Empréstimos da China para a América Latina estagnam em ano de recessão económica

Em 2020, pela primeira vez em quinze anos, os dois maiores bancos de investimento públicos da China não fizeram novos empréstimos a países da América do Sul, após quase duas décadas de avultados investimentos

 

Quando, em 2010, a economia chinesa registava um crescimento de dois dígitos e as suas empresas estatais procuravam expandir-se globalmente, a América Latina, região com escassez de capital, mas rica em recursos naturais que o país asiático precisa, surgiu como o complemento ideal. Só nesse ano, a China emprestou 35 mil milhões de dólares aos vários países da região.

Volvida uma década, a China parece ter adoptado uma postura mais cautelosa, numa altura em que a pandemia da covid-19 obrigou os credores a perdoar ou adiar o pagamento das dívidas dos países em desenvolvimento.

Os dados fazem parte de um novo relatório produzido em conjunto pela unidade de investigação Diálogo Interamericano, com sede em Washington, e o Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, que há vários anos seguem os investimentos chineses na América do Sul.

A crescente influência económica e diplomática da China na região preocupa as autoridades dos EUA, que não conseguiram conter o seu aumento. A tarefa cabe agora ao Governo de Joe Biden, que alertou já que a influência chinesa na região é uma ameaça à segurança nacional dos EUA.

A China substituiu já os EUA como o principal parceiro comercial de vários países sul-americanos. Os EUA podem ter ficado ainda mais para trás durante a pandemia, quando a China doou mais de 215 milhões de dólares em equipamento médico, incluindo luvas cirúrgicas ou máscaras, para os aliados na região, segundo o relatório.

Em comparação, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e o Departamento de Estado forneceram 153 milhões de dólares em equipamento médico. A China também realizou testes clínicos ou planos para fabricar vacinas em cinco países – Argentina, Brasil, Chile, México e Peru.

“Sem dúvida, parte da resposta à covid-19 na região tem uma face chinesa”, disse Rebecca Ray, economista da Universidade de Boston e uma das autoras do relatório. “É uma oportunidade perdida para os EUA, mas face ao continuo declínio do sector manufactureiro dos Estados Unidos, desde a década de 1990, realmente não há como competir”, lembrou.

Mas, embora a pandemia tenha aberto as portas à ajuda chinesa, também tornou mais difícil para os governos pagarem as suas dívidas a Pequim. Uma profunda recessão de 7,4% na América Latina e no Caribe, no ano passado, destruiu quase uma década de crescimento da região, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

No ano passado, o Equador negociou o adiamento por um ano de quase 900 milhões de dólares no pagamento da dívida com remessas de petróleo. A Venezuela – de longe o maior mutuário da região – terá recebido um período de carência semelhante.

“Com a região a enfrentar desafios sem precedentes, é improvável que a China faça empréstimos por enquanto”, disse Margaret Myers, chefe do programa Ásia – América Latina no Diálogo Interamericano. “Em vez disso, terá de lidar com um portfólio [de créditos] problemáticos”, apontou.

A desaceleração nos empréstimos para a América Latina reflete uma retração global mais ampla, à medida que a China se volta para dentro, para reforçar os seus próprios esforços de recuperação económica.
Bancos estatais e outras instituições da China concederam enormes empréstimos para projectos lançados no âmbito do plano de infra-estruturas ‘uma faixa, uma rota’, que inclui a construção de portos, aeroportos, auto-estradas ou malhas ferroviárias ao longo da Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Mas Pequim adotou maior cautela, depois de alguns mutuários revelarem dificuldade para pagar os empréstimos. As autoridades dizem que examinarão os projectos e o financiamento com mais cuidado.

Embora o fluxo de empréstimos tenha sido suspenso, as compras chinesas de soja, minério de ferro e outros recursos da América Latina permaneceram robustas, ascendendo a cerca de 136 mil milhões de dólares. As empresas estatais chinesas do sector energético também compraram activos agressivamente, aproveitando a queda nos preços.

As fusões e aquisições chinesas aumentaram para 7 mil milhões de dólares, em 2020, quase o dobro do volume registado em 2019, de acordo com o relatório pesquisa. Entre os negócios, destaca-se a venda da maior companhia eléctrica do Peru pela Sempra Energy, sediada em San Diego, na Califórnia, à China Three Gorges Corp, accionista na portuguesa EDP. Outro acordo de 5 mil milhões de dólares deu à State Grid Corp, accionista na portuguesa REN, o controlo de uma grande concessionária no Chile.

Para os líderes da região, é difícil resistir aos empréstimos chineses para projectos de infraestrutura de alto custo. As taxas de juros são baixas e, ao contrário dos empréstimos do Banco Mundial e do FMI, há menos restrições e a aprovação é mais rápida, permitindo que os líderes apresentem as obras a tempo para as próximas eleições.

As autoridades norte-americanas apontam que a assistência dos EUA no exterior é antiga e mais transparente. “A assistência de Pequim na região é geralmente destinada a promover os interesses comerciais ou políticos da República Popular da China”, avisou o Departamento de Estado norte-americano, em comunicado.

Em Janeiro passado, no final do governo Trump, a Corporação de Financiamento do Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos assinou um acordo sem precedentes com o Equador para financiar até 2,8 mil milhões de dólares em projectos de infra-estrutura.

Mas o financiamento total daquele organismo público – 60 mil milhões de dólares – empalidece em comparação com o bilião que a China reservou para a iniciativa ‘uma faixa, uma rota’.

O pacote de empréstimos dos EUA ao Equador foi significativo porque também exigiu que o governo privatizasse activos de petróleo e infraestrutura e banisse a tecnologia chinesa. “Isto definitivamente limita a influência da China”, disse Myers. “Mas, ao sobrecarregar as gerações futuras com mais dívidas e encorajar o uso de combustíveis fósseis, isto realmente ajuda o Equador no longo prazo?”, questionou. “O tiro pode sair pela culatra aos EUA”, disse.

23 Fev 2021

As veias sempre abertas na América Latina

[dropcap]V[/dropcap]em de longe a tradição histórica da violência sobre a América, a das comunidades indígenas “descobertas”, exploradas, escravizadas, desprovidas dos seus recursos, instituições e até línguas, culturas, crenças e religiões, que ainda assim foram preservando ao longo de mais de 500 anos com mais barbárie que cooperação. Disso tratou Galeano em livro de grande brutalidade e com estilo no qual o próprio autor deixou de se rever – mas que não deixa de retratar com precisão suficiente os processos de dominação do continente americano pelos poderes europeus que desse saque longo e sistemático acumularam o capital necessária para o que viria depois: a Revolução Industrial e os processos de especialização e divisão internacional do trabalho, da produção e dos mercados, com gradual mas persistente substituição do controle político colonial pelo controle económico pós-colonial.

Essa herança do colonialismo europeu sobre a América Latina justificaria mais tarde a Doutrina Monroe, a partir de 1823 adoptada pelos Estados Unidos. Já a maior parte dos territórios da América Latina tinha recuperado a independência quando os EUA decretaram o seu direito a encarar qualquer ameaça ao continente como uma ameaça ao seu próprio país. Esta doutrina havia de prevalecer até ao século XX, abrindo caminho a diferentes tipos de intervenção política e militar, que em 1904 o Presidente Roosevelt viria a definir como o legítimo direito ao exercício de um “poder policial internacional na região”.

E foram muitas e de grande dimensão as intervenções dos EUA no restante continente americano. Começa ainda no século XIX, com a invasão do México em 1847, da qual resultaria a anexação de quase metade do que era o território mexicano (correspondendo hoje aos estados da magnífica e rica Califórnia, Nevada, Utah, a maior parte do Arizona, e ainda partes do Novo México, Colorado e Wyoming). Não havia muro, na altura. Já no princípio do Século XX (1903), seria através de negociações que os EUA conseguiam assegurar o controle do Canal do Panamá, numa das mais importantes rotas comerciais do mundo – depois de apoiarem a independência do país em relação à Colômbia – e o controle militar da ilha de Cuba, com a instalação da célebre base de Guantanamo.
Com a justificação da Guerra Fria e do controle do comunismo – e efectiva defesa de interesses económicos e políticos – as intervenções haviam de se generalizar, incluindo frequentemente o apoio explícito a poderes ditatoriais. O golpe de Estado na Guatemala apoiado pelos EUA em 1954 levaria o país a 40 anos de Guerra Civil. 10 anos depois, já com Kennedy como Presidente, viria o apoio ao golpe no Brasil. Em 1973, o golpe que colocou Pinochet no poder no Chine teve apoio declarado do Presidente Nixon, abrindo caminho à primeira experiência sistemática do neo-liberalismo contemporâneo, com suporte técnico e político da chamada Escola de Chicago e um regime autoritário capaz de impor uma agenda radical de austeridade e privatização generalizada de serviços públicos – ainda hoje causa dos protestos que mobilizam a população chilena a ocupar as ruas.

Pouco depois viria o trágico golpe de Estado na Argentina, em 1976, quando Vilela tomou o poder a Isabel Perón, recebendo visitas de Jimmy Carter e Henri Kissinger – não por acaso figuras também muito ativas em Portugal a seguir ao 25 de Abril. Foi o início da chamada “Operação Condor”, com os militares a raptar, assassinar e eliminar qualquer tipo de rasto (incluindo os registos civis) de milhares de dirigentes políticos de oposição. Desse extermínio nasceriam as Mães da Praça de Maio, mulheres transformadas em documentos para testemunhar a existência dos filhos assassinados. A história prolongou-se até quase ao final do século XX, com o financiamento e apoio militar – primeiro Carter e depois Reagan – aos golpes na Nicarágua (1978) e El Salvador (1979), que deixariam os dois países em guerra civil até aos anos 1990. Aqui se notabilizaram os chamados “Esquadrões da Morte”, forças paramilitares que se dedicavam ao assassinato sistemático da população civil.

Depois de um período em que massivos movimentos populares conseguiram assumir certa hegemonia e liderança política (o Brasil com Lula e Dilma, o Equador com Correa, a Bolívia com Morales, a Venezuela com Chavez e Maduro, o Paraguai com Lugo, o Uruguai com Mujica, a Argentina com os Kirchner, ou mesmo o Chile com Bachelet), trazendo ao continente um período de paz raramente conhecido, parece ser outra vez tempo de mudança de ciclo: processos judiciais altamente contestados, generais com ambições totalitárias e líderes políticos com suporte variável dos Estados Unidos – que a história há-de revelar com mais detalhe – voltam a manchar de sangue a agenda política na América Latina: execução de dirigentes e activistas no Brasil; balas de borracha disparadas nos olhos a cegar manifestantes no Chile; agressões organizadas a dirigentes e activistas na Bolívia.

Generaliza-se a violência e promove-se, como de costume, a ignorância: líderes evangélicos são promovidos a ministros da educação, difundem o fundamentalismo religioso e limitam pensamentos críticos; há recolhas sistemáticas de livros e até fogueiras de bibliotecas inteiras, como na Bolívia, onde um ex-Vice Presidente de Evo Morales viu arder a sua biblioteca pessoal com 30.000 volumes.

As respostas, sabe-se também, não deixam de aparecer, quer nas ruas, quer nas instituições. Até os jogadores da seleção de futebol do Chile se recusam a jogar, em solidariedade com o povo em manifestação quase permanente nas ruas de Santiago. A paz é que parece outra vez distante.

15 Nov 2019

Pequim convida América Latina e Caribe para “Uma Faixa, Uma Rota”

O ministro dos Negócios Estrangeiros está na América Latina para promover dezenas de iniciativas. Há um lugar vazio à espera da China no comércio multilateral

[dropcap style≠‘circle’]P[/dropcap]equim convidou a América Latina e o Caribe para fazer parte do seu bloco económico, a iniciativa chamada de “Uma Faixa, Uma Rota”. A oferta foi feita nesta segunda-feira (22) pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, durante reunião com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Com a retracção da influência global dos Estados Unidos com a presidência de Donald Trump, Pequim procura ocupar os espaços deixados por Washington.
“A China estará sempre comprometida com o caminho do desenvolvimento pacífico e com a estratégia de benefício comum de abertura e está pronta para compartilhar dividendos de desenvolvimento com todos os países”, disse Wang em reunião com os 33 países da CELAC. O bloco latino e a China assinaram uma espécie de acordo de princípios que rejeita o “unilateralismo” e fala sobre a importância de combater a mudança climática.
A Nova Rota da Seda foi proposta pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013 e busca fortalecer os laços económicos entre Ásia, África e Europa com investimento de bilhões de dólares em infra-estruturas. O MNE chinês discursou sobre a importância de melhorar a conectividade entra mar e terra e citou a necessidade de construir conjuntamente “logística, electricidade e percursos de informação”.

Contra o proteccionismo

O ministro das Relações Exteriores do Chile, Heraldo Muñoz, que já criticou publicamente Trump, afirmou que o acordo marcou uma nova era “histórica” de diálogo entre a região e a China. “A China disse algo que é muito importante, que quer ser nosso parceiro confiável na América Latina e no Caribe e valorizamos isso”, afirmou Muñoz. “Este encontro representa um repúdio categórico ao proteccionismo e ao unilateralismo”.
A China já é o principal parceiro comercial do Brasil, Argentina e Chile. O ministro chinês, entretanto, nega que esteja em curso uma competição por influência. “Não tem nada a ver com concorrência geopolítica. Segue o princípio de alcançar o crescimento compartilhado através da discussão e colaboração”, disse Wang.
Pequim busca ampliar seu leque comercial com a região e deixar de comprar apenas matérias-primas para também movimentar sectores como o comércio digital e o comércio de veículos.
“As nossas relações com a China são amplas. Isto [reuinão entre CELAC e China] é mais uma ferramenta para o Brasil trabalhar com a China. Juntos, identificámos novas áreas de cooperação”, afirmou o vice-ministro do Brasil, Marcos Galvão.

24 Jan 2018

Pequim aumenta sua influência na América Latina graças à falta de estratégia dos EUA

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]nquanto Trump rompe acordos e questiona alianças, o gigante asiático impulsiona os laços políticos, culturas e sociais com a região.

Uma semana depois da eleição de Donald Trump, o presidente Xi Jinping viajou para a América Latina pela terceira vez em três anos para enviar uma mensagem clara: a China quer ser o principal aliado da região. “Se compartilharmos a mesma voz e os mesmos valores, podemos conversar e nos admirar sem que a distância importe”, prometeu o líder asiático à presidente chilena, Michelle Bachelet, em Santiago. Com quase um ano de Trump na Casa Branca, o Governo dos EUA está em retirada do plano internacional, questionando alianças e rompendo acordos. Na América Latina, a China, que há mais de dez anos é um importante parceiro comercial, aumenta agora a sua influência política, cultural e social para ocupar o vazio criado pela ausente estratégia norte-americana.

Trump chegou à Casa Branca utilizando uma retórica nacionalista e proteccionista no âmbito comercial. A América Latina observou o carácter imprevisível de um novo presidente anti-establishment com incerteza. Mas, em menos de um ano, o presidente norte-americano confirmou a lealdade à sua agenda antiglobalização “América Primeiro”. Trump retirou os EUA do Acordo de Paris – no qual estão todas as nações do mundo – e do Tratado Comercial com o Pacífico (TPP) com países asiáticos e latino-americanos. O presidente também ameaçou acabar com o Tratado de Livre Comércio (Nafta) com o México e o Canadá. Com essas e outras decisões, Trump distanciou os EUA de sua posição hegemónica mundial e forçou os seus aliados tradicionais a procurarem e reforçarem outras alianças. “Sempre colocarei a América primeiro, não podemos continuar participando de acordos nos quais os EUA não obtêm nada de bom”, afirmou o republicano na Assembleia Geral da ONU.

Além das repetidas sanções contra o Governo da Venezuela e o retrocesso nos pactos comerciais, a nova Administração não estabeleceu uma estratégia de aproximação com os seus vizinhos do Sul e ainda não nomeou os diplomatas dos postos de maior importância no Departamento de Estado. Os EUA, nas suas poucas referências à América Latina, centraram o seu discurso na mão firme contra a imigração e o narcotráfico. Em Agosto, o vice-presidente Mike Pence tentou suavizar os sinais que Washington envia com uma breve viagem por quatro países. Apesar de ter falado por telefone com a maioria dos presidentes, Trump optou pela Europa, Médio Oriente e Ásia nas suas primeiras saídas internacionais.

A viagem de Xi Jinping, recheada de simbolismo, sugeriu uma aceleração para aprofundar as relações entre a América Latina e o seu país, que há 15 anos aumentou exponencialmente os investimentos na região. Nesse tempo, o gigante asiático multiplicou por 22 vezes o volume do seu comércio com os países da região. Em 2016, investiu aproximadamente 90 mil milhões de dólares nesses países. A China hoje já é o principal parceiro comercial do Brasil, Chile e Peru. Mas sua marca na América Latina já ultrapassa os âmbitos económicos.

“Agora a China tenta conseguir influência política. Cada vez consegue penetrar mais nas esferas académicas, culturais, sociais assim como na imprensa. Têm milhares de iniciativas para conectarem-se com as elites e pessoas de influência, por exemplo líderes de opinião, diplomatas, jornalistas, para lhes levar uma visão positiva da China”, afirmou nessa semana o pesquisador e jornalista Juan Pablo Cardenal numa conferência organizada em Washington pelo think-tank Americas Society, Council of the Americas. Outros não acreditam nisso. “Só querem negócios, matérias primas e comércio”, defendeu o ex-embaixador mexicano na China, Jorge Guajardo.

Nos últimos anos, entretanto, o Governo chinês e as suas agências impulsionaram iniciativas afastadas do âmbito comercial. “Convidam pessoas para ir à China participar em conferências, expor uma imagem benévola do regime, e os ‘transformam’ em embaixadores de facto do Governo chinês. Frequentemente lemos colunas de opinião na imprensa da região que emulam o discurso feito pelo Partido Comunista da China”, explicou Cardenal, que pesquisou a influência da China em mais de 40 países.

Há um ano Xi Jinping anunciou que nos próximos anos o seu Governo dará as boas-vindas a mais de 10.000 jovens líderes, 500 jornalistas e até 1.500 representantes políticos para participarem em eventos. A China criou Institutos Confúcio em universidades de nove países, para promover a aprendizagem de chinês e da cultura do país, e programas de intercâmbio para estudantes.

Apesar de existir pouca liberdade de imprensa na China, o país e a América Latina forjaram uma estreita cooperação que todo ano realiza um congresso com os principais actores dos veículos de comunicação da região. “As associações, as empresas e o Governo chineses remam na mesma direcção: querem favorecer os objectivos nacionais estratégicos do país”, afirmou Cardenal.

Outras iniciativas são mais explícitas. O Panamá, um aliado tradicional dos EUA, reactivou em Junho as suas relações diplomáticas com Pequim e em Novembro, durante uma visita de três dias do presidente, abriu a sua embaixada na capital chinesa. Os dois países assinaram até doze acordos, alguns dos quais dedicados à promoção cultural e turismo.

Longe de diminuir, o crescimento da China na América Latina é visto como um fracasso da política norte-americana, como disseram os especialistas. Com o possível fim do Nafta, para muitos um acordo vital para a economia dos EUA, a China já se colocou como uma alternativa ao México. Se isso acontecer, a sua sombra surgiria na fronteira sul, aquela que Trump quer proteger com um muro.

15 Dez 2017

China propõe criação de zona de livre-comércio com Celac

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, disse nesta sexta-feira que a China fez uma proposta para a criação de uma zona de livre-comércio com a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). “Já recebemos e estamos a avaliar uma interessante proposta formulada pela China que inclui ideias tão audazes e transformadoras como a promoção de uma zona de livre-comércio entre a Celac e a China”, disse Vázquez durante a seu discurso na sessão de abertura da XI cimeira de negócios China-América Latina e Caribe (China LAC), realizada em Punta del Este.

O presidente uruguaio indicou que esta cimeira servirá como “instância preparatória da segunda reunião ministerial do fórum Celac-China”, que será realizada no Chile em 2018, na qual será avaliada essa proposta feita pelo gigante asiático e na qual se pretende elaborar “um plano de acção conjunto de cooperação”.

Vázquez lembrou que em 3 de Fevereiro de 2018 se completarão 30 anos do restabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Uruguai, e indicou que a melhor homenagem é seguir adiante na relação bilateral e “trabalhar para a relação latino-americana e caribenha com a China”

“Promover a relação bilateral com inclusão e compromisso com a região não é incompatível. Esta cúpula (China LAC) assim como a reunião ministerial Celac-China são, cada uma, instâncias convergentes para continuar a caminhar juntos para benefício de todos”, concluiu Vázquez.

A cimeira de negócios China LAC vai até o próximo sábado e acontece no Centro de Convenções de Punta del Este, um espaço de 5.600 metros quadrados e que abriga 150 pavilhões de empresas e países participantes,

O evento inclui sessões plenárias, paralelas, assim como visitas técnicas, todas actividades que estarão centradas em cinco temas: infra-estrutura; segurança alimentar e agronegócios, logística e energias renováveis, e-commerce e cidades, e serviços globais.

4 Dez 2017

Xi Jinping visita América Latina

O Presidente chinês estará, entre 17 e 23 deste mês, na América do Sul para dar um novo impulso às relações económicas. A viagem de Xi passa desta vez pelo Equador, Peru e Chile

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China quer elevar a cooperação económica com a América Latina para um novo patamar, durante o périplo que o Presidente chinês, Xi Jinping, iniciará pela região na próxima semana, e que inclui visitas a três países.

Entre os dias 17 e 23 de Novembro, Xi vai reunir com os seus homólogos do Equador, Peru e Chile, com quem assinará acordos de cooperação, sobretudo na área económica, visando reforçar os vínculos comerciais e de investimento.

“A relação bilateral está a ganhar novo impulso”, afirmou ontem Wang Chao, vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que a cooperação entre Pequim e a região “continuará a aprofundar-se”.

Trata-se da terceira visita de Xi Jinping à América Latina, desde ascendeu ao poder, em 2012, e será centrada nos países na costa do Oceano Pacífico, com os quais Pequim mantém uma importante relação económica e política.

“A China considera muito importante o desenvolvimento da cooperação económica e comercial com a América Latina e o Caribe”, assinalou Li Baodong, outro vice-ministro chinês.

Li destacou o potencial que existe para investir na “capacidade produtiva” da região, um térmico técnico para a indústria, numa altura em que a queda do preço das principais matérias-primas afecta os países da região.

Pequim importa sobretudo minérios e petróleo da América Latina.

Todos a ganhar

Nos últimos anos, os Governos dos países latino-americanos têm apelado a um investimento no tecido industrial e nas infra-estruturas, algo que convém à China, que procura internacionalizar as suas empresas.

“Ambas as partes são altamente complementares”, afirmou Wang.

Xi visitará primeiro o Equador, onde vai assinar acordos nas áreas de cooperação económica, cultura e judicial, revelou Wang, numa conferência de imprensa na sede do ministério dos Negócios Estrangeiros.

No Peru, além de participar na cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia Pacifico (APEC), entre os dias 19 e 20, o líder chinês realizará uma visita de Estado.

A China é o maior parceiro comercial do Peru e a primeira deslocação ao exterior do Presidente Pablo Kuczynski, após ser eleito em Julho passado, foi precisamente a Pequim.

Os acordos entre os dois países incluem os sectores da mineração, energia, infra-estruturas e financiamento.

No Chile, Xi vai reunir com a Presidente Michelle Bachelet, com quem assinará acordos nas áreas da economia, comércio e comunicações.

Estes acordos “darão um novo impulso” à relação bilateral, disse Wang.

A China tem acordos de livre comércio com o Peru e o Chile e durante o fórum da APEC, em Lima, os países vão discutir a criação de uma zona de Livre Comércio Ásia Pacífico (FTAAP, na sigla em inglês).

Wang Chao insistiu que Pequim vê “positivamente” a América Latina e o Caribe, apesar das recentes “dificuldades”, causadas pela queda dos preços das matérias-primas e fraca procura global.

As dificuldades “são temporais” e a região tem “um grande potencial de desenvolvimento. As perspectivas são boas”, disse.

11 Nov 2016

Festival da América Latina continua com penúltimos dias de filmes

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a penúltima semana. O Festival da América Latina, da Association for the Promotion of Exchange Between Asia-Pacific and Latin America (MAPEAL), continua hoje, amanhã e sexta-feira com um filme por dia na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa), depois de duas semanas em que diversos filmes foram parar ao grande ecrã. Antes do final, marcado para o dia 15 de Setembro, há ainda tempo para ver películas da Venezuela, México e Chile.
Já hoje, às 19h00, é hora de “El Manzano Azul”. O filme da Venezuela é realizado por Olegario Barrera e conta a história de Diego, um miúdo de 11 anos que cresce na cidade, com sérias carências afectivas. Vai para a aldeia, onde passa algum tempo de férias com o avô Francisco, nos Andes Venezuelanos. Mas Diego só viu o avô algumas vezes e, a juntar-se a isto, o ambiente em que passa as férias é diferente do que está habituado: não há televisão, nem telemóvel. Não há luz eléctrica e está frio. Mas há um segredo, numa macieira, que pode mudar para sempre a vida de Diego.

Mar e céu

Amanhã, o cinema é dedicado ao México, com “En El Ombligo del Cielo”. Carlos Gomez Oliver conta, neste filme do qual é realizador, a história de dois estranhos que se cruzam no telhado de um edifício. Uma jovem empresária passa um fim-de-semana inteiro com um homem das limpezas no prédio onde trabalha. O terraço serve como mais do que um espaço físico e passa a ser também um local de partilha e de reflexão, com os dois estranhos a partilharem histórias de vida.
Chega a vez, na sexta-feira, de “El Boton de Nácar”, directo do Chile e dirigido por Patricio Guzman. O oceano. A história da humanidade que ele contém. E uma viagem ao universo. “El Botond e Nácar” versa sobre dois misteriosos botões escondidos no fundo do mar, na fronteira com o Chile. Estes carregam uma memória consigo e até a voz de tantos que viveram antes de nós.
Todos os filmes estão marcados para as 19h00 e têm entrada gratuita. O ciclo de cinema latino da MAPEAL estende-se até 15 de Setembro, com filmes do Brasil, Venezuela, Chile, Equador e Colômbia, entre outros.

7 Set 2016

América Latina | Festival cultural acontece até 15 de Setembro

“O festival Cultural da América Latina 2016” estende-se até 15 de Setembro. Nele vai poder ver exposições de fotografia, demonstrações de culinária, cinema e seminários de literatura. O evento decorre em vários lugares em simultâneo

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á está aí o “O Festival Cultural da América Latina 2016”, orgnanizado pela Association for the Promotion of Exchange between Asia-Pacif and Latin America (MAPEAL). Nele vai poder assistir a uma série de eventos, organizados em diversos locais, que vão desde a cultura à cozinha, fotografia e cinema. A troca de experiências culturais também será um dos objectivos desta iniciativa, que conta com oradores dos países aqui representados.
Integrado neste certame, temos o “American Latin Festival Gourmet”, que arrancou dia 19 e se estende até dia 8 de Setembro. Durante três semanas, chefs oriundos da Venezuela, Cuba e Colômbia vão dar a conhecer diversas iguarias dos seus países. Pode assistir e provar tudo no Grand Lapa.
De 25 de Agosto a 15 de Setembro haverá também demonstrações de culinária de Cuba, Venezuela e Colômbia. O espaço será dividido entre o Instituto de Formação Turística e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Os pratos tradicionais estarão aqui em grande destaque e, se gosta de experimentar coisas novas, esta é uma oportunidade que não pode desperdiçar.
A chef Alejandra Bermudéz vem da Colômbia para dar a conhecer a cozinha do país, mas apenas até 25 de Agosto. A representar a cozinha venezuelana está Inocencio Benito Pacheco Vilória, que ocupa o lugar de Bermudez para uma demonstração de 26 de Agosto a 1 de Setembro, dia em que entra em acção Yoiry Rodrigues Hernandez, que veste a camisola de Cuba até o dia 8 de Setembro.

Fotos e seminários

Uma série de fotografias sobre culinária e bebidas que arrancou a 19 de Agosto, na Torre de Macau, vai estar patente até ao final desta semana. Segue para o Instituto de Formação Turística, onde fica de 29 de Agosto a 2 de Setembro acabando no edifício da Universidade de Ciência e Tecnologia, onde vai estar de 5 a 7 de Setembro.
Ao todo são ainda oito os seminários a que vai poder assistir para ficar a conhecer um pouco melhor países como Chile, Cuba, Equador, Peru, entre outros. Os oradores são diplomatas e os encontros vão decorrer de 25 de Agosto a 15 de Setembro. Terão lugar na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e no IFT. O primeiro orador é Edmundo Bustos Azócar, da embaixada do Chile na China.
Para os amantes do cinema também há boas notícias. De amanhã a 15 de Setembro, tem uma longa lista de nomes para escolher já que tem lugar uma exibição de películas na Fundação Rui Cunha e na Universidade de Macau. “Valentin” da Argentina, “Abril Despedaçado”, do Brasil, “Nostalgia de la luz” do Chile, “Luna de Avellaneda” da Argentina e “Los Hongos” da Colômbia são alguns exemplos do que pode ver gratuitamente.

22 Ago 2016