Tabagismo | Serviços condenam empurrões contra inspectores

Um residente apanhado por inspectores a fumar num jardim público confrontou fisicamente os agentes, empurrando-os e insistindo para que o deixassem em paz. Como consequência, um trabalhador do IAM que estava no local caiu de um escadote e ficou ferido

 

Os Serviços de Saúde (SS) condenaram os empurrões de um residente contra os agentes de fiscalização durante uma operação na segunda-feira. O comunicado sobre o incidente, que levou a que um funcionário do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) ficasse ferido, foi divulgado ontem na versão portuguesa, praticamente dois dias depois da versão em chinês.

Segundo a informação do Governo, os empurrões aconteceram no Jardim Luís de Camões, quando o homem foi apanhado a fumar num local onde não é permitido. Porém, em vez de disponibilizar o cartão de identidade para ser multado, o residente terá optado por empurrar os agentes, para que o deixassem em paz.

“Na parte da tarde do dia 19 de Fevereiro, durante uma inspecção conjunta realizada pelos agentes de fiscalização dos Serviços de Saúde e do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) no Jardim Luís de Camões, um residente de Macau que estava a fumar em local proibido recusou-se a mostrar o documento de identificação e empurrou os agentes de fiscalização”, indica a versão dos SS.

Embora sem explicar como, os SS também apontam que dos empurrões resultaram ferimentos num trabalhador do IAM que estava no local, em cima de uma escada.

No comunicado, os SS não indicam o tipo de ferimentos sofridos pelo funcionário, mas desejam-lhe as rápidas melhoras. “Os Serviços de Saúde mostram a sua solidariedade para com o funcionário ferido, esperando que este possa recuperar o mais rápido possível”, foi escrito.

Os SS pretendem que o residente responda criminalmente. “Ao mesmo tempo, [os SS] condenam veementemente os actos de agressão contra os agentes de fiscalização, salientando que as autoridades não toleram, e vão exigir, de forma rigorosa, a responsabilidade legal do agressor nos termos da lei”, foi revelado na mensagem. “As autoridades policiais estão a investigar o caso”, foi sublinhado.

Aviso à navegação

As autoridades indicam ainda que este tipo de acções não vai fazer com que deixem de realizar fiscalizações e avisa que até em caso de insultos vai ser apresentada queixa criminal.

“Os Serviços de Saúde vão continuar a reforçar o trabalho de execução da lei de controlo do tabagismo, apelando aos infractores para colaborarem e não obstruírem a execução da lei”, foi prometido “Caso [os infractores] insultem, ameacem ou ataquem os agentes de fiscalização, pode ser acusado dos crimes de desobediência, injúria agravada e ofensa qualificada à integridade física, entre outros”, foi alertado.

Os crimes mencionados pelos SS têm penas que variam de um mês de prisão até mais de 10 anos de pena, no caso da ofensa qualificada à integridade física.

O comunicado termina ainda com um apelo dos SS a convidar a população a denunciar quando detectarem “qualquer irregularidade onde seja proibido fumar”, acrescentado que todas as “queixas registadas” vão ser “devidamente acompanhadas”.

25 Fev 2024

Visões do inferno e nem tanto

Santa Bárbara, Lisboa, segunda, 7 Dezembro

Não sei se deram por isso, mas a Livros do Meio tratou de verter para português, por obra e graça do Rui [Cascais], «Um inferno chinês», atribuído a Divino Panorama, nome justo para tão singela obra! O livrinho tem-me atormentado as noites e não falo de ilustrações, que as tem roubadas à antiguidade clássica. As torturas disputam o protagonismo com os valores da sã convivência. Um dos tribunais condenará aqueles que falam dos pecados dos outros a serem amarrados por cobras de metal e esmagados por cães de ferro. Noutro condenam-se os que se apropriam de cartas, imagens ou livros postos à sua guarda dizendo que os perderam. Também condenável se diz ser a prática da má escrita. O corpo dos inúmeros condenados irá desfazer-se das mais diversas maneiras no território. Se aprendermos a viver respeitando a luz dos outros talvez nos salvemos, mas não estou certo da leitura. Preciso de mais umas noites em branco.

Horta Seca, Lisboa, terça, 8 Dezembro

E no entanto ela move-se. A «Ilustração portuguesa» foi exposição e agora repositório das dezenas de produtores de imagens. Não gosto da expressão, mas não encontro outra, entalada entre o modo fabril e o artesanato, a exigência de um suposto mercado e o desejo íntimo de expressão. Espanta-me mais uma vez a quantidade e a qualidade do que se produz e não está tudo aqui reflectido, nem todos os que fazem, nem o muito que desenham. Mas o somatório abre janelas sobre o que se vai imprimindo nos jornais, nos livros para as infâncias, nas capas, como nos ecrãs ou nas paredes de galeria. A pandemia, por exemplo, está ausente, que a selecção foi prévia, mas próximas edições irão conter esses dias carregados de metáforas, de corpos em tensão, de retratos ao espelho, de delírios e registos do quotidiano. De qualquer modo, as facetas do cristal dos dias reflectem a luz nestas páginas. Para trás e para frente flano por entre estas construções, rostos e paisagens, para me deter no abstracto. O João [Maio Pinto] parece coreografar as melodias que se soltam da guitarra, e assim acrescenta dimensões ao que era plano antes da tinta, vazio antes do gesto. Nervuras sustentadas no que parece peça de mobiliário, figurações aparentes sustentadas por nuvens, veludo negro, subtilezas da carne. De novo, quanto de vida se perdia sem as ilustrações? Haverá vida para além delas?

Horta Seca, Lisboa, sexta, 11 Dezembro

Abrimos lugares no sítio (www.abysmo.pt). Não quisemos apenas loja, mas página onde se falará de livros e do mais a partir deles. Começámos até oferecendo distopia em rima com os dias, assinada pelo mano Zé Xavier Ezequiel. Brilhará portanto uma óbvia paixão pel objecto, reverberando no vazio, canções sólidas, formas de vestir e habitar, lâminas e algodão. Além do mais, que esperamos muito, haverá sempre encontros na «mymosa», que se chama assim pela natureza do óbvio, que naquela agora extinta sala de saciar fomes e sedes aconteceu tudo e mais alguma coisa. «Grandes conversas sobre o tempo a partir dos gregos, da física quântica, dos palcos e de Proust. Aquela sobre a pintura e como nos jogamos nela. A localização exacta do Inferno. Camões foi assunto e destino de partida.

Os detalhes do uso de variegadas drogas, desde tempos imemoriais, falas na primeira pessoa, práticas na terceira. Apareciam mágicos, dos que faziam aparecer e desaparecer. Velhos trazendo histórias e vidas pela trela. Moradores das mais distintas paragens. De súbito, ao balcão vozes cavas discutiam a teoria das cordas e o contista não queria acreditar. Aconteceram canções, mesmo que não cantadas. Fado, por uma vez. A concertina amiúde. Golpes de teatro, a dar com um pau. Gargalhadas eram o pão nosso de cada dia. Enormes momentos de futebol, com jogos dentro. E até jantares. Ou almoçares, dos que começavam ao meia dia e acabavam à meia noite, dando nós no tempo. Claro que se semearam poemas, se cimentaram amizades e outras se desfizeram. Ainda recordo o concreto de cada uma. Chorou-se, por ser o apropriado ou sem querer. Longuíssimos testemunhos de vida, gente a despir-se lentamente, locomovendo-se.»

Horta Seca, Lisboa, segunda, 29 Dezembro

Queria que acontecesse de modo semelhante, o leitor sem saber ao que vai, recebendo nas mãos um certo «Tom», e no gesto mudando a melodia dos dias. Distraidamente, terá talvez visto as três letras dançando, nos cantos inferiores da convenção. Aqui uma onda, com a linha do t prolongado atirando o redondo o pelos montes do m, delícia de movimento, a mão a fazer da assinatura ponto final. Casos há distintos, em que o t faz de antena e raiz, linha recta procurando profundezas no vazio, as restantes letras um horizonte ainda por estender. E outras declinações ainda nomeiam o produtor das imagens, um entre tantos outros, nem se dá por ele na poeira do tempo.

Mas o livro verde amplia doravante essa ligeireza. O Jorge [Silva] anda há muito a coligir papéis, pele frágil mas duradoura na qual pousam as imagens, sem que isso signifique repouso. Ainda que quietas, as imagens despertam sem cessar movimentos, a interpretação suscita o pensamento, desdobra-o em ziguezague de aproximação e afastamento das formas do real. Quanto de vida se conserva nestes traços e cores de coisa nenhuma? Foram encomendas, divertimentos, maneiras de iluminar o que se diz, de retirar ao caos uma ordem mínima capaz de sustentar olhares, de fazer cidades e por aí adiante. A verdade é que, coligidas, dizem de uma profunda plasticidade, afirmam a pés juntos dispersa identidade e nisso nos surpreende que nem madrugada. O nosso modernismo praticou o jogo com uma alegria que espanta, sem dispensar a melancolia. Foram revistas para as infâncias e cinéfilos, livros e depois produções para modelar o gosto, caricaturas a capturar rostos, cores a fixar cidades e o tanto que estas páginas ilustram. Folhear estas páginas é alinhar na brincadeira. Está lá o devido enquadramento, o lugar na fita do tempo, as explicações do artista e de quem o sabe ler, passos na direcção da armadilha, mas pouco mais importa que a sucessão libertária dos seres vivos: as imagens. Ao acaso, vejam estas duas, uma que aqui vos deixo, um galo de ferro posto algures em alto de Monsanto, a aldeia mais aldeia da grande aldeia tuga. Mas atentemos nos retorcidos do ferro, nas furações, nos recortes, nos modos de fazer penas, e digam-me onde começa a tradição e para que futuro aponta o bico. Tomás de Mello procedia com esse método em cada parte da realidade que tocava, síntese maravilhada, a extrema complexidade a pulsar na clareza. Ora como podia o nosso olhar alcançar o bicho lá no alto do longe? Só aqui, no livro de fresco verde que me surpreende com a canção do vento. Depois há um Camões actualizado, com crítica e leitura dos idos de setenta. Uma geometria a quadricular a página em fragmentos, como se a vida se tivesse desmultiplicado em partículas que convergem na cena central, um palco feito coração a pulsar com a galáxia no seu entorno. E fico horas a remirar como quem mastiga. Que interessa a disciplina onde se há-de guardar isto? Os mestres da brevidade são bem capazes de parar o tempo, e nós com eles. Poucos haviam dado por isso, mas o Jorge anda nisto há anos, a vasculhar no esquecimento para nos dizer da pujança de nomes como Pavia, Lapa, Tóssan e tantos outros. Um cata-vento, portanto. Dos que cantam direcções.

30 Dez 2020

Intertextualidade e poema

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem se move na esfera do poema sabe o quanto inacabado um verso é. Por isso a vigilância exerce esse poder de síntese tão do gosto do poeta amante da língua, onde só ele mais do que ninguém sabe como transformar: mas quais as metamorfoses e transformação do texto poema?

É nele que a intertextualidade mais faz sentir o texto base desta variante, como um sincretismo que acrescenta particularidades tão ricas na recolha de todos os elementos de uma caracterização. Não esgotamos em nós a fórmula, a língua não é como o sangue, um circuito fechado: é de correntes abertas. Foi no fazer e refazer dos textos sagrados que encontrámos a primeira polifonia linguística, é nela que acrescentamos corpo ao conceito metafísico de Deus. Fizemo-lo pelo Verbo, tanto como ele a nós nos gerou no princípio. Sendo assim, dir-se-ia que desocultámos o humano que somos pelo texto permanente criado e não gerado, pela recriação contínua do que significa no fim de contas – Todos os Textos- um só texto, contínuo, ininterrupto.

Hoje as complexas relações de intertextualidade estendem-se a vários campos criativos, entre os quais os audiovisuais. Há quem, a propósito do tema, fale em «intertexto», pois que todo o texto constitui um intertexto numa sucessão de textos já escritos ou por escrever. A presença efectiva de um texto em outro pode ir da citação, à alusão, à menção indirecta, até ao plágio (embora este último não apresente carácter inventivo que acrescente o original). Há em grau a polifonia que ocorre com o texto inserido em outro texto que no poema temos mais presente como uma monofonia, só quando se trata do poema épico se exerce então e brilhantemente o outro anunciado.

Por uma constante leitura de obras paralelas, não raro nos damos conta do que acima foi exposto: que continuamos numa leitura do mesmo texto – hipertexto – com ressonâncias de tempos e espaços que se vão ampliando de forma apaixonante. E passo a citar apenas muito poucos mas significativos exemplos: o poema bíblico do «Livro de Jó» e o poema de Camões «O dia em que nasci», «Sonnets pour Hélène» de Pierre de Ronsard e «When you are old» de Yeats, «Spleen et Idéal» de Baudelaire e «Sacha e o poeta» de Manuel Bandeira, «Soneto amoroso definiendo el amor» de Francisco Quevedo e «Amor é fogo que arde» de Camões. Estes bastam para legendar o título do artigo recorrendo a extractos de todos os poemas.

Manuel Bandeira/ Baudelaire

 Quando o poeta aparece Sacha levanta os olhos claros.

o poeta a seguir diz coisas incríveis…

 Quando, por uma lei das potências supremas

neste mundo aparece o poeta

a mãe ergue os punhos para Deus

que dela se apieda:

  Pierre de Ronsard/ Yeats

 Quand vous serez bien vieille, au soir, à la chandelle

assise auprés du feu, dévidant et filant…

 Direz chantant mes vers, en vous émerveillant…

 When yoy are old and grey and full of sleep

 and nodding by the fire, take down this book

 And slowly read, and dream of the soft look.(…).

 Quevedo / Camões

… es hielo abrasador/ es fuego helado/ es ferida que duele y no se siente/ es un sonado bien/ un mal presente/es um breve descanso muy cansado .

 

…amor é fogo que arde sem se ver / é ferida que dói e não se sente/ é um contentamento descontente/é dor que desatina sem doer.

 

«O Livro de Jó» / Camões

…então Jó abriu a boca e amaldiçoou o seu nascimento :

Pereça o dia em que nasci/ que esse dia se mude em trevas/ que trevas e obscuridade se apoderem dele/ que eclipses o apavorem/ por que não pereci no seio materno

 

O dia em que nasci morra e pereça/ não o queira jamais o tempo dar/ não torne mais ao mundo, e, se tornar, eclipse nesse passo o Sol padeça. …/ a mãe ao próprio filho não conheça.

 Todas as leituras serão, neste caso, releituras na vertente de construir um hiper-poema que vá definindo, com estruturas de tempos, épocas e autores, a verdadeira marcha do texto que se está fazendo, sempre em aberto, sempre outro e sempre o mesmo. Que os vínculos que professam as correntes também ditam as proximidades e todos os nossos pares são aqueles que connosco constroem um percurso que é o mesmo. Talvez isto explique a cisão da Poesia como arte regeneradora neste momento, dado que as releituras nunca se fazem como um processo contido nos hábitos de ler. Apanhamos a marcha interrompida e avançamos em outro lado como se de uma catedral em pedra se tratasse o grande acórdão de um Poema Final.

“Só uma época avara de originalidade produz tanta coisa em circuito fechado, numa demonstração lasciva das suas próprias vivências”. Só uma arrogância idílica provoca tanto desastre na linguagem escrita. A experiência de cada um não serve uma causa comum, a menos que dela se retire elementos que pertencem a toda a Humanidade e, mesmo assim, terá de o saber dizer com labor formal para produzir uma obra de arte.

Nunca se viu mesmo tanta gente aparentemente unida sem espírito associativo, faculdade reservada aos de boa memória, que a construção do poema não permite que nos esqueçamos do essencial. Precisamos que a palavra volte a ser o elo mais sagrado em certos domínios e dela só se utilize esse essencial que importa. É uma blasfémia não sermos acordados por uma organização perfeita de um discurso belo como é desesperante tanto ruído para nos fazermos entender.

4 Ago 2017

Entrevista | Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões

Regressou ao território na semana passada para integrar o 12º Congresso de Lusitanistas. A presidente do Instituto Camões vê a língua portuguesa como parte de um futuro internacional. No que respeita ao oriente, Macau tem um papel fundamental tanto na formação de professores como na divulgação literária

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á esteve em Macau. Que mudanças vê no território, nomeadamente, do ponto de vista do desenvolvimento da língua portuguesa?
Já cá estive tanto com a administração portuguesa como com a chinesa. Dei conta que faz agora 29 anos que cheguei a Macau. Cheguei no final dos anos 80, num momento muito efervescente. Estava-se em pleno período de transição, e é preciso ter em conta que o que existia aqui era uma administração portuguesa. Macau nunca foi considerado um território português, mas muita coisa estava a acontecer e mesmo do ponto de vista da língua. Até esses anos o que existia relativamente ao ensino do português era alguma coisa paralelo ao que existia em Portugal e tínhamos até uma situação que, diria, era surpreendente e ao mesmo tempo embaraçante: a língua chinesa não ser oficial. No final dessa década foi quando percebemos que, se queríamos manter aqui o português teria de ser ensinado como língua estrangeira, que tinha de existir uma metodologia específica de ensino para falantes de chinês e que era fundamental a oficialização da língua chinesa, não só pelo número de falantes mas porque isso dava um paralelismo de situação às línguas que só poderia ser vantajoso para o português no futuro. Recordo ainda uma conferência por volta de 1990, do professor Manuel Ferreira, um académico que veio a Macau numa altura em que muito pouca gente cá vinha. Trabalhava em literaturas africanas. Veio fazer uma conferência à Universidade de Macau (UM). Chamava-se “Que futuro para a língua portuguesa?”. Surpreendentemente, numa altura em que a UM não tinha estudos portugueses a conferência estava cheia. Foi um debate interessantíssimo em que também foi possível traçar como quadro de futuro uma instituição que já estava a ser constituída, o Instituto Português do Oriente (IPOR). Regressei em 1995 para esta instituição para desenhar o que seria a instituição no futuro. De 1996 a 2002 foi um período especialmente interessante por ser, efectivamente, o período de transição. Tivemos de experimentar a solução. Uma coisa era trabalhar com a administração portuguesa e outra era construir uma instituição que pudesse ter autonomia e existir no quadro da administração chinesa. Foi esse o grande desafio que penso que resultou. O IPOR mantém-se e continua a ter um trabalho importante. Foi um processo em que também foi preciso convencer as autoridades portuguesas.

Houve relutância por parte de Portugal?
Não quer dizer que tenha havido relutância. Debatíamo-nos com duas visões que, podemos dizer, antagónicas. Uma tendia a ser dominante e que era uma visão muito pessimista que dizia que, no dia em que Portugal se fosse embora, acabaria a língua portuguesa. Acho que houve uma negociação muito competente por parte de ambos os lados no sentido da salvaguarda do português e que estava já designada na Declaração Conjunta. Era necessário saber se assim aconteceria efectivamente. A verdade é que os primeiros anos não foram fáceis. Foram anos de ainda alguma turbulência, o que é normal. Estávamos a passar de um regime colonial mesmo que com características próprias, para um novo tempo e uma nova administração com uma população que tinha aumentado muito com pessoas vindas do Continente e que não tinham raízes em Macau. Tudo isto eram vicissitudes em que era necessário perceber qual seria resultado. Um outro factor importante: Macau também tinha mudado muito o seu perfil. As pessoas quando aqui chegavam vindas de Portugal diziam que aqui ninguém falava português e, como tal, a língua iria a acabar. Foi necessário convencer Portugal de que isso não iria acontecer e que tínhamos noção de que a parte chinesa também tinha interesse nisso.

Qual era a receptividade por parte da administração chinesa?
Havia consciência de que Macau não era uma cidade como as cidades chinesas e bastava atravessar as Portas do Cerco para notar isso. É essa diferença quase imaterial, que faz a especificidade de Macau. Por algum motivo é uma região administrativa especial. Esta diferença também se marca por este cruzamento com uma outra cultura que está muito presente mesmo de uma forma que, se pode dizer, etérea. Edmund Ho tinha a perfeita percepção desta particularidade. Claro que havia algumas forças contrárias, mas, muito rapidamente, o Governo Central percebeu que a língua portuguesa era uma ferramenta para o mundo. Não era apenas uma relação com Portugal, mas sim com África, com o Brasil e uma relação com Timor também. Temos este esforço extraordinário que a administração chinesa em Macau faz, o investimento na língua, na comunicação social, de querer verdadeiramente que exista cá uma formação de quadros bilingues percebendo que são muito relevantes para o território e para a China. Não posso deixar de recordar que, por volta de 2011, estive na China e que um vice-ministro me dizia que o objectivo da China era formar 5000 professores de português. E estão nesse caminho.

O que é que significa o Congresso de Lusitanistas nesse sentido? É um reflexo desse investimento?
Significa também essa aposta. O Congresso de Lusitanistas é esse ponto áureo de tudo aquilo que tem sido feito e da maneira como as autoridades de Macau se têm emprenhado verdadeiramente no projecto da língua portuguesa. Trazer aqui um congresso de Lusitanistas, trinta anos depois de uma chegada a Macau de um especialista em língua portuguesa é um acontecimento incomensurável, é muito importante.

Numa entrevista que deu há uns anos, falava, por exemplo, da necessidade de mais traduções para uma maior divulgação do português. Como está este aspecto?
Nos três anos em que não estive em Macau, mas que não deixei de estar ligada ao território, foi lançada uma colecção que se chamava “Biblioteca Básica de Autores Portugueses”. Eram traduções para chinês, feitas na China, em que editámos quase 40 obras. Foi muito importante trabalhar com os tradutores chineses e, em muitos casos, o que fiz foi tirar das gavetas traduções que eles tinham feito e que estavam enterradas porque não tinham tido condições de serem editadas. Havia coisas extraordinárias. Houve também algumas traduções feitas propositadamente para esta colecção. Um exemplo é “O Memorial do Convento” do José Saramago. Tive a possibilidade de levar o Saramago, antes do Nobel, a Pequim para fazer a apresentação desta obra e foi um sucesso extraordinário. A tradução que foi feita de “O Memorial do Convento” ganhou o principal prémio de tradução da China. Na altura traduziu-se desde o Camilo Pessanha ao Eugénio de Andrade. Depois foram também traduzidos o Eça de Queirós, o Júlio Dinis, etc. Já existiam antes algumas traduções mas eram dispersas e com esta ligação arranjou-se uma unidade. Foi preciso muita determinação para o conseguir e muito apoio, nomeadamente, dos tradutores. Hoje em dia, o Instituto Cultural de Macau tem estado a fazer uma ou outra tradução e isso é muito importante. Lançámos, em Lisboa, a tradução de Camões e de poetas chineses. Julgo que também é necessário traduzir autores chineses para português, até porque há um acolhimento muito grande. Infelizmente, a maior parte das traduções de autores chineses é feita via inglês ou francês mas há um grande interesse pela literatura clássica chinesa e já temos exemplos de traduções feitas pelo professor António Graça de Abreu. Também é necessário maior investimento na tradução de autores portugueses. Claro que a tradução para chinês é um projecto duplamente caro. Com a necessidade que existe de tradutores, o que se passa é que estes profissionais se fizerem traduções técnicas são muito mais bem pagos do que os tradutores literários e o trabalho de tradução literária é muito complexo. Acabamos por ter muito pouca gente a faze-lo. Espero que o Instituto Cultural possa também aí ter uma intervenção.

Há pelo menos duas entidades em Macau com um trabalho relevante na edição e livros traduzidos e de obras que juntam as duas culturas, nomeadamente a Livros do Meio e a Associação Amigos do Livro e que contribuem para o papel de plataforma local.
Só Macau é que pode ser essa plataforma até porque pode intermediar com a China. Julgo que o papel de Macau é essencial. Aquilo que é sempre uma dificuldade tem que ver com a distribuição dos livros de Macau em Portugal. E são livros muito apetecidos. Há muita gente interessada por aquilo que é feito em Macau, quer as traduções, quer a literatura, quer os ensaios. Felizmente já há gente que lê em chinês, mas falta, de facto, um meio para a distribuição dos livros de Macau em Portugal. As obras chegam com grande dificuldade a Portugal. Não há um ponto onde as pessoas saibam que se podem dirigir e comprá-las. Deveria existir uma forma de serem adquiridas digitalmente. Há muito trabalho a fazer nesse sentido e Macau tem de o fazer.

A língua como expressão de uma identidade. Se falarmos de língua portuguesa, estamos a falar de múltiplas identidades.
Essa é a parte mais interessante. Como dizia o professor Adriano Moreira, actualmente o português é também a língua dos portugueses e é cada vez mais uma língua de outros povos, e que tem os saberes e sabores desses outros povos. É uma língua de múltiplas identidades e é assim que deve continuar a ser construída. O português é uma língua de várias identidades e penso que isso está muito presente nas artes. É muito importante não esquecer este lado como um lado fundamental para que estas identidades permaneçam, tenham desenvolvimentos, transformações e continuidades. Outra dimensão, que é aquela com que trabalho mais, é a internacionalização da língua portuguesa. Aí, vemos que cada vez há um interesse maior do mundo pelo português. Tem que ver com a enorme mudança a que assistimos. A velha separação entre norte e o sul e em que norte pontificava sobre o sul está diluída. Prova disso é a própria agenda 20/30 das Nações Unidas que vem dizer claramente que deixa de haver os países ricos e pobres, os doadores e os beneficiários, e que, afinal, os indicadores de desenvolvimento dão para todos. Os países desenvolvidos também têm muitas bolsas de subdesenvolvimento e de pobreza e vemos que os países pobres também têm bolsas de riqueza. O mundo que se está a impor é o mundo do hemisfério sul onde temos um Brasil e temos uma África pujante, onde temos toda uma América Latina que está também a fazer um caminho muito forte e muito interessante na forma como entendem a educação e como se projectam na economia. Hoje em dia, parece-me que é óbvio, não há economias fortes sem educação e sem aposta na cultura, o que promove uma coisa que é um bem essencial: a criatividade. O mundo do sul está a impor-se e a verdade é que nesse mundo do sul a língua mais falada é o português e todos os indicadores nos dizem que no final do século, onde se vai falar mais português é mesmo em África. O continente africano vai ser pujante e vai ser também onde o português será umas das três línguas mais faladas, juntamente com o árabe e com o inglês. Tudo isto nos permite compreender porque é que a China aposta tanto no português. É uma visão muito estratégica. Em meu entender há duas línguas que vão crescer exponencialmente: o espanhol e o português. Temos a vantagem de que estas línguas também se entendem entre si e isso forma uma comunidade, para já de 700 milhões, que se entende e que até tem relações culturais de proximidade. Não é por acaso que temos como secretário-geral das Nações Unidas, um português. Portugal é também visto como um bom mediador e como um país que cumpre os seus tratados internacionais. Foi isso mesmo que a China disse ao país quando foi defender António Guterres: “confiamos em Portugal porque cumpriu tudo aquilo a que se comprometeu em, relação a Macau”.

Tem defendido, apesar das contestações, que o acordo ortográfico integra esse processo de internacionalização.
A CPLP tem um instituto que se ocupa da língua portuguesa com o qual colaboro e onde tenho de ouvir, infelizmente, que a questão do acordo ortográfico é uma questão de Portugal e que todos os outros países já a resolveram. Angola não resolveu, é verdade, a Guiné Equatorial também não resolveu mas é porque ainda nem iniciou um processo de integração do português no seu sistema, mas tirando isso todos os outros países já resolveram essa questão pelo que já é uma não-questão. Só continua a ser debatida por Portugal nos termos que ainda é mas que, penso, são cada vez menos justificáveis. Será ainda durante mais uma geração, mas, desde 2011, no sistema de ensino só existe o acordo ortográfico.

Vem aí uma geração que não se vai lembrar da língua portuguesa antes do acordo?
Sim.

Está há quase oito anos à frente do Instituto Camões. Que balanço é que faz do trabalho desenvolvido ao longo deste tempo?
Estive em várias configurações institucionais dentro do Instituto Camões e em todas elas encontrei “tsunamis”. A primeira, ainda como Instituto Camões, quando foi nos foi passada a rede de ensino básico e secundário no estrangeiro que representava cerca de três vezes a dimensão do instituto. Fizemos, pela primeira vez, a avaliação dos professores, a introdução da certificação da aprendizagem, programas de ensino e o programa de incentivo à leitura. Conseguimos ainda chegar aos países em que têm professores que não fazem parte da nossa rede. No conjunto apoiamos quase 660 professores. Não temos rede oficial, mas apoiamos também os Estado Unidos, o Canadá, a Venezuela e a Austrália. Por outro lado, temos tido um crescimento muito grande daquilo que é o português na vertente de língua estrangeira. Nós hoje estamos, em termos de língua, em 78 países e temos cerca de 90 mil alunos. Temos relações institucionais com 358 universidades e também aí fomos reforçando a qualidade do ensino, sobretudo na construção de uma rede coerente em que há uma grande aposta na formação de professores. Outra coisa que tem sido muito gratificante é o reconhecimento do português como acesso ao ensino superior. A nossa vitória mais recente, porque era quase impossível, foi nos Estado Unidos em que, finalmente, os exames de acesso às universidades já contemplam a língua portuguesa. Foi um salto qualitativo muito grande. Além do ensino superior temos também apostado muito na integração do português nos sistemas curriculares. Está-se a passar em África e o primeiro caso, e de grande sucesso, é a Namíbia, mas também estamos no Zimbabué e na Suazilândia. Na Europa estamos em países como a Roménia, a República Checa e a Bulgária que também estão a introduzir o português. Pela primeira vez, os últimos relatórios do British Council reconhecem o português como uma das grandes línguas internacionais. Em 2012 tive o segundo tsunami que foi a fusão com a Cooperação para o Desenvolvimento. Sendo uma área muito distinta, também foi possível trabalhar de forma interessante. A cooperação portuguesa tem na educação uma das suas áreas fundamentais de intervenção nos países parceiros. Aí, a minha coroa de glória, do ponto de vista da língua e pela primeira vez, está associada a um projecto na área da justiça em Timor Leste em que já existe uma componente de língua portuguesa. Não se trata de ensinar português mas de uma formação especifica. A nossa última aposta tem sido na modernização e no digital. O futuro passa pelo desenvolvimento de parcerias. Não é possível fazer crescer a língua portuguesa sem parcerias e esse é o repto que temos. Trabalhar com as universidades de outros países de língua portuguesa. Foram ainda aprovados planos de acção para a internacionalização da língua portuguesa.

31 Jul 2017

Camões e o céu

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] início do século vinte foi verdadeiramente inovador e de uma dimensão moderna sem precedentes, começando pelo Futurismo de Marinetti , o Simbolismo, o Cubismo e todas as formas que ousaram avançar e transformar os signos linguísticos e as estruturas criativas em elementos de plena mudança social. De tal forma que a noção de original se baseou na origem, ao que ela pode servir de reminiscência do esquecido, e com as liberdades sociais que teciam o progresso foi dado ao criativo, ao artista, ao poeta, meios ímpares na transformação da génese colectiva. Olhamo-los à distância de um século e parece que não nos foi dada esta modernidade, esta qualidade, este saber e saber fazer, que uniam partes por vezes tão dissonantes.

Em Pessoa, sabia-se da sua forma hermética para interpretar horóscopos, mas não era só ele: havia por toda a Europa a transmigração das ciências ocultas e Crowley, o mal amado dos poetas, não deixa por isso de ter sido um soberbo escritor e junto a ele a flama sem fim dos espelhos e das bocas mágicas: muitos de carácter sexual que exacerbavam com beleza rara o mito de Pã e as germinativas capacidades da falocracia como estado ébrio da criação. Por isso não devemos deixar de ouvir este Hino, neste tempo em que se fala de paganismo como de idolatria a esferas de prazeres menores. Por esta altura vivia entre os nossos poetas do Orpheu, um homem, também da sua época e não menos inquietante, aquilo a que chamaríamos hoje de reaccionário, o que não deixa que fique como os naturais de hoje, sem interesse, e coisas também elas apaixonantes para contar: falamos de Mário Saa, conhecido pelo seu anti-semitismo primário e suas visões sobre a conspiração judaica. E é numa espécie de pequeno opúsculo que um escritor português mais recente descreve a visita de seu pai a Pessoa, combinada por ele como um momento simbólico de caça invisível à tal “espécie”. Chegados ao encontro, viu Mario Saa em duas, a mesma pessoa, o mesmo chapéu e, insultosamente, o mesmo nariz, empurrando-os humilhantemente um para o outro e culpando tal gene covilhanense. Como todos os “caças-fantasmas”, ele queria provocar em alguns amigos a tímida consciência das suas raízes, da qual ele não gostava, mas também não se separava. Vejamos que estes homens ainda não tinham o surro pequeno- burguês que invadiu a sociedade portuguesa da ditadura; eram homens brilhantes, com posições contrárias, sim, mas que dada a pequenez da organização social estavam condenados a unirem-se.

Mário Saa tem, entre muitas obras emblemáticas, uma, muito ao gosto de Pessoa, «Memórias Astrológicas de Camões», obra essa que lhe terá servido de inspiração para o poema de Saturno e os três anéis – fome, miséria e desolação. É, de facto, uma viagem secreta pelas entranhas do poeta, mais mitológica que lógica, mais simbólica que hiperbólica, mais refinada que exagerada, mais fatalista que elitista, e que nos dá a certeza de que entre mandala e céu conhecia em muito o seu destino. Aliás, esta recorrência a Saturno é muito poética e filosófica, e vejamos: «Sob o signo de Saturno», de Walter Benjamim; «Poemas Saturninos», de Verlaine; a máscara de Dante; «A Viúva», de Gomes Leal, de que Pessoa tanto gostava, pensando mesmo ser dele uma centelha. Nascidos no mesmo dia e com todas as esferas iguais e concertadas, este aspecto de uma radicalidade poética esbate o efeito da Primavera da Poesia, dos serões de meia província, da deidade branda do poetizar, da noção intimista das coisas vulgares. Aqui é de poetas que falamos e não de bucólicas criaturas em vários formatos da sua demência existencial. Saturno, como os anátemas, está gravado a ferros, que o fogo não entra neste frio.

Camões, de quem tão pouco se diz saber, nasceu a 23 de Janeiro de 1524, a um sábado, dia consagrado a Saturno num eclipse do Sol e o resultado parece mais assombroso quando o registo o dá pelas oito e meia da noite com Balança ascendendo. Saturno e Vénus estavam como o refere , em debilidade acidental; seria por isso Aquário com ascendente Balança, o que reforça o carácter estético da sua lírica. Camões quando escreve o célebre poema «O dia em que nasci» tinha uma vasta consciência disto e não nos esqueçamos também de que se baseia no próprio «Livro de Job» e dá-lhe a tónica final numa interpretação deveras fulgurante.

A terrível realidade inscrita nas suas lúcidas formas de saber não produzem facilidade nem estados de consciência brandos, são seres derradeiros que se manifestam no limite … sim – o dia em que nasci, morra e pereça, não o queira jamais o mundo dar… dê o mundo sinais de se acabar… a mãe ao próprio filho não conheça…– aqui está a completa consciência da sua Fortuna, mas Saturno, a quem os matemáticos da época chamavam Infortuna Maior, é o guardião do poeta «chamo dura e cruel a dura Estrela».

Para a definição do ano de Camões estão exaltadas as conjunções de Júpiter e Saturno, conjunção esta que preside aos períodos históricos: Islão, Reforma, Revolução Francesa. A Reforma foi a da época de Camões. Ocorreu no começo desse ano no signo de Peixes tendo determinado os infaustos prognósticos do Segundo Dilúvio Universal que irritados estavam com o Tempo e o Mundo.

Para quem do Amor – não viu se não breves enganos – há que dizer da supra maravilha de uma exigência interior que o faz escolher a Dama Sol, uma tal Violante. Foi esta ao que parece a sua Beatriz a quem chamou «A roxa flor de Abril» e foi sobre a sua sepultura, quando regressado a Lisboa, que escreveu o soneto «Debaixo desta pedra sepultada» gentileza da luz, que a noite escura tornava em claro dia…

É o maléfico Saturno que, antes mesmo da partida para Macau, num namoro de oito anos, lhe ofereceu a ofensa suprema do seu casamento com outro, por não reunir dotes para tal missão. Aquelas pessoas importantes que ninguém sabe quem sejam dado que aquele que não interessava era sem dúvida de importância extrema. Sentir isto é como a pedra forjada pelo elemento duro do astro baço e nem sequer estamos na presença de um homem comum, conquistador, que se limita a multiplicar a náusea da sua triste condição. Falamos de um Homem.

É nestes interstícios sonegados ao saber normativo que estão os elementos mais importantes para a compreensão daqueles que todos gostariam ter sido, mas que não teriam suportado tal destino, pois que é deste ferro, forjado a desterros e abandonos, a equívocos e ranger de dentes, a dias de eclipses, a astros muito baços, que faz nascer o mais belo dos “metais”: a alma humana e o seu génio.

Por isso, bem-digo tal dia, mesmo coberto das trevas de que o poeta se vestiu para que não morressem fulminadas as gentes perante a luz imensa deste ainda desconhecido.

Este tempo era ainda o da velha teoria de Joaquim de Fiore, o do ciclo milenário, e este era o ano que por toda a Europa corriam as notícias dos sinais apocalípticos anunciados para esse mesmo dia, era o tempo em que se falava dos monstros: mais tarde saberia dizer com precisão – Não torne mais ao mundo, e se tornar, Eclipse nesse «Passo» o Sol padeça, Nasçam-lhe «monstros»!

Este seria um monstro teratológico se é que chegou a ser alguma vez criança prodígio, pois que também havia os celestes como grandes sinais dos Céus.

12 Jan 2017