A deusa que dançava na margem do rio Luo

Cao Pi (c.187-226), que seria imperador de Cao Wei no tempo dos Três Reinos e foi o segundo filho do brilhante estratega, general e poeta Cao Cao (c.155-220), após este derrotar o seu rival Yuan Shao na batalha de Guandu, esse seu filho tomou como esposa uma senhora já casada com um general do Estado derrotado chamado Yuan Xi, quando este ainda vivia.

Essa senhora conhecida apenas como Zhen furen, a «Senhora Zhen» possuia tais exemplares qualidades de bondade e amor filial que a brandura do seu carácter generoso não seria apenas cantada por sucessivas gerações, mas também objecto de uma suspeita envolvendo o irmão de Cao Pi, o ilustre poeta de carácter rebelde e insubmisso Cao Zhi (192-232), que fora derrotado pelo irmão na disputa pelo poder depois da morte de Cao Cao.

Essa suspeição baseia-se num poema escrito por Cao Zhi, que partilhava claras afinidades com a Senhora Zhen ao contrário do seu cru irmão, conhecido como Rapsódia sobre a deusa do rio Luo (Luoshen fu). Segundo alguns relatos o nome original do poema porém, seria Gan Zhen fu, «Rapsódia ao ser tocado pela Senhora Zhen» mas foi modificado pelo filho dela, o herdeiro do reino, Cao Rui, quando leu o poema.

Segundo uma nota de Li Shan da dinastia Tang, o fantasma da recém-falecida Senhora Zhen teria aparecido em sonhos a Cao Zhi, dançando à beira das águas, de uma forma que ele interpretou como uma reincarnação da lendária deusa do rio Luo (Luo he), uma senhora ligada ao mitológico herói cultural Fuxi, designada Fufei que, ao atravessá-lo, se afogara nesse afluente do rio Amarelo que passa em Luoyang, capital de Cao Wei.

Uma flor odorífera oriunda da distante Península Ibérica que se pode desenvolver em devesas nas orlas dos rios, levada ao longo da extensa Rota da Seda provavelmente por mercadores árabes durante a dinastia Tang, ficaria ligada a essa lenda da deusa do rio Luo. A flor do narciso na subspécie narcissus tazetta chinensis seria designada shuixian hua, a «flor da imortal do rio» ou lingbo xianzi, a «ninfa levantada sobre as ondas». Pintores observarando a flor com as suas compridas folhas verticais entenderam a sua significante beleza.

Wang Guxiang (1501-1568), calígrafo e pintor de Changzhou (Jiangsu), tal como fizera o pintor dos Song Zhao Mengjian, dedicou uma particular atenção a essas flores que desabrocham no início da Primavera, prometendo um ano bom. No rolo horizontal Flores das quatro estações (tinta e cor sobre seda, 24 x 545 cm, no Museu de Arte de Cleveland) em que ao lado de cada flor colocou um comentário, junto ao narciso escreveu: «a faixa de jade deixada no rio Luo».

Diz-se que um outro objecto que pertencia à Senhora Zhen, uma almofada bordada a jade e ouro, foi mostrada por Cao Pi ao seu irmão. Reparando no olhar flébil de Cao Zhi, logo desfeito em lágrimas, o irmão compreendeu e ofereceu-lha.

Inquérito | 80% dos jovens ignora actualidade internacional

Um inquérito sobre a perspectiva internacional de quadros qualificados jovens de Macau conduzido pela Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau revelou que cerca de 60 por cento dos entrevistados pensa que apenas tem conhecimentos básicos sobre a actualidade internacional, nomeadamente sobre as relações entre países.

Por outro lado, 19 por cento admite não ter qualquer conhecimento que confira perspectiva internacional, enquanto 21 por cento dos entrevistados disseram conhecer suficientemente os assuntos internacionais. Os entrevistados do sexo masculino com habilitações académicas de pós-graduação contaram-se entre os grupos demográficos com melhores conhecimentos do panorama político e socioeconómico mundial.

A associação responsável pelo inquérito sugeriu ao Governo que aposte num programa de estágios em entidades internacionais, assim como em actividades de voluntariado, mas que também organize cursos de formação sobre o desenvolvimento da China contemporânea.

Habitação | Preços voltam a cair entre Agosto e Outubro

O índice global de preços da habitação caiu 0,4 por cento no período entre Agosto e Outubro, face ao período anterior (entre Julho e Setembro), revelou a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os dados indicam que os preços na Península de Macau desceram 0,9 por cento, mas aumentaram na Taipa e Coloane (1,2 por cento).

As quebras são mais abruptas face ao ano anterior, com a DSEC a referir que no período em análise os preços da habitação decresceram 12,4 por cento, em comparação com o período de Agosto a Outubro de 2023, com os preços na Península a caírem 13,6 por cento e na Taipa e em Coloane a descerem 8,2 por cento.

Em termos de área útil, os preços de habitações do escalão dos 75 aos 99,9 metros quadrados registaram a maior quebra face ao período anterior, com a descida dos preços a atingir 3,6 por cento. Os preços de apartamentos mais pequenos, com área útil inferior a 50 metros quadrados, caíram 0,8 por cento entre Agosto de Outubro. Contudo, o índice do escalão dos 50 aos 74,9 metros quadrados subiu 0,9 por cento.

EPM | Grupo parlamentar do PS acusa Governo de desinteresse

Um grupo de 14 deputados do PS reagiu à carta da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEP) devido à falta aprovação de licenças especiais de docentes e exige explicações do Ministério da Educação

 

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista (PS) acusou o Governo de Portugal, constituído pelos Partido Social Democrata (PSD) e Partido do Centro Democrático e Social (CDS), de desinteresse por Macau e pela comunidade portuguesa no território. A posição consta de uma pergunta enviada ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), após a carta enviada pela Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEP) ao Presidente de Portugal, com queixas sobre o impasse na aprovação de licenças especiais de docentes.

“A postura do actual Executivo demonstra não só uma evidente falta de atenção da situação da Escola Portuguesa de Macau, que não tem, localmente professores habilitados para leccionar em língua portuguesa, como também um desinteresse do Governo de Portugal por Macau e pela comunidade portuguesa aí residente”, acusa o Grupo Parlamentar do PS. “Para a Escola Portuguesa de Macau poder continuar a ministrar o ensino em português e contribuir para preservar a língua e a cultura portuguesas na Região Administração Especial de Macau, necessita, logicamente, de professores portugueses e tal só é possível com a autorização de licenças especiais do Ministério da Educação, Ciência e Inovação”, é indicado. “Não considera que a ausência de uma estratégia clara para atentar às questões da Escola Portuguesa de Macau indica um desinteresse e uma falha no cumprimento das responsabilidades legais e culturais do Estado Português?”, é questionado.

Erro de planeamento?

Nas perguntas enviadas ao MECI, os deputados do PS indicam que no âmbito do plano do Governo “Mais Aulas, Mais Sucesso”, que visa reduzir o número de alunos sem professores de forma prolongada, uma das metas passa por reduzir em 25 por cento os destacamentos de professores.

A medida terá entrado em vigor a Julho de 2024 e os socialistas pretendem que o Governo explique se o indeferimento das licenças especiais de docentes está relacionado com a medida e se houve falhas de planeamento. “O indeferimento de licenças especiais de profissionais do quadro do Ministério da Educação para leccionarem em Macau está relacionado com a medida ‘reduzir as mobilidades estatutárias” apresentada no plano ‘Mais Aulas, Mais Sucesso?’. Se sim, não deveria o Sr. Ministro ter antecipado o problema aqui apresentado?”, é questionado.

O PS pretende ainda que o ministro explique a razão de não ter “acautelado” que “os alunos poderiam ficar sem professores” dado que “não há capacidade de contratação local de professores em língua portuguesa”. “Como é que pretende resolver esta questão e assegurar a qualidade educativa oferecida pela Escola Portuguesa de Macau?”, é perguntado.

As questões enviadas ao ministério estão assinadas pelos deputados: Isabel Ferreira, João Paulo Rebelo, Rosário Gambôa, Gilberto Anjos, Eduardo Pinheiro, Mara Lagriminha Coelho, Miguel Matos, Palmira Maciel, Sofia Canha, Ana Abrunhosa, Clarisse Campos, Elza Pais, Miguel Cabrita e Patrícia Caixinha.

Situação “delicada”

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, admitiu que a Escola Portuguesa de Macau vive um período conturbado, mas garante que o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, está atento ao desenrolar da situação.

“A Escola Portuguesa está a atravessar uma fase delicada, que requer um acompanhamento muito atento por parte das nossas autoridades. É uma matéria específica do Ministro da Educação, eu sei que ele está muito atento ao que se passa”, afirmou José Cesário, em declarações prestadas ao Canal Macau.

“E nós estamos a articular-nos com ele e a informá-lo sobre o modo como a situação vai evoluindo”, acrescentou. Os pais na EPM queixam-se de falta de professores na instituição, e de dificuldades de recrutamento em Portugal, depois de em Maio vários professores terem sido dispensados.

Governo | Rosário diz que jornalistas e AL foram o mais difícil

Na hora da despedida, o secretário para os Transportes e Obras Pública, Raimundo do Rosário, afirmou que a parte mais difícil do seu trabalho foi lidar com os jornalistas e com os deputados.

“Vocês e a Assembleia Legislativa. Vocês são a parte mais difícil”, afirmou Raimundo do Rosário, à comunicação social, numa altura em que se prepara para deixar Macau. “Têm sempre críticas contra mim, críticas irracionais. Os órgãos da comunicação social e a Assembleia Legislativa são as partes mais difíceis”, frisou.

A postura do secretário não é surpreendente, dado que ao longo dos últimos 10 anos, mostrou-se várias vezes agastado com críticas de deputados e perguntas de jornalistas. Chegou inclusive a afirmar algumas vezes no hemiciclo que os deputados só sabiam criticar.

“Ao longo destes dez anos, quando andava sozinho na rua, nunca fui criticado por um residente ou tratado de forma agressiva. Fui sempre recebido com simpatia ou então com silêncio. Portanto, o que quero dizer é que aquilo que encontrei na rua é completamente diferente do que vejo referido nos jornais”, contou. “Nunca recebi queixas dos residentes na rua”, acrescentou.

O governante revelou também estar a “fazer as malas” e agradeceu a colaboração das pessoas com quem trabalhou nos últimos 10 anos. “A coisa mais feliz é que estamos quase a terminar todas as coisas importantes. Estou muito feliz e tenho de agradecer aos meus 3.000 colegas pela ajuda e cooperação em diferentes tarefas, incluindo o 5G, habitação económica e social, Metro Ligeiro, pontes, hospital e outras obras. Mais de 90 por cento das construções já foram feitas”, defendeu.

MP | Ip Son Sang afirma que vai continuar “na área judicial”

O ainda Procurador da RAEM, Ip Son Sang, afirma que vai “continuar na área judicial”, apesar de ter o futuro desconhecido. As declarações foram prestadas à margem da Marcha por Um Milhão.

“A minha profissão é magistrado. Fui Procurador do Ministério Público nos últimos 10 anos, portanto, continuo a ser magistrado. Após deixar o cargo vou continuar na área judicial”, disse o responsável.

Sem revelar o seu futuro, que poderá passar pelo Tribunal de Última Instância, de forma a evitar a despromoção, Ip fez ainda um resumo do trabalho feito nos últimos 10 anos e que começou com um dos casos mais mediáticos da RAEM, as investigações contra o ex-superior Ho Chio Meng.

“Durante estes dez anos, os trabalhos no MP foram pesados, porque houve vários casos e julgamentos, como é conhecido pelos residentes. Houve até alguns casos que chocaram toda a sociedade, incluindo o caso que envolveu a gestão interna do MP”, reconheceu. “Portanto, reforçámos a fiscalização sobre os magistrados, o prosseguimento e a consulta dos casos bem como o arquivamento das investigações. Tomámos uma série de medidas para fazer estes trabalhos”, realçou.

Por outro lado, Ip Son Sang deu uma prova de confiança ao sucessor, Chan Tsz King: “O próximo Procurador trabalhou anteriormente no Ministério Público e mudou-se para o CCAC. Com o regresso de Chan Tsz King ao MP, acredito que vai haver uma mudança necessária no organismo”, destacou.

CCAC | Arquivada investigação à construção de estátua de Kun Iam

O CCAC concluiu não ter poderes para realizar a investigação que tinha anunciado em Outubro de 2023. O recuo foi admitido por Chan Tsz King, sem que se saiba quanto foi pago em compensações pelo não cumprimento do contrato para entregar a gigantesca estátua

 

Chan Tsz King admitiu que o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) encerrou a investigação à polémica em torno da construção de uma estátua gigante da deusa Kun Iam em Coloane. As declarações foram prestadas pelo futuro Procurador da RAEM, à margem da iniciativa de caridade Marcha por um Milhão.

“O caso envolve uma questão relacionada com a tomada de decisões políticas. As investigações abertas pelo CCAC, sobre a estátua, já foram arquivadas, uma vez que a questão teve como base as opiniões da sociedade face ao assunto”, afirmou Chan Tsz King, comissário do CCAC, aos órgãos de comunicação social. “Sobre este tipo de opiniões, após a análise, achamos que o CCAC não tem competências legais para tratá-las”, acrescentou.

A estátua da deusa Kun Iam em Coloane foi uma das maiores polémicas a envolver o Governo de Ho Iat Seng, e decorreu no Verão do ano passado, depois de o Executivo ter anunciado os planos para construir uma estátua gigante rodeada por betão numa das poucas zonas verdes do território. Além disso, o projecto, que também incluía a reconstrução de várias zonas perto da Praia de Hac Sá, tinha um custo previsto de 1,6 mil milhões de patacas.

Valores não conhecidos

Na altura em que o Governo apresentou o projecto, circulou uma petição online que em poucos dias reuniu mais de sete mil assinaturas, ao mesmo tempo que vários “memes” a satirizar a estátua se tornaram virais.

Meses mais tarde, em Outubro, o CCAC, pela voz de Chan Tsz King, confirmou ter iniciado uma investigação sobre o orçamento e a forma como todo o projecto foi coordenado pelas autoridades locais.

No entanto, aos órgãos de comunicação social, Chan não explicou o motivo para abrir uma investigação a um assunto para o qual considerou meses mais tarde não ter poderes de investigação, nem justificou o desperdício de recursos numa investigação que nesta perspectiva estava condenada a nunca avançar.

Além disso, o arquivamento do caso foi anunciado sem que o Governo alguma vez tenha anunciado o custo que teve de ser pago ao autor da estátua, dado que tinha sido assinado um contrato para a prestação do serviço.

Comunidades | Lisboa está a acompanhar mudanças na RAEM

O Governo português está a acompanhar as mudanças em Macau e preparado para apoiar os portugueses, disse à Lusa José Cesário. “Sabemos que o território está a passar por mudanças”, sublinhou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

O novo chefe do Executivo, Sam Hou Fai, irá tomar posse a 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau.

“É um momento muito especial”, disse José Cesário, de celebração “de uma forma muito significativa” da transferência da administração da região, de Portugal para a China. “É fundamental que as autoridades portuguesas não deixem de estar presentes (…) para acompanhar estas dinâmicas e, de alguma forma, para darmos algum apoio à comunidade portuguesa que aqui existe em número tão significativo”, disse o secretário de Estado.

A última estimativa dada à Lusa pelo Consulado-geral de Portugal em Macau apontava para mais de 100 mil portadores de passaporte português entre os residentes nas duas regiões chinesas de Macau e Hong Kong.

Cesário sublinhou que pretende “ouvir muito daquilo é o sentimento” da comunidade, mas confirmou que a passagem “muito breve” pelas duas cidades, que terminou no domingo, não inclui encontros oficiais com dirigentes locais.

O secretário de Estado acrescentou que “não há desenvolvimentos” sobre as restrições à autorização de residência para portugueses em Macau. Desde Agosto de 2023 que o território não está a aceitar novos pedidos fundamentados com o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação a Macau.

Função Pública | Juramento e lealdade não preocupa Coutinho

A exigência de juramento de lealdade de funcionários públicos, incluindo por portugueses, é matéria do foro da China e de Macau que o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, não comenta. Já Pereira Coutinho, não está preocupado com implicações da proposta que, por exemplo, castiga com despedimento quem caluniar leis aprovadas pela APN

 

A proposta de exigir um juramento de lealdade aos funcionários públicos de Macau, incluindo os de nacionalidade portuguesa, é uma matéria exclusiva da China, disse à Lusa o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

“Essa é uma questão que eu não comento, é uma questão do foro da República Popular da China e das autoridades de Macau”, sublinhou José Cesário. “É uma matéria que nos transcende completamente”, acrescentou o secretário de Estado, que se encontrou no sábado com a direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).

O presidente da ATFPM disse à televisão pública de Macau TDM não ter quaisquer preocupações com a proposta apresentada pelo Conselho Executivo.

José Pereira Coutinho recordou que desde 2005, quando se tornou deputado, que tem de fazer um juramento semelhante. “Nunca tive algum problema ou que isto viesse causar alguma pressão à minha actividade”, garantiu o português. Pereira Coutinho disse que as mudanças propostas pelo Governo são positivas, uma vez que “não há dúvidas que as alterações introduzidas (…) vêm exigir mais responsabilidade”.

Tudo bons rapazes

De acordo com as propostas, apresentadas a 15 de Novembro pelo Conselho Executivo, os funcionários públicos de Macau poderão ser demitidos caso pratiquem “actos contrários” a um juramento de lealdade à China e ao território.

O porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong Weng Chon, alertou na altura que os funcionários públicos podem ser despedidos devido a conversas privadas ou comentários publicados em redes sociais. Por outro lado, a proposta de lei entregue à Assembleia Legislativa elenca vagamente uma série de actos, como “não respeitar o sistema político consagrado na Constituição da República Popular da China (RPC) e na Lei Básica, atacando com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando a RPC ou a RAEM”.

O funcionário público será também punido se “não respeitar as competências da Assembleia Popular Nacional e do seu Comité Permanente”, nomeadamente se “atacar com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando as leis, interpretações e decisões aprovadas pela APN”.

Em 17 de Novembro, Jorge Fão, antigo presidente da ATFPM e deputado, disse à TDM que a proposta pode abrir a porta a demissões sumárias, algo que considerou como excessivo.

Na quinta-feira, o deputado Leong Sun Iok, eleito pela Federação das Associações dos Operários de Macau, disse à imprensa local que as alterações devem ter em atenção a presença de funcionários macaenses e portugueses.

O papel da ATFPM

De acordo com o último Relatório de Recursos Humanos da Administração Pública, em 2023 Macau tinha 34.311 funcionários. O documento não refere quantos têm nacionalidade portuguesa, mencionando apenas que 257 nasceram em Portugal.

No sábado, José Cesário entregou a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas à ATFPM. A associação desempenha “um papel muito importante, sobretudo no plano social”, a apoiar “muita gente que trabalhou na função pública de Macau”, sublinhou o secretário de Estado.

Na sexta-feira, Cesário entregou também a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas ao Conselho das Comunidades Macaenses e ao grupo de teatro Dóci Papiaçám di Macau, em cujas peças sobrevive o patuá.

Lusofonia | Estudo interpreta identidade “política” que Pequim quer para Macau

A China criou uma “identidade lusófona” para Macau, mais política do que ligada às vivências da população. No meio deste jogo, o português é uma língua de negócios. Estas são algumas das conclusões do estudo “A Construção de uma Identidade Lusófona: política de língua portuguesa em Macau pós-1999”, de Li Guofeng, Nuno Canas Mendes e Diogo Cardoso, da Universidade de Lisboa

 

“A Construção de uma Identidade Lusófona: política de língua portuguesa em Macau pós-1999” é o nome de um projecto de investigação que está a ser desenvolvido pelos académicos Li Guofeng, Nuno Canas Mendes e Diogo Cardoso, da Universidade de Lisboa (UL), com ligação ao Instituto do Oriente (IO).

Algumas destas conclusões serão apresentadas na próxima sexta-feira, na conferência “Ensino do Português na RAEM e a Construção de uma Identidade Lusófona”, que decorre no auditório Dr. Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

Uma das conclusões do trabalho, que ainda está em curso, prende-se com o facto de as autoridades chinesas terem criado para a RAEM uma certa “identidade lusófona” afastada da população, ela própria com as suas identidades muito próprias, consoante a génese das comunidades que residem no território.

“A população de Macau nunca falou português. O Governo chinês também não tem o intuito de fazer com que todos falem português em Macau, mas essa identidade [lusófona] que é atribuída a Macau é política, de certo modo é mais artificial. Não é uma identidade verdadeira que possa existir em toda a sociedade, não é uma questão meramente cultural”, disse ao HM Li Guofeng, doutorando e docente no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da UL. Assim, “promover a língua portuguesa em toda a sociedade de Macau será, no futuro, uma fantasia, uma tarefa quase impossível”, declarou.

Desta forma, a promoção do português e a sua difusão nas escolas visa ajudar a construir esta mesma identidade. Porém, o mandarim vai prevalecer naquela que é a verdadeira identidade da grande maioria da população, composta pela comunidade chinesa.

“O mandarim irá mesmo ultrapassar o cantonês na sociedade de Macau, porque essa é a verdadeira identidade que a China quer atribuir ao território. No caso do português, é mesmo de uma identidade política. O aumento dos cursos de português em Macau é, de facto, uma realidade, mas quando olhamos para a situação sociolinguística de Macau, esse aumento continua a não ter um papel tão evidente, não é algo que se percepciona”, frisou Li Guofeng.

O académico denota, aliás, que Macau “tem uma situação sociolinguística bastante complexa, pois tem o mandarim, o cantonês, o inglês que é falado em todo o mundo e o português, sem esquecer os idiomas do Sudeste Asiático, embora não sejam tão significativos”.

Assim, na prática, “o português não irá ganhar um grande peso em Macau, mas nesta investigação percebemos que o fortalecimento da língua tem esta componente política atribuída pelo Governo Central no desenvolvimento do idioma”.

Dificuldades de Rocha Vieira

Nuno Canas Mendes, presidente do IO, destaca que a entidade que lidera “sempre deu muita atenção a Macau e ao ensino do português, e ao activo estratégico que é o seu ensino”. Porém, o estudo visa trazer uma nova perspectiva aos muitos estudos que já existem sobre a matéria.

“Temos muitos trabalhos feitos sobre o português em Macau, mas que têm uma abordagem mais pedagógica. Este projecto tenta investigar o desenvolvimento da promoção da língua portuguesa pela China na RAEM”, explicou Li Guofeng.

O estudo surge numa altura em que, no caso de Hong Kong, “a preservação do inglês ou do cantonês são temas muito sensíveis”, porque na região vizinha o tema transforma-se numa “questão política”, salientou. Assim, o que este trabalho pretende ter de original é “o estudo da promoção da língua sob a perspectiva da construção de uma identidade, que também é política”.

O português sempre teve presença em Macau, ganhando novos contornos institucionais quando se começou a discutir a transição da Administração de Macau. Com a Lei Básica, passou a idioma oficial, sendo que, com a criação do Fórum Macau, em 2003, passou a ser encarado como uma língua com potencial económico.

“Penso que a China, nos anos 80 ou 90, já tinha vontade de promover a língua portuguesa, e o Fórum Macau foi um factor muito importante, pois criou-se essa necessidade com a intensificação dos intercâmbios políticos”, destacou Li Guofeng.

Já Nuno Canas Mendes refere que o próprio mundo “mudou”, e com ele os interesses da China”, que são hoje mais virados para os países de língua portuguesa. “Daí ter crescido o ensino do português inclusivamente fora de Macau, sendo hoje ensinada em várias universidades da China.”

O trabalho dos três académicos dá ainda conta de que a última Administração portuguesa de Macau, com Rocha Vieira ao leme, enfrentou dificuldades para promover o português nas escolas. “A promoção da língua portuguesa em Macau não foi fácil, porque, em primeiro lugar, havia rivalidades entre a comunidade chinesa e portuguesa. No Governo de Rocha Vieira houve a necessidade de preservar a herança cultural portuguesa no território, e tentou-se promover o ensino português nas escolas primárias e secundárias, fortalecendo esse ensino nas instituições do ensino superior. O último Governo de Macau fez muitas tentativas para este processo, mas havia algumas opiniões contra esta promoção”, indicou o académico chinês.

Li Guofeng salienta que “o português não era uma língua falada pelos chineses, o maior grupo social a viver em Macau, mas também não era um idioma marginal”, dada a importância que tinha para subir na carreira pública. “Era uma língua dominada por uma certa classe da sociedade, como membros do Governo, advogados, professores. Era uma língua limitada a uma minoria.”

A importância do Brasil

O estudo debruça-se também sobre o verdadeiro lugar de Macau no ensino do português. Para Diogo Cardoso, há um elo de ligação com a China no ensino e formação de professores, que é mantido por questões históricas e para “cumprir as tais necessidades económicas contemporâneas, pois falamos de um idioma que é o quinto mais falado do mundo”.

“Temos de olhar para os interesses contemporâneos da China. Nem tanto Portugal, mas o Brasil e países em África pelo seu potencial de desenvolvimento económico. Várias empresas chinesas estão a lançar-se ao mundo, com projectos firmados, sobretudo na América Latina”, disse Diogo Cardoso, que fala “da discrepância em termos de vontade e de meios entre os dois países [Brasil e Portugal] para o ensino da língua nesta região”, nomeadamente com os poucos leitores existentes no Instituto Camões (IC) em Pequim, por exemplo.

“Será que o Governo português está efectivamente a promover o ensino de português de Portugal. Será que existe uma estratégia da parte de Portugal?”, questionou Diogo Cardoso.

O Brasil criou, em 2022, o Instituto Guimarães Rosa, que desempenha o mesmo papel na difusão do português pelo mundo como o IC. Desta forma, Nuno Canas Mendes destaca que “um dos factores críticos do estudo é a assertividade do Brasil no que toca ao ensino da língua, com a recente criação do Instituto Guimarães Rosa, mas que já compete com o IC, o que reflecte o aprofundamento, nestes últimos anos, das relações entre a China e o Brasil”.

“Há uma questão que pode ser complexa para Portugal, pois até pode haver uma estratégia de língua, mas esta só existe se for aplicada. Quando não há oferta suficiente do Estado português, a China resolve o problema, como tem feito. Em boa verdade, não precisa de Portugal para nada para ensinar o português, essa é que é a questão pragmática de tudo isto”, rematou.

A sessão de sexta-feira começa às 18h30 e é promovida pelo IO e Instituto Português do Oriente, sediado em Macau.

Turismo | Alerta para falta de atracções e jogo na Tailândia

Dois analistas disseram à Lusa que uma eventual legalização do jogo na Tailândia e a ausência de novas atracções além dos casinos pairam sob o futuro da economia de Macau, altamente dependente do turismo.

Nos primeiros nove meses do ano, o Produto Interno Bruto da região recuperou para 87,3 por cento do nível registado antes da pandemia, mas os serviços turísticos continuam a representar 79,7 por cento da economia.

“Há aqui uma recuperação económica fantástica na área dos casinos e tudo que está ligado ao turismo, hotelaria, restauração”, confirmou o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa Carlos Cid Álvares. Mas este admitiu que “há um não crescimento ou até uma queda nos pequenos negócios” longe dos casinos.

O analista da consultora de jogo IGamix, Ben Lee, lembrou que, tal como os antecessores, o próximo líder de Macau “voltou a proferir palavras muito fortes e encorajadoras” no que toca à diversificação da economia.

Glenn McCartney, professor da Universidade de Macau, acredita que as operadoras ficaram sem mãos a medir depois dos casinos se terem tornado “uma oferta muito aliciante” para os grandes jogadores. Mas este segmento VIP, que chegou a representar 60 por cento das receitas dos casinos em 2013, foi afectado pela detenção do líder do grupo junket Suncity, em Novembro de 2021.

Ben Lee acredita que a formação jurídica de Sam Hou Fai poderá ajudá-lo a combater a “burocracia de Macau e os interesses instalados”. Glenn McCartney sublinhou a importância de áreas como o turismo médico e “a economia nocturna”, para garantir que os visitantes passam mais tempo e gastam mais dinheiro em Macau.

O Governo tailandês está a preparar um projecto de lei que permite a construção de empreendimentos integrados de jogo, semelhantes aos de Macau, abertos a estrangeiros.

Ron Lam afirma que desqualificações podem permitir sufrágio universal

A desqualificação dos pró-democratas, em 2021, da corrida à Assembleia Legislativa (AL) e a exigência de lealdade à China pode permitir no futuro o sufrágio universal, disse à Lusa o deputado Ron Lam U Tou. Em 2023, a AL aprovou leis que excluem candidatos considerados não patriotas da corrida tanto ao hemiciclo como a Chefe de Executivo, sem direito a reclamação ou recurso para os tribunais.

A falta de patriotismo já tinha sido usada pela comissão eleitoral como justificação para impedir, em 2021, 21 candidatos, incluindo 15 do chamado campo pró-democrata, das eleições legislativas.

Ron Lam, eleito pela primeira vez para a AL precisamente em 2021, defendeu que, com estas medidas, o Governo Central deixou de ter desculpas para não implementar o sufrágio universal em Macau. “Qualquer pessoa que queira concorrer a eleições tem de ser um patriota. Porque não pode essa pessoa enfrentar a população e aceitar o teste? (…) Os patriotas que enfrentem o teste da população serão naturalmente os melhores candidatos”, defendeu o deputado.

Há cinco anos, ainda antes de ser empossado, o agora líder cessante de Macau, Ho Iat Seng, tinha reiterado a possibilidade de instituir o sufrágio universal para eleição do Chefe do Executivo. “Acho que todo o sistema eleitoral tem de ser alterado. Até agora, eu sempre disse que o primeiro passo deve ser ter uma eleição competitiva para o Chefe do Executivo”, defendeu Ron Lam.

Das seis votações realizadas desde a transição de administração para a China, apenas na primeira, em Maio de 1999, houve mais do que um candidato, com Edmund Ho Hau Wah a derrotar Stanley Au Chong Kit.

O caminho certo

Em 13 de Outubro, Sam Hou Fai recebeu o apoio de 394 membros da comissão, o número mais elevado de sempre, após uma campanha que levou a Associação dos Jornalistas de Macau a denunciar a “grave deterioração” da liberdade de imprensa.

Algo que leva o antigo presidente do grupo pró-democracia Associação Novo Macau, Jason Chao Teng Hei, a dizer à Lusa que Ron Lam é “demasiado optimista”. “Receio que não seja este [o sufrágio universal] o caminho que Macau irá seguir, a não ser que haja uma grande mudança política em Pequim”, acrescentou Jason Chao.

“O futuro de Macau é imprevisível”, disse à Lusa Leon Ieong Meng U, especialista em política do território. “Não podemos imaginar como será a China daqui a 25 anos”, quando termina o período de transição acordado com Portugal, explicou.

O investigador da Universidade de Macau lembrou que, embora Xi Jinping “provavelmente já não terá o poder” em 2049, o actual líder chinês “quebrou as tradições tácitas para transições de poder e assim ninguém sabe quem será o próximo presidente”.

Ainda assim, Ron Lam acredita que o sufrágio universal “é a forma de manter a paz e a estabilidade a longo prazo em Macau e Hong Kong, porque uma sociedade aberta exige um sistema que eleja alguém em quem as pessoas confiem”.

Exportações lusófonas para a China caem 0,3% até Outubro

As exportações lusófonas para a China caíram 0,3 por cento nos primeiros dez meses de 2024, com um decréscimo de 23 por cento em Outubro a inverter o melhor arranque de ano de sempre, indicam dados oficiais.

As exportações atingiram 119,3 mil milhões de dólares entre Janeiro e Outubro, de acordo com dados dos Serviços de Alfândega da China divulgados na quinta-feira.

Nos primeiros nove meses do ano, as exportações tinham registado o valor mais elevado desde que o Fórum Macau começou a apresentar estes dados, em 2013. Mas o cenário inverteu-se em Outubro, mês em que as exportações caíram 23 por cento, em comparação com o mesmo período de 2023, para 10,2 mil milhões de dólares.

Os dados mostram que a descida se deveu sobretudo ao segundo maior fornecedor lusófono do mercado chinês, Angola, cujas vendas caíram 4,8 por cento para 14,8 mil milhões de dólares. As exportações da Guiné-Bissau para a China quase triplicaram nos primeiros dez meses de 2024, embora o país não tenha vendido mais de mil dólares em mercadorias.

Outro lado da moeda

Pelo contrário, no que toca ao maior parceiro comercial chinês no bloco lusófono, as exportações do Brasil cresceram 0,3 por cento, para 99,6 mil milhões de dólares, um novo máximo para os primeiros dez meses do ano.

As vendas de mercadorias de Portugal para a China aumentaram 8,6 por cento para 2,58 mil milhões de dólares, enquanto as exportações de Moçambique subiram 11,9 por cento para 1,46 mil milhões de dólares. Na direcção oposta, os países lusófonos importaram mercadorias no valor de 71,9 mil milhões de dólares da China, um aumento anual de 18,3 por cento e um novo recorde para os primeiros dez meses do ano.

O Brasil foi o maior comprador no bloco lusófono, com importações a atingirem 60,8 mil milhões de dólares, seguido de Portugal, que comprou à China mercadorias no valor de 5,12 mil milhões de dólares.

Ao todo, as trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e a China atingiram 191,2 mil milhões de dólares entre Janeiro e Outubro, mais 6 por cento do que em igual período de 2023 e um novo máximo para os primeiros dez meses do ano.

A China registou um défice comercial de 47,4 mil milhões de dólares com o bloco lusófono no período entre Janeiro e Outubro deste ano.

Apontado fraco progresso como razão para mudar Chefe do Executivo

O académico da Universidade de Macau Leon Ieong Meng U acha que a falta de progresso nas relações políticas com os países de língua portuguesa pode ter sido uma das razões para a mudança de liderança em Macau. Já Sales Marques afirma que Pequim encara o Fórum de Macau como “um instrumento de ‘soft power’

 

O académico Leon Ieong Meng U disse à Lusa que a falta de progresso nas relações políticas com os países de língua portuguesa pode ter sido uma das razões para a mudança de liderança em Macau. “Nunca saberemos o que realmente aconteceu, mas é razoável supor que o Governo Central não ficou muito satisfeito com o desempenho” do dirigente escolhido em 2019, disse Leon Ieong Meng U.

Também o antigo presidente do grupo pró-democracia Associação Novo Macau, Jason Chao, disse à Lusa não saber “por que razão Ho Iat Seng perdeu a confiança de Pequim ou por que razão Pequim está tão ansiosa por fazer uma mudança que poderia acontecer daqui a cinco anos”. “Em termos de imagem, Ho fez muitas coisas boas para gerir a pandemia” e mesmo os fundos públicos dados ao filho, Jason Ho Kin Tung, “não são um escândalo tão grave como no caso de outros chefes do Executivo”, acrescentou o activista, radicado desde 2017 no Reino Unido.

Leon Ieong sublinhou que em 2003, a China deu ao território “uma missão diferente” ao criar o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

“Na verdade, eles esperavam que Macau desempenhasse um papel na política externa da China”, nas ligações diplomáticas com Timor-Leste e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), disse Leong Ieong. “Todos sabemos que o Governo de Macau teve muito tempo, [mas] na prática não fez nada de muito significativo”, lamentou o investigador da Universidade de Macau.

Uma nova ordem

José Luís de Sales Marques disse que a ligação da região com os países lusófonos “vai continuando num ritmo e num tom muito favorável de uma convergência de intenções”, mas admitiu que “poderia estar mais desenvolvida”.

Ainda assim, o antigo presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau recordou à Lusa o impacto da pandemia, “que se condicionou já as questões de ordem interna, quanto mais a ligação com os países de língua portuguesa”.

Em 19 de Novembro, Ho Iat Seng sublinhou que apenas “dez dias depois” de tomar posse, teve de lidar com a pandemia, que levou Macau a praticamente fechar as fronteiras ao mundo durante quase três anos. “Isso prejudicou, por exemplo, a presença dos alunos dos países de língua portuguesa nas diversas universidades de Macau”, lamentou Sales Marques.

Depois do território levantar as restrições, a primeira deslocação de Ho Iat Seng ao exterior, em Abril de 2023, foi a Portugal. “Houve obviamente uma paragem a nível de contactos cara-a-cara, mas estou a ver agora um retorno e com alguma pujança”, defendeu Sales Marques, dando como exemplo a sexta conferência ministerial do Fórum de Macau, em Abril.

Desde que o líder chinês Xi Jinping subiu ao poder, em 2012, “ele tem dado extrema ênfase à política externa”, propondo a chamada “modernização ao estilo chinês”, que na prática é “um projecto de uma nova ordem global”, disse Leon Ieong.

“O Governo Central quer Macau a contar uma boa história da China. Isso significa exigir que Macau aumente a influência da China junto dos países de língua portuguesa”, referiu o especialista em política do território.

Sales Marques disse acreditar que Pequim vê sobretudo o Fórum de Macau como “um instrumento de ‘soft power’ [poder de influência] da República Popular da China na sua relação multidimensional com os países de língua portuguesa”, que inclui a cultura.

O académico recordou ainda que a Lei Básica já prevê que a região pode “tratar por si própria (…) dos assuntos externos”.

RAEM, 25 anos | Lançado livro com testemunhos “incontornáveis e poderosos”

Foi ontem lançado, em Lisboa, na Biblioteca das Galveias, o livro “Macau entre Portugal e a China – 25 testemunhos”, com coordenação de Maria do Carmo Figueiredo, antiga presidente da Teledifusão de Macau. Eis uma oportunidade para recordar palavras sobre Macau de personalidades como Ana Paula Laborinho, José Garcia Leandro, antigo governador, ou Carlos Monjardino

 

A coordenadora do livro “Macau entre Portugal e a China – 25 testemunhos” disse à Lusa que a obra conta com testemunhos “incontornáveis e poderosos” sobre a transferência de administração portuguesa de Macau para a China.

“Pensei que era importante ter um livro que falasse de Macau e procurei 25 testemunhos inéditos para assinalar a data”, refere Maria do Carmo Figueiredo, jurista, que relembra que dia 20 de Dezembro se assinalam os 25 anos da transferência da administração portuguesa de Macau para a República Popular da China, nos termos da Declaração Conjunta, assinada em Abril de 1987, em Pequim.

A antiga presidente da TDM (Teledifusão de Macau), que escolheu as 25 personalidades que colaboram nesta obra, destaca os testemunhos de três protagonistas da história. São eles, os antigos Presidentes António Ramalho Eanes, Aníbal Cavaco e Silva e do último Governador de Macau, Vasco Rocha Vieira.

“A forma como decorreram as negociações e o conteúdo do acordo foram um exemplo para a comunidade internacional”, escreve Aníbal Cavaco Silva, ex-Presidente português (2006-2016) e primeiro ministro, que assinou em Pequim a Declaração Conjunta entre Portugal e a China. No seu testemunho, Cavaco Silva, acrescenta, ainda, que “foi um bom acordo, que salvaguardou direitos políticos, económicos, religiosos, sociais e laborais dos habitantes de Macau”.

Para António Ramalho Eanes, Presidente entre 1976 e 1986, “o acordo conseguido em conformidade com o princípio ‘Um país, dois sistemas’ honrou a República Popular da China, respeitou a dignidade de Portugal e salvaguardou os interesses de Macau.”

Por outro lado, é destacado pelo General Vasco Rocha Vieira, último Governador de Macau, que ” a localização linguística e o trabalho desenvolvido no sentido de afirmar o bilinguismo em Macau esteve diretamente relacionado com a localização das leis” e, acrescenta, que “a preservação da identidade de Macau era um objetivo estratégico quando se refletia sobre o processo de transição a longo prazo”.

Uma espécie de dicionário

Neste livro, de 302 páginas, que constitui “um dicionário de pessoas e factos”, é possível o leitor ficar a conhecer “o encontro entre o Ocidente e o Oriente, as conversações e as negociações para a transferência de poderes, a gestão de Macau após o 25 de Abril e no período de transição, o impacto na educação, na cultura, na vida económica, financeira e social, na comunicação social em língua portuguesa, na ponte Portugal- China-Países de língua oficial portuguesa, na preservação do legado luso em Macau e do legado de Macau em Portugal e na permanência da Igreja Católica em Macau”.

Sobre este último aspecto, escreve a coordenadora sobre “a importante” referência no testemunho de padre Peter Stilwell ao Presidente Mário Soares, “que sempre encorajou a Igreja Católica a retomar o ensino superior em Macau”.

Maria do Carmo Figueiredo destaca, também, o testemunho “notável” do embaixador Pedro Catarino, representante da República há mais de dez anos na Região Autónoma dos Açores e o primeiro chefe da parte portuguesa no Grupo de Ligação Conjunto entre Portugal e a China.

Por último, a coordenadora destacou o contributo de todos aqueles que tornaram possível esta obra, citando vários nomes, entre eles, os de jornalistas.

Além dos cinco testemunhos referidos anteriormente, colaboraram nesta obra, Adriano Jordão, Ana Paula Laborinho, António Caeiro, António Noronha, Carlos Cid Álvares, Carlos Monjardino, Eduardo Marçal Grilo, Gilberto Lopes, João Charters de Almeida, Joaquim Chito Rodrigues, Jorge Rangel, Jorge Silva, José Avillez, José Garcia Leandro, José Rocha Dinis, José Rodrigues dos Santos, Maria Alexandra Costa Gomes, Maria Celeste Hagatong, Pedro Pauleta e Rui Martins.

O livro tem a chancela da Âncora editora e foi apresentado por António Vitorino, figura histórica do Partido Socialista e ligado à última administração portuguesa de Macau.

Centenário da morte do poeta Camilo Pessanha com pré-lançamento

O centenário da morte do poeta Camilo Pessanha, natural de Coimbra, vai ser assinalado na cidade em 2026, tendo as entidades promotoras marcado para quinta-feira um pré-lançamento das comemorações.

“Autor de uma obra breve, mas de elevado requinte estético, Camilo Pessanha é considerado o mais alto expoente do simbolismo em Portugal e exerceu uma notável influência sobre a lírica portuguesa do século XX, como reconheceram autores tão determinantes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Andrade ou Carlos de Oliveira”, disse à agência Lusa o investigador António Apolinário Lourenço.

Este professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) é um dos organizadores do programa dos 100 anos da morte de Pessanha, promovido através de uma parceria do Centro de Literatura Portuguesa, que tem sede na FLUC, com o Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC), liderado por Valdemar Rosas.

“Apaixonado pela arte oriental, Pessanha escreveu vários ensaios sobre a produção artística chinesa e reuniu um significativo conjunto de peças representativas dessa arte, que legou ao Estado português e que se encontram depositadas no Museu Machado de Castro, em Coimbra”, salientou Apolinário Lourenço.

Vida em Macau

Nascido na cidade do Mondego, em 7 de Setembro de 1867, o poeta frequentou o Liceu e a Universidade de Coimbra, em cuja Faculdade de Direito se licenciou. Partiu depois para Macau, onde foi professor de filosofia, conservador do Registo Predial e temporariamente juiz, tendo morrido no dia 1 de Março de 1926. Ficou sepultado no território.

Em vida, Camilo Pessanha publicou apenas o livro “Clepsidra”, em 1920, com os poemas reunidos e organizados pela sua amiga Ana de Castro Osório.

Esta quinta-feira, às 19h, realiza-se o pré-lançamento das comemorações do centenário da sua morte, no café Santa Cruz, em Coimbra. A iniciativa “A caminho do centenário” inclui a leitura de poemas do autor, por Albino Matos, Beatriz Matos, João Rasteiro, Maria João Simões, Natália Queirós, Valdemar Rosas e António Apolinário Lourenço.

Os actores Francisco Paz e Maria Manuel Almeida, da Cooperativa Bonifrates, irão ler, respectivamente, uma carta de Pessanha a Ana de Castro Osório, em que lhe declara o seu amor, e a resposta da feminista republicana, explicando “as razões que a obrigam a declinar um compromisso amoroso com o poeta”.

O programa completo, que será apresentado em 2025, incluirá reuniões científicas, exposições e publicações, entre outros eventos. A Câmara Municipal e a Reitoria da Universidade de Coimbra associam-se às comemorações, cujo “ponto alto” será em 2026.

Nas últimas décadas do século XX, junto às Escadas Monumentais, funcionou o bar Clepsidra, ponto de encontro de sucessivas gerações da esquerda académica de Coimbra que renomearam o espaço como “Clep”. A memória de Camilo Pessanha está perpetuada na toponímia da cidade e no programa “Clepsidra”, realizado por João Pedro Gonçalves, que a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) emite semanalmente há longos anos.

Políticas locais não ajudam a atrair talentos, dizem especialistas

Especialistas disseram à Lusa que o programa de captação de quadros qualificados de Macau tem critérios mais apertados do que outras jurisdições e oferece vistos demasiado curtos para atrair talentos necessários para diversificar a economia.

O programa entrou em vigor em Julho de 2023 e procura captar para a região, nomeadamente com benefícios fiscais, quadros do sector financeiro e das áreas de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico, entre eles Prémio Nobel.

Mas “o Governo de Macau não fez um bom trabalho” ao elaborar regras “muito estranhas” para um programa “de uma qualidade terrível”, disse Leon Ieong Meng U à Lusa. “Nunca ouvi falar de outros programas em outros sítios que tenham a nota média do bacharelato como um dos critérios”, sublinhou o investigador da Universidade de Macau.

Além disso, “os níveis de exigência são excessivamente elevados, mais altos do que em Hong Kong ou Singapura”, apontou Leon Ieong. O analista da consultora de jogo IGamix Ben Lee também apontou à Lusa a região de Hong Kong como um exemplo.

“Eles têm um sistema de migração qualificada que aceita de braços abertos qualquer pessoa com experiência (…) que faça falta. Macau é o oposto”, lamentou o consultor. Um candidato ao programa de Macau “precisa de ser um medalhado de ouro olímpico ou laureado com o Prémio Nobel para obter um visto de mais de um ano”, sublinhou Ben Lee.

Palavras de um Nobel

O Prémio Nobel da Medicina em 1991, Erwin Neher, admitiu à Lusa que é difícil atrair para Macau mesmo “jovens investigadores que demonstraram ter potencial para se tornarem figuras de destaque”, porque não lhes é concedido o estatuto de residente.

Muitos investigadores esperam quatro anos por um apartamento no campus ou para colocar os filhos num jardim de infância, lamentou o alemão de 80 anos, que lidera o Laboratório de Biofísica e Medicamentos Inovadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

“As pessoas quando vêm não querem a incerteza de um visto anual, que não sabem se será renovado ou não”, explicou o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, Carlos Cid Álvares. “Eu não digo que querem ser residentes de Macau, mas se calhar terem o visto por três ou quatro anos, que é para trazerem as suas famílias”, defendeu o presidente do Banco Nacional Ultramarino.

No final de Outubro, o secretário-geral da Comissão de Desenvolvimento de Talentos disse que Macau aprovou 464 das mais de mil candidaturas ao programa. Chao Chong Hang admitiu que a esmagadora maioria destes quadros vem da China continental (80%) ou de Hong Kong (10%), mas sublinhou que 47% tem “experiência de trabalho ou de estudo no estrangeiro”.

Apesar do desemprego estar há cinco meses num mínimo histórico de 1,7%, mesmo a indústria dominante de Macau enfrenta dificuldades. “Temos executivos seniores no topo dos operadores de casinos a serem rejeitados e a não receber mais do que um ‘blue card’”, disse Ben Lee.

Em Outubro, Chao Chong Hang prometeu “criar melhores condições para internacionalizar” a captação de quadros, mas não revelou quantas candidaturas tinham vindo dos países de língua portuguesa. A aposta nos serviços comerciais e financeiros entre a China e os mercados lusófonos consta do plano de diversificação da economia de Macau até 2028, “a mais importante missão” dada por Pequim, recordou Leon Ieong.

O programa de captação de talentos é “uma peça complementar muito importante” para a diversificação, acrescentou o especialista em política da região. Mas “a diversificação não se faz de um dia para o outro, se calhar vai demorar 20 anos a acontecer e a base disto tudo são as pessoas”, alertou Carlos Cid Álvares.

Coreia do Sul | Líder da oposição convicto que destituição do Presidente é uma questão de tempo

O líder da oposição sul-coreana, Lee Jae-myung, afirmou hoje estar convicto que Yoon Suk-yeol sairá da presidência do país no âmbito do processo de destituição iniciado no parlamento, restando, porém, a dúvida se acontecerá “amanhã ou no próximo mês”.

A liderar o processo de destituição, o líder do Partido Democrático da Coreia admitiu que será difícil obter o apoio necessário para conseguir a saída de Yoon Suk-yeol já esta semana, mas destacou que se trata de “uma simples questão de tempo”, segundo as citações publicadas pela agência noticiosa sul-coreana Yonhap.

Depois de recuar na imposição da lei marcial, que declarou na terça-feira, Yoon Suk-yeol enfrenta agora o pedido de seis partidos para a sua destituição, cuja aprovação necessita do apoio de dois terços dos deputados, ou seja, 200 dos 300 parlamentares que compõem a assembleia sul-coreana.

Para que a votação seja válida é necessária ainda a presença de mais da metade dos parlamentares. Atualmente, o partido conservador Poder Popular, a força política de Yoon Suk-yeol, tem 108 assentos em comparação com os 192 da oposição.

“O problema é que alguns deputados do partido de Yoon estão dispostos a votar a favor (da saída), mas isso significaria quebrar a disciplina partidária e colocá-los-ia numa situação difícil”, reconheceu Lee Jae-myung.

No entanto, o líder partidário está convicto que o Presidente “será destituído, seja em um dia, dois, uma semana, um mês ou três meses”. Na terça-feira, numa comunicação de surpresa ao país, o Presidente Yoon Suk-yeol justificou a imposição da lei marcial para “erradicar as forças pró-norte-coreanas e proteger a ordem constitucional”.

Na mesma intervenção, Yoon acusou a oposição de atividades contra o Estado e de conspirar “para uma rebelião”. Horas depois, o Presidente da Coreia do Sul anunciou que ia suspender a lei marcial, que tinha sido entretanto revogada pelo parlamento.

Ciência | Esponja biodegradável purifica 99,8% dos microplásticos da água

Um grupo de cientistas chineses desenvolveu uma esponja biodegradável capaz de remover até 99,8 por cento dos microplásticos presentes na água.

O avanço, conseguido por uma equipa de investigação da Universidade de Wuhan, combina materiais de baixo custo e de fácil acesso, como ossos de lula e algodão, o que poderá facilitar a sua utilização em larga escala em ecossistemas aquáticos afectados pela poluição plástica.

O professor Deng Hongbing, que liderou a equipa de especialistas, salientou que a esponja é feita com quitosano extraído de osso de lula e celulose de algodão e tem um design que permite absorver microplásticos de embalagens alimentares, têxteis e até de produtos industriais, noticiou o Global Times.

Os especialistas publicaram as descobertas na revista científica Science Advances. Num primeiro ciclo de absorção, a esponja conseguiu eliminar quase todos os microplásticos, e manteve uma eficiência superior a 95 por cento após cinco ciclos consecutivos.

Segundo a equipa, este nível de desempenho demonstra a sua durabilidade e viabilidade como ferramenta reutilizável. A produção da esponja é viável em maior escala, pois requer materiais simples e equipamentos comuns como liofilizadores e agitadores mecânicos.

Gaza | Amnistia Internacional garante provas de genocídio

A Amnistia Internacional (AI) denunciou ontem ter encontrado provas suficientes para concluir que Israel cometeu e continua a cometer genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza e condenou os ataques do Hamas, em Outubro de 2023.

Numa investigação que levou ao relatório “Sente-se Como Se Fosse Sub-Humano: O Genocídio de Israel contra os Palestinianos em Gaza”, a AI documenta como, durante a ofensiva militar após os ataques do movimento islamita palestiniano em território israelita, “Israel desencadeou o inferno e a destruição contra os palestinianos de forma descarada, contínua e com total impunidade”.

“O relatório da Amnistia Internacional demonstra que Israel levou a cabo actos proibidos pela Convenção sobre o Genocídio, com a intenção específica de destruir os palestinianos em Gaza. Estes actos incluem assassínios, actos com a intenção de causar lesões corporais ou mentais graves e infligir deliberadamente aos palestinianos em Gaza condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física”, afirma a Amnistia, que apresentou as conclusões da investigação numa conferência de imprensa na sede do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.

Segundo Agnès Callamard, secretária-geral da organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Londres, mês após mês, “Israel tem tratado os palestinianos em Gaza como um grupo sub-humano indigno dos direitos humanos e de dignidade, demonstrando a sua intenção de os destruir fisicamente”.

“As nossas conclusões condenatórias devem servir de alerta para a comunidade internacional. Isto é genocídio. Tem de acabar já. Os Estados que continuam a transferir armas para Israel devem saber que estão a violar a sua obrigação de prevenir o genocídio e correm o risco de se tornarem cúmplices do genocídio”, defendeu a AI, que anunciou para breve um relatório sobre os crimes perpetrados pelo Hamas e por outros grupos armados durante o ataque a Israel.

“Todos os Estados com influência sobre Israel, como os principais fornecedores de armas – Estados Unidos e a Alemanha, mas também mais Estados-Membros da União Europeia, o Reino Unido e outros – devem agir para pôr termo às atrocidades cometidas por Israel contra os palestinianos em Gaza”, prosseguiu Callamard, citada no relatório.

“A nossa investigação revela que, durante meses, Israel persistiu em cometer actos genocidas, plenamente consciente dos danos irreparáveis que estava a infligir aos palestinianos. Continuou a fazê-lo, desafiando os inúmeros avisos sobre a situação humanitária catastrófica e as decisões juridicamente vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que ordenavam a Israel que tomasse medidas para permitir a prestação de assistência humanitária aos civis em Gaza”, frisou Callamard.

Por outro lado, indicou a secretária-geral da AI, “Israel tem argumentado repetidamente que as suas acções em Gaza são legais e podem ser justificadas pelo seu objectivo militar de erradicar o Hamas”.
Mas, salientou, “a intenção genocida pode coexistir com objectivos militares e não tem de ser a única intenção de Israel”.

Sem precedentes

No relatório é referido que os crimes e atrocidades cometidos a 07 de Outubro de 2023 pelo Hamas e outros grupos armados contra israelitas e vítimas de outras nacionalidades, incluindo assassínios em massa deliberados e tomada de reféns, “nunca podem justificar o genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza”.

A Amnistia refere que as acções de Israel na retaliação aos ataques do Hamas tiveram uma escala e magnitude “sem precedentes”, numa “ofensiva brutal” que, segundo a organização, matou cerca de 42.000 palestinianos, incluindo mais de 13.300 crianças, e feriu mais de 97.000, até 07 de Outubro de 2024.

A inovação começa em cada um de nós

Sam Hou Fai, o sexto Chefe do Executivo de Macau, apresentou a sua equipa à imprensa e cada um dos membros do Governo proferiu um discurso. A julgar pela atitude e pelo conteúdo da dissertação de cada um deles, torna-se evidente que Sam Hou Fai irá arcar com a pesada responsabilidade pelo desenvolvimento da RAE de Macau. Sob o slogan “integração no desenvolvimento nacional”, é necessário encontrar maneira de enfrentar a concorrência homóloga na Área da Grande Baía e é também crucial entender os potenciais impactos do conflito comercial sino-americano no modo de vida dos residentes de Macau. Não é tão simples como contar uma história bonita sobre a cidade.

Há pouco tempo, deparei-me com um artigo num jornal de Hong Kong que espelhava a situação actual. No artigo, mencionava-se como exemplo um debate financeiro que teve lugar durante a Dinastia Han, na China, e que mostrava que os reformistas defendiam o combate aos monopólios e a abertura dos mercados para proporcionar às pessoas oportunidades de melhorar as suas vidas e para resgatar o país de dificuldades financeiras. No entanto, os governantes colocaram três questões para refutar estas recomendações: 1) Como é que o país pode fazer face à suas enormes despesas sem as receitas provenientes dos impostos?

2) Como é que o país pode estar preparado para a guerra ou para desastres naturais sem reservas financeiras suficientes para lidar com essas calamidades?

3) Se o Governo central não tiver total controlo dos recursos económicos, como é que pode manter o total controlo da sociedade? O autor do artigo considera estas três questões absurdas, salientando que se pede sempre ao povo que se sacrifique pelo país, enquanto as verdadeiras despesas, o número de governantes e os seus salários permanecem intocáveis.

O Secretário das Finanças de Hong Kong anunciou que o deficit orçamental do ano fiscal de 2024/25 tinha aumentado significativamente em relação aos 48 mil milhões de dólares de Hong Kong previstos e que se espera que venha a atingir os 100 mil milhões. E o que reserva o futuro para Macau?

Quando tomou posse, o objectivo de Ho Iat Seng, o ainda Chefe do Executivo, era a racionalização da estrutura do funcionalismo público com a redução do quadro. No entanto, depois de vários anos, a situação não melhorou. Só no passado mês de Abril, quando os funcionários de três instituições do ensino superior de Macau deixaram de ser enquadrados no âmbito do controlo do número total de trabalhadores dos serviços públicos, o número total de funcionários públicos em Macau passou para cerca de 35.000, embora este número seja proporcionalmente muito elevado quando comparado com a Coreia do Sul, o Japão, Taiwan e Hong Kong.

Foi publicado outro artigo num jornal de Hong Kong, mas desta vez escrito por um comentador cultural de Macau, que recorria a alguns números para ilustrar certas anormalidades desta cidade. Todos os anos, a distribuição de dinheiro pelos cidadãos de Macau através do Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico tem o objectivo de satisfazer toda a gente, e uma vez que Macau tem o PIB mais elevado da Ásia, o nível de vida dos cidadãos de Macau deverá ser elevado. No entanto, em 2023, a taxa de suicídio em Macau foi de 13 casos em cada 100.000 pessoas, significativamente mais alta que a taxa média global de 9 casos em cada 100.000 habitantes, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A taxa de suicídio em Macau está a aproximar-se dos números registados em alguns países africanos mais pobres.

E em 2024, quantos suicídios ocorreram em Macau? Excluindo casos em que os corpos não foram encontrados, o Governo de Macau reportou 44 suicídios de pessoas de todos os estratos sociais, incluindo jovens, na primeira metade do ano. Será que os residentes de Macau se sentem verdadeiramente e felizes e realizados? Como é que está a sua saúde física e mental? O número de casos de suicídio pode reflectir estas questões. Discursos vazios não só prejudicam o país como desencaminham Macau. Para construir uma sociedade estável, saudável e sustentável deve procurar-se a inovação e ela deve começar dentro de cada um de nós.

Motociclismo | Faye Ho aprova regresso à North West 200

Após uma ausência de dois anos, a equipa FHO Racing BMW, de Faye Ho, irá competir na North West 200, uma das clássicas do motociclismo de estrada, em 2025. A empresária de Macau chegou a acordo com o organizador durante a 71.ª edição do Grande Prémio de Macau, revelou a organização da prova Irlanda do Norte esta semana

“Após dois anos de ausência, tenho o prazer de anunciar que a FHO Racing estará presente no North West 200 de 2025 com a minha dupla de pilotos”, declarou Faye Ho, proprietária da equipa, em comunicado de imprensa. “Estou muito entusiasmada por regressar e proporcionar um grande espectáculo para todos. Será maravilhoso rever os fãs da equipa. Espero vê-los todos em 2025!”

A equipa da neta de Stanley Ho irá competir nas corridas de Superbike e Superstock com as suas ultra-competitivas BMW M1000RR e com dois dos seus melhores pilotos: Peter Hickman e a sua nova contratação, Davey Todd – o vencedor do primeiro Grande Prémio de Motos de Macau que foi decidido com os tempos da sessão de qualificação.

Mervyn Whyte, o Director de Corrida da North West 200 e que em Macau tem desempenhado um papel de ligação entre as equipas e os pilotos e a organização do Grande Prémio de Macau, revelou que fechou o acordo durante o evento da RAEM, no passado mês de Novembro. Este acordo assegura a presença de uma das principais equipas da especialidade e de dois dos mais destacados pilotos do Campeonato Britânico de Superbikes na grelha de partida da prova que decorrerá de 5 a 10 de Maio próximo.

“O Davey Todd venceu o Campeonato Britânico de Superstock deste ano e vai subir à categoria Superbike em 2025, onde se junta a Peter Hickman”, comentou Whyte. “Tanto o Davey como o Peter são fortes candidatos nas provas de estrada e circuito, e as BMW da FHO Racing têm um historial comprovado de sucesso, pelo que esta é uma notícia extremamente entusiasmante para os fãs do North West 200.”

Também este ano, em Macau, Mervyn Whyte garantiu a participação de Erno Kostamo, Laurent Hoffman e Luca Gottardi na sua prova.

A contar para Novembro

Apesar da distância, a prova do Reino Unido pesa bastante quando o tema é decidir a grelha de partida da única corrida de duas rodas do Grande Prémio de Macau. Apenas vinte pilotos foram convidados a participar na corrida de Macau este ano e os critérios de seleção foram alvo de críticas por parte de vários pilotos não selecionados na imprensa internacional. Entre os excluídos estavam o alemão David Datzer, que terminou no Circuito da Guia em segundo lugar em 2022 e em terceiro em 2023, os suíços Lukas Maurer e Olivier Lupberger, e, de forma algo surpreendente, o britânico Phillip Crowe. As vitórias à geral no International Road Racing Championship, ao que parece, não são consideradas um critério suficiente, sendo obrigatório apresentar resultados no North West 200 ou na Tourist Trophy.

Lukas Maurer, em particular, fez declarações bastante críticas sobre a escolha de pilotos para o evento da RAEM à publicação alemã Speedweek: “Os organizadores de Macau realmente tratam os participantes muito mal. Promessas são feitas todos os anos e, posteriormente, não são cumpridas. No geral, na minha opinião, a comunicação é sempre muito condescendente, por isso não me surpreende que tenha terminado desta forma.”

Parlamento sul-coreano vota moção de destituição do Presidente do país no sábado

O parlamento da Coreia do Sul vai votar uma moção de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol no sábado, noticiou ontem a agência de notícias pública sul-coreana Yonhap. “O voto da moção de destituição do Presidente Yoon vai decorrer cerca das 19 horas de sábado”, declarou um deputado da oposição Jo Seoung-lae, citado pela Yonhap.

Entretanto, a polícia sul-coreana anunciou a abertura de um inquérito por “rebelião” contra Yoon, na sequência da imposição da lei marcial no país, suspensa horas mais tarde.

“O caso está em curso”, declarou o chefe de investigações da polícia, Woo Kong-suu, aos deputados. A última intervenção pública de Yoon ocorreu ao início da manhã de quarta-feira, quando suspendeu a lei marcial.

Na terça-feira à noite, Yoon comunicou ao país a imposição da lei marcial para “erradicar as forças a favor da Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional” das actividades “anti-estatais”, tendo acusado o principal bloco da oposição, o Partido Democrático (PD).

Poucas horas depois, o Presidente suspendeu a lei marcial, depois de a Assembleia Nacional ter revogado a decisão, numa sessão plenária extraordinária convocada numa altura em que milhares protestavam nas ruas de Seul.

Poder menor

Na quarta-feira, seis partidos da oposição na Coreia do Sul apresentaram uma moção para a destituição de Yoon. O PD e cinco outros partidos iniciaram assim o processo parlamentar que poderá levar ao afastamento do Presidente sul-coreano, cujo Partido do Poder Popular (PPD) governa em minoria.

O chefe da bancada parlamentar do PPD garantiu já que todos os 108 deputados do partido vão rejeitar a moção apresentada pela oposição para destituir o chefe de Estado. Ainda assim, o líder do PPP exigiu que Yoon Suk-yeol abandone a formação política.

Sete em 10 cidadãos apoiam moção

Sete em cada dez sul-coreanos apoiam a moção parlamentar de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol, apresentada pela oposição, depois de o dirigente ter decretado lei marcial, indica ontem uma sondagem do Realmeter.

De acordo com a sondagem, 73,6 por cento da população sul-coreana apoia o processo parlamentar que poderá levar à suspensão do exercício do poder de Yoon, que, na terça-feira declarou a lei marcial para proteger a “ordem constitucional” contra actividades “anti-estatais” e “forças a favor da Coreia do Norte”.

A lei marcial foi revogada no parlamento cerca de seis horas depois de ser anunciada. Em contrapartida, 24 por cento dos cidadãos rejeitam a moção, apresentada na quarta-feira por seis grupos parlamentares – incluindo o principal partido da oposição, o liberal Partido Democrático (PD) de Lee Jae-myung – que anularam o estado de emergência de Yoon e agora contra-atacaram, dando início ao processo de destituição do Presidente.

Questionados sobre se as acções do Yoon podiam “constituir traição”, 70 por cento dos inquiridos responderam afirmativamente, contra 25 por cento que têm uma opinião contrária. A sondagem, com uma margem de erro de aproximadamente 4,4 por cento e um nível de confiança de 95 por cento, inquiriu 504 pessoas com mais de 18 anos.

Os promotores da moção argumentaram que Yoon violou a Constituição e outras leis com a declaração de lei marcial.

Acidente | Treze desaparecidos em derrocada em construção de ferrovia

Pelo menos 13 trabalhadores foram dados como desaparecidos, depois de o solo ter abatido num estaleiro de uma obra ferroviária em Shenzhen, no sul da China, anunciaram ontem as autoridades locais. O solo “cedeu subitamente” sob um troço da linha Shenzhen-Jiangmen na quarta-feira à noite, indicou, em comunicado, o Gabinete de Gestão de Emergências do Distrito de Bao’an.

Até ao momento não foram encontradas vítimas, mas as buscas continuam. As autoridades também retiraram os residentes das zonas circundantes, acrescentou, na mesma nota. Foi iniciada uma investigação para determinar a causa da derrocada.

Fotografias e vídeos partilhados nas redes sociais mostram uma grande cavidade no solo, rodeada de materiais de construção derrubados. As principais autoestradas perto do local foram fechadas ontem de manhã para facilitar as operações de resgate, disseram as autoridades locais.

A construção do troço que liga Shenzhen a Jiangmen, na província de Guangdong, arrancou em 2022. O desmoronamento do solo nos estaleiros de construção ocorre quando o terreno já não consegue suportar o peso das estruturas e acontece frequentemente em zonas densamente povoadas, em terrenos frágeis ou durante projetos de grande escala.

A instabilidade geológica, as técnicas de escavação inadequadas ou o incumprimento das normas de segurança são as principais causas.