FAM | Teatro, bailado, workshops e espectáculos ao ar-livre este fim-de-semana

O Festival de Artes de Macau continua a marcar a agenda cultural da cidade. As propostas para este fim-de-semana incluem alucinações teatrais, diálogos em bailado, espectáculos ao ar-livre no Mercado do Iao Hon e workshops de iniciação à música e ópera cantonense

 

No penúltimo fim-de-semana da 33.ª edição do Festival de Artes de Macau, o cartaz de espectáculos e eventos apresenta uma série eclética de propostas.

“Xiao Ke conta a sua história de dança” é um dos destaques dos próximos dias. O bailado autobiográfico e experimental tem como epicentro Xiao Ke, uma bailarina e coreógrafa de 44 anos, actualmente radicada em Xangai. A peça que sobe ao palco do Teatro Caixa Preta do Edifício do Antigo Tribunal amanhã e no domingo, às 20h, resulta da colaboração da artista chinesa com o coreógrafo francês Jérôme Bel.

Concebido durante os momentos de clausura que marcaram a pandemia da covid-19, o espectáculo propõe um diálogo intercultural.

“Sem possibilidade de viajar internacionalmente e experimentando novas práticas de produção e divulgação, a abordagem de Bel combina a preocupação com o meio ambiente com a questão da criação e transmissão. Apesar da ausência de Bel, na narrativa autobiográfica de Xiao Ke, os movimentos corporais e a música no palco sugerem um diálogo transcultural com ele, reflectindo a evolução da dança e da cultura na China nos últimos 40 anos”, aponta o Instituto Cultural (IC).

A obra que será apresentada este fim-de-semana em Macau foi comissionada pelo Centre Pompidou x West Bund Museum Project a Xiao Ke, estreada em 2020 com grande aclamação da crítica. Os bilhetes para o espectáculo ainda estão à venda e custam 220 patacas.

Fragmentos e psicadélicos

Uma das propostas mais originais do cartaz é a peça “O Vestido Fica-lhe Bem”, que será apresentada no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), no sábado e domingo às 19h45. Em chinês, a obra é denominada como “Neptuno”, devido à forte componente astrológica que está na génese da obra, através de representações simbólicas de alucinação, redenção, desordem e ansiedade num imaginário irreal e ambíguo.

A peça é composta por cerca de 60 segmentos ou fragmentos de histórias, dispersos por diferentes pontos no tempo e no espaço e entre diferentes personagens e géneros.

Com encenação da Dream Theater Association e de Cheong Kin I e dramaturgia de Chen Hung-Yang, “O Vestido Fica-lhe Bem” é inspirado em experiências pessoais, integrando entrevistas com indivíduos psicóticos. A psicose é o tema central da peça, destacando experiências sensoriais de uma encenadora de teatro que “descobre o mundo dos indivíduos psicóticos através de entrevistas com o seu parceiro e a sua mãe psicótica” e, a partir daí, “tenta criar uma produção teatral” onde as dúvidas em muito suplantam as certezas.

O espectáculo que subirá ao palco do pequeno auditório do CCM entrelaça realidade e ilusão num caleidoscópio teatral de estímulos auditivos, mentais e visuais. Os bilhetes para “O Vestido Fica-lhe Bem” custam 180 patacas.

Festa no Iao Hon

Numa perspectiva mais comunitária, o Jardim do Mercado do Iao Hon recebe hoje, sábado e domingo, a partir das 18h, aquilo que o IC designa como “Mostra de Espectáculos ao Ar Livre”.

Durante três noites consecutivas, o centro nevrálgico do Iao Hon irá vibrar com teatro de marionetas de luva, canções folclóricas, ópera de Hainão e espectáculos de grupos locais, inclusive de música portuguesa.

O IC especifica que “o teatro de marionetas de luva da cidade de Jinjiang, um item representativo inscrito na Lista Nacional de Itens Representativos do Património Cultural Intangível da China, é um género teatral raro que apresenta fantoches de luva realistas”. Enquanto que as “canções folclóricas do grupo étnico Li e ópera de Hainão constituem igualmente itens representativos” que vão dar a conhecer os costumes populares próprios da Província de Hainão.

Mas estas não são as únicas propostas para o Jardim do Mercado do Iao Hon, com o palco a ser partilhado por várias companhias artísticas locais, com música tradicional e pop portuguesa, “pequenos actores musicais cantarão sobre os seus sonhos e jovens actores de ópera cantonense interpretarão trechos clássicos”.

Os grupos participantes na festa são a Associação Juvenil de Cultura e Desenvolvimento Artístico da Ópera Cantonense, a Casa de Portugal em Macau, o Centro de Protecção e Transmissão da Arte das Marionetas de Jinjiang, Departamento de Turismo, Cultura, Rádio, Televisão e Desporto da Província de Hainan, o Espaço para Agir e o Grupo de Teatro Infantil Miúdos Ratões. Estes espectáculos têm entrada livre.

Loja de trabalho

No domingo, o cartaz do Festival de Artes de Macau oferece um vasto leque de workshops, todos em cantonense. O Centro de Actividades do Iao Hon acolhe no domingo, entre as 10h30 e 12h30, o Workshop Musical Familiar, uma actividade que convida pais e filhos “a embarcarem numa extraordinária viagem de dança e canto, através da experiência colectiva do teatro, da música e da dança, bem como da expressão de emoções através de jogos lúdicos, role-playing e canto”. O workshop será conduzido por Mabina Choi, instrutora de teatro e Ho Pak Wang, instrutor de música e as inscrições já fecharam, com a única hipótese de participação a depender de desistências.

Também na manhã de domingo, entre as 11h e as 13h, a sala de conferências do CCM irá receber o “Workshop de Criação de Chapéus de Ópera de Papel para Famílias”. “Delicadamente confeccionados, os chapéus de ópera apresentam uma grande variedade de estilos e indicam a identidade e o estatuto da personagem que os usa. Durante este workshop de duas horas, os participantes poderão criar modelos de chapéus em papel e, simultaneamente, adquirir alguns conhecimentos sobre a ópera tradicional”, indica a IC.

Finalmente, no domingo, entre 15h e 17h, a sala de ensaios polivalente do CCM acolhe o Workshop de Movimentos de Ópera Cantonense: Movimentos de Guerreiro.

19 Mai 2023

Salman Rushdie alerta que a liberdade de expressão está gravemente ameaçada

O escritor Salman Rushdie avisou que a liberdade de expressão no Ocidente está sob a maior ameaça que já assistiu em toda a sua vida, naquele que foi o seu primeiro discurso público após ter sido atacado.

O escritor britânico enviou uma mensagem em vídeo para o British Book Awards, que lhe atribuiu, na segunda-feira à noite, o prémio Freedom to Publish, que “reconhece a determinação de autores, editores e livreiros que se posicionam contra a intolerância, apesar das ameaças que enfrentam”, noticia a AP.

“Vivemos num momento em que a liberdade de expressão e a liberdade de publicação nunca estiveram, em todo o meu tempo de vida, tão ameaçadas nos países ocidentais”, disse.

“Agora que estou aqui sentado nos Estados Unidos, tenho de olhar para o extraordinário ataque às bibliotecas e aos livros para crianças nas escolas. O ataque à ideia das próprias bibliotecas. É extremamente alarmante e temos de estar muito atentos e lutar muito contra isso”, acrescentou.

Durante o seu discurso, Salman Rushdie criticou também os editores que alteram livros com décadas de existência para adaptá-los às sensibilidades modernas, como aconteceu com os cortes e as reedições em grande escala feitos nas obras do autor infantil Roald Dahl e do criador de James Bond, Ian Fleming.

Os editores devem permitir que os livros “cheguem até nós do seu tempo e sejam do seu tempo. E se isso for difícil de aceitar, não o leiam, leiam outro livro”, considerou o autor.

Prémios e ataques

Salman Rushdie, de 75 anos, apareceu no vídeo visivelmente mais magro do que antes do ataque e usava óculos com uma lente colorida.

O escritor ficou cego do olho direito e sofreu danos nos nervos da mão, na sequência de um esfaqueamento por um homem de 24 anos, quando iniciava uma palestra em Chautauqua, Nova Iorque, em agosto do ano passado.

O alegado agressor, Hadi Matar, declarou-se inocente das acusações de agressão e tentativa de homicídio.

Salman Rushdie passou anos escondido e com proteção policial, depois de o fundador da República Islâmica, ayatollah Rouhollah Khomeini, ter emitido uma ‘fatwa’ (decreto religioso) em 1989, apelando à sua morte devido ao que considerava blasfémia, do romance “Os Versículos Satânicos”.

O escritor regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da ordem, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a ‘fatwa’ nunca tenha sido oficialmente revogada.

Salman Rushdie ganhou o Prémio Booker em 1981 pelo seu romance “Os filhos da meia-noite” e, em 2008, foi eleito o melhor vencedor de sempre daquele prestigiado prémio literário.

O seu romance mais recente, “Victory City”, concluído um mês antes do atentado, foi lançado internacionalmente em Fevereiro deste ano, pela Penguin Random House, e chegará a Portugal no final do ano, editado pela Dom Quixote.

18 Mai 2023

Festival tem um filme de Pedro Costa na selecção oficial

O Festival de Cinema de Cannes, que começou esta terça-feira no sul de França, conta com um filme de Pedro Costa na selecção oficial e outros filmes portugueses em programações paralelas.

Numa edição em que vão estrear-se filmes de Martin Scorsese, Wes Anderson, Pedro Almodóvar, Ken Loach ou Nanni Moretti, Cannes contará com sete realizadoras em competição – um número recorde -, com Alice Rohrwacher, Jessica Hausner, Kaouther Ben Hania, Justine Triet, Catherine Breillat, Ramata-Toulaye Sy e Catherine Corsini.

Fora de competição, Pedro Costa fará a estreia do filme “As Filhas do Fogo”, sendo a quinta vez que o realizador português marca presença em Cannes.

Segundo a produtora Clarão Companhia, “As filhas do fogo” é uma curta-metragem interpretada pelas cantoras Elizabeth Pinard, Alice Costa e Karyna Gomes, com Os Músicos do Tejo, dirigidos pelo maestro e cravista Marcos Magalhães.

Também fora de competição, Cannes vai exibir “Eureka”, do argentino Lisandro Alonso, coproduzido pela Rosa Filmes.

A 76.ª edição do Festival de Cannes abre com “Jeanne du Barry”, da realizadora francesa Maiwenn, com o actor Johnny Depp no papel de Luís XV.

Na secção “Un Certain Regard” vai estar o filme “A Flor do Buriti”, da realizadora brasileira Renée Nader Messora e do português João Salaviza, que voltaram a filmar com o povo indígena Krahô, do Brasil, depois de “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”.

Na Quinzena de Cineastas, Filipa Reis e João Miller Guerra vão estrear a segunda longa-metragem de ficção de ambos, “Légua”, e vai assinalar-se os trinta anos da estreia de “Vale Abraão”, de Manoel de Oliveira, com as presenças da actriz Leonor Silveira e do produtor Paulo Branco.

Curtas e carreiras

Também nesta programação, na iniciativa “La Factory des Cinéastes”, estarão em foco quatro curtas-metragens, coproduzidas pela Bando à Parte com jovens estruturas, técnicos e realizadores do norte de Portugal.

“Corpos Cintilantes”, uma primeira obra da realizadora Inês Teixeira, sobre a adolescência, está integrada na competição de curtas-metragens da Semana da Crítica. O júri da competição oficial é presidido pelo realizador sueco Ruben Ostlund.

O actor Michael Douglas receberá um prémio de carreira e o actor Harrison Ford será homenageado com a estreia de “Indiana Jones e o Marcador do Destino”, dirigido por James Mangold. O festival de Cannes termina no dia 27.

18 Mai 2023

Dia da Criança | Arraiais, prendas e visitas ao Museu do Exército animam mais novos

A partir de domingo, até ao final de Junho, Macau vai-se desdobrar em actividades para assinalar o Dia da Criança. Passeios em família, oferta de prendas a crianças hospitalizadas, jogos sobre direitos das crianças e visitas ao Museu do Exército do Quartel Militar da Taipa, para aprofundar o sentimento patriótico de alunos do ensino primário, são algumas das actividades programadas

 

Durante mais de um mês, o Governo, com a colaboração de algumas associações tradicionais, vai organizar uma panóplia de actividades para celebrar o Dia da Criança, que se assinala a 1 de Junho.

O cartaz de celebrações arranca já no próximo domingo, 21 de Maio, com o Concurso de Passeio na Comunidade, organizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau para animar a pequenada, incentivar a interacção entre pais e filhos e “construir em conjunto uma relação positiva e saudável entre familiares e um estado físico e mental saudável”, anunciou ontem o Instituto de Acção Social (IAS). O passeio tem início nas Ruínas de São Paulo, às 13h30 e termina às 18h no Centro de Actividades Juvenis da Federação das Associações dos Operários de Macau.

Como não poderia deixar de ser, uma das actividades em destaque que promete alimentar a imaginação das crianças é a visita ao Museu do Exército do Quartel Militar da Taipa da Guarnição do Exército de Libertação do Povo Chinês estacionado em Macau.

A visita, marcada para o dia 27 de Maio, irá levar cerca de 300 estudantes do ensino primário a assistir a uma apresentação feita por militares com o intuito de “aprofundar o conhecimento dos estudantes sobre o Exército de Libertação do Povo Chinês estacionado em Macau e o sentimento patriótico”.

Jogos e prendas

Grande parte das actividades programadas para celebrar o Dia da Criança são de cariz pedagógico. Uma das principais é a exposição itinerante de placards que explicam os direitos das crianças, nomeadamente os consagrados em convenções internacionais, e a evolução dos mesmos. A mostra irá percorrer várias escolas de Macau, assim como centros da FAOM.

No dia 1 de Junho serão distribuídas prendas a 199 crianças internadas no Centro Hospitalar Conde de São Januário e no Hospital Kiang Wu, “como forma de lhes transmitir as saudações festivas e votos de felicidades apresentados pelo Governo da RAEM e pelos diversos sectores da sociedade”. As prendas são patrocinadas pela Comissão Organizadora do Dia Mundial das Crianças (que reúne um leque variado de instituições públicas, órgãos do Governo e associações tradicionais) e pela Obra das Mães.

O Governo acrescenta ainda que a Federação das Associações dos Operários de Macau, a União Geral das Associações dos Moradores de Macau, a Cáritas de Macau e a Associação Geral das Mulheres de Macau, vão realizar vários arraiais, sem que sejam especificadas as actividades que vão acontecer.

Ao longo do mês de Junho será ainda organizado o sorteio de jogos online sobre a Convenção sobre os Direitos da Criança.

18 Mai 2023

Cinemateca Paixão | Ciclo de filmes leva arquitectura à Travessa da Paixão

Arranca este fim-de-semana na Cinemateca Paixão o ciclo de cinema “Arquitectura no Ecrã”, que ao longo de três semanas irá exibir seis filmes que servirão de mote para discussões. A sessão inaugural, no sábado, será ritmada pela performance de um DJ e contará com uma palestra, além da projecção de dois filmes

 

O centro de investigação Docomomo Macau vai organizar um ciclo de cinema na Cinemateca Paixão intitulado “Arquitectura no Ecrã”, com a exibição de meia dúzia de documentários, condimentados com palestras após as sessões, ao longo de três semanas, de 20 de Maio a 8 de Junho.

O evento arranca no sábado, às 15h15, com os ritmos iniciais a cargo do DJ Relaxmarco. Meia hora depois é exibida a primeira película, “The Real Thing”, realizado pelo franco-italiano Benoit Felici. O filme que inaugura a primeira edição do “Arquitectura no Ecrã” leva o espectador numa viagem pelo mundo das formas e da interacção entre espaços e pessoas.

Apesar do título, o documentário de Felici traça uma jornada por vários tipos de réplicas de incontornáveis marcos arquitectónicos mundiais, quase como que uma expiação iconográfica de Macau. Para lá da “pirataria arquitectónica”, “The Real Thing” mostra como as pessoas interagem com estas representações, seja uma Torre de Londres nos arredores de Xangai, uma Basílica de São Pedro na Costa do Marfim ou as várias Torres Eiffel espalhadas pela China. O filme será repetido na terça-feira, às 19h15.

Após a exibição do filme, haverá lugar a uma conversa aberta conduzida pelos realizadores locais Maxim Bessmertnyi e Tracy Choi, seguido por mais um interlúdio musical do DJ Relaxmarco.

Às 18h20 é exibido o documentário “Tudo é Projecto”: The Life Blueprint of a Brazilian Architectural Master. Num tom intimista, o filme é centrado em torno da vida e obra do arquitecto e urbanista brasileiro Paulo Mendes da Rocha, contadas na primeira pessoa em entrevistas à sua filha Joana Mendes da Rocha. “Tudo é Projecto” volta a ser exibido a 25 de Maio, às 19h15.

Encontro no meio

A Docomomo, na apresentação do festival de cinema, sublinha a natureza artística criativa da arquitectura, “que é mais que uma forma de arte e, também, uma poderosa via para criar e transformar os ambientes em que habitamos”.

A organização realça a capacidade da sétima arte para transmitir a essência, beleza e os desafios da arquitectura, assim como a sua influência na sociedade e cultura. “Para incidir uma luz sobre esta excitante forma de expressão, o centro de pesquisa da Docomomo Macau organizou este festival de cinema. Um evento único que irá mostrar filmes de vários países que propõem uma exploração de várias facetas da arquitectura, com o objectivo de inspirar e entreter tanto profissionais com entusiastas da arquitectura e cinema, encorajando ao diálogo”, refere a Docomomo.

No dia 27 de Maio, às 15h30, e 30 de Maio, às 19h15, é exibido “City Dreamers”, do realizador canadiano Joseph Hillel, que retrata as alterações constantes no ambiente urbano, através do olhar de quatro arquitectas pioneiras que partilham a sua visão e interpretação sobre as mutações urbanas em curso e as que vão acontecer.

Também no dia 27 de Maio, sábado, às 18h e no dia 1 de Junho às 19h15, é exibido “As Operações Saal”, do realizador português João Dias.

Nos dias 3 e 6 de Junho, às 15h30 e 19h15 respectivamente, a Cinemateca Paixão apresenta “Tokyo Ride”, que, como o nome indica, é um passeio conduzido por um dos mais famosos arquitectos japoneses pelas ruas de Tóquio. À medida que o seu Alfa Romeo percorre a cidade, Ryue Nishizawa discorre sobre as paisagens urbanas e edifícios que o inspiraram ao longo da vida e carreira.

Finalmente, a fecha o ciclo, “Microtopia” é exibido a 3 e 8 de Maio, às 17h30 e 19h15, respectivamente, do realizador sueco Jesper Wachtmeister. Os bilhetes para todas as sessões estão à venda e custam 60 patacas.

17 Mai 2023

Restauração | Portugália passa a servir na Rua dos Clérigos

A partir desta quarta-feira, o restaurante Portugália passa a ter uma nova localização, mantendo-se na vila da Taipa, mas, desta vez, na Rua dos Clérigos. “A opção por continuar na vila da Taipa pareceu-nos óbvia. Primeiro, pelo carácter histórico que se associa, na perfeição, à nossa centenária marca, e, segundo, porque pretendemos oferecer uma atmosfera com características portuguesas aos nossos clientes.”

Assim, a gerência aponta que os clientes vão continuar a encontrar “painéis de azulejos genuínos, imagens antigas da cervejaria, painéis com a história do restaurante e motivos portugueses” espalhados pelos três pisos do novo espaço. Mantém-se, na carta, os pratos mais conhecidos do grupo, como o Bife à Portugália, com o tradicional molho, entre outros.

A Portugália estabeleceu-se em Macau há oito anos e foi a primeira aposta do grupo no Extremo Oriente. A gerência aponta que estes têm sido anos “de aprendizagem, constante evolução e adaptação a uma cultura única, com o objectivo de dar a conhecer um pouco mais sobre a riqueza gastronómica portuguesa e a tradição do grupo”, que já conta com 98 anos de experiência.

15 Mai 2023

Fotografia | Exposição de Pamela Chan abre “Quinteto de Arte”

O programa anual da ARK – Associação de Arte de Macau inaugura com a exposição de fotografia de Pamela Chan, intitulada “Back to Basic”, onde se exploram os meandros das ruas mais tradicionais de Macau. Entre Maio e Setembro, a ARK proporciona a oportunidade de ver o trabalho de cinco artistas locais

 

Pamela Chan, embaixadora cultural e vice-presidente da Associação Cultural Vila da Taipa, inaugurou, no sábado, a sua nova exposição de fotografia, intitulada “Back to Basic”, e que pode ser vista até 18 de Junho no Café Voyage, situado na Rua do Padre António Roliz.

“Back to Basic”, com imagens do lado mais icónico e tradicional de Macau, com as suas ruelas e becos antigos, dá o pontapé de saída ao programa anual da ARK – Associação de Arte de Macau, que revela o trabalho de cinco artistas locais inspirado na filosofia dos cinco elementos – Metal, Madeira, Água, Fogo e Terra. O programa intitula-se “Quinteto de Arte”.

Assim, o trabalho de Pamela Chan traz-nos a sua visão de “Terra”, observando-se, nas imagens, os bonitos pavimentos que povoam as ruas de Macau ou as suas paredes cheias de cores, entre outros símbolos.

Com o elemento Terra temos as ideias de estabilidade, lentidão, permanência ou solidez, remetendo para um estilo de vida calmo e tranquilo, com bases sólidas. Pamela Chan pega nestas ideias para revelar fotografias que mostram as suas raízes, uma vez que nasceu e cresceu em Macau, lugar marcado pela interculturalidade e pela presença das culturas chinesa e portuguesa, que coexistem num pequeno território.

Daí que as imagens de Pamela Chan remetam para uma urbanidade onde o antigo e o novo se confundem, sempre com pedaços de história por detrás. “Através de diferentes cenários realistas, Pamela dá-nos uma sensação de vida no presente, seguindo o nosso coração e mantendo uma vivência plena, deixando que os pensamentos se transformem em atitudes e no ritmo das nossas vidas”, explica a ARK.

As fotografias de Pamela Chan retratam ainda um território que, apesar do enorme desenvolvimento urbano que sofreu nos últimos anos, soube manter “a harmonia entre a natureza e a cultura, algo que se reflecte na paisagem e arquitectura da cidade, bem como no estilo de vida das pessoas e na preservação cultural” em matéria de património.

Quinteto maravilha

Não são ainda conhecidos os restantes quatro artistas que farão parte do “Quinteto de Arte” proposto pela ARK. Mas a verdade é que este programa pretende “mostrar a diversidade criativa dos artistas em torno dos cinco elementos com uma multitude de interpretações e meios artísticos”, levando também à ocorrência de “um intercâmbio artístico entre os artistas e o público através das mensagens transmitidas pelas obras de arte.

Assim, embora a fotografia seja o meio escolhido para inaugurar este quinteto, poderão ser esperadas outro tipo de manifestações artísticas. A ARK, além de organizar exposições, propõe-se ainda criar seminários e workshops, a fim de estabelecer um canal de comunicação entre o mundo da arte e os residentes, revelando o melhor do talento local.

15 Mai 2023

Quatro filmes portugueses distinguidos nas Canárias

A longa-metragem “Nayola” e as curtas-metragens “O Homem do Lixo”, “Ice Merchants” e “Garrano” foram sábado galardoadas nas categorias principais dos Prémios Quirino de Animação Ibero-americana, numa cerimónia que decorreu em Tenerife, nas Canárias, Espanha.

Os filmes portugueses conquistaram quatro dos nove galardões, nomeadamente o Prémio Melhor Longa-Metragem de Animação Ibero-americana para “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, e Prémio Melhor Curta-Metragem para “O Homem do Lixo”, de Laura Gonçalves, anunciou a organização na divulgação do palmarés.

“Nayola” é uma visão do impacto da guerra civil de Angola em três gerações de mulheres e estava nomeada naquela categoria e também para o Prémio Quirino de melhor desenvolvimento visual.

“O Homem do Lixo”, sublinhou a organização do certame, em comunicado, “reflecte a poesia, a nostalgia e a marca autoral que caracterizam a animação portuguesa das últimas décadas”, relatando a história do Tio Botão, um homem capaz de transformar lixo em tesouros.

Também a curta-metragem portuguesa “Ice Merchants”, de João Gonzalez, sobre laços familiares e perda, que tinha sido este ano nomeada para os Óscares, recebeu o Prémio Melhor Desenvolvimento Visual de Obra de Animação Ibero-americana.

O Prémio Melhor Desenho de Som e Música Original de Obra de Animação Ibero-americana foi atribuído a outra obra portuguesa: “Garrano” dirigido por David Doutel e Vasco Sá, e produzida por Bap – Animation Studios, Art Shot (Portugal, Lituania).

Outros premiados

Além das obras portuguesas, também foram distinguidos trabalhos da Espanha e da Argentina, nomeadamente o Prémio Melhor Série, conquistado pela espanhola “Jasmine & Jambo” de Silvia Cortés, uma série que procura explicar conceitos e géneros musicais para o público pré-escolar através das aventuras de dois amigos apaixonados pela música.

O filme argentino “Este perro está raro”, de Facundo Quiroga, Juan Nadalino e Sebastian García, foi reconhecido como Melhor Animação Sob Encomenda.

A lista de vencedores incluiu ainda a curta-metragem argentina em ´stop motion´ “Pasajero” de Juan Pablo Zaramella, vencedor do Prémio de Melhor Design de Animação.

Os vencedores foram seleccionados por um júri internacional integrado por Andrea Fernández, Julio Bonet, Risa Cohen, Robert Jaszczurowski e Simón Wilches-Castro.

A cerimónia de entrega dos Prémios Quirino decorreu no Teatro Leal de San Cristóbal de La Laguna, em Tenerife.

Os Prémios Quirino foram criados em 2018, para reconhecer a produção de quem trabalha no cinema de animação do espaço ibero-americano, dos dois lados do Atlântico.

Mais de 20 países, incluindo Portugal, estiveram na criação destes prémios, baptizados em homenagem ao realizador italo-argentino Quirino Cristiani.

A par da cerimónia dos prémios, os Quirino incluíram uma série de actividades em torno da animação, nomeadamente um fórum, debates e um espaço de negócios.

15 Mai 2023

Música | Eva & Sin, o duo que une a música chinesa à Bossa Nova

Chamam-se “Eva&Sin” e juntos fazem aquilo que, à partida, parece difícil ou impossível: composições que juntem a música chinesa às sonoridades da Bossa Nova, mesclando com o jazz. “Eva&Sin” são um casal residente em Macau que, em meados do ano passado, lançou o primeiro single, “You Are The One You Want”, mas já há novas músicas na calha

 

A história do duo “Eva&Sin”, é marcada pela grande paixão pela Bossa Nova. Os músicos, que formam um casal, dedicam-se a escrever composições que misturam o género musical oriundo do Brasil com o jazz e a música chinesa, tendo lançado, em meados do ano passado, o seu primeiro single, “You Are The One You Want”.

“Adoramos Bossa Nova e ouvimos este género musical desde que somos adolescentes. Este estilo de música varia entre as atmosferas de prazer e conforto e é muito bom para ouvir em cafés ou espaços perto do mar. Faz as pessoas sentirem-se elegantes e relaxadas. É semelhante ao ritmo do nosso estilo de vida”, contou Eva ao HM.

Lisa Ono, nascida em São Paulo, Brasil, em 1962, mas que cedo se mudou para Tóquio com a família, foi o primeiro contacto que a dupla teve com a Bossa Nova. Para Eva e Sin, ela é a “rainha” deste género musical. “Mais tarde descobrimos que o seu pai é um músico brasileiro e começámos a explorar mais o estilo da música brasileira e latina. Somos também influenciados pelos pais da Bossa Nova – Tom Jobim e João Gilberto.”

Parceria de Kumar

A história de “Eva&Sin” ganhou novos contornos com o single lançado no ano passado, disponível em cd e diversas plataformas digitais, como é o caso do Spotify, por exemplo, e que nasceu de uma composição da dupla em parceria com o professor do duo, Cláudio Kumar, que fez a produção e os arranjos. Pal Lok, curador e residente de Macau, também participou na feitura da música.

“Para gravar o cd convidámos Aquino da Silva, famoso artista e calígrafo ocidental, bem como nosso amigo, para desenhar a capa do álbum e escrever as letras das músicas [com recurso à caligrafia).”

Eva adiantou também que recentemente o duo lançou um segundo single, intitulado “April Love” [Amor de Abril], composto e escrito por si também num trabalho conjunto com Cláudio Kumar. Esta é uma música “sobre uma romântica história de amor” que ganha uma nova roupagem graças ao trompete tocado por Diogo Duque.

Este mês, a dupla viaja para Portugal a fim de gravar o terceiro single, “Color Wind”, com letras em português da autoria de Sílvia Nazário, cantora brasileira e esposa de Cláudio Kumar.

Eva considera que “muitas músicas em mandarim ou cantonês são perfeitamente ajustadas ao estilo da Bossa Nova, que é um tipo de música jazz latina”, sendo possível ajustar tonalidades e ritmos.

“Há muitos anos que fazemos esta abordagem e temos vindo a acumular muitas experiências. Pensamos que o público chinês aceita bastante bem este tipo de arranjos, além de que outros músicos também apreciam isso. O público sente que as canções tradicionais foram, de certa forma, revitalizadas com novas cores, sentindo-se surpreendidos e prazerosos ao ouvir as canções.”

Para Eva, o trabalho que faz com o marido Sin em palco é um exemplo de promoção do intercâmbio cultural entre a China e os países de língua portuguesa. “Somos apaixonados [pelo que fazemos] e esperamos poder partilhar a nossa música com novos e diferentes lugares no futuro”, rematou.

15 Mai 2023

Obras do cartunista político Zunzi retiradas das bibliotecas públicas de HK

Os livros do cartunista político Zunzi foram retirados das bibliotecas públicas de Hong Kong, dias depois de o jornal Ming Pao anunciar o fim da publicação dos trabalhos do artista, após críticas das autoridades. O departamento de Lazer e Serviços Culturais de Hong Kong começou a retirar as obras de Zunzi, pseudónimo de Wong Kei-kwan, das prateleiras das bibliotecas da cidade para determinar se violam a lei de segurança nacional, de acordo com a agência de notícias Efe.

Na quinta-feira, o jornal de Hong Kong Ming Pao anunciou que ia deixar de publicar os trabalhos de Wong Kei-kwan. “O Ming Pao gostaria de expressar gratidão a Zunzi por testemunhar como os tempos mudaram connosco ao longo das últimas quatro décadas”, disse a editoria responsável pela publicação do trabalho do cartunista.

O trabalho de Zunzi caricaturava as frustrações da sociedade de Hong Kong já desde os tempos em que o território era administrado pelo Reino Unido. Várias caricaturas desenhadas por Wong foram criticadas, nos últimos meses, por diferentes departamentos do Governo, incluindo o da Segurança.

Mais recentemente, o gabinete para os Assuntos Internos e Juventude criticou o trabalho por “manchar” o papel do Governo na nomeação dos membros do comité local que vão escolher, no final deste ano, os candidatos para os conselhos distritais.

No cartoon de Zunzi, um homem diz a uma mulher que, mesmo que algumas pessoas tenham chumbado em exames e sofram de problemas de saúde, podem ser nomeadas para as comissões, desde que “altos funcionários” as considerem aptas.

De acordo com o plano governamental para a reforma dos conselhos distritais, os comités locais, compostos por muitos apoiantes do Governo, vão escolher cerca de 40 por cento dos 470 assentos. Apenas 20 por cento dos assentos – ao contrário dos antigos cerca de 90 por cento – vão ser directamente escolhidos pelo público, um valor abaixo do nível estabelecido durante o domínio colonial britânico.

Examinar precisa-se

Num comentário à retirada dos livros, o Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, disse, na sexta-feira, que as obras devem ser examinadas para decidir se violam a lei de Hong Kong, se podem ter um impacto adverso na comunidade ou se são “obscenas e indecentes”. Lee afirmou que a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão em Hong Kong são garantidas pela Lei Básica, mas disse que o Governo se opõe a “mensagens falsas, tendenciosas, enganosas ou difamatórias”.

Entretanto, o chefe da segurança de Hong Kong, Chris Tang, elogiou o jornal Ming Pao por ter assumido a responsabilidade e retirado conteúdos que poderiam ser utilizados para fazer acusações falsas contra as autoridades.

14 Mai 2023

FAM | Teatro grego e outras histórias sobem ao palco do CCM

“Electra”, peça originalmente escrita pelo grego Sófocles e que terá sido representada, pela primeira vez, nos anos 420 ou 410 a.c., sobe este fim-de-semana ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau pela mão do Centro de Artes Dramáticas de Xangai. O cartaz do Festival de Artes de Macau traz ainda Stella e Artistas x TOTAL BRUTAL e um espectáculo de marionetas em papel

 

Tida como uma das grandes peças do teatro grego clássico, com mensagens que continuam a fazer sentido no mundo contemporâneo, a peça “Electra”, de Sófocles, terá sido representada, pela primeira, na Grécia Antiga nos anos de 420 ou 410 a.c. Sófocles foi, aliás, um dos grandes dramaturgos desta importante civilização que tanto marcou os períodos que se seguiram na Europa.

Inserida no cartaz do Festival de Artes de Macau (FAM), “Electra” sobe este fim-de-semana, sábado e domingo, às 20h, ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, com encenação original de Michail Marmarinos e composição de Dimitris Kamarotos. Fan Yilin é a actriz principal da peça encenada depois por Huang Fangling.

“Electra”, de Sófocles, é uma tragédia sobre vingança e justiça. O texto inclui como personagens, além da própria Electra, Chrysothemis, Egisto, Orestes, Agamemnon e Clytemnestra. Na mitologia grega, “Electra” era filha de Agamemnon e Clytemnestra, irmã de Orestes, Crisótemis e Ifigénia. Nela se revela uma história de impulsividade e morte entre uma só família, com Electra a estar no centro da trama, ao induzir o irmão Orestes a matar a mãe para vingar a morte do pai.

Desde 2018 que esta peça tem sido premiada, contando com a importante presença do coro que dá uma roupagem importante à tragédia em palco. O compositor grego Dimitris Kamarotos convidou especialistas para reproduzir os antigos aulos duplos gregos, um instrumento musical com mais de dois mil anos, para cruzá-lo com o Sheng, um antigo instrumento chinês de sopro de palheta livre.

Luo Tong é a responsável pela tradução do texto para chinês, sendo investigadora na área da literatura e teatro da Grécia Antiga, pertencendo também a uma família que há muito está ligada a este universo profissionalmente,

Stella e companhia

O cartaz do FAM traz ainda, hoje e amanhã, às 19h45 no pequeno auditório do CCM o espectáculo “Clube Solidão” dos artistas locais Stella e Artistas x TOTAL BRUTAL. Stella e Artistas é o nome de uma companhia de dança local que, desta vez, se une ao conceituado coreógrafo Nir de Volff para criar um espectáculo com bailarinos de Macau e Berlim que dançam em torno das temáticas da busca do amor e da solidão como uma das grandes doenças e questões do mundo contemporâneo.

Nascido e criado em Israel, o coreógrafo Nir de Volff fundou a companhia de dança TOTAL BRUTAL em 2007, residindo actualmente em Berlim. Actuou como bailarino convidado na digressão de Pina Bausch em Israel e co-produziu obras com vários artistas, incluindo Falk Richter, um dramaturgo proeminente e ex-director residente do Schaubühne am Lehniner Platz em Berlim.

Destaque ainda para um espectáculo do Teatro de Marionetas em Papel – Paperbelle virado para os mais pequenos e as famílias apresentado no sábado e domingo, às 10h e 15h, no teatro “Caixa Preta” no edifício do antigo tribunal. O espectáculo, criado no Reino Unido e que já teve mais de cem actuações no Interior da China, é protagonizado pelo artista Robert Stanley Pattison, contando com música de Li Lixiang e coordenação técnica de Jin Zaixiang.

Revela-se aqui a história de uma enigmática rapariga de papel que convida todos os pequenos hóspedes da cidade para a sua sala de estar para descobrirem num cenário minimalista uma forma de arte que não é tão simples como parece.

11 Mai 2023

Conferência sobre instrumentos da China até domingo em Lisboa e Mafra

Está a decorrer, desde terça-feira, em Lisboa e Mafra, a sexta edição da “Conferência Lisboa: Instrumentos Musicais e Música Chinesa” e a 24ª edição da conferência internacional da Fundação Europeia para a Investigação em Música Chinesa. Os dois eventos estão interligados, decorrendo nas duas cidades portugueses, e contam com o apoio e organização do Centro Científico e Cultural de Macau, que acolhe o evento até hoje, e o Palácio Nacional de Mafra, que o recebe até domingo. De frisar que a Fundação Jorge Álvares apoia também este evento de cariz anual. Do comité de organização do programa fazem parte nomes como o académico Enio de Souza, académico ligado ao Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, Helen Rees, François Picard e Frank Kouwenhoven.

Do cartaz, fazem parte temáticas como a inserção da dança tradicional uigur em eventos sociais e espectáculos, a colecção de música chinesa e instrumentos da Fundação Jorge Álvares ou a análise, da parte de Enio de Souza, de como a música chinesa tem vindo a ganhar relevo em Portugal desde 1980. No primeiro dia da conferência houve ainda lugar para um concerto com o gamelão, instrumento tradicional da ilha de Java, na Indonésia.

O legado de Doming Lam

Hoje, serão abordadas temáticas como o papel dos instrumentos na música chinesa tradicional ou a “cantonização” do violino desde 1920, palestra protagonizada por May Bo Ching, da Universidade Cidade de Hong Kong.

Esta sexta-feira, já em Mafra, o evento tem como um dos pontos da agenda uma apresentação sobre as composições de Doming Lam, nascido a 5 de Agosto de 1926 e falecido a 11 de Janeiro deste ano, importante compositor, maestro e produtor musical macaense. Jen-Yen Chen, do Instituto de Musicologia da Universidade Nacional de Taiwan, vai falar das “composições católicas sagradas” de Lam no “contexto pós-colonial de Macau”, ou seja, de multiculturalidade.

Su Qian, da Universidade de Comunicações da China, de Pequim, propõe uma análise a ‘Nostalgia’, trabalho de Gao Weijie para a orquestra chinesa.

No último dia, destaque ainda para a apresentação de Edwin Porras, do Haverford College, nos EUA, sobre “as impressões digitais da música chinesa” em Cuba e a manutenção da presença dos instrumentos musicais chineses no país da América Latina. O cartaz é marcado por diversos concertos e visitas guiadas.

11 Mai 2023

Óbito | Rita Lee, cantora e compositora brasileira, morre aos 75 anos

Desde 2021 que lutava contra um cancro do pulmão e acabou por não resistir à doença. Rita Lee, considerada por muitos como a rainha do rock brasileiro, morreu na noite de segunda-feira em casa, em São Paulo, com 75 anos de idade. Para trás deixa êxitos como “Baila Comigo” ou “Amor e Sexo”, entre tantos outros

Eterna rebelde, grande responsável pelo maior protagonismo das mulheres no mundo da música brasileira, sem papas na língua, Rita Lee faleceu esta segunda-feira à noite [hora do Brasil] com 75 anos vítima de cancro do pulmão, doença contra a qual lutava desde 2021. A família publicou um breve comunicado nas redes sociais a dar conta do falecimento de um dos maiores ícones da música brasileira.

“Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem [segunda-feira], cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, diz o texto divulgado na conta da cantora no Instagram.

Apesar do diagnóstico de doença prolongada, não foi ainda divulgada oficialmente a causa da morte. O velório de Rita Lee decorreu esta quarta-feira no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e foi aberto ao público. “De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimónia será particular. Neste momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, concluiu a mensagem.

A carreira de Rita Lee explodiu nos anos 60, década da exploração de novas sonoridades no Brasil como o tropicalismo ou a Bossa Nova, quando nomes como Tom Jobim, Chico Buarque, Nara Leão ou Elis Regina, entre outros, começavam a gravar os primeiros êxitos das suas carreiras.

Rita Lee foi o único elemento feminino do trio Mutantes, criado em 1966 e composto pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, que conheceu ainda na escola. Com actividade entre 1968 e 1972, os Mutantes ficariam para a história como uma das mais importantes bandas de rock brasileiro.

De destacar que o grupo surge no álbum colectivo “Tropicália, Panis et Circenseses”, de 1968, que também inclui os rostos de músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Gal Costa. Uma das músicas mais conhecidas dos Mutantes é “Ela é minha menina”, faixa do álbum homónimo do grupo lançado, precisamente, em 1968. A nível pessoal, Rita Lee casou com Arnaldo Baptista com quem teve um filho, mas de quem se separaria em 1977.

A fase Roberto de Carvalho

Depois de os Mutantes, Rita Lee estava pronta para uma carreira a solo onde foi explorando outros géneros musicais além do rock. Em 1972, gravou o primeiro trabalho em nome próprio, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, seguindo-se mais trabalhos sempre com Roberto de Carvalho como seu produtor e parceiro nas composições, que viria a ser também seu marido e com quem teve três filhos.

Rita Lee lançou três álbuns só cheios recheados de sucessos a partir do final da década de 70, nomeadamente “Rita Lee”, em 1979, de onde saíram músicas como “Mania de Você”, “Chega Mais e “Doce Vampiro”. Em 1980, é lançado um outro disco em nome próprio com faixas bem conhecidas de todos como “Lança Perfume”, “Baila Comigo” e “Nem Luxo, Nem Lixo”, todas elas mais viradas para a música pop.

A partir dos anos 80 Rita Lee gravou bastante em parceria com o marido, com quem nunca viveu na mesma casa. Em 1982 saiu para o mercado “Rita Lee e Roberto de Carvalho”, “Bombom” foi lançado no ano seguinte e, depois, em 1985, “Rita e Roberto”. “Flerte Fatal” surgiria em 1987, responsável por novos hits, um deles “Desculpe o Auê”.

Das telenovelas

Os sucessos que gravou ao longo da carreira seriam o bastante para se tornar conhecida de um vasto número de amantes da música, mas a presença assídua das músicas de Rita Lee nas telenovelas brasileiras tornaram-na ainda mais próxima do grande público. Ao todo, a cantora e compositora participou nas bandas sonoras de 79 telenovelas, que são uma parte importante da indústria televisiva brasileira, em canais como a Globo ou Record, entre outros.

Em 1978, em “Dancin Days”, uma apologia ao universo da disco sound, Rita Lee incluiu a sua “Agora é Moda”. Seguiu-se, já nos anos 90, o tema de abertura da telenovela “A Próxima Vítima”, de 1995, com “Vítima” e, mais recentemente, em 2006, com “Erva Venenosa”, música que fez parte da banda sonora de “Cobras & Lagartos”, entre muitas outras canções que fazem parte do imaginário de todos.

Rita Lee, de cabelo ruivo, estilo irreverente e inconfundível, nunca parou de compor e produzir música com o seu marido, tendo gravado os álbuns mais recentes “Balacobaco”, álbum de estúdio de 2003, de onde saiu o êxito “Amor e Sexo”.

No Twitter, dava nas vistas pelas suas publicações cheias de ironia e bom humor, algumas delas contra Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro. Aliás, a crítica ao ex-presidente, conotado com a extrema-direita, era tão forte que ela chamava “Jair” ao cancro que tinha no pulmão.

Pesar geral

As reacções à morte da cantora têm sido muitas. Em declarações ao programa “Em Pauta”, da rede Globo, partilhadas no Twitter, Caetano Veloso disse que Rita Lee foi “uma figura importantíssima” na sua vida. “Dois dos maiores rocks do mundo foram feitos por ela: ‘Mamãe Natureza’ e ‘Agora Só Falta Você’. Ela tinha uma vivacidade mental impressionante. Foi uma companheira muito importante para o meu dia a dia (…)”, frisou.

Segundo o Diário de Notícias (DN), o actual Presidente brasileiro, Lula da Silva, disse que Lee foi “um dos maiores e mais geniais nomes da música brasileira”, bem como “uma artista à frente do seu tempo”. “Julgava inapropriado o título de rainha do rock, mas o apelido faz jus à sua trajetória. Rita ajudou a transformar a música brasileira com sua criatividade e ousadia. Não poupava nada nem ninguém com o seu humor e eloquência. Enfrentou o machismo na vida e na música e inspirou gerações de mulheres no rock e na arte”, escreveu.

Por sua vez, a ministra da Cultura do país, Margareth Menezes, chegou mesmo a chorar quando soube do falecimento da cantora, escreveu também o DN. “Não é nem uma questão directa de amizade, eu estive em alguns poucos momentos com ela, mas é pelo que ela simboliza para o Brasil, para a música popular brasileira, como uma mulher revolucionária”, rematou.

11 Mai 2023

Creative Macau | Joan Lam apresenta amanhã a sua pintura

“A Drop in the Ocean” [Uma Gota no Oceano] é o nome da exposição que amanhã abre portas na Creative Macau e que é, ao mesmo tempo, a estreia de Joan Lam no mundo das exposições. Nesta mostra, observam-se obras de arte que nascem das observações pessoais da artista sobre o mundo que a rodeia

 

Num mundo marcado pelo universo do digital, até que ponto conseguimos desligar e observar a natureza e as pequenas vivências à nossa volta? Esta pergunta serve de ponto de partida para a nova exposição que, a partir de amanhã, estará patente na Creative Macau. Da autoria de Joan Lam, esta é a primeira oportunidade de a artista local mostrar o seu trabalho a título individual. A exposição está patente até ao dia 10 de Junho.

Descrevendo-se como comunicativa, activa e uma pessoa com a mente aberta, Joan Lam confessa gostar de conhecer outras culturas e pessoas de todo o mundo, embora nunca tenha pegado num pincel antes de viajar até Espanha para estudar. Aí, tudo mudou. “Conheci um professor que me encorajou muito a fazê-lo. A partir desse momento comecei a pintar e agora é algo que faço bastantes vezes. Depois de voltar a Macau comecei a desenvolver a minha arte com diferentes meios. Nesta exposição apresento trabalhos em aguarela, acrílico, guache e caneta branca.”

A importância de “desligar” de computadores, telemóveis e afins é a grande mensagem por detrás desta mostra. “Hoje em dia a maioria das pessoas está muito presa aos aparelhos electrónicos e deixou de explorar o mundo que as rodeia com os seus próprios sentidos, a natureza com o seu próprio coração. A maior parte dos trabalhos apresentados nesta mostra foram criados a partir das minhas observações pessoais e emoções. Adoro a natureza. No período que passei na Costa Rica visitei muitos parques nacionais e pude observar pequenos animais e tudo o que a natureza tinha para me oferecer.”

Segunda parte

“A Drop in the Ocean” é composta por uma segunda parte, marcada pela ideia de “sentimento”. “Depois de estar em Espanha e na Costa Rica, comecei a pensar nas diferenças entre o amor da família, da amizade e outro tipo de amor. Por isso criei quatro obras sobre ‘palavras'”, frisou.

Joan Lam resolveu ir buscar também influências da cultura árabe, usando o símbolo da ave para explorar a temática do sentimento e do amor nas suas mais variadas formas. A exposição contém ainda uma obra sobre a ideia do sonho, porque a artista quer “encorajar as pessoas a realizarem o seu”.

Um dos seus primeiros sonhos foi, aliás, o de aprender a língua espanhola, tendo não só atingido esse objectivo como foi voluntária da UNESCO na Costa Rica. “Penso que se não tivesse dado o primeiro passo e ido para Espanha, esta exposição nunca teria existido. Por isso é que criei esta última obra”, em torno da ideia de sonho, afirmou.

Joan Lam mostra também os animais que descobriu durante a sua estadia na Costa Rica, e diz querer “encorajar as pessoas a observar o que está à sua volta com os seus sentidos”. “Mesmo que não seja uma artista famosa, quero dizer às pessoas que se tiverem um sonho, nunca deixem de acreditar que o podem concretizar. Pelo menos eu comecei algo novo com o primeiro passo que dei em ir para Espanha. Tudo acontece por uma razão, mesmo uma gota no oceano. Nunca olhem de baixo para vocês mesmos”, concluiu.

9 Mai 2023

Associated Press distinguida com dois prémios Pulitzer

A agência Associated Press (AP) foi distinguida com dois prémios Pulitzer de jornalismo, na segunda-feira, nas categorias de serviço público e fotorreportagem, relativos à guerra na Ucrânia, que incluem imagens surpreendentes do cerco russo a Mariupol.

Os jornalistas da AP também estiveram entre os finalistas nas categorias de fotorreportagem, pela cobertura da crise política no Sri Lanka, e pelo impacto da invasão russa da Ucrânia nas pessoas idosas. Para o prémio do serviço público, o júri citou o trabalho do vídeojornalista Mstyslav Chernov, do fotógrafo Evgeniy Maloletka, da produtora de vídeo Vasilisa Stepanenko e da repórter Lori Hinnant. Durante quase três semanas, os únicos jornalistas estrangeiros em Mariupol eram da AP, que capturaram imagens notáveis de uma mulher grávida ferida a ser transportada para ter cuidados médicos e de soldados russos a dispararem sobre alvos civis.

Outros distinguidos com o Pulitzer foram o AL.com, de Birmingham, no Estado do Alabama, pelo noticiário e comentário local, o Los Angeles Times, o New York Times e o Washington Post.

Estes prémios distinguem o melhor no jornalismo em 2022, em 15 categorias, bem como em oito categorias artísticas, focadas em livros, música e teatro. O distinguido pelo serviço público recebe uma medalha de ouro, os outros, 15 mil dólares americanos.

O vice-presidente da autarquia de Mariupol afirmou que o trabalho da AP suscitou a atenção internacional, que levou a pressões para os russos abrirem vias de retirada de pessoas, o que permitiu salvar milhares de vidas. “Informaram o mundo sobre o custo humano desta guerra nos seus primeiros dias”, disse a editora executiva da AP, Julie Pace, durante uma comemoração dos prémios, via Zoom. “Serviram de contrapeso da desinformação russa e ajudaram a abrir um corredor humanitário de saída de Mariupol com o seu trabalho”, realçou.

A equipa de fotógrafos da AP distinguida com o prémio inclui, além de Maloletka, também Bernat Armangue, Emilio Morenatti, Felipe Dana, Nariman El-Mofty, Rodrigo Abd e Vadim Ghirda. “Estar lá foi provavelmente mais importante e crítico do que nunca”, disse o diretor de fotografia da AP, David Ake.

The Atlantic premiada

A revista The Atlantic ganhou um prémio na categoria de jornalismo explicativo, pela investigação, feita por Caitlin Dickerson, da política de Donald Trump de separar pais e filhos na fronteira.

Premiados foram também o Wall Street Journal, pelas notícias sobre dirigentes públicos que possuíam acções de empresas que podiam beneficiar com as decisões políticas, e Anna Wolfe, do Mississippi Today, pela exposição de um antigo governador que dava dinheiros públicos a amigos e familiares.

Andrew Long Chu, da revista New York, ganhou um Pulitzer por crítica, Nancy Ancrum, Amy Driscoll, Luisa Yanez, Isadora Rangell and Lauren Constantino, de Miami Herald, pelas prosas editoriais, Mona Chalabi, colaboradora do New York Times, pelas ilustrações de notícias e comentários, e o ‘staff’ da Gimlet Media, pelo noticiário radiofónico. Os prémios foram estabelecidos por vontade do editor Joseph Pulitzer e começaram a ser atribuídos em 1917.

9 Mai 2023

Livro do historiador Ivo Carneiro de Sousa apresentado hoje na FRC

É hoje apresentado, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC), o mais recente livro do historiador Ivo Carneiro de Sousa, intitulado “Memórias, Viagens e Viajantes Franceses por Macau (1609-1900)”, uma edição em quatro volumes do Instituto Cultural.

A apresentação será feita por Joaquim Ramos de Carvalho, da Universidade Politécnica de Macau. Resultado de quase uma década de investigações primárias em bibliotecas e arquivos centrais, regionais e privados da França, esta obra publica e estuda uma colecção de 295 memórias textuais de Macau escritas entre 1609 e 1900.

Produzidas pelos mais diferentes autores e editores, estendendo-se por prestigiados viajantes marítimos a missionários, militares, diplomatas, médicos da marinha, geógrafos, jornalistas, cientistas ou os primeiros assumidos turistas, estas memórias em viagem por Macau iluminam os mais diversos aspectos da vida social, económica, das gentes e dos espaços que tornaram Macau um território fundamental para o acesso da França ao grande império do meio.

Descobrem-se volumes muito ocupados a editar com rigor estas memórias que, deslindando autorias e apurando os seus sentidos narrativos, oferecem também aos leitores vários outros capítulos em que se estuda sobretudo com as metódicas da história cultural a oceânica atenção intelectual, diplomática e política que aproximou sucessivamente a França de Macau, culminando até 1859 com a activa presença dos seus embaixadores nomeados para ministros plenipotenciários na China que transformaram a legação francesa na cidade num dos principais espaços de sociabilidade da elite e cosmopolita da época.

Se entre 1857 e 1862 a ofensiva colonial francesa na Indochina e a sua participação militar na chamada segunda guerra do ópio ergueram mesmo um hospital militar em Macau, tratando mais de 2.000 feridos franceses, o profundo interesse da França pelo pequeno enclave do delta do rio das Pérolas mobilizava enorme atenção tanto da imprensa diária quanto de muitas revistas científicas e literárias que, a cruzar a esta biblioteca única de memórias, ajudam a perceber quanto a imaginação francesa da cidade, das suas pessoas e coisas contribuiu generosamente para escorar a representação cultural com que se foi seleccionando em textos e imagéticas o que se queria destacar como património e história de Macau.

Carreira de mérito

Ivo Carneiro de Sousa é professor associado no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa na Universidade Politécnica de Macau (UPM). Foi professor catedrático e ‘Associate Dean’ na Universidade da Cidade de Macau entre 2012 e 2018, tendo sido aind vice-reitor, professor catedrático e “personal chair in History” na Universidade de São José, entre 2006 e 2012, além de possuir experiência académica na Europa, nomeadamente nas universidades do Porto, Salamanca e Nápoles. Doutor em Cultura Portuguesa, em 1993, e professor agregado em História, título obtido em 1999, é autor de 22 livros académicos, incluindo quatro títulos referenciais sobre história social, cultural e religiosa de Macau, e três obras importantes sobre história e antropologia cultural de Timor-Leste.

Ivo Carneiro de Sousa publicou mais de 200 artigos científicos em diversas revistas científicas da especialidade, coordenou vários centros e projectos de investigação, encontrando-se desde 2011 a desenvolver ampla pesquisa sistemática em arquivos e bibliotecas públicas e privadas sobre memórias, viagens e viajantes estrangeiros em Macau, de finais do século XVI a 1900.

9 Mai 2023

Lusodescendentes do Sri Lanka com “interesse crescente” em salvar o crioulo

A investigadora Patrícia Costa lançou um projeto para divulgar o crioulo de base portuguesa do Sri Lanka nas redes sociais porque considera que há “um interesse crescente” nas comunidades lusodescendentes em preservar a língua.

“Há agora um conjunto de jovens que lançou, justamente em abril deste ano, aulas [de crioulo português] para jovens e crianças”, sublinhou Patrícia Costa, investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

O mesmo grupo tem também procurado dinamizar ações para promover a língua no Sri Lanka, onde “a maior parte da população desconhece totalmente que existe esta comunidade de euro-asiáticos e desconhece que há uma língua totalmente diferente”, referiu Costa.

Um desses jovens, Derrick Keil, lançou em fevereiro uma versão moderna de uma canção tradicional em crioulo português, Minha Amor, após ter participado no programa de talentos The Voice Sri Lanka.

“É um marco importante na história da comunidade, porque pela primeira vez temos uma música dirigida a audiências várias que tem o crioulo como língua”, disse Patrícia Costa.

Curiosamente foi a comunidade de falantes do crioulo português que introduziu no Sri Lanka a “baila”, que pode ser considerada atualmente o género de música mais popular no país.

Patrícia Costa e uma jovem falante da língua, Vyvonne Joseph, lançaram também, em 2020, o projeto Preserving Sri Lanka Portuguese, nas redes sociais Instagram e Facebook.

A investigadora disse que a iniciativa pretende, por um lado, “dar a conhecer a audiências mais gerais, também fora do Sri Lanka a existência desta língua, porque mesmo em Portugal não há uma grande consciência de que estas comunidades crioulófonas existem”.

Por outro lado, acrescentou Costa, o projeto quer “auxiliar, com materiais didáticos simples, aqueles que são membros da comunidade e que procuram aprender a língua”.

O crioulo português do Sri Lanka “neste momento é uma língua definitivamente ameaçada. O número absoluto de falantes é bastante reduzido”, por volta de 1.300, sendo que a maioria são “pessoas mais velhas”, lamentou a académica.

Para os jovens, “aprender o crioulo português não tem o valor instrumental” que as línguas oficiais do Sri Lanka, o cingalês e o tâmil, têm, no acesso à educação e ao emprego, referiu Costa.

Além disso, disse a investigadora, alguns membros da comunidade “sentem que é uma língua obsoleta” ou têm “algumas conceções erradas” de que aprender o crioulo português em casa pode prejudicar a aprendizagem de outras línguas na escola.

Mas Costa sublinhou que o eventual desaparecimento do crioulo português do Sri Lanka “não é uma fatalidade inescapável”.

“É possível minimizar este perigo, com algumas ações e com a concertação de investigadores, ativistas e os próprios membros da comunidade”, acrescentou.

A académica defendeu ainda que uma maior ligação com os países falantes de português “seria muitíssimo vantajoso para as comunidades crioulófonas, que teriam uma espécie de reconhecimento oficial da sua existência, da sua importância e da sua herança”.

O crioulo português do Sri Lanka, antigo Ceilão, é uma herança da expansão marítima portuguesa no século XVI, quando nasceu como língua de contacto entre cingaleses e portugueses, os primeiros europeus a lá chegar.

A colonização portuguesa da ilha não durou mais de 150 anos, mas, mais de meio século depois, este crioulo continua a ser falado no seio das comunidades burghers, tradicionalmente católicas.

Estas comunidades identificam-se como burghers – palavra que significa “cidadãos” em holandês – e o termo passou a designar-se para todas as pessoas que tivessem uma ascendência euro-asiática incluindo os portugueses e também os holandeses, no Sri Lanka.

8 Mai 2023

Xangai | Restaurante português superou pandemia e prepara aniversário

Há dez anos que existe na cosmopolita Xangai, sobreviveu ao duro período da pandemia e agora celebra o aniversário. Viva!, fundado por André Zhou, é um dos poucos restaurantes portugueses na cidade chinesa e ganhou este mês o prémio para o “melhor brunch”

 

Foto: D.R.

Um dos poucos restaurantes portugueses em Xangai foi este mês distinguido com o prémio de melhor ‘brunch’, por uma publicação local, e prepara-se para celebrar dez anos, após sobreviver aos bloqueios que abalaram a cidade devido à pandemia.

“Foi um período muito difícil, mas não podemos perder tempo a lamentar-nos”, disse à agência Lusa André Zhou, proprietário do Viva!, que se prepara para celebrar uma década, depois de um ano marcado por bloqueios que paralisaram os negócios na capital económica da China. “Este foi o caminho que escolhi e vou seguir em frente”, assegurou.

Em 2022, Xangai foi submetida a medidas de quarentena e bloqueio, no âmbito da estratégia de ‘zero casos’ de covid-19, que vigorou na China até Dezembro passado. A mais próspera e cosmopolita cidade chinesa foi particularmente afectada por um isolamento de dois meses, na primavera do ano passado, que ficou marcado por cenas de violência e escassez de alimentos e outros bens de primeira necessidade. O Viva! mudou, entretanto, de localização, para Wuding Lu, onde está concentrada a vida noturna da cidade, e quase triplicou o espaço, para 270 metros quadrados.

Este mês, a That’s Shanghai, revista local em língua inglesa popular entre a comunidade de expatriados, atribuiu ao Viva! o prémio de melhor ‘brunch’, a refeição que combina pequeno-almoço e almoço. A publicação destacou o menu de domingo, composto por frango piri-piri na grelha, costeletinhas de porco ibérico e chouriço assado.

“Num verdadeiro estilo português, a proteína ocupa um espaço central nas refeições de fim de semana”, descreveu a That’s Shanghai. “Mas, além de partilhar a cozinha portuguesa com os clientes, [André] apresenta a cultura e o ‘design’, a História e os sabores – e, claro, a célebre hospitalidade – para trazer a verdadeira essência de Portugal para Xangai”, lê-se.

A mão de Paulo Quaresma

Painéis de cortiça e de azulejo cobrem o tecto e as paredes do estabelecimento. Os pratos e os talheres são também ‘Made in Portugal’. “O paladar é importante, mas, no mundo de hoje, o aspecto visual é também muitíssimo importante”, afirmou o empresário. “No mercado de Xangai, o cliente, mais do que comer, quer viver uma boa experiência, e isso abrange a decoração e o conforto do espaço”, notou.

O menu do Viva!, escolhido por Paulo Quaresma, ‘chef’ e consultor português radicado na China desde 2010, inclui ainda amêijoas à bulhão Pato, bacalhau à Brás, feijoada de polvo, arroz de pato ou francesinha, servida com ovo e batata frita e regada no molho especial, fiel à versão ‘tripeira’. A sapateira também sai bem: “É um prato bonito”, observou André Zhou.

“Primeiro está o mercado local”, disse. “Nós escolhemos sempre os pratos que são adaptáveis ao paladar chinês”, contou. “Eu não vou escolher muitos pratos de bacalhau, porque o bacalhau é um prato muito salgado que o cliente local não vai gostar. Nós escolhemos pratos que têm molho de tomate, porque eles estão habituados ao molho de tomate. Os coentros, que são muito usados na cozinha chinesa. O marisco. [Os chineses] também gostam muito das nossas moelas”. A lista de sobremesas inclui serradura e mousses de chocolate ou de manga.

Natural de Braga, André Zhou fala com sotaque do Norte e torce pelo Futebol Clube do Porto, mas considera-se “filho de dois mundos diferentes”. Os pais do empresário fazem parte da primeira geração de imigrantes chineses em Portugal: “Começaram por trabalhar em feiras, depois abriram uma loja e um restaurante”. Quando saía da escola, ele ia trabalhar “na caixa ou nas limpezas, a lavar copos, fritar crepes ou a servir à mesa”. “É um negócio que exige muita energia”, disse. “Mas já me está no ADN”.

Depois de se licenciar em Economia pela Universidade do Minho, em 2008, André Zhou foi para Xangai estudar língua chinesa. Entretanto, passaram 16 anos: “Foi amor à primeira vista”. Os bloqueios altamente restritivos durante a pandemia, em Xangai, e fricções geopolíticas causaram uma queda abrupta no número de residentes estrangeiros na China. Mas André Zhou está decidido: “Estou aqui e não quero sair”. “Quero desenvolver a minha carreira e talvez também casar e ficar por cá”, assegurou. “As coisas aqui acontecem com muito mais rapidez”.

8 Mai 2023

Gastronomia | SoSabi, o único espaço que serve comida indo-portuguesa em Macau

Chama-se SoSabi e é um espaço de restauração da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos que serve comida indiana e, ao mesmo tempo, portuguesa, dos territórios de Goa, Damão e Diu. Este é o único espaço em Macau que, actualmente, serve estes pratos com um sabor único

 

O SoSabi, espaço da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos, é o único local de Macau a confeccionar pratos da culinária indo-portuguesa “que só se encontram em casa de amigos”, disse o promotor da iniciativa. Sarapatel, xacuti de frango, balchão de porco ou caril de camarão. Referências da identidade culinária de Goa, Damão e Diu que, em Macau, já não existem só em almoços de família, mas agora também no espaço público.

A iniciativa é de Elias Colaço, natural de Damão, que explorou até Fevereiro um quiosque no largo do Lilau, entre a colina da Penha e a Barra, com petiscos portugueses e daquelas regiões indianas, mas que “esteve encerrado por causa da pandemia” da covid-19.

“Fui convidado por um dos parceiros do projecto da associação de divulgação da gastronomia africana para juntar a gastronomia de origem do antigo Estado Português da Índia, Goa Damão e Diu. Claro que aceitei de imediato”, disse à Lusa. Na rua Formosa, no centro histórico de Macau, Colaço apresenta pratos “desconhecidos da generalidade das pessoas”, mas confia que “os chineses são curiosos e atentos à novidade”.

“É, efectivamente, o único local em Macau onde se pode comer comida de origem de Goa, Damão e Diu. Não sendo culinária indiana, os restaurantes indianos em Macau não a confeccionam”, apontou.

Novas experiências

Mas este é também lugar para novas explorações na cozinha. Elias Colaço fez “numa de brincadeira” uma francesinha “com toque de Goa”, em que substituiu a linguiça por chouriço da região. Os pratos são, na maioria, preparados fora e, no caso da francesinha, “tem o suporte de um chefe de cozinha do norte de Portugal”.

“Não mexi no molho que sei ser factor importante na francesinha e, como não quero desvirtuar a mesma, o molho segue os critérios observados pelo chefe (…). Para já, está aprovada pelo mesmo e [atraiu] a curiosidade da Confraria da Francesinha de Macau que já marcou um jantar”, disse.

O SoSabi – termo crioulo utilizado em vários contextos, que pode traduzir um estado de “alegria, satisfação, festa” ou significar “tudo saboroso” – abriu em Fevereiro de 2022, com o objectivo de divulgar a gastronomia africana, “tão apreciada”, mas “sem nenhum espaço de divulgação” em Macau, contou Elias Colaço, um dos quatro elementos à frente do projecto.

Cachupa de Cabo Verde, Caldo de Mancarra da Guiné-Bissau, Moamba de Angola e Matapa de Moçambique são algumas das iguarias disponíveis no espaço da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos, que esteve encerrado vários meses durante à pandemia e reabriu apenas em Março, “já com nova equipa e a inclusão da gastronomia de Goa, Damão e Diu”.

Para a pequena comunidade indo-portuguesa a residir em Macau, este novo projecto, lançado em Fevereiro, é uma “luz ao fundo do túnel”, reagiu à Lusa o presidente do Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu.

“Infelizmente nunca tivemos, que eu saiba, em Macau, um restaurante goês. Os próprios goeses conviviam entre eles e hoje era na casa de um, amanhã na casa de outro, e cada um confecionava as suas iguarias e compartilhava os poucos momentos de um sítio próprio, digno de uma casa goesa. E tem sido assim em Macau nos últimos 50 anos”, frisou Vicente Pereira Coutinho, que espera agora que a população local possa “aderir e experimentar as iguarias” do SoSabi.

A comunidade de Goa, Damão e Diu a residir em Macau é composta por cerca de 80 a 90 elementos, admite o responsável, notando que a presença na região também se foi diluindo ao longo dos tempos com os membros a casarem localmente.

Por volta dos anos 50 do século passado, “já existiria em Macau uma comunidade goesa, damanense e diuense”, sendo que “desde a chamada liberação de Goa”, houve “muitos mais goeses” a mudarem-se para o território.

“Nos anos 1970-1980 foi um período muito grosso. Aliás, até 1969 havia missões ultramarinas em que o pessoal de Goa vinha a Macau, fazia cá compras, como malas de cânfora. Muita unidade fabril de Macau exportava para colónias portuguesas”, lembrou.

7 Mai 2023

Dança | “Hermaphroditus” no Albergue SCM este fim-de-semana

O Albergue SCM será palco no sábado e domingo do espectáculo “Hermaphroditus”, o segundo episódio do projecto “A Room of One’s Own”, baseado no imaginário poético da escritora britânica Virginia Woolf, cuja sessão inaugural foi apresentada na última edição do Festival Rota das Letras.

O espectáculo assenta na perspectiva de androgenia proposta por Woolf, com interpretações de Jay Zheng, Tina Kan, Helen Ko, Karen Hoi, M.Chow e Ezaak Ez, musicado pela suavidade delicodoce da electrónica de Evade, que inclui momentos de intimidade como uma versão quase sussurrada de New Order.

“Hermaphroditus” resulta da soma de vários elementos, da dança à música ao vivo, passando pelos conceitos de cenografia e guarda-roupa, explorando as subtilezas e a inconstância na natureza humana, particularmente num contexto relacional.

O projecto resulta numa narrativa performativa sem história, ou indiferente a essa necessidade, coreografada por Tina Kan e Jay Zheng, interpretada pelas bailarinas locais Helen Ko e Karen Hoi, acompanhadas por interpretações do poeta português de Macau Ezaak Ez e do poeta local M. Chow. Os espectáculos começam às 20h e a entrada custa 200 patacas.

5 Mai 2023

Literatura | História em capítulos de Fernando Sobral editada em livro

Será lançado, em Portugal, com a chancela da editora Quetzal, o livro “O Jogo das Escondidas”, uma história da autoria de Fernando Sobral passada nos anos 20 em Macau, período que teve como governador Rodrigo Rodrigues. “O Jogo das Escondidas” foi publicado em capítulos, no HM, ao longo de 2021

 

Uma história passada em Macau, no tempo do governador Rodrigo Rodrigues, ou seja, entre 1922 e 1924, com laivos de intriga política, mas também com casos de amor pelo meio. É esta a receita por detrás de “O Jogo das Escondidas”, romance da autoria do jornalista Fernando Sobral, já falecido, que será editado este mês pela editora portuguesa Quetzal. “O Jogo das Escondidas” é o resultado da história que foi sendo publicada em capítulos no HM ao longo do ano de 2021 e que o autor chegou a rever, a fim de ser editada em livro.

À semelhança de outras obras de Fernando Sobral, que exploram o exotismo de Macau e do Oriente, contam-se em “O Jogo das Escondidas” as ligações de personagens como Ding Ling ou Félix Amoroso, com pormenores sobre o período em que o regime republicano dava os primeiros passos em Portugal e se manifestava também em Macau, sem esquecer as ligações à Maçonaria. Exemplo disso, é o facto de a personagem Félix Amoroso, num dos capítulos, reflectir sobre a tentativa de “colocar, pela primeira vez, representantes da comunidade chinesa local no Conselho do Governo, algo que não era do agrado das entidades mais conservadoras”.

Além desta obra, a Quetzal vai editar “À espera da subida das águas”, romance de 2010 da escritora francesa Maryse Condé, que chega em Maio, mês em que se conhecerá o vencedor do Prémio Booker Internacional, de que a autora é finalista. Nomeada este ano por “The Gospel According To The New World”, a escritora, natural da ilha de Guadalupe, de 86 anos, é a pessoa mais velha de sempre a ser finalista do Prémio Booker Internacional, tendo já sido nomeada em 2015 pelo conjunto da sua obra.

Apesar disso, em Portugal, foi apenas publicado um livro seu, em 2022, pela Maldoror, que teve pouca visibilidade, intitulado “Eu, Tituba, bruxa… negra de Salem”.

Agora, a Quetzal vai lançar o romance que se passa entre Guadalupe e o Haiti e que, através da história de ligação entre um médico e uma criança filha de uma mulher que morre durante o parto, traça o mapa de duas regiões ligadas pelos danos do colonialismo. A mesma editora publicará também o primeiro romance de Anabela Mota Ribeiro, intitulado “O quarto do bebé”.

Outros títulos

Por sua vez, a editora Bertrand lança um novo romance de Ana Bárbara Pedrosa, “Amor estragado”. Entre as novidades da Leya encontra-se “A arte de driblar destinos”, de Celso Costa, vencedor do Prémio Leya 2022. Já a Dom Quixote vai editar o mais recente romance do Nobel da Literatura sul-africano J.M. Coetzee, “O polaco”, publicado este ano, e o segundo romance de Marieke Lucas Rijnveld, dos Países Baixos, intitulado “Minha querida favorita”.

Este é o segundo romance de Marieke Lucas Rijneveld, que se segue a “O desconforto da noite”, obra com que ganhou o Prémio Booker Internacional de 2020. Pela Planeta, vai sair “Viver depressa”, de Brigitte Giraud, o último vencedor do Prémio Goncourt, um romance que reconta a improvável cadeia de acontecimentos que levaram à morte do seu marido.

Na coleção dos Penguin Clássicos, sai “O estranho caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde e outros contos”, de Robert Louis Stevenson, e, na chancela Iguana, uma banda desenhada assinada por Nuno Markl e Miguel Jorge, intitulada “Manual de Instruções”.

A Relógio d’Água vai publicar neste mês de Maio “Neve, cão e lava. Aproximações assimptóticas”, de Rui Nunes, “O império da dor: A história secreta da dinastia Sackler”, de Patrick Radden Keefe, “Tempos emocionantes”, de Naoise Dolan, e “Os inquietos”, de Linn Ullmann.

Novos poemas de Gluck

Na mesma editora vão sair ainda mais um livro de poesia de Louise Gluck, “Margarida e rosa”, “O imperador Deus de Duna”, de Frank Herbert, e “Um balé de leprosos”, de Leonard Cohen, bem como os “Poemas”, de Bertolt Brecht, há muito esgotados.

Na Presença, vão ser lançados os dois primeiros volumes da trilogia sobre Roma Antiga, de Robert Harris, “Imperium” e “Lustrum”, e “A morte contada por um Sapiens a um Neandertal”, livro de História que junta os autores Juan José Millás e Juan Luis Arsuaga.

A Porto Editora publica “Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas”, de José Saramago, com capa caligrafada por José Luís Peixoto, completando assim a colecção das obras do Nobel da Literatura português assinadas com a letra de várias personalidades. Este volume conta ainda com textos de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano, que situam e comentam as últimas palavras em papel de José Saramago, e com ilustrações de Günter Grass. Na mesma editora sairá “A morte e o pinguim”, do escritor ucraniano Andrei Kurkov, autor de “Abelhas Cinzentas”.

A Livros do Brasil faz chegar “Guerra”, de Louis-Ferdinand Céline, romance inédito durante quase noventa anos, encontrado entre os manuscritos do escritor desaparecidos durante a libertação de Paris, em 1944, e que agora, sessenta anos após a morte do seu autor, é trazido a público mundialmente. A Assírio & Alvim publica um novo título de Adília Lopes, “Choupos”, e “75 Canções”, de Sérgio Godinho, volume que reúne canções (partituras, letras e cifras) do músico português.

Mais Sena

A editora Guerra e Paz publica mais uma obra de Jorge de Sena, “Novas andanças do demónio”, um livro sobre Júlio Pomar, “Depois do novo realismo”, da autoria do filho Alexandre Pomar, e “Eduardo Lourenço: A história é a suprema ficção”, uma edição de capa dura, com fotos da infância e juventude do ensaísta, uma entrevista de José Jorge Letria e texto final de Mário Soares, em homenagem ao centenário do nascimento do escritor.

A mesma editora vai ainda publicar todos os sonetos de Florbela Espanca, em “E dizê-lo cantando a toda a gente”, o romance autobiográfico de Joseph Conrad, “O espelho do mar”, traduzido pela primeira vez em Portugal, e “A vida de Tolstoi”, biografia do escritor russo autor de “Guerra e Paz”, pelo Nobel da Literatura Romain Rolland.

A chancela Minotauro, da Almedina, apresenta como novidades “A tentação de Santo Antão”, de Gustave Flaubert, inspirado num quadro de Pieter Bruegel, “Almoço nu”, a obra mais famosa de William S. Burroughs e um clássico da ‘beat generation’, e “O correspondente”, de David Jiménez, romance inspirado em acontecimentos reais que mostra o mundo íntimo dos repórteres de guerra.

Pela Antígona vai sair a obra “Ensinar uma pedra a falar. Expedições e Encontros”, uma compilação de 14 ensaios autobiográficos da autora vencedora do Prémio Pulitzer Annie Dillard, que formam um périplo por alguns dos locais mais remotos do planeta – do Polo Norte às Galápagos, passando pela selva equatoriana, os Apalaches e o estreito

Na Tinta-da-China vão ser publicados “Tribuna negra. Origens do movimento negro em Portugal (1911-1933)”, por Cristina Roldão, José Augusto Pereira e Pedro Varela, “A vida por escrito”, um guia de escrita de biografia por Ruy Castro, e “A vida errante”, de Guy de Maupassant, um périplo do escritor por Paris, Génova, Florença, Nápoles, Palermo, Argel, Tunes e Cairuão, na coleção de literatura de viagens.

5 Mai 2023

Académica diz que eventuais compensações impedem pedido de desculpa pela escravatura

O professor de História Mundial Manuel Barcia, especializado em escravidão no Atlântico, defendeu, em declarações à Lusa, que o receio de se pagarem eventuais compensações tem impedido Portugal e outros Estados de pedirem desculpa pela escravatura.

No 25 de Abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que Portugal deve um pedido de desculpa, mas acima de tudo deve assumir plenamente a responsabilidade pela exploração e pela escravatura no período colonial.

“O problema é que, se [Portugal] pedir desculpas, está a colocar-se numa posição, do ponto de vista legal, em que pode ter que pagar” compensações, sublinhou na quarta-feira Manuel Barcia, após uma palestra realizada em Macau.

“Os políticos em todas as partes estão muito assustados com isso”, disse o professor na Universidade de Leeds, no Reino Unido, apontando o caso do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que na semana passada se recusou a pedir desculpa pelo papel que o país teve no comércio de escravos.

Um pedido formal de desculpas por parte do Estado português seria “uma coisa mínima depois de tudo o que aconteceu”, defendeu Manuel Barcia.

“Mas a resposta tem de ser dada pela gente que descende dos escravos. São eles que têm de dizer se precisam” de um pedido de desculpa, acrescentou o académico cubano.

A posição de Marcelo Rebelo de Sousa foi assumida no discurso na sessão solene comemorativa do 49.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República, a propósito da sessão de boas-vindas ao Presidente brasileiro, Lula da Silva.

“Também isso nos serve para nós olharmos para trás, a propósito do Brasil. Mas seria também possível a propósito de toda a colonização e toda a descolonização, e assumirmos plenamente a responsabilidade por aquilo que fizemos”, considerou.

“Não é apenas pedir desculpa – devida, sem dúvida – por aquilo que fizemos, porque pedir desculpa é às vezes o que há de mais fácil, pede-se desculpa, vira-se as costas, e está cumprida a função. Não, é o assumir a responsabilidade para o futuro daquilo que de bom e de mau fizemos no passado”, defendeu.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que a colonização do Brasil teve “de mau, a exploração dos povos originários, denunciada por António Vieira, a escravatura, o sacrifício do interesse do Brasil e dos brasileiros”.

“Um pior da nossa presença que temos de assumir tal como assumimos o melhor dessa presença. E o mesmo se diga do melhor e do pior, do pior e do melhor da nossa presença no império ao longo de toda a colonização”, acrescentou.

Manuel Barcia defendeu que foi só devido à pressão do Reino Unido que Portugal aboliu por completo a escravatura, em 1869. Apesar de Portugal ter sido o primeiro país europeu a abolir a importação de escravos, em 1761, a medida só abrangia as colónias na Índia e a metrópole, onde havia “muito pouco” sentimento antiesclavagista, disse o académico.

Barcia lembrou ainda que, apesar da abolição, Portugal continuou a permitir, a partir de Macau, o comércio de chineses, em condições de escravatura por dívidas, para o continente americano, incluindo para Cuba.

4 Mai 2023

Restauração | Novo restaurante de dumplings abre em Lisboa

Foto de Eduardo Martins

Miss Dumpling – Restaurant & Wine Bar é o novo espaço dedicado à cozinha chinesa que acaba de abrir portas em Lisboa, no número 25 da Travessa dos Mastros, no bairro de Santos. O projecto tem o cunho de Song, chinesa a viver em Portugal há vários anos e de Hélder Beja, ex-residente de Macau, jornalista e antigo director do Festival Literário Rota das Letras. A equipa do restaurante é ainda composta por pessoas da China, de Portugal, do Brasil, da Ucrânia e da Índia.

Depois de dois anos a levar os jiaozi mais tradicionais da China às casas de muitos lisboetas através de um serviço de entregas, e aos mercados de street food da cidade, Song encontrou finalmente uma morada permanente, servindo jiaozi recheados de diferentes carnes e vegetais, de camarão, vegetarianos e vegan – preparados na hora ao vapor ou fritos.

A carta é a ainda composta por uma variedade de outros pratos, quase todos à base de legumes e vegetais, onde se destacam o Rei Cogumelo, feito de lascas de cogumelos king-oyster; o Verde e Amarelo, salada de pepino e tofu desidratado; ou a Cama de Beringela, preparado à base de farripas de beringela.

Em todos eles, combinações de pimentas de Sichuan, malaguetas e os muitos molhos da gastronomia chinesa são ingredientes essenciais para um menu dinâmico, com novos pratos a surgirem com regularidade – especialidades chinesas à base de arroz e de noodles serão das primeiras novidades para breve.

O restaurante alia à cozinha chinesa o melhor que o vinho português tem para oferecer, com uma selecção de vinhos monocasta de todo o país – um branco e um tinto sempre servidos a copo e funcionando como “vinho da casa”, e uma lista de garrafas únicas constantemente renovada. Para os apreciadores de cerveja, além das marcas nacionais não podia falar a chinesa Tsingtao.

3 Mai 2023

Sheyla Zandonai dá palestra sobre união do jogo com a cidade

Acontece esta quinta-feira, às 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC) a palestra “Urbanismo do Jogo, Turismo e Início da Modernização” protagonizada pela docente e antropóloga Sheyla Zandonai. Esta iniciativa conta com o apoio do departamento de História e Património da Universidade de São José (USJ).

A história da modernização urbana de Macau, desde o advento de um regime colonial de facto em meados do século XIX, tem sido contada através da história do desenvolvimento de infra-estruturas, como é o caso da recuperação da zona ribeirinha, da remodelação da cidade, com a adopção dos planos urbanísticos e das mudanças de estilo arquitectónico.

No entanto, pouco se tem dito sobre a forma como a história da modernização de Macau se sobrepõe à história da urbanização induzida pelo jogo e como esta se encontra ligada à génese do turismo em Macau e no sul da China em geral. Esta história parece também um pouco desligada da sua existência espacial.

Onde se localizaram os primeiros empreendimentos de Macau relacionados com o jogo e porquê? Como é que a transição da era do licenciamento do jogo para os primeiros anos do monopólio do jogo, na década de 1930, se materializou na paisagem urbana?

A palestra analisa o papel do jogo como incubadora de novos tipos e formas urbanas na intersecção das racionalidades coloniais e das modernidades europeias e chinesas no âmbito da categoria de turismo mais alargada em que se insere. Argumenta-se que os esforços de modernização da Macau portuguesa na viragem do século XX evidenciam a emergência do jogo como uma força modeladora da sua imagem urbana e colonial.

Docência e estudos

De frisar que Sheyla Zandonai lançou, no ano passado, o livro ““The City in Review – Episodes of hope and not so in Macau”, que não é mais do que uma colectânea de crónicas publicadas na imprensa nos media em língua inglesa sobre estas temáticas.

Sheyla S. Zandonai lecciona no departamento de História da Universidade de Macau, sendo doutorada em Antropologia Social e Etnologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). É autora de várias publicações sobre Macau e recebeu o Prémio de Mérito 2022 para a Investigação de Macau em Ciências Humanas e Sociais atribuído Fundação Macau e Ciências Sociais na China Press pelo seu trabalho sobre a calçada portuguesa realizado em parceria com a também investigadora e docente Vanessa Amaro. Os seus actuais interesses de investigação incluem história urbana, modernidade colonial, negócios de lazer, património e jogo.

3 Mai 2023