Protecção Civil | TDM reforça sistema de alertas de evacuação

Os canais de televisão de rádio da TDM vão ajudar a estrutura da protecção civil nos alertas de evacuação durante situações de ‘storm surge’ e tufões. Em simultâneo, vão ser disponibilizados espaços para turistas retidos nos postos fronteiriços

 

[dropcap]M[/dropcap]ais vale prevenir, diz o ditado popular. Neste sentido, para não ter de remediar, os Serviços de Polícia Unitários (SPU) divulgaram ontem que os canais de televisão e rádio da TDM são o novo reforço do aparato de protecção civil durante alertas de ‘storm surge’ e tufões com sinal 8 ou superior. O objectivo é aproveitar a “ampla cobertura e rápida difusão” para transmitir as informações de alerta de evacuação emitidas pelo Centro de Operações de Protecção Civil (COPC) aos residentes e turistas.

O mecanismo vai funcionar simultaneamente com a transmissão de mensagens sonoras de evacuação, em cantonês, mandarim, português e inglês, emitidas por sistemas de som colocados em locais altos. Os SPU revelam que será instalado um sistema de alerta sonoro na Escola Superior das Forças de Segurança de Macau, em Coloane, que se junta aos do Farol da Guia, Taipa Grande e Alto de Coloane.

Estes últimos pontos ficam a ter o dobro dos altifalantes, passando de quatro para oito, cobrindo uma área de dois quilómetros quadrados. Também os 50 postes de videovigilância, situados nas zonas baixas, vão ser equipados com altifalantes. No total, o território ficará com 140 postes equipados com sistema de alerta sonoro, cada um com capacidade para cobrir 50 a 100 metros quadrados.

Segurança operária

O Comandante-geral dos SPU, Ma Io Kun, encontrou-se no início da semana com representantes da FAOM para esclarecer dúvidas quanto aos trabalhos de prevenção e salvamento durante catástrofes.

De acordo com o Jornal do Cidadão, Ma Io Kun realçou o trabalho realizado durante a passagem do tufão Wipha, nomeadamente o destacamento de agentes policiais para os postos fronteiriços, onde se acumularam muitos turistas, para assegurar a ordem pública. De forma a evitar multidões retidas por falta de transportes, Ma Io Kun revelou que foram reservadas áreas nos postos fronteiriços de Macau para acomodar estas pessoas, apesar de as instalações ainda não estarem prontas.

O Comadante-geral dos SPU deixou o compromisso de comunicar com os departamentos relevantes das regiões vizinhas e adoptar medidas para diminuir o fluxo de passageiros durante tufões. Aliás, a suspensão os “autocarros dourados”, que atravessam a Ponte HKZM serviria esse propósito. Uma possível solução mencionada na Assembleia Legislativa por Raimundo do Rosário.

Outra medida anunciada é a criação de um centro de acolhimento junto do Posto Fronteiriço das Portas do Cerco, em parceria com o Instituto de Acção Social.

Ho Ion Sang foi eleito para a Mesa da AL com oposição que foi além do campo democrata

[dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang foi eleito ontem 2.º secretário da Mesa da Assembleia Legislativa com 25 votos a favor. Após o resultado, o legislador ligado aos Moradores prometeu humildade no desempenho das funções: “Agradeço a confiança depositada. Aceito as funções de segundo secretário da Mesa da AL e vou assumir uma atitude de humildade e gratidão para exercer o cargo”, declarou Ho Ion Sang, antes de fazer uma vénia, depois de anunciados os resultados.

No entanto, e ao contrário do habitual nas decisões do hemiciclo no que diz respeito aos lugares da mesa da AL, houve oposição de sete deputados, o que significa que a oposição não se limitou ao campo pró-democrata. Assim, além dos 25 votos a favor, houve três votos em branco e quatro votos em outros candidatos pró-sistema, nomeadamente em Ella Lei, Chan Iek Lap, Vitor Cheung Lup Kwan e Ma Chi Seng.

Esta situação difere em muito do que aconteceu semanas antes, quando Kou Hoi In foi eleito presidente da AL. O candidato pró-sistema teve 29 votos a favor, com dois votos em branco e um voto em José Pereira Coutinho, que pertenceram aos deputados Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Sulu Sou, respectivamente, segundo as versões destes.

Contudo, na eleição de Ho Ion Sang o número da oposição cresceu para sete, ou seja além do campo pró-democrata envolveu mais quatro deputados. A votação é secreta, mas o acrescento de quatro deputados na oposição equivale precisamente ao número dos legisladores ligados aos Operários de Macau (Ella Lei, Lei Chan U, Leong Sun Iok e Lam Lon Wai), que nesta Legislatura, e pela primeira vez desde a criação da RAEM, não têm qualquer representante na Mesa da Assembleia Legislativa. Além disso, ainda são ultrapassados pelo deputado da Associação Moradores, com que muitas vezes disputam eleitores.

Caso se confirme que foi o campo dos Operários que votou contra a eleição de Ho Ion Sang, este é o segundo sinal de mal-estar contra o estado do sistema. Recentemente, também dois pesos pesados da associação que fazem parte do colégio eleitoral para a escolha do Chefe do Executivo, Kwan Tsui Hang e Kong Ioi Fai, optaram por não apoiar o único candidato, Ho Iat Seng.

Debate | Sulu Sou atacou “violência da maioria” que não permite fiscalizar o Governo

Sulu Sou lançou duras críticas aos deputados pró-sistema, incluindo terem dois pesos e duas medidas na percepção que têm da China. Além disso, o pró-democrata destacou a contradição dos legisladores que votam leis que criticaram. Como resultado, levou uma reprimenda do presidente da AL

 

[dropcap]U[/dropcap]m deputado ofendido e uma reprimenda por parte do presidente da Assembleia Legislativa. Foi este o resultado da intervenção de Sulu Sou em que acusou os colegas de dualidade face ao Governo Central e de criarem as suas próprias leis, conforme as necessidades.

Na altura de celebração do 30.º aniversário do massacre de Tiananmen, o campo pró-democrata propôs um voto para recordar as vítimas, cuja discussão foi recusada pelo Plenário.

A decisão foi tomada pelos deputados, depois de opções no mesmo sentido do presidente da AL e da Mesa da AL. Ontem, Sulu Sou atacou a decisão da maioria dos colegas: “Algumas pessoas, apagando quem já foram, só permitem que se congratule missões espaciais, e proíbem uma simples emissão de votos para repor justiça”, acusou.

Ainda em relação às decisões no Plenário, o pró-democrata lembrou uma violação do regimento, nomeadamente quanto à obrigação das reuniões das comissões serem do conhecimento de todos os membros: “O facto é que um deputado (…) apresentou um protesto escrito contra as irregularidades ocorridas nesta Assembleia, e solicitou, nos termos legais, a respectiva publicação no Diário da AL para registo histórico. Porém, houve pessoas que criaram ‘regras ocultas’, regras que não estavam consagradas na lei, para o privar do poder de protesto escrito legalmente previsto”, apontou.

Sulu Sou criticou ainda a maioria dos colegas por defenderem em público a transparência no Governo, mas depois aprovarem todas as leis enviadas, mesmo aquelas em que há clara falta de informação. O pró-democrata recordou que 19 deputados do hemiciclo são eleitos apenas com 7.506 votos, que seriam insuficientes para eleger um membro da AL pela via directa.

Contudo, para Sulu Sou muitos desses deputados fazer parte da “violência da maioria” que recusa as acções dos deputados que tentam fiscalizar o Governo.

O deputado prometeu ainda continuar no seu caminho. “Desde que entrei para a AL, há dois anos, nunca pensei, nem um segundo, em agradar a todas as pessoas (…) nunca me calarei perante restrições e interpretações arbitrárias, pois basta um mau precedente ou deixar que se mantenha uma prática errada para ser mais difícil conseguir a preciosa confiança da sociedade”, prometeu.

Ip ofendido

A questão da legitimidade pela ausência de votos, levou Ip Sio Kai, eleito pela via indirecta, a apresentar um protesto: “O deputado Sulu Sou referiu que alguns deputados não foram eleitos por sufrágio universal. As suas declarações são difamatórias”, protestou. Porém, o democrata recusou a acusação: “Apenas me limitei a dizer um facto concreto”, contrapôs.

Mais nenhum deputado interveio na questão, mas Kou Hoi In, também eleito pela via indirecta, pediu moderação: “Peço aos deputados que não apresentem intervenções que pela sua natureza possam atacar os outros. Cada um de nós entrou neste hemiciclo por vias diferentes.

Mas depois de assumirmos o papel de deputado, somos todos iguais e todos estamos a servir a sociedade”, alertou Kou.

Função Pública | Mak Soi Kun defende emprego público só para patriotas

[dropcap]M[/dropcap]ak Soi Kun pediu ontem ao Governo que melhore a eficiência administrativa para resolver os problemas da população e deu como solução a contratação de funcionários públicos tendo como primeiro critério o amor pela pátria.

“Quanto aos critérios de recrutamento de pessoal, (o trabalhador) deve amar o país, Macau e os seus cidadãos”, disse Mak Soi Kun. O deputado ligado à comunidade de Jiangmen pediu igualmente ao Executivo que elimine os vícios de “não trabalhar para não errar”, “trabalhar pouco para errar menos”, “deixar que os assuntos se arrastem para não tomar decisões e “não pôr em prática as decisões tomadas”.

A interpelação do deputado ficou marcada por um atraso, uma vez que Mak Soi Kun não conseguiu abrir o texto escrito no tablet durante longos segundos.

Trabalho | Lei Chan U quer pedreiros TNR fora de Macau

[dropcap]O[/dropcap] deputado dos Operários Lei Chan U pediu ao Governo que garanta que os trabalhadores não-residentes deixam Macau, devido à redução da procura de mão-de-obra no sector.

Segundo o deputado, o facto de os TNR permanecerem em Macau, enquanto a procura está a cair, faz com que os salários dos locais seja negativamente afectado. “O índice salarial destes (pedreiros locais) atingiu o recorde mais baixo durante os últimos quatro anos e, especialmente desde o segundo trimestre de 2017, o decréscimo foi evidente e a sua subsistência foi gravemente afectada”, justificou na AL.

“Apelo ao Governo para dar mais importância a isto, acompanhar de perto a situação de emprego e de salário dos trabalhadores da construção, aplicar seriamente o mecanismo de saída dos TNR (…) adoptar activamente medidas, para assegurar que os direitos e interesses dos locais e os níveis do seu rendimento não sejam prejudicados pela redução das grandes obras”, afirmou.

Legislação | Votação da lei de habitação social pendente

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa deixou ontem pendente parte da votação na especialidade da nova Lei de Habitação Social, que permite a candidatura a qualquer altura. A questão da idade de 23 anos para as candidaturas causou discussão, mas esse artigo específico já foi aprovado. O resto da votação decorre hoje.

Já a lei que implementa o sistema de certificação do Processo de Kimberley, para tornar o comércio de diamantes mais transparentes, foi aprovada na especialidade. Além destes dois diplomas, foi também aprovada na generalidade um conjunto de alterações ao Regulamento do Imposto Complementar de Rendimentos, que tem como objectivo actualizar a base tributável das empresas. Esta última proposta vai agora ser discutida em sede de comissão.

Guerra Comercial | Lao Chi Ngai pede mais investimento público

[dropcap]O[/dropcap] deputado Lao Chi Ngai apelou ao Governo para seguir com atenção os riscos económicos do agravamento da guerra comercial, que diz já se sentirem na China, assim como os efeitos da situação de Hong Kong, para preparar uma resposta.

“A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos da América continua a aquecer (…). O ritmo de crescimento económico do Interior da China está a abrandar e a pressão negativa económica, a agravar-se, e, mais, na vizinha Hong Kong houve uma série de manifestações violentas que abalaram a estabilidade económica”, começou por destacar, numa interpelação que também foi escrita em nome de Pang Chuan.

“Sugerimos então ao Governo que aumente o investimento nos grandes empreendimentos relacionados com a vida da população, lidere os investimentos e a construção de Macau como centro de turismo e lazer a nível mundial, com participação activa, e recorra à força motriz do crescimento económico, para aumentar a capacidade de luta contra os riscos a longo prazo”, foi acrescentado.

Ambiente | Agnes Lam alerta para lixo acumulado nas praias

[dropcap]O[/dropcap] lixo que se acumula nas praias de Macau, assim como a poluição nas águas levou Agnes Lam a alertar para a situação no plenário de ontem.

A deputada mencionou os casos do lixo trazido para Hac Sá e Cheoc Van, cujas imagens recentes considerou “chocantes” e apontou que os níveis de poluição: “Tudo isto traz um grande impacto para a reputação da nossa cidade.

Para os cidadãos, Macau parece não ter locais para passear, portanto, preferem viajar para o exterior ou ficar em casa com o ar condicionado ligado”, apontou. “A baía de Macau não se deve transformar numa baía de lixo”, alertou.

Fundo soberano | Suspensão de lei valeu chuva de críticas ao Governo

Falta de respeito, desprezo pela opinião da sociedade, interferência nos trabalhos da AL e acusações de irresponsabilidade. Estas foram algumas das críticas feitas ao Governo no âmbito do pedido para suspender a discussão da lei que ia criar um fundo soberano de 60 mil milhões de patacas

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo pediu aos deputados para suspender a discussão da lei que ia criar um fundo soberano com 60 mil milhões de patacas e os deputados acederam. No entanto, a discussão de ontem ficou marcada por várias críticas de diferentes quadrantes. Entre os deputados, apenas Vong Hin Fai, que foi mandatário da candidatura de Chui Sai On, saiu em defesa do Executivo.

O primeiro a abrir as hostilidades foi o pró-democrata Sulu Sou, que considerou que o Governo tentou interferir na agenda do Plenário com o pedido de suspensão da discussão, quando, segundo o democrata, deveria ter retirado a lei.

“Esta prática (de pedir a suspensão de um ponto da ordem dia) não é correcta. Devem ser os deputados a fazer a proposta. Nem na Lei Básica ou no Regimento há uma norma que permita que o Chefe do Executivo envie ofícios para alterar as ordens do Plenário. Será que o Chefe do Executivo está a interferir nos poderes da AL?”, questionou Sulu Sou, eleito com o apoio da Associação Novo Macau. Sobre este aspecto, o presidente da AL recusou haver problemas, porque a decisão de alterar a agenda do Plenário só depende da votação dos deputados.

O facto de nenhum representante do Governo ter estado na discussão do pedido de suspensão do diploma também valeu críticas. “Porque é que o Governo só enviou um ofício? O secretário (para a Economia e Finanças) não devia estar presente para explicar a situação?”, perguntou o jovem deputado. José Pereira Coutinho partilha da mesma crítica: “Fico desiludido com a postura do Governo. Não há membros presentes, pelo menos o secretário para a Economia e Finanças devia estar aqui”, defendeu. Contudo, Vong Hin Fai recusou qualquer falta de respeito:

“O facto de o preponente não estar presente não quer dizer que não haja respeito pela AL. Não estar presente não significa que menospreze a AL”, afirmou.

Apesar de não ter estado presente na discussão, Lionel Leong veio mais tarde a plenário explicar outros pontos da agenda.

Brincar ao monopólio

A crítica mais ouvida na tarde de ontem prendeu-se com o facto de o Governo criar uma empresa para o fundo soberano, sem qualquer explicação ou regulamentos para a estrutura do mesmo, contratação de pessoal e sem ouvir a população.

“O Governo criou uma grande polémica com a transferência de 60 mil milhões de patacas porque não ouviu a população. Há uma grande preocupação com eventuais irregularidades. Estamos a falar de um montante que representa 10 por cento de todas as reservas financeiras!”, afirmou Leong Sun Iok, deputado dos Operários. “O Governo apresentou a criação de um fundo soberano, mas ninguém sabe como ia ser a estrutura ou como ia ser regulado”, apontou.

Por sua vez, Agnes Lam afirmou que o Governo não estava preparado para dar explicações à população e falou de uma conduta irresponsável: “As reservas financeiras pertencem à população de Macau. A decisão sobre quanto deve ser investido tem de passar pela população.

Ao apresentar esta proposta de lei, o Governo não teve qualquer consciência sobre as dúvidas que podia suscitar. (…) O incidente demonstra que há falta de fiscalização e controlo nas empresas públicas”, indicou.

Finalmente, José Pereira Coutinho criticou o facto de o fundo soberano envolver o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC), responsável pelo empréstimo perdido de 212 milhões de patacas à companhia falida Viva Macau. “O FDIC já foi responsável por fazer 200 milhões voarem. E estas mentes (no Governo) querem agora fazer voar mais 60 mil milhões de patacas? Será que o Governo quer criar um novo escândalo como a Viva Air?”, questionou.

“E porque é que só agora se lembraram de ouvir a população? (…) Ao fim de 10 anos este Governo ainda não percebeu a importância de prestar contas aos cidadãos”, concluiu.

Pilotos do raid terrestre Macau-Lisboa relembram a aventura passados 31 anos

Foi há 31 anos que sete homens se fizeram à estrada com o objectivo de fazer o raid Macau-Lisboa. A viagem de jipe incluía atravessar, em 1988, uma China fechada ao mundo, sem telemóveis ou GPS, passando por zonas complicadas como o deserto de Gobi, Himalaias, Paquistão e Irão. O objectivo foi lembrar a presença portuguesa em Macau e o regresso do território à China, que aconteceria 11 anos depois
João Severino partiu com João Queiroga, Jorge Barra, Vitalino Carvalho, José Babaroca, João Santos e Mok Wa Hoi, em três UMMs, nos primeiros dias de Março de 1988.

[dropcap]A[/dropcap] ideia começou a germinar na cabeça de João Severino, à época jornalista da TDM e ex-director do Macau Hoje. Amante da velocidade, Severino sentia-se preso no pequeno território de Macau que não o deixava acelerar. Pensou arranjar jipes, atravessar pelas Portas do Cerco e desbravar caminho. Uma ideia que parecia impossível.

Um dia, no Clube Militar, a coincidência uniu um conjunto de companheiros que partilhavam a mesma vontade. Mexeram-se cordelinhos para angariar apoios públicos e privados, onde se destaca o do empresário Ng Fok e do ex-governador Carlos Melancia, que agilizou muitas questões de ordem prática.

À altura, corria o ano de 1988, só João Severino tinha experiência em automobilismo, tendo chegado a competir no Grande Prémio de Macau. Mas a falta de experiência ao volante não impediu que outros seis companheiros, João Queiroga, Jorge Barra, Vitalino Carvalho, José Babaroca, João Santos e Mok Wa Hoi lhe fizessem companhia naquele que foi o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa. Em 50 dias percorrerem 22 mil quilómetros, com deserto, neve e conflitos pelo caminho. A viagem terminou na Torre de Belém no dia 25 de Abril de 1988, depois de ter partido das Ruínas de São Paulo, em Macau.

“Quando chegámos a Lisboa, Mário Soares (à época Presidente da República) ainda esperou por nós, porque saíamos da capital às 5h da manhã e quase não podíamos andar. Custou-nos mais Covilhã-Lisboa do que Macau-Lisboa, porque a chuva era tanta e intensa que não víamos um metro à frente, com uma estrada horrível. Depois, Mário Soares anunciou que seríamos condecorados e fomos condecorados com ordem de mérito desportivo.”

Anos depois, o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa foi a aventura de uma vida para muitos, e, apesar das inúmeras peripécias, os jipes UMM chegaram intactos ao seu destino.

“Naquele tempo, só para arranjar vistos e autorizações… o Irão estava em guerra com o Iraque, o Paquistão com o Afeganistão, e íamos atravessar a China pela primeira vez, quando o país era muito fechado. Não havia hotéis, telemóveis, helicópteros de apoio. Foi uma expedição que hoje, passados tantos anos, é considerada única no mundo”, recorda João Severino.

Na China, todo o trajecto ficou definido pelas autoridades, como recorda João Queiroga, outro dos pilotos, à época presidente do Instituto do Desporto.

“Durante ano e meio, a China negociou connosco porque era a primeira vez que passavam no país viaturas estrangeiras conduzidas por estrangeiros. A própria rota na China teve de ser negociada. Depois perceberam quem éramos e qual o nosso objectivo e, pela primeira vez, a China autorizou a nossa passagem por um trajecto que eles decidiram.”

Isso implicou proibições de passagem. “Não podíamos passar pela trajectória até à URSS e também não podíamos ir muito para sul, porque havia ali problemas com a fronteira. Assim, seguimos pelos Himalaias, na única estrada de ligação por terra entre a China e o Paquistão.”

“A viagem tinha uma simbologia muito grande. Queríamos fazer a ligação entre as Ruínas (de São Paulo) e a Torre (de Belém), e havia o simbolismo da presença lusa em Macau.” – João Queiroga

Deserto e neve

João Queiroga, hoje a residir em Portugal, foi um dos nomes mais envolvidos na organização da viagem, e fala do enorme simbolismo da odisseia de estrada. “Em 1986 houve uns aviadores que tentaram fazer a ligação entre Macau e Lisboa por monomotor, mas tiveram tanto azar. Quando estavam quase no fim da jornada, o avião aterrou num campo de arroz em Cantão.”

Queiroga foi uma das pessoas que se encontrou com Jorge Barra e João Severino naquele dia decisivo no Clube Militar.

“A viagem tinha uma simbologia muito grande. Queríamos fazer a ligação entre as Ruínas (de São Paulo) e a Torre (de Belém), e havia o simbolismo da presença lusa em Macau. Também fazíamos a representação da comunidade portuguesa em Macau nas celebrações do 10 de Junho em Lisboa.” Um ano antes, em 1987, havia sido assinada a Declaração Conjunta que determinava que Macau seria território chinês em 1999.

Severino assegura que “o raid foi muito difícil”, e que pelo caminho viram a morte “mais de cinco vezes”. “Há uma altura em que chegámos ao deserto do Gobi (na China), com 70 graus de calor e 75 graus dentro do jipe. O Gobi tinha quase três mil quilómetros e a respiração começava a faltar, porque não tínhamos ar condicionado.”

Depois, nos Himalaias, o problema foi o oposto. “A neve é uma coisa horrível, e chegámos a ter três metros de altura de neve acima do jipe. Não sabíamos onde estava a estrada, e um de nós ia à frente a bater com o ferro para ver onde estava duro. Porque caindo para o precipício, e eram precipícios de 500 metros de altura ou mais, morríamos logo”, acrescentou Severino.

Vitalino Carvalho, médico urologista reformado, é o único dos pilotos que ainda reside em Macau. Ao HM, recorda a passagem pelo “Khunjerav Pass, a 4,693 metros na fronteira entre a China e o Paquistão”, depois de terem deixado o último posto fronteiriço chinês. “Durante horas, sozinhos na imensidão branca da neve que tombava, seguido pela descida da montanha até ao vale do primeiro posto paquistanês, por estradas ladeadas por precipícios profundos, onde só cabia um carro.”

Os pilotos partiram, mas demoraram a dar notícias a quem tinha ficado à sua espera. “Só ao fim de dez dias é que conseguimos um telefone para ligar para Macau e dizer que estava tudo bem connosco. As famílias ficaram contentes, foi uma festa na rádio”, recorda Severino.

O Irão e os blue jeans

Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.”

Chegados ao Irão, os sete pilotos passaram por uma série de peripécias. As fronteiras constituíam quase sempre um problema. “Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.”

Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.”[/caption]

No país dos aiatolas, os três jipes eram mandados parar a cada 100 quilómetros por “miúdos drogados, cheios de cocaína”. Mas foi aí que se depararam com outra curiosidade.

“Tínhamos de beijar a fotografia do aiatola. Perdi a cabeça quando vi um dos miúdos com uma arma que eu conhecia, e que me tinha espezinhado o passaporte. Foram os meus colegas que me seguraram. Depois percebi que Portugal, na língua do Irão, é laranja, e aí disseram-nos que espezinhavam os passaportes gozando com isso, como se fosse uma bola. E ainda por cima, os nossos fatos eram laranja. Riam, riam.”

A passagem pelo país implicou ainda a dormida numa prisão. “Atravessámos o Irão com uma grande dificuldade. Dormimos no átrio de uma prisão, porque era o sítio mais seguro. As autoridades mandaram-nos para lá e dormimos num anexo. Depois guiámos mais 1200 quilómetros quase, eu sozinho a conduzir, já não via nada, porque tinha os meus companheiros doentes.”

A condição feminina no Irão foi uma novidade para os pilotos. “Recordo o facto de nos depararmos com todas as mulheres do Aiatola Khomeini vestidas com o hijab e a roupa larga a cobrir o corpo de forma a não deixar mostrar as curvas femininas”, frisou Vitalino Carvalho. Este recorda também “o artifício feminino de na recepção do Consulado de Portugal, irem em linha directa para a casa de banho, a fim de vestirem e calçarem o último grito da moda de Paris”.

Às portas da Europa, a Turquia também constituiu um problema. “Foi muito mau porque tínhamos de parar a toda a hora. Os polícias só queriam tabaco americano. Inventavam coisas para pararmos, íamos para a prisão, depois dávamos tabaco e seguíamos”, contou Severino.

A partir daí, as dificuldades foram diminuindo. “A Bulgária foi uma surpresa, um país muito bonito. Jugoslávia fantástico, já aí não queriam nada com a URSS. Era um país diferente, com as mulheres mais bonitas do mundo. Em Itália descansámos porque vínhamos muito cansados.

Ainda hoje tenho problemas de costas por causa disso, porque no deserto não se pode andar devagar, senão o jipe atola. O jipe dava 115 quilómetros por hora, como se fossemos no ar”, referiu o antigo jornalista.

Marreiros relatava tudo

“Custou-nos mais Lisboa-Covilhã do que Macau Lisboa, porque a chuva era tanta e intensa que não víamos um metro à frente, com uma estrada horrível.” – João Severino

A viagem contou ainda com o apoio dos irmãos Marreiros. Se Vítor, designer gráfico, tratou da decoração dos jipes UMM, Carlos Marreiros, arquitecto, esteve quase a embarcar na viagem.

Não o fez por motivos pessoais, mas ajudou nos relatos para os media e, mais tarde, ajudou na edição do livro.

“Foram quase dois meses, aparecia sempre na televisão e nos jornais também. Apelidaram-me de raidista platónico, porque estava no ar, mas não sentia as dificuldades da viagem”, adiantou ao HM Carlos Marreiros.

Por telefone, os pilotos iam relatando tudo ao arquitecto. “Fui tomando notas do que eles me diziam e do que iam fazendo. Diziam-me que tinham encontrado minhotas em terras do deserto do Gobi, depois contactaram com guerrilheiros e houve um encontro engraçado no Irão. Eles conheciam Portugal como orange, a terra da laranja, e os citrinos tem origem nos países árabes. E quando souberam que os jipes eram portugueses foram muito bem tratados”, aponta, numa referência à história de João Severino.

O livro acabaria por ser publicado pelo Instituto Cultural (IC). “Fui apenas o braço-direito, porque as histórias são deles. Bons tempos, tinha tempo para conviver.”

Décadas depois, e no ano em que Macau celebra 20 anos de transferência de soberania para a China, Vitalino Carvalho fala de um enorme companheirismo que vingou ao longo de toda a viagem. Carlos Marreiros assume que, se fosse feita hoje, todos os olhos do mundo estariam postos em Macau.

“Não tínhamos nenhum propósito comercial, queríamos apenas conviver, fizemos tudo pelo gosto pela aventura e pelo desenrascanço. Mas havia um propósito cultural. Estávamos longe de pensar que os jipes UMM tivessem a performance que tiveram, sem avarias de maior. Se acontecesse num país estrangeiro seria muito noticiado e seria objecto de exploração de marketing. Hoje, com as redes sociais, teria mais impacto.”

Vitalino Carvalho não duvida de que hoje voltaria a fazer o mesmo. “Quando partir o próximo carro, de preferência um UMM, mesmo velhinho e em segunda mão, dá-se um jeito e lá vamos outra vez.”

Pequim pondera tomar medidas para resolver situação em Hong Kong

[dropcap]U[/dropcap]m representante do Governo chinês em Hong Kong alertou esta quarta-feira que Pequim está a ponderar tomar medidas na região, que enfrenta “a situação mais grave desde a transferência da soberania” para a China. O chefe do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, Zhang Xiaoming, falava a representantes da sociedade de Hong Kong, na cidade chinesa de Shenzhen, que faz fronteira com o território.

Os protestos, cada vez mais violentos, estão a ter “grande impacto na sociedade”, disse Zhang aos 500 participantes, que incluíam membros dos órgãos legislativos e consultivos de Hong Kong e do Governo central. “Pode-se dizer que Hong Kong enfrenta a situação mais grave desde a transferência de soberania”, descreveu.

O responsável afirmou que o Governo central está “muito preocupado” com os protestos que há dois meses abalam Hong Kong e que está a considerar tomar medidas.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.

A China, até à data, não interferiu directamente, embora através de editoriais na imprensa oficial e declarações das autoridades, tenha condenado os manifestantes e organizadores dos protestos, apelidando-os de criminosos, palhaços e radicais violentos. Pequim responsabilizou ainda a interferência externa, nomeadamente os Estados Unidos, por inflamarem os protestos.

As autoridades têm ainda apontando um artigo na lei de Hong Kong que permite que tropas estacionadas na cidade ajudem a “manter a ordem pública”, a pedido do governo de Hong Kong.

Na segunda-feira, os maiores protestos em décadas interromperam o metropolitano da cidade e levaram ao cancelamento de mais de 250 voos, enquanto manifestantes se espalharam pelo território, bloqueando várias estradas.

Várias centenas de advogados pediram ontem uma reunião com a secretária da Justiça, Teresa Cheng, e organizaram um protesto silencioso. Margaret Ng, advogada e ex-parlamentar, disse que quer-se reunir com Cheng para obter a garantia de que não há motivos políticos para processar os detidos nos protestos.

Cerca de 500 pessoas foram presas desde o início dos protestos, em Junho, e dezenas de pessoas acusadas formalmente de tumultos, o que pode resultar numa pena máxima de 10 anos de prisão.

“Uma das coisas mais importantes num Estado de Direito é que a acusação não seja abusiva, porque se o for, torna-se o mais poderoso instrumento de opressão”, observou Ng.

Ela e outros advogados instaram os manifestantes a evitar a violência, que pode prejudicar a sua causa. O advogado Dennis Kwok defendeu ainda que as advertências do governo sobre medidas duras contra os manifestantes apenas inflamam a revolta do povo. E pediu uma investigação independente sobre as acções da polícia e dos manifestantes.

Um outro funcionário chinês disse na terça-feira que é “apenas uma questão de tempo” até que os responsáveis pelos protestos sejam punidos, indicando que Pequim adoptará uma linha dura contra os manifestantes e que não planeia negociar reformas políticas.

“Gostaríamos de deixar claro ao pequeno grupo de criminosos sem escrúpulos e violentos que estão por detrás: aqueles que brincam com fogo serão queimados”, disse Yang Guang, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau.

Fundo soberano | Kou Hoi In demarca-se da retirada do diploma

[dropcap]K[/dropcap]ou Hoi In, recentemente eleito presidente da Assembleia Legislativa (AL), disse ontem aos jornalistas que nada tem a ver com a retirada da proposta de lei que iria estabelecer um novo fundo soberano e obrigar a mexidas no orçamento definido para este ano.

O deputado adiantou que o Executivo ouviu as diversas queixas dos cidadãos sobre a criação da nova empresa de investimento, pelo que decidiu realizar uma consulta pública sobre esse assunto.

Sobre o prolongamento da discussão da proposta de lei de combate à criminalidade informática, Kou Hoi In referiu que ninguém sabe que o que vai acontecer no futuro, e que há coisas que não se podem controlar de forma prévia.

“Mesmo que o secretário para a Segurança, por algum motivo, não possa assistir à reunião, e por isso tenha pedido para ser retirada a proposta de lei deste debate, nada tem a ver com a possível controvérsia do diploma”, relatou.

Leonel Alves recusa interpretação “radical” do juramento de Kou Hoi In

[dropcap]L[/dropcap]eonel Alves considerou desnecessária a repetição do juramento de Kou Hoi In, para a tomada de posse como presidente da Assembleia Legislativa. Segundo advogado e ex-secretário da Mesa da AL, o facto de Kou Hoi In não ter dito “Macau” na segunda das três vezes que a palavra surge no juramento não tem impacto para o significado do acto, uma vez que está implícito que se estava a referir à RAEM.

“Na República Popular da China só há duas Regiões Especiais Administrativas, Macau e Hong Kong. A cerimónia ocorreu em Macau por isso está implícito que ele se está a referir a Macau.

Ele não estava a fazer o juramento em Hong Kong…”, afirmou Leonel Alves, ao HM. “Não vamos fazer uma interpretação do juramento tão radical e fundamentalista”, acrescentou.

Ainda de acordo com Leonel Alves o primeiro juramento decorreu publicamente e solenemente pelo que a RAEM já estava implícita no juramento, o que faz com que os requisitos do juramento estivesse cumpridos. Foi a 16 de Julho que decorreu o primeiro juramento, que acabou por ser repetido na tarde de 20 de Julho, pelo facto de Kou Hoi In não ter dito Macau.

No lugar certo

O também membro do Conselho Executivo deixou ainda elogios à escolha de Kou Hoi In para presidente da Assembleia Legislativa: “Acho muito bem. É meu amigo e tem muita experiência. […] Tive oportunidade de trabalhar com ele na Mesa da Assembleia Legislativa. Estivemos juntos na noite da transferência da Soberania, na altura com o vice-presidente Lau Cheok Vá, eu como 1.º Secretário da Mesa da AL e ele como 2.º Secretário da Mesa. Temos uma amizade com muitos anos e tenho fé que vai desempenhar um excelente trabalho nas futuras legislaturas”, afirmou.

Leonel Alves foi deputado entre 1984 e 2017 e se tivesse continuado na AL poderia ter sido um dos candidatos à posição de presidente, uma vez que tinha uma experiência de 33 anos ininterruptos. Contudo, recusou comentar o cenário: “O cargo exige muitos requisitos a longevidade não é o único critério. Não coloco esse cenário em consideração. Qualquer um dos deputados que esteja no hemiciclo pode ser eleito”, apontou.

Medicina Tradicional Chinesa | Lam Lon Wai critica parque em Hengqin

[dropcap]L[/dropcap]am Lon Wai, deputado à Assembleia Legislativa e presidente da direcção da Associação Choi In Tong Sam apontou, num comunicado, que o Parque Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong – Macau, localizado na Ilha de Hengqin, não tem conseguido proporcionar oportunidades de emprego suficientes para os médicos oriundos de Macau, pedindo um fomento da indústria dentro do contexto da Grande Baía.

O deputado pede que o parque seja aproveitado pelas autoridades para estabelecer pontes com Macau e os países de língua portuguesa, com o objectivo de promover não apenas o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa, mas também a produção de medicamentos, pois Lam Lon Wai defende que ambas as áreas estão em fases diferentes de desenvolvimento.

Nesse sentido, o Governo deve tomar medidas a este nível, indica. O responsável frisou também que deve ser reforçada a formação e o apoio aos jovens médicos dessa área.

Neste sentido, o deputado à AL pede que seja uniformizado o licenciamento destes profissionais, para que se possa elevar a capacidade dos médicos, pedindo também uma alteração dos regulamentos em vigor. Isto porque, na visão de Lam Lon Wai, as diferenças nas normas de reconhecimento profissional e formação fazem com que a identificação profissional obtida seja considerada insuficiente em Macau, o que restringe seriamente a indústria.

Bi-invisibilidade

[dropcap]A[/dropcap] bissexualidade é invisível, mas muito presente nas formas de relacionamento romântico e sexual contemporâneos. A literatura parece concordar que isto se deve a um limbo algures entre o mundo heterossexual e o mundo homossexual, onde a bissexualidade se encontra. Estes mundos estão melhor limitados pela sua característica monossexual (ou só do mesmo sexo ou do sexo oposto) tornando-os muito mais fáceis de reconhecer e assumir. A bissexualidade, por sua vez, fica num não-lugar de identificação imediata. Durante muito tempo que se julgou que nem existia – era só uma fase de transição de um mundo para o outro.

Estes mundos apresentam-se numa espécie de sistema binário contrastante, em que a homossexualidade é o contrário da heterossexualidade. A necessidade de desconstruir a expectativa de que todos os relacionamentos são entre um homem e uma mulher, ou que a família se faz exclusivamente através desta relação, resulta nesta dicotomia que tem como intuito dar espaço a formas para além das heteronormativas. Este processo implica a constante politização de identidades e denúncia das dinâmicas de poder que definem o subalterno e o dominador. Mas a bissexualidade não é claramente uma nem outra e por isso fica perdida nesse jogo de poder e de legitimidade. Fica perdida entre o mundo do privilégio heterossexual e o mundo de reivindicação da homossexualidade. Navegar nestes dois mundos possibilita uma complexa posição de conforto e desconforto – e de muita dificuldade de reconhecimento – porque ‘normalmente’ ou se é uma coisa ou outra. A falta de reconhecimento pelo outro heterossexual ou homossexual faz com que sejam exigidas provas à não-monossexualidade.

Porque os bissexuais, se não forem poliamorosos (que podem ser), ou estão numa relação homossexual ou heterossexual – e aí espera-se que preencham os requisitos ou de um ou de outro.

Só que a bissexualidade não é só outra forma incompreendida de viver a sexualidade. Há quem a encaixe nas novas formas de heterossexualidade: é de algum modo expectável (graças à pornografia?) que as mulheres sejam bissexuais. Esta bissexualidade apresenta-se como comportamento sexual que deve ser visto/avaliado/admirado. Ao que a literatura chama de bissexualidade performativa – porque serve de performance ao outro-heterossexual. O que nos leva à questão – será que a bissexualidade está a romper com a perspectiva dicotómica do sexo ou está a dar mais força ao patriarcado? A resposta certa para ajudar a navegar este dilema da bissexualidade terá que partir da definição que lhe damos – só que ela continua invisível. Esta invisibilidade tem criado barreiras na maior congruência entre a identificação da orientação sexual e o comportamento sexual das pessoas. Pessoas tidas como heterossexuais que têm também parceiros do mesmo sexo não se identificam como bissexuais (e vice-versa) porque há dificuldade em mobilizar a bissexualidade para além dos mundos sexuais nossos conhecidos.

A bissexualidade está bastante alinhada com as expectativas de um contínuo sexual, onde as pessoas se poderiam posicionar entre mais heterossexual ou mais homossexual. A proposta inicial do Kinsey e a visão pós-estruturalista e mais sofisticada da teoria queer, tenta apresentar a identidade sexual e de género de forma fluída, contínua e em transformação. Num mundo ideal (um mundo muito mais justo do que o actual) esta fluidez talvez fosse menos complicada de ser entendida e os espaços deste contínuo seriam a única posição possível.

Palas nos olhos

[dropcap]A[/dropcap] descaracterização que está a ser feita da larga maioria dos manifestantes de Hong Kong provoca-me urticária pela injustiça que implica. Já foram agentes da CIA, agora são terroristas, emissários de Steve Bannon (entrando em contradição com a tese CIA), putos mimados (apesar dos protestos serem transversais à sociedade), putos sem casa e em desespero socioeconómico, estudantes influenciáveis, lavados cerebralmente por influências externas que nunca se materializam, manifestantes profissionais pagos pelo Dr. Evil.

Tudo, mais alguma coisa e coisa nenhuma em simultâneo. Pelo meio, tapam-se os olhos à coisa mais evidente para alguém que vai a Hong Kong e que tem lá amigos. Existe uma identidade Hongkonger que em muitos aspectos é antagónica ao patriotismo forçado que não admite crítica ou dissidência.

Além disso, há um sentimento de desespero que se agudiza à medida que direitos e liberdade entram em erosão. Depois temos um Governo que não existe além da polícia e da força, que não tem qualquer interesse em ouvir as preocupações da população, mesmo quando 1/3 vem para a rua mostrar o seu desagrado.

A mera suspensão da lei da extradição deixa a pairar um fantasma legal que abre portas ao envio de pessoas que vivem no segundo sistema para um país onde a justiça rapta, espanca para arrancar confissões, detém sem acusação e que em tudo é distante de um Estado de Direito.

Em Macau vive-se com palas nos olhos, sem noção do que é o primeiro sistema, mas ele vem aí. Talvez nessa altura percebam porque se manifestavam aqui ao lado.

Náufrago na hora

Djairsound, Lisboa, 25 Julho

 

[dropcap]N[/dropcap]a certeza de que tudo fui,/ sou eu mesmo o poço e a cisterna/ onde me banho e a idade flui/antecipando pó e poterna.// Mas seria tão bom como já foi/ ter sete anos e não este ar de boi, pesados cornos de lucidez intacta, tal pedra que o pensamento impacta.»

Encerra com estas duas quadras a «Canção da Lúcida Idade», apenas uma das muitas, junto com outros tantos fados, que dão volume a este «Arder a Vida Inteira», do José Luiz [Tavares].

Recordo-me de as ver nascer em caderno pautado, a letra redonda e a lavrar sulcos de tão vincada, com a folha a mostrar o desgaste de uma mão que se roça inteira, pois o canhoto torna destarte antena a caneta, orientada aos nortes ou às alturas. Bebericando a sua preta, garantia-me que era intervalo no que vinha erguendo. Queria experimentar com respiração mais sôfrega, procurando aqueles temas fadistas, usando a popular quadra, aspirando a cantares. Sendo do rigor, o Zé Luiz nem descansou até haver composto boa dezena de poemas, afinal camonianos, a navegar pela cidade, pelo destino, pela morte e pelo amor, combo em variantes que sobem ao fescenino. E não pôde deixar fora o seu característico trabalho de linguagem, nas associações improváveis ou no léxico desenterrado que nem tesouro. E os versos tanto abrasam como sopram as cinzas do que vamos sendo. Coincidências, tal a do encontro com o mano Bruno [Portela], que assina a enigmática fotografia da capa [algures na página]. Afirma-se, assim, estilo a perseguir no futuro, resultante da relação do poeta com aquela arte de capturar fragmentos de real.

Natural, portanto, que a celebração fosse desalinhada e em casa onde a mistura de comida e dança e bebida e canção obedece ao batuque. As mesas estavam prontas para a janta, o convite bem comportado anunciava o bom-leitor Patrak, também chamado de Luís Carlos Patraquim, a apresentar particularidades em torno da fogueira sem nunca se queimar, mas talvez tenha sido esse o único momento previsto a acontecer tal e qual. Enfim, para além das maravilhosas mornas da Maria Alice, que fizeram tremer as fundações de Santos às Janelas Verdes. Logo antes e a pés juntos atreveu-se o Aurelino [Costa] a entrar em noite, que seria tanto dele, com leitura ouvida em África. Aurelino sabe domesticar o mar dos convívios e atirar-se da onda mais alta. Aconteceu mais para o fim da noite, com o Djair, dono da casa, ao leme de uma precursão capaz de acordar os deuses. Detalhes, dirão, junto com outros abrilhantando a noite, mas escapam a essa classificação a leitura do Valério [Romão] e o bailado surpreendente, e de risco por improvisado, de Mano Preto. Se a isto somarmos as palavras abysmadas do Zé Luiz – chamou-me «seu editor» –, dou a noite por ganha. De «Canção da Danação II»: «noites de sismos bang bang/outro rosto por mim descora/ rudes tenazes pulso de sangue/ fazem-me náufrago na hora».

Calcutá, Lisboa, 25 Julho

No intervalo de contas por acertar, no sentido dos ponteiros do relógio, de cobrança a contra-cobrança, e com puxão de orelhas a começar o dia, concedo-me a tusa dos projectos. Por que raio, pergunto-me têm tanto a ver com bairro-alto? Começou antes, mas desembocou à mesa da noite com o José Xavier [Ezequiel] a tentar arrancar-me uma data para as suas lombadas e o Paulo [José Miranda] a anunciar mais poesia, ainda que o convidado fosse o José Ricardo [Nunes], em tarefa de hortelão, a ajeitar courelas, arrancando ervas daninhas, ou a regá-las, metáforas que nem soas apropriadas, antes fosse de carácter aeroespacial, metesse planetas e outras figuras do espaço distante por desbravar, i.e., por trazer próximo. Devia ter distribuído antes aos convivas, incluindo os que se ajuntaram brevemente, o Hiren [Tambacal], anfitrião-mor, e o Bernardo [Trindade], o seu «Clássico» (ed. Companhia das Ilhas). Nem por isso se deixaram de trocar leituras em voz alta, recordações do Bairro, opiniões políticas, duas ou três alegrias, além das tristezas. O Zé Ricardo é dos poetas mais fingidores que me foi dado nascer com. Sob a ameaça do nada, ludibria: nem os versos nos salvam e a literatura enfarta, mas com amigos algo muda. «Estão as quatro mesas cheias na Casa Antero/ e eu de pé ao balcão no canto/ mais escuro, a beber Memória/ enquanto espero pelos meus amigos./ Espero e escrevo que espero e escrevo./ E rapidamente me farto de tanta literatura, anseio/ é por conversa.

Sozinho,/ neste canto escuro, escrevo e espero/ que algo se interrompa em mim,/ que as palavras percam de vez/ o pouco sentido que lhes resta.» Decidamos, entre nós e sempre no escuro, que palavras aprisionam o sentido.

Campos Trindade, Lisboa, 25 Julho

Estranhamente, ou nem por isso, almejar a Lua vem significando tocar desejos nas suas múltiplas dimensões, nas várias esquinas de luz e concreto. Somos ora astronautas, ora satélites de estranho sistema solar. Este propósito que me é trazido esta tarde parece ser de puro gozo, nascido de memórias todas atiradas ao futuro, coisa de beira-rio hoje e bairro-alto ontem, gesta da noite sempiterna, quando a ternura se sabe esconder no tempo.

Estranhamente, ou nem tanto, o mano mais novo, Bernardo [Trindade], põe-me nas mãos o N.º 2, Tomo 1.º, de finais 1800, da «Revista Illustrada», do Luiz Antonio Gonsalves de Freitas. No amarelo do tempo a lamber o papel inscreve-se poema do dilecto Gomes Leal, ferroada intitulada «A Lua Morta». E troca-me, dramatica e simbolicamente, as voltas. Assente em premissa científica, anuncia morto esse espelho dos nossos quereres, vontades e sentires. «Ha milhões d’annos já que esse alvejante rastro,/ que ella espalha nos céos e sobre o mar profundo,/ não é mais que o lençol do cadaver d’um astro,/ do espectro d’um planeta e o phantasma d’um mundo.// Ha milhões d’annos já que, em torno á nossa esphera,/ o morto globo gyra, errante, solitario,/como o vulcão d’um astro extincto e sem cratéra, / — Frio espectro de luz que arrasta do seu sudário!»

E seguem-se em cadência repetitiva evocações de catástrofes, um despropósito de descrições fúnebres e funestas, ainda que no inverso da nossa Terra, desembocando em diagnóstico fatal: eis «sombra vã», «cidade morta». Para quê, então, dirigir-lhe as mãos erguidas, em choro ou ternura?

«E, no entanto, alma humana ! eterna atormentada!/ tu quizéras vêr perto a morta nau errante,/
quizéras abordar á extranha nau geláda,/ com seu porão sem voz, seus mastros de brilhante.// […] «Tu quizéras sarar as affliccções internas,/ n’essa imóvel região sem ar, nem movimento,/ n’esses bosques sem voz e noutes sempiternas,/ — onde não sopra nem um ai, nem folha, mar, nem vento !…// «Tu quizéras, emfim, da Vida soluçante/ ver quebrar-se o rumor n’esse silencio enorme.»

No «silêncio enorme», na «região sem ar», na «nau gelada», queremos que aí desague o rumor da Vida soluçante. Em vão. E o poeta não anuncia conforto, antes anuncia os pedaços de «noute eterna» que já habitam os nossos dias. Os astros estão condenados. «Descança, Homem, porém ! — Como uma vil lanterna,/ morrendo, um dia, o sol regelerá no Oriente./ E n’esse cataclysmo e horror de noute eterna,/— as boccas se abrirão n’um só grito pungente.»

Calcutá, Lisboa, 1 Agosto

A maré de lágrimas paralisa-me na cadeira, quando os elementos pediam a brisa do abraço. O futuro adivinha-se enregelado. Fiz-me sensato, racional, pesando as palavras de modo a evitar do campo minado das emoções. Mas chegará para estabelecer um plano sobre o qual assentar passos, percursos, consolos? Valeu-me, madrugada dentro, longa conversa lunar, das que ajudam a sarar aflições. Assim do nada.

Regressar

[dropcap]O[/dropcap]lhem, amigos. Não sei se acontece convosco mas eu aproveito o balanço e deixo a confissão: o que mais gosto das férias é do regresso. A sério. Aliás, para ser ainda mais sincero, já que aqui ninguém nos ouve: o que eu gosto mais de todas as partidas, de todas as viagens, afectivas ou geográficas, colectivas ou individuais é sempre o mesmo: o regresso.

Como agora. Já me fazia falta voltar a estas palavras que interrompi por vontade própria e necessidade. Mas a sua ausência não foi nem nunca será tão gratificante como o regressar à escrita.

Assim com tudo, desde miúdo. As férias escolares, quando era criança, prolongavam-se por uma eternidade em que cabiam muitas aventuras e descobertas. Mas chegava sempre aquela altura terrível para os meus pais em que me lamentava pelos cantos, suspirando com uma frase cara aos supermercados: o regresso às aulas. Na Irlanda – um país que amo e o que mais visitei – cheguei a escrever para casa: “Não volto”. Oh, ilusão juvenil! Claro que voltei – e o ter voltado foi o melhor de ter partido, até porque me deu a infinita possibilidade de regressar.

Gosto de regressar, sim. Gosto de me confortar numa ordem doce das coisas: um céu conhecido, um gesto previsível, uma rua já palmilhada. Não me escuso ao desconhecido – bom, não é verdade, cada vez tenho menos paciência, mas adiante – mas não sei viver sem o familiar.

O meu filósofo político de referência, Michael Oakeshott, diagnosticou há muito esta disposição natural num célebre ensaio, On Being Conservative. Mas na verdade a razão funda desta disposição é – como qualquer conhecedor do conservadorismo britânico saberá – o medo da perda. E para isto não é necessário aderir a uma mundividência específica: começa e acaba em ser humano.

O que mais me comove, então, é o voltar não a algo que se abandonou mas a algo que nunca se deixou. E reconhecê-lo, e comprazer-se nisso mesmo. O regresso é um combate ao tempo. É uma espécie de reclamação de imortalidade que só terá lugar se depois de partirmos deixarmos qualquer coisa a que alguém possa regressar. O poeta Shelley, por exemplo, sabia-o : « A mudança é certa», escreveu. «A paz é seguida por distúrbios; a partida de homens maus é seguida pelo seu regresso. Tais recorrências não deveriam constituir ocasiões para tristeza mas sim realidades para produzir conhecimento, para que pelo meio possamos ser felizes. »

O regresso é a razão da partida e de todas as pausas. As férias, com a utopia do descanso e de “pormos em dia” tudo o que não tivemos coragem de fazer antes, são uma falácia. Não há férias da vida.

Exposição | Santiago Ribeiro leva pintura surrealista a Pequim

[dropcap]O[/dropcap] pintor surrealista português Santiago Ribeiro mostra pela primeira vez a sua arte em Pequim, na Exposição Internacional de Arte Contemporânea “Arts Week in China”, que decorre de 23 a 28 de Agosto.

Artistas de vários países participam nesta mostra, cujo programa pretende familiarizar os moradores da República Popular da China com as modernas tendências nas artes visuais e decorativas, segundo o comunicado de imprensa.

Depois de uma digressão internacional que passou por Belgrado na Sérvia, São Petersburgo na Rússia, Nova Iorque nos EUA e agora Pequim na China, Santiago Ribeiro apresenta ao público chinês a pintura a óleo “Industrial of Apples”, título da tela surrealista escolhida para esta participação.

O artista português, nascido em 1964, é natural de Coimbra e algumas das suas obras fazem parte da colecção permanente do Museu Nacional Machado de Castro, na cidade dos estudantes. Santiago Ribeiro é também o fundador e promotor do projecto artístico internacional “Surrealism Now”, criado em 2010, organizado com o apoio da Fundação Bissaya Barreto.

A arte de Santiago Ribeiro passou já por muitas cidades como Berlim, Moscovo, Nova Iorque, Dallas, Los Angeles, Mississippi, Varsóvia, São Petersburgo, Nantes, Paris, Londres, Florença, Madrid, Granada, Barcelona, Lisboa, Belgrado, Bucareste, Tóquio, Taipé, além de diversos locais no Brasil e em Portugal.

A “Art Week in China” é organizada pela União das Artes da Eurásia, a Fundação Mundial para as Artes e o Centro Cultural Russo em Pequim.

Concerto | Pixies pela primeira vez em Hong Kong a 3 de Março

Os Pixies têm um concerto marcado em Hong Kong para o dia 3 de Março. Será a primeira vez que a banda de Black Francis e Kim Deal toca na cidade vizinha, ainda para mais com um disco novo na bagagem. Os bilhetes estão à venda a partir de hoje

 

[dropcap]E[/dropcap] pronto, é oficial. Trinta e três anos depois da formação, os Pixies têm um concerto marcado em Hong Kong, no dia 3 de Março, às 19:30, no KITEC Rotunda 2, como parte da tour Asia 2020. Apesar da bendita data ser daqui a sensivelmente sete meses, os bilhetes vão ser postos à venda hoje, a partir das 14h, e custam 590 dólares de Hong Kong.

Mas mais do que detalhes de agenda, importa referir a importância que a banda de Boston teve no panorama do rock alternativo dos anos 90. Sem os Pixies seria difícil imaginar a sonoridade dos Nirvana, Smashing Pumpkins, Radiohead, por aí fora. Pegando na urgência sonora do punk rock, com umas pinceladas de surf rock com harmonias pop nalguns refrões, o grupo liderado pelas guitarras de Black Francis, Joey Santiago e o baixo de Kim Deal antecipou a década do rock alternativo.

Formados em Boston corria o ano de 1986, os Pixies editaram dois discos de rajada que os iria catapultar para o estrelato relativo dos circuitos indie. Em 1988 “Surfer Rosa” era lançado e um ano depois surge o aclamadíssimo “Doolitle”.

Com produção de Steve Albini, “Surfer Rosa” conquistou tanto o público como a crítica musical, apesar dos temas bizarros descritos pelas letras. Desse primeiro registo saíram hinos intemporais como “Where Is My Mind?”, “Gigantic” e “Broken Face”, que influenciaram artistas como Kurt Cobain. Aliás, o vocalista dos Nirvana chegou mesmo a confessar que “Surfer Rosa” foi a base de onde surgiu “Nevermind”.

No ano seguinte viria a aclamação e a entrada na Elektra Records, que daria projecção internacional à banda. Apesar das referências surrealistas, inspiração em episódios de violência de textos bíblicos, tortura e morte, “Doolittle” ofereceu ao mundo hinos como “Hey”, “Gouge Away”, “Debaser”, “Monkey Goes to Heaven” e o sucesso comercial “Here Comes Your Man”. Nada seria como dantes para a banda de Boston.

Divórcio e reunificação

Depois do segundo disco, as tensões entre Black Francis e Kim Deal começaram a tornar-se evidentes, chegando ao ponto de o guitarrista atirar uma guitarra contra a baixista durante um concerto na Alemanha. Ainda assim, voltaram a estúdio para gravar mais dois discos. “Bossanova” e “Troupe Le Monde”, antes de se separarem em 1993.

Aproveitando a separação para pegar num projecto que tinha começado durante um período de hiato dos Pixies, Kim Deal teve oportunidade para se focar noutra banda que marcou o início dos anos 90: Breeders.

Mais de dez anos depois de uma separação algo violenta, os Pixies voltariam a reunir-se em 2004, para gáudio de uma legião de fãs, muitos que nunca tiveram oportunidade para os ver ao vivo. Regressaram aos palcos, sem grandes palavras para o público, comprometidos com a música e em grande forma, comprovando que o legado musical dos Pixies sobrevive muito bem à passagem do tempo.

Sem necessidade para justificar tours, desta vez os Pixies partem para a Ásia com um disco novo na bagagem, mas antes disso lançam-se aos palcos norte-americanos e europeus, com destaque para o concerto em Lisboa, no Campo Pequeno no dia 25 de Outubro. “Beneath The Eyrie”, com data de lançamento para 13 de Setembro, é o disco que traz alguma frescura aos alinhamentos dos espectáculos que se avizinham.

Galaxy | Croupiers falam de desigualdade nos aumentos salariais

[dropcap]O[/dropcap]s croupiers dos casinos mais pequenos que pertencem à operadora de jogo Galaxy exigem aumentos salariais, afirmando, de acordo com o website World Gaming Information, que não receberam por parte das chefias quaisquer informações oficiais sobre um possível ajustamento dos ordenados. Os trabalhadores entregam hoje uma carta à direcção da empresa como forma de protesto.

As queixas surgiram porque, desde o dia 15 de Julho que os croupiers da Galaxy Casino SA, com menos de um ano de trabalho, passaram a receber um salário de 19.500 patacas, enquanto que aqueles que já trabalham para a empresa há mais de um ano passaram a receber 21.500 patacas.

Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, adiantou ao HM que os croupiers dos casinos Waldo, Rio e Broadway, que também pertencem ao universo da Galaxy, não foram aumentados nem sequer informados dessa possibilidade.

“O salário deveria ter sido ajustado no início deste mês, mas a empresa não notificou os trabalhadores sobre esta matéria. Mesmo os representantes dos recursos humanos asseguram que não receberam quaisquer informações nesse sentido”, frisou.

Cloee Chao acredita que, por estarem em causa funcionários de casinos de menor dimensão, “talvez os responsáveis do departamento de recursos humanos se tenham esquecido de os informar”. Para já, apenas vai ser exigido um ajuste salarial, não estando contempladas outras medidas de protesto.

PJ | Três denúncias de fraude em encontros online

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem ter recebido queixas de três cidadãos locais que foram alvo de situações de fraude numa plataforma de encontros sexuais online. A notícia foi avançada pelo canal chinês da Rádio Macau, após a denúncia feita junto das autoridades policiais.

Na investigação da PJ foi apurado que os três burlados tinham entre 20 e 36 anos, todos do sexo masculino e residentes em Macau. As vítimas conheceram uma mulher através das redes sociais que se ofereceu para prestar serviços sexuais a troco de dinheiro.

Após a marcação dos encontros, cada um dos homens foi abordado por telefone por um indivíduo desconhecido que lhes pediu o pagamento adiantado, via cartões pré-carregados para aquisições na internet.

Com isto acabaram por perder entre 5 mil a 19.400 patacas, por encontros sexuais que nunca se concretizaram. A PJ vai continuar a investigar o caso e alerta os cidadãos para terem cuidado com este tipo de plataformas e de pagamentos online a entidades desconhecidas.

Pearl Horizon | Lesados reclamam revisão do regime jurídico

A Associação dos Compradores de Pearl Horizon voltam à troca epistolar com as entidades governamentais, à espera de uma solução que reverta os prejuízos sofridos. Ontem foi deixada mais uma missiva na AL

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação dos Compradores de Pearl Horizon, Kou Meng Pok, foi ontem à Assembleia Legislativa (AL) para entregar uma carta, reivindicando a revisão dos detalhes do “Regime Jurídico de Habitação para Alojamento Temporário e de Habitação para Troca no Âmbito da Renovação Urbana”, para poder resolver o problema dos lesados que foram excluídos do acesso à habitação para troca por falta do registo predial.

Em declarações ao Hoje Macau, o dirigente da Associação criticou as lacunas existentes na lei, em que houve “casais registados como legalmente casados que compraram duas fracções autónomas do edifício em construção “Pearl Horizon”, por não considerarem suficiente viverem em apenas uma, embora só tivessem direito a candidatar-se à compra de uma habitação para troca. No entanto, os casais que tem uma relação conjugal sem registo de casamento, podem solicitar duas unidades. Isto é irracional!”. O mesmo responsável disse ainda que a habitação para troca deve ser calculada em termos do tamanho da unidade, e não do número de unidades, porque “se a área total de duas habitações for menor que uma grande, também não é justo”.

Kou Meng Pok sublinhou também que “não importa quais são as alterações à lei, o mais importante é que o Governo tome medidas para resolver todos os problemas, tão depressa quanto possível, que não devem ter que ser solucionados por nós mesmos”. Acerca da resposta que o Governo deu às cartas anteriormente enviadas, Kou disse que Chui Sai On indicou que as pessoas prejudicadas deveriam consultar a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) ou a Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ). Contudo, depois de estes terem consultado os respectivos departamentos, os funcionários afirmaram que não tinham recebido nenhuma proposta de resolução por parte do Executivo e que também não sabiam o que fazer para resolver o caso.

Ignorância parlamentar

O dirigente da Associação revelou também que os deputados da AL – Au Kam San, José Maria Pereira Coutinho, Sulu Sou e Zheng Anting –, que entretanto ouviram as suas queixas, declararam que “não sabiam que iria haver problemas com aqueles que não fizeram o registo predial. Se soubessem teriam votado contra a aprovação da lei”. Portanto, Kou Meng Pok pede ao presidente da AL que proceda à revisão da lei o mais breve possível.

No entanto, de acordo como o relatório final da consulta pública sobre o regime jurídico de habitação para troca, divulgado em Outubro de 2018, existiam ainda opiniões da sociedade que consideravam que “cada pessoa só pode adquirir uma habitação para troca, porque as pessoas que compraram mais do que uma fracção do edifício em construção estarão basicamente a exercer especulação, e o Governo não deve utilizar os recursos públicos para compensar as suas perdas especulativas”.

Hotel 13 negociado por 1,2 mil milhões de dólares de Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] empresa South Shore, que controla o Hotel 13, em Seac Pai Van, está a negociar a venda de 60 por cento do activo a troco de 1,2 mil milhões de dólares de Hong Kong. A informação consta de um comunicado enviado ontem à Bolsa de Hong Kong, em que não é identificado o potencial comprador.

Segundo os dados revelados o interessado na aquisição de 60 por cento do hotel tem ligações a um dos principais accionistas do projecto, mas também não identifica quem o accionista em causa. Além da venda de 60 por cento do hotel, a transacção implica que o comprador assuma uma dívida que se aproxima de 2,9 mil milhões de dólares de Hong Kong, assim como os juros desta dívida, que rondam os 1,2 mil milhões.

O Hotel 13 está parcialmente aberto desde Agosto e no passado sempre se afirmou com a intenção de receber um casino. Contudo, até ao momento essa intenção não foi concretizada o que tem afectado os resultados da empresa.

Perdas confirmadas

Também ontem a empresa publicou o relatório sobre o último ano económico e confirmou perdas de 5,8 mil milhões de dólares de Hong Kong. No ano financeiro anterior, as perdas da empresa tinham sido de 1,6 mil milhões de dólares de Hong Kong, o que mostra um agravamento dos resultados superior a 4 mil milhões de dólares.

Já em relação ao Hotel 13, a empresa revelou que as receitas ligadas ao aluguer dos hotéis foram de 3 milhões de dólares de Hong Kong, o que corresponde a uma diária de 5 mil dólares por quarto. A taxa de ocupação, numa altura em que o hotel só está aberto parcialmente, foi de 8 por cento. Já em relação à venda de comida e bebidas, as receitas foram de 2 milhões de dólares de Hong Kong.

Sobre o mercado de Macau, a empresa admite que se está a tentar adaptar ao facto de não ter uma área de jogo. “O Hotel 13 está focado em reposicionar-se no mercado e adaptar um modelo de negócio diferente sem o recurso ao jogo, desde que abriu em Agosto do ano passado. A tendência passa agora por capitalizar as instalações ultra luxuosas e criar uma marca que possa aumentar a taxa de ocupação e organizar eventos especiais”, é explicado.

Além dos relatório publicados, as acções da empresa voltaram a ser comercializadas, depois de terem estado quase um mês suspensas.