José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias太昊陵 Tai Hao Ling Templo mausoléu de Fu Xi Dos dezoito mais importantes mausoléus da China, o Templo do Mausoléu de Tai Hao em Huaiyang é o ancestral e está desde 1996 na Lista Nacional de Relíquias Culturais Protegidas. Construído de acordo com a filosofia dos oito trigramas criados por Fu Xi, a arquitectura do templo serviu de padrão aos palácios imperiais e mausoléus depois edificados para sepultar os Imperadores. Logo após a morte de Fu Xi, ocorrida nos inícios do terceiro século antes da nossa Era, entre os anos de 2838 e 2738 a.n.E., no mausoléu, situado a 4 km SE da sua capital Wanqiu, realizavam-se celebrações ao primeiro dos três Soberanos Imperadores e o mais importante dos cem reis. Em Wanqiu, pouco tempo depois Yan Di reconstruiu a sua capital e renomeou-a Chen, aí vivendo por um curto período, segundo Sima Qian no ShiJi. Os Anais de Chenzhou referem a existência do Mausoléu de Tai Hao no Período Primavera-Outono e Kong Fuzi (Confúcio), que por três vezes visitou Chenzhou (Huaiyang) e aí viveu três anos e meio, assegurou ali estar sepultado Fu Xi. Ainda antes da Dinastia Han havia um templo a acompanhar a sepultura, feita por um monte situado no extremo Norte do recinto. As construções adicionais estenderam-se sobretudo nas dinastias Tang e Song. Durante a Dinastia Tang, no ano de 630 o Imperador Tai Zong (626-649) ordenou a proibição de as pessoas colocarem no local os animais a pastar. Já em 960, o primeiro imperador da Dinastia Song, Tai Zu (960-976) mandou haver no local do mausoléu um guarda e este aí fosse viver com a família para sempre, continuando esta com as funções de tomar conta do lugar. Ordenou ainda a realização de três em três anos de uma cerimónia de oferenda de sacrifícios a Fu Xi. Em 966 existiam cinco famílias a tomar conta do mausoléu e as cerimónias de sacrifícios eram feitas duas vezes ao ano, na Primavera e no Outono. Com a chegada da dinastia mongol dos Yuan deixaram de se realizar as cerimónias de veneração e as construções do templo ficaram em ruínas. Apenas o bei (estela) do mausoléu feito na Dinastia Song se manteve de pé. A construção do actual templo provém de um decreto de Zhu Yuanzhang, (Tai Zu, 1368-1398) o primeiro imperador da Dinastia Ming, que tornou o mausoléu o número 1 de toda a China, quando em 1371 ele mesmo aí foi oferecer sacrifícios a Tai Hao. Informação do livro MingShi LiZhi (História da Dinastia Ming), que indica ser Chenzhou o único lugar permitido para existir um templo a Fu Xi. Depois colocou uma pessoa e a família a guardar o mausoléu. Os inúmeros templos em honra dos Três Ancestrais por toda a China levaram Tai Zu, ainda em 1371, a mandar destruir os que não fossem templos dos mausoléus. Por isso, o único templo a Fu Xi preservado foi o de Chenzhou, apesar de na Colina de Gua Tai ser discretamente mantido um templo em honra de Fu Xi, por aí ser o local do seu nascimento. Entre 1448 e 1576, no templo de Chenzhou novos edifícios foram construídos, como as torres do Sino e do Tambor e arranjados os existentes. Em 1745, o governo da Dinastia Qing deu dinheiro para uma grande reparação dos edifícios do templo. Chenzhou passou em 1913 a ter definitivamente o nome de Huaiyang. Em 1949, já no tempo da República Popular da China foi criada uma Associação para tomar conta da área do templo mausoléu. Em 1984, aí foi construída uma esquadra da polícia e no ano seguinte o Museu de Huaiyang, que segundo se diz nunca chegou a abrir. Em 1996, Tai Hao Ling tornou-se Património Cultural da China. HISTÓRIAS TERRENAS Yue Fei, um general da Dinastia Song, por três vezes foi com as suas tropas defender a cidade de Chenzhou e talvez por isso, dentro do recinto de Tai Hao Ling, num pequeno pátio encontra-se o Templo a Yue Fei, sendo o único dos heróis nacionais a merecer tal honra. As estátuas de bronze de Yue Fei e Qin Hui aqui estão desde a Dinastia Ming e na Qing, a elas se juntaram as de Wang Shi, Mo Qixie, Wang Jun e Zhang Jun. Para saber quem são estas personagens, teremos de referir a História da Dinastia Song do Norte (960-1127) e a razão da mudança para a Dinastia Song do Sul. Após Zhao Kuangyin se tornar o primeiro Imperador da Dinastia Song do Norte, com o nome de Tai Zu (960-976), compreendendo serem as causas da queda da Dinastia Tang o ter comandos militares demasiado fortes e independentes do controlo dos imperadores, passou a governar com uma grande centralização de poder, reforçado pelas doutrinas confucionistas. Reduziu o exército, enfraquecendo a defesa nacional e por isso, em 1126 a Dinastia Jin (1115-1234) conquistou a capital Bianjing (Kaifeng), levando da corte Song quase três mil presos para Harbin (capital da tribo tártara Jurchen, que criou a Dinastia Jin). O que restou da Dinastia Song retirou-se para Sul e fugindo das investidas dos Jin, instalou-se em Nanjing (actual Shangqiu, na província de Henan) onde Zhao Huan foi feito Imperador Qin Zong (1125-1127). O irmão Zhao Guo, no ano de 1127 proclamou-se imperador com o nome de Gao Zong e iniciou a Dinastia Song do Sul (1127-1279), mudando em 1138 a capital para a cidade de Hangzhou, que tomou o nome de Lin‘an. O exército Jin continuou a atacar-lhes o território e Yue Fei (1103-41), um dos quatro famosos generais Song, foi vencendo os invasores tártaros que pelo Norte faziam constantes incursões. Mas nem mesmo após a Batalha de Yancheng, na província de Henan, em 1140, quando Yue Fei de novo lhes ganhou, bastou para conter o exército Jin, que obrigou o Imperador Gao Zong (1127-62) a fugir pelo Mar da China e depois, a negociar a paz cedendo muitas terras. O Imperador Gao Zong apontou para primeiro-ministro Qin Hui, um homem fugido do campo do inimigo, que tomou como missão negociar a paz com os Jin, apesar das importantes vitórias conseguidas sobre estes por o general Yue Fei. Chamado à corte de Gao Zong e por exigência dos Jin, Yue Fei, com uma acusação forjada escrita por Wang Jun, um seu desleal subordinado, foi metido na prisão e executado. Estava-se em 1141 e nesse Inverno os Song cederam aos Jin um vasto território, tornando-se como vassalos, pois pagavam-lhes um tributo anual. Após o Imperador Gao Zong abdicar em 1162, subiu ao trono da Dinastia Song do Sul o filho adoptivo, o Imperador Xiao Zong (1162-89), que reabilitou o general Yue Fei, passando desde então a ser venerado como Deus da Guerra. Nesse pequeno templo, a Yue Fei são feitos sacrifícios com três vénias e incenso por muitos peregrinos e à frente da sua estátua encontram-se no pátio exterior encostadas ao muro, com um ar de humilhação, cinco figuras de bronze ajoelhadas. Representam o primeiro-ministro Qin Hui, a esposa Wang Shi, os serventes Zhang Jun e Mo Qixie, assim como o traidor Wang Jun, que recebem pontapés, murros e estaladas, quando as pessoas por elas passam, dadas com a emoção de quem partilha esse momento histórico ainda vivido pela dor resultante dessa acção. E batem forte, saindo com as mãos a arder! É o incenso para purificar da maldade e deslealdade essas personagens.
Carlos Morais José h | Artes, Letras e IdeiasIV – O liu Se andarmos mais 150 quilómetros para Leste, encontraremos a montanha da Raiz (柢山 Di Shan) onde, estranhamente, apesar de ser percorrida por inúmeros rios, praticamente não existem árvores ou plantas relevantes. Tal acontece talvez devido ao carácter extremamente rochoso do solo, mas outras explicações mais subtis e misteriosas são igualmente avançadas pelos que perto dela habitam. Este local fica perto de uma cidade hoje chamada Chenzhou (郴州) que se situa na parte mais a sul da província de Hunan. Foi ali, nessas águas pouco fertilizantes, que nasceu o liu, um peixe de grande porte cujo corpo se assemelha a um búfalo. Apesar de ser um peixe, é afirmado ostentar uma bela cornadura, uma longa cauda de serpente e duas asas, constituídas por um formoso conjunto de penas que lhe saem das costelas. Não se pode classificar o liu como um animal aquático ou terrestre porque, por vezes, permanece nos rios, doutras vezes vagueia pela terra e é mesmo, abrindo as suas magníficas asas, também capaz de voar. No Verão, é possível encontrá-lo com alguma facilidade, mas, durante o Inverno, o liu aproveita para hibernar em grutas secas. O liu emite um som parecido com o bramido do iaque, mas atinge uma intensidade tão alta que tudo estremece nas suas redondezas. Outro dos seus costumes é, durante o verão, tomar prolongados banhos de sol. Segundo antiquíssimas crenças, quem comer deste peixe não apenas se livra de indesejados inchaços como fica curado de quaisquer pústulas malignas ou carbúnculos. A carne de liu tornou-se, por isso, num produto altamente cobiçado entre os curandeiros que tudo fazem e muito pagam para a obter. Contudo, é difícil e até arriscado caçar um liu, devido ao seu tamanho, cornos afiados e extrema ferocidade, que dispara exponencialmente quando se vê encurralado. Por outro lado, como é capaz de levantar vôo, facilmente escapa mesmo a homens organizados em bandos de caçadores. Então, na maior parte dos casos, os que pretendem apanhá-los, para aproveitar o seu valor medicinal, esperam pelo inverno para os surpreenderem em plena hibernação, dormitando pelas grutas despojadas da montanha da Raiz.
Julie Oyang h | Artes, Letras e Ideias Les beaux yeux noirsParte 5. O rebelde do cinema chinês Já há algum tempo que tinha vontade de escrever sobre o trabalho de Lu Chuan, o mais talentoso jovem realizador chinês, cujos filmes se destacam pela ousadia e pelo sucesso comercial, obtido em torno de temas históricos e sociais. Embora se descreva a si próprio como inovador e corajoso, em fase de preparação para se vir a expressar como Artista, sempre que me aproximo do tópico descubro uma aura de mistério. Assim, por fim, a contadora de histórias triunfou sobre a ensaísta e dei comigo a escrever uma Entrevista Imaginária. Lu Chuan (n. 1971) chega a horas, de óculos, observador e animado como sempre. O realizador de longas metragens, bem como do documentário da Disney sobre a vida natural, Born in China, concordou encontrar-se comigo no “metaverso”* Avenue Café. Lu Chuan, por favor fala-me do teu novo filme de ficção científica The 749 Bureau. 2020-2021 foi uma temporada muito difícil para os realizadores chineses. Por causa da covid-19, a facturação total das bilheteiras dos cinemas chineses foi apenas de 21 mil milhões de RMB, um decréscimo de 68 por cento em relação a 2019. Foi o ano mais difícil da minha carreira. Quatro dos seis patrocinadores de 749 projectos tiveram problemas e as verbas de apoio ainda não chegaram. Para concluir a pós-produção, pedi ao produtor que me adiantasse 30 milhões e com este pedido quase o levei à ruína. De momento, não tenho a certeza se alguma vez vou conseguir acabar o filme. Esse é o teu maior medo, não conseguires concluir um trabalho? Penso que todos os criadores têm de enfrentar o medo, que se apresenta nas mais variadas formas. Não ser capaz de apresentar o produto final é uma delas. Quando vi City of Life and Death (2009) – que é descrito por alguns críticos como “um épico sobre a guerra e o Holocausto com um toque Spielbergueriano – senti que estavas a lidar com outro tipo de medo: o medo pela Humanidade, enquanto artista-observador. City foi um tremendo sucesso de bilheteira na China, mas também conseguiu reunir em igual medida a indignação do público e da crítica. O filme conta-nos a história do Massacre de Nanjing (também designado por Violação de Nanjing, 1937-1938) a partir da perspectiva de um jovem soldado japonês. Porque é que escolheste um tema tão controverso, anjo inseguro? O Massacre de Nanjing permanece uma ferida aberta na nossa memória. Às vezes é necessário fazer uma abordagem radical para tratar uma ferida e fazê-la sarar. A minha abordagem é olhar para a ferida sem a julgar. Todo o processo foi um ritual. Particularmente, quando concluíste a cena das mortes brutais no campo de batalha com a celebração ritual dos vencedores japoneses… Acredito que foi o que aconteceu em Nanjing. Estas mortes rituais indicam o extermínio de um animal ou de um ser humano num contexto religioso, mas não sacrificial (Sacrifício), já que o propósito das mortes rituais não é presentear a divindade, mas aplicar o sacrifício (o seu sangue ou os seus membros) a uma finalidade religiosa de ordem prática. Neste caso, o propósito religioso é o Estado Nação. O Estado Nação nega o humanismo ao colocar a ênfase na nação e no país. É nestas circunstâncias criadas pelo homem, que nós humanos justificamos a nossa violência. Os assassinos tornam-se heróis dependendo do contexto. Desta forma os seres humanos são assustadores, aterradores. Com City quiseste proferir palavras desabridas e que a tua audiência as escutasse da mesma forma. Enquanto artista, também tratas temas mais leves? Born in China (2016) foi o melhor argumento! O mais divertido. O documentário da Disney sobre a natureza conta a história de famílias de animais, nas quais se inclui o nosso tesouro nacional, o panda. Os animais não andam armados, não beijam raparigas, não se exibem pelas ruas nem posam para os jornalistas, nem outras coisas do género. Por vezes, quase parecia uma crítica à humanidade, como o Triunfo dos Porcos, estás a ver? Mas os animais não fazem isso. É sempre prejudicial projectar as nossas emoções nos animais, quer seja para um bom ou para um mau propósito. Os bons e os maus valores humanos estão completamente relacionados com o contexto. Born in China é realmente uma belíssima fábula. Este ano, em Setembro, Hangzhou vai ser a terceira cidade chinesa a receber os Asian Games. Vais seguir as pisadas de Zhang Yimou que se celebrizou nas artes performativas ao dirigir espectáculos grandiosos. Quais são os teus planos? Espero levar à cerimónia um ambiente “ritualístico”, vívido e caloroso. Hangzhou é a casa do gigante tecnológico Alibaba, e é uma cidade que transmite a ideia de que “a ciência e a tecnologia melhoram as nossas vidas”, uma cidade com horizontes muito largos. Acredito em tudo que quebre fronteiras. O futuro tem de ter um final feliz e afirmativo. 🌸A não perder: 2002 The Missing Gun 2004 Kekexili: Mountain Patrol 2009 City of Life and Death 2012 The Last Supper 2015 Chronicles of the Ghostly Tribe 2016 Born in China TBA River Town: Two Years on the Yangtze Nota tradutor – metaverso * conceito que indica uma interacção entre a realidade virtual, a realidade aumentada e o mundo físico { Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.} JULIE OYANG Writer | Artist | Namer of clouds www.julieoyang.com | Instagram: _o_writes
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasUrbe Sub Rosa 20/02/22 “Vá e impeça a guerra, Jair…” – apela o cartaz, num reforço evangélico da campanha do Bolsonaro, que tem dado frutos, visto que ele tem subido nas sondagens. Na imagem vemos como as costas do ignóbil Bolsonaro estão resguardadas pela figura de Cristo. Embora na Rússia, a figura inspiradora que terá estado por trás da acção de Bolsonaro haja sido Judas, já que a benignidade natural do presidente brasileiro não desviou Putin um centímetro dos seus planos de invasão. O pobre falhou a todo vapor a sua estóica missão. Mas há outros feitos que se poderão atribuir a este novo Mensageiro de Cristo: o regresso de Trump, que vai dividir o país com as suas profecias sobre a guerra na Ucrânia, sopradas pelo Messias brasileiro; a estátua do Cristo Redentor não desabará nunca no morro do Corcovado porque o olhar beatífico do Capitão o impedirá; e na esfera do plano internacional a acção benfazeja de Bolsonaro apagará da lembrança o terremoto de 1755 em Portugal, esse trauma funesto que só continuará a existir nos livros do historiador Rui Tavares, como se sabe um feroz produtor de fake news. Estou encantado com as possibilidades que este novo baluarte do cristianismo abre. 22/02/22 Melanie Daniels (Tippi Hedren), uma jovem socialite com o desejo estampado à flor da pele chega a Bodega Bay e fica cativa. Duplamente cativa. Por causa do advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) – um dos mais fragorosos erros de casting da história do cinema – e dos pássaros e aves que estão como ela à solta, mas numa espasmódica pulsão maligna. A dado momento, um derrame de gasolina e um descuidado charuto provoca um incêndio na povoação e uma massa de gaivotas, atraída pelo fogo, ataca os transeuntes. Melanie é forçada a refugiar-se numa cabine de telefone, toda em vidro, enquanto as aves criam o caos lá fora. É um dos momentos fortes do filme, ela em pânico naquele precário refúgio contra a voragem das gaivotas que bicam o vido tentando atingi-la. Se nós quisermos essa imagem é semelhante à condição que hoje experimentamos, acossados no interior duma caixa de vidro contra a histeria dos media que nos assaltam e exacerbam com os seus dramas sangrentos. No filme há três passarinhos inofensivos, cujo comportamento é confiável: os dois canários da filha de Mitch e a passarinha de Melanie, que apesar de descomandada pede gaiola. O filme mais não é a que a figuração no espaço e nas aves da flagrante sexualidade de Melanie à procura de pousio. E neste item Tippi Hedren é perfeita. No filme, apesar de tudo, a natureza é domesticável, apesar de irritadiça, inflamada e agressiva, sugere Hitchcock. Isto nos bons tempos em que não era tão nítido que a natureza mais selvagem é a do homem e que esta se encarniça contra si mesmo, na irracional vontade da guerra. Esta crise mundial chega no pior momento, aquele em somos rodeados pelos líderes ora mais fracos ora mais velhacos. Num péssimo momento para todos nós e também para os americanos que vão encontrar-se rapidamente divididos entre a liderança oficial de Biden e a alucinada de Trump – diante do recrudescimento da tensão vai ocorrer uma guerra civil não declarada nos States, e Putin joga com isso. Apertado pelos tribunais, é a oportunidade para Trump jogar todos os seus trunfos. Já começou. 23/02/22 Nesta sexta-feira, dia 25, na livraria Barata, apresento o livro que reúne a selecção que o Paulo da Costa Domingos fez de cinquenta anos de poesia publicada, desde 1972, “Urbe Sub Rosa” (com umas extraordinárias capa, lettering e contracapa de Patrícia Guimarães). Cinco anos mais velho que eu, o PDC era um dos meus heróis quando eu tinha dezasseis, dezassete anos e o seu “Uma Orelha Sem Mestre” inflamava a minha atenção, tal como o “Crítica Doméstica dos Paralelepípedos”, do Nuno Júdice, e “A Luva in Love”, do Jorge Fallorca – três livros que me marcaram numa época de aprendizagem da liberdade. É um livro denso (e não só pelo tamanho, 700 páginas) mas que constitui uma verdadeira aventura porque permite entrever os elos na sua obra que uma leitura livro a livro, plaquete a plaquete, deixava mais na sombra e a novidade é que a consistência que ressalta do conjunto reafirma uma voz e autentica a sua rebeldia, resgatando-a da margem, para firmar um dos mais interessantes e incomplacentes percursos da poesia portuguesa nas últimas décadas. Aqui deixo um poema: «GARANTO/ Garanto que o norte magnético/ já não é nada do que era,/ o carrocel roda ao invés, a vertigem/ mantém-nos na linha. Dos ventos// a rosa cobre-me os ombros/ e o nosso diálogo é o sentido, por isso/ vos digo: o norte magnético foi-se,/ glaciou-se, entre bacalhoeiros e arenques// que transportam agora nos dorsos os vírus/ do último esquimó/ e o imerecido ódio do/ último viking. Garanto-vos bebida quente/ no ápice trágico que anteceda o suicídio, // e o estilete que apontareis a quem vier/ violar vosso domicílio. Porque convém,/ cada vez mais, arreganhar o dente,/ dedicar um dia inteiro ao veneno.”
Gonçalo Waddington h | Artes, Letras e IdeiasTerceiro acto – Cena 5 Os dois amigos deixam-se ficar em silêncio durante algum tempo. Há uma fina cortina de fumo que paira na sala. Apesar da janela estar fechada, ainda se ouve o murmúrio da floresta no exterior. Gonçalo E se a tua aluna te vê assim? Valério Assim, como? Gonçalo Deitado no sofá, afundado no poço, com as lágrimas a caírem-te dos olhinhos… Valério Pois… [pausa] Isso não pode vai acontecer. Gonçalo Ela até pode achar interessante… um estímulo positivo na vossa nova relação: um professor inteligentíssimo, que faz mergulhos de escafandro na sua própria depressão… “Ai, ele é incrível, até domina o seu lado mais negro…” Valério Mais uma razão para eu ficar quieto. Gonçalo … Ou então ela resgata-te do poço e deixas aos poucos de fazer os teus mergulhos higiénicos, muito apreciados pela tua alminha sensível… Valério Talvez… Gonçalo E depois dás por ti a sentir falta dos mergulhos, daquele hábito diário, tão entranhado que estava… e pouco a pouco começas a detestá-la: primeiro a evitar o olhar dela, depois o toque… depois vais deixando de lhe falar… [pausa] Até que ela acaba por desistir de tentar comunicar e vai-se embora… sem nunca saber o que terá acontecido. Valério Perspectiva animadora, sim senhor. Gonçalo Mas realista, não? Valério Em que sentido? Gonçalo De deixar andar… até apodrecer. Valério Talvez. Gonçalo Seria o mesmo com bebida ou com droga… o amor salva, mas também limita. [pausa] Quem disse que queríamos ser salvos? Gonçalo vai até à mesa e começa a desarrolhar outra garrafa de vinho tinto. Os seus movimentos são atabalhoados, ele próprio ri-se da sua falta de jeito potenciada pelo nível crescente de álcool no sangue. Valério [rindo] São umas egoístas, essas pessoas. Gonçalo Já não se pode beber até cair sem que nos chamem à atenção para a vida que estamos a deitar fora! Valério E para o tempo desperdiçado… Gonçalo volta ao seu lugar. Antes de se sentar, serve os dois copos que Valério segura. Os dois erguem os copos e fazem um brinde desajeitado. Pega cada um no seu cigarro e acendem à vez, partilhando o isqueiro. Regressa o silêncio, acamado pelo murmúrio que vem lá de fora. Valério Não tens vizinhos? Gonçalo Boa pergunta… não faço ideia. [pausa] Há por aí umas casas… Valério Não me lembro de ver nenhuma no caminho. Gonçalo Da estrada não se vêem muitas, mas se andares pelo meio da floresta… Valério Tens de me levar a passear, então… Gonçalo Sim, quando amanhecer. Mais uma vez deixam que o silêncio invada a pequena casa de montanha. Gonçalo vai até à lareira. Pega num toro de madeira com a tenaz e põe-no por cima das brasas incandescentes. Sopra- as brasas para atiçar o lume. Valério Porque é que não foste ao funeral? Gonçalo observa as chamas que consomem a madeira recém-chegada. Dá várias passas seguidas no seu cigarro. Depois de terminado, atira a ponta para as brasas. Tira outro cigarro do maço que tem no bolso e usa a tenaz para trazer uma pequena brasa à boca. Acende o fumante, pousa a brasa e a tenaz, e põe-se outra vez a observar as pequenas labaredas. Valério Ninguém te levou a mal… não há maneira certa de reagir à morte. [pausa] Acho eu… Mas houve perguntas… “Onde é que ele está?”… “Porque é que ele não veio?”… “Andavam chateados?”… Gonçalo E as tuas? Valério As minhas quê? Gonçalo Perguntas… Quais são as tuas? Valério Não tenho… [pausa] Quer dizer, já a fiz. Gonçalo Pois… Gonçalo regressa ao seu lugar, ao lado do amigo, e põe-se a olhar um ponto distante, como se pensasse cuidadosamente no que irá dizer. Gonçalo Estive quase a sair de casa… mas não me consegui levantar do sofá. Estava com o casaco vestido, tinha as chaves de casa no bolso e os óculos escuros postos. Mas não me consegui levantar… [pausa longa] Há aqui um filão a explorar, não sei se reparaste…? Valério [surpreendido] Qual? Gonçalo Homens solteiros e solitários… sofá… depressão… Valério Não é novidade. Gonçalo Certo… [pausa] A que horas acabou? Valério Por volta as cinco. Gonçalo Pois. Foi quando finalmente me levantei… mais coisa, menos coisa. Valério Estiveste essas horas todas sentado? Gonçalo Estive, pois. Valério Uns descem ao poço deitados, outros descem sentados. Gonçalo Não sei se desci. Valério [sorrindo] Foi só cobardia? Gonçalo Talvez… Valério Estou a brincar. Gonçalo Eu percebi… Mas talvez tenha sido, sim. Valério Não é preciso desceres ao fundo do poço… às vezes já andas sem saber. Gonçalo Verdade. Valério É uma vibração constante, muito ténue… que às vezes não se nota, mas está lá sempre presente. [pausa] Talvez eu use as minhas sessões de descensão precisamente para reconhecer a existência dessa pequena nota constante na minha vida. Gonçalo És muito poético em relação a esse estado… Valério Pois sou. Gonçalo Romantiza-lo muito, na minha opinião… Valério Talvez… [pausa] Uns sentam-se e apagam, outros deitam-se e romantizam. Gonçalo E há os que escondem essa música durante uma vida inteira… e quando finalmente são apanhados e a ouvem, vão atrás dela, como a criançada vai atrás do flautista… e adeus.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasPerdidos e achados « Aquilo que é já existiu, e aquilo que há-de ser já antes foi; Deus vai à procura daquilo que não se encontrou» Eclesiastes-9-15 Um movimento perfeito é aquele que não desiste de procurar e com a busca transforma a forma ida na forma tida, mais além, ainda transformada. Nem a vida é circular, nem a Terra plana ou redonda, nem o tempo dado uma circunferência para o estertor do fim: a elíptica nos suporta com delicadeza quando o cansaço da roda nos afadiga, é isso de que Deus vai à procura, daquilo que não se encontrou. Podemos contornar todas as fórmulas do processo, tentar pedir pela sua continuidade, mas de nada serve se com tal ensejo apenas se reproduzam as coisas conhecidas. Há uma qualquer outra, fora da tribuna, que é passível de uma atenção desmesurada, de um amor louco, de uma inteligência pura, de uma inocência não contemplada… isso, é o procurado na igualdade de quem busca. Este é Jesus, Jesus Ben Sira. E se toda a casa de David pareceu amaldiçoada, quem achou no vindouro a fina e delicada mudança, não poderá subtrair este apenas a um parente mestre. O que procuravam na grande luz dos céus nocturnos, os magos, e os filhos das tribos que já não vemos, é matéria de puro encantamento, mas serve ela para demonstrar que padecemos da ausência de um “cordão de prata” unido a um Altíssimo que por nós fez interceptar os que não foram encontrados: nem no Livro da Vida, nem na própria Vida, nem no vasto Cosmos onde por deleite ainda estendemos o olhar procurando o significado de todo esse desconhecido. Soçobrámos!- É certo que renovados. Mas renovados de quê? Por uma contorção fora da averiguada tendência da análise podemos estar perto de uma mudança que as células desesperadas por continua actividade cega, não se dão conta. É embrionário o nosso “mundialismo” muito galvanizado pela palavra que já pouco diz. O dizer daquilo que nos globaliza fere a procura dos signos por encontrar, e nem aqui paramos mais depressa que as feras maternais nas suas maravilhosas matanças para os filhos pequenos.- Qualquer deslealdade para com todos pode subjugar agora o mundo inteiro! Ampliado o espectro da consciência nenhum de nós pode retroceder e parar a marcha para aquilo que ainda não se encontrou. Bem- digamos os avanços, e sejamos rectos para enumerar as nossas faltas. Este Jesus é o mesmo que também nos dissera que havia um tempo para tudo numa vida conseguida. «Tudo tem o seu tempo», mas nele também acrescentar que não haverá mais tempo para o ódio. O que será o ódio? Um desajuste que se encontrou e não fez sentido. Mas para tudo isto, também as formas de sentir e viver estão agora obsoletas. Nós vamos andando, procurando, e pouco desviando a vida breve para terrenos intransponíveis. Nós somos monstros. Monstros sem capacidade para nos tornarmos coisas novas, grandes, não encontradas. Encontramo-nos monstruosamente uns nos outros como gentis bestas de uma era acabada. Achámos o nosso poder, o nosso dever, o nosso transbordar, mas mais nada nos quer encontrar. Isso é o nosso processo -hiato- mais lendário. Quando Pessoa ousou afirmar que «deus é um deus de um deus maior» apenas quis dizer «porque o que está alto tem acima de si outro mais alto, e sobre ambos há ainda um outro mais elevado». Foi encontrada alguma coisa que ninguém entendeu, é que Deus, vai à procura dos poetas.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasHuaiyang e o Rio Cai Localizada num importante ponto estratégico, tanto militar como administrativo, Huaiyang, uma das primeiras cidades do mundo, encontra-se construída a meio do Lago Dragão (Long hu), em cujas águas a Sul estão esculturas com vários dragões semi-submersos e na margem oposta, o Templo Mausoléu de Fu Xi. Este tem à frente uma ampla praça em pedra separada do recinto do Templo por o Rio Cai, assim chamado desde o Período Norte-Sul (386 ou 420-589) quando o canal Hong Gou mudou de nome para Cai Shui (Águas do Cai) ou Sha Shui. O canal Hong Gou fora mandado construir em 360 a.n.E. por o Marquês Hui de Wei (400-319) e partindo do Rio Amarelo, entre as cidades de Luoyang e Kaifeng, passava por Chenzhou (então o nome de Huaiyang) e chegava ao Rio Huai. Estava-se no Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.n.E.) quando o Reino Wei (344-319), para preparar a guerra, mudou em 364 a.n.E. a capital de Anyi para Daliang (Kaifeng) e quatro anos depois, mandou em 360 a.n.E. rasgar o Hong Gou, canal cuja construção terminou em 339 a.n.E. A obra baseava-se no anterior trabalho do Rei Yu (Da Yu, 2070-2035 a.n.E.) que, para resolver o problema das cheias do Rio Amarelo, rasgou canais colocando a água a vazar para Sul e assim as distribuiu pelos os rios da região, levando-as até ao Rio Huai. O Canal Hong Gou resolvia o problema da água para a agricultura, possibilitando ainda uma via para o transporte fluvial de mercadorias e pessoas e assim, de Daliang conseguia-se chegar aos reinos de Han, Chu, Qi, Wei e Lu. No reinado do primeiro imperador Qin foi usado para levar o arroz do Sul para a capital Xianyang (hoje Xian). O Canal Hong Gou ligava o Rio Amarelo com os nove rios da região afluentes do Rio Huai e mais tarde seguiria até ao Changjiang. Para Leste, através do Rio Ji chegava-se ao Grande Canal. Para Norte conectava com o Rio Amarelo, onde para Oeste se encontrava com os rios Luo e o Wei. Em Chen Cheng (Huaiyang) no ano de 209 a.n.E. foi criado o primeiro reino rural da História da China, denominado Zhang Chu, por Chen Sheng e Wu Guang, os primeiros agricultores revolucionários, num acordo que foi um duro golpe para o governo da Dinastia Qin. Após a queda dessa dinastia, entre 206 e 202 a.n.E. ocorreu a contenda entre os reinos Chu e Han e em 203 a.n.E., ao fizerem o tratado de paz marcaram entre ambos como fronteira o canal Hong Gou. Nos tabuleiros de xadrez chinês encontra-se representado esse canal a separar os dois lados, denominados Rio Chu e fronteira Han. OS NOMES DA CIDADE Importante ponto estratégico há 5800 anos, quando Fu Xi aí fez a capital Wanqiu e um pouco mais tarde, outro dos Três Soberanos, o Imperador Yan (Yan Di Shen Nong) reconstruiu essa antiga cidade para sua capital, mudando-lhe o nome para Chen, sendo visitada por o Imperador Amarelo (Huangdi). Na Dinastia Xia (2070-1600 a.n.E.) Chen era chamada Yuzhou. Zhen Shao Jing no livro Zhong Guo Shui Li Shi refere, entre 2287 e 602 a.n.E. o Rio Amarelo com frequência mudava o curso e Chenzhou por seis vezes sofreu inundações. Com a chegada da Dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), o Rei Wu, após a filha Da Ji se casar com Gui Man (Cui Man), um descendente directo do Ancestral Shun Di, entregou ao genro uma grande área de terra para administrar. Como Duque Hu de Chen (Hugong, 1045-986 a.n.E.) fundou o Reino de Chen (陳, c.1045-479 a.n.E.), fazendo a capital em Chenzhou, mas fora do lugar até então existente, onde Fu Xi construíra uma muralhada cidade quadrada com as portas Norte e Sul, hoje no local denominado Ping Liang Tai. Por ser esse um espaço exíguo, o Duque Hu mandou edificar a capital a quatro quilómetros daí, onde agora está a cidade de Huaiyang. No Período Primavera-Outono (Chun Qiu, 770-476 a.n.E.), era Chen já um pequeno reino situado na fronteira com o Reino Chu, também ele fundado na mesma altura, quando o Rei Wu deu terras ao seu professor Yu Xiong (鬻熊). Mais tarde o Reino Chen tornou-se vassalo dos Chu, lutando ao lado destes na Batalha de Chengpu em 632 a.n.E.. O Duque Min de Chen (501-478 a.n.E.) foi o último dos 25 governantes Chen, sendo o reino anexado aos Chu em 479 a.n.E., tomando muitos dos habitantes o nome de família Chen. Com a destruição de Ying, antiga capital do Reino Chu, o Rei Qingxiang dos Chu (298-263 a.n.E.) transferiu a capital para Chenzhou e chamou-lhe Ying Chen. No reinado de Gao Di (206-195 a.n.E.), primeiro imperador da Dinastia Han do Oeste, Chenzhou passou em 200 a.n.E. a chamar-se Huaiyang, por se situar a Norte do Rio Huai. No Período dos Três Reinos (220-280), Cao Za, filho de Cao Cao, ergueu aqui o Reino Chensi, regressando a cidade ao nome de Chenzhou, mantido até ao fim da Dinastia Qing, apesar de na Dinastia Sui (581-618) voltar a ser Huaiyang. Em 598, a água do Rio Amarelo inundou Huaiyang, Kaifeng e outros sete locais. De novo Chenzhou na Dinastia Tang, a cidade sofreu inundações nos anos de 640 e 839, e da Dinastia Song até à Ming ocorreu por 57 vezes as águas do Rio Amarelo virem inundá-la, por vezes em períodos curtos de muitos dias e quando longos, alagada por mais de dez anos. Daí o governo de Chenzhou precisar constantemente de altear e fortalecer os muros que protegiam a cidade, mas estes, em Junho de 1043, abriram brechas e as águas inundaram-na, segundo Chenzhou FuZhi. LAGO DRAGÃO O livro Huaiyang XianZhi refere Chenzhou na Dinastia Song ter três lagos: o situado na parte Sul da cidade chamava-se Nantan Hu; a Oeste era o Liu Hu, também conhecido por lago sem água; e na parte Norte o Lago Beiguan, sendo independentes uns dos outros. Devido às águas do Rio Amarelo inundarem a região, os lagos ainda na Dinastia Song ficaram ligados. As grandes chuvas de Junho de 1566 cobriram de água os campos, destruindo muitas casas, necessitando os habitantes de andar de barco na cidade e no Outono de 1593 só embarcado se podia sair das suas quatros portas. Os muros de protecção de Chenzhou foram em Julho de 1607 destruídos pelas águas do Rio Cai, que inundaram as casas, ocorrendo o mesmo mais duas vezes, no Outono de 1831 e em 1926. Chenzhou em 1913 passou definitivamente a ter o nome de Huaiyang. Numa das reparações do muro protector do lago, nele se contou vinte anteriores intervenções e chegou-se à conclusão de que a largura inicial era de três metros. Em 1945, o governo ordenou aos militares a destruição da parte Sul do muro para entrar no lago 11 milhões de m³ de água. Em 1956, ao construir a Ponte Cai he encontrou-se à profundidade de três metros uma outra ponte, percebendo-se assim terem as bases da cidade sido alteadas dez metros. A actual maior profundidade do lago é de 2,1 metros e a terra em volta, onde se encontra construída a cidade, está a 2,2 m de altura. O Lago Long em 1981 tinha de Leste a Oeste 4,4 km e de Norte para Sul 2,5 km, numa área de 10.840 mu. Em 1996, o governo de Huaiyang usou 37 dias e mais de mil pessoas para fazer a limpeza do lago. Agora a água transparente conta com muito peixe, pássaros e flores, mas não vi tartarugas.
Anabela Canas Cartografias h | Artes, Letras e IdeiasRua do Mundo, 79 De entre os objectos que recolhi em casa, nestes anos em que alguns partiram, deixando-me e, para trás, vestígios que me custa apagar, há aquele livro em cujo título e subtítulos habitam e se leem, as palavras “resoluções” e “racional”. Que consta de questões de Aritmética, claro. Racional. Há objectos estranhos, muitas vezes discretos e anónimos, que protagonizam ainda mais estranhos encontros. E nem sempre se nos apresentam com essa veemência no primeiro momento. Mas é como se esse primeiro instante fosse o início da futura percepção destes. Impregnados daquele momentum que inquieta as partículas da matéria, com uma intensidade crescente, até que, dando-lhes um espaço na casa, um dia, são actores naquele encontro, como os que descreve Breton em “Nadja”. Tornando-se, verdadeiramente, objectos encontrados. Ou que nos encontram ao cimo de uma caminhada por outras vidas e desembocam aqui em nós. Folheio o roteiro de Lisboa de 1942, um pequeno livro de capa negra e letras sumidas, a que o arredondado natural com que foi desenhado se soma a um desgaste uniforme de todo ele mesmo na zona de corte das folhas. A zona cortante de cada uma, de outro modo. É dos objectos que tenho como mais queridos do pequeno espólio de tesouros do meu pai. Mas era preciso recuar a uma das gavetas daquela estante vinda de longe, onde habitam alguns objectos de natureza diversa e espécies diferentes, silenciosos e pacíficos. Um molho de “Falcões” da serie de Mamselle X, uma caixa de aguarelas ressequidas e de muitas cores, oferecida numa idade em que não puderam apaixonar-me, porque as paixões têm tempos que nem sempre se encontram reciprocamente atentos, o “Célebre livro dos destinos de Napoleão Bonaparte”, mapas de viagens antigas, duas lanternas de papel de arroz de desenho delicado. E mais uns pequenos tesouros que incluem o pedido de importação de 53 passarinhos de Montepuez, datado de 2 de Julho de 1974. São gavetas silenciosas e discretas como discretos são os objectos que as habitam. Mas quando lhes toco, é um rumorejar intenso, o que se desprende deles. Procuro, entre tudo isto, folheando o pequeno roteiro da cidade, aquele nome de rua. Volto ao livro amarelado, trazido de uma das casas de Z, de cheiro adocicado e, de tão frágil, em risco de fragmentação em folhas soltas. O livro em que como um grito ou uma acusação – quem sabe se, afinal, uma recomendação – aparece a negro a palavra “racional”. E bem mais abaixo, como uma revelação bem guardada para quem a merecesse: “Rua do Mundo, 79”. Como se o mais misterioso sinal, se tivesse guardado incógnito, reservando a encantadora e surpreendente referência para somente se dar a ver quando o envolvimento com o livro já era irreversível. Algum tempo depois. Morada da Livraria Pacheco. Aparentemente editores e livreiros. Telefone 21542. Este nome de rua, nunca ouvido, pareceu-me recuperado de um registo poético que teria que descobrir ou escrever. Ecoou como metáfora, ou como sorriso das matérias mortas que são todas aquelas palavras e números que enchem o livro e, no fundo, todos estes objectos anódinos e insignificantes que me prendem a um aroma a uma cor de papel ou a uma estranheza. Voltando ao roteiro da cidade, tão grande é a expectativa como o espanto da descoberta de que a rua é aqui perto, a umas dezenas de metros e a confinar com o meu bairro. Era. Mas antes do pequeno roteiro. Depois ainda é uma rua do mundo, mas com outro nome. De repente é como se tenha dentro, ou aqui ao pé, o mundo inteiro. E nada. Há momentos em que se dão pequenos encontros, com uma palavra e com estrondo, depois de o serem, com um livro e que nos levam a uma gaveta de preciosas recordações, que nos levam a uma referência que possui uma estranha coincidência e é como se de um conjunto desestruturado de acasos, surgisse um sinal da maravilhosa ou mesmo abismal fantasia, de que a realidade é somente uma capa. Uma ponte sinuosa de objectos do passado, todos eles escondendo uma vida alheia, como um mergulho num poço, numa espécie de macrocosmos dentro de um microcosmos, relembrando Foucault, ou a protagonizar um daqueles episódios de uma Alice no país de caminhos estranhos pela margem do aparentemente infértil real. Os interstícios, como intestinos de um animal-mundo, enorme, que é real, mas não mais do que o que se configura nos seus intervalos. Um e outro, indefiníveis. Uma perspectiva cónica com o ponto de fuga a apontar para dentro. As coisas. Dentro das coisas, dentro das coisas.
Carlos Morais José Antropofobias h | Artes, Letras e IdeiasO xuangui Da montanha Niuyang escorre um rio peculiar, onde germinam seres raros, cujas características têm assombrado gente local e viajantes, ao longo dos milénios. Chamam-lhe Rio da Água Estranha (guaishui). Nele, nas suas margens, afirmam os registos nascerem criaturas de excepção, algumas das quais perigosas. Em contraste com a sua fama e o seu nome, as águas do Guaishui deslizam suavemente por encostas e vales até desaguarem no rio Xianyi, sem nunca causar grande alarido, ao contrário de alguns dos seus irmãos que regularmente se revoltam e galgam as margens, inundando campos e aldeias. Ora nesta aprazível e serena aparência, neste celebrado curso de água, prolifera o xuangui, um animal com corpo de tartaruga, cabeça de ave e cauda de serpente. O xuangui é um exímio nadador, o que contrasta com a lentidão com que se desloca em terra firme. Quando se move dentro de água, o seu corpo roda como um parafuso, à medida que vai avançando. Daí o seu nome que literalmente significa “tartaruga giratória”. As similitudes com as suas primas tartarugas, nomeadamente a carapaça, que no caso do xuangui é profundamente negra, fazem com que seja extremamente apreciado para divinações. Além disso, acredita-se que quem usar uma qualquer parte do xuangui pendurada no cinto, nunca ficará surdo e perderá os eventuais calos que lhe tenham crescido nas mãos ou nos pés. Sendo a carapaça associada ao céu e o corpo à terra, este animal simboliza um universo, solidamente ancorado nas suas patas. Conta-se ter o xuangui, em tempos primordiais, dominado a região que antecede os infernos, onde possuiria capacidade para voar, não sendo, no entanto, explícito se da sua carapaça brotariam ou não asas. Nesse tempo, seria um predador carnívoro para desgosto de almas, homens ou bestas que cruzassem aquela região pré-infernal. Entediados de tanta voracidade, os deuses resolveram castigar o xuangui, retirando-lhe a capacidade de voar e exilando-o no Rio das Águas Estranhas, onde ocupa uma discreta posição. Mas os implacáveis deuses não se ficaram por aqui. Para eles não era suficiente esta emigração forçada, a perda de mobilidade e de estatuto. Para evitarem para sempre o regresso de comportamentos ínvios, nomeadamente a glutonice assassina dos xuangui, extinguiram todos os machos da espécie. Desde então as fêmeas são penetradas por serpentes e é o amplexo com estes répteis que garante a continuidade desta espécie, sempre no feminino. Há também quem considere, erroneamente, devido à sua carapaça de cor negra, o xuangui como a tartaruga original que ocupa o Norte do mundo, de onde as águas escorrem para os rios, os lagos e os quatro mares, parente da fénix vermelha, do tigre branco e do dragão verde. Contudo, é sabido que essa primeva tartaruga não possuía cabeça de ave, nem arrastava uma cauda longa de serpente. Além disso, não se imagina esse nobre animal a emitir um som de cana rachada, como faz o xuangui.
Gonçalo Waddington h | Artes, Letras e IdeiasTerceiro Acto – Cena 4 Valério pega num cigarro e vai à lareira. Pega num toro de azinho com uma tenaz e junta-o às brasas incandescentes. Valério Ainda sonho acordado… Traz de volta uma brasa e acende o seu cigarro com ela. Deixa-se ficar a olhar para a madeira a pegar fogo. Valério Acho que nunca tinha dito isto a ninguém. Gonçalo Porquê? Valério Porque é que sonho acordado? Gonçalo Não, porque é que nunca disseste a ninguém? Valério Sei lá… [pausa] Vergonha, talvez. Gonçalo [imitando uma mãezinha] Já não tens vinte anos, filho…! Valério Pois não, mas ainda assim… Gonçalo Sonhas com o quê? Valério Coisas parvas… Gonçalo Isso já percebemos. [pausa] Dá-me um exemplo. Valério É difícil… [pausa longa] Se estiver a ouvir música, fico a imaginar que sou eu que a estou a tocar, ou a cantar… ou as duas coisas. [pausa] Acho que acontece o mesmo quando vejo um quadro… ou se vejo um jogo de ténis na televisão… Gonçalo Imaginas-te o tenista? Valério Sim… [pausa] A questão é… se calhar não é questão nenhuma… Gonçalo Desembucha, jovem! Valério A questão é a duração… e a quantidade que vezes que me acontece o mesmo Gonçalo O sonhar acordado? Valério Sim… e o facto de me acontecer com esta idade. [imitando uma mãezinha] Já não tens vinte anos, filho…! Gonçalo Pois não. Valério Pois não… mas a verdade é que acho que já não há remédio. [pausa] Mas não me acontece o mesmo quando leio um livro. Gonçalo Não? Valério Não. E olha que leio cada vez mais… deve ser da velhice. Gonçalo Ou seja, queres brilhar como músico, pintor ou tenista, mas não como escritor. Valério Já não vou brilhar em nada. Gonçalo No entanto, já escreveste algumas coisas brilhantes. Valério Que ninguém leu. [pausa] Mas é qualquer coisa mais profunda do que isso… Gonçalo Do que quê? Valério Do que o querer brilhar… Gonçalo Senta-te no divã e aprofunda lá isso. Valério regressa à sua cadeira, perto de Gonçalo, e leva o seu milionésimo copo de vinho à boca. Valério Escapismo? Gonçalo Estás perguntar? Valério Estou a falar para o ar. Gonçalo Pronto… Valério [pausa] Ou então é uma maneira de me manter activo, com vontade de fazer coisas… [pausa] se não desisto. Gonçalo Estás a conjecturar ou é já uma sentença? Valério Não estás a ajudar. Gonçalo Desculpa, continua… Valério A verdade é que é coisa de adolescente, o resto é conversa. Gonçalo Julgas que não há outros quarentões a sonhar acordados? Valério Não deve haver muitos. Gonçalo Se te ajuda achares que és único, tal como te ajuda sonhares acordado, ainda bem para ti. Valério Certo. O que não deve faltar por aí é quarentões adolescentes… Gonçalo [imitando uma mãezinha] Já não tens vinte anos, filho…! Valério Pois não… [pausa] Mas é uma coisa que eu procuro… é parecido com a depressão. Gonçalo Depressão? Valério Não falo de depressão profunda, nunca padeci de tal coisa, felizmente… [pausa] Mas há qualquer coisa naquela depressãozinha ligeira… [pausa] Um prazer qualquer quando me deito no sofá e começo a descer na horizontal… pelo poço abaixo… tudo a escurecer à minha volta e a luz a ficar lá em cima… [pausa] Até acho que as duas coisas estão ligadas. Gonçalo A depressão…? Valério [abrupto] Zinha! Gonçalo A depressãozinha e o sonhar acordado? Valério Sim… Gonçalo E é qualquer coisa que buscas, tu próprio? Valério Activamente, sim… se estiver em casa, então, é o meu desporto preferido. [pausa] Felizmente, já não me masturbo tanto como dantes. [imitando uma mãezinha] Já não tens vinte anos, filho…! Gonçalo Pois não. Valério Posso até ter à disposição um manancial de coisas para me entreter… filmes, livros… A verdade é que, a maior parte das vezes, ponho música e me deito a olhar para o tecto… [pausa] E… ou aguardo a descida ao poço, activamente, deixo o corpo relaxar, começam as lágrimas a correr… [com uma ponta de vergonha] Mas não me comovo, atenção, não tem nada que ver com comoção… é uma espécie de abandono… Gonçalo Isso é quase erótico. Valério olha para Gonçalo, desagradado com o comentário aparentemente despropositado. Gonçalo Falo a sério! Parece que… Valério Eu percebo, sim… Sim, é esse abandono. [pausa] Ou então a música eleva-me e eu imagino que sou eu o músico… Gonçalo Para fora do poço… Valério Não é que estivesse no poço quando me deitei, mas sim… eleva-me… [pausa] para fora do poço, sim. Gonçalo [pausa] E também procuras isso… essa elevação? Valério [inabalável] Bem como a descida. Gonçalo [pausa] Parece-me que tens isso tudo já muito bem dominado… parece a tua hora do ginásio. Valério Pois parece. Gonçalo E gostas. Valério parece não saber o que responder, mas também não parece abalado com a afirmação que acabou de ser proferida. Gonçalo Cada um com o seu desporto… Valério [acanhado] Já vivo com isto há tanto tempo que já nem penso muito no assunto, confesso. Gonçalo O desporto em si não tem nada de errado, se é isso que estás a pensar. Mas é uma droga, mais do que um desporto… sabe-lo bem. Uma droga pesada. [pausa] Há que saber dominá-la… um deslize e já foste. Valério Sim… [pausa longa] Se calhar está na hora de terminarmos a consulta, não?
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasO Ouro dos Tigres E estamos em trânsito para o Ano Novo chinês engalado a Oriente com muita cor, fantasia e dias cheios de esperança. Este irá ser representado por um belo ser que vive na nossa memória colectiva como um abrasante representante da beleza: o Tigre. Foi o Ano do 25 de Abril e, claro, só isso faz dele um estímulo sem freio para as nossas festividades. Raiado e real, alistemo-nos em sua pelagem de gigante solitário, altivo, cruel para com a progenitura, e coberto de dons que parecem malefícios: é um Tigre, e enfrenta a vida com a mesma crueza com que ela se nos apresenta. Este é o título de uma obra de um seu grande amante, Jorge Luís Borges, fascinado e transido de emoção por tal criatura existir na Terra, sendo então uma colectânea de quarenta e oito poemas que viu o seu nascimento em 1972, que eclodirá na fórmula ” O ameaçado”: “o horror de viver no sucessivo”, que irá expressar a impotência dos seres majestosos e enjaulados, mas foi o tigre de fogo de Blake, que rondou os seus sonhos mais de uma vez em torno do poema; que estes gigantes encerram faiscantes dons que só o poema sabe cantar. A gravura de Blake nele surge para ilustrar um dos mais belos versos da literatura inglesa, e dos tigres de um e de outro, as colectâneas encheram-se de listagens – do Ouro dos Tigres só sobrou na cegueira a cor amarela – Nesta recolha há sem dúvida um dado mais a reportar-nos ao Oriente, pois que foi aqui que Borges tomou para si “Tankas”, a estrofe japonesa. A construção obedece a esta técnica de escrita, uma adaptação arrojada que só ele se poderia dar ao luxo, sem falhar, tal como um Tigre. Nós vamos coabitando neste Ouro como que movidos por forças estranhas, que obras assim nos dispensam problemas menores e pessoais, de todos e de cada um, na pouca interessante selva das nossas vidas. No «Fazedor» ele tem um poema chamado “o outro tigre”: “terceiro tigre buscaremos/ este será como os outros uma forma/ do meu sonho, um sistema de palavras/… buscar pelo tempo desta tarde/ o outro tigre, o que não está no verso/. – «The Tyger» de Blake é um poema gnóstico, que ainda tem tudo de romântico – tigres da ira- mas aplaudidos mais como tempestades de beleza do que precursores de Leviatã, e se o Cordeiro aparece, lembrar-nos-á as pazes feitas com o Leão. Compenetra-se na simetria que deve ser uma matéria cara a um poeta que busca ordenar a matéria ferida em espaço harmonioso, que o seu caso é tão lendário como o do belo felino. Fala ainda do martelo e da bigorna, e nós, devemos seguir a retirá-los de todas as jaulas, que as forças divinas não são para subtrair a prisões para espectáculo de seres ensimesmados. Que nos traga então Ouro, este Ano do Tigre, de natureza vária, e não tenhamos receio de atravessar a nossa fera interior para não sermos esmagados pela ferocidade alheia. A Oriente ruge o Tigre para que o seu Ano seja anunciado no cimo das multidões. Bom Ano, então.
José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias淮阳 Huaiyang celebra Fu Xi Visitar a província de Henan, situada na parte média do Rio Amarelo, é como entrar nas primeiras páginas do longo livro da História da China por ser um dos berços da civilização chinesa e onde se registam do período Neolítico muitas culturas como, a Peiligang (6100-5000 a.n.E.), a Yangshao (5000-3000 a.n.E.), a Longshan (2500-2000 a.n.E.) e a Erlitou (c.1900-1500 a.n.E.), esta ligada à dinastia Xia (2070-1600 a.n.E.), a primeira das dinastias imperiais que duraram até 1911. Já a Cultura de Erligang (1600-1400 a.n.E.) está relacionada com o início da dinastia Shang (1600-1046 a.n.E.). Chegamos a Zhengzhou, capital da província de Henan, para a 230 km ir a Huaiyang, na prefeitura de Zhoukou, assistir às festividades em honra de Fu Xi, que se estendem entre o segundo dia do segundo mês lunar até ao terceiro dia do terceiro mês. Ana Maria Amaro lembra-nos, “no segundo dia do segundo mês do calendário lunar chinês celebra-se a tradicional festa conhecida por ‘O Dragão levanta a cabeça’ que anuncia as primeiras chuvas da Primavera.” O dragão é considerado a divindade que domina a chuva e para um povo de agricultores como eram os chineses, esta era-lhes essencial para os campos. Ainda nessa prefeitura, no concelho de Luyi celebra-se na mesma altura o aniversário de Lao Zi, enquanto Xihua, ligado a Nu Wa e onde tem o mausoléu, é outro dos oito concelhos da prefeitura de Zhoukou localizada no Sudeste da província. Da cidade de Zhoukou partimos para Huaiyang numa viagem de 45 minutos de autocarro. Chamada Wanqiu no tempo de Fu Xi, ficou em 200 a.n.E. a ser Huaiyang por se encontrar a Norte do Rio Huai e daí o nome, pois yang designa Norte. Local onde Fu Xi e Nu Wa escolheram fazer as suas capitais, tal como também aí, já com o nome Chen, viveu Yan Di, estando assim relacionada com os Três Ancestrais Soberanos (San Huang) e mesmo considerando Nu Wa não ser um dos três, mas sim Sui Ren, o deus do Fogo, este era de Shangqiu, na fronteira para Nordeste da prefeitura de Zhoukou. A FEIRA Em Huaiyang (淮阳), após sair do autocarro, ao caminhar o quilómetro e meio até ao Templo de Fu Xi temos a sensação de pertencer ao imenso grupo proveniente da tribo Feng (风, Vento), que há 4800 anos viera da província de Gansu para Leste chefiada por Fu Xi. Percorreu desde a bacia do Rio Wei até ao Rio Amarelo onde encontrou terras férteis na Planície Central, na actual província de Henan e aí se instalou. Criou a povoação amuralhada de Wanqiu para albergar o grupo, que então passou a designar-se tribo Yi e escolheu como totem o Dragão. Após a realização de festas onde se promoveram casamentos, parte da tribo separou-se e Nu Wa com as suas gentes seguiu para Norte dessa área, estabelecendo-se em Xihua. Chegando pelo lado Oeste contornamos o Lago Dragão (Long hu), que separa o templo de Fu Xi da vila de Huaiyang, encontrando-se no meio da água uma escultura com dois dragões semi-submersos. A moldura humana caminha e avolumando-se dá lugar a uma multidão, ladeada por um sem número de vendedores. Dois pormenores logo rapidamente saltam à vista. Um grande número de pessoas em sentido inverso vem da festa trazendo bolas de basquete e outras, tigres feitos de tecido laranja com a face pintada, que pela forma parecem ser comprados para servir de almofadas. A confusão é grande e as tendas de circo, instaladas num recinto descampado ao lado do muro do complexo do templo, animam com os altifalantes o som geral do local, anunciando animais ferozes, famosos artistas malabaristas e tudo o que pudesse causar espanto e estupefacção aos habitantes da região aí apinhados. Por detrás dos muros do complexo do templo pode-se ver um monte e os telhados de alguns dos pavilhões que constituem o Tai Hao ling (太昊陵), Templo-mausoléu de Tai Hao, a divindade de Fu Xi. Na porta lateral Oeste (Xi Hua men) o rebuliço é ainda maior, pois muita gente tenta por aí entrar no templo, não deixando sair os que acabam de o visitar. Prosseguimos em direcção à porta Sul, a principal do templo e por onde se deve entrar, entre tendas com esculturas de deuses e imagens de muitos dos soberanos mitológicos à venda, havendo ainda as bancas com geomantes entendidos no Feng-Shui e no Yi Jing. CÃO DE ARGILA DE HUAIYANG Da grande praça em frente ao templo, o nosso olhar é atraído pela água do lago e expande-se até aos edifícios da vila de Huaiyang, na margem oposta. O que parece uma ampla praça está interrompida por um canal, não perceptível devido às inúmeras tendas colocadas em frente. É o Rio Cai, cujo significado antigo era o de tartaruga. Segundo os registos do livro Chenzhou Fu Zhi, foi no Rio Cai que Fu Xi encontrou a tartaruga branca a trazer-lhe a base para criar os oito trigramas. Este rio nasce a Noroeste de Huaiyang, atravessa Wanqiu, a cidade construída por Tai Hao, que foi a primeira capital da China, e passa em frente do templo mausoléu. Como viemos pelo lado Oeste, para o atravessar escolhemos a ponte mais próxima das três existentes e assim, entramos no recinto limitado entre o Rio Cai e o Lago Dragão (Long hu). Aí, a imensa feira, que para além do lado comercial tem uma parte de diversão, estende-se desde o lago até à entrada do templo. Nas tendas vendem-se os papéis votivos e incenso, assim como estátuas de porcelana de muitos deuses, sobretudo os da Riqueza, contando com uma variedade de outros produtos típicos apresentados nas normais feiras de pendor rural. As pessoas ao passarem pelos carrinhos cheios de lingjiao, fruta com sabor a castanha e forma em miniatura de pares de cornos de búfalo, esperam a vez para a adquirir. Encontramos então os famosos tigres (ou serão cães?) em vários tamanhos e feitos de tecido cor de laranja com pinturas a dar as feições e outros pormenores, parecem ser uma novidade. Produção actualizada, mais ao gosto dos compradores, inspirada nas pequenas esculturas antigas de barro pintado com fundo preto, ornamentadas por cores vivas a criar as feições das formas primitivas de seres humanos e pássaros. Servem como instrumento musical pois ao soprar-se por um buraco dão um assobio. Assim, os locais camponeses artesãos entre a multidão chamam a atenção, pois vão com elas na boca usando-as como apitos, enquanto transportam cestas de vime cheias dessas pequenas esculturas para vender. São os ‘Cães do Mausoléu’, que por terem formas amórficas muito diversas, revelam ser provenientes de uma figuração muito antiga. Também conhecidos por Cão de Argila de Huaiyang, ou Cão Ling, é o nome dado a estas figuras no seu todo, não importando a representação que têm. Está relacionado, segundo o conhecimento popular, com o nome de Fu Xi, em cujo primeiro caractere (伏) existem dois radicais, um de homem (人) e outro de cão (犬). Segundo especulações de alguns estudiosos, a tribo de Fu Xi tinha como totem o cão e após o seu chefe deixar esta vida, os cães tornaram-se as divindades que guardam o mausoléu. Confúcio confirmou passados dois mil anos estar ali enterrado o corpo do inventor dos trigramas.
Carlos Morais José h | Artes, Letras e IdeiasII – O lushu Andando de Guilin para leste uns bons cento e cinquenta quilómetros, deparamos com a montanha Niuyang. Na encosta sul dormem depósitos de ouro vermelho e na encosta norte repousam depósitos de ouro branco ou assim nos é sugerido em velhos rolos de papel, repletos de caracteres escritos num estilo anterior à dinastia Qin (220 a.E.C.). Segundo os comentadores mais avisados, referem-se a minérios de cobre e de prata. Outros, mais propensos a fantasias, preferem acreditar que o texto antigo denota a existência de metais raros, desconhecidos das classificações hodiernas e de antanho. Nesta incomum montanha existe um também exótico animal a que dão o nome de lushu. Dotado de uma forma semelhante à de um cavalo, o lushu distingue-se pela sua cabeça branca, o corpo malhado como um tigre e uma cauda avermelhada. Segundos os relatos, quando se desloca, este animal emite um som parecido com um ser humano a cantar. Existem também algumas raras pinturas que o representam com chifres, o que poderá ter origem no facto do nome lushu incluir o caracter 鹿 (lu, veado). Já o segundo caracter 蜀 (shu) é mais difícil de interpretar, mas poderá referir-se ao antigo reino de Shu (hoje Sichuan) ou a um pântano. Se assim fosse, chamar-se-ia então “veado de Shu” ou “veado do pântano”, o que não parece totalmente credível à maioria dos comentadores. Ao longo da História, numerosos pintores chineses revelaram-se fascinados pelo lushu, tendo produzido dissonantes interpretações. Era talvez o estranho contraste do seu corpo tigrado com a alva e imponente cabeça, ou então a cauda rubra vibrando como uma trémula chama em desfilada pelos planaltos de Niuyang. Também os musicólogos imperiais foram, em certa época, chamados a ouvir e registar as “canções” dos lushu. A partir delas, terão elaborado algumas das mais famosas melodias do reportório tradicional do País do Meio. O lushu vive em pequenas manadas com outros membros da sua espécie, as fêmeas não têm período de cio e os machos são dotados de uma fulgurante potência sexual. Estão, por isso, sempre dispostos a procriar. Tal facto faria com que os lushu fossem numerosos, o que não sucede devido à perseguição impiedosa que os homens sempre lhes moveram, certamente porque a sua pele e os seus pelos são considerados por numerosos sábios como poderosos talismãs. É, no entanto, a cauda vermelha – muito desejada pelos homens, pois existe a crença de que usá-la no cinto provoca um acréscimo de potência sexual – que o torna excepcionalmente cobiçado. Quem assim se enfeitar com a cauda do lushu, com certeza terá um grande número de descendentes.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasComboios astrologicamente vigiados Nada me preparara para o sonho que me enovoou, entre Coimbra e Aveiro: «Duas mulheres belas, altas, desengonçadas, ainda na leveza dos vinte, mas com a airosa gravidade dos trinta a poisar-lhes suavemente no semblante, uma loura e outra ruiva, conversam no banco ao meu lado. Num à-vontade que se exala ao arrepio da máscara. São manequins e adoram o que fazem, embora a covid lhes esteja a ratar os planos: – Oh pá, é mesmo azar, tinha três desfiles de grande expressão nos próximos meses, um em Santander, outro em Paris e o último em Roma… – Não digas nada, amiga, eu estava combinada para Barcelona e Biarritz no próximo mês. Tenho marcada uma sessão para a Vogue que, talvez, se realize, o resto é uma banhada… – E o teu agente? – Que tem? – Ainda te responde? O meu anda aos soluços… – Felizmente, mas tenho amigas que se sentem abandonadas. – Shit para este tempo que nos coube. Resolvo interrompê-las: – Desculpem meter-me na conversa… mas estes tempos só exigem novos palcos, está tudo por reinventar… – Desculpe, como assim? – pergunta a loira. – Pensem no efeito de usar-se o comboio como passarela, em sessões contínuas, da carruagem 2 à 23… – Seria o caos…- reage a ruiva. – Não vejo porquê? – insisti – seria uma mera questão de disciplina e de horários. O vosso público mais aficionado, pelo inédito da iniciativa, tomaria o comboio por curiosidade, e teriam além disso um público novo, o dos viajantes normais… – Já viu a confusão, com as entradas e saídas de pessoas? – voltou a loura a objectar. – O Alfa Pendular só pára três vezes, os intervalos entre as estações seriam o período ideal. E admitamos que se faria à noite a passagem de modelos… Vocês representam a beleza, o glamour… Já viram o vislumbre, quantos milhares de pessoas viriam às janelas de sua casa a essa hora para vos ver passar? Na beleza fosfórica que seria a vossa, à passagem veloz do comboio? – Como cometas…- admitiu a ruiva. – Sim, cometas concretos, com nome, rosto, e uma beleza intangível… A junção improvável que alimenta o sucesso. – Gostei… – ponderou a loura – O que faz o senhor. – Sou poeta, mas isso não importa agora… Sabe que nome daria a esses desfiles? – Não… – mostrando-se ansiosas. – Comboios astrologicamente vigiados. – Não sei se entendo. – atreveu-se a ruiva – Porquê vigiados? – Vigiados pelo bom-gosto, no sentido de estarem superiormente devotados à elevação do olhar pela beleza. O que é comum é a cultura de massas nivelar por baixo a educação estética, vocês, como anjos, irradiariam a excelência que nos pode salvar… Cromaticamente, pelo relâmpago dos figurinos e a elegância que os estilistas emprestam aos modelos, e depois pelo vosso natural… Astrologicamente, porque vocês são estrelas de bons augúrios… – A ideia é muito boa… – concedeu a loura, entusiasmada – poderíamos falar com alguns estilistas de renome… – Eu sou amiga pessoal da Victoria Beckhman. Vou telefonar-lhe, tenho a certeza de que vai entusiasmar-se…- reforçou a ruiva. – Isso, eu falo com a Anabela Baldaque e a Fátima Lopes… – prometeu a outra. – Tenho a certeza de que com alguns nomes sonantes a CP aderia ao projecto, … Mesmo em época de vírus, algo precisa de salvar a soturnidade em que estas viagens se tornaram… Se quiserem escrevo-vos o projecto e vocês apresentam… – E como poderíamos agradecer-lhe? – perguntou a ruiva, de olhos brilhantes. – Isso é simples… – brinquei – se “tatuassem” uns versos meus, no colo, num braço, na perna, no ventre… plantados nalgum lugar visível do vosso corpo, já me sentiria bastante recompensado… Já deram conta da variedade de formatos nos média em que vocês aparecem, que melhor montra para a poesia? – Outra boa ideia…- espantou-se a loura. – Sim, cada modelo adoptaria um poeta. Sabem, pode ser essa a salvação da poesia… Vocês gostam de poesia?» Acordaram-me nesse instante, as duas majestosas mulheres. O meu caderno caíra no chão e uma delas devolvia-mo. Agradeci-lhes. Iam sair em Aveiro e o comboio entrava na gare. – Desculpe acordá-lo… – disse a loura. Mas agora vai entrar muita gente e temi que o seu caderno fosse pisado… – Obrigado… – balbuciei, num sorriso tímido. Teria ressonado? Preocupou-me a imagem com que teriam ficado de mim. Nada me preparou para esse sonho porque há três meses que essa campanha abrilhanta as viagens nocturnas na CP. A operação revelou-se um sucesso internacional, sendo repetida nos países do núcleo duro da moda internacional. E também a minha ideia de cada modelo adoptar um poeta foi seguida como lei. Com um sucesso de arromba. Cada poeta escolhido passou a vender milhares de livros por edição, num rompante. Em Portugal foram oito os poetas escolhidos. E nenhum verso meu aflora a clavícula de qualquer modelo, orvalha um decote, ou torneia a barriga de alguma perna. Até o nome copiaram – e o copyright internacional do projecto pertence às duas modelos portuguesas, mais à Victoria Backhmam a quem com certeza elas ludibriaram dando por sua a ideia. Há três meses que assisto atarantado ao êxito retumbante, por toda a Europa, da campanha dos Comboios Astrologicamente Vigiados. Tentei chegar a acordo com elas, mas riram-se na minha cara quando lhes assegurei que fora eu quem tivera a ideia e lhes transmitira num sonho. Processá-las num sonho e receber a indeminização na vida real será igualmente possível? Já dois ou três jornais zombaram da minha história, como ridícula. Há três meses que sempre que ouço, a meio da minha insónia, alguém meter uma chave na ranhura da porta, para me vir assaltar, grito, possesso: – Entre Irene, a casa é sua!
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasFalar de nós Falando de nossos feitos, são os efeitos melhorados, seguros, e naturalmente previsíveis no que à autossugestão diz respeito. Muitas vezes nem acrescentamos mais interesse que o imenso prazer dado pela valorização das coisas que em nós se enaltecem. Mostrar de nós coisas tão iguais a outras quaisquer nem é bem uma disputa, mas tão-somente um reflexo comparativo que todos tendemos a distribuir. Depois os que se afundam na intrigante “originalidade” que nunca, ou quase nunca intriga (exatamente pela ausência de tal componente) podendo nós mesmo afirmar que alguém carismático pouco se apercebe desse impacto em seu redor na medida que ele é inato, mas, e dado que é particularidade perturbador e sem resposta, os que falam de si falam também de outros «sis» “de si” “de sim” “de não” e assim, num alvoroço que desconhece o poder central, se vão ajaezando à andaluza (que ao vidente nada se recusa) os que falando de todos, de si falam com demarcação e lunatismo padecentes. Falando de nós que também merecemos, nós, aqueles que fazem, que estão de pé, que não baixam a guarda, que todos os dias lutam na aflitiva selva do desarranjo mental do mundo, dos que estão sós por destino e suprema ambição de liberdade – falando de nós, digamos – nós nem sabemos bem o que de nós mesmos dizer. Parece-nos irrisório, por outro lado, uma grosseria ocupar tempo alheio com tais voluntarismos, e por isso somos sempre aqueles que menos falam. Gente existe que opina de modo reverberante qualquer tema como instigados pela pressa de uma revelação, depois, ela não vem, as palavras estreitam-se e uma pessoa pensa o porquê de escutar as gentes em seus delírios onde se depreendem males de cognição avassaladora. Mas a vida tornou-se nisto, ou mais ou menos isto, patranhas, entranhas, e muita molécula solta de ilusionismo egótico, erótico, entrópico… Sem nos darmos conta deixámos de ouvir os sinos da Cidade, que ela se tornou um negócio de casas, casarios para mentes não casadoiras, intermitente e bastante decorativa, caríssima e carente de inquilinos de condição sustentável. As coisas de que se fala! Coisas gentes, agentes das coisas e outras mais, e o que dizem parece uma obra ficcional ao negro tecida por escaravelhos. Dizem que dizem, fala que falam, e o certo é que quase nada se escuta da amálgama tecedeira de uma irrequieta imaginação daninha que só dá frutos estranhos: que há nisto até quem conte com o nosso testemunho! Nestas dissonantes matérias faladas existe sempre o depositário bom senso prestes a normalizar pelo verbo mofo uma “poliquice” tão correcta que o som das vozes prodigaliza o sono que por vezes não vem e por elas logo aparece. Desta estirpe de faladores os mais monótonos são ainda os negacionistas; negam até a obsoleta razão de haver tais pensamentos com roteiro de muito poucos caracteres. Mas temos fala para muito mais! Comovemo-nos perante todas as formas de energia móvel lançadas ao vento quando se transformam em energia limpa, são aquelas vozes que se transformam em canto ao dizerem o inesperado sem dar azo a nenhum contraditório- solilóquio, narração, encanto e forma- que a palavra tem o esqueleto dos verbos altos, é como os segredos, nós escutamo-los como feitos apenas para nós.- Que esta outra coisa fala de nós, mas nós não falamos dessa “coisa” que nós devíamos falar pelo espírito das coisas, e não pelo fonador, o aparelho mais estridente que nos pôde acontecer. E como para falar são sempre precisos dois, o que falam dois o tempo todo metidos no falatório de cada um? Empolgam-se palavrosamente numa constatação de que nada têm mais a dizer, e isso seria até bom se para tal se calassem de vez. Mas não! Há sempre uma reverberação pronta a soltar-se no trilho das causas, que os efeitos se geram por si. E dito isto, falemos então. Não tanto que nos impeça a vida de colocar questões, nem de argumentar o irrazoável, mas das coisas concebíveis e nada mais, que o inconcebível foi esta natureza do eco partilhado por vozes tais que diríamos falácia. Falemos como nos sonhos nas noites de Verão, e se não nos doer a voz, cantemos! Nós devíamos retorquir às perguntas, respostas cantantes, e retirar de uma vez por todas a carga episcopal dos retóricos de serviço, libertá-los, que é gente amordaçada. Devemos uma certa misericórdia aos algozes frenéticos da palavra, sem a qual, a sua condição de escravos fonadores não se daria. E soltos e mais livres, digamos pois somente o que nos inspira o pensamento, que nós sempre falaremos, e iremos Rumo a Bizâncio, o belo poema de Yeats, dizer a sua primeira frase a título de filme, que também «este país não é para velhos».
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasMês lunar e as 28 Constelações O sistema astronómico chinês usa pequenos grupos de estrelas para enunciar cada um dos dias do mês lunar. Como o mês lunar compreende uma lunação, isto é, desde a Lua Nova até ao Quarto Crescente vão sete dias e mais sete para chegar à Lua Cheia e decrescendo passa ao fim de outros sete dias a Quarto Minguante, até que com mais sete dias regressa à Lua Nova, ao primeiro dia do mês. Assim ocorre um mês com quatro semanas a perfazer 28 dias, enunciados em regular sucessão pelos 28 asterismos, denominadas constelações. As 28 Constelações (28 Xiu, 二十八宿) estão divididas em Quatro Quadrantes (四宫, Si Gong), que correspondem às quatro semanas cada uma de sete dias a compor o mês lunar. Luiz Gonzaga Gomes refere serem os quatro quadrantes (Si-Kun, 四宫, Si Gong): o do Leste, O Dragão Verde/Azul, denominado em cantonense Tch’êng (青, em mandarim Qing) ou Tch’óng-Long (苍龙, CangLong), e contém da primeira à sétima constelação. O Quadrante Norte, O Guerreiro Sombrio, Ün-Môn (玄武, XuanWu), abarca da 8.ª à 14.ª constelação. O Quadrante Oeste, O Branco Tigre, Pák-Fu (白虎, BaiHu), que compreende da constelação 15.ª à 21.ª, apesar de LGG referir, creio equivocando-se, conter da 22.ª à 28.ª constelação, pois trocou com as do Quadrante Sul, O Pássaro Encarnado, Tchü-Niu (朱鸟, ZhuNiao) ou Tchèok (雀, Que), a corresponder às constelações que vão da 22.ª à 28.ª e não, como afirma, entre a 15.ª e a 21.ª constelação. Mês Lunar Aqui deixamos a lista das 28 Constelações correspondentes aos 28 dias que constituem um mês lunar, enquadradas nos Quatro Quadrantes (Si-Kun 四宫, Si Gong) a marcar as quatro semanas, com sete dias cada. Os nomes são os usados por Luiz Gonzaga Gomes para as 28 constelações (I-Sâp-Pát-Sôk, 二十八宿, 28 Xiu) e estrelas que compõem cada um dos 28 asterismos do sistema astronómico chinês. O primeiro Quadrante do mês, Leste, O Dragão Verde/Azul, compreende da 1.ª à 7.ª constelação. O primeiro dia do mês lunar é chamado Kôk (角, em mandarim Jiao), O Chifre, e é formada pela constelação cujas estrelas são Espica, Zeta, Teta e Iota, dispostas em cruz, e situadas perto de Virgem. O segundo dia, Kàng (亢, Kang), O Pescoço, formada pelas estrelas Iota, Kapa, Lambda e Ró, em forma de arco e situado nos pés da Virgem. – Dia 3 – Tâi (氐, Di), O Fundo, constituída pelas estrelas Alfa, Beta, Gama e Iota, em forma de uma vasilha e situado na parte inferior da Libra. – Dia 4 – Fóng (房, Fang), O Quarto – Beta, Delta, Pi e Nu, na cabeça do Escorpião. [É o 1.º Domingo do mês] – Dia 5 – Sâm (心, Xin), O Coração – Antares, Sigma e Tau no coração do Escorpião. – Dia 6 – Mêi (尾, Wei) – A Cauda – Úpsilon, Mu, Zata, Eta, Teta, Iota, Kapa, Lambda e Nu, formando a cauda do Escorpião. – Dia 7 – Kêi (箕, Ji) – A Peneira – Gama, Delta, Úpsilon e Beta aparentando uma peneira e situada nas mãos do Sagitário. O segundo Quadrante, Norte, O Guerreiro Sombrio, compreende da Constelação 8.ª à 14.ª. – Dia 8 – Tâu (斗, Dou) – A Vazilha – Mu, Lambda, Ró, Signa, Tau e Zeta, do Sagitário. – Dia 9 – Ngau (牛, Niu) – O Boi – Composto de Alfa, Beta e Pi do Áries e Ómega, Alfa e Beta do Sagitário. – Dia 10 – Nui (女, Nu), A Donzela – Úpsilon, Mu, Nu e nove situadas à esquerda do Aquário. – Dia 11 – Hôi (虚, Xu), O Vácuo – Alfa, na testa do Eqúleo e em linha recta com Beta do Aquário. [2.º Domingo do mês] – Dia 12 – Ngâi (危, Wei), O Perigo – Alfa, no ombro direito do Aquário e Úpsilon e Teta na cabeça do Pégaso de maneira a formar um triângulo obtusângulo. – Dia 13 – Sât (室, Shi), A Casa – Alfa, na asa, e Beta, nas pernas do Pégaso. – Dia 14 – P’êk (壁, Bi), A Parede – Alfa na cabeça da Andrómeda e Gama (Algenib) na extremidade da asa do Pégaso. Terceiro Quadrante do mês, Oeste, O Branco Tigre, da 15.ª à 21.ª Constelação. – Dia 15 – Kuâi (奎, Kui), O Passo Largo – Beta (Mirac), Delta, Úpsilon, Zeta, Eta. Mu, Nu, Pi da Andrómeda e duas Sigmas, Tau, Nu, Fi, Ki e Psi do Pisces formando como que um homem dando um largo passo. – Dia 16 – Lâu (娄, Lou), O Montículo, constituído por três estrelas em forma de um triângulo isósceles: Alfa, Beta e Gama na cabeça do Áries. – Dia 17 – Uâi (胃, Wei), O Estômago, formado pelas três estrelas principais da Mosca Boreal. – Dia 18 – Máu (昂, Ang), O Quadrante Ocidental, constituído por sete estrelas da Plêiade. – Dia 19 – Pât (毕, Bi), O Termo, formado por seis estrelas na Híade com a Mu e Nu de Toiro. – Dia 20 – Tchôi (觜, Zui), Eriçar – Lambda e dois Fi na cabeça do Oriente. – Dia 21 – Tch’ám (参, Can), Misturar – Alfa (Betegeux), Beta (Rigel), Gama, Delta, Úpsilon Zeta, Eta e Kapa nos ombros, cintura e pernas do Oriente. Quarto Quadrante do mês, Sul, O Pássaro Encarnado, da 22.ª à 28.ª Constelação. – Dia 22, Tchèang (井, Jing), O Poço, constituído por quatro estrelas nos pés e quatro nos joelhos dos Gémeos. – Dia 23, Kuâi (鬼, Gui), O Demónio – Gama, Delta, Eta e Teta do Câncer. – Dia 24, Lâu (柳, Liu), O Salgueiro – Delta, Úpsilon, Zeta, Eta, Teta, Ró, Sigma e Ómega da Hidra. – Dia 25, Sêng (星, Xing), A Estrela – Alfa, Iota, duas Tau, Kapa e duas Nu, no coração da Hidra. – Dia 26, Tchèong (张, Zhang), Retesar o Arco – Kapa, Lambda, Mu, Nu e Fi na segunda espira da Hidra. – Dia 27, Iêk (翼, Yi), A Asa, Formada por vinte e duas estrelas da Cratera e da terceira espira da Hidra. – Dia 28, Tch’ân (轸, Zhen), A Canga, constituída por Beta, Gama, Delta e Úpsilon do Corvo. Na dinastia Tang estas 28 Constelações tinham ao todo 183 estrelas, apesar de apenas contarmos 161 estrelas no artigo Patronos do Calendário Chinês de Luiz Gonzaga Gomes, que refere ainda, “os primeiros dias de todas as luas se chamavam kôk, os segundos káng e assim por diante, dando-se o facto de recaírem, sucessivamente, todos os primeiros dias de cada grupo de sete dias, nas constelações fóng, hói, máu, e sêng que, por este facto, equivalia a referir-se-lhes como sendo o 1.º, o 2.º, o 3.º e o 4.º domingos do mês.” “Não obstante as suas aparentes complicações, o sistema cronológico chinês presta-se admiravelmente para determinar com mais ou menos exactidão, os diversos períodos do tempo. Os investigadores que se dedicaram ao estudo do almanaque chinês, asseveram que sob vários aspectos, ele é mais flexível que o europeu e até regista com maior rigor as alternações das estações e as suas respectivas fracções, não devendo nós deixar de mencionar o facto de o notável político e matemático francês, Paul Painlevé, ter proposto a amalgamação dos calendários chinês e europeu, com o fim de se elaborar um calendário universal que viria a ser o mais perfeito de quantos têm sido produzidos até à actualidade.”
Paulo Maia e Carmo h | Artes, Letras e IdeiasPalavras Que Dialogaram Com a Paisagem de Xia Gui Por Paulo Maia e Carmo Juefan Huihong (1071-1128) o monge que se tornaria uma das mais eminentes personalidades do Budismo Chan, teve um desafiante início de vida. Nascido em Yunzhou (actualmente em Jiangxi) orfão dos dois pais em 1084, o filho de um funcionário teria poucas possibilidades de encontrar um lugar na rigidez social da dinastia Song, que só acharia quando se juntou a um convento. A sua dedicação ao estudo foi por vezes posta em causa, acusado de excesso de erudição para atingir a iluminação espiritual do Dao. Numa dessas ocasiões ele respondeu, dialogando com Lingyun Zhiqin, um célebre monge da dinastia Tang que escrevera: «Durante trinta anos procurando uma espada,/ Tantas vezes folhas cairam e rebentos despontaram,/ Uma vez olhei para uma flor de pessegueiro,/ E deixei de ter dúvidas.» Huilong respondeu no poema: «Quando Lingyun a viu uma vez, já não voltou a olhar,/ Esses ramos adornados de vermelho e branco não mostram flores./ O infeliz pescador que não pescou nada do seu barco,/ Regressou para pescar peixe e camarões em terra seca.» O seu mestre leu e aceitou-o. Também escreveu palavras tão concretas que quase mostram uma paisagem. Como o poema que inspirou o pintor Xia Gui (activo c. 1195-1230) para realizar uma pintura sob o tema das «Oito vistas de Xiaoxiang»: «A chuva da noite passada acalmou, o ar da montanha está pesado, Vapor subindo, o sol e a sombra; luz cambiante no meio das árvores; O mercado de minhocas vai fechar, a multidão diminui, Salgueiros à beira dos caminhos ao longo da ponte do mercado; como fios dourados a brincar, De quem é a casa com terreno cheio de flores para lá do vale? Que suave o trinado do pássaro amarelo chamando na brisa primaveril, Bandeiras anunciam vinho na distância enevoada – olha e verás; É o que está a Oeste do caminho para o Vale Sulcado da Árvore Zhe.» Xia Gui foi um pintor profissional da corte e por isso mesmo desvalorizado, sobretudo a partir da hierarquia criada pelo influente teórico Dong Qichang. E no entanto ele é autor de pinturas alusivas e inovadoras, exemplares até para o tipo de linhas ditas fupi cun. A ausência de literatura contemporânea na sua biografia, bem como de escritos de sua autoria, denuncia um preconceito que só olhando a obra se percebe como foi superado. As pinturas associadas à corte Song do Sul (1127-1279) apresentam-se habitualmente sob a forma de rolos verticais, folhas de álbum ou redondas para leques.Vale a pena por isso observar o seu extenso rolo horizontal Doze vistas da paisagem (tinta sobre seda, 27,3 x 353,6 cm) que está no Museu de Arte Nelson-Atkins, na cidade do Kansas. Apresenta-se hoje apenas com quatro vistas pintadas mas ao longo do tempo foi sendo acrescentado com colofónes que o estenderam para o triplo. Testemunho de quem olhou e, como o mestre que leu as palavras de Huihong, acreditou.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPrevisões por signos e por anos para 2022 As previsões aqui expressas são a ideia criada pela interpretação das escritas por Edward Li. O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao General He E, Deus do Ano (Tai Sui), é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 8 de Fevereiro de 2022 Tigre Como animal do ano, os nativos de Tigre estão em Zhi Tai Sui (em confronto com o Tai Sui) significando ter pela frente um ano de muito trabalho, a tomar conta de tudo, sem dar espaço para desenvolver. Evite as ondas de grande amplitude; os pequenos investimentos previnem tudo perder ao ser engolido nas turbulentas águas, sendo poucos proveitos melhor do que nada. Olhe pela saúde e mantenha-se em forma para melhor controlar as emoções. Carreira: Sem uma poderosa estrela da sorte, terá a compensar a estrela Wen Chang (文昌, deus dos Letrados e da Literatura), que o colocará a aprender e a estudar mais, para se tornar um conhecedor. Se a ocupação está virada para a restauração e eventos culturais, conta com a ajuda das estrelas da sorte Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu) e Tian Guan (天官, oficial do Céu). Já a estrela da sorte An Lu (暗禄, Dinheiro Sombra, ou da Sorte) significa receber dinheiro fora do normal. Mas não se esqueça que conta também com alguém a apontar-lhe o dedo, falando mal de si pelas costas, devido à má estrela Zhi Bei (指背). Por isso, precisa de cuidar das amizades. Outras duas maléficas estrelas, Jian Feng (剑锋, ponta da Espada, operação clínica) e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), representam acidentes, devendo, por isso, evitar colocar-se em situações perigosas. Lembre-se ainda que quanto mais se vangloria, mais setas irão contra si e assim, este será um ano para não ter grandes expectativas e não se expor muito. Amor: Os nativos de Tigre, embrenhados no trabalho e apenas focados na carreira, mesmo ao encontrarem a pessoa certa não conseguem tomar uma decisão. Gostando de momentos românticos e de testar novidades, sem querer relações estáveis e duradoiras, se para os solteiros isso não traz problemas, na vida conjugal provoca turbulência e tensões. Saúde: Ano em Fan Tai Sui será melhor ir oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Os nativos de Tigre nunca gostam de ouvir o que os outros têm a dizer sobre os seus defeitos, mas este ano como terá muita gente a apontar-lhe o dedo, as emoções tendem a ficar desequilibradas, propiciando por isso acidentes. Para os nativos nascidos no Verão, é fácil terem problemas com o coração, fígado e sangue. Os nativos de Tigre nascidos em: 1962 – São os mais bafejados de todos os nativos de Tigre, tendo ideias activas para a carreira e conseguem ajudas para levar a bom termo os seus planos. Faça uma Festa de Aniversário para firmar as amizades. 1974 – Conseguirá ajuda de pessoas com mais experiência e se o permitir, a sua carreira e fortuna serão rentabilizadas. 1986 – Tem imensas ideias e quer realizá-las todas, mas isso está fora das suas capacidades. Quanto mais se mostra e vangloria, maior é o efeito contrário. Ano para ter relações diferentes, mas daí também podem advir problemas. 1998 – Bom para estudar e aprender, degrau a degrau, mas evite discussões. Faça sacrifícios ao Deus do Ano e uma festa de aniversário para chamar a boa sorte. 1950 – Para os que ainda trabalham, este ano estarão mais ocupados pelos afazeres e daí o cansaço. Procure não comer demais e controle o estômago fazendo mais exercício físico para equilibrar as emoções. Coelho Ano para os nativos de Coelho com apenas uma palavra, Esperar. Carreira: Poderá contar com uma poderosa ajuda devido à estrela da sorte Tian Yi Gui Ren (天乙贵人), ligada à criatividade. Comparando com o último ano, os nativos de Coelho têm este ano mais sonhos, mais planos e mais pessoas a ajudar, mas na acção, em especial aos nativos masculinos surgem mais problemas a necessitarem de serem resolvidos. Sozinho não conseguirá realizar os seus projectos, precisando de um parceiro para os pôr em prática, sendo os nativos de Cabra um bom complemento. A má estrela Mo yue (陌越, estrela de mudança) depende com quem se conjuga, pois se for com uma boa estrela melhora a situação, mas ligada a uma má, piora-a. Representa não ter direcção. Pensar muito e não acreditar nos outros, coloca-o a não conseguir tomar decisões e, por vezes, a encontrar razões para ter medo. Já a Wang Shen (亡神, problemas na justiça, ou perder algo de si) avisa poder ser afectado por alguém, tendo mesmo de parar a meio o projecto em que está a trabalhar. Amor: Com a ajuda da estrela da sorte Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) os nativos de Coelho terão uma activa vida social e os nascidos em 1987 são os que melhor colhem esse harmonioso estar. Já os nativos de 1963 precisam de mais cuidado, pois demasiadas aventuras amorosas só trazem problemas. Este ano é necessário aprender a dar outro valor às relações. Saúde: Com a má estrela Bing Fu (病符, Sinaliza doença) precisa de ter cuidado com a saúde, especialmente os nascidos no Verão, ou entre os dias 8 de Outubro e 7 de Novembro. Por isso, no início do ano faça um exame de saúde e vá ao Templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Limpar a casa traz também uma grande ajuda. Se tem um problema de saúde, peça ajuda aos amigos nativos de Macaco e Porco. Os nativos de Coelho nascidos em: 1963 – Terão uma nova oportunidade para atingir um elevado patamar e podem contar com mais recursos monetários. Os nativos masculinos deverão evitar demasiadas relações amorosas, pois só lhe trazem sarilhos. Dê especial atenção à saúde. 1975 – Com ajudas, o ano será fácil no trabalho. Deve evitar a prática de desportos que envolvam perigo. Festejar o aniversário elevará a sua sorte. 1987 – Poder e estatuto aumentam, e os nativos femininos contarão com um ano harmonioso com o parceiro. 1951 – Muito activo, cheio de planos, tenha, no entanto, cuidado para não exceder as possibilidades do que consegue fazer. Faça mais exercício físico e relaxe. É melhor do que matar-se a trabalhar para apenas conseguir arranjar mais problemas. 1999 – Cada coisa no seu tempo e quanto mais rápido quer fazer, mais o oposto acontece. Bom ano para estudar, aprender e criar uma grande base de relações de amizade, a preparar o próximo ano. Dragão <A beber chá sozinho na alta montanha.> Ano de muitas mudanças, com possibilidade de fazer uma longa viagem, mudar de casa ou de emprego, e também com alterações nas relações emocionais. Carreira: Ano para ter de cuidar de tudo sozinho, pois ninguém o pode ajudar. Mas, devido à estrela da sorte Fu Xing (福星), protectora, que lhe limpa o caminho, se estiver em perigo, terá alguém a resolver-lhe o problema. A má estrela Tian Gou (天狗, Cão do Céu) leva a ser fácil criar conflitos e representa acidentes, colocando-o com pessoas em que não poderá confiar, precisando por isso de ter cuidado. Ano para ter muita paciência e enfrentar os problemas em vez de os esconder. Espere pelas oportunidades certas para surfar nas grandes ondas, que permitam limpar a mente e equilibrar as emoções. Amor: Sem ajuda de estrelas da sorte, a má estrela Tian Ku (天哭, Chora o Céu) provoca uma onda emocional aos nativos de Dragão, pois, seja no amor, na família, ou nas relações de amizade, terão de despender imensa energia para resolver os problemas, mas sem, no entanto, obter bons resultados. Daí, terá de pensar se o problema não estará em si, em vez de o apontar aos outros. Ganhar ou perder, depende da sua atitude. Mantenha-se calmo para decidir melhor. Saúde: Os problemas para os nativos de Dragão são de natureza emocional. É você que se coloca em grande tensão e por isso, deve relaxar e ser simpático, é o melhor para todos e em especial para si. A má estrela Diao Ke 吊客, relaciona-se com a morte de um familiar, por isso, quando viajar, ou se vai a conduzir faça-o com muito cuidado para se manter em segurança e evite todo o tipo de discussões. Ao desculpar os outros, estará a desculpar-se a si mesmo. Os nativos de Dragão nascidos em: 1964 – Contará com a boa estrela Lu Shen (禄神, bom rendimento e abundantes relações) de onde lhe advém dinheiro. Aproveite e agarre a oportunidade, promova a carreira, pois quanto mais arduamente trabalhar mais alcançará. 1976 – Trabalhará bem este ano com uma boa cooperação, mas evite expor-se demais, pois apenas irá atrair invejas. 1952 – Vida social activa, mas cuidado, escolha os amigos e evite qualquer forma de cooperação financeira nos investimentos. Mantenha-se atento, para evitar acidentes. 1988 – O caminho é ser paciente e trabalhar em silêncio. Cuide da maneira como os seus amigos o tratam. 2000 – Ano para se revelar e conseguir trabalhar em novas e diferentes áreas, embora isto apenas o leve a ganhar experiência, sem retorno monetário. Serpente Se no ano passado foi um bom ano para os nativos de Serpente, este será ainda melhor. Mas lembre-se, seja flexível e esqueça a intransigência, pois as verdades dos factos apenas são a sua interpretação e para lá do que lhe é dado ver, existem outros mundos de consciência que não consegue alcançar. Assim, sendo um ano de Fan Tai Sui, que está em Xing Tai Sui, significando Xing ser julgado, permite-lhe crescer ao ver-se pelos outros e muitos deles são trazidos pelas inúmeras estrelas da sorte que o bafejam, logo o julgamento que farão de si, será positivo. É um vencedor. Carreira: Ano para se expor e fazer tudo o que quiser. A acção é o mais importante e não apenas pensar fazer, pois todas as estrelas da sorte, como a Tian De (天德) e Fu Xing (福星), protectoras, lhe limpam o caminho; Fu De (福德) a trazer riqueza material e protecção pela virtude; e as poderosas estrelas, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) ajuda ligada à criatividade e Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) alguém o apoia, levam a bom termo o que pretende realizar. Ano de muita competição e mudanças, por isso tomar cuidado devido à má estrela Juan She (卷舌, falarem mal de si), pois o sucesso chama a inveja, o que é normal. Precisa este ano de se abrir e aceitar pacificamente todas as diferenças, a permitir, se souber escutar, melhorar substancialmente os conhecimentos e usar a virtude para ganhar o seu verdadeiro coração. Amor: Em Xing Tai Sui, alguém o coloca em sarilhos e por isso terá de ter a mente limpa para não se deixar envolver e entrar numa relação pouco clara. Resolva a situação rapidamente. Com as más estrelas, Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si) e Tian Ku (天哭, Chora o Céu), é fácil arranjar problemas com as palavras e por isso, tenha cuidado ao falar e pense primeiro no que vai dizer. Como é um ano focado na carreira, no amor não haverá surpresas. Saúde: Os nativos de Serpente este ano estão propensos a terem pequenos acidentes. Evite pequenas discussões, que podem trazer grandes problemas. Equilibre o trabalho, para a carreira e para si mesmo, e relaxe. Os nativos de Serpente nascidos em: 1953 – Além das estrelas da sorte encima referenciadas, contam ainda com Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna) e se quanto à carreira e fortuna não é preciso repetir, deve apenas lembrar-se que tem demasiados namoros e por isso, terá de se organizar melhor. 1965 – Continua com um bom apoio na carreira e isso provoca inveja nos outros. Ano em que terá de passar mais tempo a equilibrar as relações. Deve sobretudo tentar controlar as emoções e ter mais cuidado com a saúde. 1977 – Irá ser promovido e vai ganhar mais. A sua vida atingirá um novo patamar. 1989 – Cheio de confiança, faz os planos funcionarem e recebe recompensa monetária satisfatória. 2001 – Ano muito criativo e cheio de vontade para experimentar tudo, mas mantenha a segurança. Cavalo No ano do Tigre [Elemento Madeira yang], os nativos de Cavalo [Fogo forte (yang)] nascidos no Verão, [Fogo], ou entre 8 de Outubro e 7 de Novembro [mês de Cão, também Fogo], precisam de ter cuidado, pois demasiado fogo não é bom, sendo bastante negativo para a saúde, especialmente a provocar ataques de coração. Carreira: Sem suporte de estrelas da sorte, para fazer alguma coisa precisa de encontrar um parceiro para cooperar, combinando apenas com Tigre e Cão, mas atenção, não deve ser com um ser feminino por causa da forte má estrela, Bai Hu (白虎, a Tigre Branco), a representar mulher a trazer problemas e a causar perda de saúde, ou dinheiro. Os nativos de Cavalo nascidos no Outono e Inverno terão menos problemas. Ano em que cada passo deve ser dado com muito cuidado. Manter o que já tem, é o melhor. A má estrela Zhi Bei (指背, falar mal de si pelas costas, rumores) leva-o a ter de usar os nativos dos animais com que se combina bem, Tigre e Cão, para solucionar o problema. Amor: Os solteiros nativos de Cavalo este ano não irão encontrar a sua cara-metade, por causa da má estrela Bai Hu (白虎, Tigre Branco), a colocá-lo em maus lençóis, especialmente agora com o forte e imenso poder da mulher, terá de ser paciente. Entre os casais, precisa de dar valor ao amor e se houver problemas, procure uma pessoa do sexo masculino para o aconselhar. Saúde: As más estrelas Fei Lian (飞廉, imprevista calamidade) e Fei Ren (飞刃, fio da lâmina) representam acidente e operação cirúrgica e se estiver grávida, mais cuidado deve ter. Se tem excesso de peso, tente emagrecer. Poderão surgir problemas no sangue, avc’s e ataques do coração. Oferecer sacrifícios ao Deus do Ano é importante. Os nativos de Cavalo nascidos em: 1954 – Os melhores dos nativos de Cavalo em matéria de carreira e dinheiro. Mantenha bem o que tem, sendo ano para dar mais atenção à família. 1966 – Atenção aos namoricos, pois ter um ano calmo ou com problemas só disso depende. Conseguirá ajudas para a carreira. 1978 – Quanto ao emprego, não haverá surpresas. Poderá encontrar novas vias para se desenvolver em outras áreas a trazer algo de diferente. Mas este ano trabalhará sozinho, sem contar com nenhuma ajuda. Celebrar o aniversário é bom para recolher as energias dos amigos. 1990 – Ano muito ocupado e de árduo trabalho. Não é por muito se esforçar a trabalhar que será mais compensado. Para as nativas de Cavalo é ano de grandes ondas e precisa de muito cuidado com a saúde. 2002 – Será bem-vindo à vida social, mas preste atenção, não transforme a competição em guerra pois ainda tem muito caminho para percorrer. Cabra No ano passado os nativos de Cabra estavam em oposição ao Deus do Ano, Chong Tai Sui, e tendo conseguido realizar mudanças e equilibrar as energias, este ano estão de parabéns, pois são os mais bafejados entre os 12 animais do zodíaco chinês. Carreira: As estrelas da sorte, Zi Wei (紫微) e Long De (龙德) são as duas mais poderosas para a carreira, a trazer a possibilidade de vir a ter uma posição de chefia na sua área, ou a ser o mais desejado e requisitado. Sendo um pouco introvertido, este ano deverá mostrar o que tem de melhor dentro de si e surpreender os outros com o seu brilho, que irão ganhar uma nova visão da sua pessoa. A estrela da sorte Guo Yin Gui Ren (国印贵人, poderosa ajuda) significa ter apoio de pessoa qualificada por isso, deverá agarrar todas as oportunidades, não importa o que quer fazer, pois em tudo o que investir terá sucesso. Para voltar a este estado de graça só daqui a doze anos. As más estrelas, Bao Bai (暴败, mudança sem poder controlar) e Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu) representam acidentes ou desastres. Junta-se ainda a má estrela Wang Shen (亡神, perder algo de si), mas não trazem grandes problemas. Amor: Protegida pela auspiciosa e súper estrela da sorte Tian Xi (天喜, Alegria Celeste, a transformar pequenos infortúnios em bons acontecimentos) terá todo o ano boas emoções e consegue facilmente destacar-se. Os solteiros nativos de Cabra encontram-se no ano correcto para casar e os casais, para ter filhos. Em festa com a família, celebre a data do seu casamento, ou faça uma nova lua-de-mel. Saúde: Os nativos de Cabra nascidos no Verão deverão ter cuidado com a cabeça, olhos e coração. Os restantes, apenas precisam de controlar o que comem e equilibrar o trabalho com um relaxante repouso. Os nativos de Cabra nascidos em: 1967 – Com poder e posição serão promovidos; este ano será uma boa página da sua vida. 1979 – Ano para ganhar dinheiro e conseguir chegar a outro patamar. Coloque toda a atenção na carreira e trabalhe arduamente. Quanto aos nativos do sexo feminino, o seu parceiro irá tratá-la como uma Rainha. 1991 – Activo e criativo, é ano para se focar não só na carreira, mas investir na família e ampliá-la. 1955 – Rodeado de pessoas a ajudar, apenas terá de tomar cuidado em não ultrapassar as suas possibilidades de execução. Coloque o trabalho como um entretimento. 2003 – Terá boas relações sociais, mas facilmente se deslumbra, levando-o a acumular namoros, o que lhe trará complicações. Deve definir claramente a fronteira das amizades, sendo este ano propício para as ampliar e criar uma boa rede de amigos. 1943 – A carreira continua a desenvolver-se e com compensações monetárias, precisando apenas de tomar cuidado com demasiados namorados e evitar excesso de noitadas. Macaco <A vida é uma eterna procura por fora, mas o que se quer encontrar está dentro de nós e sempre esteve à nossa frente.> Após dois bons anos de sorte, agora haverá mudanças e grandes ondas que não podem ser evitadas pois vai entrar em Chong Tai Sui, oposição ao Deus do Ano e em Xing Tai Sui vai ser julgado. Inteligente e sensível, para os nativos de Macaco estas mudanças e vagas poderão também ser oportunidades. É o momento que faz os heróis e só depende de como age. Carreira: Ano Fan Tai Sui significa haver grandes mudanças, incluindo trocar de emprego, de casa, emigrar e mesmo encontrar outro parceiro. Mas terá muito boas estrelas de protecção, todas de mudança, podendo ser conduzido numa boa direcção. Se tiver planos para investir no estrangeiro, ou ir estudar para fora, este ano, a estrela da sorte Yi Ma (驿马) permite que tal se torne realidade. A poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座, da carreira) representa ser promovido e ficar na posição de comando, a dar-lhe hipótese de saltar para fora do normal e conjugada com a Tai Ji Gui Ren (太极贵人) terá alguém a ajudá-lo no trabalho. Já as estrelas da sorte Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神) indicam ter apoio na resolução dos problemas e com Ci Guan (词馆, Perfeitas palavras) mesmo só com palavras consegue mudar a situação. A má estrela Da Hao (大耗, gastar dinheiro) coloca-o com problemas financeiros e a Lan Gan (阑干, barreira) provoca não ser nada fácil atingir o sucesso devido às barreiras que encontrará. A Chen fu (沉浮) altos e baixos) significa estar a sua vida numa encruzilhada e torna-se muito difícil tomar uma decisão. Amor: Ano cheio de paixões, mas também de muitas zangas. Irá encontrar alguém de fora para entregar o seu amor, mas este ano terá más experiências com os namoros, tanto os solteiros como os casados e por isso procure perceber qual é a melhor decisão. Saúde: A estrela Yi Ma indica ter de viajar imenso e combinada com a má estrela Xue Ren (血刃, Fio da lâmina com sangue) significa dever evitar movimentos perigosos e ter cuidado com o trânsito. Se está grávida, é necessário proteger o feto e tomar mais precauções. Evite desportos radicais, como mergulho com garrafa, ou saltar de grande altura em corda elástica. No início do ano, no oitavo dia (8 de Fevereiro) vá ao templo fazer sacrifícios ao Deus do Ano, para que o julgamento deste lhe seja benéfico. Os nativos de Macaco nascidos em: 2004 – Entra num novo nível e se agarrar bem esta oportunidade irá ter um futuro risonho. 1992 – Está no topo dos nativos de Macaco quanto à carreira e fortuna e conta com uma profícua vida social, a degustar diariamente boa comida. 1980 – Este ano precisará de trabalhar arduamente para resolver os muitos problemas que terá pela frente. Os nativos do sexo feminino poderá engravidar. 1968 – Com muitas mudanças, precisa de aproveitá-las para ganhar mais dinheiro e tentar encontrar um novo investimento. 1956 – Bastante comunicador e a falar muito bem, irá fazer algo de anormal, mas tal chamará parceiros que não são bons para si. Quanto mais simples, melhor. 1944 – Tem o respeito dos outros, na profissão e na carreira, apenas precisa de ter cuidado com a saúde e escolher caminhos seguros. 1932 – Este idoso macaco continua a ter energia e força, sendo activo na vida social, sem precisar de se preocupar com o material, apenas deve controlar o que come. Galo Após um glorioso ano na carreira, os nativos de Galo regressam este ano ao seu normal posto, onde se sentem mais confortáveis a observar por fora o que se vai passando, mas sem se misturarem. Carreira: Sem novidades, será um ano normal, pois não conta com nenhuma estrela da sorte a ajudar. Com oportunidade de subir na carreira, mas tal ocorre apenas num momento e logo desaparece, o melhor é manter o que já tem. A não acção é o caminho. A má estrela Xiao Hao (小耗, pequenos gastos) leva a despender mais do que tem, mas tal problema é facilmente resolvido ao não se entusiasmar nas compras e levar o dinheiro controlado. Amor: Com a estrela da sorte Yue De (月德, Virtude da Lua) os nativos de galo mostrar-se-ão mais simpáticos, captando a atenção dos outros. Este ano permite também recuperar a imagem deixada por não conseguir expressar bem o que lhe vai na alma, e assim mudar a maneira como os outros o vêem. Para os solteiros, é um bom ano para encontrar parceiro, pois sem a carreira a ocupá-lo, terá todo o tempo para se dedicar ao amor. O mesmo com os casados, que devem aproveitar para encontrarem espaço para a família. Tenha cuidado com os encontros virtuais pelo computador. Saúde: Com a má estrela Shi Fu (死符) sinal de morte), os nativos de Galo deverão ter mais cuidado com a saúde, sendo propício aparecer uma doença inesperada, como diabetes, problemas na próstata e para os nativos do sexo feminino, problemas no útero, especialmente para os nascidos em 1945 e 2005. Os nativos de Galo nascidos em: 1993 – Com muito boas relações, é ano para uma vida amorosa, sendo na carreira e dinheiro o melhor dos nativos de Galo. Trate bem as amizades, senão podem aparecer muitos problemas. 1981 – Parece ter muitas oportunidades, mas apenas o levam a trabalhar arduamente, sem alcançar grandes proveitos. Por isso, deve saber decidir o que fazer, ou não fazer. 1969 – Ano sem grandes ondas, tal como gosta, para caminhar passo a passo, simples, mas seguro. 1957 – Contará na carreira com uma onda de elogios, mas sem grandes repercussões. Se investir faça-o por prazer, pois o retorno não será material. 1945 – Ano relaxante e agradável, pois terá ajuda de alguém a tomar conta dos detalhes da sua vida quotidiana. Apenas precisa de fazer exercício físico, como andar para manter a saúde. Cão Tendo passado um ano de mudança, sem perigosas ondulações, chegado ao ano de Tigre, um dos três, juntamente com o Cão, que se combinam (san he), agora os seus inimigos vêm procurá-lo como amigos e isto abre uma nova etapa. Carreira: Entrando no ano, onde tem ajuda dos outros dois animais que consigo se conjugam, terá sem dúvida boas relações com toda a gente e isso alavanca a carreira. A estrela da sorte San Tai (三台, o Carimbo) transporta-o a um lugar de chefia, podendo dar ordens aos outros, mas os nativos de Cão já sabem que, quanto mais trabalham maior é a sua sorte. A má estrela Guan Fu (官符) indica ao fazer algo, dever tomar muito cuidado e não colocar como garantia a sua palavra. Já as más estrelas, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas), a representar pessoas a fazerem-lhe mal pelas costas e Zhi Bei (指背, a falarem mal de si) advertem para os problemas que alguém no emprego lhe trará. O sucesso chama a inveja e daí os nativos de Cão este ano dever acalmar-se e com modéstia não proclamarem alto e em bom som serem os melhores. Amor: Todos gostam de si e é a atracção para onde quer que vá. Bom ano para os solteiros, que estarão como peixes na água. Já os casais, precisam de ter cuidado com as relações extra conjugais e se for inteligente deve transferir essas energias para encontrar um bom parceiro de trabalho. Saúde: Cão (戌, Xu) é Terra yang, que representa Fogo, e sendo um ano com demasiado fogo facilmente terá problemas de pulmões e no intestino grosso. Devido a muitos almoços e jantares sociais, diabetes podem ser um problema para todos os nativos de Cão, sobretudo para os nascidos em Fevereiro, Junho ou Outubro. No início do ano, a 8 de Fevereiro vá ao templo fazer sacrifícios ao Deus do Ano. Os nativos de Cão nascidos em: 1982 – Tem uma clara ideia do que pretende na carreira e contará ajudas de toda a gente para progredir. Os bons resultados levam-no a receber mais do que espera. 1994 – Em conjunto com os nascidos em 1982, serão ambos para este ano os mais afortunados dos nativos de Cão. 1970 – Só precisa de acelerar, pois à sua frente tem estrada livre para mostrar todo o seu potencial, devendo apenas ter cuidado com a saúde. 1958 – Altura para enveredar por novos assuntos, mas terá de fazer tudo sozinho, pois não conta com ajudas, conseguindo mesmo assim um ano satisfatório. 1946 – Precisa de ter cuidado com o que diz, já que este ano as palavras podem causar-lhe problemas. Mantenha-se sempre como segundo e não se mostre como o campeão. Atenção aos muitos encontros amorosos. Porco <Com bom coração, todos os dias são bons.> “A Primavera chega e as borboletas andam de flor em flor e a súper estrela da sorte Tai Yin (太阴), a Lua) tira o frio ao coração, tornando-o mais alegre e a sentar-se com companhia para ver o nascer e pôr-do-sol e mesmo a estrela da sorte Lu Shen (禄神) o acompanha.” O Porco, nos seis pares que se combinam, é o grande amigo do Tigre e também está em Fan Tai Sui, mas em Po Tai Sui (fácil ocorrer danos) leva ambos a ficarem um contra o outro, trazendo problemas e por isso será um ano complicado. É no equilíbrio das suas emoções que se fará o ano, mas tudo apenas dependerá da sua atitude. Não importa como, este ano será melhor do que o anterior. Bom para planear o que virá e criar boas bases. Normalmente é muito sério e tenso, a deixar os outros nervosos, mas para este ano deverá mostrar a sua gentileza e relaxando dar um bom sentir aos que consigo convivem. Carreira: A súper estrela da sorte Tai Yin (太阴, a Lua, combina yin e yang e traz a Paz) abre o seu coração pois representa boas relações sociais, que transformam o negativo em situações positivas e tornam os nativos de Porco mais simpáticos e cuidadosos com os outros, levando assim a receberem mais ajudas. A estrela da sorte Lu Shen (禄神, bons rendimento e boas relações) coloca o seu trabalho a render e por isso, quanto mais trabalha mais ganha e o que fizer vai servir para preparar o próximo ano. A má estrela Gu Chen (孤辰, estar só) potencia más emoções e a rejeitar tudo, incluindo ajudas. Já a má estrela Guan Suo (贯索) linha escondida, armadilha) traz algo para desfazer os seus planos. Amor: Ninguém rejeita uma pessoa simpática e que gosta de ajudar os outros, sendo estas as características dos nativos de Porco. Se quiser, este ano não precisa de se preocupar em não ter um parceiro, pois o difícil é escolher quem e por isso os solteiros terão hipóteses de casar. Já a má estrela Liu Xia (流霞, atraente, mas com rápido terminar de relacionamento) avisa-o para ter cuidado com os muitos encontros amorosos. Saúde: A má estrela Wang Shen (亡神, Perder algo de si) representa acidentes e combinada com Po Tai Sui (fácil ocorrer danos) revela ir ser confrontado com algo perigoso, em especial os nativos nascidos em 1935 e 1995. Por isso, ano para controlar as suas más emoções e não colocar pequenos problemas a darem-lhe enorme trabalho para resolver. Faça mais exercício, pratique ioga e meditação, ou caminhe pela montanha para ficar mais calmo. Os nativos de Porco nascidos em: 1983 – Bom ano nos rendimentos, conta na carreira com bons suportes e ajudas. Muitos serão os encontros românticos. 1971 – A carreira terá bons e diferentes caminhos para se desenvolver. Irá gastar muita energia e ficar em tensão, impaciente, até conseguir atingir o pretendido. Relaxe para atingir o equilíbrio. 1959 – Hipótese de desenvolver a carreira pois alguém vai conhecê-lo melhor e descobrir as suas qualidades e habilitações. Não será fácil, pois terá de fazer o caminho passo a passo. 1995 – Precisa de estudar mais e ganhar experiência para alcançar outras competências, a trazerem-lhe grandes ajudas no ano de 2023. Cuidado com os acidentes e por isso, evite praticar desportos de risco e entrar em discussões. 1947 – Continua a ocupar a posição de liderança e é respeitado pelos outros. Se não pedir demais, será um bom e alegre ano. Rato Com um ano passado cheio de estrelas da sorte, os nativos de Rato este ano não contarão com grandes ajudas, devendo estar preparados para acolher a mudança. Será um ano muito ocupado, mas sem retorno. Carreira: A estrela Yi Ma (驿马, mudança) significa ter de enfrentar muitas e novas situações, incluindo mudar de emprego, de casa, emigrar, ou ir estudar para o estrangeiro. Precisa de resolver os problemas um a um e sem ajudas, terá de tomar conta de tudo. Sem nenhuma boa estrela, será um ano muito ocupado e por isso, deve aprender a planear a longo prazo. Tire prazer do que faz e não tenha grandes expectativas. Coloque este ano como Inverno, tenha paciência e espere a chegada de 2023. A má estrela Gu Chen (孤辰) representa ficar sozinho e as Di Sang (地丧 sang=perder; di=terra) e Sang Men (丧门, má sorte) trazem más notícias e tristeza. Este ano o problema estará dentro do seu coração. Amor: Sem estrela da sorte e com a má estrela Gu Chen (孤辰), significa ser fácil ao casal entrar em discussões e daí ser necessário haver paciência entre ambos, escutarem as razões do outro e tentarem conciliar-se, mas tal exige mudanças interiores. Quanto aos nativos de Rato solteiros, devido à estrela da sorte Yi Ma (驿马) terão hipóteses de fazer mais amigos e facilmente mudar de companhia. Saúde: A má estrela Yang Ren (羊刃, operação cirúrgica, corte a provocar sangue) indicia ser fácil cair e partir a cabeça, e ter de ser operado. A má estrela Sang Men (丧门, porta da morte) significa receber más notícias da família, desregulando-lhe as emoções, e ter de cuidar da saúde dos seus. Este ano, Junho é o mês mais perigoso para os nativos de Rato, por serem Água yang e Junho (Cavalo, Fogo yang) e daí a violência do confronto entre os dois elementos opostos, a indicar que deve ter cuidados especiais nesse mês. Como não conta com estrelas da sorte, coloque tudo num plano fácil para passar bem este ano. Os nativos de Rato nascidos em: 1972 – Enfrentarão uma grande competição, mas como têm boas bases e qualificações facilmente conseguem resolver os problemas. Poderá testar novos caminhos e tornar o ano mais colorido. Os nativos masculinos deverão prestar mais atenção à saúde. 1984 – A sua carreira poderá ser ajudada por pessoas com mais experiência e daí continuar na mesma direcção a desenvolvê-la. 1996 – Activa vida social e ao falar consegue ganhar a atenção dos que lhe estão próximos. Ano propício a uma relação romântica mas tenha cuidado em não se deixar cativar por outras mais, que só lhe trazem problemas. 1960 – Ano de muito trabalho, mas o que recebe é o oposto. O estar muito ocupado só lhe destrói a saúde e por isso, o melhor é abrandar e relaxar. 1948 – Quanto à carreira, ano em que menos é mais e assim sendo dirija os seus interesses para usufruir do prazer das artes e cultura. 2008 – Ano muito activo e cheio de recompensas materiais, mas não coloque grande pressão nos estudos, podendo a boa relação e comunicação com os pais resolver muita dessa tensão. Búfalo Seguindo diferente caminho ao do Tigre, os nativos de Búfalo este ano devem prosseguir o rumo descoberto no tempestuoso ano transacto e com vontade, tudo se torna mais fácil. Protegidos por uma poderosa súper boa estrela, os nativos de Búfalo serão um dos três animais mais bafejados pela sorte, na carreira, no amor e dinheiro e por isso viverão em felicidade e cheios de alegrias. Carreira: A súper estrela da sorte Tai Yang (太阳, Sol como a grande estrela) este ano está para os nativos de Búfalo como o Sol para a Terra, fazendo desaparecer todos os problemas. Leva-os a estarem cheios de confiança e sempre com bom humor, tornando tudo mais fácil. A estrela da sorte Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna) significa ser colocado em frente à sua porta um imenso tesouro. Já a influência das más estrelas, Tian Kong (天空, Vazio Céu), Gu Chen (孤辰, estar sozinho), Hui Qi (晦气, Energia Suja) e Tun Xian (吞陷, ser engolido), leva-o a ficar zangado e a isolar-se, mas apenas trazem uma pequena turbulência, que servirá para não se deixar adormecer na imensa felicidade e despertar para a boa vida que tem. Amor: A estrela da sorte Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) traz um romântico e harmonioso ano, sendo propício aos solteiros casarem-se e os casados terem filhos e realizarem uma nova lua-de-mel. Saúde: O ano apresenta-se sem problemas de saúde. A má estrela Gu Chen (孤辰, estar sozinho) leva-o a fechar-se para meditar e limpar as impurezas. Os nativos de Búfalo nascidos no Verão deverão ter cuidado com problemas de coração e AVC’s. Os nativos de Búfalo nascidos em: 1973 – Quanto à carreira e dinheiro são os melhores entre os nativos de Búfalo. Todos os seus planos podem ter andamento e fácil progressão. No amor será um ano complicado pois encontrará tantas hipóteses que não consegue tomar uma decisão e escolher. 1961 – Cheio de energia para planear muitos projectos, ficará satisfeito com o que consegue receber. 1949 – Os seus investimentos este ano darão lucro. Não coloque demasiada pressão sobre si. 1985 – Sem grandes ajudas, será um ano perigoso para o nativo masculino de Búfalo devido a acidentes e para o feminino, por operações cirúrgicas. 1997 – Vai ser promovido para um lugar de chefia e a sua confiança coloca-o a falar e agir bem, conseguindo atrair as pessoas. Ano bom para casar. Votos de um Feliz Ano Novo – 新年快乐 (San Lin Fai Lok, 新年快乐em mandarim Xin Nian Kuai Le), e sobretudo, com muito Boa Saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong, em mandarim Shen Ti Jian Kang).
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasDa serenidade E o colapso não é uma fronteira última, nem o que vimos descer uma vitória da queda, sempre em algum lugar havemos de cair mais fundo que o nível da interdição. Mergulhamos até ao chão oceânico por que tudo são partes do mundo conquistado – que nós, somos grandes produtores materiais, somos a própria substância da multiplicação, e «se morre, nasce…desmorre… » não nasce o organismo morto, mas a montagem da carga em cadeia na sua ampliação. Conhecemos o descanso depois da luta, e o entusiasmo renovado após as derrotas, que enquanto predadores não nos é possível ficar sem cair, apenas quietos, que esta combustão tem de queimar, mas nunca os serenos destinos servidores que carregam outras leis, planeiam a deriva da condição (perigoso bem, este também) pois que estão revestidos de colunas salvíficas, de frente para a circunstância, o tangível, com todos aqueles que afrontam a existência em golfadas de ambição e movimento descontrolado, eles alinham os desígnios e impedem a derrocada, que a vida em ondas de choque contínuas terá as suas sentinelas a impedir a força do Trovão. E eles estão sós. O mundo necessita da sua solidão, passa por eles a estrutura subtil da restauração da harmonia, do controle do desastre, desviando-o, e melhor que isso tudo, transformado. Necessitam de pouquíssimas estrofes estes tocadores de harpa de teias de aranha, eles que se infiltram, onde queda e condição não devem cegamente passar . Não os reconhecem as gentes enquanto pedras angulares no seu exaustivo labor da pouca arte de viver, mas, ser-lhes-á servida a lembrança quando as coisas serenarem. A eles, sempre lhes custará assistir à queda que parece sem fim dos grandes infortunados, à zanga terrível dos insubmissos, à rudeza dos factos, e aos seus inesgotáveis sofrimentos, por serem mais frágeis, por não conseguirem entender tais realidades: pois suas realidades têm um olho dentro da circunferência que perscruta todos os lados em simultâneo, e nesta paragem, dão-se conta da energia perdida que só eles ainda imaginam para onde vai. Tudo isto é vida? É vida! Mas não entendível. Os condenados parecem ter dela áspera memória, e por isso inventaram as chacinas como acto último de uma estranha compaixão. Ficam então em órbitra os intocáveis, aqueles que entre a plenitude e o abismo se mantêm serenos, que a estranheza de que dão provas não é senão uma conquista pela graça, uma certa aceitação que não renega no entanto a dura coragem para defender aqueles que dependem do fluxo dessa mesma vida. Terminamos dentro de momentos o mundial circular agente pandémico, mas a força dos materiais nunca se dissolve, esculpindo ao redor fileiras de intenções. E outros grandes desassossegos em marcha ocorrerão: Gaia magoada, em revolta fera por dentro das suas raízes – dores fêmeas de um planeta cuja revolta já hoje desconhecem os homens – trazendo-lhes o conhecimento inesperado do que é uma mulher, que embrulhados nas avalanches e nos fogos, incapazes de conduzir a própria marcha humana, Serenamente vimos estes abismos de olhos abertos, e nem sinal de julgamento foi equacionado. Nessa dimensão não se desejará apartar os seres das suas quimeras, eles sofrem já demasiado. Todas as épocas foram duras, porque duro é o Humano, e se houver entre eles baluartes, será ainda essa voz escondida e vivificante dos poetas trazendo lembranças. Só que estamos num outro patamar da consciência, e o que aqui foi dito, suspeito ainda que devia ser calado, mas há momentos que não podemos mais.
Carlos Morais José Antropofobias h | Artes, Letras e IdeiasO xingxing Na primeira orla montanhosa do Sul, ficam as montanhas da Pega (Queshan). As antigas crónicas relatam que ali, nos vales que serpenteiam os sopés, os aldeões contam estranhas e variadas histórias sobre um tal de monte Zhaoyao, um cume que apresenta a característica singular de quando em vez estremecer. Recentemente, o Instituto de História da Academia de Ciências Sociais de Sichuan acredita ter provado que se trata do monte do Gato Agachado (Mao’er), assim denominado devido à forma do seu pico, que fica a cerca de cem quilómetros a norte de Guilin, na província de Guangxi. Nas suas encostas cresce a canela, abunda o ouro e o jade. Riquezas minerais à parte, este monte é conhecido pelos seres bizarros, plantas e animais, que por ali terão existido. As crónicas narram, com relativo detalhe, a existência de árvores com propriedades fabulosas, capazes de matar a mais profunda das fomes ou de impedir os viajantes de se perderem do seu caminho, mas talvez a mais espantosa entidade do monte Zhaoyao seja um animal, a que chamam xingxing, cuja forma se parece com a de um macaco de cauda longa com a cabeça decorada por duas orelhas brancas. O xingxing caminha acocorado, mas quando corre assume a posição vertical dos humanos. Talvez por isso, nesta região, se creia que comer este animal aumenta a capacidade para correr. O xingxing é também descrito como tendo, além da longa cauda e das orelhas brancas, uns olhos muito vermelhos. Outros descrevem-no como um porco de face humana. Contudo, a sua característica mais fascinante é o facto de “chamar as pessoas pelo nome.” Esta capacidade para articular palavras é o que leva, talvez, um outro compêndio a considerar os seus lábios uma iguaria. Na região onde vive o xingxing, os camponeses descrevem-no como um bicho nómada, que vagabundeia sem nexo, nem objectivo perceptível. Contudo, queixam-se também de ser um animal muito difícil de capturar. O que desgraça o xingxing é o seu amor desmedido por vinho e sandálias. Estando a par desta tara, os camponeses colocam estrategicamente, em locais que sabem frequentados pelo bicho, vinho e várias sandálias atadas umas às outras. Quando se apercebe da presença da bebida, o xingxing aproxima-se, apesar de saber que se trata de uma armadilha e consegue reconhecer quem a terá montado. Então chama-o muito alto pelo nome e insulta-o, imprecando: “Seu miserável escravo! Julgas que me apanhas?!” Logo em seguida, o xingxing afasta-se. No entanto, passado pouco tempo, regressa pois não resiste a experimentar o vinho e a calçar um par de sandálias. Se ele bebe demasiado torna-se uma presa fácil porque fica ébrio e as sandálias, presas umas às outras, não lhe permitem correr. E assim os camponeses são finalmente capazes de o conduzir a uma jaula, amparando-o como se faz a um tio bêbado. Quando depois alguém se aproxima e, para o irritar, lhe diz “vá, arranja maneira de sair da jaula…”, ele volta-se para essa pessoa e dos seus olhos deslizam lágrimas rubras que encharcam a pelugem fulva do seu rosto.
Anabela Canas Cartografias h | Artes, Letras e IdeiasTigre Âncora entre marés. Palavra-chave Podemos pensar e até devanear acerca da possibilidade de tudo ser irresolúvel, assumir um olhar niilista e nele descansar porque mais fácil. Podemos ser selvagens e retroceder à pureza dos instintos básicos de egocentrismo que vai muito além, ou fica aquém dos desígnios estruturais em cada comunidade animal, que visam proteger a espécie, o grupo, a alcateia, mas também podemos depurar custosamente este balanço entre razão emoção e experiência e dormir sobre a convicção de que já cá não estaremos dentro em pouco, no mínimo à escala do universo. Uma verdade. E pousarmos as peças estratégicas a evoluir no tabuleiro. O que somos e gostamos, o que achamos belo, bem, ou bom, o conforto de termos critérios que arrumam a mente, mesmo se não nos trazem o retorno que pensávamos dever ser inevitável. E deixar que a memória nos traga ao convívio aquele tu outro que nos faz reviver ou rebrilhar, ampliados para além dos defraudados sinais de que a vida é ela própria soberana nas suas dispersas e múltiplas ramificações. Improdutiva e inútil. Mas o retorno a coisas simples de sentir, verdades sobre as quais nos construímos, não tem preço nem está à venda. Um tu outro. Que sinto. Um tu, que não está ao alcance dos critérios pode ser essencial e é. Aí, nessa zona inalcançável do paraíso. Sem mais, para além do que me é dado poder. Uma palavra. Como a cavilha retida e retirada abruptamente. Numa granada de mão que voa no destino que não se vê. A explodir. Sem cuidado, o estilhaçar irrecuperável da memória. Ou um enorme fragmento que voa do lugar e poisa inusitado sabe-se lá onde, no dia de alguém. Ou, não dita. Nós e os outros. Sem conversar. Tigres em extinção. Tigre de água, seriedade e maresia levanta-se cedo e pinta as unhas de vermelho como retrato do fogo e fantasia às vezes os olhos crus perdidos no ar bicho em extinção pressentimento de um futuro abalar as candidatas do partido, evitam cuidadosas o batom na fotografia tristes tigres estamos rodeados de bichos que lavam os dentes ao espelho da manhã mas com uma condição: mamíferos sim, répteis não insectos sim, vermes não porque a falar enquanto comem já não nos dizem nada.
Paulo Maia e Carmo h | Artes, Letras e IdeiasA Viagem de Li Shi e o Perigo de Adormecer Com Tigres Mokuan Reien o peregrino budista Japonês que foi ordenado em Kamakura em 1323, passados três anos foi para a China onde viveu até 1345, para aprofundar o Dao na região de Jiangnan. Primeiro no templo Liutang, na área do Lago do Oeste e depois durante dez anos no templo Benjue entre 1333-43,onde dirigiu o repositório dos Sutras. Também fez pinturas, que o levariam a ser considerado um segundo Muqi (ou Fachang, 1210-1269) o admirável pintor do Chan também associado ao templo Liutang, particularmente venerado no Japão. As pinturas de Mokuan, levadas para a sua terra natal, seriam admiradas tanto pela concepção do acto de pintar como pelos temas. Como é o caso dos Quatro a dormir (Shisui, rolo vertical, tinta sobre papel, 73,7 x 32,5 cm) que hoje se encontra em Tóquio na colecção da Fundação Maeda Ikutokukai. Nela convergem o significado e o modo de fazer, desenrolando o paradoxo de figurar o que não se pode ver, que é referido como o «sonho», sonhado pelas personagens adormecidas. Os três que são associados ao Monte Tiantai (Zhejiang): Fenggang, Hanshan e Shide e o tigre que sempre acompanhava o primeiro. As figuras operam aqui como um dispositivo despertador de uma corrente de significados associados ao mistério de Hanshan e Shide, personalizações de um conjunto de preciosos poemas. Na pintura está uma inscrição feita por Shaomu do templo de Xiangfu, que saúda com «as mãos juntas»: «O velho amigo Fenggan abraçando o tigre, dorme,/ Num amplexo de grupo com Hanshan e Shide./ Sonham o Grande Sonho da fluida impermanência,/ Enquanto uma árvore velha e frágil se agarra à beira do precipício.» Esse precipício a que ele alude pode ser aquele estado entre o sono e a vigília ou entre a sombra (jing) e a penumbra (wangliang) que dialogam por exemplo no capítulo dois do Zhuangzi. Li Shi que esteve activo no século XII é um nome associado a uma pintura cujo título pode ser traduzido como «Viagem em sonho pela região dos rios Xiao e Xiang» (Xiaoxiang woyou, rolo horizontal, tinta sobre papel, 33 x 403,6 cm) que está também em Tóquio no Museu Nacional, onde é visível uma técnica que é referida com esse nome de «penumbra» – wangliang hua, habitualmente traduzida como «pintura de aparição.» Na figuração imaginada da área que foi frequente motivo de poetas, e que seria encapsulada como tema na denominação «Oito vistas de Xiaoxiang» tudo é ao mesmo tempo conciso e vago. Nalguns lugares como que dissolvendo-se na bruma, dialogando com o que não pode ser visto, numa reafirmação de que o lugar da sua apreciação é no mundo da literatura. Que estas duas pinturas se encontrem no Japão não será alheio o facto de ter sido ali que se desenvolveu o género pictórico designado sumi-e, figuras de água e tinta, em que as formas, como se fora o tempo, fogem imprecisas sem se fixar – dir-se-ia um sonho.
José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias2022 Ano Tigre Água O ano lunar começa a 1 de Fevereiro e terminará a 21 de Janeiro de 2023, sendo para o Feng Shui o início do ano de Tigre o dia 4 de Fevereiro de 2022, quando se celebra o Lichun, Princípio da Primavera. A China, com existência há setenta e oito ciclos, cada de 60 anos, para este ano apresenta o número 39 e corresponde a Ren Yin (壬寅, em cantonense yam yan), ‘o Tigre atravessa a floresta’. No Caule Celeste, o Elemento Ren (壬), Água yang, direcção Norte, e no Ramo Terrestre, Yin (寅, yan), Tigre (nome comum Hu) regido pelo Elemento Madeira yang, direcção Leste Nordeste. Para o ano Tigre Água, os nativos de Cabra estarão no topo da boa sorte, seguido pelos de Serpente e Búfalo. Os nativos de Cavalo, Porco, Coelho e Cão que nasceram no Inverno terão um ano mais fácil. Já os de Rato, Dragão e Galo estarão ocupados com muito trabalho. Os animais com pior ano serão os de Tigre e Macaco. Água yang alimenta Madeira yang e Yin (tigre) é a chave para abrir o armazém do fogo, que segundo as previsões de Edward Li aqui deixadas, aparecerá com diferentes focos: – Ligado com a pandemia, para onde a atenção está toda virada, o vírus cujo Elemento é Fogo e sendo este ano Tigre de Madeira yang, levará o Fogo a ficar mais forte e assim, o vírus em vez de desaparecer vai tornar-se ainda mais complicado. Se os países pensarem apenas em termos económicos e abrirem as fronteiras, aceitando viver com o vírus no quotidiano, são más notícias pois novas variantes aparecem, a levar ao caos. Atenção aqui. Ano de muitas novidades, como novas vacinas e medicamentos para resolver o problema da Covid-19, mas dentro do intenso nevoeiro do momento não há uma imagem clara do que nos está a ocorrer. Apenas este ano se poderá ver os efeitos colaterais das vacinas. – Dois anos de existência da pandemia nas nossas vidas, sem válvulas de escape para aliviar as tensões, ao chegar a um ano de Fogo eleva-se a impaciência e a pressão colocará as pessoas a fazerem imensos disparates. – Abrir o armazém do fogo, significa acender o rastilho para a Guerra e este ano é propenso passar-se das palavras aos actos. Grande possibilidade de ocorrer explosões de gás nas casas, em contentores e outros acidentes ligados com o fogo, assim como vulcões, tremores de terra, tsunamis, serão o normal quotidiano do ano em que a Natureza perde a balança e como a guerra não é possível de ser evitada, o mais importante é manter-se em lugar seguro, preservar a boa saúde e esperar pelo desagravar no ano seguinte, de menores extremos. Este ano a Madeira yang é alimentada por Água yang e terá para 2023 os mesmos Elementos mas em yin, logo não serão tão intensas as ocorrências. – A interrupção e desregulação dos sinais digitais, vitais para o actual quotidiano, serão devidas à interferência do planeta interior Mercúrio (o planeta Água) e dos exteriores, de onde provêm poderosas energias de Júpiter (o planeta Madeira) e Marte (o planeta Fogo), a provocar na Terra problemas nas telecomunicações, impedindo por vezes o sinal. Tal falha, nem que seja por breves momentos, desregula o estar da vida na Terra, exponenciando acidentes. Entre os sessenta desenhos do livro “Tui Bei tu”, ao olhar para o 39.º, cujo título é Ren Yin, apresenta um pássaro sem garras no cume da montanha e na base o Sol, parecendo a imagem representar os carácteres 九日 (9 e Sol) e acrescenta o poema, – toda a gente chora. Caos, pois dia e noite não têm diferença, provocando os nove sóis seca e escassez de alimentos. Acompanha com o 27.º hexagrama do Yi Jing, As Bordas da Boca. Trovão na base da Montanha: prover alimento, sendo o homem superior cuidadoso no falar e a controlar o que come. Imensa Água alimenta Madeira forte Macau, renascido em 20 de Dezembro de 1999, tem o seu bazi a não gostar nada de Água e sendo os próximos dois anos, o de 2022 Água yang e o de 2023 Água yin, no primeiro semestre deste ano será tudo complicado. Em Macau quando está mau é mesmo ao fundo, mas logo no segundo semestre e sendo Elemento Madeira a alimentar o Fogo, a situação melhora e com a pandemia controlada, rápida e fulgurante os ambientes da cidade animam. Já para o próximo ano, do Coelho, Macau em Fan Tai Soi terá de fazer uso da imaginação e criatividade e ao encarar as vagas, reflectindo desbravar nas suas várias dimensões. Como nota, o Qi Gong (Palácio de Energia) da nossa terra, Lin Dong (林 东) passou desta vida no dia 20 de Janeiro de 2021 com votos, como Ser de Puro Espírito, ter o Dao transmitido chegado ao ritual quotidiano na energia do bem-fazer e ajudar, pois nisso foi Grande a sua Vida. Esperemos encontrá-lo no templo como um Tai Soi. O GENERAL HE E O Deus do Ano (Tai Sui, em cantonense Tai Soi) de 2022 é o General He E, nascido durante a dinastia Yuan em Yanling, Hunan. Perspicaz a investigar e firme nos objectivos, tinha um rápido pensar e a habilidade de resolver depressa complicados crimes. Calmo, actuava estrategicamente como chefe militar levando a conseguir conquistar facilmente as cidades fortificadas. Como administrador era equilibrado e em boa condução governava as diferentes populações, as quais com ele sempre se sentiam felizes. Um dos primeiros locais em que esteve à frente a governar foi a província de Guan Zhong (na bacia do Rio Wei) após a ter conquistado. Como muitos corpos estavam espalhados sem sepultura e os habitantes começavam a ficar doentes, mandou os soldados procurarem os corpos e depois de os juntar numa pilha, queimá-los, para assim evitar espalhar doenças. Devido às suas qualidades de ser honesto e benevolente líder, foi mais tarde transferido para a corte imperial, ficando a chefiar o exército e a controlar as áreas sensíveis da cidade capital. Nos livros de História vem referido ter encontrado sete mil taéis de ouro numa parte da muralha que colapsara durante a conquista da cidade. O normal era ficar essa quantia para quem chefiava o exército, que depois da batalha a distribuía pelos seus homens, mas como o Imperador pretendia começar outra campanha para conquistar mais terras e para isso era preciso aumentar as taxas à população, resolveu o General doar o dinheiro para o povo não sofrer com mais impostos. Sendo o Tai Sui do ano de 2022 o General He E, ficaria bem ao mundo encontrar o equilíbrio perdido e em estratégica condução ética ser governado por inteligentes, honestos e benevolentes líderes. O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano General He E é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 8 de Fevereiro de 2022.
Gonçalo Waddington h | Artes, Letras e IdeiasNada está perdido – Terceiro Acto | Cena 3 Terceiro Acto | Cena 3 Gonçalo tira uma mancheia de tremoços e apaga o cigarro com a outra mão. Lá fora o vento começou a soprar de mansinho, indiferente à galhofa dos pássaros que se ouve através da janela. Valério volta a folhear o texto do amigo. Valério Devias acabar o livro… Gonçalo Já tinhas dito isso… Ou não? Valério Acho que não. Gonçalo Se dissesses história… Valério História? Gonçalo Em vez de livro. Valério [sorrindo] Por amor de Deus… Gonçalo É verdade… [pausa] Se dissesses história, não me fazia comichão nenhuma. “Sim, vou acabá-la em breve”… Mas livro… Já pesa na consciência. Valério acende novo cigarro e levanta-se. Vai até à janela e perscruta a escuridão sonora que acontece lá fora. Dobra-se e pousa os cotovelos no parapeito. Dá uma longa passa no cigarro. Valério Chega uma altura que tens de assumir… Gonçalo O livro? Valério [agastado] O que quiseres… livro ou não-livro. [exalando o fumo] Assume, toma uma decisão. Gonçalo olha-o, estranhando aquela súbita mudança de humor. Depois pega na garrafa de vinho e deita-o no copo. Valério fecha a janela e vem sentar-se outra vez ao pé do amigo. Valério [procurando as palavras] Talvez não sejas escritor. Gonçalo Ó diacho… Valério Vais escrevendo umas coisas… coisas boas, claro… mas não és um escritor. [pausa] Daqui a nada tornas-te um “poderia ter sido”… Gonçalo [curioso] Como é isso? Valério Aquele de quem toda a gente falava… o que poderia ter sido um grande escritor. [pausa] Há tantos assim, cheios de talento… escreveram uns contos, umas críticas, publicaram alguns poemas numa revista qualquer… e depois, quando chega a hora H, “ah e tal… morreu a minha mãezinha”… “a tecla A no computador saltou…”, “ando inseguro”… “tenho tido muitas traduções”… ou “ainda estou a pesquisar”… tudo serve para fugir do “não consigo, ponto final”. Gonçalo [melindrado] Mas eu começo sempre assim, caramba! Valério [divertido] Assim como? Gonçalo A achar que não consigo. Valério Mas uma coisa é um textículo de umas páginas, outra é um livro. Se te serve a manigância, ainda bem… mas para coisas de fôlego não podes ser tão infantil. Gonçalo [irritado] Mas qual infantil… estás a falar de quê! Valério [sorrindo] É um truque infantil, desculpa… vou dizer à mamã que não consigo andar de triciclo, a mamã vai dizer que o menino consegue, o filho, com a lágrima no olho, diz que não consegue de todo, a mamã insiste… Gonçalo [interrompendo] Que estupidez! Valério [continuando] O menino tenta, anda três metros… Ena, vês, a mamã não tinha razão?! Toma um miminho, meu amor… Gonçalo Já percebi. Valério Mas com o Paris-Dakar já não resulta. Gonçalo [interrompendo] Já tinha percebido! Valério Tens de arranjar truques mais adultos… ou então, fazes-te homenzinho e acabas já com o assunto: ou escreves, ou não escreves. Gonçalo [imitando uma mãezinha] Já não tens vinte anos, filho…! Valério Pois não… nem eu tenho pachorra para putos. Gonçalo De onde é que veio esse azedume todo? Valério [sorrindo] Dos trinta copos de vinho? Gonçalo aquiesce e os dois deixam-se mais uma vez ficar em silêncio. Valério começa a sorrir. Gonçalo [curioso] O que foi? Valério Já viste que temos sempre o mesmo intervalo de tempo entre os tópicos… [serve-se de mais vinho] Há aqui um padrão, meu caro. Há aqui uma tese a caminho, vais ver! [emborca o copo e serve-se outra vez] Se gravássemos as nossas conversas e as botássemos num software de edição de som, ias ver que as ondas sonoras das nossas vozes, as pausas, os isqueiros, os cigarros, o vinho a ser servido, o gargalo a bater no copo… ias ver… Aliás, ainda melhor…! Mandávamos imprimir o gráfico sonoro… ias ver… um padrão perfeitamente descodificável. Gonçalo Somos previsíveis. Valério De certa maneira, sim. Mas para nós próprios… Já temos o nosso ritmo. [pausa] Deve ter a ver com o espaço, também. [pausa] Agora não tenho bem presentes as nossas conversas noutros lugares, mas parece-me que esta casa [faz um círculo com o indicador], o sítio onde está, a montanha onde foi edificada, o material com que foi construída e blá, blá, blá influencia o ritmo… o padrão. Gonçalo Também não tenho presentes as nossas conversas. Mas reconheço o padrão, sim. E reconheço o padrão nos meus hábitos de escrita, agora que falaste disso. [pausa] A procrastinação… se bem que a domino bem. E sim, há sempre um muro qualquer que aparece à minha frente quando começo qualquer coisa… aliás, esse muro está sempre presente, mesmo quando não estou a escrever. Sobretudo quando não estou a escrever! Antes de dormir, lá estou eu “Não sou capaz! Não sou capaz!” [pausa] Mas ao contrário do que disseste, que eu uso esse muro imaginário como desculpa para justificar a minha incapacidade, talvez eu o use como combustível… [pausa] E olha que é altamente inflamável, deixa-me que te diga. Alimenta-me. Faz parte. Agora… será que eu alimento este hábito? Não sei, confesso. Mas resulta. Tenho é de fazê-lo resultar em coisas mais ambiciosas, para te poder esfregar na cara e mostrar que resulta. Valério “It ain’t bragging if you can back it up!”