios ao olharmos para a resposta do Governo às perguntas dos deputados da Assembleia Legislativa a respeito da utilização dos terrenos onde o “agora defunto” Macau Jockey Club estava sediado. Na resposta, o Governo declarou que ainda não havia um plano de construção concreto para o local, evidenciando a eficácia limitada desta iniciativa.

A 28 de Setembro, Sam Hou Fai, o candidato único à eleição para Chefe do Executivo de Macau, apresentou a sua agenda política aos deputados da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), destacando quatro visões e cinco abordagens principais no que diz respeito à administração da cidade o que, ao nível das palavras, foi aparentemente muito promissor. Sam Hou Fai, também envidou esforços para reunir com organizações e associações comunitárias e visitou vários distritos de Macau.

Segundo relatos de alguns jornalistas, nas visitas à comunidade, está frequentemente rodeado de rostos familiares, sugerindo que estas visitas se assemelham mais a uma inspecção in loco do que a uma tentativa genuína de entender os diversos aspectos sociais da cidade. Alcançar a diversificação económica no contexto da natureza mono-política de Macau, será o grande teste a Sam Hou Fai, caso venha a ser eleito. A queda de mais de 2.000 pontos do Índice Hang Seng de Hong Kong a 8 de Outubro serve bem de exemplo.

Desde o final de Setembro, depois de o Governo chinês anunciar uma série de medidas de estímulo económico, em particular duas políticas monetárias estruturais que montam a 800 mil milhões de yuans, os mercados de acções da China e o de Hong Kong subiram.

No entanto, a 8 de Outubro, devido ao efeito de “apropriação de lucros”, o Índice Hang Seng de Hong Kong registou uma queda histórica de 2.172 pontos, ao passo que os índices de Shenzhen e de Xanghai continuavam a subir. Efeitos tão opostos, a par da aparente calmaria do mercado imobiliário e do mercado monetário, fazem-nos pensar se se perfila no horizonte outra grande mudança.

O ano de 2024 tem sido repleto de incertezas. Até que ponto serão significativos para Macau o impacto da guerra comercial entre os EUA e a China e as alterações na cadeia global de fornecimento depois da pandemia? A minha maior expectativa é que o próximo Chefe do Executivo possa garantir que Macau navegue em segurança através das águas agitadas das grandes mudanças.

Índia critica primeiro-ministro do Canadá após acusações contra Nova Deli

A Índia acusou ontem o primeiro-ministro canadiano de imprudência ao dizer que Nova Deli violou a soberania canadiana com o assassínio em Vancouver, em 2023, de um líder separatista sikh, atribuído por Otava aos serviços secretos indianos.

“A responsabilidade pelos danos que este comportamento imprudente causou nas relações entre a Índia e o Canadá é exclusivamente do primeiro-ministro, [Justin] Trudeau”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano Randhir Jaiswal.

O chefe do Governo canadiano afirmou na quarta-feira, numa audição parlamentar, que existem “indícios claros” de que a Índia desrespeitou a soberania do Canadá ao promover o homicídio de um líder separatista

A polícia federal canadiana, a Real Polícia Montada do Canadá, anunciou na segunda-feira que dispunha de provas do “envolvimento de agentes do Governo da Índia em actividades criminosas graves no Canadá”, em particular o homicídio do cidadão canadiano Hardeep Singh Nijjar, que fazia campanha pela criação de um Estado sikh independente no norte da Índia.

Jaiswal criticou Otava por não ter apresentado à Índia provas que sustentem as “graves alegações que [o governo de Trudeau] decidiu fazer contra a Índia e os diplomatas indianos”.

Conflito aberto

No Canadá, vivem cerca de 770.000 sikhs, a maior comunidade fora da Índia desta minoria que reclama a criação de um Estado independente na Índia. Nova Deli acusou Otava de abrigar extremistas sikhs e de permitir actividades contra a Índia em território canadiano, incluindo manifestações de protesto e a realização de um referendo de secessão.

Por seu lado, o Canadá criticou a repressão das minorias religiosas na Índia e defendeu o direito dos sikhs canadianos à liberdade de expressão.

Num caso semelhante nos EUA, funcionários norte-americanos reuniram-se na quarta-feira com representantes do Governo indiano para investigar o caso de outro líder separatista sikh, Gurpatwant Singh Pannun, que terá sido alvo de uma tentativa de homicídio em 2023, alegadamente encomendada por um responsável indiano.

As autoridades indianas em Washington confirmaram que o funcionário acusado pelos procuradores norte-americanos de ter planeado a conspiração já não faz parte do Governo indiano, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

Tóquio | Morreu aos 76 anos actor japonês Toshiyuki Nishida

O actor Toshiyuki Nishida, figura lendária dos filmes de Takeshi Kitano e um dos rostos mais queridos do cinema japonês nas últimas décadas, foi encontrado morto na sua casa em Setagaya (oeste de Tóquio), disse ontem a polícia.

As autoridades estão a investigar os pormenores do incidente, avançou a emissora pública japonesa NHK. O alerta foi dado por uma pessoa não identificada, que entrou na casa e encontrou o actor morto na cama, indicou a agência de notícias local Jiji.

Nascido a 04 de Novembro de 1947 em Fukushima (nordeste), o actor e executivo japonês participou em 163 filmes e séries e foi um dos actores mais queridos do Japão. Entre os papéis mais notáveis está o do general Kajima no filme “Emperor” (2012), sobre a rendição do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, que também contou com os desempenhos dos actores norte-americanos Tommy Lee Jones e Matthew Fox.

Também em dois dos filmes da saga “Outrage” (2012 e 2017), escritos, realizados e protagonizados por Takeshi Kitano, filmes de acção sobre a luta pelo poder na máfia japonesa (“yakuza”).

Em “The Ramen Girl” (“Sozinha em Tóquio”, 2008), do nova-iorquino Robert Allan Ackerman, Nishida interpretou um ‘chef’ de ramen (Maezumi) que deve ensinar uma mulher norte-americana, a cargo de Brittany Murphy, a preparar este prato clássico e tornar-se sucessora no restaurante. Murphy, de 32 anos, foi encontrada morta a 20 Dezembro de 2009, na casa em Los Angeles.

Coreias | Pyongyang altera Constituição e define Sul como “Estado hostil”

Kim Jong-un cumpre a promessa declarada em Janeiro e eleva a fasquia das hostilidades contra o vizinho sul-coreano

 

A Coreia do Norte anunciou ontem que a Constituição do país passou a designar a Coreia do Sul como “Estado hostil”, confirmando uma alteração prometida no início do ano pelo líder Kim Jong-un.

“Esta é uma medida inevitável e legítima, em que se define claramente a Coreia do Sul como um Estado hostil e que se deve às graves circunstâncias de segurança que conduzem à beira da guerra devido a provocações políticas e militares por parte de forças hostis”, informou a agência de notícias oficial norte-coreana KCNA.

A agência não avançou com mais informações sobre as alterações constitucionais. A ordem dada por Kim em Janeiro para reescrever a Constituição apanhou muitos especialistas estrangeiros de surpresa, porque foi vista como uma forma de eliminar a ideia de um Estado partilhado entre as Coreias divididas pela guerra e de romper com o sonho de antecessores de alcançar pacificamente uma Coreia unificada nos termos do Norte.

Alguns especialistas afirmam que Kim tem provavelmente como objectivo diminuir a influência cultural sul-coreana e reforçar o poder internamente.

Outros afirmam que o líder pretende ter margem de manobra legal para lançar ataques militares contra a Coreia do Sul, definindo-a como um Estado estrangeiro e não como parceiro de uma eventual unificação que partilha um sentimento de homogeneidade nacional.

Kim pode também querer negociar directamente com os Estados Unidos o programa nuclear, e não através da Coreia do Sul, referem estes mesmos especialistas, citados pela agência de notícia Associated Press.

Bloqueios em força

A Coreia do Norte fez explodir secções de 60 metros de comprimento de dois pares de estradas e caminhos-de-ferro – um na parte ocidental da fronteira intercoreana e o outro no lado oriental da fronteira, de acordo com a KCNA, que citou o Ministério da Defesa da Coreia do Norte.

Construídas em grande parte com dinheiro sul-coreano, as ligações rodoviárias e ferroviárias eram um símbolo da reconciliação intercoreana.

Nos anos 2000, as duas Coreias voltaram a ligar as rotas rodoviárias e ferroviárias pela primeira vez desde o fim da Guerra da Coreia de 1950-53, mas as operações foram interrompidas mais tarde, quando os rivais discutiram as ambições nucleares da Coreia do Norte, entre outras questões.

Na semana passada, a Coreia do Norte declarou que iria bloquear permanentemente a fronteira com o Sul e construir estruturas de defesa na linha da frente. De acordo com as autoridades sul-coreanas, a Coreia do Norte tem vindo a acrescentar, desde o início do ano, barreiras antitanque e a colocar minas ao longo da fronteira.

Apelo à paz

A China reiterou ontem o seu apoio a um “acordo político” para resolver as tensões na península coreana, na sequência de uma alteração na Constituição da Coreia do Norte que agora designa a Coreia do Sul como “Estado hostil”. “Sempre considerámos que a manutenção da paz e da estabilidade na península e a promoção de um processo de resolução política da questão da península são do interesse comum de todas as partes”, declarou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning.

“Esperamos também que todas as partes trabalhem em conjunto para desenvolver esforços construtivos nesta direcção”, acrescentou. Pequim, o principal aliado e parceiro comercial da Coreia do Norte, afirmou ontem que está a acompanhar de perto a evolução da situação na península.

Hunan | Quinze condenados a pena de prisão por derrocada de edifício

A justiça chinesa condenou 15 pessoas a penas de prisão pela sua responsabilidade no desmoronamento de um edifício que matou 54 pessoas e provocou uma onda de protestos, avançou ontem a imprensa local. Em Abril de 2022, um edifício de oito andares que albergava um hotel, apartamentos e um cinema ruiu em Changsha (centro da China), capital da província de Hunan.

As autoridades alegaram que a estrutura tinha sido construída ilegalmente. A tragédia desencadeou um aceso debate público na China sobre a corrupção no sector da construção. A televisão estatal CCTV avançou ontem que dois tribunais de Changsha condenaram 15 pessoas implicadas no caso.

Wu Zhiyong, a pessoa que construiu, ampliou e renovou o edifício sem autorização e que foi considerado parcialmente responsável pelo colapso, foi condenado a 11 anos de prisão. Outras penas de prisão incluem 12 anos para o antigo director-adjunto de uma empresa municipal de distribuição de água, que foi considerado culpado de incumprimento do dever e de corrupção.

Uma empresa responsável pela realização de testes de conformidade foi multada em um milhão de yuan. Vários dos seus empregados foram presos por terem redigido documentos falsos que garantiam a segurança do edifício.

De acordo com o tribunal, Wu Zhiyong e as pessoas que efecutuaram os trabalhos não tinham “quaisquer qualificações” no domínio da construção e alugaram ilegalmente as várias partes do edifício a empresas de restauração e de alojamento, informou a CCTV.

“Não foram tomadas medidas correctivas eficazes, apesar da descoberta de grandes riscos estruturais”, segundo a mesma fonte.

Os desmoronamentos de edifícios ocorrem ocasionalmente na China. As autoridades culpam geralmente a aplicação pouco rigorosa das normas de segurança ou a corrupção por parte dos responsáveis pela sua aplicação.

China | Anunciadas medidas para apoiar mercado imobiliário em dificuldades

A China anunciou ontem que vai aumentar o crédito disponível para o sector imobiliário e fornecer apoios para a renovação de um milhão de casas, parte de uma série de medidas destinadas a impulsionar a economia.

Os sectores da habitação e da construção representam mais de um quarto do PIB da segunda maior economia do mundo, mas desde 2020 que sofrem com o apertar das condições de crédito para os promotores imobiliários por parte de Pequim, o que colocou algumas grandes construtoras à beira da falência e fez com que os preços das casas caíssem a pique.

As autoridades continuam a contar com um crescimento de “cerca de 5 por cento” este ano, mas os analistas consideram este objectivo optimista, tendo em conta os muitos obstáculos que a segunda maior economia do mundo enfrenta actualmente.

Numa conferência de imprensa em Pequim, o ministro da Habitação, Ni Hong, anunciou que as autoridades vão “aumentar a escala de crédito dos projectos da lista branca para 4.000 milhões de yuan” até ao final de 2024.

O sistema de “lista branca”, anunciado no início do ano, é um mecanismo através do qual os municípios recomendam projectos imobiliários aos bancos para financiamento prioritário. Ni Hong acrescentou que “um milhão de casas degradadas, localizadas em aldeias urbanas, serão renovadas” graças à reestruturação do financiamento.

“As aldeias urbanas apresentam muitos riscos de segurança e más condições de vida. As pessoas estão ansiosas por renovar”, explicou. O conceito de aldeias urbanas na China consiste em aldeamentos antigos, que subsistiram em áreas que foram urbanizadas nas últimas décadas.

Novas medidas

No mês passado, os dirigentes chineses, incluindo o líder Xi Jinping, reconheceram novos “problemas” para a segunda maior economia do mundo e revelaram um dos maiores pacotes de medidas de estímulo desde há vários anos.

As medidas incluem reduções das taxas de juro, nomeadamente dos empréstimos à habitação existentes, e a flexibilização das restrições à aquisição de habitação. Na conferência de imprensa de ontem, as autoridades afirmaram que as taxas dos empréstimos hipotecários existentes “baixarão em média cerca de 0,5 pontos percentuais” no âmbito das reduções.

Isto “beneficiará 50 milhões de famílias e 150 milhões de pessoas”, disse Tao Ling, vice-governador do banco central da China. Estimular a procura de habitação é uma das prioridades das autoridades para garantir uma recuperação sustentável.

Nas últimas semanas, algumas das principais cidades do país, como Pequim, Xangai, Chengdu e Tianjin, reduziram as restrições à compra de imóveis.

Pequim-Luanda | Comércio cresceu no primeiro semestre e asiáticos reafirmam parceria

China e Angola atravessam uma fase positiva nas relações bilaterais com benefícios no desenvolvimento económico das duas nações

As trocas comerciais entre China e Angola atingiram os 10,6 mil milhões de dólares, no primeiro semestre, um crescimento homólogo superior a 4 por cento, evidenciando o bom relacionamento bilateral defendeu na quarta-feira uma diplomata chinesa.

Chen Feng, ministra conselheira da embaixada da China em Angola, falava aos jornalistas à margem de uma conferência sobre a promoção da globalização económica universalmente benéfica e inclusiva”, no âmbito do Fórum de Cooperação China-África, e sublinhou que a proximidade com os Estados Unidos da América não compromete a relação da China com Angola.

“Somos países independentes, soberanos, temos toda a liberdade de ser amigos de qualquer país. Estamos num bom período para desenvolver as relações bilaterais China-Angola, não houve alterações nesse âmbito”, disse a diplomata enfatizando que a China quer continuar a partilhar as suas experiências com Angola.

“Queremos aprimorar a nossa cooperação bilateral e apoiar Angola a diversificar a economia e a realizar o desenvolvimento sustentável”, salientou, apontando a agricultura e a indústria como áreas preferenciais, bem como a formação de recursos humanos.

Sobre a visita do Presidente norte-americano Joe Biden a Angola, que deveria ter acontecido entre 13 e 15 de Outubro, mas foi adiada sem data, Chen Feng considerou que Angola é um país relevante e estratégico em África, com influência nas questões regionais e internacionais.

Assinalou, por outro lado, que também a China contribuiu para o desenvolvimento do Corredor do Lobito, investindo na modernização do Caminho de Ferro de Benguela e no Porto do Lobito.

Ponto chave

A China era um dos países que tinha manifestado interesse na concessão do Corredor do Lobito, que acabou por ser entregue a um consórcio europeu.

A infra-estrutura ferroviária que percorre Angola ao longo de mais de 1.300 quilómetros, ligando o Porto do Lobito à República Democrática do Congo, conta também com um financiamento norte-americano que poderá chegar aos 1,3 mil milhões de dólares.

O Corredor do Lobito é considerado estratégico para a exportação dos minerais da República Democrática do Congo, surgindo como contraponto ocidental à iniciativa de infra-estruturas chinesa Belt and Road (Faixa e Rota).

CCM | Concerto da Orquestra Chinesa a 1 de Dezembro

Está marcado para o dia 1 de Dezembro o concerto “Luzes Cintilantes, Flores Resplandecentes”, tido como um dos mais importantes espectáculos da temporada de concertos da Orquestra Chinesa de Macau (OCHM).

Assim, a partir das 20h, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), podem ouvir-se os sons que celebram os 25 anos da RAEM, sob a batuta do Director Musical e Maestro Principal da Orquestra Chinesa de Macau, Zhang Lie.

A OCHM interpretará a peça “Luzes Cintilantes, Flores Resplandecentes”, composta especialmente para a OCHM pelo famoso compositor Gu Guanren. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), esta composição “é repleta de uma atmosfera festiva e de animação, com ritmos alegres e acelerados, proporcionando um espectáculo ímpar que corresponde perfeitamente ao tema do concerto”.

A famosa intérprete de erhu, instrumento musical chinês, Yu Hongmei, interpretará a sua obra mais recente, “As Paisagens de Yimeng”, mostrando toda a sua maestria no erhu, para exprimir as saudades da terra natal de forma mais profunda e melodiosa, num concerto que marcará a estreia da peça em Macau. O famoso grupo de percussão “Oito Martelos”, composto por Wang Jianhua, Li Congnong, Ma Li e Gao Chao, subirá ao palco para interpretar a obra “Caos no Céu”. Além disso, a guitarrista de fado portuguesa, Maria Pereira da Costa, irá interpretar com Wei Qing, a Chefe de Naipe de liuqin da Orquestra, a obra “Rapsódia de Macau”, encomendada pela Orquestra Chinesa de Macau ao compositor Kuan Nai Chung para este concerto. Destaca-se aqui “o encanto de Macau como um ponto de convergência entre as culturas chinesa e ocidental, numa estreia mundial a não perder”.

Os bilhetes já estão à venda e os preços variam entre 120 e 380 patacas. Os residentes de Macau beneficiam de um desconto especial de 50 por cento dos bilhetes por se tratar de um espectáculo de celebração do 25.º aniversário da transição.

Filipe Dores seleccionado para Exposição Anual das Artes Visuais

O artista macaense Filipe Miguel das Dores foi um dos artistas escolhidos para apresentar o trabalho “Separado do antigo refúgio” na Exposição Anual das Artes Visuais de Macau 2024, juntamente com mais nove artistas chineses.

São eles Lei Hio Lam, com a obra “Se fossem reais”; Cheong Hang Fong, com “Uma aula em Julho”; Leong Wai Lap, com “Cidade Flutuante – Cidade Néon”; Leong Kit Man, com “Sem vento para lançar papagaios”; Mak Kuong Weng, com “Macau – Dragão a voar na era próspera”; Wong Kin Tong, com “0”; Wong Mei Teng, “Jogo de Fronteira”; Lao I Wo, com “A poesia de Macau de uma pessoa Nº 2” e ainda Cheong Cheng Wa com a série “Submeter-se”, “Conhecimento #1”e“O Consumo”.

Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), foi “esmagadora” a receptividade dos artistas nesta submissão de trabalhos, tendo sido recebidas propostas de 181 artistas e um total de 178 obras ou conjuntos. No total, foram escolhidas 45 peças individuais ou séries de obras, incluindo dez “galardoadas com o Prémio para Obras Excepcionais”.

Júri profissional

Esta mostra pretende servir de incentivo “à criação de obras artísticas contemporâneas inovadoras que expressem o espírito dos tempos e evidenciem os últimos desenvolvimentos das artes visuais em Macau”. O júri foi composto por cinco profissionais da área, incluindo representantes de escolas de arte, curadores independentes e representantes da indústria das artes.

Assim, fizeram parte do júri nomes como Feng Boyi, curador de arte independente e crítico de arte; Wang Chunchen, Vice-Director do Museu de Arte da Academia Central de Belas Artes; Che Jianquan, professor na Academia de Belas Artes de Guangzhou; Leicier, Directora de Exposições da Expo de Arte Contemporânea de Beijing; e Bridget Tracy Tan Li Lin, Directora Sénior do Instituto de Artes e Galerias de Arte do Sudeste Asiático e Conselheira Académica de Artes do Sudeste Asiático na Academia Nanyang de Belas Artes de Singapura.

A exposição com os trabalhos escolhidos acontece no final deste ano, sendo que a devolução dos projectos artísticos que não foram escolhidos terá lugar entre 1 e 3 de Novembro, das 10h às 19h, na Galeria Tap Seac.