Japão | Retiradas 50 pessoas de ilhas após 1.500 sismos 15 dias

As autoridades do Japão retiraram quase 50 residentes de um arquipélago no sudoeste do país, uma região que foi afetcada por mais de 1.500 sismos no espaço de cerca de duas semanas.

Um total de 46 residentes das ilhas de Akuseki e Kodakara, no arquipélago de Tokara, apanharam um ‘ferry’ para Kagoshima no domingo, informaram as autoridades locais. Na quinta-feira, o Japão já tinha ordenado a evacuação de Akuseki, devido à vaga de sismos, alguns atingindo magnitudes de cerca de 5 na escala de Richter.

No domingo, dois sismos de magnitude 4,9 e 5,5 atingiram a ilha de Akuseki pouco depois das 14:00, avançou a Agência Meteorológica do Japão. A agência alertou que podem ocorrer sismos de magnitude 6 na área.

Apenas cerca de 20 pessoas permanecem em Akuseki e cerca de 40 em Kodakara, que decidiram não abandonar as suas casas porque, na maioria, têm animais. O número de sismos nestas ilhas ultrapassou os 1.500 desde 21 de Junho e, embora não tenha havido danos ou feridos significativos, os residentes confessaram ter medo e dificuldades em dormir.

O arquipélago de Tokara, entre as ilhas Yakushima e Amami-Oshima, fica ao longo da Fossa de Ryukyu, onde a placa do mar das Filipinas mergulha sob a placa Euro-Asiática.

Embora a área seja conhecida pela actividade sísmica, alguns especialistas observaram que a situação recente é invulgar, uma vez que os sismos na região geralmente diminuem após picos de cerca de dez dias.

Quinze polícias filipinos detidos por desaparecimento de apostadores de lutas de galos

Quinze polícias foram detidos e estão a ser investigados pela sua alegada responsabilidade nos raptos e possíveis assassinatos de pelo menos 34 pessoas envolvidas em lutas de galos, anunciou ontem o chefe da polícia filipina.

Os desaparecidos foram acusados de fazerem batota naquelas competições – extremamente populares no país – e, segundo um testemunho, os seus corpos foram atirados para um lago de um vulcão com a cumplicidade da polícia.

As vítimas desapareceram em 2021 e 2022, quando estavam a caminho ou a regressar de arenas de luta de galos espalhadas pela principal região de Luzon, no norte das Filipinas, incluindo na área metropolitana da capital Manila.

Os desaparecimentos não resolvidos voltaram a chamar a atenção do público depois de uma testemunha-chave ter aparecido recentemente e acusado o seu antigo empregador, um magnata do jogo, de planear os assassinatos, mandando atirar os corpos para o Lago Taal, a sul de Manila, ou queimá-los noutro local.

O chefe da polícia nacional, o general Nicolas Torre III, disse, numa conferência de imprensa realizada na semana passada, que uma testemunha-chave, sob o pseudónimo ‘Totoy’, forneceu detalhes cruciais.

Segundo a testemunha, os aficcionados e trabalhadores das lutas de galos foram estrangulados e mutilados antes de serem atirados ao lago.

Os investigadores policiais corroboraram os detalhes e as provas fornecidas pela testemunha, que serão utilizados em queixas criminais a apresentar pelo Departamento de Justiça contra os suspeitos, disse.

Vida em risco

A testemunha disse às estações de TV locais que decidiu manifestar-se porque o seu ex-empregador estaria alegadamente a ameaçar matá-lo. Segundo alegou, queria ajudar a aliviar a agonia das famílias das vítimas, que exigiam justiça pelos seus familiares desaparecidos.

“Fiquei muito chocado”, admitiu Torre, adiantando que as alegações da testemunha – que está sob protecção policial – “fortaleceu a determinação de realmente resolver isto, porque o que aconteceu foi selvagem e inaceitável”.

As queixas criminais serão apresentadas contra o influente empresário, proprietário de arenas de lutas de galos e outros negócios de jogo, mas também contra outros suspeitos, referiu o secretário de Justiça, Jesus Crispin Remulla. O empresário negou as acusações.

Remulla disse que iria pedir ao Japão que ajudasse a fornecer tecnologia para auxiliar na busca de vestígios dos restos mortais das vítimas, que ainda possam ser recuperados do fundo do Lago Taal, apesar de já terem passado cerca de quatro anos.

Passatempo cruel

Embora proibida nos Estados Unidos e noutros países ocidentais, em grande parte devido às preocupações com a crueldade contra os animais, a luta de galos tem sido um passatempo popular e um desporto de apostas em muitas partes do sudeste Asiático, incluindo nas Filipinas, mas também na América Latina e em algumas partes da Europa.

As arenas de luta de galos encontram-se em destaque em cidades rurais remotas e grandes cidades das Filipinas e atraem um grande número de aficcionados para uma indústria que se tornou uma parte vibrante da cultura local e um negócio que gera milhões em receitas estatais e proporciona milhares de empregos.

O jogo envolve colocar dois galos — com arpões afiados ou lâminas de aço presas às patas — numa batalha, muitas vezes até à morte, no meio do rugido da multidão.

Os aficcionados e trabalhadores desaparecidos das lutas de galos foram acusados de fazer batota ao tomarem medidas discretas para enfraquecer um galo ou diminuir as suas hipóteses de vitória, incluindo magoá-lo ligeiramente e depois apostar no outro galo.

Dalai-lama | Índia mantém-se à margem de sucessão

O Governo indiano assegurou sexta-feira que irá manter-se à margem da escolha do sucessor do Dalai-lama, contrastando com a China que rejeita o processo e considera o líder espiritual tibetano um separatista da região anexada.

Num comunicado sobre o plano de sucessão do Dalai-lama, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do governo de Narendra Modi afirma que não tomará “qualquer posição” em questões de fé.

“O Governo da Índia não toma qualquer posição ou pronunciamento sobre questões relacionadas com crenças e práticas de fé e religião”, disse o porta-voz do Ministério, Randhir Jaiswal, em resposta a perguntas dos meios de comunicação social sobre o recente anúncio do líder espiritual tibetano.

O país “sempre defendeu a liberdade religiosa para todos na Índia e continuará a fazê-lo”, sublinhou. Na quinta-feira, o ministro indiano dos Assuntos das Minorias, Kiren Rijiju, afirmou aos meios de comunicação locais que a decisão caberia exclusivamente ao líder budista.

“Todos aqueles que seguem o Dalai-lama acreditam que a reencarnação deve ser decidida de acordo com as convenções estabelecidas e os desejos do próprio Dalai-lama. Mais ninguém tem o direito de decidir, excepto ele e as convenções vigentes”, afirmou Rijiju.

A China reiterou na quarta-feira que o sucessor do Dalai-lama deverá ser “aprovado pelo Governo central”.

“A reencarnação de figuras budistas de grande relevo, como o Dalai-lama e o Panchen Lama, deve ser determinada por sorteio através da Urna Dourada e posteriormente aprovada pelo Governo central”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning.

Japão pronto para todos os cenários em matéria de tarifas

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, afirmou este domingo que o país está pronto a “manter-se firme” e está preparado para todos os cenários tarifários possíveis, que possam resultar das negociações comerciais com os Estados Unidos.

Em declarações no programa “Sunday News, The Prime” do canal japonês de televisão Fuji TV, o governante sublinhou a determinação de Tóquio na negociação da aplicação de direitos aduaneiros nulos – tarifa zero – no sector da indústria automóvel. Shigeru Ishiba recordou ainda que o Japão é o maior investidor directo estrangeiro nos Estados Unidos e o maior criador de emprego na maior economia do mundo.

O principal negociador comercial do Japão, Ryosei Akazawa, anunciou este sábado que manteve duas reuniões telefónicas com o secretário de Estado do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, para discutir os direitos aduaneiros, numa altura em que se aproxima o prazo de 09 de Julho para imposição do aumento das taxas por Washington.

Akazawa e Lutnick falaram durante 45 minutos na quinta-feira e durante cerca de uma hora no sábado, reafirmaram as respectivas posições sobre os direitos aduaneiros dos Estados Unidos e “procederam a uma troca de pontos de vista aprofundada”, de acordo com um comunicado do secretariado do Governo japonês. As partes continuarão a coordenar-se, acrescenta no comunicado.

Cartas escritas

Os telefonemas decorreram numa altura em que uma taxa geral de 10 por cento sobre as vendas do Japão para os Estados Unidos deverá voltar a 24 por cento em 09 de Julho, caso o acordo tarifário não seja fechado.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na sexta-feira que assinou 12 cartas, que serão enviadas já esta segunda-feira, para informar os parceiros comerciais das novas taxas alfandegárias dos Estados Unidos sobre as respectivas exportações para os EUA, que começarão a ser aplicadas no próximo dia 01 de Agosto. Trump não especificou quais os países que receberão as cartas.

Para além das tarifas mais amplas, tal como acontece com outros países, o Japão também está sujeito a uma taxa de 25 por cento sobre a importação de automóveis e componentes automóvel pelos EUA e a uma tarifa de 50 por cento sobre o aço e o alumínio.

DSAT | Responsabilização de Lam Hin San é teste ao Governo

Depois da divulgação do relatório do Comissariado da Auditoria ter destacado a falta de fiscalização à Rádio Táxi e o incumprimento das exigências estabelecidas no contrato de concessão, multiplicaram-se as críticas ao director dos Serviços para os Assuntos Tráfego (DSAT) Lam Hin San.

O presidente da Associação da Sinergia de Macau, Johnson Ian, escreveu um artigo de opinião, publicado no jornal Sou Pou, a relacionar a posição de Lam Hin San no contexto da remodelação de directores de serviços e departamentos da administração, recentemente anunciada.

O também candidato a deputado pela lista liderada por Ron Lam considera que a população está mais focada na necessidade de responsabilizar o director da DSAT, do que na remodelação em si. A confirmar-se o boato de que Lam Hin San poderia ser transferido para a Sociedade de Administração de Portos, Johnson Ian argumenta que a saída da DSAT sem que haja responsabilização, para ocupar outro cargo com um salário elevado, não será bem encarada pela população. O candidato a deputado vai mais longe e indica que a situação da DSAT é um teste político para o novo Governo, ainda para mais numa altura em que as alterações aos estatutos do pessoal de direcção e chefia está em análise na especialidade na Assembleia Legislativa.

Como tal, Johnson Ian considera que a população de Macau irá saber em breve se o Executivo de Sam Hou Fai leva a sério a responsabilização de titulares de altos cargos da administração, ou se o tema é apenas um slogan político.

Subida em flecha

“Há muitos anos que a cultura burocrática de Macau não elimina os maus e retém os bons, não recompensa os diligentes e pune os preguiçosos, nem recompensa os mais competentes. Em vez disso, mais vale conhecer pessoas em cargos altos, do que ter conhecimentos profissionais, e a responsabilização é uma mera formalidade”, indicou o candidato do deputado.

Johnson Ian refere também que a única mobilidade de carreira para um determinado patamar é a subida hierárquica, ascensão fomentada por um ambiente profissional de protecção burocrática e que é raro a admissão de falhas, o que impede correcções.

Além disso, o dirigente associativo lamenta que as vozes sociais que ousem criticar políticos sejam rotuladas como agitadores que só causam problemas.

Sócrates é um fenómeno

A vida de José Sócrates Pinto Sousa dava um filme. Sócrates é um fenómeno de ideias rentáveis, de mentira, de corrupção, de altruísmo e de sobrevivência sem problemas financeiros. Sócrates iniciou a sua actividade na Covilhã como agente técnico. Apresentava à edilidade projectos horríveis de casas a edificar. Logo aí, aprendeu como se obtinham licenças de construção civil pela via “mais rápida. Cedo aderiu ao PSD ingressando na Juventude Social Democrata. Mais tarde, deu-se conta que o partido político com mais representatividade em tudo o que fosse ter uma posição de elite era o Partido Socialista. E aderiu como militante socialista. Começou a subir degraus e Mário Soares simpatizou com o seu dinamismo dando-lhe a mão, ao ponto de degrau em degrau chegar a secretário-geral. Pretendeu que o tratassem por engenheiro, mas rapidamente veio a saber-se que não possuía nenhum curso superior de engenharia. Houve escândalo quando veio a lume que tentou obter o diploma com exames de certas cadeiras ao domingo…

O seu partido elegeu-o secretário-geral e ganhou eleições. No primeiro dia que entrou em São Bento como primeiro-ministro muitos dos seus amigos interrogaram-se como é que tinha conseguido subir ao terceiro lugar mais importante da hierarquia política portuguesa. Durante o seu governo teve ideias de aplaudir, nomeadamente reformas na área da Saúde. Passou a ser um dos políticos mais populares no espectro político nacional. Mas, há sempre um “mas”. Sócrates sempre foi um homem ambicioso e não olhava a meios para atingir os fins. E a partir do palanque de chefe do Executivo começou a valer tudo no que tocava a cambalachos. O dono disto tudo, Ricardo Salgado, mandou logo um funcionário seu, Manuel Pinho, para o governo de Sócrates. Manuel Pinho era o ponta-de-lança de Salgado junto do primeiro-ministro e ao que se sabe Ricardo Salgado “comprou” Sócrates com cerca de 30 milhões de euros. Quanto à construtora Lena, que ninguém conhecia, o primeiro-ministro Sócrates começou a adjudicar directamente grandes obras e, fontes do Ministério Público, transmitiram-nos que no processo “Operação Marquês” consta que a Lena fez entregar muitos milhões a Sócrates. O primeiro-ministro viajou para a Venezuela com a empresa Lena na mochila e Hugo Chávez recebeu muito bem a ideia que a Lena construísse naquele país milhares de casas de habitação social e um porto de águas profundas. Grandes contratos, grandes acordos, grandes contrapartidas. E mais uma vez, Sócrates conseguiu reembolsar avultadas quantias, segundo o que alegadamente consta dos diferentes processos.

Um dia, Sócrates deixou o país de boca aberta. Convidou Muammar Gaddafi, presidente da Líbia, para visitar Portugal. Sócrates pretendia investimentos libaneses em Portugal e o seu convidado, a troco de muito milhões, conseguiu armar uma tenda gigante no interior do Forte de São Julião da Barra, património nacional que os portugueses muito respeitam. O povo não queria acreditar que estava ali uma tenda gigante, com todos os luxos, para que Gaddafi permanecesse durante a visita. O que se sabe é que a ligação Sócrates-Gaddafi veio a ser imensamente frutuosa para o político português. Na agenda de Sócrates não podia faltar o Brasil e o seu amigo Lula da Silva. Um jornalista brasileiro chegou a escrever que o primeiro-ministro português estava a ganhar muito dinheiro com os acordos comerciais luso-brasileiros. Chegou-se a uma altura que o líder da extrema direita Mário Machado divulgou que José Sócrates tinha já uma fortuna de 330 milhões de dólares americanos e que um primo seu tinha ido a Macau depositar num banco local cerca de 30 milhões de euros.

A verdade é que Sócrates passou a ter uma vida faustosa com carros topo de gama, melhores restaurantes e financiamento a várias mulheres. Adquiriu um andar em um dos edifícios mais valiosos da urbe lisboeta junto ao Marquês de Pombal, daí a intervenção policial e judicial ter dado o nome de “Operação Marquês” a toda a investigação à vida de Sócrates. Este, tinha também comprado um monte no Alentejo para a ex-mulher e para completar os sinais de riqueza viajou para Paris com o seu filho e comprou uma casa no bairro mais caro da capital francesa. A comunicação social daquele tempo salientou que a presença de Sócrates em Paris e os milhões que gastava era “um escândalo”. Quando veio a Portugal tinha a polícia no aeroporto à sua espera e foi logo detido.

As investigações judiciais já tinham provas da sua corrupção activa e passiva, branqueamento de capitais e transferência bancárias dolosas por parte do seu amigo Carlos Silva. Sócrates entrou na prisão de Évora. Era conhecido no interior do presídio como o 44. Mas, como Sócrates sabia muito e tinha dado muito dinheiro a ganhar aos seus camaradas, assistiu-se a um corrupio de personalidades a caminho de Évora para abraçar Sócrates, incluindo Mário Soares. Mais tarde, viria a ser libertado e deu início à sua defesa judicial. Chegou a responder várias vezes aos procuradores do Ministério Público. O que não deve ter sofrido quando os magistrados o tratavam por “senhor Sousa”… As acusações criminosas eram muitas, no entanto, Sócrates rodeou-se de bons advogados pagos a peso de ouro e de recurso em recurso, já lá vão mais de 10 anos (é inacreditável) sem se realizar qualquer julgamento.

Sócrates não para de pensar um minuto como é que tudo isto poderá prescrever ou sair como inocente. Vai daí, na semana passada deu um golpe de mestre. Viajou para Bruxelas e deu uma conferência de imprensa na qual anunciou que ia apresentar uma queixa contra o Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). Sócrates justificou os motivos que o levaram a denunciar os tribunais que disse terem sido “manipulados” para persegui-lo na “Operação Marquês”.

Regressa de Bruxelas e tinha o Campus de Justiça, em Lisboa, à sua espera para pela primeira vez se sentar no banco dos réus num julgamento agendado para a passada quinta-feira. Um julgamento que irá durar meses ou anos, onde estiveram presentes 15 arguidos e os advogados de defesa de Sócrates a requerem a anulação do julgamento por alegadas irregularidades judiciais. Bem, Sócrates ou é maquiavélico ou o humano mais inteligente do planeta. Já há quem diga que será inocentado e que ainda receberá uma indemnização do Estado pelo mal que lhe causou em deixar arrastar o seu caso durante mais de uma década. Ora, digam lá que a vida de Sócrates não dava um bom filme…

“Arte Macau” traz Picasso, IA e história em exposições nos próximos meses

Picasso, arte digital e interactiva, ou Bruno Moinard. São nomes e conceitos presentes nas várias exposições que as operadoras de jogo apresentam nos próximos meses e que se integram no cartaz da “Arte Macau – Bienal Internacional de Arte de Macau, na categoria “Exposições Especiais”.

Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), principal entidade promotora do evento, as mostras desta edição da bienal podem “ser consideradas exposições artísticas tipo caleidoscópio, pois abrangem desde o iluminismo da modernidade das gravuras de Picasso, da arte interactiva do fogo de artifício digital de Cai Guo-Qiang e do seu artista de inteligência artificial cAI™ até à interpretação poética espacial das artes decorativas francesas de Bruno Moinard”.

Não faltam também “as instalações de luz e sombra dos Haas Brothers, que selam memórias industriais, as rapsódias estéticas de dopamina de Craig & Karl e de vários artistas contemporâneos que fundem as suas ideias artísticas com o adorado ‘Sesame Street’, e a odisseia digital dos fornos de Jingdezhen em projecções 4K”.

A Galaxy apresenta “Na cabeça de Bruno Moinard”, que promete transportar o público para a “estética requintada e única de Bruno Moinard, prestigiado designer de interiores francês”. Nesta exposição, patente no Hotel Capella do Galaxy Macau, podem ver-se “300 pinturas, manuscritos, esboços e conceitos” que revelam “a inspiração artística que está por detrás dos espaços mais luxuosos do mundo”.

A Melco apresenta “The Haas Brothers: Clair de Lune”, sendo inspirada nas “‘Moontowers’ que restam da casa de infância dos artistas, em Austin”. Segundo o IC, “neste conjunto de obras a luz da lua é transformada num meio imersivo, guiando os espectadores para o habitat natural do seu bairro de infância, onde podem experimentar a poesia da coexistência harmoniosa do tempo e do espaço em instalações de luz e sombra”.

Olhares e fantasias

Segue-se, da parte da MGM, a exposição de inteligência artificial “cAI™ Lab 2.0 – É o Teu Olhar que Encontra o Meu, ou o Meu que Procura o Teu?”, apresentada no espaço “Fantaxy Box”, no MGM Macau. Trata-se de uma mostra feita pelo artista de inteligência artificial cAI™, desenvolvido pelo artista chinês contemporâneo de renome internacional Cai Guo-Qiang desde 2017. cAI™ “envolve o público num diálogo em tempo real, gerando um espectáculo pirotécnico digital único e organicamente evolutivo, renovando a experiência percetiva e a imaginação artística num laboratório de arte multidimensional”.

Já a Sands apresenta “Dopamina: Fonte de Felicidade”, que reúne “nove prestigiados artistas contemporâneos da Ásia, da Europa e da América” no Venetian Macau, enquanto a SJM Resorts traz “Picasso: Beleza e Drama”, com a “estreia mundial de 143 peças de colecção da Museo Casa Natal Picasso, em Málaga, Espanha”.

“Através de gravuras, cerâmicas e ilustrações a transformação do génio é traçada desde a sua infância, o que revela também o profundo apego do artista às suas raízes em Málaga, bem como a influência profunda do seu núcleo artístico pelos genes andaluzes”, destaca o IC. Por sua vez, a Wynn apresenta na “Arte Macau” a mostra “Olá, China; Olá, Macau: – A Odisseia da Porcelana de Jingdezhen: Uma Viagem Patrimonial de Macau para o Mundo”, sendo esta a “primeira exposição de arte imersiva em grande escala do mundo que apresenta porcelanas de Jungdezhen”. Esta iniciativa é feita em parceria “com a conceituada artista plástica e mestre artesã chinesa, Sonoe Chang”.

“A exposição recria Macau como um nexo importante da Rota Marítima da Seda, revelando a história e o significado histórico do território na globalização da porcelana chinesa, narrando o papel histórico de Jingdezhen como líder mundial em técnicas de cerâmica”, é referido pelo IC.

Somos! | Teatro português de Lisboa para Macau com “Júlio César”

“Júlio César”, é a peça de teatro da Companhia do Chapitô, sediada em Lisboa, escolhida para vir até Macau em Setembro. Destaque também para a realização de oficinas de Teatro Físico e Visual em ligação com a comunidade, numa iniciativa da Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa

 

Setembro marca a chegada de um importante grupo português ligado às artes circenses e que desde há muitos anos que desenvolve projectos de conexão comunitária em Lisboa, recebendo alunos e todas as pessoas interessadas na sua oferta cultural.

Este grupo é a Companhia do Chapitô, que graças à iniciativa da Somos! – ACLP (Associação de Comunicação em Língua Portuguesa), traz a Macau, entre os dias 20 e 23 de Setembro, a peça “Júlio César” e a realização de oficinas de Teatro Físico e Visual, abertas a participantes com ou sem experiência no teatro.

A peça “Júlio César” sobe ao palco da Black Box I do Centro Cultural de Macau, no dia 20 de Setembro, às 20h. Trata-se da 39.ª criação colectiva da companhia, sendo que o Chapitô se inspirou, segundo uma nota da Somos! – ACLP, “na vida e nos eventos históricos em torno de Júlio César, explorando a comédia como linguagem para reinventar a história”.

Júlio César foi um general Romano e um homem de estado. Membro do primeiro Triunvirato, liderou os exércitos Romanos na conquista da Gália, antes de derrotar o seu rival político Pompeu em contexto de guerra civil. Autoproclama-se depois Ditador Perpétuo de Roma, cargo que não ocupou por muito tempo, assassinado por um grupo de senadores que o consideraram uma ameaça à República.

“Inspirados no imaginário popular das representações de Roma e da figura notável que foi Júlio César, explorando inconsistências históricas e tomando liberdades no tratamento de factos documentados – com o desrigor que já caracteriza a Companhia do Chapitô – eis a desconsagração de outro monstro histórico, Júlio César”, destaca a nota da Somos! – ACLP sobre o espectáculo.

“Se era ele um tirano que merecia morrer ou um herói brutalmente assassinado por conspiradores, venha o Diabo e escolha. Aqui não há heróis nem vilões, há circunstâncias e gente ardilosa que faz pela vida. Também há gente menos ardilosa que faz o que lhes mandam. E gente virtuosa que faz o que tem de ser feito. Arrasamos todos por igual”, lê-se ainda.

Teatro físico

No Chapitô, projecto liderado por Maria Teresa Ricou, são “fiéis ao estilo de teatro físico”, onde “os actores utilizam o corpo, o movimento e a gestualidade para criar personagens e transmitir emoções de forma universal, permitindo uma experiência acessível a diferentes públicos”.

Em Macau, e no final de “Júlio César”, a Companhia do Chapitô irá proporcionar sessões de conversa e debate, “promovendo o intercâmbio cultural directo entre os artistas e a audiência levando, assim, a uma troca de ideias e reflexões sobre a experiência teatral presenciada”.

A peça será apresentada em português e legendada em chinês com duração aproximada de 90 minutos sem intervalo. Os bilhetes têm valor de 200 MOP e já podem ser adquiridos através da Macauticket.

Para aprender

Nos dias 21, 22 e 23 de Setembro a equipa do Chapitô apresenta, na Casa Garden, as Oficinas de Teatro Físico e Visual, que têm como objectivo “explorar técnicas de improvisação, criação de personagens e comunicação não verbal, utilizando o corpo como ferramenta central para a expressão artística e narrativa”.

Há nestas sessões uma divisão em três temas – Corpo, Espaço e Improvisação; Personagens e Arquétipos Gestuais; e Jogo Dramático e Improvisação Criativa, sendo as sessões conduzidas pelos formadores Jorge Cruz, Pedro Diogo e Susana Nunes. As oficinas são ministradas em inglês com tradução para chinês e com lotação máxima de 20 participantes.

Fundada em 1996, a Companhia do Chapitô é reconhecida pelo seu trabalho multidisciplinar, baseado no teatro físico e na comunicação através do gesto e da imagem.

Ainda segundo a Somos! – ACLP, a realização do espectáculo “Júlio César” e das oficinas de Teatro Físico e Visual, em Macau, “os participantes têm a oportunidade de explorar as possibilidades de interacção e fusão entre diferentes formas de expressão artística”, revelando-se ao público de Macau “as metodologias e a visão artística da Companhia do Chapitô”. Desta forma, entende a associação, “essa experiência pode inspirar novas abordagens e ideias de intercâmbio cultural”.

Brasil | Petrobras procura investimento chinês

A Presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Magda Chambriard, anunciou que petrolífera brasileira está à procura de investimento chinês para ajudar a melhorar o seu transporte marítimo e infraestruturas.

Um memorando de entendimento assinado este sábado junta no mesmo desígnio as empresas chinesas Cosco, Offshore Oil Engineering Co, China State Shipbuilding Co e a China International Marine Containers Ltd., assim como as empresas brasileiras EBR, Rio Grande, Mauá, Enseada e Atlântico Sul.

A estatal Petróleo Brasileiro SA e sua subsidiária de logística Transpetro servirão como âncoras para potenciais parcerias tecnológicas e comerciais.

“Gostaríamos que os chineses fossem parceiros em estaleiros aqui”, disse Chambriard num evento com executivos brasileiros e chineses realizado no Rio de Janeiro. “Esperamos a injecção de capital chinês”.

Para além da construção de cinco plataformas flutuantes de produção, armazenamento e descarga, que será contratada até 2030, a Petrobras e a Transpetro pretendem encomendar 52 novas embarcações até 2026.

O Governo federal brasileiro quer que parte do programa de renovação da frota, no valor de 29 mil milhões de reais (4,54 mil milhões de euros), seja investida nos estaleiros locais, indo ao encontro dos planos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impulsionar a indústria transformadora.

A indústria de construção naval do Brasil tem enfrentado dificuldades desde a eclosão em 2014 do escândalo de corrupção conhecido como Lava-Jato, que envolveu a Petrobras. No ano passado, a empresa petrolífera retomou as encomendas aos estaleiros navais brasileiros, interrompidas desde 2016.

Cooperação | Cabo Verde quer “mais e melhor” investimento chinês

O ministro cabo-verdiano Paulo Rocha afirmou que o país quer dar seguimento às boas relações entre os dois países que já se faz sentir sobretudo ao nível das PME e fazer crescer o nível das parcerias

 

O ministro da Administração Interna de Cabo Verde disse sexta-feira à Lusa que Cabo Verde quer atrair investimento da China, que descreveu como “um dos principais parceiros” no desenvolvimento do país desde a independência.

“Nós, neste momento, já temos uma comunidade chinesa em Cabo Verde, essencialmente de pequenos e médios empresários”, afirmou Paulo Rocha em entrevista à Lusa. O ministro disse que o próximo alvo é “atrair mais e melhor investimento [chinês] em diferentes sectores”, para diversificar a economia de Cabo Verde, muito dependente do turismo.

O mar é uma prioridade e o Governo “procura parcerias” para implementar a Zona Económica Especial Marítima de São Vicente, cujo estudo foi feito com o apoio da China, recordou Rocha, durante uma passagem por Macau.

Também em Macau, em Março, o presidente da agência cabo-verdiana para o investimento externo, José Almada Dias, desafiou a empresa estatal chinesa Shaanxi Construction a aproveitar os 20 mil hectares que o país colocou ao serviço do turismo.

Paulo Rocha disse que seria “perfeitamente realista” a Cabo Verde querer atrair turistas da China e de outros países asiáticos, sublinhando a presença forte de visitantes chineses na Europa e “ainda mais longe”.

“Continuamos a fomentar investimentos neste domínio, crescem o número de hotéis em construção, o número de resorts, particularmente nas duas ilhas mais turísticas, do Sal e da Boavista”, disse o ministro.

Rocha defendeu que a China é, “, sem dúvida, um parceiro confiável” de Cabo Verde e que tem sido “essencial no processo de desenvolvimento em diferentes setores” ao longo dos 50 anos de independência.

Obras e mais obras

Cabo Verde beneficiou de múltiplos perdões de dívida por parte da China – nomeadamente cerca de 1,18 milhões de euros em 2007 e mais 1,39 milhões de euros em 2016. Nas últimas décadas, a China consolidou a sua presença em Cabo Verde através de investimentos em obras públicas, incluindo o Estádio Nacional e a nova sede da Assembleia Nacional.

“Já nos próximos meses, iremos inaugurar uma importante maternidade na ilha de São Vicente, feita com o apoio do Governo da China, estruturante” para toda a região do Barlavento”, defendeu o ministro.

A cooperação estende-se à área da educação, com mais de uma dezena de bolsas atribuídas anualmente pelo Governo chinês. Desde 2010, centenas de estudantes cabo-verdianos frequentaram instituições de ensino superior na China.

Alguns acabaram por ficar por terras chinesas, incluindo em Macau, e tornaram-se “verdadeiros diplomatas do (…) país, além daquilo que é a diplomacia oficial”, elogiou Rocha. A diáspora cabo-verdiana é uma enorme reserva “em termos de capital humano” e que “contribui muito mais do que com as remessas, [ao] investir no sector produtivo do país”, acrescentou o ministro.

Gu Kuang, que tornou o corpo leve como uma pluma

Wang Qia, o pintor daoísta da dinastia Tang (618-906), seria recordado como criador de uma «escola» de pintura designada pomo, «tinta espalhada» que valorizava o gesto espontâneo do pincel para tornar visível algo que é naturalmente invisível. Um modo de representação que buscava a comunicação entre o espírito do autor e o do observador convidado a discernir a finalidade da criação através da exposição do processo.

Uma disciplina exigente, reconhecida até séculos depois por ilustres teóricos como Dong Qichang (1555-1635), que colocava muito alta a barreira a partir da qual essa pintura podia ser exercida: nada menos que no modo de Wang Wei (701-61), o reconhecido fundador da pintura dos letrados: «Só depois de alguém ser como Wang Wei é que poderá usar a maneira pomo de Wang Qia».

Exemplos oriundos do pincel desse criador são hoje dificilmente observáveis e da ténue biografia dele preservada, resta quase só o sedutor eco de um nome que remete o ouvinte para a expressão da substância do espírito. Há porém um outro nome que nas histórias da pintura lhe está muitas vezes associado, o de Gu Kuang (727-821), de quem as pinturas hoje também são raras mas de quem se guardaram poemas que indiciam uma imponderável presença.

Em Um poema do palácio, nota-se a disponibidade para sentir a torrente abundante mas subtil da beleza captada pelos sentidos, como a que vem no vento ou num som: «Numa alta torre de jade, meio caminho para o céu, começa uma canção soprada na flauta,/ O vento entrega no palácio o som harmonioso do palrear e dos risos das raparigas que a habitam./ O brilho do luar resplandece enquanto se escuta o pingar da noite escoando-se na clepsidra,/ As águas, rebrilhantes como cristais, dir-se-iam uma cortina desenrolada sobre o rio do Outono.» Mas o poeta e pintor, desiludido com as intrigas que embaraçavam as suas funções ao serviço do palácio, retira-se do serviço público e passará a usar o nome bem daoísta Buweng, o «Velho recluso».

Gu Kuang obtivera o grau jinshi, que lhe permitia ser um funcionário imperial em 757, no tempo instável do imperador Tang Suzong, cujo reinado (756-62) ficaria marcado pela preocupação em acalmar a revolta de An Lushan que se alastrara como um fogo florestal. Revolta que obrigara à abdicação do seu pai, o imperador Xuanzong e à consequente condenação à morte da sua concubina favorita, um facto relatado no plangente poema de Bai Juyi (722-846), Canto do remorso perpétuo.

Nascido em Yunyang (actual Danyang, Jiangsu) após uma vida entristecida pela morte de um filho, desloca-se com a família em 792 para a cadeia montanhosa de Maoshan, a Sul de Jurong, onde receberá a graça de um novo filho aos setenta anos. Quando vai para lá, escreve um propósito: «Escondido em Maoshan; para tornar metais básicos em ouro,/ Para tornar o corpo leve como uma pena.»

Outra vez os Piratas

Ana Cristina Alves – Investigadora Auxiliar e Coordenadora do Serviço Educativo do Centro Científico e Cultura de Macau

Têm corrido rios de tinta sobre a fundação de Macau, assim como sobre a fundação de Lisboa. Esta última os académicos consideram mais prudente, depois de devidamente analisadas as etimologias, ficar a dever-se a fenícios ou tartéssios (Rocha, 2007), mas que a lenda remete poeticamente para Ulisses, desde Luís Vaz Camões até Fernando Pessoa. Assim se lê no início do Canto Oitavo de Os Lusíadas, que os primórdios de Portugal encontram as suas raízes míticas em Luso, filho e companheiro de Baco, e as de Lisboa em Ulisses (Camões, 1997, VIII.5):

Ulisses é que faz a santa casa

À deusa que lhe dá língua facunda;

Que se lá na Ásia Tróia insigne abrasa,

Cá na Europa Lisboa ingente funda.

Nada mais a propósito do que os ilustres lusitanos descenderem de deuses, bem como os seus espaços geográficos terem sido fundados por heróis gregos de inigualável valor como Ulisses, cujo engenho guerreiro e arte de marear a todos excedia. Daí que alguns séculos volvidos Fernando Pessoa, no segundo poema épico que os portugueses mais valorizam, a Mensagem se refira a Ulisses apontando para a sua dimensão mitológica e para a realidade incontornável que esta sustenta, já que “o mito é o nada que é tudo” (Pessoa, 1986, 24):

 Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade

E a fecundá-la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

Os mitos e as lendas oferecem à realidade muitas vezes o melhor que esta tem, na sua qualidade de projeção revelam ideias e ideais, fornecendo um importante manancial onde se manifesta o inconsciente, mas também o consciente coletivo de um povo. Ulisses guerreiro e navegador é o patriarca encontrado à medida para fundar a capital de um país de indomáveis guerreiros que fez frente a poderosos impérios, como muçulmano, o romano e, mais tarde, o espanhol e que havia de descobrir o caminho marítimo para a Índia, aportando mais além na Ásia Extrema, sem nunca perder a sua faceta cavalheiresca.

Esta seria magistralmente louvada no Canto VI de Os Lusíadas no episódio dos doze de Inglaterra, entre os quais figurava Magriço. Eles saberiam defender a honra das suas damas à espada, revelando uma valentia imensa, narrada por Veloso (Camões, 1997, VI. 48):

Este, que socorrer-lhe não queria

 Por não causar discórdias intestinas,

 Lhe diz: Quando o direito pretendia

 Do Reino lá das terras Iberinas,

 Nos Lusitanos vi tanta ousadia,

 Tanto primor e partes tão divinas,

 Que eles sós poderiam, se não erro,

 Sustentar vossa parte a fogo e ferro.

Este cavalheirismo havia de ser uma constante no imaginário português, não apenas com damas, mas com todos aqueles que se vissem em apuros. Assim sucedeu em Inglaterra, assim haveria de suceder no Sul da China, quando os portugueses auxiliaram os chineses a limpar os mares de piratas e em recompensa lhes foi permitida uma existência sossegada em Macau.

De facto, mesmo que estando apenas perante um mito ou uma lenda, esta só por si já teria a sua razão de ser, pois revela uma determinada imagem coletiva que os portugueses têm de si mesmos e que muito contribui, em termos de valor existencial, para orientar a conduta da população: eles estão aí onde são precisos, no socorro aos mais desprotegidos, numa mão a espada, na outra o coração. Esta é imagem que uma vez mitificada, pode ser aquele “nada que é tudo”.

Relativamente à fundação de Macau, o estudioso (a), depara-se com uma interessante mistura entre o mito e a realidade: primeiro vem a realidade, depois surge a lenda, e esta última terá infinitamente mais peso, senão atente-se nas seguintes informações de pensadores e historiadores insuspeitos.

Luís Gonzaga Gomes , em Macau – Um Município com História (1997) no capítulo “Teses divergentes sobre a origem de Macau ”, defende que existem várias teses sobre a fundação de Macau enquanto espaço chinês governado por portugueses a partir de 1557, sendo que esta data não exclui que os portugueses já tivessem andado por aquelas paragens desde 1555, altura da carta de Fernão Mendes Pinto, onde pela primeira vez surge citado o nome de Macau relacionado com os portugueses.

Quanto às teses são três as mais credíveis:

“1) Macau foi doada aos portugueses; 2) esta doação foi feita em recompensa dos serviços prestados por portugueses na destruição de piratas; e 3) a ocorrência teve lugar no ano de 1577” (Gomes, 1997, 26) Mais adiante, depois de apresentar diversos pontos de vista, ligados a letrados notáveis, tanto portugueses, incluindo Álvaro Semedo, como chineses, defende que “Macau fora doada aos portugueses, pelo motivo já exposto, qual seja o de recompensar o feito valioso da destruição da pirataria nos mares do sul da China ” (Gomes, 1997, 37). Neste sentido, é mencionado por vários autores, e de forma tão deturpada quanto expetável, o nome do temível chefe dos piratas, que terá valido o famoso édito imperial ou chapa, ele é denominado Tchang Si Lao, ou Sam Chislao, ou Charempum, Litauquiem, ou Similao (Gomes, 1997, 37).

Tal constatação não exclui outras leituras mais comerciais da obtenção desta plataforma, que também foi comercial, na China, sendo inclusive avançado um preço para o pagamento do foro do chão em Da Ming Shi (大明史História da Dinastia Ming) citado por A.J. H. Charignon, de 20 mil taéis de direitos por Macau. (Gomes, 1997, 34).

Vai-se encontrar a coexistência de ambas as versões em Cronologia da História de Macau. Séculos XVI-XVII organizada pela historiadora Beatriz Basto da Silva (1992),que faz remontar um importante episódio de aniquilamento de certo e perigoso pirata Lam Chin a 1547, numa descrição do funcionário chinês Lam Hei-Yuen, que remata do seguinte modo “ e assim os piratas que tinham agido à vontade durante 20 anos foram vencidos num só dia. Isso mostra que os Fu-Lan-Chi3 não são piratas, mas pelo contrário protegem-nos contra eles, eles não fizeram nenhum mal ao nosso povo, mas até fizeram bem aos chineses” ( Yuen apud Silva, 1992, 33), sendo apresentado na mesma cronologia o ano de 1554 como aquele em que se dá o primeiro acordo verbal por Leonel Sousa, que legaliza a situação do pagamento de direitos comerciais e “os portugueses são autorizados a comerciar livremente na zona que viria a ser Macau”. (Silva, 1992, 39), datando de 1557 nesta cronologia o estabelecimento dos primeiros portugueses em Macau, data que concorda com a avançada por Luís Gonzaga Gomes, bem como no suicídio do pirata Chan-Si-Lau e na derrota dos piratas do Rio das Pérolas, além de Leonel Sousa “obter autorização para firmar o assentamento anterior dos portugueses em Macau (…) em princípio esta é a data aceite para a Fundação de Macau.” (Silva, 1992, 43).

Na realidade, verifica-se a coexistência das duas origens mais prováveis para a fundação de Macau na Cronologia de Beatriz Basto da Silva. Pergunta-se: teria sido o acordo verbal e o subsequente assentamento, com o pagamento do foro do chão, possível se não tivesse sido verificado o efetivo auxílio dos cavalheiros e guerreiros portugueses às autoridades chinesas, através da ajuda concreta aos comerciantes locais que se viam constantemente pressionados por corsários que então abundavam nos mares da China e do sul da China?

A limpeza do terreno marítimo, proporcionada por uma desenvolvida tecnologia, ao tempo a melhor do mundo, muito contribuiu para que ajuda se tivesse tornado concreta e real, merecendo aos poucos dum povo do extremo oeste da Europa a confiança de um outro do extremo leste da Ásia e só porque foi realmente útil no combate aos piratas a realidade se pôde tornar uma lenda, já que desde o início qualquer das leituras era válida, mas parcial. A fim de obter uma leitura correta e imparcial do que se passou, crê-se que é necessário conjugá-las, compreendendo o quão decisivo foi no bom relacionamento dos dois povos o combate aos piratas, sem eles, não teria havido Macau, enclave governado por estrangeiros em território chinês.

Referências Bibliográficas

Aresta, António, Celina Veiga de Oliveira. 2009. Macau, Uma História Cultural. Lisboa: Editorial Inquérito, Fundação Jorge Álvares.

Barros, Leonel. 2003. Memórias Náuticas – Macau. Macau: Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM).

Camões, Luís Vaz. 1997. Os Lusíadas. Introdução por Silvério Augusto Benedito. Notas de António Leitão. Braga: Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses.

Gomes, Luís Gonzaga. 1997. Macau – Um Município com História. Organização, Prefácio e Notas de António Aresta e Celina Veiga de Oliveira. Macau: Leal Senado de Macau.

Pessoa, Fernando. 1986. Mensagem.使命啟示 Tradução de Jin Guo Ping (金國平). Macau: Instituto Cultural.

Rocha, Carlos. 2007. “Etimologia de Lisboa, outra vez”. In Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/etimologia-de-lisboa-outra-vez/19407, acedido a 30 de junho de 2025.

Silva, Beatriz Basto da. 1992. Cronologia da História de Macau. Séculos XVI-XVII: vol. 1. Macau: Direcção dos Serviços de Educação.

Este espaço conta com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, sendo as opiniões expressas no artigo da inteira responsabilidade dos autores” https://www.cccm.gov.pt

Calor | Alerta de temperaturas altas leva a reabertura do centro de abrigo

O Instituto de Acção Social (IAS) abriu no sábado o Centro de Abrigo de Verão, na Rua Leste da Ilha Verde, n.º 34, depois de os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) terem emitido um alerta laranja para temperaturas altas, o primeiro do ano depois de vários alertas amarelos (grau inferior de severidade). As autoridades previam ontem que as elevadas temperaturas continuassem hoje a afectar o território, mas que o tempo calor iria abrandar ao longo da semana.

O IAS indicou que o abrigo permanecerá aberto até que a temperatura baixe e apela à população para estar atenta à situação física dos idosos, doentes crónicos e pessoas com debilidades físicas, tomando medidas contra o calor e os efeitos na saúde. As temperaturas chegaram ontem aos 36 graus, e as autoridades alertaram para a necessidade de hidratação, evitar exposição directa e prolongada ao sol e vestir roupas largas e finas de cores claras em actividades ao ar livre.

Além do calor, os SMG alertaram ontem a população para a fraca qualidade do ar, que atingiu o grau “insalubre”, aconselhando a redução ao máximo de actividades no exterior.

Cabo Verde | Macau Legend diz ter alternativa a hotel-casino

Enquanto decorre o processo de reversão do projecto da empresa ligada a David Chow, a Macau Legend vai ter uma “última oportunidade” para encontrar uma solução para o hotel-casino inacabado na Praia

 

O ministro da Administração Interna de Cabo Verde disse à Lusa que o Governo vai dar uma “última oportunidade” à empresa Macau Legend, que prometeu “uma alternativa” para o hotel-casino inacabado na Praia.

“O empreendedor tem tido várias oportunidades e tem esta última oportunidade. Diz que terá uma alternativa e o Governo aguarda a apresentação dessa alternativa, ainda enquanto decorre o processo de reversão” do projecto, afirmou Paulo Rocha em entrevista com a Lusa.

Em Novembro, as autoridades de Cabo Verde iniciaram um processo de reversão do hotel-casino e demais obras inacabadas da Macau Legend, no ilhéu de Santa Maria e orla marítima da Gamboa, na cidade da Praia.

Paulo Rocha disse que o Executivo cabo-verdiano deu à empresa fundada por David Chow Kam Fai 60 dias para apresentar uma nova proposta de conclusão do projecto, mas admitiu não saber quando é que este período “começou a contar”.

“Se não apresentar, no prazo que foi dado, o processo de reversão será concluído e depois o Governo irá procurar outros, prováveis, eventuais investidores”, garantiu o ministro, durante uma visita que se encontra a realizar a Macau.

Pára tudo

Actualmente, há apenas guardas nos portões do recinto, uma área de cerca de 160 mil metros quadrados, que inclui o ilhéu de Santa Maria, parcialmente esventrado e, uma ponte asfaltada de poucos metros que o liga a um prédio de cerca de oito andares, vazio e vedado com taipais.

“As obras estão paradas há muito tempo, ficaram a meio. Praticamente não há movimento naquele estaleiro de obras e o Governo pretende ver aquilo resolvido. De uma forma ou de outra”, sublinhou Rocha.

O Executivo disse em Novembro que deu à Macau Legend “todas as oportunidades para a retoma das obras ou para negociar a venda das acções ou a cedência da sua posição contratual a um potencial interessado na continuação do projecto”, mas não foram apresentadas alternativas. “O projecto continua a ser importante, continua a ser estratégico para a cidade da Praia, para Cabo Verde, e ao Governo interessa encontrar uma solução”, referiu o ministro.

Em 2015, David Chow assinou um acordo para um investimento de 250 milhões de euros. Após revisões, há cerca de seis anos, a conclusão da primeira fase estava prevista para 2021. No final de 2023, o presidente da Macau Legend, Li Chu Kwan, disse que o grupo pretendia encerrar os projectos em Cabo Verde e Camboja até 2025.

Em 28 de Março, a Macau Legend anunciou prejuízos de 45,9 milhões de dólares de Hong Kong em 2024, em parte devido à reversão do hotel-casino na Praia.

A operadora reiterou que estava “a tomar as medidas necessárias para salvaguardar os interesses do grupo (…), incluindo explorar todas as opções disponíveis para contestar a decisão” relativa ao processo de reversão do hotel-casino, tomada pelo Governo cabo-verdiano.

Por outro lado, a Macau Legend admitiu ter “dúvidas significativas sobre a capacidade do grupo de continuar em actividade” devido a dívidas totais de 2,51 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Autocarros | Mais de 100 paragens substituídas até ao fim do ano

Está em curso um plano de substituição de 105 abrigos em paragens de autocarros públicos em Macau. Até meados de Maio, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) indica ter concluídas as obras de construção civil de 86 novos abrigos de autocarros, e que pretende, até ao final do ano, instalar, pelo menos, 105 novos abrigos.

A informação foi avançada pelo director da DSAT Lam Hin Sam, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Lei Chan U, que acrescentou que os novos abrigos estão “equipados com sistemas de informação dinâmica”, indicando a situação do trânsito em tempo real.

Relativamente às paragens ao ar livre que, actualmente, não reúnem condições para a instalação de abrigos, com o intuito de evitar obras de pavimentação desnecessárias e escavações repetidas, as informações sobre autocarros são disponibilizadas online, nomeadamente na aplicação móvel de localização de autocarros.

Água engarrafada | Detectado mais um lote com bactérias

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) detectou, na sexta-feira, mais um lote de água engarrafada com elevado nível de bactérias, tendo sido decretada a suspensão de fornecimento e recolha dos lotes.

Segundo uma nota de imprensa, trata-se de garrafões de 18,9 litros da marca “Purity”, tendo estes lotes contaminados sido recolhidos da sede onde opera a empresa, num edifício na zona da Areia Preta, na Rua dos Pescadores.

As águas foram armazenadas a 2 de Julho [quarta-feira], não tendo sido fornecidas a hospitais ou escolas, tendo estado apenas à venda em três espaços comerciais de pequena dimensão, descreve o IAM.

Publicidade | Governo quer mudar lei e legislar “influencers”

As autoridades de Macau propuseram regulamentar, pela primeira vez, a actividade dos influenciadores digitais, incluindo o ‘live marketing’, que envolve a interacção em tempo real com o público, alterando uma lei do tempo da administração portuguesa

 

Cerca de 36 anos depois da entrada em vigor da lei da actividade publicitária, o Governo prepara-se para actualizar a legislação, que passará a regulamentar as actividades dos influenciadores digitais e o “live marketing”, em que os criadores de conteúdos interagem ou vendem produtos em directo, com interacção em tempo real com o público.

Arrancou na passada sexta-feira, a consulta pública de 30 dias, que irá decorrer até 2 de Agosto, sobre as alterações à lei. Durante esse período, o Governo irá organizar cinco sessões de consulta, onde serão discutidos conceitos e definições legais e clarificados os termos sobre os regimes de fiscalização e sanções administrativas.

“Sugere-se clarificar que os participantes em actividades de promoção ‘online’ e ‘live marketing’, como anunciantes, agências de publicidade, proprietários de plataformas e apresentadores, estão sujeitos à Lei de Actividade Publicitária e devem cumprir as suas disposições quando os seus actos constituem publicidade”, afirmou o director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) em conferência de imprensa.

A actual lei da actividade publicitária está em vigor desde 1989, indicou Yau Yun Wah, referindo que, considerando as mudanças na actividade económica dos diversos sectores e a evolução tecnológica, “os conteúdos, formas de divulgação e meios utilizados na publicidade actual são significativamente diferentes dos do passado”.

De acordo com a proposta, os influenciadores devem usar primeiro os produtos que apoiam, de forma a garantir o cumprimento do requisito de “veracidade” da lei. Poderão também “ter de fornecer provas dos seus apoios ao abrigo de uma ‘obrigação de cooperação’”, sublinhou Yau Yun Wah.

Características próprias

“Esperamos que, no futuro, os ‘embaixadores publicitários’ [influenciadores] sejam claramente identificados nos anúncios e que, em caso de reclamações ou alegações falsas, possam ser tomadas medidas legais”, acrescentou.

O responsável esclareceu ainda que, se as empresas contratarem influenciadores de fora de Macau para promoverem produtos, devem obter uma autorização de trabalho para os mesmos.

O director da DSEDT afirmou também esperar que a futura lei permita o aumento de publicidade nas ruas de Macau. “Através do regime de autorização prévia esperamos que o sector da publicidade possa ter mais alívio e desenvolver-se”, afirmou Yau Yun Wah, acrescentando no ano passado os pedidos de afixação de anúncios foram mais de 4.000.

Falta abrangência

O deputado Ron Lam argumentou que as alterações à Lei de Actividade Publicitária, actualmente em consulta pública, não são abrangentes o suficiente, não conseguindo cobrir algumas áreas.

Segundo o Jornal do Cidadão, Ron Lam apontou que apesar da proposta do Governo para a alteração da lei incluir a simplificação de procedimentos e trazer novas definições para a publicidade que se faz online, não existem definições ou regulamentos sobre novos tipos de publicidade, como é o caso da publicidade projectada por iluminação ou sobre imóveis. O deputado diz não entender porque é que a proposta do Executivo não inclui, na publicidade sobre imóveis, a publicidade que é feita ao estacionamento de veículos.

O legislador entende que deve haver um período de transição e uma maior divulgação de informações, tendo em conta que as mudanças no regime da publicidade abrangem várias áreas profissionais. JL /LUSA

Exportações de Macau para os EUA afundaram ainda antes da Guerra Comercial

Entre Janeiro e Março deste ano, as encomendas dos Estados Unidos da América a empresas de Macau registaram uma quebra de 43,3 por cento, face ao período homólogo. A quebra nas encomendas aconteceu ainda antes do início da Guerra Comercial declarada por Donald Trump contra a China, que entrou em vigor a 2 de Abril com o “Dia da Libertação”.

Os dados sobre a quebra das exportações foram divulgados na sexta-feira no âmbito do “Inquérito de conjuntura ao sector industrial exportador referente ao primeiro trimestre de 2025”. Estes dados passaram a ser elaborado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), quando antes estava na alçada da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT).

Esta é a segunda quebra consecutiva face ao período homólogo. Entre primeiro trimestre de 2023, e o primeiro de 2024, as encomendas dos EUA tinham apresentado uma quebra de 16,5 por cento. Quando a comparação é feita entre o último trimestre de 2024 e o primeiro trimestre deste ano, as encomendas dos EUA mostram uma redução de 19,9 por cento.

Em termos homólogo, no primeiro trimestre do ano, as encomendas do Interior cresceram 5,6 por cento, enquanto de outras regiões da Ásia-Pacífico, excluindo Hong Kong e o Japão, cresceram 25,6 por cento. No entanto, as encomendas de Hong Kong caíram 0,2 por cento, enquanto as encomendas do Japão, União Europeia não registaram alterações inalteradas.

Expectativas pessimistas

Em relação às perspectivas de exportação para os próximos meses, a média entre os exportadores mostra que 52,3 por cento espera uma diminuição do comércio, e entre estes, 27,5 por cento espera uma ligeira diminuição e 24,8 por cento uma forte diminuição.

Ao mesmo tempo, 26,9 por cento espera um “ligeiro aumento”, não havendo qualquer exportador que se mostre confiante num “forte aumento” no crescimento das exportações. Por outro lado, 20,8 por cento dos exportadores esperam uma estagnação.

O sector em que existe um maior pessimismo é o da exportação de vestuário e confecções, com 99,9 por cento dos inquiridos a esperarem “uma forte diminuição” das vendas para o exterior. No pólo oposto, o sector dos produtos farmacêuticos é o mais optimista, com 97,2 por cento dos inquiridos a esperarem um “ligeiro aumento”.

Mulheres | Deputada quer prisão antiga como base do patriotismo

A deputada Wong Kit Cheng, ligada à Associação das Mulheres, pretende a transformação da antiga prisão numa base do nacionalismo. Wong acredita que esta seria uma boa forma de promover a economia de Coloane

 

Wong Kit Cheng defende a transformação das instalações da antiga Prisão de Coloane numa “base” para promover o patriotismo entre a população local. A ideia foi divulgada através de uma interpelação escrita da deputada ligada à Associação das Mulheres.

“A Prisão de Coloane é uma testemunha da História dos Serviços Correccionais, mas também é um terreno com uma área de 18 mil metros quadrados. É um edifício com grandes dimensões, o que não é muito comum em Coloane, uma zona onde há falta de terrenos, mas que também merece ser revitalizada”, começou por indicar a deputada. “De facto, a revitalização de instalações militares, da polícia ou de prisões é comum em outras zonas. Por exemplo, o local antigo do Gabinete de Equipamentos Marítimos de Liugongdao e a fábrica de torpedos na Cidade de Weihai, na província de Shandong, foram transformados num Centro de Exposições sobre a Segurança Nacional Abrangente”, apontou a deputada. Wong Kit Cheng referiu igualmente o exemplo de Hong Kong, onde a Prisão Victoria foi transformada num espaço com galerias e zonas de exposição abertas ao público.

Promover a economia

Na perspectiva da deputada, a preservação do local histórico é ainda uma forma de promover a economia de Coloane: “No futuro, se a Prisão de Coloane puder ser reutilizada, a importância histórica, cultural e correccional do edifício pode ser utilizada ao serviço da educação sobre segurança nacional, com a criação de experiências imersivas, exposições temáticas jogos especiais e complexos comerciais”, sugeriu. Wong apontou também que a reutilização pode “trazer uma nova vitalidade à comunidade” de Coloane e promover o “desenvolvimento do turismo cultural e a protecção do património histórico”.

“Uma vez que o terreno da Prisão de Coloane pertence ao Governo, quais são os planos para a utilização do espaço e que planos vão ser seguidos para ser ir ao encontro das expectativas dos residentes, ao mesmo tempo que se aposta no desenvolvimento a longo prazo de Coloane”, questionou. “Quando é que vai haver condições para anunciar o plano de desenvolvimento do terreno?”, acrescentou.

Assumindo que o local deve ser transformado numa base do patriotismo, e numa “linha de defesa da segurança nacional”, Wong questiona ainda o Executivo se vai seguir os exemplos de vários locais do Interior a nível dos materiais expostos e se vai criar exposições permanentes sobre o assunto.

Além destes aspectos, Wong pede ao Governo que apresente um calendário para a transformação do local na base que considera fundamental para a RAEM.

Conta Única | Informação sobre cheque pecuniário disponível online

Os residentes qualificados a receber o cheque pecuniário podem, a partir de hoje, consultar a forma de recepção do montante, o andamento do processo, e outras informações relacionadas através da aplicação móvel Conta Única, ou do website do plano de comparticipação pecuniária.

“Caso necessário, podem igualmente alterar, através do sistema, o endereço de envio do cheque ou a reemissão do cheque”, acrescentou o Gabinete de Comunicação Social. A partir do próximo dia 15 de Julho, os residentes “que reúnam os requisitos” vão começar a receber o apoio através de transferência bancária ou cheque.

Além disso, os residentes que apresentaram o requerimento de atribuição ao Fundo de Segurança Social, e que reúnam o requisito de terem permanecido em Macau por 183 dias, serão informados do resultado da apreciação através da «Conta Única» ou por escrito.

Natalidade | Pedidos do subsídio para bebés a 16 de Julho

A partir de 16 de Julho passa a ser possível apresentar pedidos para receber o subsídio de assistência na infância. A informação foi divulgada pelo Instituto de Acção Social (IAS), através de um comunicado publicado na sexta-feira.

Este é um subsídio mensal de 1.500 patacas, criado pelo Executivo de Sam Hou Fai, que pode resultar num apoio anual de 18 mil patacas. O subsídio abrange as crianças que não completaram os três anos de idade e o pedido tem de ser apresentado até 30 de Junho do próximo ano. Este aspecto significa que qualquer criança que complete três anos deixa de ter acesso ao apoio, o que significa que pode haver casos em que as famílias das crianças são apoiadas apenas durante um mês, como sucede no caso de terem 2 anos e 11 meses.

De acordo com as contas apresentadas pelo IAS, cerca de 15 mil bebés e crianças podem ter acesso ao subsídio, dado que vai ser distribuído aos que nasceram desde 2022 e que ainda não completaram os 3 anos.

Os pais titulares do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM válido podem apresentar o pedido através da Conta Única de Macau. Se o bebé ou criança estiver ao cuidado de outra pessoa que não os pais, é necessário dirigir-se à sede do IAS.

O comunicado destaca ainda que este subsídio tem natureza “temporária, um termo utilizado pelo Governo para evitar que o apoio seja considerado “um direito adquirido” e não possa ser legalmente eliminado no futuro. Esta estratégia tem igualmente sido utilizada em relação ao programa de comparticipação pecuniária, conhecida como “cheque pecuniário”.

AL | Deputados querem proibir placas e implementar suspensões

As alterações propostas por um grupo de legisladores liderados por Kou Hoi In incluem a perda do mandato para qualquer deputado condenado a pena de, pelo menos, 30 dias de prisão dentro ou fora da RAEM

 

A pouco mais de um mês das férias da Assembleia Legislativa, e a dois meses das Eleições Legislativas, um grupo de deputados quer mudar as regras do hemiciclo para proibir a exibição de placas em reuniões, regular o vestuário dos deputados, mudar as regras de perdas de mandato, e criar um sistema de suspensão para quem revela o conteúdo do que é discutido nas comissões.

As alterações para rever o Estatuto dos Deputados e o Regimento da Assembleia Legislativa partiu de um grupo de nove deputados liderado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Kou Hoi In, sendo que os documentos não permitem identificar os restantes.

A nível da proposta de perda de mandato é pretendido que seja aplicada a deputados condenados por crime com pena de prisão de 30 dias. Para a perda do mandato contam os crimes dentro ou fora da RAEM, e o parlamento quer poder tomar a decisão com base em qualquer documento que considere relevante, mesmo que não seja oficial. O novo estatuto prevê a chamada da polícia para remover o deputado a quem o mandato foi suspenso, no caso deste não sair logo da sala do Plenário.

Em relação à suspensão do mandato de deputados, Kou quer que os visados passem a ficar privados da remuneração mensal, ao contrário do que acontece actualmente. Além disso, a suspensão passa a poder ser aplicada se houver “procedimento penal” ou “grave violação dos deveres dos deputados”. O presidente da AL também vai poder suspender qualquer deputado suspeito de revelar o conteúdo das reuniões à porta fechada.

Roupas controladas

O grupo de deputados visa ainda proibir nas reuniões o uso de “roupa” ou “materiais com conteúdo ofensivo ou de provocação política”. Os deputados que propuseram as alterações consideram que a proibição “em nada interfere com os direitos dos deputados”, porque “podem expressar quaisquer opiniões”, de acordo com o regimento.

Os deveres dos deputados também vão ser alterados para consagrar a política “Macau governada por patriotas”, mas também para obrigar os deputados a participar nas reuniões com votações e para ficarem previstos conflitos de interesses que impeçam os deputados de participarem em votações em que a sua imparcialidade pode estar em causa.

Entre as várias alterações, os deputados querem também auto-impedir-se de apresentar propostas de debates públicos sobre assuntos considerados da área do Governo.

BRICS | Sétima cimeira termina hoje com foco nas tarifas de Trump

Desde sábado que os líderes dos países que fazem parte do grupo dos BRICS estão reunidos no Rio de Janeiro para mais uma cimeira destinada a pensar a reforma das instituições e inclusão de mais economias emergentes, bem como o combate às tarifas decretadas por Trump. Destaque para as ausências de Xi Jinping e Vladimir Putin

 

O Rio de Janeiro acolhe, desde sábado, a cimeira de líderes do grupo BRICS, que termina hoje. O primeiro dia foi pautado pelo diálogo em torno da ambição das economias emergentes em reformar as instituições internacionais e a defesa do multilateralismo.

“Acho que a mensagem principal é essa: no momento de tantas crises internacionais, conflitos, a gente está vivendo uma sucessão de conflitos que só aumentam de ano para ano, ter um conjunto de países reafirmando o poder da diplomacia, da cooperação, da necessidade de actuar de forma conjunta, para resolver os problemas da população e não para gerar mais destruição, como os conflitos, é uma oportunidade que a gente sempre tem de aproveitar”, disse o embaixador Mauricio Lyrio, guia das discussões e acordos dos chefes de Estado na conferência, designado pela presidência brasileira dos BRICS.

Ao todo têm estado presentes cerca de 30 países e nove organizações internacionais, com o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva a liderar a reunião, que conta com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, do Presidente de Angola e da União Africana, João Lourenço, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, entre outros.

As principais ausências são as dos chefes de Estado russo e chinês, dois países fundadores dos BRICS. Vladimir Putin, alvo de um mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por suspeita de deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia, participará apenas por videoconferência.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, serão os representantes dos dois países fundadores do grupo, que representa mais de 40 por cento da população global e mais de 35 por cento do produto interno bruto (PIB) mundial.

Da China com amor

Segundo a agência estatal chinesa Xinhua, o primeiro-ministro chinês prometeu “expandir a cooperação com o Brasil” nas áreas da “economia digital e aeroespacial”. Li Qiang falou no sábado, no âmbito de um encontro com Lula da Silva, referindo que o país pretende “trabalhar com o Brasil para aproveitar as vantagens complementares de cada um e expandir a cooperação em áreas como economia digital, economia verde, inovação científica e tecnológica e aeroespacial”.

A Xinhua cita palavras de Li Qiang, que referiu o facto de “a China estar pronta para trabalhar com o Brasil para continuar os esforços no sentido de enriquecer as dimensões das relações bilaterais e alcançar resultados mais concretos na cooperação, a fim de proporcionar mais benefícios aos dois povos”.

Um dos pontos saídos deste encontro foi a realização, em 2026, do Ano da Cultura China-Brasil, que prevê uma intensificação na cooperação em áreas como “a educação, juventude e saúde”, a fim de se facilitar “ainda mais os intercâmbios entre os povos e fortalecerem o apoio público à amizade e cooperação China-Brasil”.

“A China está disposta a trabalhar com o Brasil para consolidar e aprofundar ainda mais a cooperação bilateral em comércio, finanças e desenvolvimento de infra-estruturas no âmbito da cooperação de alta qualidade da Belt and Road [faixa e rota]”, terá dito o primeiro-ministro chinês, que não esqueceu a grande bandeira desta cimeira dos BRICS: o multilateralismo.

Desta forma, Li Qiang considerou “os dois países como defensores ferrenhos do multilateralismo e do livre comércio”, dizendo que “a China está disposta a melhorar a comunicação e a coordenação com o Brasil em estruturas multilaterais como as Nações Unidas, o BRICS e o G20, trabalhar em união com os países em desenvolvimento para promover um mundo multipolar igualitário e ordenado e uma globalização económica universalmente benéfica e inclusiva, e proporcionar mais certeza e estabilidade ao mundo”.

Do outro lado, Lula da Silva referiu que “o Brasil está disposto a aprofundar a comunicação e a coordenação multilateral com a China, a opor-se conjuntamente ao unilateralismo e defender o multilateralismo e o comércio livre, a fim de promover a paz e o desenvolvimento mundial”. Foram assinados, depois da reunião entre os dois líderes, “documentos de cooperação em áreas como assuntos fiscais e financeiros, inteligência artificial, alinhamento de estratégias de desenvolvimento e aeroespacial”.

A estreia de Cuba

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, também participa na 17ª cimeira dos BRICS, sendo a primeira vez que Cuba se associa a este grupo geopolítico e de cooperação económica.

Sob o lema “Reforçar a cooperação no Sul Global para uma governação mais inclusiva e sustentável”, a agenda da Cimeira dos BRICS compreende dois eixos centrais: a consolidação da cooperação entre os países do Sul Global e a promoção de reformas nos mecanismos de governação internacional.

Criado em 2009 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, o BRICS admitiu a África do Sul dois anos depois e, desde o ano passado, integra seis novos membros efectivos: Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irão, Indonésia e Arábia Saudita. O Brasil convidou para esta cimeira os líderes de vários países da América Latina, incluindo o México, Colômbia, Uruguai e o Chile.

O estatuto de associado, que leva Cuba ao Rio de Janeiro, foi aprovado em Outubro de 2024 durante a cimeira do grupo realizada na cidade russa de Kazan, facto que foi oficializado em 2025, recordou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país caribenho.

Para além das questões geopolíticas, os BRICS têm procurado, no Rio de Janeiro, afirmar o peso económico da organização, designadamente no domínio financeiro, no qual há anos buscam uma alternativa ao dólar para as trocas comerciais no seio do grupo.

O Presidente anfitrião, Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil, sublinhou na passada sexta-feira a importância de um mecanismo com estas características, reconhecendo, no entanto, que o actual contexto político internacional é “complicado”.

O que está na agenda

No primeiro dia, os chefes de Estado e de Governo dos BRICS participaram em duas sessões plenárias, nomeadamente sobre “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global” e a segunda relativa ao Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Económico-Financeiros e Inteligência Artificial”.

Nesta última, foi discutida a revisão das participações accionárias no Banco Mundial, o realinhamento de quotas do FMI [Fundo Monetário Internacional] e o aumento da representação dos países em desenvolvimento em posições de liderança nas instituições financeiras internacionais e a importância de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.

Para além disso, e tal como tem vindo a acontecer durante as reuniões ministeriais dos BRICS ao longo dos últimos meses, deverá ser feita uma denúncia ao aumento de medidas protecionistas unilaterais injustificadas, numa referência às medidas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; assim como um apelo ao reforço da utilização de moedas locais no comércio entre os países do bloco. Hoje a sessão plenária será sobre “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”.

O termo BRIC foi criado por um analista da Goldman Sachs para se referir às economias emergentes que começaram a destacar-se a nível mundial além dos EUA, tendo os BRICS reunido pela primeira vez, ao nível de chefes de Estado, em 2009. Esta é a primeira reunião que congrega a nova configuração do grupo com 11 países membros.

O Brasil mobilizou cerca de 20 mil militares, além de caças com mísseis, sistemas anti-drone e atiradores de elite para garantir a segurança do evento. A operação de segurança, denominada Comando Operacional Conjunto Redentor, prevê ainda a utilização de 300 viaturas, 38 veículos blindados, 18 barcos e oito helicópteros.

Professor da UCTM participa em comité da ONU para o espaço

Xu Yi, docente e investigador do Laboratório Estadual de Ciência Lunar e Planetária da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (UCTM), participou pela primeira vez como membro da delegação chinesa do Comité da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Espaço Exterior. O organismo em causa chama-se Comité das Nações Unidas para os Usos Pacíficos do Espaço Exterior (COPUOS) e realizou sua 68.ª sessão em Viena, Áustria.

Xu Yi participou na discussão de temas como o “Espaço e Água” e “Espaço e Desenvolvimento Sustentável”.

Segundo informações oficiais, “a participação de um académico de Macau no COPUOS reflecte o apoio do Governo Central ao desenvolvimento científico e tecnológico da RAEM”, o que demonstra “o sucesso” da prática de “um país, dois sistemas” no território. Por sua vez, Xu Yi disse que “o Laboratório Estadual continuará a contribuir para a exploração espacial chinesa, fortalecendo o papel de Macau no avanço científico nacional”.

O referido Laboratório Estadual foi aprovado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China, tendo sido estabelecido oficialmente em 2018. Por sua vez, o Laboratório Estadual de Ciência Lunar e Planetária da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau é o único laboratório nacional chinês dedicado à astronomia e ciências planetárias.

A sua criação, segundo as mesmas fontes oficiais, “alinha-se com a estratégia de impulsionar a exploração espacial, promover a inovação tecnológica na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e elevar o nível científico de Macau”. Actualmente, o laboratório conta com mais de 40 especialistas e uma equipa de pesquisa com mais de 200 membros.

Com história

O COPUOS foi fundado na ONU em 1959 e pretende “estabelecer princípios e regulamentos para o uso pacífico do espaço exterior, promover a cooperação internacional nessa área e estudar questões científicas e legais relacionadas à exploração espacial”, esclarece a mesma nota, que dá ainda conta de eventos realizados no contexto deste encontro do COPUOS.

Trata-se de “One Humanity, Infinite Frontiers” [Um Humanidade, Fronteiras Infinitas], organizado pela China e que decorreu na sede da ONU em Viena, sendo uma exposição que celebrou os “20 Anos do Programa Chinês de Exploração Lunar”. Xu Yi participou neste evento e partilhou “a trajectória do Laboratório Estadual no apoio à Agência Espacial Nacional Chinesa”.