Brasil | China suspende importações de carne de bovino de três fábricas

A China suspendeu temporariamente as importações de carne bovina de três fábricas brasileiras, anunciou ontem o Governo do Brasil, garantindo que a decisão não vai afectar as relações comerciais bilaterais.

A Administração Geral das Alfândegas da China realizou uma série de “auditorias por vídeo” nas unidades afectadas e detectou que estas não cumprem todos os requisitos de importação estabelecidos pelo país asiático, explicou o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, em comunicado.

As empresas, cujos nomes não foram divulgados pela pasta, já foram notificadas e estão a “tomar medidas correctivas” para atender às exigências do órgão chinês, segundo o Governo brasileiro. A China é o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina e o maior parceiro comercial do país sul-americano.

O Brasil, um dos maiores fornecedores mundiais de proteína animal, terminou 2024 com uma produção recorde de 31,57 milhões de toneladas de carne bovina, suína e de frango, bem como exportações recorde de 10,26 milhões de toneladas, de acordo com dados oficiais.

Governo lança novo alerta sobre covid-19

Os Serviços de Saúde de Macau (SS) indicam uma diminuição dos casos de gripe, com a situação actual “abaixo do nível de alerta”. Porém, no caso das infecções covid-19, “o vírus SARS-Cov-2 está a tornar-se activo”, pelo que se faz um apelo à vacinação, sobretudo para doentes crónicos e idosos. Os SS adiantam, no entanto, que ainda não se registou qualquer morte causada por covid-19 desde o início do ano.

Segundo uma nota ontem divulgada, que cita dados laboratoriais da nona semana do ano, ou seja, do final de Fevereiro, “a taxa de positividade de detecção da covid-19 foi de 13,7 por cento”, sendo que este valor “representa um aumento significativo face à semana anterior, de 3.8 por cento”.

Em termos gerais, os SS acreditam que “a actividade gripal irá manter-se activa nas próximas semanas”, chamando-se a atenção, porém, para uma certa estabilidade. O número de doentes atendidos no serviço de urgência na nona semana de 2025, ou seja, fins de Fevereiro, “diminuiu em relação à semana anterior”, tendo sido atendida uma média diária de 1.190 pessoas, 282 delas crianças.

Verifica-se, assim, que “a tendência de descida da taxa de positividade de detecção do vírus influenza, passando de 10.5 por cento na oitava semana do ano (abaixo do nível de alerta de 13,1 por cento), para cinco por cento na nona semana”.

Subida na média diária

Porém, os SS alertam que não é ainda tempo para afastar as atenções em relação à gripe, pois verifica-se “uma média de cerca de 83 pessoas [doentes], por dia, o que representa uma subida em comparação com dados anteriores”. Dessas 83 pessoas, 31 são adultos e 52 crianças. Assim, os SS entendem que “a propagação do vírus do tracto respiratório em Macau ainda está activa”.

No tocante a casos colectivos de gripe, desde Janeiro que ocorreram 46 no território, bem como 25 casos causados pelo vírus influenza A e cinco pelo vírus influenza B.

As alterações climáticas e as correntes oceânicas

Para facilitar o estudo do sistema complexo que é o clima, convencionou-se considerá-lo constituído por cinco componentes que interagem entre si: atmosfera, hidrosfera, litosfera, criosfera e biosfera.

As duas primeiras são as que mais se ressentem do comportamento de uma pequena parte da biosfera, nós próprios. Já não é novidade para ninguém, exceto para os negacionistas, que as alterações climáticas são devidas às atividades antropogénicas, que constituem a causa principal da injeção de gases de efeito de estufa na atmosfera.

Nestas duas componentes ocorrem mecanismos naturais que contribuem grandemente para o equilíbrio do clima: a circulação geral da atmosfera e a circulação oceânica. Cabe a ambas a tarefa de distribuir pelo globo terrestre o calor recebido do Sol na forma de radiação. Esta incide mais intensamente nas regiões das latitudes baixas.

Sem estes mecanismos naturais, o calor ficaria mais concentrado nas regiões equatoriais e tropicais, as quais continuariam indefinidamente a aquecer, enquanto o arrefecimento também não pararia nas latitudes mais altas. A circulação geral da atmosfera e a circulação oceânica contribuem, assim, para o equilíbrio do sistema climático. No que se refere à primeira, é facilmente compreensível que o facto de o ar se deslocar faz com que o calor seja distribuído pelo globo. O vento, nas suas mais variadas formas, tem um papel importante neste processo.

As correntes de jato, os ventos alísios, as monções, as brisas, os ventos catabáticos e anabáticos, entre outras formas em que o vento ocorre na natureza, encarregam-se dessa distribuição do calor. Inseridos neste mecanismo, os ciclones tropicais (tempestades tropicais, tufões e furacões), caracterizados por ventos muito fortes, contribuem grandemente para o transporte de energia calorífica das regiões mais quentes para as mais frias, na medida em que as suas trajetórias, que têm início nas latitudes baixas, descrevem estatisticamente uma espécie de parábola, progredindo para latitudes mais altas.

Por exemplo, no oeste do Pacífico Norte, os tufões têm geralmente o seu início em pequenas perturbações do campo da pressão atmosférica, entre as Ilhas Marianas e as Filipinas, progredindo para oeste, noroeste, norte, recurvando para nordeste e leste, transformando-se em depressões extratropicais. Os furacões, no Atlântico Norte, têm um comportamento semelhante, geralmente com início em pequenas perturbações do campo da pressão no bordo sul do anticiclone dos Açores, próximo de Cabo Verde, progredindo de maneira análoga para latitudes médias e altas. Independentemente das consequências por vezes catastróficas dos ciclones tropicais, estes fenómenos meteorológicos desempenham um papel indispensável na redistribuição do calor, contribuindo, assim, para o equilíbrio do clima à escala global.

Em complemento à ação da circulação atmosférica, a circulação oceânica desempenha um papel importante na redistribuição do calor. Além dos ventos persistentes, a temperatura e a salinidade da água, e consequentemente a sua densidade, são fatores que dão origem às correntes oceânicas, o comportamento das quais é sensível à variação destes parâmetros.

É incontestável que o aquecimento global tem vindo a provocar a fusão do gelo das calotas polares e dos glaciares, em ritmo cada vez mais acelerado, fazendo com que a água doce daí resultante escoe para o mar, o que poderá provocar alterações dos padrões atuais que caracterizam as correntes oceânicas.

E é aqui que a atenção de alguns cientistas está a incidir, considerando que as consequências destas alterações são preocupantes, em especial no Oceano Atlântico. Um dos estudos recentes refere-se às implicações que este processo tem na chamada Circulação Meridional de Reversão no Atlântico (tradução para português de Atlantic Meridional Overturning Circulation – AMOC), da qual faz parte a Corrente do Golfo, que progride de sul para norte, impulsionada pelo vento associado ao anticiclone dos Açores, transportando água quente do Golfo do México (sorry, Mr. Trump) para as regiões vizinhas da costa leste dos Estados Unidos da América e do noroeste da Europa, condicionando positivamente o clima nestas regiões.

A circulação AMOC consiste num sistema de correntes no Atlântico, à superfície e em profundidade, através do qual a água quente e salgada (na figura a vermelho) é transportada das regiões tropicais do Atlântico Norte, de sul para norte, e que, ao arrefecer, se afunda, invertendo o seu deslocamento para sul, em profundidade. Este processo poderá sofrer disrupção devido ao cada vez maior afluxo de água doce proveniente do degelo, o que provoca diluição da água superficial, a qual, assim diluída, deixaria de se afundar devido à sua menor densidade, o que poderá enfraquecer o ramo frio que flui em profundidade de norte para sul.

O padrão da circulação no Pacífico é diferente da AMOC, devido, entre outros, a fatores geográficos. Em vez de uma forte corrente de retorno em profundidade, prevalecem as correntes à superfície, impulsionadas pelo vento.

As correntes oceânicas contribuem grandemente para o equilíbrio do clima. Uma vez alteradas, gera-se desequilíbrio no sistema climático, com consequências que poderão ser graves para a sustentabilidade da vida no globo. Sobre este assunto foram publicados recentemente estudos, algo contraditórios nas conclusões no que se refere às consequências das alterações da AMOC. Segundo cientistas da Universidade de Copenhaga, conforme estudo elaborado em 2023 e publicado na revista científica “Nature”, poderá ocorrer um colapso da AMOC ainda durante este século, entre os anos 2025 e 2095, com possíveis graves consequências para o clima do Atlântico Norte. Por outro lado, um trabalho elaborado por cientistas do “Met Office” (Serviço Meteorológico do Reino Unido) e da Universidade de Exeter, em 2024, não é tão pessimista. Defende que a AMOC possa sofrer enfraquecimento, mas que é improvável o seu colapso durante este século.

Seja como for, estes estudos sobre as correntes oceânicas constituem mais um alerta relativamente às consequências do aquecimento global sobre o equilíbrio do sistema climático.

Meteorologista

Geogastronomia e a Inteligência Artificial

“Artificial Intelligence doesn’t have five senses. Computers can’t convey how foods and drinks taste and smell…yet”.

Joshua Lurie

A intersecção da geogastronomia e da inteligência artificial (IA) apresenta uma exploração única e transformadora das culturas alimentares e das práticas culinárias em diversas geografias. A geogastronomia funde a geografia e a gastronomia, realçando o impacto do local na cozinha. Examina os factores que afectam os alimentos, incluindo o clima, o solo, a cultura e as tradições locais. Este conceito não é meramente teórico, mas engloba realidades práticas. Por exemplo, a dieta mediterrânica deriva a sua singularidade da flora, do clima e das práticas culturais da região. A combinação de comida e lugar fornece uma base para compreender como os ingredientes locais moldam as identidades culinárias.

A evolução deste campo pode ser rastreada até aos primeiros esforços antropológicos. Estudiosos como Claude Lévi-Strauss influenciaram esta perspectiva ao associar a comida à identidade cultural. No entanto, a geogastronomia moderna expandiu-se para incluir questões ambientais. Temas como a biodiversidade, a sustentabilidade e as práticas agrícolas locais são agora essenciais nos debates sobre os sistemas alimentares. A IA refere-se à simulação da inteligência humana em máquinas programadas para pensar e aprender. As aplicações da IA penetraram em vários sectores, incluindo os cuidados de saúde, as finanças e os transportes. Nas artes culinárias, a influência da IA é multifacetada. Tecnologias como a aprendizagem automática, o processamento de linguagem natural e a análise de dados estão a remodelar a forma como compreendemos e produzimos alimentos.

Os sistemas de IA podem analisar vastos conjuntos de dados para identificar tendências nas preferências alimentares, na utilização de ingredientes e na informação nutricional. Esta aplicação é particularmente valiosa para chefes de cozinha e empresas do sector alimentar que pretendem elaborar menus que correspondam às preferências dos consumidores. A capacidade de processar e interpretar rapidamente os dados promove a inovação, uma vez que os profissionais da culinária podem fazer experiências com base em provas e não apenas na intuição. As ferramentas modernas, como os geradores de receitas e os assistentes de cozinha, demonstram o potencial da IA. Por exemplo, o Chef Watson da IBM (Watson é a plataforma de IA da IBM que já havia demonstrado sua expertise em ” Jeopardy ” e no tratamento do câncer de pulmão, e como Chef Watson, está a auxiliar a IBM a atingir sua missão de “ajudar as pessoas a descobrir novas ideias” neste caso para a cozinha) exemplifica como a IA pode criar novas receitas analisando milhares de combinações culinárias.

Ao considerar factores como combinações de sabores e técnicas de cozinha, o Chef Watson facilita uma nova era de experimentação culinária. Várias personalidades importantes tiveram um impacto significativo nos domínios da geogastronomia e da IA. A chefe de cozinha e escritora Alice Waters é uma personalidade proeminente na promoção do movimento “da quinta para a mesa”, defendendo o abastecimento local e as práticas sustentáveis. A sua influência demonstra como a atenção dada à geografia pode impulsionar a inovação culinária e melhorar a compreensão das fontes alimentares e do seu significado. No domínio tecnológico, Andrew Ng (fundou e dirigiu o projecto Google Brain e foi cientista-chefe na gigante de buscas chinesa Baidu, além de ter dirigido o laboratório de IA na Universidade de Stanford) e Fei-Fei Li (foi vice-presidente do Google e cientista-chefe de IA/ML no Google Cloud e membro do conselho e consultora em várias empresas públicas e privadas e que actualmente é cofundadora/CEO da World Labs que é uma empresa de IA com foco em inteligência espacial e IA generativa).

Os seus contributos para a aprendizagem automática e a aprendizagem profunda lançaram as bases para aplicações de IA em vários domínios, incluindo a tecnologia alimentar. Estes avanços permitem que os chefes de cozinha e as empresas do sector alimentar adoptem abordagens inovadoras que fundem a tradição com a tecnologia. Além disso, vários investigadores e empresas em fase de arranque estão a explorar a intersecção entre a IA e a geogastronomia. Empresas como a FlavorWiki analisam as preferências de sabor dos consumidores utilizando análises baseadas em IA, ajudando as marcas alimentares a adaptar os produtos a gostos regionais específicos.

Esta combinação de tecnologia e conhecimentos culinários reflecte uma tendência crescente no reconhecimento da necessidade de uma abordagem baseada em dados para a produção e consumo de alimentos. A integração da geogastronomia e da IA promove diversas perspectivas, particularmente em torno da autenticidade, sustentabilidade e considerações éticas. Alguns críticos argumentam que o recurso à IA pode diluir a autenticidade culinária. Os métodos de cozinha tradicionais baseiam-se frequentemente na intuição e na transmissão cultural, que podem ser negligenciadas em favor de decisões baseadas em dados. A essência da cozinha caseira, para muitos, está directamente ligada a histórias pessoais, significado cultural e rituais únicos.

Além disso, a dependência da tecnologia coloca questões sobre a sustentabilidade. Embora a IA possa optimizar a produção de alimentos, existe o risco de dar prioridade à eficiência em detrimento da preservação das práticas tradicionais. Os argumentos que defendem um equilíbrio harmonioso entre a tecnologia moderna e as práticas tradicionais sugerem que a IA deve melhorar e não substituir o património cultural.

Por outro lado, os defensores da integração da IA argumentam que a tecnologia pode trazer sustentabilidade através da optimização dos dados. Ao prever o rendimento das culturas e analisar a saúde do solo, a IA pode contribuir para práticas agrícolas mais eficientes e para a redução dos resíduos.

Arquitectura | Seminário com Marco Imperadori decorre dia 20

O CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau organiza, no próximo dia 20, um seminário com Marco Imperadori, com sessões intituladas “Arquitectura do Cuidado” e “Arte Sella: um Equilíbrio entre Arquitectura e Natureza”. Os eventos decorrem na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, entre as 15h e as 18h15, e o prazo de inscrições termina no dia 19.

Marco Imperadori é professor catedrático e investigador no Politécnico de Milão, onde lecciona a cadeira de Design Tecnológico e Inovação. O seu trabalho centra-se em edifícios de elevada eficiência energética, sistemas de construção Estrutura/Envelope e sustentabilidade.

Com um mestrado e um doutoramento em Engenharia da Construção, combina conhecimentos de arquitectura e de engenharia. Tem leccionado em todo o mundo, incluindo no papel de professor visitante na Universidade de São José em Macau de 2015 a 2023. Como delegado do Reitor para o Extremo Oriente, representa o Politécnico de Milão na Ásia. Investigador activo, tem publicado extensivamente sobre inovação arquitectónica, sustentabilidade e conservação de energia.

FRC | Porcelanas de Lei Iat Po expostas até dia 14

Chama-se “Regresso à Navegação” e é a mais recente exposição patente na galeria da Fundação Rui Cunha disponível para visita gratuita desde terça-feira. Esta é a oportunidade para ver peças de porcelana de Lei Iat Po oriundas de Cantão, uma zona conhecida pela indústria tradicional de cerâmica

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugurou esta terça-feira a exposição de porcelana de Macau e Guangzhou “Return to Navigation” [Regresso à Navegação], da autoria do artista Lei Iat Po (李溢坡). Na galeria, estarão disponíveis 40 peças de porcelana colorida da região de Cantão, uma indústria tradicional com origem na dinastia Qing e desenvolvida sobretudo para exportação. Esta indústria ganhou popularidade entre as cortes europeias e a aristocracia ocidental, tendo sido um factor importante na promoção da cultura chinesa no exterior a partir dos séculos XVIII e XIX.

Segundo uma nota da FRC, a porcelana de Cantão – também conhecida por Guangcai –, é famosa pelas cores fortes e vibrantes, os padrões complexos e intricados, e as aplicações douradas, pintadas à mão e ricamente decoradas.

Sendo uma indústria típica do sul da China, ganhou vitalidade também em Hong Kong e Macau no passado século XX, nomeadamente a partir das invasões dos anos 1930 e durante a instabilidade política do continente. Muitas fábricas mudaram-se para Macau e Hong Kong o que fez disparar a produção no sul da China, nomeadamente nos anos 50, graças a uma maior procura internacional destas peças de exotismo oriental a crescer na fase do pós-Guerra.

A porcelana de Cantão foi ao longo dos séculos um exemplo bem-sucedido de fusão entre o Oriente e o Ocidente, contribuindo para o vantajoso intercâmbio cultural. Em Macau, no auge dos anos 1960, existiam dezenas de fábricas. Mas nos anos 1980 a produção regressava ao continente, bem mais competitivo em mão de obra e custos, no rescaldo da Revolução Cultural.

Arte familiar

Lei Iat Po nasceu em Macau em 1954, tendo revelado um interesse pela arte da porcelana colorida devido ao negócio de família. Este foi influenciado desde a infância pelo pai, que produziu e exportou peças para os mercados europeu e americano. Lei Iat Po trabalhou na Fábrica de Bases de Madeira Guangcai do seu pai e, mais tarde, na Fábrica de Porcelana Colorida Guangcai.

Sob a orientação do progenitor, seguiu o famoso mestre Zhao Zhuo para aprender a tecnologia de controlo da queima no forno. Mais tarde, aprenderia sobre técnicas de pintura artesanal e coloração de porcelana.

Com curadoria de Margareth Lei Siu Heng, a colecção disponível na FRC apresenta peças de valor inestimável, pela qualidade e grau de complexidade na execução, revelando os anos de aperfeiçoamento e dedicação a esta técnica centenária pelo artista, que pretende continuar a divulgar a sua arte e a preservar o importante passado histórico. As obras vão estar expostas até ao dia 14 de Março.

Canal do Panamá | China nega controlo e evita comentar venda de portos

A China classificou ontem como “completamente falsas” as alegações de que controla o Canal do Panamá e evitou comentar a recente venda de dois portos na via navegável por um grupo de Hong Kong.

“A China apoia a soberania do Panamá sobre as operações do canal e está empenhada em mantê-lo como uma via fluvial internacional permanentemente neutra”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jian, em conferência de imprensa. O porta-voz afirmou que a ideia de que a China tem o controlo total sobre o canal é “completamente falsa”.

Questionado sobre a venda dos portos de Balboa e Cristobal pelo conglomerado de Hong Kong CK Hutchison a um consórcio liderado pela norte-americana BlackRock, Lin recusou-se a comentar e lembrou que o Governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong já se pronunciou sobre a questão.

O acordo, avaliado em 22,8 mil milhões de dólares, inclui também a transferência da participação da CK Hutchison em 43 outros portos de 23 países, embora exclua os terminais na China e Hong Kong.

Pequim avisa que resistirá até ao fim se EUA continuarem com guerra comercial

A China avisou ontem que vai “resistir até ao fim” se os Estados Unidos “insistirem em prejudicar os interesses chineses”, em resposta às novas taxas alfandegárias impostas por Washington sobre produtos oriundos do país asiático.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, reiterou, em conferência de imprensa, que Pequim “se opõe firmemente” à decisão dos Estados Unidos de utilizar o fentanil como desculpa para aplicar mais taxas sobre as exportações chinesas. “Se os EUA querem realmente resolver o problema do fentanil, devem negociar com a China com base na igualdade, no respeito e no benefício mútuo”, afirmou o porta-voz.

Lin Jian disse que não tinha visto as declarações da embaixada chinesa nos Estados Unidos, segundo as quais a China está “pronta para qualquer tipo de guerra”, mas insistiu que Pequim deixou clara a sua posição.

“Exortamos os EUA a abandonar as suas tácticas de intimidação e a regressar ao caminho certo do diálogo e da cooperação o mais rapidamente possível”, concluiu. O executivo chinês defendeu, num livro branco sobre o fentanil divulgado na véspera, que tomou medidas rigorosas contra a produção e o tráfico de fentanil e dos seus precursores químicos.

O Governo chinês afirmou ainda que tem promovido activamente a construção de um sistema de rastreabilidade com recurso às novas tecnologias para monitorizar quaisquer ligações à produção, transporte, importação e exportação destas drogas.

Déjà vu

Trump disse que 90 por cento das mortes por consumo de opiáceos nos EUA se devem ao fentanil. Washington defende que os opiáceos chegam através do México e do Canadá, mas cujos precursores vêm da China.

Na sua primeira presidência, Trump teve já uma relação tensa com Pequim, ao impor várias rondas de taxas, no valor de cerca de 370 mil milhões de dólares anuais, a que a China respondeu com taxas sobre as exportações norte-americanas.

Washington anunciou esta semana a duplicação para 20 por cento das taxas sobre produtos chineses, o que levou Pequim a responder com taxas de 10 por cento e 15 por cento sobre as importações agrícolas dos EUA.

APN | Pequim apresenta meta ambiciosa do PIB para 5%

Pelo terceiro ano consecutivo, a administração chinesa voltou a colocar a meta do PIB nos 5 por cento. O objectivo foi anunciado ontem pelo primeiro-ministro Li Qiang na sessão plenária anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão legislativo máximo da China

 

O objectivo de crescimento estipulado pelas autoridades chinesas para este ano, de “cerca de 5 por cento”, é ambicioso, mas o aumento do défice orçamental será insuficiente para evitar que a economia abrande, alertaram analistas.

“Os responsáveis políticos chineses mantiveram um objectivo ambicioso para o crescimento real do PIB [Produto Interno Bruto], mas são mais cautelosos nas suas previsões para o crescimento nominal e a inflação. E, embora tenham anunciado um aumento do apoio fiscal, o grau de flexibilização é mais moderado do que parece”, escreveu Julian Evans-Pritchard, analista da consultora Capital Economics, num relatório.

O especialista disse estar céptico quanto à possibilidade de as medidas anunciadas evitarem um abrandamento do crescimento em 2025, marcado por “ventos contrários no cenário internacional e pela ausência de uma mudança mais pronunciada nas despesas públicas para apoiar o consumo”.

Depois de ter reservado uma percentagem recorde das despesas para o investimento em 2024, Pequim parece agora voltar-se mais para o consumo, “embora nada de extraordinário”, com o equivalente a 41,3 mil milhões de dólares em obrigações para financiar o “plano de renovação” do Governo para os electrodomésticos ou a electrónica, notou o analista.

Hong Hao, da gestora de activos chinesa Grow Investment Group, observou que o relatório oficial deste ano é o que mais vezes menciona a palavra ‘consumo’ numa década, mas Evans-Pritchard ressalvou que as autoridades “não estão a contar com um impulso considerável” sob a forma de reflexão.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, revelou ontem que o objectivo de crescimento económico para o actual ano fiscal é de “cerca de 5 por cento”, pelo terceiro ano consecutivo, e que o défice fiscal vai ser aumentado em um ponto percentual, para 4 por cento, como parte dos esforços do Governo para relançar a recuperação.

Apesar do “maior aumento em décadas” no rácio entre o défice e o PIB, Evans-Pritchard estimou que, tendo em conta outros factores, o aumento real da despesa será de cerca de 1,5 por cento, inferior ao de ciclos de flexibilização anteriores, como 2015 (2 por cento) e 2020 (3,6 por cento).

Cartas na manga

Citada pela agência de notícias financeiras Bloomberg, Charu Chanana, da plataforma de negociação em bolsa Saxo Markets, disse que os objectivos revelados por Li “estão dentro das expectativas” e mostram que as autoridades ainda estão “a guardar munições para mais tarde”, uma análise que mereceu a concordância de Lee Homin, do banco suíço Lombard Odier, que acredita que Pequim poderá considerar ajustar o objectivo do défice a meio do ano, quando se tornar claro o impacto das taxas alfandegárias impostas por Washington sobre bens oriundos da China.

As últimas projecções do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial apontam para um crescimento do PIB chinês de cerca de 4,5 por cento, depois de ter crescido 5 por cento, em 2024, impulsionado por um esforço extra das autoridades no final do ano.

Evans-Pritchard salientou que a meta para a inflação, que passou de 3 por cento, no ano passado, para 2 por cento, é a mais baixa desde 2003, e observou que “é pouco provável que o Banco Popular da China [banco central] faça tudo o que for necessário para trazer” o indicador de volta a esse nível: “Um objectivo mais baixo sugere alguma aceitação oficial do actual ambiente deflacionário”.

IPOR | Grupo Bai Li é o novo accionista

O Instituto Português do Oriente (IPOR) tem um novo accionista por decisão tomada a 24 de Janeiro deste ano na 74.ª assembleia-geral da instituição de ensino do português como língua estrangeira.

Trata-se da Companhia Bai Li Grupo Lda. que se junta assim à estrutura associativa já composta pela Fundação Oriente, na qualidade de associado fundador, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., o Banco Nacional Ultramarino, a Quinta da Marmeleira e a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM).

Segundo um comunicado do IPOR, o grupo Bai Li é reconhecido “pela excelência na área do comércio internacional, especialmente no sector de distribuição de vinhos”, tendo “procurado posicionar-se como plataforma comercial sino-portuguesa em Macau, investindo ao longo dos anos numa série de projectos e actividades na plataforma de serviços de cooperação comercial sino- portuguesa”.

O objectivo destas acções, segundo o IPOR, é ajudar a tornar Macau “um veículo de ligação para a colocação de produtos portugueses na República Popular da China, estratégia complementada com acções de promoção do turismo, da cultura e da língua portuguesa, alinhando-se assim com os princípios e objectivos do IPOR”.

Ainda segundo a mesma nota, a entrada do novo accionista “demonstra não só o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo IPOR na preservação e difusão da língua e cultura portuguesas na região Ásia-Pacífico, mas também a identificação e compromisso da companhia no reforço da missão que o instituto encerra”.

Assim, “esta cooperação é mais um passo para a afirmação do papel do IPOR não só como agente disseminador do valor económico e global da língua portuguesa, mas também da cooperação cultural e promotor da interculturalidade”.

DSEC | Registado aumento anual de TNR

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que, no final do ano passado, Macau tinha 688.300 pessoas, um “crescimento ligeiro” de 0,7 por cento, ou seja, um crescimento de 4.600 pessoas em termos anuais. Segundo a DSEC, tal deve-se “principalmente ao acréscimo do número de trabalhadores não residentes (TNR) domiciliados em Macau”, cujo aumento foi de 4.900 pessoas.

No tocante à população local, ou seja, sem TNR e estudantes do exterior, chegou às 568.700 pessoas, “baixando ligeiramente” 0,4 por cento em termos anuais. Tal deve-se “principalmente ao facto de a emigração líquida de residentes de Macau, com a saída a ser superior à entrada, ter sido mais elevada do que o crescimento natural (ou seja, o número de nado-vivos é maior do que o de óbitos)”.

Em termos dos movimentos populacionais, em 2024 existiam 3.677 indivíduos do Interior da China recém-chegados a Macau titulares de um salvo conduto, o que representa mais 260 pessoas em termos anuais, sendo que 64,8 por cento pertencia ao sexo feminino.

No ano passado foi dada residência a 1.074 pessoas, mais 196 em termos anuais, sendo a maioria dessas pessoas de Hong Kong, no total de 364.

SJM | Regresso aos lucros após quatro anos de prejuízos

A SJM obteve um lucro de 3 milhões de dólares de Hong Kong no ano passado, e conseguiu reduzir a dívida acumulada em 6 por cento, para 26,5 mil milhões de dólares de Hong Kong

 

A concessionária do jogo SJM Holdings anunciou um lucro de três milhões de dólares de Hong Kong em 2024, após perdas sem precedentes durante quatro anos consecutivos. Num comunicado enviado na terça-feira à bolsa de valores de Hong Kong, a empresa fundada pelo falecido magnata do jogo Stanley Ho Hung Sun recordou que tinha registado um prejuízo de 2,01 mil milhões de dólares de Hong Kong em 2023.

Os casinos da SJM arrecadaram 28,8 mil milhões de dólares de Hong Kong, mais 35,9 por cento do que no ano anterior, enquanto as receitas não jogo subiram 22,9 por cento, para 1,92 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Com as receitas a subir, a empresa registou um lucro operacional de 3,76 mil milhões de dólares de Hong Kong, mais do dobro do que em 2023. Durante o ano passado, a SJM conseguiu reduzir em 6 por cento a dívida total, para 26,5 mil milhões de dólares de Hong Kong no final de Dezembro.

Em 22 de Janeiro, a agência de notação financeira Fitch Ratings manteve a classificação da dívida da SJM graças à recuperação do turismo em Macau. A Fitch disse que o Grand Lisboa Palace, empreendimento de jogo e hotelaria inaugurado em Julho de 2021, em plena pandemia, obrigou a SJM a acumular um nível elevado de dívida.

Novas receitas

A empresa disse na terça-feira que o Grand Lisboa Palace passou de prejuízos em 2023 para um lucro operacional de 499 milhões de dólares de Hong Kong no ano passado. As receitas do novo empreendimento da SJM mais que duplicaram, atingindo 6,58 mil milhões de dólares de Hong Kong.

O mercado de massas representou 82,4 por cento das receitas dos casinos da empresa, enquanto o jogo VIP se ficou por uma fatia de 9,3 por cento. As grandes apostas, que em 2019 representavam 46,2 por cento das receitas dos casinos de Macau, foram afetadas pela detenção do líder da maior empresa angariadora de apostas VIP do mundo, em Novembro de 2021.

O antigo director executivo da Suncity, Alvin Chau Cheok Wa, foi condenado, em janeiro de 2023, a 18 anos de prisão, num caso que fez cair de 85 para 18 o número de licenças de promotores de jogo emitidas em Macau.

A SJM disse que vai renovar por completo todos os quartos do Grand Lisboa, um dos mais importantes casinos da empresa, assim como aumentar em 10 por cento o número de quartos “através de conversão de antigas áreas reservadas a ‘junkets’”.

Segurança | Chan Pou Sam alerta que excesso de zelo prejudica Macau

O presidente honorário da Associação de Promoção de Vida Social e Bem-Estar da População de Macau, Chan Pou Sam, defende que a sociedade deve evitar o excessos de zelo, para não prejudicar a imagem do território. A opinião foi expressa ao jornal Exmoo, na sequência de um acidente de viação, durante a filmagem de um filme em Macau.

O acidente aconteceu na Rua do Seminário, no mês passado, resultou no atropelamento de 12 pessoas, a maioria ligada à equipa de produção, e as imagens captadas tornaram-se virais. Posteriormente, tanto o Corpo de Polícia de Segurança Pública como o Instituto Cultural vieram revelar que a equipa não tinha seguido as indicações de segurança emitidas, apesar de não haver indícios de ilegalidades.

Face ao incidente, Chan Pou Sam alertou que as leis locais devem ser aplicadas, sem necessidade de excessos de zelo ou de empolamento das situações por parte dos residentes nas redes sociais. Chan avisou ainda que este tipo de situações, com o avolumar das críticas, pode fazer com que no futuro as produções deixem de escolher Macau como destino de filmagem, o que indicou ser contrário ao interesse do território.

Chan Pou Sam recordou que ao longo dos 30 anos, houve cerca de 50 equipas de filmagem em Macau, por isso, indicou que o território tem condições para receber mais projectos de cinema e televisão.

Iao Hon | IAM inspecciona mercado devido a presença de rato

Na passada terça-feira, circulou nas redes sociais um vídeo onde se podia ver um rato a atravessar as tubagens junto ao tecto da zona de restauração do Mercado Municipal do Iao Hon.

Em resposta, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) “procedeu a uma inspecção exaustiva das condições de higiene do local e das bancas onde a comida é confeccionada” no espaço referido, mas também “em todos os mercados e centros de comida cozinhada sob a sua jurisdição”. Num comunicado divulgado ontem, o IAM afirmou que as inspecções têm por fim “reforçar o controlo dos roedores e as medidas sanitárias nos locais em questão”.

O organismo municipal assegurou que “presta grande importância” às condições de higiene dos mercados e das zonas restauração dos mercados, mais uma vez depois de um vídeo partilhado nas redes sociais se ter tornado viral. Recorde-se que o mesmo aconteceu depois de ter sido publicado nas redes sociais um vídeo que mostrava um rato em cima de produtos alimentares num supermercado da cadeia Royal, que levou ao encerramento temporário de três superfícies comerciais e um restaurante no início de Janeiro.

Em relação à zona de restauração do Mercado do Iao Hon, o IAM revelou não terem sido encontrados vestígios de ratos. As tubagens onde foi avistada a ratazana foram limpas com lixívia diluída e foram instaladas ratoeiras nas zonas das bancas de comerciantes.

Segurança | Bombeiros apelam a cautela na utilização de gás

Face a um incêndio que fez cinco feridos e que se suspeita ter sido causado por uma fuga de gás, o Corpo de Bombeiros veio a público através de um comunicado onde indica ter realizado várias inspecções a edifícios e casas nos últimos anos

 

Após uma explosão seguida de incêndio que causou cinco feridos, o Corpo de Bombeiros (CB) apelou à população para prestar “elevada atenção à segurança na utilização de aparelhos de fogão a gás”. O comunicado, em língua portuguesa, foi emitido na manhã de ontem, dado que se suspeita que na origem das chamas tenha estado uma “fuga de gás de petróleo liquefeito”.

“O CB salienta novamente que não se pode negligenciar o risco de segurança do gás, quer seja em casa, restaurantes e outros espaços”, pode ler-se na mensagem. “Espera-se que os cidadãos e os sectores reforcem a vigilância, a prevenção e que tratem bem dos assuntos de segurança relativos à utilização e instalação correctas dos aparelhos de fogão a gás, de modo a garantir em conjunto a segurança da vida e dos bens”, foi acrescentado.

A mensagem serviu igualmente para o CB defender-se de eventuais acusações de falha nas inspecções realizadas. “Desde 2019, o CB começou a deslocar-se às comunidades para realizar continuamente inspecções aos fogões a gás em domicílios, conjuntamente com as associações e organizações de moradores e os chefes comunitários de segurança contra incêndios”, foi indicado. “Até Fevereiro do corrente ano, foram efectuadas 1.742 inspecções em domicílios”, foi complementado.

Segundo o CB, durante as inspecções verificaram-se “as especificações de segurança, o local de instalação [dos aparelhos] e o prazo de validade do tubo de aparelhos de fogão a gás”, e como resultado encontraram-se problemas como tubos de ligação do gás ao fogão fora da validade, ligações defeituosas para a saída dos gases dos esquentadores ou a colocação em lugares de risco das bilhas de gás.

Mais segurança

Nas últimas duas semanas aconteceram dois incêndios em edifícios residenciais, o que tem levado a que a manutenção dos equipamentos de segurança contra incêndio tenha sido questionada.

O primeiro incêndio aconteceu no Edifício do Lago, acredita-se que devido a um curto-circuito com uma televisão, e causou polémica, dado que o alarme para alertar os moradores não disparou. Como consequência, a deputada Lo Choi In fez uma interpelação escrita a pedir melhores inspecções de fiscalização.

No incêndio de segunda-feira, ainda no local, o CB garantiu que os equipamentos de segurança funcionaram como esperado. Contudo, devido à explosão com uma fuga de gás no sistema de abastecimento centralizado, o impacto acabou de atingir maior dimensões, com cinco feridos, entre os quais duas crianças com queimaduras em pelo menos 20 por cento do corpo, além de ter havido a projecção do 19.º andar de vários objectos para a via pública, entre os quais uma máquina de lavar a roupa.

Imprensa | All About Macau impedido de cobrir eleições

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, liderada por Seng Ioi Man, presidente do Tribunal de Segunda Instância, está a bloquear o jornal All About Macau de cobrir as conferências de imprensa da comissão que organiza as eleições legislativas de 14 de Setembro.

Após a eleição de Sam Hou Fai como Chefe do Executivo, e ainda durante o mandato de Ho Iat Seng, o jornal All About Macau começou a ser excluído de praticamente todas as conferências de imprensa ligadas às autoridades locais, com a justificação de que não existem vagas suficientes para os profissionais da comunicação social. Segundo este critério, que é aplicado de forma discricionária, a prioridade é atribuída às publicações com periodicidade diária ou semanal. No entanto, vários órgãos locais mensais, publicados em outras línguas que não a chinesa, conseguem aceder aos eventos, sem constrangimentos, apesar de teoricamente não preencherem os requisitos exigidos.

Também é frequente o bloqueio do acesso ao jornal All About Macau, com a justificação de falta de espaço, quando as salas onde são realizadas as conferências tem vários lugares disponíveis.

De acordo com o artigo 27.º da Lei Básica, a RAEM protege a liberdade de imprensa no território. De acordo com o artigo 5.º da Lei de Imprensa, esta liberdade implica a garantia do direito de acesso às fontes de informação, o que significa o contacto com governantes e a possibilidade de os questionar.

Consumo | Troca de cartões de idosos disponível

A partir de hoje estão abertos mais de 60 postos para substituir cartões Macau Pass que permitem obter os descontos do Grande Prémio do Consumo. Até 20 de Março, os residentes com mais de 65 anos, ou os seus representantes, podem trocar gratuitamente os cartões em instituições de serviço social e associações cívicas espalhadas pelo território

 

Com a iniciativa de incentivo ao comércio local Grande Prémio do Consumo a arrancar a 24 de Março, o Governo dá hoje o primeiro passo na preparação para a distribuição de descontos. Abrem hoje mais de 60 postos para a substituição do “Cartão da Macau Pass para Idosos”, que permite uma nova modalidade de participação em relação às rondas anteriores do programa de apoios para residentes com mais de 65 anos.

Espalhados um pouco por todo o território, entre instituições de serviços sociais e associações cívicas, os mais de 60 postos vão permitir trocar gratuitamente os cartões até 20 de Março. A Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) explica que a troca é necessária “uma vez que o chip utilizado na versão antiga do Macau Pass para idosos não suporta o carregamento do cartão para obter desconto imediato”.

Os residentes com mais de 65 anos de idade vão beneficiar de dois tipos de descontos, através dos cartões Macau Passa para idosos e pelas plataformas de pagamento electrónico. A inclusão de um cartão físico com descontos directos foi uma das novidades da nova ronda de benefícios, depois de críticas feitas aos programas anteriores em relação à exclusão da população mais velha que não sabe usar, ou não tem, plataformas de pagamento online.

Guia prático

Para trocar os cartões, o titular ou um representante tem de dirigir-se a um dos postos de substituição trazendo o cartão antigo, que será recolhido pelos serviços, em troca de um talão de levantamento. Esse talão indica a data para levantar o novo cartão, que o Governo estima demorar entre 6 a 10 dias úteis, com o saldo do cartão antigo a ser transferido automaticamente para o novo. O novo cartão pode ser levantado pelo idoso ou por um representante, mediante a assinatura de uma procuração e apresentação dos BIR de ambos.

O pedido de uma segunda via do Macau Pass para idosos implica os mesmos passos para a troca de cartões, e também prazos semelhantes.

Quem nunca tenha requerido o Macau Pass para idosos pode fazê-lo nas lojas da Macau Pass, no Edifício Jardim Fu Tat na Rua de Paris, e nos centros de atendimentos da Macau Pass na Estrada Marginal da Areia Preta e na Avenida de Kwong Tung na Taipa. Para requerer o cartão é necessário apresentar o BIR e uma fotografia recente tipo passe. Os cartões podem ser levantados num prazo estimado de oito dias úteis.

Os titulares do “Cartão da Macau Pass para Idosos” “vão poder participar no programa, com benefícios a vários níveis, como um desconto imediato para consumo no valor de 300 patacas mediante carregamento do cartão”.

Ciência | Mário Évora nomeado para comissão de ética

O médico Mário Évora foi nomeado como membro da Comissão de Ética para as Ciências da Vida, por Sam Hou Fai, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial.

A comissão vai ser presidida por Kuok Cheong U, também médico, que tem como substituto Pang Fong Kuong. Entre os outros nomeados constam os nomes de Lai Kai Seng, Ren-He Xu, Bernice Lam Nogueira, Wong Io Nam, Yip Tai Ho, Chan Chi Chon e o advogado Vong Hin Fai.

A comissão desempenha as tarefas de órgão consultivo e fórum de discussão sobre as questões suscitadas pelo desenvolvimento recente das ciências da vida. Como parte destas funções emite recomendações sobre questões éticas suscitadas pelo progresso científico nos domínios da biologia, da medicina ou da saúde.

Além disso, a comissão propõe critérios para definir as regras de certificação da morte cerebral e acompanha a execução das medidas promovidas no âmbito da biomedicina e dos acordos internacionais.

DSF | Excedente das contas públicas cai quase um terço em Janeiro

Macau terminou Janeiro com um excedente nas contas públicas 32 por cento menor do que no mesmo mês de 2024, sobretudo devido à desaceleração nas receitas do jogo.

O excedente da RAEM fixou-se em 3,68 mil milhões de patacas, de acordo com os últimos dados publicados pelos Serviços de Finanças (DSF), na terça-feira. Macau fechou o ano passado com um excedente de 15,8 mil milhões de patacas, mais do dobro do registado em 2023.

Em Janeiro, Macau recolheu 7,5 por cento da receita corrente projectada para 2025 no orçamento, que é de 112,6 mil milhões de patacas.

No início de Dezembro, o Centro de Estudos de Macau e o Departamento de Economia da Universidade de Macau previram que as receitas deveriam ser menores do que o estimado pelo Governo: 111,8 mil milhões de patacas.

O excedente do território encolheu apesar da despesa pública ter descido 7 por cento em Janeiro, para 72 mil milhões de patacas, sobretudo devido ao investimento em infra-estruturas, que caiu para menos de metade. Por outro lado, o Governo gastou 594,6 milhões de patacas no âmbito do Plano de Investimentos e Despesas da Administração, menos 52,9 por cento em comparação com Janeiro de 2024.

Pelo contrário, a despesa corrente aumentou 8,2 por cento para 4,12 mil milhões de patacas, principalmente devido a uma subida de 12,9 por cento nos apoios sociais e subsídios dados à população.

“Duas Sessões” | Li Qiang destaca “Macau governada por patriotas”

O primeiro-ministro chinês repetiu os princípios e as metas traçadas nos últimos anos para Macau e apontou que o Produto Interno Bruto da China vai crescer 5 por cento ao longo deste ano. A intervenção foi elogiada pelos deputados de Macau na Assembleia Popular Nacional

 

Na apresentação do relatório anual de trabalho do Governo Central, o primeiro-ministro Li Qiang defendeu a aplicação de forma “inabalável” dos princípios “Um País, Dois Sistemas”, “Macau governada pelas suas gentes”, e do elevado grau de autonomia e salvaguarda da ordem constitucional. O discurso foi proferido ontem de manhã, no Grande Salão do Povo, em Pequim, durante a cerimónia de abertura da 3.ª Sessão da 14.ª Assembleia Popular Nacional (APN).

Li Qiang indicou também que o Governo Central vai apoiar o território a desenvolver a economia, melhorar a condição de vida da população, aprofundar a cooperação internacional e promover uma “melhor integração no desenvolvimento nacional global e na manutenção da prosperidade e da estabilidade a longo prazo”.

O discurso de Li Qiang não apresentou verdadeiramente inovações em relação a Macau, sendo a repetição das políticas traçadas nos anos mais recentes. Os mesmos objectivos foram definidos para Hong Kong, com a situação das duas regiões administrativas especiais a ser apresentada em conjunto.

O discurso de Li Qiang ficou ainda marcado pela previsão de que o Produto Interno Bruto do Interior da China vai crescer cinco por cento ao longo deste ano, naquele que é sempre um dos aspectos mais aguardados do relatório anual de trabalho do Governo Central.

Aplausos de Macau

O discurso do primeiro-ministro recebeu vários elogios dos deputados de Macau na Assembleia Popular Nacional, que prometeram trabalhar “dedicadamente” para alcançar as metas traçadas.

Chui Sai Peng, citado pelo canal chinês da Rádio Macau, destacou os trabalhos feitos no ano passado pelo Governo Central, indicando que todas as metas definidas foram alcançadas, apesar dos vários desafios criados pelo ambiente económico. Por este motivo, o deputado considerou que as perspectivas para o futuro são encorajadoras e que a população tem motivos para estar mais confiante, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da alta tecnologia.

Kevin Ho, outro dos membros de Macau na APN, preferiu sublinhar os vários trabalhos previstos no discurso de Li Qiang para promover o crescimento económico ao longo deste ano, frisando que vão permitir estabilizar os mercados imobiliário e bolsista. Ho afirmou ainda que este ano vai mostrar a capacidade de resistência da economia do país.

Ng Siu Lai considerou que o relatório do Governo Central foi bastante realista e que vai permitir ao país continuar a progredir, ao mesmo tempo que visa implementar medidas para aumentar as pensões de residentes das zonas urbanas e rurais. Segundo Ng, com a implementação deste relatório, a população chinesa vai ficar mais protegida e melhorar o nível de vida.

Já a ex-deputada da Assembleia Legislativa Chan Hong optou por destacar a atenção prestada às questões da educação, e os planos para implementar progressivamente a gratuitidade na educação pré-escolar.

Bernardo Mendia, Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong: “Portugal deve estender a mão”

Chega hoje a Lisboa o secretário para a Inovação, Tecnologia e Indústria de Hong Kong, Sun Dong, acompanhado por empresários das áreas digitais, comércio online e tecnologia. Bernardo Mendia, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong, destaca a importância da visita para as empresas portuguesas e da RAEHK enquanto complemento de contactos portugueses em Macau

 

 

No ano passado, Portugal recebeu a visita de Christopher Hui Ching-yu, secretário dos Assuntos Financeiros e do Tesouro de Hong Kong, e agora outro governante de Hong Kong passar por Portugal. É uma visita com significado acrescido?

Como Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong consideramos de extrema importância esta visita, valorizando muito a atenção que está a ser dada a Portugal. É importante, sobretudo, por se tratar de uma área tão específica como a inovação. Esta é uma área em que Hong Kong aposta muito e que tem sido uma prioridade para as autoridades da região, e isso é algo que existe em comum com Portugal, que também tem apostado na área tecnológica e de desenvolvimento científico. O que Portugal deve fazer é aproveitar esta oportunidade, estender a mão ao secretário e trabalhar em parceria. O desenvolvimento tecnológico e económico só se faz com parcerias internacionais, com a abertura de mercados e com colaborações. É também isso que promovemos como Câmara de Comércio. Temos estado envolvidos na organização desta viagem, algo que começou há meses. Vamos levar empresas portuguesas a identificar potenciais sinergias com as entidades que vêm cá, para que se conheçam e façam, depois, o seu trabalho.

Hong Kong tem estado presente em todas as edições da Websummit em Lisboa. Esta visita dá a ideia de que a região pretende expandir-se e firmar parcerias mais concretas com Portugal?

Sim, sem dúvida. Isso tem-se evidenciado nos discursos oficiais dos mais importantes membros do Governo de Hong Kong, incluindo do próprio Chefe do Executivo. Essa é a estratégia da região neste momento, ser uma ponte para o resto do mundo poder entrar na Ásia. Aí o território compete com outras plataformas, pois Hong Kong, Singapura e Tóquio são, talvez, os três territórios com maior expressão nesta área [tecnológica], na Ásia. Mas Hong Kong apresenta as melhores condições, não apenas pelo apoio que dá [às empresas], mas também por fazer parte da China, apesar de ter um sistema legal diferente e uma moeda diferente. Há um sistema completamente aberto ao nível da circulação de capitais e acesso à Internet. Acho que Hong Kong se posiciona melhor nesse campo, mas essa é uma competição que o território tem de fazer, tal como Portugal quando vai apresentar-se na Ásia, competindo com a Espanha e outros países europeus na atracção de investimento directo estrangeiro.

Macau é, por norma, a principal ligação a Portugal, por questões históricas e da presença da língua portuguesa. Hong Kong pode ser também um território de ligação entre as empresas portuguesas e a Ásia?

Macau e Hong Kong são muito complementares nesse aspecto. Macau tem essa ligação histórica com Portugal e tem empresas muito importantes sediadas no território, algumas delas há mais de 100 anos, nomeadamente o Banco Nacional Ultramarino. Essa experiência, e o facto de a língua portuguesa ainda ser oficial, é, sem dúvida, uma vantagem para as empresas portuguesas. Se for necessário entrar no mercado de capitais, as empresas portuguesas vão optar por uma série de serviços disponibilizados por Hong Kong. Mas Macau tem as suas vantagens próprias e considero que são dois mercados bastante complementares. A proximidade geográfica de Macau e Hong Kong também funciona como um ponto atractivo.

Durante a visita de Christopher Hui Ching-yu, no ano passado, foi abordado o posicionamento de Hong Kong como paraíso fiscal. Como olha para essa questão?

Esta visita é organizada pelo Hong Kong Economic and Trade Office e as questões fiscais ficarão, agora, postas de parte. Mas a nossa posição, como Câmara de Comércio, é que não faz sentido Hong Kong estar na lista de paraísos fiscais, e não faz sentido nem do ponto de vista legal, nem político. Nenhum dos mercados com quem concorremos coloca Hong Kong como um paraíso fiscal, nem a própria União Europeia. Só temos a perder com isso, porque criamos barreiras às trocas comerciais e investimento directo estrangeiro em Portugal, e também ao investimento que é feito pelas empresas portuguesas em Macau, que acabam por ser afectadas por isso. Não faz sentido essa designação do ponto de vista legal, porque Hong Kong não reúne as condições para fazer parte da lista dos paraísos fiscais, e do ponto de vista político porque nenhum outro país europeu coloca o território nessa categoria.

A China está presente no mercado português através de diversos investimentos. Hong Kong está a tentar criar o seu próprio caminho?

Não nesses termos. A esmagadora maioria do investimento chinês que é feito em Portugal é-o através de Hong Kong. Aí, nesse aspecto, Hong Kong e China trabalham de forma bastante complementar. Hong Kong funciona como um “porta-aviões” da China em termos do investimento externo, e não há propriamente uma concorrência entre os dois, trabalhando, sim, em conjunto.

Encontros em Oeiras | Taguspark acolhe hoje sessões de intercâmbio e seminários

Dong Sun faz-se acompanhar a Portugal pelas empresas e entidades mais importantes de Hong Kong nas áreas da inovação, tecnologia e meios digitais, quer a nível governamental, com o “Hong Kong Science and Technology Park” e o “Cyberport”, parque tecnológico com escritórios com projectos orçamentados em dois mil milhões de dólares de Hong Kong; quer a nível académico e de investigação, com a presença na comitiva do “Hong Kong Applied Science and Technology Research Institute” e “Hong Kong Microelectronics Research and Development Institute”.

As sessões de intercâmbio e seminários acontecem hoje a partir das 16h, no Taguspark, em Oeiras, onde está localizada a Oeiras Valley Investment Agency, cujos representantes já estiveram, aliás, presentes em Macau para contactos comerciais.

Na parte da tarde haverá oportunidade de diálogo entre o próprio secretário de Hong Kong, representantes da Câmara de Comércio e Indústria Portugal – Hong Kong e dirigentes dos parques tecnológicos e institutos da RAEHK, sendo que no total estão representadas 24 empresas.

Na via catalã

Num comunicado divulgado pelo Executivo de Hong Kong, lê-se que o programa inclui “reuniões e intercâmbios com líderes dos sectores político, empresarial e de inovação e tecnologia locais”, bem como visitas a infra-estruturas, parques tecnológicos, institutos de investigação e empresas.

O objectivo é “reforçar os laços e a cooperação” com Portugal neste sector, “promovendo as vantagens da inovação e tecnologia de Hong Kong e explorando oportunidades de negócio no estrangeiro”, segundo o comunicado.

Antes de passar por Lisboa, a delegação esteve em Barcelona, para participar no “Mobile World Congress”, considerado um dos eventos tecnológicos mais influentes a nível mundial.

Esta é a segunda visita a Portugal de um membro do Governo de Hong Kong no espaço de um ano, depois de o secretário para os Serviços Financeiros e Tesouro ter passado por Lisboa em Junho. Na altura, Christopher Hui Ching-yu pediu a Portugal para retirar Hong Kong da lista de paraísos fiscais e defendeu que já cumpre os padrões da União Europeia para combater a evasão fiscal.

MAM | “Acima de Zobeida: Arte de Macau” inaugurada esta sexta-feira

Será inaugurada esta sexta-feira, no Museu de Arte de Macau (MAM), a mostra “Acima de Zobeida: Arte de Macau na 60.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza”, a partir das 18h30. A exposição foi criada pelo jovem artista de Macau, Wong Weng Cheong, e a curadora Chang Chan, e representou Macau na bienal italiana, uma das mais importantes do panorama das artes a nível mundial.

“Acima de Zobeida” inspira-se no romance “As Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino, focando-se na cidade fictícia de Zobeida. Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), “Wong Weng Cheong combina imagens digitais e instalações artísticas imersivas para construir uma heterotopia pós-apocalíptica”, com “criaturas herbívoras mutantes a viver numa cidade deserta, com membros alongados longe da fonte de alimento”. Tal é símbolo “do desequilíbrio entre a civilização humana”.

A exposição conta ainda com “câmaras de vigilância instaladas em todos os lugares da exposição, sendo que os membros do público se tornam parte da obra ao entrar no espaço, esbatendo as linhas que separam realidade e ficção”. O tema central da 60.ª edição da Bienal de Veneza foi “Estrangeiros por Toda a Parte”, sendo que, nas palavras da curadora Chang Chan, “Acima de Zobeida” traz ideias como “o deslocamento da identidade e alienação espacial, explorando o conceito de ‘estrangeiro’ e a ansiedade apocalíptica da sociedade contemporânea”, descreve-se na mesma nota.

Macau participa na Bienal de Veneza desde 2007. “Acima de Zobeida”, recebeu cerca de 77 mil visitas. O IC descreve que “é de grande importância que a exposição regresse a Macau, para que residentes e turistas possam apreciar as criações contemporâneas dos jovens artistas de Macau”.

Rota das Letras | Festival literário traz poesia ao Porto Interior

Lisbon Poetry Orchestra, muitos poetas chineses e ainda fotografias do fotojornalista português Alfredo Cunha. Eis alguns dos destaques da nova edição do festival literário Rota das Letras dedicada à poesia, mas que recorda também o período da descolonização portuguesa. A literatura juvenil também tem lugar no evento que decorre entre os dias 21 e 30 deste mês na zona da Barra, Porto Interior

 

Já são conhecidos os principais destaques do cartaz da 14.ª edição do Festival Literário Rota das Letras, marcado para os dias 21 a 30 de Março e que este ano se muda para o Antigo Matadouro Municipal, na zona da Barra, Porto Interior. Numa zona bem tradicional da Macau antiga espera-se muita poesia, concertos e ainda exposições de fotografia.

Destaque para o concerto da Lisbon Poetry Orchestra, a 29 de Março, que faz a sua estreia em Macau com o espectáculo “Os Surrealistas”, que tem como convidada especial Xana, vocalista dos Rádio Macau. A primeira parte do espectáculo será feita pela banda Poetry & Music, de Anthony Tao, antigo responsável pela organização do Festival Literário de Pequim. O tema da actuação é “O Mito da Escrita”.

De salientar também para a presença de vários poetas chineses no Rota das Letras, nomeadamente a jovem Xu Jinjin, artista interdisciplinar que divide o seu tempo entre Xangai e Nova Iorque, onde tem exposto com regularidade em museus de ambas as cidades. A sua obra poética foi recentemente premiada pela Sociedade Americana de Poesia.

Em nome da poesia juntam-se ainda Valério Romão, autor e tradutor português que, recentemente, lançou o seu primeiro livro de poesia: “Mais uma Desilusão”. Seguem-se nomes como Zang Di e Jia Wei, de Pequim, e ainda autores locais, como Chan Ka Long e Wang Shanshan. Serão, assim, apresentados novos livros, além de que o público poderá também assistir a récitas de poesia, palestras e workshops, sempre com temáticas em torno da literatura.

O festival serve ainda para recordar o centésimo aniversário da publicação “Lin Tchi Fá – Flor de Lótus”, livro de poemas de Maria Anna Acciaioli Tamagnini, com o lançamento inédito de traduções para chinês e inglês.

Lembrar a descolonização

O Rota das Letras deste ano assinala também a passagem do 50.º aniversário da independência dos países africanos de língua portuguesa através de uma exposição do fotojornalista Alfredo Cunha, que fez a cobertura desses acontecimentos históricos. O tema do fim da guerra colonial e do processo de descolonização que se seguiu está também presente no romance de João Ricardo Pedro, “O Teu Rosto Será o Último”, que o realizador Luís Filipe Rocha adaptou ao cinema.

Sendo este um nome ligado ao território, o realizador português regressa a Macau depois de ter filmado “Amor e Dedinhos de Pé” nos anos 80, ou seja, a adaptação para cinema do icónico romance de Henrique de Senna Fernandes.

Outra presença no festival é a de António Costa e Silva, que foi ministro da Economia e do Mar em Portugal entre 2022 e 2024, mas que se dedica também à escrita. Costa e Silva vem a Macau apresentar o seu romance “Desconseguiram Angola”, sobre o período de descolonização e consequente guerra civil que assolou o país durante anos.

Ao nível do romance chinês apresenta-se também a obra de Chen Jining, vice-presidente da Associação de Escritores de Guangdong, e que tem recebido inúmeras distinções literárias, incluindo o Prémio Anual da Literatura Chinesa na categoria de “Melhor Novelista”, o Prémio Literário do Povo e o China Good Book Award, entre outros. Chen Jining conta com dois romances bastante premiados, nomeadamente “Cidade dos Sete Passos” e “Monólogo em Voz Alta”.

A vida de Wallis

Na língua inglesa, dá-se destaque à literatura de não-ficção, nomeadamente com o trabalho do escritor britânico Paul French, que traz ao festival duas obras bem recentes: “Her Lotus Year”, que conta a passagem de Wallis Spencer, Duquesa de Windsor, pela China, nos anos 20 do século XX; e ainda “Destination Macao”, colecção de histórias sobre algumas das mais fascinantes figuras de Macau dos séculos XIX e XX.

Tony Banham, de Hong Kong, apresenta o resultado da sua investigação sobre o afundamento do navio Lisbon Maru, um dos erros mais trágicos cometidos pelas forças aliadas durante a Guerra do Pacífico. Já Thomas Dubois, autor sediado em Pequim, dá a conhecer a China em “Sete Banquetes”, estudo profundo da história da gastronomia chinesa recentemente publicado.

Para mais pequenos

Os livros para os mais novos serão levados às escolas por Chen Shige, o primeiro escritor pós-anos 80 a ganhar a mais alta distinção da literatura infantil na China. Também André Letria, ilustrador e editor português com várias das suas obras publicadas em língua chinesa, e distinguido com vários prémios internacionais, será um dos convidado do festival.

Sophia Hotung, ilustradora de Hong Kong, vem também a Macau partilhar a sua arte com o público. Na véspera da abertura do Festival, Wang Zhengping, um dos grandes mestres da fotografia chinesa, inaugura na Galeria do Tap Seac a exposição “O Vento Sopra na Pradaria”, um olhar poético sobre os campos de pastagens da Mongólia Interior e quem os habita.

Rao Yongxia, discípula de Wang, seguiu-lhe os passos e mostra o seu trabalho dias mais tarde, na Galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia. Ao longo de dez dias, o festival propõe uma programação com duas dezenas de palestras, três exposições, um ciclo de cinema e um concerto, visitas a escolas, e oficinas de fotografia e de escrita criativa. Segundo a organização, o programa mais detalhado será publicado nos próximos dias.

O Rota das Letras conta com diversos apoios de empresas locais e do Fundo de Desenvolvimento da Cultura do Governo da RAEM, sendo organizado pela Sociedade de Artes e Letras e a Praia Grande Edições.

PJ | Mulher detida por acusar idoso de violação

Uma mulher está indiciada por ter acusado falsamente um idoso de violação. O caso foi revelado ontem pela Polícia Judiciária (PJ). De acordo com o relato apresentado, a mulher oriunda do Interior da China conheceu o homem numa plataforma online.

Foi dessa forma que os dois combinaram viajar para Macau a 26 de Fevereiro, com a mulher a ficar no hotel reservado pelo idoso. Durante este período, os dois terão mantido relações sexuais consensuais várias vezes, segundo a PJ. Contudo, a 1 de Março a mulher apresentou queixa ao Corpo de Polícia de Segurança Pública devido a uma alegada violação.

As investigações ao caso levaram a PJ a considerar que a violação nunca aconteceu e que a queixa terá tido origem numa disputa financeira entre os dois. Como resultado das investigações, a mulher acabou por ser detida e o caso foi encaminhado para o Ministério Público.