Vera Lúcia Raposo, jurista e docente: “IA propaga-se hoje como um vírus” Andreia Sofia Silva - 21 Mar 2025 Vera Lúcia Raposo apresentou na quarta-feira na Universidade de Macau o novo quadro regulatório da União Europeia para Inteligência Artificial, numa sessão promovida pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau. A ex-docente da Universidade de Macau defende que a China está a ganhar a corrida numa área que nunca esteve tão presente nas nossas vidas Falou na quarta-feira do “AI Act” aprovado pela União Europeia (UE). Concretamente, quais são os principais pontos deste documento? Trata-se do regulamento de Inteligência Artificial (IA) publicado no ano passado no jornal oficial da UE. É uma lei europeia, mas é também, até ao momento, o mais detalhado regime legal sobre os produtos que envolvem a IA. É difícil legislar sobre a IA nesta fase tão preliminar? Se calhar nunca vamos deixar de estar nesta fase. Repare, a IA não surgiu com o ChatGPT nem nada que se pareça. Desde meados do século passado, e ainda antes, mas sobretudo desde o ‘paper’ de Alan Turing que a IA existe, primeiro em laboratório, cingida a um grupo de investigadores. Depois começou a ser lançada no mundo e a fazer parte das nossas vidas, mas nunca como agora. Actualmente, estamos numa espécie de outra pandemia, em que a IA se propaga na nossa existência como um vírus, mas não um vírus mau, pois entendo que, muitas vezes, a IA se propaga com efeitos positivos. Claro que, apesar de não ser uma coisa completamente nova, é uma realidade ainda muito misteriosa para nós juristas. O problema começa pelo facto de nem sequer conseguirmos obter uma definição maioritariamente aceite pelos especialistas do que é a IA. Desde logo, não sabemos o que é, porque é uma entidade em movimento, que muda constantemente. O que achávamos que há dez anos era IA, hoje já será um algoritmo. Nas áreas da defesa da vida privada, ou dados pessoais, por exemplo, ou ainda direitos de autor, o que nos diz a legislação europeia em termos concretos? O regulamento de IA [da UE] insere-se no que chamamos “data package” [pacote de dados], insere-se no grupo de regulamentos que dizem respeito à segurança do produto. Mas isso é entendido em termos muito abrangentes, não é apenas a segurança como estamos habituados a pensá-la, como algo que põe em causa a integridade física, mas abrange questões ambientais, o respeito pelos valores fundamentais e direitos de tecnologia e protecção de dados. É verdade que o regulamento tem essas aspirações e concretizações práticas em algumas normas, mas a ideia é que se desenvolva com outros regulamentos já existentes em matéria de protecção de dados e propriedade intelectual, e que não entre em conflito com eles. Temos, actualmente, o ChatGPT do lado americano, e o DeepSeek do lado chinês. Acha que a China se posiciona como líder na área da IA? Constata-se que a China é um colosso no mundo digital. A forma como o mundo tem vindo a evoluir tem diferenciado. Há 100 anos atrás tínhamos conflitos bélicos, e hoje temos guerras onde se continua a matar pessoas, mas temos também guerras comerciais e estas guerras tecnológicas. E digo que mais do que uma guerra, é uma corrida para chegar à nova invenção. Os velhos blocos de países têm estratégias diferentes. Por exemplo, no caso dos Estados Unidos da América (EUA), essa estratégia mudou muito com a Presidência de Trump, mas sempre foi mais liberal e “laissez-faire”. Essa também tem sido a forma de actuação dos EUA, mas com Trump está mais na linha do “vale tudo”, do que importa é chegar em primeiro lugar. Há um grande fomento das companhias tecnológicas, como se vê com o grande apoio que elas deram à campanha presidencial de Trump. Depois temos a China, com uma política estatal, que não está tanto nas mãos dos privados. Há um foco muito grande no avanço tecnológico, mas é visível que o país está já numa posição que, dificilmente, será alcançada pelos outros. A Europa não está propriamente bem posicionada. Porquê? A Europa tomou a decisão de que a melhor forma de desenvolver o progresso tecnológico e fomentar a inovação é pela via da hiper-regulação. Não há um centímetro que não esteja regulado ou que não venha a ser regulado pela UE. Claro que pode ter algumas vantagens, e as aspirações é que possamos estar perante um desenvolvimento controlado e sustentável, e que respeite os nossos direitos fundamentais e o Estado de Direito. Mas tenho algumas dúvidas. Primeiro, de que isto seja conseguido, porque a protecção dos direitos fundamentais também não passa por esta hiper-regulamentação. Depois parece-me que estamos a fazer isto à custa de um valor que me parece primordial, que é a inovação. Essa ideia vem, aliás, no relatório de Mário Draghi, que alertou a UE para a possibilidade de hipotecar as gerações futuras porque estamos a deixar a inovação para trás. Não vejo que nenhum destes três modelos tecnológicos [EUA, China e UE] seja particularmente frutífero, porque têm benefícios e desvantagens. Temos um modelo interessante, que é o britânico. Em que sentido? O Reino Unido mantém o quadro jurídico que herdou da UE, e ainda não o alterou. O Reino Unido não vai adoptar o regulamento da IA [Europe’s AI Act], porque já não faz parte da UE, parece que também não vai criar um quadro regulatório semelhante a esse, mas têm uma abordagem que é ter um quadro muito genérico que fixa os pontos principais e limites, mas depois haverá uma regulamentação sectorial. Esta regulamentação, que ainda está a ser criada, é para estabelecer as ‘guidelines’ para cada área de actividade, para que haja autonomia em cada sector e sempre no respeito das particularidades de cada um. Em teoria, é mais interessante, mas está tudo no início e ainda não vi casos aplicados na prática. Como comenta o uso da IA na área jurídica e judicial? Utilizar fontes que não são desejáveis para fazer o nosso trabalho não foi algo que chegou com o ChatGPT. Falando de algo que conheço bem, como teses académicas ou ‘papers’ científicos, não é inaudito que alguns autores menos escrupulosos citem fontes nas quais nunca puseram os olhos, e depois citam de forma errada, ou citam fontes que não existem. Há situações em que se citam fontes pouco credíveis, como blogues, ou ‘papers’ que não foram sujeitos ao sistema de revisão por pares. Isso não é novo. Termos o ChatGPT ao lado ajuda muito e a tentação é grande. Não acho que seja o fim do mundo. A literacia IA é fundamental para a academia e qualquer cidadão. Todos temos de compreender quais os benefícios da IA generativa e riscos também. Uma pesquisa nas páginas da Wikipedia também pode gerar erros. É impossível dizer aos alunos para não usarem o ChatGPT, porque essa proibição seria oca. Não posso saber como as pessoas fazem o seu trabalho. Pode haver situações de desonestidade científica e situações em que a informação não é verdadeira, mas se alguém me disser que escreveu algo com apoio do ChatGPT, não tenho problema com isso. Tenho se a pessoa se considerar na totalidade a autora do trabalho. O ChatGPT funciona muito como uma pesquisa no Google, não é algo completamente novo. Mas tenho de perceber que a informação que o ChatGPT me dá tem de ser muito analisada e novamente investigada. O ChatGPT só me pode dar pistas para onde posso ir, e aí pode ser útil e fazer-nos pensar. É uma fonte como outra qualquer, mas que não tem muito credibilidade. O ChatGPT nunca trata das coisas em detalhe, por exemplo.
Espionagem | Investigador chinês condenado à morte Hoje Macau - 20 Mar 2025 Um funcionário de um instituto de investigação chinês foi condenado à pena de morte por ter vendido informações confidenciais a uma agência de informação estrangeira, informaram ontem as autoridades da China. Num artigo publicado na rede social chinesa WeChat, o Ministério da Segurança do Estado da China explicou que o acusado, de apelido Liu, trabalhava como assistente de engenharia num instituto de investigação estatal, do qual o organismo não forneceu mais pormenores. Liu terá feito cópias não autorizadas de documentos sensíveis e informações confidenciais durante o seu período no instituto. Após a sua demissão, motivada pela percepção de um tratamento desfavorável e pela falta de oportunidades de promoção, Liu regressou ao sector privado e começou a trabalhar para uma empresa de investimentos. O condenado terá alegadamente participado em práticas como a manipulação de contas em nome de familiares e amigos, bem como a utilização indevida de cartões de crédito para financiar transações especulativas. As perdas resultantes destes investimentos geraram uma situação de grande pressão económica, que o arguido alegadamente tentou aliviar vendendo as informações obtidas ilegalmente, lê-se no artigo. De acordo com a mesma fonte, Liu contactou uma agência de espionagem estrangeira, de um país não especificado, à qual terá oferecido parte dos documentos em troca de uma compensação financeira. Após a primeira transação, a agência cessou o contacto com Liu. No entanto, ele voltou a tentar vender informações classificadas, o que o levou a efectuar várias viagens a diferentes países ao longo de alguns meses. A coordenação entre as autoridades policiais chinesas levou à monitorização das comunicações do acusado, o que levou à sua detenção, após a qual admitiu os actos, de acordo com o ministério.
Seul | Alerta máximo antes de decisão sobre Presidente Hoje Macau - 20 Mar 2025 A polícia da Coreia do Sul vai activar o nível mais elevado de alerta e mobilizar todos os agentes no dia da decisão do Tribunal Constitucional sobre a destituição formal do Presidente Yoon Suk–yeol. As autoridades sul-coreanas anunciaram ontem o plano, num esforço para evitar protestos em massa e possíveis ataques a instalações importantes, incluindo o tribunal, no meio do actual clima de tensão política no país. O plano inclui a mobilização de 14 mil polícias de choque em Seul, representando 60 por cento das forças de controlo de distúrbios disponíveis no país, de acordo com a agência de notícias pública Yonhap. A data exacta da audiência ainda não foi divulgada, mas a expectativa é que aconteça antes do final de Março. O Tribunal Constitucional concluiu no final de Fevereiro a análise do processo de destituição de Yoon, devido à imposição da declaração de lei marcial a 3 de Dezembro. Unidades de segurança pessoal, detectives e forças especiais serão mobilizadas em redor do tribunal, e equipamento antidrone também será mobilizado para impedir voos ilegais sobre a área, que foi declarada zona de exclusão aérea já na semana passada. As autoridades alertaram que qualquer tentativa de invasão do tribunal resultará em detenções imediatas. Há receios sobre uma possível repetição dos incidentes de 19 de Janeiro, quando os apoiantes de Yoon invadiram o Tribunal Distrital Ocidental de Seul para protestar contra a decisão de prolongar a detenção do Presidente. Durante os confrontos, foram relatados ataques contra agentes da polícia e jornalistas, bem como danos em instalações. No sábado, milhares de sul-coreanos encheram as ruas do centro de Seul em grandes manifestações a favor e contra Yoon, sem que se tenham registado incidentes.
Inteligência Artificial na culinária de Macau Jorge Rodrigues Simão - 20 Mar 2025 “Macau’s opulent fine dining scene is using AI to tackle sustainability: how restaurants in Galaxy Macau, Sands China and Grand Lisboa are leading the green march forward”. Amanda Sheppard A cena culinária de Macau, uma região conhecida pela sua vibrante mistura de influências portuguesas e chinesas, está a dar os primeiros passos em uma revolução tecnológica com a integração da Inteligência Artificial (IA). A IA entrou no mundo da culinária como uma ferramenta de eficiência e inovação. Em Macau, um território com um património culinário diversificado, a aplicação da IA poderá remodelar as abordagens tradicionais à comida. A fusão da tecnologia avançada com as ricas tradições culinárias cria uma paisagem única, oferecendo tanto oportunidades como desafios. Os antecedentes históricos da cozinha em Macau realçam a identidade única da região. Macau foi uma colónia portuguesa durante mais de quatro séculos, criando uma mistura intrincada de práticas culinárias asiáticas e europeias. Esta mistura formou uma rica tapeçaria culinária, com pratos como o bacalhau e o minchi macaense a ganharem fama local e internacional. Ao examinarmos esta história, apreciamos as características únicas da cozinha de Macau, que as tecnologias de IA estão agora preparadas para melhorar. Nos últimos anos, a crescente adopção de tecnologias de IA na cena gastronómica global marcou uma mudança significativa. Os restaurantes começaram a utilizar a IA para vários fins, como a melhoria da experiência do cliente e a racionalização dos processos de preparação de alimentos. Os chatbots alimentados por IA, por exemplo, entraram no mundo dos serviços alimentares, fornecendo aos clientes assistência imediata para navegar nos menus, fazer encomendas e efectuar reservas. Esta tecnologia elimina as barreiras linguísticas, permitindo que os turistas e os habitantes locais se envolvam com as ofertas culinárias sem problemas. Além disso, o sector da preparação de alimentos está a assistir à influência da robótica e do equipamento inteligente. Os algoritmos de IA podem optimizar os processos de cozinha através da análise de dados sobre ingredientes, tempos de cozedura e preferências dos consumidores. Esta abordagem baseada em dados permite que os chefes se concentrem na criatividade, minimizando os riscos de erro humano. Por exemplo, restaurantes com estrelas Michelin, como o Seasons do Chefe Tam, o Robuchon au Dôme da SJM, o Andaz Kitchen da Galaxy e o Churchill’s Table do The Londoner, estão todos a estimular a mudança e receberam elogios por utilizarem a IA para melhorar a eficiência operacional e manter elevados padrões de qualidade alimentar. Os Chefes António Coelho, Sally Jimenez e Cristiano Tavares do Lisboeta estudam a introdução da IA nas suas práticas culinárias. O Chefe André Chiang do Mizumi está a fazer progressos no mundo da culinária com a tecnologia. Conhecido pela sua abordagem inovadora à gastronomia, o Chefe Chiang tem tirado partido da IA nos seus empreendimentos culinários. O seu restaurante japonês na Wynn Macau usa tecnologias inteligentes para aperfeiçoar as técnicas de cozinha tradicionais. Ao utilizar ferramentas de IA para analisar as reacções dos clientes e os padrões de serviço, pode melhorar continuamente a experiência gastronómica. As perspectivas sobre o papel da IA na cozinha de Macau variam entre os profissionais do sector. Alguns chefes adoptam a integração da tecnologia, encarando-a como uma forma de ultrapassar os limites da culinária. Os apoiantes argumentam que a IA pode ajudar a manter a essência cultural da comida macaense, ao mesmo tempo que inova com novos sabores e estilos de apresentação. Ao analisar grandes quantidades de dados culinários, a IA pode sugerir combinações únicas de ingredientes que poderiam não ocorrer aos chefes humanos. Por outro lado, há quem manifeste preocupação com a potencial perda de autenticidade. Os críticos argumentam que confiar demasiado na tecnologia pode prejudicar os métodos de cozinha tradicionais e o toque humano que faz parte integrante das artes culinárias. O seu ponto de vista sublinha a importância de preservar o património e as ligações emocionais associadas à comida feita à mão. Apesar destas diferentes perspectivas, a tese continua a ser que o papel da IA na indústria culinária de Macau pode representar uma evolução fascinante e não uma substituição da habilidade humana. (continua)
FRC | Dia Mundial da Poesia celebrado amanhã com tertúlia Hoje Macau - 20 Mar 2025 Decorre esta sexta-feira uma sessão na Fundação Rui Cunha que visa celebrar a poesia, a exemplo do que acontece em todo o mundo. A iniciativa “Dê Vida a um Poema”, coordenada pelo médico e autor Shee Va, é uma tertúlia em que todos são convidados a trazer poemas à sua escolha e a lê-los em conjunto, sempre na descoberta das palavras A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta amanhã, a partir das 18h30, uma sessão especial para celebrar a poesia. A tertúlia intitula-se “Dê Vida a um Poema” e pretende comemorar o Dia Mundial da Poesia, data instituída pela UNESCO na 30ª Conferência Geral em Paris, em 1999, para homenagear a expressão poética e a sua importância cultural nas sociedades em todo o mundo. O evento é organizado pela Associação dos Amigos do Livro em Macau e pela Associação de Poesia dos Amigos do Jardim da Flora, sendo “uma oportunidade para incentivar a leitura, apoiar os poetas e preservar a diversidade linguística e cultural, através da palavra escrita e falada”, descreve a FRC. Sob a forma de tertúlia, o público é convidado a passar pela galeria da FRC com um poema da sua preferência, em português ou chinês, para partilhar com os outros participantes, num serão com o propósito de enriquecer a experiência comum. A poesia, com a sua capacidade de emocionar, provocar reflexões e transmitir sentimentos, atravessa séculos e civilizações, sendo um dos pilares da arte literária. Forma de expressão Segundo a FRC, “mais do que um simples conjunto de versos, a poesia é uma manifestação da alma humana, que pode ser lírica, épica, social, filosófica ou experimental, adaptando-se às diferentes épocas e estilos”. “Desde os sonetos de Camões e os poemas clássicos de Liu Yong, até aos versos livres da poesia contemporânea, este género literário tem sido um meio poderoso de comunicação e resistência”, acrescenta-se. A sessão será conduzida pelo médico e escritor Shee Va, em representação da Associação dos Amigos do Livro em Macau, que convidará os participantes a revelar poemas com significado especial nas suas vidas. A conversa será realizada em português e chinês, conforme as leituras sugeridas. Shee Va, médico gastrenterologista e autor de diversos livros sobre a cultura chinesa, tem-se dedicado a várias iniciativas culturais, tendo integrado, em 2023, o IV Encontro Virtual de Escritores Lusófonos, na Venezuela. Em 2018, lançou uma obra sobre a ópera em Macau, com o nome “Ópera no FIMM 18- Tomo III“.
Hong Kong | Eleicões legislativas a 7 de Dezembro Hoje Macau - 20 Mar 2025 O Governo de Hong Kong anunciou terça-feira que a região vai realizar eleições a 07 de Dezembro para o parlamento, que pela segunda vez só irá aceitar “candidatos patriotas”. O líder do Governo de Hong Kong, John Lee, garantiu que a votação vai “seleccionar uma nova geração de legisladores que sejam patriotas, capazes e responsáveis”. O Chefe do Executivo sublinhou ainda que pediu ao Gabinete de Assuntos Constitucionais e do Continente, responsável pelas relações com Pequim, para trabalhar com a comissão eleitoral. John Lee disse que os dois órgãos vão “trabalhar em estreita colaboração (…) para fazer um planeamento adequado e elaborar planos de contingência em áreas como a publicidade, o recrutamento e formação do pessoal eleitoral”. Os actuais membros do Conselho Legislativo (LegCo, na sigla em inglês), o parlamento de Hong Kong, com 90 lugares, terminam o mandato de quatro anos no final deste ano. Desde a concretização da última reforma eleitoral em 2021, o LegCo não conta com qualquer representação da oposição. Isto porque a actual regulamentação proíbe a participação de candidatos que não sejam considerados patriotas. Todos os candidatos devem passar por uma avaliação de lealdade e conseguir o apoio de pelo menos 10 dos 1.500 membros do Comité Eleitoral, órgão que também nomeia diretamente 40 legisladores. A estrutura do LegCo estabelece que apenas 20 lugares serão eleitos por sufrágio directo pelos cidadãos de Hong Kong, menos 15 do que antes da reforma eleitoral. Os outros 30 são preenchidos por representantes de grupos funcionais, principalmente ligados a indústrias, ofícios ou profissões específicas. O Comité Eleitoral de Hong Kong tem actualmente 90 lugares, que serão preenchidos numa nova votação marcada para 07 de Setembro. Quase 8.600 eleitores foram registados neste organismo, que inclui empresas, profissionais e delegados do órgão legislativo da China continental, de acordo com dados de 2024, publicados pelo portal de notícias Hong Kong Free Press.
Adiada fábrica da BYD no México por receio de fuga de tecnologia para EUA Hoje Macau - 20 Mar 2025 A China está a adiar a aprovação de uma nova fábrica da BYD no México, por receio de que a tecnologia desenvolvida pela empresa possa acabar nas mãos dos EUA, informou ontem o Financial Times. Segundo fontes citadas pelo jornal britânico, que pediram para não ser identificadas, o Ministério do Comércio chinês considera que o México teria acesso ilimitado aos sistemas e tecnologias avançadas da BYD e que a proximidade do país em relação aos Estados Unidos poderia significar que os norte-americanos também poderiam aceder a essas tecnologias. A BYD anunciou em 2023 planos para construir uma fábrica no México, onde produziria cerca de 150 mil veículos por ano e criaria 10 mil postos de trabalho. O plano da empresa sediada em Shenzhen também incluía o fabrico de automóveis na Indonésia, no Brasil e na Hungria. No entanto, os fabricantes de automóveis chineses precisam de aprovação comercial para produzir veículos no estrangeiro, e Pequim está a dar preferência aos países que fazem parte da sua iniciativa de desenvolvimento de infraestruturas internacionais conhecida como “Faixa e Rota”. Por decidir De acordo com o jornal, o regresso de Donald Trump à Casa Branca fez com que o México perdesse algum do entusiasmo pelo projecto da BYD, tornando mais prioritária a manutenção das relações com o vizinho do norte face à ameaça de taxas sobre o comércio transfronteiriço. Depois de a equipa de Trump ter acusado o México de ser uma “porta das traseiras” para produtos chineses entrarem nos Estados Unidos sem pagarem os impostos aplicáveis, o Governo mexicano anunciou taxas contra os têxteis do país asiático e investigações ao aço e alumínio chineses por alegada concorrência desleal. “O novo Governo mexicano adoptou uma atitude hostil em relação às empresas chinesas, o que torna a situação ainda mais difícil para a BYD”, explicou uma das fontes citadas pelo Financial Times. Para Gregor Sebastian, analista da Rhodium, “o Governo mexicano gostaria obviamente de obter algum investimento chinês, mas a sua relação comercial com os Estados Unidos é muito mais importante”. Numa entrevista recente ao FT, a vice-presidente executiva da BYD, Stella Li, disse que a empresa “ainda não decidiu” o que vai acontecer com o plano de abrir uma fábrica no México: “Todos os dias há notícias diferentes. Temos de estar sempre a ver como melhorar e satisfazer, para conseguirmos o melhor resultado para todos”. No entanto, em Fevereiro, Li tinha avançado que a BYD iria escolher a localização da fábrica antes do final do ano. Em 2024, a fabricante de carros eléctricos vendeu mais de 40 mil veículos no México, e revelou que o objectivo para este ano é duplicar o volume de vendas e abrir 30 novos concessionários no país.
Pequim saúda empenho para um cessar-fogo na Ucrânia após chamada entre Trump e Putin Hoje Macau - 20 Mar 2025 A China saudou ontem “todos os esforços” para alcançar um cessar-fogo na Ucrânia, um dia depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter contactado o seu homólogo russo, Vladimir Putin. “Desde o início da crise, a China tem defendido a resolução do conflito através do diálogo e das negociações. Apoiamos todos os esforços para alcançar um cessar-fogo, pois acreditamos que este é um passo necessário para a paz”, disse ontem a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, quando questionada sobre a conversa entre os líderes dos EUA e da Rússia. Quanto aos relatos sobre o alegado envolvimento de empresas chinesas em actividades extractivas em território ucraniano ocupado pela Rússia, Mao Ning disse “não ter conhecimento dos pormenores específicos mencionados”. “No entanto, a posição da China sobre a crise na Ucrânia tem sido sempre consistente e clara. Os quatro pontos propostos pelo Presidente [chinês] Xi Jinping continuam a ser a nossa linha de orientação fundamental para abordar a questão”, acrescentou. A Casa Branca e o Kremlin informaram na terça-feira sobre o telefonema entre Trump e Putin, no qual o líder russo concordou em suspender temporariamente os ataques às infra-estruturas energéticas ucranianas enquanto Washington e Moscovo exploram negociações técnicas para um cessar-fogo marítimo no Mar Negro e, eventualmente, uma paz permanente. O Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, afirmou que “Putin rejeitou na prática a proposta de um cessar-fogo global” e denunciou os contínuos ataques da Rússia à Ucrânia. Jogo de equilíbrios Desde o início da invasão, a China tem defendido o respeito pela “soberania e integridade territorial de todos os países”, em referência à Ucrânia, ao mesmo tempo que apela a que sejam tidas em conta as “preocupações legítimas de todas as partes”, em referência à Rússia. Pequim opôs-se às sanções unilaterais contra Moscovo e apelou a um processo de paz que respeite o equilíbrio entre a segurança europeia e a estabilidade global. Neste contexto, a China tem mantido uma relação estreita com a Rússia, com um aumento do comércio bilateral e uma postura diplomática que tem sido criticada pelo Ocidente, que acusa Pequim de fornecer peças-chave para a indústria militar russa, algo que o Governo chinês nega. No domingo, terá lugar em Jeddah, na Arábia Saudita, uma nova ronda de conversações liderada pelos EUA, com a presença de delegações russas e norte-americanas, enquanto a Ucrânia deverá decidir a sua participação nos próximos dias.
Diplomacia | Pequim diz querer trabalhar com França para “evitar que mundo regresse à lei da selva” Hoje Macau - 20 Mar 2025 A conversa telefónica entre o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e o conselheiro diplomático da presidência francesa, Emmanuel Bonne, serviu para reforçar a cooperação estratégica entre os dois países face à crescente instabilidade global O chefe da diplomacia chinesa disse ontem esperar que China e França “trabalhem em conjunto para evitar que o mundo regresse à lei da selva”, numa conversa com o conselheiro diplomático da presidência francesa, Emmanuel Bonne. Citado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Wang Yi sublinhou que a situação global encontra-se num estado de “crescente incerteza e instabilidade” e apelou à França e à China para que “reforcem a sua parceria estratégica, protejam conjuntamente o multilateralismo genuíno e se oponham à hegemonia unipolar”. Durante a conversa, realizada por telefone, Emmanuel Bonne disse esperar que a China desempenhe “um papel importante na obtenção de um acordo de paz justo, sólido e sustentável” na Ucrânia, um conflito em relação ao qual Pequim tem mantido uma posição ambígua ao longo dos anos. Poder da palavra Wang Yi disse que a China “sempre defendeu a resolução da ‘crise’ através do diálogo” e saudou “todos os esforços que conduzem a um cessar-fogo, um passo necessário para a paz”, segundo um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, no mesmo dia em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o homólogo russo, Vladimir Putin, concordaram em iniciar o processo de paz com a Ucrânia, com um cessar-fogo parcial, centrado nas infra-estruturas e na energia. O diplomata chinês também instou a China e a União Europeia a resolverem os atritos comerciais e económicos através do diálogo, após meses de disputas entre as duas partes sobre questões como os veículos eléctricos chineses. “A França opõe-se às guerras comerciais e tarifárias e está disposta a trabalhar com a China para resolver adequadamente as fricções económicas e comerciais através do diálogo”, afirmou Bonne.
Gongbei | Apanhados com 84 telemóveis em viaturas Hoje Macau - 20 Mar 2025 As autoridades da alfândega de Gongbei anunciaram a intercepção de dois carros com matrícula dupla, conduzidos por residentes de Macau, que tentaram entrar no Interior com 84 telemóveis antigos escondidos nos veículos. O caso aconteceu na manhã de quarta-feira da semana passada, por volta das 11h, quando os dois carros tentaram atravessar a fronteira. Contudo, os equipamentos para inspeccionar os veículos revelaram várias “anomalias” em diferentes partes das viaturas, que levantaram suspeitas aos agentes da alfândega. Após a inspecção, os agentes encontraram telemóveis escondidos em locais como o compartimento para as luvas, debaixo dos bancos dos veículos com sete lugares, nas paredes do veículo e debaixo dos tapetes da viatura.
Covid-19 | Caso colectivo com 11 infectados Hoje Macau - 20 Mar 2025 Os Serviços de Saúde (SS) anunciaram um caso colectivo de covid-19 no Centro de Santa Margarida, na Taipa, que causou 11 infectados, entre os quais 8 utentes do lar e 3 trabalhadoras. O caso está a ser acompanhado pelos SS, que garantem não haver casos graves a assinalar. Os primeiros sintomas foram apresentados a 17 de Março, com os doentes a apresentarem febre e tosse. Nessa altura foram realizados os primeiros testes rápidos, que acusaram resultados positivos. “As condições clínicas das doentes são consideradas estáveis, não foram registados casos graves ou outras complicações. Os Serviços de Saúde irão monitorizar rigorosamente e acompanhar a situação de saúde dos indivíduos infectados e não infectados”, foi prometido, em comunicado. As autoridades indicaram também que o estabelecimento aplicou medidas de controlo da infecção, como o reforço na desinfecção, limpeza e manutenção da ventilação de ar no interior das instalações.
Clima | Observatório de HK prevê até oito tufões este ano João Luz - 20 Mar 2025 O Observatório de Hong Kong prevê que este ano as temperaturas na região continuem a aumentar, devido ao impacto das alterações climáticas. São também esperados até oito tufões a passar num raio de 500 quilómetros da cidade, que fica a cerca de 65 quilómetros de Macau, a partir de Junho O Observatório de Hong Kong lançou na terça-feira uma previsão para 2025 que aponta para temperaturas mais elevadas devido ao impacto contínuo das alterações climáticas. A entidade que monitoriza os fenómenos meteorológicos e climáticos na cidade vizinha, e que normalmente está em consonância com os Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau, estima que este ano entrem num raio de 500 quilómetros da cidade até oito ciclones tropicais, a partir de Junho ou mesmo antes. A agência de meteorologia afirmou ainda que Hong Kong será afectada por tempestades e chuvadas fortes e localizadas, apesar de prever que a precipitação anual se situe dentro dos valores normais. “De um modo geral, as temperaturas em Hong Kong têm registado uma tendência ascendente nos últimos anos. De facto, no último ano, registámos a temperatura de vento mais elevada de Hong Kong. É o resultado da urbanização e também do efeito das alterações climáticas”, disse o director do observatório, Chan Pak-wai, citado pela emissora pública RTHK. O director do Observatório de Hong Kong apontou que 2024 foi o ano mais quente desde que existem registos globais e que na região foram registados 11 meses com temperaturas acima do habitual. Em lume brando Segundo os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) da RAEM, no ano passado a temperatura média em Macau foi de 23,6 graus celsius, 0,8 graus acima dos valores médios climáticos, igualando o ano mais quente desde que há registos (2019). Aliás, 2024 foi um ano de recordes a quase todos os níveis meteorológicos, somando às elevadas temperaturas, as tempestades tropicais e chuvadas torrenciais. Na análise anual referente a 2024, divulgada no início de Janeiro, os SMG justificaram a ocorrência mais frequente de fenómenos extremos e a subida do nível do mar com o aumento da temperatura e o aquecimento oceânico, representando uma ameaça para cidades costeiras como Macau. No ano passado, Abril foi um mês em destaque como o mais quente desde Abril de 1952, “tendo a temperatura média mensal, a temperatura média mensal mais elevada e a temperatura média mensal mais baixa batido todos os recordes, atingindo os valores mais elevados de sempre para o mesmo período”, destacam os SMG. No total, Macau registou no ano passado 42 dias quentes, mais 10,7 em relação aos valores médios climáticos, de 31,3 dias.
Shenzhen | Registado incidente na Central Nuclear de Ling Ao Hoje Macau - 20 Mar 2025 As autoridades anunciaram o registo de um incidente na Central Nuclear de Ling Ao, em Shenzhen, que terá tido ocorrido a 27 de Novembro do ano passado, quando uma caixa de dessalinização do sistema de controlo químico foi deixada aberta, após uma operação de substituição. O caso foi relatado na terça-feira pelos Serviços de Polícia Unitárias, que receberam um relatório do Gabinete da Comissão de Gestão de Emergência Nuclear da Província de Guangdong sobre a ocorrência. “No dia 27 de Novembro de 2024, durante o processo de substituição da caixa de dessalinização do sistema de controlo químico e de volume da unidade 1 da Central Nuclear de Ling Ao, a válvula de isolamento da saída da caixa de dessalinização não foi fechada conforme solicitado, fazendo com que o nível de líquido do tanque de controlo tenha descido”, foi comunicado, citando a informação das autoridades do Interior. “O pessoal no terreno suspendeu de imediato a operação, tendo o nível de líquido do tanque de controlo estabilizado. Durante o tratamento, a unidade 1 manteve o funcionamento seguro e estável, apresentando os parâmetros dentro da normalidade, não tendo afectado a segurança da central, do seu pessoal”, foi acrescentado. A Central Nuclear classificou a presente ocorrência, no dia 17 de Março, como um acontecimento de desvio de nível 0, e comunicou o sucedido à entidade nacional de supervisão e controlo. De acordo com a Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES, na sua sigla em inglês), os incidentes nucleares são classificados numa escola de 1 a 7. Para as autoridades do Interior o nível 0 é considerado “como um desvio que não se inclui na INES e serve essencialmente para a correcção de desvios e retorno de experiências”.
Escolas | Novas orientações para o uso de telemóveis João Luz e Nunu Wu - 20 Mar 2025 Os serviços sociais da Sheng Kung Hui Macau receberam pedidos de ajuda relacionados com vício de internet referentes a crianças entre os seis e oito anos de idade. A DSEDJ vai lançar orientações para o próximo ano lectivo sobre as alturas e circunstâncias em que os alunos podem usar o telemóvel O Governo vai lançar um conjunto de orientações sobre o uso de telemóveis para alunos de escolas do ensino não superior do território, que passará a vigorar a partir do próximo ano lectivo. A medida foi revelada ontem pelo chefe da divisão de ensino secundário da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DESDJ), Leong I On, durante o programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. O responsável indicou que as orientações vão servir de guia de gestão, e um ponto de partida para escolas e pais chegarem a consensos, indicando as circunstâncias em que os estudantes podem utilizar o telemóvel, mas limitando o seu uso durante as aulas e mesmo nos intervalos Para ajudar as escolas a transitar para a nova realidade, a DSEDJ compromete-se em apoiar as escolas a comprar armários para guardar os aparelhos. No mesmo programa, o chefe de divisão de desenvolvimento curricular e avaliação da DESDJ, Cheang Sek Kit, lembrou que o Governo difundiu entre as escolas do território instruções que devem ser incluídas no sistema de ensino sobre o bom uso da internet. Estas instruções indicam que um uso adequado e saudável da internet por um jovem não deve ultrapassar uma média diária de uma hora, com intervalos de 20 em 20 minutos. A chupeta do ecrã Por outro lado, um representante dos serviços sociais da Associação de Beneficência Sheng Kung Hui (Macau) relevou aos microfones da emissora pública que o vício na internet afecta jovens cada vez mais novos. Ho Ka Hong, assistente social da organização de serviços sociais ligada à Igreja Anglicana, vincou a necessidade de reforçar a literacia cibernética nas escolas e promover o bom uso da tecnologia entre os mais novos. “A nossa organização acompanha na sua maioria jovens com idades entre 10 e 24 anos viciados na internet. No entanto, já recebemos pedidos de ajuda de pais devido ao uso excessivo de internet por filhos com idades entre seis e oito anos”, referiu o assistente social. Ho Ka Hong recordou que em 2022, a Sheng Kung Hui realizou um inquérito sobre literacia na internet que mostrou, sem surpresa, que o estado mental dos jovens se deteriora consoante o tempo que passam online, com particular incidência para o uso de redes sociais. “Os jovens estão sempre atentos às notificações das suas redes sociais, o que pode influenciar as suas emoções e causar ansiedade”, acrescentou o assistente social.
Grande Prémio | Luís Gomes nomeado coordenador Hoje Macau - 20 Mar 2025 O presidente do Instituto do Desporto (ID), Luís Gomes, foi nomeado coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau para o ano de 2025. A nomeação foi revelada ontem, através de um despacho publicado no Boletim Oficial. A vice-presidente do ID, Lei Si Leng, foi nomeada coordenador-adjunta, sendo que Vong Ka Kun foi escolhido como secretário-geral. Entre os 21 membros da comissão constam ainda os nomes de Maria Helena de Senna Fernandes e Cheng Wai Tong, em representação da Direcção dos Serviços de Turismo, Maria Natércia Gil, em representação do Gabinete de Comunicação Social ou Roberto Carlos Osorio, em representação da Associação Geral de Automóvel de Macau-China. A nível das personalidades ligadas ao turismo fazem parte dos escolhidos Chong Coc Veng e Chan Chak Mo.
Zona A | Aliança do Povo queixa-se de falta de acessos Hoje Macau - 20 Mar 2025 A associação Aliança do Povo de Instituição de Macau criticou a falta de acessos à Zona A dos Novos Aterros Urbanos, principalmente ao nível dos transportes públicos. Em declarações ao jornal do Cidadão, a vice-presidente da associação, Chan Ian Ian, apontou que actualmente apenas há um único autocarro a fazer esse percurso e para quem tem como destino a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, o que não é conveniente para os residentes que pretendem circular na Zona A. A vice-presidente recordou ainda que os vencedores do concurso da habitação económica na Zona A de 2019 começaram a escolher as casas, mas que a zona A, com apenas 98 habitações seleccionadas, é a menos popular. Para explicar este aspecto, a responsável indicou que a Zona A é tida como uma zona inconveniente devido a falta de transportes. Por esta razão, a responsável defende que o Governo tem que melhorar as instalações de trânsito e apresentar um calendário para criar paragens de autocarros e parques de estacionamentos.
DSEDT | Novos subdirectores tomaram posse Hoje Macau - 20 Mar 2025 Os novos subdirectores da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) tomaram ontem posse diante de Yau Yun Wah, director. A cerimónia foi testemunhada pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. Durante a tomada de posse, Cheang Hio Man prometeu “cumprir empenhadamente as missões, concretizando, plenamente, em conjunto com todos os colegas da DSEDT, as linhas de acção governativa e os diversos planos de trabalho do Governo”. A subdirectora destacou também a necessidade de implementar a “estratégia de desenvolvimento da diversificação adequada da economia”, “estimular a economia comunitária”, lançar “medidas e serviços de apoio às pequenas e médias empresas” e “capacitar as empresas industriais e comerciais para um desenvolvimento qualitativo”. Por sua vez, Chan Chou Weng prometeu “assumir toda a responsabilidade para concluir os diversos trabalhos da DSEDT, particularmente os trabalhos para a promoção do desenvolvimento da diversificação adequada da economia de Macau, bem como irá empenhar-se, juntamente com todos os colegas da DSEDT, em implementar os trabalhos relativos ao desenvolvimento saudável das pequenas e médias empresas”. O subdirector vincou também a necessidade de promover a “transformação digital das indústrias tradicionais” e melhorar a “ecologia da inovação científica e tecnológica”. Segundo Chan, estes objectivos permitem ao território “aumentar a resiliência económica”.
Restauração | Chan Chak Mo pede mais apoios ao Governo João Santos Filipe - 20 Mar 2025 O presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau reconheceu que existe um ambiente generalizado de “falta de crença” no futuro e que a guerra comercial entre os EUA e a China pode agravar ainda mais a situação O deputado e presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, Chan Chak Mo, defende o aumento dos apoios do Governo aos restaurantes e ao comércio local. As declarações foram prestadas aos órgãos de comunicação social em língua chinesa, na tomada de posse dos novos órgãos sociais da associação. De acordo com as explicações de Chan, os proprietários dos restaurantes estão muito preocupados com as mudanças nos padrões de consumo e no poder de compra dos visitantes. O deputado explicou que apesar do número de visitantes ter aumentado em Fevereiro e em Março, face ao período homólogo, que muitos restaurantes não estão a sentir os benefícios desse aumento. Os meses mais recentes foram mesmo caracterizados como períodos com receitas “sofríveis”, o que Chan afirmou contribuir para agravar a situação complicada da restauração. A este cenário junta-se um Ano Novo Lunar com um impacto muito diferente, e nem sempre de acordo com as expectavas. Segundo o empresário, os restaurantes junto aos grandes casinos foram beneficiados pela época alta do turismo. No entanto, o impacto para os outros restaurantes foi variável, e em muitos casos abaixo das expectativas. Por este motivo, Chan Chak Mo apelou ao Governo para lançar novas medidas de apoio, como o Carnaval Do Consumo, que começa na próxima semana, mas também a revitalização eficaz dos bairros antigos, maiores facilidades na emissão das licenças para os novos restaurantes e a criação de mais eventos de turismo, para levar os visitantes aos bairros comunitários. Receitas a descer A nível do seu negócio de restauração, Chan Chak Mo reconheceu que até os restaurantes nas zonas mais turísticas da cidade estão a sofrer, com as receitas a apresentarem quebras de 10 a 20 por cento. Quando tentou explicar estas alterações, Chan indicou a quebra da confiança na economia dos visitantes, o ambiente de incerteza económica no Interior e a redução do número de visitantes no pós Ano Novo Lunar. Face a todas as alterações, o presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau admitiu também que o sector atravessa uma fase de “falta de crença” generalizada. Neste contexto, e tendo em conta a possibilidade de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, Chan defendeu que o Governo deve adoptar mais medidas de apoio à restauração, como a distribuições de cupões de consumo e a realização de actividades nos bairros comunitários, para atrair turistas.
Saúde | Alvis Lo continua director por mais um ano Hoje Macau - 20 Mar 2025 O director dos Serviços de Saúde (SS), Alvis Lo Iek Long, viu a sua comissão de serviço renovada por um ano, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial. Lo chegou ao cargo de director em 2021, em plena pandemia da covid-19, substituindo Lei Chin Ion. Além de director dos SS, Lo mantém uma vida muito activa a nível das associações locais, como membro da Federação da Juventude de Macau e na Federação da Juventude da China. No passado integrou também a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês da Província de Henan. Alvis Lo tem uma licenciatura em Medicina Clínica pela Universidade de Medicina de Chong San, mestrado em Medicina Clínica pela Universidade de Pequim, outro mestrado em Medicina Geriátrica pela Universidade de Hong Kong e ainda doutoramento em Medicina (Medicina Interna) pela Universidade Sun Yat-Sen. É trabalhador da Função Pública de Macau desde 2003, e começou como interno do internato geral e do internato complementar, passando a médico assistente e médico consultor. Em 2015, assumiu as funções de responsável do Serviço de Geriatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário, até que em 2016 foi nomeado para coordenador do Centro de Avaliação e Tratamento da Demência. Antes de se tornar director dos SS, era médico-adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário.
Saúde | Sam Hou Fai diz que Hospital das Ilhas terá “influência internacional” João Santos Filipe - 20 Mar 2025 Um centro médico de “primeira classe” e com “influência internacional”. Foi esta a promessa de Sam Hou Fai para o futuro do Hospital das Ilhas. O líder do Governo afirmou ainda que o Executivo está a trabalhar para que os residentes possam tratar doenças graves em Macau, em vez de procurarem tratamento no exterior O Chefe do Executivo afirmou que o Hospital das Ilhas, explorado pelo Hospital Peking Union Medical College, vai alcançar “influência internacional”. As declarações surgem no comunicado oficial de um encontro, à porta fechada, com o presidente honorário do Peking Union Medical College Hospital (PUMCH) e presidente da Associação Chinesa dos Profissionais de Medicina, Zhao Yupei. Durante a reunião, que foi comunicada na terça-feira à noite, Sam Hou Fai afirmou que “com o esforço conjunto” o Governo e a instituição nacional “conseguirão definitivamente criar um centro médico de primeira classe com influência internacional, contribuindo para desenvolver o sector da ‘saúde + turismo’ e enriquecendo a indústria de da saúde compreensiva”. O Hospital das Ilhas é a aposta do Executivo para desenvolver Macau como um centro de turismo de saúde, tendo a exploração do espaço, construído com capitais públicos, sido atribuída ao Hospital Peking Union Medical College. Esta aposta também é encarada por Sam Hou Fai, e pelo seu antecessor Ho Iat Seng, como o caminho para alcançar a diversificação da economia do território. Actualmente, o Hospital das Ilhas é gerido como uma instituição privada, pelo que os residentes têm de pagar o preço de utilização. A excepção só se verifica quando os residentes são encaminhados pelos Serviços de Saúde para a instituição, acedendo a cuidados médicos nas condições de serviço público. Ficar em Macau Entre as declarações citadas no comunicado oficial, Sam Hou Fai apontou ainda o Hospital das Ilhas como a esperança para que os residentes deixem de ter de sair de Macau para tratar doenças mais graves. O líder do Governo disse que “para alcançar o objectivo de ‘Tratar doenças graves sem sair de Macau’, o Centro Médico de Macau expande gradualmente os seus serviços de consultas externas especializadas, o que demonstra claramente a determinação do Governo da RAEM no alargamento da cobertura de saúde e na optimização da distribuição de recursos médicos”. As declarações surgem depois da recente abertura das consultas externas especializadas a não-residentes de Macau, como trabalhadores, alunos e outras pessoas com autorizações especiais de fixação. No entanto, o objectivo passa por alargar o serviço a turistas de saúde. Neste aspecto, o governante indicou que a abertura das consultas externas “não só proporciona uma opção conveniente aos não-residentes de Macau, como também aumenta a atractividade para os residentes da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e dos países do Sudeste Asiático”. Durante o encontro foi também assinado o acordo sobre a “taxa de cooperação operacional 2025 do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas – Centro Médico de Macau do Peking Union Medical College Hospital”. Contudo, o conteúdo do documento, não foi revelado, nem o eventual pagamento por parte do Governo à instituição do Interior da China.
Charles William Ricou e a história da aviação em Macau Andreia Sofia Silva - 20 Mar 202521 Abr 2025 Célia Reis, historiadora e docente, encontra-se a desenvolver um projecto de investigação em torno dos primórdios da aviação em Macau e foi esse o tema que levou às “Conferências da Primavera” na segunda-feira, com a sessão “A aviação e navegação aérea em Macau nos anos 20 – um processo de inovação colonial”. Célia Reis falou de um período em que a aviação começou a ser importante para a China, por questões de segurança, e começa também a ser pensada para Macau. Neste processo, há uma personalidade cujo nome importa reter, um francês nascido em Hong Kong: Charles William Ricou, um piloto formado em engenharia e em aviação. Este começou a equacionar, a partir de Novembro de 1919, a possibilidade de “estabelecer uma carreira aérea entre Macau, Hong Kong, Xangai, Filipinas, Java, Índia”, contactando com entidades governamentais locais para a obtenção de facilidades e acordos. Célia Reis explicou que Ricou pretendia formar duas companhias aéreas, a “Far East Aviation Company”, com “uma ligação bastante mais alargada, chegando até Manila”, e outra para ligar Macau, Hong Kong e Cantão, com o nome “Macau Aerial Transport Company Limited”. Esta empresa “foi constituída em Hong Kong, com um capital de 50 mil dólares, e tinha como sócios fundadores personalidades de Macau, como Humberto de Avelar, Rodrigues dos Santos, Francisco Nolasco e Francisco da Silva”. A historiadora disse ainda na apresentação que a ideia “era completar o resto do capital necessário com acções de baixo valor para que pudessem ser compradas por todos [os habitantes] em Macau”. “Chega mesmo a haver o apelo por parte do conselho de administração da companhia para que os macaenses subscrevessem o capital, mostrando que a empresa era extremamente importante para os habitantes de Macau, realçando-se o seu valor patriótico, de solidariedade para com o progresso”, acrescentou. “Várias vozes demonstraram nessa altura que o sucesso comercial da companhia, no início, poderia ser pouco ou nenhum, embora se pensasse que a empresa poderia vir a ter alguns lucros, tendo a capacidade de servir de transporte ao correio aéreo. Porém, essa capacidade de transporte seria extremamente limitada, pois o número de objectos de correio a transportar de Macau eram 24 cartas por dia”, adiantou Célia Reis. Na altura pensava-se que Macau seria pioneira, pois “seria o primeiro território a Extremo Oriente a ter uma companhia de aviação”, algo que “traria mais visitantes e aumento do comércio”. O Governo de Macau, então liderado pelo Governador Correia da Silva, “cede aos apelos da companhia, concedendo várias facilidades, como a permissão de construção de um hangar provisório num terreno público que estava vago ou de infra-estruturas de acesso ao mar”. Além disso, foi permitida “a isenção do pagamento do imposto sobre o armazenamento do combustível”. Assim, Macau chegou a ter hidroaviões e 21 aviadores americanos contratados pela companhia. “Considerava-se que era o maior carregamento de material aéreo exportado pelos Estados Unidos da América (EUA), todo trazido para Macau.” Depois, a companhia tenta organizar-se, “chegando a pedir espaço na ilha da Taipa, concebida para ter hangares definitivos, embora tenham existido concessões provisórias”. Nesse contexto, recordou a historiadora, “houve subsídios, um contrato para o transporte de malas postais”, para que se “permitisse um desenvolvimento da navegação aérea”. Impasses até ao fim Em Maio de 1920 surgiu uma nova convenção mundial na área da aviação, à qual Portugal adere, o que faz com que a “Macau Aerial Transport Company Limited” tivesse de ser nacionalizada. O projecto chega a avançar, mas depressa recua. “A companhia aérea acede, portanto, a nacionalizar-se com a condição de obter um subsídio, e ter quatro aviões disponíveis para o serviço militar em Macau, caso fosse necessário. A questão da defesa estava sempre presente. Começou depois a haver algum desentendimento entre as condições exigidas pela companhia e aquelas que o Governador entendia serem necessárias. Além disso, o Governo de Macau precisava da autorização de Lisboa para o funcionamento da companhia aérea. Lisboa demora muito a responder, mas depois diz que o Governador pode avançar, e este começa a negociar com a companhia. Porém, começam a surgir vozes em Lisboa que vão fazer com que as coisas mudem.” Tal passa pela ideia de que os EUA estariam a demonstrar interesses ocultos através do estabelecimento da companhia. “[Em Lisboa] receia-se que esta seja a forma encontrada de uma companhia de aviação americana instalar-se em Macau, território português, por vias diferentes.” Primeiro, Lisboa proíbe, recuando-se nas negociações, sendo que o Governador seguinte, Rodrigo Rodrigues, “não está de acordo com a companhia, entendendo que não será viável”, o que leva a que todo o projecto e diálogo fiquem suspensos. Célia Reis destacou ainda que “o Governo de Correia da Silva passou por várias dificuldades nestes anos, em termos de segurança”, tendo ocorrido “incidentes muito graves na relação entre Portugal e a China”. “Por essa razão, o Governador considerava que ter aviões era extremamente importante porque, neste momento, a China também estava a recorrer à aviação. As autoridades de Portugal, porém, consideravam que os aviões de Macau não teriam nenhuma importância, comparando com o conjunto de aviões que teria a China ou mesmo o Japão. Quando se dá permissão para a constituição da companhia aérea em Macau, Lisboa entende que o território estava numa situação preocupante e poderia ter aviões com funções militares, mesmo que fossem poucos”, explicou a historiadora. O projecto cairia, porém, por terra.
Eleições | José Cesário alerta para problemas com CTT Hoje Macau - 19 Mar 2025 José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, defendeu à TDM Rádio Macau que os habituais condicionalismos no funcionamento das eleições em Portugal, nomeadamente as legislativas de 18 de Maio, vão ocorrer novamente devido ao funcionamento dos CTT. Para José Cesário, esses condicionalismos do sistema vão afectar a participação eleitoral dos portugueses emigrados. “A Assembleia da República não produziu qualquer espécie de alteração legislativa que possa vir a ser considerada num actual processo eleitoral. Portanto, não havendo qualquer alteração, o método vai ser exactamente o mesmo”, disse o responsável. Na prática, o eleitor vai continuar a ter de receber o boletim de voto pelo correio na morada indicada, entregando-o depois nos CTT. Porém, atrasos no funcionamento dos serviços ou outras burocracias fazem com que nem sempre seja possível receber o boletim a tempo e horas, por exemplo, gerando um potencial aumento da abstenção. “Temos plena consciência que há dificuldades variadíssimas no domínio do funcionamento dos sistemas de Correios de vários países, e essa é uma matéria difícil de superar”, disse. O secretário de Estado espero que as eleições legislativas de Maio possam decorrer “da melhor forma possível”. “Infelizmente sei muito bem que há países em que o funcionamento dos Correios vai limitar fortemente a participação eleitoral”, frisou. Os problemas são de vária ordem e passam por situações em que “as pessoas, por motivos diversos, ou por terem mudado residência, ou por não terem votado em várias eleições sucessivas, podem não receber o voto”. Os portugueses vão novamente a eleições a 18 de Maio na sequência do chumbo à moção de confiança apresentada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na Assembleia da República, levando à dissolução do parlamento.
Panamá | Pequim critica coerção económica Hoje Macau - 19 Mar 2025 A China evitou ontem comentar o acordo alcançado pelo conglomerado de Hong Kong CK Hutchison para vender as suas participações nos portos do Canal do Panamá ao fundo norte-americano BlackRock, limitando-se a rejeitar a “coerção económica” na cena internacional. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, apelou à “consulta das autoridades chinesas competentes” para obter pormenores específicos sobre o negócio, sem se referir directamente à transação ou a relatos de uma possível interferência de Pequim para impedir a venda. Mas acrescentou que a China rejeita a “coerção económica, hegemonia e intimidação” na cena internacional. As declarações surgem num contexto de crescente tensão sobre o acordo, depois de críticas difundidas por um jornal de Hong Kong afiliado a Pequim. Os portais oficiais da administração chinesa em Macau e Hong Kong divulgaram na sexta-feira o comentário, difundido pelo jornal Ta Kung Pao, uma publicação da antiga colónia britânica vista como sendo próxima de Pequim. O jornal considerou que o negócio que transferiu para um consórcio que inclui a BlackRock e a Terminal Investment Limited uma participação de 80 por cento num conjunto de subsidiárias portuárias, que gerem 43 portos em 23 países, incluindo os portos em ambas as extremidades do Canal do Panamá, em Balboa e Cristobal, “não é uma prática comercial normal”. “Muitos internautas [chineses] criticaram fortemente este acordo e a CK Hutchison Holdings, considerando-o como uma cedência sem espinha, visando apenas o lucro e esquecendo a justiça, ignorando os interesses nacionais e os grandes princípios nacionais, traindo e vendendo todo o povo chinês. Estas expressões emocionais são completamente compreensíveis”, lê-se.
Um libreto de perdição Amélia Vieira - 19 Mar 2025 Alguns de nós pertence àquela geração que passava as férias de Verão a ler «Os Cinco» e eram tantas as aventuras, tão perigosos os caminhos, tão suculentos os piqueniques, que engordávamos pelas descrições muito inglesas daqueles deleites nessas tardes onde ninguém queria saber de nós para além do essencial, mas queríamos exactamente como nestes livros, frascos de compotas, sandes, leite, ovos, bacon, pão e scones. Por cada passagem, depois de descobertas as fontes criminais, apetite redobrado e toalha no chão. O quinto elemento deste grupo era um cão que tudo anunciava, previa, e instigava os petizes. Aquilo era tão hipnótico que nunca soubemos o porquê da Zé querer ser um rapaz. Agora à distância poderemos falar de uma personagem andrógina que jamais se vinculou ao seu género feminil, onde Ana, híper-sensível, denotava um padrão mais intuitivo que se impunha a um grupo altamente apaixonante e disfuncional. Poderia ser um libreto para o pentágono perturbador de uma realidade nacional que culmina sempre em cinco mas jamais com ânsias infanto-juvenis. No entanto, é bom lembrar que há ainda um muito recente e tresloucado Sebastião que caberia nesta prosódia onde quinas e coisas estranhas se encaixariam na perfeição. Estamos em Março e lembramos como se a vida fosse uma eterna primeira vez. Depois disto vem logo Camilo Castelo Branco, e tudo se encaminhou para outra tónica bem mais radical que uma qualquer aventura entre primos, férias, contrabandistas, e é aí que entendemos que uma etapa acabou para entrarmos noutra, mais grave, complexa e ferozmente apaixonada. Damo-nos conta que as aventuras nunca nos fizeram chorar, mas que os nossos membros em crescimento e a dor de tudo isso, pela primeira vez destilam outras lágrimas que trariam também aquele elemento desconhecido que é o primeiro amor. Entrávamos na puberdade com um livro em chamas: «Amor de Perdição». Para não magoar os inúmeros “camilianos” de passagem pelo seu aniversário, vale a pena recordar neste instante Alexandre Cabral, e também o libreto de António S. Ribeiro, uma peça baseada no romance que fez estreia no Teatro de São Carlos em 1991, que é de facto uma preciosa síntese da narrativa de um cárcere que teve de alongar os fios condutores de um tempo morto na masmorra: os diálogos preciosos trazem-nos à ideia todas as passagens do romance e deixam-nos num assombro que já não esperávamos. As leituras nesta releitura tornam-se intérpretes da mesma voltagem. Integração, desintegração, e o texto continua. E é aqui que começa o acto literário: já não falamos das nossas vidas, das emoções, das coisas, mas de um arquétipo abstrato, sensível e maior que produz uma metalinguagem passível de nos interpelar como uma vibração humana que só um grande autor sabe como conduzir. Foi a golpes de fero destino que Camilo acorda para um processo amoroso absolutamente monumental onde as feridas mais tardias de Ana Plácido sempre serão coisas menores. Foi essa dimensão entre o amante liberal, boémio, jovem e belo, e a seiva graciosa de Teresa de Albuquerque, refém de absolutistas e seus reacionários dirigentes, que o drama se dá como vitória de elementos desencontrados. O mesmo país que não permitia o amor continua estranhamente sem saber amar. Este amor é um acto de unicidade e dele devemos colectivamente tirar as devidas elações. É também a ternura da fresca Primavera da vida que faz dos desejos uma lei maior, mas…: e é aqui que esbarramos com a dúplice condição. Que faz Mariana como elemento deste enredo? Estamos na presença de um grande arquétipo sacrificial. Camilo nunca deixou de ser polígamo, e o seu transcendente desejo de ser amado encontra por fim a vítima preferencial. Amiga! Minha amiga! Agora toco-te e tu és real E queimas mais que o delírio antigo. Agora olhas-me e eu cresço Cresço alto e muito Mais que a espuma do mar! Simão Botelho partiria para as Índias numa madrugada de 17 de Março, Teresa Albuquerque morreria, Mariana segui-lo-ia até o Oceano lhes servir de mortalha. É de facto um monumental instante. Camilo Castelo Branco era um profissional da escrita, e não um “parvenu”. Escrever é uma profissão, e por isso nada é mais digno que o seu exemplo feito de forma absolutamente talentosa. Todas as considerações morais distam agora de um espaço de duzentos anos, e o mais impressionante é ainda o termos de saber de todas as paralelas outras coisas. Quando perguntam; és um robot? Digo não. Somente por ter lido «Amor de Perdição».