Conselho executivo aprova regulamento de segurança do Metro Ligeiro

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo deu a conhecer na passada sexta-feira os principais pontos do regulamento administrativo intitulado “Normas técnicas de segurança e complementares à investigação técnica de acidentes e incidentes do sistema de metro ligeiro”, onde constam as principais obrigações que a entidade responsável pela segurança do sistema deve cumprir.

Segundo o porta-voz do Conselho Executivo Leong Heng Teng, a entidade responsável, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), deve produzir um sistema de gestão de segurança, apresentar um relatório anual e criar ainda um manual de segurança da operação dirigido aos funcionários.

“A operadora deve criar um sistema de gestão de segurança e apresentar à entidade concedente o relatório de segurança respeitante ao ano transacto. Além disso, a operadora está obrigada a elaborar o manual de segurança da operação para estabelecer as instruções dirigidas aos seus trabalhadores. Por último, o projecto sugere que o sistema de metro ligeiro deve ser precedido de uma fase de operação experimental, que creio, já conhecem (…) e que está a entrar numa fase experimental na ilha da Taipa”, explicou Leong Heng Teng.

Acerca dos planos de tratamento de avarias e situações de emergência, a operadora deve “comunicar imediatamente à DSAT” os casos de suspensão da prestação de serviços por motivos de emergência e, de seguida “tomar as medidas necessárias para reiniciar a operação no mais curto período de tempo”. No caso de não ser possível, a operadora deve “providenciar a evacuação ou a transferência dos passageiros para outros meios de transporte”, pode ler-se no regulamento administrativo.

Critérios internacionais

Também presente na conferência de imprensa, que teve lugar na sede oficial do Governo, esteve o director da DSAT. A propósito das normas de segurança do novo diploma, Lam Hin San afirma que estas foram feitas de acordo com critérios internacionais.

“Tivemos como referência a experiência dos territórios vizinhos em matéria de transporte ferroviário (…) e a lei permite também que a DSAT convide peritos e especialistas de diferentes matérias ligadas ao metro ligeiro para nos ajudar”, referiu Lam Hin San.

Em caso de acidente ou incidente, o regulamento administrativo estabelece ainda que a DSAT deve elaborar um relatório sumário, no prazo de 12 ou 24 horas, dependendo da gravidade da situação.

Português | Declarações de Coutinho originam reacção de CDS-PP

Dois deputados do partido político português CDS-PP questionaram Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, sobre a qualidade do ensino da língua portuguesa em Macau e as medidas que o actual Executivo pensa tomar nesse âmbito. A intervenção surge depois de uma entrevista concedida por José Pereira Coutinho

 

[dropcap]S[/dropcap]e o ensino de língua portuguesa em Macau não tem a qualidade que deveria ter, os deputados do partido político CDS-PP, com assento na Assembleia da República portuguesa, querem saber porquê e como deve ser melhorado. No seguimento de uma entrevista concedida pelo deputado José Pereira Coutinho à Lusa, os deputados Telmo Correia e Ana Rita Bessa decidiram questionar o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, sobre o assunto.

“Telmo Correia e Ana Rita Bessa querem saber se o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) tem conhecimento destas afirmações e se é verdade que o ensino da língua portuguesa em Macau está a perder qualidade”, lê-se na nota de imprensa enviada às redacções. Além disso, os dois tribunos também pretendem saber “que medidas tomou o Governo português, e quais as que pensa tomar, para a promoção da língua portuguesa em Macau, de modo a garantir a qualidade do seu ensino”.

Contratações ao exterior

Na entrevista concedida à Lusa, publicada na passada semana, José Pereira Coutinho afirmou que “muito recentemente, a nível da tradução, o Governo de Macau resolveu contratar tradutores do Interior da China, alegando exactamente o problema da qualidade do ensino da língua portuguesa cá em Macau”.

Coutinho, que falou também na qualidade de conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), apontou que, apesar da Lei Básica determinar que a língua portuguesa continua a ser oficial, a par do chinês, não importam apenas os números, mas a qualidade de ensino nas escolas para que se chegue à conclusão de que “valeu a pena investir recursos humanos e financeiros para promoção da língua portuguesa em Macau”.

Português | Declarações de Coutinho originam reacção de CDS-PP

Dois deputados do partido político português CDS-PP questionaram Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, sobre a qualidade do ensino da língua portuguesa em Macau e as medidas que o actual Executivo pensa tomar nesse âmbito. A intervenção surge depois de uma entrevista concedida por José Pereira Coutinho

 
[dropcap]S[/dropcap]e o ensino de língua portuguesa em Macau não tem a qualidade que deveria ter, os deputados do partido político CDS-PP, com assento na Assembleia da República portuguesa, querem saber porquê e como deve ser melhorado. No seguimento de uma entrevista concedida pelo deputado José Pereira Coutinho à Lusa, os deputados Telmo Correia e Ana Rita Bessa decidiram questionar o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, sobre o assunto.
“Telmo Correia e Ana Rita Bessa querem saber se o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) tem conhecimento destas afirmações e se é verdade que o ensino da língua portuguesa em Macau está a perder qualidade”, lê-se na nota de imprensa enviada às redacções. Além disso, os dois tribunos também pretendem saber “que medidas tomou o Governo português, e quais as que pensa tomar, para a promoção da língua portuguesa em Macau, de modo a garantir a qualidade do seu ensino”.

Contratações ao exterior

Na entrevista concedida à Lusa, publicada na passada semana, José Pereira Coutinho afirmou que “muito recentemente, a nível da tradução, o Governo de Macau resolveu contratar tradutores do Interior da China, alegando exactamente o problema da qualidade do ensino da língua portuguesa cá em Macau”.
Coutinho, que falou também na qualidade de conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), apontou que, apesar da Lei Básica determinar que a língua portuguesa continua a ser oficial, a par do chinês, não importam apenas os números, mas a qualidade de ensino nas escolas para que se chegue à conclusão de que “valeu a pena investir recursos humanos e financeiros para promoção da língua portuguesa em Macau”.

Novo hospital vai custar mais de 10 mil milhões e não está pronto antes de 2023

Perspectivas do Governo apontam para que a primeira fase de construção do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas esteja concluída em Agosto de 2022. As obras, que prevêem a construção de seis edifícios, terão um custo total estimado de cerca 9.800 milhões de patacas. Mas tanto prazos, como montantes, deverão ser alargados

 

[dropcap]O[/dropcap]plano apresentado pelo Governo para as obras do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, esteve em discussão na passada sexta-feira pela Comissão de Acompanhamneto para os assuntos de Terras e Concessões Públicas e prevê, no melhor dos cenários, que o novo hospital possa entrar em funcionamento em 2023. No entanto, mesmo prevendo que as obras possam estar concluídas em Agosto de 2022, a inauguração do novo complexo de saúde poderá nem vir a acontecer no ano seguinte, dada a logística de operacionalização da obra que, segundo o Governo, adiciona, pelo menos, cerca de um ano à data de conclusão das obras.

“O Governo estima que as obras terminem em Agosto de 2022. Mas mesmo que este prazo seja cumprido, ainda vai ser necessário acrescentar um prazo de três meses para recepção e instalação de projectos e mais quatro ou cinco meses para fazer reparações e ajustes numa obra desta envergadura. No final, os Serviços de Saúde (SS) terão ainda de despender tempo para a instalação de equipamentos. Ou seja, é preciso somar mais um ano sobre a data de conclusão das obras (…) e, por isso, talvez nem em 2023 o complexo entre em funcionamento”, explicou Ella Lei, deputada e Presidente da Comissão de Acompanhamneto para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas.

A Reunião com o Governo, onde foi apresentado o documento, aconteceu dois anos depois do último ponto de situação. Em 2017, segundo Ella Lei, o Governo “não soube justificar o atraso das obras, nomeadamente ao nível do calendário e do orçamento previsto”. Assim, 10 anos passados desde que foi dado início ao projecto, a deputada vincou a importância de já existir uma previsão em termos de prazo, ponto de situação de cada obra e também, de montante, apesar deste último “não ser ainda final”.

O plano apresentado pelo Governo prevê assim que até Agosto de 2022 seja concluída a primeira fase de construção do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. A primeira fase terá um custo total previsto de cerca de 9.800 milhões de patacas e inclui a construção de seis edifícios: hospital geral, edifício de apoio logístico, edifício de administração e multi-serviços e ainda, fora daquela que é considerada a “empreitada principal”, o edifício do laboratório central, um edifício residencial para trabalhadores e o parte do instituto de enfermagem.

Sempre a somar

Para já, de todo o projecto, encontram-se concluídas as obras relativas às fundações e ao edifício do instituto de enfermagem, no valor de 1.102 milhões de patacas. Este valor, já incluído no montante final da obra, não tem, no entanto, em conta, partes do edifício do laboratório central nem o hospital de reabilitação, este último, previsto para a segunda fase do plano, cujo orçamento não consta no documento apresentado pelo Governo.

Questionada a razão de não ter sido apresentado orçamento para a segunda fase dos trabalhos, o Governo respondeu que o montante final não inclui ainda esse valor porque o ”hospital de reabilitação vai aumentar o número de camas de 140 para 300, atendendo ao envelhecimento da população de Macau”, transmitiu Ella Lei.

Assim, dado não existir ainda “uma estimativa preliminar afecta às obras hospital de reabilitação”, a Comissão referiu que o “orçamento final de 9.800 milhões de patacas vai aumentar”, apesar de o Governo não ter previsto quanto.

A somar às contas não previstas no plano apresentado pelo Governo, vai ainda acrescer o custo associado ao aumento do número de camas do hospital geral, que irão passar a ser 1100, quando inicialmente estava previsto um número consideravelmente inferior. No entanto, mesmo com este aumento, a Comissão considera que o “número de camas será sempre insuficiente”.

“O número de camas está sempre desactualizado. Inicialmente estavam previstas 500 camas e isso fica muito aquém quando comparamos com as regiões vizinhas. Mesmo agora, aumentando para 1100 também (…) é insuficiente para conseguir satisfazer as necessidades da sociedade, mas com os recursos limitados que temos ao nível do território, este aumento é melhor do que nada”, referiu Ella Lei.

Com este aumento, o Governo quer aproximar as estatísticas de Macau ao nível da saúde, às de países como o Japão e Coreia. “Actualmente por cada 1000 habitantes temos 2,7 camas e com o aumento de camas que o Governo anunciou passaremos a ter 4,7 camas por cada 1000 habitantes. No Japão esse número está entre 10 a 15 camas por cada 1000 habitantes”.

Metro à porta

Segundo o Governo, as instalações de trânsito previstas para o projecto incluem uma estação do metro ligeiro para servir os utentes do novo Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Segundo referiu Ella Lei, “no próximo ano, a empresa responsável pelo metro ligeiro irá abrir um concurso público para a construção de uma nova estação”. No futuro, a estação vai permitir que os utentes acedam ao Hospital das Ilhas a pé, sendo que “o metro irá passar nas vias públicas já construídas em torno do Complexo”. Em relação a outros acessos, a Comissão, apesar de avançar que na reunião com o Governo não se falou sobre as carreiras de autocarros que irão servir o Complexo”, há a possibilidade de virem a existir sistemas pedonais automáticos. “Esperamos ver mais instalações e equipamentos para facilitar o acesso dos residentes”, conclui Ella Lei sobre o assunto.

Atrasos justificados com novo modelo

O Governo atribui os atrasos da construção novo Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, projecto iniciado há 10 anos, ao facto de a concepção do projecto ter ficado a cargo dos Serviços de Saúde. O modelo segundo Ella Lei, não agrada aos deputados presentes na reunião por considerarem que “não é o ideal para o complexo dos cuidados de saúde porque demorou muito tempo”, e esperam agora que o próximo executivo traga novas soluções. “Para o complexo dos cuidados de saúde não foi aplicado o modelo habitual, pois os serviços de saúde assumiram a tarefa da concepção, que por sua vez contratou empresas de consultoria para fazer o hospital. Depois de concluir a concepção esses projectos foram entregues ao Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), para este autorizar os projectos. Mas o GDI também precisou de ouvir mais de 10 entidades, por exemplo, os bombeiros”, explicou Ella Lei.

Novo Governo com uma novidade face aos nomes antes avançados

[dropcap]F[/dropcap]oram ontem anunciados os nomes que vão compor o novo Executivo liderado por Ho Iat Seng, Chefe do Executivo eleito a 25 de Agosto deste ano, e que vão ser anunciados hoje de forma oficial na sede do Governo. De acordo com uma nota oficial, são poucas as surpresas em relação aos nomes que já tinham avançados pelo portal All About Macau e pela TDM-Rádio Macau.

Novidade é mesmo a escolha de Lei Wai Nong como secretário para a Economia e Finanças, quando o nome de Ho Veng On chegou a ser apontado para substituir o actual detentor da pasta, Lionel Leong. Ho Veng On mantém-se como comissário no Comissariado de Auditoria (CA). O All About Macau noticiou que Lei Wai Nong seria o nome mais provável para ser o novo comissário do CA.

Lei Wai Nong, novo secretário para a Economia e Finanças

Recorde-se que Lei Wai Nong foi um dos quatro arguidos num processo conexo ao caso das campas, que levou a ex-secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, ao banco dos réus. Lei Wai Nong desempenhava funções como vice-presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (hoje Instituto para os Assuntos Municipais) e chegou a ter o mandato suspenso. Em 2014 seria absolvido do crime de prevaricação, juntamente com mais três dirigentes, incluindo o presidente, do então IACM, pelo Tribunal Judicial de Base.

Outra surpresa prende-se com a manutenção de Ip Son Sang como procurador do Ministério Público, nome que chegou a ser falado para presidir ao colectivo do Tribunal de Última Instância (TUI), actualmente liderado por Sam Hou Fai.

Veio para ficar

O Governo liderado por Ho Iat Seng mantém Raimundo do Rosário como secretário para os Transportes e Obras Públicas, enquanto que Wong Sio Chak continua a liderar a pasta da Segurança. Confirma-se o nome de Ao Ieong U para substituir Alexis Tam na pasta dos Assuntos Sociais e Cultura, enquanto que André Cheong deixa o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) vai mesmo substituir Sónia Chan na tutela da Administração e Justiça. Para a liderança do CCAC, foi escolhido o nome de Chan Tsz King, actual procurador-adjunto do Ministério Público.

Leong Man Cheong será o próximo Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, enquanto que Vong Man Chong fica como Director-geral dos Serviços de Alfândega.

Citado por uma nota de imprensa, o actual Chefe do Executivo, Chui Sai On, “felicita os titulares dos principais cargos do V Governo da RAEM e o Procurador pela sua nomeação por parte do Conselho de Estado” da República Popular da China.

A mesma nota dá conta que Chui Sai On “deseja sinceramente que todos se empenhem e dêem o seu melhor nas tarefas e acção governativa, sob a liderança de Ho Iat Seng, unindo-se à sociedade formando um todo na luta por novos avanços, servindo a nação e Macau”. O ainda Chefe do Executivo afirma também esperar que os novos dirigentes “dêem novos contributos e alcancem novas conquistas, dando continuidade ao grandioso princípio ‘Um país, dois sistemas’ na RAEM”.

Lei Básica | Chui Sai On a caminho de Pequim

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, o presidente da Assembleia Legislativa, Kou Hoi In, e o presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai, vão hoje para Pequim para participarem num “Seminário Comemorativo do 20.º Aniversário da Implementação da Lei Básica” de Macau.

Além dos representantes máximos dos poderes executivo, legislativo e judicial vão integrar igualmente a comitiva a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan e o procurador-geral da RAEM, Ip Son Sang. A delegação regressa a Macau na terça-feira e durante a ausência de Chui Sai On, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, exercerá as funções de Chefe do Executivo.

Lei Básica | Chui Sai On a caminho de Pequim

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, o presidente da Assembleia Legislativa, Kou Hoi In, e o presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai, vão hoje para Pequim para participarem num “Seminário Comemorativo do 20.º Aniversário da Implementação da Lei Básica” de Macau.
Além dos representantes máximos dos poderes executivo, legislativo e judicial vão integrar igualmente a comitiva a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan e o procurador-geral da RAEM, Ip Son Sang. A delegação regressa a Macau na terça-feira e durante a ausência de Chui Sai On, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, exercerá as funções de Chefe do Executivo.

Conselho Executivo | Luz verde para a criação de instituições de arbitragem

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo aprovou na passada sexta-feira, o regulamento administrativo intitulado “Regime de criação e funcionamento das instituições de arbitragem”, que estabelece as condições em que podem ser criados centros de arbitragem em Macau. 
O diploma define que os pedidos para criação de instituições de arbitragem devem ser feitos junto da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), a quem compete emitir parecer, sendo que, no entanto, a decisão final estará sempre a cargo do Chefe do Executivo.

Para que a autorização seja concedida, o regulamento define assim que devem ser respeitados critérios como “a necessidade e a pertinência da criação da instituição de arbitragem em Macau, a representatividade e a idoneidade para a prossecução da actividade que se propõe realizar”, pode ler-se no texto do diploma.

Além disso, o regulamento administrativo estabelece que os centros de arbitragem devem ser constituídos “por um conselho directivo, um conselho executivo e um secretariado”.

Também presente na conferência de imprensa que teve lugar na sede do Governo, esteve o director da DSAJ. Liu Dexue afirmou que as novas regras que ditam a criação de instituições de arbitragem estão ao nível daquilo que melhor se faz a nível internacional.

Em Macau existem actualmente cinco instituições de arbitragem em funcionamento: Centro de arbitragem do World Trade Center, Associação dos Advogados de Macau, Conselho de Consumidores, Instituto de Habitação e ainda sobre os Fundos Privativos.

Segundo o regulamento administrativo, as entidades que realizem arbitragens sem autorização arriscam-se uma multa entre 100 mil e 500 mil patacas.

Conselho Executivo | Luz verde para a criação de instituições de arbitragem

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo aprovou na passada sexta-feira, o regulamento administrativo intitulado “Regime de criação e funcionamento das instituições de arbitragem”, que estabelece as condições em que podem ser criados centros de arbitragem em Macau. 
O diploma define que os pedidos para criação de instituições de arbitragem devem ser feitos junto da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), a quem compete emitir parecer, sendo que, no entanto, a decisão final estará sempre a cargo do Chefe do Executivo.
Para que a autorização seja concedida, o regulamento define assim que devem ser respeitados critérios como “a necessidade e a pertinência da criação da instituição de arbitragem em Macau, a representatividade e a idoneidade para a prossecução da actividade que se propõe realizar”, pode ler-se no texto do diploma.
Além disso, o regulamento administrativo estabelece que os centros de arbitragem devem ser constituídos “por um conselho directivo, um conselho executivo e um secretariado”.
Também presente na conferência de imprensa que teve lugar na sede do Governo, esteve o director da DSAJ. Liu Dexue afirmou que as novas regras que ditam a criação de instituições de arbitragem estão ao nível daquilo que melhor se faz a nível internacional.
Em Macau existem actualmente cinco instituições de arbitragem em funcionamento: Centro de arbitragem do World Trade Center, Associação dos Advogados de Macau, Conselho de Consumidores, Instituto de Habitação e ainda sobre os Fundos Privativos.
Segundo o regulamento administrativo, as entidades que realizem arbitragens sem autorização arriscam-se uma multa entre 100 mil e 500 mil patacas.

Zhuhai | Polícia em exercícios a pensar na visita de Xi Jinping

O exercício foi captado em fotografias colocadas online que mostram a Polícia do Interior da China defrontar várias pessoas vestidas com camisas pretas e capacetes amarelos, como acontece frequentemente em Hong Kong

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia do Interior realizou um exercício de contra-terrorismo perto da fronteira da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, na sexta-feira, como parte de preparação para a visita de Xi Jinping, para celebrar o 20.º aniversário da RAEM. Segundo a informação divulgada pelo South China Morning Post, na acção do outro lado da fronteira participaram mais de 1.000 agentes e 80 viaturas, numa altura em que Hong Kong vive uma situação de instabilidade política que se arrasta há meio ano.

Aliás, a situação de Hong Kong foi mesmo o pano de fundo do exercício, uma vez que as fotos colocadas a circular online mostram manifestantes vestidos com camisolas pretas e a utilizar capacetes amarelos, ao mesmo tempo que carregam contra a polícia com paus. Já os agentes estavam armados e limitaram-se a lançar gás lacrimogénio e a utilizar os escudos e cassetetes para atacar os manifestantes.

Xi Jinping deverá deslocar-se a Macau para a celebração do 20.º aniversário do estabelecimento da RAEM e a segurança deverá ser mais apertada do que em visitas anteriores de líderes do Governo chinês. Isto porque o Presidente chinês desloca-se à RAEM numa altura em que a região vizinha de Hong Kong atravessa o maior período de instabilidade desde que a administração do território regressou às autoridades chinesas.

A publicação de Hong Kong cita ainda o chefe de Zhuhai do Partido Comunista Chinês, Guo Yonghang, que apelou à polícia para que se mantenha sempre leal ao partido. “A Polícia deve ser sempre leal e cumprir os seus deveres e missões para criar um ambiente pacífico a nível político, social, que permita construir a Zona da Grande Baía Cantão-Hong Kong-Macau e celebrar o 20.º aniversário da reunificação de Macau com a Pátria”, afirmou Guo.

Sem anúncio oficial

Neste momento ainda não há uma confirmação oficial sobre a deslocação de Xi Jinping a Macau. No entanto, o jornal Macau Daily Times noticiou que tal deverá acontecer com a chegada a dar-se a 18 de Dezembro e a saída e 20 do mesmo mês.

Também a agência de serviços financeiros Credit Suisse emitiu um relatório sobre o mercado do jogo em que alerta para os efeitos negativos da visita do Presidente da China. Entre eles, espera-se que em Dezembro as pessoas do Interior apenas sejam autorizadas a vir uma única vez em Macau, quando normalmente até podem vir mais do que uma vez por mês. Esta é já uma das medidas de segurança para preparar a visita de Xi a Macau.

Zhuhai | Polícia em exercícios a pensar na visita de Xi Jinping

O exercício foi captado em fotografias colocadas online que mostram a Polícia do Interior da China defrontar várias pessoas vestidas com camisas pretas e capacetes amarelos, como acontece frequentemente em Hong Kong

 
[dropcap]A[/dropcap] Polícia do Interior realizou um exercício de contra-terrorismo perto da fronteira da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, na sexta-feira, como parte de preparação para a visita de Xi Jinping, para celebrar o 20.º aniversário da RAEM. Segundo a informação divulgada pelo South China Morning Post, na acção do outro lado da fronteira participaram mais de 1.000 agentes e 80 viaturas, numa altura em que Hong Kong vive uma situação de instabilidade política que se arrasta há meio ano.
Aliás, a situação de Hong Kong foi mesmo o pano de fundo do exercício, uma vez que as fotos colocadas a circular online mostram manifestantes vestidos com camisolas pretas e a utilizar capacetes amarelos, ao mesmo tempo que carregam contra a polícia com paus. Já os agentes estavam armados e limitaram-se a lançar gás lacrimogénio e a utilizar os escudos e cassetetes para atacar os manifestantes.
Xi Jinping deverá deslocar-se a Macau para a celebração do 20.º aniversário do estabelecimento da RAEM e a segurança deverá ser mais apertada do que em visitas anteriores de líderes do Governo chinês. Isto porque o Presidente chinês desloca-se à RAEM numa altura em que a região vizinha de Hong Kong atravessa o maior período de instabilidade desde que a administração do território regressou às autoridades chinesas.
A publicação de Hong Kong cita ainda o chefe de Zhuhai do Partido Comunista Chinês, Guo Yonghang, que apelou à polícia para que se mantenha sempre leal ao partido. “A Polícia deve ser sempre leal e cumprir os seus deveres e missões para criar um ambiente pacífico a nível político, social, que permita construir a Zona da Grande Baía Cantão-Hong Kong-Macau e celebrar o 20.º aniversário da reunificação de Macau com a Pátria”, afirmou Guo.

Sem anúncio oficial

Neste momento ainda não há uma confirmação oficial sobre a deslocação de Xi Jinping a Macau. No entanto, o jornal Macau Daily Times noticiou que tal deverá acontecer com a chegada a dar-se a 18 de Dezembro e a saída e 20 do mesmo mês.
Também a agência de serviços financeiros Credit Suisse emitiu um relatório sobre o mercado do jogo em que alerta para os efeitos negativos da visita do Presidente da China. Entre eles, espera-se que em Dezembro as pessoas do Interior apenas sejam autorizadas a vir uma única vez em Macau, quando normalmente até podem vir mais do que uma vez por mês. Esta é já uma das medidas de segurança para preparar a visita de Xi a Macau.

China | Ensino do português dispara no continente e arrisca saturar mercado

Com o investimento entre a China e os países da lusofonia a crescer a um ritmo acelerado, também o estudo do português tem sido uma aposta cada vez mais forte do ensino chinês. Sem contar com Macau e Hong Kong, existem na China 25 universidades que ensinam a língua de Camões, a alunos que têm à espera um mercado de trabalho cada vez mais competitivo

 

[dropcap]N[/dropcap]um dos edifícios da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), quase cem alunos e ex-alunos, oriundos de toda a China, aguardam por um exame de português, um projecto de vida que atrai cada vez mais chineses.

“Espero conseguir com este certificado [CAPLE, Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira] ter mais oportunidades de emprego”, explica à agência Lusa Zelma, que viajou deste Tianjin, cidade portuária a 120 quilómetros de Pequim, ilustrando a crescente competitividade no mercado de trabalho para licenciados em português, língua que, até há pouco, significava emprego certo na China.

A mais antiga licenciatura em língua portuguesa da República Popular da China foi criada em 1961, precisamente na Beiwai. Durante quase vinte anos, aquele curso foi o único do género no país e, até ao final da década de 1990, surgiu apenas mais um, em Xangai.

No entanto, o ensino do português no continente chinês registou um crescimento acelerado nos últimos 20 anos, coincidindo com o retorno de Macau à soberania de Pequim, que confiou à região o papel de plataforma comercial com os países lusófonos.

A evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos, geraram uma crescente necessidade em formar quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa

Hoje, não contando com Macau e Hong Kong, há 25 universidades chinesas que ensinam português, abrangendo mais de 1.500 estudantes. No entanto, o rápido aumento da oferta está a dificultar a vida aos profissionais da área, habituados outrora a receberem propostas de trabalho mesmo antes de terminarem o curso.

“Para quem tem apenas licenciatura, encontrar emprego na China tornou-se difícil”, diz Isabel, que entrou em 2008 para o curso de português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China, e tirou depois uma pós-graduação na Universidade de Macau. “Optei por estudar português porque na altura havia escassez de profissionais com conhecimentos da língua”, recorda. “Mas, nos últimos anos, o mercado tornou-se mais competitivo”.

Novas oportunidades

Para os recém-licenciados que rumam a Pequim ou Xangai, as duas principais metrópoles do país, e que estão entre as cidades com mais alto custo de vida do mundo, o salário inicial varia entre 7.000 e 8.000 yuan.
Um intérprete simultâneo chinês – português e vice-versa pode receber até 10.000 yuan por dia de trabalho, geralmente a acompanhar delegações de empresários ou visitas oficiais, mas trata-se de uma tarefa ocasional e executada apenas pelos profissionais mais experientes.

Já quem está disposto a rumar a África “continua a ter muitas oportunidades”, conta Isabel.
Em Angola ou Moçambique um intérprete e tradutor numa das centenas de empresas chinesas que ali operam na construção de infra-estruturas, sector energético ou mineração, recebe por ano entre 200.000 e 400.000 yuan, segundo estimativas da agência Lusa, com base em ofertas de emprego difundidas em portais chineses.

A maior exigência no mercado de trabalho levou a Beiwai a elevar este ano o seu departamento de estudos de língua portuguesa ao estatuto de faculdade, visando complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, diz à agência Lusa a directora, Patrícia Jin.

“É um passo natural, que nos permite ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explica. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, detalha.

Entre os licenciados há também quem opte por reforçar o seu curriculum com um mestrado em Portugal ou no Brasil. Zelma, por exemplo, vai em breve começar um mestrado na Universidade de Lisboa, permitindo-lhe também conhecer melhor um país cuja História aprendeu ainda no ensino secundário. “Fui sempre aluna da área das Humanidades e sempre gostei muito de História, conheço bem o período dos Descobrimentos”, conta.

Aposta inaugural

A primeira faculdade dedicada ao português na China continental, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), vai complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, revelou à agência Lusa a diretora antes do final do anterior ano lectivo.

“É um passo natural, que nos permitirá ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explicou a directora do departamento de português da recém-formada Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses, de Beiwai.

A nova instituição vai ter como génese a elevação do estatuto do mais antigo departamento de ensino do português na China continental, aberto em 1961, implicando um aumento do orçamento para contratação de corpo docente e organização de actividades e palestras. Até 1999, apenas a Beiwai e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português.

O estabelecimento de uma faculdade permitirá, no entanto, “construir um sistema de conhecimento mais aprofundado, mais sistemático”, sobre a lusofonia, detalhou à altura Patrícia Jin. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, explicou. “Os alunos terão uma parte obrigatória e central, ensinada em português, mas também acesso aos cursos de outras faculdades”, disse.

A expansão

A instituição abarcará quatro centros, incluindo o Centro Beiwai – Universidade de Lisboa -Instituto Camões; uma fundação e uma editora de manuais de ensino da língua.

O aumento do orçamento permitirá ainda alargar o corpo docente, actualmente composto por oito professores chineses, uma leitora portuguesa e um leitor brasileiro, e organizar palestras. “Só neste semestre realizamos seis palestras académicas, com a participação de professores chineses, portugueses e brasileiros, de diferentes disciplinas”, sintetizou Jin.

A aposta da ‘beiwai’ reflecte a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos. O destaque vai sobretudo para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio.

Porém, a chegada ao mercado de trabalho de um número cada vez maior de quadros qualificados especializados em português está a aumentar a pressão na busca por um emprego, que antes era uma garantia.

 

Porto | Alunos de Macau com acesso facilitado a áreas científicas

Os estudantes de Macau que queiram prosseguir os estudos em Portugal vão ter acesso facilitado às áreas científicas da Universidade do Porto (UP), nomeadamente um contingente especial de vagas.

A medida está prevista num protocolo que a Universidade do Porto, o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau (DSES) vão assinar amanhã, em Macau, de acordo com um comunicado enviado à Lusa. O acordo de cooperação entre estas três entidades prevê “a criação de um contingente especial de vagas para oferta formativa nas várias unidades orgânicas da UP, “valorizando (…) o exame unificado em vigor”, referiu a nota.

Os cursos em questão vão desde medicina veterinária a “vários ramos da engenharia”, passando pelas ciências do meio aquático, medicina dentária e ciências da linguagem, antecipou o IPOR.

Os estudantes de Macau podem, desde 2018, candidatar-se a várias instituições de ensino superior do Interior da China e de Portugal com os resultados de um exame unificado de acesso. Em Portugal, são 15 as instituições parceiras deste programa, incluindo, além da UP, a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a Universidade Católica Portuguesa.

Este protocolo prevê ainda a criação de uma oferta formativa “altamente especializada em língua portuguesa”, de forma a assegurar a formação de estudantes de Macau com competências nesta língua, indicou. O acordo pretende também incentivar acções de mobilidade e de intercâmbio científico com vista à formação de profissionais qualificados.

China | Ensino do português dispara no continente e arrisca saturar mercado

Com o investimento entre a China e os países da lusofonia a crescer a um ritmo acelerado, também o estudo do português tem sido uma aposta cada vez mais forte do ensino chinês. Sem contar com Macau e Hong Kong, existem na China 25 universidades que ensinam a língua de Camões, a alunos que têm à espera um mercado de trabalho cada vez mais competitivo

 
[dropcap]N[/dropcap]um dos edifícios da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), quase cem alunos e ex-alunos, oriundos de toda a China, aguardam por um exame de português, um projecto de vida que atrai cada vez mais chineses.
“Espero conseguir com este certificado [CAPLE, Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira] ter mais oportunidades de emprego”, explica à agência Lusa Zelma, que viajou deste Tianjin, cidade portuária a 120 quilómetros de Pequim, ilustrando a crescente competitividade no mercado de trabalho para licenciados em português, língua que, até há pouco, significava emprego certo na China.
A mais antiga licenciatura em língua portuguesa da República Popular da China foi criada em 1961, precisamente na Beiwai. Durante quase vinte anos, aquele curso foi o único do género no país e, até ao final da década de 1990, surgiu apenas mais um, em Xangai.
No entanto, o ensino do português no continente chinês registou um crescimento acelerado nos últimos 20 anos, coincidindo com o retorno de Macau à soberania de Pequim, que confiou à região o papel de plataforma comercial com os países lusófonos.
A evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos, geraram uma crescente necessidade em formar quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa
Hoje, não contando com Macau e Hong Kong, há 25 universidades chinesas que ensinam português, abrangendo mais de 1.500 estudantes. No entanto, o rápido aumento da oferta está a dificultar a vida aos profissionais da área, habituados outrora a receberem propostas de trabalho mesmo antes de terminarem o curso.
“Para quem tem apenas licenciatura, encontrar emprego na China tornou-se difícil”, diz Isabel, que entrou em 2008 para o curso de português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China, e tirou depois uma pós-graduação na Universidade de Macau. “Optei por estudar português porque na altura havia escassez de profissionais com conhecimentos da língua”, recorda. “Mas, nos últimos anos, o mercado tornou-se mais competitivo”.

Novas oportunidades

Para os recém-licenciados que rumam a Pequim ou Xangai, as duas principais metrópoles do país, e que estão entre as cidades com mais alto custo de vida do mundo, o salário inicial varia entre 7.000 e 8.000 yuan.
Um intérprete simultâneo chinês – português e vice-versa pode receber até 10.000 yuan por dia de trabalho, geralmente a acompanhar delegações de empresários ou visitas oficiais, mas trata-se de uma tarefa ocasional e executada apenas pelos profissionais mais experientes.
Já quem está disposto a rumar a África “continua a ter muitas oportunidades”, conta Isabel.
Em Angola ou Moçambique um intérprete e tradutor numa das centenas de empresas chinesas que ali operam na construção de infra-estruturas, sector energético ou mineração, recebe por ano entre 200.000 e 400.000 yuan, segundo estimativas da agência Lusa, com base em ofertas de emprego difundidas em portais chineses.
A maior exigência no mercado de trabalho levou a Beiwai a elevar este ano o seu departamento de estudos de língua portuguesa ao estatuto de faculdade, visando complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, diz à agência Lusa a directora, Patrícia Jin.
“É um passo natural, que nos permite ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explica. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, detalha.
Entre os licenciados há também quem opte por reforçar o seu curriculum com um mestrado em Portugal ou no Brasil. Zelma, por exemplo, vai em breve começar um mestrado na Universidade de Lisboa, permitindo-lhe também conhecer melhor um país cuja História aprendeu ainda no ensino secundário. “Fui sempre aluna da área das Humanidades e sempre gostei muito de História, conheço bem o período dos Descobrimentos”, conta.

Aposta inaugural

A primeira faculdade dedicada ao português na China continental, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), vai complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, revelou à agência Lusa a diretora antes do final do anterior ano lectivo.
“É um passo natural, que nos permitirá ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explicou a directora do departamento de português da recém-formada Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses, de Beiwai.
A nova instituição vai ter como génese a elevação do estatuto do mais antigo departamento de ensino do português na China continental, aberto em 1961, implicando um aumento do orçamento para contratação de corpo docente e organização de actividades e palestras. Até 1999, apenas a Beiwai e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português.
O estabelecimento de uma faculdade permitirá, no entanto, “construir um sistema de conhecimento mais aprofundado, mais sistemático”, sobre a lusofonia, detalhou à altura Patrícia Jin. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, explicou. “Os alunos terão uma parte obrigatória e central, ensinada em português, mas também acesso aos cursos de outras faculdades”, disse.

A expansão

A instituição abarcará quatro centros, incluindo o Centro Beiwai – Universidade de Lisboa -Instituto Camões; uma fundação e uma editora de manuais de ensino da língua.
O aumento do orçamento permitirá ainda alargar o corpo docente, actualmente composto por oito professores chineses, uma leitora portuguesa e um leitor brasileiro, e organizar palestras. “Só neste semestre realizamos seis palestras académicas, com a participação de professores chineses, portugueses e brasileiros, de diferentes disciplinas”, sintetizou Jin.
A aposta da ‘beiwai’ reflecte a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos. O destaque vai sobretudo para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio.
Porém, a chegada ao mercado de trabalho de um número cada vez maior de quadros qualificados especializados em português está a aumentar a pressão na busca por um emprego, que antes era uma garantia.
 

Porto | Alunos de Macau com acesso facilitado a áreas científicas

Os estudantes de Macau que queiram prosseguir os estudos em Portugal vão ter acesso facilitado às áreas científicas da Universidade do Porto (UP), nomeadamente um contingente especial de vagas.
A medida está prevista num protocolo que a Universidade do Porto, o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau (DSES) vão assinar amanhã, em Macau, de acordo com um comunicado enviado à Lusa. O acordo de cooperação entre estas três entidades prevê “a criação de um contingente especial de vagas para oferta formativa nas várias unidades orgânicas da UP, “valorizando (…) o exame unificado em vigor”, referiu a nota.
Os cursos em questão vão desde medicina veterinária a “vários ramos da engenharia”, passando pelas ciências do meio aquático, medicina dentária e ciências da linguagem, antecipou o IPOR.
Os estudantes de Macau podem, desde 2018, candidatar-se a várias instituições de ensino superior do Interior da China e de Portugal com os resultados de um exame unificado de acesso. Em Portugal, são 15 as instituições parceiras deste programa, incluindo, além da UP, a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a Universidade Católica Portuguesa.
Este protocolo prevê ainda a criação de uma oferta formativa “altamente especializada em língua portuguesa”, de forma a assegurar a formação de estudantes de Macau com competências nesta língua, indicou. O acordo pretende também incentivar acções de mobilidade e de intercâmbio científico com vista à formação de profissionais qualificados.

Water from a running tap, de Francis Bacon

[dropcap]É[/dropcap] uma imagem uma coisa menor? Uma imagem é uma coisa. A relação da imagem com o original é sempre mais complexa do que se pensa como tudo o que se passa na vida. Não temos de pressupor que há uma contemporaneidade da imagem e do original. Temos, por exemplo, pinturas, desenhos, imagens, fotografias e filmes de coisas, edifícios, bairros e até cidades, para não falar de pessoas que já não existem, mas também que não existem agora ou não existem ainda. Uma coisa é certa. Toda a imagem que é imagem não se esgota nas fronteiras espaciais que a delimitam. A imagem não está apenas nos seus contornos espaciais, nem existe apenas, como vimos nos exemplos acima no tempo centrado no presente. Qualquer imagem desvia para fora de si própria, procura dar a ver outra coisa para lá do que pode ser visto única e exclusivamente nela enquanto objecto. Quando vemos uma fotografia de alguém vemos alguém. Vemos que é A ou B ou C. Claro que sabemos perfeitamente que é a fotografia de A ou B ou C, que é a imagem de A ou B ou C. Mas A, B e C estão tão presentes como se estivesse em carne e osso ao pé de nós, lembramo-nos deles, quando as fotos foram tiradas ou a época em que tinham aquele corte de cabelo, em que se vestiam daquela maneira, em que tempo era aquele, etc., etc.. Não vemos as características das imagens se as fotos são analógicas ou digitais, se são de boa ou má qualidade, a preto e branco ou a cores, bi ou tridimensionais, qual a escala, etc., etc.. A imagem escamoteia o objecto “fotografia” e “quer” é restituir o original como se o pusesse aí à nossa frente em carne e osso. A imagem faz-se passar pelo original, a cópia quer ser genuína.

Tudo isto quererá dizer então que o original de que a imagem é imagem é autêntico? Terá o original pedigree? Será o original o próprio. Será que se passa com as coisas o que se passa com pessoas? Nós gostamos de pessoas originais, que sejam elas próprias, não gostamos de mentirosos, ladrões, gostamos de pessoas honestas, genuínas, autênticas. Também, não gostamos de contrafação. Gostamos de roupa de marca, das melhores edições, do melhor material, do verdadeiro, do genuíno. Poderíamos perguntar se uma pessoa pode imitar outra pessoa e assim existir à imagem e semelhança de outra pessoa, não ter personalidade própria, ser uma mera cópia e não ser original. Há pessoas que são o que parecem, outras que parecem ser quem são mas não são quem parecem ser. Há jogos complexos entre imagens produzidas para esconder ou fazer aparecer os seus modos de ser.

A questão é que o próprio original não se encontra a ser no sítio em que está nem existe apenas no tempo em que pensamos que existe ou só na dimensão em que achamos que é a sua. Imaginemos uma situação banal do quotidiano: torneira do lavatório aberta, deixando água a correr. Esse facto da realidade quotidiana é susceptível de acontecer em diversas situações reais concretas: a criança abre a torneira, a mãe depara-se com a situação. A mãe abre a torneira para lavar as mãos. O pai abre a torneira da água quente para a fazer aquecer e escanhoar-se. O lavatório fica do lado direto de quem entra. Acima do lavatório está um espelho.

Depois, há um bidé. À esquerda fica a banheira. Mas o que importa é este enfoque no lavatório. Antes na torneira. Melhor na água corrente. A própria percepção vê a água a correr, como um cilindro opaco branco como se fosse feito de diversos feixes juntos que se fossem juntando e ajustando uns aos outros, moldando a partir do interior e visível no exterior. Faz barulho e salpica a água a bater na superfície branca do lavatório. A água corre.

A fotografia da água a correr no lavatório da casa de banho revela esse feixe branco cilíndrico, não se ouve a água a cair, não se pode esticar a mão para sentir a temperatura da água, não se pode lavar as mãos nem fazer a barba. Mas a própria realidade não se esgota na utilidade. Ela aponta para a possibilidade de ser restituída numa imagem, numa figura, sem que queira dizer mais do que o facto de a realidade não se bastar a si própria mas pretender ser fixa, estabelecer-se, sedimentar-se, repousar, ser acolhida na imagem que reconstitui objectivamente por um projecto a possibilidade de dar a ver a outro o olhar particular e privado de como alguém vê o que deixa de ser banal porque é o modo mais extremo e radical de ver o mundo do canto do olho.

Discutir casas de banho 

[dropcap]N[/dropcap]o artigo que hoje publicamos sobre um estudo realizado pela investigadora Melody Lu, da Universidade de Macau, esta deixa uma frase que nos deve fazer a todos pensar, sobre o facto das leis que se estão a produzir no hemiciclo, ao nível das agências de emprego e do salário mínimo, poderem afastar potenciais trabalhadores não residentes (TNR) de Macau por ser muito caro para eles viverem no território. Melody Lu alerta também para o facto dos problemas sociais que essas mudanças legislativas vão causar não estarem a ser discutidos na Assembleia Legislativa.

Pois. O problema do hemiciclo é que discute quase tudo, menos as questões fracturantes. O deputado Mak Soi Kun está extremamente preocupado com o facto de em Macau não existirem casas-de-banho públicas suficientes, ou com os cães que andam perdidos pelos trilhos e que podem espalhar raiva pelas pessoas. Os deputados do campo pró-democracia discutem a política “Terras de Macau para Gentes de Macau” e a habitação pública (e até Mi Jian recordou esta quarta-feira que a questão já foi colocada três vezes no hemiciclo) e Sulu Sou preocupa-se com tudo, desde que não seja ligado aos não residentes.

O hemiciclo continua e vai continuar a estar afastado da sociedade como ela é. Olha apenas para os direitos de uma parte da população, quando o futuro está aí e são necessárias respostas. Sim, Macau tem trabalhadores não residentes que são necessários à economia e é preciso falar dos problemas que surgem se eles não quiserem mais trabalhar em Macau. O facto da lei das agências de emprego estar há meses em análise e só agora se prepararem para ouvir as associações de TNR é pura e simplesmente vergonhoso.

Dissonância popular

[dropcap]P[/dropcap]erdoem-me por ainda escrever sobre o resultado das últimas eleições em Hong Kong. Eu sei, é assunto que já passou à história na voracidade da ordem-do-dia, mas quero salientar um aspecto que se repete em loop: A total cegueira de Pequim e, por contágio, do Governo de Hong Kong à vontade popular que lhes é mais antipática. Um Governo não pode ter cidadãos preferidos e outros preteridos.

Mas, primeiro os senhores de cima. Um dos tentáculos de comunicação do partido, o Global Times, concluiu que a esmagadora vitória do campo pró-democracia revela exaltação emocional e falta de pensamento racional dos eleitores. Nada melhor que chamar estúpidas às pessoas para as conquistar. Além disso, culpam uma lei de cariz comercial, aprovada ontem do outro lado do mundo, pelo resultado eleitoral.

Enquanto o Governo Central bate o pé, e repete que Hong Kong pertence à China, ignora completamente a vontade popular, para surpresa de ninguém. A agência Xinhua refere que houve eleições, pasme-se, sem mencionar os resultados.

Agora a parte deste lado. Carrie Lam tem a lata suprema de vir dizer que agora é preciso ouvir com humildade as mesmas vozes que anda a ignorar desde o início dos protestos, sem fazer qualquer concessão.

Não é assim que se apazigua o ressentimento. Aliás, isto é juntar óleo a um fogo que arde por falta de ligação entre governo e governados. Quando 2 milhões de pessoas se manifestaram pacificamente, e já se chamava terroristas a quem fazia grafitis, os ouvidos do poder nada escutaram, nem nunca o fizeram desde então. Escusado dizer que estou muito céptico em relação às renovadas intenções do poder menor para com as vozes que teima em ignorar desde sempre. Autêntica interferência interna na paz social de Hong Kong.

À sombra do Cavalo-Dragão

[dropcap]M[/dropcap]acau vive uma época extemporânea por tudo aquilo que se passa em Hong Kong e por não haver nenhum paralelismo directo da situação, no seu dia a dia. Ainda para mais, numa altura em que se aproxima um cocktail de comemorações muito peculiar que vai ser o mês de Dezembro, onde o aniversário dos 20 anos da RAEM coincide com a tomada de posse do novo Executivo.

No passado fim de semana, no mesmo dia em que Hong Kong viu os candidatos pró-democracia conquistarem quase 90% dos assentos do Conselho Distrital nas eleições do passado domingo, em Macau o candidato único da eleição suplementar por sufrágio indirecto para a Assembleia legislativa, Wang Sai Man falava com a comunicação social à saída da assembleia de voto, podendo ter violado a lei eleitoral. Enquanto tudo isto acontecia um espantoso Cavalo-Dragão mecânico, que tive a oportunidade de ver com os meus próprios olhos, desfilava em tourné pela RAEM, em celebração dos 50 anos das relações diplomáticas entre a China e França.

As reacções de espanto e ovações foram intensas (e não era para menos) quando o animal mecânico passou às frente das pessoas que assistiam à parada, fazendo sombra à sua passagem. Mas não deixa de vir à ideia, se aquela sombra não ajudou, de forma ínfima obviamente, a desviar atenções de uma realidade que talvez peça mais vozes e contributos activos, ponderados e perspicazes de todos.

E claro que a cultura e os espectáculos de entretenimento têm um papel fundamental e não vejo, à excepção da origem do seu financiamento, diferenças de fundo para uma partida de futebol, por exemplo. Só tenho receio que possam ajudar Macau a ficar em silêncio quando o dragão passar por cima das nossas cabeças outra vez. E tanta coisa a acontecer à volta.

Promessa tóxica

[dropcap]À[/dropcap] excepção da educação e da segurança nacional, Chui Sai On andou 10 anos a atrasar a RAEM. Na altura de fazer o balanço dos seus mandatos percebeu que tinha sido uma nulidade e que deixa uma bomba relógio na área da habitação. Talvez por isso tenha decidido cumprir a promessa de lançar um concurso para a compra de habitações económicas.

Contudo, não há base para o concurso, não foram criadas condições, não se sabe o preço de venda das casas nem os prazos de construção, apenas é público que o concurso para a decidir o construtor do prédio vai ser feito no próximo ano. É muito difícil explicar a urgência deste concurso e explicar a razão de não se esperar, por exemplo, seis meses.

Aliás, os deputados e o Governo até estão a discutir a futura Lei da Habitação Económica e o mais sensato seria esperar pelas novas regras. Todos sabemos como as regras que estão em vigor foram manipuladas e nunca em nome da transparência. Portanto, nada justifica que se lance o concurso a não ser a “necessidade” de Chui Sai On “salve a face”… Mas se queria realmente cumprir a promessa, em vez de cavalgar uma onda populista, Chui devia ter trabalhado para criar as condições favoráveis. Mas não o fez e optou pela medida fácil, populista, apressada e que é característica de partidos políticos irresponsáveis que precisam de ganhar eleições.

Chui não precisa de ganhar eleições, portanto não se percebe que mais uma vez sacrifique o bem comum. É mesmo caso para dizer que depois de 10 anos a ignorar as necessidades de habitação da população, o melhor seria mesmo que deixasse estar promessa tóxica por cumprir…

Governo perde em dois casos relacionados com contratos de habitação económica

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu a favor de dois residentes em relação a dois contratos de compra e venda de habitação económica que tinham sido anulados pelo Instituto da Habitação (IH). Os acórdãos foram ontem divulgados, tendo as decisões sido proferidas em Junho deste ano.

O primeiro caso diz respeito a uma candidata que, em 2005, apresentou o boletim de candidatura junto do IH a título individual, mas que, em 2008, acabou por casar em regime de comunhão de adquiridos. Em 2012, o IH recebeu um pedido de alteração do estado civil da requerente para casada, sendo que, nesse ano, o casal decidiu mudar o regime do seu casamento para separação de bens.

A candidata assinou contrato para adquirir a fracção económica nesse mesmo ano, sendo que o seu parceiro nunca foi inserido no agregado familiar declarado ao IH. Em 2016, o presidente substituto do IH proferiu um despacho onde declarou que, aquando da data da celebração do casamento, pelo facto de este ter sido celebrado em regime de comunhão de adquiridos, “a fracção de habitação económica em causa era um bem comum do casal”, pelo que o parceiro “tinha também que satisfazer os requisitos para a aquisição de habitação económica”. Acontece que este tinha comprado, em 1995, uma casa, pelo que não era um candidato viável para ser dono de uma fracção económica, tendo o contrato de compra e venda da fracção económica sido anulado.

A candidata ganhou na primeira instância, mas o IH recorreu. O TSI continuou a não dar razão ao organismo público, uma vez que, de entre outros argumentos utilizados, “o cônjuge não pode ser considerado como elemento do agregado familiar de A [candidata] no concurso, uma vez que A só se candidatou à compra de habitação económica individualmente”.

Vitória na segunda volta

Já o segundo caso diz respeito a uma residente que se candidatou a uma casa económica em 2004 em conjunto com mais duas mulheres, uma delas sua irmã. Em 2011, uma das mulheres pediu ao IH para acrescentar o seu parceiro e filha ao agregado familiar, tendo o pedido sido autorizado. Em 2012 foi assinado o contrato da casa.

Mais tarde, a irmã da candidata casou em regime de comunhão geral de bens, sendo que o seu parceiro já era proprietário de uma casa em Macau. O IH anulou, mais uma vez, o contrato, tendo a candidata perdido na primeira instância. No entanto, o TSI deu-lhe razão na segunda volta, uma vez que “o cônjuge que se tornou, por mero efeito do regime de bens adoptado no casamento, titular de uma quota-parte dos bens comuns do casal juridicamente não pode ser qualificado como proprietário [à luz da lei de habitação económica] de uma fracção autónoma com finalidade habitacional na RAEM, adquirida pelo outro cônjuge antes do casamento”.

Macau vs. Hong Kong I

[dropcap]H[/dropcap]á quem critique a população de Macau por não ser empenhada politicamente, mais concretamente por não demonstrar animosidade face à China como abundantemente fazem os nossos vizinhos ali de Hong Kong. Certamente que podemos divagar por milhares de explicações, pontos de vista, etc., mas basta talvez reparar numa questão histórico-populacional.

A saber, a maior parte das gentes chinesas de HK descendem dos que fugiram do continente em 1949, para escapar à revolução comunista. Neste sentido, mantiveram confucianamente, geração após geração, um ódio muito próprio ao regime, que os faz ver o interior da China como um lugar despótico, atrasado, subdesenvolvido, a evitar.

Já a maior parte das gentes chinesas de Macau (quando não acabadas de chegar) descendem de pessoas originárias do interior da China, nascidas em pleno regime comunista, depuradas pela experiência da Revolução Cultural e cujo olhar para o seu país é completamente diferente. Aliás, ainda durante a administração portuguesa, uma parte muito significativa da população de Macau (cerca de 30%) NÃO SABIA (!!!) que era administrada por portugueses e julgava estar sob a alçada do regime chinês. Outras gentes, outras origens, outros afectos.

Por isso não vale a pena denegrir a população da RAEM. É preciso entender que o segundo sistema também tem destas coisas: as pessoas têm o direito de estar noutra, ainda que seja diferente daquela que nós julgamos ser melhor para eles.

Celebrações dos 20 anos da RAEM travam circuito citadino em Shenzhen

A cidade de Shenzhen preparava-se para organizar pela primeira vez uma prova de automobilismo e motociclismo de velocidade no mês de Dezembro, mas o evento, à imagem do Grande Prémio de Macau, foi cancelado devido às comemorações dos vinte anos da RAEM.

 

[dropcap]O[/dropcap] “Grande Prémio da Cidade Internacional da Baía de Shenzhen”, assim se traduz em português o nome do evento, estava agendado para os dias 20, 21 e 22 de Dezembro, e tinha o aval do governo local. O traçado, localizado no distrito de Nanshan, era constituído por seis curvas e seis rectas. O menu de provas inclua seis corridas: duas para motos, uma para concorrentes locais e outra internacional, uma para carros de GT, uma para Fórmula Renault e duas para diferentes classes de carros de Turismo.

Várias equipas do sul da China foram convidadas a participar no evento do circuito citadino de Nanshan Shenzhen, apesar de nenhuma corrida contar para qualquer campeonato nacional ou regional. Mesmo sendo os custos de transporte das viaturas e equipamento apresentados relativamente mais elevados para os valores habituais, a prova, que está a ser trabalhada nos bastidores desde o passado mês de Agosto, estava a gerar algum interesse junto da comunidade automobilística, principalmente devido à proximidade a Hong Kong a que se alia o factor novidade.

Contudo, visto que a cidade de Shenzhen faz parte da Grande Baía e a vizinha RAEM estará em festa nesse fim-de-semana, os organizadores anunciaram, em comunicado no início de Novembro, o adiamento da prova. Na comunicação escrita do comité organizador do evento, onde se destaca o “forte apoio da indústria automóvel e difusão”, é permitido ler ainda “que uma nova data será confirmada num futuro próximo e comunicada a todas as partes o mais cedo possível”.

Esta não foi a primeira alteração da data deste evento desportivo da primeira zona económica especial criada pela República Popular da China, visto que o “Grande Prémio da Cidade Internacional da Baía de Shenzhen” chegou a estar previsto para o mês de Novembro, num outro ponto da cidade, para no mês de Setembro, devido a obras em curso na localização inicial, ser reagendado para o mês de Dezembro.

A ideia não está morta

Apesar da “falsa partida”, os organizadores do “Grande Prémio da Cidade Internacional da Baía de Shenzhen”, esperam levar avante o evento no próximo ano. Estes terão mesmo encetado contactos para convidar os concorrentes do Campeonato do Mundo FIM de Sidecar, uma competição que está sob a égide da Federação Internacional de Motociclismo (FIM) e que recentemente visitou Portugal, para uma corrida de exibição. Por outro lado, existe a vontade que a corrida de motociclismo faça parte do campeonato asiático de estrada – FIM Asia Road Racing Championship, na designação inglesa -, uma competição com mais de vinte anos de história, mas para que tal aconteça os exigentes padrões internacionais de segurança terão que ser respeitados na integra. Para além das corridas, o programa de festividades inclui exibições de drift, acrobacias de motos e concentrações automóveis de clubes.

A Grande Dama do Chá

[dropcap]S[/dropcap]em José Prazeres da Costa, o “Bambu Vermelho” parecia vazio. Marina Kaplan estava lá. Luc Lefranc continuava a aliviar os bolsos dos jogadores que se atreviam a desafiá-lo na mesa de póquer.

Os chineses permaneciam, ruidosos, concentrados em diferentes jogos. De vez em quando alguém passava para as salas reservadas de ópio ou procurava uma rapariga especial. A luz das lanternas, dava uma cor avermelhada ao ambiente, que se cruzava com nuvens de fumo que esvoaçavam ao ritmo das ventoinhas colocadas no tecto e que se arrastavam muito devagar. Mas faltava o jogador que apostava tudo ou, mesmo, o dobro de nada. Em Macau era noite, mas ali ninguém tinha a noção de que horas eram. Vivia-se a eternidade. Sentado, Cândido Vilaça observava o ambiente, que se parecia com o dos filmes a preto e branco que vira em Xangai. As raparigas aproximavam-se, sorridentes, dos clientes, apesar de todos saberem que não existiam finais felizes. Vivia-se uma espécie de tristeza sem salvação. Em tempos de guerra era-se obrigado a ser feliz. O jogo, o dinheiro, o sexo ou o poder escondiam a infelicidade. Os portugueses que apareciam por ali falavam da solidão da vida no mar, aquilo a que chamavam saudade. Mas como podemos chamar à solidão da vida numa cidade como Macau, perguntava-lhes. Também seria uma forma de saudade?

Ninguém queria falar sobre isso.

Marina Kaplan aproximou-se e sentou-se defronte de Cândido. Trazia dois copos cheios de vodka e estendeu-lhe um. Este agarrou-o, como se ali estivesse a água que lhe permitia não morrer sedento. Bebeu um pouco.
– Obrigado.
– Eu vi que precisavas. Estás triste.
– Isto não é tristeza. É saber o que se vai passar.
Ela deu uma gargalhada.
– Sabes? Precisamos de um vidente em Macau. Cândido, sê realista. Qualquer um pode perder-se na noite. O importante é que esteja de regresso ao amanhecer.

Ele olhou com ar intrigado para ela, antes de dizer:
– Jin vai embora. E eu não sei o que vou fazer.
– Podes ajudar-me aqui. A Grande Dama do Chá vai embora, mas a loja não vai fechar. Eu vou ficar a geri-la. Podes continuar a tocar jazz. Ou, se preferires, a trabalhar com o Ezequiel. Ele fez-te uma proposta muito tentadora. Não podes dizer que te faltam oportunidades.
– Alguém me disse uma vez que um marinheiro só se faz enfrentando uma tempestade no mar.
– Tinha razão. Já deverias ter percebido isso em Xangai. Aqui vai acontecer o mesmo. Precisamos de homens e mulheres fortes para o que aí vem.

Calaram-se. Jin Shixin acabava de entrar na pequena sala, de onde nessa noite se via parte do “Bambu Vermelho”, porque não tinha o biombo de bambu a protegê-la. O seu sorriso era tentador e vinha vestida com um dos mais belos cheongsam que Cândido já vira. Na despedida, a chinesa queria deixar uma imagem inesquecível. Deparou com os olhos tristes de Cândido. Sentou-se ao lado dele e passou-lhe a mão pelo cabelo. Assim esteve durante uns segundos, perante o ar indiferente de Marina.

– Sabes que tenho uma missão, Cândido. Nada me afasta dela. Nem o meu amor por ti. Não é uma escolha entre ti e Du Yuesheng. Entre Macau e a China. É entre o que tenho de fazer e o que é importante, mas não é fundamental. Sei que isto te dói. Mas é melhor sentires uma dor aguda agora do que mais tarde.
– O teu coração é, às vezes, demasiado de pedra para se comover.
– Já o sabia, querido Cândido. Nunca te escondi o que sentia e pensava. As guerras ou se ganham ou se perdem. E nós não podemos perder esta. Acredita, eu voltarei.

Nessa tarde Cândido estivera a ouvir a rádio de Hong Kong. Falava-se de um terrível ataque em Nanquim efectuado pelos soldados japoneses. Com muitos mortos. Que continuava, segundo alguns padres que tinham conseguido chegar à colónia britânica. Em Macau os europeus preparavam-se para comemorar a chegada de 1938, perante a indiferença do chineses, cujo Ano Novo só se iniciaria numa noite de Lua nova, a 31 de Janeiro. Seria o ano do Tigre. Jin virou-se para Marina:
– Macau está cheia de conspiradores. Mais virão para aqui. Tenham cuidado.
– E Du Yuesheng?
– Está em Hong Kong.
– Tu vais ter com ele e depois partes para a China?

Jin refugiou-se no silêncio. Olhando-a, Cândido pensou na morte de Prazeres da Costa. Com Nomura morto não sabia se tinha sido ele a assassiná-lo. E se os assassinos fossem outros? Os homens de Du Yuesheng não eram santos. Em Xangai tinham feito verdadeiros massacres. Sabia que alguns membros do Bando Verde estavam a trabalhar para os japoneses em Xangai. Outros tinham vindo para Macau e tanto poderiam estar sob as ordens de Jin como de Nomura. Uns detestavam Chiang Kai-shek. Muitos, os comunistas. Outros só gostavam de dinheiro. Todos tinham argumentos, mesmo que falsos, para matar Prazeres da Costa. Jin talvez soubesse o que se passara, mas nada lhe diria. A sua lealdade a Du ultrapassava tudo. Luc LeFranc poderia saber. Seria um segredo impossível de desvendar. Jin sentia o ambiente pesado e o olhar inquisitivo de

Cândido. Acabou por dizer:

– Escravo é quem renuncia ao presente para sonhar com o que o futuro diz que lhe reserva. Mesmo que seja um aterrador castigo pelo que não fez. É igual. Renunciar ao presente é ser derrotado. E o que acontece a estes? Nenhuma piedade para eles. Nem os vossos mestres gregos acreditavam na piedade.
– Como sabes?
– Em Xangai também apareciam filósofos europeus, perdidos nas suas dúvidas. Encontravam na noite dos pecados um sentido para a sua vida.

Marina olhava para os dois. Esta era uma batalha que nenhum ganharia. Cândido ficaria. Jin partiria para junto do seu guia, Du Yuesheng e talvez fosse para a China morrer por ele. Combatendo japoneses e os inimigos chineses. As armas de Jin e Cândido eram as palavras. Feriam-se, neste jogo que nenhum queria vencer ou perder. Nenhum deles iria fazer cedências. O amor não vencia aquela batalha. Estavam só a destruir o que era belo. Jin acabou com o silêncio.

– Há homens que parecem estar sempre de partida. Tu és um deles, Cândido. Também tu partirás de Macau. És um marinheiro errante dum mundo sem fronteiras. Sabes que é cada vez mais difícil dizeres a que país pertences. Não queiras substituir uma pátria por um coração, só para te enganares. O amor que dizes sentir por mim, e pelo qual pedes que fique e abdique da minha missão, é uma desculpa. Isso é melancolia. Podemos ser livres, ou não. Podemos ser tudo, ou nada. Eu quero ser tudo.
– Faz-me então um favor. Fica viva por mim.
– Ficarei.

Jin agarrou num anel de jade verde que tinha no dedo anelar e colocou-o no dedo de Cândido.
– Com o tempo memórias e objectos são a mesma coisa. Com este anel verás sempre a minha face. As minhas faces, melhor dizendo. Uma virada para o nosso passado comum. E outra para o futuro que não sabemos o que será.
– Tens os olhos puros.
– Ninguém tem, Cândido.

Marina Kaplan fez um sorriso.
– Macau é bela e sem saída. Sejam sempre bem-vindos a esta cidade. Para jogar, para fugir do passado, para encontrarem o futuro. Assim continuará a ser.

A vida é um jogo violento de luzes e de sombras, como mostravam Jin e Cândido. Marina Kaplan não quis dizer que Jin procurava o tufão pois só na tempestade encontraria o seu destino. Não queria ser como o imperador que queria ser um intermediário entra a Terra e o Céu. Não conciliava. Desaparecia. Já o tinha feito outras vezes, em Xangai. Mas desta vez era diferente. Não havia para onde fugir. E, assim, ela corria para o único sítio onde encontrava a paz: a guerra.

A noite estava a acabar, mas o amanhecer estava sombrio. Os relâmpagos e os trovões criavam um cenário medonho. Na porta do “Bambu Vermelho”, Cândido e Marina ficaram a ver Jin Shixin caminhar para o automóvel que Potapoff estacionara. Esperaram em vão. Ela não olhou para trás. Nem para dizer adeus. FIM

Uma aula ao contrário

[dropcap]E[/dropcap]stou em Macau há quase um mês em residência literária, uma oportunidade apenas possibilitada pelo trabalho incansável do Hélder Beja e da sua Eastern Chapter, que buscou apoios junto da Casa de Portugal em Macau e da Fundação Oriente para conseguir que a minha ideia semi-tresloucada de deambular por aqui exposto a esta intersecção de culturas, pessoas e hábitos fosse concretizável. Não escrevo esta crónica em jeito de sumário ou de despedida. As minhas experiências de Macau são fragmentos de terra em deriva impassíveis de serem cartografados por ora.

Estive hoje (quinta-feira, 28 de Novembro) numa escola chinesa trilingue. Os alunos, da primária ao secundário, aprendem mandarim, português e inglês, a par do cantonense que já falam em casa e entre eles.

É uma escola-piloto em Macau, a única que proporciona este currículo. Os alunos dos 10º e 11º anos com quem estive a conversar não eram na sua maioria fluentes em português. Mas havia uma miúda – chamemos-lhe Ana – que falava um português mais do que razoável. Ávida leitora, perguntou-me, entre outras coisas, de onde vinha a inspiração, como é que alguém se tornava escritor. Já respondi a esta pergunta dezenas de vezes, numa estimativa conservadora, e sempre errada ou incompletamente. Para ser honesto, teríamos de conversar muito acerca do que entendemos por inspiração para nos aproximarmos sequer do que pode ser uma resposta que caia pelo menos na cercania do alvo. Aquela menina, de uma curiosidade insaciável, sabia a resposta à sua pergunta, mesmo sem talvez conseguir formulá-la adequadamente.

Falei-lhe de como cada um de nós é um arquipélago de histórias em constante reformulação. Contei-lhe como as minhas memórias de infância foram sendo substituídas por memórias imaginadas e de como me tinha surpreendido quando, regressando em 2016 à cidade onde nasci, tudo me parecera muito diferente daquilo que me lembrava, mesmo nas coisas, que por inerência de perenidade, não costumam mudar no nosso tempo de vida, como é o caso das montanhas. Contei-lhe uma história que lera no dia anterior sobre uma ponte na Escócia de onde já saltaram cerca de trezentos cães, tendo muitos deles morrido. Regra geral, o cão não tem impulsos suicidas, pelo que aquela ponte é um mistério até para especialistas mais renomados em comportamento animal, que propõem teorias que os locais despedem com um aceno de mão. Este mundo feito de histórias – disse-lhe – no qual a ficção joga com a realidade apenas para tentar empatar, é o magma passível de ser convertido em sentido e expressão artísticos.

Soube depois que a Ana quer ser escritora, que estuda português todos os dias para um dia conseguir explicar aos portugueses o que é a China e a cultura chinesa. Eu gostava de ter conhecido a Ana desde sempre, porque só muito recentemente e por via do acaso é que ultrapassei a síndrome da China-galinha-com-amêndoas e da China-produtos-que-não-duram. Somos insuficientemente expostos – por motivos diversos – à diferença. Precisamos da Ana, de todas as Anas possíveis. Porque no fundo é neste ponto que a arte, qualquer arte, começa.

Mike Goodridge, director do Festival Internacional de Cinema: “Acho que as pessoas nos estão a levar a sério”

Pelo terceiro ano consecutivo, Mike Goodridge assume as rédeas da direcção artística do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF) que arranca já na próxima semana. A poucos dias do início do evento, o britânico que continua fascinado por Macau, faz um apelo à comunidade portuguesa e aponta várias obras da programação deste ano aos Óscares

 

O que vamos poder esperar desta quarta edição do MIFF?

[dropcap]D[/dropcap]ezembro vai ser um mês muito importante para Macau por causa das celebrações dos 20 anos da RAEM e, por isso, quisemos criar uma edição realmente marcante. Este ano, o MIFF tem algumas das melhores obras chinesas e internacionais de 2019, a começar pelo filme de abertura, Jojo Rabbit, que é simplesmente maravilhoso. Por isso acho que estamos em grande forma.

Estamos a poucos dias do início do festival. Está tudo pronto?

Sim, mas foi um grande desafio. Acaba sempre por ser tudo em cima da hora porque a nossa intenção é precisamente trazer as últimas novidades a Macau. No festival não são exibidos, por exemplo, filmes que tenham sido lançados no início do ano. O problema é que, como acabaram de ser lançados, temos pouco tempo para tratar de toda a logística, como arranjar as cópias e mostrá-las aos responsáveis pela atribuição dos ratings, até porque não podemos vender bilhetes sem essa classificação.

Porquê Jojo Rabbit para começar o festival e o que há de especial na abordagem de Taika Waititi?

Já trabalhei com o Taika Waititi e sempre gostei deste tipo de filmes em que existe uma combinação brilhante entre comédia e tragédia. Dá para ver isso no filme que fizemos juntos “Hunt for the Wilderpeople”, mas também em “Boy”, que foi o primeiro grande sucesso de bilheteira dele na Nova Zelândia. Por isso, estou muito expectante em relação a Jojo Rabbit mas, ao mesmo tempo, nervoso porque este era um projecto que o Taika Waititi queria fazer há muito tempo e porque conta a história de um alemão que mata nazis na Alemanha e que tem um amigo imaginário chamado Adolf Hitler. Mas a verdade é que acabou por conseguir fazer algo magnífico, pois é um filme capaz de pôr qualquer um a rir desalmadamente, enquanto aborda um tema trágico que é Segunda Grande Guerra Mundial.

É possível definir um festival tão peculiar como o MIFF?

O MIFF é um Festival de Cinema internacional, não chinês ou asiático, e era isso que o Governo queria que acontecesse, ou seja, que houvesse um evento com um foco internacional e que seguisse os mesmos padrões dos outros festivais internacionais. Quando comecei a trabalhar no MIFF, a minha grande ambição era cativar o público de Macau, porque é impossível haver um festival se não existir uma audiência local. E isso não foi facilmente conseguido porque se trata de uma população que não se envolve muito e há toneladas de coisas a acontecer ao mesmo tempo. Por isso, para nós o desafio passa por trazer todo o tipo de filmes de diferentes partes do mundo, incluindo uma dose saudável de filmes chineses de Macau, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Singapura e da China Interior claro.

Que vantagens há em realizar o festival em Macau comparativamente com outras partes da China?

Obviamente que Macau é um país muito mais liberal em termos culturais. Muito especificamente falando de filmes, não existe o nível de escrutínio e de censura que existe no interior da China. Aqui quando vais ao cinema consegues encontrar filmes recentes de Hollywood, que nunca seriam lançados na China, por exemplo. O mesmo se passa em Hong Kong. Por isso é uma oportunidade fantástica para partilhar filmes, mas sempre com a liberdade que Macau oferece.

A edição deste ano marca o 20º aniversário da RAEM. Como vês Macau nos dias que correm?

É muito interessante termos vários filmes de Macau este ano. Um deles chama-se “Years of Macau”. Obviamente que, e eu só comecei a vir a Macau há cerca de três anos, após 1999 existiu um enorme desenvolvimento económico e daí cresceu a enorme indústria dos casinos, que tem sido espetacular. E isso teve tudo um enorme impacto na cidade e na população local. É um lugar que tem experimentado um crescimento económico muito rápido, vasto e dinâmico. Faz parte da China e ao mesmo tempo não faz. É uma porta de entrada para a China em diversos sentidos e, embora habite a mesma casa, consegue ser autónomo em muitos aspectos e ter uma identidade própria. Fico fascinado pela quantidade de pessoas no ocidente que não sabem o que é Macau.

Este ano existem cinco filmes de Macau. Como encara a evolução do cinema aqui?

Macau é uma industria muito pouco desenvolvida, mas é interessante notar que os jovens realizadores daqui estão a contar histórias sobre Macau, ou seja de como é viver neste ambiente extraordinário. Acho que há um longo caminho a percorrer e existem muitos desafios, no que diz respeito à cultura de produção cinematográfica. Macau é muito pequena, tem cerca de 650 mil pessoas e sempre viveu na sombra da indústria cinematográfica de Hong Kong que tem já uma tradição grande. Se olharmos para realizadores como Wong Kar-wai ou Jonnie To vemos grandes mestres que foram muito influenciados pelo estilo de John Woo. Hong Kong foi capaz de criar o seu próprio tipo de cinema o que é verdadeiramente extraordinário, com a agravante de ser reconhecido a nível mundial por ter alguns dos melhores realizadores de todos os tempos. Isso não existe em Macau, por isso como disse, há ainda um longo caminho a percorrer.

Sendo esta a terceira vez à frente da direcção artística do MIFF, como vê o caminho que está a ser percorrido pelo festival?

Acho sinceramente que está a correr muito bem. Quando comecei estava expectante e preocupado sobre se isto iria funcionar, porque queria saber se existia realmente mercado para o festival. E agora acho que há. Até pelo número de bilhetes que já vendemos para a edição deste ano conseguimos perceber que as pessoas sabem que o festival existe, querem fazer parte dele e ver os filmes. Mas ao mesmo tempo, estou muito entusiasmado porque a nível internacional sei que o Festival está a atrair muita atenção e que há muita gente interessada. É uma sorte para qualquer cidade ter um bom festival de cinema. E o nível da programação que conseguimos trazer aqui é muito elevado, temos convidados estonteantes a visitar Macau.

Qual a sua opinião sobre o filme português, “A Herdade”?

Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português. “A Herdade” é um filme realmente bom, é um grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo. É uma grande saga com grandes actores portugueses e que é produzido pelo Paulo Branco, por quem tenho uma grande admiração. Por isso tem uma marca portuguesa clara. Espero que a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver. Em relação ao cinema português acho que infelizmente não é o mais apaixonante do mundo, o que é uma pena, porque Portugal tem um legado cultural tão rico que adorava que o cinema português fosse mais entusiasmante. Em português temos ainda “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” que é também um fabuloso épico realizado pelo realizador brasileiro Karim Aïnouz. É realmente bom e, ou muito me engano, será nomeado para os Óscares.

Da programação do MIFF, quais são as suas apostas quando pensamos em Óscares?

As nossas escolhas não são feitas nessa base obviamente. Mas temos filmes em língua inglesa que são verdadeiramente soberbos e que serão falados e apontados para óscares, nomeadamente Jojo Rabbit, o fantástico Dark Waters, realizado por Todd Haynes, que é uma história arrepiante, que conta também com Mark Ruffalo e Anne Hathaway no elenco. Outro, onde apostaria também as minhas fichas, é o novo filme de Terrence Malik, “A hidden life”, que conta a história real de um casal austríaco, que se recusa a prestar vassalagem ao regime de Adolf Hitler após a anexação da Áustria. É sobre princípios, honra, fé e espiritualidade, e fala de tudo isto numa altura em que o mundo tem dificuldade em reconhecer essas qualidades. Acho que este filme vai também ser apontado muitas vezes à conversa dos óscares. Por último, temos também Judy, onde Renée Zellweger está sublime no papel de Judy Garland. Sinceramente não imagino que Renée Zellweger não vença o óscar de melhor actriz. Está simplesmente magnífica.

E como é ver “The Long Walk” na edição deste ano?

Foi um projecto que foi desenvolvido no MIFF Project Market em 2016 e que vai ser exibido no festival, o que é um cenário de sonho. E se não fosse um bom filme não o passávamos aqui. É um filme magnífico que também já esteve em Veneza e Toronto e é realizado por Mattie Do.

Como será o MIFF no futuro?

Espero que seja abraçado pelo novo Governo e pelo novo Chefe do Executivo porque acho que desempenha um papel importante no lado cultural de Macau e apoia verdadeiramente a construção da cultura e dos hábitos cinematográficos da região. Acho que Macau pode vir a estar muito mais vezes nos ecrãs de todo o Mundo, e não apenas de uma forma glamorosa como nos filmes do James Bond, porque é um sitio realmente especial e único, com um lado profundo também. Qualquer festival quando começa, leva o seu tempo até ganhar tracção e até que grandes estrelas de cinema comecem a vir. E nesse aspecto penso que estamos a ir muito bem e acho que as pessoas nos estão a levar a sério porque nós somos sérios. Acho que os produtores e os realizadores da indústria reconhecem o trabalho feito e penso que isso trará muitos benefícios a longo prazo.