F1 | Grande Baía fora do roteiro do campeonato

[dropcap]O[/dropcap] Campeonato do Mundo de Fórmula 1 procura uma segunda corrida na República Popular da China e a organização do maior campeonato está em conversações com governos de seis cidades chinesas, mas nenhuma destas é da Grande Baía.

No passado mês de Abril, a AFP revelou que uma representação da Liberty Media, a empresa norte-americana que gere dos destinos da Fórmula 1 desde 2017, visitou seis cidades chinesas para negociar a possibilidade de realizar uma segunda prova no país que acolheu 1000º Grande Prémio de Fórmula 1 este ano no Circuito Internacional de Xangai.

A China integra o calendário da Fórmula 1 desde 2004 e a Liberty Media, proprietária da Fórmula, não esconde o interesse em expandir a sua presença no mercado asiático. No próximo ano, Hanói receberá o primeiro Grande Prémio do Vietname, “uma corrida realmente especial que oferecerá uma competição excitante”, prometeu o chefe máximo da Fórmula, Chase Carey.

Apesar da República Popular da China possuir mais de uma dezena e meia de circuitos espalhados por todo o país, apenas o Circuito Internacional de Xangai tem as infra-estruturas para acolher um evento desta natureza. A solução passaria por organizar uma prova num circuito provisório numa das grandes cidades do pais.

“A Fórmula E tem duas provas na China, porque não ir a Hong Kong ou Pequim?” afirmou Toto Wolff, o responsável máximo da equipa de Fórmula 1 da Mercedes ao canal televisivo alemão Sport1. “Este é um dos mercados mais importantes para a Mercedes e para a Fórmula 1.”

Em declarações à AFP, Sean Bratches, o director comercial da Liberty Media, não confirmou, nem negou, a vontade que a Fórmula 1 tem em realizar uma prova nas ruas de Pequim, como tem vindo a ser falado insistentemente nos bastidores do “Grande Circo”.

Longe daqui

Uma prova de Fórmula 1 na região da Grande Baía poderia ter impacto negativo na relevância do Grande Prémio de Macau, o maior evento desportivo de carácter anual da RAEM. Contudo, essa questão nem sequer se coloca por agora.

A Liberty Media não comenta as negociações em curso, mas segundo o que o HM apurou as seis cidades chinesas que terão recebido a representação da Liberty Media foram Pequim, Chengdu, Xian, Tianjin, Wuhan e Hangzhou. Nenhuma das cidades da Grande Baía, nomeadamente Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen, Zhaoqing, Hong Kong e Macau – estará, por agora, no roteiro da Fórmula 1.

Hoje em dia, quem ambicione entrar no exclusivo calendário do Grande Prémio de Fórmula 1 terá que estar disposto em gastar pelo menos 320 milhões de patacas e encontrar um patrocinador principal capaz de desembolsar mais 40 milhões de patacas.

Zhuhai é passado

O Circuito Internacional de Zhuhai foi o primeiro circuito permanente construído na República Popular da China e inicialmente pensado para acolher a Fórmula 1, numa ideia que Bernie Ecclestone, o então dono do campeonato, andou a conjecturar durante nove anos.

A cidade chinesa adjacente a Macau chegou mesmo a fazer parte do calendário provisório do mundial de Fórmula 1 em 1998, mas a Federação Internacional do Automóvel (FIA) optou por cancelar a corrida por falta de condições da infra-estrutura. A prova ainda foi adiada para 1999, mas voltou a ser anulada pelas mesmas razões. Foram precisos mais cinco anos para a caravana da Fórmula 1 visitar o país da Grande Muralha. Hoje o circuito de Zhuhai não tem a homologação mínima necessária e continua sem ter uma infra-estrutura para receber os monolugares mais rápidos do planeta.

Desarrumações

[dropcap]A[/dropcap] desarrumação é forma de disfunção. Não é só o quarto da infância que está desarrumado. Há muitas coisas sem rumo. Se desarrumar for impossibilidade de encontrar o rumo na direcção de X, Y ou Z ou na orientação por A, B ou C, não são só os objectos que estão desarrumados. Os objectos não estão no sítio certo ou no sítio habitual objectiva ou subjectivamente. Se livro estiver fora de sítio, está desarrumado, embora ocupe uma posição no espaço. Numa casa, as coisas têm sítios certos e muitas vezes diferentes, para as pessoas que habitam a casa. O açucareiro pode estar apenas a dois dedos de distância do sítio certo do açucareiro para alguém. Mas para uma outra pessoa pode estar perdido sem poder ser encontrado, porque uma pessoa não vai à procura de uma coisa num sítio onde ela não poderia estar nunca. Mas é a ideia de ausência ou de impossibilidade de rumo que importa perceber aqui.

A desarrumação das coisas num quarto, em vários quartos, na casa de banho e na cozinha, em todas as divisões de uma casa podem tornar uma casa inabitável. Não é apenas o quarto que está desarrumado, quando todas as outras divisões podem oferecer acolhimento. É a casa inteira que não dá rumo à vida. Não se consegue trabalhar no gabinete de trabalho, não se consegue tirar um copo para beber água, porque todos estão acumulados no lava-loiças. Toda a loiça está suja e por lavar. E basta pensar que não falta a água por umas horas apenas e de que nos vale uma casa de banho? A casa toda afunda o rumo da existência. Nada pode ser usado. Torna-se disfuncional. Há diversos tipos de disfuncionalidade, claro. Para uma criança que mal ande a casa é diferente da que um adulto habita, bem como é diferente a casa para um sénior que já anda com dificuldades, o mesmo vale, é óbvio, para pessoas com deficiência. Os espaços têm de melhorar para poderem ser “vestidos”, “habitados” de modo funcional, para que as divisões ofereçam as possibilidades que habitualmente oferecem o melhor possível. Que bom que era ter casas excelentes, sempre arrumadas, a oferecer rumos, onde vamos para fazer o que lá fazemos ou só para lá estarmos.

Mas também há formas de disfuncionalidade e falta de rumo, quando perdemos uma entrevista, quando perdemos uma consulta, quando não fomos a um encontro, por haver trânsito, por termos ficado a dormir, por nos termos esquecido. Tudo o que podia acontecer não aconteceu.

Não se fala apenas de consequências. Fala-se de não ter havido X, Y e Z que poderiam ter acontecido. Em todas as formas de cancelamento, de falta de comparência, verifica-se também este não ter acontecido que não deu rumo, não abriu portas, não se sabe o que teria sido. É difícil invocar esses momentos, que ficaram vida fora. Podem ser muitos ou poucos, mas estão a constituir tensão na nossa vida. Pergunta-se o que faltou, o que não aconteceu, a que encontro não fomos, o que falhou? Mas pode não ser apenas a, b, c, d, ou tudo até ao z das oportunidades perdidas por falta de comparência. Tudo pode ser assim mesmo quando não falhamos em nada, tivemos sempre presença assinalada, fomos assíduos. Já não se percebe como é que a assiduidade nos possa marcar falta de comparência, como se lá tivéssemos estado mas tivéssemos sido transparentes e a oportunidade que estava em ocasião não foi vista e por isso não foi agarrada.

O mesmo se passa com os dias perdidos. Quantos dias perdidos sem fazer nada? Quantas férias grandes a gastar tempo? Quantos dias? Poucos, muitos, nenhuns? Como na doença da infância, saímos para fora do quotidiano mais ou menos complexo da escola. Ficamos em casa, com quem nos tem em casa. Os dias são mágicos cheios de febre, cowboys, jogos, muito tédio. Os outros continuam as suas vidas na escola, nos ginásios, na saúde dos dias. Quando regressamos ganha-se de novo o fluxo do sentido da vida em direcção a exames, provas, que nos façam passar de um ano para o outro de épocas escolares para épocas escolares, tudo está regulado. Perdem-se os momentos mágicos em que o entardecer de inverno traz a chuva a bater nas janelas do quarto da infância. Quantos dias perdidos sem fazer nada? O que acontece quando toda a gente trabalha, exerce competências, desempenha funções, tem trabalho, tem vida, e nós não temos trabalho ou não queremos ter trabalho, e nada apetece?

Pode ser uma vida inteira em greve de zelo, sem querer fazer nada, em desobediência total às regras que mandam trabalhar, à disciplina, ao cumprimento que nos faz não brincar em serviço. E pode ser uma vida ao Deus dará. Conheci algumas pessoas, não muitas, assim, quando o sentido da vida, o quotidiano tem precisamente esta forma de desobediência. Poderei dizer que há uma desarrumação ou disfuncionalidade, quando se sente a liberdade de alguém que é absoluto, que está absolvido das amarras dos outros próximos e afastados. Há seres impermeáveis a qualquer sociedade e não são foras da lei. São errantes, mas não são criminosos. Viram qualquer coisa diferente da que eu vejo, que não tolero um quarto desarrumado e quando não encontro um livro me apetece chorar depois de o ter procurado com o zelo intenso de um concupiscente?

Sem nunca ter feito greve de zelo, sem nunca ter desobedecido, tendo sido cumpridas todas as regras, trabalhando como se não houvesse amanhã também pode ser disfuncional, quando tudo parece ser sem rumo. O desenraizamento, a desarrumação, o desnorteamento dá-se quando todas as coisas, tudo sem excepção parece estar arrumado. Mas quando não chega um pensamento até nós, daqueles de que fala Hofmannsthal que é como uma jovem águia a voar, não até nós mas para nos levar nas suas asas, então, sim: tudo se sente desarrumado.

E espera-se que de novo chegue esse pensamento como asas de jovens águias.

Fatalismo, fatalidade

[dropcap]N[/dropcap]o período apelidado de Belle Époque não havendo guerras que empregassem os exércitos europeus, nem por isso a diplomacia arrefeceu as suas premências como forma de se fazer importante.

Simpatias, entendimentos e tratados foram amarrando as nações, mas se o intuito jurado era o apaziguamento, o verdadeiro incentivo para estas alianças acoitava-se nas suspeitas e animosidades que cada país sustinha pelos vizinhos. Impantes de positivismo as secretarias exerciam a sua plenipotência com cálculo e resolução; sentiam-se triunfantes, predestinadas mesmo – “A diplomacia é a guerra por outros meios.”.

Moloch, a divindade canaãnita que se cevava de carne humana, despertou então da sua letargia no centro de uma teia de compromissos quando no fim de Junho de 1914 Gravilo Princip, rancoroso e temerário como só o podem ser os patriotas, emboscou numa esquina de Sarajevo o Arquiduque Franz Ferdinand e a sua mulher Sofia. Com dois singelos tiros reduziu-os a cadáver.

Uma semana depois a 1.440 kms dali, em Potsdam, o Kaiser Guilherme recebe ao almoço um memorandum e uma carta pessoal do Imperador Habsburgo reclamando vingança pela morte do herdeiro com a extinção da ignóbil Sérvia, a seu ver uma charneca que só dava ameixas, merda de cabra e assassinos. Guilherme quis prorrogar, recomendar-se com o seu Chanceler, mas a rogos do enviado de Viena persuadiu-se na hora a dar “carte blanche” à acção punitiva do Império Austro-Húngaro.

Sabe-se hoje que nem a prudência nem a perspicácia eram os primeiros atributos do Guilherme prussiano, ainda menos a clarividência. Mas há-de ter captado quão brusco e desavisado fora o seu beneplácito. Assim que as baterias austro-húngaras começaram a bombardear Belgrado a Rússia, arvorada em madrinha dos povos eslavos, decretou mobilização geral em socorro da Sérvia. O Czar tinha as costas quentes com a Triple Entente, o pacto que chamaria a França e o Reino Unido em sua defesa em caso de agressão.

Agora Guilherme percebia que um fio que se puxasse ia tudo atrás. É mortificação do Príncipe, sobretudo dos retraídos e mercuriais como Guilherme, o pressentimento de ser a única pessoa na sala que não está a par de algo que todos sabem. E que as suas ordens são cumpridas e as vontades acatadas por mera deferência. Se o servilismo, tanto melhor quanto acrescentado de bajulação, ao menos deixa à mostra a hipocrisia, a probidade e o dócil conformismo dos que por fidelidade se demitem de objectar, são demónios que atormentam o discernimento do regente.

O que mais preocupava a titubeação de Guilherme era que em nome dele a casa de Hohenzollern continuasse primeira entre a aristocracia prussiana, famosamente ríspida e marcial, brutalmente agrária, culturalmente embebida da razão de Kant e do determinismo de Hegel-o-velho-de-Berlim. E os cabeças quadradas exultavam com a hipótese da guerra para glória e escudo da Alemanha. De tal modo que já haviam congeminado o Plano Schlieffen: num prodígio de precisão e disciplina logística primeiro lançar-se-iam 7 ou 8 exércitos contra a França, para numa vitória rápida assegurar a inibição da frente ocidental e depois virava-se tudo contra a Rússia.

A magnitude, a agressividade e talvez até o custo do plano impressionaram o Kaiser. Aproximando-se “O Dia” (em que a operação seria desencadeada), tão assustado andava que tresleu um telegrama do embaixador alemão em Londres, segundo o qual, dir-se-ia que por meias palavras, os britânicos garantiam a neutralidade da França. Radiante, Guilherme chamou Helmuth von Moltke, o chefe do Estado Maior – podemos atacar apenas a Leste.
Mas Motke retorquiu que tal não era possível: “não se podem alterar em tão pouco tempo os horários dos comboios e estes já estão em marcha.”

14 milhões de almas foram devolvidas ao Criador nos 4 anos de batalhas nas trincheiras da frente Oeste. Contudo os comboios circularam impecavelmente à tabela.

Pouca esperança

[dropcap]A[/dropcap]o contrário da maior parte dos meus amigos, não fui votar nestas eleições europeias. Muitos deles não perderam a oportunidade de me relembrar a importância do voto numa sociedade democrática. Na teoria, a democracia enquanto sistema de governação política é o melhor dos sistemas conhecidos: permite, para além de escolhermos quem nos representa, uma saudável alternância regular de eleitos e respectivas ideias. Mas a democracia é uma ideia que envolve dois momentos constituintes distintos e necessariamente complementares: a forma, pela qual se anuncia a estrutura subjacente ao sistema democrático e o fundo, ou seja, as pessoas que preenchem os lugares constantes da estrutura do sistema. E é precisamente com esse ponto me tenho encanitado desde sempre.

A nossa jovem democracia foi-se consolidando e profissionalizando, nestes últimos quarenta e qualquer coisa anos. Sendo o processo de consolidação inerentemente bom e necessário, já o mesmo não pode ser dito daquilo que se entende por profissionalização da carreira política, que se tem pautado por ser mais semelhante a um regime mafioso, com as obrigatórias juras de lealdade, de silêncio e de fidelidade canina que lhe inerem do que propriamente com um processo fundamental para o desempenho da actividade política. A isto acresce ainda uma não módica quota de endogamia e nepotismo; no caso do Dr. Carlos César, um dos rostos mais visíveis deste PS em funções e deputado à assembleia nacional, difícil será encontrar-lhe um familiar que não esteja alapado a um qualquer organismo público. Nesse aspecto, os partidos do denominado centrão não se distinguem uns dos outros: são essencialmente redes de manutenção e ampliação de poder e de distribuição das prebendas que deste decorrem. Descontando o facto de se ter de deixar a coluna vertebral à porta para neles ter lugar, são de longe as melhores agências de emprego em Portugal.

À parte o desagradável facto de estarmos literalmente nas mãos de uma casta de meliantes profissionais, a maior parte das vezes sem qualquer currículo fora da esfera política, temos ainda de levar em linha de conta o nível de corrupção de que nos vamos dando conta quase diariamente pela comunicação social. Do governo central às autarquias, são raros os dias nos quais não sai uma notícia sobre mais um caso em que o visado, prontamente entrevistado, é lesto a declarar-se inocente e, não raras vezes, vítima de uma cabala política. Tudo bons rapazes.

Lembram-se de Sócrates? Ainda hoje estamos a tentar perceber a real dimensão da teia de influências e pressão montada à altura para capturar os mais importantes sectores de um país. O que tem vindo a lume nas audições da comissão de inquérito parlamentar à recapitalização da caixa é estarrecedor em dois sentidos: toda a gente parece de algum modo implicada na gigantesca marosca e, simultaneamente, temos a sensação de que aquela enorme montanha não produzira nada senão um desinteressante bode expiatório para satisfazer um nível infra-atómico de decência.

Há de facto outros partidos que, por razão de escala e de crónica distância ao centro de poder, têm currículos mais simpáticos, a nível de corrupção. Mas por um lado são partidos que normalmente propõem ou não se opõem à ideia de mais estado, de mais controlo estatal e, consequentemente, de mais impostos para financiar o paquiderme. Exactamente o contrário daquilo que gostaria de ver. Por mim, o estado não era dono de uma única empresa. Muito menos de um banco.

Os dias de votação têm sido para mim muito sossegados. Aborrecidamente iguais aos outros. Acabo por fingir algum interesse nos resultados, para me sentir integrado no desígnio nacional em curso, mas é sol de pouca dura. Os meus amigos muito activistas desfiam longuíssimas explicações sobre o sucesso ou fracasso de determinado partido de esquerda (sendo que alguns vêem sucesso e outros fracasso no mesmíssimo resultado). Eu há muito que deixei de achar isto interessante.

Lusofonia | Semana Gastronómica de Moçambique “pode ser a última”

[dropcap]M[/dropcap]oçambique volta a promover, entre amanhã e dia 29 deste mês, a sua cultura gastronómica em Macau, num evento organizado há mais de dez anos para “celebrar a independência” do país africano, disse à Lusa a organizadora. Apesar da Semana Gastronómica ser “muito bem recebida todos os anos”, a organização teme que esta seja a última edição, tendo em conta as “dificuldades logísticas” e os apoios, que “nem sempre são suficientes”.

“Temos encontrado cada vez mais dificuldades, mas este ano foi pior (…) O problema é arranjar um espaço que nos dê condições para organizar esta semana, tudo o que o evento exige. Pedimos apoios, mas às vezes não são suficientes”, indicou à Lusa a directora da Associação dos Amigos de Moçambique, Helena Brandão. “Pode ser a última edição”, lamentou.

Desde 2007 que a Semana Gastronómica de Moçambique traça o mesmo objectivo: pôr a comunidade de Macau em contacto com os “sabores, as danças e as músicas” tradicionais moçambicanas, na mesma altura em que se “celebra a independência”, apontou Helena Brandão.

Moçambique comemora a 25 de Junho o 44.º aniversário como país livre e soberano, independência conquistada em 1975 após cinco séculos de domínio português.

“[Todos os anos] convidamos um ‘chef’ moçambicano que prepara, durante uma semana, num restaurante de Macau, pratos típicos de Moçambique”, explicou Helena Brandão. Este ano, a Associação de Amigos de Moçambique convidou a ‘chef’ Orlanda Barbosa, que trará ao Varandas Restaurante & Bar “alguns condimentos e produtos” moçambicanos que não estão disponíveis no território.

LMA | Música tropical para dançar este sábado

[dropcap]O[/dropcap]s sons tropicais chegam este sábado, dia 22, ao LMA – Live Music Association, a partir das 22h. A pista de dança do 11º andar na Rua do Coronel Mesquita, vai contar com a presença dos portugueses DJ Limes (Hélder De Lima), DJ S.Rola (Sérgio Rola) e do japonês DJ Ryoma (Ryoma Ochiai).

Desta vez, as sonoridades House, Tecno, Transe Psicadélico e Rock&Roll dão lugar aos sons mais leves e descontraídos da World Music, Tribal, Indie-Disco, Reggae e Latina. O organização revelou que a escolha é propositada, “para brindar ao Verão”, com um estilo de música menos pesada e para um público mais jovem e variado, agora que as férias escolares estão à porta.

Este é o único espaço de música ao vivo e dança, com programação regular e variada, que funciona como clube fora dos circuitos hoteleiros há mais de dez anos. A festa de sábado tem entrada gratuita e promete apresentar as novidades mais recentes do que se ouve por aí nos festivais internacionais, onde os disco-jóqueis têm participado com regularidade, confirmou Ryoma Ochiai ontem ao HM.

The KVB ao vivo esta quarta-feira em Hong Kong

Na próxima quarta-feira, a partir das 20h, o duo britânico The KVB sobe ao palco do MOM Livehouse, em North Point Hong Kong para um concerto que promete fazer as delícias dos apreciadores de sonoridades mais negras do post-punk electrónico e do shoegaze

 
[dropcap]M[/dropcap]elómanos com guarda-roupa onde o preto predomina, rejubilem! The KVB tocam esta quarta-feira em North Point, em Hong Kong. O concerto está marcado para as 20h no MOM Livehouse, um clube escondido na cave de um centro comercial antigo, rodeado por cabeleireiros e manicures.

São previstas batidas pulsantes, guitarra barulhenta cheia de reverb, teclados que criam ambientes de sonho e vozes desleixadas e graves carregadas de eco. Tudo estes ingredientes servidos num cozinhado que convida à dança lânguida e concentrada dos apreciadores de sonoridades a resvalar para o gótico.

Os The KVB são constituídos por Nicholas Wood e Kat Day, a dupla que começou a dar nas vistas em 2011, desde que se formaram em Londres, depois do projecto a solo de Wood se ter transformado num dueto. Depois de dois anos à procura de um conceito sonoro, algures entre o electro minimal, post-punk, shoegaze e a música psicadélica, os The KVB lançam o disco de estreia “Always Then”.

Os ritmos electrónicos entre a fragilidade e a rigidez, aliados às explosões sónicas, evocavam os estilos musicais de bandas como Cabaret Voltaire e Jesus and Mary Chain.

Quando The KVB deixou de ser o projecto a solo Nicholas Wood, apenas com algumas demos lançadas e edições limitadas em cassete, com a aquisição de Kat Day, o dueto lançou-se em intensa produção discográfica. Depois do disco de estreia, a dupla lançou “Immaterial Visions” e “Minus One” em 2013, “Mirror Being” em 2015, “Of Desire” em 2016 e “Only Now Forever” no ano passado. Pelo meio, lançaram ainda dois EPs.

Agora sempre

O último disco da dupla britânica, que deve contribuir fortemente para o alinhamento de quarta-feira, é um registo com abordagem muito independente e livre, algo que pode ter surgido do facto de ter sido gravado no apartamento de Berlim onde a dupla viveu em 2017. Apesar do contexto caseiro, “Only Now Forever” tem uma sonoridade encantatória, uma tela com pinceladas de pop, sempre prestes a ser rasgada por uma guitarrada sónica. O último registo dos The KVB é um bom paliativo para os fãs que sofrem com saudades de discos dos Depeche Mode, The Soft Moon, New Order, Nine Inch Nails ou My Bloody Valentine.

Quem estiver interessado em dançar e ser abanado pela guitarra estridente dos The KVB terá de desembolsar 280 HKD se comprar o bilhete antecipadamente ou 350 HKD se comprar à porta do MOM Livehouse.

MUST | Trabalhadores com menos confiança no emprego

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa) revelou os resultados de um inquérito que aponta para a insatisfação das pessoas que trabalham em Macau, apesar de uma ligeira subida em relação ao ano passado.

A conclusão é do estudo “Macao Employee Confidence and Satisfaction Index 2019”, realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável da MUST. Participaram no inquérito 905 residentes, maiores de 16 anos, escolhidos aleatoriamente e que estavam empregados a tempo inteiro durante os meses de Abril e Maio.

Segundo os resultados da pesquisa, a pontuação atribuída ao índice de confiança geral no trabalho foi de 2,98 pontos (a pontuação máxima é 5), registando uma descida de 0,3 por cento em relação ao ano passado. No entanto, o indicador que mede a satisfação atingiu 3,07 pontos, o representou uma subida de 1,5 por cento em relação ao ano 2017. A investigação mostra que os funcionários não têm muita esperança quanto à possibilidade de promoção e aumento salarial, ou satisfação salarial dentro de um ano. Algo que se pode aferir no índice de confiança mínima quanto à oportunidade de promoção, que se ficou pelos 2,16 pontos.

O índice de confiança dos empregados da indústria do jogo desceu 1 por cento em relação ao ano passado, contrastando com o índice de satisfação que aumentou 0,6 por cento.

Negócios | Jovens empresários juntam-se para mudar o ambiente em Macau

Resolver os problemas ambientais num só fim-de-semana pode parecer ambicioso, mas é o que se propõem fazer centenas de jovens empresários em 60 cidades de todo o mundo. Os empreendedores locais reúnem-se de hoje até domingo

 
[dropcap]O[/dropcap] 1º Fim-de-Semana Global de Startups, dedicado à Revolução da Sustentabilidade, realiza-se entre hoje e domingo, 21 a 23 de Junho, no hotel Sofitel em Macau. O evento acontece ao mesmo tempo noutras 50 cidades em todo o mundo, que durante 54 horas vão partilhar e apresentar projectos, ideias e produtos.

O evento pretende promover a interacção entre profissionais, investidores, especialistas e mentores. A organização quer orientar todos aqueles que tenham um projecto em potência, com vista à criação de futuros produtos e serviços.

Macau participa no segundo fim-de-semana desta iniciativa global, juntamente com outras 25 cidades, após um primeiro grupo de 26 cidades ter feito parte da ronda inicial do evento, no fim-de-semana passado, que incluiu a vizinha cidade de Hong Kong.

O encontro conta já com cerca de 40 pessoas inscritas, para o desenvolvimento de projectos e apresentação de resultados, esperando-se outras 80 pessoas na cerimónia de apresentação dos protótipos e resultados, no último dia, domingo, antes da festa de encerramento. Os espectadores interessados podem ainda adquirir bilhete para essa sessão na página web da Techstars, pelas 16h30, ao preço único de 100 patacas.

Por onde começar?

Os participantes do encontro foram instados a trazer uma ideia para resolver ou inovar em termos ambientais, tema que inquieta cada vez mais a comunidade internacional e tem influência directa na vida das pessoas. Os desafios são variados: novos produtos ecológicos, planos para atrasar a obsolescência dos equipamentos, reciclagem e requalificação de materiais, redução de desperdícios alimentares, mais produção e distribuição local, construção de sistemas de eficiência energética, reconstrução sustentável de edifícios, concepção dos sistemas de transportes do futuro, e planeamento de cidades inteligentes, inclusivas e mais resilientes.

“A humanidade precisa de soluções concretas para o futuro”, revelou Kenny Lei, um dos membros da organização. Uma delas começa já neste encontro de startups, com o desafio Zero Desperdício, onde foi pedido aos participantes que levassem o seu próprio material para evitar o excesso de lixo descartável e reforçar o exemplo de cidadania. O repto foi feito em todas as edições internacionais do encontro.

Os melhores projectos serão avaliados na cerimónia de domingo. Os vencedores vão ter direito a seis meses de espaço gratuito em sistema de co-working no Macau Hub, entre outras regalias oferecidas pelas empresas patrocinadoras. E o Top 20 de vencedores globais oferecerá o direito a programas de incubação e workshops de aprendizagem com mentores internacionais.

A única advertência da organização aos participantes “é o risco de terem que se demitir dos seus empregos na manhã de segunda-feira, para poderem montar a sua startup e seguirem o sonho de tornar o mundo melhor”, informa a página da organização.

Clínica do grupo português IGHS abre em Outubro

[dropcap]A[/dropcap] clínica de Macau do grupo português IdealMed GHS (IGHS) vai começar a operar em Outubro deste ano, de acordo com um comunicado nas redes sociais. Com as novas instalações, a clínica vai disponibilizar “novas especialidades médicas”.

A nova clínica vai operar no espaço onde estava o EC Centro Médico, na Taipa, depois da compra desta unidade ao grupo de Hong Kong Chow Tai Fook, em Novembro de 2018. Antes disso, a IdealMed firmou um acordo de cooperação com a Universidade de Macau.

Antes da clínica abrir com a imagem renovada, o EC Centro Médico vai continuar a operar com os serviços que já antes disponibilizava.

Habitação social | Casal oculta activos milionários em candidatura

[dropcap]U[/dropcap]m casal é suspeito de “ocultar” cerca de nove milhões de activos e falsificar documentos para obtenção de habitação social, comportamento que fez com que fossem acusados de burla e falsificação de documento de especial valor, num processo que está à espera de decisão judicial.

Segundo notícia avançada pelo jornal Ou Mun, além da falsa declaração de rendimentos, durante o período de espera, os candidatos obtiveram abono provisório de residência no valor total de 45 mil patacas.

Os dois arguidos confessaram os crimes de que vinham acusados no Tribunal Judicial de Base, mas a mulher de apelido Wong ressalvou ter devolvido todos os ganhos ilegais, e argumentou que “não sabia que o meu marido tinha tanto dinheiro”.

O marido, de apelido Fong, argumentou em tribunal que a relação entre ambos era conturbada e que o dinheiro que tinha era proveniente da sucessão depois da morte da sua mãe. Durante o julgamento, a mulher de 44 anos de idade revelou ser dona de casa, e que o marido, de 47 anos de idade, estava, de momento, desempregado.

Segundo o processo, em 18 de Agosto de 2013, a mulher solicitou habitação social em nome do agregado familiar. No formulário de inscrição apresentado, relatou que uma conta bancária com cerca de 10 mil patacas e que a família, incluindo quatro filhos menores de idade, dependia do salário do marido, que era de cerca de 10 mil patacas. No formulário da candidatura contava a assinatura de ambos. Após a aprovação do Instituto de Habitação (IH), a família ficou em lista de espera. Como tal, a partir de 18 de Março de 2015, o IH concedeu ao agregado familiar um abono mensal de 2.500 patacas como subsídio provisório de residência. No total receberam 45 mil patacas.

Mais tarde, veio a descobrir-se que o espólio da família era de 9,07 milhões de patacas e que Fong tinha seis milhões de patacas numa conta bancária.

Tribunais | Decisão sobre ETARs da Taipa e Aeroporto vai ser reformulada

Uma decisão que contradiz os argumentos utilizados e que não julga todas as matérias pertinentes. Foi esta a razão dada pelo Tribunal de Última Instância para reenviar a primeira decisão tomada e mandar o concurso público das ETARs da Taipa e Aeroporto de volta ao Tribunal de Segunda Instância

 
[dropcap]D[/dropcap]epois da decisão que anulou o concurso de atribuição das concessões para a exploração das Estações de Tratamento das Águas Residuais da Taipa e do Aeroporto Internacional de Macau, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) vai ter de reformular o acórdão. A mais recente decisão sobre o caso foi tomada pelo Tribunal de Última Instância (TUI) e tornada pública ontem.

Depois do consórcio constituído pelas empresas Waterleau e Originwater ter vencido o concurso público para a exploração das ETARs, o consórcio igualmente concorrente constituído pelas empresas Focus Aqua, CITIC Envirotech e NewLand recorreu da decisão para o TSI.

Na análise do caso, o TSI atribuiu a razão ao recurso e optou por decidir que o concurso público deveria ser repetido. No entanto, a decisão não convenceu nenhuma das partes e ambas apresentaram um novo recurso para o TUI. Além dos concorrentes, também o Chefe do Executivo, responsável pelo concurso, contestou a decisão.

Na análise aos argumentos do consórcio da Focus Aqua, CITIC Envirotech e NewLand o TUI considerou que as empresas não tinham direito a interpor recurso, uma vez que lhes tinha sido dado razão pelo TSI. Por esse motivo, recusou analisar os argumentos das três empresas.

Recurso vencedor

Contudo, no que diz respeito aos argumentos da Waterleau e Originwater, o TUI acabou por considerar que tinham razão. Por um lado, a decisão da juíza Song Man Lei considerou que o TSI não analisou todos os argumentos apresentados e que alguns eram importantes para o desfecho do caso, ou seja, o TUI considerou que houve o que no Direito se designa por “omissão de pronúncia”.

Por outro, no que diz respeito às contradições entre a decisão e os argumentos, tal ficou a dever-se ao facto do TSI ter confundido a 3.ª e a 5.ª propostas apresentadas no concurso. Assim, o TSI argumentou na decisão que a proposta vencedora tinha sido aceite condicionalmente, no início, quando esse facto dizia respeito a uma outra concorrente. Posteriormente, o TSI ainda emitiu uma correcção ao acórdão, mas não foi suficiente para clarificar a situação.

“Por outras palavras, a proposta do concorrente n.º 3, ora recorrente a quem foi adjudicada a prestação dos serviços em causa, nunca foi admitida condicionalmente”, é sublinhado.

Face a estes fundamentos, o TUI optou por reenviar o caso para o TSI, que vai reformular a decisão. Caso alguma das partes fique inconformada poderá haver um novo recurso para o TUI.

Finalmente, o recurso do Chefe do Executivo, acabou por não ser analisado, por se considerar escusado face à necessidade de reformular a decisão inicial.

Agnes Lam pede ao Governo medidas para combater lixo na costa

[dropcap]A[/dropcap] má qualidade e o lixo que se acumula nas águas costeiras de Macau é o mote para que Agnes Lam questione o Governo acerca das medidas que tenciona tomar para combater a poluição.

Em interpelação escrita, a deputada salienta o aumento dos resíduos que diariamente se acumulam na praia de Hac Sa, em especial depois de na semana passada a situação ter sido particularmente grave. Além do lixo, acresce o problema da propagação de bactérias. A situação não é nova, apontou, e “no passado, após tempestades, existia muito lixo na praia e encontravam-se muitos resíduos a flutuar nas águas”.

No entanto, as autoridades estão em falta, quer por não investigarem as fontes destes resíduos, quer por não apresentarem nenhum plano para a resolução da situação a longo prazo.

Entretanto, este tipo de incidentes, em que existe grande afluência de resíduos na costa local, normalmente passam despercebidos e à margem da agenda do Executivo, sendo apenas alvo atenção quando a população ou os órgãos de comunicação social fazem queixa, algo que para a deputada é lamentável.

De acordo com Lam, o Governo deve fazer um acompanhamento constante no que respeita à situação da poluição das praias e águas de Macau de modo a evitar que estas marés poluentes atinjam o território. Mas, a atitude do Governo tem sido a de “’chorar sobre leite derramado’ sem acção de combate e prevenção de situações idênticas no futuro”.

Qualidade em baixas

Lam recorda a classificação dos relatórios à qualidade da água de 2017 e 2018 que classificam as águas costeiras como sendo “de má qualidade”, admitindo mesmo “alguns casos de muito má qualidade”.

Tendo em conta estes dados, é fácil concluir que o Governo tem “muito que fazer para melhorar o estado de conservação da natureza costeira” e que deve implementar medidas com urgência.
Lam deixa ainda algumas sugestões a este respeito, sublinhando a importância de se proceder à monitorização constante, a pesquisas e à sensibilização social. O objectivo é “proteger a saúde do público e dos visitantes e a percepção que têm das praias de Macau”.

Neste sentido, Agnes Lam quer saber claramente quais as medidas que o Governo pretende implementar para averiguar as fontes dos resíduos que têm dado à costa na última semana, bem como as acções previstas para prevenir este tipo de situações a longo prazo.

Além disso a deputada pede esclarecimentos acerca do que tem sido feito, em conjunto com as regiões vizinhas, para promover mais cooperação na área da protecção ambiental.

Futebol | Sulu Sou pede à FIFA nova oportunidade para Macau

O deputado pró-democrata enviou uma carta a Gianni Infantino, presidente da FIFA, a pedir que o jogo com o Sri Lanka seja novamente agendado. Sulu Sou procura impedir que os jogadores da selecção percam a oportunidade de uma vida

 
[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou enviou uma carta ao presidente da FIFA, Gianni Infantino, a pedir uma nova oportunidade que possibilite aos jogadores de Macau disputar o jogo de apuramento com o Sri Lanka. O documento foi feito público ontem pelo legislador, que tem sido o membro da Assembleia Legislativa mais envolvido no apoio aos atletas locais.

“‘Nunca podemos dizer quem é o vencedor e o derrotado de um jogo até ao fim do último minuto’. Esta é uma lição profunda que aprendemos a assistir aos encontros de futebol. Por isso, gostava, com esta carta, de apelar à FIFA e à AFC [sigla inglesa para Confederação de Futebol Asiática] que fizessem todos os esforços possíveis para discutir com a Federação de Futebol do Sri Lanka [FFSL] e com a Associação de Futebol de Macau [AFM] a possibilidade de reagendar o jogo entre as equipas”, pode ler-se no documento.

Em causa está o facto de a Associação de Futebol de Macau (AFM) ter recusado que os jogadores se deslocassem ao Sri Lanka para participar na 2.ª mão da fase de pré-apuramento, depois de terem ganho em Zhuhai por 1-0. A justificação para esta medida prendeu-se com a falta de garantias de segurança, devido aos atentados terroristas da Páscoa.

No documento, Sulu Sou destaca que há muito que a questão deixou de ser puramente desportiva e que se alastrou ao campo político. Contudo, pede a Gianni Infantino que tenha em consideração o sacrifício dos atletas, que sonham em estar nos grandes palcos do apuramento para o Mundial.

“Apesar de Macau ser vista como uma região onde o futebol não é o desporto mais popular, há muitas pessoas que têm uma grande paixão pelo jogo, quer seja como espectadores ou como praticantes”, começa por realçar Sulu Sou. “Os jogadores que são seleccionados em Macau precisam de fazer uma escolha muito dolorosa, entre jogar ou trabalhar, e alguns têm mesmo de fazer as duas actividades”, acrescentou.

Suor dos atletas

É com base no sacrifício dos atletas, que o deputado apela ao presidente da FIFA: “Como todos sabem, o Mundial é o principal troféu do sector do futebol. Todos os que amam futebol desejam ver Macau participar na competição, assim como esperam ver bons resultados”, defendeu. “Mas hoje, devido a um erro de julgamento da AFM, ou para ser mais preciso, devido a questões administrativas ou decisões pessoais que em nada estão relacionadas com o desporto, os jogadores de Macau perderam a oportunidade de uma vida, e alguns talvez nunca mais voltem a ter algo semelhante ao longo da sua carreira”, destacou.

“Esperamos que o jogo possa ser reagendado de forma satisfatória, para que ambas as partes possam defrontar-se dentro do espírito sagrado do ‘Fair Play’, que é o sonho dos jogadores de Macau”, deixou como desejo.

A carta foi enviada com conhecimento do presidente da AFC, Salman Bin Ibrahim Al-Khalifa, o presidente da FFSL, Anura de Silva e do presidente da Associação de Futebol de Macau, Chong Coc Veng.

Sede de candidatura de Ho Iat Seng custou 1,3 milhões em renovações e equipamentos

[dropcap]F[/dropcap]oram gastos 1,3 milhões de patacas para renovar e equipar o sexto andar do Edifício Comercial Rodrigues, situado na Praia Grande, onde está agora em funcionamento a sede de campanha de Ho Iat Seng, candidato a Chefe do Executivo. A par desta despesa, Ho gasta “mais de 100 000 patacas pela utilização do espaço” somando renda e despesas mensais. A informação foi ontem dada num encontro do mandatário da candidatura de Ho, e também deputado nomeado, Iau Teng Pio com a comunicação social.

Trabalham na sede de candidatura 24 pessoas, mas apenas oito são remuneradas auferindo um salário mensal de 15 mil patacas. Os restantes são voluntários, na sua maioria estudantes universitários e jovens, apontou Iau. Questionado acerca de uma estimativa de gastos para a campanha, o mandatário refere que “ainda não há certezas” garantindo que não vão ultrapassar os 6,43 milhões de patacas que a RAEM põe à disposição de qualquer candidato. Aliás, o próprio Ho Iat Seng garantiu aquando da apresentação do seu manifesto que todos os gastos serão pagos pelo seu próprio bolso.

A estrutura serve não só para organizar a campanha do candidato favorito ao mais alto cargo do Governo, como é equipada com salas de reuniões para receber associações, representantes dos sectores sociais, e eventualmente residentes houver disponibilidade para tal. “Em princípio podemos agendar entrevistas, mas depende do tempo do candidato”, disse o mandatário.

Mais de 66

São necessárias 66 assinaturas de apoio por parte dos membros do Colégio Eleitoral , que será composto por 400 membros.

No entanto, é intenção de Ho Iat Seng reunir mais apoiantes do que os estritamente necessários para que seja aceite como candidato. “Tenho confiança que Ho Iat Seng consiga ter mais do que as 66 assinaturas”, disse o mandatário.

Além de querer atrair os futuros eleitores do Colégio Eleitoral, Ho tem ainda como objectivo “chegar mais perto da população”. Para o efeito, nos períodos de campanha, “vai sair à rua”, acrescentou o Iau.

Questionado se existe conflito de interesses por ser deputado nomeado pelo actual Chefe do Executivo e desempenhar funções de mandatário da candidatura daquele que poderá ser o próximo líder do Governo, Iau Teng Pio apontou que não “há problema”. “Fui nomeado pelo actual Governo por ser professor na faculdade de direito e conheço o Ho Iat Seng há muito tempo, estudámos juntos no ensino secundário”, explicou.

Estiveram ainda presentes no encontro de ontem com a comunicação social António Chio, coordenador de candidatura e Lam Heong Seng, coordenador adjunto. As eleições para o cargo de Chefe do Executivo estão agendadas para 25 de Agosto.

Cooperação jurídica e judiciária valeu 93 acções de formação

[dropcap]D[/dropcap]esde 2001, o Centro de Formação Jurídica e Judiciária do Governo realizou 93 acções de formação com pessoas vindas de Portugal, que contaram com a participação de 5.180 profissionais, entre magistrados, notários públicos e privados, oficiais de justiça ou advogados. A informação foi disponibilizada pelo director da Direcção de Serviços para os Assuntos Jurídicos Liu Dexue, em resposta a interpelação do deputado José Pereira Coutinho.

Ainda de acordo com Liu Dexue – que não conseguiu responder a duas das três perguntas do deputado, por dizer que não há dados sobre o Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a RAEM e Portugal – desde 2003 o Governo realizou cinco cursos de formação para o ingresso nos quadros da magistratura judicial e do Ministério Público. Nestes cursos, 76 formados foram a Portugal participar em seminários temáticos e visitar instituições portuguesas, como o Supremo Tribunal de Justiça, a Procuradoria-Geral da República, entre outras.

A Pátria não se discute

Outra das questões levantadas por José Pereira Coutinho relacionou-se com a ausência de consultas no âmbito do acordo entre Macau e o exterior para a entrega recíproca de infractores em fuga. No entanto, o director da DSAJ explicou que as questões que implicam a “soberania nacional” não podem ser alvo de consulta. “Uma vez que a cooperação judiciária com o exterior implica questões de soberania nacional, o conteúdo que consta neste acordo tem de ser autorizado pelo Governo Central e as negociações devem ter por base os princípios jurídicos consagrados na Lei n.º 6/2006 (Lei da cooperação judiciária em matéria penal), daí que não se tenha efectuado qualquer consulta”, sustentou.

Foi na quarta-feira que o acordo entre Macau e Portugal relativo à entrega de infractores foi dado a conhecer através da publicação em Boletim Oficial. O acordo também é mencionado por Liu Dexue, mas como na altura, a 28 de Maio, o texto ainda não era conhecido, o responsável não se alongou sobre o conteúdo.

AL | Defendida renúncia ao lugar de Chui Sai Cheong no Conselho do MP

Com a saída de Ho Iat Seng da presidência da Assembleia Legislativa, Chui Sai Cheong, actual vice-presidente, poderá ser eleito para esse cargo. Contudo, volta a questionar-se uma possível incompatibilidade com o facto de pertencer ao Conselho de Magistrados do Ministério Público. O deputado José Pereira Coutinho e o advogado Sérgio de Almeida Correia defendem uma renúncia de Chui Sai Cheong a esse cargo

 
[dropcap]C[/dropcap]hui Sai Cheong, actual vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), é um dos nomes que poderá ser eleito para a presidência do hemiciclo, que, de acordo com o Regimento da AL, devem acontecer dentro de 15 dias. Contudo, o deputado José Pereira Coutinho defende que Chui Sai Cheong deveria renunciar ao seu cargo no Conselho de Magistrados do Ministério Público (MP) caso venha a ser eleito presidente da AL, para que se garanta uma clara separação de poderes.

“Acho que o deputado Chui Sai Cheong será o próximo presidente da AL, mas não nos podemos esquecer que este ainda é membro do Conselho de Magistrados do MP, o que poderá constituir uma incompatibilidade do cargo no âmbito do princípio de separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judicial)”, defendeu ao HM.

Também o advogado Sérgio de Almeida Correia defende que Chui Sai Cheong deve renunciar ao referido órgão caso seja eleito presidente da AL. “Claro que devia renunciar, aliás nunca deveria ter sido nomeado (por uma questão de decoro). Razões atinentes ao princípio da separação de poderes, transparência e seriedade a isso obrigam”, disse ao HM.

Para o causídico, é “discutível se não há mesmo uma situação de conflito de interesses entre a sua posição na AL e a do Conselho sempre que estejam em causa matérias relacionadas com o MP ou de política legislativa que tenham de ser discutidas na AL”.

“Para protecção das duas instituições e dele próprio, até porque é irmão do incumbente que vai cessar funções e iriam ambos coincidir durante um período, caso fosse eleito, um como Chefe do Executivo e o outro como Presidente da AL, ele devia ser o primeiro a querer sair do Conselho”, acrescentou Sérgio de Almeida Correia, admitindo, contudo, que Chui Sai Cheong até pode pedir para sair caso seja eleito pelo hemiciclo. “Mas cada um é como é, e se até agora não sentiu que devesse sair…”, frisou.

Aquando da sua eleição para a vice-presidência, em 2017, Chui Sai Cheong rejeitou qualquer incompatibilidade. “Consultei os meus conselheiros jurídicos e eles disseram-me que não existe um conflito de interesse entre os dois cargos. Por essa razão vou continuar a desempenhá-los”, disse, em Outubro desse ano.

O bom nome

Além da eleição, daqui a 15 dias, do novo presidente da AL, será também escolhido um novo deputado em substituição de Ho Iat Seng. Wu Chou Kit, deputado nomeado, disse esperar que o novo presidente do hemiciclo seja experiente e creditado.

Sobre a candidatura de Ho Iat Seng, os membros do hemiciclo apresentam diversas opiniões. Ng Kuok Cheong defendeu que a pronta renúncia ao cargo de presidente revela que Ho Iat Seng está confiante e certo do caminho político escolhido.

O deputado do campo pró-democrata acredita que a integração de Macau no projecto da Grande Baía é um tema importante para o Governo Central e para as pessoas que fazem parte do “pequeno círculo”. No entanto, aquando dessa integração, Ng Kuok Cheong acredita ser necessário que os jovens de Macau tenham uma noção de compromisso.

“O Governo precisa de promover o conceito de ‘terras de Macau destinadas a residentes de Macau’, senão a próxima geração vai estar dispersa na região da Grande Baía”, esclareceu.

Para Ng Kuok Cheong, “se o próximo Chefe do Executivo quiser realizar conquistas políticas, deve ter sucesso na área da habitação e desenvolver o sistema político democrático” disse.

Já Wu Chou Kit disse que o facto de Ho Iat Seng ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo é uma boa informação para todos os cidadãos de Macau, uma vez que ele prometeu tratar dos assuntos ligados aos residentes, tal como o problema do trânsito e da falta de habitação. Sobre os nomes para o cargo de presidente da AL, o deputado acredita que o actual vice-presidente da AL e os secretários (Kou Hoi In e Chan Hong) são bons candidatos.

Portugueses cada vez mais irrelevantes na política local, aponta Neto Valente

A crescente irrelevância dos portugueses na vida política local, a ameaça à independência de poderes no território e a diluição da identidade local dentro do projecto da Grande Baía são algumas das ideias deixadas por Jorge Neto Valente em entrevista à agência LUSA. O presidente da AAM lamenta ainda o número cada vez maior de advogados que vêm do continente para Macau, não para aplicar o direito local, mas para ganhar dinheiro

 
[dropcap]O[/dropcap]s portugueses são cada vez mais irrelevantes na política local e a comunidade chinesa já ocupou quase todos os cargos de poder, disse o presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, em entrevista à agência Lusa.

Vinte anos após a transição de Macau para a administração da China, “há uma erosão muito grande em relação aos portugueses participarem na política local”, afirmou Neto Valente, referindo-se àqueles nascidos em Portugal.

“Hoje em dia, os portugueses (…) são praticamente irrelevantes na política local”, até porque, justificou, “não estão integrados na política local”.

Nos últimos 20 anos, “os chineses tomaram praticamente conta de tudo o que é lugar político… e os portugueses têm funções de assessoria, têm negócios (…), mas em relação à política são cada vez mais irrelevantes”, reforçou.

Neto Valente dá o seu caso como exemplo: “penso que sou o único membro do colégio eleitoral que nasceu em Portugal”, afirmou, referindo-se à comissão eleitoral que vai eleger o próximo chefe do Governo, numa votação agendada para 25 de Agosto.

O paradigma democrático a partir do qual deve ser visto Macau é, para o presidente da AAM, sobretudo uma questão pragmática: “É a China que nomeia e não vai prescindir disso. Não há outro esquema previsto na Lei Básica”.

“Temos de viver com isso e não vale a pena, por mais barulho que haja, por mais gente contra este sistema e a exigir um maior esforço democrático na escolha do Chefe do Executivo, este esquema vai manter-se na Lei Básica”, defendeu.

O advogado, em Macau há 49 anos e que preside à associação desde 2002, depois de ter ocupado o cargo entre 1995 e 2000, reforçou a ideia de que “não há dúvida nenhuma que, no sistema que é definido pela lei básica, as possibilidades de escolha não são muitas”.

Por isso, sublinhou, “quando alguém lembra à China que isto não é democrático, porque não é uma votação universal, a China diz – e diz baixinho porque nem está para se preocupar com isso -, que no tempo da administração portuguesa nem isto havia. Porque o governador era nomeado (…) pelo Estado e sem haver eleições”.

Independência ameaçada

Jorge Neto Valente, avançou ainda, que algumas das novas leis recentemente aprovadas “são machadadas” na separação e independência de poderes no território.

“Uma das maiores machadadas no segundo sistema e no sistema jurídico de Macau foi a aprovação recente da lei que diz que para julgar crimes contra a segurança do Estado só poderão intervir juízes chineses”, precisou.

Em causa está a alteração efectuada à Lei de Bases da Organização Judiciária, que limita apenas a magistrados e juízes com cidadania chinesa a investigação e os julgamentos de casos relacionados com a Segurança Nacional.

“Os juízes não se podem distinguir entre patrióticos e outros”, defendeu o presidente da AAM.
“Qualquer juiz tem de ler a lei e aplicá-la. Não pode haver juízes que são determinados pelo seu fervor patriótico”, acrescentou o responsável.

Esta alteração legislativa “foi terrível”. “Objectivamente é um péssimo sinal que se deu para os residentes e para fora de Macau”, opinou Neto Valente, sublinhando que “o que se tem assistido é a uma certa erosão da maneira de viver” no território e que “a aprovação de alguma legislação (…) é preocupante em termos de subsistência do segundo sistema”.

Riscos à boleia

Por outro lado, trazer advogados da China à ‘boleia’ do projecto de cooperação regional da Grande Baía é um risco para a advocacia portuguesa e para o sistema jurídico do território, sublinhou Neto Valente.

Em causa estão, destacou, a escala de Macau e os interesses antagónicos das partes envolvidas face ao projecto de Pequim que prevê a criação de uma metrópole mundial que envolve as regiões administrativas especiais chinesas de Hong Kong e Macau e nove cidades da província de Guangdong. A Grande Baía tem um Produto Interno Bruto que ronda os 1,3 mil milhões de dólares, maior que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.

“Há advogados que defendem a integração na Grande Baía porque estão convencidos de que vão ter mais oportunidades de negócio”, afirmou. “Querem trazer para Macau os advogados da China. (…) Trazer estes advogados significa acabar com a advocacia de língua materna portuguesa e significa mais do que isso, esses advogados que vêm do interior da China não vêm para cá entusiasmados com o direito de Macau, eles vêm entusiasmados com o direito da China”, sublinhou, lembrando que só em Guangdong há 100 mil e em Hong Kong mil, contra pouco mais de 400 em Macau.

“Alguns [advogados], sobretudo os mais medíocres, têm uma perspectiva de ganhar mais dinheiro, ao serviço de advogados da China, e com negócios da China”, explicou.
Tal “significa que não é só a advocacia que está em perigo, mas o sistema jurídico de Macau”, alertou o advogado.

Identidade em risco

“Há um risco de diluição da identidade” de Macau, “tão pequenina” em relação à população de mais de 70 milhões que vivem na região da Grande Baía, ressalvou.

A mais-valia para Macau “depende do que o Governo central resolver fazer (…). Se não for o Governo central a querer manter Macau com identidade própria Macau desaparece, diluiu-se rapidamente”, opinou.

“Dos cerca de 430 advogados que há hoje, sei quem é capaz de prosseguir uma linha que acho que deve ser seguida, com independência, (…) com sabedoria para não criar divisões inultrapassáveis e para não criar blocos que se dividam e prejudiquem a classe”, explicou.

Neto Valente sublinhou o crescimento da associação desde 1999, quando existiam cerca de uma centena de advogados: “Agora são 427, (…) Um salto grande. No fim dos anos 1990 havia cinco ou seis estagiários, agora há 127. A curto prazo, vai haver mais de 600 advogados. É um instante”, prevê.

Mobilização reduzida

Abordado sobre a possibilidade de existir em Macau uma mobilização social como a que se assistiu recentemente em Hong Kong contra a lei da extradição, Neto Valente descarta a possibilidade.

“Acho que em Macau não é possível mobilizar as pessoas, nem pagando, até porque não vai haver ninguém a pagar para fazer barulho”, ironizou Neto Valente, depois de recordar palavras de um “fanático defensor do Partido [Comunista] que toda a gente foi paga com duas mil patacas, por cabeça, para se apresentar na manifestação” que juntou milhões de pessoas nas ruas de Hong Kong.

“Isso é um insulto a dois milhões de pessoas, quase um terço da população de Hong Kong” que saiu à rua, sustentou.

As emendas à lei da extradição que causaram tanta polémica em Hong Kong podem ser vistas de duas formas: uma “mais simpática” e outra “mais perversa”, disse.

“A forma simpática de ver isto é: entre o virem buscar pessoas em Hong Kong por baixo da mesa, à socapa, e levá-las para a China, e haver regras estabelecidas claramente a definir em que condições são entregues à China, eu, talvez por deformação profissional, prefiro que haja regras”, defendeu.

“Mas tem o lado perverso: (…) com essas regras e com a amplitude com que as autoridades chinesas apreciam qualquer crítica como sendo contra o Estado, como sendo um ataque ao partido (…) também pode acontecer que a China diga que pretende a entrega de determinadas pessoas para serem acusadas de crimes que são crimes de opinião, que não são crimes perante a lei de Hong Kong ou de Macau”, explicou.

Quadro de Caravaggio, encontrado num sótão em França, mostrado em Toulouse antes de leilão

[dropcap]O[/dropcap] quadro “Judite e Holofernes” do pintor italiano Caravaggio, encontrado em 2014, num sótão da cidade francesa de Toulouse, está em exposição na casa de leilões de Marc Labarbe até ser vendido no próximo dia 27 de Junho.

A obra deverá entrar no mercado por um valor mínimo de 30 milhões de euros, segundo uma estimativa base da leiloeira, citada pela agência EFE, mas espera-se que o preço final supere os 100 milhões de euros. “Judite e Holofernes”, datado de 1607, desapareceu em 1617 e a sua existência tem sido comprovada por cartas entre comerciantes e pelo testemunho de época do pintor Louis Finson, amigo e agente de Caravaggio.

Marc Labarbe, proprietário da casa de leilões, localizou a obra, em bom estado de conservação, no sótão de um cliente que desconhecia a origem do quadro, lê-se na notícia da EFE.

Os proprietários apresentaram uma petição para obter o certificado de exportação, aprovado pelo governo francês, que classificou a obra como tesouro nacional, dando origem a propostas de compra provenientes, principalmente, dos Estados Unidos da América, de Espanha e de países do Médio Oriente.

Os especialistas, na avaliação da pintura, consideraram “a qualidade dos traços” como factor determinante da autoria de Caravaggio, ainda que a “autenticidade” tenha levantado algumas dúvidas, explica a EFE.

“Não tenho qualquer dúvida, porque trabalhei nele [no quadro] durante cinco anos. Considero que posso falar tanto como aqueles que o viram e dão as suas opiniões. Quando apresentámos o quadro em Itália sabíamos que estávamos a iniciar uma ‘guerra’ entre escolas [de arte], pois os especialistas odeiam-se uns aos outros”, afirma Marc Labarbe à EFE.

“Judite e Holofernes”, um quadro de inspiração bíblica que representa a decapitação do general Holofernes, já passou em exposição por Milão, Londres e Nova Iorque, e encontra-se agora em Toulouse.

O Palácio Barberini, em Roma, possui na sua colecção uma pintura anterior de Caravaggio, dedicada ao mesmo tema – “Judite decapitando Holofernes” -, que se encontra datada de 1598–1599, e que constitui um dos mais conhecidos quadros do pintor da “alma humana”. O leilão, no dia 27 de Junho, pode ser acompanhado em direto no ‘site’ “Caravaggio em Toulouse” (thetoulousecaravaggio.com).

Presidente chinês diz esperar que Coreia do Norte e EUA reiniciem negociações

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, citado pela imprensa chinesa, disse ao líder norte-coreano Kim Jong que a comunidade internacional espera que os Estados Unidos e a Coreia do Norte reiniciem um diálogo produtivo.

A emissora estatal CCTV referiu que Xi Jinping terá feito este comentário hoje durante uma reunião realizada durante a sua visita à Coreia do Norte. Os líderes da China e da Coreia do Norte reuniram-se hoje, em Pyongyang, numa altura em que os dois países, aliados tradicionais, enfrentam um impasse nas negociações com Washington, em torno do comércio e desnuclearização, respectivamente.

Antes da reunião, Xi Jinping e a sua mulher, Peng Liyuan, e altos quadros do regime chinês, foram recebidos com uma cerimónia de boas vindas no aeroporto de Pyongyang, com guarda de honra, salvas de canhão e os hinos nacionais de cada um dos dois países tocados por uma banda militar, segundo imagens difundidas pela televisão estatal chinesa CCTV.

Cerca de 10 mil pessoas, agitando flores e entoando frases de boas-vindas, receberam Xi, detalha a Xinhua. Trata-se da primeira deslocação de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005, e surge numa altura em que ambos, Xi e Kim, travam lutas separadas com o Presidente norte-americano, Donald Trump, por motivos diferentes.

As negociações entre Washington e Pyongyang parecem ter chegado a um impasse depois de, em Fevereiro passado, a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em Hanói, ter terminado sem um acordo.

Pyongyang propôs abdicar gradualmente do seu arsenal nuclear, à medida que as sanções económicas fossem levantadas, enquanto Washington quer um desarmamento completo.

Também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China.

Trump e Xi vão abordar as disputas comerciais, na próxima semana, durante o G20, no Japão.
A visita coincide com o 70.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Norte e ocorre nas vésperas do 69.º aniversário do início da devastadora Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com a assinatura de um armistício que não foi ainda substituído por um tratado formal de paz. Nos manuais escolares chineses, a Guerra da Coreia é designada “Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia”.

A visita de Xi foi anunciada, na segunda-feira, pelo Departamento da Ligação Internacional do Comité Central do Partido Comunista da China, ao invés do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, como é costume nas deslocações do chefe de Estado chinês.

Espectáculo de Ricardo Araújo Pereira ganha sessão extra dia 30 deste mês

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) será palco de uma sessão extra do espectáculo do humorista português Ricardo Araújo Pereira, e que acontece no próximo dia 30 de Junho às 18h00. De acordo com um comunicado, a sessão extra acontece dado o “interesse que a realização de um espectáculo do humorista” e também pela “celeridade com que se esgotaram os bilhetes colocados gratuitamente à disposição dos interessados”.

Nesse sentido, a organização da iniciativa “Junho – Mês de Portugal na RAEM” decidiu “dar a oportunidade a mais pessoas de acompanharem o trabalho do também escritor”.

Este segundo espectáculo, também de entrada gratuita, tem produção do Instituto Português do Oriente o apoio da Casa de Portugal em Macau, do Banco Nacional Ultramarino e do Instituto Politécnico de Macau.

O levantamento dos bilhetes para esta segunda sessão, sujeito a um limite de três por pessoa, poderá ser feito a partir do próximo de segunda-feira, 24 de junho, às 10.30h, nas instalações do IPOR (entrada da Rua do Pato). Terão prioridade as pessoas cujo nome se encontra em lista de espera e que não conseguiram bilhete para a primeira sessão por ter sido atingido o limite da capacidade da sala.

Plano director

[dropcap]O[/dropcap] arquitecto veio a correr escada acima, atropelando a porta, a rugir que a obra estava toda malfeita. Que não era nada daquilo que vinha nas plantas que me tinha dado ou nos modelos tridimensionais que tínhamos passado a pente fino no seu computador e aprovados pelo município. Eu achei impossível e disse que ia com ele. Ainda a semana passada a vistoria tinha sido feita pela sua equipa, eu passo lá todos os dias ao fim da tarde e não me pareceu ver nada fora do lugar, aliás, não havia tempo para realizar uma transformação assim tão profunda e radical que levasse àquela algazarra. Por isso, achei que ele estava a ser demasiado meticuloso e que um desvio de alguns decímetros que fosse não seria caso para tanto chinfrim.

Tentei acalmá-lo, mas não me deu ouvidos. Passámos por cima da porta, ele pediu-me desculpa pelo sucedido e lá fomos. Estava exaltado como nunca o tinha visto, parecia até outra pessoa, completamente esbaforido, com outro tom de pele, que desalinhava toda a sua figura. Ele que primava pelo recato. A cara então parecia estar a entrar em estado de combustão. “Isto não pode ser!”, dizia. “Não é possível! Como permitiu?”

O edifício ficava numa zona de relevo irregular, traçado sobre a encosta de uma colina escarpada, aligeirando as diferenças entre as curvas de nível como uma volumetria de luva. Tinha uns andares mais em baixo e outros a um nível superior, como qualquer edifício, que acompanhavam as linhas da encosta, mas nos quais não se podia determinar qual era o piso térreo. Nos pontos altos deslocámos algum do terreno e fizemos aplanações. Transladámos o verde autóctone. Fizemos interligações à superfície e perfurámos alguns túneis que acolhiam escadarias várias, a escoltar toda a rede eléctrica, as canalizações e fibras ópticas e todo o mundo paralelo da malha de esgotos, das caixas para a circulação de ar e do aquecimento central. Por cima, um sem-fim de telhas solares e zonas ajardinadas no topo da construção e nas paredes laterais. O uso de materiais ecológicos e a toxicidade de toda a estrutura tinham sido definidos há muito e eram o pré-requisito principal no caderno de encargos. O plano era uma construção limpa e orgânica, que se imiscuísse na natureza sem ferir tanto o ambiente como a paisagem.

Era um edifício e peras. O traçado era enraivecido e singular, inovador em muitos aspectos e auto-sustentável na eficiência energética. A sua abertura iria mudar por completo o figurino da nossa pequena urbe, em termos visuais, de habitação e nos elementos que iria acrescentar ao quotidiano da população. Estava tudo a correr como planeado, com os prazos cumpridos à risca. A satisfação era plena. Mas quando lá chegámos e me deparei com a situação, quase que ia tendo um ataque. Deitei a primeira porta que vi abaixo e desatei por ali aos gritos. Não faltava muito para explodir e entrar em combustão. A minha figura toda desalinhada.

Tentei tranquilizar-me. Olhei para o arquitecto, para o mestre da obra, para os pedreiros e carpinteiros que se encontravam no local. Para o operador da buldózer estacionada no topo da colina que, quase a chegar à hora de almoço, abria a sua marmita, preparada em casa por uma companheira inquieta, tentando concentrar-se noutra coisa que não a realidade que tinha à sua frente. Todos de igual modo estarrecidos com a situação, nenhum deles tinha um esclarecimento e nem se atreviam a alvitrar o que quer que fosse. Gritaram, ao princípio, como os demais, mas depois, dada a complexidade do acontecimento, deixaram que o silêncio lhes tomasse conta do goto. Não havia outra forma de encarar aquilo, senão com a mudez e o benefício da meditação pura.

Visualmente, era impossível de descrever. À primeira vista, poderia supor-se que o edifício tinha sido acometido por uma doença ou um fungo gigantesco, encontrando-se por isso metastizado. O próprio empreiteiro não sabia como continuar com a obra, nem que ordens dar aos seus empregados. De mãos na cabeça revirava os olhos e olhava para as plantas de pormenor, tentando encontrar aquela distopia desenhada no traçado original. Como se por baixo existisse um plano mestre desenhado a lápis que tinha sido sobreposto à rectidão das linhas técnicas. Escondido nas cofragens, nas caixas de electricidade ou nas anotações para o reboco. Não dava conta de si e exasperava-se, ao mesmo tempo que procurava dissimular a sua exaltação. Um homem é de ferro, pensava, enquanto engolia mais uma baforada de ar.

Decidimos reunir na tarde seguinte, para que pudéssemos encontrar uma solução ou tão-pouco uma pequena desculpa para aquele curto-circuito. Acolhidas as coisas, assim à primeira vista, e de modo intuitivo, o facto que decorria desse olhar ignaro era de que o edifício tinha ganho uma vida própria. À roda de uma mesa, cada um divagou por teorias inventivas, repuxando a sua criatividade ao extremo, para que se encontrasse algum pequeno fio perdido no canto da sala, que levasse a uma equação mínima de bom senso por onde pudéssemos prosseguir. Sim, a edificação era agora uma criatura. Ninguém usou o termo monstro, por um lado porque o dicionário se tornara curto; por outro, porque a beleza – também não seria bem esse o termo a empregar – permanecia na essência da composição resultante. De resto, falámos e ouvimos, mas continuámos na escuridão. A casa estava viva.

Como se por baixo existisse um plano mestre desenhado a lápis que tinha sido sobreposto à rectidão das linhas técnicas. Escondido nas cofragens, nas caixas de electricidade ou nas anotações para o reboco.

Era complexa a vida, olhávamos para o céu e procurávamos na luz, um motivo que nos indicasse a razão de estarmos ainda ali. Vivos e a respirar. De um momento para o outro, até o simples trolha, que dias antes salivava por uma estagiária que passava perto dos seus andaimes, se tornara um filósofo. Fazia contas à vida, remastigava a sua existência. Tentava encontrar uma abertura de evasão para outra realidade, que não aquela de gritar para uma mulher bonita, como um regedor troglodita, se “aquilo” era tudo dela. Não se podia induzir apenas pela hipnose que tinha entre as pernas, não era um animal, e o seu cérebro não podia estar castigado na ponta dos braços. Era preciso agir de outra forma. Essa era a única conclusão a que todos tínhamos chegado. Nenhuma outra era mais clara.

Para tornar o processo de avaliação rigoroso era necessário analisar o problema com profundidade. Como tal, instalámos uma série de câmaras de vigilância, entre outros instrumentos de telemetria, para reunir dados precisos para a investigação. Queríamos chegar à origem daquele tumulto, à espoleta da granada. O que nos era sugerido, algo também ventilado na reunião anterior, era o conceito de que ao tentarmos organizar aquela construção em sintonia com a natureza a tínhamos plantado. Ao abrirmos as fundações, a escavadoras estavam a acamar a semente; ao elaborarmos a malha de ferro e vertermos o betão nos moldes, estávamos a iniciar um processo de irrigação que ignorávamos por completo. Como uma árvore, os alicerces desprenderam-se da sua massa corpórea e lançaram sinais para os outros seres em proliferação por baixo do solo. O edifício pejado de verde autóctone e de fibra óptica enraizava-se no subsolo e nutria-se, ganhando viço. Crescendo numa biossíntese de betão armado e vidro e provido de metabolismo próprio.

As imagens recolhidas não nos deram sequer uma vereda por onde entrelaçar os sentidos. O ADN arquitectónico saltou para os escaparates e era agora uma ciência discutida por todo o mundo. O evento tinha sido elevado aos antípodas e depressa se tentou replicar noutros lugares, ainda sem sucesso, a ocorrência na nossa terra, sendo o motivo de inúmeras teses e capas de revista. Sim, aquela obra mudara por completo o figurino da nossa pequena urbe. A todo o momento, sujeito à imprevisibilidade do tempo, surgia uma nova janela, um adelgaçar dos tectos, um andar dissimulado. Não pudemos inaugurá-lo, nem dar-lhe a vida interior que organizáramos nos fundamentos do plano, mas em termos visuais era uma peça única, que nos enchia de orgulho. Era mais do que uma num milhão, era o supra-sumo da arquitectura e da engenharia. Da ordenação e da estética. Do acto divino da criação. Onde se encontrara o Santo Graal que ordenava o Homem no espaço e na sua natureza, em composta melodia celular. Mais, era impossível de ambicionar.

No fundo, estava tudo a correr como planeado.

Activistas de Hong Kong anunciam novos protestos caso lei de extradição não caia

[dropcap]R[/dropcap]epresentantes de movimentos de oposição em Hong Kong fizeram hoje um ultimato à chefe do Governo do território, Carrie Lam, para que abandone totalmente a proposta de lei de extradição, caso contrário haverá novos protestos a partir desta sexta-feira.

Se até às 17.00 horas locais, Lam não abandonar definitivamente a lei da extradição, representantes de vários movimentos de oposição vão apelar a novos protestos, que, segundo a agência EFE, já estão a ser amplamente difundidos nas redes sociais.

O líder estudantil Joshua Wong disse à agência Efe que, apesar de não ter sido ele a definir o ultimato, vai apoiá-lo. “Nós não definimos um prazo, mas vamos apoiar os outros que o fizeram. Este movimento agora já não tem líderes”, afirmou o jovem activista.

Wong previu que nas próximas duas semanas são esperados novos protestos para exigir que a proposta de lei que permitiria extraditar suspeitos de crimes para territórios sem acordo prévio, como é o caso da China continental, a demissão de Lam e a libertação dos detidos durante os confrontos registados na quarta-feira da semana passada. “Carrie Lam tem que começar a ouvir as pessoas e não os líderes políticos”, enfatizou.

Na terça-feira, a chefe do Governo de Hong Kong declarou que vai continuar no cargo e voltou a pedir “as mais sinceras desculpas” à população pela crise desencadeada com as emendas à lei da extradição.

Em conferência de imprensa, Carrie Lam explicou também não existir uma data para retomar o debate das emendas à lei da extradição, suspenso no sábado passado na sequência dos violentos protestos registados na quarta-feira anterior.

Numa semana, Hong Kong viveu três protestos contra as emendas à lei da extradição e a exigirem a demissão da chefe do Governo, com números recorde de participação, um deles marcado por violentos confrontos entre a polícia e manifestantes que causaram mais de uma centena de feridos e pelo menos 11 detenções.

Cerca de dois milhões de pessoas, quase um terço da população da região administrativa especial chinesa, saiu às ruas da cidade no domingo, de acordo com os organizadores. A polícia estimou a adesão em 338 mil.

A poluição plástica

“Around 12.7 million tonnes of plastic are entering the ocean every year, killing over 1 million seabirds and 100,000 marine mammals. By 2050 there could be more plastic in the ocean than fish by weight. Plastic pollution is the environmental scourge of our age.”
How to Give Up Plastic: A Guide to Changing the World, One Plastic Bottle at a Time
Will McCallum

 
[dropcap]O[/dropcap]s nossos belos oceanos estão a ser transformados em uma sopa de plástico, pois cerca de oito milhões de toneladas de plástico entram no mar todos os anos e, a continuar a este ritmo, enfrentamos um futuro com mais plástico nos oceanos do que peixes até 2050. O nosso vício pelo plástico e má gestão de resíduos está a condenar incontável número de espécies de ​​aves e animais marinhos à morte por emaranhamento ou envenenamento e levando à contaminação química dos peixes que comemos.

Os vastos redemoinhos de lixo plástico visíveis na superfície do mar por mais apavorantes que sejam representam apenas a ponta do iceberg.  O que está por baixo são as massas de microesferas e partículas quebradas de plástico que são facilmente ingeridas por criaturas do mar e impossíveis de as remover.  A solução urgente e necessária exige uma combinação de maior conscientização, menor uso de plástico e melhoria massiva da gestão de resíduos. O plástico envolve os nossos alimentos, casas e tecnologia.

O plástico é uma substância notável que contribuiu para os avanços nos cuidados de saúde e ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza, mas os bens de consumo descartáveis ​​acabam, muitas vezes depois de um único uso fugaz em aterros sanitários, conspurcando as paisagens e poluindo os oceanos, sendo que 80 por cento da poluição por plástico marinho é originária de fontes terrestres. O plástico é definitivamente a propaganda de tudo o que está errado com os oceanos, e as palhinhas de plástico são talvez o exemplo mais comovente da cultura descartável que criámos.

Os americanos usam quinhentos milhões de palhinhas de plástico todos os dias, o suficiente para cobrir o mundo duas vezes e nem todas terminam nos aterros, pois enchem os canais, rios, lagos e oceanos. Os cento e noventa e dois países com costa nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, ou Mar Negro e Mediterrâneo, produziram dois mil milhões e quinhentos milhões de toneladas de resíduos e prevê-se que duzentos e setenta e cinco milhões de toneladas foram de plástico e trinta e um milhões e novecentas mil toneladas de resíduos plásticos costeiros.

O consumo global de plásticos deve crescer dramaticamente, chegando a quase quatrocentos milhões de toneladas por ano até 2025. Se a taxa na qual os detritos plásticos entram no Oceano não for controlada, é possível que os oceanos possam conter um quilograma de plástico para cada três quilogramas de peixe até 2025. A gestão inadequada de resíduos é um desafio significativo no mundo em desenvolvimento, particularmente em países com populações em rápido crescimento em áreas costeiras. Os estudos revelam que cinco países (China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname) são responsáveis por cerca de 60 por cento dos resíduos plásticos que entram no oceano. A África e a América do Sul permanecem relativamente desconhecidas em termos da sua contribuição geral para os resíduos plásticos nos oceanos.

As pesquisas recentes indicam que, dada a expansão urbana projectada e o crescimento económico, a África tem o potencial de seguir o mesmo caminho que a Ásia. As pesquisas mostram que a cada minuto um camião de resíduos de plástico é despejado no mar, e que 90 por cento de todo plástico dos oceanos é proveniente de apenas dez sistemas fluviais. Os rios são as artérias do planeta e de pequenos riachos caudalosos a vastos deltas, os rios são o elo entre a atmosfera, a terra e os oceanos. Desde tempos imemoriais, as pessoas aglomeram-se perto dos rios, aproveitando a água fresca, terra fértil, ligações de transporte e os peixes abundantes.

Os rios são excelentes meios transportadores de remoção do lixo. Ao analisar a quantidade de plástico transportado por diferentes rios em todo o mundo e avaliar a quantidade de lixo nas áreas circundantes, os estudos concluíram que os grandes sistemas fluviais actuam como super estradas no transporte de plástico para o mar. Os dez sistemas fluviais, estão localizados em regiões densamente povoadas, onde o lixo é comum, sendo que dois se encontram na África (Nilo e Níger), enquanto os outros oito estão na Ásia (Ganges, Indo, Amarelo, Yangtze, Haihe, Pearl, Mekong e o Amur).

Se for reduzido pela metade a entrada de plástico das áreas de captação desses rios seria um grande sucesso, sendo de investigar a velocidade a que o plástico viaja da terra para o mar. Os detritos de plástico flutuando na superfície dos oceanos são responsáveis ​​por apenas 5 por cento de todo o plástico despejado no mar;  os outros 95 por cento estão submersos sob a superfície.

Os detritos de plástico foram encontrados no Árctico e na Antárctida, incluindo os milhares de milhões de minúsculos pedaços de plástico, chamados microesferas, que são frequentemente adicionados a produtos como pastas de dentes, produtos de limpeza facial e abrasivos, e são suficientemente pequenos para passar facilmente pelos sistemas de filtração de água e tratamento de esgoto e poluir.

A contaminação por microplásticos foi encontrada na água da torneira em países de todo o mundo, levando o pedido de cientistas para pesquisas urgentes sobre as implicações para a saúde. Os cientistas analisaram dezenas de amostras de água da torneira de mais de uma dúzia de países, sendo que 83 por cento das mesmas estavam contaminadas com fibras plásticas. Os Estados Unidos apresentaram a maior taxa de contaminação, de 94 por cento, com fibras plásticas encontradas na água da torneira amostrada em locais como os edifícios do Congresso, a sede da Agência de Protecção Ambiental e a Trump Tower em Nova Iorque. O Líbano e a Índia tiveram as taxas mais altas seguintes. Os países europeus, incluindo o Reino Unido, a Alemanha e a França, tiveram a menor taxa de contaminação, que era de 72 por cento.

O número médio de fibras encontradas em cada amostra de 500ml variou de 4,8 nos Estados Unidos a 1,9 na Europa. As novas análises indicam a extensão omnipresente da contaminação por microplásticos no ambiente global. Trabalhos anteriores têm sido amplamente focados na poluição de plásticos nos oceanos, o que sugere que as pessoas estão a ingerir microplásticos através de frutos do mar contaminados. Um pequeno estudo separado na República da Irlanda, também encontrou contaminação por microplásticos em uma série de amostras de água da torneira e de poços não sendo possível saber qual o impacto na saúde, pelo que se deve seguir o princípio da precaução e descobrir o mais rápido possível os seus riscos.

Assim, existem duas preocupações, o das partículas muito pequenas de plástico e os produtos químicos ou patógenos que os microplásticos podem abrigar. Se as fibras existem, é possível que as nanopartículas também se encontrem e não se possam medir, uma vez que estão na faixa nanométrica e podem penetrar em uma célula o que significa que podem invadir os órgãos o que seria preocupante. As análises capturaram partículas de mais de 2,5 mícron, duas mil e quinhentas vezes maiores que um nanómetro. Os microplásticos podem atrair bactérias encontradas no esgoto. Alguns estudos mostraram que há mais patógenos nocivos em microplásticos a jusante de estações de tratamento de águas residuais.

Os microplásticos também são conhecidos por conter e absorver produtos químicos tóxicos e a pesquisa em animais selvagens mostrou que são libertados no corpo. Ficou claro desde o início, que o plástico libertaria essas substâncias químicas e que, na verdade, as condições no intestino facilitariam uma libertação rápida, facto encontrado em um terço dos peixes capturados no Reino Unido. A escala global de contaminação por microplásticos está apenas a ser esclarecida com estudos na Alemanha que descobriu fibras e fragmentos em todas as vinte e quatro marcas de cerveja testadas, bem como em mel e açúcar.

Os pesquisadores, em 2015, descobriram em Paris, que o microplástico caía do ar, prevendo a existência de depósitos de três a dez toneladas de fibras na cidade cada ano, e que também estava presente no ar e nas habitações. A pesquisa determina que a ingestão de partículas de plástico é um risco para a saúde, pois ao respirar poderiam entrar substâncias químicas nas partes inferiores dos pulmões e talvez até na circulação sanguínea. Os microplásticos acabam por ser usados ​​na água potável o que constitui um mistério, mas a atmosfera é uma fonte óbvia, com fibras libertadas pelo desgaste diário de roupas e carpetes. Os secadores de roupa são outra fonte potencial, com quase 80 por cento das habitações americanas com secadores que normalmente têm saída para o exterior.

É de acreditar que os lagos e outras massas de água podem ser contaminados por elementos atmosféricos cumulativos. O que se observa em Paris tende a demonstrar que uma enorme quantidade de fibras está presente na precipitação atmosférica. As fibras plásticas também podem ser lavadas em sistemas de água, com um estudo recente a descobrir que cada ciclo de uma máquina de lavar roupa poderia libertar setecentas mil fibras para o meio ambiente. As chuvas também poderiam dispersar a poluição por microplásticos, o que poderia explicar o motivo pela qual os poços domésticos usados ​​na Indonésia foram contaminados.

O abastecimento de água, em Beirute, no Líbano, provêm de fontes naturais, mas 94 por cento das amostras estavam contaminadas. Os actuais sistemas de tratamento de água não filtram todos os microplásticos, não existindo algum local onde se possa afirmar que são capturados 100 por cento. Em termos de fibras, o diâmetro é de 10 mícron e seria muito incomum encontrar esse nível de filtragem nos sistemas de água potável. A água engarrafada pode não fornecer uma alternativa isenta de microplásticos para a água da torneira, uma vez que também foram encontradas em algumas amostras de água engarrafada comercial testada nos Estados Unidos.

Quase trezentos de toneladas de plástico são produzidas a cada ano e, com apenas 20 por cento de material reciclado ou incinerado, muitas delas acabam envolvendo o ar, terra e mar. Prevê-se que oito mil milhões e trezentos milhões de toneladas de plástico foram produzidas desde a década de 1950, e que os resíduos de plástico tornaram-se omnipresentes no meio ambiente e a sufocar os ecossistemas. Os plásticos são muito úteis, mas a gestão dos resíduos deve ser drasticamente melhorado. O plástico é um bem necessário, mas o ser humano é o criador do prejuízo ao descartar da forma mais descuidada e irresponsável.

Os plásticos biodegradáveis ​​(particularmente os feitos de plantas) são promissores sob certas condições, que geralmente não são encontradas no ambiente natural, e especialmente nos oceanos sendo energeticamente intensivos, caros e têm o potencial de tornar o problema do lixo ainda pior, encorajando as pessoas a pensarem que não existe qualquer tipo de problema ao descartar recursos valiosos.  Além disso, mesmo em condições ideais, a biodegradabilidade não resolve questões críticas como o entrelaçamento ou a ingestão por animais marinhos.  Mesmo que a sociedade banisse todos os sacos de plástico, por exemplo, isso representaria apenas cerca de 1 por cento da produção total de plásticos.

É de lembrar que existe uma consciência crescente acerca da epidemia de plástico no planeta, que levou a crescentes compromissos e acções globais para combater a poluição por plásticos marinhos, tanto a nível nacional, como internacional e por exemplo, em 2017, a ONU lançou a “Campanha Clean Seas: Turn the tide on plastic” para transformar a maré em plástico. Em Dezembro de 2017, duzentos países da Assembleia Ambiental da ONU, que é o maior órgão de decisão do mundo em termos de meio ambiente, adoptaram uma resolução pedindo que muito mais fosse feito sobre os resíduos plásticos, e alguns países afirmaram que querem que a acção conduza a um compromisso legal sob a forma de tratados.

A União Europeia (UE) travou uma guerra contra os resíduos de plástico como parte do seu plano de limpeza e garantir que todas as embalagens produzidas na Europa sejam reutilizáveis ​​ou recicláveis ​​até 2030. Em Junho de 2018, os líderes do G7 também adoptaram a “Carta dos Plásticos nos Oceanos”.  O Japão está a pressionar pela adopção de uma estrutura de acção obrigatória para combater a poluição marinha por plástico na “Cimeira do G20” que se realizará em Osaka, a 28 e 29 de Junho de 2019.

É de te der em conta que um número crescente de cento e cinquenta países e cidades proibiram o uso de sacos plásticos em todos os continentes e microesferas ou que estão a planear fazer. O mundo dos negócios também está a começar a agir, como parte do “Compromisso Global da Nova Economia de Plásticos”, e as empresas que são colectivamente responsáveis ​​por produzir 20 por cento de todas as embalagens plásticas, globalmente, comprometeram-se a erradicar os resíduos de plástico e a poluição. As limpezas do litoral estão a ser organizadas em todo o mundo e filmes de conscientização pública no “YouTube” com a denominação “Plastic Change” estão a ajudar a levar a mensagem.

As consequências são muito sérias pois o plástico nos oceanos tem um impacto desproporcionalmente grande na sua vida selvagem e pequenos pedaços de plástico são ingeridos por peixes, tartarugas e aves marinhas, muitas vezes resultando na sua morte.  Os animais e pássaros também podem ficar aprisionados em detritos plásticos, sofrendo sérios ferimentos e com o tempo, o material plástico não se biodegrada, mas decompõe-se em minúsculas partículas conhecidas como microplásticos, que podem ser comidos por pequenos animais marinhos e entrar na cadeia alimentar. Os microplásticos nos oceanos são comummente definidos como tendo menos de 5 mm.

Os detritos de plástico contêm frequentemente produtos químicos adicionados durante o fabrico que podem absorver e concentrar contaminantes, tais como pesticidas, metais pesados ​​e poluentes orgânicos persistentes (por exemplo, bifenilos policlorados ou PCB). Esta poluição é extremamente difícil de remover do meio ambiente. Um crescente corpo de pesquisa científica e de evidências, sugere que essas substâncias nocivas podem ser transferidas para o tecido de espécies aquáticas, como peixes que são consumidos.

Torna-se necessário assumir que a maré de plásticos que entram nos oceanos exigirá uma combinação de abordagens, incluindo, a mais importante, que é reduzir e limitar a quantidade de plástico que usamos, melhorando a recolha, infra-estrutura e gestão de resíduos, e expandindo a reciclagem, particularmente nos países onde a maior parte do lixo de plástico é criada. Deve-se fazer a transição de uma economia linear (fazer, usar, descartar) para uma economia circular em que os recursos, como os plásticos, são usados, recuperados e reutilizados vários vezes, ao invés de irem directamente para o aterro. A forma mais eficaz de ter menos plástico nos oceanos é usar menos plástico. A acção corporativa é importante pois é necessário reduzir urgentemente o plástico de uso único e, embora o apoio das empresas a iniciativas que ajudam a reciclar e limpar plásticos seja importante, a solução é introduzir com urgência embalagens alternativas e sustentáveis.

A liderança dos governos é fundamental, pois mais esforços são necessários para assumir a liderança na política ambiental e para cooperar no combate a este flagelo global.  A acção é necessária actualmente, não daqui a dez anos. Uma medida imediata e necessária é a redução de barreiras ao financiamento de uma melhor gestão de resíduos, particularmente na China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname. A responsabilidade pessoal é de ter em conta, pois todos nós precisamos de limitar significativamente o uso do plástico.  Por exemplo, podemos levar uma garrafa de água ou copo de café reutilizável, trazer a nossa sacola de pão ou outra reutilizável nas compras, reduzir drasticamente o nosso consumo de plástico de uso único, como alimentos contidos em embalagens plásticas ou palhinhas de plástico nas bebidas “take-away”, e certificar de que são recicladas sempre.

A educação e conscientização pública são essenciais pois alguns governos incorporaram a educação sobre plásticos, gestão de resíduos e reciclagem nos seus currículos escolares.  Esta é uma estratégia útil e os esforços de educação pública devem ser alargados, mas precisam de ir mais longe e rápido para incentivar as empresas a mudar e adoptar políticas de aquisição que reduzam a sua pegada de plástico.