Media | Criticada promoção da independência de Hong Kong Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] presidente da União de Estudiosos de Macau, Ieong Wan Chong, defendeu que os meios de comunicação social locais não devem dar visibilidade a acções que promovam a independência de Hong Kong. O dirigente associativo, que pertenceu à Comissão da Lei Básica da RAEM, acrescentou que os média de Macau devem assumir como missão prioritária a mensagem de que a independência é contrária à história do país. Como tal, acções que promovam a independência de Hong Kong não devem ser “publicitadas” pela comunicação social de Macau, de acordo com o Jornal do Cidadão. Ieong Wan Chong expressou esta opinião à margem de uma palestra, realizada no sábado, sobre o princípio “Um País, Dois Sistemas”, sem dar qualquer exemplo de promoção da independência na comunicação social de Macau. O dirigente destacou a capacidade do Governo da RAEM na prevenção de fenómenos desestabilizadores da harmonia social, e referiu acreditar que a sociedade civil não permitiria facilmente que ideais de independência se disseminem no território. Além disso, defendeu que é importante bloquear acções que visem a independência de forma a proteger o princípio “Um País, Dois Sistemas”, um “importante componente do socialismo com características chinesas”, frisou.
Media | Criticada promoção da independência de Hong Kong Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] presidente da União de Estudiosos de Macau, Ieong Wan Chong, defendeu que os meios de comunicação social locais não devem dar visibilidade a acções que promovam a independência de Hong Kong. O dirigente associativo, que pertenceu à Comissão da Lei Básica da RAEM, acrescentou que os média de Macau devem assumir como missão prioritária a mensagem de que a independência é contrária à história do país. Como tal, acções que promovam a independência de Hong Kong não devem ser “publicitadas” pela comunicação social de Macau, de acordo com o Jornal do Cidadão. Ieong Wan Chong expressou esta opinião à margem de uma palestra, realizada no sábado, sobre o princípio “Um País, Dois Sistemas”, sem dar qualquer exemplo de promoção da independência na comunicação social de Macau. O dirigente destacou a capacidade do Governo da RAEM na prevenção de fenómenos desestabilizadores da harmonia social, e referiu acreditar que a sociedade civil não permitiria facilmente que ideais de independência se disseminem no território. Além disso, defendeu que é importante bloquear acções que visem a independência de forma a proteger o princípio “Um País, Dois Sistemas”, um “importante componente do socialismo com características chinesas”, frisou.
Economia | Macau não pode estar dependente do jogo, diz Roberto Carneiro Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM), Roberto Carneiro, defendeu esta sexta-feira que Macau “não pode estar dependente” do jogo e que tem de ter autonomia para se desenvolver noutras áreas, como as novas tecnologias. “Macau é a região com o maior pico de jogo no mundo, mas isto é passageiro, porque a China pode abrir jogo noutro lado, e Macau vai por aí abaixo. Macau não pode estar dependente dessa vontade chinesa, tem de ter vontade autónoma para se desenvolver nas novas tecnologias, com novas ‘start-ups'”, disse à Lusa o antigo ministro da Educação português. Nesse sentido, Roberto Carneiro vaticinou “um grande futuro” para a região administrada por Portugal durante vários séculos. Roberto Carneiro falou à margem da apresentação do livro “O Macaense”, em Lisboa, projecto que co-coordenou e que resultou de uma parceria entre a Fundação Macau e a Universidade Católica Portuguesa, através do seu Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP).
Economia | Macau não pode estar dependente do jogo, diz Roberto Carneiro Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM), Roberto Carneiro, defendeu esta sexta-feira que Macau “não pode estar dependente” do jogo e que tem de ter autonomia para se desenvolver noutras áreas, como as novas tecnologias. “Macau é a região com o maior pico de jogo no mundo, mas isto é passageiro, porque a China pode abrir jogo noutro lado, e Macau vai por aí abaixo. Macau não pode estar dependente dessa vontade chinesa, tem de ter vontade autónoma para se desenvolver nas novas tecnologias, com novas ‘start-ups'”, disse à Lusa o antigo ministro da Educação português. Nesse sentido, Roberto Carneiro vaticinou “um grande futuro” para a região administrada por Portugal durante vários séculos. Roberto Carneiro falou à margem da apresentação do livro “O Macaense”, em Lisboa, projecto que co-coordenou e que resultou de uma parceria entre a Fundação Macau e a Universidade Católica Portuguesa, através do seu Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP).
Habitação | Jorge Rangel defende solução para problema em Macau Andreia Sofia Silva - 30 Set 2019 Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, defendeu esta sexta-feira em Lisboa que o Governo da RAEM deve apresentar uma solução para a falta de habitação no território, sob pena de ocorrerem protestos semelhantes aos de Hong Kong daqui a uns anos [dropcap]O[/dropcap] Governo não pode adiar mais o problema da habitação”. A frase é de Jorge Rangel e foi proferida esta sexta-feira na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, no âmbito do colóquio “Portugal-China 20/20: Identidade, quotidiano e economia”. O presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) frisou que, se não for resolvido o problema da falta de habitação no território, Macau pode vir a registar os protestos que têm vindo a acontecer em Hong Kong. “Macau tem de ter habitação para a classe média, pois corremos o risco de, daqui a uns anos, termos milhares de pessoas a marchar nas ruas. Estamos a ser ameaçados por um problema que não está resolvido”, apontou. Jorge Rangel adiantou que, além dos pedidos de ordem política, os manifestantes de Hong Kong também defendem melhores condições de vida. “O que está a acontecer em Hong Kong, além das motivações políticas, é a situação desastrosa da habitação, que Macau não pode repetir”, frisou. O presidente do IIM disse também que as autoridades policiais do território vizinho não querem travar os protestos por não quererem enfrentar os problemas que levam milhares às ruas. “Cerca de dois milhões de pessoas desfilaram pelas ruas de Hong Kong e esse é que é o problema, e não as 300 ou 400 mil pessoas que protestam. Se eu fosse habitante de Hong Kong exigiria imediatamente ao Governo para pararem com isso aos fins-de-semana ou então que se demitissem se não fossem capazes de enfrentar a situação. Não têm sido capazes porque não querem resolver o problema. Isto não pode arrastar-se por mais tempo.” Jorge Rangel assegura que não é o único a pensar assim. “Tenho falado com várias pessoas de Hong Kong, de vários sectores políticos, e todos eles questionam porque é que não se resolve este problema. Falei com um líder estudantil que me disse não conhecer nenhuma das 300 ou 400 mil pessoas que protestam.” “Casa arrumada” para Ho Jorge Rangel falava na mesa redonda “Portugal-China 20/20”, tendo falado do papel governativo do Chefe do Executivo eleito, Ho Iat Seng, no contexto da integração regional e das relações entre os dois países. “O novo Chefe do Executivo entra com a casa arrumada e com uma experiência feita, tendo em conta que a China tem como prioridade a plataforma. Macau é o único sítio na China que pode desempenhar esse papel”, frisou. O presidente do IIM disse ainda que o programa político de Ho Iat Seng tem o cuidado de estabelecer pontes ao nível da integração regional para o futuro de Macau. “Há uma percepção clara do que Macau pode fazer e do que falta fazer. No programa do Chefe do Executivo eleito diz que se vai articular o projecto da plataforma (entre a China e os países de língua portuguesa) e o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’. Já está escrito e ele (Ho Iat Seng) não deve ter escrito o seu programa sozinho e quer dar a Portugal condições para participar neste ponto”, apontou. No mesmo painel, o general Garcia Leandro, ex-governador de Macau, defendeu que o conceito de identidade macaense deveria ser alargado, pois é isso que diferencia o território no contexto do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. “Existe a questão da identidade, e se ficarmos reduzidos a uma concepção muito fundamentalista do macaense…trata-se de um conceito que deveria ser alargado. Macau tem uma identidade própria que não é Hong Kong. Haverá um futuro para Macau, mas teremos de ter capacidade para trabalhar com as autoridades chinesas para mostrar o quão diferente é Macau”, frisou.
Habitação | Jorge Rangel defende solução para problema em Macau Andreia Sofia Silva - 30 Set 2019 Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau, defendeu esta sexta-feira em Lisboa que o Governo da RAEM deve apresentar uma solução para a falta de habitação no território, sob pena de ocorrerem protestos semelhantes aos de Hong Kong daqui a uns anos [dropcap]O[/dropcap] Governo não pode adiar mais o problema da habitação”. A frase é de Jorge Rangel e foi proferida esta sexta-feira na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, no âmbito do colóquio “Portugal-China 20/20: Identidade, quotidiano e economia”. O presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) frisou que, se não for resolvido o problema da falta de habitação no território, Macau pode vir a registar os protestos que têm vindo a acontecer em Hong Kong. “Macau tem de ter habitação para a classe média, pois corremos o risco de, daqui a uns anos, termos milhares de pessoas a marchar nas ruas. Estamos a ser ameaçados por um problema que não está resolvido”, apontou. Jorge Rangel adiantou que, além dos pedidos de ordem política, os manifestantes de Hong Kong também defendem melhores condições de vida. “O que está a acontecer em Hong Kong, além das motivações políticas, é a situação desastrosa da habitação, que Macau não pode repetir”, frisou. O presidente do IIM disse também que as autoridades policiais do território vizinho não querem travar os protestos por não quererem enfrentar os problemas que levam milhares às ruas. “Cerca de dois milhões de pessoas desfilaram pelas ruas de Hong Kong e esse é que é o problema, e não as 300 ou 400 mil pessoas que protestam. Se eu fosse habitante de Hong Kong exigiria imediatamente ao Governo para pararem com isso aos fins-de-semana ou então que se demitissem se não fossem capazes de enfrentar a situação. Não têm sido capazes porque não querem resolver o problema. Isto não pode arrastar-se por mais tempo.” Jorge Rangel assegura que não é o único a pensar assim. “Tenho falado com várias pessoas de Hong Kong, de vários sectores políticos, e todos eles questionam porque é que não se resolve este problema. Falei com um líder estudantil que me disse não conhecer nenhuma das 300 ou 400 mil pessoas que protestam.” “Casa arrumada” para Ho Jorge Rangel falava na mesa redonda “Portugal-China 20/20”, tendo falado do papel governativo do Chefe do Executivo eleito, Ho Iat Seng, no contexto da integração regional e das relações entre os dois países. “O novo Chefe do Executivo entra com a casa arrumada e com uma experiência feita, tendo em conta que a China tem como prioridade a plataforma. Macau é o único sítio na China que pode desempenhar esse papel”, frisou. O presidente do IIM disse ainda que o programa político de Ho Iat Seng tem o cuidado de estabelecer pontes ao nível da integração regional para o futuro de Macau. “Há uma percepção clara do que Macau pode fazer e do que falta fazer. No programa do Chefe do Executivo eleito diz que se vai articular o projecto da plataforma (entre a China e os países de língua portuguesa) e o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’. Já está escrito e ele (Ho Iat Seng) não deve ter escrito o seu programa sozinho e quer dar a Portugal condições para participar neste ponto”, apontou. No mesmo painel, o general Garcia Leandro, ex-governador de Macau, defendeu que o conceito de identidade macaense deveria ser alargado, pois é isso que diferencia o território no contexto do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. “Existe a questão da identidade, e se ficarmos reduzidos a uma concepção muito fundamentalista do macaense…trata-se de um conceito que deveria ser alargado. Macau tem uma identidade própria que não é Hong Kong. Haverá um futuro para Macau, mas teremos de ter capacidade para trabalhar com as autoridades chinesas para mostrar o quão diferente é Macau”, frisou.
CCPPC | Wang Yang reforça forte apoio a Macau e Hong Kong Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]A[/dropcap] pátria-mãe será sempre um forte suporte de Hong Kong e Macau”, referiu Wang Yang, membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China e actual presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A declaração foi feita no passado sábado no Grande Salão do Povo, em Pequim, na recepção a mais de 3.800 representantes de Macau, Hong Kong, Taiwan e das comunidades chinesas no exterior para as celebrações do Dia Nacional. Wang reforçou a ideia de implementar o princípio “Um País, Dois Sistemas” em estrito acordo com a Constituição, as leis básicas e as políticas levadas a cabo pelos governos das regiões administrativas especiais. Outros valores a ter em conta são a salvaguarda da soberania nacional, os interesses de segurança e desenvolvimento, assim como a manutenção da estabilidade e prosperidade a longo-prazo de Macau e Hong Kong. Ainda em relação às regiões administrativas especiais, Wang considerou que desde o retorno à pátria, os sistemas sociais originais foram respeitados e que “os compatriotas de Hong Kong e Macau gozam de direitos democráticos e liberdades sem precedentes e têm oportunidades e espaço para crescer”, segundo a Xinhua.
CCPPC | Wang Yang reforça forte apoio a Macau e Hong Kong Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]A[/dropcap] pátria-mãe será sempre um forte suporte de Hong Kong e Macau”, referiu Wang Yang, membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China e actual presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A declaração foi feita no passado sábado no Grande Salão do Povo, em Pequim, na recepção a mais de 3.800 representantes de Macau, Hong Kong, Taiwan e das comunidades chinesas no exterior para as celebrações do Dia Nacional. Wang reforçou a ideia de implementar o princípio “Um País, Dois Sistemas” em estrito acordo com a Constituição, as leis básicas e as políticas levadas a cabo pelos governos das regiões administrativas especiais. Outros valores a ter em conta são a salvaguarda da soberania nacional, os interesses de segurança e desenvolvimento, assim como a manutenção da estabilidade e prosperidade a longo-prazo de Macau e Hong Kong. Ainda em relação às regiões administrativas especiais, Wang considerou que desde o retorno à pátria, os sistemas sociais originais foram respeitados e que “os compatriotas de Hong Kong e Macau gozam de direitos democráticos e liberdades sem precedentes e têm oportunidades e espaço para crescer”, segundo a Xinhua.
Macau | Governo confiante no futuro apesar de conjuntura complexa João Santos Filipe - 30 Set 2019 O Chefe do Executivo, Chui Sai On, acredita que “todos os projectos da RAEM” vão avançar de forma tranquila e apelou às forças locais que apoiem o futuro Governo de Ho Iat Seng e promovam o amor pela pátria [dropcap]F[/dropcap]ernando Chui Sai On considera que a situação actual coloca desafios, mas mostrou-se confiante que Macau vai passar ao lado dos problemas, no que diz respeito aos projectos em vigor. Foi esta uma das principais mensagens do discurso do Chefe do Executivo nas celebrações do 70.º aniversário da República Popular da China. “A actual conjuntura mundial é complexa e inconstante, traz desafios mas também oportunidades. Influenciada por factores externos, a economia de Macau enfrenta, este ano, uma pressão de declínio”, avisou. “Neste momento, o Governo está a acompanhar de perto as mudanças da situação económica, a antever os riscos económicos e a preparar-se activamente para, em tempo oportuno, lançar medidas de resposta. Temos confiança de que todos os projectos da RAEM continuarão a avançar de forma tranquila”, acrescentou. Ainda no que diz respeito ao futuro, Chui apontou dois caminhos que têm marcado também o seu discurso como Chefe do Executivo: a integração regional e a diversificação da economia. Apoio patriótico Chui Sai On falou também do desenvolvimento da nação e do futuro Governo da RAEM, que vai ser liderado por Ho Iat Seng, pedindo que a sociedade se mobilize no apoio a Ho e na promoção do nacionalismo. “Faço votos sinceros para que todos os sectores da sociedade de Macau continuem a apoiar o novo Governo e o Chefe do Executivo na execução das acções de governação”, apelou. “Espero, ainda, que continuem a promover a honrosa tradição do patriotismo e do amor a Macau, da tolerância, do auxílio mútuo e do espírito pragmático e empreendedor, e que, com um crescente sentido de responsabilidade e de missão, aproveitem a oportunidade do desenvolvimento nacional e se integrem, de forma activa, na conjuntura de desenvolvimento do país”, sublinhou. Já sobre o princípio Um País, Dois Sistemas, Chui Sai On afirmou que a receita do “preciosa e bem-sucedida experiência” se ficou a dever ao facto de sempre se ter “persistido na defesa do princípio ‘Um País’”.
Macau | Governo confiante no futuro apesar de conjuntura complexa João Santos Filipe - 30 Set 2019 O Chefe do Executivo, Chui Sai On, acredita que “todos os projectos da RAEM” vão avançar de forma tranquila e apelou às forças locais que apoiem o futuro Governo de Ho Iat Seng e promovam o amor pela pátria [dropcap]F[/dropcap]ernando Chui Sai On considera que a situação actual coloca desafios, mas mostrou-se confiante que Macau vai passar ao lado dos problemas, no que diz respeito aos projectos em vigor. Foi esta uma das principais mensagens do discurso do Chefe do Executivo nas celebrações do 70.º aniversário da República Popular da China. “A actual conjuntura mundial é complexa e inconstante, traz desafios mas também oportunidades. Influenciada por factores externos, a economia de Macau enfrenta, este ano, uma pressão de declínio”, avisou. “Neste momento, o Governo está a acompanhar de perto as mudanças da situação económica, a antever os riscos económicos e a preparar-se activamente para, em tempo oportuno, lançar medidas de resposta. Temos confiança de que todos os projectos da RAEM continuarão a avançar de forma tranquila”, acrescentou. Ainda no que diz respeito ao futuro, Chui apontou dois caminhos que têm marcado também o seu discurso como Chefe do Executivo: a integração regional e a diversificação da economia. Apoio patriótico Chui Sai On falou também do desenvolvimento da nação e do futuro Governo da RAEM, que vai ser liderado por Ho Iat Seng, pedindo que a sociedade se mobilize no apoio a Ho e na promoção do nacionalismo. “Faço votos sinceros para que todos os sectores da sociedade de Macau continuem a apoiar o novo Governo e o Chefe do Executivo na execução das acções de governação”, apelou. “Espero, ainda, que continuem a promover a honrosa tradição do patriotismo e do amor a Macau, da tolerância, do auxílio mútuo e do espírito pragmático e empreendedor, e que, com um crescente sentido de responsabilidade e de missão, aproveitem a oportunidade do desenvolvimento nacional e se integrem, de forma activa, na conjuntura de desenvolvimento do país”, sublinhou. Já sobre o princípio Um País, Dois Sistemas, Chui Sai On afirmou que a receita do “preciosa e bem-sucedida experiência” se ficou a dever ao facto de sempre se ter “persistido na defesa do princípio ‘Um País’”.
RPC, 70 anos | Economia, o sinuoso caminho da prosperidade Hoje Macau - 30 Set 201930 Set 2019 [dropcap]Q[/dropcap]uando se celebram sete décadas desde a fundação da República Popular da China, o Partido Comunista está a dobrar esforços para garantir que o desenvolvimento económico, principal fonte da sua legitimidade, alcança todo o país. No remoto noroeste da China, longe das prósperas províncias do litoral, o chinês Xinwang anda há cinco anos a construir estradas, caminhos-de-ferro, pontes e túneis em regiões montanhosas, personificando os esforços de Pequim para erradicar a pobreza no país. A nova estação de comboios de Xining, capital da província de Qinghai, foi a primeira obra em que trabalhou. Com uma população composta sobretudo por minorias étnicas, incluindo tibetanos, Qinghai é das províncias mais pobres e com menor densidade populacional da China, mas novas linhas ferroviárias de alta velocidade conectam agora a região às províncias vizinhas de Sichuan e Gansu. “Desde então, fiquei por aqui”, conta Xinwang, 31 anos, à agência Lusa, enumerando as obras em que trabalhou a seguir: a linha ferroviária de alta velocidade entre as regiões de Gansu e Xinjiang ou uma autoestrada de 900 quilómetros que atravessa Qinghai de norte a sul. Algumas destas obras de conectividade contrariam regras económicas básicas das ligações ferroviárias de alta velocidade, inventadas para percorrer distâncias relativamente curtas e por corredores densamente povoados. Receitas não cobrem desenvolvimento A receita anual da ligação entre Gansu e Xinjiang, que tem quase 1.800 quilómetros de extensão, por exemplo, nem sequer cobre os custos com eletricidade, segundo estimativas chinesas. Mas o Partido Comunista quer garantir que erradica a pobreza do país, quando se celebram sete décadas da sua governação, cuja promessa original foi garantir prosperidade para todos. Segundo dados oficiais, nos últimos seis anos, o país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, retirou da pobreza 82,39 milhões de pessoas, reduzindo para 1,7% a população a viver com menos de 2.300 yuan anuais – a linha de pobreza estabelecida pelo Governo chinês. Longe do espectacular desenvolvimento económico que formou no litoral da China mega metrópoles, arranha-céus e uma classe média superior a 500 milhões de pessoas, o oeste da China permanece sobretudo pobre e vulnerável ao separatismo, sobretudo nas regiões do Tibete e Xinjiang. O investimento massivo em infraestruturas tirou do isolamento várias comunidades, enquanto o projecto internacional lançado por Pequim “Uma Faixa, Uma Rota” tem reforçado as vias comerciais do oeste do país, com ligações ferroviárias e rodoviárias à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central. No entanto, o terreno montanhoso, clima inóspito e diferenças culturais tornam difícil erradicar e manter as comunidades fora da pobreza. Da civilização Para chegar a casa da família dos Chou, na povoação de Angsai, prefeitura autónoma tibetana de Yushu, é preciso percorrer quase 100 quilómetros por estreitas estradas de terra batida, entre curvas e contracurvas, e com os pneus a roçar desfiladeiros. A habitação, que consiste num aglomerado de três contentores, surge inclinada, face ao terreno acidentado, dando uma sensação inicial de desequilíbrio. A vida decorre ali como há cem anos. As famílias passam o dia em tendas semelhantes aos ‘yurts’ mongóis: as mulheres, à volta do fogão, preparam refeições e chá de manteiga; os homens fumam e conversam durante horas a fio. Não há saneamento básico ou rede móvel. Dong, o filho mais novo dos Chou, lembra à Lusa quando Angsai era uma terra “sem lei nem ordem”: discussões ou disputas por terrenos acabavam frequentemente “à facada”. Nos últimos anos, uma campanha contra o crime tornou a comunidade mais segura, conta. Um projecto de ecoturismo permite agora às famílias locais hospedarem turistas, atraídos pela vida selvagem e singular paisagem do planalto Qinghai – Tibete. A quatro mil metros de altitude, largas planícies pontuadas por lagos encerram-se entre montanhas. Na natureza intacta, observam-se leopardos das neves, ursos pardos asiáticos, lobos ou linces. Mas a fé budista dos tibetanos, num país oficialmente ateísta e cujo pragmatismo e devoção ao dinheiro configuraram grande parte da sociedade, parece disputar a visão de “progresso” promovida por Pequim. A família dos Chou, por exemplo, tem quarenta iaques – os bovinos típicos da região dos Himalaias – mas grande parte dos lucros da criação dos animais remete para os matadouros e retalhistas. “A nossa fé não permite que matemos o animal”, explica uma tibetana. “Muitas famílias criam iaques, mas vendem-nos por pouco dinheiro, para que outros os matem”, diz. João Pimenta, agência Lusa
RPC, 70 anos | Economia, o sinuoso caminho da prosperidade Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]Q[/dropcap]uando se celebram sete décadas desde a fundação da República Popular da China, o Partido Comunista está a dobrar esforços para garantir que o desenvolvimento económico, principal fonte da sua legitimidade, alcança todo o país. No remoto noroeste da China, longe das prósperas províncias do litoral, o chinês Xinwang anda há cinco anos a construir estradas, caminhos-de-ferro, pontes e túneis em regiões montanhosas, personificando os esforços de Pequim para erradicar a pobreza no país. A nova estação de comboios de Xining, capital da província de Qinghai, foi a primeira obra em que trabalhou. Com uma população composta sobretudo por minorias étnicas, incluindo tibetanos, Qinghai é das províncias mais pobres e com menor densidade populacional da China, mas novas linhas ferroviárias de alta velocidade conectam agora a região às províncias vizinhas de Sichuan e Gansu. “Desde então, fiquei por aqui”, conta Xinwang, 31 anos, à agência Lusa, enumerando as obras em que trabalhou a seguir: a linha ferroviária de alta velocidade entre as regiões de Gansu e Xinjiang ou uma autoestrada de 900 quilómetros que atravessa Qinghai de norte a sul. Algumas destas obras de conectividade contrariam regras económicas básicas das ligações ferroviárias de alta velocidade, inventadas para percorrer distâncias relativamente curtas e por corredores densamente povoados. Receitas não cobrem desenvolvimento A receita anual da ligação entre Gansu e Xinjiang, que tem quase 1.800 quilómetros de extensão, por exemplo, nem sequer cobre os custos com eletricidade, segundo estimativas chinesas. Mas o Partido Comunista quer garantir que erradica a pobreza do país, quando se celebram sete décadas da sua governação, cuja promessa original foi garantir prosperidade para todos. Segundo dados oficiais, nos últimos seis anos, o país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, retirou da pobreza 82,39 milhões de pessoas, reduzindo para 1,7% a população a viver com menos de 2.300 yuan anuais – a linha de pobreza estabelecida pelo Governo chinês. Longe do espectacular desenvolvimento económico que formou no litoral da China mega metrópoles, arranha-céus e uma classe média superior a 500 milhões de pessoas, o oeste da China permanece sobretudo pobre e vulnerável ao separatismo, sobretudo nas regiões do Tibete e Xinjiang. O investimento massivo em infraestruturas tirou do isolamento várias comunidades, enquanto o projecto internacional lançado por Pequim “Uma Faixa, Uma Rota” tem reforçado as vias comerciais do oeste do país, com ligações ferroviárias e rodoviárias à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central. No entanto, o terreno montanhoso, clima inóspito e diferenças culturais tornam difícil erradicar e manter as comunidades fora da pobreza. Da civilização Para chegar a casa da família dos Chou, na povoação de Angsai, prefeitura autónoma tibetana de Yushu, é preciso percorrer quase 100 quilómetros por estreitas estradas de terra batida, entre curvas e contracurvas, e com os pneus a roçar desfiladeiros. A habitação, que consiste num aglomerado de três contentores, surge inclinada, face ao terreno acidentado, dando uma sensação inicial de desequilíbrio. A vida decorre ali como há cem anos. As famílias passam o dia em tendas semelhantes aos ‘yurts’ mongóis: as mulheres, à volta do fogão, preparam refeições e chá de manteiga; os homens fumam e conversam durante horas a fio. Não há saneamento básico ou rede móvel. Dong, o filho mais novo dos Chou, lembra à Lusa quando Angsai era uma terra “sem lei nem ordem”: discussões ou disputas por terrenos acabavam frequentemente “à facada”. Nos últimos anos, uma campanha contra o crime tornou a comunidade mais segura, conta. Um projecto de ecoturismo permite agora às famílias locais hospedarem turistas, atraídos pela vida selvagem e singular paisagem do planalto Qinghai – Tibete. A quatro mil metros de altitude, largas planícies pontuadas por lagos encerram-se entre montanhas. Na natureza intacta, observam-se leopardos das neves, ursos pardos asiáticos, lobos ou linces. Mas a fé budista dos tibetanos, num país oficialmente ateísta e cujo pragmatismo e devoção ao dinheiro configuraram grande parte da sociedade, parece disputar a visão de “progresso” promovida por Pequim. A família dos Chou, por exemplo, tem quarenta iaques – os bovinos típicos da região dos Himalaias – mas grande parte dos lucros da criação dos animais remete para os matadouros e retalhistas. “A nossa fé não permite que matemos o animal”, explica uma tibetana. “Muitas famílias criam iaques, mas vendem-nos por pouco dinheiro, para que outros os matem”, diz. João Pimenta, agência Lusa
RPC, 70 anos | Partido Comunista Chinês exibe confiança no seu modelo Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]Q[/dropcap]uando celebra sete décadas de governação, o Partido Comunista Chinês (PCC) continua a abdicar de reformas políticas e defende agora o seu “modelo” como solução para países em desenvolvimento, mas fragilidades persistem sob a capa autoritária, defendem analistas. O rápido desenvolvimento económico das últimas décadas e a forma como contornou a crise financeira global de 2008 injectaram redobrada confiança em Pequim de que o seu modelo constitui uma alternativa à democracia liberal. “A China oferece uma nova opção para países que desejam acelerar o seu desenvolvimento enquanto preservam a sua independência”, defendeu o Presidente chinês, Xi Jinping, em 2017. Só nos últimos 20 anos, a riqueza per capita da China quadruplicou, num “milagre” sem precedentes na História moderna. Num esforço liderado pelo Estado, a China ameaça destronar os Estados Unidos da posição que mantêm há 70 anos como líderes em inovação científica e tecnológica. No entanto, o reforço do carácter totalitário do regime, sob a presidência de Xi, abriu um “precedente muito perigoso para o futuro”, descreveu o sinólogo norte-americano David Shambaugh. Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo, procurou basear a tomada de decisão num processo de consultas, separar o Partido do Governo e descentralizar a autoridade pelas províncias e localidades, visando evitar os excessos maoistas que quase destruíram o país. Xi reverteu aquelas normas. Assombrado pela primavera árabe, que derrubou governos aparentemente invencíveis, e, sobretudo, pela implosão da decrépita União Soviética, em 1991, o Partido Comunista, sob a sua direcção, voltou nos últimos anos a penetrar na vida política, social e económica da China. “Proporcionalmente, o Partido Comunista Soviético tinha mais membros do que nós, mas ninguém foi homem o suficiente para se levantar e resistir”, alertou Xi Jinping, nas vésperas de ascender ao poder. Desde então, o aparelho de segurança do regime passou a contar com cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais, muitas dotadas de reconhecimento facial. Uma campanha contra dissidentes resultou já na detenção de 250 advogados ou activistas dos direitos humanos, segundo organizações não governamentais. O Partido estabeleceu também comités em 70% das empresas privadas e ‘joint ventures’. Dentro do PCC, Xi lançou a mais ampla campanha anticorrupção na história da China comunista, resultando, até à data, na punição de mais de 1,5 milhão de funcionários, incluindo centenas de altos quadros e altas patentes do exército, segundo o próprio partido. A campanha anticorrupção antecedeu uma concentração de poder sem paralelo nas últimas décadas. O “calcanhar de Aquiles” Em 2017, Xi Jinping aboliu o limite de mandatos para o seu cargo, criou um organismo com poder equivalente ao Executivo e Judicial – a Comissão Nacional de Supervisão -, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promoveu aliados a posições chave do regime. David Shambaugh não tem dúvidas: “Xi é um líder genuinamente duro, que exala convicção e confiança, mas essa firmeza esconde um sistema político e partidário extremamente frágil por dentro”, argumenta. Para o sinólogo, o crescente carácter repressivo do regime e a emigração das elites económicas ilustram as fraquezas do sistema de partido único, corroído por clientelismo, corrupção e ausência de primado da lei. “Apesar das aparências, o sistema político da China está gravemente fracturado e ninguém o sabe melhor do que o próprio Partido Comunista”, argumenta. “Xi Jinping espera que a repressão contra dissidentes e o combate à corrupção reforcem o domínio do Partido (…), mas o seu despotismo está a pressionar fortemente o sistema e a sociedade chinesa – e aproximá-la do ponto de ruptura”, aponta. A visão do poder de Xi como um mecanismo opressivo foi, segundo o próprio, forjada durante a adolescência, passada no árido e pobre noroeste chinês, seguindo um fluxo de jovens urbanos para as aldeias do interior para “aprenderem com os camponeses”, parte de uma radical campanha de massas lançada por Mao Zedong. “As pessoas que têm pouca experiência com o poder, aqueles que estão longe dele, tendem a considerá-lo algo de misterioso e nobre”, disse numa entrevista, publicada em 2000, quando era governador da província de Fujian. “Mas eu vejo além das coisas superficiais: o poder, as flores, a glória e os aplausos. Eu vejo centros de detenção e a volatilidade da natureza humana. Isso deu-me uma compreensão da política a um nível mais profundo”, realçou. Mas será também esta desconfiança na afirmação e liberdade do indivíduo que continuará a levantar incógnitas sobre o futuro da República Popular da China, no ano em que ultrapassa em longevidade a antiga União Soviética. “Quando a empatia humana começar a sobrepor-se à autoridade ossificada, o fim do comunismo chinês terá realmente começado”, conclui Shambaugh. João Pimenta, da agência Lusa
RPC, 70 anos | Partido Comunista Chinês exibe confiança no seu modelo Hoje Macau - 30 Set 2019 [dropcap]Q[/dropcap]uando celebra sete décadas de governação, o Partido Comunista Chinês (PCC) continua a abdicar de reformas políticas e defende agora o seu “modelo” como solução para países em desenvolvimento, mas fragilidades persistem sob a capa autoritária, defendem analistas. O rápido desenvolvimento económico das últimas décadas e a forma como contornou a crise financeira global de 2008 injectaram redobrada confiança em Pequim de que o seu modelo constitui uma alternativa à democracia liberal. “A China oferece uma nova opção para países que desejam acelerar o seu desenvolvimento enquanto preservam a sua independência”, defendeu o Presidente chinês, Xi Jinping, em 2017. Só nos últimos 20 anos, a riqueza per capita da China quadruplicou, num “milagre” sem precedentes na História moderna. Num esforço liderado pelo Estado, a China ameaça destronar os Estados Unidos da posição que mantêm há 70 anos como líderes em inovação científica e tecnológica. No entanto, o reforço do carácter totalitário do regime, sob a presidência de Xi, abriu um “precedente muito perigoso para o futuro”, descreveu o sinólogo norte-americano David Shambaugh. Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo, procurou basear a tomada de decisão num processo de consultas, separar o Partido do Governo e descentralizar a autoridade pelas províncias e localidades, visando evitar os excessos maoistas que quase destruíram o país. Xi reverteu aquelas normas. Assombrado pela primavera árabe, que derrubou governos aparentemente invencíveis, e, sobretudo, pela implosão da decrépita União Soviética, em 1991, o Partido Comunista, sob a sua direcção, voltou nos últimos anos a penetrar na vida política, social e económica da China. “Proporcionalmente, o Partido Comunista Soviético tinha mais membros do que nós, mas ninguém foi homem o suficiente para se levantar e resistir”, alertou Xi Jinping, nas vésperas de ascender ao poder. Desde então, o aparelho de segurança do regime passou a contar com cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais, muitas dotadas de reconhecimento facial. Uma campanha contra dissidentes resultou já na detenção de 250 advogados ou activistas dos direitos humanos, segundo organizações não governamentais. O Partido estabeleceu também comités em 70% das empresas privadas e ‘joint ventures’. Dentro do PCC, Xi lançou a mais ampla campanha anticorrupção na história da China comunista, resultando, até à data, na punição de mais de 1,5 milhão de funcionários, incluindo centenas de altos quadros e altas patentes do exército, segundo o próprio partido. A campanha anticorrupção antecedeu uma concentração de poder sem paralelo nas últimas décadas. O “calcanhar de Aquiles” Em 2017, Xi Jinping aboliu o limite de mandatos para o seu cargo, criou um organismo com poder equivalente ao Executivo e Judicial – a Comissão Nacional de Supervisão -, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promoveu aliados a posições chave do regime. David Shambaugh não tem dúvidas: “Xi é um líder genuinamente duro, que exala convicção e confiança, mas essa firmeza esconde um sistema político e partidário extremamente frágil por dentro”, argumenta. Para o sinólogo, o crescente carácter repressivo do regime e a emigração das elites económicas ilustram as fraquezas do sistema de partido único, corroído por clientelismo, corrupção e ausência de primado da lei. “Apesar das aparências, o sistema político da China está gravemente fracturado e ninguém o sabe melhor do que o próprio Partido Comunista”, argumenta. “Xi Jinping espera que a repressão contra dissidentes e o combate à corrupção reforcem o domínio do Partido (…), mas o seu despotismo está a pressionar fortemente o sistema e a sociedade chinesa – e aproximá-la do ponto de ruptura”, aponta. A visão do poder de Xi como um mecanismo opressivo foi, segundo o próprio, forjada durante a adolescência, passada no árido e pobre noroeste chinês, seguindo um fluxo de jovens urbanos para as aldeias do interior para “aprenderem com os camponeses”, parte de uma radical campanha de massas lançada por Mao Zedong. “As pessoas que têm pouca experiência com o poder, aqueles que estão longe dele, tendem a considerá-lo algo de misterioso e nobre”, disse numa entrevista, publicada em 2000, quando era governador da província de Fujian. “Mas eu vejo além das coisas superficiais: o poder, as flores, a glória e os aplausos. Eu vejo centros de detenção e a volatilidade da natureza humana. Isso deu-me uma compreensão da política a um nível mais profundo”, realçou. Mas será também esta desconfiança na afirmação e liberdade do indivíduo que continuará a levantar incógnitas sobre o futuro da República Popular da China, no ano em que ultrapassa em longevidade a antiga União Soviética. “Quando a empatia humana começar a sobrepor-se à autoridade ossificada, o fim do comunismo chinês terá realmente começado”, conclui Shambaugh. João Pimenta, da agência Lusa
RPC, 70 anos | A revolução persistente Carlos Morais José - 30 Set 201930 Set 2019 O Parido Comunista trouxe a China do arado à sonda espacial, da miséria ao espavento tecnológico. 70 anos depois o país conhece o período de maior desenvolvimento da sua História e vê-se na contingência de erradicar a pobreza. Pelo caminho, ficam milhões de mortos e ideias moribundas. A China, como sempre, faz-se… à chinesa [dropcap]N[/dropcap]o dia 1 de Outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, ao microfone de um estrado montado em frente à Porta da Paz Celestial, a entrada para a Cidade Proibida, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. “Assim começa uma nova era na história da China. Nós, os quatrocentos e setenta e cinco milhões de chineses, finalmente levantámo-nos”, bradou o presidente. Pela praça acotovelavam-se mais de cem mil pessoas, ladeadas pela presença de edifícios imperiais e de delegações estrangeiras, que lembravam cruelmente os últimos 150 anos, nos quais a China, governada por uma administração imperial corrupta, se vira invadida e colonizada por potências estrangeiras, massacrada e dilacerada por várias guerras civis. O povo chinês retomava agora a sua nação e preparava-se para entrar numa nova era, cujos contornos, apesar de radicais na medida em que procuravam construir uma outra sociedade, não se encontravam ainda muito bem definidos. Pequim havia sido conquistada pelo Exército Vermelho em Janeiro de 1949 mas só em Março Mao Zedong visitou a capital, de forma discreta, pois o líder do Partido Comunista Chinês (PCC) não se sentia seguro e temia a intervenção de espiões estrangeiros. Ainda assim, ali não permaneceu longo tempo, tendo-se retirado para as chamadas Montanhas Perfumadas, a sudoeste da capital, onde montou o seu quartel-general durante até Outubro. E foi aí que preparou, em idílico cenário, condicente com a sua alma de guerreiro-poeta, o que viria a ser, nos anos seguintes, a governação da China nos anos seguintes. Entretanto, Deng Xiaoping e outros generais derrotavam, um pouco por todo o país, os restos do exército do Kuomitang, dito nacionalista, que aos poucos se refugiava em Taiwan. O fim de 150 anos de humilhações Com a ascensão do PCC ao poder e o fim da guerra civil, encerrava-se um capítulo desgraçado da história chinesa, no qual o grande império perdera o seu rumo, tendo sido humilhado por várias potências europeias (como em meados do século XIX, pela Inglaterra que fomentou a Guerra do Ópio, obrigando os chineses a comprar a droga, e exigindo a posse da ilha de Hong Kong) e asiáticas (como o Japão, que invadiu a China, perpetrou inúmeros massacres e estabeleceu mesmo um reino fantoche na Manchúria, encabeçado por Puyi, o último imperador da dinastia Qing, extinta em 1911). Agora tratava-se levantar o país e o seu povo, de alimentar e alfabetizar as massas e construir as fundações de uma sociedade socialista. Se Mao Zedong tivesse falecido até 1955 seria por certo considerado, quase sem mácula, um dos maiores homens do século XX. No dia 1 de Outubro de 1949, Mao tinha 56 anos e passado uma vida plena de sacrifícios, vergada aos rigores da guerra. Enquanto comandante militar, o agora presidente da República Popular dormia com as suas tropas e comia com elas, conquistando assim a sua devoção. Foram anos e anos de má comida, maus sítios para dormir e apenas água fervida para beber. Foi por isso enorme a diferença quando, depois da fundação da República, ocupou a sua casa em Zhongnanhai, o espaço destinado aos dirigentes, paredes meias com a Cidade Proibida. Era uma ala de um palácio mandado construir pelo imperador Kangxi, o segundo da dinastia Qing, conhecida como o Pavilhão do Crisântemo Perfumado. Em seu redor, reinava uma absoluta paz, um intenso silêncio, arredado apenas pelos trinados dos pássaros e o rumorejar do vento nos bambus, em contraste com o bulício característico das ruas da capital. Terá sido neste local que Mao Zedong tomou grande parte das decisões fundamentais para o desenvolvimento da China, sob a bandeira e as directivas do PCC. Aqui recebia os membros do seu governo e representantes estrangeiros. Contudo, agora que a guerra tinha acabado, começava a tarefa gigantesca de reconstruir um país completamente estilhaçado, basicamente agrícola, longe de possuir a estrutura económico-social necessária à construção da utopia comunista. Grandes saltos para o abismo Talvez inspirado por grande imperadores, nomeadamente pelo homem que pela primeira vez unificou a China em 221 a.E.C., Qin Huandi, Mao Zedong lançou o seu povo em grande trabalhos colectivos, estabelecendo metas produtivas e projectos de realização complicada. A verdade é que, em termos de economia e produção, as medidas do governo não pareciam estar a resultar. Em 1955, o Grande Salto em Frente e a campanha do aço revelaram-se um salto para o abismo, provocando o alastrar das fomes e causando a morte a muitos milhões de pessoas. Pelo fim dos anos 50, princípios de 60, grassava algum descontentamento entre as fileiras do PCC perante a ineficácia das medidas e dos projectos do Grande Timoneiro. Um dos que expressou a sua insatisfação foi Deng Xiaoping, incomodado com a catástrofe económica e alimentar que o país atravessava, também na medida em que compreendia que tais factos tornavam a China mais vulnerável às pressões externas do mundo ocidental que não via com bons olhos a revolução comunista. Mas Mao Zedong tinha outros planos. Ao sentir o poder escapar-lhe aos poucos, bem como a dissolução do seu próprio carisma, encetou o que viria a ser conhecido como Revolução Cultural. Mao atribuía as desgraças ocorridas aos burocratas e aos intelectuais, que ainda sofreriam de influências burguesas. Para ele, o poder devia ser entregue aos operários e aos estudantes, as verdadeiras forças revolucionárias. A revolução devia ir mais longe no apagar do passado e das doutrinas reaccionárias. A tradição confucionista, por exemplo, devia ser considerada algo pertencente ao antigo regime feudal e totalmente apagada. Neste sentido, o Estado e o Partido sobrepunham-se à família e aos valores de piedade filial. O fascínio europeu Entretanto, na Europa as esquerdas encontravam-se decepcionadas como rumo da União Soviética. Surgia o primeiro euro-comunismo de Enrico Berlinguer, em Itália, e de George Marchais, em França. Dada a proximidade dos países além da Cortina de Ferro, era mais fácil aos europeus darem conta dos atrocidades e da inoperância dos regimes com influência soviética, nomeadamente devido ao excessivo peso do Estado e das suas burocracias. Por isso, a Revolução Cultural chinesa, observada à distância e através dos seus slogans, parecia a saída genial, possível e desejável para atenuar o poder centralizado dos burocratas, entendidos como uma nova classe dentro do estados socialistas. Mao Zedong tornou-se a grande referência da esquerda europeia que não alinhava com os partidos comunistas satélites da União Soviética, nem com a brandura das posição dos euro-comunistas. Era então comum ver nas manifestações, nomeadamente no Maio de 68, o “livrinho vermelho”, com as citações de Mao Zedong, ser empunhado como bandeira da revolução a haver e como farol para a aplicação de medidas revolucionárias. Na primeira metade dos anos 70, alguns intelectuais franceses de nomeada como Philippe Solers, Roland Barthes, Julia Kristeva, entre outros, visitaram a China, a convite do governo, para assistirem às maravilhas da Revolução Cultural. Foi-lhes explicado, entre outros aspectos, como fora destruída a ópera tradicional, repleta de “temas feudais e burgueses”, e substituída pela Nova Ópera, de feição revolucionária. O resultado não foi unânime. Se alguns se deixaram impressionar pelos “progressos sociais”, outros suspeitaram de um país onde todos se vestiam de igual e recitavam a mesma cartilha. A revista “Chine”, da Tel Quel, publicada em 1972, e os “Cadernos da China”, de Roland Barthes, são um bom exemplo desta ambiguidade e estranheza experimentada no confronto directo com a realidade da China da Revolução Cultural. Outro é o filme-documentário de Michelangelo Antonioni “Tchong-Kuo”, que não deixou o realizador italiano de boas relações com as autoridades de Pequim. Entretanto, desde 1966, ano em que foi lançada a Revolução Cultural, que dezenas de milhões de pessoas haviam sido perseguidas, humilhadas, deportadas para campos de trabalho e assassinadas. As crianças eram estimuladas a denunciar os pais, os subalternos a denunciar os seus superiores, aos Guardas Vermelhos, uma espécie de milícias populares que exerciam um poder violento localmente. Muitos professores, médicos, engenheiros, artistas, escritores foram despedidos, numa ânsia de afirmação do “saber revolucionário” como o único a considerar. Os excessos foram mais que muitos e atingiram limites que deixaram uma marca indelével na sociedade chinesa. Um deles — e talvez um dos mais significativos — passa pelo apagamento da memória colectiva de valores, hábitos e procedimentos. A Revolução Cultural, erigindo Mao e o PCC como as grandes referências, excluía, ao mesmo tempo, milénios de cultura chinesa, com as suas práticas tradicionais enraizadas. Há mesmo quem diga que, paradoxalmente, foi este apagamento das antigas práticas e valores, proporcionado pela Revolução Cultural, que permitiu a rápida instalação do capitalismo na China, a partir dos anos 80 do século passado. Entretanto, o poder do chamado Bando dos Quatro, os grandes mentores do regime, ia-se esboroando e atingiu o seu ocaso com a morte de Mao Zedong em 1976. Assistiu-se então à rápida ascensão de quantos se haviam oposto aos excessos maoístas e, apesar disso, sobrevivido. À frente de todos, estava Deng Xiaoping. Deng, o arquitecto insaciável Talvez ainda mais do que Mao Zedong, com certeza de forma mais discreta, Deng Xiaoping é o líder chinês mais importante da segunda metade do século XX, que lança o país no caminho da abertura, reformas e prosperidade. Nascido em 1904, numa aldeia poeirenta da província de Sichuan, em família relativamente abastada e cedo dando provas de rara inteligência, Deng viera para a cidade de Chonqing com apenas 12 anos, na companhia de um tio paterno, onde estudou sob a alçada de um velho revolucionário chamado Wu Yazhang, que preparava jovens chineses para programas de estudo em França. Na verdade, tratava-se de uma iniciação às actividades revolucionarias. Apesar das dificuldades que passou nesse período, a estada em França revelar-se-ia crucial para o jovem Deng. Paris fervilhava de actividades conspirativas e revolucionarias, numa Europa que conhecia a megalomania e a loucura de um primeiro pós-Guerra. Aí conheceu o que viria a ser o grande líder vietnamita Ho Chi Min e, sobretudo, Zhou En Lai, em cujo apartamento chegou a morar. Deng acabaria por aderir ao PCC, ainda em Paris, em 1925. De regresso à China em 1926, Deng inicia uma longa carreira militar. Os comunistas viviam tempos difíceis, tremendamente abalados pelo massacre ocorrido em Xangai em 1927, por ordem de Chiang Kaishek. Também o PCC apresentava, na altura uma profunda divisão entre os que entendiam seguir os ditames soviéticos, emanados por Estaline, e outros que entendiam ser chinesa a solução para a China. Neste aspecto, Deng concordava com Mao: ambos consideravam que primeiro era fundamental conseguir o domínio dos campos e a boa vontade dos camponeses e só depois vinham as cidades. Só que era precisamente nas grandes cidades que estavam instalados os grandes dirigentes do partido, que tinham apoio financeiro e ideológico de Moscovo. E as ordens russas eram claras: primeiro havia que conquistar as cidades. Ora Deng sabia que este seria um erro fatal e continuou o seu trabalho na província. Fundamentalmente, tratava-se de ir pela província fora, pelas montanhas, pelas veredas de difícil acesso, politizar os camponeses e trazê-los para o combate. Em 1933, teve de responder a uma comissão de inquérito do partido. Não se tratava bem de responder mas de ouvir acusações e acabou por ser preso e exilado em Nancum, um lugar distante dos centros de decisão comunistas. Contudo, este seu primeiro exílio durou muito pouco tempo já que as tácticas dos comunistas apoiados por Moscovo conduziram o partido de derrota em derrota, até que em 1934 os militares que rodeavam Mao Zedong acharam que ra tempo de dizer basta. E disseram-no: na conferencia de Zunyi, em Janeiro de 1935, Mao foi eleito dirigente máximo do partido. Este momento marcou a primeira recuperação de Deng depois da sua primeira grande queda e o seu regresso às frentes de batalha. Aí revelou-se um grande senhor da guerra. Foi ele quem derrotou os mais importantes contingentes do Kuomitang, o que lhe valeu na altura os mais rasgados elogios de Mao, que o destacou para a frente Oeste, onde obteve grandes sucessos militares. Em 1952, Mao mandou-o voltar a Pequim para ocupar um lugar de primeira linha: vice-primeiro-ministro, encarregado de questões administrativas e económicas. Em 1954, era eleito secretário-geral do partido. Seguiu-se um período de grande convulsão interna no PCC. A culpa era em grande parte de Maio Zedong, que veio a revelar-se um dirigente bastante fraco do ponto de vista estratégico-económico e mesmo ideológico. Obcecado com a luta de classes, lançou várias purgas para eliminar o que chamava de elementos “burgueses” no aparelho do partido e no Estado. “Comunismo não é pobreza” O primeiro choque relativamente entre os dois líderes ocorreu em 1960, por ocasião de uma grave crise económica na China. A indústria não funcionava, o comércio encontrava-se paralisado e tinha cessado a ajuda soviética. Pior: os alimentos escasseavam e o povo preparava-se para enfrentar a fome. Deng não esteve com meias medidas: mandou comprar seis milhões de toneladas de trigo no mercado mundial e pagou-as com o dinheiro dos delapidados cofres estatais. Mao espumou. Ainda por cima, o trigo fora pago com divisas estrangeiras. Tomou a medida como um passo atrás na direcção do capitalismo. Deng calmamente respondeu que “comunismo não é pobreza”. E não se ficou por aqui: em 1961, perante o comité central, sai-se com esta: “Qualquer ideia que tenha sido levada em frente e já não sirva, deve ser rectificada. Não importa quem a tenha criado”, numa clara referencia a Mao. E continuou com a célebre frse: “Não importa se o gato seja branco ou preto. Se apanhar o rato, é um gato.” Era demasiada a ousadia. Mao começou a referir, em público e em privado, que alguns membros do partido queriam fazer entrar o país na estrada do capitalismo. Sentia que o poder lhe escapava das mão e resolveu tomar medidas “totais”, como ele gostava. Foi o início da Revolução Cultural, à qual Deng não escapou. Desterrado com a sua mulher para a província de Jiangxi, com residência fixa, sem direito a comunicar com o exterior e sem qualquer espécie de salário. Quem sofreu mais severamente foi o seu filho mais velho, estudante da universidade de Pequim. Os Guardas vermelhos prenderam-no e torturaram-no para o obrigar a confessar a traição do pai. Deng Pufang afirma não se lembrar exactamente do sucedido mas, depois de ter sido brutal e sucessivamente espancado, acabou por ser atirado de uma janela e ficou inválido para toda a vida. Na aldeia onde nasceu, tudo o que se relacionava com os Deng foi destruído, incluindo os pertences de outros membros da família que há muito não sabiam dele. Com a morte do seu inimigo Lin Biao, em 1971, Deng escreveu a Mao, propondo-lhe regressar ao trabalho. Quem lhe respondeu foi Zhou Enlai, que nunca deixara de ser seu amigo, informando-o de que era necessária uma carta dirigida a Mao, uma autocrítica severa. Deng escreveu-a. Em 1973, tomava posse como vice-primeiro-ministro, ao lado de Zhou. Em 1975, Zhou Enlai apresentava um programa de modernização, sem referências ideológicas, contra a estagnação económica. Ali estava o projecto de Deng para uma nova China até ao ano 2000. Agora tudo se jogava na sucessão, quer de Mao quer de Zhou, ambos moribundos. O Bando dos Quatro e Jiang Qing, a mulher de Mao, reunia as suas forças e aguardava a hora fatal. As suas relações com Deng estavam completamente deterioradas. Ela chegou a insultá-lo em pleno Politburo, até que ele bateu com a mão na mesa, farto das suas gritos e imprecações. Voltou-lhe as costas e deixou-a a arengar sozinha. Entretanto, ia arranjando os apoios certos, nomeadamente entre os militares que o consideravam um deles. Um ano depois da morte de Mao, com o Bando dos Quatro na cadeia, Deng voltava ao poder e lançava as reformas que só duas décadas mais tarde se mostrariam consolidadas. A este pequeno homem, fumador inveterado e grande jogador de bridge, foi destinado o papel de arquitecto da China moderna, incluindo o princípio “um país, dois sistemas”, que contextualiza o regresso à Pátria de Hong Kong e Macau. A ele se deve a abertura económica, o estabelecimento da propriedade privada e da economia socialista de mercado, na qual se usufrui de liberdades económicas, sob a direcção do PCC. Sob a sua batuta, a China encetou o caminho da modernização e do crescimento que havia de a catapultar ao topo das potências mundiais, só ultrapassada pelos EUA. Abertura sem retorno Claro que não se tratou de um caminho linear e sem sobressaltos. Toda a década de 80 assistiu, entre o arrancar das medidas reformistas, à existência de uma luta no interior do PCC entre os que eram pró-reformas e os que as temiam, na medida em que tal poderia significar o fim do controlo do partido. O cúmulo deste combate foi atingido em 1989, durante as manifestações da Praça Tiananmen, os acontecimentos que ensombraram a parte final do consulado de Deng. Face aos protestos, Deng chegou à conclusão que só a repressão poderia impedir o país de cair no caos. E para tanto não se importou de sacrificar o seu favorito Zhao Zyiang e de ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes. Muitos temeram, no pós-Tiananmen, pelo fim das reformas e na marcha-atrás da abertura da sociedade chinesa. Mas o impulso dado por Deng era, basicamente, imparável. Em 1992, num congresso crucial na medida em que pouco tempo passara e pouco fora esclarecido, o então presidente Jiang Zemin anuncia claramente dois aspectos: a continuação das reformas económicas e o reforço do papel do partido. Ou seja, para Jiang, não existe contradição entre uma economia de mercado e a planificação estatal. Ambas podem ocorrer em paralelo. A diferença é que, a partir de agora, as empresas estatais passam a estar inseridas no mercado e a jogar pelas suas regras, tecendo a sua sobrevivência aos sabor das leis económicas. Com Jiang Zemin e, sobretudo, com o primeiro-ministro Zhu Rongji, a China entra decisivamente no mundo capitalista e na economia de mercado, impondo reformas atrás de reformas, cujo resultado está à vista de todos. Em muito pouco tempo, a China obteve um crescimento exponencial, aumentou o seu PIB e as exportações de uma forma radical, nunca antes vista na História. Deslocando pessoas dos campos para as cidades, modernizando a agricultura, fomentando as indústrias e os serviços, o governo chinês levantou de forma considerável o nível de vida do povo e viu-se na posse de fluxos de capital inimagináveis umas décadas atrás. A China tornava-se num dos países mais poderosos do mundo, não apenas graças ao tamanho da sua população, aos meros números, mas sobretudo em aspectos económicos e militares. A Jiang Zemin e a Zhu Ronji sucederam Hu Jintao e Wen Jiabao, que prosseguiram no caminho das reformas e abertura económicas, solidificando o papel da China no panorama internacional. Agora membro da Organização Mundial de Comércio e de outras instituições internacionais de relevo, a China começa a desempenhar o papel de superpotência pelo modo como a sua influência se espalha pelo mundo. E agora, para onde vamos, dr. Xi? Deng considerara que a eternização dos líderes no poder era contraproducente e para o evitar introduzira na constituição uma regra segundo a qual o presidente poderia apenas cumprir dois mandatos, tendo obrigatoriamente de dar o poder a outros. Esta regra teve um efeito profundo na psicologia do PCC pois possibilitava a permanência da esperança para os que não se encontravam, num dado momento, no poder. No seio do partido, as facções alinhavam-se, como se de subpartidos internos se tratassem, no sentido de disputar as cadeiras de 10 em 10 anos. No entanto, com a subida ao poder de Xi Jinping esta regra foi alterada. A China tem agora um líder diferente dos que sucederam a Deng Xiaoping. Xi pretende uma maior centralização do poder, uma maior influência do PCC a todos os níveis da sociedade e identificou os dois pólos de conflito na China de hoje: segundo o presidente, hoje a grande contradição que urge resolver é o fosso crescente entre ricos e pobres, que o desenvolvimento capitalista proporcionou. Esta distância entre as pessoas, entre litoral e interior, é a causa de desarmonia no país e tem de ser debelada. Para levar a cabo a resolução deste problema, Xi encetou uma gigantesca campanha anti-corrupção e estabeleceu a meta de 2020 para erradicar a pobreza. Contudo, além de ter eliminado a limitação de mandatos, o que faz prever a sua continuação em 2023, Xi Jinping tem desenvolvido um estilo que lembra o culto pessoal que foi dedicado a Mao e que tanto horrorizara Deng. Mesmo a iconografia agora utilizada e as honras prestadas ao presidente evocam outros tempos, que muitos chineses julgavam ultrapassados e fazem temer pelo aumento da repressão, agora sustentada por uma tecnologia que faz a distopia “1984” parecer uma brincadeira de crianças. Xi tem igualmente promovido medidas de alcance social de mérito duvidoso. Recentemente, está a ser introduzido na China um regime de crédito social que classifica as pessoas de acordo com o seu comportamento, estabelecendo castigos e recompensas, implicando limitações na obtenção de emprego, nas deslocações pelo país e ao estrangeiro. Agora tudo conta para a pontuação: o que se come, o que se lê, quanto se trabalha, como e quem se namora, etc., etc.; tudo é controlado e classificado, finalmente atribuídas as recompensas ou os castigos, ao modo dos legistas, a corrente filosófica chinesa que mais aposta na centralização do poder e na governação pelo exercício da lei. Por outro lado, nunca como com Xi Jinping a China foi reconhecida internacionalmente, muito por efeito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que faz do país uma referencia incontornável no xadrez da economia mundial. Xi é obviamente um homem inteligente, filho de um herói da revolução, que gosta de citar a História e a Literatura nos seus numerosos discursos, que já constituem leitura obrigatória. Hoje fala-se no “Pensamento de Xi Jinping” como antes se falava no “Pensamento de Mao Zedong”, dele fazendo o guia para o que se chama de “Nova Era”, o momento de realização do povo chinês. “Nós somos os filhos do Dragão. Temos o cabelo negro e a pele amarela”, disse Xi Jinping, estimulando o nacionalismo chinês, que de momento substitui as delapidadas frases da ideologia comunista como cimento ideológico do povo. Apesar do desmembramento da União Soviética, em pleno processo de abertura na China, o PCC conseguiu manter o seu controlo da sociedade e permanece no poder, quando muito alvitraram com o inevitável a sua queda. Na China, as coisas acontecem à maneira chinesa e não doutra. 70 anos depois do advento da República Popular — da “dinastia vermelha” como alguns gostam de chamar — a China recuperou o seu lugar cimeiro entre as nações, tirou o seu povo da miséria física e intelectual e tornou-se numa importante potência económica e militar. Tudo isto foi conseguido à custa de muitos sacrifícios, não apenas de um povo abnegado, mas também de uma terra que hoje se vê semi-destruída pelos excessos capitalistas que pouco quiseram saber da ecologia. Tudo isto implicou a morte de milhões de pessoas, lutas fratricidas pelo poder, recuos e avanços constantes. E, sobretudo, a ausência de um bem que os chineses praticamente nunca conheceram ao longo da sua milenar História e a que nós insistimos dar o singelo nome de “liberdade”.
RPC, 70 anos | A revolução persistente Carlos Morais José - 30 Set 2019 O Parido Comunista trouxe a China do arado à sonda espacial, da miséria ao espavento tecnológico. 70 anos depois o país conhece o período de maior desenvolvimento da sua História e vê-se na contingência de erradicar a pobreza. Pelo caminho, ficam milhões de mortos e ideias moribundas. A China, como sempre, faz-se… à chinesa [dropcap]N[/dropcap]o dia 1 de Outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, ao microfone de um estrado montado em frente à Porta da Paz Celestial, a entrada para a Cidade Proibida, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. “Assim começa uma nova era na história da China. Nós, os quatrocentos e setenta e cinco milhões de chineses, finalmente levantámo-nos”, bradou o presidente. Pela praça acotovelavam-se mais de cem mil pessoas, ladeadas pela presença de edifícios imperiais e de delegações estrangeiras, que lembravam cruelmente os últimos 150 anos, nos quais a China, governada por uma administração imperial corrupta, se vira invadida e colonizada por potências estrangeiras, massacrada e dilacerada por várias guerras civis. O povo chinês retomava agora a sua nação e preparava-se para entrar numa nova era, cujos contornos, apesar de radicais na medida em que procuravam construir uma outra sociedade, não se encontravam ainda muito bem definidos. Pequim havia sido conquistada pelo Exército Vermelho em Janeiro de 1949 mas só em Março Mao Zedong visitou a capital, de forma discreta, pois o líder do Partido Comunista Chinês (PCC) não se sentia seguro e temia a intervenção de espiões estrangeiros. Ainda assim, ali não permaneceu longo tempo, tendo-se retirado para as chamadas Montanhas Perfumadas, a sudoeste da capital, onde montou o seu quartel-general durante até Outubro. E foi aí que preparou, em idílico cenário, condicente com a sua alma de guerreiro-poeta, o que viria a ser, nos anos seguintes, a governação da China nos anos seguintes. Entretanto, Deng Xiaoping e outros generais derrotavam, um pouco por todo o país, os restos do exército do Kuomitang, dito nacionalista, que aos poucos se refugiava em Taiwan. O fim de 150 anos de humilhações Com a ascensão do PCC ao poder e o fim da guerra civil, encerrava-se um capítulo desgraçado da história chinesa, no qual o grande império perdera o seu rumo, tendo sido humilhado por várias potências europeias (como em meados do século XIX, pela Inglaterra que fomentou a Guerra do Ópio, obrigando os chineses a comprar a droga, e exigindo a posse da ilha de Hong Kong) e asiáticas (como o Japão, que invadiu a China, perpetrou inúmeros massacres e estabeleceu mesmo um reino fantoche na Manchúria, encabeçado por Puyi, o último imperador da dinastia Qing, extinta em 1911). Agora tratava-se levantar o país e o seu povo, de alimentar e alfabetizar as massas e construir as fundações de uma sociedade socialista. Se Mao Zedong tivesse falecido até 1955 seria por certo considerado, quase sem mácula, um dos maiores homens do século XX. No dia 1 de Outubro de 1949, Mao tinha 56 anos e passado uma vida plena de sacrifícios, vergada aos rigores da guerra. Enquanto comandante militar, o agora presidente da República Popular dormia com as suas tropas e comia com elas, conquistando assim a sua devoção. Foram anos e anos de má comida, maus sítios para dormir e apenas água fervida para beber. Foi por isso enorme a diferença quando, depois da fundação da República, ocupou a sua casa em Zhongnanhai, o espaço destinado aos dirigentes, paredes meias com a Cidade Proibida. Era uma ala de um palácio mandado construir pelo imperador Kangxi, o segundo da dinastia Qing, conhecida como o Pavilhão do Crisântemo Perfumado. Em seu redor, reinava uma absoluta paz, um intenso silêncio, arredado apenas pelos trinados dos pássaros e o rumorejar do vento nos bambus, em contraste com o bulício característico das ruas da capital. Terá sido neste local que Mao Zedong tomou grande parte das decisões fundamentais para o desenvolvimento da China, sob a bandeira e as directivas do PCC. Aqui recebia os membros do seu governo e representantes estrangeiros. Contudo, agora que a guerra tinha acabado, começava a tarefa gigantesca de reconstruir um país completamente estilhaçado, basicamente agrícola, longe de possuir a estrutura económico-social necessária à construção da utopia comunista. Grandes saltos para o abismo Talvez inspirado por grande imperadores, nomeadamente pelo homem que pela primeira vez unificou a China em 221 a.E.C., Qin Huandi, Mao Zedong lançou o seu povo em grande trabalhos colectivos, estabelecendo metas produtivas e projectos de realização complicada. A verdade é que, em termos de economia e produção, as medidas do governo não pareciam estar a resultar. Em 1955, o Grande Salto em Frente e a campanha do aço revelaram-se um salto para o abismo, provocando o alastrar das fomes e causando a morte a muitos milhões de pessoas. Pelo fim dos anos 50, princípios de 60, grassava algum descontentamento entre as fileiras do PCC perante a ineficácia das medidas e dos projectos do Grande Timoneiro. Um dos que expressou a sua insatisfação foi Deng Xiaoping, incomodado com a catástrofe económica e alimentar que o país atravessava, também na medida em que compreendia que tais factos tornavam a China mais vulnerável às pressões externas do mundo ocidental que não via com bons olhos a revolução comunista. Mas Mao Zedong tinha outros planos. Ao sentir o poder escapar-lhe aos poucos, bem como a dissolução do seu próprio carisma, encetou o que viria a ser conhecido como Revolução Cultural. Mao atribuía as desgraças ocorridas aos burocratas e aos intelectuais, que ainda sofreriam de influências burguesas. Para ele, o poder devia ser entregue aos operários e aos estudantes, as verdadeiras forças revolucionárias. A revolução devia ir mais longe no apagar do passado e das doutrinas reaccionárias. A tradição confucionista, por exemplo, devia ser considerada algo pertencente ao antigo regime feudal e totalmente apagada. Neste sentido, o Estado e o Partido sobrepunham-se à família e aos valores de piedade filial. O fascínio europeu Entretanto, na Europa as esquerdas encontravam-se decepcionadas como rumo da União Soviética. Surgia o primeiro euro-comunismo de Enrico Berlinguer, em Itália, e de George Marchais, em França. Dada a proximidade dos países além da Cortina de Ferro, era mais fácil aos europeus darem conta dos atrocidades e da inoperância dos regimes com influência soviética, nomeadamente devido ao excessivo peso do Estado e das suas burocracias. Por isso, a Revolução Cultural chinesa, observada à distância e através dos seus slogans, parecia a saída genial, possível e desejável para atenuar o poder centralizado dos burocratas, entendidos como uma nova classe dentro do estados socialistas. Mao Zedong tornou-se a grande referência da esquerda europeia que não alinhava com os partidos comunistas satélites da União Soviética, nem com a brandura das posição dos euro-comunistas. Era então comum ver nas manifestações, nomeadamente no Maio de 68, o “livrinho vermelho”, com as citações de Mao Zedong, ser empunhado como bandeira da revolução a haver e como farol para a aplicação de medidas revolucionárias. Na primeira metade dos anos 70, alguns intelectuais franceses de nomeada como Philippe Solers, Roland Barthes, Julia Kristeva, entre outros, visitaram a China, a convite do governo, para assistirem às maravilhas da Revolução Cultural. Foi-lhes explicado, entre outros aspectos, como fora destruída a ópera tradicional, repleta de “temas feudais e burgueses”, e substituída pela Nova Ópera, de feição revolucionária. O resultado não foi unânime. Se alguns se deixaram impressionar pelos “progressos sociais”, outros suspeitaram de um país onde todos se vestiam de igual e recitavam a mesma cartilha. A revista “Chine”, da Tel Quel, publicada em 1972, e os “Cadernos da China”, de Roland Barthes, são um bom exemplo desta ambiguidade e estranheza experimentada no confronto directo com a realidade da China da Revolução Cultural. Outro é o filme-documentário de Michelangelo Antonioni “Tchong-Kuo”, que não deixou o realizador italiano de boas relações com as autoridades de Pequim. Entretanto, desde 1966, ano em que foi lançada a Revolução Cultural, que dezenas de milhões de pessoas haviam sido perseguidas, humilhadas, deportadas para campos de trabalho e assassinadas. As crianças eram estimuladas a denunciar os pais, os subalternos a denunciar os seus superiores, aos Guardas Vermelhos, uma espécie de milícias populares que exerciam um poder violento localmente. Muitos professores, médicos, engenheiros, artistas, escritores foram despedidos, numa ânsia de afirmação do “saber revolucionário” como o único a considerar. Os excessos foram mais que muitos e atingiram limites que deixaram uma marca indelével na sociedade chinesa. Um deles — e talvez um dos mais significativos — passa pelo apagamento da memória colectiva de valores, hábitos e procedimentos. A Revolução Cultural, erigindo Mao e o PCC como as grandes referências, excluía, ao mesmo tempo, milénios de cultura chinesa, com as suas práticas tradicionais enraizadas. Há mesmo quem diga que, paradoxalmente, foi este apagamento das antigas práticas e valores, proporcionado pela Revolução Cultural, que permitiu a rápida instalação do capitalismo na China, a partir dos anos 80 do século passado. Entretanto, o poder do chamado Bando dos Quatro, os grandes mentores do regime, ia-se esboroando e atingiu o seu ocaso com a morte de Mao Zedong em 1976. Assistiu-se então à rápida ascensão de quantos se haviam oposto aos excessos maoístas e, apesar disso, sobrevivido. À frente de todos, estava Deng Xiaoping. Deng, o arquitecto insaciável Talvez ainda mais do que Mao Zedong, com certeza de forma mais discreta, Deng Xiaoping é o líder chinês mais importante da segunda metade do século XX, que lança o país no caminho da abertura, reformas e prosperidade. Nascido em 1904, numa aldeia poeirenta da província de Sichuan, em família relativamente abastada e cedo dando provas de rara inteligência, Deng viera para a cidade de Chonqing com apenas 12 anos, na companhia de um tio paterno, onde estudou sob a alçada de um velho revolucionário chamado Wu Yazhang, que preparava jovens chineses para programas de estudo em França. Na verdade, tratava-se de uma iniciação às actividades revolucionarias. Apesar das dificuldades que passou nesse período, a estada em França revelar-se-ia crucial para o jovem Deng. Paris fervilhava de actividades conspirativas e revolucionarias, numa Europa que conhecia a megalomania e a loucura de um primeiro pós-Guerra. Aí conheceu o que viria a ser o grande líder vietnamita Ho Chi Min e, sobretudo, Zhou En Lai, em cujo apartamento chegou a morar. Deng acabaria por aderir ao PCC, ainda em Paris, em 1925. De regresso à China em 1926, Deng inicia uma longa carreira militar. Os comunistas viviam tempos difíceis, tremendamente abalados pelo massacre ocorrido em Xangai em 1927, por ordem de Chiang Kaishek. Também o PCC apresentava, na altura uma profunda divisão entre os que entendiam seguir os ditames soviéticos, emanados por Estaline, e outros que entendiam ser chinesa a solução para a China. Neste aspecto, Deng concordava com Mao: ambos consideravam que primeiro era fundamental conseguir o domínio dos campos e a boa vontade dos camponeses e só depois vinham as cidades. Só que era precisamente nas grandes cidades que estavam instalados os grandes dirigentes do partido, que tinham apoio financeiro e ideológico de Moscovo. E as ordens russas eram claras: primeiro havia que conquistar as cidades. Ora Deng sabia que este seria um erro fatal e continuou o seu trabalho na província. Fundamentalmente, tratava-se de ir pela província fora, pelas montanhas, pelas veredas de difícil acesso, politizar os camponeses e trazê-los para o combate. Em 1933, teve de responder a uma comissão de inquérito do partido. Não se tratava bem de responder mas de ouvir acusações e acabou por ser preso e exilado em Nancum, um lugar distante dos centros de decisão comunistas. Contudo, este seu primeiro exílio durou muito pouco tempo já que as tácticas dos comunistas apoiados por Moscovo conduziram o partido de derrota em derrota, até que em 1934 os militares que rodeavam Mao Zedong acharam que ra tempo de dizer basta. E disseram-no: na conferencia de Zunyi, em Janeiro de 1935, Mao foi eleito dirigente máximo do partido. Este momento marcou a primeira recuperação de Deng depois da sua primeira grande queda e o seu regresso às frentes de batalha. Aí revelou-se um grande senhor da guerra. Foi ele quem derrotou os mais importantes contingentes do Kuomitang, o que lhe valeu na altura os mais rasgados elogios de Mao, que o destacou para a frente Oeste, onde obteve grandes sucessos militares. Em 1952, Mao mandou-o voltar a Pequim para ocupar um lugar de primeira linha: vice-primeiro-ministro, encarregado de questões administrativas e económicas. Em 1954, era eleito secretário-geral do partido. Seguiu-se um período de grande convulsão interna no PCC. A culpa era em grande parte de Maio Zedong, que veio a revelar-se um dirigente bastante fraco do ponto de vista estratégico-económico e mesmo ideológico. Obcecado com a luta de classes, lançou várias purgas para eliminar o que chamava de elementos “burgueses” no aparelho do partido e no Estado. “Comunismo não é pobreza” O primeiro choque relativamente entre os dois líderes ocorreu em 1960, por ocasião de uma grave crise económica na China. A indústria não funcionava, o comércio encontrava-se paralisado e tinha cessado a ajuda soviética. Pior: os alimentos escasseavam e o povo preparava-se para enfrentar a fome. Deng não esteve com meias medidas: mandou comprar seis milhões de toneladas de trigo no mercado mundial e pagou-as com o dinheiro dos delapidados cofres estatais. Mao espumou. Ainda por cima, o trigo fora pago com divisas estrangeiras. Tomou a medida como um passo atrás na direcção do capitalismo. Deng calmamente respondeu que “comunismo não é pobreza”. E não se ficou por aqui: em 1961, perante o comité central, sai-se com esta: “Qualquer ideia que tenha sido levada em frente e já não sirva, deve ser rectificada. Não importa quem a tenha criado”, numa clara referencia a Mao. E continuou com a célebre frse: “Não importa se o gato seja branco ou preto. Se apanhar o rato, é um gato.” Era demasiada a ousadia. Mao começou a referir, em público e em privado, que alguns membros do partido queriam fazer entrar o país na estrada do capitalismo. Sentia que o poder lhe escapava das mão e resolveu tomar medidas “totais”, como ele gostava. Foi o início da Revolução Cultural, à qual Deng não escapou. Desterrado com a sua mulher para a província de Jiangxi, com residência fixa, sem direito a comunicar com o exterior e sem qualquer espécie de salário. Quem sofreu mais severamente foi o seu filho mais velho, estudante da universidade de Pequim. Os Guardas vermelhos prenderam-no e torturaram-no para o obrigar a confessar a traição do pai. Deng Pufang afirma não se lembrar exactamente do sucedido mas, depois de ter sido brutal e sucessivamente espancado, acabou por ser atirado de uma janela e ficou inválido para toda a vida. Na aldeia onde nasceu, tudo o que se relacionava com os Deng foi destruído, incluindo os pertences de outros membros da família que há muito não sabiam dele. Com a morte do seu inimigo Lin Biao, em 1971, Deng escreveu a Mao, propondo-lhe regressar ao trabalho. Quem lhe respondeu foi Zhou Enlai, que nunca deixara de ser seu amigo, informando-o de que era necessária uma carta dirigida a Mao, uma autocrítica severa. Deng escreveu-a. Em 1973, tomava posse como vice-primeiro-ministro, ao lado de Zhou. Em 1975, Zhou Enlai apresentava um programa de modernização, sem referências ideológicas, contra a estagnação económica. Ali estava o projecto de Deng para uma nova China até ao ano 2000. Agora tudo se jogava na sucessão, quer de Mao quer de Zhou, ambos moribundos. O Bando dos Quatro e Jiang Qing, a mulher de Mao, reunia as suas forças e aguardava a hora fatal. As suas relações com Deng estavam completamente deterioradas. Ela chegou a insultá-lo em pleno Politburo, até que ele bateu com a mão na mesa, farto das suas gritos e imprecações. Voltou-lhe as costas e deixou-a a arengar sozinha. Entretanto, ia arranjando os apoios certos, nomeadamente entre os militares que o consideravam um deles. Um ano depois da morte de Mao, com o Bando dos Quatro na cadeia, Deng voltava ao poder e lançava as reformas que só duas décadas mais tarde se mostrariam consolidadas. A este pequeno homem, fumador inveterado e grande jogador de bridge, foi destinado o papel de arquitecto da China moderna, incluindo o princípio “um país, dois sistemas”, que contextualiza o regresso à Pátria de Hong Kong e Macau. A ele se deve a abertura económica, o estabelecimento da propriedade privada e da economia socialista de mercado, na qual se usufrui de liberdades económicas, sob a direcção do PCC. Sob a sua batuta, a China encetou o caminho da modernização e do crescimento que havia de a catapultar ao topo das potências mundiais, só ultrapassada pelos EUA. Abertura sem retorno Claro que não se tratou de um caminho linear e sem sobressaltos. Toda a década de 80 assistiu, entre o arrancar das medidas reformistas, à existência de uma luta no interior do PCC entre os que eram pró-reformas e os que as temiam, na medida em que tal poderia significar o fim do controlo do partido. O cúmulo deste combate foi atingido em 1989, durante as manifestações da Praça Tiananmen, os acontecimentos que ensombraram a parte final do consulado de Deng. Face aos protestos, Deng chegou à conclusão que só a repressão poderia impedir o país de cair no caos. E para tanto não se importou de sacrificar o seu favorito Zhao Zyiang e de ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes. Muitos temeram, no pós-Tiananmen, pelo fim das reformas e na marcha-atrás da abertura da sociedade chinesa. Mas o impulso dado por Deng era, basicamente, imparável. Em 1992, num congresso crucial na medida em que pouco tempo passara e pouco fora esclarecido, o então presidente Jiang Zemin anuncia claramente dois aspectos: a continuação das reformas económicas e o reforço do papel do partido. Ou seja, para Jiang, não existe contradição entre uma economia de mercado e a planificação estatal. Ambas podem ocorrer em paralelo. A diferença é que, a partir de agora, as empresas estatais passam a estar inseridas no mercado e a jogar pelas suas regras, tecendo a sua sobrevivência aos sabor das leis económicas. Com Jiang Zemin e, sobretudo, com o primeiro-ministro Zhu Rongji, a China entra decisivamente no mundo capitalista e na economia de mercado, impondo reformas atrás de reformas, cujo resultado está à vista de todos. Em muito pouco tempo, a China obteve um crescimento exponencial, aumentou o seu PIB e as exportações de uma forma radical, nunca antes vista na História. Deslocando pessoas dos campos para as cidades, modernizando a agricultura, fomentando as indústrias e os serviços, o governo chinês levantou de forma considerável o nível de vida do povo e viu-se na posse de fluxos de capital inimagináveis umas décadas atrás. A China tornava-se num dos países mais poderosos do mundo, não apenas graças ao tamanho da sua população, aos meros números, mas sobretudo em aspectos económicos e militares. A Jiang Zemin e a Zhu Ronji sucederam Hu Jintao e Wen Jiabao, que prosseguiram no caminho das reformas e abertura económicas, solidificando o papel da China no panorama internacional. Agora membro da Organização Mundial de Comércio e de outras instituições internacionais de relevo, a China começa a desempenhar o papel de superpotência pelo modo como a sua influência se espalha pelo mundo. E agora, para onde vamos, dr. Xi? Deng considerara que a eternização dos líderes no poder era contraproducente e para o evitar introduzira na constituição uma regra segundo a qual o presidente poderia apenas cumprir dois mandatos, tendo obrigatoriamente de dar o poder a outros. Esta regra teve um efeito profundo na psicologia do PCC pois possibilitava a permanência da esperança para os que não se encontravam, num dado momento, no poder. No seio do partido, as facções alinhavam-se, como se de subpartidos internos se tratassem, no sentido de disputar as cadeiras de 10 em 10 anos. No entanto, com a subida ao poder de Xi Jinping esta regra foi alterada. A China tem agora um líder diferente dos que sucederam a Deng Xiaoping. Xi pretende uma maior centralização do poder, uma maior influência do PCC a todos os níveis da sociedade e identificou os dois pólos de conflito na China de hoje: segundo o presidente, hoje a grande contradição que urge resolver é o fosso crescente entre ricos e pobres, que o desenvolvimento capitalista proporcionou. Esta distância entre as pessoas, entre litoral e interior, é a causa de desarmonia no país e tem de ser debelada. Para levar a cabo a resolução deste problema, Xi encetou uma gigantesca campanha anti-corrupção e estabeleceu a meta de 2020 para erradicar a pobreza. Contudo, além de ter eliminado a limitação de mandatos, o que faz prever a sua continuação em 2023, Xi Jinping tem desenvolvido um estilo que lembra o culto pessoal que foi dedicado a Mao e que tanto horrorizara Deng. Mesmo a iconografia agora utilizada e as honras prestadas ao presidente evocam outros tempos, que muitos chineses julgavam ultrapassados e fazem temer pelo aumento da repressão, agora sustentada por uma tecnologia que faz a distopia “1984” parecer uma brincadeira de crianças. Xi tem igualmente promovido medidas de alcance social de mérito duvidoso. Recentemente, está a ser introduzido na China um regime de crédito social que classifica as pessoas de acordo com o seu comportamento, estabelecendo castigos e recompensas, implicando limitações na obtenção de emprego, nas deslocações pelo país e ao estrangeiro. Agora tudo conta para a pontuação: o que se come, o que se lê, quanto se trabalha, como e quem se namora, etc., etc.; tudo é controlado e classificado, finalmente atribuídas as recompensas ou os castigos, ao modo dos legistas, a corrente filosófica chinesa que mais aposta na centralização do poder e na governação pelo exercício da lei. Por outro lado, nunca como com Xi Jinping a China foi reconhecida internacionalmente, muito por efeito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que faz do país uma referencia incontornável no xadrez da economia mundial. Xi é obviamente um homem inteligente, filho de um herói da revolução, que gosta de citar a História e a Literatura nos seus numerosos discursos, que já constituem leitura obrigatória. Hoje fala-se no “Pensamento de Xi Jinping” como antes se falava no “Pensamento de Mao Zedong”, dele fazendo o guia para o que se chama de “Nova Era”, o momento de realização do povo chinês. “Nós somos os filhos do Dragão. Temos o cabelo negro e a pele amarela”, disse Xi Jinping, estimulando o nacionalismo chinês, que de momento substitui as delapidadas frases da ideologia comunista como cimento ideológico do povo. Apesar do desmembramento da União Soviética, em pleno processo de abertura na China, o PCC conseguiu manter o seu controlo da sociedade e permanece no poder, quando muito alvitraram com o inevitável a sua queda. Na China, as coisas acontecem à maneira chinesa e não doutra. 70 anos depois do advento da República Popular — da “dinastia vermelha” como alguns gostam de chamar — a China recuperou o seu lugar cimeiro entre as nações, tirou o seu povo da miséria física e intelectual e tornou-se numa importante potência económica e militar. Tudo isto foi conseguido à custa de muitos sacrifícios, não apenas de um povo abnegado, mas também de uma terra que hoje se vê semi-destruída pelos excessos capitalistas que pouco quiseram saber da ecologia. Tudo isto implicou a morte de milhões de pessoas, lutas fratricidas pelo poder, recuos e avanços constantes. E, sobretudo, a ausência de um bem que os chineses praticamente nunca conheceram ao longo da sua milenar História e a que nós insistimos dar o singelo nome de “liberdade”.
França | Jacques Chirac, antigo presidente, morre aos 86 anos Hoje Macau - 27 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da França Jacques Chirac morreu ontem, aos 86 anos, anunciou o seu genro, Frédéric Salat-Baroux. “O Presidente Jacques Chirac morreu esta manhã pacificamente e acompanhado pela sua família”, disse Salat-Baroux, marido da filha mais nova de Chirac, Claude. Chefe de Estado de França entre 1995 e 2007, Jacques Chirac teve uma das carreiras políticas mais longas da Europa, ao completar 40 anos em diversas posições políticas, incluindo cargos como Presidente da República, primeiro-ministro, vice-ministro, presidente da câmara de Paris e líder do partido. O antigo Presidente de França, que há vários anos não aparecia em público, sofria de perda de memória, possivelmente causada por uma forma da doença de Alzheimer ou um derrame que teve enquanto estava na Presidência. Jacques Chirac conseguiu conquistar a Presidência francesa em 1995, depois de duas candidaturas sem sucesso (em 1981 e em 1988). A Assembleia Nacional e o Senado francês fizeram um minuto de silêncio assim que foi conhecida a notícia da morte do antigo Presidente, figura importante da direita no país.
França | Jacques Chirac, antigo presidente, morre aos 86 anos Hoje Macau - 27 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da França Jacques Chirac morreu ontem, aos 86 anos, anunciou o seu genro, Frédéric Salat-Baroux. “O Presidente Jacques Chirac morreu esta manhã pacificamente e acompanhado pela sua família”, disse Salat-Baroux, marido da filha mais nova de Chirac, Claude. Chefe de Estado de França entre 1995 e 2007, Jacques Chirac teve uma das carreiras políticas mais longas da Europa, ao completar 40 anos em diversas posições políticas, incluindo cargos como Presidente da República, primeiro-ministro, vice-ministro, presidente da câmara de Paris e líder do partido. O antigo Presidente de França, que há vários anos não aparecia em público, sofria de perda de memória, possivelmente causada por uma forma da doença de Alzheimer ou um derrame que teve enquanto estava na Presidência. Jacques Chirac conseguiu conquistar a Presidência francesa em 1995, depois de duas candidaturas sem sucesso (em 1981 e em 1988). A Assembleia Nacional e o Senado francês fizeram um minuto de silêncio assim que foi conhecida a notícia da morte do antigo Presidente, figura importante da direita no país.
AL | Comissão Eleitoral aprovou candidatura única de empresário Wong Sai Man João Santos Filipe - 27 Set 2019 [dropcap]A[/dropcap] lista da União dos Interesses Empresariais de Macau, que conta com um único candidato, Wong Sai Man, foi aceite pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). A informação foi revelada ontem pelo presidente, Tong Hio Fong, após uma reunião para analisar as candidaturas. Wong Sai Man é o único candidato ao lugar deixado em aberto na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng, uma vez que não houve mais nenhuma lista a apresentar-se à eleição suplementar pela via indirecta. “Até à presente data recebemos apenas uma lista de candidatura, da União dos Interesses Empresariais de Macau. Recebemos a lista de candidatura e o programa político. Já verificámos a regularidade destes dois documentos e verificámos que o candidato Wong Sai Man foi aceite”, afirmou Tong Hio Fong, após a reunião. A decisão foi publicada, ontem, no Edifício da Administração Pública logo após o encontro e haverá agora um período de três dias para haver recurso da decisão. A mesma passa a definitiva no dia 3 de Outubro se não houver qualquer contestação. Wong Sai Man é empresário, membro do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e vice-presidente da Associação Industrial de Macau. À espera de votantes Com as eleições marcadas para 24 de Novembro, as 107 pessoas colectivas que podem participar no acto eleitoral têm até 10 de Outubro para tratarem das formalidades. Entre as condições necessárias consta a nomeação dos 22 membros que votam pelas associações. Porém, até ontem, apenas cerca de 21 por cento das associações tinha entregue os papéis para tratar do direito ao voto. Estes números levaram Tong Hio Fong a apelar às associações para que entregue a lista dos votantes. “De acordo com a Lei Eleitoral, dentro das 107 pessoas colectivas votantes, cada uma pode apresentar o máximo de 22 votos. Até à presente data recebemos 26 listas votantes entre 107 pessoas colectivas”, começou pro dizer sobre este assunto. “Apelo a todas as pessoas colectivas para que entreguem as listas de votantes dentro do prazo, isto é, antes de 10 de Outubro”, afirmou Tong. A campanha eleitoral para empresários decorre entre 9 de Novembro e 22 de Novembro.
AL | Comissão Eleitoral aprovou candidatura única de empresário Wong Sai Man João Santos Filipe - 27 Set 2019 [dropcap]A[/dropcap] lista da União dos Interesses Empresariais de Macau, que conta com um único candidato, Wong Sai Man, foi aceite pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). A informação foi revelada ontem pelo presidente, Tong Hio Fong, após uma reunião para analisar as candidaturas. Wong Sai Man é o único candidato ao lugar deixado em aberto na Assembleia Legislativa por Ho Iat Seng, uma vez que não houve mais nenhuma lista a apresentar-se à eleição suplementar pela via indirecta. “Até à presente data recebemos apenas uma lista de candidatura, da União dos Interesses Empresariais de Macau. Recebemos a lista de candidatura e o programa político. Já verificámos a regularidade destes dois documentos e verificámos que o candidato Wong Sai Man foi aceite”, afirmou Tong Hio Fong, após a reunião. A decisão foi publicada, ontem, no Edifício da Administração Pública logo após o encontro e haverá agora um período de três dias para haver recurso da decisão. A mesma passa a definitiva no dia 3 de Outubro se não houver qualquer contestação. Wong Sai Man é empresário, membro do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e vice-presidente da Associação Industrial de Macau. À espera de votantes Com as eleições marcadas para 24 de Novembro, as 107 pessoas colectivas que podem participar no acto eleitoral têm até 10 de Outubro para tratarem das formalidades. Entre as condições necessárias consta a nomeação dos 22 membros que votam pelas associações. Porém, até ontem, apenas cerca de 21 por cento das associações tinha entregue os papéis para tratar do direito ao voto. Estes números levaram Tong Hio Fong a apelar às associações para que entregue a lista dos votantes. “De acordo com a Lei Eleitoral, dentro das 107 pessoas colectivas votantes, cada uma pode apresentar o máximo de 22 votos. Até à presente data recebemos 26 listas votantes entre 107 pessoas colectivas”, começou pro dizer sobre este assunto. “Apelo a todas as pessoas colectivas para que entreguem as listas de votantes dentro do prazo, isto é, antes de 10 de Outubro”, afirmou Tong. A campanha eleitoral para empresários decorre entre 9 de Novembro e 22 de Novembro.
Macau, a pacífica Paul Chan Wai Chi - 27 Set 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde o passado mês de Junho que se assiste a uma escalada dos tumultos e do caos em Hong Kong. O número de turistas do Continente tem vindo a decrescer significativamente e todas as actividades relacionadas com o turismo se têm ressentido bastante com o ambiente em que cidade mergulhou. Recentemente viajei até Lantau através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Na ilha fiz um passeio de teleférico na zona de Tung Chung, habitualmente cheia de turistas. Desta vez não precisei de esperar na fila, não havia assim tanta gente. Em Macau, a calma continua e a afluência de visitantes mantém-se. A Direcção dos Serviços de Turismo prevê um aumento do fluxo de turismo de 10% a 15% nos feriados do Dia Nacional da China, no próximo dia 1 de Outubro. De qualquer forma, alguns analistas alertaram para o perigo de um decréscimo económico em Macau, que se ficaria a dever à redução do fluxo de turistas continentais que chegam à cidade vindos directamente de Hong Kong. Mas, para já, é preciso estarmos atentos e esperar pelos desenvolvimentos da situação. Os orgãos de comunicação social de Macau, bem como as redes sociais, vão apresentando análises muito diversas dos acontecimentos. E, para além de uma ou outra pessoa com um discurso mais radical, o cibermundo de Macau apresenta-se calmo, à margem de qualquer campo de batalha. Embora nas duas cidades vigore o princípio “Um País, Dois Sistemas”, vive-se em cada uma delas climas políticos muito diversos. Poderíamos dizer que em Macau a temperatura está regulada para o “morno” e em Hong Kong o botão encontra-se no ponto “em ebulição”. Vale a pena reflectir um pouco no motivo das diferenças. Hong Kong é uma cidade cosmopolita e o terceiro maior centro financeiro do mundo. É considerada a porta de circulação do capital chinês para fora do país. Em termos legais beneficia de vantagens únicas, ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas”, sobre sua “rival” Shenzhen. É evidente que a China continental compreende a importância de Hong Kong. Vinte anos após o regresso à soberania chinesa, o fluxo financeiro entre Hong Hong e a China ainda é inferior ao fluxo financeiro com o exterior. Na sequência da erradicação dos motins esquerdistas de 1967, e após Tiananmen, os sectores políticos de Hong Kong têm sido relativamente sólidos e independentes. A prosperidade e estabilidade que se têm vivido na cidade desde o regresso à soberania chinesa, devem-se, não só à intervenção da China, mas também ao extraordinário desempenho dos funcionários públicos herdados da administração britânica e ao enraízado respeito pelo Estado de Direito, o que gera confiança a nível local e internacional. É lamentável que este equilíbrio se tenha quebrado quando Leung Chun-ying se tornou Chefe do Executivo de Hong Kong, e que tenha piorado quando Carrie Lam lhe sucedeu, porque ela é uma pessoa que não abdica da sua posição. O “Movimento Contra a Lei de Extradição” é um fenómeno local. Contudo, teve lugar no período das negociações comerciais sino-americanas, o que veio complexificar toda a situação. Carrie Lam lidou com a situação como se estivesse a “dar uns açoites no filho mal comportado”. As forças da ordem deixaram de ser politicamente neutras para se transformarem em Forças de Intervenção destinadas a esmagar os motins e acabar com a violência. Há quem afirme que Hong Kong é um campo de batalha onde se degladiam oito “exércitos”, os manifestantes, as forças da ordem, as tríades, o campo pró-governamental, o campo pró-democracia, o Governo local, o Governo Central e a população em geral. Teria sido necessário ter à frente do Executivo de Hong Kong alguém politicamente muito inteligente e tolerante para gerir todos esses interesses e equilibrar a balança. No entanto, Carrie Lam foi abertamente contra a criação de uma Comissão Independente para avaliação dos danos. E sem uma solução de compromisso, as ideologias de extrema-esquerda foram alastrando pela cidade. Os conflitos entre as duas forças foram escalando e os meios a que cada um dos lados recorreu para alcançar os seus objectivos extremaram-se cada vez mais, até a situação ficar fora de controle. A fim de sintetizar a experiência da Revolução Cultural, Deng Xiaoping disse um dia, “A China deve impedir os avanços da Direita, mas sobretudo combater os avanços da Esquerda”. Esta máxima aplica-se na perfeição aos actuais acontecimentos de Hong Kong. Em Macau, a única cidade-casino legítima da China continental, as taxas do jogo passaram a ser garantia do desenvolvimento económico. Além disso, a dependência da cidade do turismo e do investimento estrangeiro retiraram-lhe a capacidade de produzir um pensamento e uma acção independentes. Ao longo das duas décadas após o regresso à soberania chinesa, os Chefes do Executivo de Macau, usaram recorrentemente o “Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico” para manter a população satisfeita e o mesmo fará Ho Iat Seng, o próximo responsável pela cidade, a fim de garantir a estabilidade e manter a paz. Não temos de nos preocupar com a presente situação de Hong Kong, porque existe um ditado chinês muito antigo que diz o seguinte: “a seguir ao caos virá um período de grande pacificação”. No entanto, não devemos confiar demasiado na continuação da paz em Macau, porque o desastre que nos trouxe o super tufão “Hato” ensinou-nos a estar preparados para o perigo, mesmo em tempos de paz.
Ilegalidades Andreia Sofia Silva - 27 Set 2019 [dropcap]O[/dropcap] relatório relativo à consulta pública sobre a revisão da lei do trânsito rodoviário espelha bem a situação caótica com que todos os dias se deparam os condutores. Isso porque a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) há muito que deseja aumentar as multas por estacionamento ilegal, mas os resultados mostram que, pela vontade da população, tal não deveria acontecer. Mais de metade dos inquiridos mostram-se contra o aumento de multas por estacionamento ilegal ou por paragens em sítios proibidos, entre outros casos. E perguntam aqueles que não vivem em Macau: “O quê? As pessoas querem continuar a pagar o mesmo quando deixam o seu carro num sítio onde é proibido estacionar?”. Sim, porque não há alternativa. Nunca conduzi em Macau e sempre me desloquei a pé ou de autocarro, mas questiono-me como é possível andar todos os dias de carro quando não há grandes alternativas de estacionamento a não ser…os sítios proibidos, nem que seja por breves minutos, para deixar o filho na escola ou para ir buscar a roupa à lavandaria. Estas respostas deveriam fazer soar o alarme às autoridades que, imagino, bem gostariam de ter espaço à disposição para criar mais lugares e parques de estacionamento. Espero que com os novos aterros se criem soluções para um território que não pára de crescer, muito mais em termos populacionais do que ao nível da dimensão do território.
Olá mãe! Gisela Casimiro - 27 Set 2019 [dropcap]T[/dropcap]alvez esteja quase a entrar no chamado inferno astral, como todos os bons aniversariantes, cerca de um mês antes da dita efeméride, talvez seja deste tempo que no mesmo dia muda várias vezes do azul para o cinzento, talvez seja do adiantado da hora e de Setembro. O ano termina daqui a três meses, Junho despediu-se sem que mal o tenhamos vislumbrado (num ano em que voltámos a ter frio nos Santos Populares) e não estou certa de que Maio, até agora o meu mês preferido, tenha chegado a terminar. Os dias 25 parecem, em geral, bons para a independência. Tendo vivido algum tempo com duas pessoas cuja formação de base é da área da psicologia, habituei-me a ouvir as suas histórias caricatas dos tempos lá passados, mas sobretudo a usar a expressão “Fazer as malas e bazar para Moçambique”, usada por uma dessas amigas para descrever a sua hilariante fuga para longe de uma relação. É a primeira vez que volto a um país onde não faço parte da minoria, um sentimento indescritível a não ser pelo meu sorriso. Nunca aqui estive mas, como denota um amigo, sinto-me em casa tão imediatamente que nem consigo tirar fotografias. As primeiras, envio à minha irmã, precisamente por saber que ela vai reconhecer a descrição que faço, não se parecessem estes bairros com os da cidade em que crescemos. Quando aqui chego, e durante os próximos dias, observo sempre, em algum momento, borboletas à minha volta. Não me transformo nelas, nem são amarelas, mas alegram-me. Tudo faz sentido neste sortido de cores vibrantes e escritos curiosos, desde os avisos para não fazer xixi (o equivalente aos não escarrar para o chão de Macau) ao conselho Moçambicanos, não troquem o pão por doces, ao meu novo mantra, encontrado no Mafalala: Caiu mas vai levantar. É a primeira vez que me chamam mãe, embora não a primeira em que me confundem com a de alguém. É, também, o dia da mãe. No segundo dia, saio do hotel assim que o cansaço da viagem permite, e deambulo durante cinco horas pelas ruas de Maputo. Os moçambicanos são conversadores, simpáticos, práticos, curiosos, prestáveis. São campeões de vendas: de manhã à noite, estão em constante negociação. Caju, amendoim, brincos, estátuas, flores. Muitas flores, porque são um povo absolutamente romântico. Enquanto espero para almoçar, aparece mais um. Tem um produto verdadeiramente único, em madeira, quase do seu tamanho, para me apresentar: África. A vida dispensa metáforas. Na Avenida Marginal, faço amizade com dois polícias, homem e mulher. Um desportista alerta-me de que nem todos os que por ali caminham são bem-intencionados. Por falar em desportistas, quase me junto a uma aula ao ar livre. O sol nasce e põe-se tão cedo aqui que pelas dez já me sinto como se fosse uma da tarde. O ninho do tecelão parece um coração invertido. Não muito longe de onde o Carlos apanha um para me mostrar, numa loja, na praia, assistimos a um concerto de tear, tocado por um rapaz que mal o larga para nos vender inconfundíveis sacos coloridos. Ao regressar pela reserva, os animais que não se manifestaram durante a vinda proporcionam-nos o melhor momento do dia: macacos, gazelas, girafas. É outra vez sábado. Só estou aqui há uma semana? Ficaram-me a Vanessa, a Ana Mafalda, a Estela, o Mbate, o Ondjaki, o Valter, a Carmen, o Patraquim, o Mendonça, o Pignatelli, o Carlos, a Énia e tantos outros resilientes. Ficou-me a Teresa vestida de branco, naquela última manhã de domingo. A foto da Luna de que só se lhe vê o cabelo luminoso, no banco de trás do carro, no dia em que fomos dar um mergulho à Ponta do Ouro. Uma outra, da Jade, deitada ao comprido no sofá, descalça, pé direito enroscado no esquerdo, livro na mão como tantas vezes esta família parece andar. Jade com a gata ao colo, Jade a comer queijo deliciada, Jade a explicar-nos o mundo e a ralhar ao pai à mesa, em conversas divertidíssimas. Ficou-me o Cabrita à janela, em modo despedida, talvez ainda a lamentar as flores vermelhas das acácias que não coincidiram o seu tempo com o meu, enquanto a Sónia vem de casa da irmã, do outro lado da rua, e me dá mais um livro e uns quantos abraços. Ficou-me a doce Hirondina, que conheci em Macau e a Keysha, essa miúda maravilhosa, tão jovem, mãe de uma menina que fez um ano daí a dias. Volto para Portugal mais pesada, e não é só dos livros, ou não tivéssemos comido e bebido à fartazana. Volto com mais um sonho realizado. Volto com um verso do Craveirinha, “O que há a fazer sou eu que tenho de o consumar.” Ficou-me o clássico “africano a tentar convencer outro a transportar-lhe qualquer coisa numa viagem intercontinental”, neste caso duas mulheres que se me dirigem, uma delas passageira e a outra embaladora de malas com película aderente no aeroporto. Ficou-me o comerciante que ameaçou atirar-me à água quando fotografei a sua loja sem reparar que ele estava lá dentro, as fotos desfocadas de estranhos nos my love ao pôr-do-sol e essa saudação tão bonita que se ouve em todo o lado. Olá amiga, olá mãe.
Art Pepper, esquecimento e profanação José Navarro de Andrade - 27 Set 2019 [dropcap]C[/dropcap]onsidera-te desafiado a interromperes a leitura desta crónica após o 1º parágrafo e a ela só voltares depois de ouvires a música de Art Pepper. Mas por favor, ouve-o com a cabeça e não só com as orelhas se dela quiseres tirar prazer e proveito. Guarda um bom par de horas dedicadas aos clássicos “Art Pepper Meets the Rhythm Section” e “Art Pepper + Eleven” de 1957 e 1960, ou ao derradeiro “Goin’ Home” de 82 para desfazer dúvidas remanescentes. Voltaste? Caso estejas livre dos imperativos da actualidade e andes disposto a tornar presente o que as convenções dão como passado, ou caso ainda te reste um módico de curiosidade pelo que está fora do raio de alcance dos hábitos, concordarás que foste gratificado por uma música descomprometida e solar, fresca e salgada como uma brisa marinha, animada mesmo quando não é festiva. Isto posto caberá chamar agora a tua atenção para o livro “Straight Life” a autobiografia de Art Pepper e o que ela em linha secante à tua esfera diz dos tempos actuais, embora tenha sido publicada em 1979, 3 anos antes da morte do saxofonista. Em contraste com a claridade transmitida, e por conseguinte sentida, pelo saxofonista alto, as suas memórias desenrolam-se de maneira descarnada e sem esconderijo, naquela escrita tensa e pragmática típica da prosa americana. De vez em quando fazem sensação pública umas biografias assim, que não iludem nem mitigam pecados, falhas, delitos e desgostos. Não menos habitual é que a sordidez do que nelas vem descrito se cumula no tropo do artista torturado que por mor dos seus sofrimentos se revê como maldito, conquanto não lhe faltassem bem visíveis sinais de apreço que ele não repara ou desdenha, por os presumir ou insuficientes, ou hipócritas ou por não se achar merecedor deles. Nestes exemplos, e havendo prévia simpatia pelo autor, põe-se ao jeito de serem capturadas por sociologias e psicologias capazes de as lerem através de um crivo abonatório de modo a poderem transferir culpas para o Pai, para a Sociedade, para o quer que seja desde que iliba a responsabilidade do indivíduo em causa, ele próprio vítima enquanto perpetrador. Não faltam em “Straight Life” as peripécias esperadas de um músico de jazz da década de 50. Um percurso de “junkie” que pontuou o período mais criativo com um rosário de entradas saídas da cadeia e de concertos desempenhados num estado de alienação, mesmo que coroados de êxito. Quem soubesse uma ou duas coisas acerca de Art Pepper desde logo adivinharia a ironia do título. De tão sacramental, este calvário já faz parte da mobília do jazz e certamente perdeu o poder de impressionar. Contudo o desprendimento narrativo do biografado estende-se a terrenos que esses sim tornariam bastante improvável algum editor dispor-se à publicação deste livro nos dias de hoje. E se o fosse mereceria uma geral e concludente execração a qual tem dado mostras de correr desenfreadamente até à proscrição da obra e à rasura do nome do seu autor. Contribuiria sem apelo nem agravo para a sua liminar censura que Art Pepper refira com desprendimento inúmeras relações sexuais conquistadas e não consentidas, engates descritos uns como triunfos a maior parte como prosaicos, todos expostos sem noção de remorso. Mas é de outra ordem não menos eloquente mas, quem sabe, talvez mais susceptível de inocular o bacilo da dúvida, o que a seguir se expõe ao teu voyeurismo de leitor cônscio, justo e de certeza temente à probidade moral em vigor. Art Pepper era branco num meio musical predominantemente negro, meio esse cercado pela desconfiança e não pouca acrimónia de uma sociedade branca. No início fez uso desta desconfortável fisionomia de Janus para subverter os pequenos mas implacáveis infernos da segregação racial que regulava o quotidiano na América dos anos 50; ia ele buscar a comida aos restaurantes que não serviam negros ou mandava parar os táxis que doutro modo fugiriam. Ainda que não o quisesse assumir e apenas pretendesse ser um camarada ou tão só conquistar o respeito dos seus companheiros negros, Art Pepper acabou por se ver no papel prestável de “anjo branco” protector. Na década de 60, como se sabe, os descendentes dos escravos decidiram tomar em mãos a sua cidadania, reivindicar direitos evidentes e legítimos, insurgir-se contra a subalternização cívica. Art Pepper presumiu não ter nem culpas nem contrições a prestar. Mas um dia, ao cabo de um recital, foi avisado que nas suas costas o baterista exibira um sorriso desdenhoso durante os seus solos. Quando Pepper o interpelou o baterista cuspiu no chão e verberou que os “white punks” não sabiam tocar. “Então porque tocam comigo?” “Para nos aproveitarmos de ti, ‘white motherfucker.’” Diz Art Pepper que chorou, não se sabe se de raiva ou de comiseração. O certo é que houvessem os actuais juízes da moral pública lido estas memórias e não sonambulasse o jazz nas catacumbas das predilecções musicais e já não se poderia contar com as obras de Art Pepper.