O Perfume da Mão do Buda e as Borboletas de Ma Quan

Aisin-Gioro Xuanye (1654-1722), o imperador Kangxi, possuía uma imensa curiosidade que o conduzia a conhecer de forma sistemática as mais diferentes possibilidades de expressão do espírito e à observação directa das incontáveis maravilhas que possuía o reino que lhe coube governar.

O que o levou, de forma inédita, a transpor os muros da sua Cidade Proíbida e não apenas nas suas «Viagens de inspecção ao Sul», para sentir pessoalmente os efeitos causados na memória pela presença física num ambiente distinto do seu viver habitual.

Entre as várias catalogações de prodígios observados mereceram-lhe particular atenção as flores, nas suas diferentes formas e beleza fugídia e de modo especial as flores odoríferas que por sinestesia possuíam a capacidade de ligar a memória de um momento e um lugar ao olfacto.

Assim, mandou compilar uma Memória de todas as flores fragrantes e caligrafou poemas num álbum de doze páginas duplas de Pinturas e poemas de incontáveis flores fragrantes, pintadas pelo pintor da corte Jiang Tingxi (1669-1732) que o acompanhava nas suas deslocações de exploração da beleza natural.

Um surpreendente exemplo da flora que descobriu é referido no título de uma pintura datada de 1715, Citrino mão de Buda pintado do natural (rolo vertical, tinta e cor sobre seda, 95,9 x 81,9 cm, no Museu do Palácio Nacional em Taipé). No poema que a acompanha, Kangxi explica que a estranha planta que tem um fruto odorífero «mão de buda» (citrus medica), que na classificação em grego sarcodactylis, «dedos de carne», aponta a sua forma semelhante a dedos humanos, lhe foi oferecida por habitantes da distante Bamin (Fujian) e replantada no seu jardim imperial.

Ampliando o poder evocador da planta, a sua designação na língua dos Han, foshou, resulta numa homofonia ligando duas palavras fo, «boa sorte» e shou, «longa vida». Deitada na horizontal também se assemelha ao dhyana mudra, um gesto que no budismo transmite a ideia da meditação. A planta inspirou uma pintora de Changshu que estava fora da cidade imperial e que adoptara como nome de pincel a expressão Jiangxiang, «Rio perfumado».

Ma Quan (1669-1722) vinha de uma família de pintores, como foram o seu avô ou o seu pai MaYuanyu (c.1669-1722), reconhecidos mestres na pintura de pássaros e flores que adoptavam a técnica mogu, «sem ossos», ou seja executada com cores e sem uma estrutura linear, derivada da renovação do género outorgada a Yun Shouping (1633-90).

No rolo horizontal atribuído a Ma Quan, Flores e borboletas (tinta e cor sobre papel, 27,9 x 248,9 cm, no Metmuseum) estão figuradas em grupos, flores rodeadas de grandes borboletas numa gradação de tinta preta, por sua vez rodeadas de outras mais pequenas e claras. Entre as flores apenas um fruto, a mão do Buda. Com o seu intenso perfume cumprindo a sua vocação para a surpresa.

Gestão de auto-silos | Aceites 9 de 12 propostas entregues

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) aceitou, esta sexta-feira, 9 de 12 propostas submetidas a concurso público organizado para a gestão de vários parques de estacionamento públicos, nomeadamente o Auto-Silo do Edifício da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, do Auto-Silo do Edifício Fai Fu, do Auto-Silo do Lido, do Auto-Silo do Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa, do Auto-Silo do Edifício do Lago e do Estacionamento Público da Residência para Idosos da Avenida do Nordeste.

Segundo um comunicado da DSAT, foram apresentadas propostas de retribuição de base trimestral entre 1,088 milhão de patacas e 2,038 milhões de patacas, sendo que as três sociedades foram excluídas por terem desistido voluntariamente do concurso, é explicado.

O prazo de concessão para a gestão é de seis anos e abrange 2188 lugares de estacionamento para automóveis ligeiros e 1858 para motociclos e ciclomotores. A DSAT explica que a entidade concessionária será responsável “não apenas pela gestão e exploração quotidiana dos auto-silos, mas também pela optimização do sistema de pagamento electrónico e sem contacto dos auto-silos, pelo reforço dos sistemas de vigilância de segurança” e “implementação de equipamentos ecológicos e energeticamente eficiente, e pela melhoria das instalações existentes”.

Água | Garrafões de Miriam Grupo com níveis elevados de bactérias

É o terceiro caso, desde o início do ano, de águas distribuídas em Macau sem cumprirem os padrões de qualidade. Os garrafões foram fornecidos a serviços públicos, como os Serviços de Saúde. Em reacção ao caso, o Miriam Grupo acusa “alguns clientes” de contaminarem propositadamente os garrafões utilizados

 

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou que vários garrafões de água fornecidos a serviços públicos da marca O Sun chumbaram nos testes de qualidade, apresentando níveis elevados de bactérias coliformes e bactérias pseudomonas aeruginosa. As coliforme são um tipo de bactérias, como a e.coli, que habitam no intestino de mamíferos, enquanto as bactérias pseudomonas aeruginosa podem ser encontradas nas águas e nos solos e podem levar a infecções graves nos pulmões, na pele ou no tracto urinário.

O problema com a água O Sun, do Miriam Grupo Limitada, foi identificado em lotes produzidos a 7 e 21 de Maio deste ano, e comunicados na sexta-feira. No entanto, a informação disponibilizada pelo IAM e pelos SS não revelaram a altura em que os problemas foram detectados pelas entidades.

Desde o início do ano, esta é a terceira marca de águas de Macau a apresentar problemas ao nível da qualidade e segurança. O primeiro caso, aconteceu a 9 de Março com a marca Iceblue, da fábrica Oi Kou Pou. Mais recentemente, também em Maio, as autoridades detectaram problemas com a água da marca Ieong Iat Tat (tradução fonética).

A água O Sun terá sido fornecida a serviços públicos locais, entre os quais os Serviços de Saúde (SS). Todavia, foi negado que a água contaminada tivesse entrado no comércio a retalho, hospitais ou escolas. “Os dois lotes de água destilada não entraram no mercado de venda a retalho, sendo principalmente fornecidos a serviços do Governo e sociedades comerciais. Os lotes também não foram fornecidos a escolas nem hospitais”, foi comunicado pelos SS.

Após a divulgação da informação, os SS anunciaram o cancelamento do fornecimento de água daquela marca: “Após verificação, os lotes em causa não foram fornecidos aos Serviços de Saúde. No entanto, por razões de segurança, os Serviços de Saúde pararam de utilizar as águas potáveis daquela marca, e passaram a utilizar as águas engarrafadas de outra marca qualificada, a fim de assegurar o fornecimento de água potável”, foi justificado. O comunicado não identifica se há um novo fornecedor de água ou se apenas foi trocada a marca de água do Miriam Grupo Limitada.

Ataque de “alguns clientes”

Após a detecção deste caso, o IAM comunicou ter pedido ao grupo para “aplicar medidas de prevenção, nomeadamente a recolha dos lotes das águas destiladas envolvidos, bem como implementar a limpeza e desinfecção da linha de produção” de água.

O Miriam Grupo Limitada também respondeu ao caso ao indicar que desde 1 de Junho que tinha emitido um aviso a alertar para a recolha dos lotes contaminados e que desde 30 de Maio a produção de água foi suspensa, para limpeza e aplicar as rectificações necessárias. A mesma informação indicou que em relação ao lote de 7 de Maio foram recolhidos 196 dos 367 garrafões de água produzidos e face ao lote de 21 de Maio foram recolhidos 121 dos 432 garrafões de água distribuídos. “Sob a testemunha e organização do IAM, os lotes dos garrafões de água anormais foram eliminados. Entre 30 de Maio e 1 de Junho, uma empresa de limpeza independente também procedeu à limpeza da fábrica e os equipamentos de produção. Cerca de 9.000 garrafões de água dos lotes em Maio foram eliminados,” foi divulgado pelo grupo.

No comunicado, o grupo queixou-se ainda da cobertura mediática, e desmentiu que o lote de 7 de Maio tivesse apresentados resultados positivos de contaminação de bactérias coliformes, não desmentido a contaminação com bactérias pseudomonas aeruginosa.

O Miriam Grupo Limitada acusou ainda alguns clientes de contaminarem os garrafões usados, que depois são devolvidos, para prejudicar a empresa.

Economia | Inflação desacelerou para 0,19% em Maio

A inflação em Macau desacelerou em Maio, foi anunciado na sexta-feira, mas a região escapou à queda dos preços no consumidor, algo que se verificou pelo quarto mês consecutivo no Interior da China.

O Índice de Preços no Consumidor (IPC) em Macau subiu 0,19 por cento em Maio, em termos homólogos, mais lento do que o valor registado em Abril (0,23 por cento), de acordo com dados oficiais divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Apesar do IPC ter descido 0,05 por cento em comparação com Abril, o território escapou pelo terceiro mês consecutivo à deflação (queda anual nos preços no consumidor).

A deflacção reflecte debilidade no consumo doméstico e no investimento e é particularmente gravoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias.

A China, de longe o maior parceiro comercial de Macau, está há quatro meses consecutivos em deflacção após o IPC ter recuado 0,1 por cento em Maio, o mesmo valor registado em Abril e Março.

De acordo com os dados da DSEC de Macau, a desaceleração da inflação em Maio deve-se ao custo das refeições adquiridas fora de casa, que subiu apenas 1,39 por cento, enquanto os gastos com hipotecas dos apartamentos aumentaram somente 0,42 por cento.

O índice dos preços da habitação caiu 11,7 por cento no ano passado, não obstante a Autoridade Monetária de Macau ter aprovado três descidas da taxa de juro nos últimos três meses de 2024. Apesar do aumento do número de visitantes, a região registou uma queda de 2,5 por cento no preço do vestuário e calçado.

Casinos-satélite | Sugeridos novos projectos para atrair turistas ao ZAPE

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) sugeriu, numa reunião com representantes do sector hoteleiro do ZAPE, que esta zona pode vir a integrar mais projectos e iniciativas de propriedade intelectual, como instalações ou bonecos de grande dimensão, para atrair turistas.

Esta reunião decorreu na sexta-feira e teve como contexto a discussão de medidas para lidar com o fecho dos casinos-satélite até ao final do ano. Segundo uma nota, a DST quer também promover “a extensão dos benefícios económicos dos concertos, o aproveitamento adequado de espaços para a realização de actividades e a optimização do ambiente da zona, entre outras”, tendo sido sugerida a exploração de “novas fontes de visitantes”.

Os empresários foram ainda aconselhados a lançar “produtos turísticos complementares ou promoções de alojamento”. Os representantes dos sectores hoteleiro e turístico “concordaram, de um modo geral, com as medidas preliminares definidas pelo Governo”, descreve a mesma nota. O ZAPE conta com mais de 20 hotéis de diferentes tipos e categorias.

Visitantes | Segundo melhor arranque de sempre até Maio

Entre Janeiro e Maio foram recebidos 16,3 milhões de visitantes, o segundo melhor registo de sempre de visitantes. No entanto, o número ainda está abaixo do que acontecia antes da pandemia e da política de isolamento

 

Macau recebeu nos primeiros cinco meses deste ano 16,3 milhões de visitantes, o segundo valor mais elevado de sempre para um arranque de ano, foi anunciado na sexta-feira. De acordo com dados oficiais, o número de turistas que passou por Macau só foi superado entre Janeiro e Maio de 2019 – antes da pandemia de covid-19 -, período em que registou quase 17,2 milhões de visitantes.

No entanto, segundo a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), quase 59 por cento dos visitantes chegaram em excursões organizadas e passaram menos de um dia na cidade.

Em 2024, o Governo Central divulgou uma série de medidas de apoio a Macau, como o aumento do limite de isenção fiscal de bens para uso pessoal adquiridos por visitantes da China.

Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas alargaram a mais 10 cidades da China a lista de locais com “vistos individuais” para visitar Hong Kong e Macau. Além disso, desde 1 de Janeiro que os residentes da vizinha cidade de Zhuhai podem visitar Macau uma vez por semana e ficar até sete dias.

Em resultado, a esmagadora maioria (90,7 por cento) dos turistas que chegaram a Macau nos dois primeiros meses do ano vieram do Interior ou Hong Kong, enquanto somente 1,14 milhões foram visitantes internacionais.

A 17 de Janeiro, a directora dos Serviços de Turismo de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes, disse esperar que Macau possa receber entre 38 e 39 milhões de visitantes este ano. Em Agosto, a dirigente apontou como meta mais de três milhões de visitantes internacionais em 2025.

Mais sem vistos

As autoridades do território anunciaram na segunda-feira que cidadãos nacionais da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Barém e Omã estão dispensados de visto para entrar em Macau a partir de 16 de Julho.

A medida surge numa altura em que o Governo de Macau quer atrair mais visitantes internacionais e após as autoridades e operadores turísticos do território terem visitado, em Fevereiro, a Arábia Saudita e o Dubai, para promover a cooperação.

Apesar do aumento no número de turistas, o consumo médio de cada visitante, excluindo nos casinos, caiu 13,2 por cento no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2024.

No início de Maio, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos da região apontou a “alteração do padrão de consumo dos visitantes” como uma das principais razões para a queda de 1,3 por cento da economia de Macau entre Janeiro e Março.

Foi a primeira vez que o Produto Interno Bruto do território encolheu, em termos homólogos, desde o final de 2022, quando a região começou a levantar as restrições devido à pandemia de covid-19.

Eleições | Ella Lei e Leong Sun Iok lideram lista dos Operários

A deputada Ella Lei Cheng I e o deputado Leong Sun Iok são os cabeças-de-lista da União Para o Desenvolvimento, candidatura ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), nas próximas eleições directas para a Assembleia Legistiva.

Os nomes foram apresentados na sexta-feira e incluem no terceiro lugar Cheng Ka Man, que dado o reduzido número de listas poderá passar a integrar a Assembleia Legislativa. A lista de 12 nomes é ainda constituída por Wu Hang San, Chan Ka Keng, Kuong Chi Fong, Chio Lan Ieng, Leong Meng Ian, Lao Ka Chong, Chan Hon Sam, Chan Chio I e Un Oi Mou.

A publicação da lista mostra também que Lei Chan U, actual deputado da FAOM, deverá deixar o hemiciclo, dado que não está na lista do sufrágio indirecto nem foi integrado na lista do sufrágio directo. A possibilidade de Lei se manter no hemiciclo passa agora apenas por uma eventual nomeação do Chefe do Executivo.

Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, Ella Lei prometeu que a lista vai continuar a ouvir as opiniões da população e que vai transmitir de forma fiel e verdadeira as aspirações da população ao Governo, para garantir os direitos e interesses dos residentes.

Como parte do projecto político, a cabeça-de-lista e deputada desde 2014 defendeu a diversificação da economia, mas vincou que esta tem de passar por promover a melhoria do bem-estar da população e a criação de empregos para residentes.

Ella Lei deixou ainda a esperança que a lista possa contribuir para melhorar o sistema de saúde, de educação e desenvolver os apoios para a população mais idosa.

Eleições | Song Pek Kei lidera lista da comunidade de Fujian

A deputada Song Pek Kei vai ser a cabeça-de-lista da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, ligada à comunidade de Fujian e ao empresário Chan Meng Kam. A informação foi divulgada na sexta-feira, com a entrega do nome dos 12 candidatos.

A principal alteração face a 2021 é a saída de Si Ka Lon, que apesar de isso se vai manter como deputado, com a eleição por sufrágio indirecto praticamente garantida.

No segundo lugar da lista surge Nick Lei Leong Wong, actualmente deputado, seguido por Chan Lai Kei e Loi Si Weng. A lista com 10 candidatos inclui ainda Ng Hong Kei, Xu Zhiwei, Tong Ho Laam, Chan Ian Ian, Wang Guanxun e Winny Ng.

No momento da entrega da lista, Song Pek Kei afirmou que a lista serve a sociedade há 20 anos e que está empenhada em continuar a missão. A deputada destacou também que a lista vai procurar servir a população, com base na realidade dos factos, e lidar com vários aspectos da sociedade de forma a construir uma Macau melhor para a população.

Em termos das áreas de intervenção na Assembleia Legislativa, Song prometeu focar seis pontos principais: segurança nacional, diversificação económica, condições de vida, segurança do emprego, eficiência administrativa e renovação urbana. Song vincou também que apresenta uma lista jovem, com a média de idades a rondar os 33 anos.

Chan Meng Kam e Ung Choi Koi, empresários e ex-deputados eleitos por esta lista, estiveram presentes no momento da apresentação dos nomes da lista. A Associação dos Cidadãos Unidos de Macau foi a grande vencedora das eleições em 2021, com um total de 26.599 votos, naquela que foi a eleição menos participada desde o estabelecimento da RAEM.

Eleições | Após 35 anos, Kou Hoi In está em vias de deixar a AL

Além de Kou Hou In, podem ainda estar de saída Chui Sai Cheong e Vong Hin Fai. No sentido oposto, entram para as listas do sufrágio indirecto Kevin Ho, Vong Hou Piu e Wong Chon. Iau Teng Pio e Si Ka Lon juntam-se também ao sufrágio indirecto

 

O actual presidente da Assembleia Legislativa (AL), Kou Hoi In, está fora das listas às eleições pelo sufrágio indirecto e deverá ficar de fora do hemiciclo pela primeira vez desde 1991. A manutenção de Kou no parlamento depende agora de uma eventual nomeação por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo.

Nos últimos anos, o empresário foi sempre eleito pela lista União dos Interesses Empresariais de Macau, mas não consta na lista de candidatos, tal como Wang Sai Man, que tinha sido eleito deputado pela primeira vez em 2021.

No sentido oposto, o empresário e sobrinho de Edmund Ho, Kevin Ho passa a integrar a lista, o que lhe garante praticamente a eleição. Para esta lista entra igualmente Si Ka Lon, deputado desde 2013, eleito pelo sufrágio directo nas listas da comunidade de Fujian, ligadas ao empresário Chan Meng Kam. Desta vez, Si Ka Lon candidata-se à AL através do sufrágio indirecto. Kevin Ho e Si Ka Lon são igualmente deputados por Macau à Assembleia Popular Nacional.

Em relação a 2021, a União dos Interesses Empresariais de Macau mantém nas listas José Chui Sai Peng, empresário, e Ip Sio Kai, vice-presidente da sucursal de Macau do Banco da China. Estes dois candidatos, assim como Kevin Ho e Si Ka Lon, têm a eleição confirmada, dado que nos sectores industrial, comercial e financeiro apenas exista uma lista para quatro lugares. O único entrave à eleição seria um chumbo às candidaturas da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) ou da Comissão de Defesa da Segurança do Estado.

Durante a entrega da lista, Chui Sai Peng, primo do antigo Chefe do Executivo Fernando Chui Sai On, afirmou, citado pelo jornal Ou Mun, que o objectivo da lista é contribuir para melhorar o ambiente de negócios em Macau, e reforçar o desenvolvimento da economia.

Mais mudanças

As mudanças esperadas a nível da Assembleia Legislativa não se ficam pelos sectores industrial, comercial e financeiro, também no sector profissional há mudanças, Chui Sai Cheong, vice-presidente da AL, Vong Hin Fai, presidente da Associação dos Advogados de Macau, e Chan Iek Lap ficam fora da lista União dos Interesses Profissionais de Macau.

O médico tinha revelado em Fevereiro do ano passado que estava de saída. No entanto, em relação a Chui Sai Cheong e Vong Hin Fai não havia essa indicação. Todavia, estes deputados podem passar a ser nomeados pelo Chefe do Executivo. Vong Hin Fai e Chan Iek Lap vão ser substituídos por Vong Hou Piu, contabilista e Wong Chon, médico.

A lista passa a ser liderada Iau Teng Pio, advogado e académico, que até agora se encontrava na Assembleia Legislativa por nomeação do Chefe do Executivo. Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, Iau Teng Pio afirmou que a lista em como objectivo “desenvolver o primado da lei” e “alcançar progresso comum na indústria”.

Visita | Sam Hou Fai na Grande Baía

Sam Hou Fai, Chefe do Executivo da RAEM, realiza desde ontem e até amanhã, uma visita oficial a seis cidades da Grande Baía, nomeadamente Shenzhen, Huizhou, Dongguan, Cantão, Zhaoqing e Foshan.

Segundo um comunicado oficial, esta visita “vem na sequência da deslocação do Chefe do Executivo, no passado mês de Abril, às três cidades da Grande Baía, nomeadamente Zhuhai, Zhongshan e Jiangmen”, sendo que nesta estadia o governante terá encontros “com os dirigentes das seis cidades” a fim de “trocar ideias de forma aprofundada sobre o impulsionamento contínuo do desenvolvimento da Grande Baía, o reforço da cooperação com benefícios mútuos, entre outros temas”.

O programa de viagem inclui ainda “visitas a empreendimentos em desenvolvimento e respectivas empresas nas áreas de inovação tecnológica, de recursos energéticos, entre outras, no intuito de conhecer a situação de desenvolvimento das indústrias importantes daquelas cidades”. Durante a ausência de Sam Hou Fai, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, exerce, interinamente, as funções de Chefe do Executivo.

Mercado do Patane | CE ouve queixas de comerciantes

O Chefe do Executivo visitou vários bairros de Macau, incluindo o Fai Chi Kei, Ilha Verde e a zona do Canídromo. No Mercado do Patane, Sam Hou Fai ouviu queixas de maus negócios e prometeu encontrar soluções em conjunto com a sociedade. Além disso, revelou que está a ser estudada a possibilidade de ligar Qingmao ao Fai Chi Kei através do Metro Ligeiro

 

O Chefe do Executivo fez um périplo pela península de Macau no sábado, visitando vários bairros acompanhado por secretários do seu Executivo. Sam Hou Fai foi ao Mercado do Patane, ao Bairro da Ilha Verde e ao Bairro de Fai Chi Kei, “para se inteirar sobre o ambiente de exploração de negócios, bem como visitou o antigo Canídromo Yat Yuen” para conhecer o andamento dos trabalhos de construção do parque desportivo.

No Mercado Municipal do Patane, o líder do Governo ouvir comerciantes que se queixaram da falta de clientes e de vendas fracas. “Estamos a viver tempos muito difíceis. Só conseguimos ganhar 200 ou 300 patacas por dia, embora a renda do mercado seja baixa, não conseguimos cobrir as despesas. Se o senhor Chefe do Executivo não conseguir resolver [o problema], como conseguiremos nós resolver?”, perguntou uma comerciante de uma banca de venda de produtos frescos. Sam Hou Fai apontou para a cooperação. “Vamos trabalhar em conjunto para resolver o problema”, respondeu o governante.

A vendedora voltou à carga e argumentou que os hábitos de consumo online arrasaram o comércio tradicional. “Agora os residentes não fazem compras nas lojas. Depois da pandemia, só fazem compras online”, alertou a residentes. “Não podemos fechar a internet, isso é impossível”, respondeu entre risos Sam Hou Fai, comentando que “as coisas mudaram muito”. “Vamos trabalhar em conjunto para tentar resolver os problemas”, insistiu o Chefe do Executivo.

A comerciante da banca ao lado, face à resposta sobre como vão os negócios traçou o mesmo cenário. “O negócio continua difícil, é verdade. A vida dos residentes está cada vez mais difícil. Esperamos que com a sua liderança, o ambiente do mercado possa ser optimizado”, afirmou. Sam Hou Fai respondeu que esse também era o seu desejo.

Reforço dos apoios

O Chefe do Executivo visitou também o centro de comidas do Patane, onde falou com residentes e turistas. Sam Hou Fai incentivou os comerciantes a “implementarem, constantemente, novidades, de modo a explorarem características que atraiam mais visitantes”.

Após a passagem pelo Patane, a comitiva liderada pelo Chefe do Executivo foi para a Ilha Verde, Fai Chi Kei e redondezas, acompanhada pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. Alguns comerciantes pediram a Sam Hou Fai uma nova ronda de Grande Prémio do Consumo para melhorar os negócios.

O Chefe do Executivo aproveitou também para visitar o “jardim dos sonhos de personagens da Sanrio”, e o Pavilhão do Sentimento de Amor pela Pátria da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, onde interagiu com estudantes.

Em relação ao “jardim dos sonhos”, Tai Kin Ip afirmou que em cerca de 80 dias, a iniciativa “conseguiu desviar mais de 240 mil visitantes para o bairro social”.

Por último, Sam Hou Fai visitou o terreno do antigo Canídromo Yat Yuen onde está planeada a construção de um parque desportivo e ficou a conhecer o ponto de situação dos trabalhos, ouvindo uma apresentação do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam. O Chefe do Executivo referiu que o “concurso público das obras para a primeira zona está previsto para breve”.

Em relação ao trânsito das zonas adjacentes, Sam Hou Fai revelou que as obras para a linha Leste do Metro Ligeiro que liga a Zona Norte da cidade à Taipa decorrem a bom ritmo. O governante revelou que o seu Executivo “está a estudar a possibilidade de estender a linha do Metro Ligeiro desde o Posto Fronteiriço de Qingmao até ao Bairro de Fai Chi Kei, assim como ao futuro parque desportivo”.

Fraqueza industrial e financeira é entrave a presença moçambicana em Macau

Especialistas consideram que aposta moçambicana em Macau se mantém condicionada pela falta de indústria e de recursos financeiros, e que novas parcerias, incluindo no âmbito de novo projecto regional chinês, podem projectar Moçambique no território.

Ao visitar o centro de exposições de produtos do Fórum de Macau, no ano passado, a académica Fátima Papelo, que estuda as relações sino-moçambicanas, apercebeu-se da existência de poucos produtos de Moçambique no local, onde estão expostos artigos dos vários países de língua oficial portuguesa.

“Existem muitos mais produtos brasileiros, mas é, até certo ponto, um reflexo da estrutura económica moçambicana. Acredito que, por via do Fórum de Macau, também podemos pensar em como transformar esta estrutura económica positivamente e que terá como consequência a existência de mais produtos moçambicanos a serem vendidos em Macau”, notou agora à Lusa.

Dados oficiais do Governo de Macau sustentam a percepção da académica da Universidade Joaquim Chissano, em Maputo: O território importou de Moçambique, no ano passado, bens no valor de cerca de 12 milhões de patacas. No caso do Brasil, o valor ultrapassou mil milhões de patacas.

Neste sentido, Papelo refere a necessidade de criar “mais eventos” que coloquem agentes do comércio de Macau e Moçambique “a discutir e explorar possibilidades de aprofundamento dessas relações”.

“Também é necessário colocar outros indivíduos ligados à indústria, porque só uma indústria desenvolvida pode conferir produtos que vão ser trocados. Moçambique ainda precisa trabalhar muito neste desenvolvimento da indústria e é dessa forma que vai transformar os seus produtos em manufacturados, colocá-los no mercado de Macau e, quem sabe, de toda a China”, considera.

Fórum é “diferencial”

Criado em 2003, o Fórum Macau constitui “um diferencial” na relação entre Moçambique e China, afirma Papelo, defendendo, porém, que “há muito que ainda não está a ser feito”. “É importante olhar como um espaço de trocas. Nesse caso, investimentos devem vir a Moçambique, mas investimentos moçambicanos também devem ir a Macau. Este segundo sentido precisa de ser trabalhado”, diz.

Apesar de a China ter sido um dos primeiros países a reconhecer Moçambique como Estado soberano, no dia em que este declarou a independência, em 25 de junho de 1975, a “fortificação dos laços” com Macau, então sob administração portuguesa, vai dar-se apenas após 1999.

“A partir do momento que o Governo chinês começa a assumir controlo sobre o território, aí já existe esta possibilidade de Moçambique cooperar também com Macau. Então, esta relação começa a tornar-se muito mais viva, muito mais presente”, sublinha.

O historiador Wu Zhiliang considera a criação do Fórum de Macau “um reconhecimento” do papel do território como ponte entre China e parceiros lusófonos.

Assumindo que a região “tem muito por fazer para cumprir bem esta missão”, o também presidente da Fundação Macau refere à Lusa que o Fórum deve “ampliar a sua acção, além da promoção de intercâmbio económico e comercial, às áreas do ensino, cultura e investigação científica”.

Aposta na Baía

Uma oportunidade para Moçambique na região constitui, ainda segundo Fátima Papelo, a Grande Baía, projecto que Maputo deve “aproveitar e explorar”.

“Vejo um espaço em que Moçambique pode promover as suas potencialidades, pode também buscar serviços que irão permitir o seu desenvolvimento económico em diversas áreas, desde energia, indústria, transporte, comunicação, porque há muito desenvolvimento tecnológico, na área de transporte, até formulação de políticas públicas”, propõe. E a língua portuguesa, diz, será “sempre vantagem”: “É necessário que Moçambique perceba este lugar especial que tem e dele faça bom uso, no sentido positivo”.

História | A fuga dos Ma-Chan para o Portugal colonial e para Macau

A família Ma-Chan é de Moçambique com raízes chinesas, procurou o seu novo caminho no então Portugal colonial e desde 1976 que fixou raízes em Macau. José Manuel Machon, residente no território desde os 13 anos, contou à Lusa a trajectória muito peculiar da sua família, que reflecte muitos dos rumos familiares tomados nos anos de guerra e do fim do império colonial português

 

Os Ma-Chan, família moçambicana com raízes na China, fugiram duas vezes ao comunismo e duas vezes recomeçaram no Portugal colonial. Em 1976, desembarcaram em Macau, onde se apagara a memória de Moçambique com a partida dos landins, tropas africanas que estacionaram no território por décadas desde 1912.

Segundo uma reportagem de Luís Andrade de Sá publicada na Revista Macau em 1992, e citada pelo blogue “Crónicas Macaenses”, os landins ficaram em Macau “durante cerca de cinco décadas”, sendo que “os chineses nunca se habituaram ao seu convívio, desconfiados que se mantiveram dos enormes negros que tocavam uma horrível batucada enquanto volteavam as zagaias com uma ostensiva ferocidade”. O termo landim passou a ser referência “para identificar todos os batalhões indígenas que passaram por Macau”, é descrito na mesma reportagem.

Massá Ma-Chan dirigiu-se em 1963 à conservatória de Nampula, norte de Moçambique, para registar o quinto filho, mas, mais uma vez, negaram a este chinês, com raízes em Guangzhou, a transmissão do apelido à descendência. A José Manuel coube a mesma sorte dos irmãos: o apelido Machon, corruptela de Ma-Chan.

A identidade de José Manuel Machon, embrionariamente marcada por esse detalhe burocrático imposto pela então Moçambique portuguesa, é não apenas reflexo do passado colonial de Portugal, mas dos primórdios das relações sino-moçambicanas.

“Não tenho grandes confusões, tentei adaptar-me à vida”, diz à Lusa em Macau, onde vive desde os 13 anos. O avô – também Ma-Chan – foi quem definiu que esta história começava em África, ao deixar a China à procura de melhor vida, no arranque do século XX, e instalar-se em Nampula, ao lado de Xarifa, uma mulher macua, grupo étnico moçambicano.

Massá, o filho – e pai de José Manuel -, foi enviado para Guangzhou aos 14 anos, para aí receber educação formal. Quando regressa a Moçambique, é um homem casado, com uma marca de bala junto ao ombro esquerdo.

Na China, enfrentou os japoneses na segunda Grande Guerra e casou-se com uma chinesa, que conheceu no dia do matrimónio, até que, no limiar da guerra civil, que viria a dar vitória aos comunistas de Mao Zedong, fugiu. Dedicou-se, em Nampula, ao negócio do pepino-do-mar – o ‘magajojo’ – e da barbatana de tubarão, que exportava para Hong Kong.

O grande regresso

Entretanto, sem conseguir adaptar-se, a mulher regressou a Macau com os quatro filhos, onde acabou por morrer. Massá voltou a casar, desta vez com uma moçambicana – José Manuel veio primeiro, Carla depois.

Quando a bandeira da Frelimo se ergueu no mastro em Moçambique, em 25 de Junho de 1975, os Ma-Chan rumaram a Macau, com breve passagem por Portugal, onde habitaram uma pensão paga pelo então Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, o IARN.

“Não somos nada retornados, porque a gente não retornou a lado nenhum, somos refugiados”, afirma Carla Machon, a residir em Portugal.

“Quando o meu pai ouviu falar novamente de comunismo, fugiu”, conta em Macau o irmão, José Manuel. Enquanto fala, bolas de bowling embatem no chão e percorrem a pista até novo estrondo. O barulho no Centro de Bowling Future Bright parece não incomodar este homem grande, de 61 anos, fluente em cantonês e português e presidente do Clube Bowling de Macau. “Isto é o que me mantém estável. Em vez de ir para os copos, venho para aqui”, nota.

Para José, a independência “foi um abrir de olhos, uma abertura para o mundo”. Nem fala em razões políticas, mas como foi importante cruzar meio mundo até chegar a Macau.

Uma nova vida

Nesse virar de página, a família Ma-Chan/Machon veio encontrar, em 1976, uma cidade com pouca presença civil do exterior. José e Carla não se lembram de outros moçambicanos, que começaram a chegar após a independência, muitos vindos de Portugal.

A fortaleza de Mong-Há é velha testemunha da presença de Moçambique em Macau. Aí estiveram aquartelados os landins, soldados moçambicanos ao serviço do exército colonial, recorda à Lusa o jornalista João Guedes, estudioso da história de Macau. É essa circunstância histórica que baptizou a colina de Mong-Há de “montanha dos fantasmas negros” (‘hak gwai san’).

Estes tropas, com o “maior instinto guerreiro”, na expressão do imperador Gungunhana, permaneceram em Macau meio século, até por volta dos anos 1960. Eram responsáveis, por exemplo, pela guarda das Portas do Cerco, fronteira do território com a China e local de incidentes recorrentes.

“Passaram por aqui e desvaneceram como se nunca tivessem estado”, retoma Guedes, indicando não haver qualquer património material que ateste essa presença militar. Não muito longe de Mong-Há, porém, no restaurante Riquexó, as tropas ainda lá estão, eternizadas em fotos penduradas nas paredes.

Aí serve-se galinha africana, prato macaense, cuja origem é ainda hoje alvo de debate. Duas teorias: foi criado pelo chefe português Américo Ângelo, inspirado por uma viagem a Moçambique. Outra versão dá conta que, vendo os soldados africanos com saudade de frango assado, Américo confeccionou o prato.

E a memória das relações Macau-Moçambique não se completa sem evocar o tráfico de cules. Se, por um lado, se sabe que os portugueses levaram escravos das colónias africanas ao se estabelecerem às portas da China, no sentido inverso, foram enviados também, via Macau, chineses para trabalhar em Moçambique, muitas vezes em condições de escravatura.

Os cules fizeram parte de um movimento migratório a partir de finais do século XIX, “para desenvolver a colónia moçambicana”, explica a professora da Universidade Joaquim Chissano, em Maputo, Fátima Papelo, que investiga a cooperação sino-moçambicana. O primeiro grupo, diz, foi enviado em 1858 e “era composto por 30 homens”.

Mais de um século depois, na luta pela independência moçambicana, Pequim apoiou a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e é um dos primeiros países a reconhecer o novo Estado soberano. Em Macau, continua Papelo, o reforço dos laços deu-se mais tarde, com a transição do território de Portugal para a China, em 1999.

Mas para José Manuel, Moçambique conservou-se sempre presente. Da última vez que lá foi, conta, visitou e limpou a campa da família, “lá na machamba”. “É um costume chinês”, explicou.

Rússia | Putin diz que rearmamento da NATO não é uma ameaça

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou ontem que o rearmamento da NATO não representa uma ameaça para o país, assegurando que Moscovo dispõe das “capacidades de defesa” necessárias para fazer frente à aliança transatlântica.

“Não consideramos qualquer rearmamento da NATO como uma ameaça à Federação da Rússia, porque somos auto-suficientes em matéria de segurança”, declarou Putin, durante uma mesa-redonda com representantes de agências de notícias internacionais, à margem do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo. O chefe de Estado russo acrescentou que o país está “constantemente a melhorar as suas Forças Armadas e capacidades de defesa”.

Num momento em que a NATO prepara uma nova cimeira, na próxima semana, em Haia (Países Baixos), e incentiva os membros a aumentarem o investimento em defesa, Putin considerou que um eventual reforço orçamental até 5 por cento do PIB, por parte dos aliados, representaria “desafios específicos” para Moscovo, mas disse que esse esforço financeiro “não faz sentido” para os próprios países da aliança.

“Responderemos a todas as ameaças que surjam. Disso não há dúvidas”, assegurou. Putin referiu-se à ofensiva lançada contra a Ucrânia em 2022 como parte de um confronto mais amplo com a NATO, que considera representar uma ameaça “existencial” junto às fronteiras russas.

No quadro de futuras negociações de paz, o líder russo manifestou interesse em discutir a arquitectura de segurança europeia, nomeadamente com o Presidente norte-americano, Donald Trump.

Kiev procura, no entanto, garantias de segurança por parte da NATO como condição para um eventual acordo para pôr fim à guerra. Dois ciclos de negociações entre russos e ucranianos tiveram lugar em Istambul, mas não resultaram em avanços concretos.

Putin afirmou ainda que as forças russas continuam a avançar “todos os dias” na frente de combate, enfrentando um exército ucraniano em inferioridade numérica e em dificuldades operacionais. No terreno, as forças russas mantêm os ataques diários contra cidades e aldeias ucranianas.

DST | Alerta para evitar viagens a Israel e ao Irão

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) emitiu ontem uma nota de alerta para que os residentes evitem viajar para Israel ou Irão tendo em conta os últimos acontecimentos bélicos e políticos, referindo que “não devem viajar para estes dois países e quem se encontrar naqueles países deve abandonar os territórios o mais rápido possível, garantindo a sua segurança pessoal”.

Além disso, a DST diz estar “a acompanhar a situação em Israel e no Irão, alertando os residentes de Macau para estarem atentos à situação de segurança”.

Até ontem, ainda não tinha sido recebido qualquer pedido de informação ou assistência para a linha aberta da DST. A mesma nota indica de que não há telemóveis de Macau a circular no Irão, tendo em conta os dados fornecidos pelas operadoras de telecomunicações de Macau.

Desde sexta-feira que Israel e o Irão têm vindo a bombardear-se mutuamente, levando algumas embaixadas a encerrar temporariamente a sua presença no Irão. Os ataques começaram por Israel a alvos designados em várias partes do Irão, contribuindo para piorar as tensões que já se viviam no Médio-Oriente graças ao conflito israelo-palestiniano. Os ataques dos últimos dias já mataram mais de 200 pessoas, a maioria no Irão.

Governo admite aumentar cauções pagas pelas agências de viagem

Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), disse ontem na Assembleia Legislativa (AL) que poderá haver um aumento do valor da caução a apresentar pelas agências de viagens no âmbito do licenciamento da actividade. A garantia foi dada no debate sobre a votação, na especialidade, da nova lei da actividade das agências de viagens e da profissão de guia turístico, aprovada ontem no hemiciclo.

“Temos o modelo da prestação da caução e do seguro de responsabilidade civil, que é igual ao interior da China. Vamos ponderar se é ou não necessário elevar o montante da caução e talvez haverá um ligeiro ajustamento, mas penso que não será um aumento muito grande”, disse Helena de Senna Fernandes.

Esta informação, surgiu a propósito da intervenção do deputado José Pereira Coutinho, que sugeriu uma alteração ao modelo composto pelo pagamento de caução e de seguro de responsabilidade civil associados às viagens que não são pagas pelos viajantes, e que é tratado no âmbito do processo de licenciamento das agências.

“Em Hong Kong existe um fundo de indemnização, e em Portugal há o Fundo de Garantia de Viagens e Turismo. Há anos que usamos o modelo da caução e do seguro de responsabilidade civil, há forma de o alterar?”, questionou o deputado. Segundo o portal do Turismo de Portugal, o referido Fundo “responde solidariamente pelo pagamento dos créditos dos viajantes decorrentes do incumprimento de serviços contratados às agências de viagens”.

Helena de Senna Fernandes explicou que, no caso de Hong Kong, o fundo é suportado com uma percentagem das comissões cobradas nas excursões, sendo que, nos dois territórios, “em termos de número de turistas, é muito diferente”.

Sem licenças permanentes

Outro dos pontos abordados pelos deputados, diz respeito ao facto de as agências terem de renovar a sua licença anualmente. Coutinho sugeriu uma licença permanente, mas o Governo entende que cabe às empresas decidir consoante o panorama do mercado.

“O sector está sempre em mudança, e no que diz respeito às agências há umas que têm mais ou menos actividade. Temos de saber como é a situação delas, daí termos colocado o prazo de um ano para a renovação da licença”, explicou.

Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, declarou que “tem a ver com a sua vontade” a continuidade, ou não, do negócio por parte das agências. “Temos serviços electrónicos para a renovação das licenças, o que facilita muito a sua vida, mas as agências têm de manifestar a sua vontade de renovação”, rematou.

Rezar por Macau

Em 2007, o Papa Bento XVI estabeleceu a tradição de rezar pela Igreja Católica da China a 24 de Maio. A 24 de Junho, comemora-se o dia em que os residentes de Macau repeliram, em 1622, os invasores holandeses e todos aqueles que amam a cidade também devem rezar por ela, já que em Macau ocorreram demasiados incidentes desagradáveis ultimamente.

O Bispo Stephen Lee Bun-sang da Diocese de Macau escreveu uma carta pastoral para ser lida durante o Domingo de Pentecostes, que este ano se celebrou a 8 de Junho, onde declarava, “Recentemente, ocorreram vários suicídios e diversas tentativas de suicídio em Macau. De acordo com os Serviços de Saúde, registaram-se 18 suicídios no primeiro trimestre de 2025, o que evidencia a necessidade urgente de tomar medidas para resolver o problema. Estas tragédias não só trazem uma dor profunda aos familiares, mas também nos abalam a todos. Confrontados com este fenómeno social podemos sentir-nos tristes e impotentes, mesmo confusos em relação ao significado da vida. … A oração é o tesouro mais precioso da nossa fé. Confiemos a Deus as dificuldades e as dores que enfrentamos através da oração e rezemos para que o Espírito Santo cure os corações destroçados e solitários».

Infelizmente, no início de Maio, registaram-se outros suicídios causando ainda mais pesar. O facto de não terem sido divulgados publicamente não significa que as tragédias não tenham acontecido. Em última análise, libertarmo-nos da actual atmosfera social deprimente é o caminho mais eficaz e, para isso, precisamos orar!

A medida administrativa que requer que uma pessoa viva em Macau pelo menos durante 183 para ter direito a beneficiar do Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico para o Ano de 2025 também afectou alguns residentes que estão fora da cidade, especialmente os que vivem em Hong Kong, cidade que faz parte da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Reparei que de facto existem diversas opiniões quanto às condições necessárias para beneficiar deste Plano. O requisito dos 183 dias de permanência não é um problema em si; a questão fundamental reside no calendário da sua implementação. O ano passado, antes do termo do seu mandato, o ex-Chefe do Executivo Ho Iat Seng anunciou que o Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico para o Ano de 2025 não ia ser alterado, o que os cidadãos encararam como uma boa notícia. No entanto, quando o Plano foi implementado este ano, foi acrescentada a condição que determina a necessidade de ter permanecido em Macau, em 2024, pelo menos durante 183 dias, o que privou alguns residentes que vivem fora da possibilidade de atingirem esse objectivo.

Se esta medida só tivesse tido efeito a partir de 2026, acredito que teria sido menos controversa e que os desentendimentos que provocou entre os residentes teriam sido reduzidos. Para algumas pessoas, a quantia de 10.000 patacas pode parecer insignificante, mas para os muito necessitados, especialmente os mais velhos, deixar de ter direito a receber este valor pode ser bastante devastador. Se a atmosfera social fosse um pouco mais harmoniosa, haveria menos tragédias. Para que isto venha a acontecer, precisamos de rezar!

Ainda existem muito pelos quais temos de rezar. Em 2022, a Assembleia Legislativa alterou o “Regime Jurídico da Exploração de Jogos de Fortuna ou Azar em Casino”, que teve um impacto negativo na situação dos “casinos-satélite” pelo que a maioria irá fechar até ao final do ano. Pergunto-me o que irá ser dos 4.800 funcionários das empresas de jogo que trabalham nos “casinos-satélite”. Fica a dúvida e se poderão manter o seu actual nível de rendimentos ou se as suas vidas serão afectadas. O futuro dos 800 que trabalhavam nos “casinos-satélite” mas que não eram funcionários das empresas de jogo, e do pessoal das lojas localizadas em torno dos casinos-satélite também suscita preocupação e não se sabe se terão alguma garantia de subsistência. No passado dia 17, alguns jornalistas foram impedidos de entrar na Assembleia Legislativa e de cobrir a sessão de trabalhos, um acontecimento invulgar para os membros da imprensa. A subsistência dos residentes de Macau e a manutenção da liberdade de imprensa são igualmente importantes, por isso rezemos por elas!

A 24 de Junho de 1622, os residentes de Macau, que lutaram com todas as suas forças para repelir as forças holandesas, certamente terão rezado durante a resistência!

10 de Junho | Nova mostra de cinema este fim-de-semana

Ainda a propósito das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, a Casa Garden acolhe, a partir de hoje, um ciclo de cinema português que inclui a curta-metragem de animação “Ice Merchants”, nomeada para os Óscares. Mas também há longas para ver, no total de cinco sessões

 

Mais um ano, mais uma ronda de cinema. É assim sempre que o Verão se aproxima e se comemora o 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Desta vez, a sétima edição da “Mostra de Cinema Português em Macau” traz curtas e longas metragens, numa diversidade que já habituou o público local. A intenção é trazer películas de qualidade e premiadas, destacando-se no cartaz deste ano a curta de animação “Ice Merchants”, que subiu ao palco dos Óscares.

Organizada pela Fundação Oriente, a Portugal Film – Agência Internacional de Cinema Português e o festival IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema, entre outras entidades, a mostra traz um total de cinco sessões que se apresentam ao longo deste fim-de-semana, terminando no domingo. A curadoria do festival está a cargo de Margarida Moz, directora da Portugal Film.

Segundo um comunicado, o que se pretende com esta mostra é “não apenas mostrar os filmes portugueses pelo mundo, mas também dar a conhecer a linguagem própria da cinematografia nacional e os seus agentes”, incluindo realizadores, actores, equipas técnicas e produtores”. Propõe-se, assim, “incluir a participação dos agentes criativos nesta mostra”, é referido.

O dia de hoje começa às 19h com o filme “Greice”, de Leonardo Mouramateus. Trata-se de um filme de 1h10 minutos que teve “forte presença internacional” no ano passado e também este ano, tendo estreado no International Film Festival Rotterdam. “Greice” foi exibido em importantes festivais de cinema como o Kino Pavasaris, FILMADRID e Transilvania IFF.

Em Portugal, o filme venceu o “Prémio de Melhor Realização” no Festival IndieLisboa (2024), e no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba (2024, Brasil) conquistou três prémios principais, incluindo o de “Melhor Longa-Metragem”.

Vendedores de gelo

O dia de amanhã começa na Casa Garden às 17h com uma sessão especial, exibindo a curta-metragem “Ice Merchants”, de João Gonzalez, que foi seleccionada para a 95.ª edição dos Prémios da Academia, ou seja, os Óscares, nomeadamente para a categoria de “Melhor Curta-Metragem de Animação”, tornando-se no único filme português a alguma vez ser nomeado para esta importante iniciativa do cinema mundial.

Segue-se “A Solo”, de Carolina Rosendo, um filme de 16 minutos feito no ano passado a propósito da formatura da realizadora na Escola de Teatro e Cinema de Lisboa. O projecto de Carolina Rosendo ganhou alguns prémios internacionais e foi nomeado pela Academia Portuguesa de Cinema para o “Prémio Sophia Estudante”, este ano.

Destaque ainda para a exibição de “Atom & Void”, de Gonçalo Almeida. Esta curta de ficção, com apenas nove minutos de duração, estreou no Fantastic Fest (2024), nos EUA, onde ganhou uma “Menção Honrosa” do Júri. Na Europa, a sua estreia aconteceu no Sitges International Fantastic Film Festival of Catalonia (2024), um dos maiores e mais importantes festivais de cinema fantástico do mundo.

Em Portugal, foi recentemente nomeado pela Academia Portuguesa de Cinema para os Prémios Sophia (2025) na categoria de “Curta-metragem de Ficção”.

Sensações e outras histórias

O cartaz desta mostra de cinema faz-se ainda com “Percebes”, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, que explora os géneros de animação e documentário, em apenas 12 minutos. Este filme foi pré-selecionado para a 97.ª edição dos Óscares deste ano, mas não chegou à lista dos cinco finalistas. Porém, “Percebes” conta já com 18 prémios internacionais no currículo, bem como 130 selecções nos mais prestigiados festivais internacionais de cinema.

A Casa Garden acolhe também “As Minhas Sensações São Tudo o que Tenho para Oferecer”, de Isadora Neves Marques, que até está actualmente em Hong Kong a trabalhar na sua primeira longa-metragem. Este filme estreou no Festival de Cannes, na “Semaine de La Critique”, no ano passado, e desde então tem viajado para outros prestigiados festivais internacionais.

Ainda no sábado, e depois de todas estas apresentações, o dia encerra-se com o último filme, exibido a partir das 19h. Trata-se de “Estamos no Ar”, de Diogo Costa Amarante. O filme estreou no International Film Festival Rotterdam (2024) e desde então tem percorrido o Brasil e os principais festivais da Europa, onde foi premiado. Foi recentemente nomeado pela Academia Portuguesa de Cinema para o Prémio Sophia de Melhor Actriz Principal (2025), devido à “magnífica” interpretação da protagonista, Sandra Faleiro.

Cinema dominical

O último dia desta mostra arranca às 17h com a exibição do documentário “A Savana e a Montanha”, de Paulo Carneiro. A película estreou no Festival de Cannes, na “Quinzaine des Cinéastes”, em 2024, e desde então tem viajado sobretudo pela América Latina, mas também pela Europa e Ásia. A partir das 19h, exibe-se “Sempre”, de Luciana Fina, também ele um documentário. A estreia fez-se na 81ª Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica La Biennale di Venezia no ano passado e está agora a ser seleccionado para festivais na Europa e na América Latina.

Japão | Sismo com magnitude de 6,1 sacode ilha de Hokkaido

Um sismo de magnitude 6,1 atingiu ontem a costa oriental da ilha japonesa de Hokkaido, no norte do arquipélago, sem que tenha sido emitido um alerta de tsunami ou tenham sido registados danos.

O terramoto ocorreu às 8:08 locais com epicentro a uma profundidade não especificada nas águas ao largo da costa da península de Nemuro, segundo a Agência Meteorológica do Japão (JMA).

O terramoto na cidade de Kushiro atingiu o nível 4 na escala sísmica japonesa de 7 níveis, que se centra na medição dos abalos superficiais e do potencial destrutivo do sismo, e foi sentido com menor intensidade noutras zonas de Hokkaido e em partes da ilha principal de Honshu, no nordeste do país.

O JMA alertou para o facto de o terramoto poder causar algumas alterações de maré na zona, mas acrescentou que não há motivo para preocupação quanto a potenciais danos. As autoridades locais não foram informadas de quaisquer incidentes relacionados com o terramoto.

O Japão situa-se no chamado Anel de Fogo, uma das zonas sísmicas mais activas do mundo, e sofre terramotos com relativa frequência, pelo que as suas infraestruturas são especialmente concebidas para resistir aos tremores.

Identificadas mais de 200 vítimas da queda do Boeing 787 na Índia

As autoridades indianas anunciaram esta quarta-feira que identificaram os corpos de mais de 200 vítimas do voo 171 da Air India, que se despenhou a 12 de Junho em Ahmedabad, no noroeste da Índia. Segundo o director clínico do hospital civil da cidade, Rakesh Joshi, até quarta-feira, foram identificadas 208 vítimas do acidente.

A queda do Boeing 787, logo após ter descolado com destino ao aeroporto de Gatwick, em Londres, matou pelo menos 279 pessoas, de acordo com o último balanço oficial, tornando-a o pior desastre aéreo do mundo desde 2014.

O avião, com 242 pessoas a bordo, despenhou-se numa zona residencial de Ahmedabad a 12 de Junho, um minuto após a descolagem, às 13:39. Segundo a Autoridade da Aviação Civil indiana, este avião de longo curso transportava 230 passageiros – 169 indianos, 53 britânicos, sete portugueses e um canadiano – e 12 tripulantes.

Só um passageiro, sentado junto a uma saída de emergência na parte da frente do avião, sobreviveu milagrosamente ao acidente. Em terra, pelo menos 38 pessoas morreram, de acordo com o mais recente balanço.

Em investigação

Os investigadores da aviação civil encarregados do inquérito recuperaram as duas caixas negras do avião, que registam as conversas no ‘cockpit’ e os parâmetros técnicos do voo. De acordo com as primeiras conclusões, o piloto emitiu um apelo de emergência (‘Mayday’) logo após a descolagem.

Imagens de vídeo difundidas após a catástrofe mostram o avião sem conseguir ganhar altitude e depois a despenhar-se pesadamente no solo, numa bola de fogo cor de laranja.

A Autoridade da Aviação Civil indiana ordenou uma inspecção dos outros 33 Boeing 787 ao serviço na frota da Air India “por precaução”. Essas inspecções não mostraram “qualquer problema de maior”, declarou a Autoridade da Aviação Civil na terça-feira à noite.

“Os aparelhos e os sistemas de manutenção foram considerados em conformidade com as normas de segurança em vigor”, indicou. A Air India anunciou quarta-feira num comunicado que vai efectuar “controlos de segurança reforçados na frota de Boeing 787” e cancelar alguns voos.

“As tensões geopolíticas no Médio Oriente, o recolher obrigatório nocturno nos espaços aéreos de muitos países europeus e do Leste Asiático, as inspecções de segurança reforçadas em curso, bem como a necessária abordagem cautelosa adoptada pelo pessoal técnico e pelos pilotos da Air India, conduziram ao aumento do número de voos cancelados”, declarou a companhia aérea no comunicado.

Israel | Cidadãos chineses começam a sair do país

A Embaixada da China em Israel começou a registar os cidadãos chineses residentes naquele país que desejem ser retirados para o Egipto, num processo que terá início hoje, anunciou ontem a missão diplomática, em comunicado.

De acordo com a nota, “não se pode descartar” um agravamento da situação, na sequência da escalada de ataques entre Israel e o Irão durante a última semana, razão pela qual a embaixada prestará apoio aos cidadãos que optem por abandonar o território israelita.

A evacuação será feita por via terrestre, através de grupos organizados, transportados em autocarro até ao posto fronteiriço de Taba, na fronteira entre Israel e o Egipto.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Guo Jiakun revelou na quarta-feira que alguns cidadãos chineses já “foram transferidos com sucesso desde Israel”, sem avançar mais pormenores. Segundo dados oficiais, residem actualmente cerca de 1.200 cidadãos chineses em Israel.

Em paralelo, a China iniciou também a retirada dos seus nacionais no Irão, onde a comunidade chinesa ronda as 4.000 pessoas. Até quarta-feira, 791 cidadãos chineses tinham já sido transferidos para zonas seguras em países vizinhos, como o Azerbaijão e o Turquemenistão, e mais de mil encontravam-se “em processo de evacuação”, indicou Guo.

Pequim manifestou esta semana a sua “profunda preocupação” com o agravamento do conflito entre Teerão e Telavive, apelando para a adoção de “medidas imediatas para acalmar as tensões”, ao mesmo tempo que reiterou que “a força não pode trazer uma paz duradoura”.

Direito Internacional | Wang Yi condena Israel em conversa com Egipto e Omã

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, condenou ontem Israel por “ignorar o Direito Internacional” e provocar “uma escalada abrupta das tensões no Médio Oriente”, durante uma conversa por telefone com os homólogos do Egipto e de Omã.

Em conversa com o chefe da diplomacia egípcia, Badr Abdelatty, Wang apelou a um consenso e a ações conjuntas por parte da comunidade internacional, “em especial entre os países da região”, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

O ministro chinês reiterou o apelo a um cessar-fogo e à redução das tensões entre Israel e o Irão, e afirmou que a China está disposta a trabalhar com o Egpto para melhorar a comunicação e a coordenação com os organismos multilaterais – como as Nações Unidas – e a envidar os esforços necessários para promover conversações de paz e reconciliação.

Num tom semelhante, Wang Yi disse ao homólogo de Omã, Sayyid Badr bin Hamad bin Hamood Albusaidi, que Israel violou “a soberania e segurança do Irão”.

O chefe da diplomacia chinesa manifestou ainda o apoio de Pequim à declaração conjunta emitida por 21 países árabes, incluindo Omã, e expressou confiança em que essas nações se mantenham unidas e persistam nos esforços para levar as partes envolvidas ao diálogo.

Pequim, parceiro próximo de Teerão, reiterou que “a força não pode trazer uma paz duradoura” e assegurou que “continuará a manter comunicação com as partes relevantes, promovendo a paz e o diálogo”.

Médio-Oriente | China adverte para “risco de descontrolo”

Pequim continua a apelar ao fim das hostilidades entre Israel e o Irão, enquanto os Estados Unidos hesitam se devem, ou não, intervir directamente no conflito

 

A China advertiu ontem que “a situação no Médio Oriente é tensa e delicada, e corre o risco de se descontrolar”, pedindo “atitude responsável” aos Estados Unidos, numa altura de fortes tensões entre Irão e Israel.

“O conflito já dura há uma semana, causou grandes prejuízos aos povos de ambos os países e afectou gravemente a paz e a estabilidade da região e do mundo”, afirmou Guo Jiakun, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, numa conferência de imprensa em Pequim.

Guo sublinhou que o agravamento do conflito “não trará vencedores” e reiterou a oposição da China a “qualquer violação dos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas e a qualquer atentado contra a soberania, segurança e integridade territorial de outros países”, bem como “ao uso ou ameaça de uso da força nas relações internacionais”.

Num recado velado a Washington, o porta-voz afirmou que “a comunidade internacional, especialmente os grandes países influentes, deve manter uma posição justa e uma atitude responsável, de forma a criar condições favoráveis a um cessar-fogo e ao regresso ao diálogo e às negociações”, para evitar que “a situação regional caia num abismo e se produzam desastres ainda maiores”.

Ao sabor do vento

Na quarta-feira, Trump deixou em aberto a possibilidade de uma intervenção militar norte-americana contra o Irão. “Pode ser que o faça. Pode ser que não o faça. Quero dizer, ninguém sabe o que eu vou fazer”, disse o republicano.

Trump acrescentou que Teerão ainda quer negociar um acordo nuclear com os Estados Unidos e que, segundo afirmou, o Irão terá mesmo proposto enviar uma delegação à Casa Branca para retomar as conversações — algo que o Governo iraniano negou.

O Presidente norte-americano sugeriu ainda que o início dos ataques israelitas contra instalações nucleares e militares do Irão ocorreu depois de expirado o prazo imposto por Washington a Teerão para concluir um novo pacto nuclear.

Qing 情como fundamento da ética naturalista de Xun Zi (2)

Por Li Chenyang

(Continuação do número anterior)

Dois grupos de significados de Qing

Embora os estudiosos do Xunzi geralmente leiam qing como sentimentos, emoções ou paixões, o termo possui outro conjunto de significados que gravita em torno de actualidade (shíqíng 實情), como é frequentemente encontrado em textos da era pré-Qin (ver Graham 1986: 59-66). O Xunzi emprega numeros usos de qing no sentido de atualidade. Por exemplo, Xunzi escreve:

Se puserdes de lado as preocupações próprias da humanidade para especular sobre o que pertence ao Céu, perdereis as actualidades (qing) da miríade de coisas. (Xunzi, 21)

Xunzi defende que o Céu ou a natureza (tīan 天) mantém o seu próprio curso. Os seres humanos podem beneficiar ao compreenderem como funciona e ao utilizarem-na para os seus próprios fins. Saber como as coisas funcionam é importante para fazer uso delas. No capítulo 21, Jiebi, Xunzi discute como cada uma das miríades de coisas possui uma forma percetível, e a cada ser percepcionado pode ser atribuído o seu devido lugar no mundo. Ele sustenta que uma pessoa pode sentar-se em sua própria casa e, no entanto, perceber tudo o que está dentro dos quatro mares. Ele pode viver no presente, mas encontrar o lugar apropriado para o que é remoto no espaço e distante no tempo. Xunzi escreve:

“Ao penetrar e inspeccionar a miríade de coisas, ele conhece as suas qualidades reais (qing). Examinando e testando a ordem e a desordem, ele está totalmente familiarizado com as suas leis internas. Ao estabelecer a urdidura e a trama do Céu e da Terra, ele adapta as funções das miríades de coisas. Ao regular e distinguir de acordo com a grande ordem, ele engloba tudo no espaço e no tempo.”

Além disso, no capítulo 3, Bugou, Xunzi escreve:

“Assim, agarrando-se ao que é muito pequeno, ele pode realizar tarefas que são extremamente grandes, tal como com uma pequena régua de apenas cinco polegadas de comprimento se pode medir a área do mundo inteiro. Assim, o junzi não precisa de sair da sua própria casa, mas as actualidades (qing) de tudo o que está dentro dos mares são aí estabelecidas e acumuladas.”

Nestas passagens, qing significa “actualidades”, “qualidades reais” ou “circunstâncias reais”. Este é o significado primário do termo no primeiro grupo. Intimamente relacionado com este uso está o significado do essencial ou quintessencial de algo. No capítulo 16, Qiangguo, Xunzi escreve:

Ter princípios morais e um sentido do que é justo modera a pessoa interior e a miríade de coisas exteriores. Em cima, produzem paz para o governante e, em baixo, criam um equilíbrio afinado para o povo. Dentro e fora, em cima e em baixo, a moderação é a qualidade essencial (qing) dos princípios morais e da justiça.

Para Xunzi, o qing dos princípios morais e da justiça refere-se aos seus conteúdos substantivos. Dizer que “a moderação é o qing dos princípios morais e da justiça” sugere que a moderação está implícita na própria noção de princípios morais e de justiça e é essencial para eles.

Uma utilização semelhante de qing pode também ser encontrada no Capítulo 20, Yuelun. Aí se afirma: “As caraterísticas essenciais (qing) da música são procurar esgotar a raiz das coisas e levar a mudança ao seu mais alto grau” (Knoblock 1994: 84, modificado). Neste uso, qing sugere algo profundo no sujeito e algo que representa as suas caraterísticas quintessenciais. Este sentido está de certa forma implícito no conceito de atualidade; nomeadamente, é realmente tal e tal, independentemente da sua aparência.

Para além do sentido de qualidade essencial, qing também pode ser alargado para significar autenticidade. No capítulo 30, Faxing, Xunzi faz uma analogia entre a pessoa moralmente refinada e o jade. Na visão de Xunzi, o jade é refinado, agradável e benéfico. A virtude de uma peça de jade deriva da regularidade e da ordem na disposição dos seus veios, tal como a virtude de uma pessoa deriva do seu carácter regular e ordenado. O jade é duro e forte e não se dobra, tal como a rectidão da pessoa moral. O jade quebra-se mas não cede, como a verdadeira coragem. Depois, Xunzi afirma:

“Os seus xia shi 瑕適 são ambos visíveis, como se fossem autênticos (qing 情). Se o golpearmos, os seus sons soarão claramente e serão ouvidos ao longe e, quando cessarem, haverá uma sensação de tristeza, como um discurso modulado. Assim, embora a serpentina seja esculpida, o resultado não é igual às marcas naturais do jade. Uma Ode diz: “Estou a pensar no meu sewnhor, como ele é refinado, ele é como o jade.” Isto exprime o meu sentido.”

O termo xiá shì 瑕適 tem sido frequentemente interpretado como significando xiá zhé 瑕謫, que descreve falhas numa peça de jade (ver Wang 1988: 535-36). Quando tanto as falhas como as virtudes estão à vista de todos, sem tentativas para esconder os defeitos, tal implica autenticidade. O termo “qing” é usado para designar uma pessoa que não tem defeitos, o que implica autenticidade. Ao descrever uma pessoa, “qing” neste sentido sugere autenticidade ou honestidade.

Este sentido também pode ser visto como uma extensão do sentido de actualidade. No capítulo 3, Bugou, Xunzi diz: “[Aquele] que não exibe as suas boas qualidades nem encobre os seus defeitos, mas usa as verdadeiras circunstâncias (qing 情) para se recomendar, é correctamente designado por “honesto erudito”. Embora “qing” seja aqui utilizado no sentido de actualidade, a expressão “usa as verdadeiras circunstâncias para se recomendar”, yĭ qīng zì jié 以情自竭 literalmente significa “esgotar totalmente o qing”, apontando para o sentido de autenticidade ou honestidade. Uma boa pessoa não esconde os seus defeitos; apresenta-se plenamente como é na realidade. Em comparação, a afirmação “os seus xia shi são ambos visíveis, (é) como ser autêntico (qing)” (Capítulo 30) é apenas uma forma diferente de descrever “aquele que não exibe as suas boas qualidades nem encobre os seus defeitos, mas usa as verdadeiras circunstâncias (qing 情) para se recomendar” (Capítulo 3).

A utilização de qing no sentido de autenticidade é uma abreviatura da expressão “esgotar totalmente o qing”. Dada a sua ligação, podemos dizer que a actualidade, o essencial e a autenticidade constituem um conjunto de significados de qing. O segundo grupo de significados de qing aponta para um estado afectivo de consciência. Neste sentido, qing representa um conjunto de estados psicofisiológicos de sentimento, emoção e paixão. Embora este conjunto de significados tenha sido o entendimento comum do termo na leitura do Xunzi, A. C. Graham resistiu a essa leitura. Aventurou-se a dizer que qing, no Xunzi e em toda a literatura pré-Han, significa “factos” e “genuíno” e que nunca significa “paixões” (ou coisas do género) (Graham 1986: 59).3 Um pouco como Gottlob Frege, Graham distingue referência de significado. Podemos usar “alto” para nos referirmos a um monte e “baixo” para nos referirmos a um vale. Mas “alto” não significa “montanha”, nem “baixo” significa “vale”.

(continua)