Autocarros | Concessionárias fecham ano com lucros

[dropcap]A[/dropcap]s três empresas responsáveis pelo serviço público de autocarros registaram lucros em 2018, sendo que a TCM se fundiu com a Nova Era, que deixou de operar em Julho do ano passado, de acordo o balanço publicado em Boletim Oficial (BO). A Transmac lidera ao nível dos lucros, com 41,4 milhões de patacas.

A empresa diz ter reforçado “a gestão de lucros e o controlo de custos”, o que resultou nos ganhos alcançados. O ano passado a empresa transportou um total de 97 milhões de passageiros, “com um volume médio diário de 257 mil passageiros, que registou um aumento de 4,3 por cento comparando com o ano anterior”, lê-se no mesmo balanço publicado em BO. Com a abertura da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, “o volume de passageiros subiu 8,1 por cento em comparação com o ano anterior”.

Para os próximos tempos, a concessionária “planeia actualizar 85 autocarros da frota que têm servido mais de 10 anos, e 62 autocarros inundados na passagem do tufão Hato em 2017”, sendo que o pedido “já foi entregue ao Governo”. O contrato de concessão tem duração até 31 de Outubro deste ano, estando a ser negociado “forma estreita com o Governo”.

No que diz respeito à TCM – Sociedade de Transportes Colectivos de Macau, a empresa registou lucros de 36,2 milhões de patacas em 2018. Todos os activos e passivos da Nova Era foram transferidos para a TCM. A empresa extinta registou lucros líquidos de 33,3 milhões de patacas.

Ilha Verde | IC vai notificar donos do convento mas não diz quando

O Instituto Cultural chamou ontem a imprensa para avisar que vai notificar em breve os proprietários do convento jesuíta da Colina da Ilha Verde e fixar prazos para a realização das obras de restauro. Mas ainda não sabe quando

 

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) informou ontem que vai avançar em breve com uma carta formal de notificação à empresa proprietária do antigo convento jesuíta, situado na Colina da Ilha Verde, estabelecendo um prazo para que esta proceda às obras de reparação urgente do edifício, ao abrigo da Lei de Salvaguarda do Património Cultural em vigor.

Após a publicação do relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), na passada segunda-feira, onde foram apresentadas queixas sobre a “insuficiência da conservação e do planeamento do terreno da Colina da Ilha Verde por parte do Governo, o que teria provocado danos na colina e na paisagem”, o IC reuniu ontem com os actuais proprietários – a Companhia de Desenvolvimento Wui San Limitada – para apurar os motivos da inacção desde 2017, quando foram informados sobre estas suas obrigações.

Segundo o IC, a empresa proprietária alegou na reunião de ontem dificuldades na realização e planeamento das obras de reparação, dado tratar-se de um edifício muito antigo do século XIX, havendo “falta de plantas e de informação sobre as estruturas e os materiais utilizados na época, e falta de registos sobre os acrescentos e alterações feitas ao longo do tempo”, o que justificou que não tenham chegado a proceder à sua execução, revelou ontem a vice-presidente, Leong Wai Man, em conferência de imprensa.

A responsável afirmou que o IC “compreendeu as dificuldades apresentadas, mas reiterou a obrigação da empresa proprietária em proteger aquele património classificado”, informando que estabelecerá um prazo, a partir do qual a instituição será forçada a intervir coercivamente, arcando com a responsabilidade das obras e apresentando posteriormente a despesa aos proprietários, de acordo com o disposto no artigo 39º daquela Lei de 2013.

Interrogada sobre o facto de o IC não ter feito mais do que enviar, em 2017, uma carta ao proprietário a dar conta das suas obrigações em relação à degradação avançada do edifício, a vice-presidente informou que procederam a vistorias da zona protegida da Ilha Verde e que vai trabalhar para “garantir que o património cultural classificado de Macau seja defendido”, concordando com os pareceres do Comissariado no que diz respeito à actual degradação do convento jesuíta.

O IC não conseguiu, contudo, informar quanto ao prazo que será dado na carta aos proprietários, para o início e o fim do período de obras, justificando ter de analisar agora o que poderá ser uma data “razoável” e permitindo à empresa uma última oportunidade para avançar com as suas responsabilidades.

 

Moradores pedem implementação do plano de ordenamento

Chan Ka Leong, vice-presidente da direcção da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong), e a presidente da Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde, Chan Fong, exigem que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) acelere a implementação do Plano de Ordenamento Urbanístico da Ilha Verde, de acordo com as expectativas da sociedade. Os dois responsáveis garantem que continuam a viver pessoas de forma ilegal no antigo Convento da Ilha Verde que não tencionam abandonar o local, o que cria dificuldades aos proprietários para a realização de obras de manutenção. A situação de alojamento ilegal mantém-se, pelo menos, desde 2012, quando viviam, em condições precárias, dezenas de trabalhadores da construção civil oriundos da China. Chan Ka Leong e Chan Fong esperam que o Governo intervenha também a este nível para por fim à situação de alojamento ilegal.

Grande Baía | Edmund Ho pede cooperação com fundação da segunda esposa de Sun Yat-sen 

[dropcap]O[/dropcap] vice-presidente da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, Edmundo Ho, defendeu o aumento da cooperação entre os diversos sectores de Macau e a Fundação Soong Ching Ling China. Na visão daquele que foi o primeiro Chefe do Executivo da RAEM, o objectivo é desenvolver parcerias de longo prazo com a fundação em prol da participação no projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

O Jornal do Cidadão escreve também que Edmund Ho lembrou que o papel de Macau, no contexto da Grande Baía, é ser “um centro, uma plataforma, uma base”, tendo, por isso, a responsabilidade de implementar estratégias do Governo Central e aprofundar o princípio “Um País, Dois Sistemas”.

O vice-presidente da fundação, Yu Qun, agradeceu ao Governo da RAEM e aos dois Chefes do Executivo, Edmund Ho e Chui Sai On, pelo apoio prestado à fundação, incluindo a parceria tem vindo a ser concretizada com a Fundação Macau. Nascida em Xangai em 1893 e falecida em 1981, Soong Ching Ling foi a segunda mulher de Sun Yat-sen e foi nomeada, em 1981, presidente honorária da República Popular da China.

Governo esconde dos deputados destino de 8 mil milhões de renminbis

Um acordo de confidencialidade com as autoridades de Guangdong foi a desculpa utilizada pelo Executivo para recusar dizer onde fez investimentos milionários. Deputados garantem não estar interessados na questão, desde que a RAEM receba o retorno prometido de 3,5 por cento do investimento

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo recusou informar os deputados onde foram investidos 8 mil milhões de reminbis no Interior da China, no âmbito da parceria com as autoridades de Cantão, chamada Fundo de Desenvolvimento para a Cooperação Guangdong-Macau. Numa reunião com a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos Públicos, que tem como função fiscalizar os investimentos da RAEM, os membros da Assembleia Legislativa deram-se por satisfeitos com as informações disponibilizadas pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong.

“Há oito projectos em que está a haver intervenção do fundo, cinco dos quais estão na zona da Grande Baía. Os projectos estão relacionados com construção de infra-estruturas, centros modais de transportes, auto-estradas, campos tecnológicos e transportes ferroviários”, afirmou Mak Soi Kun, presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas.

No entanto, os deputados desconhecem por completo os investimentos feitos. “Sabemos que há uma lista de projectos para a aplicação dos fundos, que é fornecida pelas autoridades de Guangdong. Mas, como existe uma cláusula de confidencialidade, o Governo não está em condições de revelar os pormenores”, acrescentou. Uma das razões mencionadas para não se divulgar os locais do investimento, segundo Mak Soi Kun, é o facto da informação poder afectar o preço desses investimentos.

Todavia, o facto de os deputados não poderem saber onde está a ser aplicado o dinheiro, nem acompanhar os trabalhos de construção dos projectos, não causou preocupação. Isto porque o fundo tem um retorno garantido de 3,5 por cento do investimento feito, pelo que é nesse aspecto que os legisladores se vão focar.

“O que nos preocupa é o retorno fixo. Quanto aos investimentos, não vamos acompanhá-los. Se a taxa de retorno está assegurada, não temos grande interesse em saber esses pormenores.

Sabemos as áreas do investimento e que dinheiro foi investido. Quando chegar a altura de receber os lucros combinados vamos exigi-los”, sustentou.

Neste momento, Macau investiu 8 mil milhões de renminbis no fundo. Deste valor, as autoridades de Guangdong investiram 7,3 mil milhões de forma faseada e têm mais 700 mil para investir.

Porém, o valor investido por Macau pode alcançar os 20 mil milhões, valor orçamentado para a esta parceria.

Segundo os dados apresentados pela comissão, entre Junho e o final do ano de 2018, os lucros do investimento da RAEM atingiram 45,45 milhões de yuan. A este lucro deverá ser aplicado um imposto de 10 por cento. Contudo, o secretário disse aos deputados que vai tentar obter um perdão fiscal.

Sob o signo de Santiago

Outro dos pontos abordados durante a reunião foi o andamento dos trabalhos do Governo para o estabelecimento do Fundo para o Desenvolvimento e Investimento da RAEM, uma espécie de fundo soberano.

Segundo os trabalhos apresentados por Lionel Leong, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM), os Serviços de Finanças (DSF) e os Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ) concluíram a primeira fase dos trabalhos, os seja os estudos. Ficou estabelecido que o fundo vai ser gerido por uma empresa com capitais públicos. A questão preocupou os deputados, devido o receio de falta de transparência, queixa frequente dos legisladores face a outras empresas com capitais públicos. Foi por isso sugerido ao Governo que a empresa siga as obrigações de outras companhias cotadas em bolsa. A proposta foi recusada.

Porém, segundo o Executivo a empresa vai operar de acordo com o código comercial de Macau, tal como as outras empresas no território. A companhia fica igualmente obrigada a adoptar os princípios de Santiago, ou seja, um conjunto de linhas orientadoras aplicadas a vários fundos soberanos que envolvem exigências como a publicação de relatórios anuais, o cumprimento de regras dos locais de investimento, assim como transparência.

Sobre os quadros para a empresa, que necessitam de ser altamente qualificados, o secretário admitiu a hipótese de contratação no exterior, mas realçou a prioridade dos quadros locais. Está ainda a ser ponderado o desvio de uma parte dos trabalhadores da AMCM, responsáveis pela aplicação das reservas de Macau, para a empresa.

SSM pagam 1,57 milhões por cirurgia que resultou em morte

Em 2011, um homem de 71 anos foi internado no Hospital Conde São Januário onde foi operado com recurso a uma abordagem inovadora, que na altura foi utilizada pela primeira vez em Macau. Horas depois teve complicações e após mais duas intervenções, acabou mesmo por morrer

 

 

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SSM) foram condenados a pagar 1,57 milhões de patacas à viúva e aos quatro filhos de um homem de 71 anos, que morreu no Hospital Conde São Januário, após ter sido operado duas vezes, na sequência de uma primeira cirurgia para tratar de um cancro nas vias biliares. A decisão foi tomada este mês, pelo Tribunal Administrativo, mas o caso remonta a Dezembro de 2011, quando o homem foi internado e operado devido a complicações relacionadas com três intervenções cirúrgicas a que foi submetido.

Depois de lhe ter sido diagnosticado cancro nas vias biliares, o paciente foi internado. Na altura a equipa médica do Hospital São Januário optou por realizar uma intervenção cirúrgica chamada duodenopancreatectomia, também conhecida como Whipple, ou seja, uma operação que permite remover parte das vias biliares, e que é igualmente utilizada para as situações em que é necessário remover a cabeça do pâncreas, o duodeno ou a vesícula biliar.

A cirurgia poderia ter sido ser feita com duas abordagens diferentes. A tradicional e mais utilizada na altura a: laparotomia. Esta abordagem obriga à abertura da barriga, com um corte grande, para manipulação manual dos órgãos. A outra abordagem é a laparoscopia, em que se são utilizadas sondas equipadas com uma câmara e uma pinça nas pontas, e que deixam apenas uns furos no abdómen. Esta abordagem é frequentemente utilizada para exames e acabou por ser a escolhida, apesar de nunca antes ter sido feita em Macau.

Assim, a primeira cirurgia com recurso a laparoscopia em Macau foi realizada entre as 13h e as 23h20 do dia 21 de Dezembro de 2011. Como no dia seguinte se verificou uma grande hemorragia, o mesmo procedimento foi repetido entre as 15h50 e as 19h10. Nesta operação, o tribunal deu como provado que foram encontrados 2,3 litros de sangue no abdómen do paciente, que tinham resultado de um corte feito na primeira operação. O paciente recebeu ainda uma transfusão de sangue.

Poucas horas depois da segunda operação o paciente teve nova hemorragia com perda de fluxo do sangue. A solução voltou a passar por mais uma operação, com recurso à técnica de laparoscopia, a última que foi feita antes do homem de 71 anos morrer.

 

Repetição do erro

Segundo o Tribunal Administrativo, as segunda e terceira operações deviam ter sido feitas com recurso à técnica mais popular em vez da técnica inovadora, como recomendam as práticas internacionais, ou seja, através da laparotomia.

“Na escolha do meio de laparoscopia para a segunda e terceiras cirurgias, infringiram o legis artis [ndr. práticas habituais], que segundo os conhecimentos da medicina ao tempo em que os actos foram praticados, o procedimento a adoptar deveria ter sido a técnica de laparotomia […] e não a laparoscopia”, pode ler-se na decisão.

“Os dois médicos têm culpa ou mera negligência, na medida em que estes, perante as graves hemorragias que a situação clínica da vítima apresentava na altura, acompanhadas de choque hemorrágico e da queda violenta da pressão arterial na sequência da primeira cirurgia e da segunda, não actuaram com o dever de cuidado na ponderação do meio adequado para suster a hemorragia com uma maior eficácia possível”, foi acrescentado.

De acordo com a lei em vigor, que define a responsabilidade civil das entidades públicas, compete aos Serviços de Saúde assumirem a responsabilidade civil dos seus agentes. Por este motivo, o tribunal decidiu que a viúva tem a receber 449 mil patacas e cada um dos quatros filhos 280 mil patacas. No total, os SSM pagam cerca de 1,57 milhões aos familiares, devido aos procedimentos que resultaram na morte do homem.

A decisão do Tribunal Administrativo poderá ainda ser alvo de recurso, tanto pela família como pelos Serviços de Saúde. Além disso, decorre em tribunal um processo crime sobre o caso.

 

 

Decisão emblemática

Depois de conhecida a decisão, o advogado da família da vítima, Paulo Ramalho Gonçalves, elogiou a conduta dos juízes pela forma como lidaram com o processo. “Estou satisfeito com a decisão do ponto de vista da sua correcção técnica, como estive ao longo das várias sessões do julgamento, porque raramente vi, para dizer que nunca vi, um colectivo de juízes tão profissionalmente atento e focado em chegar ao fundo da questão. Notou-se o esforço de procurar perceber com a máxima exactidão possível o intrincado contexto médico deste infeliz evento”, disse Paulo Ramalho Gonçalves, ao HM. “Mesmo que a decisão não tivesse sido favorável aos meus clientes, eu teria ficado com uma excelente impressão do tribunal. Felizmente a decisão corresponde muito de perto ao que estava a antecipar em função do que resultou do julgamento”, acrescentou.

O causídico definiu ainda a decisão como emblemática: “É uma decisão emblemática, e não é comum a Administração ser condenada. É uma decisão muito importante do ponto de vista jurídico-social; e paradigmática, servindo de referência para o futuro”, considerou.

O carro à frente dos bois

[dropcap]H[/dropcap]oje, é o grande acontecimento, mais um pouco e esquecia-me. O senhor padre avisou que tinha de ser neste dia, ainda procurámos adiar, não estávamos preparados. Temos medo. Eu e os meus primos não vamos à escola, temos dificuldade em fixar o que nos dizem. Até as rezas que a minha mãe me ensina ficam sempre pelo princípio. Que posso fazer? Não me lembro. Não sou boa para teatros. E fico ali a dizer a cantilena que nunca mais acaba. Depois fico com fome. Com um formigueiro nos pés. E distraio-me. A barriguinha a fazer gluglu.

A minha mãe e o padre Faustino insistem, contam-me histórias, que veio um senhor à terra, e eu pergunto se é a nossa terra de Aljustrel e o que veio cá fazer. Se vai voltar. Ela a perder a paciência. Grita-me! Gosto sempre de visitas. É bom ver caras novas. Às vezes, trazem-nos rebuçados e colam-se aos dentes. E ralha-me. Diz-me: presta atenção, Lúcia! Está calor e imagino, quando me contam estes mexericos, o que estará a acontecer lá fora e que fazem os meus comparsas; podíamos estar a brincar no arneiro e a beber água fresquinha. No pátio grande da nossa casa há cinco figueiras, depois há umas escaditas até onde fica o poço, onde há macieiras, pereiras, cerejeiras e mais. No Verão, com a canícula, fico muito transpirada e só me apetece saltar para cima de uma árvore. Escorregamos por ali abaixo e deixamo-nos estar sentados no muro, que não é de pedra miúda, a roer caroços até à última. Em certos dias, quando é tempo disso, ficamos todos a esmigalhar o milho no meio da eira. Mas à noite, a querer dormir, a minha mãe não deixa de me ler o livro da Missão. À candeia.

A Jacinta e o Francisco são mais novos. Também não aprenderam. E por isso, demoram mais a ouvir o senhor padre, como se pelo meio, entre a boca de um e os ouvidos dos meninos, existisse uma grande cova, com uma charca e tudo, cheia de passarocos a chapinhar, no meio do olival, onde os homens se põem a arrancar ramos nos troncos junto ao chão, eu digo-lhes para não fazerem isso, que as cabras gostam de os comer. Os meus primos também devem querer mais estar a brincar do que estar ali. Mas o padre Faustino diz que é importante. Foi como se fez em França. E não precisamos de nos preocupar. Por via das coisas, é melhor dizer que o Francisco é mouco, assim não vai explicar nada. Não te esqueças que tu és mouco! Mas tem de se lembrar do que vê. Eles preparam tudo. Têm uma marioneta ainda mais baixa do que a Jacinta, onde puseram uns fuminhos e uns pirilampos, que se acende e começa a brilhar, com um vestidinho branco debruado a ouro e uns brincos amarelos. Um balão que voa. Se bem que lá fora – eu já disse ao senhor padre – não se deve notar muito e devíamos fazer as coisas mais no lusque-fusque, quando as pessoas estão a voltar para casa, dos campos. Mas ele teima, que tem de ser assim. Quando o Sol está no pico.

Hoje não era preciso grande coisa, repetiu. Depois, quando me perguntassem, teria de contar todo o preparo, que uma senhora cheia de luz se tinha assomado ao cimo daquele arbusto e falado connosco, os três. Não me posso esquecer das palavras. Que os homens tinham de se portar bem e rezar muito, senão o mundo ia acabar. Como castigo. Que durante seis meses ia aparecer ali, no mesmo dia do mês, mais ou menos à mesma hora. Pode ser que das próximas vezes seja mais para o anoitecer, se o padre Faustino deixar. É melhor! E para construir uma capelita naquele lugar e lojas para vender aquelas bonequinhas, de vários tamanhos e feitios, e uns cartõezinhos com as rezas, para as pessoas não se esquecerem. O terço, chiça! E velas, muitas velas. Para a noitinha? Mas o senhor padre não me respondeu. E mais tarde poderiam fazer ali uma grande praça, onde os carentes podiam chegar a arrastar-se com os joelhos todos esfolados, ou em camionetas da carreira, para cumprir promessas, acreditando que a senhora ia fazer milagres. Curar as doenças, pagar as dívidas, fazer com que os filhos tivessem boas notas. A uns sim a outros não. E todas as guerras iam acabar nesse mesmo dia, para os militares retornarem aos seus lares. Espero que não nos façam voltar à escola. Aquela terra iria ser tão grande que não ia caber dentro do monte. Que até lhe iam pôr outro nome com mais letras. Não me lembro bem qual, tenho de perguntar ao senhor padre. Na brasa das ideias, ouvi Maria do Rosário, não sei se era por causa disso.

Lúcia, presta atenção. Reza! – berra a minha mãe. Eu com a cabeça a ferver. Pai nosso que estais no céu. O pai está no céu, mãe? Não tinha ido à taberna do senhor Silva? Tenho fome, mãe! A candeia a fazer sombras na parede. São as alminhas, confirma, temos de as resgatar. E diz-me que não é o senhor Silva, nem o meu pai. Que é o Senhor que está no Céu, com letra grande, e junta as mãos para cima, o filho da Santíssima, também com S. Mas àquela hora já não enxergo, só penso no que vamos comer: umas batatinhas e umas couves, que a nossa terra dá sempre muito. Quando o Sol perde a última pontinha de luz, a minha mãe a pôr mais petróleo na lamparina – Lúcia? – e eu já a sonhar. A degolar rifões: em Fátima nada nos lembra Maria, é tudo negócio, pura idolatria.

Tanto que ali ia mudar. Era melhor os meus primos findarem mais cedo, porque não eram de confiança e podiam dar com a língua nos dentes. Isto disse outro homem, todo vestido de escuro como a cruz da igreja, a falar com o senhor padre. Que não lhes iam cortar os gasganetes, mas tinham de ver. Facilitava. Pensa nisso, Faustino! Foi o que ouvi quando voltei atrás para buscar a sacola, ali esquecida, porque tinha de ir fazer um mandado à minha mãe e não podia chegar de mãos a abanar senão ela batia-me. E a mais crescida vai dentro, disse ainda. Eu a sair porta fora.

Formigueiro, formiguinha, formigão, vais ver que te vão dar razão.

Arranjado foi, à hora da merenda já íamos a caminho da carrasqueira. Não me podia esquecer de aviar o recado. Vou depois da aparição, assim se chama. Os meus primos estavam esmorecidos a dizer que não queriam ir, que era melhor o gado pastar na serra, que ali não há erva da boa. Mas convenci-os, as cabras podiam comer algumas folhas da tal azinheira, já foi cortada e voltou a nascer. Eles que não prestaram atenção ao que o padre Faustino disse a seguir à missa. Se não rezam vão ficar de castigo na catequese. Castigados pela virgem. Não sei ler, mas sei que é com v de vitória.

O meu pai diz que sou uma intrujona, mas vou ser a artista principal e já decorei as minhas falas. Se não me alembrar também não será muito custoso, há-de-me aparecer alguma coisa à frente dos olhos. Falo no demónio, que é sempre coisa ruim, ou se estiver trovoada posso dizer que é uma batalha nos céus. Onde devem estar o senhor Silva e o meu pai. E o meu irmão Manuel que já foi às sortes e talvez vá para a guerra. A menos que os pirilampos façam mesmo o que dizem, dá-me para acreditar. Rogai por nós pecadores, cochicha a Jacinta, a rodar o seu colar entre as mãos. É o que devemos orar quando lá chegarmos. Ajoelhando.

O dia estava como o pêlo de uma ovelha tosquiada, começámos a correr porque vinha aí uma chuvinha e era melhor despachar aquilo não fosse a senhora molhar-se. Íamos só ver, para nos avezarmos ao lugar. Ficava ali perto, ainda no fosso do olival; a arvorezinha tinha uma fita num dos ramos, era fácil de ver.

Formigueiro, formiguinha, formigão, vais ver que te vão dar razão. Desde que me tornei pastora, já lá vão três anos, fico a tratar do gado o dia todo, pelos montes afora, a saltitar. Mas naquele dia, com os amanhos, pegámos tarde. Sou boazinha. E digo à minha mãe que não pequei, que tenho sono. Isso é uma reza? – desperta o Francisco, que só é surdo para o que tem de ser. Orações, sacrifícios, a graça do Senhor. Que está muito ofendido, sentencia a minha mãe. Que será que queriam dizer com o vou dentro? Dentro de onde? De uma raposa a passar, não é. E continuamos.

Como se chama aquele homem que morreu na cruz? Esqueço-me sempre. Será pão o que ela me pediu? Uma pouca de sal? Os panos para oferecer ao sacristão? Decoro outras coisas, mas nomes não é comigo. O senhor padre não gosta que esteja sempre a tratá-lo por vossemecê. Padre Faustino, caramba! Será o pavio para o candil? O Francisco sabe, diz que se chama Cristiano. Mouco, o filho da santíssima sua mãe. É Domingo, os pais foram à vila, só a venda do chinês está aberta. Se isto fosse a sério, gostava de perguntar à senhora pela Maria das Neves e pela Amélia, que se findaram no Inverno. Também terão ido no balão?

Anda, chegámos! – avisa a minha prima, olho para ela como se já tivesse partido. Podes começar.

CCAC | Candidato Hoi Vong Chong pede investigação à CAECE

[dropcap]O[/dropcap] potencial candidato a Chefe do Executivo, Hoi Vong Chong, conhecido por se manifestar de amarelo nas ruas de Macau, solicitou na passada terça-feira ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC) uma investigação à Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE).

De acordo com o jornal Macau Post Daily, o possível candidato teme que o processo eleitoral para o mais alto cargo do Governo não seja conduzido com imparcialidade. Em causa estará um alegado caso de difamação dirigido ao candidato por um dos membros da CAECE, Chan Tsz King.

Como tal, Hoi quer assegurar que a sua candidatura é avaliada imparcialmente. De acordo com a mesma fonte, o “homem de amarelo” está confiante quanto à obtenção dos apoios necessários para poder avançar com a candidatura. Cada candidato deve reunir, pelo menos, 66 apoiantes de entre os 400 membro do colégio eleitoral para ser considerado apto a seguir na corrida a Chefe do Executivo.

AL | Comissão e Governo chegam a consenso sobre Lei da Habitação Social

Deputados e Governo concluíram a discussão da nova proposta de Lei da Habitação Social e preparam-se para a votação no hemiciclo, antes do fim da sessão legislativa. A idade mínima dos candidatos ficou resolvida, bem como ao direitos e deveres de cônjuges não-residentes

 
[dropcap]A[/dropcap] discussão na especialidade da proposta de Lei do “Regime Jurídico da Habitação Social” ficou ontem concluída, após um ano de desentendimento entre o Governo e os deputados da 1ª Comissão Permanente, sobre os requisitos exigidos para a formalização das candidaturas.

“Esta foi a última reunião, já chegámos a consenso sobre tudo, não haverá mais reuniões sobre a Lei da Habitação Social. Vamos agora entregar a última versão, esperamos fazê-lo no prazo de uma ou duas semanas, após o que a Comissão fará o parecer e depois irá para Plenário, para votação e aprovação na especialidade”, revelou ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, à saída da reunião na Assembleia Legislativa (AL).

Raimundo do Rosário adiantou esperar “que tudo isto fique aprovado ainda nesta sessão legislativa, ou seja, antes de 15 de Agosto”, justificando a demora do processo com “a questão da idade”, que na proposta prévia admitia apenas o arrendamento de fracções sociais a candidatos com um mínimo de 23 anos de idade, situação contestada pelos deputados que pretendiam descer este limite mínimo para os 18 anos, idade consagrada como maioridade plena.

“A questão da idade ficou resolvida e a solução, encontrada por consenso, foi a de que, se uma pessoa já estiver casada, bastam os 18 anos para se candidatar, mas se for solteiro, terá que esperar pelos 23 anos. Foi este o consenso alcançado”, informou o responsável, realçando a abertura da posição do Governo para considerar as necessidades de famílias desfavorecidas mais jovens.

O presidente da 1ª Comissão Permanente, Ho Ion Sang, afirmou também que “o Governo cedeu em grande escala, em relação às candidaturas dos agregados familiares”, confirmando que ontem “houve grandes avanços nos trabalhos, porque antes, tivemos divergências sobre o requisito da idade no âmbito da candidatura”.

Os candidatos que tenham família poderão habilitar-se à habitação social a partir dos 18 anos de idade, “quanto aos candidatos individuais, o Governo, depois de ponderar vários factores, mantém a idade mínima de 23 anos. Mas, “deixou de etiquetar os estudantes, ou seja, retirou a figura de estudante no artigo em causa”, já que no actual regime a idade mínima é de 18 anos, tanto para trabalhadores como para estudantes, e houve abusos por parte de jovens a estudar que acediam a este tipo de habitação por não auferir rendimentos, não estando necessariamente em situação de carência.

“O Governo abriu também uma porta, no artigo em causa, para permitir uma certa flexibilidade para tratar os casos especiais”, acrescentou o deputado que preside à comissão. Ou seja, “o Chefe do Executivo, em circunstâncias excepcionais devidamente fundamentadas, pode admitir a concurso candidatos individuais com idade inferior a 23 anos, desde que tenham completado 18 anos”.

Cônjuges fora de casa

Outra decisão foi a de considerar os rendimentos de cônjuges não-residentes no processo de candidatura dos agregados familiares a habitação social. “Considerar um cônjuge não-residente como parte do agregado, na avaliação dos pedidos para a habitação social, foi uma questão que levantou algum debate, mas também aqui se chegou a um consenso”, disse Ho Ion Sang. A contabilização dos rendimentos e património deste terá que ser incluída na candidatura, mas o cônjuge não fará parte do agregado, podendo visitar regularmente a família.

“Na nova versão do Governo, o artigo 15 permite colmatar esta necessidade. Assim, quando o cônjuge adquirir a qualidade de residente não-permanente, pode recorrer ao artigo 14 para residir legalmente na habitação e, se passar a residente permanente, pode requerer a sua inserção no agregado familiar e até solicitar junto do Instituto da Habitação (IH) uma casa maior”.

Actualmente, existem 6349 candidaturas – individuais e familiares – em processo de avaliação ou a aguardar colocação. Deste universo, os pedidos de candidatos entre os 18 e os 22 anos são apenas 471. O Governo terá que dar resposta a todos estes casos até à entrada em vigor da proposta de Lei agora acordada, o que deverá acontecer dentro de nove a doze meses, ou seja, em meados de 2020.

UM | Directora da Faculdade de Letras está de saída e é acusada de abuso de poder

Hong Gang Jin, directora da Faculdade de Letras e Humanidades da Universidade de Macau, está de saída do cargo. Docentes e ex-docentes da faculdade falam de abuso de poder e má gestão, sobretudo no departamento de português. Além disso, fontes ouvidas pelo HM adiantam que o novo reitor está a tentar limpar a imagem da instituição
Hong Gang Jin

[dropcap]A[/dropcap] directora da Faculdade de Letras e Humanidades (FAH, na sigla inglesa) da Universidade de Macau (UM) está de saída do cargo, segundo apurou o HM. Fontes avançaram que o argumento oficial é a passagem de Hong Gang Jin à reforma, mas por detrás da saída estarão problemas ao nível da gestão da própria faculdade. Todos os docentes da FAH já foram informados da saída, mas o HM não conseguiu confirmar a data certa para Hong Gang Jin deixar o cargo de directora da Faculdade de Letras e Humanidades.

Custódio Martins, ex-professor do departamento de português da UM, actualmente a dar aulas na Universidade de São José (USJ), dá conta da redução da qualidade do ensino de língua portuguesa graças às mudanças implementadas por Hong Gang Jin.

“Foi apresentado, há cerca de dois anos, um plano para a alteração da licenciatura em Estudos Portugueses. O número de horas de português reduziu drasticamente e passaram a ter outras disciplinas que não têm interesse nenhum. É um plano inacreditável, mas é também inacreditável que tenha sido aprovado e posto em funcionamento sem ser questionado, até no Senado da universidade”, disse ao HM.

Custódio Martins dá conta de situações de abuso de poder, que o levaram a sair da UM. “A minha saída foi motivada pela perseguição que me vinha a ser feita e também pelo facto de ter sido posto de lado no departamento, a nível profissional. Desde que a directora chegou que a faculdade tem sido comandada com mão de ferro. Tudo o que acontecia no departamento de português, sobretudo nos últimos tempos, era consequência de ordens emanadas da directora que tudo e todos tentava controlar. Havia claras situações de abuso de poder e de assédio profissional”, frisou o docente, que fala também de impedimento no acesso dos professores universitários à investigação.

“Ao contrário do que deveria acontecer a nível académico, não havia discussão de ideias, e o espaço que havia para se fazer investigação séria e de alguma qualidade foi nitidamente reduzido e até mesmo limitado ao nível da acção. Nesse sentido, não havia qualquer estratégia, a não ser para um restrito grupo de pessoas.”

Custódio Martins assegura que foi impedido de orientar teses de doutoramento, além de não mais ter sido chamado para “actos académicos para os quais tinha habilitações”.

“Houve algumas situações em que a directora tentou impedir que eu fosse de licença de investigação, quando a situação estava prevista de acordo com os regulamentos. É uma situação perfeitamente incompreensível e nada profissional, na medida em que uma das obrigações de um director de faculdade, nos dias de hoje, é promover a investigação e não impedir que os membros dessa faculdade o façam”, reiterou.

Sem experiência

John (nome fictício), docente da FAH que não pertence ao departamento de português e que não quis ser identificado, assegura que a nomeação de Hong Gang Jin foi uma surpresa para todos, a começar pelo facto desta não ter qualquer tipo de experiência em termos de gestão universitária.

“Ficámos surpreendidos com a escolha porque, em termos académicos, ela não era qualificada para o trabalho. Ela apenas publicou alguns livros e escreveu alguns artigos em chinês, e lembro-me de falar com um colega da Universidade de Hong Kong que me disse que isso era ridículo, questionando como era possível acontecer uma nomeação como essa.”

No currículo de Hong Gang Jin consta uma experiência de gestão como directora do Hamilton College, nos Estados Unidos, que não é mais do que um colégio de acesso ao ensino superior, adianta John. “Ela não tinha experiência em supervisionar departamentos universitários. Para chegar a esse estatuto é necessário supervisionar estudantes de doutoramento, e ela nunca o fez.”

John recorda que antes de Hong Gang Jin foi escolhido “um director interino óptimo”, mas que depois “ninguém ficou muito contente” com a escolha, uma vez que “foram entrevistados candidatos excelentes”, tendo sido seleccionada a “candidata que estava no final da lista”.

Circunstância que levou à debandada de uma parte significativa dos quadros do departamento de português.

“Tenho um colega no meu departamento que sofreu muito com ela, odiavam-se. Muitas pessoas do departamento de português saíram porque era impossível trabalhar com ela. Rapidamente tornou-se claro que ela tinha as suas próprias ideias, e tínhamos de concordar com ela ou ficávamos de fora. E tornou-se claro que ela é estúpida, mesmo. É uma professora de línguas, mas não a nível académico. Tem apenas uma ideia de como se deve ensinar línguas, sobretudo no que diz respeito ao departamento de português”, acrescentou John.

Recuperar a credibilidade

Manuel (nome fictício), igualmente docente da FAH que não quis ser identificado, também menciona irregularidades cometidas durante a direcção de Hong Gang Jin. “Posso dizer-lhe que a saída corresponde a uma generalizada expectativa de muitos dos membros da FAH”, começou por dizer. “A nomeação da directora foi sempre polémica. Ao longo do mandato acumulou suspeitas de encobrimento (senão promoção) de irregularidades em concursos e acusações de plágio.”

No que diz respeito ao departamento de português e inglês, este professor recorda que as relações foram sempre conflituosas. “É sabido que as hostilidades aos portugueses pesaram na saída antecipada da antiga directora do departamento, Fernanda Gil Costa, e na promoção apressada (e sem justificação curricular) do seu sucessor, Yao Jingming”, disse.

Hong Gang Jin teria ainda uma “forte associação ao ex-vice-reitor Lionel Ni, que também saiu recentemente da UM”, disse o mesmo docente. Lionel Ni era “geralmente detestado e conhecido por abusos de poder”, e o facto de ter deixado a UM “explica a saída” de Hong Gang Jin.

“Estas duas saídas e uma anterior, a do director da Faculdade de Ciências Sociais da UM, correspondem a uma política de saneamento promovida pelo novo reitor, Song Yonghua, no sentido de recuperar a credibilidade da UM, afectada por irregularidades várias e correntes durante o mandato do seu antecessor, Wei Zhao”, adiantou a mesma fonte.

Esta ligação de Hong Gang Jin a Lionel Ni foi também confirmada pelo HM junto de uma outra fonte ligada ao departamento de português. Foram igualmente pedidas reacções a Yao Jingming e a Hong Gang Jin, que até ao fecho desta edição não responderam às questões colocadas.

John defende que o novo reitor da UM “está a remover a corrupção” que existia dentro da instituição de ensino superior público. “O antigo reitor, Wei Zhao, era muito corrupto e penso que nomeou pessoas da sua confiança. O novo reitor está lentamente a remover os dirigentes corruptos da universidade”, apontou.

O HM contactou também alguns professores do departamento de inglês da FAH, mas não foram obtidas respostas. Inocência Mata, que chegou a ser vice-directora do departamento de português, não quis prestar declarações por já não estar veiculada à UM desde 2018.

Protesto em Hong Kong pressiona líderes mundiais a colocar extradição na agenda do G20

[dropcap]C[/dropcap]entenas de manifestantes que protestam contra a lei de extradição de Hong Kong estão a reunir-se à porta de consulados estrangeiros, para colocar o assunto na agenda da cimeira do G20, marcada para sexta-feira no Japão.

“Livrem Hong Kong da colonização da China!” lê-se num dos cartazes empunhados pelos manifestantes, na sua maioria vestidos de negro, de acordo com imagens transmitidas em directo na rede social Facebook pelos ‘media’ locais.

Os activistas, que pretendem visitar, um a um, os 19 consulados dos países participantes na cimeira, apelam aos líderes mundiais que discutam com o Presidente chinês, Xi Jinping, em Osaka, no Japão, a controversa proposta que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordo prévio, como é o caso da China continental.

O protesto surge dois dias depois do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, ter assegurado que Pequim não vai permitir que a proposta seja abordada na cimeira do G20, já que é “um assunto interno” sobre o qual “nenhum país estrangeiro” deve interferir.

Como parte da estratégia para colocar a questão na agenda do G20, os activistas arrecadaram mais de cinco milhões de dólares de Hong Kong numa campanha de angariação pública para publicar anúncios em 13 jornais em nove diferentes países.

Depois de visitarem os 19 consulados, os manifestantes planeiam uma segunda marcha, organizada pela Frente Civil pelos Direitos Humanos, às 20:00. Um dos coordenadores, Jimmy Sham, disse que o tema do protesto será “Libertem Hong Kong, agora democracia”.

Os organizadores convidaram diferentes profissionais para anunciarem uma declaração conjunta em várias línguas. A antiga colónia britânica foi palco, nas últimas semanas, de três protestos maciços contra um medo comum: que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

A chefe do Governo, Carrie Lam, foi obrigada a suspender o debate sobre as emendas planeadas e a pedir desculpas em duas ocasiões, mas não retirou a proposta.

China pede “calma e contenção” aos EUA e Irão

[dropcap]A[/dropcap] China pediu ontem aos Estados Unidos e ao Irão que “mantenham a calma e a contenção” após Washington anunciar novas sanções contra Teerão, que acusou a administração norte-americana de assim “cortar a via diplomática”.

“Acreditamos que continuar a aplicar a pressão máxima (contra o Irão) não ajuda a resolver o problema”, disse Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa. “Os factos mostraram que estas medidas têm o efeito oposto: exacerbam os problemas na região”, afirmou.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, impôs na segunda-feira um novo conjunto de sanções contra o Irão, incluindo contra o líder supremo, o ‘ayatollah’ Ali Khamenei, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif.

Teerão e Washington romperam os laços diplomáticos em 1980 e atravessam agora um período de renovada tensão, que pode abalar a região estratégica do Golfo. Donald Trump acusa o Irão de procurar desenvolver armas nucleares e de ser um “patrocinador do terrorismo”.

O assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton, disse ontem que a porta permanece aberta para negociações. “Ao mesmo tempo em que apela a negociações, está a tentar sancionar o ministro dos Negócios Estrangeiros! É óbvio que está a mentir”, reagiu o Presidente iraniano, Hassan Rohani.

“Impor sanções (…), é fechar permanentemente o caminho da diplomacia”, afirmou na rede social Twitter o porta-voz da diplomacia iraniana, Abbas Mousavi. As sanções dos EUA foram anunciadas quatro dias após a destruição de um drone norte-americano por um míssil iraniano. Teerão diz que o drone voava no seu espaço aéreo, uma informação negada por Washington.

As noites de Verão

[dropcap]C[/dropcap]om o solstício de Verão talvez os astros se alterem para formar constelações particulares. Os alquimistas falarão em transformações astrais e transformações individuais. Mas disso não sei absolutamente nada. Só que as mudanças são mudanças, e as mudanças do clima também afectam a pele, o tacto e tantos outros sentidos.

Foi numa noite de Verão que os corpos se encontraram e a magia aconteceu. Há quem culpe as hormonas responsáveis pelos cheiros ou as formas irresistíveis das gentes sexualizadas. Os protagonistas podem ser homens, mulheres, trans ou intersexo. Os corpos mais ou menos definidos pela ‘suposta’ necessidade mental de categorização – mas que acabam por viver no limiar entre desejos de auto-determinação e a negociação de aprovação alheia. Categorias que são muito mais que nomes, que carregam expectativas do que são características típicas. Como é uma mulher e como é um homem, ou de como é quem não é uma coisa nem outra. Só que quebramos as constantes amarras que as palavras nos criam. Criamos outras palavras para fazer justiça ao nosso prazer e identidade.

Mas ao mesmo tempo parece que as noites de Verão têm promiscuidade colada na testa. Talvez porque os corpos estão mais à vista, mais descobertos. Talvez porque falamos dos amores de Verão como circunscritos no tempo e não os julgamos para sempre, como se houvesse uma fórmula que definisse à partida o futuro dos amores de corpos. Corpos que podem ser mais dissidentes que outros, mas que são sempre dissidentes. Não há nada mais poderoso que o amor e o sexo. Os hippies tinham razão: façam amor em vez de guerra. Parece tão simples quanto isso.

Foi também numa noite de Verão que, em Nova Iorque, houve quem tivesse contribuído para a rebelião em Stonewall. Não era um capricho de Verão. A necessidade imperativa de afirmação do que era uma vida escondida dentro do armário – ou dentro de lugares muito particulares – não tinha outra escolha. Pequenos lugares onde a auto-determinação era uma possibilidade, mas que ficava confinada por ali. Uma altura em que a liberdade de amar a nosso bel-prazer era tida como uma doença mental ou era criminalizada. Junho é o mês em que se celebra o orgulho das muitas formas de auto-determinação – o direito de nos expressarmos exatamente como somos. Por acaso é no Verão, mas podia ser noutra altura qualquer.

Em noites de Verão também se escreve sobre sexo para dar sentido a vidas para além do dele, e do amor. Como se a parte mais censurada de nós precisasse de ser libertada para a vida ganhar mais sentido. Talvez estejamos presos no problema hedonista. Na procura de prazer e na culpa de o ter. Como se vivêssemos os impulsos de formas extraordinariamente relutantes. Ponderamos entregar-nos quando não sabemos o que nos traz a entrega.

Nas noites de Verão os corpos e as mentes parecem mais livres. Talvez sejam as férias, o desejo de folia ou o desespero por quebrar a rotina. Como se no resto do ano estivéssemos presos a uma expectativa parva, em um formato mecânico e irreflectido. Acorda-se e vive-se sem se pensar muito no que fazemos e para onde vamos. Até que chegamos ao Verão e percebemos que podemos fazer tudo. Fugir dos medos, fugir de nós ou reencontrarmo-nos no sexo, no amor ou na vida. Os alquimistas talvez tenham as fórmulas de tornar esta sensação de liberdade eterna.

Misturando os elementos perfeitos conseguimos tudo. Provas de quem somos, definições de prazer genuínas, formas de pensar a sexualidade longe de preconceito, longe de complicações.

Não que esteja a reduzir tudo isto ao simples impulso. Na complicação fisiológica e conceptual poderemos simplificar, às vezes. Porque no Verão, ou em qualquer estação do ano, amor é amor é amor.

O feirante acidental

Galeria do 11, Setúbal, 1 Junho

 
[dropcap]C[/dropcap]ontinua por fazer uma história da ilustração portuguesa. Os contributos do Jorge [Silva] acabarão, tenho esperança, por erguer esse pano de fundo. E nele quantas figuras, de súbito, brilharão como Manuel Lapa (1914-1979), que tem nesta a sua primeira exposição? Que sabemos nós dele, sem uma única entrevista, depoimento, enfim, nada mais que vestígios?

Saberes instáveis e disciplinas discretas, como a ilustração, prestam-se a passarem entre os pingos de chuva da nossa comum atenção, mas convenhamos: tratamos mal a nossa memória. E perdemos com isso. Este autor, ainda assim notado como pintor, assina um enorme contributo para a nossa história visual, pela quantidade do trabalho, muito dele ao serviço das várias vertentes, educativas e outras, da propaganda do Estado Novo, mas sobretudo por um expressionismo riquíssimo em meios e assente no combate «Da Luz e das Sombras». As dicotomias sobre as quais o Jorge desenhou a exposição prolongam essa ideia revelando os vários rostos do artista, do livro ao cenário, das revistas às tapeçarias, do folclore à santidade, da espada à lebre: das sombras do mundo, do sal da terra, do sonho e da ilusão, do riso e das lágrimas, do céu e do inferno, da espada e do trono, da presa e do caçador (algures na página momento muito meu, assinado por Manuel Lapa). Acontece bastante cor, ainda que em tons baços, mas a força essencial exprime-se a preto e branco. Mesmo nos retratos, algo parece estar a acontecer, só o movimento nos traz o real perseguido. As massas servem de contraste para a figura, anunciam a peripécia, sugerem ambientes. E tantas nuvens passam por estes céus, estas decorativas, aquelas significantes, outras apenas correndo ininterruptamente. São sinal da elegância que habita este lugar. O equilíbrio entre originais, publicações e reproduções faz ainda desta exposição caso exemplar. E contém até o pormenor de um caderno de desenhos que não escapou incólume aos acidentes do tempo. Parece vociferar, no meio do dinamismo e da celebração de uma obra, que o comum descuido tem um preço: arde e até a água queima.

Largo José Saramago, Lisboa, 4 Junho

Ninguém pergunta: qual o gesto mais comum na vida de um editor? Talvez por se dar por adquirido que a óbvia resposta seria a leitura. Não: carregar com livros, eis o que mais fazemos.

Fui, portanto, carregado de exemplares, que queria exemplares, para a conversa com a Carla Oliveira, da Orfeu Negro, a convite do Jorge [Silva], no âmbito do «Faz-me Um Livro», ciclo dedicado ao design, edição e ilustração, comissariado pela Silvadesigners para a Fundação José Saramago. Tal como com outros deveres, estou atrasadíssimo com o primeiro catálogo da casa, com o qual pretendo fazer avaliação, mapa movediço do que foi sendo feito, aventando meia dúzia de porquês, enumerando episódios, falando dos modos, assumindo falhas e colhendo logotipos desta horta de abysmos, tão rica já. Estou atrasado, ia dizer, por carregar livros, o que não deixa de ser verdade. Dá muito trabalho sobreviver, nem sempre roubamos o tempo que nos permita pensar. E o catálogo há-de resultar de pensamento. E de tempo. Apesar das diferenças, reconhecemo-nos, a Carla e eu, em muitas das dificuldades da profissão neste momento concreto.

Não vos cansarei com a enumeração, mas os livros que levei eram dos que nos são devolvidos cansados e maltratados pelas livrarias. Apenas um sinal da irracionalidade deste processo que faz com que um livro não vendido possa acabar massacrado pelo hábito de o (mal)tratar como mercadoria. E não será? A mística arreigada ao objecto afirma que não, que se trata de um mudador de vidas, um abridor de horizontes, um «amigo». Fomos, espero, muito para além do fado habitual, dissemos das ânsias e desejos dos autores, da interferência do editor no processo criativo e da importância dos títulos e das capas. Acabámos falando, antes do mais, da paixão de continuar a esticar o objecto-livro em todas as direcções. Falámos sempre de livro na mão.

Feira do Livro, Lisboa, 8 Junho

Temo tê-lo repetido de mais: estreámo-nos na Feira do Livro com pavilhão próprio, partilhado com a Livros do Meio, editora que mora em assoalhada destas páginas. Havíamos participado antes de modos diferentes, sem grande intensidade, estou em crer que por não arranjarmos maneira de nos relacionarmos com o modelo. O ano passado tivemos até resposta entre o absurdo e o irritante a propostas solicitadas de animação, que nos permitiu anotar o interesse mínimo, para dizer o mínimo, que os organizadores devotam à poesia. A Feira evoluiu afastando-se do livro e da cultura em direcção ao comércio e entretenimento de massas. Passa pelo Parque muita gente, mas a pensar mais no passeio do que nos livros. Estes merecem a atenção de um olhar se os preços se agacharem tanto que rastejem pelos cêntimos, dando razões aos génios do marquetingue que dizem ser tudo igual, desde que com capa e páginas. Toda a lógica sopra a favor das grandes superfícies, digo, grupos editoriais que aqui copiam as ditas, com a sua lógica suicidária de descontos e neutralização. A programação da Feira não consegue apresentar-se com uma ideia forte, integrada e assente no essencial: o livro, o autor, a literatura. No concreto, o investimento revelou-se imenso, nos maravedis e no trabalho, sobretudo com o que se estraga e desperdiça. Ainda assim, pela primeira vez expusemos ao vento, à chuva e ao calor, mas também a alguns olhares interessados, o catálogo completo. A localização que nos calhou em azar afastou-nos das rotas, mas ainda assim demos um ar da nossa graça.

Horta Seca, Lisboa, 10 Junho

Um dos melhores jornais do mundo, The New York Times, cedeu à sanha moralista que envenena a opinião pública e, na sequência de críticas a um desenho de opinião do António [Antunes], que se “atrevia” a criticar as relações caninas entre a política norte-americana e israelita, anunciou o fim dos cartoons políticos. O principal visado, Chappatte, escreveu um texto que desafia os editores a não baixarem os braços. Só um sábio coquetel de resistência e inteligência nos poderá trazer oxigénio a estes tempos em que os gases das massas em fúria cega nos impedem de respirar horizontes. E também Martin Rowson, no The Guardian, disse o óbvio, lembrando as ameaças crescentes aos canários dos fundos da mina: «the New York Times’ decision is particularly irksome in its intoxicating combination of cowardice, pomposity, over-reaction and hypocrisy. » O NYT ofendeu-nos muito e merece castigo.

Feira do Livro, Lisboa, 13 Junho

Ficará da experiência adulta no Parque duas dezenas de páginas de certa edição especial que se atreveu a pensar, através do poema, do ensaio, do desenho e da pintura, que sentidos se colecionam nas massas difusas do etéreo em movimento. O jornal «Nuvens» teve, à sombra do pavilhão nefelibata, singelo lançamento, regado a duas versões da Trevo, a mais literária das cervejas do burgo. Foi um ar que se lhe deu, um corpus nubilum nascido de cadáver esquisito. «E se fosse a terra um modo movediço, reflexo chão do movimento acima? Como assentar escada na canção? Nuvem feita canção, verso que foge, cão.”

Segredos

[dropcap]D[/dropcap]e vez em quando pensamos que estamos preparados para tudo. São momentos raros e, com sorte, não duram mais do que um nanossegundo. Mas não foi um desses momentos que me aconteceu quando há dias a enigmática menina Marina – a sábia do bairro – avançou inexpugnável e sem medo disparou: «Já sei que escreve uns artigos semanais num jornal de Macau». Tal foi a surpresa que nem sequer me interessou saber como o teria descoberto, eu que não sou dado a proclamar seja o que for em público ou em privado. Mas prosseguiu: «E todas as semanas um tema diferente… Isso é difícil. Qual é o seu segredo?». Por exemplo alguém fazer uma pergunta como essa e sem o saber estar a fornecer aquilo sobre o que poderei vir a escrever.

Naturalmente não foi isto que respondi e refugiei-me numas amenidades de circunstância. Mas outra vez a menina Marina tinha acabado de ser providencial.

A verdade é que o segredo é necessário a uma vida saudável. Não este que a pergunta referia, que terá mais a ver com um making of que pouca ou nenhuma importância tem para quem o detém e menos ainda para quem o quiser saber. Mais relevantes serão aqueles que pela sua ocultação podem afectar terceiros, individuais ou colectivos. A necessidade de escrutinar os nossos governantes ou quem possui poderes de decisão é uma das bases da democracia e de um estado de direito. Mesmo assim, em situações extremas, como conflitos bélicos, o segredo tem sempre um papel central.

Mas aqui neste canto do jornal o leitor sabe com o que conta, que são os dias, os passos dentro do nosso pequeno mundo. E até aí o segredo é essencial: pensemos o que seria da humanidade se toda a gente revelasse o que sabe do outro ou de si próprio sem filtros nem conveniências.

Não, o que aqui falamos é outra coisa. Não é o segredo malicioso, que prejudica. Mas aquele que é nosso, território desconhecido para o resto do universo. Um canto da nossa sala de estar mais íntima, um sentimento, um dia, uma hora. Se o revelamos, deixamos de ter uma relação real com os outros. Todos os temos, todos haveremos de morrer com alguns. O segredo, de certa forma, é essencial para a verdade e um bem a conservar e a não desperdiçar. António Vieira, que sabe mais e escreveu melhor, não hesitou em proclamá-lo num dos Sermões: «Nenhum segredo é segredo perfeito, senão o que passa a ser ignorância; porque o segredo que se sabe, pode-se dizer, o que se ignora, não se pode manifestar. »

Ter segredos só nossos é preservar a alma. E muitas vezes, mesmo nas mais apaixonadas e perenes relações, serve para preservar a união e a harmonia. Lembro-me dos versos de Four Flights Up, de Lloyd Cole: «Must you tell me all your secrets when it’s hard enough to love you knowing nothing?». Isso: de que serve uma obsessão pela “verdade” e pela “transparência” quando parte de amar e ser amado é justamente esconder o que nos incomoda em quem amamos no dia a dia?

O segredo nosso e que ninguém há-de saber é o que importa. Permite a convivência e o amor. E no limite, irá sempre garantir o mais importante de tudo: a nossa liberdade.

China/África | Cooperação fortalece países em desenvolvimento

O Presidente chinês continua, através da política “Uma Faixa, Uma Rota”, levada a cabo desde 2013, a dinamizar as relações entre os países africanos e a China. Xi Jinping advoga que a colaboração entre o gigante asiático e o continente africano impulsiona a economia dos países em desenvolvimento

 
[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu ontem que a cooperação entre China e África fortalece os países em desenvolvimento, erguendo um novo tipo de relações internacionais, e encorajou os líderes africanos a avançarem com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Na mensagem que abriu um encontro, em Pequim, entre vários líderes africanos, dedicado à implementação das acções definidas no Fórum China-África do ano passado, Xi lembrou que o mundo atravessa “profundas mudanças, não vistas em um século”, e que a ascensão dos países em desenvolvimento atravessa um momento forte.

Xi considerou o fórum, que em Setembro passado reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de Estado e de Governo africanos, um “sucesso” e um “marco na história das relações” entre a China e África.

O Presidente chinês lembrou que os líderes chineses e africanos decidiram por “unanimidade” avançar com a construção conjunta da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

A crescer

Lançado em 2013, o projecto inclui aeroportos, centrais eléctricas ou zonas de comércio livre, visando dinamizar regiões pouco integradas na economia global.

Bancos e outras instituições chinesas estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no quadro da iniciativa, que inclui ainda uma malha ferroviária e autoestradas, a ligar a região oeste da China à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas do próspero litoral chinês.

Durante a cimeira realizada no ano passado, Xi Jinping anunciou 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos para países africanos. “Fico feliz em ver que a China e o lado africano trabalharam juntos para impulsionar (…) as acções definidas durante o fórum em Pequim”, disse.

Representantes de dezenas de países africanos participaram ontem na Reunião de Coordenação para Implementação das Acções Definidas na Cimeira de Pequim do Fórum China/África. O país asiático tornou-se, em 2009, o maior parceiro comercial de África.

Segundo as estatísticas chinesas, em 2018, o comércio China-África somou 204 mil milhões de dólares, um crescimento homólogo de 20 por cento. O país asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano.

Exposição | Aniversário da RAEM em mostra fotográfica

[dropcap]R[/dropcap]ecordações Memoráveis de 1999 ― Exposição de Arquivos Comemorativos do 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria” é o título da exposição fotográfica, que reúne mais de uma centena de registos, que inaugura na sexta-feira no Arquivo de Macau. A apresentação do registo de “memórias históricas” surge no âmbito do 2.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural.

A acompanhar a exposição fotográfica está prevista uma palestra temática no próximo sábado, às 15h, também no Arquivo de Macau sobre as atividades da Comissão dos Diversos Sectores de Macau para as Actividades de Celebração do Retorno de Macau à Pátria (CDMSP), entidade responsável pela recolha da mais de uma centena de fotografias expostas. O objectivo da exposição é “partilhar momentos marcantes e importantes da reunificação e reviver uma memória colectiva”. A mostra vai estar patente ao público até 27 de Dezembro e tem entrada livre.

Exposição | Pintura de Hong Wai a partir de amanhã no Museu do Oriente

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o nome da exposição da artista de Macau Hong Wai que abre ao público amanhã no Museu do Oriente. Com uma linguagem suave que transporta a tinta-da-china para a contemporaneidade, a mostra divide-se em três séries onde a sensualidade conquista o espaço natural

 
[dropcap]A[/dropcap] voluptuosidade dos contornos femininos, envoltos em rendas e transparências, coabitam naturalmente com paisagens de cordilheiras típicas da pintura tradicional chinesa nos quadros de Hong Wai, que podem ser vistos no Museu do Oriente, em Lisboa, a partir de amanhã até 15 de Setembro.

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o título da exposição da artista local, a viver em Paris desde 2005, que multiplica a visão artística de Hong Wai em três séries.

Na série “Paisagem Feminina”, horizontes tradicionais compostos por montanhas e águas, “a mais elevada metáfora espiritual e moral da pintura chinesa”, são desconstruídos pelo pincel de Hong Wai com a introdução de formas voluptuosas de corpos femininos na paisagem natural.

“As montanhas, outrora vistas como forças energéticas que materializam o dragão, transformam-se agora em corpos femininos ondulantes, e a vegetação, na mais sensual lingerie”, lê-se no texto que apresenta a exposição.

A intimidade e a lingerie voltam a assumir o papel principal na série “Segredos de Boudoir”, numa sucessão de quadros que captam fantasmagoria, mistério e sensualidade. Além da estética, esta série representa a manifestação filosófica central à artista. Em entrevista ao HM em 2017, Hong Wai descodificava a sua perspectiva feminista como próxima da vaga “Lipstick” no século XX. “O chamado feminismo do batom é uma variedade de feminismo de terceira geração que procura abraçar conceitos tradicionais de feminilidade, incluindo o poder sexual das mulheres. Ao contrário das primeiras campanhas feministas que se concentraram nos direitos fundamentais das mulheres, e que começaram pela exigência do direito ao voto, o feminismo do batom procura perceber se as mulheres podem ser feministas sem ignorar ou negar a sua feminilidade, nomeadamente no que respeita à sexualidade”, enquadrava a pintora.

Outro lado da Lua

Na série “Luar”, Hong Wai cria uma atmosfera calma e poética de floresta sobre o brilho prateado do luar. Estes trabalhos são exemplares na forma como as linhas desenhadas pela artista traduzem a meticulosa paciência e o total foco de atenção no mais ínfimo detalhe.

Até 15 de Setembro, o Museu do Oriente apresenta esta fusão de pintura tradicional chinesa com o olhar moderno e profundamente feminino de Hong Wai. A sua visão artística transporta a tinta-da-china para a arte contemporânea através dos desenhos de linhas finas e elegantes, “numa técnica que durante séculos era apenas destinada ao universo masculino”. Segundo a artista, “enquanto que os homens representam o poder da conquista e um mundo de fronteiras, este mesmo mundo aos olhos das mulheres é mais terno e delicado, um mundo em que o humano e a natureza são plenos de possibilidades de conexão e transformação”.

Nascida em Xangai em 1982, Hong Wai cresceu em Macau e desde 2005 reside e trabalha em Paris. Debruçou-se, enquanto estudante na École des Hautes Études en Sciences Sociales, sobre a forma contemporânea do espírito artístico dos literati chineses. Expôs as suas obras um pouco por todo o mundo, incluindo na Sotheby´s Gallery, em Hong Kong e no Museu de Arte, em Macau, e participou em feiras de arte internacionais como a Art Sage de Singapura e a Art Taipei.

TUI fixa pena de prisão de dois polícias condenados auxílio à imigração em 15 e 19 anos

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu reduzir a pena de um polícia condenado por auxílio à imigração ilegal em um ano de prisão. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) já o havia condenado a 16 anos, mas o TUI decidiu, num acórdão ontem divulgado, reduzir a pena para 15 anos. Pelo contrário, a última instância manteve a pena de 19 anos aplicada a outro polícia no mesmo caso.

“Relativamente à pena única aplicada ao recorrente B, é de notar que, em comparação com o recorrente A, ele praticou menos crimes e, no caso de co-autoria, não teve a mesma intervenção, na medida em que foi o recorrente A quem desempenhava um papel de intermédio mais decisiva e contactava directamente com o quarto arguido, o que justifica a redução da pena única para 15 anos de prisão”, lê-se no documento.

Já no que diz respeito ao arguido A “não se afigura excessiva a pena única aplicada pelo Tribunal recorrido ao recorrente A, encontrada dentro da moldura penal do concurso”.

O caso aconteceu nos anos de 2016 e 2017, quando os dois arguidos desempenhavam funções de guardas do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) no Posto Fronteiriço do Cotai. De acordo com o comunicado do TUI, “os dois arguidos usaram os seus poderes ou a sua influência no trabalho, por 17 vezes e por 10 vezes, respectivamente” para ajudarem pessoas que estavam interditas de entrar em Macau. Os actos foram cometidos “com base nas suas relações particulares ou para receberem vantagens patrimoniais, prestando auxílio a outrem, pessoal ou juntamente, com os outros arguidos e, utilizando meios ilegítimos ou de violação dos deveres inerentes às respectivas funções”.

Má imagem da PSP

A pena de prisão a aplicar, à luz do Código Penal, situa-se entre os 7 e os 30 anos de prisão para este tipo de casos. Apesar de chamar a atenção para a importância da reinserção na sociedade, o TUI alega que os arguidos não podem escapar a penas severas.

“No que concerne à avaliação da personalidade dos recorrentes, a prática de tantos crimes e o circunstancialismo em que foram praticados aponta para uma tendência criminosa e não apenas uma pluriocasionalidade, daí que devem os recorrentes ser punidos com uma pena única severa, mesmo considerando as exigências de prevenção especial de socialização.”

Para os juízes do TUI, este caso “põe em crise a confiança e a expectativa dos cidadãos numa Administração pública que sirva com neutralidade, objectividade e eficácia os interesses públicos gerais, prejudicando gravemente o bom funcionamento do sistema de controlo de entrada e saída da RAEM bem como o prestígio e a imagem das Forças de Segurança da RAEM”.

TNR | SS vão ponderar normas de vacinação para não residentes

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) vão estudar a implementação de normas de vacinação para os trabalhadores não residentes “para determinadas profissões”, aponta uma resposta do organismo ao deputado José Pereira Coutinho que pedia explicações ao Governo.

“Embora Macau não possua normas reguladoras de vacinação no processo de autorização de trabalhadores não residentes, para reduzir o risco de infecção de grupos vulneráveis (…), os SS irão, de acordo com o mecanismo de prevenção e protecção de doenças em vigor e a situação epidemiológica em concreto, proceder atempadamente a um ajuste, bem como estudar a implementação de normas para determinadas profissões”, lê-se na resposta do organismo.

Entretanto, e tendo em conta os recentes surtos de doenças como o sarampo e a rubéola, os SS referem que, “foram emitidas as mesmas instruções que aos trabalhadores locais, conforme o risco e as características da profissão, tal como a inoculação de vacina anti-hepatite B por trabalhadores de entidades médicas”.

Droga | Dois menores de Hong Kong detidos por tráfico

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária deteve na segunda-feira um menor de 17 anos, oriundo de Hong Kong, por suspeita de tráfico de droga. A acção das autoridades aconteceu na sequência de uma investigação da qual resultou a detenção de um estudante de 13 anos por suspeitas do mesmo crime.

O primeiro jovem foi detido em Maio e dos factos apurados a PJ identificou o outro suspeito de 17 anos. Este segundo indivíduo suspeito, que estava sob vigilância, entrou em Macau no sábado passado. Na segunda-feira, dia 24, entrou em contacto com o jovem de 13 anos e marcou um encontro.

A Polícia Judiciária também compareceu no encontro marcado num quarto de hotel, onde apreendeu 9,47 gramas de cocaína, com um valor de rua de aproximadamente 30 mil patacas. O jovem de 17 anos confessou que vinham a Macau com o intuito de vender a cocaína a troco de um “salário” diário de 1500 dólares de Hong Kong.

Cinco detidos por organização criminosa e usura no valor de 24 milhões

A Polícia Judiciária deteve na segunda-feira cinco residentes suspeitos de gerir uma organização criminosa que fazia empréstimos ilegais que podem ter ascendido a 24 milhões de dólares de Hong Kong. A rede familiar publicitou o seu negócio através de panfletos que chegaram a ser distribuídos em departamentos públicos

 
[dropcap]D[/dropcap]esde Junho de 2017 que a Polícia Judiciária (PJ) estava de olho numa família de residentes suspeita de gestão de um esquema de empréstimos ilegais, depois da recepção de queixas de 10 residentes e de departamentos do Governo. Segundo informação prestada pela PJ, a publicidade à actividade ilegal chegou à Direcção dos Serviços de Economia, à Autoridade Monetária de Macau e ao Instituto para os Assuntos Municipais.

Após investigação, as autoridades detiveram na segunda-feira quatro homens e uma mulher. Entre os detidos, um indivíduo de 59 anos foi indicado pelas autoridades como sendo o cabecilha da organização em que participava o seu filho mais velho, de 29 anos, e a esposa, de 31 anos.

Segundo informação prestada pela PJ, a organização estaria em actividade desde Julho de 2015, altura em que começou a emprestar dinheiro com taxas de juro que ultrapassam o limite legal.

Durante quase quatro anos, a organização familiar terá emprestado cerca de 24 milhões de dólares de Hong Kong a, pelo menos, 86 pessoas.

Possível castigo

Os cinco suspeitos foram transferidos para o Ministério Público, e podem enfrentar acusações de associação criminosa, usura e branqueamento de capitais. Se forem condenados pelo crime de associação criminosa, os suspeitos arriscam uma pena de prisão entre os três e os 10 anos. O cabecilha enfrenta uma moldura penal superior, entre os cinco e 12 anos de prisão.

Pelo crime de usura, os cinco detidos podem ser condenados até três anos de prisão, pena que pode ser agravada entre um e cinco anos se ficar provado que os arguidos fizeram da usura modo de vida, dissimularam vantagem pecuniária ilegítima exigindo letra ou simulando contrato ou deixaram a pessoa prejudicada em difícil situação económica.

O crime de branqueamento de capitais pode resultar em moldura penal até aos oito anos de prisão.

Trabalho | Quase mais 7700 TNR face ao ano passado

[dropcap]A[/dropcap]té ao final de Maio deste ano, Macau contava com 189.414 trabalhadores não residentes (TNR), de acordo com dados do Corpo da Polícia de Segurança Pública divulgados ontem pela Direcção dos Serviços para aos Assuntos Laborais. Em comparação com o mesmo período do ano passado, os dados revelam um incremento de 7.691 novos TNR, mas uma redução face a Abril deste ano quando se bateu o recorde de trabalhadores não residentes acima dos 190 mil.

Sem surpresas, a China é o país de origem da larga maioria dos TNR importados, totalizando 189.414 trabalhadores, depois de 3.826 pessoas oriundas do Interior da China se juntarem à mão-de-obra de Macau. Um aumento que representa praticamente metade de todos os novos TNRs registados no final de Maio.

O segundo país mais exportador de mão-de-obra para Macau são as Filipinas, ainda assim a grande distância da China, com um total de 32.094 pessoas, mais 3.826 em relação ao ano passado.

O país de origem da terceira comunidade mais volumosa de TNR em Macau é o Vietname, que totalizava no final de Maio com 14.836 trabalhadores, número que representa uma descida de 160 trabalhadores em relação ao igual período de 2018.

A hotelaria e a restauração continuam a ser os sectores económicos que mais empregam TNR, com um total de 53.091 empregados. No restante pódio de ramos empregadores houve uma troca entre o segundo e o terceiro classificado. No final de Maio deste ano, o sector da construção civil passou para o terceiro lugar, depois de ser ultrapassado pelo número de empregados domésticos, com 29.104 e 29.212, respectivamente.

Emissão de dívida chinesa em Macau é “inteligente” mas requer responsabilidade

No próximo dia 4 de Julho vão ser emitidos títulos de dívida do Estado chinês em Macau no valor de dois mil milhões de renminbi. O economista Albano Martins considera tratar-se de uma alternativa segura de investimento para empresas e residentes, se o Governo Central mantiver a estabilidade da moeda

 
[dropcap]N[/dropcap]o próximo dia 4 de Julho, vão ser emitidos em Macau títulos de dívida do Estado chinês no valor de 2 mil milhões de renminbi. A iniciativa parte do Governo Central que desta forma dá mais um passo para a internacionalização da moeda enquanto recolhe dividendos, o que para o economista Albano Martins é uma “medida inteligente”. “O Governo Central está a tentar obter fundos através de Macau, porque sabe que Macau é uma zona onde há excedentes”, justificou o economista ao HM.

De acordo com o comunicado emitido ontem pelo Gabinete do Porta-voz do Governo, a medida permite “maior desenvolvimento das actividades financeiras com características próprias, bem como a promoção da diversificação adequada da economia de Macau”. A este respeito, Albano Martins considera antes que é mais uma alternativa dentro do mercado de investimento local.

“Não se pode dizer que seja uma diversificação da economia, mas uma alternativa de financiamento numa altura em que as taxas de juro são relativamente baixas”, como tal, “é um aliciante para quem quer colocar as suas poupanças no Estado chinês, porque dá garantias de cumprir as suas obrigações em relação aos pagamentos à data de vencimento”.

Por outro lado, para Albano Martins o valor de dois mil milhões de renminbi não é “nada de especial”, mas o mais importante, acrescentou, é que “o mercado de Macau passa a ter uma nova forma de aplicação dos seus dinheiros que não são apenas os depósitos bancários, o investimento imobiliário ou o investimento noutro tipo de activos reais”. O argumento do economista é também defendido oficialmente: “A emissão de títulos em renminbi fortalecerá ainda a cooperação financeira entre a China interior e Macau, fornecendo, aos investidores, maiores escolhas de investimentos seguros e prudentes”, lê-se na nota do Gabinete.

Mais responsabilidades

Inegável, é o passo para a internacionalização da moeda chinesa através da emissão de dívida pública em Macau, que traz consigo também novas responsabilidades para o Governo Central, nomeadamente no que toca a garantias para a estabilização da moeda, condição fundamental para não desiludir os investidores. “É um activo em renminbi, mas é preciso que haja alguma garantia para que no final deste percurso, ou seja, no final do vencimento, a moeda não valha menos, porque caso contrário é uma aposta que vai criar muitos danos colaterais a quem for investidor”, disse o economista.

Neste sentido, “quando se quer internacionalizar uma moeda o mais importante é a estabilidade da própria moeda”. Em causa está o facto de o renminbi ser uma moeda controlada administrativamente pelo Governo Central, não tendo uma cotação livre no mercado, “como têm as outras que também estão sujeitas a especulação, claro, mas e quando isso acontece os bancos centrais são chamados a colocar a situação na ordem, sendo que o que conta é o jogo entre a oferta e a procura”.

Apesar do renminbi ainda não estar de acordo com as normas dos mercados internacionais, pode apresentar garantias dependendo isso do próprio Governo Central. “Tudo bem desde que não faça esse controlo de forma a que venha a provocar lesões gravíssimas em quem investir na sua moeda”, disse.

Para o efeito, a China “tem de ter uma consciência mais refinada em termos de economia de mercado e não pode manipular as taxas de câmbio apenas porque quer exportar mais ou porque quer fazer com que a sua economia seja mais competitiva”.

No caminho da internacionalização da moeda, a China “pode e deve ser uma alternativa aos Estados Unidos da América, ou pelo menos ser mais uma alternativa ao euro e ao dólar americano, mas é preciso cumprir regras e uma das regras é garantir a estabilidade da evolução da taxa de cambio da sua própria moeda”, reforçou.

Já para o deputado Ip Sio Kai, com ligações à banca, o renminbi é uma moeda “mais razoável” para os investimentos no mercado internacional o que vai atrair a participação do investimento no mercado de títulos por parte dos residentes. Por outro lado, o deputado considera que se trata de uma iniciativa capaz de “ajudar muito nas negociações com os países de língua portuguesa”.

Colina da Ilha Verde | IC volta a contactar proprietários do terreno

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) reagiu ontem ao mais recente relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a investigação do terreno da Colina da Ilha Verde, onde se situa o antigo convento jesuíta actualmente em ruínas. Num comunicado oficial, os responsáveis do IC prometem “contactar os proprietários” e realizar a supervisão necessária “no sentido de estes levarem a cabo obras de restauro o mais rápido possível”.

“Se os proprietários tiverem dificuldades nas obras de restauro, o IC irá tratar do assunto nos termos da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, de forma a implementar e executar rigorosamente os trabalhos de salvaguarda do património cultural e a garantir a melhoria efectiva do estado da protecção da Colina da Ilha Verde”, lê-se ainda no comunicado.

O IC assegura que esta não é a primeira vez que contacta os legítimos proprietários do terreno, que tem estado envolvido numa disputa judicial para determinar a quem pertence a propriedade.

“No passado, o IC enviou cartas aos proprietários do terreno a solicitar a realização, o mais rápido possível, de obras de restauro e manutenção do Convento da Ilha Verde, e depois, o IC, a pedido dos proprietários, forneceu informações sobre os desenhos de design e os materiais de construção do Convento, comunicando com os proprietários envolvidos.”