Urbanismo | Pedida renovação com percentagens mais baixas

[dropcap]O[/dropcap] deputado Wu Chou Kit, nomeado pelo Chefe do Executivo, acredita que a exigência de que 60 por cento dos proprietários estejam de acordo para se proceder à renovação de um prédio, no caso de este poder constituir um perigo para a saúde pública, é muito elevada.

Por isso, o deputado considera que deve ser reduzida a percentagem, para facilitar a renovação urbana. A ideia foi defendida ontem na Assembleia Legislativa. “É necessário, e urgente, proceder à reconstrução de um prédio quando este é confirmado pelos serviços competentes como estando em ruína ou como sendo prejudicial à saúde e à segurança e, neste caso, tendo em conta o interesse público, a percentagem de 60 por cento é muito elevada”, afirmou.

Segundo a consulta pública para a renovação urbana, caso uma construtora consiga a percentagem necessária pode mesmo avançar para a apropriação dos restantes 40 por cento, mediante uma compensação dos restantes proprietários.

Urbanismo | Pedida renovação com percentagens mais baixas

[dropcap]O[/dropcap] deputado Wu Chou Kit, nomeado pelo Chefe do Executivo, acredita que a exigência de que 60 por cento dos proprietários estejam de acordo para se proceder à renovação de um prédio, no caso de este poder constituir um perigo para a saúde pública, é muito elevada.
Por isso, o deputado considera que deve ser reduzida a percentagem, para facilitar a renovação urbana. A ideia foi defendida ontem na Assembleia Legislativa. “É necessário, e urgente, proceder à reconstrução de um prédio quando este é confirmado pelos serviços competentes como estando em ruína ou como sendo prejudicial à saúde e à segurança e, neste caso, tendo em conta o interesse público, a percentagem de 60 por cento é muito elevada”, afirmou.
Segundo a consulta pública para a renovação urbana, caso uma construtora consiga a percentagem necessária pode mesmo avançar para a apropriação dos restantes 40 por cento, mediante uma compensação dos restantes proprietários.

Donos de animais sem compensação em caso de abate motivado por epidemia

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa aprovou ontem por unanimidade a Lei de Controlo Sanitário Animal que visa criar mecanismos para responder a situações de epidemias entre animais. Os 26 deputados presentes no momento da votação apoiaram a proposta do Executivo, mas houve espaço para debate. Agnes Lam e Leong Sun Iok pretendiam que o Governo criasse um mecanismo para compensar os donos de animais abatidos para controlar epidemias, mas o Executivo mostrou-se contra a sugestão, que pode voltar a ser discutida em sede de comissão.

A primeira a abordar o assunto foi Agnes Lam que recordou que em 2017 o Instituto para os Assuntos Municipais pagou aos donos das galinhas que tiveram de ser abatidas, devido a um surto de gripe das aves. A legisladora pretendia que os donos de animais domésticos também fossem compensados no futuro. “Quando houve necessidade de abate em larga escala de galinhas houve necessidade do pagamento de compensação. Não sabemos o que pode acontecer no futuro, mas pode haver epidemias entre os animais de estimação. Por isso temos de ponderar a criação de um mecanismo de compensação. Será que o Governo pensa nessa hipótese?”, questionou.

Na resposta à questão José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), esclareceu que os pagamentos foram um “apoio pecuniário” e não uma compensação e afastou a hipótese. “O que pagámos foi um apoio pecuniário, não foi uma indemnização”, esclareceu.

No entanto, também o deputado Leong Sun Iok defendeu que deveria ser criado um mecanismo para, no mínimo, compensar as lojas de animais domésticos que sejam afectadas por epidemias e vejam os animais abatidos. “Não concordo que a proposta de lei não permita que o dono do animal abatido peça uma indemnização”, frisou Leong. “Quando surge um surto de doença com os animais, os lojistas e os vendedores retalhistas também serão afectados na sua actividade. O facto de não ser consagrado este direito não é tão correcto. Devemos fazer constar esta possibilidade como aconteceu em Hong Kong e Taiwan”, apontou.

Isenção de imposto poupa 52 milhões a operadoras de ferries

[dropcap]O[/dropcap]s deputados da Assembleia Legislativa aprovaram na generalidade uma série de alterações Regulamento do Imposto de Selo que vai permitir às operadoras de ferries terem uma poupança de 52 milhões de patacas. A proposta foi aprovada ontem na generalidade com os votos favoráveis de todos os 29 deputados presentes no Plenário.

Segundo a proposta, que ainda tem de ser discutida na especialidade, o imposto de um por cento nas viagens de saída de Macau para o Interior da China e de dois por cento nas viagens para Hong Kong vai deixar de ser pago. Desta forma, as operadoras vão ter uma poupança que com base nas receitas fiscais entre 2013 e o ano passado se prevê ser atingir os 52 milhões de patacas.

Outro dos aspectos com maior alcance da proposta aprovada ontem é que os contratos de cedência de espaço para uso em centro comercial passam a pagar imposto de selo de cinco por cento. Esta é a resposta do Executivo a uma decisão dos tribunais da RAEM, de 2016, quando foi considerado que ao contrário dos contratos de arrendamento tradicionais, os vínculos de cedência de espaço para uso não tinham de pagar este imposto. A decisão deu início a uma tendência nos vínculos de arrendamento, para se evitar o imposto: “Tendo em conta que há, cada vez mais, donos dos centros comerciais, sobretudo de grande envergadura, a adoptarem a cedência de uso de espaço em imóvel, de modo a substituir o arrendamento tradicional do imóvel, é proposta a cobrança do imposto de selo sobre a cedência de uso de espaço em imóvel, com vista a assegurar a justiça na cobrança fiscal”, defendeu Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, na apresentação do diploma.

Ainda no que diz respeito a cortes no imposto, o Governo propôs que os contratos que convencionem que as disputas entre as partes sejam resolvidas através de arbitragem tenham um desconto de 50 por cento no valor do imposto de selo. A medida tem como objectivo incentivar a arbitragem.

Com as propostas aprovas na generalidade, o Governo estima que a receita fiscal tenha uma quebra de 89 milhões de patacas, que representa 2,93 por cento da receita anual média de imposto de selo, que ronda os 2,71 mil milhões de patacas.

Incêndio | Inspecção de equipamentos de segurança alvo de críticas por parte de deputados

O incêndio no Edifício Jardim Kong Fok Cheng afectou 30 famílias e os deputados apelaram ao Governo para que aprenda a lição “penosa” e tome medidas para que no futuro se evitem tragédias com efeitos mais graves. José Pereira Coutinho pediu uma investigação independente às actuação do Corpo de Bombeiros e Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes

 

[dropcap]O[/dropcap] fogo no Edifício Jardim Kong Fok Cheng, que afectou 30 famílias, e a alegada inspecção deficiente por parte das autoridades aos equipamentos de segurança contra incêndio valeram várias críticas dos deputados ao Executivo, ontem na Assembleia Legislativa. O assunto foi o mais abordado no espaço reservado às intervenções antes da ordem do dia, inclusive entre as forças tradicionais, e pediu-se uma revisão da legislação de segurança contra incêndios.

Para Song Pek Kei, deputada ligada à comunidade de Fujian e ao empresário Chan Meng Kam, a situação demonstra que houve negligência das autoridades face às empresas de gestão de condomínios e que o cenário devia ser um alerta: “Apesar de se tratar de um caso isolado, o certo é que reflecte perigos ocultos sobre a administração dos edifícios, que devem fazer soar o alarme do Governo”, começou por avisar.

Song apontou depois que existem vários edifícios, principalmente os mais antigos, com problemas devido à má administração que se reflecte no “envelhecimento das instalações eléctricas, obstrução das vias de evacuação em caso de incêndio e infiltrações de água”. Porém, não se mostrou surpreendida. “Já estamos habituados a isto! Porém, é lamentável que o Governo não tenha prestado a devida atenção ao assunto”, acusou.

Também Chan Hong, ligada à Associação Geral das Mulheres e ao sector da educação, abordou o assunto e recordou que no passado já tinha deixado avisos para a falta de segurança. “Durante o resgate, descobriu-se que a boca de incêndio não tinha água, os extintores estavam fora do prazo há muito tempo, o alarme não tinha sido activado, e os camiões de bombeiros não podiam entrar no condomínio”, apontou. “Quanto a esta questão, cheguei a apresentar interpelações escritas, em Julho de 2016 e Março de 2019, sobre as medidas contra incêndio e a revisão do Regulamento de segurança contra incêndios, que ainda não foi concluída. A sociedade espera que o Governo efectue quanto antes uma inspecção aos equipamentos e defina medidas contra incêndio para todos os bairros, grandes complexos habitacionais e edifícios públicos”, sublinhou.

Um aviso semelhante foi deixado por Mak Soi Kun que apontou que “os proprietários têm de assumir as suas responsabilidades na administração dos seus edifícios e que o Governo deve reforçar a vistoria e a fiscalização dos equipamentos contra incêndios”.

Investigação independente

Todos os deputados que focaram o assunto exigiram ao Governo que avance o mais depressa possível na revisão e actualização das leis que regulam a segurança contra incêndio. Entre as mudanças, os deputados pediram mais poderes para que o Corpo de Bombeiros possa forçar os condomínios a manterem os equipamentos em condições de utilização. “Solicito ao Governo que reveja a legislação quanto antes, optimize as instalações contra incêndios em prédios e aperfeiçoe os critérios relativos às exigências da resistência ao fogo, exigindo a execução nos prédios e clarificando as competências do Corpo de Bombeiros para inspeccionar os sistemas contra incêndios e aplicar sanções”, apontou Leong Sun Iok, deputado do Operários.

O ponto foi igualmente focado por José Pereira Coutinho, que perguntou ao Executivo se está à espera que surjam as primeiras vítimas para actuar: “Será necessário que no futuro ocorram mais incêndios com perdas de vida para que as entidades competentes comecem a actuar fazendo cumprir rigorosamente a legislação existente?”, questionou.

No entanto, o legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) foi mais longe e pediu que sejam apuradas as responsabilidades nomeadamente no que diz respeito ao Corpo de Bombeiros e à Direcção de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), para se perceber porque é que não houve multas anteriores no Edifício Jardim Kong Fok Cheng, apesar dos equipamentos não estarem em condições. “Sugiro ao Chefe do Executivo que seja instaurado uma investigação a este incêndio por uma entidade independente na medida em que estão envolvidas diversas entidades fiscalizadoras e no final divulgado ao público as suas conclusões e eventuais recomendações, para que casos idênticos não voltem a repetir-se”, pediu.

Incêndio | Inspecção de equipamentos de segurança alvo de críticas por parte de deputados

O incêndio no Edifício Jardim Kong Fok Cheng afectou 30 famílias e os deputados apelaram ao Governo para que aprenda a lição “penosa” e tome medidas para que no futuro se evitem tragédias com efeitos mais graves. José Pereira Coutinho pediu uma investigação independente às actuação do Corpo de Bombeiros e Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes

 
[dropcap]O[/dropcap] fogo no Edifício Jardim Kong Fok Cheng, que afectou 30 famílias, e a alegada inspecção deficiente por parte das autoridades aos equipamentos de segurança contra incêndio valeram várias críticas dos deputados ao Executivo, ontem na Assembleia Legislativa. O assunto foi o mais abordado no espaço reservado às intervenções antes da ordem do dia, inclusive entre as forças tradicionais, e pediu-se uma revisão da legislação de segurança contra incêndios.
Para Song Pek Kei, deputada ligada à comunidade de Fujian e ao empresário Chan Meng Kam, a situação demonstra que houve negligência das autoridades face às empresas de gestão de condomínios e que o cenário devia ser um alerta: “Apesar de se tratar de um caso isolado, o certo é que reflecte perigos ocultos sobre a administração dos edifícios, que devem fazer soar o alarme do Governo”, começou por avisar.
Song apontou depois que existem vários edifícios, principalmente os mais antigos, com problemas devido à má administração que se reflecte no “envelhecimento das instalações eléctricas, obstrução das vias de evacuação em caso de incêndio e infiltrações de água”. Porém, não se mostrou surpreendida. “Já estamos habituados a isto! Porém, é lamentável que o Governo não tenha prestado a devida atenção ao assunto”, acusou.
Também Chan Hong, ligada à Associação Geral das Mulheres e ao sector da educação, abordou o assunto e recordou que no passado já tinha deixado avisos para a falta de segurança. “Durante o resgate, descobriu-se que a boca de incêndio não tinha água, os extintores estavam fora do prazo há muito tempo, o alarme não tinha sido activado, e os camiões de bombeiros não podiam entrar no condomínio”, apontou. “Quanto a esta questão, cheguei a apresentar interpelações escritas, em Julho de 2016 e Março de 2019, sobre as medidas contra incêndio e a revisão do Regulamento de segurança contra incêndios, que ainda não foi concluída. A sociedade espera que o Governo efectue quanto antes uma inspecção aos equipamentos e defina medidas contra incêndio para todos os bairros, grandes complexos habitacionais e edifícios públicos”, sublinhou.
Um aviso semelhante foi deixado por Mak Soi Kun que apontou que “os proprietários têm de assumir as suas responsabilidades na administração dos seus edifícios e que o Governo deve reforçar a vistoria e a fiscalização dos equipamentos contra incêndios”.

Investigação independente

Todos os deputados que focaram o assunto exigiram ao Governo que avance o mais depressa possível na revisão e actualização das leis que regulam a segurança contra incêndio. Entre as mudanças, os deputados pediram mais poderes para que o Corpo de Bombeiros possa forçar os condomínios a manterem os equipamentos em condições de utilização. “Solicito ao Governo que reveja a legislação quanto antes, optimize as instalações contra incêndios em prédios e aperfeiçoe os critérios relativos às exigências da resistência ao fogo, exigindo a execução nos prédios e clarificando as competências do Corpo de Bombeiros para inspeccionar os sistemas contra incêndios e aplicar sanções”, apontou Leong Sun Iok, deputado do Operários.
O ponto foi igualmente focado por José Pereira Coutinho, que perguntou ao Executivo se está à espera que surjam as primeiras vítimas para actuar: “Será necessário que no futuro ocorram mais incêndios com perdas de vida para que as entidades competentes comecem a actuar fazendo cumprir rigorosamente a legislação existente?”, questionou.
No entanto, o legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) foi mais longe e pediu que sejam apuradas as responsabilidades nomeadamente no que diz respeito ao Corpo de Bombeiros e à Direcção de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), para se perceber porque é que não houve multas anteriores no Edifício Jardim Kong Fok Cheng, apesar dos equipamentos não estarem em condições. “Sugiro ao Chefe do Executivo que seja instaurado uma investigação a este incêndio por uma entidade independente na medida em que estão envolvidas diversas entidades fiscalizadoras e no final divulgado ao público as suas conclusões e eventuais recomendações, para que casos idênticos não voltem a repetir-se”, pediu.

Videovigilância | Sulu esbarra em chavões e ausência de respostas no GPDP

Sulu Sou pediu ao Gabinete de Protecção de Dados Pessoais para especificar quais os programas pedidos pelas Forças e Serviços de Segurança no âmbito do sistema de “Olhos no Céu” que acabaram por ser rejeitados. O gabinete não deu resposta e referiu que não guardou qualquer registo escrito das propostas. O deputado considera que a entidade devia dar mais confiança aos residentes

 

[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou reuniu ontem com os responsáveis do Gabinete de Protecão de Dados Pessoais (GPDP) para esclarecer dúvidas sobre a instalação futura de meia centena de câmaras apetrechadas com a tecnologia de reconhecimento facial. Segundo o deputado, as respostas da entidade pública seguiram a linha tradicional do “de acordo com a lei”.

Porém, uma questão que ficou por responder deixou o pró-democrata particularmente preocupado. Num comunicado emitido no passado dia 9 de Setembro, em que se faz a defesa do uso desta forma de videovigilância, nomeadamente quanto ao abuso da privacidade de residentes e turistas, lê-se que “após considerações sérias, o GPDP rejeitou alguns programas ou parte de conteúdos de programas [sugeridos pelas Forças e Serviços de Segurança], e expressou reservas ou alterações relativas a alguns conteúdos de alguns programas”. Ora, quando questionados sobre os programas que foram rejeitados, ou alterados por intervenção do GPDP, os dirigentes do organismo não souberam responder.

Apesar do comunicado ter pouco mais de um mês e meio, o organismo liderado por Yang Chongwei não acedeu aos pedidos dos representantes da Associação Novo Macau. “Disseram-nos que não tinham qualquer registo escrito, documentos, ou notas, sobre essas propostas que rejeitaram. Achamos isso muito estranho”, disse Sulu Sou à saída da reunião.

Além disso, foi explicado que, “por vezes, são feitos pedidos, sugestões e opiniões por vários departamentos, de forma oral”. Só no caso do GPDP dar sinal positivo ao pedido, é feita uma proposta específica formalmente.

A explicação não convenceu o deputado, que manifestou o desejo de que o organismo liderado por Yang Chongwei facultasse maiores garantias de independência. “O GPDP devia dar mais confiança ao público, deviam ser os guardiões da nossa privacidade”, desejou Sulu Sou.

De acordo com a lei

Os representantes da Novo Macau tentaram obter uma garantia de que, na sequência de uma investigação criminal, das imagens recolhidas pelo sistema com reconhecimento facial as autoridades se abstém de aceder e recolher dados de pessoas que não estão envolvidas, ou suspeitas, de estarem a cometer um crime. Segundo Sulu Sou, não foram dadas garantias suficientes para ficar seguro de que a privacidade das pessoas não será violada mediante o uso desta tecnologia. E esse deveria ser o papel do GPDP.

“O GPDP devia dar mais confiança ao público, deviam ser os guardiões da nossa privacidade”, comentou Sulu Sou. O deputado recorda que também foi pedida a divulgação das normas de conduta e dos métodos específicos usados pelas autoridades de segurança no uso das câmaras equipadas com reconhecimento facial, mas esse pedido não foi acedido.

Outra preocupação é que os elementos recolhidos pelo sistema “Olhos no Céu” sejam armazenados numa base de dados. Neste ponto, o deputado recordou que no interior da China é dada justificação semelhante (segurança pública) para recolher dados usados no Sistema de Crédito Social, o mais sofisticado e abrangente programa de engenharia social e videovigilância alguma vez visto. Também em relação à colecção desta informação para uma base de dados, Sulu Sou acha “que a polícia devia esclarecer”, e, mais uma vez “o GPDP não tem resposta.”

Nesse sentido, o legislador interpelou o Governo a pedir um compromisso, uma promessa, de que não vão aplicar esses sistemas antes de 2049. “Evitaram esta questão, portanto, temos de manter vigilância. Acho que é fundamental que os residentes saibam a importância da sua privacidade”.

Sem saber o quê

O deputado recordou que nos últimos anos, “o secretário para a Segurança usou sempre a razão da segurança pública para alargar o sistema de vigilância nesta pequena cidade”, algo que considera “um perigo”. “Todos concordamos que o Governo deve ter a responsabilidade de proteger e garantir a segurança da sociedade. Mas a segurança pública não é tudo. Devem respeitar princípios da legalidade”, acrescentou.

Outro problema é a falta de acesso da população ao uso dado ao sistema de reconhecimento facial e a ausência de informação. “Se não soubermos que a nossa privacidade foi violada como posso apresentar queixa? Essa é a grande questão”, interrogou o pró-democrata.

Sulu Sou aproveitou a reunião com os dirigentes do GPDP para abordar o tema do marketing abusivo usado por empresas da indústria da beleza. Até hoje, o GPDP recebeu 65 queixas relacionados com este fenómeno. Durante a reunião foi discutida a possibilidade de rever a lei para punir mais severamente as empresas que cometem este delito, ou seja, aumentar o valor da multa, de forma a dissuadir estas campanhas de spam telefónico.

Mas a maior preocupação de Sulu Sou neste aspecto é como as empresas conseguem os números privados das pessoas. “O GPDP disse que com as investigações, foi apurado que usam software de marcação aleatória. Mas isso não faz sentido. Pode haver aqui algum comportamento ilegal”, referiu.

Videovigilância | Sulu esbarra em chavões e ausência de respostas no GPDP

Sulu Sou pediu ao Gabinete de Protecção de Dados Pessoais para especificar quais os programas pedidos pelas Forças e Serviços de Segurança no âmbito do sistema de “Olhos no Céu” que acabaram por ser rejeitados. O gabinete não deu resposta e referiu que não guardou qualquer registo escrito das propostas. O deputado considera que a entidade devia dar mais confiança aos residentes

 
[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou reuniu ontem com os responsáveis do Gabinete de Protecão de Dados Pessoais (GPDP) para esclarecer dúvidas sobre a instalação futura de meia centena de câmaras apetrechadas com a tecnologia de reconhecimento facial. Segundo o deputado, as respostas da entidade pública seguiram a linha tradicional do “de acordo com a lei”.
Porém, uma questão que ficou por responder deixou o pró-democrata particularmente preocupado. Num comunicado emitido no passado dia 9 de Setembro, em que se faz a defesa do uso desta forma de videovigilância, nomeadamente quanto ao abuso da privacidade de residentes e turistas, lê-se que “após considerações sérias, o GPDP rejeitou alguns programas ou parte de conteúdos de programas [sugeridos pelas Forças e Serviços de Segurança], e expressou reservas ou alterações relativas a alguns conteúdos de alguns programas”. Ora, quando questionados sobre os programas que foram rejeitados, ou alterados por intervenção do GPDP, os dirigentes do organismo não souberam responder.
Apesar do comunicado ter pouco mais de um mês e meio, o organismo liderado por Yang Chongwei não acedeu aos pedidos dos representantes da Associação Novo Macau. “Disseram-nos que não tinham qualquer registo escrito, documentos, ou notas, sobre essas propostas que rejeitaram. Achamos isso muito estranho”, disse Sulu Sou à saída da reunião.
Além disso, foi explicado que, “por vezes, são feitos pedidos, sugestões e opiniões por vários departamentos, de forma oral”. Só no caso do GPDP dar sinal positivo ao pedido, é feita uma proposta específica formalmente.
A explicação não convenceu o deputado, que manifestou o desejo de que o organismo liderado por Yang Chongwei facultasse maiores garantias de independência. “O GPDP devia dar mais confiança ao público, deviam ser os guardiões da nossa privacidade”, desejou Sulu Sou.

De acordo com a lei

Os representantes da Novo Macau tentaram obter uma garantia de que, na sequência de uma investigação criminal, das imagens recolhidas pelo sistema com reconhecimento facial as autoridades se abstém de aceder e recolher dados de pessoas que não estão envolvidas, ou suspeitas, de estarem a cometer um crime. Segundo Sulu Sou, não foram dadas garantias suficientes para ficar seguro de que a privacidade das pessoas não será violada mediante o uso desta tecnologia. E esse deveria ser o papel do GPDP.
“O GPDP devia dar mais confiança ao público, deviam ser os guardiões da nossa privacidade”, comentou Sulu Sou. O deputado recorda que também foi pedida a divulgação das normas de conduta e dos métodos específicos usados pelas autoridades de segurança no uso das câmaras equipadas com reconhecimento facial, mas esse pedido não foi acedido.
Outra preocupação é que os elementos recolhidos pelo sistema “Olhos no Céu” sejam armazenados numa base de dados. Neste ponto, o deputado recordou que no interior da China é dada justificação semelhante (segurança pública) para recolher dados usados no Sistema de Crédito Social, o mais sofisticado e abrangente programa de engenharia social e videovigilância alguma vez visto. Também em relação à colecção desta informação para uma base de dados, Sulu Sou acha “que a polícia devia esclarecer”, e, mais uma vez “o GPDP não tem resposta.”
Nesse sentido, o legislador interpelou o Governo a pedir um compromisso, uma promessa, de que não vão aplicar esses sistemas antes de 2049. “Evitaram esta questão, portanto, temos de manter vigilância. Acho que é fundamental que os residentes saibam a importância da sua privacidade”.

Sem saber o quê

O deputado recordou que nos últimos anos, “o secretário para a Segurança usou sempre a razão da segurança pública para alargar o sistema de vigilância nesta pequena cidade”, algo que considera “um perigo”. “Todos concordamos que o Governo deve ter a responsabilidade de proteger e garantir a segurança da sociedade. Mas a segurança pública não é tudo. Devem respeitar princípios da legalidade”, acrescentou.
Outro problema é a falta de acesso da população ao uso dado ao sistema de reconhecimento facial e a ausência de informação. “Se não soubermos que a nossa privacidade foi violada como posso apresentar queixa? Essa é a grande questão”, interrogou o pró-democrata.
Sulu Sou aproveitou a reunião com os dirigentes do GPDP para abordar o tema do marketing abusivo usado por empresas da indústria da beleza. Até hoje, o GPDP recebeu 65 queixas relacionados com este fenómeno. Durante a reunião foi discutida a possibilidade de rever a lei para punir mais severamente as empresas que cometem este delito, ou seja, aumentar o valor da multa, de forma a dissuadir estas campanhas de spam telefónico.
Mas a maior preocupação de Sulu Sou neste aspecto é como as empresas conseguem os números privados das pessoas. “O GPDP disse que com as investigações, foi apurado que usam software de marcação aleatória. Mas isso não faz sentido. Pode haver aqui algum comportamento ilegal”, referiu.

Ciência | 300 milhões ameaçados por subida dos oceanos até 2050

A vida de 300 milhões de habitantes das zonas costeiras pode estar ameaçada pela subida do nível do mar até 2050, estima um estudo da Climate Central ontem divulgado, que aponta a Ásia como a região mais vulnerável. De acordo com o documento, publicado na revista científica Nature Communications, mais de 200 milhões de pessoas em risco vivem na China, no Bangladesh, na Índia, no Vietname, na Indonésia e na Tailândia

 

[dropcap]A[/dropcap] subida do nível das águas do mar pode atingir níveis muito piores do que se poderia pensar, com consequências que vão exigir muito mais dinheiro, é apontado num novo estudo científico. A teoria avançada não se baseia numa reavaliação dos níveis das águas do mar, mas na revisão da estimativa do número de pessoas que vivem em zonas baixas.

Um dos destaques do relatório aponta para um número a rondar as 110 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível das águas do mar, incluindo algumas populações que residem em áreas protegidas por diques, paredões e outras infra-estruturas, como, por exemplo, acontece em Nova Orleães.

Mesmo num cenário relativamente modesto de alterações climáticas, o número pode subir para entre 150 milhões de pessoas em 2050 e 190 milhões no ano 2100. Se as alterações climáticas e a subida das águas do mar seguirem as piores expectativas, cerca de 340 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível da maré alta podem estar em perigo. Esta estimativa não tem em conta quantas pessoas podem ser afectadas por cheias e catástrofes naturais.

As estimativas apresentadas são, pelo menos, três vezes piores em relação a estimativas anteriores.
“Temos tido um enorme ângulo cego em relação ao grau de perigosidade, e é nesse aspecto que estamos a tentar melhorar”, refere Benjamin Strauss da Climate Central, autor do estudo publicado na Nature Communications em parceria com Scott Kulp.

A razão para esta alteração significativa é que relatórios anteriores foram baseados em dados sobre elevação costeira apurados por medições de radar feitos em 2000 pela missão espacial da Endeavor. Porém, este conjunto de dados apresenta alguns problemas. O instrumento que detectou a altura das zonas costeiras não distinguiu apenas as elevações da orla, mas também casas e árvores. Como tal, foram introduzidos erros nas estimativas globais de elevação do terreno até quase a 20 metros, refere o estudo.

“Todo o investimento que fizemos em recursos no sentido de melhorar as nossas projecções de nível do mar não foi suficiente para determinar a altura do chão que está debaixo dos nossos pés”, refere Strauss.

Outras medições

Alguns países com maior capacidade financeira, como os Estados Unidos, têm usado medições da orla costeira com base em tecnologia laser de forma a conseguir maior precisão, mas a maioria dos países não tem acesso a tecnologias tão dispendiosas.

O documento publicado ontem usa medidas mais precisas, tendo como base os métodos de medição norte-americanos, que aplicam um algoritmo para fazer um ajustamento aos dados globais obtidos a partir do espaço pela Endeavor.

É aqui que o cenário fica complicado para a Ásia, com números estimados de população exposta muito mais elevados do que em medições anteriores.

“Em termos de estimativas globais, penso que a análise demonstra, de forma convincente, que a situação é provavelmente pior do que foi sugerido em estudos anteriores”, defende Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial que estuda alterações climáticas e exposição a catástrofes naturais. “Estamos a falar de centenas de milhões de pessoas que vão ser directamente expostas”, acrescenta.

As mudanças ocorrem numa escala de dimensões alarmantes. O estudo estima que 110 milhões de pessoas vivem abaixo do nível actual das marés mais altas, em comparação com 28 milhões de estimativas anteriores. Cerca de 250 milhões de pessoas podem ficar expostas abaixo do nível das piores cheias do ano, de acordo com o estudo, em comparação com 65 milhões de estimativas anteriores.

Sapo na panela

As projecções ilustram como as populações vão ser afectadas à medida que os níveis das águas do mar continuam a aumentar.

Os resultados da pesquisa têm em conta um cenário que conduz a um aumento de temperatura de 2 graus Celsius de aquecimento global até 2100, a temperatura que os líderes mundiais estabeleceram como o limite absoluto. Com base nesse panorama, o estudo projecta que 150 milhões de pessoas vão viver abaixo do nível da maré alta até 2050 e 200 milhões até ao ano 2100.

Em termos do número de pessoas expostas à pior cheia do ano, estima-se que possa atingir os 360 milhões.

No entanto, a maioria dos estudos sobre o aquecimento global aponta para uma subida de temperatura consideravelmente acima dos 2 graus Celsius, o que pode levar a consequências ainda piores.

Um dos aspectos chave para o agravamento das estimativas prende-se com o grau de instabilidade na Antártida, que pode levar à exposição em 2100 de cerca de 480 milhões de pessoas a um fenómeno descrito como a pior cheia do ano.

Os resultados do estudo traçam um cenário particularmente negro para a Ásia, com destaque para a China, Bangladesh e Índia. Na pior das hipóteses, nestes países 87 milhões, 50 milhões e 38 milhões de pessoas, respectivamente, podem ficar abaixo do nível da maré alta em 2100.

A situação pode ser ainda mais grave do que é sugerido no documento, de acordo com Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial. Isto porque a juntar à maré alta e eventos de maior cheia, esta parte do globo está sujeita a catástrofes naturais. O impacto dos desastres naturais, como tufões, será mais grave, afectando uma camada ainda maior da população à medida que o nível do mar continua a subir.

“A maioria dos diques e sistemas de protecção foram construídos para os níveis de mar estimados há 50 anos, ou mais. Ou seja, não vão conseguir proteger as populações contra cheias. Este fenómeno pode levar à rápida perda de costa face às cheias, se não se fizerem actualizações estruturais significativas”, refere o economista. “Este investimento vai sair muito caro, mas vai ser também indispensável para evitar inaceitáveis perdas económicas em algumas cidades de grande proporção”, acrescentou Hallegatte.

Passo em frente

O estudo publicado na Nature Communications foi considerado por muitos cientistas da área como um avanço apesar das críticas de que foi alvo. “Este estudo é um importante passo em frente em direcção a estimativas mais precisas das populações em risco face à subida global do nível das águas do mar”, considerou Pinki Mondal, um cientista da Universidade de Delaware que usa dados recolhidos por satélite e outros instrumentos com sensores remotos para estudar os riscos e efeitos das alterações climáticas.

“Com o avanço da tecnologia, recursos de computação e aprendizagem automática, está a tornar-se possível conseguir níveis de precisão maiores de estimativas como, por exemplo, de elevação como este estudo demonstra”, completou o investigador em declarações ao Washington Post.

O especialista em nível das águas do mar Athanasios Vafeidis, da Universidade de Kiel na Alemanha, concorda com os resultados apresentados no estudo em apreço. “A informação sobre a elevação costeira é nova e melhorada. Porém, as estimativas não consideram importantes factores como o desenvolvimento socioeconómico e a adaptação. Os processos físicos estão apresentados de uma forma algo simplista”, critica o especialista.

Vafeidis acrescenta que não é bem claro como o algoritmo usado para medir a orla costeira dos Estados Unidos se adequa a outros países. Além disso, a forma como as populações normalmente crescem e se adaptam à subida das águas do mar é mais complexo do que o estudo prevê. Também os efeitos das cheias não dependem apenas da elevação da costa.

Strauss, um dos autores do estudo, reconhece que não foram ditas “explícitas considerações” a medidas de adaptação, tais como barreiras, na estimativa da exposição da subida das águas, mas que o estudo assentou meramente na medida da elevação dos solos e na densidade populacional.

Para Strauss, essa é a boa notícia. As pessoas adaptam-se de forma a contornar as adversidades. Ainda assim, independentemente da corrente científica seguida, uma coisa parece certa: as populações que já vivem abaixo do nível da maré alta vão passar por dificuldades crescentes nos anos que se avizinham.

Com agências 

Ciência | 300 milhões ameaçados por subida dos oceanos até 2050

A vida de 300 milhões de habitantes das zonas costeiras pode estar ameaçada pela subida do nível do mar até 2050, estima um estudo da Climate Central ontem divulgado, que aponta a Ásia como a região mais vulnerável. De acordo com o documento, publicado na revista científica Nature Communications, mais de 200 milhões de pessoas em risco vivem na China, no Bangladesh, na Índia, no Vietname, na Indonésia e na Tailândia

 
[dropcap]A[/dropcap] subida do nível das águas do mar pode atingir níveis muito piores do que se poderia pensar, com consequências que vão exigir muito mais dinheiro, é apontado num novo estudo científico. A teoria avançada não se baseia numa reavaliação dos níveis das águas do mar, mas na revisão da estimativa do número de pessoas que vivem em zonas baixas.
Um dos destaques do relatório aponta para um número a rondar as 110 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível das águas do mar, incluindo algumas populações que residem em áreas protegidas por diques, paredões e outras infra-estruturas, como, por exemplo, acontece em Nova Orleães.
Mesmo num cenário relativamente modesto de alterações climáticas, o número pode subir para entre 150 milhões de pessoas em 2050 e 190 milhões no ano 2100. Se as alterações climáticas e a subida das águas do mar seguirem as piores expectativas, cerca de 340 milhões de pessoas que vivem abaixo do nível da maré alta podem estar em perigo. Esta estimativa não tem em conta quantas pessoas podem ser afectadas por cheias e catástrofes naturais.
As estimativas apresentadas são, pelo menos, três vezes piores em relação a estimativas anteriores.
“Temos tido um enorme ângulo cego em relação ao grau de perigosidade, e é nesse aspecto que estamos a tentar melhorar”, refere Benjamin Strauss da Climate Central, autor do estudo publicado na Nature Communications em parceria com Scott Kulp.
A razão para esta alteração significativa é que relatórios anteriores foram baseados em dados sobre elevação costeira apurados por medições de radar feitos em 2000 pela missão espacial da Endeavor. Porém, este conjunto de dados apresenta alguns problemas. O instrumento que detectou a altura das zonas costeiras não distinguiu apenas as elevações da orla, mas também casas e árvores. Como tal, foram introduzidos erros nas estimativas globais de elevação do terreno até quase a 20 metros, refere o estudo.
“Todo o investimento que fizemos em recursos no sentido de melhorar as nossas projecções de nível do mar não foi suficiente para determinar a altura do chão que está debaixo dos nossos pés”, refere Strauss.

Outras medições

Alguns países com maior capacidade financeira, como os Estados Unidos, têm usado medições da orla costeira com base em tecnologia laser de forma a conseguir maior precisão, mas a maioria dos países não tem acesso a tecnologias tão dispendiosas.
O documento publicado ontem usa medidas mais precisas, tendo como base os métodos de medição norte-americanos, que aplicam um algoritmo para fazer um ajustamento aos dados globais obtidos a partir do espaço pela Endeavor.
É aqui que o cenário fica complicado para a Ásia, com números estimados de população exposta muito mais elevados do que em medições anteriores.
“Em termos de estimativas globais, penso que a análise demonstra, de forma convincente, que a situação é provavelmente pior do que foi sugerido em estudos anteriores”, defende Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial que estuda alterações climáticas e exposição a catástrofes naturais. “Estamos a falar de centenas de milhões de pessoas que vão ser directamente expostas”, acrescenta.
As mudanças ocorrem numa escala de dimensões alarmantes. O estudo estima que 110 milhões de pessoas vivem abaixo do nível actual das marés mais altas, em comparação com 28 milhões de estimativas anteriores. Cerca de 250 milhões de pessoas podem ficar expostas abaixo do nível das piores cheias do ano, de acordo com o estudo, em comparação com 65 milhões de estimativas anteriores.

Sapo na panela

As projecções ilustram como as populações vão ser afectadas à medida que os níveis das águas do mar continuam a aumentar.
Os resultados da pesquisa têm em conta um cenário que conduz a um aumento de temperatura de 2 graus Celsius de aquecimento global até 2100, a temperatura que os líderes mundiais estabeleceram como o limite absoluto. Com base nesse panorama, o estudo projecta que 150 milhões de pessoas vão viver abaixo do nível da maré alta até 2050 e 200 milhões até ao ano 2100.
Em termos do número de pessoas expostas à pior cheia do ano, estima-se que possa atingir os 360 milhões.
No entanto, a maioria dos estudos sobre o aquecimento global aponta para uma subida de temperatura consideravelmente acima dos 2 graus Celsius, o que pode levar a consequências ainda piores.
Um dos aspectos chave para o agravamento das estimativas prende-se com o grau de instabilidade na Antártida, que pode levar à exposição em 2100 de cerca de 480 milhões de pessoas a um fenómeno descrito como a pior cheia do ano.
Os resultados do estudo traçam um cenário particularmente negro para a Ásia, com destaque para a China, Bangladesh e Índia. Na pior das hipóteses, nestes países 87 milhões, 50 milhões e 38 milhões de pessoas, respectivamente, podem ficar abaixo do nível da maré alta em 2100.
A situação pode ser ainda mais grave do que é sugerido no documento, de acordo com Stéphane Hallegatte, economista do Banco Mundial. Isto porque a juntar à maré alta e eventos de maior cheia, esta parte do globo está sujeita a catástrofes naturais. O impacto dos desastres naturais, como tufões, será mais grave, afectando uma camada ainda maior da população à medida que o nível do mar continua a subir.
“A maioria dos diques e sistemas de protecção foram construídos para os níveis de mar estimados há 50 anos, ou mais. Ou seja, não vão conseguir proteger as populações contra cheias. Este fenómeno pode levar à rápida perda de costa face às cheias, se não se fizerem actualizações estruturais significativas”, refere o economista. “Este investimento vai sair muito caro, mas vai ser também indispensável para evitar inaceitáveis perdas económicas em algumas cidades de grande proporção”, acrescentou Hallegatte.

Passo em frente

O estudo publicado na Nature Communications foi considerado por muitos cientistas da área como um avanço apesar das críticas de que foi alvo. “Este estudo é um importante passo em frente em direcção a estimativas mais precisas das populações em risco face à subida global do nível das águas do mar”, considerou Pinki Mondal, um cientista da Universidade de Delaware que usa dados recolhidos por satélite e outros instrumentos com sensores remotos para estudar os riscos e efeitos das alterações climáticas.
“Com o avanço da tecnologia, recursos de computação e aprendizagem automática, está a tornar-se possível conseguir níveis de precisão maiores de estimativas como, por exemplo, de elevação como este estudo demonstra”, completou o investigador em declarações ao Washington Post.
O especialista em nível das águas do mar Athanasios Vafeidis, da Universidade de Kiel na Alemanha, concorda com os resultados apresentados no estudo em apreço. “A informação sobre a elevação costeira é nova e melhorada. Porém, as estimativas não consideram importantes factores como o desenvolvimento socioeconómico e a adaptação. Os processos físicos estão apresentados de uma forma algo simplista”, critica o especialista.
Vafeidis acrescenta que não é bem claro como o algoritmo usado para medir a orla costeira dos Estados Unidos se adequa a outros países. Além disso, a forma como as populações normalmente crescem e se adaptam à subida das águas do mar é mais complexo do que o estudo prevê. Também os efeitos das cheias não dependem apenas da elevação da costa.
Strauss, um dos autores do estudo, reconhece que não foram ditas “explícitas considerações” a medidas de adaptação, tais como barreiras, na estimativa da exposição da subida das águas, mas que o estudo assentou meramente na medida da elevação dos solos e na densidade populacional.
Para Strauss, essa é a boa notícia. As pessoas adaptam-se de forma a contornar as adversidades. Ainda assim, independentemente da corrente científica seguida, uma coisa parece certa: as populações que já vivem abaixo do nível da maré alta vão passar por dificuldades crescentes nos anos que se avizinham.
Com agências 

Hong Kong | Joshua Wong impedido de concorrer às eleições

[dropcap]O[/dropcap] activista Joshua Wong, figura proeminente do movimento pró-democracia em Hong Kong, anunciou ontem que foi impedido de concorrer às próximas eleições locais, enquanto o território atravessa a pior crise política desde 1997.

O activista foi o único candidato excluído das eleições para o conselho distrital, a 24 de Novembro.
“Condeno com veemência o facto de o Governo estar envolvido em filtragem e censura políticas, privando-me dos meus direitos”, afirmou Joshua Wong, de 22 anos, numa mensagem divulgada na rede social Facebook.

A nomeação do activista a candidato eleitoral foi considerada inválida, de acordo com uma notificação da Comissão dos Assuntos Eleitorais, partilhada pelo próprio na mesma rede social.
Sem nomear Joshua Wong, o Governo afirmou, em comunicado divulgado ontem no site oficial, que a decisão sobre todos os candidatos já estava tomada.

“O candidato não pode de forma alguma cumprir os requisitos das leis eleitorais relevantes, uma vez que advogar ou promover a ‘autodeterminação’ contraria o conteúdo da declaração exigida por lei a um candidato, a de respeitar a Lei Básica e jurar lealdade” a Hong Kong, de acordo com um comunicado do executivo local.

No mês passado, quando anunciou que iria concorrer às eleições em Novembro, Wong advertiu que qualquer tentativa de desqualificação apenas resultaria em mais apoio aos protestos pró-democracia.

Também descreveu a votação como crucial para enviar uma mensagem a Pequim de que a população está mais determinada do que nunca para vencer a batalha por mais direitos.

“Há cinco anos dissemos que voltávamos e agora estamos de volta com uma determinação ainda mais forte”, disse o activista que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018.

Hong Kong | Joshua Wong impedido de concorrer às eleições

[dropcap]O[/dropcap] activista Joshua Wong, figura proeminente do movimento pró-democracia em Hong Kong, anunciou ontem que foi impedido de concorrer às próximas eleições locais, enquanto o território atravessa a pior crise política desde 1997.
O activista foi o único candidato excluído das eleições para o conselho distrital, a 24 de Novembro.
“Condeno com veemência o facto de o Governo estar envolvido em filtragem e censura políticas, privando-me dos meus direitos”, afirmou Joshua Wong, de 22 anos, numa mensagem divulgada na rede social Facebook.
A nomeação do activista a candidato eleitoral foi considerada inválida, de acordo com uma notificação da Comissão dos Assuntos Eleitorais, partilhada pelo próprio na mesma rede social.
Sem nomear Joshua Wong, o Governo afirmou, em comunicado divulgado ontem no site oficial, que a decisão sobre todos os candidatos já estava tomada.
“O candidato não pode de forma alguma cumprir os requisitos das leis eleitorais relevantes, uma vez que advogar ou promover a ‘autodeterminação’ contraria o conteúdo da declaração exigida por lei a um candidato, a de respeitar a Lei Básica e jurar lealdade” a Hong Kong, de acordo com um comunicado do executivo local.
No mês passado, quando anunciou que iria concorrer às eleições em Novembro, Wong advertiu que qualquer tentativa de desqualificação apenas resultaria em mais apoio aos protestos pró-democracia.
Também descreveu a votação como crucial para enviar uma mensagem a Pequim de que a população está mais determinada do que nunca para vencer a batalha por mais direitos.
“Há cinco anos dissemos que voltávamos e agora estamos de volta com uma determinação ainda mais forte”, disse o activista que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018.

Sands | Julgamento sobre licença adiado para 2020

[dropcap]O[/dropcap] caso bilionário que corre na justiça sobre a licença de concessão da subsidiária local da Las Vegas Sands Corp em Macau foi adiado para 16 de Setembro do próximo ano. A informação foi adiantada pela concessionária, e citado pelo portal GGRAsia, num comunicado que deu conta dos resultados da empresa para os três primeiros trimestres deste ano.

O processo, interposto em 2012, pela empresa de Taiwan liderada por Marshall Hao Shi-sheng, tem como base o pedido de compensação por danos sofridos na sequência da quebra de um acordo com a Sands que resultou na obtenção da licença de concessão em 2002.

Em Julho deste ano, a empresa de Taiwan, que alega ter sido instrumental na negociação do pedido de licença da Sands para operar em Macau, a troco de compensação, pediu um montante de quase 12 mil milhões de dólares americanos. Em comunicado, a Las Vegas Sands esclareceu que tem a intenção de se defender vigorosamente”.

Sands | Julgamento sobre licença adiado para 2020

[dropcap]O[/dropcap] caso bilionário que corre na justiça sobre a licença de concessão da subsidiária local da Las Vegas Sands Corp em Macau foi adiado para 16 de Setembro do próximo ano. A informação foi adiantada pela concessionária, e citado pelo portal GGRAsia, num comunicado que deu conta dos resultados da empresa para os três primeiros trimestres deste ano.
O processo, interposto em 2012, pela empresa de Taiwan liderada por Marshall Hao Shi-sheng, tem como base o pedido de compensação por danos sofridos na sequência da quebra de um acordo com a Sands que resultou na obtenção da licença de concessão em 2002.
Em Julho deste ano, a empresa de Taiwan, que alega ter sido instrumental na negociação do pedido de licença da Sands para operar em Macau, a troco de compensação, pediu um montante de quase 12 mil milhões de dólares americanos. Em comunicado, a Las Vegas Sands esclareceu que tem a intenção de se defender vigorosamente”.

IAS cede alojamento a oito pessoas depois de incêndio na Areia Preta 

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades já estão a trabalhar no sentido de dar resposta às famílias desalojadas depois da ocorrência de um incêndio no bairro da Areia Preta, que deflagrou no bloco 4 do Edifício Jardim Kong Fok Cheong, no passado dia 20 deste mês.

De acordo com um comunicado emitido pelo gabinete do Chefe do Executivo, o Instituto de Acção Social (IAS) contactou 30 famílias que ficaram desalojadas, tendo sido prestados serviços de apoio emocional e aconselhamento. Além disso, o IAS forneceu apoio financeiro de emergência às 12 fracções afectadas, sendo que um total de oito pessoas, de um total de três famílias afectadas, aceitaram o alojamento provisório no Centro de Sinistrados da Ilha Verde.

Chui Sai On, Chefe do Executivo, garantiu que está a seguir os trabalhos de acompanhamento após a ocorrência do incêndio, tendo adiantado que “tem seguido atentamente a situação”. Nesse sentido, foram atribuídas “instruções aos secretários das tutelas da Segurança, Assuntos Sociais e Cultura e Transportes e Obras Públicas para que continuem a acompanhar as questões, nas suas diversas vertentes, de modo a que os moradores afectados retomem a sua vida normal o mais rapidamente possível”.

O Instituto da Habitação (IH) está a preparar um relatório que visa “propor a atribuição, a título excepcional, de habitações sociais a quem ficou sem condições nas suas casas, aguardando ainda o relatório de vistoria da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes”. Além disso, o organismo presidido por Arnaldo Santos vai “propor a isenção das respectivas rendas”.

Esta segunda-feira, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental enviou funcionários ao edifício “para procederem a testes preliminares com recurso a equipamentos portáteis à qualidade do ar no interior do edifício, tendo os resultados na altura mostrado a ausência de situações anómalas”, explica o comunicado.

O Corpo de Bombeiros, por sua vez, vai enviar o relatório de inspecção sobre a segurança contra incêndios e de investigação sobre potenciais riscos, tanto aos serviços competentes do Governo como à empresa de administração de condomínios do edifício em causa.

Reparações a caminho

No que diz respeito às questões técnicas relacionadas com o incêndio, o comunicado dá conta que “o IH observou enormes estragos no andar onde se encontra a fracção na qual o incêndio teve origem, especialmente ao nível dos canos de esgoto”. Desta forma, “a impossibilidade de funcionamento normal desses tubos poderá ter impacto na saúde pública”.

Além disso, deverá avançar-se já para a reparação do prédio. “O IH já recebeu a cotação de preços para as obras de reparação do sistema de saneamento público no Bloco 4 do Edifício Jardim Kong Fok Cheong, apresentada pela empresa de administração do condomínio, e foi dada uma resposta preliminar, permitindo-se avançar já para reparação”, explica o comunicado.

Posteriormente, será feita uma “requisição de apoio financeiro no âmbito do plano para reparação de edifícios, de modo a que as obras comecem com a maior celeridade possível e se evite o surgimento de problemas de saúde pública”.

Desencontros

[dropcap]M[/dropcap]uitas vezes não estamos alinhados com os outros. Não os encontramos e não os entendemos. Os limites que fazem o encontro afectam tudo: o sexo, os relacionamentos amorosos, os relacionamentos familiares e de amizade, as sociedades, as nações, e até, a mudança.

Assim percebemos, de forma mais ou menos sofisticada, o que justifica a esperança ou o pessimismo por um mundo melhor – esse cliché que irrita, mas que não deixa de ser a utopia dos tontos. Dos que acreditam na simplicidade do amor e do cuidado, ainda que saibamos pouco sobre as suas subtilezas e complexidade.

O desencontro pode ser fácil ou difícil, pode resultar numa resolução ou num conflito eterno, sem solução à vista. As identidades complexificam os processos de comunicação contribuindo para a natureza do conflito. As ideias que cuspimos vêm de um lugar de pensamento, de um posicionamento, de uma identidade e de várias experiências. Tanta investigação feita para desvendar os factos humanos e sociais e o desencontro continua lá. Desde o início dos tempos que tentamos dar-lhe sentido. Agora ficam por resolver as dores de ver um mundo a desfazer-se porque há conflito em todas as frentes. As alterações climáticas que nos afundam pela inacção, o conflito israelo-palestiniano que parece ser dor sem fim, o ódio que se espalha sem precedentes de discursos cada vez mais declarados de xenofobia, homofobia, racismo e preconceito. Será que as dores são minhas, ou do mundo?

As teorias para o desencontro são muitas. Os mais tolos andam a explorar mapas astrais onde o desencontro já estaria escrito nos astros. Em contraste, os mais cientistas agarram-se à razão positivista para dar sentido a uma moralidade aparentemente fácil, definida pela verdade e pela mentira. Nesta visão do mundo, os factos são a única ferramenta de empoderamento. Valoriza-se o saber como se o sentir não interessasse. Os sensíveis são acusados de ser emocionais, pouco racionais. O desencontro só se resolve com conhecimento não-emotivo, dizem eles, porque o desencontro é o resultado da tontice dos pouco esclarecidos.

O desencontro acontece quando a minha visão do mundo choca com a tua visão do mundo. Gosto sempre de voltar ao micro-cosmos das relações e percebê-las como pequenas arenas que poderiam explicar as maiores. Os tijolos que criam a nossa realidade estão lá, no nosso dia-a-dia.

Na pessoa que amamos, na pessoa que partiu o nosso coração, na pessoa com quem fomos para a cama uma vez em 2010. O desencontro é o resultado de tantos outros desencontros passados, nesta valsa a três tempos, ou talvez, numa cantiga de roda, infantil e vulnerável como os nossos desencontros muitas vezes são. E as emoções? Quando é que finalmente se legitimam as emoções? A zanga, o ódio, a raiva, o amor, o medo ou a ansiedade existem para explicar o inexplicável. Nunca foi fácil definir o ser humano ou o seu guião de acção e as dores sentidas só tornam mais clara a nossa dificuldade em fazê-lo.

Impressiono-me com esforço de separar águas inseparáveis de dor, desconforto e razão. Nem sempre conseguimos ver como os desencontros do mundo são desencontros de nós próprios.

Olhamos para a política internacional e não parece que possa ter que ver com o nosso sexo, ou com a nossa intimidade. É difícil engolir que o nosso ponto de partida possa estar em desencontro. Talvez porque o desencontro é o nosso estado mais natural e mais confortável. Não sei do que precisamos, se de amor, música ou arte para desvendar o maior segredo de todos – que o nosso propósito de vida é dar sentido àquilo que não tem sentido algum. O desencontro pode bem ser um estado perpétuo em si mesmo.

A UM é Junius Ho

[dropcap]J[/dropcap]unius Ho é um deputado de Hong Kong que se suspeita ter pago a tríades para atacar manifestantes e cidadãos. Disse manifestantes e cidadãos? Queria dizer baratas. Mas o bravo Junius também se distinguiu no hemiciclo de Hong Kong pela demonstração de classe em estado puro quando acusou a deputada Claudia Mo de “habitualmente comer salsicha estrangeira”, aludindo ao facto da legisladora ser casada com um cidadão britânico.

O “habitualmente” deixa também no ar que há traições naquele casamento cometidas por ela, como que chamando prostituta à legisladora. É quando faltam argumentos para debater que os homens ímpares se mostram acima dos comuns mortais e nesse capítulo Junius não desilude.

Claro, que de forma totalmente injusta, esta postura fez com que o magnânimo Junius tenha perdido o grau honoris causa da Universidade Anglia Ruskin. Uma decisão que só pode ser vista como um escândalo e devia motivar um movimento transversal no Mundo para defender Junius Ho, a começar por Macau. Por esse motivo, apelo à Universidade de Macau que, com base nos valores que parece apoiar, uma vez que é incapaz de condenar qualquer acto de racismo dos seus professores, atribua um grau honoris causa a Junius Ho.

Acho que o racismo subjacente do deputado de Hong Kong é um valor partilhado pelo silêncio da Universidade de Macau. Está na altura da UM nos orgulhar a todos e mostrar as suas cores verdadeiras. E que o faça em estilo com o diploma escrito apenas em chinês e inglês, para pôr esses “branquinhos” locais no lugar que merecem.

O tempo este tempo

[dropcap]E[/dropcap]xiste um terrível paradoxo para pessoas que não são nostálgicas e que gostam de viver no seu tempo: é que por vezes não gostam de viver no seu tempo. Quando esse sentimento atravessa demasiados dias torna-se um incómodo difícil de ignorar. Sentimo-nos (e aqui uso o primeiro pronome do plural porque me incluo neste grupo) como exilados mas sem termos um lugar a que regressar.

Começa a ser quase impossível deparar com algo que contrarie este clima de polarização e falsa justiça social. E, por convicção e feitio, quando o assunto se estende às artes não consigo estar sossegado. A omissão é a pior forma de acção nestes casos e normalmente leva a territórios muito escuros que suspeito que os leitores estejam a par.

Acompanhem-me por favor em mais um exemplo do que vos quero dizer. Parece, num primeiro olhar, algo trivial; haverá sempre uma calamidade mais importante no planeta. Mas é real e próximo. E actua sobre mais áreas de influência social do que poderão pensar. Explico o meu exemplo de hoje: há uns dias o realizador Martin Scorsese insurgiu-se sobre a qualidade dos filmes produzidos pela Marvel, como por exemplo Avengers, Homem-Aranha e tantos que fazem parte do universo criado por o que começou por ser (e ainda é) uma editora de comics. Imediatamente as manchetes gritaram “Scorsese diz que os filmes Marvel não são cinema!”. Fiquei intrigado por semelhante afirmação dita por aquele que considero o melhor realizador contemporâneo; achei estranho que usasse uma terminologia totalitária que se baseasse no “isto é cinema, isto não é “.

Claro que não disse isso. O que disse foi que esses filmes não reflectem “seres humanos a tentarem passar experiências psicológicas e emocionais a outros seres humanos”. [citação do The Guardian, tradução minha]. Realizadores como Coppola ou Ken Loach afinaram pelo mesmo diapasão (o primeiro chegou mesmo a usar o adjectivo “desprezível “).

Eu, que gosto dos filmes da Marvel, não posso concordar inteiramente com estas críticas. Provavelmente Scorsese ter-se-à esquecido de Logan (2017), um magnífico filme de James Mangold que sob o formato de um road movie canónico e com personagens desse universo supernatural não faz outra coisa senão reflectir de modo sublime o que Scorsese diz não existir.

Mas compreende-se: é um juízo estético legítimo de alguém cuja visão artística é diferente.
O pior veio a seguir e dito pelos defensores da Marvel Cinematic Universe (MCU). Um deles, Helen O’Hara, resume na perfeição os argumentos dos restantes: afinal os filmes da Marvel são bons porque são complexos. Captain America: Civil War fala da guerra do Iraque. Thor: Ragnarok teria uma filosofia anti-colonialista. Captain Marvel é um testemunho feminista. E claro, Black Panther é assumidamente anti-racista. Como podem então aqueles realizadores incorrerem em tamanhos dislates?

É fácil: porque a sua argumentação é- repito- estética, artística. Os filmes não são valorizados pela mensagem política ou social que obrigatoriamente teriam de veicular e que no momento em que o fazem se transformam em arte da boa.

Sim, eu sei que já falei aqui deste clima que exclui a possibilidade de a arte ser apenas isso mesmo. Foi a semana passada, quando lembrei Harold Bloom. Mas amigos, a batalha vem de longe. O primeiro a diagnosticar este estado de coisas foi Robert Hughes num livro seminal de 1994: Culture of Complaint. Hughes foi um crítico de arte e um divulgador de primeira ordem. Este livro- que reúne uma serie de palestras suas dadas em 1992 – fala pela primeira vez de uma cultura de vitimização que estaria na base do politicamente correcto e do desaparecimento de critérios estéticos para a avaliação artística. Para fazer-lhe justiça terei de citar um parágrafo no original, com as minhas desculpas ao leitor:” And then, because the arts confront the sensitive citizen with the difference between good artists , mediocre ones and absolute duffers, and since there were more of the last two then the first, the arts too must be politicized; (…) the idea of quality in aesthetic experience is little more than a paternalist ficrion designed to make life hard for black, female and homosexual artists, who must hencefortg be judged on their ethnicity, gender and medical condition rather than the merits of their work”.

Estas palavras, escritas há quase trinta anos, só não são proféticas porque são constatações lúcidas sobre aquele tempo que também é este tempo de que tanto gosto e em que não me apetece viver.

Navegar em contramão

Horta Seca, Lisboa, 14 Outubro

[dropcap]M[/dropcap]orre Bloom e nada? Pergunta-me com insistência o Walter, aquele com quem dialogo ao espelho a qualquer hora do dia ou da noite. Volto a dizer-lhe que não sei ainda o que escrever a propósito. Necessito reler com outra tranquilidade os textos fundamentais, reler as leituras, mais do que os dislates ideológicos e além das pretensões didácticas. Careço de o enfrentar na qualidade de autor, por exemplo enquanto ensaísta shakespeariano na vez da ligeireza de polemista e/ou figura mediática. Há que saber distinguir para sedimentar. Vou ali, já venho, Walter Ego.

Espaço Ó, Óbidos, 19 Outubro

Falhámos redondamente outro lançamento, o de este «As Leis da Guerra», de Sun Bin, muito apropriado para tratar dos medos. Há que fazer autópsia das razões: voluntarismo exagerado?, desorganização militante?, calor demasiado para época?, empedrado molhado? A realidade, por vezes, vence-nos. Ilusão saborosa, a de pensar o inverso.

Regressámos a Óbidos, ainda assim, para acompanhar os «No Precipício Era o Verbo» (foto da organização algures na página), chamados à «Boémia» pela encantadora Suzana [Nobre], e acompanhados na convocatória pela impagável diligência do Luís Ferreira. Nenhum concerto acontece igual, mas este anunciava um pouco mais de Georg Trakl, além de uma ou outra surpresa, que saltava do percurso e de solicitações, por exemplo, em torno dos redondos Sophia ou Sena. Explodiu mais que isso, entendimentos em várias direcções, entre os instrumentistas no palco, com a plateia, das partes a dizer mais que o todo. Poesia, talvez tenha sido isso. Prolongada noite e pão adentro.

Regresso com a ideia de que esta edição do Fólio terá sido bastante boa, pela riqueza e diversidade. Está feito um belo jardim, este festival.

Santa Bárbara, Lisboa, 23 Outubro

Desembrulho um rebuçado, desperto com a mistura de ruído e perfume a curiosidade do gato, Lucca, que me vigiará com redobrada atenção enquanto me atiro à história dos reputadíssimos Dr. Bayard, nas bocas do mundo há 70 anos. «Um Milhão de Rebuçados», didascália de Inês [Fonseca Santos] para as imagens da Marta Monteiro, comemora isso mesmo em versão doce da Pato Lógico. O texto faz, portanto, de rodapé para uma sequência de imagens, com relações subtis entre ambos, como é do meu agrado delicodoce e pequenoburguês. Escusado será dizer, com estes actores, que a edição é cuidada. Além do cariz explicativo, as autoras conseguem soltar o cheiro de várias histórias, ainda que próximas de uma realidade palpável. Ou mesmo por isso.

Prova de que poucos leitores, por cá, o são a sério está no preconceito à volta dos géneros. Não esqueço que responsáveis políticos da área da leitura, do livro, da educação afirmaram que não liam livros para a infância e juventude. Ora o meu re-vizinho da Economia não perderia o seu tempo, digo eu, se lesse este exemplo de alguém capaz de fazer do pouco um projecto e dele uma «marca» e das oportunidades uma empresa, no velho sentido. Ou seja, em modernês, empreendedorismo. Este assunto não se aflora aqui, apenas a história de alguém concreto a aproveitar o que a vida lhe foi trazendo, cruzando com curiosidade e vontade até alcançar resultados, o resultado. Doce e perfumado. O bonito está em tratar uma ideia assim como flor.

Umas frágeis, outras capazes de alimentar infâncias. Depois há máquinas, do lado da Marta, e o perseguir as estórias nos sabores, no lado da querida Inês. E mais e mais, que livro, acontecendo, contém infindáveis rebuçados. Só me pergunto, sem resposta para o sonolento olhar do Lucca, se valeria a pena ter a tinta o cheiro dos Dr. Bayard. Ou se não haverá edição especial com os ditos por junto.

Desembrulho a dedicatória e constato ser um doce. Não solto lágrima para não produzir o melaço grandeburguês. Contrasto apenas com a de amigo e autor que há pouco me pôs em folha de rosto que me devota amizade e admiração, ou seja, o que manda o triste protocolo. Farei de conta que será ironia e descasco um Dr. Bayard.

Gulbenkian, Lisboa, 24 Outubro

Em versão lado M, de madrugadora, os «Precipício» abrem a Conferência do Plano Nacional de Leitura para duas ou três salas a abarrotar. «O Elogio da leitura», este o mote, em três temas|poemas apenas, que nem assim impedem telemóveis de tocar, de menssajar, de responder a necessidades burocráticas. A poesia não consegue uns 15 minutos de silêncio, de atenção? Raio de «Presente-Futuro»!

CCB, Lisboa, 25 Outubro

Derrotado, como ando por estes dias, empurrei-me até ao concerto em que o talentosíssimo Benjamim dava a ouvir canções do novo álbum. Em boa hora. Grande luxúria instrumental, em ambiente caloroso, descontraído, com criadores a transpirar puro gozo, a explorar possibilidades, a desfiar letras que põem carne no esqueleto dos dias. Antes de entrarem em estúdio, deram-nos o privilégio de experimentar magnífico ensaio geral, espreitar corações e ideias, aceder a paisagens sonoras que não sabia estarem ao alcance. Alimento fascínio por bastidores e reconfortei-me a entrar inadvertidamente nesta viagem, nesta paragem que foi chegada e mais partida ainda, que trouxe sobras e propôs rumos. Diz o Benjamim que «em Agosto de 2015 demos volta a Portugal, 33 concertos de seguida na loucura do asfalto e com o apetite dos 29 anos. Queimámos gasóleo a preços de primeiro mundo e passámos o resto do ano, e boa parte do próximo, na estrada.

Ultrapassámos rapidamente a fronteira dos 100 concertos, tocámos em coretos, casas, barcos, festivais, casas de cante, teatros, auditórios, herdades chiques, associações culturais, comícios partidários, comícios apartidários, na rua e em qualquer sítio onde uma pessoa consiga inventar um palco. Por vezes com resultados desastrosos, tocámos ao sol para mil pessoas e à chuva para duas.» Nesta sexta, fez sol e pensamento no pequeno auditório. Está a chegar-se a algum lado na música feita aqui e agora.

Mercado Santa Clara, Lisboa, 26 Outubro

Segunda edição desta Feira Gráfica, a confirmar vitalidades. Mais o que a tendência experimental, noto uma natural afirmação do fazer e do dizer, de criar publicações e lançar opiniões, políticas, pois então.

Mais de setenta projectos, editoras, enfim, indivíduos a mostrar uma vontade de engendrar a diferença. E a encontrar interlocutores.

Do nosso lado, tínhamos previsto lançar «O Menino das Lágrimas», da Mariana a Miserável, mas falhámos redondamente. Insisto, isto de navegar em contramão tem os seus riscos. E este disco soa riscado. Na vez, o Jorge [Silva] falou dos livros sobre ilustradores que a Arranha-céus tem editado. E encheu de cor o velho mercado de ferro e vidro.

Carne de porco | Maporal fecha venda de 100 contentores

[dropcap]O[/dropcap] matadouro português Maporal fechou ontem a venda de 100 contentores de carne de porco para a China, à medida que o país asiático enfrenta severos surtos de peste suína, que dizimaram milhões de animais.

A importação dos cem contentores vai custar cerca de 7,5 milhões de euros à Zhuhai Import Frozen Foodstuffs Association, empresa com sede em Zhuhai, cidade que faz fronteira com Macau, revelou Marco Henriques, director comercial da Maporal.

O importador chinês prevê comprar um total de “entre 400 a 500 contentores”, até ao final de 2020, detalhou a mesma fonte à agência Lusa. “Estamos a tentar fazer uma parceria para abranger uma área maior no Sul [da China] e ter mais relação com Macau”, explicou.

A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60por cento do total do consumo de proteína animal no país. Segundo dados oficiais, os consumidores chineses comem 55 milhões de toneladas de carne de porco por ano.

Mas analistas prevêem que o país produza menos 130 milhões de porcos, este ano, cerca de um terço da sua produção em 2018, devido a surtos de peste suína em todo o continente chinês.

A escassez e interrupções nas cadeias de fornecimento na China causaram um aumento do preço da carne de porco de quase 159 por cento, em Outubro, em termos homólogos, e estão a implicar uma reorganização dos mercados de proteínas e aumento dos preços a nível mundial.

“É uma loucura total: eu arrisco-me a dizer que, para 2020, já tenho os porcos todos vendidos”, afirmou Marco Henriques. A Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores prevê que as exportações de carne suína nacional para a China atinjam os cem milhões de euros, este ano, e 200 milhões, em 2020.

Para responder à crescente procura, a Maporal vai investir 15 milhões de euros para renovar a sua unidade, aumentando a capacidade de abate para 20 mil porcos por semana, revelou Marco Henriques.

Carne de porco | Maporal fecha venda de 100 contentores

[dropcap]O[/dropcap] matadouro português Maporal fechou ontem a venda de 100 contentores de carne de porco para a China, à medida que o país asiático enfrenta severos surtos de peste suína, que dizimaram milhões de animais.
A importação dos cem contentores vai custar cerca de 7,5 milhões de euros à Zhuhai Import Frozen Foodstuffs Association, empresa com sede em Zhuhai, cidade que faz fronteira com Macau, revelou Marco Henriques, director comercial da Maporal.
O importador chinês prevê comprar um total de “entre 400 a 500 contentores”, até ao final de 2020, detalhou a mesma fonte à agência Lusa. “Estamos a tentar fazer uma parceria para abranger uma área maior no Sul [da China] e ter mais relação com Macau”, explicou.
A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60por cento do total do consumo de proteína animal no país. Segundo dados oficiais, os consumidores chineses comem 55 milhões de toneladas de carne de porco por ano.
Mas analistas prevêem que o país produza menos 130 milhões de porcos, este ano, cerca de um terço da sua produção em 2018, devido a surtos de peste suína em todo o continente chinês.
A escassez e interrupções nas cadeias de fornecimento na China causaram um aumento do preço da carne de porco de quase 159 por cento, em Outubro, em termos homólogos, e estão a implicar uma reorganização dos mercados de proteínas e aumento dos preços a nível mundial.
“É uma loucura total: eu arrisco-me a dizer que, para 2020, já tenho os porcos todos vendidos”, afirmou Marco Henriques. A Federação Portuguesa das Associações de Suinicultores prevê que as exportações de carne suína nacional para a China atinjam os cem milhões de euros, este ano, e 200 milhões, em 2020.
Para responder à crescente procura, a Maporal vai investir 15 milhões de euros para renovar a sua unidade, aumentando a capacidade de abate para 20 mil porcos por semana, revelou Marco Henriques.

Portugal | Exportações de 1,5 mil milhões de euros para a China

[dropcap]P[/dropcap]ortugal exportou nos primeiros oito meses do ano para a China produtos no valor de 1,564 mil milhões de dólares, mais 4,12 por cento relativamente ao período homólogo de 2018, foi ontem anunciado.

De acordo com dados oficiais publicados no portal do Fórum Macau, com base nas estatísticas dos Serviços de Alfândega chineses, as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a 4,494 mil milhões de dólares até Agosto, quando no mesmo período do ano passado tinham sido de 3,943 mil milhões de dólares.

As importações de produtos chineses aumentaram 20,07 por cento, em relação ao mesmo período de 2018.

Portugal importou da China bens no valor de aproximadamente 2,930 mil milhões de dólares, tendo Lisboa um saldo comercial negativo com o país asiático de cerca de 1,366 mil milhões de dólares.

Os dados dos Serviços de Alfândega chineses indicam que as trocas comerciais entre a China e os países lusófonos se fixaram em 96,984 mil milhões de dólares ao longo dos primeiros oito meses do ano, verificando-se um crescimento de 2,31 por cento.

As importações da China representam a maior parte deste valor: 69,446 mil milhões de dólares, um aumento de 3,97 por cento face ao mesmo período em análise de 2018.

As exportações chinesas para países lusófonos registaram um aumento de 1,66 por cento, tendo alcançado os 27,538 mil milhões de dólares.

Parceiro irmão

O Brasil continua a ser o principal parceiro da China no âmbito do bloco lusófono, tendo registado trocas comerciais de 73,012 mil milhões de dólares.

Pequim comprou a Brasília, no primeiro semestre do ano, produtos no valor de 51,071 mil milhões de dólares, mais 6,06 por cento do que nos meses de Janeiro a Agosto de 2018, e o Brasil adquiriu à China bens no valor de 21,940 mil milhões de dólares, uma diminuição de 3,35 por cento.
Angola surge no segundo lugar do ‘ranking’ lusófono com trocas comerciais com a China no valor de 17,671 mil milhões de dólares, com Luanda a enviar para Pequim produtos no valor de 16,396 mil milhões de dólares, menos 1,79 por cento e a fazer compras de 1,274 mil milhões de dólares, menos 10,81 por cento.

As trocas comerciais até Agosto entre a China e Moçambique foram de 1,652 mil milhões de dólares, menos 4,53 por cento comparando com os oito primeiros meses de 2018.

Em 2018, Portugal exportou para a China produtos no valor de 2,24 mil milhões de dólares, mais 5,59 por cento relativamente ao período homólogo de 2017, e as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a seis mil milhões de dólares no ano passado, o que corresponde a um aumento de cerca de 408 milhões de dólares, em comparação com 2017.

No ano passado, as trocas comerciais entre a China e os países lusófonos fixaram-se em 147,35 mil milhões de dólares ao longo dos três primeiros meses do ano, verificando-se um crescimento de 25,31 por cento.

Portugal | Exportações de 1,5 mil milhões de euros para a China

[dropcap]P[/dropcap]ortugal exportou nos primeiros oito meses do ano para a China produtos no valor de 1,564 mil milhões de dólares, mais 4,12 por cento relativamente ao período homólogo de 2018, foi ontem anunciado.
De acordo com dados oficiais publicados no portal do Fórum Macau, com base nas estatísticas dos Serviços de Alfândega chineses, as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a 4,494 mil milhões de dólares até Agosto, quando no mesmo período do ano passado tinham sido de 3,943 mil milhões de dólares.
As importações de produtos chineses aumentaram 20,07 por cento, em relação ao mesmo período de 2018.
Portugal importou da China bens no valor de aproximadamente 2,930 mil milhões de dólares, tendo Lisboa um saldo comercial negativo com o país asiático de cerca de 1,366 mil milhões de dólares.
Os dados dos Serviços de Alfândega chineses indicam que as trocas comerciais entre a China e os países lusófonos se fixaram em 96,984 mil milhões de dólares ao longo dos primeiros oito meses do ano, verificando-se um crescimento de 2,31 por cento.
As importações da China representam a maior parte deste valor: 69,446 mil milhões de dólares, um aumento de 3,97 por cento face ao mesmo período em análise de 2018.
As exportações chinesas para países lusófonos registaram um aumento de 1,66 por cento, tendo alcançado os 27,538 mil milhões de dólares.

Parceiro irmão

O Brasil continua a ser o principal parceiro da China no âmbito do bloco lusófono, tendo registado trocas comerciais de 73,012 mil milhões de dólares.
Pequim comprou a Brasília, no primeiro semestre do ano, produtos no valor de 51,071 mil milhões de dólares, mais 6,06 por cento do que nos meses de Janeiro a Agosto de 2018, e o Brasil adquiriu à China bens no valor de 21,940 mil milhões de dólares, uma diminuição de 3,35 por cento.
Angola surge no segundo lugar do ‘ranking’ lusófono com trocas comerciais com a China no valor de 17,671 mil milhões de dólares, com Luanda a enviar para Pequim produtos no valor de 16,396 mil milhões de dólares, menos 1,79 por cento e a fazer compras de 1,274 mil milhões de dólares, menos 10,81 por cento.
As trocas comerciais até Agosto entre a China e Moçambique foram de 1,652 mil milhões de dólares, menos 4,53 por cento comparando com os oito primeiros meses de 2018.
Em 2018, Portugal exportou para a China produtos no valor de 2,24 mil milhões de dólares, mais 5,59 por cento relativamente ao período homólogo de 2017, e as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a seis mil milhões de dólares no ano passado, o que corresponde a um aumento de cerca de 408 milhões de dólares, em comparação com 2017.
No ano passado, as trocas comerciais entre a China e os países lusófonos fixaram-se em 147,35 mil milhões de dólares ao longo dos três primeiros meses do ano, verificando-se um crescimento de 25,31 por cento.

Festival Fringe | Grupo de Macau Artfusion actua em Shenzen

O grupo Macau Artfusion actua no Festival Fringe de Shenzen entre os dias 16 e 24 de Novembro com um espectáculo de rua, que mistura dança e teatro físico. A iniciativa, que tem direcção artística e produção de Laura Nyögéri, apresenta um novo conceito criativo, intitulado “Less Talk, More Art”, que ganha novos contornos em Macau

 

[dropcap]O[/dropcap] Festival Fringe de Shenzen recebe, entre os dias 16 e 24 de Novembro, pela quinta-vez, o grupo local Artfusion Macau, num espectáculo com os artistas Daê Teixeira , Filipa Lima, Madalena Lopes e Mafalda Ramos. A direcção artística e produção está a cargo de Laura Nyögéri, que, a título individual, participa no Festival Fringe de Shenzen desde o seu início, há 10 anos.

O projecto inclui “personagens do Imaginarium, inspiradas em conceitos artísticos abstractos, surreais, expressionistas, urbanos e contemporâneos, que irão colorir as ruas do distrito de Nanshan, na cidade chinesa de Shenzhen”, adiantou a directora artística.

O objectivo com esta iniciativa é “dar um sopro de vida ao espaço urbano por meio da arte”, através da criação de uma instalação produzida em tempo real, “não só através das personagens mas através do público, de quem está primeiro a ‘olhar’ e que de repente se vê a participar, a explorar e a criar”, frisou Laura Nyögéri ao HM.

O espectáculo de rua, que mistura muita dança, caracterização e teatro físico, será apresentado em Shenzen tendo como base o conceito criativo “Less Talk, More Art”, desenvolvido sob a ideia de que “é preciso passar à acção (artística) e reunir recursos para que a arte chegue a todos, sem limites, preconceitos ou transposições”, adiantou a responsável.

O conceito passa por mostrar a necessidade de reunir “equipas profissionais que possam ser base a uma arte que se pretende ser da e para a comunidade”, com “menos teorias, menos burocracias, menos perguntas de respostas certas, mais mãos sujas de tinta, mais recortes e colagens, mais imaginação desenhada em papel, mais corpo que dança, que fala e veste personagens que não têm que ser reais”.

Nesse sentido, a directora artística do Macau Artfusion adianta que “este projecto aposta não só numa vertente visualmente forte e demarcada por influências de movimentos artísticos como o Pop Art, o Expressionismo, o Surrealismo e o Abstracionismo; seguindo nomes como Andy Warhol e Yayoi Kusama, entre outros”. Além disso, é também uma forma de mergulhar “em diferentes linguagens artísticas que, no fundo, transmitem uma liberdade de expressão e uma expressão de liberdade visual e conceptual”.

Perto da comunidade

Sendo a presença no Festival Fringe de Shenzen, Laura Nyögéri destaca, no evento, a existência de uma “equipa criativa e de produção fantásticas, que apostam muito na diversidade e criatividade dos espectáculos e workshops inerente ao programa, na comunicação e no próprio design do festival, atraindo assim públicos muito diversificados e oferecendo um programa multiartístico”.

Para a responsável, a questão da proximidade com a comunidade e a “forma como se cria um programa tão alternativo e apelativo” é outro ponto forte do festival.

“Temos a oportunidade de levar o nosso trabalho artístico a outros lugares e a outros públicos fora de Macau e conseguimos, ao mesmo tempo, usufruir do facto deste festival ter uma dimensão internacional, que permite a todos os artistas participantes um excelente intercâmbio artístico e multicultural”, rematou.

Por cá

O projecto que o grupo Macau Artfusion leva a Shenzen ganha ainda outra dimensão devido à parceria com a Associação IC2 (i can too), que tem vindo a ser desenvolvida desde Setembro. Esta entidade “aposta em criar oportunidades para que jovens e adultos com deficiência e diagnósticos de necessidades especiais possam ser cidadãos activos na sociedade”. Este trabalho conjunto pretende, no fundo, “invocar através da arte conceitos de inclusão, de entre-ajuda, de aceitação, colmatando falhas de acesso a recursos e oportunidades de participação e de concretização de projectos artísticos em universo inclusivo”.

As duas equipas vão trabalhar juntas nos próximos seis meses com a realização de actividades de artes plásticas e performativas, destinadas a membros da associação IC2 e a alunos do Artfusion.

O projecto, que ganha influências de diferentes correntes artísticas, “onde se explora o universo da música, teatro, dança, pintura, ilustração, moda e da fotografia”, dará origem a uma exposição, instalação e espectáculo performativo apresentados em Macau em Fevereiro do próximo ano.