Síria | Veto sino-russo a resolução da ONU para impor cessar fogo em Idlib

[dropcap]A[/dropcap] Rússia e a China vetaram ontem uma resolução das Nações Unidas, proposta pela Alemanha, Bélgica e Kuwait, que impunha um cessar-fogo na província de Idlib, na Síria. Trata-se do 13.º veto russo a uma resolução sobre a Síria desde o início do conflito, em 2011.
A resolução foi aprovada por 12 dos 15 Estados membros do Conselho de Segurança da ONU, com a Guiné Equatorial, membro não permanente, a abster-se. O texto foi objecto de negociações ao longo de cerca de duas semanas.
A Rússia defendeu, em vão, que o cessar-fogo contemple exceções para as “operações terroristas” realizadas na província de Idlib, último reduto rebelde na Síria. Para os autores da resolução, o pedido russo é “inaceitável”, uma vez que abre a porta a múltiplas interpretações e poderá conduzir a novos ataques a locais civis na Síria.
Os três co-autores tinham aceitado uma menção evocando “medidas terroristas” sob a condição de que respeitassem o direito internacional, sublinhou a parte alemã. O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, denunciou a “onda de activismo humanitário” de outros membros do Conselho de Segurança a cada avanço na retomada dos territórios pelo exército sírio.
“É sempre a mesma canção. Os terroristas transformam-se em representantes da oposição”, ironizou o diplomata russo.
Em Idlib prosseguem, entretanto, os ataques esporádicos, após quatro meses de bombardeamentos do regime sírio, algo que a ONU tem denunciado, apontando a degradação da situação humanitária na província onde residem mais de três milhões de pessoas, um milhão delas crianças.
Antes da votação, um alto funcionário das Nações Unidas indicou que a situação humanitária no último reduto rebelde na Síria é “alarmante”, estimando que cerca de 400 mil pessoas tiveram de abandonar as casas naquela região do noroeste sírio nos últimos quatro meses e que mais de 600 mil estão a viver em tendas, campos de refugiados ou ao ar livre.
Ursula Mueller, chefe adjunta do departamento humanitário da ONU, disse no Conselho de Segurança das Nações Unidas que, após meses de intensos combates e de um “frágil cessar-fogo”, as perspectivas para a província de Idlib “continuam incertas, numa altura em que se aproxima o Inverno”.
Mueller salientou que as organizações humanitárias estimam ser necessário adicionar pelo menos 68,4 milhões de dólares (milhões de euros) ao orçamento existente para garantir a segurança dos deslocados durante a época invernosa, sobretudo em abrigos e produtos não alimentares.
Aquela responsável falou perante o Conselho de Segurança da ONU antes da votação da resolução vetada pela Rússia e pela China.

Ciclo dedicado ao teatro contemporâneo chinês no Teatro Taborda, em Lisboa

[dropcap]O[/dropcap] teatro contemporâneo chinês vai estar em destaque entre os dias 26 e 28 de Setembro, no Teatro Taborda, em Lisboa, com uma programação que inclui leitura encenada, um espectáculo infanto-juvenil, uma visita performativa e uma oficina de teatro.
Iniciativa do Teatro da Garagem, o ciclo “Depois de Babel” consiste num projeto de tradução e divulgação da dramaturgia e das artes cénicas contemporâneas do mundo, que este ano é dedicado à cultura chinesa.

De acordo com os organizadores, “Depois de Babel” abre no dia 26 com a leitura encenada do texto “Rinocerontes in love” (1999), de Liao Yimei e com tradução de Constança Carvalho Homem (a partir da versão inglesa de Mark Talacko).

No dia seguinte, os alunos do Centro de Línguas e Culturas Shumin sobem ao palco do Auditório do Teatro Taborda para apresentar Viagem pela China – Mostra de Dança, Música e Ópera Chinesa.

No último dia decorre a actividade Teatro a Oriente, com inscrição obrigatória, até dia 20, em parceria com o Museu do Oriente: da parte da manhã, uma visita performativa à exposição sobre a Ópera de Pequim, em exibição no Museu do Oriente, e da parte da tarde, uma oficina de teatro com enfoque no trabalho do actor, a realizar-se no Teatro Taborda.

O Teatro da Garagem destaca que todas as actividades são de entrada livre, ainda que o programa Teatro a Oriente careça de inscrição prévia e esteja sujeita a confirmação.

O ciclo “Depois de Babel” surge da participação portuguesa na Rede Europeia de Tradução Teatral – EURODRAM (cuja coordenação é assumida pelo Teatro da Garagem desde 2015) e na parceria que o Teatro da Garagem tem vindo a desenvolver com as comunidades culturais e linguísticas que partilham o território geográfico e humano da Companhia.

Os organizadores destacam a “relação privilegiada” que o Teatro da Garagem está a estabelecer este ano com a Shangai Theatre Academy, bem como a parceria com o Centro de Línguas e Culturas Shumin e o Museu do Oriente, ambos sediados em Lisboa.

Global Media | Plataforma Azul quer unir cidades, universidades e media em torno dos oceanos

[dropcap]A[/dropcap] Plataforma Azul (PA) vai debater hoje em Vila Nova de Gaia, Portugal, a criação de redes de cidades, académicas e media para reflectir sobre a sustentabilidade dos oceanos, tentando cativar a China para a solução do problema.

O administrador da Global Media Group, detentora do jornal Plataforma Macau, que criou a PA, Paulo Rego, falou à Lusa de um projecto criado em Junho e que terá em Gaia, no âmbito do Fórum Internacional de Gaia (FIGaia) 2019 o seu primeiro grande debate em solo nacional.

Durante 11 dias e até domingo, o FIGAIA vai debater o desenvolvimento sustentável e a construção da paz, num total de 80 acções envolvendo o meio ambiente e a cultura.

A marca Plataforma Azul “nasceu no âmbito da diversificação de actividades e dos modelos de negócio do Plataforma Macau”, que é um jornal bilingue, em português e chinês, com sede em Macau, e desse projecto nasceram três novas marcas, o Plataforma Sabores, o Plataforma Grande Baía e a Plataforma Azul, explicou o administrador.

“Num mundo que tem debatido a sustentabilidade e a nova economia de uma forma pouco científica e consciente e que é pouco partilhada, mas muito politizada (…), privilegiando os interesses nacionais e não o comum (…), a PA pretende debater e provocar soluções para a economia sustentável, concentrada na sustentabilidade dos oceanos”, explicou o responsável.

Salientando que “existe uma linha física [oceano] que liga todas estas geografias [países de língua portuguesa] e que significa um mar de oportunidades”, Paulo Rego vincou dever a presente geração “às próximas uma atitude responsável sobre o que está em causa”.

“Estamos a falar da sobrevivência do planeta e dos modos de vida que temos, mas queremos fazê-lo como uma lógica de oportunidades, unindo geografias, interesses globais e que descubra na economia azul oportunidades de negócio, de lucro e para a formação de redes”, acrescentou.

Usando como justificação para a presença da marca na conferência em Gaia o objectivo de criar “o conceito de redes de regiões e de cidades”, assinalou a presença de “parceiros da plataforma do Brasil, de África, de Macau e da China” a quem querem “juntar redes de cidades e também académicas para a produção de conhecimento, com o envolvimento dos media”.

“Macau é hoje um dos centros operacionais da maior região económica do mundo, a região do grande delta do rio das Pérolas, que envolve nove cidades mais Macau e Hong Kong (…) o que vai permitir trazer a China para a questão, o que será incontornável numa economia sustentável”, disse o responsável.

E acrescentou: “não podemos olhar para o futuro, a 10 ou 15 anos, da economia sustentável sem incluir aquela que é uma das duas maiores economias do mundo [China]. (…) A economia azul é uma grande oportunidade nessa região, que representa 14% do Produto Interno Bruto da China”.

Global Media | Plataforma Azul quer unir cidades, universidades e media em torno dos oceanos

[dropcap]A[/dropcap] Plataforma Azul (PA) vai debater hoje em Vila Nova de Gaia, Portugal, a criação de redes de cidades, académicas e media para reflectir sobre a sustentabilidade dos oceanos, tentando cativar a China para a solução do problema.
O administrador da Global Media Group, detentora do jornal Plataforma Macau, que criou a PA, Paulo Rego, falou à Lusa de um projecto criado em Junho e que terá em Gaia, no âmbito do Fórum Internacional de Gaia (FIGaia) 2019 o seu primeiro grande debate em solo nacional.
Durante 11 dias e até domingo, o FIGAIA vai debater o desenvolvimento sustentável e a construção da paz, num total de 80 acções envolvendo o meio ambiente e a cultura.
A marca Plataforma Azul “nasceu no âmbito da diversificação de actividades e dos modelos de negócio do Plataforma Macau”, que é um jornal bilingue, em português e chinês, com sede em Macau, e desse projecto nasceram três novas marcas, o Plataforma Sabores, o Plataforma Grande Baía e a Plataforma Azul, explicou o administrador.
“Num mundo que tem debatido a sustentabilidade e a nova economia de uma forma pouco científica e consciente e que é pouco partilhada, mas muito politizada (…), privilegiando os interesses nacionais e não o comum (…), a PA pretende debater e provocar soluções para a economia sustentável, concentrada na sustentabilidade dos oceanos”, explicou o responsável.
Salientando que “existe uma linha física [oceano] que liga todas estas geografias [países de língua portuguesa] e que significa um mar de oportunidades”, Paulo Rego vincou dever a presente geração “às próximas uma atitude responsável sobre o que está em causa”.
“Estamos a falar da sobrevivência do planeta e dos modos de vida que temos, mas queremos fazê-lo como uma lógica de oportunidades, unindo geografias, interesses globais e que descubra na economia azul oportunidades de negócio, de lucro e para a formação de redes”, acrescentou.
Usando como justificação para a presença da marca na conferência em Gaia o objectivo de criar “o conceito de redes de regiões e de cidades”, assinalou a presença de “parceiros da plataforma do Brasil, de África, de Macau e da China” a quem querem “juntar redes de cidades e também académicas para a produção de conhecimento, com o envolvimento dos media”.
“Macau é hoje um dos centros operacionais da maior região económica do mundo, a região do grande delta do rio das Pérolas, que envolve nove cidades mais Macau e Hong Kong (…) o que vai permitir trazer a China para a questão, o que será incontornável numa economia sustentável”, disse o responsável.
E acrescentou: “não podemos olhar para o futuro, a 10 ou 15 anos, da economia sustentável sem incluir aquela que é uma das duas maiores economias do mundo [China]. (…) A economia azul é uma grande oportunidade nessa região, que representa 14% do Produto Interno Bruto da China”.

Habitação | Relatório aponta para insatisfação de metade dos inquiridos 

[dropcap]U[/dropcap]m relatório desenvolvido pelo Centro da Política de Sabedoria Colectiva (CPSC), ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau, concluiu que 49,5 por cento dos inquiridos não estão satisfeitos com as actuais políticas de habitação adoptadas pelo Governo, sendo que 6,1 por cento dizem estar muito insatisfeitos. Os responsáveis pelo estudo consideram que o Governo deve proceder a uma redução do tempo de espera para o acesso à habitação pública, aumentado o número de casas disponíveis e a transparência na apreciação da candidatura.

No relatório, cerca de 60 por cento dos inquiridos discordam da alteração da idade mínima de acesso para 25 anos, medida que consta na proposta da alteração da Lei de Habitação Económica. Além disso, 75,59 por cento dos inquiridos concorda com a criação de um novo tipo de residência, mas apenas 54 por cento acredita que isso pode ajudar a resolver as dificuldades existentes na aquisição de uma casa.

O vice-presidente da direcção do CPSC, Chan Ka Leong, afirmou que o número total de habitações em Macau não consegue satisfazer a procura por parte dos residentes. “Apesar de haver mais de 23 mil residências e apenas 19 mil agregados, o facto de muitos proprietários possuírem mais do que um prédio e o aumento dos preços no mercado imobiliário privado nos últimos anos fez com que muitos dos residentes não tenham esperança na compra de uma casa, nem no acesso a uma habitação pública”, disse.

Neste sentido, o CPSC apresentou várias sugestões de mudança, como a formulação de uma política habitacional abrangente, a definição certa de classe média e a realização de um estudo aprofundado para os novos tipos de habitação. O CPSC defende ainda que o Governo deve promover linhas de crédito para os cidadãos, entre outras medidas.

Habitação | Relatório aponta para insatisfação de metade dos inquiridos 

[dropcap]U[/dropcap]m relatório desenvolvido pelo Centro da Política de Sabedoria Colectiva (CPSC), ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau, concluiu que 49,5 por cento dos inquiridos não estão satisfeitos com as actuais políticas de habitação adoptadas pelo Governo, sendo que 6,1 por cento dizem estar muito insatisfeitos. Os responsáveis pelo estudo consideram que o Governo deve proceder a uma redução do tempo de espera para o acesso à habitação pública, aumentado o número de casas disponíveis e a transparência na apreciação da candidatura.
No relatório, cerca de 60 por cento dos inquiridos discordam da alteração da idade mínima de acesso para 25 anos, medida que consta na proposta da alteração da Lei de Habitação Económica. Além disso, 75,59 por cento dos inquiridos concorda com a criação de um novo tipo de residência, mas apenas 54 por cento acredita que isso pode ajudar a resolver as dificuldades existentes na aquisição de uma casa.
O vice-presidente da direcção do CPSC, Chan Ka Leong, afirmou que o número total de habitações em Macau não consegue satisfazer a procura por parte dos residentes. “Apesar de haver mais de 23 mil residências e apenas 19 mil agregados, o facto de muitos proprietários possuírem mais do que um prédio e o aumento dos preços no mercado imobiliário privado nos últimos anos fez com que muitos dos residentes não tenham esperança na compra de uma casa, nem no acesso a uma habitação pública”, disse.
Neste sentido, o CPSC apresentou várias sugestões de mudança, como a formulação de uma política habitacional abrangente, a definição certa de classe média e a realização de um estudo aprofundado para os novos tipos de habitação. O CPSC defende ainda que o Governo deve promover linhas de crédito para os cidadãos, entre outras medidas.

Dia Nacional | Novo portal online em português, inglês e chinês

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau estreou ontem um portal online em português, inglês e chinês exclusivamente dedicado às comemorações do Dia Nacional da China, agendadas para 1 de Outubro.

O ‘site’ tem o objectivo de facilitar o trabalho da comunicação social, mas também a consulta por parte da população em geral, de fotografias, vídeos e informações oficiais nas três línguas, pode ler-se num comunicado das autoridades.

Na mesma nota indica-se que o Governo da Região Administrativa Especial de Macau “irá ainda realizar um conjunto de eventos” para celebrar o 70.º aniversário da implantação da República Popular da China, “os quais incluem a cerimónia do içar da bandeira, na Praça Flor de Lótus, e a recepção oficial” promovida pelo Executivo e que está marcada para a Torre Macau.

As maiores comemorações estão agendadas para Pequim. Na capital chinesa, mais de 100 mil cidadãos participam num desfile das cerimónias do aniversário, 60 mil vão assistir à festa nocturna, no mesmo dia, enquanto 30 mil foram convidados para observar o desfile militar.

O desfile militar será maior que as edições dos 50.º e 60.º aniversários da fundação da República Popular da China, indicaram as autoridades chinesas no final de Agosto, prometendo, contudo, rigor orçamental e que serão “evitadas extravagâncias”.

Dia Nacional | Novo portal online em português, inglês e chinês

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau estreou ontem um portal online em português, inglês e chinês exclusivamente dedicado às comemorações do Dia Nacional da China, agendadas para 1 de Outubro.
O ‘site’ tem o objectivo de facilitar o trabalho da comunicação social, mas também a consulta por parte da população em geral, de fotografias, vídeos e informações oficiais nas três línguas, pode ler-se num comunicado das autoridades.
Na mesma nota indica-se que o Governo da Região Administrativa Especial de Macau “irá ainda realizar um conjunto de eventos” para celebrar o 70.º aniversário da implantação da República Popular da China, “os quais incluem a cerimónia do içar da bandeira, na Praça Flor de Lótus, e a recepção oficial” promovida pelo Executivo e que está marcada para a Torre Macau.
As maiores comemorações estão agendadas para Pequim. Na capital chinesa, mais de 100 mil cidadãos participam num desfile das cerimónias do aniversário, 60 mil vão assistir à festa nocturna, no mesmo dia, enquanto 30 mil foram convidados para observar o desfile militar.
O desfile militar será maior que as edições dos 50.º e 60.º aniversários da fundação da República Popular da China, indicaram as autoridades chinesas no final de Agosto, prometendo, contudo, rigor orçamental e que serão “evitadas extravagâncias”.

Filipinas | Novo surto de pólio após 19 anos sem o vírus

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de saúde filipinas declararam ontem um surto de poliomielite após a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado o país livre do vírus há quase 20 anos.

O secretário de saúde Francisco Duque III anunciou numa conferência de imprensa que as autoridades confirmaram, pelo menos, um caso de pólio numa menina de três anos no sul da província de Lanao del Sur e detectaram a presença do vírus num esgoto na Manila e em canais no sul da região de Davao.

O responsável afirmou que as descobertas são suficientes para declarar um surto da doença num país que estava livre do vírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressaram a sua preocupação e prontificaram-se a ajudar o Governo a imunizar as crianças, que são as mais susceptíveis a contrair a doença incapacitante.

O representante filipino da UNICEF afirmou que, “enquanto houver uma criança infectada, outras crianças, no país e até mesmo fora, correm o risco de contrair pólio”.

Sem cura

Segundo a página electrónica da OMS, a poliomielite é uma doença viral altamente infecciosa com maior incidência nas crianças, sendo o vírus transmitido através de fezes ou de água ou alimentos contaminados.

A infecção estende-se por todo o corpo, mas o cérebro e a medula são os mais afectados, podendo causar paralisia irreversível. Não existe cura para a poliomielite, que só pode ser prevenida pela vacinação.

Desde 1988, o número de casos diminuiu em mais de 99 por cento, mas a doença permanece endémica no Afeganistão, Nigéria e Paquistão e os surtos surgem, tipicamente, durante os meses de Verão e Outono.

Em países industrializados é uma doença extremamente rara nos dias de hoje.
Numa declaração conjunta, a OMS e a UNICEF alegaram que o surto é preocupante porque é causado por um poliovírus tipo II derivado de uma vacina.

O vírus enfraquecido usado em vacinas replica-se por um curto período de tempo nos intestinos das crianças e é excretado nas suas fezes. Em casos raros, o vírus enfraquecido consegue fortalecer-se em áreas com pouca sanitização e higiene.

O último surto nas Filipinas foi em 1993. O poliovírus tipo II foi declarado globalmente erradicado em 2015.

Filipinas | Novo surto de pólio após 19 anos sem o vírus

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de saúde filipinas declararam ontem um surto de poliomielite após a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado o país livre do vírus há quase 20 anos.
O secretário de saúde Francisco Duque III anunciou numa conferência de imprensa que as autoridades confirmaram, pelo menos, um caso de pólio numa menina de três anos no sul da província de Lanao del Sur e detectaram a presença do vírus num esgoto na Manila e em canais no sul da região de Davao.
O responsável afirmou que as descobertas são suficientes para declarar um surto da doença num país que estava livre do vírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressaram a sua preocupação e prontificaram-se a ajudar o Governo a imunizar as crianças, que são as mais susceptíveis a contrair a doença incapacitante.
O representante filipino da UNICEF afirmou que, “enquanto houver uma criança infectada, outras crianças, no país e até mesmo fora, correm o risco de contrair pólio”.

Sem cura

Segundo a página electrónica da OMS, a poliomielite é uma doença viral altamente infecciosa com maior incidência nas crianças, sendo o vírus transmitido através de fezes ou de água ou alimentos contaminados.
A infecção estende-se por todo o corpo, mas o cérebro e a medula são os mais afectados, podendo causar paralisia irreversível. Não existe cura para a poliomielite, que só pode ser prevenida pela vacinação.
Desde 1988, o número de casos diminuiu em mais de 99 por cento, mas a doença permanece endémica no Afeganistão, Nigéria e Paquistão e os surtos surgem, tipicamente, durante os meses de Verão e Outono.
Em países industrializados é uma doença extremamente rara nos dias de hoje.
Numa declaração conjunta, a OMS e a UNICEF alegaram que o surto é preocupante porque é causado por um poliovírus tipo II derivado de uma vacina.
O vírus enfraquecido usado em vacinas replica-se por um curto período de tempo nos intestinos das crianças e é excretado nas suas fezes. Em casos raros, o vírus enfraquecido consegue fortalecer-se em áreas com pouca sanitização e higiene.
O último surto nas Filipinas foi em 1993. O poliovírus tipo II foi declarado globalmente erradicado em 2015.

Custo mínimo, lucro máximo

[dropcap]A[/dropcap] imprensa da especialidade divulgou recentemente quanto ganharam em 2018 os presidentes – ou CEO, como se diz agora, eventualmente com mais rigor técnico mas certamente com menor zelo linguístico, pelo menos no que diz respeito à língua portuguesa – das grandes empresas mundiais do sector turístico. E que magníficos rendimentos auferiram estes soberbos gestores, alguns mesmo capazes de ultrapassar largamente os valores conseguidos em empresas de alto gabarito internacional, como a EDP, que ainda antes de tornar chinesa já se permitia pagar mais de 3 milhões de euros anuais ao seu máximo administrador.

O primeiro lugar é também expressão sintomática de uma tendência inequívoca das economias globais contemporâneas: a da vitória da distribuição sobre a produção, do conhecimento da dinâmica dos mercados sobre a dinâmica dos processos produtivos, da prioridade aos hábitos de consumo e canais comerciais em relação ao conhecimento das matérias primas e do seu processamento. Mais do que produzir conteúdos relevantes e de qualidade, interessa a eficácia com que possam transitar entre quem produz a quem consome. Não pode surpreender, por isso, que o mais bem pago gestor do sector turístico tenha sido o presidente de uma empresa cujos serviços assentam em plataformas digitais globais de reservas e distribuição de viagens e alojamento. Arrecadou mais de 5 milhões e meio de euros durante o ano passado.

As outras duas actividades a dominar esta tabela de fabulosos gestores são, naturalmente, os transportes (sobretudo aéreos) e o alojamento (hoteleiro) – ou mesmo empresas que diversificam e praticam as duas actividades, como é o exemplo da empresa alemã cujo gestor ocupa o segundo lugar da tabela, ultrapassando também os 5 milhões de euros de rendimento anual. Igualmente ilustrativo das dinâmicas contemporânea do capitalismo global, no caso dos transportes aéreos, é o aparecimento neste restrito grupo de dois dirigentes máximos de empresas de aviação de baixo custo – de resto bem conhecidas no mercado português. É sabido que os serviços tendem a ser mínimos, que a pontualidade é duvidosa e que os problemas são frequentes, ainda que na maior parte dos casos estas empresas operem com subsídios generosamente atribuídos por entidades públicas e privados dos destinos para onde dirigem os seus voos. Mais uma vez, conta a eficácia da distribuição: ligações directas e baratas entre origem e destino de grupos específicos de turistas com motivações identificadas, com serviços mínimos e lucros máximos. Cerca de 2 milhões de euros cada um, receberam em 2018 os fabulosos líderes máximos de duas destas empresas.

Particularmente curioso é o caso da hotelaria – e em particular o de uma empresa que por acaso utilizei este ano em dois continentes – cujo fantástico presidente auferiu mais de 4 milhões e meio de euros. A simpatia extrema com que fui tratado num desses hotéis, no sudoeste asiático, acabou por fazer com que tivesse uma interação muito maior que o habitual com quem lá trabalha. Fiquei a saber, por exemplo, que há pessoas (não sei se todas) que não têm sequer direito a um dia completo de descanso semanal – e nem valerá a pena comentar muito os níveis salariais. Certamente isso não acontecerá no segundo hotel do grupo que frequentei, em França, país onde os direitos laborais ainda beneficiam de muito razoável protecção. Ainda assim, era visível a falta de pessoal para os serviços necessários e a desproporção entre as 4 estrelas que classificam o estabelecimento e a qualidade do atendimento. Só um exemplo, que haveria muitos outros: várias vezes me dirigi ao bar para tomar um café antes de sair do hotel e quase nunca tinha alguém que me atendesse, ainda que o dito bar estivesse aberto; dirigia-me então à recepção, de onde telefonavam à pessoa que me deveria atender, entretanto ocupada noutra tarefa qualquer. Uma polivalência forçada numa equipa intencionalmente insuficiente, que contribui – tal como a ausência de descanso para quem trabalha no sudoeste da Ásia – para as poupanças necessárias ao magnânimo pagamento dos magníficos serviços do mais alto gestor da companhia.

É muito disto que se faz a dinâmica turística global contemporânea: custos mínimos, exploração máxima, lucros altos e remunerações aberrantes e injustas para os administradores de topo.

Também é assim que se constroem sociedades cada vez mais desiguais, exclusivas e injustas, como as que vamos observando na fase actual do capitalismo. Não é só no turismo, certamente – em muitos outros sectores se assiste a práticas semelhantes e a uma crescente desproporção entre os salários dos trabalhadores e dos gestores de topo. Mas não deixa de ser sintomático que a uma economia menos orientada para a incorporação de conhecimento e tecnologia e mais dependente de experiências turísticas de baixo custo e baixa incorporação de valor acrescentado corresponda também uma sociedade mais desigual e injusta.

A vida das escravas 

[dropcap]O[/dropcap] texto que publicamos hoje no jornal relativo ao relatório da ONG Global Policy Review assusta pelas conclusões que apresenta, por vários motivos. Em primeiro lugar, são conclusões que não são propriamente novas, mas que convém ser lembradas por existir muita coisa a mudar a nível governamental.

Estas mulheres são vistas todos os domingos nas ruas e todos sabem que levam vidas miseráveis, mas a verdade é que as autoridades continuam a fechar os olhos, fazendo de Macau e de Hong Kong dos lugares mais difíceis para os trabalhadores migrantes. Hong Kong vive uma espécie de revolução nas ruas por motivos políticos, mas há muito que estas mulheres estão nas ruas e ninguém dá por elas.

Foi necessário uma empregada doméstica da Indonésia ser brutalmente espancada para a sociedade civil começar a olhar de outra forma para esta questão, mas há ainda muito por fazer. Há muito a mudar para que Hong Kong seja um lugar melhor. Mudar o sistema político pode ser fundamental, mas há que olhar para os enormes problemas sociais existentes. Dessa forma, todos viverão melhor.

Bolinha | Expulsões acabam com jogo mais cedo

[dropcap]O[/dropcap] encontro entre Lun Lok e Ka Ia, a contar para o campeonato de futebol sete, terminou 17 minutos mais cedo, depois do árbitro ter expulsado três atletas do Lun Lok, nomeadamente Chu Kai Wang, Ho Man Hou e Fabrício Lima.

Estas expulsões fizeram com que de acordo com os regulamentos a equipa ficasse sem o número mínimo de atletas em campo para disputar o encontro. Do lado do Ka I também houve uma expulsão. Porém, o encontro não terminou sem polémica, com os ânimos a exaltarem-se e no final os agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública tiveram mesmo de intervir para proteger o árbitro da confusão.

Bolinha | Expulsões acabam com jogo mais cedo

[dropcap]O[/dropcap] encontro entre Lun Lok e Ka Ia, a contar para o campeonato de futebol sete, terminou 17 minutos mais cedo, depois do árbitro ter expulsado três atletas do Lun Lok, nomeadamente Chu Kai Wang, Ho Man Hou e Fabrício Lima.
Estas expulsões fizeram com que de acordo com os regulamentos a equipa ficasse sem o número mínimo de atletas em campo para disputar o encontro. Do lado do Ka I também houve uma expulsão. Porém, o encontro não terminou sem polémica, com os ânimos a exaltarem-se e no final os agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública tiveram mesmo de intervir para proteger o árbitro da confusão.

Resistência | Álvaro Mourato participou na “Huanglong Extreme Endurance Race”

[dropcap]E[/dropcap]nquanto continua afastado das pistas a aguardar por ventos de mudança no automobilismo local, o ex-piloto de carros de Turismo Álvaro Mourato representou Macau na “Huanglong Extreme Endurance Race”, uma prova de “trail running” que se disputou no distrito de Songzhou, na borda leste do Tibete, a mais de cinco quilómetros acima do nível do mar.

“Fui convidado pela Macau Wing Runners Group para participar neste evento. Foi uma prova organizada pelo China Ultra Tour e contou com seiscentos participantes divididos por três classes. Na minha classe participaram cem concorrentes, mas só trinta e oito conseguiram terminar”, explicou Mourato ao HM.

Esta prova de “trail running” dividiu-se em três classes: UTHL100km, XBD60km e MNG40km. Mourato participou na UTHL100km, “que teve 107 km de distância, uma altitude total de 4996 metros e uma altitude máxima acima do nível do mar perto dos cinco quilómetros”. Para terminarem classificados os concorrentes tinham que cumprir o desafio dentro do período de tempo de trinta e uma horas.

“O meu objectivo era mesmo só para terminar dentro das trinta e uma horas. Mas quando cheguei ao ‘check-point’ nº6, fui avisado que estava em oitavo da geral”, confessou o macaense que fez corridas de automóveis e motos no Grande Prémio de Macau num passado recente e que cumpriu a sua terceira participação em provas desta natureza. “Quando recebi aquela informação, troquei logo o meu objectivo, foi ‘tudo ou nada’. Tentar acabar nos dez primeiros passou a ser o objectivo e ataquei ao máximo os participantes que estavam à minha frente. No fim, consegui chegar até sexto e estou muito contente com o resultado obtido.”

Dos dois participantes de Macau na UTHL100km, Mourato foi sexto classificado, cumprindo o desígnio em 21 horas e 52 minutos, enquanto Wai Lok terminou no vigésimo terceiro lugar, em 27 horas e 3 minutos.

Resistência | Álvaro Mourato participou na "Huanglong Extreme Endurance Race"

[dropcap]E[/dropcap]nquanto continua afastado das pistas a aguardar por ventos de mudança no automobilismo local, o ex-piloto de carros de Turismo Álvaro Mourato representou Macau na “Huanglong Extreme Endurance Race”, uma prova de “trail running” que se disputou no distrito de Songzhou, na borda leste do Tibete, a mais de cinco quilómetros acima do nível do mar.
“Fui convidado pela Macau Wing Runners Group para participar neste evento. Foi uma prova organizada pelo China Ultra Tour e contou com seiscentos participantes divididos por três classes. Na minha classe participaram cem concorrentes, mas só trinta e oito conseguiram terminar”, explicou Mourato ao HM.
Esta prova de “trail running” dividiu-se em três classes: UTHL100km, XBD60km e MNG40km. Mourato participou na UTHL100km, “que teve 107 km de distância, uma altitude total de 4996 metros e uma altitude máxima acima do nível do mar perto dos cinco quilómetros”. Para terminarem classificados os concorrentes tinham que cumprir o desafio dentro do período de tempo de trinta e uma horas.
“O meu objectivo era mesmo só para terminar dentro das trinta e uma horas. Mas quando cheguei ao ‘check-point’ nº6, fui avisado que estava em oitavo da geral”, confessou o macaense que fez corridas de automóveis e motos no Grande Prémio de Macau num passado recente e que cumpriu a sua terceira participação em provas desta natureza. “Quando recebi aquela informação, troquei logo o meu objectivo, foi ‘tudo ou nada’. Tentar acabar nos dez primeiros passou a ser o objectivo e ataquei ao máximo os participantes que estavam à minha frente. No fim, consegui chegar até sexto e estou muito contente com o resultado obtido.”
Dos dois participantes de Macau na UTHL100km, Mourato foi sexto classificado, cumprindo o desígnio em 21 horas e 52 minutos, enquanto Wai Lok terminou no vigésimo terceiro lugar, em 27 horas e 3 minutos.

A Grande Dama do Chá

 

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[dropcap]P[/dropcap]ara Cândido Vilaça, Macau ainda era um labirinto de ruas desconhecidas. De esquinas e becos onde se escondiam almas que não queriam revelar o seu passado. Ele não era diferente. O seu passado atormentava-o, como se fosse um fantasma incapaz de adormecer para sempre. Olhou para o céu em busca das estrelas. Não as viu. Estava uma noite nublada e quente. Caminhava calmamente para o restaurante “Grande Oriente”, onde combinara encontrar-se para jantar com José Prazeres da Costa. Ainda um pouco longe, ouviu o estampido dum tiro, algo que não o incomodou. Ouvira muitos em Xangai, quando os assassínios se sucediam, mesmo nas avenidas mais movimentadas da concessão francesa. De qualquer maneira apressou o passo. Passados cerca de cinco minutos chegou defronte do restaurante. Junto a ele aglomeravam-se algumas pessoas e um par de agentes da Polícia de Segurança Pública. Aproximou-se. No chão estava um corpo. Não tardou a reconhecê-lo. Era o do russo Ivan Sapojnikov, que trabalhava para Toshio Nomura. Não era um bom sinal. Fora morto a tiro.

Os agentes da PSP pediam aos curiosos para se retirarem, enquanto esperavam a chegada de um médico e de um oficial superior. Cândido entrou no restaurante, onde muitos clientes pareciam não se ter apercebido do sucedido. Ou então, não desejavam saber o que se passava.

José Prazeres da Costa estava sentado numa das mesas, com um copo de vinho tinto à frente. Cândido sentou-se à sua frente e, antes de dizer algo, Prazeres da Costa questionou-o:

– Está morto, não é?
– Parece-me que sim.
– É uma desgraça. Tinha estado a falar com ele há pouco. Ia levar um recado meu para o Nomura. Porque é que aconteceu isto?
– Porque tinha de acontecer.

O olhar de Prazes da Costa ficou lívido:

– Achas? Será que também me seguem?
– Quem?
– Os chineses do Bando Verde. É deles que Nomura tem medo.

Foram interrompidos por Tomé de Freitas, o dono do restaurante. O seu ar era pesado. Olhou fixamente para Prazeres da Costa e, depois, para Cândido, antes de perguntar:

– Desejam jantar?

Ambos escolherem os inevitáveis bifes com batatas frita e ovo estrelado, uma especialidade da casa. Tomé de Freitas ia dizer algo mais, mas conteve-se. Não conhecia bem Cândido. Afastou-se, rumo ao balcão. O músico olhou para Prazeres da Costa. A sua habitual postura orgulhosa, mas tímida, dera agora lugar a outra, em que os seus mais pequenos gestos traduziam apenas inquietação. Ou desconfiança e insegurança. Cândido viu-o sondar a sala com os olhos. Tinha medo. Tentou desviar a conversa:

– E Amélia, como está?
– Tenho de tomar uma decisão. Mas agora não sei. Se eu estou em perigo, ela também o poderá estar. Meu caro Cândido, esta morte é um sinal. Não vai haver tréguas. Nomura vai retaliar. Este era um dos seus tenentes. Não sei se sabes mas têm morrido homens do Bando Verde e outros que alinham connosco. Assassinados. Outros desaparecem. Tem sido uma guerrra subterrânea, mas onde só têm sido sacrificados peões. Como no xadrez, compreendes. Agora, a guerra é outra.
– Achas que poderá chegar a ti?

Prazeres da Costa fulminou-o:

– E a ti, se desconfiarem do que fazes. Se perceberem que usas o que te diz a chinesa para nos informares, também serás um alvo. Não era nada disso que o Nomura me prometera. Mas se o russo foi morto… Até o Tomé, que é um grande amigo nosso, e tem ouvidos muito atentos, está receoso.

Cândido franziu os lábios. Bebeu um pouco de vinho, no momento em que colocaram a comida defronte deles. Depois disse:

– A política sempre foi uma actividade perigosa. Aprendi isso em Xangai. E outra coisa. A justiça as vezes não é cega, como o de uma deusa, mas tem pés de chumbo. A polícia portuguesa não vai descobrir quem o matou.

Prazeres da Costa estremeceu um pouco e olhou com insistência para o tecto, julgando, talvez, que dali viesse alguma resposta para as suas dúvidas. Depois comeu um pouco do bife. Parecia ter deixado de ter apetite. A voz trémula dizia tudo:

– Porque é que achas que o russo foi morto?
– Porque sabia demais.
– Não. Foi para começar uma guerra.

Olharam um para o outro, à espreita do perigo. Mas nenhum dos dois o via naquele momento. Cândido, mais descontraído, disse:

– O primeiro passo para resolver um problema é vê-lo de forma clara. Nomura fará isso.
– Achas? Ele, às vezes, perde a calma. E guia-se pelas emoções.

Cândido reparou, pela primeira vez, que Prazeres da Costa tinha os dedos amarelos, por causa da nicotina. Fumava demasiado nos últimos tempos. Por causa dos japoneses. E, sobretudo, por causa de Amélia. Voltou à conversa:

– Isso é mau. Talvez seja o que os chineses do Bando Verde estão à espera. Que ele dê um passo em falso. Já agora, diz-me, ele ficou contente com a minha informação?
– Muito.

Cândido olhou à volta. A noite apresentava-se promissora. Tinham chegado novas raparigas ao restaurante. As que, quando a iluminação deixava de ser tão clara, cirandavam pelas mesas, em busca de companhia. Algumas eram russas, outras da Mongólia. Naquela noite apresentava-se ali uma fadista que tinha vindo de Lisboa. E, de caminho para Goa, aproveitara para conhecer Macau. Apeteceu-lhe ir buscar o saxofone e juntar o seu som ao da guitarra portuguesa e da voz dela. Era uma rapariga de pouco mais de 30 anos. Muito morena e de olhos negros. Usava um xaile, algo que era um acessório quente para as noites de Macau. Mas era uma imagem que definia uma fadista como ela. Ana de Freitas, assim se chamava aquela jovem que tinha a voz quente e poderosa que, à meia-luz, fez silenciar todos os que estavam no restaurante. E cantava:

Venho
Desse tempo já esquecido
Quando as mãos se tocavam nos becos
Trocavam beijos ao luar
Tudo isso é tempo ido
Que saudades de amar

Venho
De esquinas sem idade
Onde mulheres de má fama
Liam sinas cheias de verdade
Onde viam perigos
Numa vida de enganos

Tenho
Uma faca e um canivete
Para sobreviver
Aos meus pecados
Na pele, gravados
No coração, desenhados

Quando ela terminou, quase meia hora depois, entre aplausos, Prazeres da Costa fitou Cândido e disse:

– E a tua amiga Marina Kaplan? Não posso deixar de lhe agradecer o que fez por mim.
– Ela é uma senhora. Poderia, se quisesse, recrutar qualquer pessoa para as suas causas. Até os padres. Ou mais.
– Seria uma boa recruta para Nomura.
– Não a tentes com isso. Perderás uma amiga.
– Achas?
– Tenho a certeza. Marina não alinha com ninguém. Só com os seus interesses. E estes são insondáveis. Já agora, que sabes de Ezequiel de Campos?
– Ele é a pessoa por detrás das cortinas. Tem mais poder do que muitos que julgamos serem os mais poderosos de Macau.

Cândido bebeu mais um gole de vinho. Apetecia-lhe sair dali. Já deveriam ter retirado o corpo do russo do passeio onde tinha sido assassinado.

– Ficas, José? Eu vou indo.
– Vou ficar. Apetece-me ficar embriagado. E conhecer as novas raparigas.
– E depois vai jogar?
– Hoje já jogaram o suficiente comigo. Poderia ter sido eu a morrer.
– É verdade.

Cândido saiu. Não se via ninguém na rua. Sabia-lhe bem o cheiro da noite. Mas sentia que lhe faltava algo. Seguiu rumo ao “Bambu Vermelho”. O aroma do ópio chamava-o, para que se pudesse acalmar. E dormir em paz.

Quando lá fora

[dropcap]O[/dropcap]s meus amigos são lestos a gabar-me a sorte que tenho em viajar por obrigações profissionais. Tento evitar mostrar-lhes que a coisa não é nem pouco mais ou menos tão divertida como parece. Ou glamorosa. São normalmente noites mal dormidas em hotéis a que se seguem pequenos encontros em livrarias, monólogos com estudantes ou passagens fugazes por feiras de livros. “Ah, mas o pequeno-almoço deve ser óptimo.” Nunca perceberei a fixação da maior parte das pessoas pelos pequenos-almoços de hotel.

Normalmente, é fazer quase as mesmas coisas longe de casa e dos amigos. Sim, a paisagem muda. Infelizmente, não disponho de órgãos sensíveis à beleza da paisagem, seja esta urbana ou rural. As grandes catedrais góticas da europa central não me comovem, o Sena não me emociona; a única coisa que de facto me estimula é a possibilidade – ao contrário dos pequenos-almoços continentais de hotel, todos eles muito semelhantes – de comer coisas diferentes. Até nos países onde a gastronomia não faz inveja a ninguém se descobre um restaurante chinês ou paquistanês digno de deixar memórias.

De vez em quando acontece de facto algo de novo. A última vez que me aconteceu foi na Holanda, numa daquelas cidades de nome dificilmente pronunciáveis. Estava hospedado num hostel simpático e regressava da apresentação de uma antologia de diversos autores europeus em diversas línguas onde eu estava incluído com um conto. Uma coisa moderadamente divertida e muito bem organizada cujo alcance, infelizmente, não ultrapassaria os limites da pequena sala onde teve lugar. A literatura contemporânea e a sua inexorável produção tornaram um céu pintalgado de luz num insuportável e incessante festival de pirotecnia onde se sucedem, incapazes de gerar atenção, todo o tipo de livros. A distracção gera indiferença. No melhor dos cenários, somos apenas tangentes.

Chegado ao quarto depois de meia dúzia de cervejas, tentei dormir. Não durmo bem nos hotéis. Ao contrário das muitas pessoas que deliram com lençóis lavados de frescos, duros e a cheira a goma, gosto da minha cama e da minha roupa de cama, de preferência um dia depois de a ter mudado.

Acordei cerca das nove horas da manhã a pensar no check out. Quando rodei sobre mim próprio, ainda na cama, dei de caras com um latagão desconhecido com pelo menos dois metros de altura. Tinha a recordação nítida de aquele corpo não estar ali quando finalmente me deixei dormir. Ergui ligeiramente o edredão. Ele estava inteiramente vestido e calçado. Não o quis acordar – ia dizer-lhe o quê? “Olá, muito gosto em conhecer-te.” E em que língua?

Levantei-me, vesti-me de fininho e sai do quarto. Na recepção, quando me perguntaram se a estadia fora do meu agrado e se tinha alguma sugestão a fazer, lembrei-me de lhes aconselhar uma sinalização mais eficaz dos quartos ou mesmo fecharem o bar do hostel mais cedo, mas apenas sorri e agradeci.

Já no avião, assaltou-me uma dúvida: e se o tipo estava morto quando acordei? Tomar-lhe o pulso para o medir não foi de facto o meu primeiro impulso. E se tenho a polícia à minha espera no aeroporto da Portela? “Senhor Romão, o nome Dirk Oomen diz-lhe alguma coisa?” Nesse dia e já em casa, não me foi fácil dormir. Devia ter-me apresentado ao senhor.

Como vai estar o dia

[dropcap]U[/dropcap]m breve olhar através da janela dá para ver como vai estar o dia. É um olhar de relance. Não é um olhar reflectido. E, contudo, não é como se nada fosse. Um lapso de tempo, num ápice, dá para ver como vai estar o dia todo. Não há nenhuma pronúncia de juízo.

Não se diz: “Hoje, o dia inteiro vai estar assim”. Há de algum modo uma formulação mental do que está a ver-se naquele momento exacto com consequências para o futuro mais ou menos duradouro para as horas do dia por que se distribuem as nossas incumbências, horário de expediente, ocupações, preocupações, ou lazer. Num breve instante, num olhar que se dá num segundo, vê-se para além do que se constitui nessa sincronização entre o tempo durante o qual se forma a nossa percepção e o que se passa na realidade durante um tempo que excede, é mais duradouro, o tempo da percepção. O momento da percepção, em que eu inspecciono, com um só olhar como se eu não quisesse a coisa, a meteorologia do dia, é ínfimo relativamente ao que se vai passar nas horas seguintes, no tempo do dia em que estarei acordado, pode até projectar-se em antecipação que o dia terá a mesma meteorologia até ao dia seguinte e que até amanhã vai estar bom ou vai estar mau tempo. Como é possível a avaliação ou juízo segundo o qual vai ser assim e não vai mudar ou está a assim e vai abrir ou fechar mais tarde? Há um acesso que extravasa para fora do momento da sincronização entre ver e o que é visto, entre o olhar e o que fica fixado na realidade por esse olhar. A variação ou não das condições climatéricas é o próprio conteúdo da interpretação hermenêutica, que tem uma qualidade que é diferente e excede o que efectivamente é visto. Podemos perceber as qualidades climatéricas de um sítio como sendo sempre as mesmas ao longo de um mês. Podemos perceber a variação dessas mesmas qualidades ao longo de um dia. Podemos perceber invernos frios e chuvosos como verões secos e muito quentes. Podemos perceber a instabilidade do tempo, temperatura, aberturas, climas, etc., etc., etc.. Como é possível. O nosso acesso à realidade é mais longo do que o tempo que achamos necessário para que se constitua. Achamos que os processos e eventos que se dão na realidade determinam a duração do acesso, a sua adequação e inadequação. Podemos perceber que uma sucessão de eventos é tão rápida a dar-se que não conseguimos acompanhar inteiramente o que sucede, o que está efectivamente a acontecer. Um lance de futebol pode ser tão rápido que não se tem tempo para perceber o que realmente aconteceu. O juízo pode basear-se na impressão que dá, com que ficamos da realidade: se está ou não fora de jogo um jogador, se a bola entra ou não na baliza, bate dentro ou fora do corte de ténis, etc., etc.. A realidade requer a filmagem, para que, a partir das imagens, se possa perceber ao repetir vezes sem conta a partir de diversos ângulos o que sucedeu. Podemos ver em câmara lenta, podemos, pela repetição, promover uma base fenomenológica mais consistente, muito mais consistente do que a que se produz quando vemos, ao vivo, o que sucede. O tempo da percepção é o tempo do conteúdo percepcionado. Mas o tempo da percepção pode ser muito curto para um acontecimento muito rápido. Já dei por mim num Estádio de futebol à espera do que que a câmara televisiva nos oferece sempre: repetições. Mas a realidade só se dá uma só vez no tempo que requer para acontecer. O tempo da assistência pode ser muito lento para acompanharmos o que está a suceder e não acompanhamos o que está a suceder. Já nem se fala dos acontecimentos que não acompanhamos que são a maior parte dos acontecimentos do mundo, nas vidas das outras pessoas, nos seus mundos. Mas pode também acontecer que a nossa percepção seja tão rápida que não acompanhamos o tempo em que as coisas aconteçam. Não vemos a relva crescer a fazer barulho a aumentar de tamanho. Não temos a percepção do envelhecimento dos nossos rostos, de cada vez que nos vemos no espelho. É preciso que passe tempo entre a infância, a adolescência, o começo da idade adulta, o nosso rosto velho. É por discontinuidade que percebemos o envelhecimento, não o vemos sempre a cada instante. Só nos apercebemos disso pelo contraste criado pela discontinuidade, quando vemos alguém que não víamos há décadas, quando nos vemos no espelho sem percebermos para onde foi o nosso rosto de crianças ou jovens adolescentes.

O nosso acesso não depende do tempo da realidade, constitui o próprio tempo da realidade. Durante o tempo em que estivermos vivos distende-se o nosso acesso, sempre finito, limitado, confinado. Desse plano de fundo do tempo da vida vemos o plano de fundo do mundo à nossa frente, vemo-nos inseridos no horizonte formado pela abóbada celeste, pelo tempo de vida dos anos que passaram. No interior da duração do tempo que tem passado, compreendemos as durações das coisas, pessoas, estados de coisas, processos, situações, conjunturas de tudo o que existe e de tudo o que é sonhado, imaginado.

Num breve olhar inspecionamos através da janela como vai estar o dia: escuro, cinzento, chuvoso, farrusco. Num só instante vemos esses conteúdos, a temperatura, a humidade, a luminosidade. Tudo é visto intrincado, entrelaçado, a ensopar o dia. Dizer que o dia vai ser assim ou de outro modo requer uma avaliação que excede o tempo da duração da percepção em que vemos o que vemos, mas implica também uma qualidade de significado muito mais complexa do que a que dá apenas para conteúdos reais objectivos aí.

Hong Kong | Pequim critica Nancy Pelosi por apoiar protestos

A líder do Congresso norte-americano felicitou os activistas Joshua Wong e Denise Ho, numa conferência de imprensa conjunta, por “desafiarem a consciência” do Governo chinês e do mundo. Pequim fala de comentários “irresponsáveis”

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês criticou ontem a líder do Congresso dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, por comentários “irresponsáveis” sobre os protestos pró-democracia em Hong Kong depois de ter recebido activistas em Washington.

Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, considerou que Pelosi e outros congressistas norte-americanos “confundem o certo e o errado” ao envolverem-se com “separatistas” de Hong Kong.

“Pedimos aos EUA que parem de encorajar forças violentas radicais em Hong Kong que advogam a independência de Hong Kong, e que parem de intensificar as palavras e acções que minam a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong”, disse.

Pelosi, do Partido Democrata, juntou-se a parlamentares republicanos numa conferência de imprensa conjunta com activistas pró-democracia, incluindo Joshua Wong e Denise Ho.

A presidente do Congresso norte-americano apoiou os apelos dos activistas por eleições por sufrágio universal em Hong Kong e agradeceu-lhes por “desafiarem a consciência” do Governo chinês e do mundo.

Pelosi acompanha questões sobre a China desde os seus primeiros anos no Congresso, quando compareceu com outros congressistas na Praça Tiananmen, em Pequim, para homenagear os manifestantes mortos pelo exército, em 1989.

Estado soberano

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, retirada, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica, enquanto apelam à demissão de Carrie Lam, a chefe do governo local, pró-Pequim, e à eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.

O Congresso dos EUA deverá avançar com legislação que exige uma revisão anual do estatuto económico e comercial especial de Hong Kong, passando a verificar a influência do Governo central chinês no território e o respeito pelo princípio “um país, dois sistemas”.

Geng disse que Hong Kong é uma questão interna chinesa e que a China não aceita interferência nos seus assuntos internos.

“Pedimos aos EUA que respeitem a soberania da China, parem de interferir nos assuntos de Hong Kong e deixem de promover a revisão de propostas relevantes relacionadas com Hong Kong”, afirmou.

Hong Kong | Pequim critica Nancy Pelosi por apoiar protestos

A líder do Congresso norte-americano felicitou os activistas Joshua Wong e Denise Ho, numa conferência de imprensa conjunta, por “desafiarem a consciência” do Governo chinês e do mundo. Pequim fala de comentários “irresponsáveis”

 
[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês criticou ontem a líder do Congresso dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, por comentários “irresponsáveis” sobre os protestos pró-democracia em Hong Kong depois de ter recebido activistas em Washington.
Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, considerou que Pelosi e outros congressistas norte-americanos “confundem o certo e o errado” ao envolverem-se com “separatistas” de Hong Kong.
“Pedimos aos EUA que parem de encorajar forças violentas radicais em Hong Kong que advogam a independência de Hong Kong, e que parem de intensificar as palavras e acções que minam a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong”, disse.
Pelosi, do Partido Democrata, juntou-se a parlamentares republicanos numa conferência de imprensa conjunta com activistas pró-democracia, incluindo Joshua Wong e Denise Ho.
A presidente do Congresso norte-americano apoiou os apelos dos activistas por eleições por sufrágio universal em Hong Kong e agradeceu-lhes por “desafiarem a consciência” do Governo chinês e do mundo.
Pelosi acompanha questões sobre a China desde os seus primeiros anos no Congresso, quando compareceu com outros congressistas na Praça Tiananmen, em Pequim, para homenagear os manifestantes mortos pelo exército, em 1989.

Estado soberano

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
A proposta foi, entretanto, retirada, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica, enquanto apelam à demissão de Carrie Lam, a chefe do governo local, pró-Pequim, e à eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.
O Congresso dos EUA deverá avançar com legislação que exige uma revisão anual do estatuto económico e comercial especial de Hong Kong, passando a verificar a influência do Governo central chinês no território e o respeito pelo princípio “um país, dois sistemas”.
Geng disse que Hong Kong é uma questão interna chinesa e que a China não aceita interferência nos seus assuntos internos.
“Pedimos aos EUA que respeitem a soberania da China, parem de interferir nos assuntos de Hong Kong e deixem de promover a revisão de propostas relevantes relacionadas com Hong Kong”, afirmou.

HK | Ideia de que todos os chineses condenam protestos é falsa, diz investigadora

Uma investigadora do Centro de Estudos Chineses Fairbank da universidade norte-americana de Harvard dedicou-se a analisar os comentários nas redes sociais e chegou à conclusão de que as opiniões sobre os acontecimentos em Hong Kong estão longe de ser unânimes, antes pelo contrário, vão da “admiração ao desdém, confusão ou até indiferença”

 

[dropcap]U[/dropcap]ma académica que analisou reacções nas redes sociais chinesas sobre os protestos em Hong Kong detectou tentativas de racionalizar o debate e até manifestações de apoio, apesar da censura exercida por Pequim.

“Muitos chineses do continente tentam constantemente desafiar a censura e muitos, que hesitam em expressar-se, optam por fazer ‘gosto’ ou ‘aprovar’ mensagens que expressam ideias divergentes”, disse à agência Lusa Zhao Qianqi, investigadora no Centro de Estudos Chineses Fairbank, da universidade norte-americana de Harvard.

Após semanas a analisar comentários na rede social Weibo, o Twitter chinês, Zhao afirmou que, ao invés de encontrar uma “antipatia uniforme” em relação aos manifestantes, deparou-se com um conjunto de opiniões que vão da “admiração ao desdém, confusão ou até indiferença”.
Zhao Qianqi defendeu existirem também opiniões pluralistas e um debate racional a decorrer no continente chinês, que vai além da percepção criada pelo ruído nas redes sociais, e que pode constituir um problema para Pequim.

“Há quem tenha tentado disseminar artigos informativos e de qualidade” ou livros sobre a História e política de Hong Kong nas redes sociais chinesas, mas que foram, entretanto, censurados, apontou.

Um ensaio do professor da Universidade Chinesa de Hong Kong Chow Po-chung sobre a campanha de desinformação lançada pela imprensa estatal, tem sido repetidamente reproduzido por utilizadores do Weibo, apesar de acabar sempre por ser apagado, exemplificou. Zhao indicou que o título do ensaio é: “Aos amigos do continente: também estamos a lutar pela vossa liberdade”.

“É importante olhar para os pormenores”, afirmou a académica, defendendo que a impressão de que os chineses do continente aderiram em massa à retórica “hipernacionalista” e pró-governamental é resultado de uma combinação entre “censura e opressão política”.

“Qualquer pessoa que tenha uma visão diferente daquela que é expressa na imprensa estatal não ousa falar”, disse, num contacto telefónico a partir de Pequim.

E se a censura permite que a narrativa oficial seja dominante, o uso de internautas pagos para fazer comentários pró-Governo, conhecidos como ‘wumao’ (’50 cêntimos’, em chinês), torna-a ainda mais potente, observou Zhao.

Cartilha central

Actores e artistas do continente, muitos dos quais obtiveram já residência nos Estados Unidos ou Canadá – uma tendência crescente entre as classes mais abastadas da China – têm repetido também a retórica nacionalista do Governo.

“Mas essa é apenas a linha que lhes é imposta”, indicou a académica. Inicialmente, as autoridades chinesas optaram por censurar qualquer informação sobre os protestos, que decorrem há quase quatro meses, mas acabaram por lançar uma intensa campanha mediática, que retrata os manifestantes como mercenários ao serviço de forças externas.

A cobertura diária na imprensa chinesa mostra imagens de manifestantes a atirar tijolos, a provocar a polícia e a cercar esquadras.

Os manifestantes são descritos como “radicais” e “bandidos”, os polícias como “heróis”, sendo omitidas imagens de alegados abusos pelas autoridades de Hong Kong.

O Governo central tem também sublinhado a unidade nacional contra esta alegada ameaça: “Os 1.400 milhões de chineses estão unidos como uma barreira”, defendeu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

As redes sociais chinesas foram, entretanto, inundadas de insultos aos manifestantes em Hong Kong e mensagens de apoio a uma intervenção militar na antiga colónia britânica.

Nos campus universitários na Austrália, Canada ou Nova Zelândia, estudantes chineses organizaram manifestações nacionalistas que, em alguns casos, terminaram em confrontos violentos com manifestantes pró-Hong Kong.

No país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, vários órgãos de comunicação ou portais estrangeiros, incluindo as redes sociais Facebook, Twitter ou Instagram, estão banidos da rede doméstica chinesa.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Inicialmente suspensa pela chefe do Executivo da região administrativa especial chinesa, Carrie Lam, a proposta foi já retirada, em resposta a uma exigência dos manifestantes.

Os protestos têm vindo a denunciar aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” em Hong Kong, exigindo a demissão de Lam, e a eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.

O Twitter e Facebook anunciaram já a suspensão de milhares de contas originárias do continente chinês, que “deliberada e especificamente tentavam semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas dos manifestantes”.

As empresas afirmaram que suspenderam as contas com base em “evidências confiáveis” de que se tratava de uma “operação coordenada pelo Estado”.

HK | Ideia de que todos os chineses condenam protestos é falsa, diz investigadora

Uma investigadora do Centro de Estudos Chineses Fairbank da universidade norte-americana de Harvard dedicou-se a analisar os comentários nas redes sociais e chegou à conclusão de que as opiniões sobre os acontecimentos em Hong Kong estão longe de ser unânimes, antes pelo contrário, vão da “admiração ao desdém, confusão ou até indiferença”

 
[dropcap]U[/dropcap]ma académica que analisou reacções nas redes sociais chinesas sobre os protestos em Hong Kong detectou tentativas de racionalizar o debate e até manifestações de apoio, apesar da censura exercida por Pequim.
“Muitos chineses do continente tentam constantemente desafiar a censura e muitos, que hesitam em expressar-se, optam por fazer ‘gosto’ ou ‘aprovar’ mensagens que expressam ideias divergentes”, disse à agência Lusa Zhao Qianqi, investigadora no Centro de Estudos Chineses Fairbank, da universidade norte-americana de Harvard.
Após semanas a analisar comentários na rede social Weibo, o Twitter chinês, Zhao afirmou que, ao invés de encontrar uma “antipatia uniforme” em relação aos manifestantes, deparou-se com um conjunto de opiniões que vão da “admiração ao desdém, confusão ou até indiferença”.
Zhao Qianqi defendeu existirem também opiniões pluralistas e um debate racional a decorrer no continente chinês, que vai além da percepção criada pelo ruído nas redes sociais, e que pode constituir um problema para Pequim.
“Há quem tenha tentado disseminar artigos informativos e de qualidade” ou livros sobre a História e política de Hong Kong nas redes sociais chinesas, mas que foram, entretanto, censurados, apontou.
Um ensaio do professor da Universidade Chinesa de Hong Kong Chow Po-chung sobre a campanha de desinformação lançada pela imprensa estatal, tem sido repetidamente reproduzido por utilizadores do Weibo, apesar de acabar sempre por ser apagado, exemplificou. Zhao indicou que o título do ensaio é: “Aos amigos do continente: também estamos a lutar pela vossa liberdade”.
“É importante olhar para os pormenores”, afirmou a académica, defendendo que a impressão de que os chineses do continente aderiram em massa à retórica “hipernacionalista” e pró-governamental é resultado de uma combinação entre “censura e opressão política”.
“Qualquer pessoa que tenha uma visão diferente daquela que é expressa na imprensa estatal não ousa falar”, disse, num contacto telefónico a partir de Pequim.
E se a censura permite que a narrativa oficial seja dominante, o uso de internautas pagos para fazer comentários pró-Governo, conhecidos como ‘wumao’ (’50 cêntimos’, em chinês), torna-a ainda mais potente, observou Zhao.

Cartilha central

Actores e artistas do continente, muitos dos quais obtiveram já residência nos Estados Unidos ou Canadá – uma tendência crescente entre as classes mais abastadas da China – têm repetido também a retórica nacionalista do Governo.
“Mas essa é apenas a linha que lhes é imposta”, indicou a académica. Inicialmente, as autoridades chinesas optaram por censurar qualquer informação sobre os protestos, que decorrem há quase quatro meses, mas acabaram por lançar uma intensa campanha mediática, que retrata os manifestantes como mercenários ao serviço de forças externas.
A cobertura diária na imprensa chinesa mostra imagens de manifestantes a atirar tijolos, a provocar a polícia e a cercar esquadras.
Os manifestantes são descritos como “radicais” e “bandidos”, os polícias como “heróis”, sendo omitidas imagens de alegados abusos pelas autoridades de Hong Kong.
O Governo central tem também sublinhado a unidade nacional contra esta alegada ameaça: “Os 1.400 milhões de chineses estão unidos como uma barreira”, defendeu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
As redes sociais chinesas foram, entretanto, inundadas de insultos aos manifestantes em Hong Kong e mensagens de apoio a uma intervenção militar na antiga colónia britânica.
Nos campus universitários na Austrália, Canada ou Nova Zelândia, estudantes chineses organizaram manifestações nacionalistas que, em alguns casos, terminaram em confrontos violentos com manifestantes pró-Hong Kong.
No país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, vários órgãos de comunicação ou portais estrangeiros, incluindo as redes sociais Facebook, Twitter ou Instagram, estão banidos da rede doméstica chinesa.
Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Inicialmente suspensa pela chefe do Executivo da região administrativa especial chinesa, Carrie Lam, a proposta foi já retirada, em resposta a uma exigência dos manifestantes.
Os protestos têm vindo a denunciar aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” em Hong Kong, exigindo a demissão de Lam, e a eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.
O Twitter e Facebook anunciaram já a suspensão de milhares de contas originárias do continente chinês, que “deliberada e especificamente tentavam semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas dos manifestantes”.
As empresas afirmaram que suspenderam as contas com base em “evidências confiáveis” de que se tratava de uma “operação coordenada pelo Estado”.

Novo filme de Pedro Almodóvar na Cinemateca Paixão dia 26

[dropcap]D[/dropcap]or e Glória”, a mais recente película do realizador espanhol Pedro Almodóvar, estreia em Macau na Cinemateca Paixão no dia 26 deste mês, contando com vários dias de exibição. Além do novo filme, protagonizado pelo actor espanhol António Banderas, a Cinemateca vai também apresentar outros filmes do realizador.

O novo filme de Almodóvar contém vários elementos auto-biográficos e revela uma série de reencontros experimentados por Salvador Mallo, um realizador em declínio físico. Alguns ao nível da carne, outros apenas memórias: a sua infância na década de 1960, quando emigrou com a família para uma aldeia em Valência em busca de uma vida melhor; o primeiro desejo, o primeiro amor adulto na Madrid da década de 1980; a dor da separação quando esse intenso amor ainda estava vivo; a escrita como única terapia para esquecer o inesquecível; a primeira descoberta do cinema e o vazio, o vazio infinito que gera a incapacidade de continuar a fazer filmes.

Com “Dor e Glória”, Pedro Almodóvar decidiu falar da criatividade e da dificuldade de a separar da vida e das paixões que lhe dão sentido e esperança. Ao recuperar o seu passado, Salvador Mallo descobre também a necessidade urgente de o recontar e, nessa necessidade, encontra também a sua salvação.

Em entrevista ao jornal português Expresso, Pedro Almodóvar disse que o título do seu novo filme “pode ser o resumo da vida de qualquer pessoa”. “Pelo menos eu gostava que fosse. Glória soa a êxito pessoal – é verdade que se cola logo a um realizador de cinema – mas, para mim, tem outro significado, tem mais que ver com a vontade de viver. E com o que queremos fazer com as nossas vidas. Já a dor, infelizmente, é comum a todos nós. Vamos oscilando entre as duas palavras na nossa existência”, acrescentou.

Sobre o facto de este filme poder retratar a sua própria vida, Pedro Almodóvar confessou que esse caminho foi-se traçando de forma natural. “Eu não fazia a menor ideia de que este filme seria sobre mim quando comecei a escrevê-lo. E duvidei muito em levá-lo para esse caminho. Nunca em qualquer outro filme meu fiquei tão exposto”, disse. As exibições na Cinemateca Paixão decorrem até ao dia 10 de Outubro.