Aquela faixa Andreia Sofia Silva - 30 Jul 2019 [dropcap]É[/dropcap] certo e sabido que os chineses estão por todo o lado, como os portugueses: viajamos para aquela ilha paradisíaca e eles estão por lá. Desta vez, os chineses decidiram estabelecer-se numa terra chamada Boi Morto, no norte de Portugal e, alegadamente, traficar haxixe. A história foi ontem publicada nas páginas do Diário de Notícias e não deixa de soar alarmes sobre o lado negativo dos vistos gold. Já a ex-eurodeputada Ana Gomes, em entrevista ao HM, tinha alertado para o facto destes vistos poderem potenciar a entrada de tríades e esquemas de corrupção no espaço Schengen. As próprias autoridades chinesas estão atentas e garantiram que não vão deixar passar em claro casos de corrupção no âmbito da política “Uma Faixa, Uma Rota”. Xi Jinping bem tenta combater a corrupção no seu país, um dos grandes problemas sociais e políticos dos últimos anos, mas o caminho não tem sido fácil. Ainda a procissão vai no adro, que é como quem diz, ainda esta política está a começar a ser estabelecida, e já se teme a corrupção. Do lado da União Europeia, resta-nos esperar uma intervenção eficaz das autoridades, para que estes problemas não atinjam a Europa da pior maneira.
Palácio Nacional de Mafra e Santuário do Bom Jesus de Braga declarados Património Mundial Michel Reis - 30 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] conjunto monumental composto pelo Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra e o conjunto arquitectónico e paisagístico do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, receberam no passado dia 7 de Julho, na 43ª Sessão do Comité do Património da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que decorreu em Baku, no Azerbaijão, a classificação de Património Cultural Mundial da UNESCO. Na sessão, foi ainda anunciado que o Museu Nacional Machado de Castro passa a estar integrado na área classificada da Universidade de Coimbra, que em 2013 também foi classificada Património Cultural Mundial da UNESCO. Os monumentos portugueses fizeram parte das 36 indicações para inscrição na Lista do Património Mundial que estiveram a ser avaliadas. Ambas as candidaturas suscitaram algumas questões ao Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), que faz a apreciação de todas as propostas que chegam de todo o mundo. No caso do complexo de Mafra, pelo facto da Tapada não estar suficientemente documentada e, em relação Santuário do Bom Jesus, em relação à autenticidade e integridade do monumento, assim como à preservação e prevenção de acidentes, como possíveis incêndios à volta do complexo religioso. No entanto, após esclarecimentos por parte da representação de Portugal, as propostas acabaram por ser aprovadas. O monumento de Mafra foi aprovado com o apoio do Brasil, da Tunísia e da China, tal como de outros Estados que fazem parte do Comité, como Angola ou Indonésia, embora tenham apoiado as recomendações para a conservação e um estudo cartográfico deste complexo monumental. Quanto ao Santuário do Bom Jesus, o Brasil, que abriu a discussão e faz parte do Comité, defendeu que o Santuário não só cumpre todos os critérios para ser integrado na Lista do Património Mundial, mas serviu também de inspiração para o complexo do Bom Jesus de Congonhas, já incluído na mesma Lista. A Lista do Património Mundial da UNESCO integra actualmente 1.092 sítios em 167 países. Portugal passa agora a contar com 17 locais classificados em território português, nomeadamente o Centro Histórico de Angra do Heroísmo, o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, num conjunto de proximidade, e o Mosteiro da Batalha e o Convento de Cristo, em Tomar, que foram os primeiros monumentos a serem classificados, em 1983. A estes juntaram-se a Região Vinhateira do Alto Douro, a zona central da cidade de Angra do Heroísmo, a Paisagem Cultural de Sintra, a Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas Fortificações, o Centro Histórico de Évora, o Centro Histórico de Guimarães, o conjunto do Centro Histórico do Porto, Ponte Luís I e Mosteiro da Serra do Pilar, a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, a Laurissilva da Madeira, o Mosteiro de Alcobaça, os locais de Arte Rupestre do Vale do Côa, bem como a antiga Universidade de Coimbra – Alta e Sofia, havendo ainda 11 locais que constituem património mundial de origem portuguesa no mundo. Segundo o Observador, o presidente da Câmara de Mafra, Hélder Sousa Silva, presente na sessão, referiu que a classificação do Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra peca por tardia, porque apesar de ser um dia histórico para Mafra e para Portugal, esta candidatura preparada há 10 anos já devia ter sido classificada há muito tempo. Para o autarca, a inscrição de Mafra na lista do Património Mundial “não é um ponto de chegada, mas um ponto de partida e traz responsabilidades acrescidas para a manutenção [do monumento] a curto prazo”, esperando que haja uma Mafra antes da classificação e uma Mafra depois da classificação, virada para a recuperação do património. O director do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, defendeu, numa nota de imprensa enviada pela autarquia na ocasião, que a inevitabilidade de um reconhecimento não poderia, nem deveria ser protelada, porque Mafra e o seu monumento há muito que mereciam esta inscrição. Também a Escola das Armas e o Exército, a direcção da Tapada Nacional e a Paróquia de Mafra, outros parceiros da candidatura, se regozijaram com a classificação. Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, salientou por sua vez que, com a distinção conferida ao Santuário do Bom Jesus, para além do orgulho vem também uma grande responsabilidade. O dossier de candidatura do conjunto composto pelo Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada de Mafra a Património Mundial foi entregue ao Centro do Património Mundial da UNESCO no dia 27 de Janeiro de 2017, uma etapa histórica neste complexo e exigente processo. O Palácio Nacional de Mafra é o mais importante monumento representante do barroco em Portugal, nomeadamente do barroco joanino. O dossier de candidatura, designado Real Edifício de Mafra, foi coordenado pelo município e pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) da República Portuguesa, com a colaboração do Palácio Nacional, Escola das Armas, Tapada Nacional e Paróquia de Mafra. Os parceiros desejavam fazer coincidir o anúncio agora feito pela UNESCO, assim como a conclusão da reabilitação dos carrilhões do complexo, com as comemorações dos 300 anos do lançamento da primeira pedra do palácio, que tiveram o seu ponto alto no dia 17 de Novembro de 2017. É de referir que a reabilitação dos carrilhões do Palácio Nacional de Mafra, que sofreu vários atrasos e era fundamental para o Estado Português e a Câmara de Mafra poderem candidatar o monumento a Património Mundial, se iniciou em Junho de 2018. No dia 24 de Outubro de 2018, uma grua instalada em frente ao Palácio começou a retirar, pela primeira vez desde 1730, os sinos maiores dos carrilhões, o primeiro deles a pesar mais de sete toneladas, para serem analisados e restaurados, num investimento de 1,5 milhões de euros. Além de apear os sinos para virem a ser intervencionados, o consórcio português responsável pela empreitada, especialista em conservação e restauro do património, também é responsável pelo tratamento da pedra, restauro dos cabeçalhos, estruturas de madeira que suportam os sinos, e pela construção de novas estruturas de suporte da torre norte. A equipa encontrou alguns dos sinos em muito mau estado, em risco de se desprenderem da estrutura e criarem um efeito de dominó, que poderia resultar na queda de sinos na frente do palácio. Os dois carrilhões com 119 sinos, repartidos por sinos das horas, da liturgia ou dos carrilhões, constituem o maior conjunto sineiro do mundo, sendo, a par dos seis órgãos históricos e da biblioteca, o património mais importante do palácio. Mário Pereira referiu que está tão confiante no bom curso desta obra que já tem alguns carrilhonistas convidados para o concerto inaugural em Setembro de 2019, se tudo correr como previsto. Por sua vez, o dossier final de candidatura do Santuário do Bom Jesus do Monte, um trabalho desenvolvido ao longo de 20 anos, foi entregue ao Centro do Património Mundial da UNESCO no dia 15 de Janeiro de 2018. O Santuário constitui um conjunto arquitectónico e paisagístico construído e reconstruído a partir do século XVI, no qual se evidenciam os estilos barroco, rococó e neoclássico. É composto de um “Sacro Monte”, de um longo percurso de via-sacra atravessando a mata, de capelas que abrigam conjuntos escultóricos evocativos da morte e ressurreição de Cristo, fontes e estátuas alegóricas, da Basílica, culminando no “Terreiro dos Evangelistas”. No Santuário, prossegue actualmente a recuperação das capelas, um projecto que se espere fique concluído até 30 de Setembro, prevendo-se que a zona do Santuário fique recuperada até 30 de Junho. Portugal foi o único país a inscrever dois monumentos na Lista do Património Mundial da UNESCO nesta sessão, algo que traz uma responsabilidade acrescida ao país, segundo o embaixador português na UNESCO, António Sampaio da Nóvoa. Foram ainda inscritos este ano na lista, entre outros, os bens Parati – Cultura e Biodiversidade no Brasil, as Colinas do Prosecco em Itália, Bagan no Myanmar, o Sistema de Gestão da Água de Augsburgo na Alemanha e o sítio da Antiga Babilónia no Iraque.
Vietname | Polícia detém quase 400 chineses por apostas ilegais Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] polícia vietnamita deteve quase 400 cidadãos chineses no norte do país, na maior operação de sempre contra jogos de azar no Vietname, envolvendo estrangeiros, informou ontem a imprensa oficial de Hanói. A maior parte dos jogos de azar está proibido a cidadãos do Vietname, apesar de alguns casinos operarem em ‘resorts’ e hotéis, para estrangeiros. Nos últimos anos, grupos criminosos da China têm usado o país para operar casinos ‘online’. Este fim-de-semana, cerca de 500 policias cercaram um condomínio fechado na cidade portuária de Hai Phong, no norte do Vietname, onde as salas eram usadas para transaccionar apostas num valor superior a 400 milhões de dólares, segundo a imprensa de Hanói. “Trata-se da maior apreensão de sempre a nível de volume e do número de estrangeiros detidos”, sublinhou a televisão estatal VTV. Os 380 chineses geriam apostas ‘online’ em resultados desportivos, para apostadores da China continental, e administravam uma lotaria ilegal, acrescentou. A polícia confiscou quase dois mil ‘smartphones’, 530 computadores, cartões bancários e dinheiro. No ano passado, dezenas de pessoas foram condenadas no Vietname por integrarem uma rede de jogos ‘online’, administrada por um alto funcionário encarregado de supervisionar as apostas ‘online’.
Dissidente Huang Qi condenado a doze anos de prisão Hoje Macau - 30 Jul 2019 Um tribunal chinês condenou ontem o dissidente Huang Qi a 12 anos de prisão por ter revelado segredos de Estado a uma entidade estrangeira, parte de uma campanha lançada por Pequim contra vozes dissidentes [dropcap]H[/dropcap]uang Qi, que dirigia uma plataforma distinguida pela organização Repórteres Sem Fronteiras com o prémio de liberdade de imprensa, foi detido em várias ocasiões por denunciar abusos do poder político, incluindo em 2008, depois de advogar por pais cujos filhos morreram num terremoto na província de Sichuan, sudoeste do país. Milhares de estudantes morreram quando as suas escolas, de fraca construção, ruíram, mas as autoridades nunca divulgaram os resultados de qualquer investigação e nunca responsabilizaram alguém. Um comunicado difundido ontem pelo Tribunal Popular Intermédio de Mianyang, província natal de Huang, em Sichuan, não detalhou quais foram os segredos revelados ou os receptores. Em 1998, Huang fundou o portal “64 Tianwang”, onde revelava histórias de abusos por parte das autoridades. A mãe de Huang, Pu Wenqing, pediu às autoridades que o transferissem para um hospital, para receber tratamento, devido a função renal limitada e perda de peso severa. A organização não-governamental Human Rights China revelou que “em resultado dos espancamentos e outros abusos que sofreu durante períodos de detenção”, Huang sofre de acumulação de líquido no cérebro, uma doença cardíaca reumática e insuficiência renal crónica, que requerem medicação diária. Numerosos dissidentes chineses adoeceram durante a prisão. Outros exemplos O Prémio Nobel da Paz Liu Xiaobo estava a cumprir uma pena de onze anos por “incitar a subversão do poder do Estado” quando morreu de cancro no fígado, há dois anos. Sob a liderança do actual líder chinês, Xi Jinping, que após uma emenda constitucional, no ano passado, poderá exercer como Presidente vitalício, as autoridades chinesas têm reforçado o controlo sobre a sociedade civil, ensino ou religião.
Festival | Documentários em estreia para ver de 10 a 31 de Agosto Raquel Moz - 30 Jul 2019 São 23 filmes, alguns em estreia absoluta em Macau e Hong Kong, para ver no Festival Internacional de Documentário de Macau, durante o próximo mês. Há ainda uma masterclass, conversas, debates e festas para homenagear o cinema de reflexão sobre temas históricos, biográficos e sociais [dropcap]A[/dropcap] Cinemateca Paixão acaba de apresentar o cartaz de filmes que chegam a Macau em primeira mão na edição do 4º Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM). Durante o mês de Agosto, de 10 a 31, a sala da Travessa Paixão convida o público a perder-se em histórias interessantes e curiosas sobre o que se vai passando no mundo. “Let’s Get Lost” é o primeiro título que abre o evento, realizado por Bruce Weber em 1988, sobre a trágica vida do lendário trompetista de música jazz Chet Baker. “A música, as drogas e o seu coração romântico” são os ingredientes do documentário de Bruce Weber, “ele próprio fotógrafo de moda de fama mundial”, que “retrata os últimos anos do músico em extraordinárias imagens a preto e branco. O trabalho de câmara é tão poético quanto a música de Baker. No final das filmagens, Baker foi encontrado morto na rua debaixo do seu quarto de hotel em Amesterdão. O incidente adiciona um elemento de mistério ao filme”, lê-se na informação divulgada pela Cinemateca. A projecção do filme, no dia 10 de Agosto às 14h30, será complementada com uma conversa sobre o tema “A Música, Caso e Legado de Chet Baker”, por Anson Ng, em cantonense com tradução em inglês, às 17h00 com entrada livre. O filme, que foi nomeado para Melhor Documentário na 61ª edição dos Óscares em 1989, volta a ser exibido a 24 de Agosto às 21h30. A rúbrica “Realizador em Foco” dá este ano destaque ao portefólio do realizador cazaque Sergey Dvortsevoy, que estará em Macau para apresentar seis filmes da sua autoria e partilhar métodos criativos numa masterclass para realizadores locais. O homenageado “foi engenheiro aeronáutico e tornou-se realizador depois de estudar cinema na década de 1990. Apesar de uma escassa formação teórica, Dvortsvoy aplica um estilo narrativo directo, focando-se em personagens socialmente marginalizadas”, revela a nota de imprensa. A não perder está a sua primeira película ficcional, “Tulpan” (2008), filme que mereceu a Dvortsvoy o prémio “Um Certain Regard” no Festival de Cinema de Cannes, com a história de um jovem que pretende casar com a mulher dos seus sonhos e dedicar-se à vida rural, o que em nada seduz a visada. E “Ayka” (2018), o seu mais recente trabalho, nomeado para a Palma de Ouro, que retrata a vida deprimente de uma mãe em fuga, com a notável interpretação de Samal Yeslyamova, que trouxe para casa os galardões de Melhor Actriz no Festival de Cinema de Cannes e nos Prémios do Cinema Asiático. Ambos os filmes são exibidos duas vezes, dias 10 e 27 e dias 11 e 29, respectivamente. A retrospectiva do realizador nascido no Cazaquistão inclui ainda os documentários “Auto-estrada” (1998) e “Na Escuridão” (2004), numa sessão única dia 13, e “Paraíso” (1995) e “Dia do Pão” (1998), no dia 21. Estreias asiáticas Nas secções do festival dedicadas aos filmes mais recentes, encontram-se estreias absolutas em Macau e Hong Kong, como o filme “Onde Estás, João Gilberto?” (2018), de Georges Gachot, que acompanha o percurso de um escritor alemão que viaja para o Brasil em busca do fundador da Bossa Nova, apaixonado pela música do compositor retirado da cena musical durante mais de três décadas. A estreia, no dia 17 às 19h30, conta com uma festa pré-sessão de música e comida brasileira, das 18h às 19h, para homenagear o artista recém-desaparecido no mês passado. O filme repete no dia 23. “Presente.Perfeito” (2019), da realizadora chinesa Shengze Zhu, é outra estreia que aborda os milhões de vloggers (video bloggers) por toda a China que mostram as suas vidas online a estranhos, à procura de popularidade, na “mais crua auto-exposição” com que os elementos marginalizados ultrapassam a solidão das suas vidas na actual sociedade chinesa. O filme ganhou o prémio Hivos Tiger no Festival de Roterdão e passa apenas no dia 18. Outro destaque é a estreia de “Viajante da Meia Noite” (2019), do realizador afegão Hassan Fazili, que documenta a sua própria fuga com a família, depois dos talibãs terem pedido a sua morte. A recusa de exílio pelo Tajiquistão força-os a uma deriva incerta em busca de um destino que lhes reconheça o estatuto de refugiados. Passa na tela nos dias 14 e 25. “Mais Um Dia de Vida” (2018), do realizador espanhol Raúl de la Fuente e do animador polaco Damian Nenow, é uma interessante animação sobre a Guerra Civil de Angola, a partir do livro do jornalista polaco Ryszard Kapuściński, que se aventurou em 1975 até à linha da frente do conflito armado para fazer reportagens para a agência noticiosa (PAP). A brutalidade das experiências de guerra que reportou, na sua colectânea de textos e mapas, veio a ser uma referência para a classe jornalística mundial, a partir das suas palavras: “A pobreza não tem voz. O meu dever é conseguir que essa voz se ouça”. Esta adaptação ao género de animação é exibida apenas no dia 17. “Três Estranhos Idênticos” (2018), do realizador britânico Tim Wardle é um curioso documentário sobre o encontro, em 1980 na cidade de Nova Iorque, de três jovens rapazes que descobrem ser trigémeos idênticos separados à nascença. “Após dezanove anos de separação, a sua reunião torna-se notícia e conduz a um sinistro segredo científico”, que valeu ao filme o Prémio Especial do Júri do Festival de Sundance, EUA, em 2018, e uma nomeação para Melhor Documentário nos BAFTA 2019, no Reino Unido. A fita pode ser vista nos dias 10 e 30. E ainda os clássicos Entre várias outras propostas presentes neste FIDM, que ao todo projectará mais de duas dezenas de documentários, estão também dois títulos clássicos que importa assinalar. “Recordações de Uma Viagem à Lituânia” (1972) é assinado pelo realizador lituano Jonas Mekas, padrinho do cinema americano de vanguarda, que faleceu em Janeiro passado aos 96 anos de idade. Filmado entre 1950 e 1972, com a sua Bolex de 16mm, este documentário abrange mais de duas décadas, ilustrando o seu percurso em Nova Iorque e o regresso ao país natal para reencontrar os amigos. A exibição única é dia 20. Outro clássico é o muito premiado “O Acto de Matar” (2012), na versão editada pelo realizador americano Joshua Oppenheimer, que convidou Anwar Congo, o gangster que conduziu o extermínio de comunistas na Indonésia em 1965, a reencenar voluntariamente a matança para a objectiva. “As cenas do massacre ganham um sentido surreal, com Congo no papel de assassino e vítima”, cujo orgulho se vai desfazendo à medida que o sentimento de culpa surge. Vencedor de Melhor Documentário nos BAFTA e nos Prémios do Cinema Europeu de 2014, e nomeado na mesma categoria à 86ª edição dos Óscares, o filme foi aplaudido pelo mestre do cinema alemão, Werner Herzog, que o considerou “um dos mais importantes filmes vistos nos últimos 25 anos”. As sessões acontecem nos dias 17 e 31, com uma palestra pré-sessão, dia 17 às 14h30, pelo especialista de História da Indonésia, George Young, sobre o genocídio “Gerakan 30 de Setembro” que acorreu naquele país. O cartaz de excelência do FIDM é mais uma aposta da Cinemateca Paixão, com o apoio da Comuna de Han-Ian – associação de arte e cultura. Os bilhetes custam 60 patacas por sessão e já se encontram à venda.
Hotel Palácio Imperial Beijing | DSSOPT promete ouvir opiniões Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) emitiu ontem um comunicado a prometer ouvir mais opiniões sobre a emissão da planta de condições urbanísticas (PCU) para o terreno onde está situado o antigo Hotel Palácio Imperial Beijing. “Quanto às opiniões da população e das associações recolhidas no período de divulgação, a DSSOPT irá dar seguimento de acordo com os procedimentos estipulados. A DSSOPT frisa que tem cumprido escrupulosamente a lei do planeamento urbanístico e respectivas disposições no seguimento de todos os pedidos de emissão de PCUs.” O mesmo comunicado explica que o projecto em causa foi sujeito a consulta do público a partir do dia 4 de Julho, sendo que, quatro dias depois, “o requerente solicitou o cancelamento do pedido supramencionado”. A DSSOPT deu depois “seguimento ao caso nos termos legais e enviou um ofício ao requerente em 19 de Julho de 2019 para notificação do deferimento do último pedido”. Na última reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico, o director da DSSOPT, Li Canfeng, negou qualquer tipo de favorecimento na aprovação da PCU. “De facto, o pedido foi avançado no ano passado, não se pode dizer que tenha sido aprovado muito rapidamente. Não vejo nenhum problema com a aprovação da Planta de Condições Urbanísticas”, disse Li Canfeng. Porém, o director da DSSOPT reconheceu não estar ao corrente da batalha legal, uma vez que esse tipo de informação não consta nos documentos requeridos.
Residentes de Macau impedidos de entrar em Hong Kong Juana Ng Cen e Sofia Margarida Mota - 30 Jul 201918 Ago 2019 Um grupo de quatro residentes de Macau foi impedido de entrar em Hong Kong através do terminal de Sheung Wan no passado domingo. Em comum tinham camisolas pretas vestidas. Apesar de declararem que a deslocação era para passeio e compras, foram forçados a regressar. De volta ao Terminal do Porto Exterior, foram identificados, revistados e fotografados [dropcap]U[/dropcap]ma estudante, um professor, um funcionário administrativo e um trabalhador independente, todos residentes de Macau, foram impedidos de entrar em Hong Kong, no passado domingo. Todos vestiam camisolas pretas, indumentária associada aos protestantes que se tem manifestado nos últimos tempos na região vizinha. A situação aconteceu no terminal marítimo de Sheung Wan ao chegarem à região vizinha num barco que saiu de Macau às 10h45. À chegada foram interceptados pelas autoridades de emigração e levados para um gabinete para serem identificados. De acordo com Carol (nome fictício), em declarações ao jornal Orange, uma publicação da Associação de Estudantes da Universidade de Macau, vários passageiros que viajaram no mesmo barco foram reencaminhados para interrogatório. Todos vestiam camisolas pretas. De acordo com Carol, os quatro residentes mostraram às autoridades as moradas que pretendiam visitar em Hong Kong e que incluíam zonas de passeio e lojas para compras. No entanto, as autoridades não ficaram convencidas e recusaram a entrada, emitindo uma notificação para o efeito, uma vez que os residentes não queriam regressar de imediato a Macau. Regresso atribulado À chegada a Macau, por volta das 16h, os quatro amigos voltaram a ser interceptados, agora pelas autoridades locais responsáveis pelo controlo da migração, e sujeitos a identificação. Os residentes foram também revistados e fotografados. Quando questionaram as autoridades acerca deste processo, receberam como resposta que se tratava de uma actividade de rotina comum. Em comunicado, a Polícia de Segurança Pública esclareceu ontem que os procedimentos a que foram sujeitos no regresso a Macau são “obrigatórios” quando há situação de recusa de entrada em Hong Kong, de modo a perceber a razão do impedimento e confirmar que não se trata de envolvimento criminoso. “Como serviço de gestão de migração da RAEM, podem efectuar os procedimentos estabelecidos por lei e que incluem a revista de pessoas a entrada de Macau”, lê-se. Já no que respeita à situação verificada no terminal marítimo de Hong Kong, as autoridades locais salientam que se trata de um procedimento que diz respeito àquela jurisdição.
SAFP | Kou Peng Kuan quer rever recrutamento dos funcionários públicos Juana Ng Cen e Raquel Moz - 30 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Kou Peng Kuan, declarou ontem que é necessária uma revisão abrangente do regime de acesso dos trabalhadores dos serviços públicos aos quadros, com um processo de recrutamento que seja justo e eficaz, impedindo situações de nepotismo e dando solução às queixas de morosidade e ineficiência do actual regime, noticiou o Jornal do Cidadão em língua chinesa. “Sobre a segunda fase dos trabalhos de revisão do Regime das Carreiras dos Trabalhadores dos Serviços Públicos, será proposta a possibilidade de entrevista aos candidatos aprovados na prova escrita, de acordo com a proporção das vagas abertas a concurso, que não sejam inferiores ao número mínimo de candidatos”, frisou o director no domingo, num seminário sobre o 20º aniversário dos funcionários públicos da RAEM. Kou Peng Kuan propôs ainda a criação de um concurso de acesso inter-carreiras, a fim de assegurar a mobilidade entre cargos aos funcionários com mais mérito profissional. O responsável pelos SAFP referiu que os diferentes sistemas jurídicos, que regulamentam a gestão dos servidores públicos, estão relacionados entre si, o que aumenta o tempo de revisão. Governo electrónico Sobre as carreiras dos servidores públicos, é necessário definir de forma mais razoável as estruturas de remuneração e fazer uma análise abrangente das 34 carreiras existentes, tendo em conta a responsabilidade dos cargos, o conhecimento necessário e a capacidade de aplicação para cada posto, de forma a acompanhar a estratégia de desenvolvimento da RAEM. Kou Peng Kuan prevê que, no final de 2019, quando a lei do Governo electrónico tiver entrado em vigor, 90 serviços públicos sejam associados a 14 departamentos da Administração Pública, podendo ser solicitados a partir de uma conta online, aceites e deferidos através de um sistema de rede optimizado. O responsável acredita que, até ao final de 2021, cerca de 400 serviços serão fornecidos por esse método. “Com uma determinação clara das responsabilidades e dos critérios de aprovação, a credibilidade pública vai aumentar e, ao mesmo tempo, diminuir a pressão dos trabalhadores que prestam serviços de atendimento”, comentou Kou Peng Kuan.
Macau Renovação Urbana | Empresas de directores vão poder participar em concursos João Santos Filipe - 30 Jul 2019 Os directores da Macau Renovação Urbana vão poder utilizar as suas companhias privadas para participar nos concursos públicos da empresa de capitais públicos que dirigem. Porém, Peter Lam e Paulo Tse garantem que a transparência vai ser garantida [dropcap]A[/dropcap]s empresas de construção que sejam propriedade ou ligadas aos directores da companhia Macau Renovação Urbana vão poder participar nos concursos públicos lançados pela entidade. A informação foi admitida ontem pelo presidente da Macau Renovação Urbana, Peter Lam. A empresa com capitais públicos foi criada, por enquanto, para construir casas destinadas aos compradores lesados do empreendimento Pearl Horizon. “Sim, as empresas ligadas aos directores podem participar [em futuros concursos públicos”, respondeu Peter Lam, quando questionado sobre o assunto, em conferência de imprensa. “Mas vamos valorizar a transparência no processo e na gestão da empresa”, acrescentou. Depois de uma primeira resposta, o vice-presidente da empresa, Paulo Tse, completou as declarações anteriores. “Segundo a legislação em vigor não há proibição dos directores participarem com as suas empresas privadas ou em consórcio”, começou por dizer. Contudo, Paulo Tse fez questão de frisar que a Macau Renovação Urbana tem uma elevada preocupação com a igualdade, transparência e justiça. “É importante ter em consideração que a Macau Renovação Urbana, além de ter um conselho fiscal, tem um elevado padrão interno de transparência e um regime de declaração de interesses para garantir a eficiência, transparência, igualdade e justiça, para evitar sem conflitos de interesses”, indicou. O vice-presidente prometeu também que se houver uma proposta de empresas ligadas aos membros da direcção que vão ser tomadas todas as precauções para evitar conflitos de interesses. Além disso, tanto Peter Lam como Paulo Tse indicaram que o conselho fiscal tem competências necessárias para actuar: “Podem ter a certeza que vai haver garantias de transparência na Macau Renovação Urbana”, frisou o vice-presidente. Alguns dos membros do conselho de administração da Macau Renovação Urbana têm ligações ao sector de construção. Exemplo imediato é o próprio presidente, Peter Lam, que detém 90 por cento das acções da construtora Sociedade de Desenvolvimento Industrial Cidade Nova. Já o vice-presidente, Paulo Tse, está ligado à também construtora Golden Crown Development. 1.687 candidaturas Durante a reunião de ontem foram apresentados os números dos candidatos da primeira fase às habitações para troca do Pearl Horizon. Foi com esse propósito que a Macau Renovação Urbana organizou a conferência de imprensa. De acordo com os números revelados, na primeira fase, foram recebidas 1.686 candidaturas. Ontem começou a segunda fase que se prolonga até 16 de Agosto e, segundo os dados oficiais, ainda há 507 compradores que se podem candidatar, o que equivale a 18 por cento do total. Após o prazo de candidatura os promitentes-compradores perdem a oportunidade de se candidatarem a uma das futuras habitações que vão ser construídas no terreno onde está previsto ser erigido o Pearl Horizon. Os resultados das candidaturas vão ser relevados no prazo de 30 dias. No mesmo terreno vão ser igualmente construídas habitações públicas, mas o número de fracções totais só vai ser definido depois do concurso que está agora aberto para promitentes-compradores do Pearl Horizon. Em relação a todos os procedimentos, os responsáveis prometeram fazer tudo “o mais depressa possível”.
Cibersegurança | Governo promete seguir regras internacionais Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] Rádio Macau noticiou ontem que a tutela da Segurança, liderada pelo secretário Wong Sio Chak, promete seguir as regras da cooperação internacional no que diz respeito aos dados informáticos armazenados fora de Macau a ser usados como prova em processos-crime. A informação consta na nota justificativa da proposta de “lei de combate à criminalidade informática”, que deu entrada na Assembleia Legislativa. No que diz respeito ao acesso a estes dados, a proposta do Governo traz uma alteração de três palavras, pois é eliminada a expressão “situado em Macau” que, actualmente, limita as buscas a sistemas informáticos localizados no território. Desta forma, passa a ser possível o acesso a qualquer servidor, de forma unilateral e sem depender da autorização da jurisdição onde estão armazenados os dados, bastando a autorização de um juiz. O Governo apenas refere, de acordo com a Rádio Macau, que os dados “têm de ser “publicamente acessíveis”, e que a ideia é seguir o que se aplica em Portugal e Espanha, em conformidade com a Convenção Europeia sobre o cibercrime.
Obras | Ella Lei quer consulta sobre planeamento da Praça de Ferreira do Amaral Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] planeamento da Praça de Ferreira do Amaral deve ser sujeito a consulta pública. A ideia é defendida por Ella Lei em interpelação escrita. Segundo a deputada, as autoridades apresentaram recentemente a proposta do planeamento, que contempla o desvio de três autocarros para o auto-silo subterrâneo e a remoção de lugares de estacionamento de motociclos para que sejam substituídos por espaços destinados a automóveis, alterações que, considera, devem ter em conta a opinião dos residentes. A deputada acrescenta ainda que “as autoridades pretendem ter o design preliminar do projecto pronto no final deste ano, no entanto o planeamento relevante ainda não foi divulgado à sociedade, nem se sabe se vai haver consulta pública”. Por se tratar de uma reestruturação que vai de encontro às necessidades da população, Lei solicita a divulgação do plano o mais breve possível, para que a população possa dar a sua opinião.
Domésticas | Wong Kit Cheng quer que Governo pense nos “empregadores” João Santos Filipe e Juana Ng Cen - 30 Jul 2019 A deputada considera que o Executivo devia apostar na formação de empregadas domésticas e que actualmente já ninguém consegue contratar nenhuma empregada doméstica por 3.000 patacas [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng defende que as autoridades deviam ter ouvido as famílias que contratam empregadas domésticas na questão dos aumentos salariais para o valor de 3.000 patacas. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Wong propôs ainda que o Governo e as agências de emprego para trabalhadores empregadores domésticos estabeleçam uma base de dados estatísticos sobre a situação do sector. As palavras da legisladora, ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau, foram proferidas depois da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) ter anunciado que o salário mensal para a emissão de quota para a contratação de um trabalhador não-residente, no caso das trabalhadoras domésticas, tinha sido aumentado para 3.000 patacas. Caso contrário, diz a DSAL, o pedido de importação de mão-de-obra pode não mesmo não ter luz verde. Ainda de acordo com o Executivo, os salários inferiores a 3.000 patacas devem ser ajustados até ao final do mês, ou as famílias correm o risco de não ter autorização de mão-de-obra renovada. Na mesma conversa, Wong Kit Cheng afirmou que o Governo tomou uma medida a reboque das exigências das empregadas domésticas. Porém, vincou que o mercado já não permitia salários abaixo das 3.000 patacas. “Francamente, neste momento, a maioria dos empregadores não consegue contratar ajudantes domésticos com um salário mensal inferior a 3,000 patacas”, opinou. Ao mesmo tempo, Wong considerou acertada a decisão do Executivo de Chui Sai On de não incluir estas trabalhadoras na lei do salário mínimo. Para a deputada, esta escolha permite que a renumeração seja ajustada pelo mercado em resposta à qualidade do serviço prestado pelo ajudante doméstico. Mais qualidade No que diz respeito ao trabalho fornecido pelas empregadas domésticas, a deputada considera que o Executivo tem a obrigação de promover a melhoria da qualidade e apontou duas medidas: a primeira passa pela criação de uma base de dados estatísticos, a outra pela promoção da realização de acções de formação para as tarefas domésticas mais simples e básicas. Ainda em relação a este sector, Wong Kit Cheng pediu ao Governo que haja uma alteração dos regulamentos de imigração, com o objectivo de facilitar a vida às famílias. Também ontem a deputada divulgou uma interpelação escrita em que pede ao Governo que explique o processo da legislação do regime da mediação de assuntos familiares. O pedido foi feito na sequência do que a deputada diz ter sido uma promessa do Executivo, em 2015. Segundo Wong Kit Cheng, o adiamento da legislação do sistema de mediação familiar pode criar uma lacuna na implementação da lei de prevenção e correcção da violência doméstica.
Remunerações | Ng Kuok Cheong quer proposta de actualização Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong quer saber se o Governo vai apresentar a proposta preliminar do regime de actualização das remunerações por escalas salariais e fazer consulta pública sobre o assunto. O legislador considera que o regime de remuneração dos funcionários públicos tem estado associado a um determinado índice remuneratório, e é objectivamente favorável às pessoas no topo da hierarquia. Contudo, defende que o Governo ainda não divulgou a informação preliminar da proposta do regime da renumeração, cuja revisão foi estudada há muitos anos. Ng Kuok Cheong acredita que este aspecto põe em causa a intenção do Governo actual de fugir às responsabilidades durante o actual mandato. Portanto, o deputado pediu ao Executivo para esclarecer directamente se a proposta existe, quando será feita a consulta pública e se vai ser apresentada uma legislação até Dezembro.
Tiananmen e sufrágio universal hoje em debate na AL Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]D[/dropcap]epois da recusa pelo antigo presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, e pela Mesa da AL, o pedido de emissão de voto por Tiananmen vai hoje estar sujeito aos desígnios dos deputados em sessão plenária. A iniciativa foi apresentada a 17 de Maio pelos deputados pró-democratas Sulu Sou, Au Kam San e Ng Kuok Cheong, que solicitaram a emissão de voto tendo em conta os acontecimentos de 4 de Junho de 1989 em Pequim. No pedido, feito para assinalar o trigésimo aniversário dos acontecimentos, os deputados apontaram quatro objectivos. O primeiro passava por “realizar uma investigação independente e justa” sobre os acontecimentos de 1989 em Pequim. O segundo, por descobrir o que aconteceu às vítimas e informar as famílias sobre os acontecimentos que envolveram os seus familiares. No terceiro ponto, os deputados pró-democratas sublinharam a necessidade de compensar os familiares enlutados, “de acordo com a lei”. Finalmente, Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou defendem que é preciso responsabilizar criminalmente os responsáveis que ordenaram que as tropas carregassem sobre os manifestantes. Duplo não Ho Iat Seng, recusou avançar, argumentando que a proposta apresentada pelos pró-democratas não estava de acordo com as normas sobre emissão de voto, sendo estas aplicáveis a seis situações: “congratulação, pesar, protesto, saudação, louvor e censura”. Para o Ho, a emissão de voto solicitada pelos três deputados não se enquadrava em nenhuma das situações previstas. Os deputados recorreram à Mesa da AL que considerou que se tratavam de “pedidos concretos” e não de uma emissão de voto, acrescentando que o acontecimento em Tiananmen “ultrapassa o âmbito da autonomia” da RAEM”. A 26 de Junho, Ng Kuok Cheong, Sulu Sou e Au Kam San apresentaram novo recurso, o que implica o debate em plenário deste tema. Também na sessão plenária de hoje vai estar a proposta de debate de Sulu Sou sobre a eleição do Chefe do Executivo de Macau por sufrágio universal. Sulu Sou não desiste e, em ano de eleições para o mais alto cargo do Governo, defende a necessidade de voto universal para garantir a legitimidade governativa e o avanço do território rumo a um modelo democrático.
Petição | Novo Macau recolhe 1500 assinaturas contra criminalização de rumores Sofia Margarida Mota - 30 Jul 2019 A Associação Novo Macau reuniu cerca de 1500 assinaturas numa petição contra a criminalização de rumores prevista na proposta de lei da protecção civil. Os pró-democratas exigem a retirada do artigo, alertando para a possibilidade de restrição à liberdade de expressão [dropcap]A[/dropcap] petição promovida pela Associação Novo Macau para a retirada do artigo 25º da proposta de lei de bases da protecção civil, que prevê a criminalização de rumores, reuniu 1494 assinaturas até ontem, dia em que terminou a recolha. Apesar das alterações que o referido artigo sofreu recentemente, e das explicações dadas pelo secretário para a Segurança, a Novo Macau insiste na retirada do articulado que se encontra em análise na especialidade na Assembleia Legislativa. Aliás, para a associação pró-democrata as alterações ao artigo atestam a sua polémica numa “situação sem precedentes”. Por outro lado, a insistência em manter a norma que prevê a criminalização da divulgação de informações falsas em caso de catástrofe, revela que existem “outros motivos políticos por detrás da medida”, aponta a Novo Macau em comunicado. Os pró-democratas continuam a defender que a norma em causa pode ser aplicada para a restrição de liberdades e em situações de protesto. “De acordo com o conteúdo da proposta, o Chefe do Executivo tem o direito de, por sua própria iniciativa, definir qualquer incidente social (como uma manifestação, um protesto, uma greve ou um movimento social de certa escala) como “incidente de segurança na sociedade”, refere. De acordo com esta premissa, a legislação referente aos rumores pode ser aplicada para “controlar a liberdade de comunicação e mesmo a expressão de opiniões”. Ao mesmo tempo, a proposta não prevê qualquer medida de contestação das decisões do Chefe do Executivo. Medo subliminar A associação argumenta ainda com o receio da população de cometer crimes com a troca de informação em situações de rumores o que pode provocar uma situação de “autocensura”, como “consequência inevitável” do medo. Para a Novo Macau, por mais “perfeita” que seja a redacção da proposta de lei, “sob a cultura política e social existente em Macau, o efeito negativo do crime associado ao ‘rumor’ é uma consequência inevitável para a população em geral e mesmo para os media”. Segundo a Novo Macau, a “cegueira” com a segurança pode também promover “uma força policial desproporcional” criada para “monitorizar, intervir ou mesmo impedir a população de exercer direitos fundamentais”. Ao mesmo tempo, o diploma permite que actividades organizadas pelos residentes possam ser “erradamente interpretadas como uma ameaça à segurança pública”, o que pode resultar em “restrições injustificáveis e até mesmo processos judiciais”. Esta situação, provoca “sérias dúvidas na população” sobre a possibilidade do abuso de poder por parte das autoridades. A associação pró-democrata recorda ainda que o referido artigo tem sido comentado por vários sectores, inclusivamente pelo futuro Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que pediu ao Governo e deputados consenso no que diz respeito à criminalização de rumores.
Hong Kong | Apoio à polícia abre caminho a mais violência, diz activista Hoje Macau - 30 Jul 2019 [dropcap]A[/dropcap] porta-voz da organização que tem liderado as manifestações em Hong Kong alertou que o apoio “incondicional” expresso ontem por Pequim ao Governo e à polícia do território abre caminho “a mais violência”. “Apesar dos relatórios de organizações internacionais, que dão provas do abuso policial, Pequim decidiu apoiar a polícia, o que é perigoso porque significa que, independentemente do que faça, a polícia vai ter o apoio” do Governo Central, afirmou Bonnie Leung. Tal representa “uma enorme ameaça” para os manifestantes, advertiu a vice-coordenadora da Frente Civil de Direitos Humanos, antevendo “maior violência” por parte das autoridades em futuros protestos, que, garantiu, vão existir. Para a activista, a conferência de imprensa sem precedentes realizada ontem pelo Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado teve apenas dois destinatários: o Governo e a polícia da antiga colónia britânica. “A conferência de imprensa não foi feita para os cidadãos e para os manifestantes de Hong Kong. A mensagem teve como objectivo, sobretudo, garantir que a polícia e o Governo de Hong Kong têm o apoio total de Pequim”, reiterou a activista. “Temos de olhar para a realidade: Em todos os protestos com confrontos, a provocação partiu das autoridades”, frisou Bonnie Leung.
Hong Kong | Pequim mantém apoio a Carrie Lam e condena protestos “inaceitáveis” Andreia Sofia Silva - 30 Jul 2019 O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês pronunciou-se ontem, pela primeira vez, sobre o que se está a passar na região vizinha. Foi reafirmado o apoio à actual Chefe do Executivo e à garantia da continuação do princípio “Um País, Dois Sistemas”. O organismo mostrou apoio à polícia e disse que os protestos ultrapassaram “o limite do aceitável” [dropcap]D[/dropcap]epois de dois dias de confrontos em Hong Kong, que levaram à detenção de 49 pessoas entre a noite de domingo e a manhã de segunda-feira, o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado da China pronunciou-se sobre a situação vivida na região vizinha em Pequim. Yang Guang e Xu Luying foram os porta-vozes de serviço do Gabinete, que falou sobre Hong Kong, pela primeira vez, desde que a Administração do território passou para a China, em 1997. De acordo com o South China Morning Post (SCMP), foram traçados três objectivos pelo Governo Central em relação a Hong Kong. Pequim espera que “os vários sectores se oponham firmemente à violência”, que “garantam firmemente o Estado de Direito” e que “a sociedade possa afastar-se dos conflitos políticos o mais rapidamente possível” Yang Guang deixou ainda claro que o princípio “Um País, Dois Sistemas”, regra basilar do funcionamento das duas regiões administrativas especiais, é para manter. “’Um País, Dois Sistemas’ é a melhor forma para governar Hong Kong, e o Governo Central não vai mudar essa direcção”. Contudo, quando questionado sobre qual a melhor forma de garantir o respeito pelo princípio no território, Yang Guang disse que “tudo dependia do entendimento deles (Hong Kong)”, uma vez que está em causa “uma completa ideologia”. “Há três linhas básicas: não se deve ir contra a segurança nacional, não se deve desafiar a autoridade do Governo Central e da Lei Básica, e não se deve usar Hong Kong como base para minar a China”, referiu. Ainda no que diz respeito à Lei Básica, os porta-vozes do Conselho de Estado nada adiantaram relativamente à possibilidade do Exército de Libertação Popular em Hong Kong poder intervir nas ruas a pedido do Governo da RAEHK. “A Lei Básica tem definições claras sobre essa matéria e não tenho mais nada a acrescentar”, frisou Yang Guang. Na conferência de imprensa de ontem, foi também dado o total apoio a Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, não sem antes apontar algumas críticas. “Ela tem desenvolvido muito trabalho desde que assumiu o mandato. Notámos que o Governo tenta rever as suas deficiências… o Governo vai ser mais inclusivo e ouvir diferentes opiniões”, disse Yang Guang. “Desde que tomou posse como Chefe do Executivo, em 2017, é reconhecida a contribuição de Carrie Lam nas áreas da segurança social e do desenvolvimento económico”, adiantou o responsável, que não deixou de dar esclarecimentos adicionais sobre a intenção da lei da extradição. Actualmente, a proposta de lei mantém-se suspensa no Conselho Legislativo sem que, no entanto, tenha sido totalmente retirada, como é desejo dos manifestantes. “O objectivo inicial desta proposta de lei era resolver uma lacuna legal, e Pequim reconhece isso. Pequim também compreende e respeita a decisão do Governo da Região Administrativa Especial (RAE) de suspender a proposta de lei. O Governo da RAE reflectiu, à sua maneira, sobre as formas de lidar com a proposta de lei da extradição. A 1 de Julho tomámos conhecimento de que Carrie Lam estaria a levar a cabo uma forma de governação mais tolerante e aberta. Pequim continua a apoiar de forma resoluta a sua Administração”, acrescentou o porta-voz. Apoio à polícia O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês pronunciou-se também sobre os últimos confrontos no território, que provocaram uma onda de feridos e detenções. A polícia de Hong Kong tem estado debaixo de fogo por parte dos manifestantes, sobretudo desde o ataque, alegadamente organizado por tríades, na estação de metro de Yuen Long. A polícia é acusada de nada ter feito para travar a violência que atingiu não apenas manifestantes, mas também jornalistas e transeuntes apanhados no sítio errado à hora errada. “No último mês, a polícia de Hong Kong tem estado sob grande pressão. Tem feito o seu melhor para proteger a sociedade e a estabilidade, e fizeram um grande sacrifício”, referiu Yang Guang, que lembrou que os familiares das autoridades têm sido alvo de abusos e ataques nas redes sociais. Nesse sentido, os porta-vozes mostraram-se contra o uso de qualquer tipo de violência. “O Estado de Direito é algo de que os naturais de Hong Kong se orgulham. Violência é violência; actos ilegais são ilegais. Isso não muda, não importa qual seja o alvo. O Governo Central apoia os vários departamentos e a polícia na protecção do Estado de Direito.” Citado pela Xinhua, Yang Guang defendeu que a população de Hong Kong deve, acima de tudo, defender a manutenção do Estado de Direito: “Não podemos simplesmente sentar-nos a observar um pequeno grupo de pessoas atropelar, de forma imprudente, o Estado de Direito.” Nesse sentido, e de acordo com o jornal online Hong Kong Free Press, Yang Guang defendeu que os últimos protestos “excederam os limites do que deve ser um protesto aceitável”. Além disso, referiu que “algumas pessoas e media com segundas intenções” tiraram vantagens da falta de familiarização do público para com o sistema legal da China. Foram essas mesmas pessoas que, aos olhos do Conselho de Estado, levaram milhares de pessoas a oporem-se à lei da extradição proposta pelo Executivo de Carrie Lam. “Se Hong Kong continuar em caos, isso vai trazer custos à sociedade”, disse Yang Guang, de acordo com o HKFP. Nas últimas semanas, números impressionantes de manifestantes povoaram as ruas da região vizinha não apenas contra a lei da extradição no LegCo mas também a favor de mais democracia no território. Além disso, exigem ainda a demissão de Carrie Lam. Os manifestantes não têm colocado muito o foco das suas reivindicações nos problemas sociais que se verificam em Hong Kong, tal como o encarecimento de vida e da habitação, mas o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado também foi confrontado com essa matéria. Xu Luying deu a resposta. “Há muitos problemas profundamente enraizados, tal como a mobilidade dos jovens e a habitação. É uma questão muito complicada e multilateral. Necessitamos de várias formas para resolver esses problemas”, disse a responsável, que lembrou o apoio que o plano da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau pode dar em termos de inovação. Nesse sentido, disse Yang Guang, o Governo de Carrie Lam “tem de encontrar formas de fomentar o desenvolvimento económico e resolver as queixas dos mais jovens no que respeita à qualidade de vida e perspectivas de carreira”. As influências externas A conferência de imprensa serviu também de alerta às alegadas influências externas de que o território tem sido alvo e que, aos olhos de Pequim, têm um papel preponderante no caminho que a luta contra a lei da extradição segue. “Algumas pessoas irresponsáveis de países do Ocidente fizeram observações irresponsáveis. Tenho tomado atenção a alguns discursos. Têm uma lógica estranha: esperam empatia para com a violência e acções ilegais, mas no que diz respeito ao trabalho da polícia na manutenção da lei, ordem e estabilidade na sociedade, os manifestantes acreditam que os polícias deveriam ser responsabilizados e condenados. Isto é ridículo”, disse Yang Guang. O mesmo responsável não respondeu quanto à possibilidade de ser criada uma comissão de inquérito independente sobre os últimos acontecimentos. “Hong Kong é a Hong Kong da China. Os assuntos internos de Hong Kong são os assuntos internos da China. A interferência não é permitida. Os políticos dos países do Ocidente têm feito uma série de declarações e a sua intenção é transformar Hong Kong num local que cria problemas à China e que traz dificuldades ao seu desenvolvimento”, frisou o porta-voz. O Parlamento Europeu foi uma das entidades que mais recentemente condenou o que se passa em Hong Kong, aprovando uma resolução contra a violência policial e a proposta de lei da extradição. A China condenou esta posição da União Europeia (UE), inclusivamente com o comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em Hong Kong a referir-se aos parlamentares europeus como hipócritas. Em comunicado, foi referido que a resolução aprovada “ignora os factos e confunde o que é certo com o errado”. Para Pequim, o documento do PE “está cheio de ignorância, orgulho e é duplamente hipócrita. Aponta o dedo e dá ordens ao nível das políticas adoptadas pela Região Administrativa Especial de Hong Kong e pelo Governo Central. A sua ignorância e atitude deixaram as pessoas sem palavras com espanto e horror”. A conferência de imprensa foi transmitida em directo por meios de comunicação de Hong Kong, como o SCMP e o jornal online Hong Kong Free Press. Contudo, e de acordo com o SCMP, às agências noticiosas internacionais, como a Associated Press e a Reuters, foram cancelados os direitos de transmissão. Uma decisão da responsabilidade do Conselho de Estado da China.
Vítor Pereira empata na China e vê Guangzhou Evergrande reforçar liderança Hoje Macau - 29 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] campeão Shanghai SIPG, treinado por Vítor Pereira, empatou ontem na visita ao Wuhan Zall, por 1-1, em jogo da 20.ª jornada da Liga chinesa de futebol, após a qual viu o Guangzhou Evergrande reforçar a liderança. A equipa de Xangai esteve a perder por 1-0, graças a um golo de Liu Yun logo aos quatro minutos, mas ainda empatou, por intermédio do austríaco Marco Arnautovic, assistido por Hulk, aos 23. O Guangzhou Evergrande venceu o Beijing Renhe (3-0) e aumentou para quatro pontos a vantagem para o Shanghai SIPG e para o Beijing Guoan, que desceu ao terceiro lugar, com os mesmos pontos da equipa de Xangai, depois de perder no sábado.
Ovelha João Luz - 29 Jul 2019 [dropcap]D[/dropcap]omesticada e obediente, és o orgulho do pastor. Segue o resto da manada sem te importares com o caminho. O destino final tanto pode ser o mais apetecível verdejante pasto ou o matadouro. Não faz mal. Não interessa, porque tudo o que vem do pastor é bom e tem um qualquer interesse superior como objectivo que te escapa. Vai para onde te mandam, faz o que te pedem, come o que te dão, sê o exemplo de absoluta e inegável reverência. O propósito da tua vida é acatar ordens, mesmo que sejam ilógicas e cruéis. Abdica, rasteja, sujeita-te. Esta é a tua vida. Não ouses a rebeldia de um pensamento original, não foste feito para isso, não questiones, não duvides, não digas não ou ainda te transformas numa dessas negras ranhosas, a vergonha da manada e da espécie inteira. Justifica o abandono do teu pobre núcleo de individualidade com as razões do dono, pois é das mãos dele que vem a comida, a sobrevivência e a tua utilidade na Terra. Entrega a tua a vida a algo maior e apercebe-te que tudo é maior que a tua insignificante vida, há sempre um plano maior, um objectivo ulterior que jamais vais perceber ou antecipar. Desde os tempos de Abraão que a morte é a materialização do teu mais precioso bem. Agnus Dei, o cordeiro cujo sacrifício apazigua a ira divina. João Baptista anunciou o expoente máximo do que representas quando exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Deus tem sede do teu sangue, do teu suplício. Seja metaforicamente, num apelo de fé, ou no plano material, a tua vida realiza-se na morte. E se te portares bem, mas mesmo muito bem, podes chegar a líder do rebanho, a mais alta posição a que um ruminante pode aspirar. Imagina-te a ser a voz do pastor entre os teus, a sua continuação. Quanta honra ascender a essa categoria, ser a primeira da malhada, a rainha do curral. A palha inicial estará reservada para ti, és o animal dotado da honrosa distinção de receber as ordens directas do ser supremo e da tarefa de a transmitir aos teus semelhantes. Convence-te de que dares tudo de ti em troca de nada é aquilo para que nascestes, estás a cumprir o teu desígnio. Mais vale gozar esse destino, mas não penses que a tua hora não vai chegar só porque o pastor fala directamente contigo. As regalias do fardo inaugural nada vão significar quando chegar a tua hora de enfrentar a faca. A faca é o derradeiro direito do mestre, o exercício último da sua natural supremacia. Regozija-te na faca, aceita-a e encara-a como o reconhecimento do teu valor. A tua carcaça será consumida, servirá um propósito sempre maior que tu. Aprende a amar a faca pois é do seu gume que vem o teu último contributo e a tua libertação. Foi para isto que nasceste e tiveste a sábia direcção do pastor. És e sempre foste artigo, fruto, género, mercadoria, uma coisa que se compra e vende, substituível, provisória, destinada à caducidade. A tua sina materializa-se na faca. Mesmo que a tua hora esteja marcada, mesmo que o teu corpo continue a ser uma unidade de produção, leite, lã, carne e espírito, nada te pertence. Não és, nem nunca foste. Regozija-te do privilégio de não seres, nunca terás de suportar o fardo da existência. Reduz-te ao vibrato do balido, esse lamento arrastado em ondas de pranto que acompanha o ritmo do chocalho e o passar do tempo que não te pertence. Limita-te a aguardar pela redentora faca. Até lá, cornos baixos e come essa palha com um sorriso bovino. Linda menina do pastor.
Violência aplaudida João Santos Filipe - 29 Jul 201929 Jul 2019 [dropcap]N[/dropcap]os últimos dias aumentou a indignação relacionada com Hong Kong, depois de manifestantes terem atacado com tinta os símbolos nacionais no Gabinete de Ligação. Num país em que os símbolos nacionais estão muito acima de tudo, como a história já nos mostrou, este acto pisa claramente a linha. E como um país também é o reflexo dos seus cidadãos não me surpreendeu que em Macau muita gente tivesse ficado irritada e queira um castigo exemplar. O que eu não esperava era que algumas destas pessoas, que têm toda a legitimidade para defender a sua pátria, tivessem um prazer sádico no ataque das tríades a pessoas inocentes. Um ataque do mais violento imaginável a crianças, grávidas e trabalhadores, que se limitavam a voltar para casa depois de um dia de trabalho. No entanto, a violência extrema foi aplaudida com frases como: “estavam a pedi-las” ou “então criticam a polícia e agora querem ser protegidos?”. Parece que a Justiça, que faz parte de um segundo sistema saudável, é desprezível ou que pelo menos não merece confiança. E há ainda uma questão que não entendo. Porque é que a polícia não protegeu a tempo o Gabinete de Ligação? A esquadra de Central ficou totalmente protegida, mas o gabinete não. Parece-me óbvio que neste caso a responsabilidade também é da polícia. Os símbolos nacionais são para ser protegidos. Aliás, fossem outras as circunstâncias e acredito que o chefe principal da polícia de Hong Kong tinha sido despedido, porque faz parte do seu trabalho impedir as humilhações dos símbolos nacionais. Questão que as visões a preto e branco impedem de ver…
Automobilismo | Rui Valente prepara regresso ao Circuito da Guia Sérgio Fonseca - 29 Jul 2019 Depois de um ano em que não conseguiu cumprir os mínimos para correr na Taça de Carros de Turismo de Macau, Rui Valente regressou em grande ao garantir o apuramento para o mais importante evento desportivo do território [dropcap]H[/dropcap]á doze meses Rui Valente até tinha razões para celebrar, pois cumpria o feito notável de alcançar trinta anos de carreira no automobilismo. No entanto, desportivamente, a vida não lhe sorria. Devido a diversos problemas com o seu Mini, o mais antigo piloto português em actividade em Macau não conseguiu o apuramento para a Taça de Carros de Turismo de Macau e, na altura, nem tinha a certeza que iria regressar ao Circuito da Guia. Doze meses passaram e a conjuntura inverteu-se. Este ano o apuramento correu de feição e ficou resolvido logo no primeiro Festival de Corridas de Macau, realizado no Circuito Internacional de Guangdong, nos arredores da cidade continental chinesa de Zhaoqing. O segundo Festival de Corridas de Macau não foi tão profícuo em termos de resultados, mas as performances obtidas em pista foram entusiasmantes. “O carro nunca esteve tão forte como no fim-de-semana de Junho”, explicou Rui Valente ao HM. Graças a um “motor novo, com mais potência que o anterior”, o Mini Cooper S passou a andar “tanto como os carros da frente”, ao ponto de, na segunda corrida do segundo confronto, “estar em terceiro lugar”. Infelizmente, o destino quis outra coisa e “quando a seis voltas do fim o fusível da bomba de gasolina desligou-se automaticamente, devido ao excesso de aquecimento, e o carro parou”. O problema já tinha ocorrido na corrida anterior. A bomba foi nova para a segunda corrida, mas o problema manteve-se. Sem mais nenhuma corrida prevista para o Mini até Novembro, apenas umas corridas de resistência com o Honda DC5 para manter a forma, Rui Valente vai focar-se na preparação para a corrida mais importante do ano realizando vários testes. Já a pensar no GP Ainda faltam quatro meses para o Grande Prémio, mas não há tempo a perder, porque o Mini ainda vai receber algumas actualizações técnicas antes do ansiado evento final de temporada. Na prova, dentro da Corrida da Taça de Carros de Turismo de Macau, para os carros da categoria “1600cc turbo”, é consabido que os Mini Cooper S e os Ford Focus têm dificuldade em acompanhar em velocidade de ponta os Peugeot RCZ, principalmente aqueles preparados pela Suncity Racing Team, e os Chevrolet Cruze da Son Veng Racing Team. Por isso mesmo, não é por acaso que “vou melhorar a aerodinâmica do carro para ter mais velocidade na recta em Macau”, explica Rui Valente. “A ver se assim aproximamos mais dos Peugeot RCZ da Suncity Racing Team”, refere Rui Valente que tem os vencedores do MTCS como bitola. “O carro está espectacular”, afirma convicto o veterano piloto do território, mas na teoria “não tenho carro para ganhar aos RCZ, mas em corrida nunca se sabe…”. Com uma preparação de acordo com o orçamento muito superior ao da concorrência, os carros da equipa de Hong Kong são naturalmente os favoritos ao triunfo, todavia, ainda está na memória de todos, quando em 2017 o São Pedro alagou o Circuito da Guia e, contra as previsões, foi Jerónimo Badaraco quem saiu vitorioso.
Bumbutai a Imperatriz Xiaozhuang José Simões Morais - 29 Jul 2019 [dropcap]C[/dropcap]onsiderada a Mãe da Dinastia Qing, influente nas escolhas dos herdeiros, actuando estrategicamente na educação dos dois primeiros imperadores manchus da China, protegeu o filho Fulin a tornar-se o Imperador Shunzhi, assim como o neto Xuanye. Este, como Imperador Kangxi, quando morreu a avó mongol Borjigit Bumbutai, consorte Zhuang do defunto Imperador Huang Taiji, deu-lhe o título de Respeitável Imperatriz avó Zhuang, Xiaozhuangwen. Pertencente ao clã mongol Borjigit da tribo Khorchin, Bumbutai (1613-1688) nasceu a 28 de Março de 1613 (dia 8 do segundo mês intercalar do ano 41 do reinado de Wanli) e era filha do Príncipe Jaisang (Zhaisang) e de Boli, sendo o avô paterno Manggusi, chefe do clã Borjigit. Ainda criança, o pai convidou um professor para lhe ensinar a cultura e língua Han, assim como a luta wushu. Tinha quatro irmãos mais velhos entre os quais Wukeshan (?-1666), pai da consorte Jing (Erdeni Bumba) concubina do Imperador Shunzhi e Manzhuxili (?-1665), avô paterno da Imperatriz Xiaohuizhang (Alatan Qiqige, 1641-1718) que veio a casar com o Imperador Shunzhi. Bumbutai viera para a corte nürzhen em 1625 para consorte de Huang Taiji, pois a sua tia Jerjer (1599-1649), filha mais velha de Manggusi, mais tarde a Imperatriz Xiaoduan, encontrava-se no palácio há sete anos e ainda não tinha dado descendência. Então Manggusi colocou Bumbutai, a neta mais nova de 13 anos, para casar com o príncipe Huang Taiji, na altura com 34 anos de idade. Dez anos depois, a sua irmã mais velha Harjol (1609-1641) chegou à corte e tornou-se a favorita consorte Minhui. Como tradição, a estreitar relações políticas e diplomáticas, o clã mongol Borjigit da tribo Khorchin enviava princesas à corte nürzhen para casar com os príncipes e o khan. Percebe-se o porquê ao referir ser o clã Borjigit a origem de todos os clãs mongóis que governaram a Ásia desde o século XIII e estivera no poder na Mongólia durante séculos e mesmo na Índia o Império Mughal tinha descendentes pela linha materna dos Borjigit. Dos inúmeros príncipes estão Temüjin (Gengis khan, 1162-1227), o unificador das tribos mongóis que em 1215 conquistou Beijing e o seu neto Borjigit Kublai, que se tornou Imperador-Khan ao fundar a dinastia chinesa Yuan (1271-1368). Esta dinastia foi na China substituída em 1368 pela dos Ming e mudou-se para a Mongólia como Dinastia Yuan do Norte até ser destronada em 1453, mas logo no ano seguinte voltou a conquistar o território, depois segmentado pelos descendentes. A tribo dos Khorchin [cujo ancestral directo era Khasar, irmão de Gengis Khan] em 1612 fez uma aliança com os nürzhen e em 1624 foi a primeira tribo mongol a submeteu-se a eles, até que em 1635 deram como finda a Dinastia Yuan do Norte e colocaram-se sob o governo do manchu Khan Aisin-Gioro Huang Taiji. Desde que Nurhachi ordenara aos seus filhos para se casarem com princesas mongóis houve 84 casamentos até à entrada dos manchus na China e durante a Dinastia Qing realizaram-se 586 casamentos entre manchus e mongóis. Algo fora do normal nas dinastias chinesas. Aliança por casamento Bons cavaleiros e arqueiros, os mongóis e os nürzhen desde longos tempos habitavam territórios a Norte da China e combatiam-se até que Nurhachi (1559-1626), do clã Aisin Gioro, tribo jianzhou dos nüzhen, procurando unir as tribos nürzhen com o fito de conquistar a China, resolveu em 1612 fazer um pacto com os mongóis do clã Borjigit da tribo Khorchin, aliando por casamentos os dois povos. Daí a chegada à corte manchu de princesas mongóis. Nurhachi primeiro em 1612 casara com a filha de Mingan, o segundo irmão de Manggusi, chefe dos Borjigit, e em 1615 com Shoukang (1599-1666), filha de Sunguoer, o irmão mais novo de Manggusi. Tinha Nurhachi 57 anos e Shoukang 16 anos e dessa relação não nasceram filhos. Shoukang viveu como Imperatriz viúva durante o reinado de cinco soberanos manchus. Nurhachi casara quinze vezes e quando morreu não deixou indicado o seu sucessor, havendo três potenciais candidatos ao trono da Dinastia Dajin (1616-1636, Grande Jin, ou Jin Tardio): o segundo filho Daishan, nascido da primeira esposa, a nüzhen Tunggiya hala (neneme gaiha fujin); o oitavo filho Huang Taiji (1592-1643) nascido em 1592 da nüzhen Yele Nara hala com quem contraíra matrimónio em 1588; e Dorgon (1612-1650), o seu 14.º filho proveniente da nüzhen Ula Nara hala, cuja posição era de Dafei (grande consorte, a principal), rainha titular que controlava as concubinas e após a morte do khan se suicidou e o acompanhou no mausoléu. Conta uma história ter Nurhachi antes de morrer confidenciado a Ula Nara hala a escolha de Dorgon para lhe suceder, mas como nada ficou escrito e a mais ninguém tal referira, quando esta veio com essa revelação ninguém acreditou e a corte obrigou-a a suicidar-se para acompanhar o khan no mausoléu. Assim Dorgon não teve apoio para se tornar khan, assumindo em 1626 o trono da Dinastia Da Jin, com o título de reinado Tiancong, o khan Aisin-Gioro Huang Taiji, que no ano anterior tomara como consorte secundária Bumbutai. Foi ela uma excelente conselheira, tornando-o num bom Imperador, assim como ajudou à unificação das tribos nürzhen, que ainda não tinha ocorrido totalmente, tal como na ocupação da Coreia (1626). Quando os manchus lutavam contra os Ming, conseguiu ela convencer o general chinês Hong Cheng Chou, preso em 1640, a integrar as fileiras do exército manchu. O segundo khan Aisin-Gioro Huang Taiji (1592-1643) governou a dinastia Dajin de 1627 a 1636 com o título de reinado Tiancong. Era casado com Ula Nara hala, uma manchu de quem tinha um filho com 6 anos, HaoGe, quando em 1614, ainda como príncipe Huang Taiji se casou com a mongol Jerjer (1599-1649) e esta tomou uma posição mais alta do que a primeira esposa. Em 1636 Huang Taiji tornou-se imperador e mudou o nome da dinastia para Qing (puro), sendo Jerjer coroada Imperatriz Xiaoduan. A consorte secundária Bumbutai (1613-1688), sobrinha da Imperatriz, chegou à corte manchu em 1625 e foi então que Jerjer teve a primeira das três filhas, a 2.ª princesa Wenzhuang (1625-1663), dando depois a Huang Taiji a 3.ª e a 8.ª filha. Em 1634 Harjol (1609-1641), a irmã mais velha de Bumbutai, veio para a corte nüzhen e casou-se com HuangTaiji, tornando-se a favorita consorte Minhui. No ano de 1637 deu-lhe o oitavo filho e o khan felicíssimo mandou pela primeira vez a ordem de libertar prisioneiros e pensou torná-lo o seu sucessor. Mas este filho apenas viveu alguns meses. Estava já grávida Bumbutai, que desde 1636 era a consorte de quarto grau Zhuang, e a 15 de Março de 1638 deu o nono filho a Huang Taiji de nome Aisin-Gioro Fulin, que veio a ser o Imperador Shunzhi (1638-1661). Tiveram mais três princesas, a 4.ª a 5.ª e a 7.ª filha. Houve ainda outras consortes do clã Borjigit casadas com Huang Taiji que, apesar de ser o fundador da Dinastia Qing, não chegou a Imperador da China, morrendo em Setembro de 1643.
Cinema | Festival de Documentário arranca com filme sobre Chet Baker Hoje Macau - 29 Jul 2019 [dropcap]L[/dropcap]et’s Get Lost” (1988), sobre a vida do trompetista e músico de jazz Chet Baker, em versão recém-restaurada, é o filme de Bruce Weber que abre a 4ª edição do Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM), de 10 a 31 de Agosto na Cinemateca Paixão. O “Realizador em Foco” de 2019 será o cazaque Sergey Dvortsevoy, que apresentará seis das suas obras e dará ainda uma masterclass destinada a cineastas e público local. Entre muitas propostas de documentários recentes e alguns clássicos, o evento exibirá também filmes como “Presente.Perfeito” (2019) da jovem realizadora chinesa Shengze Zhu, que venceu prémios no IndieLisboa, ou as memórias do recém desaparecido pai da Bossa Nova, com o documentário “Onde Estás, João Gilberto?” (2018) de Georges Gachot, sobre a música e a vida do compositor. Os bilhetes para as sessões do FIDM encontram-se à venda desde sábado.
Museu do Oriente apresenta ciclo de cinema sobre Goa Hoje Macau - 29 Jul 2019 O Museu do Oriente, em Lisboa, apresenta, em Setembro, o ciclo de cinema “Era uma vez em Goa: Identidade e Memórias no Cinema”, com organização da académica Maria do Carmo Piçarra. Além de filmagens históricas e documentários, o cartaz presta homenagem a Paulo Varela Gomes, crítico, escritor e historiador português já falecido [dropcap]E[/dropcap]ntre os dias 4 e 29 de Setembro o auditório e a Sala Pequim, do Museu do Oriente, em Lisboa, vão receber um ciclo de cinema inteiramente dedicado à presença portuguesa em Goa e que é comissariado pela académica Maria do Carmo Piçarra, especialista em estudos sobre cinema de cariz colonial. “Era uma vez em Goa: Identidade e Memórias no Cinema” visa, de acordo com um comunicado, desvendar “olhares sobre Goa antes e imediatamente após a integração do território na Índia, em 1961, além de olhares contemporâneos – documentais sobretudo –, de realizadores portugueses e goeses que problematizam cinematograficamente a sua complexidade identitária e cultural”. Nesse sentido, serão apresentados filmes de arquivos públicos – da Rádio e Televisão Portuguesa, do Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE), da Filmoteca Española –, por vezes desprovidos de som, que serão comentados por especialistas. Além dos filmes considerados mais “oficiais”, por terem sido produzidos com o objectivo de propaganda, serão também reveladas ao público investigações de realizadores não goeses, como “Eternal Foreigner” (2003), de Paula Albuquerque, “Pátria Incerta” (2005), de Inês Gonçalves e Vasco Pimentel ou “A Dama de Chandor” (1998), de Catarina Mourão. Este ciclo de cinema conta também com filmes goeses contemporâneos, documentais e um filme ficcional konkani, que “fixam percepções pessoais, mas que atestam quer a singularidade identitária goesa quer um cuidado em fixar as alterações culturais e da ecologia do território”. O konkani, a que os portugueses chamavam canarim, é uma língua indo-ariana falada na Índia. Esta iniciativa do Museu do Oriente visa ainda homenagear o trabalho de Paulo Varela Gomes, escritor, crítico e historiador de arquitectura, falecido em 2016. Varela Gomes foi co-autor e apresentador da série documental “O Mundo de Cá”, emitida pela RTP durante os anos 90, que se debruçava sobre a presença portuguesa no Oriente na época da Expansão. Da história à modernidade “Mogacho Anvddo” é o nome do primeiro filme konkani, rodado em Goa no ano de 1950 por Jerry Braganza e integra o cartaz deste ciclo de cinema. O público poderá também ver películas goesas mais contemporâneas, como é o caso de “Digant”, filmado no ano de 2012 por Dnyanesh Moghe. “Digant” é “um filme ficcional que participa no esforço de manutenção de uma produção de cinema local, em konkani, estando ligado, pela abordagem temática, às preocupações, pela via documental, de outros realizadores goeses”. Agrupados sob o título “Comunidades goesas e culturas em filmes documentais”, serão exibidas películas como “Caazu” (2015), de Ronak Kamak; “Dances of Goa” (2012), de Nalini Elvino de Sousa; “Shifting Sands” (2013), de Sonia Filinto e “Saxtticho Koddo – O Celeiro de Salcete” (2018), de Vince Costa. A obra “I Am Nothing”, de Ronak Kamat, “fixa aspectos da vida e obra de Vamona Navelcar, um dos maiores vultos da pintura na Índia, que afirma a sua identidade goesa sem esquecer nunca a sua ligação a Portugal”. No caso do filme “Pátria Incerta”, produzido por Inês Gonçalves e Vasco Pimentel em 2005, pretende-se olhar “para o génio que o povo colonizado revela ao produzir uma síntese civilizacional própria”, uma vez que, durante 450 anos, “Goa fez parte do império colonial português, de costas voltadas para o resto da Índia”. “Nos primeiros 60 anos da ocupação, metade da população (intensamente culta, intensamente estruturada, intensamente hindu) foi forçada a converter-se à religião católica. Tal como o clima húmido de Goa dificulta o sarar das feridas, também o passado parece não conseguir cicatrizar. A memória da cultura portuguesa sobrevive em Goa e revela-se à vitalidade da cultura hindu, nunca enfraquecida, presente por toda a parte – até nos católicos goeses, descendentes de hindus convertidos”, acrescenta o comunicado. “A Dama de Chandor”, de Catarina Mourão, retrata a história de Aida, uma mulher com 80 anos que vive sozinha num palácio numa aldeia de Goa. “Este documentário conta a sua história, acompanhando o seu esforço diário para preservar a todo o custo a casa onde vive, símbolo visível e palpável da sua identidade que ela sente ameaçada. A ‘dama de Chandor’ e a sua casa confundem-se. Aida terá de viver até garantir que a casa lhe sobrevive.” O filme “I Am Nothing”, de Ronak Kamat, tem como base a investigação sobre a vida e obras do lendário e enigmático artista goês-português, Vamona Navelcar. “O filme fixa o seu processo criativo e tenta compreender o pensamento por detrás das suas obras, enquanto recolhe opiniões profundas e perspicazes sobre e pelo homem conhecido informalmente conhecido como ‘o artista de três continentes’”, aponta o mesmo comunicado. História em silêncio Este ciclo de cinema dedicado a Goa não termina sem uma exibição de curtas-metragens de arquivo, sendo que alguns filmes, devido à passagem do tempo, perderam o som. Um deles é “En la India Portuguesa: Goa de Ayer y de Hoy”, foi filmado por ocasião das comemorações do centenário de S. Francisco Xavier e que mostra como o regime ditatorial de Franco, em Espanha, apoiou a política colonial do Estado Novo em Portugal. Será também exibido o trabalho de Miguel Spiguel, o realizador que mais filmou o chamado “Oriente português”. Em 18 de Maio de 1959 estrearam, no cinema Império em Lisboa, várias curtas-metragens realizadas por Spiguel relativas à chegada a Goa de Vassalo e Silva, entre outros temas, sendo que “Rumo à Índia” mostra a chegada de tropas ao território.