PIDDA | Serviços públicos “unidos”, mas com 41 projectos por arrancar Salomé Fernandes - 19 Mar 2020 Ainda que o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas tenha registado progressos ao nível da comunicação entre serviços públicos, o último trimestre do ano passado fechou com 41 projectos sem avanços [dropcap]O[/dropcap] ano passado terminou com 41 projectos inscritos no Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) com taxa de execução orçamental de zero por cento, ou seja, cuja obra nem chegou a arrancar. Deste universo, há 12 projectos, que correspondem a um montante de 320 milhões patacas, remontam a 2018. Os dados foram ontem apresentados pelo presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, Mak Soi Kun. Os serviços públicos com mais projectos com taxa de execução orçamental zero foram o Gabinete de Serviços de Transportes e Obras Públicas, com sete, a Direcção de Serviços das Forças de Segurança de Macau, com seis, a Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos de Água e o Instituto para os Assuntos Municipais, cada um com cinco. Ainda assim, Mak Soi Kun apontou que houve um “certo progresso” ao nível da comunicação. No seguimento da reunião dos deputados com o Governo, o presidente da comissão observou que “muitos serviços estão unidos no sentido de evitar atrasos que foram verificados no passado e assim poder através dessas obras ou empreendimentos públicos estimular a economia”. Entre os projectos o deputado mencionou empreendimentos de remodelação de zonas antigas da cidade em Coloane por parte das Obras Públicas e os 20 projectos que o Instituto Cultural “tem na calha”. Pragmatismo em acção Para além disso, foram cancelados projectos que já não serão inscritos no PIDDA do próximo ano, como é o caso do túnel da colina da Taipa Grande. Entendeu-se não ser possível concretizar o projecto e o presidente da comissão considerou bom sinal existir “uma percepção clara daquilo que se pode ou não fazer”. Assim, Mak Soi Kun descreveu que o procedimento é “muito mais pragmático”. Porém, os membros da Comissão querem melhorias de comunicação entre os serviços públicos, para que cada um saiba com que projectos pode avançar sem necessidade de serem entregues às Obras Públicas, recorrendo, por exemplo, a empresas de consultoria privada para os apoiar. Nas declarações aos meios de comunicação, Mak Soi Kun sugeriu a realização de acções de formação sobre a realização de empreendimentos. Entre os motivos de atraso do projectos está, por exemplo, a necessidade de obedecer a regras legais para construções sem barreiras. Algo que foi associado ao museu do Grande Prémio de Macau, adiado para este ano. Note-se que a taxa de execução do PIDDA atingiu 72,4 por cento, registando uma ligeira descida em comparação com a taxa de 72,9 por cento de 2018. As despesas efectivas foram de 12,3 mil milhões de patacas.
Terrenos | Governo soma cinco vitórias na Segunda Instância Hoje Macau - 19 Mar 2020 [O Tribunal de Segunda Instância analisou um caso relativo à declaração de caducidade de um terreno na zona do Fecho da Baía da Praia Grande, que estava concessionado à Sociedade de Investimento Imobiliário Va Keng Van, e considerou que o Chefe do Executivo actuou de acordo com a lei. A decisão pode ser levada para o Tribunal de Última Instância. O Executivo ganhou também quatro casos relativos a providências cautelares para impedir o despejo de terrenos na mesma zona. As acções tinham sido movidas pelas empresas Sociedade de Investimento Imobiliário Son Keng Van, a Sociedade de Investimento Imobiliário Man Keng Van, a Sociedade de Investimento Imobiliário Fu Keng Van e a Sociedade de Investimento Imobiliário Nga Keng Van.
Covid-19 | Restauração em Macau já sofre com novos sete casos registados em quatro dias Hoje Macau - 19 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap]s sete novos casos da Covid-19 registados desde segunda-feira em Macau já estão a ter impacto económico na restauração no território, disseram hoje à Lusa proprietários de restaurantes, que estavam a recompor-se da perda dramática de clientes. “Depois dos 40 dias sem casos em Macau estávamos a notar [uma] subida, as pessoas já tinham mais confiança de sair de casa e tudo, mas, desde segunda-feira, com o [primeiro] caso importado, nós notámos logo no dia a seguir (…) uma quebra drástica”, disse Vanessa Santos, do restaurante italiano “Bella Taipa”. “Tem sido um processo muito lento, estávamos a recomeçar quando começámos ultimamente a ter casos importados. (…) As pessoas retraem-se em casa com estes novos casos”, salientou também Eusébio Tomé. O proprietário do restaurante português “A Petisqueira” mostrou-se convicto, contudo, de que, com as novas medidas, que praticamente fecharam as fronteiras, “e não existindo mais casos, [a situação] volta a normalizar”, estimando que a recuperação pode demorar mais um, dois meses. Em Fevereiro, o fecho dos casinos por 15 dias, a paralisação quase total da economia, as ruas desertas de gente, refugiada em casa, roubou clientela aos restaurantes, que fecharam portas numa tentativa desesperada para reduzir os prejuízos que o Governo tentou também atenuar ao anunciar a distribuição de vales de consumo destinados a tirar do ‘coma’ o comércio local. Ambos os proprietários expressaram alguma esperança na bondade da medida junto da restauração. Vanessa Santos, que arrancara “em força” em 2020, com eventos programados, reservas de casamento e de aniversários, bem como de jantares empresariais, mas que viu tudo cancelado ou adiado, classificou a medida governamental de “excelente”. Já Eusébio Tomé disse que os vales de três mil patacas atribuídos aos residentes, para serem gastos em três meses no comércio local constituem uma medida positiva e “é melhor que nada” porque “põe liquidez no mercado”, mas ressalvou que pode ser “insuficiente face à magnitude do problema”, defendendo que, “provavelmente, vão ter de aumentar esse valor”. A crise de clientes alimentou novas apostas. No “Bella Taipa”, por exemplo, aproveitou-se o negócio mais parado para criar novos menus, para reforçar a formação dos funcionários, mas também para imaginar uma nova estratégia: serviço de ‘takeaway’ e a disponibilização de reservas de seis salas privadas para aqueles que não se sintam confortáveis por partilharem o mesmo espaço com os restantes clientes. O reforço nos cuidados de limpeza, a utilização generalizada de máscaras por parte dos funcionários e a disponibilização de líquido desinfetante fazem já parte das rotinas dos restaurantes. O impacto económico severo desde o final de Janeiro levou a que o dono de “A Petisqueira” solicitasse a redução da renda, valor que baixou para metade, mas ainda assim insuficiente para fazer face às despesas já assumidas. A pressão financeira foi dramática, mas Eusébio Tomé diz ter traçado um limite ético: “Não mandámos ninguém embora, não fizemos nada disso, estamos a aguentar, é uma questão moral. Melhores dias virão, neste momento estamos a correr um risco, mas pensamos agir assim porque estamos a fazer o bem para todos”. Em sintonia, Vanessa Santos partilhou o que ainda hoje disse aos funcionários, face ao novo sobressalto esta semana nas salas do “Bela Itália”: “Disse-lhes para estarem tranquilos (…), para não entrarem em pânico, que tudo se vai solucionar. O salário está assegurado e não vamos mandar ninguém para casa, aqui não fazemos isso”. Depois de 40 dias sem novos casos da Covid-19, Macau registou entre segunda-feira e hoje sete novos casos importados, a maioria trabalhadores não-residentes, razão que terá motivado o reforço das restrições à entrada no território.
Máscaras | Remessas de Macau para Portugal esbarram na alfândega, mas Governo promete agir Andreia Sofia Silva - 19 Mar 2020 O envio de máscaras para Portugal para a prevenção da pandemia Covid-19 está a ser bloqueado por questões burocráticas na alfândega em Lisboa, sendo exigido o pagamento de cerca de 790 patacas para levantar a encomenda. Vice-presidente da Associação dos Inspectores Tributários fala de uma situação normal para qualquer remessa oriunda de fora da União Europeia e diz ser “difícil” flexibilizar processo. Governo português deverá resolver problema, escreve o Plataforma [dropcap]P[/dropcap]ortugueses a residir em Macau e que enviaram máscaras para amigos e familiares em Portugal, queixaram-se à Lusa da retenção das remessas pela alfândega portuguesa e do preço exigido para as libertar. A indignação tem sido expressa em diversas publicações nas redes sociais, tanto em Portugal, como em Macau, com algumas pessoas no território a conseguirem até aqui contornarem o problema ao enviarem remessas à ‘boleia’ de alguém que viajasse para território português, antes das restrições dos voos anunciadas na terça-feira pelo Governo português. “O que me informaram aqui nos correios é que havia excesso de encomendas a irem para Portugal, de máscaras, muitas delas não chegavam lá, ficavam retidas na alfândega e tinham de pagar à volta de 90 euros [cerca de 790 patacas] porque estavam a considerar que estávamos a fazer negócio com as máscaras”, disse Fátima Coelho, residente em Macau. “O que é falso, porque nós estamos é muito preocupados com os nossos familiares, com todos os portugueses que estão em Portugal, que não usam máscara, que estão mal informados, e é uma das maneiras que temos de ajudar”, explicou a portuguesa, que conseguiu garantir o envio através de um amigo. Toca a cobrar Odete Sequeira queixou-se dos preços praticados logo nos correios, mesmo desconhecendo o que iria suceder quando a encomenda chegasse à alfândega portuguesa. Pagou mais de 20 euros [cerca de 175 patacas] para enviar uma remessa de 60 máscaras (cujo preço unitário ronda os dez cêntimos nas farmácias convencionadas em Macau), questionava a dependência portuguesa de materiais de prevenção. Odete Sequeira, tal como muitos que integram comunidade portuguesa, tentou fazer chegar máscaras a Portugal, junto de familiares, num momento em que o material escasseia em território português. “Eu debato-me com um problema sério, que é uma mãe com 90 anos que está num lugar de risco, e um filho com 26 [ambos em Portugal] que, naturalmente, não encara estas dificuldades como eu encaro, como a minha mãe encara, como as pessoas com mais experiência de vida encaram”, explicou. Flexibilidade é difícil O HM procurou explicações junto da Autoridade Tributária em Portugal e dos CTT, mas até ao fecho da edição não obteve respostas. Mas António Castela, vice-presidente da Associação de Inspectores Tributários, explicou, em traços gerais, o que poderá estar em causa. “Elas [máscaras] estão sujeitas a imposições aduaneiras, mas nós não retemos material desse tipo. De uma forma geral, uma mercadoria que chega a Portugal e que vem de um país fora da União Europeia (UE) está sujeita a certificações, algumas autorizações, a direitos aduaneiros e ao pagamento de IVA. Quem faz a apresentação dessa mercadoria na alfândega é responsável por ter a documentação toda pronta e fazer a declaração nesse sentido.” Dessa forma, “se alguém, um particular, manda máscaras via DHL, Correios ou FEDX para pessoas de cá, é evidente que pode ficar sujeito à apresentação do processo de importação”. “A responsabilidade não será da alfândega porque assim que apresentam o processo de importação… digo-lhe que o pior que pode acontecer é de um dia para o outro [em termos de espera para levantamento das encomendas]”, frisou António Castela. O responsável adiantou que será difícil flexibilizar este processo. “Face à falta de máscaras, não sei se deveria haver, por parte do Governo, algumas indicações no sentido de a importação de máscaras estar sujeita a uma situação [mais flexível]. Mas vai ser difícil pois as regras são comunitárias. Os direitos aduaneiros cobrados na Alfândega nem sequer são receita do país, mas sim da UE. Só depois é que a UE envia 25 por cento a cada Estado-membro. Não é uma coisa fácil de contornar”, rematou. Fonte contactada pelo HM adiantou que parte dessas despesas podem estar associadas a custos ligados ao serviço das empresas de expedição de encomendas. Uma factura à qual o HM teve acesso mostra isso mesmo: o envio de 10 máscaras teve um custo de 783 patacas, via DHL, e levou ao pagamento de taxa de desalfandegamento e IVA de cerca de 72 euros. José Pereira Coutinho, conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas, diz ter contactado as autoridades portuguesas sobre este assunto, estando a aguardar resposta. Governo dá ordens de libertação Entretanto, o portal Plataforma Media escreveu ontem que o Governo português vai mandar libertar as remessas de máscaras retidas na alfândega, segundo fonte próxima deste processo. Segundo revelaram outras fontes da alfândega ao Plataforma, a retenção de algumas remessas deveram-se ao facto de terem chegado “volumes gigantes e sem informação sobre o conteúdo das mesmas”. Esta medida, aliás, de acordo com as mesmas fontes, é tomada “em todas as encomendas com estas características”.
Cheque prenda Pedro Arede - 19 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] vale de consumo de três mil patacas destinado à utilização residentes de Macau é uma medida positiva avançada com prontidão pelo Governo e que traz vantagens tanto a consumidores como aos estabelecimentos comerciais afectados pela crise provocada pela Covid-19. E penso que esse duplo objectivo será cumprido. No entanto, duas questões podiam ter sido ponderadas de outra forma. A primeira, apesar da conveniência, é a clara vantagem face à concorrência que a Macau Pass vai gozar em termos de fidelização de utilizadores, disseminação de terminais e relativamente aos dividendos que irá retirar por via do aumento do número de transações que irão acontecer a partir de Maio através deste meio de pagamento. A outra, é o facto de a utilização do vale de consumo abranger grandes superfícies como as cadeias de supermercados que, mesmo nas horas mais delicadas do mês passado, nunca fecharam portas e, arrisco, podem até ter alcançado lucros superiores ao esperado, devido a impulsos e à ansiedade, podendo assim desvirtuar de certa forma, o propósito de injectar capital no comércio local e nos negócios de menor dimensão. De Macau damos um salto a Ovar, para aquilo que no final de Janeiro, ao mesmo tempo que em Wuhan foi construído um hospital em 10 dias para conter a epidemia, me atreveria a dizer que seria um puro simulacro de fantasia. A verdade é que à semelhança daquilo que aconteceu na cidade que foi o epicentro da epidemia, Ovar está em lockdown. Ninguém sai. Ninguém entra. Mais uma viagem, no mínimo, impensável, que faz parte do caminho que tem vindo a ser trilhado pelo coronavírus.
Escritas de transcurso Luís Carmelo - 19 Mar 2020 [dropcap]E[/dropcap]xiste um vínculo quase natural entre pensar e encontrar soluções que tenderiam a ser definitivas (é aquilo que Peirce, no coração do seu pragmatismo, designava por “settlement of belief”). Esta tradição parece querer demarcar-se daquilo que mais nos caracteriza: a efemeridade. Kant, por exemplo, acreditou que era possível “pôr fim à filosofia resolvendo todos os seus problemas, colocando tudo no seu lugar”. A exortação heideggeriana da ‘unverborgenheit’ (desocultação), tal como Richard Rorty reconheceu, vai no mesmo sentido. A tradição virá de Platão (e dos mandamentos semíticos) e funciona como se houvesse qualquer coisa de eterno nas inquietações dos humanos que certas áreas do saber, mormente as filosóficas, permitiriam dilucidar com toda a nitidez. Desta forma, o ‘processo histórico’ de ininterruptas reinterpretações andaria sempre à volta de uma mesma matriz (que, no limite, definiria todas as possíveis interpretações). Uma outra tradição igualmente antiga do pensamento é aquela que aceita ‘morrer na praia’, pois sabe que o mar nunca pára e, portanto, a relação entre o conhecido e o desconhecido consiste num jogo que jamais chegará ao apito final dos noventa minutos. Nesta tradição, o resultado é sempre um processo – construído por imponderáveis – e não a justaposição de dois algarismos (três a zero, dois a dois, cinco a dois, etc.). A realidade, fosse lá o que isso fosse, estaria sempre a rescrever-se e a reinventar-se ao bom sabor dos estóicos, enquanto as teologias e as filosofias (muito seguras de si) fariam as contas. Grande parte das ciências exactas segue esta tradição. Mas não só. Alguma literatura e alguma poesia, que eu caracterizaria como escritas do transcurso por sobreporem a vitalidade do processo ao fechamento, igualmente se inseririam nesta segunda tradição. A ideia clássica de livro corresponde a um conjunto de traços que visa uma totalidade dir-se-ia natural e, portanto, integra a primeira das tradições. O que se diz num livro reata quase sempre outros livros e pretende, depois de um excurso controlado, chegar a uma conclusão óbvia e tácita. As narrativas e os compêndios que submetem todo o seu percurso a um desenlace irremediável incluem-se nesta marca. No entanto, um livro pode também estar sempre a reiniciar-se e enquadrar-se na segunda tradição. Na 72ª carta a Lucílio, Séneca di-lo claramente: “Se interrompemos o estudo (ou a leitura), nunca ficaremos no ponto onde a interrupção se deu, mas à maneira de uma mola excessivamente esticada, voltamos ao ponto de partida, precisamente por carecermos de continuidade”, ou seja: não nos adequamos a um início e a um fim únicos, necessitamos daquela abertura que se projecta em movimento e não numa estancagem. Na mesma carta, Séneca realça este aspecto: “Passa-se comigo o mesmo que com os livros que se colam quando não são manuseados: tenho de desenrolar o meu espírito e, sem demora, pôr em movimento todos os conhecimentos nele depositados…!”. A alusão à palavra “livro” significa aqui um rolo de papiro, ou pergaminho, que se ia desenrolando à medida que o movimento da leitura prosseguia, daí o interessante paralelismo. Neste caso, o transcurso ganha vida e recusa encerrar-se numa redoma resolvida e selada, ao contrário do que acontece no dogma religioso de raiz semítica, outra das géneses do pensar enquanto caminho na direcção de uma meta definitiva e clara. Se muito boa literatura ensaia passos de dança baseados na musicalidade e na plasticidade do discurso e não na inevitabilidade da ‘história pela história’, creio que é sobretudo na poesia – liberta do jargão dos géneros fechados, como diriam os românticos – que mais encontramos o prazer do jogo que jamais aspira a um fim. Como Borges escreveu, um poeta “contará uma história mas também a cantará”. Bons motivos de reflexão em tempos de quarentena.
Urbanismo | Neto Valente e Rui Leão deixam CPU, Álvaro Rodrigues entra João Santos Filipe - 19 Mar 2020 Seguindo a regra não escrita de um limite de dois mandatos nos conselhos consultivos, o Executivo nomeou 20 membros novos para o Conselho do Planeamento Urbanístico [dropcap]O[/dropcap] Governo procedeu a uma renovação quase completa do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), com a saída de 24 vogais e a entrada de 20 novos membros. As alterações foram publicadas ontem, no Boletim Oficial, e confirmam as saídas do advogado Jorge Neto Valente, do arquitecto Rui Leão, do empresário Paulo Tsé e dos deputados Mak Soi Kun, Lam Lon Wai e Wu Chout Kit. No sentido contrário, o advogado Álvaro dos Santos Rodrigues e o arquitecto Omar Yeung To Lai passam a integrar o órgão consultivo e juntam-se aos vogais Iau Teng Pio, advogado e deputado, e Au Chung Yee. Estes últimos dois membros são os únicos que transitam das composições anteriores, porque ainda não tinham cumprido dois mandatos completos. Iau passa, incluive, a ser vice-presidente. Em declarações ao HM, Neto Valente mostrou-se satisfeito com a saída, uma vez que significa que a regra não escrita de haver rotação dos lugares consultivos após dois mandatos está a ser implementada: “Há uma regra não escrita que está a seguida para que não haja eternização nos lugares. As pessoas cumprem dois mandatos e saem. E eu acho isso muito bem”, afirmou o presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM). Sobre a contribuição para o CPU, Neto Valente apontou as limitações do órgão: “Cada membro faz o melhor que pode. É um conselho meramente consultivo e daqui acaba por não sair nenhuma decisão. A capacidade de intervenção com importância é muito diminuta”, atirou. “Normalmente, o Governo já tem posições bem definidas e, a não ser em casos flagrantes ou que haja uma grande contestação, as funções são mesmo consultivas”, completou. O ex-vogal, que participou ontem na última reunião, lamentou ainda o facto de ao longo de dois mandatos não ter sido concluído o Plano Director. “O grande problema é não haver plano director nem planos parcelares […] Quando vim para este conselho pensei que iria haver esse ponto certo e infelizmente saio com a tristeza de ver que se avançou muito pouco”, reconheceu. Quanto à nomeação dos novos membros, Neto Valente deixou elogios ao colega Álvaro Rodrigues. “A AAM sugeriu [para o conselho] o doutor Álvaro Rodrigues, que também é da direcção. Tenho a certeza que é uma substituição para melhor”, afirmou. Contra a maré Por sua vez, Rui Leão valorizou o facto de o conselho levar à população discussões sobre o património que de outra forma não seriam conhecidas. “Faço um balanço positivo [da participação]. O conselho é um mecanismo muito importante, não só porque cria transparência maior, mas também debate sobre as políticas da cidade”, considerou. O arquitecto reconheceu ainda que em muitos momentos teve opiniões contrárias à maioria dos membros. “Dei o contributo que me era possível e levantando questões nos plenários tanto ao nível de políticas urbanas como de património que são difíceis de encaixar pela estrutura administrativa”, indicou. “Mas foi um trabalho importante, apesar de ser quase sempre a remar contra a maré”, acrescentou.
Ká Hó vai ter centro de exposições sobre a comunidade leprosa João Santos Filipe - 19 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo vai construir um centro de exposições na Vila de Ká Hó para mostrar aos residentes como vivia a comunidade leprosa quando ali residia em isolamento. Anteriormente, já tinha sido anunciado que uma das casas no local ia ser transformada num Centro de Formação de Jovens na Área da Educação Artística, mas ontem o Instituto Cultural (IC) revelou mais pormenores. “Vai servir como centro de exibição sobre a história da vida em Ká Hó. Sabemos que existiam doentes que ficavam isolados nessa vila e vamos tentar exibir como era a sua vida”, informou Deland Leong, vice-presidente do IC. “Queremos que a população tenha acesso a esse centro e que conheça como era a vida nessa altura”, acrescentou. A Planta de Condições Urbanísticas para o local foi apresentada ontem devido à necessidade de construir naquela área instalações públicas complementares, nomeadamente casas-de-banho. Apesar destas construções, Deland Leong explicou que o objectivo é manter a área como está, como árvores e espaço livre entre as casas da vila de Ká Hó. Quanto às futuras construções, Rui Leão advertiu para a necessidade de as instalações serem “escondidas” atrás das casas já existentes para não alterar a paisagem. “Sei que o Instituto Cultural vai ter isto em conta, mas a construção devia ser feita atrás dos pavilhões. Se for assim, quem entrar na vila não vai ver as novas construções imediatamente e isso faz com que a paisagem não seja muito alterada”, sustentou. Ainda sobre as obras, Deland Leong prometeu que a paisagem não vai ser alterada. “Vamos revitalizar esta área, queremos que seja visitada pelos residentes. Sabemos que faltam instalações públicas, mas queremos manter as características de uma área muito livre e com arborização, tal como está”, comprometeu. A directora das Obras Públicas, Chan Pou Ha, não se coibiu de partilhar uma certa nostalgia sobre a vila e admitiu ser uma área onde ia com frequência na infância. “Quando era pequena também visitava esta zona”, recordou.
Heritage Foundation considera Macau 35ª economia mais livre Hoje Macau - 19 Mar 2020 [dropcap]E[/dropcap]m termos económicos, Macau foi considerado pela Heritage Foundation como uma região “maioritariamente livre”, ocupando a 35ª posição do índice mundial. A classificação do território desceu 0.7 pontos para 70.3, devido a um declínio da liberdade monetária. Olhando para a região da Ásia-Pacífico, encontra-se acima da média, ficando em 9º lugar. “Vários factores têm impedido um maior crescimento económico e de liberdade económica em Macau, incluindo protecção inadequada dos direitos de propriedade, deficiências em combater a corrupção que prejudicaram a integridade governamental, insuficiências na flexibilidade do mercado de trabalho e a ausência de uma reforma regulatória séria. O Governo vai ter de continuar a endereçar e corrigir estas inadequações se espera estimular o crescimento económico que não é baseado no jogo”, explica o relatório. A análise do “think tank” americano tem em consideração 12 liberdades económicas: direitos de propriedade, eficiência judicial, integridade governamental, carga tributária, despesas governamentais, saúde fiscal, liberdades de negócio, trabalho, monetária, trocas comerciais, investimento e financeira. A integridade do Governo é o elemento em análise no qual Macau tem pior desempenho, enquanto a saúde fiscal se situa no extremo mais positivo. Ranking conservador No topo do ranking passou a estar Singapura, com 89.4 pontos, tendo sido o único país do mundo a ser considerado economicamente livre em todas as áreas em análise, ainda que se aponte que as restrições às liberdades civis constituem uma preocupação. Veio assim substituir Hong Kong na primeira posição. Desde 1995 que a região vizinha era considerada a mais livre, mas desceu agora um lugar. Na base disso esteve a instabilidade política e social registada, que “começou a erodir a sua reputação”. Note-se que a Heritage Foundation é da ala conservadora, e indica na sua página online procurar ajudar Donald Trump e membros republicanos do Congresso a “drenar o pântano”. A organização encontra-se focada na procura de soluções políticas para, por exemplo, desmantelar o Obamacare, reformar o código tributário e proteger as fronteiras.
Média | Repórteres de três jornais americanos banidos da China, Macau e Hong Kong João Luz - 19 Mar 2020 O Governo Central deu ordem de expulsão a correspondentes do The New York Times, Washington Post e Wall Street Journal. Os jornalistas ficam impedidos de viver e trabalhar na China, mas também em Macau e Hong Kong, apesar de as leis básicas garantirem liberdade de imprensa. Associações de jornalistas das duas regiões lamentam a decisão de Pequim e pedem clarificações aos Executivos locais que tranquilizem os jornalistas [dropcap]T[/dropcap]êm duas semanas para empacotar tudo e sair. Este é, trocada por miúdos, o resultado da decisão de Pequim sobre o futuro próximo dos correspondentes na China das publicações norte-americanas, The New York (NYT) Times, Wall Street Journal e Washington Post (WAPO), que têm de devolver as credenciais de imprensa, o que equivale à sua expulsão, no prazo de duas semanas, segundo anunciou o Governo Central. Enquanto a agenda noticiosa está inundada pela pandemia que varre o mundo, os correspondentes das três publicações não só vão ser forçados a abandonar a China, como também ficam impedidos de viver ou trabalhar em Macau e Hong Kong. Além da medida extrema, Pequim rotulou repórteres de outras cinco publicações como funcionários de Governos estrangeiros e as publicações Voice of America, The Times, The Journal, The Post e a revista Time como agências controladas pela Casa Branca. Importa lembrar o contexto dos últimos quatro anos, em que Donald Trump apelida a maioria dos órgãos de comunicação social, incluindo o NYT e WAPO, como inimigos do povo e disseminadores de notícias falsas contra a sua administração e pessoa. A posição de Pequim surge como retaliação face à medida aprovada pelo Governo norte-americano em Fevereiro que declarou várias agências noticiosas estatais como agências controlados por Pequim. As publicações em questão são a Xinhua, China Global Television Network (CGTN), China Radio International e o China Daily. A decisão implica que os profissionais das publicações chinesas se registem no Departamento de Estado dos Estados Unidos, um requisito que se aplica também a funcionários de embaixadas e representações consulares. Assim sendo, os meios citados vão ter direito, no total, a 100 vistos de trabalho, traduzindo-se na expulsão de facto de cerca de 60 jornalistas. Washington justificou a decisão com a crescente vigilância, assédio e intimidação a jornalistas norte-americanos e outros estrangeiros que trabalham na China pelas autoridades locais. Apenas algumas horas depois do anúncio da Casa Branca, Pequim expulsou três jornalistas do Wall Street Journal, uma decisão justificada por um artigo de opinião. Temos pena Além de lamentar a inclusão de Macau e Hong Kong na decisão do Governo Central, a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) apelou ontem em comunicado “à clarificação relativamente à actividade de jornalistas e órgãos de comunicação social não locais por forma a tranquilizar os profissionais e assegurar o pleno respeito pela liberdade de imprensa.” A associação recorda que o disposto na Lei Básica de Macau não se aplica apenas a jornalistas e órgãos locais, “mas também dos jornalistas não locais e dos órgãos de ‘empresas jornalísticas, editoriais e noticiosas sediadas no exterior’, tal como está previsto no artigo 9 da Lei de Imprensa”. O impacto das tensões entre Estados Unidos e China no livre exercício do jornalismo é outra das preocupações manifestadas pela AIPIM, que deixa críticas às duas potências. “Lamentamos quer esta decisão anunciada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China face aos jornalistas norte-americanos quer as medidas anteriormente tomadas pelas autoridades dos Estados Unidos relativamente a jornalistas e órgãos de comunicação social chineses”. O Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC, na sigla em inglês) revelou que, pelo menos, 13 jornalistas vão ser expulsos, distribuídos pelo The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post. Trata-se de longe da maior expulsão de jornalistas estrangeiros da China nas últimas décadas. “Não há vencedores no uso de jornalistas como peões diplomáticos pelas duas maiores potências mundiais”, apontou o FCCC. Nos últimos seis anos, a China expulsou nove jornalistas estrangeiros, segundo o FCCC. Pingue-pongue A decisão chinesa reflecte a crescente hostilidade entre Washington e Pequim, que inclui já uma prolongada guerra comercial e tecnológica ou disputas em torno do acesso ao Mar do Sul da China. Em editorial, a imprensa estatal chinesa virou o bico ao prego e culpou os Estados Unidos pela decisão do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “O impacto da decisão dos EUA não se limitará à imprensa, mas criará efeitos gerais negativos e novas incertezas no relacionamento”, avisou o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. “Estas medidas são completamente necessárias e são recíprocas. A China é obrigada a responder à opressão irracional que as organizações de média chinesa sentem nos Estados Unidos. São medidas legítimas e justificadas em todos os sentidos”, pode-se ler num comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. A designada perseguição aos média chineses foi vista por Pequim como uma agressão típica da mentalidade e ideologia da Guerra Fria. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, contestou a comparação entre as acções dos EUA e da China, apontando que os jornalistas chineses em Washington desfrutam de liberdades de imprensa que não existem na China. “Identificámo-los como trabalhando em missões estrangeiras ao abrigo da lei norte-americana. São coisas diferentes. E lamento a decisão da China de reduzir ainda mais a capacidade do mundo de obter informação livre, em tempos particularmente difíceis”, disse, numa alusão clara aos desafios trazidos pela pandemia. Questões editoriais O trio de publicações agora afectadas noticiaram matérias politicamente sensíveis na visão do Governo Central, incluindo sobre alguns temas que são autênticos tabus para o Partido Comunista Chinês. Um exemplo óbvio é a cobertura, e mediatismo resultante, da situação em Xinjiang, com reportagens que se afastam da mensagem oficial de que os campos onde as autoridades detêm a minoria muçulmana uigure se destinavam à reeducação e aio combate ao extremismo. Importa também salientar que as mesmas publicações publicaram incontáveis reportagens, no mínimo, comprometedoras para os sucessivos governos norte-americanos. No início do mês, o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China já havia manifestado receios de que Pequim expulsasse mais jornalistas estrangeiros, depois de terem sido concedidos vistos de apenas um mês a dois repórteres. Pelo menos 12 correspondentes receberam credenciais válidas apenas por seis meses, ou menos, mais do dobro dos vistos de curta duração atribuídos no passado. Tipicamente, estes vistos são emitidos com a duração de um ano. “As autoridades chinesas estão a usar os vistos como armas contra a imprensa estrangeira como nunca antes, no seguimento do declínio das condições para trabalhar”, referiu um jornalista, sem revelar a sua identidade, citado pelo South China Morning Post.
Okayama | André Couto com testes oficiais animadores Sérgio Fonseca - 19 Mar 2020 [dropcap]C[/dropcap]om o desporto motorizado praticamente parado em todo o mundo, o Japão continua a ser uma excepção. Cumpriu-se este fim-de-semana, à porta fechada, os dois dias oficiais de testes do campeonato japonês Super GT, no circuito de Okayama. Apesar das restrições de viagens para o país do sol nascente, André Couto marcou presença neste evento e os resultados foram bastante animadores. Devido à pandemia do novo coronavírus (COVID-19), o teste foi realizado com muitas cautelas no paddock, com o próprio circuito a implementar várias de medidas de precaução. Ao todo estiveram na pista japonesa 46 equipas e 100 pilotos. Para todos os presentes, esta foi uma das últimas oportunidades para testar antes do arranque da temporada dentro de um mês. Couto e todos os membros da equipa JLOC (Japanese Lamborghini Owners Club) aproveitaram para reunir mais informações sobre o comportamento e a performance dos novos pneus Yokohama. Com duas sessões por dia, uma de manhã e outra à tarde, o Lamborghini Huracán GT3 Evo nº88 fez o 16º tempo da categoria GT300 no final primeiro dia, após ter sido o mais rápido na sessão matinal. “Na primeira sessão, em que eu conduzi, fizemos o primeiro tempo. Na segunda sessão caímos um bocado, mas também não colocámos muitos pneus novos, pois estivemos a trabalhar noutras áreas do carro”, explicou o piloto de Macau ao HM. No segundo dia, a equipa nipónica continuou a trabalhar nas afinações do carro italiano calçado pelas “gomas” da Yokohama, num campeonato em que os pneus têm muita influência nos resultados. “Na primeira sessão do segundo dia, que foi uma sessão rápida, fiz o sexto tempo, mas estávamos quase todos a testar pneus. Pela tarde, tivemos focados noutros pontos e não nos preocupamos com os tempos por volta”, disse Couto, que terminou o dia com o 9º melhor tempo da classe. O Audi R8 LMS da Hitotsuyama Racing foi o mais rápido no primeiro dia na categoria GT300, enquanto o exótico Lotus Evora MC foi o melhor no segundo dia. O Huracán GT3 Evo nº88 foi sempre o mais rápido da sua equipa. Resultados que dão confiança Apesar de não serem cem por cento precisos, estes testes de pré-temporada dão uma pequena ideia do que será o real andamento dos concorrentes ao longo da época de 2020, o que deixa o ex-campeão da classe GT300 confiante para o que está para vir. “No geral, o carro mostrou um certo potencial nesta pista, consegui encontrar um equilíbrio bastante bom”, admitiu o piloto português. “Apenas não conseguimos encontrar a consistência que gostaríamos, mas julgo que muitas equipas sofreram do mesmo. Para todos os efeitos, temos que continuar a trabalhar para encontrar essa consistência para a primeira prova”. O campeonato Super GT tinha o arranque previsto para o fim-de-semana de 11 e 12 de Abril, também no circuito de Okayama, na prefeitura de Chugoku, mas devido à pandemia em curso a organização resolveu adiar o evento para uma data posterior a confirmar seguindo os conselhos do governo nipónico. A primeira prova do campeonato será, por agora, em Fuji, no primeiro fim-de-semana de Maio. Contudo, nos dias 28 e 29 de Março, os motores voltam-se a fazer ouvir com mais um teste colectivo no circuito dos arredores do Monte Fuji.
Covid-19 | Portugal em estado de emergência até ao dia 2 de Abril Andreia Sofia Silva - 19 Mar 202020 Mar 2020 Com 785 casos confirmados de Covid-19 e três mortes, Portugal adoptou ontem medidas mais restritivas no combate à pandemia. O estado de emergência entrou em vigor à meia-noite de quinta-feira e dura até 2 de Abril. Restringe a circulação de pessoas, que devem sair de casa apenas para o estritamente necessário, e evitar grupos. Negócios essenciais, como supermercados ou bombas de gasolina, mantêm as portas abertas [dropcap]C[/dropcap]onfinamento compulsivo dos cidadãos em casa e restrições à circulação na via pública, excepto com justificação. É assim a vida em Portugal desde a meia-noite de quinta-feira, quando foi decretado o estado de emergência, a primeira vez desde o 25 de Abril de 1974. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, falou ao país às 20h de quarta-feira para apresentar uma “decisão excepcional, num tempo excepcional”, uma vez que “a pandemia da Covid-19 não é uma qualquer como aquelas que já conhecemos na nossa democracia”. “Está a ser e vai ser mais intensa, vai durar mais tempo até desaparecerem os seus últimos efeitos. Está a ser e vai ser um teste nunca vivido ao nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) e à sociedade portuguesa chamada a uma contenção e a um tratamento em família sem precedentes”, adiantou o Presidente, que falou de um “desafio enorme para a economia” portuguesa, com “efeitos nas exportações, no turismo e no investimento”. Marcelo Rebelo de Sousa comparou o combate à pandemia a uma verdadeira guerra, e destacou o “heroísmo diário no SNS e de todos aqueles que fazem a distribuição de bens essenciais”. Desde que as escolas fecharam esta segunda-feira, que os portugueses começaram a fazer isolamento voluntário em casa. O estado de emergência não decreta o recolher obrigatório nem impõe a quarentena obrigatória. As autoridades pedem que os cidadãos façam a sua vida normal, restringindo, no entanto, as saídas ao estritamente essencial. Estar em casa é palavra de ordem, e mesmo nas cidades mais pequenas os espaços de restauração e lojas fecharam portas. Apesar de não haver falta de bens alimentares, muitos portugueses têm corrido aos supermercados nestes dias, esvaziando as prateleiras. Houve, da parte da Presidência da República, uma tentativa, com o estado de emergência, de “equilibrar contenção no espaço público e nas fronteiras e [assegurar] a não paragem da vida económica e social”. Ontem à tarde foi apresentada a lista final de regras que devem ser cumpridas pelos cidadãos, decididas em Conselho de Ministros, e que passam pelo encerramento dos serviços públicos, a proibição de saídas que não sejam para o trabalho, supermercado, farmácias, passear o cão ou realização de actividades físicas sem ser em grupo. Quanto às actividades económicas só se manterão abertos estabelecimentos comerciais que fornecem bens ou serviços essenciais como padarias, supermercados, mini-mercados. Os restaurantes mantém-se encerrados, mantendo o serviço de entrega de refeições em casa. Além disso, todas as empresas em laboração devem ter em atenção regras da Direcção-geral de Saúde, tal cumprir o afastamento social, atendendo clientes à porta e cumprir regras de higienização. António Costa disse, em conferência de imprensa, que as medidas do estado de emergência não prevêem um isolamento obrigatório para generalidade da população. Este só é aplicado para doentes com Covid-19 ou que estejam sob vigilância activa. O incumprimento é punido por “crime de desobediência”, explicou, cabendo a fiscalização às forças de segurança. Relativamente à restante população, as autoridades e forças de segurança “vão actuar pedagogicamente”. Tal como já tinha dito após a declaração do estado de alerta, e antes de ser decidido o estado de emergência, o primeiro-ministro afirmou que “as pessoas têm cumprido tão bem” que seria “um desrespeito pelos portugueses impor um quadro sancionatório”. Logo na intervenção inicial, Costa afirmou ainda que “a preocupação” do Governo na definição das medidas do estado de emergência foi “assegurar a máxima contenção e o mínimo de perturbação”, sempre tendo em vista encontrar a “melhor forma possível para conter a expansão da pandemia”. Forças Armadas “quando necessário” António Costa afirmou também que as Forças Armadas serão utilizadas no âmbito do estado de emergência “se e quando for necessário” e dentro do quadro legal previsto. “O quadro de intervenção das Forças Armadas no âmbito do estado de emergência está claramente definido na lei e em tudo o que seja necessário poderemos contar com as nossas Forças Armadas para qualquer missão que caiba no quadro legal deste estado de emergência e utilizaremos esse recurso se e quando for necessário”, respondeu o primeiro-ministro. As cinco razões de Marcelo A implementação do estado de emergência foi sendo discutida ao longo de quarta-feira. Marcelo Rebelo de Sousa convocou o Conselho de Estado, órgão consultivo da Presidência, e ouviu também o Governo, que deu parecer positivo. À tarde, a Assembleia da República aprovou a entrada em vigor da medida. O Presidente da República apresentou cinco razões para propor e decretar o estado de emergência. A primeira é o “reforço da solidariedade dos poderes públicos e deles com o povo”, justificando que Portugal precisa de “aprender com os outros” países que, enfrentaram a epidemia há mais tempo e com “passos graduais”, e agora adoptar medidas fortes. “Outros países, que começaram mais cedo do que nós a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas. Devemos aprender com os outros e poupar etapas”, frisou. A segunda razão foi a prevenção, para que o Executivo de António Costa, que tem “uma tarefa hercúlea” pela frente, possa “tomar decisões” com rapidez, “ajustadas” e que seja “necessárias no futuro”. Em terceiro ligar, a “certeza”, dado que é preciso prever que um “quadro legal de intervenção” e garantir que, no futuro, não venha a ser “questionado o fundamento jurídico” das decisões. Em quarto lugar está a “contenção”, de forma a garantir que o decreto de estado de emergência não “atinge o essencial dos direitos fundamentais”. Por último, em quinto lugar, o decreto garante flexibilidade na reavaliação da situação do país dentro de 15 dia pelo Governo, tendo em conta a evolução da pandemia. Profissionais de saúde aplaudem Os bastonários das ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos concordam e defendem como medida importante o estado de emergência, por ser “absolutamente essencial”, defendeu Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos (OM). A medida, disse, agradou à generalidade da classe médica e surge porque, acrescentou, se está perante “uma situação muito grave” e “com uma mortalidade bem acima da gripe sazonal”. Olhando para o que a China fez para conter a pandemia, ou Macau, é possível perceber o que se tem de fazer, disse Miguel Guimarães, acrescentando que o Presidente “tomou uma boa atitude” que é um sinal de “bom senso”. Além disso o bastonário recorda que o primeiro-ministro também tomou medidas importantes, como contrariar o Conselho Nacional de Saúde Pública e mandar fechar as escolas. Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, também considerou boa a medida do Presidente da República e acrescentou que, com o estado de emergência, “as normas vão ser intensificadas” e que os portugueses todos juntos vão vencer “a guerra”. Miguel Guimarães apontou que algumas medidas foram tomadas demasiado tarde, que os portugueses também demoraram a perceber a gravidade da situação, e deixou um aviso: “a estratégia de guerra é para ser levada a sério”. O responsável revelou que há um grupo de profissionais que está a trabalhar na possibilidade de serem produzidos ventiladores em Portugal. Ana Paula Martins disse que as farmácias portuguesas são procuradas diariamente por um milhão de pessoas e lamentou que tenha até agora havido “falta de liderança” na luta contra a pandemia. “Não é o momento de apontar o dedo. Mas de dizer que só chegámos a esta situação de uma reacção mais lenta nalgumas medidas porque as lideranças foram desvitalizadas”, disse. A Direcção Geral de Saúde (DGS) está “muito depauperada, sem os recursos que precisa”, e o mesmo se passa com entidades como a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde ou o Instituto Nacional de Saúde, avisou a bastonária dos farmacêuticos.
Reinventar o amor António Cabrita - 19 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap]ra, não sei se já deram conta de que o beatiful vírus que nos carcome dura doze horas em caindo numa superfície metálica. Que metalzinho nos vem mais às mãos, em reboludas e prenhes artes malabares? É uma circulaçãozinha que não cessa, a das moedas. Daqui a dois meses, dada o espantoso labor no contágio do vírus, quando o sistema quiser, em nome da saúde, dispensar o penhor metálico das lecas, o capitalismo terá conhecido uma das suas grandes derrotas. Lavemos as mãos e que cada um de nós carregue acoplado ao cinto um termo com água a escaldar para lá enfiar as moedinhas, sempre que recebemos novas. Como numa história divertida passada na Zambézia. Queixavam-se os utentes da cultura de uma determinada cidade de que o polo local do Ministério da Cultura não funcionava porque os responsáveis (uma dama) nunca se encontravam presentes. Foi lançado um inquérito, e eis o que se apurou. A senhora, que para ali fora deslocada, entrava ao serviço e sentia-se de imediato muito incomodada, como se o escritório estivesse embruxado. Chamou um curandeiro cujo diagnóstico confirmou que o seu antecessor na função havia lançado um mau olhado no escritório. Era necessário um contra-feitiço. O que foi feito. Mas, para ser realmente eficaz, como o verdadeiro alvo do feitiço era não apenas o local como a funcionária, havia de seguir uma rotina diária para que as coisas corressem sem engulhos: a senhora teria de purificar todas as moedas que recebesse no seu contacto diário, dado que o tal feitiço de que padecia correspondia a uma espécie de rejeição local à sua vinda, sendo obrigatórias as medidas de excepção. A funcionária saía de casa de manhã, ia abastecer-se à padaria e ao supermercado do bairro, dava uma nota para pagar e em troca recebia umas moeditas de troco. Maldição. Tinha de deslocar-se obrigatoriamente à periferia para o curandeiro lhe purificar as moedas, e às vezes o terapeuta não estava, havia que aguardar, podia chegar de manhã e só se despachar pela tardinha, nada podia fazer quanto a estes detalhes – que simplesmente explicavam a sua ausência no serviço. Com a irracionalidade que se vai propagar à velocidade com que o vírus trabalha, chegaremos a este retorno à magia? Why not? No Hospital de Santa Maria já se contam cinquenta médicos, de entre as vítimas que contraíram o vírus. Não vai faltar motivos para ter medo. E o medo é o pai de todos os feitiços. Feiticeiro mor quis ser Trump quando procurou garantir, junto a um laboratório alemão que está perto de validar a vacina, o direito exclusivo para os americanos de uma vacina contra o coronavírus. É de ter medo, muito medo, quando os líderes mundiais têm este tipo de comportamento, e talvez exija uma atitude política. Diante de tão grave comportamento, a UE devia mandar um recado à américa: os senhores escolham quem quiserem para presidente, mas o senhor Trump, doravante, não será recebido por nenhum chefe de estado europeu. Isolá-lo, porque é um vírus! Entretanto, este estado de coisas que nos apanhou desprevenidos, é a demonstração derradeira de que não se devem privatizar os sistemas nacionais de saúde, pois é de temer a ganância associada à irresponsabilidade sanitária. Em Maputo, querendo comprar um termómetro, já me foi pedido um valor que quadriplica o preço habitual. Paguei em moedinhas, por via das dúvidas, estou-me a descartar. Enfim, para esta tristeza em que o mundo se convulsiona, resta o antídoto da poesia, como este tremendo poema de Ghérasim Luca, de 1945, que verti, O INVENTOR DO AMOR: Planante, de templo em templo/ o sangue do meu suicídio virtual;/ fluxos // preto, vitrificado e silencioso// Como se eu me tivesse realmente suicidado// cruzam-se as balas no meu cérebro/ dia e noite// cortando as raízes do nervo/ óptico, acústico, táctil/ – esses limites -/ e espalhando por todo o crânio/ um cheiro a pó queimado/ sangue coagulado e caos// É com particular elegância/ que eu carrego nos ombros/ esta cabeça de suicidado/ que passeia de um lado para o outro/ um sorriso infame/ envenenando/ num raio de vários quilómetros/ a respiração dos seres e das coisas// Visto de fora/ dir-se-ia que alguém desmorona/ sob uma rajada de metralhadora// O meu passo incerto lembra/ o dos condenados à morte/ o do rato do campo/ o do pássaro ferido// E como o funâmbulo/ equilibrado no seu guarda-chuva// aguento-me firme/ no meu próprio desequilíbrio// Eu sei de cor/ esses caminhos desconhecidos/ percorro-os/ de olhos fechados// Os meus movimentos/ não têm a graça axiomática/ do peixe na água// já o abutre e o tigre/ estão num marasmo, confusos / como tudo o que vemos/ pela primeira vez// Terei de inventar/ uma maneira de me deslocar/ de respirar/ de existir// num mundo que não é nem água/ nem ar, nem terra, nem fogo/ como saber com antecedência/ se temos de nadar/ roubar, caminhar ou simplesmente de arder// Ao inventar o quinto elemento/ o sexto/ terei de rever os meus trejeitos/ os meus hábitos e certezas// porque querer passar de uma vida aquática/ para uma vida terrestre/ sem alterar os destinos/ do próprio sistema respiratório/ é uma morte macaca// Quarta dimensão (5ª,6ª,7ª,8ª, 9ª)/ o quinto elemento (6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º)/ o terceiro sexo (4º,5º,6º,7º)// Saúdo o meu duplo, o meu triplo// miro-me ao espelho/ e vejo um rosto crivado de olhos/ bocas, orelhas, figuras // Sob a lua/ o meu corpo lança uma sombra/ uma penumbra/ uma vala/ um lago tranquilo/ uma beterraba// Estou realmente/ irreconhecível// Beijo uma mulher na boca/ sem que ela saiba/ se foi envenenada/ e trancada mil anos numa torre/ ou se simplesmente adormeceu/ com a cabeça em cima da mesa// Tudo deve ser reinventado/ nada mais resta neste mundo». Gherássim Lucas, não querendo mais contaminar mundo suicidou-se em 1994. Uma ética que alguns políticos deviam observar.
Saúde| Escolhido terceiro hotel para receber pessoas em quarentena Salomé Fernandes - 19 Mar 2020 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Hotel Regency Art, na Taipa, vai ser o terceiro hotel usado pelo Governo para receber pessoas em observação médica, no esforço para conter a propagação do novo coronavírus. O hotel tem 326 quartos e passa hoje a servir estas funções. “Dado ser mais seguro as pessoas que regressam a Macau fazerem observação médica em hotéis designados em vez de nos seus domicílios, apesar dos desafios do processo para encontrar hotéis designados, continuarão a ser movidos esforços para obter a cedência de mais hotéis para serem usados para observação médica”, comunicou a Direcção dos Serviços de Turismo. Estavam já a ser usados para acolher pessoas sob observação médica a Pousada Marina Infante e o Golden Crown China Hotel.
Covid-19 | China sem novos casos de origem local e 34 importados Hoje Macau - 19 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] China anunciou hoje não ter registado novas infecções locais pela primeira vez desde o início da epidemia do novo coronavírus, mas as autoridades contaram 34 casos importados. Este número de pessoas infectadas provenientes do estrangeiro é também um recorde diário, indicou o Ministério da Saúde chinês. A maioria dos casos foi identificada em chineses que regressaram de países particularmente atingidos pela Covid-19. A Comissão de Saúde da China disse que, até ao início de quinta-feira, não se registaram novos casos de contágio local em todo o território. Os casos foram detetados em Pequim (21), Cantão (nove), Xangai (dois) e nas províncias de Heilongjiang (um) e Zhejiang (um). Oito pessoas morreram, todas na província de Hubei, centro do país e centro da epidemia. No total, desde o início do surto, em dezembro passado, as autoridades da China continental, que exclui Macau e Hong Kong, contabilizaram 80.928 infeções diagnosticadas, incluindo 70.420 casos que já recuperaram, enquanto o total de mortos se fixou nos 3.245. O número de infectados ativos no país fixou-se em 7.263, incluindo 2.314 em estado grave. Segundo dados oficiais, 683.281 pessoas que tiveram contacto próximo com os infectados foram monitorizadas clinicamente desde o início do surto, incluindo 9.144 ainda sob observação. Desde 11 de março que os números de novas infecções e de mortes permaneciam abaixo dos 21 diários, de acordo com as estatísticas oficiais. Em 12 de Março, o Governo chinês declarou que o pico das transmissões tinha terminado no país. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infectou mais de 210 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.750 morreram. Das pessoas infectadas, mais de 84.000 recuperaram da doença. O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se já por 170 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. Os países mais afectados depois da China são a Itália, com 2.978 mortes para 35.713 casos, o Irão, com 1.135 mortes (17.350 casos), a Espanha, com 558 mortes (13.716 casos) e a França com 175 mortes (7.730 casos). Face ao avanço da pandemia, vários países adoptaram medidas excepcionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
Covid-19 | Por cada 100 casos em Itália, Portugal terá sete, diz estudo Hoje Macau - 19 Mar 2020 [dropcap]U[/dropcap]m estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) estima que, em média, por cada 100 casos de Covid-19 em Itália, o país mais afectado na Europa, Portugal terá sete casos, apontando para um cenário grave em território nacional. O estudo teve como base modelos matemáticos, que analisou dados dos outros países, que permitem prever o que se irá passar em Portugal, disse à agência Lusa a investigadora e directora da ENSP, Carla Nunes. “Esta previsão é muito fiável a um curto espaço de tempo, cerca de três a cinco dias. Passado esse tempo é muito difícil prever com exatidão”, afirmou a especialista em Epidemiologia e Estatística. “Actualmente, a análise desses modelos diz-nos que todas as curvas, na fase em que nos encontramos e independentemente do país analisado, são exponenciais (ou similares), ou seja, têm uma evolução crescente acentuada. A curva portuguesa segue o mesmo trajeto, à sua escala, comparando com os períodos análogos dos outros países”, sublinhou. “Analisando, por exemplo, o 17.º dia de todas as curvas sabemos que, por cada 100 casos em Itália, esperamos sete em Portugal, por cada 100 no Reino Unido estimamos 130 e por cada 100 em Espanha esperamos 30 novos casos em Portugal”, precisou. Carla Nunes esclareceu que estes países foram escolhidos por serem os que matematicamente e culturalmente mais se adaptam à explicação da curva portuguesa, em diferentes escalas. Segundo a investigadora, Portugal está a seguir as curvas dos outros países em escalas diferentes. “Nós temos um comportamento que nos permite ver, usando as outras curvas, o que vai acontecer nos próximos dias se, obviamente, nos mantivéssemos no mesmo caminho que eles estão a seguir”, referiu. “Nós estamos no 17.º dia de curva, mas eles actualmente já estão no trigésimo, no quinquagésimo dia, portanto, eu consigo prever quantos casos novos” o país vai ter, porque “estes modelos matemáticos têm uma capacidade de 95% ou mais, o que é brutal”. “Isso é o que me assusta. Nós estamos no mesmo caminho que eles estão”, mas Portugal pode afastar-se destas “previsões assustadoras”: “A evidência diz-nos que baixando a taxa de contacto, baixamos a taxa de transmissão”. “Comparativamente aos outros países, Portugal tomou medidas de promoção do isolamento social mais cedo e foram aparentemente bem adoptadas pela população portuguesa, segundo os órgãos da comunicação social”, observou a diretora da ENSP. Portugal introduziu uma nova medida na passada sexta-feira, a interrupção das escolas, que efetivamente começou na segunda-feira, mas serão necessários 14 dias, o período máximo de transmissão do vírus, para perceber o impacto da medida. Dada a “história do vírus”, ainda não há tempo para saber se “a medida foi eficaz ou não”, salientou. Carla Nunes lembrou que esta medida já tinha sido tomada noutros países e não se conseguiu ainda observar o seu impacto. “Mesmo nos outros países como Itália e Espanha, que já estão com medidas bastante mais severas”, ainda não se verificou “um efetivo ou indiscutível abrandamento”, notou. “A comparação de medidas/políticas entre países é sempre difícil (culturas, capacidade de resposta dos serviços de saúde, adesão da população às medidas, entre outras). Resta-nos, por isso, fazer a nossa parte: aguardar em casa e seguir as indicações de higienização”, disse, frisando que “este é um problema complexo e multidisciplinar”. A investigadora avançou à Lusa que está a ser criado o barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública que já está a seguir esta situação muito próximo, abarcando diversas perspectivas: sociais, económicas, percepções, epidemiologia e acesso a serviços, entre outras. Portugal regista dois mortos em 642 casos de infeção pelo novo coronavírus, de acordo com o boletim de quarta-feira da Direção-Geral da Saúde referente aos efeitos da pandemia no país. A nível global, o coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infectou mais de 210 mil pessoas, das quais mais de 8.750 morreram.
Codvid-19 | Mais dois infectados durante a madrugada de quinta-feira João Luz - 19 Mar 202019 Mar 2020 Uma estudante de 19 anos, a residir no Reino Unido, e uma criança de 11 anos, filho da paciente que viajou desde a Indonésia há dois dias, são os novos casos de infecção por coronavírus [dropcap]O[/dropcap] Centro de Coordenação de Contingência revelou, perto das 2h da madrugada de Quinta-feira que o total de infectados com o novo coronavírus passa para 17, depois da confirmação de mais dois casos. O 16º Caso é uma residente de Macau, de 19 anos, estudante no Reino Unido. Em 15 de Março, a doente viajou com quatro colegas de Londres para Singapura com destino final no aeroporto de Hong Kong, onde chegaram na passada segunda-feira. De acordo com as autoridades, a paciente viajou no o voo n.º SQ317 da Singapore Airlines (lugar n.º 64H) com partida no aeroporto de Heathrow (Londres) para Singapura, e finalmente no voo n.º SQ856 da mesma companhia, no lugar n.º 40B, com destino a Hong Kong. Um dos colegas ficou na região vizinha, enquanto os restantes três e a doente fretaram e entraram a Macau pelo Posto Fronteiriço da Ponte HKZM. Um dos estudantes, portador de BIR de Hong Kong, voltou à região vizinha para cumprir isolamento no domicílio. A doente e outros dois colegas foram submetidos no posto fronteiriço a observação médica no domicílio por 14 dias, conforme as medidas naquela altura. Na quarta-feira, as amostras recolhidas da garganta da doente deram positivo preliminar ao novo tipo de coronavírus no teste do ácido nucleico. A doente foi imediatamente encaminhada ao Centro Hospitalar Conde de São Januário para a realização de teste zaragatoa faríngea que revelou positiva. O estado clínico da doente é normal, sem indisposição, e está internada na enfermaria de isolamento do C.H.C.S.J. Os quatro colegas foram considerados como o contacto próximo, dos quais, dois colegas de Macau foram submetidos a isolamento no Centro Clínico de Saúde Pública, no Alto de Coloane, para a observação médica. O doente do 17.º caso, com 11 anos, é o filho da paciente do 14º caso, familiar que acompanha o trabalhador não residente nacional da Indonésia. O doente foi testado com ácido nucleico por ter sido considerado contacto próximo do 14º caso e os resultados foram positivos ao novo tipo de coronavírus (COVID-19). Foi internado na enfermaria de isolamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário e actualmente está sem sintomas. O pai que manifestou febre, e cujo resultado do primeiro teste foi negativo, será testado após 48 horas.
Covid-19 | Governo apoia declaração de estado de emergência em Portugal Hoje Macau - 18 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]ntónio Costa, primeiro-ministro de Portugal, disse ontem que o Governo apoia a declaração de estado de emergência nacional, anunciado por decreto presidencial a ser divulgado por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e posteriormente discutido na Assembleia da República (AR). A declaração de estado de emergência deve ser renovada a cada 15 dias. “Ao Governo cabe unicamente dar o nosso parecer, que é favorável, e proceder à sua execução uma vez aprovado”, disse ontem à tarde António Costa. É neste decreto presidencial que ficarão definidas as medidas de controlo à pandemia da Covid-19 que exigem restrição de algumas liberdades dos cidadãos portugueses, reduzindo ao mínimo e essencial actividades e deslocações. “O país não vai parar porque só continuando o país pode fazer um combate adequado a esta pandemia. O conselho de ministros amanhã [hoje, quinta-feira] terá de apreciar as medidas que deverá tomar se a AR aprovar a proposta de decreto presidencial”, acrescentou o primeiro-ministro, que na manhã de ontem reuniu com vários ministros e secretários de Estado a fim de pedir recomendações sobre medidas a adoptar no estado de emergência. “Solicitei, até ao final do dia de hoje [quarta-feira] que habilitassem o Governo com uma base técnica e científica mais sólida possível e com o conjunto de recomendações que o Governo deva adoptar na eventual declaração do estado de emergência para reforçar o combate e prevenção desta pandemia.” Solidariedade é preciso As declarações de António Costa foram proferidas depois de uma reunião urgente do Conselho de Ministros que decorreu no Palácio da Ajuda, em Lisboa. Durante a manhã, Costa reuniu-se o Conselho de Estado, por vídeoconferência, o órgão de consulta política do Presidente da República. “Nestes momentos de emergência temos de sentir um sentimento comunitário, de solidariedade uns para com os outros. A nossa primeira prioridade será prevenir esta doença e conter a pandemia. Para salvar vidas é fundamental que a vida continue, e que tudo aquilo que são as cadeias de abastecimento fundamentais de bens essenciais têm de continuar a ser asseguradas”, frisou o primeiro-ministro. Costa salientou ainda que “os serviços essenciais têm de continuar a ser prestados porque os nossos cidadãos e em particular aqueles que estão mais fragilizados nesta situação de pandemia necessitam que toda a cadeia de produção de bens e serviços essenciais continue a ser assegurada”.
Covid-19 | Governo fecha a porta a quem vem do estrangeiro Pedro Arede - 18 Mar 202019 Mar 2020 Os trabalhadores não residentes estão impedidos de entrar em Macau desde a meia-noite. Depois de a possibilidade ter sido avançada ao final da tarde, a confirmação chegou na noite do mesmo dia em que o território registou dois novos casos importados, ambos de portadores de blue card e vindos de outros países [dropcap]D[/dropcap]esde as 00h00 de hoje, os trabalhadores não residentes (TNR) provenientes do estrangeiro estão proíbidos de entrar em Macau. A medida, publicada ontem em Boletim Oficial através de um despacho do Chefe do Executivo deixa apenas de fora os TNR que cheguem do Interior da China, Hong Kong e Taiwan. “Para evitar a transmissão da Infecção por Novo Tipo de Coronavírus na Região Administrativa Especial de Macau (…) é proibida, a partir das 00H00 do dia 19 de Março de 2020, a entrada na RAEM de todos os titulares do título de identificação de trabalhador não residente, com exclusão dos (…) que tenham qualidade de residente do Interior da China, da Região Administrativa Especial de Hong Kong e da região de Taiwan”, pode ler-se no despacho do Chefe do Executivo. A possibilidade, tinha sido admitida horas antes por Lei Wai Seng, da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, na conferência de imprensa diária do novo tipo de coronavírus, depois de confirmados que os últimos casos dizem respeito a portadores de blue card, recém-chegados do estrangeiro. Recorde-se que desde ontem as fronteiras de Macau estão fechadas, proibindo as entradas de todas as pessoas à excepção de residentes de Macau, China, Hong Kong e Taiwan e (durante apenas 24 horas) de trabalhadores não residentes. Só ontem foram confirmados dois novos casos da Covid-19, sendo o mais recente, um TNR regressado de Manila através de Hong Kong. O outro caso diz respeito a uma mulher que é familiar de uma TNR que veio de Jacarta, na Indonésia. Somando os casos de ontem, são já cinco os novos casos registados em Macau desde domingo que dizem respeito a recém-chegados provenientes de outros países. Assim, e perante o cenário dos últimos dias, Leong Iek Ho, do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas antecipou a possibilidade de virem a surgir mais casos vindos de fora, apelando por isso à colaboração de todos, na hora de aplicar as medidas de prevenção. “Há uma forte possibilidade de novos casos importados aparecerem em Macau, pelo que as tarefas de inspecção e quarentena nas fronteiras são muito importantes. Por isso os Serviços de Saúde vão aplicar seriamente todas as medidas de controlo fronteiriço e ainda de quarentena e exame médico. Todas as pessoas que não colaborem com a quarentena voluntária terão de se sujeitar ao isolamento obrigatório”, afirmou Leong Iek Hou. Despistagem reforçada Tendo em conta que, em ambos os casos registados ontem, os pacientes foram para casa enquanto aguardavam os resultados dos exames de despistagem da Covid-19, foi também anunciado que os procedimentos dos testes foram alterados, independentemente da proveniência das pessoas em questão. “Agora, as pessoas que estiveram foram da Grande China e que apresentem sintomas, têm de aguardar os resultados no hospital. No futuro essas pessoas já não vão poder voltar a casa enquanto esperam pelo resultado”, avançou Lei Wai Seng. Macau conta actualmente com 17 casos confirmados de Covid-19.
Covid-19 | Número de infectados em Portugal sobe para 642 Hoje Macau - 18 Mar 202018 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] número de infectados pelo novo coronavírus subiu para 642, mais 194 do que os contabilizados na terça-feira, anunciou hoje a Direcção-Geral da Saúde (DGS). De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica de Covid-19 em Portugal, divulgado hoje às 12:00, desde 1 de Janeiro foram registados 5.067 casos suspeitos. Segundo a DGS, há 351 (eram 323) casos a aguardar resultado laboratorial e três casos recuperados. Há 85 por cento dos doentes a recuperar em casa, num total de 553 pessoas. Apenas 89 pessoas estão internadas. Há 4.074 casos em que o teste deu negativo e 351 casos a aguardar resultado laboratorial. Até ao momento há duas mortes confirmadas no país. A região do Alentejo, que até agora se mantinha sem casos, tem agora dois diagnósticos de infecção. Os Açores têm um segundo caso confirmado de Covid-19, uma mulher de 49 anos, residente na ilha de São Jorge, que está internada no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira. “A Autoridade de Saúde Regional informa que as análises realizadas no Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular, do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, tiveram resultado positivo para Covid-19 relativamente a um caso detetado em São Jorge”, lê-se num comunicado de imprensa. Segundo a Autoridade de Saúde Regional, “os resultados aguardam contra-análise pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge”, exigida nos primeiros cinco casos positivos detectados na região.
Covid-19 | Segunda morte em Portugal é do presidente do banco Santander Totta Hoje Macau - 18 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] presidente do Conselho de Administração do banco Santander Totta, António Vieira Monteiro, morreu hoje em Lisboa aos 74 anos, confirmou à Lusa fonte oficial da instituição. De acordo com o semanário Expresso, a morte deveu-se à infecção com o vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19. O gestor contraiu a Covid-19 em Itália, durante umas férias numa estância de inverno, tendo falecido no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Vieira Monteiro era ‘chairman’ do banco Santander Totta desde início de 2019, depois de ter ocupado o lugar de presidente executivo (CEO) entre 2012 e o ano passado, cargo em que foi substituído pelo atual presidente, Pedro Castro Almeida. Quando abandonou a liderança executiva do Santander Totta, Vieira Monteiro, considerou que deixava o cargo com o banco “preparado para continuar a enfrentar o futuro” e salientando que quando assumiu a liderança a instituição “não era quase nada”. Na mesma altura, Vieira Monteiro apontou ainda a “aposta calculada” nas empresas como um dos fatores do sucesso da instituição. “Ao fim de sete anos, eu vou continuar no banco, vou ser presidente do Conselho de Administração e, portanto, vou continuar no banco, acho que já tenho idade de deixar a parte executiva, já que vou fazer 73 anos, […] mas aquilo que hei de dizer é que há sete anos quando entrei o banco não era quase nada”, afirmou.
Covid-19 | Macau regista mais um caso, o quinto importado em menos de três dias Hoje Macau - 18 Mar 202018 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau anunciou hoje mais um novo caso importado de infecção pelo novo coronavírus, o quinto em cerca de 72 horas, depois de 40 dias sem qualquer pessoa infectada. Trata-se de um homem de nacionalidade filipina, de 31 anos, trabalhador não-residente em Macau, explicaram as autoridades em conferência de imprensa. O cidadão filipino saiu de Macau no dia 27 de Janeiro para as Filipinas e regressou com destino a Hong Kong no dia 16 de Março. No mesmo dia, efectuou a ligação a Macau de autocarro através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. No dia 17 de Março, queixando-se de dores de dentes e erupção cutânea foi a um hospital e “foi classificado como um caso de risco médio”, detalharam. Hoje à tarde foi confirmação o resultado positivo. Depois de 40 dias sem novos casos de Covid-19, Macau registou entre Segunda-feira e hoje cinco novos casos importados, um de Portugal, um de Espanha, outro do Reino Unido e outros dois hoje: Indonésia e Filipinas. Antes destas cinco confirmações, Macau registava dez casos de infecção com o vírus de Covid-19, tendo todos já recebido alta hospitalar. Agora, são 15 o número de pessoas em Macau infectadas desde que o surto começou. A informação foi divulgada no dia em que entrou em vigor o fecho quase total das fronteiras do território, onde só vai ser permitida a entrada dos residentes de Macau, da China continental, Hong Kong e Taiwan e dos trabalhadores não residentes de Macau. Na Terça-feira entrou em vigor a quarentena quase total a todos aqueles que entrem no território, de forma a conter casos importados, após mais de um mês sem detectar infecções pelo novo coronavírus. Esta medida é imposta a todas as pessoas que viajaram em países nos 14 dias anteriores à entrada no território, com excepção da China continental, Taiwan e Hong Kong. Estas duas decisões por parte do Governo de Macau chegam numa altura em que muitos residentes do território regressam a Macau devido ao crescente número de casos de Covid-19 registados na Europa. Quem regressar de uma zona alta incidência, como é o caso da Europa e dos Estados Unidos, terá obrigatoriamente de fazer quarentena de 14 dias num dos dois hotéis designados pelas autoridades. “A propagação agora está a ser de alta escola a nível mundial”, frisou hoje, na mesma conferência de imprensa, a coordenadora do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde, Leong Iek Hou. “Há uma forte possibilidade de casos importados aparecerem em Macau”, daí a importância do controlo fronteiriço e das normas de quarentena impostas no início da semana, sublinhou. O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infectou mais de 189 mil pessoas, das quais mais de 7.800 morreram. Das pessoas infectadas em todo o mundo, mais de 81 mil recuperaram da doença. A China registou nas últimas 24 horas 11 mortos e 13 novos casos infecção de Covid-19, mas só um é de Wuhan, todos os outros 12 são importados. O surto começou na China, em Dezembro, e espalhou-se por mais de 146 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Presidente da Associação Médicos de Língua Portuguesa: “É altura de Portugal pedir ajuda à China” Hoje Macau - 18 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPM) defendeu à Lusa que esta é a altura de Portugal pedir ajuda à China para combater o surto de Covid-19. “A Itália já pediu ajuda à China. Espanha já pediu ajuda à China. Portanto, eu penso que se calhar o Governo português, antes que seja tarde, vai precisar de equipamentos, que são insuficientes. Será uma altura apropriada também de pedir ajuda às autoridades chinesas”, defendeu José Manuel Esteves. “Porque a China está a ultrapassar este grande embate, que foi a epidemia no seu território. As fábricas estão a arrancar, estão a produzir os ventiladores, estão a produzir as máscaras, estão a produzir equipamentos de proteção aos milhões, mas a procura a nível mundial é muita e está na altura de Portugal se pôr na fila e tentar também ter acesso ao que é produzido” e que “vai fazer falta em Portugal dentro de uma semana ou dentro de duas semanas”, salientou o cirurgião. Uma das hipóteses poderá passar por utilizar o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação sino-lusófona, mas a abordagem directa a Pequim poderá ser privilegiada. “Se calhar utilizando a plataforma que é Macau ou se calhar abordando diretamente o Governo central da China. Obviamente penso que em Macau há uma predisposição da própria sociedade (…). Mas simultaneamente, parece que seria apropriado o próprio Governo de Portugal fazer um pedido de ajuda formal através dos canais diplomáticos à China para uma outra dimensão”, explicou. Afinal, frisou, o líder da AMLPM, Portugal pode vir a necessitar, mas, como disse, a concorrência para [garantir] essa ajuda vai ser enorme”. Falta de meios e treino preocupa em Portugal José Manuel Esteves disse também à Lusa que a falta de meios e treino em Portugal contrasta com a “enorme tranquilidade” sentida no território no combate ao coronavírus. “Sinto uma enorme tranquilidade a trabalhar aqui”, até porque “toda a sociedade e não apenas os serviços de saúde têm demonstrado um grau de organização e articulação entre as diferentes estruturas”, defendeu José Manuel Esteves. “Há, no âmbito da saúde pública em Macau, uma experiência e traquejo muito grande, que permitiu que esta primeira onda de casos fosse controlada e Macau tivesse estado 40 dias sem novos casos”, assinalou o cirurgião. Uma situação que contrasta com o que se vive em Portugal, sustentou: “Tenho andado em contactos permanentes com muitos dos meus colegas em Portugal e verifica-se uma preocupação extraordinária com a falta de meios, da falta de máscaras, de equipamentos de proteção, (…) e a falta de treino”. O líder da AMLPM frisou que o uso generalizado de máscaras, a adoção de medidas que permitissem lavar e desinfectar espaços públicos, bem como o controlo nas fronteiras têm provado serem eficazes, sustentou. “O caso que nós tivemos hoje, do mundo do homem de negócios espanhol que chegou ao aeroporto e foi identificado como tendo febre (…), nas condições praticadas em Portugal não teria sido possível porque foi sempre divulgado que o controlo não era eficaz. Mas o controlo de fronteiras em Macau provou que pode ser uma medida eficaz”, salientou. Por outro lado, frisou, os casos de médico infectados, e outros em quarentena, não se verificaram em Macau, devido à metodologia adoptada atempadamente pelas autoridades, com a devida separação e proteção das equipas dos profissionais de saúde. “Tudo isto foi devidamente pensado em tempo útil e é isso que os hospitais em Portugal também deveriam ter preparado atempadamente. (…) Houve mais do que tempo para que (…) tivesse havido uma preparação efetiva para aquilo que poderia vir a acontecer”, criticou. “Com grande tristeza minha eu assisti à senhora diretora-geral da Saúde em Portugal a dizer que talvez nunca chegasse a Portugal. E, portanto, com informações destas, que parecem pouco sensatas, é que se perde a credibilidade e se perde a capacidade de mobilizar as pessoas”, lamentou. José Manuel Esteves disse que não se deve “menorizar a inteligência das pessoas”, que “é preciso transmitir mensagens que as pessoas entendam”. Isto para que “quando se lhes pedem que façam uma coisa, como foi feito aqui em Macau, para que fiquem todos em casa, as pessoas ficaram”, afirmou, fazendo a comparação com o que sucedeu em Portugal: “Não é para andar em festas, almoços, jantares, ou ir para a praia”. As epidemias do dengue, da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a Influenza Aviária A (H5N1) e a gripe suína permitiram “desenvolver toda uma série de mecanismos, e a própria população criou esses mecanismos para se defender destas epidemias”, afirmou o líder da AMLPM. Afinal, “muitas delas tiveram início na Ásia e, portanto, as pessoas aqui têm outra preparação e outra mentalidade em relação a estas epidemias”, acrescentou.
Covid-19 | China regista 11 mortos e 13 novos casos de infecção Hoje Macau - 18 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] China registou hoje 11 mortos e 13 novos casos infecção pela Covid-19, quase todos importados, numa altura em que a pandemia está a afectar 146 países e territórios. A Comissão de Saúde da China indicou existir, até ao início de quarta-feira (16:00 de terça-feira em Lisboa) apenas um novo caso local, em Wuhan, capital da província de Hubei onde a doença foi inicialmente detetada em dezembro passado. Os restantes 12 novos casos são importados, sublinhou. No total, desde o início do surto, em dezembro passado, as autoridades da China continental, que exclui Macau e Hong Kong, contabilizaram 80.894 infeções diagnosticadas, incluindo 69.601 casos que já recuperaram, enquanto o total de mortos se fixou nos 3.237. Wuhan, em quarentena desde 23 de Janeiro passado, é a mais afectada no mundo pela doença, com 2.490 mortes. O número de infectados activos no país fixou-se em 8.056, incluindo 2.622 em estado grave. Segundo dados oficiais, 682.327 pessoas que tiveram contacto próximo com os infectados foram monitorizadas clinicamente desde o início do surto, incluindo 9.222 ainda sob observação. Desde 11 de Março que os números de novas infecções e de mortes permanecem abaixo dos 21 diários, de acordo com as estatísticas oficiais. Em 12 de Março, o Governo chinês declarou que o pico das transmissões tinha terminado no país. O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 189 mil pessoas, das quais mais de 7.800 morreram. Das pessoas infectadas em todo o mundo, mais de 81 mil recuperaram da doença. A doença espalhou-se por mais de 146 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. Os países mais afectados depois da China são a Itália, com 2.503 mortes para 31.506 casos, o Irão, com 988 mortes (16.169 casos), a Espanha, com 491 mortes (11.178 casos) e a França com 148 mortes (6.633 casos). Os Estados Unidos da América atingiram esta terça-feira a barreira dos 100 mortos ligados ao novo coronavírus, segundo o balanço feito pela agência France-Presse a partir de fontes oficiais. Cerca de metade das mortes foram registadas no estado de Washington, no noroeste do país. A pandemia de Covid-19 fez ainda 12 mortos em Nova Iorque e 11 na Califórnia. Face ao avanço da pandemia, vários países adoptaram medidas excepcionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras. O Brasil tem 291 casos confirmados do novo coronavírus e monitoriza 8.819 casos suspeitos, após ter sido anunciada esta terça-feira a primeira morte causada pela Covid-19 no país, informou o Ministério da Saúde. Segundo o Governo brasileiro, a idade média dos infectados é de 42 anos, sendo que o país já descartou 1.890 casos suspeitos. São Paulo continua a ser o estado mais afectado pela Covid-19, com 164 infectados, seguindo-se o Rio de Janeiro com 33 casos confirmados. Estes são também os únicos estados brasileiros que registam casos de transmissão comunitária, que é quando há uma maior difusão do vírus, e as autoridades de saúde já não conseguem identificar a trajectória de infecção.