Fórum de Macau | António Lei substitui Casimiro Pinto

Entra hoje em funções o novo secretário-geral adjunto do secretariado permanente do Fórum de Macau por indicação da RAEM. Trata-se de António Lei Chi Wai e vai substituir o macaense Casimiro de Jesus Pinto.

Segundo uma nota de imprensa oficial, António Lei “assumiu vários cargos em diversos serviços governamentais e instituições públicas, tendo exercido funções de chefia e liderança em várias áreas, designadamente no Departamento Jurídico e de Fixação de Residência, no Centro de Apoio Empresarial de Macau e no Departamento de Promoção Económica e Comercial com os Mercados Lusófonos do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau.

Além disso, António Lei foi director da Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Actualmente, acumula as funções de administrador-delegado do Conselho de Administração e presidente da Comissão Executiva do Centro de Comércio Mundial Macau, S.A., bem como de presidente do Conselho Fiscal do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa de Sociedade Limitada.

“Possui profundo conhecimento dos mercados dos Países de Língua Portuguesa, do Interior da China e de Macau, dominando fluentemente as línguas chinesa e portuguesa”, descreve a mesma nota.

Hong Kong promove em Portugal tecnologia na construção de habitação pública

O Governo de Hong Kong anunciou ontem que vai promover em Portugal o uso de tecnologia na construção de habitação pública. De acordo com um comunicado, as autoridades de Hong Kong vão organizar em Portugal, na quinta-feira, um almoço de negócios intitulado “Desvendando Novos Horizontes: Habitação Acessível e Oportunidades em Hong Kong e na Grande Baía”.

A Comissária para o Desenvolvimento da Grande Baía, Maisie Chan Kit Ling, vai fazer um discurso sobre “as enormes oportunidades de negócio” que o projecto regional oferece aos empresários portugueses.

No evento vai-se “partilhar as experiências de Hong Kong no aumento da quantidade, rapidez, eficiência e qualidade da construção de habitações públicas, através da adopção de diversas tecnologias inovadoras de construção rápida e robótica”. A secretária para a Habitação de Hong Kong, Winnie Ho Wing Yin, convidou mais de 20 representantes do sector da construção da região e da China continental para participarem no evento.

Estas empresas vão falar sobre tecnologias como os módulos pré-fabricados, a integração das instalações mecânicas, eléctricas e de canalização, e a utilização de robôs na construção civil. O evento poderá servir “para fortalecer as ligações entre os sectores de Hong Kong e Portugal e explorar oportunidades” de negócios, sublinha-se no comunicado.

Em curso

Tanto Maisie Chan como Winnie Ho irão ainda participar no 17.º International Forum on Urbanism, que irá decorrer entre 01 e 04 de Julho, no renovado Pavilhão de Portugal, que, depois das obras levadas a cabo pelo arquiteto Siza Vieira, foi transferido para a Universidade de Lisboa.

O programa político do novo Governo português, liderado por Luís Montenegro, prevê a construção de 59 mil casas públicas até 2030 e financiamento para mais habitação, incluindo parcerias público-privadas em imóveis do Estado devolutos.

Em 17 de Junho, o primeiro-ministro admitiu no parlamento que a anterior meta, construir 26 mil casas públicas até 2026, teve “uma execução difícil”, mas recusou ser “derrotista e pessimista”. “Eu acho que nós temos ainda capacidade para estimular a construção no sector público”, disse Montenegro, assinalando que “a taxa de execução está agora a aumentar”.

“Nós estamos com uma taxa de execução no universo destas 26 mil casas de 27 por cento e, segundo a informação que os municípios nos transmitiram até o final do mês de Junho, 13.429 habitações estarão prontas nesse programa”, indicou.

O primeiro-ministro considerou também que foi preciso ultrapassar “bloqueios administrativos e burocráticos” que atrasaram a construção de novas casas.

O concerto de Jacky Cheung

Jacky Cheung (張學友), o famoso cantor de Hong Kong apresentou um concerto em Macau que recebeu óptimas críticas das quais se destacam em particular dois comentários.

Primeiro, o concerto fez aumentar as receitas do casino. Em média, a receita diária do jogo em Maio foi de 684 milhões de patacas, mas nos primeiros 22 dias de Junho, atingiu os 14,8 mil milhões, com uma média diária de jogo de 670 milhões. Junho é infelizmente um período de época baixa para o turismo, mas as receitas diárias do jogo foram comparáveis às de Maio, o que prova que o concerto atraiu muitos fãs de Jacky Cheung para Macau e ajudou a economia da cidade.

Jacky Cheung fará seis concertos em Macau entre Junho e Julho. O Citibank emitiu um relatório onde se afirma que os concertos de Jacky Cheung impulsionaram o desenvolvimento económico de Macau, tendo as receitas do jogo em Junho subido dos esperados 19 mil milhões para os 19,75 mil milhões. O HSBC também emitiu um relatório onde é dito que as receitas do jogo em Junho podem atingir valores entre os 19,7 e os 20,4 mil milhões. Um cantor internacional tem capacidade de trazer um lucro adicional de 700 milhões a Macau. Isto mostra como Jacky Cheung é querido dos seus fãs e a dimensão do seu carisma.

Jacky Cheung estreou-se nos anos 80 e está no activo há quase 40 anos. Os seus fãs cresceram com ele e são representantes de todas as faixas etárias, jovens, gente de meia-idade e também pessoas da idade de Cheung. Com uma base de fãs muito alargada, não surpreende que os seus concertos estejam sempre esgotados.

Se Macau pretender desenvolver a economia atraindo para os seus palcos cantores internacionais, deve tomar em linha de conta as suas bases de fãs. Quanto maior ela for, maior será o número de pessoas que se desloca a Macau para ver o concerto e maiores serão os benefícios económicos para a cidade. Para atingir este objectivo, Macau pode considerar a possibilidade de oferecer descontos a estes artistas no aluguer das salas e fornecer aos fãs facilidades de transporte para facilitar as viagens de e para os seus locais de origem; também pode organizar transportes para que os fãs visitem as áreas mais frequentadas pelos habitantes locais e os sectores não turísticos possam beneficiar do afluxo de consumidores. Macau também pode aproveitar esta oportunidade para desenvolver sectores de actividade para lá da indústria do jogo, o que trará centenas de benefícios e nenhum prejuízo.

O segundo foco do concerto é a utilização do cantonês e do mandarim. Durante o concerto, os fãs oriundos da China continental pediram a Jacky Cheung que falasse mandarim, ao que ele respondeu:

“Peço desculpa, mas não falo mandarim.”

Perguntaram então a Jacky Cheung: “Quantas pessoas falam cantonês?”

Os fãs que falavam cantonês gritaram imediatamente “uau”.

Depois, Jacky Cheung disse em mandarim: “Desculpem, mas não dá. Vá lá, aprendam cantonês.”

Os gritos de “uau” dos fãs mostraram que a maior parte falava cantonês.

Mesmo assim, Jacky Cheung cantou algumas canções em mandarim e os fãs da China continental ficaram muito felizes. Além disso, a frase de Jacky Cheung, “Não falo mandarim, vá lá, aprendam cantonês”, foi aclamada pelos cibernautas, que lhe chamaram “Embaixador da Promoção do Cantonês” e que o elogiaram pela sua grande inteligência emocional.

Os concertos são parte da indústria do entretenimento. Desde que os fãs fiquem felizes, que diferença faz se se usa o mandarim ou o cantonês? As pessoas que vão assistir a um concerto deveriam esquecer a barreira da língua, mergulharem no espectáculo, desfrutarem de cada momento, integrarem-se na atmosfera festiva e fazerem tudo para proporcionar a si próprios a maior felicidade possível. É para isto que serve assistir a um concerto. A música é a linguagem comum da humanidade e pode eliminar barreiras entre as pessoas. Pensem nisto, sempre que ouvem música, só podemos apreciar canções cantadas na vossa própria língua? Para além de canções em cantonês, também ouvimos canções em mandarim, em inglês, em coreano, em japonês, etc. Ao compreender isto, podemos quebrar a barreira e língua e divertirmo-nos todos.

Nos últimos anos, o poder da China aumentou muito, a economia desenvolveu-se rapidamente e o investimento estrangeiro também aumentou. Baseados no princípio que orienta as transações comerciais “os interesses económicos em primeiro lugar”, começa a ser comum os homens de negócio estrangeiros usarem o mandarim para comunicar com os seus parceiros chineses.

Em 1972, as Nações Unidas classificaram os “caracteres chineses simplificados” como uma das seis “línguas comerciais” a par do inglês, do francês, do russo, do árabe e do espanhol. Todos os documentos oficiais das Nações Unidas são escritos nestas seis línguas, e o dia 20 de Abril foi escolhido como o “Dia da Língua Chinesa das Nações Unidas”. Actualmente, cerca de 1,5 mil milhões de pessoas falam chinês em todo o mundo e a importância desta língua é evidente.

“Comunicação negocial” e “necessário para os assuntos de estado” demonstram que a partir de uma perspectiva política e económica, a procura global pela aprendizagem do mandarim cresce de dia para dia. De futuro, as pessoas que falam mandarim terão vantagem quando negoceiam com chineses.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau

Cinemateca | Festival de Cinema Infantil até Agosto

Julho e Agosto são meses do calendário guardados para a edição deste ano do Festival Internacional de Cinema Infantil de Macau, com exibições na Cinemateca Paixão. A iniciativa, do Instituto Cultural, integra-se na programação do Festival de Artes de Macau e traz os grandes clássicos para a infância, como “Aladino” ou “Rei Leão”

 

O Verão está aí e com ele também os grandes clássicos do cinema infantil que marcaram gerações, primeiro os pais, e agora os filhos. São estes clássicos que integram a edição deste ano do Festival Internacional de Cinema Infantil de Macau, integrado no Festival de Artes de Macau, e que decorre ao longo deste mês de Julho e de Agosto na Cinemateca Paixão.

Esta iniciativa do Instituto Cultural (IC) pretende levar às salas de cinema os mais pequenos e revelar-lhes histórias repletas de emoção e fantasia, muitas delas feitas numa época em que os telemóveis não eram ainda uma realidade. Nesta que é a segunda edição do festival, dedicada também aos “graúdos com um espírito jovem”, apresentam-se filmes integrados em várias secções, sendo possível ver ou rever “Aladino”, “O Rei Leão”, “Cinderela” ou ainda títulos mais recentes “George, o Curioso”, “Happy Feet” ou “Paddington no Perú”, entre tantos outros.

Numa das secções do festival, intitulada “Transformações Cinematográficas”, inclui-se uma selecção de filmes adaptados de livros infantis e ilustrados; ou ainda a secção “Clássicos para Todas As Crianças” que apresenta “animações originais, como a Branca de Neve e os Sete Anões, permitindo aos mais novos reviver o encanto das histórias clássicas”, descreve o IC.

Dentro dos clássicos, “O Rei Leão” exibe-se no dia 27 de Julho a partir das 15h e traz uma conversa pós-exibição. Apesar de este filme ter uma edição mais recente, é a versão de 1994 que será exibida na Cinemateca, repleta das emoções do jovem leão Simba em luta contra o seu tio Scar, ambicioso e mau que o leva a acreditar ter sido responsável pela morte do seu pai. Porém, Scar apenas quer liderar o reino. Nesta luta, Simba cresce, apaixona-se e ganha dois amigos, Timon e Pumba. Estes personagens acabaram, eles próprios, por ser integrados noutros projectos de animação.

No mesmo dia, mas às 11h, é a vez de ver “Aladino”, o homem do tapete voador, sendo exibida a história feita nos anos 90 que será depois analisada numa conversa pós-exibição. Dentro dos clássicos, no dia 20 de Julho apresenta-se uma versão antiga da “Branca de Neve e dos Sete Anões”, neste caso de 1937, quando a Cinderela tenta escapar à madrasta e às meias-irmãs más e feias, indo em busca do seu príncipe encantado.

Os mais recentes

Numa onda mais contemporânea, a Cinemateca Paixão exibe “Paddington na Amazónia”, filme do ano passado, numa versão que tem dobragem em cantonês. A exibição acontece sábado, 26 de Julho, e revela a história do urso que adora marmelada e fica perdido na selva, “numa aventura emocionante e cheia de perigos”.

Já este sábado, serão exibidas algumas curtas de animação, a partir das 15h. É o caso de “George, O Curioso”, em que “o explorador Ted, o homem do chapéu amarelo, viaja até África na esperança de recuperar um artefacto importante para o seu amigo Bloomsberry, director de um museu”. Porém, acaba por encontrar-se com George, um “macaco inquieto”, que se esconde no navio que traz Ted de volta a Nova Iorque. É então que se iniciam uma série de aventuras de um macaco metido no meio da cidade. Nessa mesma tarde exibe-se “Toc, Toc! Os Pequenos Animais Estão a Chamar”.

No domingo, dia 6, exibe-se novamente esta última curta, ao lado de “Onde Vivem os Monstros”. A partir das 11h é possível conhecer a história de “Max”, um “rapaz traquina e sensível que se sente incompreendido em casa e foge para onde vivem os monstros”. É então que ele chega a uma “ilha onde conhece criaturas misteriosas e estranhas, com emoções tão selvagens e imprevisíveis como os seus comportamentos”, sendo que os “monstros anseiam por um líder que os guie, tal como Max deseja ter um reino para comandar”. “No entanto, ele rapidamente percebe que governar não é assim tão simples, e que as relações nesse novo mundo são mais complicadas do que imaginava”, acrescenta a sinopse desta produção.

TCR China | André Couto participou na prova de Zhejiang

No fim de semana transacto, André Couto teve um regresso inesperado ao campeonato TCR China, naquela que foi a sua primeira prova desta temporada. O piloto da RAEM mostrou que “quem sabe, nunca esquece”, apesar de ter tido uma passagem atribulada pelo Circuito Internacional de Zhejiang

O piloto português residente em Macau, que não competia desde Novembro do ano passado – altura em que disputou as finais mundiais do Lamborghini Super Trofeo, tendo conquistado o título na categoria PRO-AM do Lamborghini Super Trofeo Asia – recebeu um convite de última hora por parte da MacPro Racing Team para conduzir um dos Honda Civic FL5 TCR da equipa do território na terceira prova da época do campeonato chinês de TCR.

Sem qualquer treino prévio, André Couto voltou a sentar-se num carro que já conhecia, contando também com uma estrutura técnica que lhe era familiar. Em 2023, o piloto do território já tinha disputado algumas provas do TCR China com este conjunto, então ao serviço da equipa oficial Dongfeng Honda Racing Team, tendo mostrado andamento logo de início.

“Os treinos livres não correram mal, mas na qualificação um piloto menos atento bateu-me logo na minha primeira volta de saída para a pista. Acertou-me por trás e nem percebi porquê. Danificou-me a traseira, desalinhou a convergência e o carro ficou torto. Entretanto, não havia nada a fazer — tinha que fazer a qualificação na mesma. A barra estabilizadora da frente também cedeu. Só descobriram depois que estava partida”, explicou o experiente piloto ao HM. “Ainda assim, qualifiquei-me em quarto no Q1, a cinco décimos do primeiro, o que, com o carro nas condições em que estava, não foi nada mau. O carro tinha potencial.”

Na Q2, devido aos estragos, o carro japonês “ficou muito mais difícil de guiar” e Couto terminou em décimo. No entanto, isso acabou por ter um efeito positivo: “Com a inversão da grelha de partida, o décimo lugar da Q2 permitia-me arrancar em primeiro para a segunda corrida.”

A primeira corrida, disputada no sábado na pista localizada em Shaoxing, não correu tão bem quanto o piloto desejava, não conseguindo acompanhar os Link & Co oficiais, nem os melhores Honda e Hyundai. “Acabei em oitavo. O carro não estava tão bom como esperava e acabámos por descobrir que tinha um amortecedor danificado, ainda do acidente na qualificação, que foi trocado para a corrida de domingo.”

Domingo inglório

Na corrida de 20 voltas de domingo, André Couto tinha tudo para brilhar, já que partia da pole-position e o Honda parecia finalmente em condições de lutar pelos primeiros lugares. “Na volta de formação, o carro estava bom. Já não sentia nada estranho e eu estava optimista.”

A ideia era arrancar bem para se distanciar dos concorrentes mais rápidos nas primeiras voltas e, depois, gerir a corrida com pneus novos. No entanto, tudo se desfez rapidamente quando foi abalroado por Wu Yi Fan logo na travagem para a primeira curva.

“Era essa a minha missão, mas não consegui”, reconheceu o vencedor do Grande Prémio de Macau de 2000. “Ele bateu-me logo na primeira curva e o carro ficou logo danificado. Aliás, bateu-me duas vezes. Primeiro deu-me um toque por trás, ainda tentei controlar, mas depois falhou a travagem e não virou e bateu-me na frente. Ele podia ainda ter galgado o corrector, mas não o fez. Já depois da corrida, foi penalizado pelo colégio de comissários desportivos, mas isso não altera o facto de eu ter desistido”.

Com a direcção danificada do Honda, André Couto não teve outra opção senão abandonar. “Fiquei um bocado desiludido porque tinha esperanças de conseguir um bom resultado para a MacPro Racing Team que me tinha dado um bom carro. Íamos arrancar em primeiro… mas as corridas são assim.”

Indústria | Actividade recua pelo terceiro mês consecutivo

A actividade no sector transformador da China recuou em Junho pelo terceiro mês consecutivo, embora a um ritmo menos acentuado, segundo dados ontem divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) do país asiático.

O índice de gestores de compras (PMI, na sigla em inglês), principal indicador do sector, fixou-se nos 49,7 pontos, acima dos 49,5 registados em Maio, em linha com as previsões da maioria dos analistas.

Um valor abaixo dos 50 pontos representa uma contração da atividade face ao mês anterior, enquanto valores acima assinalam crescimento.

Dos cinco subíndices que compõem o PMI da indústria transformadora, os relativos à produção, novas encomendas – indicador-chave da procura – e prazos de entrega mantiveram-se acima da linha de crescimento, ao contrário dos de inventários de matérias-primas e emprego, que continuaram em zona de contração.

O estatístico do GNE Zhao Qinghe destacou precisamente a recuperação “quer da produção, quer da procura”, com referência a sectores como o alimentar e de maquinaria especial, embora tenha sublinhado uma “atcividade de mercado insuficiente” noutras áreas, como minerais não metálicos ou fundição e laminação de metais ferrosos.

Num relatório, a consultora britânica Capital Economics observou que os dados de junho sugerem que a economia chinesa “voltou a ganhar algum ímpeto”. O subíndice das novas encomendas para exportação subiu de 47,5 para 47,7 pontos, o terceiro aumento mensal consecutivo, embora ainda em território negativo.

Este desempenho “reflecte provavelmente um aumento da procura dos Estados Unidos após a trégua comercial de 90 dias” iniciada entre os dois países em meados de Maio, apontou a analista Zichun Huang.

Huang alertou, no entanto, para as “pressões deflacionistas persistentes” na economia chinesa, com os preços de produção a acelerarem em junho, mas a manterem-se “em níveis baixos”. O GNE divulgou ainda o PMI dos sectores não manufactureiros – serviços e construção – que subiu de 50,3 em Maio para 50,5 pontos em Junho, superando as expectativas dos analistas.

Partido Comunista Chinês ultrapassa os 100 milhões de membros

O Partido Comunista Chinês (PCC) ultrapassou no final de 2024 os 100 milhões de membros, segundo um relatório ontem divulgado, num contexto marcado por mais de uma década de campanha contra a corrupção entre os seus quadros.

O número de filiados ascende a 100,27 milhões – num país com cerca de 1.400 milhões de habitantes -, um aumento de 2,13 milhões face ao final de 2023, indicou o Departamento de Organização do Comité Central do PCC, por ocasião do 104.º aniversário da fundação do partido, que se assinala na terça-feira.

“A afiliação ao PCC tem aumentado de forma contínua, ao mesmo tempo que a sua estrutura continua a melhorar e as organizações de base – atualmente em 5,2 milhões – se reforçam”, refere o relatório, citado pela imprensa estatal.

O perfil educacional dos membros também tem evoluído: quase 57 por cento possuem formação universitária ou superior, revelou o documento.

O número de mulheres continua a crescer, totalizando 31 milhões de filiadas (30,9 por cento), e a idade média dos novos membros tem diminuído, com 83,7 por cento das adesões em 2024 a corresponderem a pessoas com 35 anos ou menos.

O relatório indica ainda que a proporção de membros oriundos de minorias étnicas se manteve nos 7,7 por cento registados no ano anterior.

O partido sublinhou que mantém o foco na supervisão interna e na autogovernação, aplicando “o espírito de reforma e padrões rigorosos”, e registou um aumento de 16,5 por cento no número de quadros que receberam formação específica em 2024.

Maior do mundo

Fundado na clandestinidade, o PCC é hoje considerado o maior partido do mundo e exerce uma influência transversal sobre a vida política, económica e social da China, com conteúdos patrióticos ligados à sua história a surgirem inclusivamente nos exames nacionais de acesso à universidade.

O secretário-geral do partido e Presidente da China, Xi Jinping, presidiu ontem a uma reunião do Politburo do Comité Central, na qual foram debatidas novas normas para “melhorar” o funcionamento dos organismos de deliberação, coordenação e tomada de decisão.

“Na reunião, foi sublinhada a importância de evitar o formalismo e a burocratização, com vista a alcançar resultados concretos”, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Estes princípios juntam-se aos reiterados apelos à austeridade por parte da liderança do partido, no âmbito da campanha anticorrupção lançada por Xi Jinping em 2012, que já resultou na condenação de dezenas de responsáveis por corrupção, incluindo antigos ministros e dirigentes de empresas e organismos estatais.

Em Janeiro, Xi voltou a pedir uma “vitória resoluta na dura e prolongada batalha contra a corrupção”, que classificou como “a maior ameaça” ao partido.

Viagem | MNE chinês inicia périplo pela Europa para estreitar laços

Na sequência da guerra comercial lançada pela administração norte-americana, Wang Yi desloca-se a Bruxelas, Paris e Berlim, com o intuito de reforçar a cooperação entre a China e o velho continente

 

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, iniciou ontem uma digressão pela Europa, com o objectivo de transformar a relação entre a China e a União Europeia (UE) num pilar de “estabilidade”, face à pressão dos Estados Unidos.

Figura proeminente da diplomacia chinesa, Wang Yi, de 71 anos, tem prevista uma deslocação a Bruxelas, sede da UE, bem como a França e à Alemanha. A visita decorre numa altura em que a China procura estreitar laços com o continente europeu, perante a crescente tensão com os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, que reiteradamente classifica Pequim como rival estratégico.

Apesar da aproximação, persistem divergências entre Bruxelas e Pequim, nomeadamente no domínio económico: o défice comercial massivo da UE face à China (304 mil milhões de euros), a parceria entre Pequim e Moscovo apesar da guerra na Ucrânia, as tarifas adicionais europeias sobre veículos eléctricos chineses e as retaliações chinesas dirigidas ao conhaque francês.

“As relações sino-europeias enfrentam importantes oportunidades, num momento em que o mundo atravessa rápidas transformações históricas, com o crescimento inquietante do unilateralismo, protecionismo e comportamentos hegemónicos”, afirmou na sexta-feira o porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun, numa crítica implícita aos EUA e à guerra comercial.

Neste contexto, a China e a UE devem “preservar conjuntamente a paz e estabilidade globais, defender o multilateralismo e o livre comércio, salvaguardar as regras internacionais, a equidade e a justiça, e afirmar-se como forças estabilizadoras e construtivas num mundo turbulento”, acrescentou.

Encontros de alto nível

Em Bruxelas, Wang Yi deverá reunir-se com a nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, para um “diálogo estratégico de alto nível”, segundo as autoridades chinesas.

Na Alemanha, o ministro irá encontrar-se com o homólogo, Johann Wadephul, para abordar temas de diplomacia e segurança. Esta será a primeira visita de Wang Yi desde a formação de um novo governo conservador em Berlim, no passado mês de Maio. Em França, Wang reunirá com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot, que visitou a China em Março.

A guerra na Ucrânia deverá dominar parte das conversações. A China tem apelado a negociações de paz e ao respeito pela integridade territorial dos Estados – numa alusão à Ucrânia – mas evita condenar a Rússia e aprofundou os laços com Moscovo desde a invasão, em Fevereiro de 2022, nas áreas comercial, diplomática e militar.

Tal posição tem valido a Pequim críticas por parte dos europeus, que acusam a China de oferecer apoio económico essencial ao esforço de guerra russo.

As relações comerciais entre a China e a UE têm-se deteriorado nos últimos anos, com Bruxelas a denunciar práticas económicas desleais por parte de Pequim. A tensão intensificou-se no ano passado com a imposição pela UE de tarifas adicionais sobre carros eléctricos chineses. Em retaliação, a China visou o conhaque francês.

A Comissão Europeia decidiu, há duas semanas, excluir empresas chinesas de concursos públicos na área dos equipamentos médicos com valor superior a cinco milhões de euros, invocando restrições similares enfrentadas pelas firmas europeias na China. Pequim reagiu, acusando Bruxelas de aplicar um sistema de “dois pesos, duas medidas”.

Outro ponto de fricção, são as chamadas “terras raras”. Desde Abril, as autoridades chinesas exigem licenças para exportação destes metais estratégicos, usados em produtos como telemóveis ou baterias de carros eléctricos. A emissão destas autorizações tem sido, segundo a indústria automóvel europeia, limitada e lenta.

Em resposta, Pequim propôs em Junho à UE a criação de um “canal verde” que permita acesso prioritário às exportações de terras raras para o mercado europeu.

O pensamento durandiano e o imaginário chinês

Chaoying Durand-Sun

Na preparação do colóquio do cinquentenário do CRI, reli mais demoradamente e com maior profundidade a obra seminal do fundador do CRI, Les Structures anthropologiques de l’Imaginaire_(SAI), e tive o prazer de encontrar, ou redescobrir, uma série de referências fascinantes e muito pertinentes, que confirmarão, reforçarão e completarão as ideias de correspondência recíproca, ou de conivência, entre o trabalho do antropólogo francês e a cultura e o imaginário chineses, que eu tinha identificado e desenvolvido nos meus dois artigos acima referidos. Eis alguns exemplos, fruto da minha feliz releitura:

No “Livro Segundo: O Regime Noturno da Imagem”, o que se lê num dos exercícios da “Parte Primeira: A Descida e a Taça”: “O espírito das profundezas é imperecível; chama-se a Fêmea Misteriosa…” (p. 225_) , um verso retirado do Dao de jing (Tao-Te-King), O Livro do Caminho e da Virtude de Lao-zi, um dos pais do taoísmo chinês! Um adágio tão judiciosamente escolhido e emparelhado com a profunda e misteriosa passagem do poeta romântico alemão Novalis, para apresentar, explicar e ilustrar toda a quintessência e mistério do Regime Noturno da Imagem.

Na mesma parte do livro acima referida, ao estudar os símbolos de inversão, em particular o esquema de duplicação por encravamento e o processo de “gulliverização” caro a Bachelard, depois de declarar que “na iconografia, esta duplicação gulliverizante parece-nos ser um dos traços caraterísticos das artes gráficas e plásticas da Ásia e da América”, G. Durand retoma os comentários de Claude L’Aquila sobre a “gulliverização” da imagem. Durand retoma as observações de Claude Lévi-Strauss sobre os motivos chineses do laço Tao (T’ao t’ieh), que se caracterizam não só pela duplicação simétrica, mas também pela transformação “ilógica” e pela duplicação do todo, ao mesmo tempo que o gulliveriza, e observa que o laço Tao “fornece um exemplo muito claro de gulliverização e de aninhamento através da duplicação de um tema” (p. 239).

Trata-se, de facto, de um motivo tradicional chinês que representa a cabeça de um animal lendário, feroz e devorador (dragão, tigre, etc.), que adorna os sinos Zhong ou os vasos de bronze com tripé Ding, tesouros da antiguidade chinesa. Além disso, a forma dos caracteres chineses Tao tie 饕餮 dão a imagem de monstros devoradores, glutões ou gulosos, e especialmente na parte superior, a chave hu 虎 : o tigre; na parte inferior, a chave shi 食 : alimento, comida, ou comer, ingerir, beber… evidenciam a ideia concreta de comer, engolir, devorar… e a mais abstrata de avareza, gula, cupidez insaciável… A este propósito, notamos que uma máscara estilizada de motivos da gravata Tao aparece na contracapa do livro de A. Ghiglione sobre a visão no imaginário chinês e o pensamento da China antiga, e não creio que tenha sido escolhida por acaso.

9 Noutra passagem, um pouco mais adiante, ao estudar as cores no Regime Noturno da Imagem, o autor do SAI menciona numa nota: “Soustelle nota a importância das cores entre todos os povos que têm uma representação sintética do mundo, isto é, organizada como pontos cardeais em torno de um centro (chineses, pueblos, astecas, maias, etc.).” (p. 250) É verdade que no imaginário chinês dos Cinco Pontos Cardeais (Wu-fang 五方) – ao contrário do Ocidente, que tem quatro – o Centro está associado à Terra e à cor amarela, aspeto chave do simbolismo direcional chinês, que tive oportunidade de desenvolver na minha comunicação “A Peregrinação ao Ocidente (Xi you-ji) e os Cinco Pontos Cardeais Chineses”, no colóquio de Grenoble, em 2004, sobre o imaginário dos pontos cardeais, porque toda a cosmologia chinesa herdada do Yi-jing assenta numa base quinquenal constituída por Cinco Agentes ou Elementos (Wu-xing 五行): Metal, Madeira, Água, Fogo e Terra (金木水火土), que também deram origem a toda uma série de correspondências simbólicas essenciais à cultura chinesa: as Cinco Virtudes Fundamentais, as Cinco Relações Imutáveis, as Cinco Estações, os Cinco Órgãos dos Sentidos, as Cinco Vísceras, os Cinco Sabores, etc.

10 Algumas páginas mais à frente (p. 255), ao desenvolver o simbolismo da melodia nocturna, G. Durand comenta com M. Granet: “Estes devaneios sobre a ‘fusão’ melódica que se encontram em Jean Paul como em Brentano não são alheios à conceção tradicional chinesa da música; pode dizer-se que nos antigos chineses como nos poetas românticos, o som musical é vivido como fusão, comunhão do macrocosmo e do microcosmo […]”. Uma tal comparação de ideias ou reflexões de culturas muito distantes teria agradado a Qian Zhong-shu, que foi o próprio exemplo de abertura à universalidade das culturas (Hommes, bêtes et démons, Introduction, p. 11-12), e cujo estilo e verve são tão próximos dos de G. Durand…

Algumas páginas mais à frente (p. 260), na sua análise do arquétipo da feminilidade em todas as culturas humanas, da “Mãe-Mar” da tradição chilena e peruana à “Mãe-Terra” dos antigos Incas, da Grande Deusa Aquática dos Índios à mestra aquática melusina e morganiana da tradição ocidental moderna…Para completar o quadro universal, evoca também a Stella maris chinesa Shing-Moo (Xing-mu) e o espanto dos jesuítas que evangelizavam a China quando se aperceberam que estes termos eram exatamente os mesmos que os utilizados na liturgia cristã: “lua espiritual”, “estrela do mar”, “rainha do oceano”…

Exemplos como estes, reveladores do profundo interesse do autor pelas referências chinesas, abundam no SAI, para não falar de outras obras do autor, pois só na “Primeira Parte: A Descida e a Taça” do “Livro Segundo: O Regime Noturno da Imagem”, podemos ainda citar a alusão à prática de dar à luz no chão muito difundida na China (p. 262), ao ritual sepulcral dos antigos chineses de tapar os sete orifícios do cadáver, ritual esse que supostamente proporcionaria paz e imortalidade ao defunto (p. 270), à procura da intimidade do microcosmos para praticar a involução, entre os seguidores do Caminho ou do Buda (p. 278), e ao simbolismo do barco e da navegação marítima, tema recorrente na pintura tradicional chinesa (p. 286)… Todas estas descobertas e redescobertas conduzem a uma reflexão ou a uma evidência desta cumplicidade intelectual ou espiritual entre culturas diferentes, tão cara ao antropólogo francês e a um estudioso comparativo chinês chamado Qian Zhong-shu, pois é o tema preferido do eminente académico chinês do século XXI, cuja obra não é senão uma ilustração deslumbrante da fraternidade universal das culturas. “Os homens sempre pensaram igualmente bem”, disse Cl. Este acordo, um acordo tácito, entre o pensamento durandiano e o imaginário chinês é para mim um verdadeiro estímulo para enriquecer as minhas reflexões sobre estes dois temas que me são caros. Ao mesmo tempo, esta busca ou investigação confirma o aspecto, ou o acento, nocturno, místico e sintético do pensamento chinês e do imaginário chinês, que tenho tentado evidenciar nas minhas investigações sobre o imaginário chinês e comparado, ao longo dos últimos vinte e cinco anos…

De facto, ao reler G. Durand, não posso deixar de pensar em Qian Zhong-shu, tão semelhantes são o seu espírito e o seu estilo, e as suas infinitas ressonâncias espirituais (Shen-yun神韵)! Qian é uma das maiores figuras literárias chinesas do século XXe tive a honra de traduzir para francês, para a coleção “Connaissance de l’Orient” da Gallimard, uma das suas colectâneas, Ren shou gui (Homens, feras e demónios), composta por quatro contos simultaneamente divertidos e mordazes, repletos de reflexões filosóficas e de referências religiosas e literárias. Nascido em 1910, filho de um professor de literatura clássica chinesa, Qian estudou em Oxford e na Sorbonne nos anos 30. De regresso à China, tornou-se curador-chefe da Secção de Livros Estrangeiros da Biblioteca Nacional da China, depois professor de inglês na prestigiada Universidade Qing-hua de Pequim, diretor de investigação da Secção de Literatura Clássica Chinesa do Instituto de Investigação da Literatura Chinesa e, de 1982 até à sua morte em 1998, vice-presidente da Academia de Ciências Sociais da República Popular da China.

Estudioso da literatura, filósofo, sociólogo e antropólogo, e conhecedor da cultura chinesa e ocidental, Qian Zhong-shu, cujo nome próprio Zhong-shu significa Amante de Livros, destacou-se em quase todos os géneros: poesia, caligrafia, romances, crítica literária… e, sobretudo, o sumário de comentários Guan-zhui-bian, O Bambu e o Ponche, verdadeiro monumento da crítica literária chinesa e o auge da literatura comparada na China e no estrangeiro, caracterizado por uma gigantesca erudição no domínio da referência. Nos cinco volumes de ensaios – mais de 1800 páginas, escritas em chinês clássico -, Qian procedeu a um estudo meticuloso e aprofundado de todos os grandes temas (o homem, a natureza, a alma, a religião, o poder, o belo, o bom, o verdadeiro, a mudança, a imaginação, a tradução…) de dezenas de grandes obras canónicas chinesas: o Zhou yi, O Livro das Mutações, o Zuo Zhuan, Comentários do Mestre Zuo, o Shi ji – As Memórias Históricas de Si-ma Qian, os Discursos de Confúcio, as “prosas” de Lao-zi, Zhuang-zi, Lie-zi, Mo-zi, o Shi jing, O Clássico das Odes, o Chu ci, Elegias de Chu, o Huai nan zi… que abrange literatura, história, filosofia, psicologia, estética, linguística e filologia, citando mais de dez mil obras e milhares de escritores, poetas, filósofos e historiadores – cada estudioso é um Littré! – tanto chineses como estrangeiros (Platão, Aristóteles, Shakespeare, Hume, Gombrich, Pascal, Descartes, Boileau, La Fontaine, Rousseau, Hugo, Musset, Baudelaire, Bergson, Valéry…), Proust, Bachelard, Hegel, Kant, Leibniz, Goethe, Novalis, Cícero, Dante, Cervantes, ou Spinoza, Marx, Cassirer, Weber, Freud, Foucault, Strauss, Barthes, Jung, Lacan…). Se encontramos tanto em Qian como em Durand esta abertura à universalidade das culturas e este génio de assimilação, que é uma caraterística essencial da mentalidade chinesa – e também da japonesa – e que o Ocidente talvez tenha experimentado no auge do Renascimento no século XVII, com Erasmo, Guillaume Postel, Rabelais, Montaigne…, encontramos também em Qian como em Durand o mesmo espírito de síntese, a mesma erudição, a mesma acuidade intelectual. Os dois pensadores, que se conheciam e se admiravam mutuamente, destacaram brilhantemente, como que de comum acordo, a “fraternidade das culturas”.

O pensamento durandiano ilumina o imaginário chinês

Na preparação desta comemoração, tive também o prazer de reler a obra da minha amiga Anna Ghiglione, filósofa e professora de filosofia chinesa e de chinês clássico na Universidade de Montreal. A investigação de A. Ghiglione e a minha são totalmente convergentes e complementares. Para ela, como mostram as suas duas obras principais, o objetivo é estudar de perto, com precisão e raciocínio sequencial, a abstração no pensamento chinês antigo ou a visão no imaginário e na filosofia da China antiga. No primeiro livro dedicado à abstração no pensamento chinês antigo, os seus estudos afastam-se do orientalismo gregário e tradicional, destacando outros aspectos (esquecidos, negligenciados ou desprezados…) da cultura chinesa: a busca do conhecimento (correto), a lógica e a racionalidade, com base na tradição escriturística do período clássico (antes da fundação do Império em 221 a.C.), as reflexões de Dignes (o grande filósofo chinês) e as reflexões do filósofo chinês.C.), e mostra com clareza, rigor e humor os caminhos percorridos pelo pensamento abstrato na China. Na segunda monografia, a autora debruça-se ainda mais especificamente sobre a visão, examinando questões como: A civilização chinesa era “visual”? Qual o papel que os pensadores chineses da época clássica (durante o período conhecido como primavera e outono e os Reinos Combatentes) atribuíam à visão na sua compreensão da realidade? A autora analisa a visão e o olho (literalmente, como órgão do corpo, e figurativamente, como metáfora da mente e da sua atividade pensante) nos clássicos chineses de tradições tão diversas como o confucionismo, o taoísmo, o maoísmo (Mo-zi) e o legismo, bem como nas artes divinatórias e na mitologia. Analisa também a constelação de imagens linguísticas – cara a G. Durand – que giram em torno da visão, nomeadamente da luz e da escuridão, do espelho, do reflexo, da sombra e da claridade, com base numa riqueza de provas textuais – um método caro a Qian Zhong-shu. Esta abordagem original e audaciosa, inteiramente durandiana, permite-lhe concluir que, contrariamente a certas ideias preconcebidas, a China não era “cega” no sentido em que os seus mestres intelectuais atribuíam um papel significativo à visão na procura da sabedoria e no desenvolvimento da sensibilidade humana.

15 A este respeito, estamos totalmente de acordo com a análise de A. Ghiglione das atitudes “positivistas” de certos académicos chineses, de Confúcio a Lu Xun, passando pelos legalistas do período dos Reinos Combatentes e do período da Revolução Chinesa. A análise de Ghiglione das atitudes “positivistas” de certos académicos chineses, de Confúcio a Lu Xun, incluindo os legalistas dos Reinos Combatentes e o primeiro imperador da China, Qin Shi huang, os neo-confucionistas dos Song, Ming e Qing, e os “neo-confucionistas” modernos como Liang Shu-min, Feng You-lan, Qian Mu e Mu Zong-san: Liang Shu-min, Feng You-lan, Qian Mu, Mu Zong-san… Por outro lado, é de notar que, apesar das suspeitas e hostilidades dos confucionistas e dos legalistas, a corrente mágico-religiosa de inspiração taoísta nunca deixou de existir; apenas se disfarça, multiplicando as suas metamorfoses para melhor existir e se fazer ouvir, e continua a ser uma das fontes essenciais do imaginário e do pensamento chineses. O próprio Mao Ze-dong (Mao Tse-Toung), na sua célebre carta a Chen Yi sobre a poesia, declara que, para escrever poesia, é absolutamente necessário recorrer ao pensamento figurativo (Xingxiang siwei 形象思维) e, portanto, ao imaginário, à imaginação. E sabemos que Mao foi alimentado pelos clássicos confucionistas e taoístas, bem como pelos marxistas e leninistas, e que era um grande amante da poesia, da literatura e da filosofia. Ghiglione conhece-os bem e cita-os na sua obra.

16Também sensível às artes chinesas do pincel – a caligrafia e a pintura a tinta, que datam de há mais de 3000 anos e resistem ao desafio da modernidade – A. Ghiglione tentou reavivar o pensamento tradicional chinês através das artes visuais. Segundo a sua descrição, a sua iniciativa consiste em “adotar uma abordagem visual e prática do pensamento chinês” e visa tornar acessível o pensamento dos mestres do pensamento tradicional chinês através de modos de transmissão complementares à filologia (especialmente a análise de textos) e à apresentação de dados históricos – os dois pilares da sinologia tradicional – em particular através da exploração e produção de imagens materiais (pinturas de paisagens, figuras, etc.). Segundo ela, “o suporte não verbal das imagens permite-nos, para além da caligrafia, abordar os conteúdos textuais, nomeadamente para ultrapassar as dificuldades linguísticas”. Pondo em prática a famosa distinção feita pelo linguista Roman Jakobson entre três tipos de tradução: interlinguística, intralinguística e intersemiótica, e tendo em conta o aspeto pictórico da expressão escrita nos clássicos chineses e a dimensão incontornável da escrita chinesa, uma vez que os mestres do pensamento da antiguidade chinesa e os seus compiladores tecem o discurso filosófico através de imagens linguísticas, figuras de sentido e de estilo (metáforas, alegorias, analogias, mitos, parábolas, etc.)), e recorrendo à teoria do semitismo das imagens desenvolvida por G. Durand. Durand nos anos 60, no SAI, organizou duas exposições, uma, “Regards contemporains autour de la pensée chinoise ancienne”, no bairro dos artistas de Pequim, o Feng-tai, no Centre d’Échanges Culturels du Pont Marco-Polo, no verão de 2013, na qual tive a honra e o prazer de participar, e a outra, “La Chine des Sages en images”, na Universidade de Montreal, no Carrefour des Arts et des Sciences, na primavera de 2014. Como ela sabiamente salienta, “convém sublinhar que as pinturas, gravuras e fotografias dos pergaminhos que produzimos não são simples ilustrações de fragmentos de pensamento: a sua polissemia poética multiplica os caminhos da reflexão abstrata, soldando um elo dinâmico de troca entre figuração e concetualização. De facto, é impossível pensar sem imagens. Os antigos mestres chineses compreenderam claramente esta tendência geral da natureza humana para combinar o registo verbal (a língua, a fala e a escrita) com o imaginário (a produção de imagens linguísticas ou materiais)”.

17 Tendo como objeto comum a cultura e o imaginário chineses e na mesma linha do pensamento durandiano, a minha investigação é mais vasta, mais geral e mais sintética do que a do sinólogo da Universidade de Montréal.

18 Embora não tenha tido a sorte de viver os primeiros anos ardentes e apaixonantes do CRI, tive o grande privilégio de poder beneficiar, uns vinte anos mais tarde, de numerosos encontros importantes organizados pelo CRI de Grenoble e de realizar os meus “doze trabalhos” no seio dos CRI de França e de outros países. De facto, no final dos anos 80 e início dos anos 90, fui introduzido no estudo do imaginário pelo meu orientador de tese, o Professor Claude-Gilbert Dubois, e pelo LAPRIL de que era diretor, durante a preparação da minha tese na Universidade de Bordéus III.

Intitulada Esquisse d’une mythologie rabelaisienne: essai de classification (Esboço de uma mitologia rabelaisiana: tentativa de classificação), esta tese tem por objetivo classificar as imagens rabelaisianas em torno de mitos (pacotes, enxames, constelações, etc.) simultaneamente fundamentais e universais: gigantes, peregrinações, batalhas, etc, Inspira-se já nas teorias da Nova Crítica, nomeadamente as do estruturalismo de Cl. Lévi-Strauss e as do “estruturalismo figurativo” de G. Bachelard, M. Eliade e G. Durand, com tímidas mas tenazes tentativas de abordagem comparativa com o imaginário chinês. Este estudo taxonómico do imaginário rabelaisiano à luz do pensamento durandiano permitiu-me, em primeiro lugar, formar uma ideia mais precisa e aprofundada do ambivalente e complexo Renascimento europeu, uma época simultaneamente “diurna” e “nocturna”, com as suas primaveras e os seus outonos, a sua grandeza e a sua decadência, e, em segundo lugar, para me colocar mais firmemente no caminho do conhecimento das minhas “duas culturas-mãe”, apoiando-me na mitocrítica e na mitanálise, esses novos humanismos que já não se contentam em fechar-se nas estruturas e constelações do Ocidente (grego, latim, hebraico…), mas querem estar “abertos” a outras culturas.), mas estão abertos a um comparatismo “aberto”.

Após a defesa da minha tese (1991), prossegui a minha investigação de pós-doutoramento na Universidade de Genebra para preparar um diploma de especialização sobre o Renascimento, sob a direção de um professor do século XVI, M. Jeanneret, e de um professor de história da arte, J. Wirth. As duas dissertações que escrevi para o diploma foram sobre “Le problème de la langue unique et les rhétoriques de Rabelais” (“O problema da língua única e a retórica de Rabelais”) e “Le thème de la Fuite en Égypte dans la peinture flamande du xviesiècle” (“O tema da Fuga para o Egito na pintura flamenga do século XVII”). No primeiro ensaio sobre a língua rabelaisiana, procurei mostrar, com base na grande obra de Cl.G. Dubois, a mitocrítica durandiana e os estudos poéticos e retóricos de M. Jeanneret, a procura rabelaisiana da veracidade do discurso e da eficácia “bernardina” da palavra, que constitui, de facto, uma das caraterísticas da reflexão linguística e retórica ao longo do século XVII, a que chamei a “Redimensão de Babel”.

Este artigo será publicado em parte com modificações e ampliações sob o título “Rédimer Babel, une Pentecôte rabelaisienne?” em Études sur l’Imaginaire. Mélanges offerts à Claude-Gilbert Dubois, editado por G. Peylet e publicado por L’Harmattan em 2001. O segundo ensaio, sobre o tema da Fuga para o Egito, é uma espécie de “variação” da minha investigação, que pretende ser ao mesmo tempo seiziémiste e comparatiste, ligando diferentes artes, literárias e visuais.

Inspirado nas grandes reflexões de Jakob Boehme sobre o Egito e na mito-análise durandiana, procurei identificar e estudar três “mitos” da Fuga do Egito e do Repouso no Egito na pintura flamenga dos séculos xv a XVII: privilégio da paisagem, integração de toda a cena da Fuga e do Repouso numa vasta paisagem em contraste com o encolhimento italiano; ênfase no tema da alimentação: as tâmaras e o milagre da palmeira, o milagre da primavera, o milagre dos campos de trigo; a “emoção” da queda dos Ídolos, especialmente em Broederlam, Jean Colombe, Gérard David e Patinir.

Este estudo mostra que a pintura flamenga na Flandres borgonhesa, nos séculos XIX e XIX, e depois na herança imperial dos Negritos, no século XVII, viu surgir uma infinidade de obras que se tornarão os alicerces da pintura ocidental, e que o “motivo” da “Fuga” e do “Repouso no Egito” fornecem as orientações pictóricas e simbólicas essenciais: a submersão dos temas religiosos na opulência das paisagens, a ênfase muito católica colocada no simbolismo “alimentar” da terra de refúgio egípcia e, finalmente, a oposição polémica (e quanto mais polémica se tornaria com a vaga de iconoclastia calvinista de meadosdo século XVII) entre o “verdadeiro” sacrifício de Cristo Alimento Divino, Panis angelorum, e os falsos sacrifícios aos ídolos “pagãos”… Este artigo será publicado no nosso livro em coautoria com G. Durand, Mythe, thèmes et variations, sob o título “Héliopolis-sur-Meuse, le thème de la Fuite en Égypte dans la peinture flamande du xviesiècle”.

(continua)

DST | Macau não discrimina turistas “pobres”

Helena de Senna Fernandes garante que todos os tipos de turistas são bem-vindos a Macau, incluindo os que não gastam uma pataca no território. A directora dos Serviços de Turismo defende que os desafios de redução dos gastos dos turistas devem ser combatidos com novos produtos turísticos e experiências culturais

 

Depois do fim das restrições fronteiriças devido ao combate à pandemia, nasceu na China um fenómeno intitulado “turista de forças especiais”, que designa os visitantes que “picam o ponto” no maior número de pontos turísticos no mais curto espaço de tempo possível. O principal objectivo das “operações” é alimentar as redes sociais, gastando o mínimo possível de dinheiro.

A directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, endereçou o tema, numa série de entrevistas de representantes do Governo a uma comitiva de jornalistas da Grande Baía. Em declarações citadas pelo portal HK01, a responsável admitiu que face à retração económica, as estimativas de consumo dos turistas foram revistas em baixa, mas garantiu que Macau recebe todos os visitantes de igual forma, independentemente da capacidade de compra. Porém, para contornar os desafios actuais, Senna Fernandes sublinha que são necessárias novas ideias, que incentivem os turistas, mesmo que os visitam Macau só por algumas horas, a levar uma lembrança do território. “Temos de proporcionar opções a todos os tipos de turistas, desde produtos das pequenas lojas de bairro, até às experiências de luxo, e oferecer vários cenários de consumo para todas as bolsas”, defendeu a responsável.

A líder da DST aponta à área cultural como via para impulsionar o consumo dos turistas, com a organização de concertos e promoção de produtos de indústrias criativas para turistas, como lembranças.

Dormir aqui e ali

O turismo de “forças especiais” originou polémica em Hong Kong, com a divulgação de fotografias de turistas a pernoitar nos Macdonald’s da região vizinha, assim como no aeroporto. O mesmo aconteceu em Macau, com a partilha nas redes sociais de turistas a dormir nos relvados adjacentes ao Wynn Palace.

Apesar da tendência, Helena de Senna Fernandes salientou que o sector do turismo mostra uma boa evolução. No ano passado, mais de 34,9 milhões de pessoas visitaram Macau, cerca de 90 por cento do nível antes da pandemia. Nos primeiros cinco meses deste ano, mais de 16 milhões de turistas visitaram o território, com a ocupação hoteleira a rondar 90 por cento. Em termos anuais, a directora da DST espera que o número de visitantes deste ano chegue aos 39 milhões.

No primeiro trimestre deste ano, os gastos médios dos turistas que visitaram Macau voltaram a cair, com uma redução de 13,2 por cento em termos anuais, parte devido ao aumento dos excursionistas, que representaram quase 60 por cento das entradas no território nos primeiros três meses do ano.

Desemprego | Mais residentes com trabalho em três meses

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que há mais residentes empregados no espaço de três meses, além de que a percentagem de residentes desempregados à procura do primeiro emprego baixou. Estes números, ontem divulgados, dizem respeito aos meses de Março a Maio, em comparação com o trimestre correspondente a Fevereiro a Abril deste ano.

Assim, de Março a Maio, havia em Macau 282.200 residentes empregados, mais 300 pessoas, tendo-se verificado que “o número de residentes empregados do ramo da construção cresceu”.

Porém, “o número de residentes empregados do ramo das actividades financeiras decresceu”. Além disso, o número de residentes desempregados à procura do primeiro emprego representou 8,4 por cento de todos os residentes desempregados, menos 1,8 pontos percentuais, face ao período precedente.

Já o número de residentes desempregados, foi de 7.200, sendo que “a maioria dos que estavam à procura de um novo emprego trabalhou antes nos ramos do comércio a retalho, construção e lotarias ou outros jogos de aposta”.

Em termos gerais, a taxa de desemprego nos meses de Março a Maio foi de 1,9 por cento, enquanto a taxa de desemprego dos residentes foi de 2,5 por cento, “ambas idênticas às do período passado (Fevereiro a Abril)”. A população activa, incluindo residentes e trabalhadores não residentes, era de 380.200 pessoas, menos 400; além de que a população empregada, 373.000, baixou em 200 pessoas, ambos os casos em comparação com os meses de Fevereiro a Abril.

MICE | Governo e CPSP organizam palestra

Na passada quinta-feira, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) realizaram uma palestra sobre a contratação e gestão de pessoal para o sector de convenções e exposições (MICE) de Macau.

A palestra, que reuniu mais de 120 representados do sector, serviu para esclarecer “dúvidas e aprofundar conhecimentos sobre as normas legais aplicáveis à contratação de pessoal e os aspectos a observar durante os eventos de convenções e exposições”.

Um dos pontos fulcrais prendeu-se com as exigências legais da contratação de trabalhadores não-residentes (TNR), assim como a proibição de trabalho ilegal. A palestra foi organizada cerca de duas semanas depois da polémica sobre a situação legal de dezenas de trabalhadores na zona de merchandising de um concerto de G-Dragon, que originou uma operação conjunta da DSAL e CPSP.

Estiveram presentes na palestra representantes do IPIM, da DSAL e do CPSP, operadores do sector de convenções e exposições de Macau, assim como participantes de resorts integrados, entidades organizadoras e montadoras de convenções e exposições, agências de viagens e empresas de serviços de relações públicas.

Emprego | Macau com mais 3.000 TNR em 12 meses

Nos últimos 12 meses, o número de trabalhadores não-residentes registou um aumento de 3 mil, segundo os dados revelados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP)

 

As empresas e famílias de Macau contrataram mais de três mil trabalhadores não residentes nos últimos 12 meses, foi ontem divulgado.

De acordo com dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), no final de Maio, Macau tinha 183.783 trabalhadores sem estatuto de residente, mais 3.006 do que no mesmo mês de 2024. A mão-de-obra vinda do exterior, incluindo da China continental, atingiu em Maio o valor mais elevado desde Junho de 2020, no início da pandemia de covid-19.

Desde o pico máximo de 196.538, atingido no final de 2019, antes da pandemia, e até Janeiro de 2023, a cidade perdeu quase 45 mil não-residentes, que correspondiam a 11,3 por cento da população activa.

Em Janeiro de 2023, quando foi decretado o fim da política ‘zero covid’, que esteve em vigor em Macau e na China continental durante quase mais de três anos, Macau tinha menos de 152 mil migrantes, o número mais baixo desde Abril de 2014.

As estatísticas, divulgadas pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, revelam que, desde o fim da política ‘zero covid’, o número de trabalhadores não-residentes aumentou em 31.905. O sector da hotelaria e da restauração foi o que mais contratou nos últimos 12 meses, ganhando 3.379 trabalhadores não-residentes, seguido do dos empregados domésticos (mais 1.553).

A área da hotelaria e a restauração tinha sido precisamente a mais atingida pela perda de mão-de-obra durante a pandemia, tendo despedido mais de 17.600 funcionários não-residentes desde Dezembro de 2019.

Visitantes em alta

A cidade recebeu, em 2024, 34,9 milhões de visitantes, mais 23,8 por cento do que no ano anterior, mas ainda longe do recorde, 39,4 milhões, fixado em 2019, antes da pandemia. Já os estabelecimentos hoteleiros, acolheram mais de 14,4 milhões de hóspedes, um novo recorde histórico.

A crise económica criada pela pandemia levou a taxa de desemprego a atingir 4 por cento no terceiro trimestre de 2022, o valor mais alto desde 2006. Apesar da subida do número de trabalhadores não-residentes, a taxa de desemprego manteve-se em 1,9 por cento no período entre Fevereiro e Abril.

Ainda assim, vários deputados pediram ao Governo que obrigue as seis concessionárias de jogo a despedir parte da mão-de-obra vinda do exterior, para garantir o emprego dos 5.600 trabalhadores locais que trabalham nos 11 casinos-satélite que irão encerrar até ao final de 2025.

Três das seis concessionárias – SJM, Galaxy e Melco – comunicaram às autoridades em 9 de Junho, que vão terminar até 31 de Dezembro a exploração dos 11 ‘casinos-satélite’ existentes no território. Os ‘casinos-satélite’ são geridos por outras empresas, sendo uma herança da administração portuguesa, que já existia antes da liberalização do jogo, em 2002.

Ambiente | DSAMA limpa lixo trazido pelas marés e chuvadas

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) indicou ontem que devido às chuvas intensas e à época das cheias nas zonas a montante, uma grande quantidade de lixo foi arrastada para as zonas costeiras de Macau. As autoridades estimam que a situação se mantenha por mais algum tempo e apelou à população para ter cuidado em visitas às praias.

A DSAMA salientou que o lixo que tem flutuado nas águas de Macau nos últimos dias é principalmente constituído por ramos de plantas e lixo doméstico, e que decorrem trabalhos de limpeza, tanto nas praias como no mar. Para o efeito, a DSAMA contratou uma empresa de limpeza para reforçar os recursos humanos na operação.

Porém, adverte que devido às condições meteorológicas, à direcção do vento, às correntes oceânicas e a factores geográficos, prevê-se que o lixo continue a flutuar nas águas de Macau e a dar à costa ao longo da semana. Também os trabalhos de limpeza vão continuar.

Resíduos | Ambientalista defende tratamento e reciclagem

O Governo da RAEM deveria seguir o exemplo de Hong Kong no tratamento de materiais inertes e resíduos de construção, para fazer aterros, ou reciclar e reutilizar estes materiais como agregados de construção civil para fazer cimento ou tijolos.

A sugestão foi apresentada ontem pelo o vice-presidente da Associação de Indústria da Construção de Protecção Ambiental de Macau, Chan Kuai Son, em declarações ao programa matinal Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. A conversa, em que também participou o presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, Leong Chong In, teve como mote o acordo de cooperação para a gestão e disposição de resíduos de demolições e construção, que irá permitir à RAEM enviar resíduos para tratamento na China.

Leong Chong In mostrou-se satisfeito com o acordo e defendeu a criação de um aterro para resíduos de construção nas áreas marítimas de Macau, uma vez que os aterros disponíveis estão na lotação máxima.

Áreas marítimas | Pedido alargamento de zona protegida

O deputado dos Operários, Lam Lon Wai, considera que “os objectivos do planeamento marítimo de Macau” estão “bem definidos”, mas pergunta ao Governo se a zona de protecção pode ser alargada para preservar a biodiversidade e o ambiente. Recorde-se que o Zoneamento Marítimo prevê a construção de dois aterros de lixo ao largo de Coloane, em plena zona protegida

 

Lam Lon Wai quer ver alargada as áreas marítimas protegidas, que representam uma proporção “relativamente baixa”, para salvaguardar com maior eficácia “a biodiversidade e os ecossistemas marítimos. Recorde-se o Zoneamento Marítimo Funcional da RAEM, que entrou em vigor há exactamente um ano (1 de Julho de 2024), estabeleceu apenas uma “zona especial protegida de Coloane”, que inclui as proximidades da Ponte Flor de Lótus, e praias de Cheoc Van e Hac Sá, a sul de Coloane.

Além de perguntar ao Executivo se está a ser estudado o alargamento da zona especial protegida, o deputado dos Operários questiona se as autoridades têm outras formas de proteger os recursos naturais e o meio ambiente marinho.

Numa interpelação oral divulgada ontem, o legislador demonstra preocupações sobre a qualidade das águas e o ambiente, sem mencionar “duas zonas funcionais, que são a zona para deposição de resíduos do Porto de Ká-Hó e a zona para deposição de resíduos a sul de Coloane”, conforme é indicado no zoneamento marítimo. Aliás, o aterro a sul das praias, intitulado como Ilha Ecológica pela Governo, foi alvo de críticas de ambientalistas devido ao impacto no habitat dos golfinhos brancos chineses.

Marés estranguladas

Apesar de não referir os depósitos de lixo ao largo das praias, o deputado afirma que “o planeamento das áreas marítimas de Macau continua a enfrentar diversos desafios”. “A nível ecológico, os aterros realizados nas zonas entre Macau e Zhuhai resultaram no estreitamento das águas dos canais do Porto Interior e de Shizimen, com consequente redução da amplitude das marés, da força das correntes marítimas e da capacidade de auto-purificação das águas marinhas”.

As alterações provocadas pelos aterros “têm potenciado a degradação da qualidade da água, o surgimento de marés vermelhas, a diminuição dos mangais e a redução dos recursos ecológicos”, indica Lam Lon Wai.

O deputado cita o director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, Xia Baolong, que apresentou expectativas em relação ao uso e planeamento das áreas marítimas de Macau. Como tal, Lam Lon Wai questionou o Governo sobre planos de promoção do turismo relacionados com a ecologia marítima e preservação de ecossistemas, enquanto forma de diversificar a economia de Macau e reforçar a ligação entre os residentes e o mar.

Assembleia Legislativa | Listas do sufrágio directo com 84 candidatos

A maior parte dos candidatos provisórios às eleições de 14 de Setembro, pelo sufrágio directo, são homens, com uma proporção de 53 por cento. A média de idades dos candidatos é de 43 anos, variando entre os 20 anos e os 78 anos

 

As listas provisórias de participantes no sufrágio directo das eleições legislativas de 14 de Setembro têm um total de 84 candidatos, 48 do sexo masculino e 36 do sexo feminino. As listas provisórias foram apresentadas na sexta-feira, numa altura em que ainda podem ser vetadas pela Comissão de Defesa da Segurança do Estado.

A proporção de homens nas oito listas é de 53 por cento, enquanto a proporção de mulheres é de 47 por cento. A lista em que a representatividade masculina está mais presente é na União Promotora para o Progresso, ligada aos Moradores de Macau, com nove homens (90 por cento) e de 1 mulher (10 por cento) numa lista formada por 10 candidatos.

No pólo oposto, a lista com uma maior representatividade feminina é a Aliança de Bom Lar, ligada à Associação das Mulheres, com 10 mulheres (71 por cento) e 4 homens (29 por cento), num total de 14 candidatos.

Há duas listas em que a proporção entre homens e mulheres é igual, como acontece com a lista Poder de Sinergia, que apoia o deputado Ron Lam, e que apresenta três homens e três mulheres. A esta junta-se a lista dos Operários, a União para o Desenvolvimento, com seis homens e seis mulheres, em total de 12 candidatos.

Entre as restantes quatro listas, há três em que os homens estão em maioria, como acontece com a lista Força da Livelihood Popular em Macau (quatro homens e três mulheres), Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (seis homens e quatro mulheres), e União de Macau-Guangdong (11 homens e três mulheres). Além disso, há uma outra lista em que as mulheres estão em superioridade, a lista Nova Esperança (seis mulheres e cinco homens), ligada à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

Média de 43 anos

As listas apresentadas têm uma média de idades de 43 anos, de acordo com os cálculos elaborados pelo HM e tendo como referência o dia de ontem.

A lista com os membros mais novos é a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, com uma média de 33 anos de idade. Entre esta lista destaca-se a candidata mais nova de todas, Ng Wan Hei, com 20 anos, que indica ser estudante. A jovem aparece no 10.º lugar, o último desta lista.

No pólo oposto, a Nova Esperança é a mais envelhecida, com uma média de 59 anos. A lista liderada por José Pereira Coutinho tem o candidato mais velho do sufrágio directo, Melina Tam leng I, aposentada, com 78 anos, que surge no 5.º lugar da lista com 14 membros.

Em termos da naturalidade dos candidatos, a maioria nasceu em Macau, 60 entre o total de 84, o que representa 71 por cento. Em relação aos restantes 24 candidatos, nascidos fora do território, a maioria nasceu no Interior, principalmente das províncias de Cantão ou de Fujian. No entanto, um dos candidatos é natural da Venezuela. Entre os 84 candidatos não há um único nascido em Portugal ou em qualquer outro país de língua portuguesa.

IAM | Mantida proibição de produtos importados de Fukushima

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) irá manter a proibição de importação de produtos oriundos da região de Fukushima, no Japão, no contexto da descarga de águas residuais, a fim de “garantir a segurança alimentar e a saúde dos cidadãos”.

Desta forma, continua a ser proibido importar produtos alimentares frescos e vivos, produtos alimentares de origem animal, sal marinho e algas marinhas, incluindo vegetais, frutas, leite e lacticínios, produtos aquáticos e derivados, carnes e derivados ou ovos de aves provenientes de 10 prefeituras do Japão, nomeadamente Fukushima, Chiba, Tochigi, Ibaraki, Gunma, Miyagi, Niigata, Nagano, Saitama e Metrópole de Tóquio.

O anúncio surge depois da Administração Geral da Alfândega da China ter publicado no domingo uma nota sobre a “retoma condicional da importação de produtos aquáticos de algumas regiões do Japão”, restabelecendo, “sob certas condições, a importação de alguns produtos aquáticos de origem japonesa, com excepção de produtos aquáticos de 10 prefeituras, incluindo Fukushima”.

O IAM diz que até ao dia 22 deste mês foram analisadas cerca de 193 mil amostras de alimentos japoneses importados, tendo sido recolhidas cerca de 3700 amostras para testes de radionuclídeos, sem que fosse detectada qualquer anomalia.

História | Defendido monumento para lembrar guerra com Japão

Lin Guangzhi, director do Instituto para a Investigação Social e Cultural da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, defendeu que deveria ser criado em Macau um monumento em memória dos mártires da guerra com o Japão, tendo em conta a passagem, em 2025, dos 80 anos do aniversário da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista, nos anos da II Guerra Mundial.

A construção deste monumento iria servir para a “população relembrar ou conhecer as histórias de Macau durante a guerra”. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Li Guangzhi lembrou que, apesar de o território não ter sido ocupado pelos japoneses, os compatriotas também participaram na resistência ao lado da pátria, demonstrando o espírito de amor à pátria e a Macau.

Além de defender a construção do monumento, o académico pede também o estabelecimento de um Centro de Investigação da História da Guerra Anti-japonesa de Macau, com vista a contar histórias positivas sobre estes anos de conflito e de combate aos japoneses, bem como os contributos que foram feitos.

Anabela Santiago, académica: “A China é reformista e moderada”

Anabela Santiago acaba de defender na Universidade de Aveiro a tese de doutoramento que analisa como a China se tem posicionado, nas últimas décadas, como actor importante na “Governança Global de Saúde”. Hoje, Pequim procura “mecanismos alternativos” de cooperação no “Sul Global” e tenta construir um modelo alternativo à Organização Mundial de Saúde

 

 

Comecemos pelo conceito de governança global de saúde (GGS). Trata-se de um conceito mais contemporâneo ou relativo ao período do pós-II Guerra e fundação da Organização Mundial de Saúde (OMS)? Quais têm sido os principais actores desta governança até ao crescimento da China?

A GGS é um conceito cuja proeminência e relevância cresceram significativamente no século XXI, em grande parte impulsionada pela globalização económica e pela interconexão mundial. Embora a saúde global tenha desde sempre transcendido as fronteiras nacionais, exigindo abordagens multidisciplinares e cooperação internacional, apenas a partir de da década de 1990 é que se tomou maior consciência dela. Historicamente, a GGS tem sido influenciada predominantemente por potências ocidentais e por valores neoliberais. Os principais actores desta governança, até ao crescimento da China, foram historicamente marcados por intervenções de entidades como a OMS e organizações não-governamentais, predominantemente norte-americanas e europeias.

Uma das conclusões da sua tese de doutoramento é que a China tem vindo a posicionar-se de forma progressiva nessa liderança. Esse posicionamento começou concretamente quando e porquê?

Sim, a China tem-se posicionado progressivamente como um actor de relevo na evolução do sistema de GGS. Embora não seja possível apontar uma data exacta de início, a China evoluiu de um país relativamente isolado para um actor principal nas arenas política, económica e tecnológica globais. A sua crescente influência económica e política representa uma mudança também na dinâmica histórica da GGS, sendo que já na década de 1960 a China tentava ter um papel de assistência humanitária em saúde nos países vizinhos e em África. A tese destaca que a experiência da China pode ser vista como um exemplo do que é alcançável quando um Estado escolhe o seu próprio caminho em vez de um modelo pré-estabelecido, alinhando-se com a previsão do século XXI como o “Século da Ásia”.

Os anos da pandemia influenciaram esse posicionamento? De que forma?

A pandemia de covid-19 realçou a necessidade de cooperação global em saúde, bem como as consequências potenciais da falha em priorizar a saúde global. A tese explora a evolução da Rota da Seda da Saúde antes e depois da pandemia, indicando que os anos da pandemia permitiram uma maior conscientização da necessidade de instrumentos como a Rota da Seda da Saúde como plataformas de cooperação mais efectiva entre as Nações. Embora não esteja detalhado nesta secção específica, é implícito que a pandemia intensificou a actuação da China na diplomacia da saúde e na assistência ao desenvolvimento em saúde.

Olhando para as reformas internas que a China tem levado a cabo na área da saúde, quais destaca como mais importantes?

Abordo, na tese, as reformas do sistema de saúde da China e destaco que o modelo de governança chinês é uma combinação única de reformas económicas orientadas para o mercado e desenvolvimento liderado pelo Estado, incorporando elementos de neoliberalismo e autoritarismo nas questões políticas em geral, sendo que o sector da saúde não é diferente em nada dos restantes. Uma das contribuições da China mencionadas, reconhecida pela OMS, é o seu modelo de atenção primária à saúde baseado na reconhecida boa prática dos “barefoot doctors” (médicos pés descalços). Além disso, a tese analisa as principais políticas de reforma e o seu progresso e desafios no período de 2009-2018, que compreendem as reformas dos cuidados de saúde primários, a reforma hospitalar e farmacêutica. O programa “Healthy China 2030” também é um referencial importante e ambicioso das reformas domésticas da China em matéria de saúde, abarcando igualmente os determinantes sociais.

É intenção de Pequim criar uma entidade alternativa à OMS, ou simplesmente criar um movimento alternativo que possa coexistir com a OMS, no contexto do relacionamento com o Sul Global? Como poderia isso funcionar?

A tese sugere que a China adopta uma “abordagem dual”: ao mesmo tempo que se integra nas estruturas globais existentes, forja simultaneamente caminhos alternativos, particularmente através de alianças regionais como os BRICS e parcerias com o Sul Global. Isso indica uma intenção de criar um movimento alternativo que possa coexistir e complementar o papel da OMS, em vez de uma entidade alternativa directa. A China demonstra um claro compromisso em alinhar os objectivos da iniciativa “Belt and Road” com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, mostrando a sua vontade de apresentar estas iniciativas como complementos aos mecanismos de cooperação já existentes na ordem liberal internacional. A visão do Presidente Xi Jinping de uma “Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade”, que inclui a noção de “Comunidade Global de Saúde para Todos”, também aponta para uma nova perspectiva no âmbito da cooperação internacional.

Máscaras, vacinas e Medicina Tradicional Chinesa (MTC): quais os produtos ou instrumentos usados pela China para se posicionar como um actor cada vez mais global na GGS?

A tese destaca que a China é um provedor indispensável de bens públicos globais de saúde, essenciais para a cadeia de suprimentos de produtos, como é o caso das máscaras e das vacinas. A MTC também é mencionada como um dos grandes contributos da China para a governança global da saúde, com os seus tratamentos derivados de ervas chinesas, alguns dos quais já reconhecidos pela OMS em 2017. Além disso, a assistência médica chinesa e as equipas médicas enviadas para outras regiões do globo são instrumentos importantes da diplomacia da saúde chinesa.

Na criação de um movimento ou realidade alternativa à OMS, a China poderá estar a tirar partido da falta de uma representatividade plena nessa mesma OMS, ou lacunas no seu funcionamento?

A tese não aborda directamente se a China está a tirar partido de uma falta de representatividade plena na OMS ou de lacunas no seu funcionamento. No entanto, ela enfatiza que o trabalho visa preencher uma lacuna no conhecimento científico em relação ao paradigma da governança da saúde de uma perspectiva não-ocidental e liberal, dando ênfase à China como actor do Sul Global. Isto sugere que a China procura fortalecer modelos alternativos que podem oferecer soluções mais personalizadas para desafios de saúde, diferentes dos defendidos pelos países ocidentais, posicionando-se como um actor reformista moderado.

De que forma a política externa da União Europeia (UE) em relação à China tem afectado ou influenciado este posicionamento do país na governança global da saúde?

Na tese, a quarta publicação, intitulada “Challenges on the European Union-China cooperation in higher education from ‘people-to-people dialogue’ perspective: The case of health-related joint projects”, explora a cooperação no ensino superior, em particular aquela que inclui projectos relacionados com a saúde. Verifica-se, pois, que, apesar do diálogo estratégico e económico, a deterioração das relações bilaterais UE-China intensificou-se, com a Comissão a assumir um declínio de entusiasmo devido a “contramedidas da China às sanções da UE em direitos humanos, coerção económica e medidas comerciais contra o mercado único, e o posicionamento da China na guerra na Ucrânia”. Embora se reconheçam desafios e tensões, a cooperação no ensino superior, incluindo projectos de saúde, é vista como parte de um quadro mais amplo de construção de parceria estratégica entre a UE e a China. No entanto, evidencia-se que não existe uma longa tradição de cooperação em saúde entre a UE e a China no ensino superior, e que existem poucos projectos conjuntos em comparação com o panorama geral. Sugere-se que tanto a UE como a China deveriam fazer mais esforços para alinhar os currículos de estudos médicos e promover mais pesquisa conjunta em áreas relacionadas com a saúde, doenças infeciosas, entre outros.

Na era Trump 2.0, e sem pandemia, qual poderá ser o papel da China na governança global da saúde?

Embora a tese seja publicada este ano, foca-se no período que antecede e inclui a pandemia, onde não especulo directamente sobre um cenário futuro de “Trump 2.0” sem pandemia. No entanto, a tese argumenta que a China não é apenas um participante, mas uma força reformista moderada na formação das normas de saúde globais. Independentemente de cenários políticos futuros, a sua crescente influência económica e política, a diplomacia estratégica em saúde, as reformas internas e iniciativas como a Rota da Seda da Saúde continuarão a moldar o seu papel na governança global da saúde. A visão de uma “Comunidade Global de Saúde para Todos” também permanece como um princípio orientador para os esforços da China.

Este poder da China na GGS verifica-se mais com acordos bilaterais ou multilaterais?

A tese sugere que o poder da China na governança global da saúde se manifesta tanto através de acordos bilaterais quanto multilaterais, mas com uma ênfase crescente em certas formas de cooperação que fortalecem o seu papel no Sul Global e através de mecanismos alternativos. Embora a tese não quantifique explicitamente a predominância entre bilateral e multilateral, o foco nas alianças regionais (BRICS) e parcerias com o Sul Global (que frequentemente envolvem acordos bilaterais e iniciativas de cooperação de grupo) e a Rota da Seda da Saúde indicam uma abordagem híbrida.

Índia | Alegada violação em grupo de estudante universitária reacende alarmes

A alegada violação colectiva de uma estudante numa universidade de Calcutá reacendeu sexta-feira os alarmes sobre a violência sexual na Índia, um fenómeno persistente que volta a gerar tensões políticas e sociais no país.

Segundo a agência local indiana ANI, uma estudante denunciou ter sido agredida na terça-feira passada dentro do ‘campus’ universitário na cidade do leste do país, tendo a polícia detido três pessoas relacionadas com o caso, pedindo ainda para prosseguir com a investigação.

A Comissão Nacional para as Mulheres (NCW, em inglês) da Índia tomou conhecimento do caso e solicitou um relatório urgente às autoridades. O caso desencadeou uma disputa política entre o partido no Governo, o nacionalista hindu Bharatiya Janata Party (BJP), e o partido regional no poder All India Trinamool Congress (AITC), da oposição.

O BJP, de Narendra Modi, acusou o governo estadual de inação, enquanto o AITC, num comunicado, defendeu a ação policial e renovou o apelo para implementar a lei anti-violação “Aparajita”, bloqueada, segundo afirmam, pelo executivo central, e que visa acelerar os processos judiciais por crimes sexuais e endurecer as penas.

Pequenos grupos de mulheres e activistas reuniram-se em frente ao ‘campus’ da universidade para exigir justiça e maior protecção para as mulheres, num contexto marcado por uma crescente preocupação com a segurança nos espaços educacionais e de trabalho.

Esta denúncia coincide com a descoberta, também na sexta-feira, do corpo enterrado de uma mulher no estado de Haryana, no norte do país, supostamente violada e assassinada pelo sogro em Abril, segundo o canal indiano NDTV, noutro caso de violência sexual brutal no país.

Ambos os episódios são conhecidos quase um ano após o assassínio de uma médica num hospital de Calcutá, um crime que desencadeou uma onda de indignação nacional e voltou a colocar em causa a resposta do sistema judicial aos casos de violência de género no país mais populoso do mundo.

Hong Kong | Liga dos Sociais-Democratas anuncia dissolução

A Liga dos Sociais-Democratas (LSD), um dos últimos partidos da oposição que restam em Hong Kong, anunciou a sua dissolução na sexta-feira. O partido foi fundado em 2006 e foi considerado a facção radical do movimento pró-democracia de Hong Kong. Era conhecido pelas suas campanhas de rua, frequentemente lideradas pelo activista agora preso Leung Kwok-hung.

“O próximo ano marcará o 20.º aniversário da Liga dos Sociais-Democratas. No entanto, não sobreviveremos até esse dia e anunciaremos a nossa dissolução”, informou o partido numa mensagem aos jornalistas.

O movimento sempre lutou por mais democracia em Hong Kong e defendeu causas que afectam os seus cidadãos, criticando a desigualdade social e económica numa cidade com uma das maiores disparidades de riqueza do mundo. No seu auge, o partido ocupou três lugares no Conselho Legislativo de Hong Kong. O seu declínio começou quando Pequim impôs uma lei de segurança nacional a Hong Kong em 2020, após enormes protestos no ano anterior.

A China e o governo de Hong Kong alegaram que a lei era necessária para conter a agitação política. Membro do Conselho Legislativo de Hong Kong de 2004 a 2017, o líder da Liga Social-Democrata, Leung Kwok-hung, foi detido pela primeira vez em 2021.

Juntamente com outros 44 activistas pró-democracia, foi condenado no ano passado a seis anos e nove meses de prisão, por colocar em risco a segurança nacional, desencadeando uma onda de protestos internacionais.

O partido tem realizado pequenos protestos nos últimos anos, muitas vezes sob forte vigilância policial. Quatro membros do movimento, incluindo o seu actual líder, Chan Po-ying, foram multados em Junho por usarem roupas pretas e angariar dinheiro “sem autorização” em campanhas de rua.

A hipocrisia serve-se nas Lages

Todo o mundo falou da guerra Israel-Irão. E nós falamos também, mas na vertente Portugal. Donald Trump decidiu tarifas aduaneiras absurdas contra Portugal; Quer obrigar Portugal como membro da NATO a incluir um gasto nas despesas de 5 por cento, algo incomportável; Já expulsou portugueses do território americano que aguardavam a legalidade de residência; Antes, tinha manifestado o pouco interesse na Base das Lages, nos Açores, e até a China chegou a manifestar junto do governo português que no caso de terminar o contrato entre os EUA e Portugal que estaria interessada num acordo. Os ministros Paulo Rangel e Nuno Melo, dos Estrangeiros e da Defesa respectivamente, manifestaram por diversas vezes que a situação na Faixa de Gaza estava insuportável com milhares de crianças à fome e que os Direitos Humanos não estavam a ser cumpridos por Israel que continua a bombardear e a matar palestinianos. E depois?

Depois veio o ataque de Israel ao Irão e os mesmos ministros portugueses afirmaram que “Israel tinha o direito a defender-se”… E o que vimos? Portugal a colaborar intrinsecamente no ataque israelista-americano ao Irão com a participação activa de 20 aviões americanos reabastecedores, os quais participaram no Atlântico no reabastecimento das “feras” americanas que bombardearam vários locais do Irão. O estacionamento dos 20 aviões americanos na Base das Lages, apenas com uma comunicação em cima da hora por parte do Pentágono, foi uma vergonha para Portugal que se rebaixou à prepotência americana. Este facto levou partidos com assento na Assembleia da República a pedirem explicações ao governo de Luís Montenegro, o qual se limitou a dar uma resposta esfarrapada.

A hipocrisia de Portugal foi total. Por um lado, condena Israel por destruir a Faixa de Gaza e matar a sua população, quando nem se digna reconhecer o Estado da Palestina, e por outro lado, permite sem esboçar qualquer agravo ao estacionamento de aeronaves participantes na guerra entre Israel e Irão. Onde está afinal a neutralidade de um pequeno país plantado à beira do Atlântico que nem sequer tem dinheiro para comprar aviões novos ou material de defesa antiaéreo? Esta é a hipocrisia total. Israel mata na Jordânia, na Síria, em Gaza e no Irão, mas para a diplomacia portuguesa está tudo bem, porque “tem de defender-se”… E o povo sentiu que algo estava errado. Que os americanos obrigaram-nos a baixar as calças, à semelhança do que tinha acontecido quando os americanos atacaram o Iraque matando Saddam Hussein e com o presidente George Bush Jr. a aterrou na Base das Lages com Durão Barroso como criado às ordens.

Portugal nem sequer é capaz de olhar para a sua vizinha Espanha que decretou, assim que Israel atacou o Irão, o fim do fornecimento de armas a Israel.

A política dos Negócios Estrangeiros entregue a Paulo Rangel, um ex-eurodeputado que era visto em Bruxelas completamente embriagado e na companhia de “amigos” de comportamento duvidoso, é a mesma coisa que um qualquer motorista de táxi seja chamado para os Serviços Secretos do país.

Portugal é um país pequeno, com apenas 10 milhões de habitantes, pobre e dependente dos dinheiros da União Europeia, certo! Mas tem história e teve políticos de grande dignidade e elevação. Tivemos Humberto Delgado, Manuel Serra, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Mário Soares, Manuel Alegre, Sá Carneiro, Ramalho Eanes, todos homens que não se deixavam vergar à prepotência de fosse quem fosse. Actualmente, vamos a reuniões na União Europeia e aceitamos todas as decisões que forem tomadas, mesmo aquelas que possam prejudicar a economia e a qualidade de vida dos portugueses.

O primeiro-ministro Luís Montenegro acabou de anunciar, após a reunião fantoche da NATO, que Portugal irá aumentar a sua despesa em defesa e segurança. Já estamos mesmo a ver o que vai acontecer. Para trás, ficarão a educação, saúde, salários, reformas. O Estado social será uma balela e com os mais desprotegidos a ficarem em pior situação. E depois queixam-se que os jovens qualificados continuam a emigrar. Por que não? Se no seu país os salários são miseráveis, se têm de viver em casa dos pais até aos 30 ou mais anos de idade, se pagam impostos desmesurados, se não conseguem comprar uma casa, se não podem casar e ter filhos porque o salário não dá nem para mandar cantar um cego.

O importante para a classe política dominante é que o Irão não pode ter uma arma nuclear, deixando no ar uma contradição incompreensível. Se o Paquistão, Israel e outros países podem ter bomba atómica porque é que o Irão é o único país que não pode enriquecer urânio? Simplesmente, porque os americanos decidem que não, e Portugal e outros países dependentes do petróleo manobrado por Trump dizem logo ámen. Ai, Portugal, Portugal…

Espanhol cultiva chá no Minho e traz comida portuguesa para Pequim

Reportagem de João Pimenta da agência Lusa

Ao fim de quase três décadas radicado na China, o chefe de cozinha e empresário espanhol Carlos Miranda decidiu tentar “algo diferente”: cultivar chá no norte de Portugal e trazer cozinha portuguesa para Pequim.

“É preciso inovar”, afirmou à agência Lusa o empresário, durante uma pausa no restaurante português Calma, que inaugurou este ano na capital chinesa.

Sentado numa sala anexa ao estabelecimento, Carlos Miranda prepara chá verde, sobre uma mesa tradicional chinesa. “O chá sempre me fascinou”, disse. “Nunca bebi café”, acrescentou.

No canto da mesa está pousado um livro de receitas – A Cozinha de Macau de Casa do Meu Avô – publicado em 1992, por Graça Pacheco Jorge. Descendente de uma família estabelecida no território desde o século XVII, o autor foi figura central na divulgação da cozinha macaense.

Também Carlos Miranda tem ligação a Portugal de origem familiar, através de uma tia-avó portuguesa. “A minha família é de Zamora, no interior norte de Espanha, mas tenho familiares em Lisboa”, contou.

Com cerca de 200 metros quadrados e lugar para 40 pessoas, o restaurante português fica no coração da zona diplomática de Pequim, a norte de Sanlitun, uma das zonas mais movimentadas e cosmopolitas da capital chinesa. O menu inclui: Bacalhau à Brás, Polvo à Lagareiro, Arroz de Cabidela, Arroz de Marisco ou Arroz de Pato. “O arroz é um atractivo para os chineses”, justificou.

Por outro lado

No sentido inverso, Miranda levou para o norte de Portugal chá, bebida com origem na China há milhares de anos. “Queria fazer algo ligado à agricultura ecológica”, descreveu.

O projecto agrícola começou há cerca de um ano, na região do Minho, num terreno próximo do Parque Nacional da Peneda-Gerês. “A ideia era plantar no parque, mas como é Reserva Ecológica Nacional tornou-se impossível. Fiquei pelas encostas”, disse o empresário, enaltecendo as condições locais de humidade, altitude e solo.

“O norte de Portugal é húmido, tem rios limpos e, na última análise, foi o país europeu onde, num estudo recente, o chá revelou melhor concentração de antioxidantes”, descreveu.

As primeiras folhas vão demorar: “só ao fim de quatro ou cinco anos é que se pode começar a colher com qualidade”.

A plantação foi pensada para um mercado de nicho, focado em produto biológico e de proximidade. “Não faz sentido competir com a China ou a Índia. Vamos fazer chá ‘gourmet’, com garantia de zero pesticidas, para consumidores exigentes”, afirmou.

Apesar de nunca ter trabalhado directamente na indústria do chá, Carlos Miranda é um entusiasta. “Bebo chá todos os dias”, confessou. Enquanto espera pela primeira colheita no Minho, Carlos Miranda serve já do outro lado do mundo vinhos do Douro e do Dão. “Temos de fazer coisas diferentes, não ficar sempre pelo mesmo”, realçou.

Com história

Na China, o espanhol construiu ao longo de 27 anos uma carreira na restauração, com vários estabelecimentos que se tornaram referência entre a comunidade de expatriados no país.

“Sou cozinheiro de formação. Trabalhei no Porto e em Lisboa, nos anos 90, e depois vim para a China. Tive restaurantes em Pequim, Liaoning, Dalian e Xiamen, quando ainda não havia comida ocidental nessas cidades”, contou.

O Calma funciona com uma equipa que conhece bem o percurso de Miranda: “O chefe de cozinha chinês está comigo há 20 anos”. Entre os clientes estão estudantes chineses de língua portuguesa e diplomatas e profissionais chineses que viveram nos países lusófonos: “conheci já aqui pessoas muito interessantes”.

O projecto agrícola obriga-o agora a passar mais tempo em Portugal. “O chá exige cuidados. Em Janeiro vamos construir uma pequena fábrica para processar o produto”. Até lá, rega-se e espera-se. “É um processo lento, mas é isso que o torna interessante”, conclui.

“Arte Macau” | Projecto de Ung Vai Meng é finalista para a Bienal

Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural, faz a curadoria de um dos seis projectos finalistas para participar na próxima edição da “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2025”. Trata-se de “Duração Genética” e, caso vença, pode ir à Bienal de Veneza

 

Já estão escolhidos os seis projectos artísticos finalistas para a participação na Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2025, nomeadamente na categoria “Projecto de Curadoria Local”. Um desses projectos tem, precisamente, curadoria do antigo presidente do Instituto Cultural (IC), entidade que promove esta iniciativa: Guilherme Ung Vai Meng.

Chama-se “Duração Genética”, seguindo-se outros cinco finalistas, nomeadamente “Atrás do Jardim Oriental”, com curadoria de Cheong WengLam; “Mar de Línguas: Programa de Pesquisa Linguística de Macau”, que tem como curadores He Yan Jun e Zhang Ke; “Uma Posição Enunciável para Mulheres”, com curadoria de Cheong Cheng Wa e Wang Jing; “Sob a Península de Wetware”, de Daisy Di Wang e Wong Mei Teng; e, finalmente, “Torre de Jacone”, com curadoria de Feng Yan e Ng Sio Ieng. No total, há 35 artistas envolvidos em todos estes projectos.

Espécie de diálogo

Segundo uma nota do IC, os seis projectos finalistas “exploram a relação do diálogo entre a memória histórica de Macau e a globalização, abrangendo um vasto leque de aspectos como genes culturais, paisagens linguísticas, narrativas das mulheres, bem como tecnologia e ecologia”.

O tema deste ano da “Arte Macau” será “Olá, o que fazes aqui?”, tendo o júri referido que “as propostas deste ano [a concurso] são de boa qualidade, com métodos curatoriais experimentais e perspicazes, correspondendo plenamente ao tema da Bienal”.

Destaque ainda para o facto de os seis finalistas ganharem passaporte de acesso para a selecção preliminar da representação da RAEM na Bienal de Arte de Veneza.

Segundo a mesma nota, “os curadores ou grupos curatoriais das propostas de exposição seleccionadas passam a estar directamente qualificados para a selecção preliminar da 61.ª Exposição Internacional de Arte ‘La Biennale diVenezia’ – Evento Colateral de Macau, China”. Depois deste acesso à fase preliminar, o IC “irá criar outro júri para seleccionar uma proposta de exposição para representar Macau no evento em Itália”.

A realização da Bienal de Arte de Macau tem por objectivos “proporcionar uma plataforma de intercâmbio aberta e diversificada, incentivar a criação de arte contemporânea em Macau, cultivar talentos de curadoria locais e mostrar as realizações da criação artística em Macau”.

Para esta edição, foram recebidas 34 propostas a concurso na categoria “Projecto de Curadoria Local”. O júri é composto por Feng Boyi, Curador Principal da Bienal; Wang Xiaosong, DirectorExecutivo do Museu de Arte Contemporânea de Suzhou; Song Dong, conceituado artista contemporâneo; Marcel Feil, Curador Independente Holandês, e Van Pou Lon, Chefe da Divisão de Desenvolvimento das Artes Visuais do Instituto Cultural (IC),

A Arte Macau 2025 irá ter várias áreas com exposições e eventos, nomeadamente a “Exposição Principal”, “Exposição de Arte Pública”, “Pavilhão da Cidade”, “Exposição Especial” e “Projecto de Curadoria Local”, onde se irá integrar o projectovencedor do grupo de seis finalistas. Destaque ainda para a secção “Exposição Colateral”.