PME | Pedidos empréstimos no valor de 1,1 mil milhões João Luz - 22 Jul 2025 Em pouco menos de três meses, foram aprovados 433 empréstimos com juros bonificados a PME, num valor de 1,1 mil milhões de patacas e bonificações de 130 milhões de patacas. A adesão ao plano para reforçar o fluxo de capitais do tecido empresarial pode ser requisitada até 22 de Abril de 2026 Desde que foi lançado, a 22 de Abril deste ano, até à passada quarta-feira, a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) recebeu um total de 581 pedidos de bonificação de juros ao abrigo do Plano de Bonificação de Juros de Créditos Bancários para as Pequenas e Médias Empresas (PME) 2025, dos quais 433 foram aprovados. A informação divulgada ontem pela DSEDT, de acordo com dados fornecidos pelo sector bancário, revela ainda que os empréstimos envolveram créditos bancários no valor de cerca de 1,1 mil milhões de patacas e bonificações no valor de 130 milhões de patacas. Comparando com outras edições do plano de empréstimos com juros bonificados a PME, a adesão é significativamente mais baixa. No primeiro plano de empréstimos foi lançado no início da pandemia, a 17 de Março de 2020, em três meses o Governo injectou cerca de 4,3 mil milhões de patacas na PME em juros bonificados. No mesmo período de três meses, foram recebidos 3.944 pedidos, dos quais 3.272 foram aprovados. Na edição do plano lançada em 2022, e que se prorrogou até Julho de 2023, o montante de créditos bonificados foi cerca de 4,52 mil milhões de patacas, envolvendo uma bonificação de juros no valor de cerca de 360 milhões de patacas. Pataca e conhecimento O montante máximo dos créditos a conceder a cada empresário no plano deste ano é de 5 milhões de patacas, com o prazo máximo de bonificação de três anos e o limite máximo da taxa anual de bonificação é de 4 por cento. No comunicado divulgado ontem, o Governo reforça que o plano de empréstimos com juros bonificados “visa ajudar as PME a reforçar o fluxo de capitais, promover o desenvolvimento estável das empresas e aumentar a sua confiança na exploração dos negócios.” A celeridade de procedimentos foi outro objectivo elencado pela DSEDT que diz que “continua a colaborar estreitamente com bancos licenciados para agilizar o processo de aprovação de empréstimos, com o objectivo de facilitar o financiamento das empresas, apoiar o seu desenvolvimento sustentável e salvaguardar o emprego da população”. Além disso, foram organizadas até agora mais de 10 sessões de esclarecimento para empresários, em colaboração com o sector bancário e as associações e instituições, para apresentar os detalhes do plano, como a forma de bonificação, os requisitos de candidatura e os procedimentos de apreciação”.
IA | Governo promete esforço para educar a população Hoje Macau - 22 Jul 2025 O Governo promete promover o ensino da inteligência artificial (IA) não só nas escolas, mas a nível de toda a população, para alertar para os perigosos da nova tecnologia e apontar oportunidades. A posição foi tomada por Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), na resposta a uma interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang. “Em resposta à crescente popularização da aplicação da tecnologia de inteligência artificial, o Governo da RAEM promove o ensino da inteligência artificial em todos os níveis de ensino e a educação em geral ao nível social relativamente a esta área”, pode ler-se na resposta. Como parte da estratégia, a DSEDJ emitiu orientações para as escolas do ensino não-superior e superior definirem a sua estratégia de ensino sobre a IA em matérias como a utilização das tecnologias e ferramentas de inteligência artificial, aspectos legais, e utilização legal e ética. A nível dos trabalhos de educação da população, a resposta à interpelação do deputado indica que o Centro de Ciência de Macau vai disponibilizar três cursos diferentes para os interessados. No primeiro nível, os conteúdos são mais básicos com uma espécie de introdução à inteligência artificial, necessidades de protecção da privacidade e utilização segura e legal. Também a nível dos serviços públicos o Governo promete uma maior utilização, principalmente ao nível da tradução.
Ciência | Sam Hou Fai pede mentalidade nova para atrair talentos Hoje Macau - 22 Jul 2025 O Chefe do Executivo entende que Macau tem de se emancipar da mentalidade actual para “concretizar o objectivo orientador de ‘atrair, reter e estabilizar’ empresas e quadros de inovação científica e talentos de ciência e inovação de alta qualidade”. A ideia foi defendida num discurso ontem durante a primeira reunião plenária deste ano do Conselho de Ciência e Tecnologia. Sam Hou Fai focou-se em matérias ligadas a ciência e tecnologia, uma das quatro indústrias prioritárias indicadas pelo Governo Central para Macau no âmbito da política “1+4” elaborada para diversificar a economia, onde o Governo da RAEM está a intensificar os seus esforços para optimizar o ambiente para desenvolver as indústrias ligadas à ciência e tecnologia. Para tal, o governante realça a necessidade de potenciar as vantagens de Macau “em termos de conectividade interna e externa a fim de promover o crescimento da indústria de tecnologia de ponta”. “Estamos profundamente conscientes de que o crescimento da indústria tecnológica injectará um novo ímpeto na economia de Macau, criará empregos de alta qualidade e proporcionará um palco para os jovens de Macau perseguirem os seus sonhos e as suas aspirações. Assim sendo, a indústria tecnológica será um capítulo relevante para desenvolvimento futuro de Macau”, apontou Sam Hou Fai. Um dos passos para desenvolver o sector será unir todos os sectores da sociedade de Macau para “implementar seriamente o espírito consagrado nos discursos importantes proferidos pelo Senhor Presidente Xi Jinping durante a sua visita a Macau”. O Chefe do Executivo recordou que o líder chinês “reconheceu vivamente o trabalho de investigação científica das instituições do ensino superior de Macau” durante a passagem pelo território.
Finanças | Assinado acordo com o Banco da China para apostar na diversificação João Santos Filipe - 22 Jul 2025 Sam Hou Fai espera que a instituição bancária estatal sirva a economia real do território e ajude a diversificar a economia, principalmente na área das finanças. O conteúdo e os custos da nova parceria para a RAEM não foram revelados O Governo e o Banco da China assinaram um novo acordo que visa a diversificação da economia com uma maior aposta na área das finanças. O Executivo não revelou o conteúdo nem os custos para a RAEM, e apenas divulgou a nova parceria, assinada a 17 de Junho, na noite de domingo, numa altura de tufão, e através de um comunicado. Segundo a informação oficial, na cerimónia de assinatura da parceria Sam Hou Fai afirmou “esperar que o Banco da China” sirva “a economia real, contribua para acelerar o desenvolvimento de alta qualidade das finanças modernas em Macau, promova a inovação financeira e a articulação com os padrões internacionais e participe profundamente na construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e da Zona de Cooperação em Hengqin”. Com base no novo acordo, o Chefe do Executivo espera que a RAEM e o banco estatal criem “uma plataforma de abertura ao exterior de nível mais elevado” e proporcionem “serviços financeiros de melhor qualidade aos residentes”. No desempenho do acordo, Sam Hou Fai pediu à instituição bancária que tenha sempre presente “o plano de desenvolvimento da diversificação adequada da economia e os objectivos da acção governativa do Governo da RAEM”. Desde pelo menos o mandato de Ho Iat Seng, iniciado em 2019, que o Governo aposta numa política de diversificação da economia, com o jogo a financiar o crescimento das áreas das finanças, saúde, exposições e convenções e medicina tradicional chinesa. Esta orientação foi mantida por Sam Hou Fai, que sucedeu a Ho no final de 2024. Encontro paralelo Na cerimónia de assinatura, Sam Hou Fai elogiou a contribuição do banco para Macau. “O Banco da China, sendo um banco estatal comercial com a operação contínua mais longa e com o maior nível de internacionalização e que presta serviços integrados, já se enraizou profundamente em Macau há 75 anos, tendo dado um contributo notável para o desenvolvimento económico e financeiro da RAEM”, afirmou o Chefe do Executivo. O líder do Executivo também “agradeceu ao Banco da China pelo apoio ao crescimento económico do território, ao longo dos anos, ajudando o Governo da RAEM na promoção activa da diversificação adequada da economia e no desenvolvimento da Zona de Cooperação”. Antes da assinatura do acordo, o Chefe do Executivo teve um encontro com o presidente do Banco da China, Ge Haijiao. Durante o encontro foram trocadas “impressões sobre como aprofundar plenamente a cooperação estratégica” e “utilizar o sector financeiro para servir com alta qualidade a economia real da RAEM”, além de “apoiar a reconversão e valorização das indústrias principais, bem como fomentar o desenvolvimento de alta qualidade das finanças modernas em Macau”.
Guerra | Historiadores defendem monumento sobre vitória contra invasão japonesa Andreia Sofia Silva - 22 Jul 2025 Em ano de celebração dos 80 anos da vitória da China na guerra contra a agressão japonesa, as escolas de Macau foram incentivadas pelo Governo a transmitir estes episódios históricos aos alunos. No fervor da efeméride, um académico defendeu a construção de um monumento para assinalar a data. O HM ouviu historiadores que realçam as ideias que devem ser transmitidas pelo monumento 2025 é o ano em que se celebram os 80 anos do aniversário da vitória da China na chamada Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista, ou seja, quando a China e Hong Kong conseguiram escapar à ocupação japonesa. Macau, por ter administração portuguesa, e por Portugal se ter mantido neutro durante a Segunda Guerra Mundial, não foi ocupado pelos japoneses, embora o estatuto de neutralidade tenha sido bastante volátil, conforme demonstrou a historiadora Helena Lopes na obra “Neutrality and Collaboration in South China: Macau during the Second World War”. Neste contexto, as autoridades têm incentivado as escolas do território a recordar o episódio histórico através de várias actividades com um cunho patriótico, enquanto Lin Guangzhi, director do Instituto para a Investigação Social e Cultural da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST na sigla em inglês), defendeu que deveria ser criado em Macau um monumento em memória dos mártires da guerra com o Japão. O HM convidou dois historiadores, especialistas neste período histórico, a comentar o que de facto aconteceu nestes anos e quais as principais mensagens que deveriam ser transmitidas caso a construção do monumento avance efectivamente. Alfredo Gomes Dias, docente do Instituto Politécnico de Lisboa e autor da tese de doutoramento sobre a diáspora macaense nos anos da Segunda Guerra Mundial e fundação da República Popular da China, intitulada “A Diáspora Macaense. Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”, defende que a celebração deste período histórico é comum a vários países. “No caso da China, o fim da invasão japonesa, tendo em conta a violência de que se revestiu, pode e deve ser celebrado genericamente em todo o território chinês”, defendeu. Mas tendo em conta que Hong Kong teve uma ocupação efectiva, enquanto Macau lidou com crises de refugiados e jogos de poder entre portugueses, chineses, ingleses e japoneses, fará sentido ter um monumento na RAEM? Alfredo Gomes Dias entende que sim. “No caso de Macau, o monumento ganha relevo se ele perpetuar a memória de que chineses, portugueses e macaenses lutaram contra a invasão, principalmente na ilha de Hong Kong, muitos deles falecendo no campo de batalha. Além disso, Macau manteve a tradição de ser um território de refúgio que albergou chineses e macaenses de Hong Kong.” Essencialmente, o investigador entende que “em qualquer uma das cidades ele pode ser erguido”, mas, no caso particular de Macau, importa que o monumento “tenha a intenção de ter em conta a especificidade da história de Macau e a diversidade de origem dos seus residentes”. Além disso, que defende que deve “preservar a memória de todos os que se juntaram, lado a lado, para se oporem ao imperialismo japonês nessa época”. “Neutralidade ambígua” Para Helena Lopes, historiadora com interesse particular no panorama de Macau nos anos da Segunda Guerra Mundial, e autora da obra sobre a neutralidade de Macau neste período, disse não ver “nenhum problema na construção de um monumento comemorativo da Segunda Guerra em Macau”. Nos anos 30 e 40 do século XX, recorda, “a maioria da população era, como hoje, chinesa”, embora “um número significativo da população fosse refugiada, tendo procurado em Macau (como noutros lugares não ocupados na China) abrigo da violência do conflito”. Desta forma, Helena Lopes, professora de história da Ásia contemporânea na Universidade de Cardiff, em Gales, diz ser “normal que a China celebre a vitória na Segunda Guerra, como outros países dos Aliados o fazem”. Relativamente à neutralidade de Macau, a historiadora diz que esta foi “ambígua”, tendo em conta que “muitos lados opostos se cruzaram no território durante a guerra”. Nestes anos, “o território esteve profundamente ligado a redes de resistência e ajuda humanitária durante a guerra: não estava isolado do conflito, mas estava profundamente ligado a várias das suas dinâmicas de forma idêntica a outros territórios na China sob domínio estrangeiro (como as concessões estrangeiras de Xangai ou Hong Kong até esses territórios serem ocupados completamente)”. Neste contexto, acrescenta Helena Lopes, “parece natural que se celebre a resistência contra o Japão durante a guerra, onde participaram – abertamente ou na clandestinidade – várias pessoas em/de Macau (chinesas e de outras nacionalidades)”, apontou. O papel da educação histórica As escolas do território têm sido “encorajadas” pela Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) a organizar sessões para os alunos e professores assistirem em directo às cerimónias do “80.º aniversário da vitória do povo chinês na guerra contra o Japão e da vitória mundial contra o fascismo”. Segundo uma conferência de imprensa organizada para anunciar estas iniciativas, as comemorações dos 80 anos da vitória contra os japoneses arrancam a 3 de Setembro em Pequim, sendo que a DSEDJ pretende organizar vários eventos em Macau. Questionada sobre a inclusão das celebrações históricas, com um cunho patriótico, nas escolas locais, Helena Lopes diz “não ter elementos para comentar a situação educativa em Macau na actualidade”, recordando que, nos anos da Segunda Guerra Mundial, “as escolas em Macau foram, elas próprias, espaços de refúgio e resistência à ocupação japonesa da China”. Por sua vez, Alfredo Gomes Dias frisa que “a educação histórica é sempre um prolongamento da narrativa da história nacional”, “uma realidade comum a todos os países” e não exclusiva a Macau. A conferência de imprensa da DSEDJ para a apresentação dos eventos comemorativos contou com a presença da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, que tem o pelouro da educação. A governante disse, em Junho último, que o objectivo do Governo é “promover o grande espírito da Guerra de Resistência” e “inspirar o fervor patriótico”. Todas as actividades vão estar subordinadas ao tema: “Recordar a História, Acarinhar a Memória dos Mártires, Acarinhar a Paz e Criar o Futuro”. Um dos pontos altos das comemorações será a memória das vítimas do massacre de Nanjing, celebração agendada para o dia 13 de Dezembro. O massacre de Nanjing aconteceu em 1937, tendo decorrido durante algumas semanas após a conquista pelos tropas japonesas daquela que era a capital da República da China. Após a conquista, as tropas japonesas massacraram a população, incluindo crianças, mulheres e não combatentes. A invasão da China pelo Japão começou em 1931 com a ocupação da Manchúria, num primeiro momento. Em 1937, o Japão expandiu o escopo da guerra, procurando a ocupação total da China. O que começou como um conflito localizado na Ásia acabaria por integrar-se na Segunda Guerra Mundial, a partir de Dezembro de 1941, com os ataques de Pearl Harbour. Ao longo de vários anos, as estimativas apontam para que no lado chinês entre 3,8 milhões e 10,6 milhões de pessoas tenham morrido. A paz foi alcançada a 2 de Dezembro, depois de os Estados Unidos terem atacado o Japão com a segunda bomba atómica, em Nagasaki. O HM enviou questões a Lin Guangzhi, autor da ideia da construção de um monumento, mas até ao fecho desta edição não foi obtida resposta.
Seul | Ex-presidente acusado de abuso de poder Hoje Macau - 21 Jul 2025 O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, foi acusado sábado de abuso de poder, pela tentativa falhada de impor a lei marcial naquele país asiático em Dezembro do ano passado. De acordo com a Agência France Presse, a procuradora Park Ji-young revelou sábado, em declarações à imprensa em Seul, que o Ministério Público “acusou o antigo Presidente Yoon Suk Yeol de abuso de poder e de obstrução ao exercício de funções oficiais especiais”. O MP considera que o antigo Presidente não cumpriu os procedimentos necessários para declarar a lei marcial, nomeadamente a organização de uma reunião formal do Conselho de Ministros. O antigo governante é também acusado de ter “redigido e deitado fora um documento falso indicando que o primeiro-ministro e o ministro da Defesa tinham aprovado a lei marcial”. Em Janeiro, Yoon já tinha sido acusado pelo MP de ser o mentor de uma tentativa de rebelião, descrevendo a tomada de poder como uma tentativa ilegal de se apoderar da legislatura e dos gabinetes eleitorais e de deter opositores políticos. As acusações são puníveis com pena de morte ou prisão perpétua. Yoon é igualmente acusado de aplicar a lei marcial sem seguir os procedimentos legais exigidos e de mobilizar ilegalmente as forças de segurança presidenciais como um exército privado para bloquear uma primeira tentativa das forças da ordem de o deterem na residência no início de Janeiro. Caos instalado O rival liberal, Lee Jae-myung, que venceu as eleições antecipadas de Junho para o substituir, aprovou no mês passado uma lei que prevê o lançamento de investigações especiais sobre o fracasso da lei marcial de Yoon e outras alegações criminais que envolvem também a mulher e a administração. Yoon Suk Yeol mergulhou a Coreia do Sul numa crise política quando tentou derrubar o regime em 03 de Dezembro do ano passado, enviando soldados armados ao parlamento para impedir que os representantes eleitos votassem contra a sua declaração de lei marcial. O antigo presidente, que foi deposto em Abril, já tinha passado algum tempo detido entre Janeiro e Março, tornando-se no primeiro chefe de Estado em exercício a ser preso na história da Coreia do Sul. Na altura, acabou por ser libertado por razões processuais. Em 10 de Julho, foi novamente colocado em prisão preventiva por ordem de um juiz, por receio que o ex-dirigente pudesse destruir provas. Yoon esteve em tribunal na sexta-feira, numa audiência para pedir a anulação da sua sentença. O tribunal rejeitou o pedido.
Socialista com prática do Chega André Namora - 21 Jul 2025 Jorge Sampaio, João Soares e Isaltino Morais mandaram demolir centenas de barracas enquanto presidentes de Câmara Municipal em Lisboa e Oeiras, mas edificaram antes habitação social para os potenciais desalojados na sequência das demolições. Aconteceu que, na semana passada, o socialista presidente da Câmara de Loures chocou o país ao mandar demolir várias barracas de madeira e de alumínio existentes no Bairro do Talude Militar, de um momento para o outro, deixando cerca de 50 famílias sem eira nem beira. O autarca socialista Ricardo Leão deixou idosos, mulheres e crianças a dormir ao relento sem lhes proporcionar qualquer alternativa de alojamento. O Tribunal Administrativo ordenou de imediato a suspensão das demolições. A crueldade de Ricardo Leão – o mesmo autarca que já tinha tentado despejar moradores de habitações sociais por terem as rendas em atraso – foi de tal ordem que, as pessoas desalojadas não eram imigrantes ilegais. Tratavam-se de pessoas que vivem em Portugal há mais de 10 anos vindas de Angola, Moçambique, Cabo Verde ou São Tomé. Pessoas que trabalham diariamente e descontam para a segurança social. Algumas que têm três empregos para poderem criar os filhos. Pessoas que viviam em apartamentos e que pagavam rendas na ordem dos 250 euros e cujos senhorios aumentaram as rendas para cerca de mil euros e que, naturalmente essas pessoas, não podiam pagar optando por ter que viver numa barraca do Talude. Num terreno abandonado essas pessoas foram construindo casas precárias e de enorme dificuldade de vida com o mínimo de qualidade. A autarquia de Loures nunca proibiu a construção das barracas e desta feita, o acto de demolição, com a presença de agentes policiais, foi de tal forma surpreendente que até o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tomou uma posição pública interrogando-se se a edilidade de Loures tinha solução para aqueles portugueses. A atitude do autarca Ricardo Leão foi contestada ainda pelas mais diversas associações de defesa de menores na sequência de inúmeras crianças terem ficado a dormir ao ar livre ou em tendas que outros portugueses ofereceram aos desalojados. Várias personalidades políticas foram unânimes em afirmar que Ricardo Leão tomou uma atitude eleitoralista na caça do voto no seu Concelho porque deu-se conta que o partido Chega tinha aumentado a votação nas últimas eleições devido à campanha contra imigrantes. Aliás, André Ventura veio a público valorizar a acção do edil de Loures afirmando que nas Câmaras Municipais onde o Chega consiga eleger o presidente fará o mesmo que Ricardo Leão, ou seja, o Chega irá demolir todas as barracas existentes nessas autarquias. O caso provocou uma revolta total por parte dos portugueses porque Ricardo Leão insistiu que continuará a demolir todas as barracas sem ter uma alternativa para alojar os pobres residentes. No interior do Partido Socialista a repulsa foi significativa e vários militantes e simpatizantes socialistas, alguns antigos governantes, subscreveram uma Carta Aberta, a qual denuncia a demolição de barracas sem soluções alternativas, criticando a falta de resposta social e apelando à coerência com os valores humanistas do partido. Como aconteceu o mesmo com a autarquia da Amadora, na Carta Aberta pode ler-se a acusação a autarcas socialistas que ignoram o direito constitucional à habitação e pedem ao Partido Socialista que retome o seu compromisso com a justiça social e a dignidade humana, exigindo políticas que coloquem as pessoas no centro das decisões. O documento foi assinado por dezenas de socialistas, nomeadamente por sete ex-governantes, três deputados e dois ex-deputados. São eles João Costa, Catarina Silva, Frederico Francisco, Maria João Dornelas, António Mendonça Mendes, Margarida Marques, Catarina Marcelino, João Albuquerque, Isabel Moreira, António Leite e Rosa Monteiro. O texto em causa é demolidor, salientando a dado passo que “Assistimos com desagrado à demolição do tecto de dezenas de famílias, autorizada por autarcas do Partido Socialista, sem que tivesse sido previamente acautelada a protecção destas famílias empurradas para a condição de sem-abrigo. Vimos, assim, expressar a nossa profunda indignação e preocupação. O direito à habitação está consagrado como um direito fundamental de todos os cidadãos, bem como o dever do Estado em promover as condições para a concretização deste direito garantindo habitação condigna e acessível. É, igualmente, obrigação do Estado e das autarquias locais assegurar a protecção social e o apoio às pessoas em situação de maior vulnerabilidade. Portugal precisa de um Partido Socialista que, mesmo em tempos difíceis, não abdique da sua missão de construir um país mais justo e mais humanista. Estes são os nossos princípios – não queremos outros.” A verdade, é que numa altura em que forças da extrema direita pretendem uma revisão constitucional que retire a palavra “socialismo” da Constituição, assistimos a pseudo socialistas a praticar uma política de tal forma desumana que já retira o socialismo da sua cartilha.
Lisboa | Vítor Marreiros protagoniza mostra “Camões Cinco Zero Zero” Hoje Macau - 21 Jul 2025 Vítor Hugo Marreiros apresenta a partir do próximo sábado uma exposição em Lisboa na Galeria Passevite. Trata-se de “Camões Cinco Zero Zero”, que celebra os 500 anos do nascimento daquele que é considerado o poeta maior da língua portuguesa Chama-se “Camões Cinco Zero Zero” e, mais do que ser o nome da nova exposição de Vítor Hugo Marreiros, é uma iniciativa que mostra o trabalho do artista e designer macaense em Portugal. A inauguração acontece no centro de Lisboa, na Galeria Passevite, no próximo sábado a partir das 18h30. A exposição que ficará patente neste espaço até ao dia 30 de Agosto. Segundo uma nota de imprensa, a mostra “assinala os 500 anos do nascimento de Luís de Camões”, partindo de uma ideia original do designer gráfico Henrique Silva, mais conhecido por Bibito, que reside em Macau há muitos anos. Desta forma, aquilo que se faz em “Camões Cinco Zero Zero” é uma “leitura contemporânea e simbólica da figura do poeta através dos cartazes que Victor Marreiros tem criado ao longo de mais de três décadas para assinalar o 10 de Junho em Macau”. Nesta exposição, retira-se Camões “do contexto habitual”, surgindo a imagem do poeta com novas interpretações espelhadas na “liberdade gráfica, humor e espírito crítico, numa série que é, simultaneamente, memória e criação”. Uma mostra inédita A exposição chega a Lisboa graças ao apoio do IPOR – Instituto Português do Oriente e da Herdade do Perdigão. Esta é a primeira vez que Vítor Hugo Marreiros expõe o seu trabalho em Portugal. De destacar que Camões é uma presença constante num dos trabalhos pelos quais Marreiros tem sido mais conhecido nos últimos tempos: os cartazes do 10 de Junho promovidos pela Casa de Portugal em Macau e que são desenhados por si, numa mistura constante de elementos que remetem para a portugalidade. Vítor Hugo Marreiros tem uma carreira de mais de 45 anos dedicada às artes visuais, cenografia e design gráfico, e que foi reconhecida internacionalmente com mais de 200 prémios e distinções. O artista e designer nasceu em Macau em 1960, e é membro fundador do CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau e também da Associação de Design de Macau. Estudou, nos anos 80, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, subsidiado pelo Instituto Cultural, entidade onde, mais tarde, trabalhou durante vários anos. Ganhou, das mãos do Governo de Macau, ainda nos anos da administração portuguesa, a Medalha de Mérito Profissional a 5 de Outubro de 1999. Durante a exposição estará disponível uma edição especial de serigrafia, numerada e assinada pelo artista, bem como o catálogo da mostra.
Minerais | Pequim vai reforçar combate ao contrabando Hoje Macau - 21 Jul 2025 A procura por minerais essenciais à produção tecnológica tem desencadeado uma corrida desenfreada às terras raras As autoridades chinesas anunciaram sábado que vão intensificar os seus esforços para combater o contrabando de minerais estratégicos, um dia depois de terem alertado para “operações estrangeiras que visam a obtenção ilegal” de materiais como terras raras. “Vamos intensificar ainda mais a campanha de combate ao contrabando de minerais estratégicos”, afirmou sábado o departamento nacional de coordenação das exportações num breve comunicado, após uma reunião em Nanning, no sul da China, na qual participaram várias agências estatais, como o Ministério do Comércio, o Ministério da Segurança Pública e a Administração-Geral das Alfândegas. Na sexta-feira, o Ministério da Segurança Estatal da China afirmou ter detectado tentativas, nos últimos anos, de agências de informação e intermediários estrangeiros de estabelecer ligações com indivíduos chineses para facilitar a extração clandestina destes recursos, considerados de duplo uso, civil e militar. As operações incluíram a utilização de embalagens de pequeno volume, alterações na rotulagem e modificações nos canais de transporte, segundo o Ministério. Em resposta às tarifas impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre os produtos chineses em Abril, a China anunciou restrições à venda externa de samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio, que fazem parte do grupo de 17 elementos que são considerados terras raras e são essenciais para setores como a defesa e a aeronáutica. Donos da terra A China possui 44 milhões de toneladas de reservas de terras raras, aproximadamente 49 por cento do total mundial, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Em 2024, a China terá extraído 270.000 toneladas de minério de terras raras, 69,2 por cento da produção global. Em meados de Maio, Pequim e Washington estabeleceram uma trégua comercial de 90 dias, durante a qual reduziram as respectivas tarifas em 115 pontos percentuais. Em Junho, assinaram outro acordo que inclui a remoção de certas restrições e a promessa da China de facilitar a exportação de terras raras.
O novo panorama da economia política internacional e do desenvolvimento económico do Sul Global Hoje Macau - 21 Jul 2025 Um académico da Universidade de Fudan analisa as megatendências e os desafios concretos que o Sul Global tem de enfrentar num panorama em profunda mudança. (continuação do número anterior) Parte II Na Parte I deste comentário em duas partes, salientei que o panorama geral da economia política internacional (doravante designada «EPI») mudou drasticamente, graças a uma série de acontecimentos sísmicos e desenvolvimentos importantes. Como tal, todos os países do Sul Global, para os quais o desenvolvimento económico continua a ser uma tarefa central, têm de operar num panorama profundamente diferente para alcançar o desenvolvimento económico. Nesta parte II, destacarei as principais megatendências e os desafios mais concretos, dois conjuntos de restrições que os países do Sul Global precisam enfrentar nos próximos anos. Por megatendências, refiro-me aos ventos contrários aos quais os países do Sul Global terão de se adaptar, porque não podemos combatê-los facilmente. Quanto aos desafios concretos, concentro-me em domínios e questões específicos que os países do Sul Global terão de enfrentar nos próximos anos. Megatendências Dois blocos comerciais e tecnológicos, apesar de não estarem totalmente dissociados A primeira megatendência importante é que, muito provavelmente, o mundo verá dois grandes blocos comerciais e tecnológicos centrados nos EUA (mais a UE?) e na China. Após Trump 1.0, Biden e agora Trump 2.0, a dissociação entre os EUA e a China tem vindo a acelerar e, assim que o nível de dissociação atingir um limiar, será extremamente difícil voltar aos velhos tempos. É claro que os dois blocos não se vão dissociar totalmente: tanto para os EUA como para a UE, a interdependência económica com a China não é facilmente substituível. Mesmo em tecnologias, os EUA e a UE podem não ser capazes de se desacoplar totalmente da China. Assim, continuará a existir uma ampla interdependência entre os dois blocos. No entanto, isso não impedirá que os EUA e a China se desacoplem substancialmente um do outro. Além disso, embora nem a UE nem a China cheguem ao ponto de exigir que outros países negociem apenas com eles, os EUA podem impor tal exigência de tempos em tempos. Essa possibilidade cria incerteza e custos significativos para todos os seus parceiros comerciais, incluindo a UE. Mais uma vez, essa nova Guerra Fria entre os EUA e a China seria drasticamente diferente da antiga Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética. Na Guerra Fria anterior, a União Soviética nunca foi um parceiro comercial importante para a maioria dos países. Em contrapartida, a China é um dos principais parceiros comerciais da maioria dos países do mundo. Regionalismo com inter-regionalismo Pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial, o regionalismo, ou seja, a integração regional com um nível de cooperação económica e política institucionalizada, tem sido uma âncora fundamental para a estabilidade regional e o desenvolvimento económico. As regiões com projetos de regionalismo robustos podem resistir mais eficazmente a choques externos e à pressão externa, enquanto as que não os têm são vulneráveis à pressão externa ou mesmo à intrusão de grandes potências extra-regionais. Não é de surpreender que, após a Segunda Guerra Mundial, muitas regiões e sub-regiões tenham tido pelo menos algum tipo de projeto de regionalismo, muitas vezes com o projeto europeu como modelo. O acima exposto não é novidade. O que é novo é que, com a primeira megatendência em vigor, o inter-regionalismo se tornará ainda mais crucial, sobretudo devido ao facto de o sistema da OMC estar a funcionar mal. Assim, os diálogos e parcerias emergentes, como os entre a UE e o MECUSOR (Mercado Comum do Sul), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), a ASEAN e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), a UE e a União Africana (UA), e a ASEAN e a UA, serão desenvolvimentos importantes a acompanhar. Entretanto, a UE já não é motivo de inveja para outras regiões e os seus projetos de regionalismo: a UE perdeu a sua aura outrora aparentemente invencível. A incapacidade da UE e dos líderes europeus em impedir o conflito entre a Rússia e a Ucrânia certamente não ajudou: a UE e os líderes europeus basicamente deixaram a Rússia e a Ucrânia caminharem sonâmbulas para uma guerra trágica, apesar do aviso da crise na Geórgia em 2008 e do discurso de Putin na Conferência de Segurança de Munique em 2007. Afinal, uma tarefa central dos projetos de regionalismo é prevenir conflitos intra-regionais. Além disso, mesmo para os países europeus, o excesso de burocracia, regras e formalidades em Bruxelas inevitavelmente impedem a inovação e a agilidade, necessárias em tempos de mudanças rápidas e grandes turbulências. Talvez uma abordagem menos institucionalizada ou burocrática seja mais adequada, pelo menos para os países do Sul Global. Por fim, vale a pena salientar que o regionalismo precisa que os principais países de uma região trabalhem em conjunto. Assim, as regiões com rivalidades intensas entre os principais países tendem a sofrer. Regiões como o Médio Oriente, o Sul da Ásia, a União Eurasiática e, talvez, a Europa Central e Oriental são exemplos decepcionantes, se não trágicos. Nesse sentido, é bastante notável que a China, o Japão e a Coreia do Sul tenham conseguido, até agora, manter uma relação mais ou menos estável, apesar da sua história conturbada e das disputas territoriais. Crescimento e inovação na era da tecnologia móvel e da IA Na Parte I, destaquei o facto de que as novas tecnologias atuais, principalmente a comunicação móvel, imagens de satélite, inteligência artificial (IA), automação e drones, trazem uma dinâmica totalmente nova para o desenvolvimento económico, pois têm o potencial de empoderar todos os setores. Se for assim, grande parte do crescimento e da inovação no futuro ocorrerá nesta nova era tecnológica. Mais importante ainda, a inovação depende agora do fluxo e da conexão instantânea de informações e conhecimentos, ambos potencializados pela IA. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento económico, que depende do comércio, depende agora da conclusão oportuna e segura das transações, potencializada pela comunicação móvel e pelo pagamento móvel. Assim, para alcançar o desenvolvimento económico, a tarefa mais crítica para os países do Sul Global (e de outros lugares) é construir dois tipos de infraestrutura informacional, além das infraestruturas físicas tradicionais, como rodovias, ferrovias e portos. O primeiro tipo é a infraestrutura de informação que pode facilitar o fluxo e a conexão de informações e conhecimentos. O segundo é a infraestrutura de comunicação móvel e pagamento móvel que pode facilitar a conclusão oportuna e segura das transações. Os países sem esses sistemas de infraestrutura essenciais ficarão seriamente prejudicados nas próximas décadas. Desafios concretos: domínios e questões Todos os países do Sul Global enfrentam desafios únicos. Mas eles também enfrentarão alguns desafios comuns. Embora os desafios sejam ilimitados, abaixo estão os três que considero mais urgentes e um mais distante. A capacidade do Estado continua a ser o pilar, com instituições e políticas como instrumentos do Estado De acordo com um quadro teórico que desenvolvi no meu livro (The Institutional Foundation of Economic Development), a capacidade do Estado, o sistema institucional e as políticas socioeconómicas (incluindo as políticas industriais) formam o Novo Triângulo do Desenvolvimento (NDT), sendo a capacidade do Estado o mais fundamental dos três componentes. Sem um nível mínimo de capacidade do Estado, um Estado não pode realmente fazer muito, mesmo que o deseje. Embora eu acredite que muitos países do Sul Global tenham alcançado um nível mínimo de capacidade estatal, eles estão longe de ser Estados fortes. Afinal, a construção do Estado é um processo lento e cumulativo: Roma não foi construída em um dia. Assim, a construção do Estado continuará sendo uma tarefa perene para muitos países do Sul Global por um longo tempo. As capacidades estatais podem ser entendidas como consistindo em quatro dimensões principais: coerção (como controlo da violência), extração (como cobrança de impostos), prestação (como construção de infraestruturas e prestação de serviços à população) e liderança baseada em informação (como tomada de decisões com base em informação adequadamente recolhida no país). Aparentemente, cada uma das quatro dimensões principais requer um esforço sustentado. Além disso, as quatro dimensões formam um sistema. O ponto crucial, no entanto, é que cada dimensão requer uma burocracia razoavelmente capaz. Como tal, a tarefa mais central para muitos países do Sul Global é construir uma burocracia capaz. Navegando entre os dois blocos Mesmo que acreditemos que o desenvolvimento económico tem sido impulsionado principalmente por desenvolvimentos internos, a dinâmica do sistema internacional restringe as ações dos Estados, incluindo a sua busca pelo desenvolvimento económico. Afinal, nenhum país pode alcançar o desenvolvimento económico sem comércio. Assim, quando a volatilidade internacional aumenta, os países enfrentam ainda mais desafios para sustentar o desenvolvimento económico. Isso talvez seja ainda mais verdadeiro para os países do Sul Global: eles agora precisam se desenvolver sob restrições mais pesadas impostas pela globalização e pelo sistema internacional. Com o mundo agora dividido em dois grandes blocos comerciais, isso se torna ainda mais difícil: todos os países do Sul Global terão que navegar entre os dois blocos, exceto aqueles que comercializam principalmente com um bloco. Por exemplo, se os EUA e a UE apostam em mais protecionismo, o que isso significará para o Sul Global? Não há uma solução milagrosa para essa tarefa de navegação. No entanto, é possível observar três pontos úteis. Primeiro, é desejável negociar com ambos os blocos. Segundo, se for forçado a escolher, é melhor estar em posição de resistir, talvez dentro de um projeto regionalista (ver abaixo). Terceiro, se for forçado a escolher e não puder resistir, é melhor negociar com o bloco que lhe oferece mais vantagens. IPE: do OCED-centrista ao Sul Global-centrista A economia do desenvolvimento dominante foi, em grande parte, sequestrada pela economia neoclássica. Como tal, é inerentemente incapaz de fornecer ao Sul Global uma compreensão adequada de como alcançar o desenvolvimento económico. As causas são duas. Primeiro, a economia do desenvolvimento dominante está, em grande parte, enraizada na experiência ocidental/anglo-saxónica, consagrada por Douglass North e seus seguidores. Segundo, a economia do desenvolvimento dominante, com as suas raízes neoclássicas, ignorou em grande parte a política, tanto interna como internacional. A tarefa de produzir novos conhecimentos para o desenvolvimento económico no Sul Global recai, assim, sobre os ombros da IPE. Infelizmente, desde o seu nascimento, por volta de 1950-70, a IPE ortodoxa também tem sido um campo ocidentalocêntrico ou OCED-cêntrico. Isto era talvez compreensível: imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, não havia muito comércio entre os países OCED e os países não OCED, e ainda menos entre os próprios países não OCED. Além disso, embora a IPE tenha «economia política» no seu nome, nunca considerou o desenvolvimento económico como a sua principal tarefa. Todos os textos fundamentais da IPE centraram-se no comércio, no sistema monetário, no fluxo de capitais, na integração regional (principalmente centrada na UE), no regime e na estabilidade hegemónica dentro dos países da OCDE. Na verdade, nenhum dos textos fundamentais da IPE estudou em profundidade o desenvolvimento económico, muito menos o do Sul Global. Assim, precisamos de sair da camisa de forças do neoliberalismo e do Consenso de Washington, que foi mais ou menos sustentado pela IPE centrada na OCDE e produzida pela OCDE e pela economia de desenvolvimento dentro da esfera anglo-saxónica. Se os países do Sul Global pretendem alcançar o desenvolvimento económico num novo panorama de IPE, precisamos urgentemente de novos conhecimentos sobre o assunto. Mais criticamente, os próprios países do Sul Global têm de produzir grande parte desse novo conhecimento. Em suma, precisamos de conhecimento do Sul Global, sobre o Sul Global e para o Sul Global. Aqui, arriscaria argumentar que o meu Novo Triângulo do Desenvolvimento (NDT) fornece um quadro poderoso e aplicável para compreender o desenvolvimento económico no Sul Global, porque o meu quadro se concentra no Sul Global. Como afirmei, o fator mais crítico que molda o desempenho económico ao longo do tempo e entre países é a (má) alocação dos fatores de produção por decisões políticas: quem, sob quais instituições e relações de poder (tanto nacionais como internacionais), decide empregar quais conhecimentos e outros fatores de produção para produzir o quê. A tarefa que temos pela frente é chegar ao trabalho minucioso da investigação empírica com a experiência real do desenvolvimento económico no Sul Global. Académicos e profissionais do Sul Global, debatam, participem e unam-se! Construindo uma ordem internacional mais justa: do conhecimento às regras Como sublinhei acima, estamos a viver uma nova era de agitação geopolítica. Isto significa que estamos agora num «interregno». Parafraseando Gramsci, a antiga ordem internacional centrada no Ocidente está agora em ruínas, mas uma nova ainda está por nascer. O lado positivo é que, embora «uma grande variedade de sintomas mórbidos apareça» neste interregno, ele também é uma abertura para a construção de uma ordem mais justa, não centrada no Ocidente, mas mais inclusiva. A ordem, tal como Roma, não pode ser construída num dia. Mais importante ainda, toda ordem é feita de regras ou instituições. Como as regras são simplesmente conhecimento codificado, somente com conhecimento concreto o Sul Global pode passar do conhecimento às regras e, finalmente, à ordem. Em outras palavras, somente se os estudiosos e profissionais do Sul Global puderem produzir conhecimento concreto que estabeleça as regras e direções específicas da futura ordem internacional, eles poderão competir, negociar e cooperar com o Ocidente na definição das regras da ordem futura. No entanto, o conhecimento não é suficiente sem poder. Para transformar conhecimento em regras, é necessário poder para criar e fazer cumprir as regras. Assim, uma luta se aproxima: haverá uma luta pelo poder de criar e fazer cumprir novas regras entre o Ocidente e o Sul Global, e nenhum dos lados cederá facilmente ao outro o poder de criar regras sem lutar. Para essa luta pelo poder, os países do Sul Global precisam se unir. Felizmente, essa luta não é totalmente de soma zero: quando as regras dentro da ordem futura forem mais justas, tanto o Ocidente quanto o Sul Global serão beneficiados. Assim, para moldar uma ordem internacional mais justa, o Ocidente e o Sul Global também terão que trabalhar juntos. O futuro ainda não foi escrito, mas está a ser escrito agora.
Camboja | Dois residentes foram traficados para centros de burlas Hoje Macau - 21 Jul 2025 A Polícia Judiciária admite que, pelo menos, dois residentes estão desaparecidos no Camboja, depois de terem sido aliciados com ofertas de emprego. As autoridades acreditam que os residentes possam estar no Camboja em centros de burla e extorsão ligados a máfias chinesas A Polícia Judiciária (PJ) de Macau revelou na sexta-feira que dois residentes desapareceram após terem sido vítimas de tráfico humano para centros no Camboja dedicados a burlas e extorsão com recurso às telecomunicações e à Internet. “Por enquanto, há dois casos de pessoas que foram atraídas para o Camboja, continuamos a investigar com a polícia [do Interior da China] e, através da cooperação internacional, esperamos encontrá-las”, disse o porta-voz da PJ, Lei Ka Wo, durante uma conferência de imprensa. Questionada pela Lusa, a PJ recusou-se a fornecer mais pormenores sobre as duas vítimas. Na mesma conferência de imprensa, a PJ anunciou ter interceptado, na quinta-feira, no aeroporto local, quatro homens, oriundos da vizinha província de Guangdong, entre os 20 e os 29 anos, que iriam trabalhar em centros dedicados à burla e extorsão no Camboja. A PJ disse ter recebido um telefonema de um familiar, dizendo que o filho estava prestes a embarcar num avião no aeroporto de Macau com destino ao Camboja, “e que suspeitava que o filho tinha sido aliciado para participar em actividades ilegais no estrangeiro”. “Como se verificou que havia também três chineses a viajar com ele”, a polícia levou-os de volta à esquadra para investigação, acrescentou o porta-voz. Salários de 10 mil yuan De acordo com a PJ, os homens foram aliciados para o Camboja com uma oferta de um salário mensal de 10 mil yuan (quase 1.200 euros) e uma elevada comissão, para supostamente desempenhar funções de atendimento ao cliente de investimentos. “Na verdade, iriam trabalhar para grupos de crime organizado para cometer crimes nos centros dedicados à fraude e extorsão online”, explicou o porta-voz. “Os grupos criminosos pediram-lhes que apanhassem voos de Macau, devido ao facto de a China continental ter requisitos de autorização de saída mais rigorosos para as pessoas que viajam para o Camboja”, disse a PJ. Centenas de milhares de pessoas, a maioria dos quais chineses, têm sido alvo de tráfico humano para centros no Sudeste Asiático, onde são forçados a defraudar compatriotas através da Internet, de acordo com um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. De acordo com a organização não governamental International Justice Mission, nos últimos anos milhares de pessoas de mais de 60 países foram vítimas de traficantes, atraídas para centros de burla com promessas de salários elevados anunciados como empregos de colarinho branco localizados na Tailândia ou noutros países da região. “Na maior parte dos casos, os grupos criminosos enganaram as pessoas para que viajassem para a Tailândia em busca de empregos aparentemente legítimos, para depois serem traficadas para o Myanmar [antiga Birmânia] e obrigadas a trabalhar em condições de exploração”, explicou o porta-voz.
Influenza | Número de casos cresce para o dobro em Junho Hoje Macau - 21 Jul 2025 Em Junho, foram registados mais do dobro de casos de infecções influenza em comparação com Maio. Os números foram revelados pelos Serviços de Saúde na sexta-Feira, com a publicação dos dados sobre as doenças de declaração obrigatória. De acordo com os dados oficiais, em Junho houve 1.262 casos de influenza, o que representou mais do dobro de casos em comparação com Maio, quando tinham sido registadas 401 ocorrências. Em relação ao período homólogo, registou-se um aumento de 30,5 por cento, face às 967 ocorrências. Em Junho, os Serviços de Saúde registaram um total de 1.616 casos de doenças de declaração obrigatória. Além dos casos de influenza, verificaram-se também 153 ocorrências de infecções por enterovírus, 58 por escarlatina e 22 por Salmonella. As restantes 121 ocorrências não foram identificadas, no comunicado de sexta-Feira. Os 153 casos de infecção por enterovírus, significam uma diminuição de 86,2 por cento em relação aos 1.112 casos registados no período homólogo de 2024, mas apontam para um aumento de 2,8 vezes em relação aos 40 casos registados de Maio. No mês passado contabilizaram-se ainda 22 casos de infecção por Salmonella, o que correspondeu a um aumento de 37,5 por cento em relação aos 16 casos registados no mês homólogo de 2024. Quando é feita a comparação com Maio, contabiliza-se um aumento de 22,2 por cento em relação aos 18 casos desse mês.
Toponímia | IAM lança novo concurso público João Santos Filipe - 21 Jul 2025 Após as polémicas que levaram a detenções, o novo concurso público tem regras bem claras sobre o processo técnico de elaboração dos azulejos e requere às empresas interessadas que garantam ao IAM o acesso às instalações onde vão ser criados os azulejos O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) lançou um novo concurso para a aquisição de placas toponímicas em azulejo, depois da polémica de Setembro do ano passado, quando foi revelado que várias placas vendidas como azulejo não passavam de autocolantes. De acordo com o anúncio publicado no portal do IAM, a apresentação das propostas tem de ser feita antes do meio-dia de 25 de Agosto. Ao contrário das ocasiões anteriores, as novas regras do concurso definem claramente no caderno de encargos o processo técnico de elaboração dos azulejos para as futuras placas das ruas. As empresas interessadas têm de entregar 1.638 conjuntos de oito azulejos, num total de 13.104 azulejos para ser utilizados nas ruas. Também são exigidos mais quatro conjuntos, dois para efeitos de teste e outros dois para ficarem em arquivo. As regras do concurso definem também que os concorrentes têm de garantir que o IAM pode inspeccionar a unidade de produção dos azulejos para a escolha da proposta vencedora e para controlo da qualidade. Apesar deste aspecto, fica patente nas regras do documento que “o trabalho de fiscalização do IAM não isenta o adjudicatário de qualquer responsabilidade em relação às exigências de qualidade das mercadorias”. Escândalo e polícia O escândalo com as placas toponímicas rebentou a 12 de Setembro do ano passado, quando começaram a circular imagens online com os nomes das ruas a caírem, devido à degradação do plástico utilizado, em vez de azulejos. Com as imagens a tornarem-se virais, principalmente a imagem da placa da Rua dos Eucaliptos, o IAM reagiu, e em comunicado revelou ter apresentado queixa às autoridades policiais, por suspeitas de fraude. No dia seguinte, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, também revelou que ia decorrer um processo interno no IAM, para apurar os contornos do caso. Nessa altura foi tornado público que o contrato de 1,1 milhões de patacas envolveu a instalação de 362 placas toponímicas, com os preços de 600 patacas a 1.200 patacas por placa, e que entre as 62 placas, um total de 44 apresentavam sinais visíveis de degradação. Com a Polícia Judiciária (PJ) a entrar em acção após o caso, no final de Setembro foi revelado que duas pessoas tinham sido detidas, por suspeitas de fraude mercantil. No entanto, a decisão não deixou de ser igualmente polémica, com o proprietário e adjudicatário a passar incólume perante a investigação. Os detidos foram um residente local que trabalhava para a adjudicatária e um homem do Interior, a quem a adjudicatária (o construtor civil Chan Tak Son) pediu que fizesse as placas. A PJ justificou que as detenções apenas visaram os funcionários, em vez do adjudicatário e do proprietário da empresa subempreiteira, porque terá havido uma delegação de toda a responsabilidade sobre o projecto nos detidos. O crime de fraude mercantil é punido com uma pena que pode chegar aos cinco anos de prisão, ou 600 dias de multa. No caso de ser considerado que o crime resultou de negligência, a pena máxima é de um ano de prisão ou 60 dias de multa. O desfecho do caso não foi tornado público.
Ponte HZM | Nick Lei quer novo concurso público para atribuição de quotas Hoje Macau - 21 Jul 2025 O deputado Nick Lei pretende que o Governo anuncie quando vai realizar o próximo concurso público para atribuir mais quotas para a circulação de veículos para o transporte de passageiros entre Macau e Hong Kong, pela Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. O assunto foi abordado através de uma interpelação escrita. No documento, o deputado ligado à comunidade de Fujian recorda que a última vez que foi lançado um concurso deste género pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) foi em 2018, ainda antes da pandemia. Contudo, apesar de se estar a aproximar o prazo do fim das 40 licenças em vigor, o legislador indica que não há informações sobre a realização de um novo concurso público. Nick Lei considera também que o número de licenças actual é insuficiente, dado que a procura excede em muito a oferta do serviço, pelo que defende que as autoridades distribuam mais licenças, embora sem adiantar uma proposta com um número concreto. Ao mesmo tempo, Lei pede às autoridades um maior esforço de fiscalização e de combate ao transporte ilegal de passageiros. Citando queixas dos motoristas autorizados a circular na ponte para o transporte de passageiros, o deputado indica que há cada vez mais condutores particulares a providenciarem esse serviço, para complementarem os seus rendimentos. Nick Lei pede assim às autoridades mão mais pesada para esses condutores.
Património | Ron Lam pede responsabilização por falhas na protecção João Luz e Nunu Wu - 21 Jul 2025 O ainda deputado Ron Lam pediu que os dirigentes do Instituto Cultural sejam responsabilizados politicamente pela forma como foi gerido o dossier do viaduto entre as zonas A e B dos novos aterros, ignorando pedidos de informação e impacto ambiental abrangente que a obra pode acarretar Ron Lam divulgou ontem uma interpelação escrita onde pede a responsabilização dos dirigentes do Instituto Cultural (IC) pela forma como foi gerido o assunto do viaduto projectado para ligar as zonas A e B dos novos aterros, assim como o planeamento de obras para a construção da Linha Leste do Metro Ligeiro. O ainda deputado, que viu na semana passada a sua candidatura desqualificada de participar nas próximas eleições por veto político, lamentou que o IC se tenha desviado dos critérios internacionais de protecção do património, conduta que deveria acarretar responsabilidades para governantes. Recentemente, o Comité do Património Mundial da UNESCO exigiu ao Governo a realização de avaliações de impacto patrimonial abrangentes “antes que sejam tomadas quaisquer decisões irreversíveis”. Ron Lam recordou que em Julho do ano passado interpelou o Governo precisamente sobre o projecto do viaduto entre Zona A e Zona B dos Novos Aterros devido à sua altura da infra-estrutura e do impacto no corredor visual do Farol da Guia, um dos “monumentos” classificados pela UNESCO. Na altura, o IC respondeu ao deputado que o viaduto ocuparia apenas 0,34 por cento da área total da zona de protecção do corredor visual do Farol da Guia, sem lhe provcoar impacto. Na interpelação divulgada ontem, o deputado sublinha a discrepância entre as considerações do IC demonstradas na resposta de 2024 e as preocupações vincadas no recente relatório da UNESCO. Passar por baixo “Durante o processo de planeamento e avanço do viaduto entre Zona A e Zona B, sobretudo face à sugestão alternativa de construir um túnel subterrâneo, porque é que o IC não efectuou consulta pública, nem avaliações sobre o ambiente e impacto ao património”, perguntou o deputado. Além do viaduto, Ron Lam recordou que o comité da UNESCO acusou a RAEM de não entregar a avaliação do impacto patrimonial e concepção urbana da zona em redor da Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, entregando apenas um resumo. Apesar de o IC apontar que houve divergências de entendimento com a organização internacional, Ron Lam argumentou que o Centro Histórico de Macau já entrou na lista da UNESCO há 20 anos e que as falhas de comunicação deveriam ter sido evitadas, em vez de repetidas. “Esta divergência de entendimento resultou de falhas nos procedimentos administrativos ou de erro humano? Como vai IC corrigir os seus procedimentos para que erros semelhantes não se repitam no futuro” questiona o deputado. Ron Lam recordou ainda que o Comité do Património Mundial da UNESCO pediu várias vezes desde 2017 os relatórios do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, do Plano Director e Plano de Pormenor da Zona A, salientando a necessidade de apreciação previa antes de serem iniciados projectos nas áreas de protecção patrimonial. Um dos exemplos do não cumprimento das normas delineadas pela UNESCO diz respeito ao projecto da Linha Leste do Metro Ligeiro, que foi iniciado antes da entrega da avaliação de impacto patrimonial.
Boletins de voto às eleições estão definidos João Santos Filipe - 21 Jul 2025 A ordem das seis listas autorizadas a participar nas eleições legislativas ficou definida na sexta-feira, após a realização do sorteio pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). De acordo com os resultados do sorteio, a lista que vai aparecer em primeiro lugar é a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, ligada à comunidade de Fujian e ao empresário Chan Meng Kam. A lista tem como cabeça-de-lista a deputada Song Pek Kei e conta também com o deputado Nick Lei. No segundo lugar, surge a Nova Esperança, associada à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, que tem como cabeça-de-lista o deputado José Pereira Coutinho, contando no terceiro lugar com o deputado Che Sai Wang. O sorteio ditou que a primeira parte do boletim fica completa com a União Promotora para o Progresso, a lista dos Moradores de Macau. Leong Hong Sai é o primeiro nome desta candidatura, que conta também com outro deputado Ngan Iek Hang. Novas caras Na segunda metade do boletim, a renovada lista União de Macau-Guangdong, ligada à comunidade de Jiangmen, surge no quarto lugar. O economista Joey Lao, que tinha sido dispensado de deputado nomeado por Ho Iat Seng, surge como cabeça-de-lista. A lista da Associação dos Operários, com o nome União para o Desenvolvimento, surge em quinto lugar, tendo Ella Lei como cabeça-de-lista, seguindo-se a candidatura apoiada pela Associação das Mulheres, a Aliança de Bom Lar, encabeçada pela deputada Wong Kit Cheng. A definição do boletim de voto confirma também que após as exclusões de duas listas pelas autoridades locais estas vão ser as eleições com menor número de listas desde 1988, ainda durante a Administração Portuguesa. Nesse ano a taxa de participação foi de 29,65 por cento, entre os 67.604 eleitores registados. As listas participantes eram a Aliança Macaense, União dos Amigos de Macau, União Eleitoral, Associação Amizade Alexandre Ho e Protecção do Direito Cívico. A lista Associação Amizade Alexandre Ho foi a vencedora da noite ao eleger como deputados Alexandre Ho, Leong Kam Chum e Wong Cheong Nam. A Aliança Macaense também elegeu três deputados, entre os seis lugares disponíveis: Carlos de Assunção, Lao Kuong Po e Leonel Alves.
CAEAL | Rejeitado recurso de Alberto Wong. Depósito devolvido Hoje Macau - 21 Jul 2025 O líder de uma das duas listas excluídas da corrida às legislativas por falta de patriotismo disse que a comissão eleitoral rejeitou o recurso que apresentou. Apesar da rejeição, a CAEAL devolveu o depósito, de 25 mil patacas, reivindicado por Alberto Wong A Comissão da Defesa da Segurança do Estado (CDSE) excluiu na terça-feira da semana passada todos os candidatos de duas listas, incluindo a Força da Livelihood Popular em Macau, liderada por Alberto Wong, que concorria pela primeira vez às eleições legislativas. Na quarta-feira, Wong, assistente social de profissão, apresentou à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) um pedido de revisão da decisão e exigiu a devolução de um depósito eleitoral de 25 mil patacas. Numa resposta escrita, partilhada por Wong com a Lusa, a CAEAL reiterou que não pode aceitar o pedido, uma vez que das decisões da CDSE “não cabe reclamação nem recurso contencioso”. A CDSE considerou seis candidatos da lista de Wong como “não defensoras da Lei Básica [a ‘mini-Constituição’ do território] ou não fiéis à Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China”. Por outro lado, a CAEAL aceitou devolver o depósito eleitoral a Wong. Ainda assim o assistente social manifestou frustração perante a situação e a incerteza quanto ao futuro. A nova lei eleitoral, que entrou em vigor em Abril de 2024, refere que não se podem candidatar pessoas que tenham sido desqualificadas por falta de patriotismo nos cinco anos civis anteriores à votação. A exclusão abrange ainda a lista Poder da Sinergia, liderada pelo actual deputado Ron Lam, que, nas últimas eleições, em 2021, tinha sido a sétima mais votada, com 8.764 votos. Ron Lam, uma das poucas vozes críticas do Executivo na Assembleia Legislativa (AL), admitiu na terça-feira que a exclusão “foi muito repentina”. “Estou de consciência tranquila. A minha intenção inicial para Macau não se irá alterar. Acredito que o sol vem sempre depois da tempestade”, disse à Lusa. Num comunicado, a CDSE explicou que quando um candidato é excluído por falta de patriotismo, todos os outros candidatos da mesma linha são também afastados. A alma do negócio Joe Chan Chon Meng, um dos 12 candidatos excluídos da corrida à Assembleia Legislativa por falta de patriotismo, comparou a decisão com o sistema de punição colectiva implementado durante a Revolução Cultural (1966–1976). Na terça-feira, o presidente da CAEAL garantiu que os pareceres vinculativos da CDSE, dos quais não é possível recorrer, “têm um fundamento legal claro e suficiente” e foram elaborados “tendo em conta os factos”. No entanto, Seng Ioi Man recusou-se a revelar que factos levaram à exclusão, defendendo que “os trabalhos e documentos da Comissão da Defesa da Segurança do Estado são confidenciais”. A divulgação destes “pode representar certos riscos para a segurança nacional, não devendo nem podendo ser publicado o seu conteúdo”, acrescentou o juiz. Em 2021, foi a comissão eleitoral a excluir cinco listas e 21 candidatos – 15 dos quais pró-democracia. Com a decisão de terça-feira, vão concorrer às eleições de 14 de Setembro seis listas pelo sufrágio directo, menos oito do que em 2021. Trinta e três deputados integram a AL, sendo que 14 são eleitos por sufrágio directo, 12 por sufrágio indirecto, através de associações, e sete são nomeados posteriormente pelo Chefe do Executivo.
Wipha | Macau chegou ao sinal máximo 10 e só baixou para 3 à noite Hoje Macau - 21 Jul 202521 Jul 2025 A passagem do tufão Wipha por Macau obrigou as autoridades a içar o sinal 10, tendo sido registadas, até às 19h de ontem, um total de 163 ocorrências, com destaque para cinco pessoas que ficaram feridas e tiveram de receber tratamento médico. Sinal 3 de tempestade só foi içado na noite de ontem O tufão Wipha passou ontem por Macau sem deixar estragos de maior, embora tenha obrigado as autoridades dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) a manter içado o sinal 10 de tempestade, o máximo neste tipo de ocorrências, por muitas horas, entre as 12h30 e as 17h, altura em que se passou para o sinal 8. À hora do fecho desta edição, era elevada a probabilidade de ser içado o sinal 3 de tempestade tropical entre as 21h e as 23h, sinónimo da permissão para a retoma das actividades da vida diária. O sinal 3 foi mesmo içado às 22h30 deste domingo. Às 20h estava ainda içado o sinal azul de “Storm Surge”, com expectativas de inundações nas zonas baixas da cidade entre as 4h e as 8h desta segunda-feira. Segundo dados oficiais, até às 19h deste domingo o Centro de Operações de Protecção Civil registou 163 ocorrências tanto na península de Macau como nas ilhas, com destaque para o registo de cinco feridos causados pelo tufão, que receberam tratamento hospitalar tanto nas instalações públicas de saúde como no Hospital Kiang Wu. Apenas uma pessoa terá ficado retida no elevador durante a passagem da tempestade tropical. De referir ainda o registo de 54 casos em que as autoridades tiveram de remover candeeiros quebrados, árvores em risco de queda ou derrubadas ou ainda infra-estruturas de construção com potencial risco. Registaram-se ainda 98 casos de remoção de reboco, painéis de publicidade, janelas ou toldos, e ainda sete casos em que foi necessário remover andaimes ou outras instalações em estaleiros de obras com risco de queda, ou que foram mesmo derrubados. Verificou-se ainda o registo de um incêndio. Destaca-se, dos dados da protecção civil, o acolhimento de 24 pessoas no Centro de Acolhimento de Emergência do Instituto de Acção Social, por volta das 19h, sendo que desde a abertura destes centros foram acolhidas 139 pessoas que não se encontravam seguras. Postos abriram às 17h No que diz respeito às infra-estruturas de transportes, o tabuleiro inferior da Ponte Sai Van foi encerrado logo às 11h, tendo voltado a estar aberto para a circulação de automóveis ligeiros e viaturas a partir das 17h, mas mediante permissão especial. Manteve-se encerrada a passagem superior da mesma ponte durante um longo período. Também a partir das 17h, foi “obtido consenso entre as autoridades de Macau e Zhuhai” para a reabertura dos postos de migração das Portas do Cerco, de Qingmao e do Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau. Outra infra-estrutura de transportes encerrada devido à passagem do tufão Wipha, foi a Ponte HK-Zhuhai-Macau, tendo sido interditada logo às 3h30 da madrugada de domingo. Ponte Macau fechada Outro ponto a destacar da passagem do tufão Wipha pelo território, prende-se com o encerramento da nova Ponte Macau, a quarta travessia entre a península de Macau e a Taipa. Tratou-se da primeira vez que esta travessia fechou portas a propósito da passagem de um tufão, mas o que é certo é que as autoridades nunca esclarecerem previamente se esta ponte seria, ou não, encerrada aquando da ocorrência de tempestades tropicais. Em 2023, quando a ponte ainda estava a ser construída, o deputado Lei Chan U colocou questões ao Executivo sobre esta matéria. “Na quarta ponte Macau-Taipa, que está actualmente em construção, vão ser instaladas barreiras de protecção contra o vento na área da linha principal, para a velocidade do vento no tabuleiro da ponte não ser superior à velocidade do vento em terra e a mesma ser inferior à velocidade do vento prevista no caso de sinal n.º 8 de tufão, possibilitando a condução em uniformização com as condições nas áreas terrestres”, questionou. Porém, o deputado salientou a existência de “dúvidas sobre a possibilidade de a quarta ponte poder vir a ser aberta à circulação de veículos quando for içado o sinal n.º 8 de tufão”. “Na resposta a uma interpelação escrita minha, o Governo afirmou que, antes da entrada em funcionamento da ponte, deveria ser observado o respectivo regulamento, que vai ser definido pela Administração. No entanto, segundo notícias recentes, a quarta ponte também poderá ser encerrada ao trânsito em dias de tufão, por razões de segurança, e a ser verdade, prevê-se que, no futuro, a pressão do trânsito entre a Península de Macau e a Taipa seja ainda mais grave nesses dias”, lembrou Lei Chan U. O deputado inquiriu directamente se a ponte estaria “aberta à circulação quando for içado o sinal n.º 8 ou superior de tufão”, e, em caso negativo, se “a Administração iria ponderar avançar, o quanto antes, com a construção da quinta ligação, por forma a satisfazer as necessidades decorrentes do constante aumento do trânsito entre Macau e a Taipa em dias de tufão”. A resposta de Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, concedida a 8 de Agosto de 2023, foi algo abrangente face às questões do deputado: “quando estiver içado o sinal de tempestade tropical n.º 8 ou de grau superior, o Governo adoptará, nos termos da lei, medidas restritivas cautelares, devendo os residentes e turistas permanecer em casa ou em locais seguros”. CPSP | Turistas interceptados na ponte Dois turistas foram interceptados por agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) quando caminhavam na Ponte Nobre de Carvalho em pleno sinal 10 de tufão. Os agentes sugeriram aos turistas uma deslocação para um sítio mais seguro. Segundo um comunicado do Gabinete de Comunicação Social, o CPSP recebeu a denúncia às 11h30, tendo enviado os agentes para acompanhar a ocorrência com os turistas. Os turistas foram punidos com uma multa de 50 a 250 patacas por violação do trânsito proibido a peões, uma sanção prevista no regulamento do Trânsito Rodoviário. Tin Hau | Templo sobreviveu à queda de árvores Ontem à tarde, durante a passagem do tufão Wipha, deu-se a queda de árvores e o desabamento de uma plataforma perto do Templo de Tin Hau, na Rua dos Pescadores, e que também fica perto da sede da Macao Water. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), a queda de árvores não danificou a estrutura principal do templo, tendo sido feitos contactos com o administrador do templo, confirmando-se que não houve vítimas. O IC declarou que “enviará, assim que as condições de segurança o permitirem, funcionários para inspeccionar e avaliar minuciosamente o estado do Templo de Tin Hau e manterá a comunicação com o administrador, com vista a coordenar os trabalhos de reparação”. Saúde | Todos os serviços regressam hoje à normalidade Os Serviços de Saúde (SS) emitiram ontem uma nota onde esclarecem que todos os serviços de consultas e exames regressam hoje à normalidade, tendo em conta a descida do sinal 8 de tempestade para o sinal 3 depois da hora de jantar de domingo. Hoje, serão retomados os serviços de consultas externas de especialidade no Centro Hospitalar Conde de São Januário, nomeadamente nas especialidades de Radiologia e Imagiologia, Patologia Clínica, Hospital de Dia de Hemato-Oncologia, Farmácia Hospitalar de Consultas Externas Diferenciadas, Centro de Endoscopia e Sala de Diagnóstico e Tratamento Diurno de Urologia, entre outros. Também a partir de hoje, os centros ou postos de saúde, incluindo os serviços de vacinação contra a covid-19, prestam serviços regularmente, enquanto que o Centro de Transfusões de Sangue mantém o seu normal funcionamento de doação de sangue. Para os utentes que viram as marcações de consulta externa ou colheita de sangue nos centros e postos de saúde serem canceladas devido ao tufão, podem apresentar-se, de acordo com a hora marcada, no próximo sábado, dia 26 de Julho, no centro ou posto de saúde da sua residência. Além disso, os residentes afectados cujas marcações no Posto de Saúde do Novo Bairro de Macau em Hengqin e no Centro de Exame Médico para Funcionários Públicos serão informados da nova data de marcação, esclarecem os SS.
O novo panorama da economia política internacional e do desenvolvimento económico do Sul Global Hoje Macau - 20 Jul 2025 Um académico da Universidade de Fudan analisa as megatendências e os desafios concretos que o Sul Global tem de enfrentar num panorama em profunda mudança. Tang Shiping* Parte I Desde 2008, ou mesmo 2001, o mundo entrou num longo período de instabilidade internacional ou agitação geopolítica. A partir de 2001, o mundo passou pelo 11 de setembro, a Guerra do Iraque, a Guerra da Rússia-Geórgia, a Primavera Árabe e suas consequências, a crise da Crimeia, o Brexit, a crise na Síria, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a guerra entre Israel e o Hamas e, claro, a rivalidade entre os EUA e a China. Com a segunda presidência de Trump nos EUA, até mesmo o sistema atlântico está em apuros. Mesmo que acreditemos que o desenvolvimento económico tenha sido impulsionado principalmente por factores internos, o sistema internacional restringe seriamente as acções dos Estados, incluindo a sua busca pelo desenvolvimento económico. Isso talvez seja ainda mais verdadeiro para os países em desenvolvimento, aproximadamente o Sul Global. Assim, quando a volatilidade internacional aumenta, o Sul Global enfrenta ainda mais desafios para sustentar o desenvolvimento económico. Então, quais são as implicações para o desenvolvimento económico no Sul Global? Para compreender esses desafios, precisamos primeiro entender que a economia política internacional (doravante, EPI) tem agora um panorama totalmente novo. É necessário fazer uma breve ressalva. Não quero dizer que o Sul Global seja um bloco único. Nem estou a sugerir que o Norte Global (ou seja, o Ocidente) seja um bloco único, mesmo antes da divisão entre os EUA e a Europa se tornar tão grande. Acredito que o novo panorama da EPI tem as seguintes três características principais. Primeiro, o Sul Global tem agora mais autoconsciência e, portanto, agências mais activas. Nas primeiras décadas após a sua independência, a maioria dos países do Sul Global foi prejudicada por capacidades estatais fracas. Assim, para muitos países do Sul Global, a construção do Estado, muitas vezes misturada com a construção da nação, foi a sua principal tarefa nas décadas imediatamente após a independência. Como resultado desses esforços de construção do Estado, a maioria dos países do Sul Global tem mais capacidade estatal e instituições sólidas para tomar iniciativas. Além disso, o colapso do Consenso de Washington e a erosão da ordem internacional liderada pelos EUA ensinaram ao Sul Global a dura lição de que não podem simplesmente seguir o que o Ocidente lhes diz, seja para a construção do Estado, a democratização ou o desenvolvimento económico. Em vez disso, os países do Sul Global têm de aprender, digerir e integrar as lições fundamentais dos seus pares e, em seguida, tomar as iniciativas adequadas. Em suma, as agências do Sul Global são agora não só absolutamente necessárias, mas também imanentemente possíveis. Ao mesmo tempo, o sucesso geral do Leste Asiático (incluindo o Nordeste Asiático e o Sudeste Asiático) no Milagre do Leste Asiático mostrou que existem caminhos para a prosperidade económica além daqueles pregados pela economia neoclássica e pela economia neo-institucionalista (ou seja, aqueles pregados por Douglass North e seus seguidores). Se o Leste Asiático pode fazer isso, outros países e regiões do Sul Global também podem. Essa constatação também incentiva mais agências de outros países do Sul Global. Em segundo lugar, as novas tecnologias de hoje trazem uma dinâmica totalmente nova para o desenvolvimento económico. Embora as tecnologias tenham impulsionado o progresso humano ao longo da história, e mais ainda desde 1500, a maioria das tecnologias emergentes no passado teve seu impacto limitado a alguns sectores ou indústrias. Por exemplo, as ferrovias aceleraram muito o transporte, a produção e a integração dos mercados, enquanto os telégrafos facilitaram a comunicação, a navegação e a coordenação militar. Em comparação, as novas tecnologias de hoje, principalmente as comunicações móveis, imagens de satélite, inteligência artificial (IA), automação e drones, têm o potencial de capacitar todos os setores. Por exemplo, imagens de satélite e drones podem melhorar significativamente a agricultura tradicional, enquanto os agricultores agora podem concluir as suas transações instantaneamente com dispositivos móveis. Da mesma forma, a automação e os robôs capacitados por IA podem aumentar significativamente a produtividade, não apenas na manufatura de alta tecnologia, mas também na manufatura tradicional. Em suma, estas novas tecnologias são omnipotentes. Embora continue a ser verdade que apenas alguns grandes países em desenvolvimento (por exemplo, Brasil, China, Índia, Indonésia) podem inovar na fronteira tecnológica, porque as inovações exigem investimentos substanciais e constantes em infraestruturas físicas e capital humano (que tendem a ser lentos e cumulativos), a maioria dos países do Sul Global pode adotar estas tecnologias poderosas com custos relativamente baixos, auxiliados pelas tecnologias da informação. Por fim, a rivalidade iminente entre os EUA e a China, que pode muito bem durar mais de uma ou duas décadas, também traz uma nova dimensão ao novo panorama da EPI. Ao longo da história moderna pós-1500, a rivalidade geopolítica sempre moldou o panorama da EPI. No entanto, a rivalidade entre os EUA e a China distingue-se de todas as rivalidades anteriores em pelo menos três aspetos. Para começar, pela primeira vez, uma das principais economias mundiais reside agora no Sul Global. Antes da Segunda Guerra Mundial, todas as principais economias eram ocidentais. Após a Segunda Guerra Mundial, tanto a Alemanha (Ocidental) como o Japão tornaram-se aliados dos EUA e parte do Ocidente. Embora a União Soviética fosse uma grande potência militar e política, a sua economia nunca atingiu metade da economia dos EUA. Além disso, a União Soviética não mantinha relações comerciais significativas com o Sul Global. Em comparação, a China, claramente parte do Sul Global, é agora um importante parceiro comercial de muitos países do Sul Global. Na verdade, desde 2022, o volume total do comércio da China com o Sul Global ultrapassou o volume total do seu comércio com o Norte Global, mesmo que parte do comércio com o Sul Global tenha como destino final o Norte Global. Assim, a China está igualmente integrada com o Sul Global e com o Ocidente. Na verdade, pode-se argumentar plausivelmente que parte do Sul Global está agora mais integrada com a China do que com o Ocidente. Igualmente importante, a China é agora uma potência tecnológica líder. Em muitas áreas tecnológicas, a China está agora em pé de igualdade ou mesmo à frente do Ocidente. Isto significa que, para o Sul Global, a China pode ser uma fonte alternativa de capital, tecnologia e conhecimentos especializados em desenvolvimento, além do Ocidente. Como resultado, os países do Sul Global podem jogar os Estados Unidos e a China uns contra os outros e, assim, ganhar mais influência sobre as duas principais economias. Então, quais são as implicações para o desenvolvimento económico no Sul Global? Duas lições importantes se destacam. Em primeiro lugar, nenhum país pode alcançar o desenvolvimento económico se a sua liderança não quiser. No entanto, mesmo com uma liderança dedicada e competente, impulsionar e sustentar o desenvolvimento não é tarefa fácil. De facto, um dos factos mais marcantes e deprimentes da última metade do século foi que poucos países conseguiram atingir uma taxa de crescimento do PIB per capita de 4% durante mais de duas décadas. Então, quais são os requisitos para sustentar o desenvolvimento? A resposta está no que chamo de «Novo Triângulo do Desenvolvimento»: capacidade do Estado, sistema institucional e políticas socioeconómicas (incluindo políticas industriais). No mundo atual, muitos países em desenvolvimento podem carecer de um ou mesmo dos três pilares do triângulo. Em segundo lugar, a paz é sempre boa para o desenvolvimento económico, enquanto a guerra é sempre má. Por isso, os países de uma região devem tentar evitar conflitos entre si. Para isso, pode ser necessário algum nível de regionalismo: o regionalismo é uma âncora fundamental para a estabilidade regional. Regiões como o Médio Oriente e o Sul da Ásia, nas quais os principais países não conseguem viver em paz uns com os outros, sofrem assim na sua busca pelo desenvolvimento económico. Como disse o falecido Deng Xiaoping, a paz e o desenvolvimento devem andar de mãos dadas, e é isso que acontece! (continua) *Tang Shiping é professor universitário na Universidade de Fudan, em Xangai, China. Ele também detém o título de Professor Distinto “Chang-Jiang/Cheung Kong Scholar” do Ministério da Educação da China. Um dos cientistas sociais mais influentes e inovadores da Ásia, o Prof. Tang foi eleito um dos três vice-presidentes (2025-26) da Associação de Estudos Internacionais (ISA). Ele é o primeiro acadêmico chinês a ser eleito para este cargo. Em 2024, foi homenageado como um dos três Distinguished Scholars da Global IR Section (GIRS) da ISA. A sua obra inclui: The Institutional Foundation of Economic Development, (Princeton University Press, 2022) e On Social Evolution: Phenomenon and Paradigm (Routledge, 2020). O seu livro The Social Evolution of International Politics (Oxford University Press, 2013) recebeu o prémio «Annual Best Book Award» da International Studies Association (ISA) em 2015. Foi o primeiro académico chinês e não ocidental a receber este prestigiado prémio literário.
Saúde | Autoridades atentas a febre chicungunha em Guangdong Hoje Macau - 20 Jul 202520 Jul 2025 Os Serviços de Saúde anunciaram ontem que estão a acompanhar a situação dos vários casos de febre chicungunha na província de Guangdong, uma doença provocada por um vírus que também se transmite através de picadas de mosquito, e que tem manifestações clínicas semelhantes às da febre do dengue. De acordo os dados dos Serviços de Saúde do distrito de Shunde, na cidade de Foshan, foi detectado um surto local de febre chicungunha, associado a um caso importado. Até 15 de Julho, foram registados 478 casos confirmados no mesmo distrito, com particular incidência nas vilas de Lecong, de Beijiao e de Chencun. Apesar da confirmação de quase meio milhar de casos confirmados, as autoridades ressalvam que são todos ligeiros. A febre chicungunha é uma doença viral, transmitida por mosquitos do género Aedes. As manifestações clínicas, a forma de transmissão e os métodos de prevenção e controlo da doença são semelhantes às da febre de dengue. O período de incubação é geralmente de três a oito dias, podendo variar entre dois e doze dias. Os principais sintomas são febre, dores intensas nas articulações. Os outros sintomas comuns incluem dor muscular, dor de cabeça, náuseas, fadiga e erupção cutânea, os sintomas são ligeiros e duram alguns dias. São raros os casos graves e mortais.
Taiwan | Detectado grande número de aviões chineses Hoje Macau - 20 Jul 2025 Pequim enviou 58 aeronaves militares para os arredores de Taiwan entre terça e quarta-feira, o maior número desde Abril, depois de terem surgido rumores de uma possível escala do líder taiwanês nos Estados Unidos. Segundo as autoridades de Taiwan, 45 cruzaram a linha média do Estreito e entraram nas zonas norte, centro, sudoeste e leste da autoproclamada Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan. Esta é a maior incursão aérea desde 02 de Abril, quando a China realizou as manobras militares “Strait Thunder-2025A” em torno de Taiwan. Os voos ocorreram no mesmo dia em que a China manifestou “firme oposição” a uma eventual passagem do líder taiwanês, William Lai Ching-te, pelos Estados Unidos, durante uma viagem oficial ao Paraguai, prevista para Agosto. “Opomo-nos firmemente a qualquer tipo de intercâmbio oficial entre os EUA e a região chinesa de Taiwan, bem como ao trânsito de William Lai por território norte-americano sob qualquer pretexto”, afirmou Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado (o executivo chinês).
DSSCU instaurou 441 processos na primeira metade do ano Hoje Macau - 20 Jul 2025 Entre Janeiro e Junho, foram instaurados 441 processos relativos a obras ilegais, de acordo com os dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU). Entre os 441 processos, 100 estão relacionados com demolições voluntárias pelos proprietários das obras e 38 com aplicação de multas por execução de obras ilegais no valor de cerca de 1,10 milhões patacas. “As multas respeitantes a cinco casos não foram pagas dentro do prazo fixado, pelo que a Administração procederá à respectiva cobrança coerciva”, foi revelado no comunicado de ontem. A mensagem da DSSCU serviu igualmente para deixar um apelo contra as construções ilegais: “A DSSCU salienta que dá prioridade aos casos de novas obras ilegais, de renovação de obras ilegais, de construções em estado de ruína e aos casos de obras ilegais situadas em edifícios cuja licença de utilização foi emitida após a entrada em vigor da nova lei”, foi escrito. “A DSSCU apela, pois, aos cidadãos para salvaguardarem em conjunto a segurança dos edifícios e criarem um ambiente com boas condições de habitabilidade e para não violarem a lei, foi acrescentado. Avisos à navegação Sobre os processos instaurados, a DSSCU também informou que “um certo número de espaços comerciais não procedeu à ‘comunicação prévia’ ou requereu a licença de obra para execução de obras de remodelação”. “No caso de as obras serem feitas sem ‘comunicação prévia’ ou o licenciamento de obras, além de ter de se pagar uma multa, as taxas devidas pela legalização das obras concluídas são elevadas ao triplo relativamente às taxas estabelecidas para os procedimentos administrativos normais”, foi explicado. “Assim, a DSSCU apela aos interessados que pretendam executar obras de remodelação dos espaços comerciais, que apresente o respectivo requerimento junto da DSSCU nos termos da lei, a fim de evitar que os lucros não compensem as perdas”, foi apelado.
Inquérito | Empresas dos Estados Unidos cortam investimento na China Hoje Macau - 20 Jul 2025 As empresas norte-americanas na China prevêem mínimos históricos de novos investimentos em 2025, citando incertezas políticas e a guerra comercial como principais preocupações, segundo um inquérito da Câmara de Comércio EUA-China, divulgado ontem. As empresas referem também a desaceleração da economia chinesa, marcada por uma fraca procura interna e excesso de capacidade industrial, como factores que têm vindo a erodir a rentabilidade dos negócios no país asiático. “As empresas estão actualmente menos lucrativas na China do que há alguns anos, mas os riscos – desde os reputacionais aos regulatórios e políticos – estão a aumentar”, afirmou Sean Stein, presidente da Câmara de Comércio EUA-China, organização com sede em Washington, que representa grandes multinacionais norte-americanas com operações no país. O inquérito, realizado entre Março e Maio junto de 130 empresas, surge num contexto de tensões comerciais entre Pequim e Washington, que incluem taxas alfandegárias e controlos à exportação de produtos estratégicos como semicondutores avançados e minerais de terras raras. Apesar de conversações de alto nível em Genebra e Londres terem resultado em acordos para aliviar parte das restrições, a ausência de um pacto comercial duradouro mantém a incerteza no sector. Mais de metade das empresas inquiridas indicaram que não têm planos de novos investimentos na China este ano – um valor recorde, segundo Kyle Sullivan, vice-presidente da entidade. Cerca de 40 por cento das empresas relataram efeitos negativos resultantes das medidas de controlo às exportações impostas pelos EUA, incluindo perda de vendas, ruptura de relações com clientes e danos reputacionais por serem consideradas fornecedoras pouco fiáveis. As restrições afectam sobretudo produtos de alta tecnologia, cujo potencial uso militar preocupa Washington. Sean Stein advertiu que estas medidas devem ser aplicadas com precisão, sob pena de empresas europeias, japonesas ou chinesas preencherem rapidamente o vazio deixado pelas companhias norte-americanas. Mudanças em curso A fabricante norte-americana de ‘chips’ Nvidia recebeu recentemente autorização do Governo dos EUA para retomar a venda à China dos ‘chips’ H20, utilizados em sistemas de inteligência artificial, anunciou o presidente executivo da empresa, Jensen Huang. No entanto, os semicondutores mais avançados da empresa continuam sujeitos a restrições. Apesar de 82 por cento das empresas terem registado lucros em 2024, menos de metade manifestaram optimismo quanto ao futuro das operações na China, citando as tarifas, deflação (queda anual nos preços no consumidor) e imprevisibilidade política como factores de risco. O número de empresas norte-americanas com planos para transferir operações para fora da China atingiu também um máximo histórico: 27 por cento, face a 19 por cento no ano anterior. Pela primeira vez em anos, questões como o ambiente regulatório chinês, protecção de propriedade intelectual ou acesso ao mercado deixaram de figurar entre as cinco principais preocupações das empresas. “Não é porque a situação tenha melhorado significativamente, mas sim porque os novos desafios, muitos deles vindos dos EUA, se tornaram igualmente problemáticos”, disse Sean Stein. Quase todas as empresas inquiridas reconheceram, no entanto, que não conseguem manter a competitividade global sem a presença no mercado chinês. Um relatório semelhante da Câmara de Comércio da União Europeia na China, publicado em Maio, apontava igualmente para cortes nas despesas e planos de redução de investimentos, devido à desaceleração económica e à intensa concorrência no mercado local.
Habitação | Transacções com quebra anual de quase 50% João Santos Filipe - 20 Jul 2025 No espaço de um ano, o território registou menos 194 transacções no sector da habitação, uma quebra anual de 47 por cento. Em termos mensais, o mercado apresentou sinais de estabilidade, com o número de transacções a subir ligeiramente No passado mês de Junho, o número de compra e venda de habitação foi de 219 negócios, o que significou uma redução de 47 por cento, em comparação com Junho do ano passado. No período homólogo tinha sido registado um total de 413 transacções de habitação. Os dados foram divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). A península foi o local do território com mais transacções, como normalmente acontece, com 158 compras e vendas de habitação. Apesar disso, em comparação com o período homólogo houve uma redução de 19 compras e vendas de casas e apartamentos. A grande diferença encontra-se na Taipa, onde no espaço de um ano se registaram menos 165 transacções. Em 2024, tinha havido 216 transacções, no que também representou um registo atípico. Todavia, em Junho deste ano, o número não foi além das 51 transacções. Em Coloane, a redução do número de transacções foi de 50 por cento, de 20 em Junho de 2024 para 10 em Junho deste ano. Em Junho, o mercado do imobiliário não encolheu apenas no número das transacções, o mesmo aconteceu com o valor do metro quadrado. Em geral, o valor do metro quadrado teve uma redução de 30,3 por cento. Os dados mais recentes mostram que o metro quadrado foi negociado por 69.707 patacas, quando no período homólogo era negociado por 99.489 patacas. Na península, o preço médio do metro quadrado foi de 69.707 patacas, uma redução anual de 18.358 patacas, na Taipa de 64.761 patacas, menos 47.064 patacas, e em Coloane de 90.069 patacas, uma diminuição de 11.386 patacas. Comparação mensal A nível mensal o mercado imobiliário apresentou sinais mistos. No número de transacções, registou-se um crescimento entre Maio e Junho, com mais 23 transacções, o que representou um aumento de 11,7 por cento. Os aumentos foram registados na península, onde houve mais oitos transacções, e na Taipa com mais 15 transacções. O mercado manteve-se estável em Coloane, com as mesmas 10 compras e vendas nos dois meses. Em relação ao preço do metro quadrado, no espaço de um mês verificou-se uma ligeira redução de 0,7 por cento, de 69.735 patacas para 69.254 patacas. Na península, os preços registaram uma subida mensal de 67.386 patacas para 69.707 patacas por metro quadrado. No entanto, tanto na Taipa como em Coloane, houve reduções no valor do metro quadrado. Na Taipa, a redução foi de 70.934 patacas para 64.761 patacas, enquanto em Coloane foi de 92.184 patacas para 90.069 patacas.