RAEM, 20 anos | Lei Ka Hei foi o primeiro bebé nascido depois da transição 

Nascido no dia 20 de Dezembro de 1999 no hospital Kiang Wu, Lei Ka Hei não acha nada de especial o facto de ter nascido no dia das cerimónias da transferência de soberania de Macau para a China. Hoje, o jovem deseja ser padeiro e lamenta não poder comprar uma habitação, problemática que atinge a sua geração

 

[dropcap]O[/dropcap] primeiro bebé nascido em Macau depois da transferência quer hoje ser padeiro, uma tradição trazida pelos portugueses, mas de resto, Lei Ka Hei é o espelho de uma cidade transformada.
Quinze minutos após a meia-noite do dia 20 de Dezembro de 1999, enquanto na Praça do Centro Cultural de Macau os altos dignitários de Portugal e da China assistiam à tradicional dança do leão e do dragão, nascia um bebé no Hospital Kiang Wu.

Lei Ka Hei, nome que em chinês significa “Feliz Aurora”, tinha 3,49 quilos e veio ao mundo seis dias antes do previsto. “Talvez estivesse com pressa de vir ao mundo na mesma altura em que estava a nascer a Região Administrativa Especial de Macau”, disse na altura a mãe, Wong Pui Sim, à agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

Ka Hei, que entretanto escolheu o nome inglês Ray, só aos 13 anos soube que era o primeiro bebé nascido em Macau depois da transferência de poderes.

“Na altura havia uma televisão local que me queria entrevistar. Eu perguntei porquê e só então a minha mãe me disse”, recorda o jovem.

“Em dias normais não me sinto nada especial”, diz Ray à Lusa. A maior vantagem de ter nascido a 20 de Dezembro é a certeza de que “o aniversário calha sempre num feriado e logo aquele que dá início às férias de Natal”, acrescenta, com um sorriso.

Uma nova Macau

Ele pode não se sentir especial, mas Ray é emblemático de uma nova Macau, quase 20 anos após a transição. Os pais nasceram ambos na China continental, tal como 43,6 por cento da população da cidade, segundo dados oficiais.

O jovem não tem a nacionalidade portuguesa, que foi apenas concedida a quem nasceu em Macau antes de 20 de Novembro de 1981. Ainda assim, e apesar de menos de 1 por cento da população ter ascendência portuguesa, há cerca de mais de 160 mil cidadãos portugueses registados junto do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

O pai de Ray é agente da Polícia de Segurança Pública, que ao contrário de 1999 não tem de se preocupar com a guerra das tríades que lutavam aos tiros nas ruas de Macau pelo domínio das salas de jogo VIP.

A mãe trabalha como caixa num dos 39 casinos que sustentam a economia de Macau, fruto da liberalização do sector do jogo, anunciada em 2001 pelo primeiro Chefe do Executivo, Edmund Ho Hau-wah.
Ray vai a meio de uma licenciatura em gestão culinária no Instituto de Formação Turística de Macau, enquanto o irmão mais velho está a estudar em Taiwan. “Ele foi a primeira pessoa da minha família a chegar à universidade”, sublinha.

Fé no futuro

A família do jovem foi uma das muitas a beneficiar da massificação do acesso ao ensino superior em Macau. Na véspera da transição, o ex-governador Carlos Melancia lamentava ao que a educação não tenha sido uma prioridade dos políticos.

Em 1999, apenas 11,4 por cento dos trabalhadores tinham concluído o ensino superior, uma percentagem que disparou para 36,4 por cento em 2018. Apesar do curso ainda ir a meio, Ray tem já uma certeza: “Quero ser padeiro no futuro. Adoro fazer pão, croissants, etc.”

O ‘bichinho’ da culinária surgiu logo aos nove anos. “Havia muitos livros lá em casa e alguns era livros de receitas. Um dia abriu um deles e pedi à minha mãe para me ajudar a fazer um ‘cheesecake’”, recorda.

“Não quero correr grandes riscos, por exemplo abrindo o meu próprio negócio. Ainda terei muito para aprender”, sublinha o jovem.

Além disso, o hábito de comer pão trazido pelos portugueses faz com que haja “muita competição, entre cafés, padarias e pastelarias”, acrescenta.

Ele tem confiança em conseguir facilmente um emprego, por exemplo num dos enormes empreendimentos que juntam casinos, hotéis, restauração e retalho. Afinal, a taxa de desemprego em Macau é de apenas 1,8 por cento e segundo dados oficiais, o sector da hotelaria e restauração tinha no final de Março mais de 4.300 vagas por preencher.

Embora o salário mediano seja de 17 mil patacas, já não chega para comprar um apartamento. “A habitação é um problema muito comum em Macau”, lamenta Ray, que ainda vive com os pais. Só desde 2011 o índice de preços da habitação aumentou 2,5 vezes, o que explica em parte a queda de 5 pontos na percentagem de famílias que detém casa própria.

Numa cidade onde o Chefe do Executivo não é eleito por sufrágio universal, mas sim por um colégio eleitoral com apenas 400 elementos, Ray confessa abertamente “não perceber nada de política”. Mas não tem dúvidas que em 2049, ano em que terminam os 50 anos de transição, Macau “terá ainda mais gente”.

Nos últimos 20 anos a população de Macau disparou de 430 mil para mais de 676 mil, sendo que a cidade recebeu ainda 35,8 milhões de visitantes em 2018. Não admira que Ray aponte o trânsito com um dos maiores problemas de Macau, com mais de 240 mil automóveis e motorizadas a circular.

Cibersegurança | Discussão sobre Comissão terminada

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo apresentou ontem parte do regulamento administrativo que vai definir o modo de funcionamento da Comissão para a Cibersegurança e do Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança (CARIC).

O regulamento administrativo deve entrar em vigor a 22 de Dezembro, no mesmo dia que a Lei de Cibersegurança, devendo ser publicado em Boletim Oficial nos próximos dias. A Comissão para a Cibersegurança vai ser liderada pelo Chefe do Executivo e vai ter como vice-presidente o secretário para a Segurança.

Cibersegurança | Discussão sobre Comissão terminada

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo apresentou ontem parte do regulamento administrativo que vai definir o modo de funcionamento da Comissão para a Cibersegurança e do Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança (CARIC).
O regulamento administrativo deve entrar em vigor a 22 de Dezembro, no mesmo dia que a Lei de Cibersegurança, devendo ser publicado em Boletim Oficial nos próximos dias. A Comissão para a Cibersegurança vai ser liderada pelo Chefe do Executivo e vai ter como vice-presidente o secretário para a Segurança.

Segurança do Estado | Polícia Judiciária vai ter poderes reforçados

A PJ vai passar a ser a única autoridade com competência para investigar os crimes que envolvem a “Segurança do Estado” e vai ter uma linha encriptada para transferir informações com departamentos e concessionárias, em caso de investigações

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) vai ter poderes reforçados com a competência exclusiva para investigar os crimes relacionados com os crimes contra a segurança do Estado e os crimes relacionados com a informática e a cibersegurança. Alguns dos pontos sobre a proposta de alteração da lei que define as competências e poderes da PJ foram ontem abordados, mas como sempre acontece nestas situações, o documento não foi disponibilizado, pelo que não é possível saber o alcance das medidas.

Segundo o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, as alterações visam “proporcionar garantias jurídicas para a execução da lei no âmbito da salvaguarda da segurança do Estado”, “reagir com maior rapidez às novas tendências da criminalidade e “reforçar a capacidade de combate ao crime”.

Na apresentação de algumas das alterações, Leong destacou que competência exclusiva para os crimes de Segurança do Estado é o aspecto “mais importante” das alterações à lei.

A PJ vai passar igualmente a ter uma rede de transmissão de dados encriptada para pedir informações, no âmbito das investigações, aos outros departamentos do Governo, entidades públicas autónomas, como a Fundação Macau, e as concessionárias. Segundo Sit Chong Meng, director da PJ, esta alteração faz com que se deixe de estar dependente do papel e dos estafetas, o que vai informatizar todo o processo e aumentar a velocidade do desempenho. “Pretendemos que haja uma melhor forma de fazer a interconexão dos dados, através de linhas exclusivas e encriptadas para melhorar as transferências de informações, permitindo que a investigação da PJ seja feita de forma mais célere e eficaz”, disse Sit Chong Meng.

O director da PJ não respondeu directamente à pergunta se vai haver um reforço dos poderes ao nível do alcance e dos procedimentos relacionados com pedidos de informações, mas sublinhou que todas as entidades já têm “o dever de colaborar” nas investigações. Sit frisou de igual modo que a PJ apenas pode pedir informações que estão relacionadas com fortes suspeitas.

Concursos secretos

As alterações à lei vão igualmente abrir a porta à contratação secreta de pessoal para a Polícia Judiciária “em casos excepcionais” e autorizados pelo Chefe do Executivo. A PJ poderá assim ficar dispensada de revelar a lista dos candidatos admitidos.

Sit justificou o anonimato dos agentes como forma de melhorar as investigações: “Quando houver investigações de crimes graves ou relevantes temos que ter umas certas garantias para o nosso pessoal e assim permitir uma actuação mais eficaz, na sua intervenção como investigadores”, apontou.

As mudanças apresentadas ontem prevêem igualmente a criação de novas subunidades dentro da PJ que focam a protecção do Estado, como a Divisão de Estudo das Políticas de Segurança do Estado ou a Divisão de Investigação Especial. Além disso, os agentes, mesmo que sem qualificação adequadas, “revelem coragem” podem ascender à categoria de “subinspector ou mais elevada”.

Também ontem foi apresentada a uma proposta de lei de criação de carreiras especiais para a PJ, como as categorias de técnico superior de ciências forenses e técnico de ciências forenses. Outras categorias que vão ser criadas são de inspector chefe, que exige obrigatoriamente uma licenciatura em Direito, e de investigador criminal chefe.

Pearl Horizon | Chui pressionado a resolver o problema

[dropcap]A[/dropcap] Associação dos Proprietários do Pearl Horizon entregou uma carta ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, a pedir que resolva a questão dos lesados do edifício antes de deixar o cargo, em Dezembro, de acordo com o Jornal Ou Mun.

No documento Kou Meng Pok, presidente da associação, aponta que há mais de três mil proprietários lesados com a não construção do empreendimento do Pearl Horizon, mas que apenas dois mil foram registaram para poderem receber uma casa no mesmo terreno, onde era previsto ser concluído o empreendimento de luxo.

Esta situação, segundo Kou, deve-se ao facto de muitos proprietários não terem feito o registo dentro do tempo previsto. A associação queixa-se igualmente, de que independentemente do número de fracções compradas, cada proprietário só pode receber um dos apartamentos disponíveis para troca.

Assinado novo acordo comercial com a China para maior liberalização

[dropcap]C[/dropcap]hina e Macau assinaram ontem um novo acordo que reforça a liberalização do comércio a partir de 1 de Junho de 2020, anunciaram as autoridades em comunicado. O acordo vai aprofundar “o intercâmbio e a cooperação entre as duas partes em matéria económica e comercial, em prol do apoio e incentivo à participação dos vários sectores sociais de Macau na construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, indicou a mesma nota divulgada pelo gabinete do secretário para a Economia e Finanças.

O documento assinado pelo vice-ministro do Comércio chinês, Wang Bingnan, e o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, no âmbito do Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais (CEPA), “favorece a promoção do desenvolvimento da diversificação adequada da economia de Macau”, acrescenta-se.

O conteúdo “foi reorganizado e sintetizado”, conferindo uma “maior liberalização com base nas medidas existentes aplicadas nos sectores de serviços, em função dos vários fatores atuais, nomeadamente as alterações verificadas no ambiente económico internacional, as tendências das políticas de investimento do interior da China e o progresso de cooperação económica e comercial entre as duas partes”.

Entrada facilitada

Tudo isto, “produz efeitos positivos e incentivos para (…) Macau entrar no mercado do Interior da China”, já que se aumenta o número de serviços (62 para 69) aos quais é concedido “completo tratamento nacional”.

Ou seja, os prestadores de serviços da região Administrativa Especial de Macau (RAEM) passam a ter um acesso ao mercado comercial do Interior da China, beneficiando das mesmas condições de acesso que os investidores chineses.

Por outro lado, as alterações ao anterior acordo prevêem medidas de liberalização comercial que serão concretizadas “de forma pioneira na Grande Baía”, o projecto de Pequim para criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong.

Finalmente, foram ainda definidas outras medidas que visam “elevar o grau de liberalização no sector financeiro” para “criação de um ambiente de investimento mais favorável para os bancos e as empresas seguradoras de Macau”, pode ler-se no comunicado.

Escolas | Governo mantém dúvidas sobre destino do espólio de privadas

O destino dos dinheiros públicos em caso de falência ou mudança de regime por parte de escolas privadas apoiadas pelo Estado continua a levantar questões à 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Chan Chak Mo disse que o Governo “não ponderou seriamente todos os detalhes” e que deverá, por isso, reunir com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) para aperfeiçoar a proposta de lei com base no código civil

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo deve promover uma reunião com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), no tratamento da Proposta de Lei do Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior, para ser “trabalhada a nível legal”, sobre o destino a dar ao património investido pelo Estado nos casos de falência das instituições. É este o entender da 2ª comissão permanente da AL, presidida por Chan Chak Mo, que orientou ontem os trabalhos de discussão da medida, naquela que foi a primeira reunião que contou com a presença de representantes do Governo, já depois de, no mês passado, o Executivo ter entregue à comissão a terceira versão do diploma.

No seguimento da reunião da passada segunda-feira, e de a comissão já ter debatido a proposta de lei no sentido de assegurar que, mesmo em caso de falência, as escolas têm uma forma de cobrir as despesas até ao final do ano lectivo, para que alunos e corpo docente não sejam prejudicados, Chan Chak Mo disse ontem que o Governo não prevê com clareza “em que circunstâncias pode intervir” e qual é, ao certo, o “destino do património da escola” nos casos não previstos na lei.

Isto porque, explicou o presidente da 2ª comissão permanente, durante o processo de falência “a escola pode transferir ou converter o seu regime de local para não-local” e para estes casos a proposta mostrou não antecipar todos os problemas já que, neste momento, “não prevê que a escola em situação de falência, tenha de devolver o dinheiro investido pelo Estado antes de converter o seu regime”.

“Sobre este tema não existe qualquer precedente e, para nós Comissão, o Governo supôs que isto nunca poderia acontecer porque, caso contrário, seriam demasiados problemas para resolver. No entanto, achamos que a lei tem de prever tudo isto, desde a conversão do sistema local para não-local ou o próprio enquadramento da escola, como sendo com ou sem fins lucrativos e também qual o destino dos bens da escola”, frisou Chan Chak Mo.

Dinheiro de todos

Entendendo que, como o tema envolve o uso de dinheiros públicos e abarca alguma complexidade a nível legal, a comissão presidida por Chan Chak Mo considerou que a proposta de lei devia ser revista pelo Governo com base no código civil, devendo integrar os contributos da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ).

“Porque achamos que a proposta de lei tem de ser trabalhada a nível legal sugerimos que os serviços de educação do Governo entrem em contacto com a DSAJ para ponderar todas estas questões e tentar encontrar uma solução para clarificar todas as lacunas”, explicou Chan Chak Mo. “O Governo não ponderou seriamente e de forma detalhada esta questão que, na nossa opinião, tem de ser tratada, não só pelos serviços de educação, mas também com a justiça, pois há que articular esta proposta de lei com o código civil”, concluiu.

O Governo pondera agora, segundo Chan Chak Mo, acatar a sugestão da Comissão para reunir com a DSAJ e incluir assim no diploma “certas cláusulas que visam garantir a boa utilização do erário público”.

Escolas | Governo mantém dúvidas sobre destino do espólio de privadas

O destino dos dinheiros públicos em caso de falência ou mudança de regime por parte de escolas privadas apoiadas pelo Estado continua a levantar questões à 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Chan Chak Mo disse que o Governo “não ponderou seriamente todos os detalhes” e que deverá, por isso, reunir com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) para aperfeiçoar a proposta de lei com base no código civil

 
[dropcap]O[/dropcap] Governo deve promover uma reunião com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), no tratamento da Proposta de Lei do Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior, para ser “trabalhada a nível legal”, sobre o destino a dar ao património investido pelo Estado nos casos de falência das instituições. É este o entender da 2ª comissão permanente da AL, presidida por Chan Chak Mo, que orientou ontem os trabalhos de discussão da medida, naquela que foi a primeira reunião que contou com a presença de representantes do Governo, já depois de, no mês passado, o Executivo ter entregue à comissão a terceira versão do diploma.
No seguimento da reunião da passada segunda-feira, e de a comissão já ter debatido a proposta de lei no sentido de assegurar que, mesmo em caso de falência, as escolas têm uma forma de cobrir as despesas até ao final do ano lectivo, para que alunos e corpo docente não sejam prejudicados, Chan Chak Mo disse ontem que o Governo não prevê com clareza “em que circunstâncias pode intervir” e qual é, ao certo, o “destino do património da escola” nos casos não previstos na lei.
Isto porque, explicou o presidente da 2ª comissão permanente, durante o processo de falência “a escola pode transferir ou converter o seu regime de local para não-local” e para estes casos a proposta mostrou não antecipar todos os problemas já que, neste momento, “não prevê que a escola em situação de falência, tenha de devolver o dinheiro investido pelo Estado antes de converter o seu regime”.
“Sobre este tema não existe qualquer precedente e, para nós Comissão, o Governo supôs que isto nunca poderia acontecer porque, caso contrário, seriam demasiados problemas para resolver. No entanto, achamos que a lei tem de prever tudo isto, desde a conversão do sistema local para não-local ou o próprio enquadramento da escola, como sendo com ou sem fins lucrativos e também qual o destino dos bens da escola”, frisou Chan Chak Mo.

Dinheiro de todos

Entendendo que, como o tema envolve o uso de dinheiros públicos e abarca alguma complexidade a nível legal, a comissão presidida por Chan Chak Mo considerou que a proposta de lei devia ser revista pelo Governo com base no código civil, devendo integrar os contributos da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ).
“Porque achamos que a proposta de lei tem de ser trabalhada a nível legal sugerimos que os serviços de educação do Governo entrem em contacto com a DSAJ para ponderar todas estas questões e tentar encontrar uma solução para clarificar todas as lacunas”, explicou Chan Chak Mo. “O Governo não ponderou seriamente e de forma detalhada esta questão que, na nossa opinião, tem de ser tratada, não só pelos serviços de educação, mas também com a justiça, pois há que articular esta proposta de lei com o código civil”, concluiu.
O Governo pondera agora, segundo Chan Chak Mo, acatar a sugestão da Comissão para reunir com a DSAJ e incluir assim no diploma “certas cláusulas que visam garantir a boa utilização do erário público”.

Sara Medina e João Medina, Sociedade Portuguesa de Inovação: “A China é um processo contínuo”

Sara e João Medina, da consultora Sociedade Portuguesa de Inovação, empresa nascida no Porto e com representação em Pequim desde 1999, estabelecem ligações entre empresas, centos de inovação e universidades na busca da internacionalização. A China é um dos mercados preferenciais. Em entrevista ao HM, os primos confessam não notar efeitos da guerra comercial nas suas operações e acham que Macau precisa recriar a sua marca junto dos empresários portugueses

 

Qual o peso da China na operação da Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI)?

 

[dropcap]S[/dropcap]ara Medina: Temos apoiado empresas europeias na internacionalização para a China, principalmente nas áreas da transferência de tecnologia, ligações com universidades e centros de investigação, apoio na candidatura a programas de financiamento. Também damos apoio a empresas chinesas que se queiram internacionalizar para os Estados Unidos, Europa e Brasil. Neste momento, estamos a criar uma rede de centros de investigação e inovação na China, um projecto que se chama Enrich in China, com parceiros muito interessantes, nomeadamente a Universidade de Tsinghua, o Governo chinês com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, a Universidade de Nottingham, entre outros parceiros europeus. O objectivo é trazer investigadores, start-ups e PME da Europa para a China, promover toda a área de cooperação e transferência de tecnologia e ajudá-los na ligação com centros de investigação, com universidades, para estabelecerem parcerias tecnológicas.

Uma das questões em termos de internacionalização empresarial para a China é a abertura, ou falta dela. Como têm sentido essa abertura nos últimos 20 anos?

SM: Trabalho com a China desde 2003, há 16 anos. A China é um processo de aprendizagem. Muitas empresas chegam cá numa missão empresarial e acham que trabalhar com a China se pode fazer à distância. Mandam uns emails de follow-up, os emails nunca são recebidos, não têm WeChat. A China é um processo contínuo e é um processo de investimento. É necessário vir cá muitas vezes, nomeadamente numa fase inicial, de dois em dois meses, de três em três meses, e estabelecer relações de confiança. A parte do trust, das relações pessoais é essencial no desenvolvimento de negócios com a China. Penso que isso é algo em que os empresários, nomeadamente os portugueses, pecam. Vêm cá uma vez e acham que podem dar seguimento a qualquer tipo de colaboração através de email.

Como tem sido a vossa ligação com o Governo de Macau?

SM: Desta vez os contactos têm sido mais com universidades, incubadoras de empresas, Fórum Macau, escritórios de advogados. Não tivemos nenhuma reunião directa com o Governo. Tivemos no passado. Não temos tido uma colaboração muito estreita com o Governo de Macau, acabamos por fazer muito trabalho no Interior da China e os projectos que temos financiados pela Comissão Europeia têm se focado mais na China.

Qual o papel de Macau nas operações da SPI?

SM: Agora vemos Macau com bastante potencial e mais actividade em projectos ligados à inovação, turismo, estratégias de especialização inteligente e start-ups, devido às ligações fortes da Grande Baía e Delta do Rio das Pérolas. Existe a influência do Governo Central em querer promover a integração e o potencial de Macau nesta ligação.

João Medina: O potencial de Macau precisa de um rebrand em Portugal. Macau como porta de entrada para a China é visto tradicionalmente como um sítio para ir vender umas garrafas de vinho e azeite e escoar para a China porque eles são muitos milhões. Macau nestas áreas de maior valor acrescentado, com componente tecnológica e de inovação não aparece hoje em dia no radar. Pode não ser fácil entrar no radar. Nessas áreas, os empresários podem ir directamente a Pequim ou Xangai. Mas, hoje em dia, com esta dinâmica da Grande Baía, esse paradigma pode mudar um pouco, com este projecto poderia haver maior ligação a Portugal nas áreas tecnológicas e científicas. Pelo que vi nestes dias, existe aqui um grande potencial e muitos recursos. Mas os recursos não funcionam na lógica do paraquedista, do “chego aqui e vou-me embora”, é para quem queira fazer alguma coisa aqui em Macau, que tenha benefícios para si, para Macau e para a China.

Que dividendos têm tirado do projecto da Grande Baía, como vêm esta aposta do Governo Central?

JM: Aqui na China, não estamos só na lógica de réplica do que é feito nos Estados Unidos, ou noutro local. Existe já um frontline na China que serve de exemplo noutros sítios. Shenzhen é um exemplo disso. Os transportes públicos, táxis e grande parte dos veículos são eléctricos, algo surpreendente para alguém que vem de Portugal, onde existe um certo preconceito de superioridade. Saíamos do hotel e metemo-nos no trânsito silencioso. Importa acompanhar estas tendências, porque vão ser tendências mundiais. As diferenças para a China são significativas, mas a aprendizagem é importante. Outro aspecto muito criticado na Europa é o ambiente. Mesmo aqui ao lado, Zhuhai tem na sua envolvência uma quantidade invejável de parques urbanos, espaços verdes e parques naturais. Estamos a falar de uma população de alguns milhões, coisa pequena para a China, mas significativa para a Europa. Importa também transmitir essa imagem mais positiva da China e os intercâmbios que a SPI promove em ciência e tecnologia são muito importantes para que haja esse conhecimento mútuo. Porque o desconhecimento pode gerar o preconceito. Essa aprendizagem é importante.

A guerra comercial entre Washington e Pequim tem afectado a vossa actuação? Sentiram algum impacto?

JM: Dou um exemplo profissional. Estamos a fazer um parque de ciência e tecnologia em Cabo Verde. Lá, um pequeno país africano, a cooperação com a China é significativa. Todas as escolas secundárias têm um laboratório de informática e robótica oferecido pela Huawei. Se alguma vez Cabo Verde tiver de escolher um lado na área da tecnologia, é fácil perceber qual vai ser. Se isso acontecer também na generalidade dos países africanos, nos países asiáticos e na América Latina, sabemos que a China tem pontos muito fortes nesta guerra comercial. Portanto, provavelmente as coisas vão-se resolver à chinesa, de uma forma soft, a longo-prazo e sem aparecer nos telejornais. O que é absolutamente o oposto do que temos do lado americano, sobretudo com Trump. Saindo de portas e, se calhar, de um mainstream europeu e americano, as realidades próximas da China são enormes.

SM: A Europa só pode ganhar com isso, porque também já se nota uma maior abertura da China para entidades e empresas europeias que se queiram estabelecer aqui na China.

Recentemente, Bruxelas reagiu negativamente a alguns projectos ao abrigo de “Uma Faixa, Uma Rota”, por estarem em causa sectores fundamentais de alguns estados-membros, como Portugal. Como entendem esta posição?

JM: Nos nossos projectos maiores com a China a prática é diferente desse discurso. Prevalece a colaboração e reforço das parcerias com a China na área da ciência e tecnologia. Há vários anos que temos projectos com este tipo de objectivo e continuam a existir e a incluir a China e algum privilégios nas relações com a Europa. Numa opinião pessoal, e saindo das actividades da SPI, com a Europa de hoje em dia com governos mais conservadores e de direita é natural que haja uma maior tendência para o proteccionismo. Além disso, estes governos também podem ter uma visão crítica e preconceituosa em relação à China. Isso, se calhar, na política irá notar-se, nos negócios pode ser que sim, pode ser que não.

E desvalorização da moeda e desaceleração da economia chinesa? Sentiram algum impacto na operação da SPI?

SM: Desde de 2003 que venho à China. Nota-se, por exemplo, nas regiões de Pequim e Xangai que por volta de 2006 estavam a florescer. Ao nível do crescimento económico tem havido abrandamento, mas a China continua a crescer com valores muito interessantes. Da nossa parte, não tivemos impacto, continua o interesse de entidades europeias em internacionalizar para a China. Continua o interesse e o financiamento da Comissão Europeia.

Jurista Paulo Cardinal apresentou livro sobre Direito Parlamentar de Macau

[dropcap]A[/dropcap] abertura do Governo para alterar as propostas de lei e aceitar as sugestões dos deputados depende em grande parte da personalidade dos secretários. A revelação foi feita pelo jurista Paulo Cardinal, que trabalhou vários anos na Assembleia Legislativa (AL), e que ontem apresentou a sua obra: “Lições de Procedimento Legislativo no Direito Parlamentar de Macau”, na Livraria Portuguesa.

Foi numa altura em que se falava dos processos informais, principalmente durante as reuniões das comissões à porta fechada, e como os deputados recorrem a esses métodos para proporem e debaterem as propostas com o Governo, que Cardinal fez a revelação. “Há secretários que aceitam de bom grado as sugestões e que estão nas comissões para melhorarem a legislação de Macau. Há outros que dizem: alterações? ‘Era o que mais faltava’”, apontou.

Este tópico tinha sido lançado na sessão pelo também jurista Pedro Sena, que está de saída da AL, e que indicou que os deputados não se limitam apenas a carimbar as propostas do Governo, mas que as conversas decorrem nas comissões onde criticam e apontam o caminho para melhorar as propostas.

Os dois juristas concordaram que este sistema está longe de ser perfeito, mas que acaba por ser uma alternativa face ao facto de não haver por vias formais um grande debate. Porém, Cardinal considerou que os legisladores esperam “uma graça régia”, por parte do Governo, quando sugerem alterações.

Mais limitações

Sobre o papel legislativo dos membros da AL, Cardinal defende que há cada vez mais limitações, que resultam não só das alterações de 2015 e 2017 ao regimento, regras que regulam o funcionamento do hemiciclo, mas também da forma como é aplicado. “Em termos da palavra dos deputados, há limitações que têm impacto no processo legislativo, criando uma espécie de desigualdade entre o estatuto do projecto de lei [com origem nos deputados] e a proposta de lei [origem no Governo]. Isso a meu ver é negativo e não está de acordo com as normas da lei básica”, sustentou.

“A forma como o regimento é aplicado e ultimamente, e foi aplicado em algumas situações, não estava em conformidade com o regimento, nomeadamente, a não aceitação do projecto de lei relativo à Lei de Terras e a recusa de admissão de propostas dos deputados de alteração ao direito de Reunião e Manifestação e à lei dos idosos”, apontou.

O livro “Lições de Procedimento Legislativo no Direito Parlamentar de Macau” já estava à venda há seis meses. Na sessão de ontem, a obra esgotou com vendas superiores a 30 exemplares e o piso inferior da Livraria Portuguesa encheu por completo.

Felizes para sempre

[dropcap]O[/dropcap] casamento sugere que encontrámos a pessoa perfeita para as nossas vidas, e que vamos viver felizes para sempre. Há quem queira ser romântico e veja o casamento como a prova última do amor. Tal como o tamanho do anel de noivado, ou o tamanho do gesto romântico que um pedido de casamento implica. Os preparativos, a festa, os convidados ou o dinheiro que se gasta, realça que não há nada mais romântico do que partilhar a vida com alguém para sempre. Mas também não há nada mais assustador do que partilhar a vida com alguém para sempre.

O casamento transforma-nos nesse alguém. Um peão numa díade de intimidade. Ganha-se um título que será vivido em função das expectativas monogâmicas vigentes. Todos os rituais maritais e pré-maritais são importantes para o luto dos amores que não se viverão. Não que a monogamia não exista no pré-casamento, mas a ligação torna-se mais rígida. Tornamo-nos fiéis àquela relação num contrato legal e religioso que é tido como um sinal de maturidade. Como os católicos dizem, um vínculo de estabilidade para lidar com o(s) pecado(s) do mundo.

A teorização religiosa do casamento é bastante complexa. O casamento serve um propósito. Mas para os não-religiosos o casamento parece ainda ser um ritual irreflectido, como o Natal para quem não acredita no menino Jesus. Um passo burocrático para os que querem poupar nos impostos, ou uma forma de garantir residência na instabilidade das geografias actuais. Um rito de passagem para um caminho prototípico.

Nascemos, crescemos, encontramos alguém para sexar para sempre, e morremos. A simplicidade da vida parece incluir este contrato e torna-se num objectivo de vida porque o contruímos como um objectivo de vida. Só que a naturalidade do processo revela a dificuldade do processo também. O casamento sobreviveu até aos dias de hoje com base em expectativas heteronormativas de família, e em muitos lugares do mundo, outras formas de família ainda não são vistas como legítimas para este vínculo. O casamento, apesar de necessitar de uma reinvenção, ainda não é um direito de todos. Talvez quando for, é que poderemos abalar o conceito.

A ideia de que a felicidade vem com o casamento, ou uma relação íntima estável, monogâmica e duradoura, precisa de ser mais flexível. Para fugir ao estigma que ser solteira implica, recentemente a Emma Watson autodenominou-se de self-partnered, i.e., parceira de si própria. A procura de legitimidade de estados solteiros saudáveis e felizes precisa de ser incluída no diálogo da vida adulta também. Uma vida madura e relacional não se pode limitar a um namoro estável ou ao casamento. Despirmo-nos destas expectativas é despirmo-nos de ideias pré-históricas de que estamos programados para um único curso de vida.

‘Supostamente’, as pessoas organizam-se em parelhas porque é melhor existirem duas pessoas de vinculação segura para a sobrevivência da espécie (neste momento, combater as alterações climáticas será mais eficaz à sobrevivência da espécie, mas essas são outras conversas). Da mesma forma: a parentalidade, que muitos acreditam ser essencial à existência, não precisa de ser.

As novas formas de vida, seja sozinho, com amigos, ou com os gatos, são formas legitimas de felicidade. É importante começar a reescrever narrativas para desconstruir a pressão social de certos rituais – ao entendermo-los à luz das expectativas individuais e colectivas. Cabe a cada um de nós perceber como é que o casamento faz parte de um plano de felicidade, ou como a ausência de casamento também pode fazer parte de uma vida completa e satisfatória.

Democracias há muitas

[dropcap]A[/dropcap] questão da democracia tem muito que se lhe diga, é certo, mas é muito mais importante é o que se faz. Um exemplo que vem de dois países europeus com posturas radicalmente diferentes perante o mundo.

O primeiro é Portugal que, mal conseguiu implantar um regime democrático, teve como preocupação central acabar com as colónias, na medida em que a sua existência repugnava aos nossos dirigentes. Demos imediatamente a independência a todas chamadas províncias ultramarinas, se calhar nem sempre respeitando os “timings” correctos, mas a verdade é que fomos dignos de usar o nome de “democratas”.

Já a Inglaterra, que é suposto ser uma democracia há muito mais tempo, agarrou-se o mais possível às suas possessões ultramarinas e criou sempre problemas de modo a dizer-se que depois da sua saída (geralmente forçada) era o caos. De forma iníqua, pois os ingleses sempre acreditaram firmemente na sua superioridade em relação a “brancos” e, sobretudo, “não brancos”, quiseram sempre manter as relações coloniais com os que consideravam súbditos ( e não cidadãos, tanto que nunca outorgaram cidadania aos colonizados) da sua esclerosada rainha.

Daí também que Macau nada tenha a ver com Hong Kong e que por aqui reine há muito tempo o princípio “um país, dois sistemas” e é de tal forma bem sucedido que ninguém (ou quase) dá por ele. Há que afastarmo-nos das influências perniciosas da ex-colónia britânica se aqui queremos sobreviver como comunidade. Tal qual fazemos há cinco séculos, muito antes dos ingleses saberem que a China existia.

Diários Turcos (I)

[dropcap]O[/dropcap] que é que jantámos na nossa primeira noite em Istambul? Pizza. Very typical. Na recepção, um senhor chama-me umas seis vezes pelos nomes do meio, como se fossem um só e ele não conseguisse ler nem o meu primeiro nem o meu último nome.

Chego, sento-me no sofá contemplando a hora de jantar.

— Então, Gisela, que fazes?
— Estou apenas…
— Estás a rir sozinha?

Estava a olhar para o telemóvel. Éramos cinco à mesa. Alguém me chamou. Levantei o rosto e duas pessoas queriam oferecer-me uvas. Uma tinha duas, roubadas à que tinha umas dez num cachito. Sem saber o que fazer, perante aqueles olhares ansiosos e braços estáticos, aceitei tudo. Um outro interveniente disse, de quem tinha mais, “Ele só queria oferecer-te uma.” Rimos. La Fontaine revisitado.

Nos lavabos públicos, rapazes adolescentes e homens descalçam-se e lavam os pés, recolhendo os casacos pendurados à saída. Em sua casa, Zafer dispensa-nos de descalçar os sapatos, por cortesia. Chove e faz frio, mas nem isso impede os gatos de frequentarem a universidade à noite. Somos revistados à entrada dos museus e dos centro comerciais. Fotografo a Lígia no meio de oito chineses, cinco de um lado e três do outro, todos sentados e ela no meio. Quase todos me olham ao mesmo tempo sem combinar e sem desviar a atenção, como se nos conhecêssemos. Fotografo a Lígia a descalçar-se cinco vezes por entre túmulos e mesquitas; por vezes há um extintor ou uma roseira a compor o quadro. Dizem-nos “Quero saber a vossa religião. São cristãs? Porque eu sou muçulmano mas não sou um terrorista.” Mais tarde, numa escola, perguntar-me-ão se sou muçulmana. Mais tarde, numa igreja e numa escola, alguém levará a mão ao peito em vez de no-la apertar, deixando-nos penduradas e perplexas. Zafer disse-me, ontem: “Ainda não te sentiste estrangeira aqui.”

À hora de almoço:

— Isto é tão bom, lembra-me algo.
— É leite condensado cozido.
— Pois é.
— Comemos quando alguém morre.
— Então… Quem morreu?

Finalmente cedo e digo, numa sessão escolar e em turco, que İsmet Özel (cuja obra desconheço) é o maior poeta turco. A multidão vibra. Yaya diz-me, através de notas num bloco que ainda tenho, que Rıdvan lhe confessou que quer casar comigo, porque o fiz feliz ao dizer esta frase que me vinha repetindo há dias. Há uma foto do momento preciso em que leio essa frase e rio: é uma das melhores fotos desta viagem.

No aeroporto:
— Eventualmente todos os turcos vão embora.
— Excepto tu.

No palácio:
— É pá, a bandeira e todas estas luas lembram a Sailor Moon, não achas?
— Pois é.

Ao fim de um tempo teríamos de ceder às casas de banho à la Bairro Alto. Nem sei como demorámos cinco dias a atingir este marco.

Domingo a Turquia fez anos. Segunda, fiz eu.

Já me perguntaram algumas vezes se estou aborrecida. Normalmente é quando me calo. Ou há pouco, porque estava em pé lá na rede expressos enquanto fazíamos tempo. Acho que é isso que querem dizer porque fazem a pergunta ao contrário, perguntam, “Estás a aborrecer-nos?”. Espero que não. Respondo que nunca me aborreço e que dentro da minha cabeça estou sempre bastante entretida. A Esra, a nossa intérprete, anui com a cabeça e sorri, acho que começa a conhecer-me.

No autocarro para Gaziantep, agora somos nove, (comento com a Lígia que isto é a Sete Rios cá do sítio) sentados à espera que parta, e estou a tagarelar fluentemente, como sempre. Dizem-me, “Esta avó…” e eu penso, deve querer que eu me cale, afinal só se ouve a minha voz, “…Diz que te ama.” Gargalhada geral, e a senhora vai repetindo os seus afectos instantâneos em turco. Vão ser umas lindas seis horas de viagem.

Novos diálogos de Konya:
— Este catering só no Alfa.
— Wifi no expresso para Melgaço.

A Lígia bate-me ao de leve no ombro. Passa-me um phone. Notorious B.I.G, “Big Poppa”. Gosto desta miúda. Estamos um pouco lost in translation, tempo e espaço. Já não sabemos bem que dia da semana é nem que horas são em Portugal. Ao telefone a minha amiga diz que são quatro da tarde. Aqui, sete. Não há horário de Inverno, só o Inverno em si. No meio de nenhures, paramos rapidamente pela segunda vez. Desta vez saímos. O rapaz das uvas não fala inglês. Oferece-me o maço. Eu não fumo, digo (pensava que já teriam reparado por esta altura, considerando que sou realmente a única que não fuma). Porquê?! Pergunta um outro. Ouvem-se tambores. Dizem-me que é uma celebração, uma despedida, um rapaz vai para o exército, como é costume aqui quando aos vinte ainda não se foi para a universidade. WC Bayan é casa de banho das senhoras. Dão-me uma moeda para a mão. A sério? Olá, Santa Apolónia nos anos 90, com porteiro e guichet nos lavabos. Por algum motivo agora só me apetece ouvir Beatles: “Here, there and everywhere.” Seguimos caminho.

Todos os mapas vão dar ao destino

Metro, Lisboa, 13 Novembro

 

[dropcap]A[/dropcap]li por alturas do Rossio tudo me desapareceu menos as lágrimas não devia ter sido em dia treze para brutos que nem nós desacreditando nas superstições rindo ainda que conservando pedra de desconfiança no sapato que las hay las hay nosotros que enfrentamos mistérios saltando sobre eles com o pára-quedas da inteligência e da desconfiança mesmo deixando aberta a janela tem um canivete e o bombeiro perguntava com calma tão parva quanto a pergunta e de súbito a porta ao lado a de velho serviços neonizou-se qual entrada veloz de cabaré a porta desfeita chão ruído e vermelhos equipados e brancos e até azuis-celeste por que raio deve a polícia vestir o céu dançando de rompante mano o chão feito planície fria e infinda o eco do mano a brilhar nos teus olhos a procurar outro território menos frio respondendo à graça deslocada com sporting dentro fagulha de entendimento sem ninguém aceitar que se sentia o sopro daquela que deles se alimenta fugia-te o dia da semana mas não o nome sempre completo e fardado todos os dias fugiam debaixo dos nossos pés o chão mano e olhas com a mão esquerda procurando a que te desobedecia e as perguntas e o exército inteiro a sugerir isto e aquilo e hospitais nosotros agarrados à alegria de respirares chovia a dos tolos tantos carros e luzes e sons por ti provocados quando querias discrição silêncios feitos tranquilidade bálsamo da raiva contra a bruta injustiça a impotência saltando com o pára-quedas da inteligência a falhar o oxigénio a gastar-se e a descompreendermos o tecido do possível a desejares coreografia romântica de final em tons de branco o lençol monta uma dignidade mínima e da cor da maca sobre a qual aceitas as orientações rendes-te a novas hierarquias sem patente óbvia deixas-te ir sob a chuva de tolos a coreografia dos gestos em câmara demasiado lenta que mais tarde quereremos esconder mais as preparações a triagem os exames e as seringas e o que não vemos mais a vontade evaporando o chão mano telefonemas de longe a família alargando-se em vasos oxigenando os cuidados não ris estás por fim o doente que não querias nunca ser uma bandeira sobre ataúde de formas macias ainda não o pressentíamos apesar de tudo apesar dos pesares trouxeste do sul a morena alegria de estar à mesa de contar histórias e alimentar indignações tanto sabias que nenhum nome te escapava construías pontes a cada conversa ligavas por fios cada membro das famílias dos podres poderes e segredos antecipavas escândalos mais para o recente quando o entorno se desagregava homens maduros soltaram lágrimas convulsivas no meu ombro tocaste tantos com generosidade fértil outros te foram falhando mas carregaste forno fogão capaz de cozinhar vanguardas soubera eu então que antecipava recentes apetites mano o chão feito céu forma nuvens esse derradeiro que não adivinhávamos futuro feito presente desfeito aprendeste a múltipla combinação dos sabores que apuraste desde essa inusitada vez que mulheres e filha gastavam noite em hospital enquanto nos perdíamos em refeição e palavra nas quais se resume a passagem por dias talvez curtos que me faltaram para te entender que algo ficou por alinhavar dureza de uns e alegria de outros momentos dançando ao redor desenhando contornos desenhados à mão no nada no céu negro havia lua havia branco na palavra urgências haverá sempre o teu riso rasgando céus e um gesto de mãos ágeis um peito a dizer parede um olhar parceiro chão mano por que raio o chão as campainhas a tocar tarde sem respeitar as convenções sempre foi assim sempre será a memória de dedo na beira da porta a mandar abrir para discutirmos sem concordância possível a mais saborosa das discordâncias não fui ao Lobito contigo fui tantas vezes ao Lobito contigo acreditavas que as minhas palavras poderiam ser chão esticando a distância e mergulhando fundo contraindo-se ou estendendo horizontes abracei-te feliz tantas as vezes no casamento que foi esperança trouxeste-me no braço no colo a tua irmã enquanto a miúda azamboava ainda sem birra a miúda em Praga de azul com a avó as mudanças a dança e a dança das casas e o mar os barcos que nunca te satisfizeram os mapas que amavas e teimavas que captasse cada detalhe da geometria ainda ontem te liguei para te entusiasmar com mapa que o Tubarão da Brandoa acabava de resgatar ao pó do esquecimento o chão mano por que raio o chão frio os pulmões a arder a mansidão esculpida nos lábios última imagem para esquecer o teu olhar sem latitude nem longitude nunca fomos ao Lobito mas tatuámos Alentejo na pele toda deste-me a mão ágil a esquerda e disseste no intervalo de navalha tem canivete estou fodido não perguntavas nem afirmavas talvez te conformasses estou fodido olhando-me a lua brilhava e não merecias aquele corredor de campanha a inteligência ardia e as minhas lágrimas serviam de pouco onde descarrilaram as linhas do destino não fui ao sul contigo mas desenhámos mapas com os nossos passos bebi do teu entusiamo a servir uma ideia uma réstia que fosse uma razão que alimentasse a fogueira de certa maneira de erguer corpo em uníssono em grupo nunca deixaste de me oferecer música e mesa de abrir a porta o telemóvel lá dentro a tocar tem um canivete a chave na porta a lua esta porta cede merecias uma mão novo projecto para além das geografias das seguranças das defesas das estratégias falhámos-te ficámos a dever-te a empresa onde te cumprires tu que colocavas as ideias sobre arame de funâmbulo a iluminar possibilidades um saber ágil que não sei dizer não sairá daqui retrato nenhum ziguezagueaste nos múltiplos amparos e nenhum te devolveu a possibilidade tantas curvas na derradeira viagem o dia caindo chuva de tolos a dança no miolo do socorro motorizado os médicos perguntando sem um brilho de inteligência sabendo tu quanto havia por saber acerca dela a que se alimenta do bafo não devia ter sido a treze aprendi a soletrar família de mil maneiras contigo assim o mar a desfazer-se vezes sem conta a pedir atenção e a devolver milhentas maneiras vou voltar-me de súbito ver-te em cada instante a esbanjar orgulho as casas de portas abertas o aroma do café os copos os inesgotáveis serviços de peças partidas e prestes a quebrar o caril a perfumar as palavras para prazer de novo o movediço intervalo entre engenhoso previsto para a nação e um sentido gritante do indivíduo um sabre oferecido a bússola perdida a raiva do incumprido em lume brando além da iniquidade do mal que nos possui que nos risca os mapas o chão

Aqui, Rádio Cabeça

[dropcap]Q[/dropcap]ue o mundo não está a facilitar a vida já nós o sabemos. Calamidades sortidas, raiva e desespero abundam numa altura em que os seres humanos preferem construir trincheiras onde deveriam existir pontes. Enfim, o leitor saberá porque para o saber basta estar vivo. Mas nada nos prepara, acreditem, para acordar com uma canção dos Supertramp a bailar-nos na cabeça. Nada.

Aconteceu-me a mim. Sem pretexto ou causa à vista, uma pessoa abre penosamente os olhos à realidade e leva como banda sonora o It’s Raining Again, vinda das profundezas de nós. Com a letra completa, por Deus.

Aqui chegado terei de pedir desculpa aos admiradores desta banda mas não me incluo entre eles. De facto, acho a canção que me perseguiu durante todo o dia – e ameaça, insidiosa, regressar à medida que escrevo estas palavras – uma estupenda pepineira. Opiniões, claro. Mas para o que para aqui interessa é que não a ouvia há décadas. Procurei na memória a razão deste fenómeno: teria sido uma conversa, um excerto da canção ouvido ao acaso numa rádio, uma viagem de táxi mais traumática? Zero. E o problema é que não é a primeira vez e nem sequer a pior. Recentemente dei por mim no duche a cantar uma única frase de um anúncio (“Dreams/are my reality” lalalala….Um tormento). Mas aqui identifiquei a raiz do mal: tinha sido exposto ao anúncio na internet e daí ter retido este naco precioso que veio macular o meu repertório ducheano (que inclui êxitos obscuros como o magnífico Baby I Don’t Care, de Elvis Presley. Obrigado por não perguntarem). Já com a canção supracitada o mistério permanece.

O fenómeno, no entanto, é comum. O leitor já terá sofrido semelhante flagelo, dando por si a certa altura com o conhecimento involuntário da obra completa de Quim Barreiros ou coisa semelhante. E esta condição tem nome: Stuck Song Syndrome (Síndrome da Canção Encalhada, numa tradução colorida). Está bem identificada por psicólogos, psiquiatras e neurocientistas que associam o fenómeno a earworms (ou, na maravilhosa tradução de Miguel Esteves Cardoso, otovermes) que podem disparar estas pérolas dos confins do nosso inferno. Segundo o British Journal of General Practice, os otovermes estão associados à memória mas também a situações de stress. O mais impressionante é que quanto mais o cérebro tenta parar essa informação mais ela se torna mais forte, num loop interno criado pelo próprio Satanás. No limite são sintomas de Perturbação Obsessiva Compulsiva mas em 98 por cento dos casos é uma situação perfeitamente normal e não patológica.

Pois sim, acredito. Mas não o mereço. Porque é que a mesma condição não me leva a recordar todas as deixas de Clifton Webb no filme Laura, ou todos os aforismos de Wilde ou um detalhe soberbo de uma pintura de Caravaggio ? Com isto poderia eu viver bem durante todo o dia. É por isso que apelo à comunidade científica que prossiga com afinco os estudos sobre o mais negro e misterioso órgão do ser humano: o cérebro. É uma questão de prioridades, de saúde pública. O mundo já é o que é, volto a dizer. Ninguém precisa de levar comigo a trautear um êxito de José Malhoa durante 24 horas. Vejam lá isso.

ONU apela a “diálogo inclusivo” entre sectores sociais e Governo de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) instou ontem o Governo de Hong Kong para que reúna todos os sectores sociais “num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica” para os protestos.

“Instamos o Governo a redobrar os seus esforços para conciliar todos os sectores da sociedade, incluindo estudantes, empresários, líderes políticos e outros, num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica para o descontentamento expresso por muitos cidadãos de Hong Kong”, pediu o porta-voz do ACNUDH, Rupert Colville.

“A crescente violência de grupos de jovens envolvidos nos protestos” deixa a organização preocupada com um aumento das tensões no contexto do actual confronto na Universidade Politécnica de Hong Kong.

Numa conferência de imprensa em Genebra, o porta-voz condenou a “violência extrema” de uma minoria dos participantes nos protestos que afectam a cidade há oito meses, “algo que é profundamente lamentável e com o qual não se pode consentir”.

Colville pediu que “todos os envolvidos nos protestos renunciem ao uso da violência e a condenem” e, ao mesmo tempo, instou as autoridades de Hong Kong para fazerem todos os possíveis para reduzir as tensões no campus da universidade.

A escalada

As manifestações na região administrativa especial começaram como resultado de um controverso projecto-lei de extradição, já retirado pelo Governo, mas têm mudado até se converterem num movimento que pretende uma melhoria dos mecanismos democráticos de Hong Kong e uma oposição à crescente interferência da China.

No entanto, alguns manifestantes optaram por tácticas mais radicais do que protestos pacíficos e os confrontos violentos com a polícia tornaram-se habituais.

O epicentro das tensões nos últimos dias tem sido a Universidade Politécnica, onde vários manifestantes barricados no campus universitário confrontam as autoridades, que já prenderam 1.100 pessoas e apreenderam 3.900 ‘cocktails molotov’.

Segundo Colville, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos continua preocupado com uma possível escalada da violência em Hong Kong.

ONU apela a "diálogo inclusivo" entre sectores sociais e Governo de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) instou ontem o Governo de Hong Kong para que reúna todos os sectores sociais “num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica” para os protestos.
“Instamos o Governo a redobrar os seus esforços para conciliar todos os sectores da sociedade, incluindo estudantes, empresários, líderes políticos e outros, num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica para o descontentamento expresso por muitos cidadãos de Hong Kong”, pediu o porta-voz do ACNUDH, Rupert Colville.
“A crescente violência de grupos de jovens envolvidos nos protestos” deixa a organização preocupada com um aumento das tensões no contexto do actual confronto na Universidade Politécnica de Hong Kong.
Numa conferência de imprensa em Genebra, o porta-voz condenou a “violência extrema” de uma minoria dos participantes nos protestos que afectam a cidade há oito meses, “algo que é profundamente lamentável e com o qual não se pode consentir”.
Colville pediu que “todos os envolvidos nos protestos renunciem ao uso da violência e a condenem” e, ao mesmo tempo, instou as autoridades de Hong Kong para fazerem todos os possíveis para reduzir as tensões no campus da universidade.

A escalada

As manifestações na região administrativa especial começaram como resultado de um controverso projecto-lei de extradição, já retirado pelo Governo, mas têm mudado até se converterem num movimento que pretende uma melhoria dos mecanismos democráticos de Hong Kong e uma oposição à crescente interferência da China.
No entanto, alguns manifestantes optaram por tácticas mais radicais do que protestos pacíficos e os confrontos violentos com a polícia tornaram-se habituais.
O epicentro das tensões nos últimos dias tem sido a Universidade Politécnica, onde vários manifestantes barricados no campus universitário confrontam as autoridades, que já prenderam 1.100 pessoas e apreenderam 3.900 ‘cocktails molotov’.
Segundo Colville, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos continua preocupado com uma possível escalada da violência em Hong Kong.

CCM | Peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” em cena este fim-de-semana 

[dropcap]É[/dropcap] já este fim-de-semana que estreia a peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” no Centro Cultural de Macau (CCM), com encenação de Tam Chi Chun. De acordo com uma nota oficial do CCM, as sete cenas desta peça de teatro incorporam “muitos elementos tradicionais do Ocidente e do Oriente para dar forma ao cenário espaço-temporal”.

No entanto, o foco não é feito exclusivamente na ópera ocidental ou de Pequim. “Em vez disso, utilizamos o espaço que nos é concedido pelo arranjo e composição do teatro contemporâneo para reflectir a ideologia e o mundo interior das personagens. Finalmente, esperamos que as questões levantadas em O Sr. Shi e o Seu Amante deixem o público a ponderar sobre relações interpessoais, orientação sexual, valor artístico, nacionalismo e amor”, acrescenta a mesma nota.

“O Sr. Shi e o Seu Amante” é inspirado na história real de Shi Pei Pu, um cantor de ópera chinesa, e Bernard Boursicot, um diplomata francês. Os dois viveram uma relação romântica na altura em que Boursicot exercia funções na China e, no início da relação, Shi anunciou que estava grávida e que o pai seria Boursicot. Em 1983 o diplomata foi acusado de passar informação confidencial aos chineses através de Shi, e o casal foi detido pelo governo francês, acusado de espionagem. O julgamento que se seguiu produziu títulos na imprensa internacional graças a um pormenor singular: ao longo do processo, foi revelado que Shi era um homem e que Boursicot acreditou tratar-se de uma mulher ao longo de 20 anos de relacionamento.

CCM | Peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” em cena este fim-de-semana 

[dropcap]É[/dropcap] já este fim-de-semana que estreia a peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” no Centro Cultural de Macau (CCM), com encenação de Tam Chi Chun. De acordo com uma nota oficial do CCM, as sete cenas desta peça de teatro incorporam “muitos elementos tradicionais do Ocidente e do Oriente para dar forma ao cenário espaço-temporal”.
No entanto, o foco não é feito exclusivamente na ópera ocidental ou de Pequim. “Em vez disso, utilizamos o espaço que nos é concedido pelo arranjo e composição do teatro contemporâneo para reflectir a ideologia e o mundo interior das personagens. Finalmente, esperamos que as questões levantadas em O Sr. Shi e o Seu Amante deixem o público a ponderar sobre relações interpessoais, orientação sexual, valor artístico, nacionalismo e amor”, acrescenta a mesma nota.
“O Sr. Shi e o Seu Amante” é inspirado na história real de Shi Pei Pu, um cantor de ópera chinesa, e Bernard Boursicot, um diplomata francês. Os dois viveram uma relação romântica na altura em que Boursicot exercia funções na China e, no início da relação, Shi anunciou que estava grávida e que o pai seria Boursicot. Em 1983 o diplomata foi acusado de passar informação confidencial aos chineses através de Shi, e o casal foi detido pelo governo francês, acusado de espionagem. O julgamento que se seguiu produziu títulos na imprensa internacional graças a um pormenor singular: ao longo do processo, foi revelado que Shi era um homem e que Boursicot acreditou tratar-se de uma mulher ao longo de 20 anos de relacionamento.

Cinema | Filme português “A Herdade” na edição deste ano do IFFAM 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem anunciado que a quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que acontece entre os dias 5 e 10 de Dezembro, conta com um programa actualizado que inclui o filme português “A Herdade”, de Tiago Guedes, que tem recebido inúmeros elogios em Portugal e que estreou no Festival de Cinema de Veneza.

O filme, protagonizado por Albano Jerónimo, conta a história de um proprietário de uma herdade em pleno Alentejo que passa por um tumulto causado pelo 25 de Abril, sem esquecer a tragédia da própria família.

O cartaz do IFFAM inclui também o filme “I’m Livin It”, com direcção de Wong Hing-Fan e protagonizado por Aaron Kwok, estrela do cinema de Hong Kong. Aaron Kwok foi o Embaixador Talento do IFFAM o ano passado e, no filme, actua ao lado de Miriam Yueng, que foi Embaixadora Talento do IFFAM em 2017.

“Dark Waters”, de Todd Haynes, é outro dos filmes incluídos no programa do festival, protagonizado pelos actores Mark Ruffalo e Anne Hathaway. Esta será a apresentação especial de Hollywood da edição deste ano do IFFAM.

O mais recente filme de Terrence Malick, “A Hidden Life”, também integra o cartaz deste ano do IFFAM. A película conta a história de um jovem austríaco, muito católico, de nome Franz Jagerstatter, que se recusa a lutar a favor dos Nazis na II Guerra Mundial. O filme estreou no Festival de Cinema de Cannes, sendo esta a sua estreia na Ásia.

“Flowers of Shanghai”, de Hou Hsiao-hsien, a versão deste clássico datada de 1998, será exibida no festival como apresentação especial do Festival Internacional de Cinema de Xangai. O filme remete para o século XIX em que jovens cortesãs recebiam propostas de homens em “casas de flores”.

Na secção “Escolha do Director” o destaque é para “Blow-Up”, que será apresentado pelo seu director Wang Xiaoshuai no dia 9 de Dezembro. Na secção “Novo Cinema Chinês” destaque ainda para o filme “Over the Sea”.

Cinema | Filme português “A Herdade” na edição deste ano do IFFAM 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem anunciado que a quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que acontece entre os dias 5 e 10 de Dezembro, conta com um programa actualizado que inclui o filme português “A Herdade”, de Tiago Guedes, que tem recebido inúmeros elogios em Portugal e que estreou no Festival de Cinema de Veneza.
O filme, protagonizado por Albano Jerónimo, conta a história de um proprietário de uma herdade em pleno Alentejo que passa por um tumulto causado pelo 25 de Abril, sem esquecer a tragédia da própria família.
O cartaz do IFFAM inclui também o filme “I’m Livin It”, com direcção de Wong Hing-Fan e protagonizado por Aaron Kwok, estrela do cinema de Hong Kong. Aaron Kwok foi o Embaixador Talento do IFFAM o ano passado e, no filme, actua ao lado de Miriam Yueng, que foi Embaixadora Talento do IFFAM em 2017.
“Dark Waters”, de Todd Haynes, é outro dos filmes incluídos no programa do festival, protagonizado pelos actores Mark Ruffalo e Anne Hathaway. Esta será a apresentação especial de Hollywood da edição deste ano do IFFAM.
O mais recente filme de Terrence Malick, “A Hidden Life”, também integra o cartaz deste ano do IFFAM. A película conta a história de um jovem austríaco, muito católico, de nome Franz Jagerstatter, que se recusa a lutar a favor dos Nazis na II Guerra Mundial. O filme estreou no Festival de Cinema de Cannes, sendo esta a sua estreia na Ásia.
“Flowers of Shanghai”, de Hou Hsiao-hsien, a versão deste clássico datada de 1998, será exibida no festival como apresentação especial do Festival Internacional de Cinema de Xangai. O filme remete para o século XIX em que jovens cortesãs recebiam propostas de homens em “casas de flores”.
Na secção “Escolha do Director” o destaque é para “Blow-Up”, que será apresentado pelo seu director Wang Xiaoshuai no dia 9 de Dezembro. Na secção “Novo Cinema Chinês” destaque ainda para o filme “Over the Sea”.

This is My City | Música, cinema e fotografia têm encontro marcado em Macau e Zhuhai

Não só de Conan Osíris será feito o festival This is My City que decorre entre 25 e 30 de Novembro em Macau e Zhuhai. Na verdade, além da música, que tem já confirmadas nas suas pautas, a banda chinesa Wu Tia Ren, Surma e DJ Kitten, a programação inclui também uma instalação de fotografia e uma selecção documental que inclui obras de realizadores portugueses

 

[dropcap]C[/dropcap]onan Osíris estreia-se no final de Novembro na China, por ocasião do festival This is My City (TIMC). No entanto, há muito mais para estimular os sentidos neste festival nascido e criado em Macau desde 2006 e já viajado por outras salas e palcos, não só na China, mas também em Portugal e no Brasil.

“O TIMC é um festival que procura reflectir a diversidade cultural e social que as cidades representam. Às vezes é um desafio, mas é também este lado mais orgânico que o festival quer representar e por isso não se limita a ser um festival de música ou de fotografia. De ano para ano o TIMC vai mudando, vai procurando o seu caminho e a sua identidade”, disse ao HM o cofundador do evento Manuel Correia Silva.

A fotografia dará mesmo o mote para a abertura do festival no dia 25 de Novembro, em Macau, com a inauguração da instalação fotográfica de António Falcão, intitulada LOYÅM. Acerca da exposição fotográfica que estará nas Oficinas Navais N2 o artista explicou no comunicado divulgado pelo TIMC que “Loy & Lam são duas dissimulações da realidade do mundo” que abordam a temática do fim da Humanidade.

Logo a partir da tarde do primeiro dia de Festival será também possível decantar uma arte diferente: o cinema. Neste caso, documental. Entre os dias 25 e 27 de Novembro, serão assim três documentários que terão, não só Macau como pano de fundo, mas também 13 vídeos criados por realizadores portugueses para cada um dos temas editados pela banda Rollana Beat.

No dia 25, será projectado o documentário “Macau: Electronic Music”, de Tracy Choi e, no dia seguinte, será a vez do projecto “Os Resistentes: Retratos de Macau”, do realizador António Faria, uma série documental, que procura recuperar os velhos ofícios locais de Macau.

“É um trabalho sobre lojas e o comércio local que tem tendência a desaparecer e que, na verdade, é aquilo que caracteriza verdadeiramente uma cidade e aquilo que a pode diferenciar”, explicou ao HM Manuel Correia Silva acerca da obra de António Faria.

Por fim, no dia 27, serão exibidos os 13 vídeos criados para cada um dos temas editados pela banda portuguesa Rollana Beat e que contaram com a colaboração de alguns realizadores portugueses como Edgar Pêra, Isabel Aboim Inglês e Leonor Noivo.

Juntar para criar

Na música, além da incontornável actuação de Conan Osíris agendada para o dia 28 de Novembro, o destaque do programa deste ano do TIMC vai para a banda chinesa Wu Tiao Ren e para a cantora portuguesa Surma, que actuam a solo e também em conjunto. No dia 28, os Wu Tiao Ren tocam em Zhuhai, no Live House Let’s Cultural District, enquanto que a 29 estarão nas Oficinas Navais Nº2 em Macau. Já a artista de Leiria, Surma, estará também no mesmo espaço no dia 29 de Novembro.

“O que vai acontecer no dia 29 com os Wu Tiao Ren e a Surma é inovador porque coloca artistas diferentes a trabalhar juntos, neste caso em Macau, a partir da criação de novos conteúdos”, frisou Manuel Correia Silva ao HM.

Também nas Oficinas Navais Nº2 vai ser possível assistir às actuações do músico japonês residente em Macau AKI, no dia 29. No dia 30 o espaço estará reservado para os Why Oceans e os Ariclan.
Outro dos nomes do cartaz musical deste ano é João Vieira, fundador dos X-Wife, que regressa a Macau como DJ Kitten, para tocar no dia 28, no London Lounge, em Zhuhai, e no dia 30, em Macau, na discoteca D2.

De frisar ainda que, pela primeira vez, os concertos promovidos pelo TIMC serão pagos, sendo que os preços dos bilhetes variam entre as 150 patacas, para dois dias, ou 100 patacas, para um dia. Apontando que o preço dos bilhetes é “bastante acessível”, o cofundador do festival justifica o facto com a “oferta de um programa de qualidade e diferenciado” e pela necessidade prática de “diversifcar as fontes de rendimento do festival”.

This is My City | Música, cinema e fotografia têm encontro marcado em Macau e Zhuhai

Não só de Conan Osíris será feito o festival This is My City que decorre entre 25 e 30 de Novembro em Macau e Zhuhai. Na verdade, além da música, que tem já confirmadas nas suas pautas, a banda chinesa Wu Tia Ren, Surma e DJ Kitten, a programação inclui também uma instalação de fotografia e uma selecção documental que inclui obras de realizadores portugueses

 
[dropcap]C[/dropcap]onan Osíris estreia-se no final de Novembro na China, por ocasião do festival This is My City (TIMC). No entanto, há muito mais para estimular os sentidos neste festival nascido e criado em Macau desde 2006 e já viajado por outras salas e palcos, não só na China, mas também em Portugal e no Brasil.
“O TIMC é um festival que procura reflectir a diversidade cultural e social que as cidades representam. Às vezes é um desafio, mas é também este lado mais orgânico que o festival quer representar e por isso não se limita a ser um festival de música ou de fotografia. De ano para ano o TIMC vai mudando, vai procurando o seu caminho e a sua identidade”, disse ao HM o cofundador do evento Manuel Correia Silva.
A fotografia dará mesmo o mote para a abertura do festival no dia 25 de Novembro, em Macau, com a inauguração da instalação fotográfica de António Falcão, intitulada LOYÅM. Acerca da exposição fotográfica que estará nas Oficinas Navais N2 o artista explicou no comunicado divulgado pelo TIMC que “Loy & Lam são duas dissimulações da realidade do mundo” que abordam a temática do fim da Humanidade.
Logo a partir da tarde do primeiro dia de Festival será também possível decantar uma arte diferente: o cinema. Neste caso, documental. Entre os dias 25 e 27 de Novembro, serão assim três documentários que terão, não só Macau como pano de fundo, mas também 13 vídeos criados por realizadores portugueses para cada um dos temas editados pela banda Rollana Beat.
No dia 25, será projectado o documentário “Macau: Electronic Music”, de Tracy Choi e, no dia seguinte, será a vez do projecto “Os Resistentes: Retratos de Macau”, do realizador António Faria, uma série documental, que procura recuperar os velhos ofícios locais de Macau.
“É um trabalho sobre lojas e o comércio local que tem tendência a desaparecer e que, na verdade, é aquilo que caracteriza verdadeiramente uma cidade e aquilo que a pode diferenciar”, explicou ao HM Manuel Correia Silva acerca da obra de António Faria.
Por fim, no dia 27, serão exibidos os 13 vídeos criados para cada um dos temas editados pela banda portuguesa Rollana Beat e que contaram com a colaboração de alguns realizadores portugueses como Edgar Pêra, Isabel Aboim Inglês e Leonor Noivo.

Juntar para criar

Na música, além da incontornável actuação de Conan Osíris agendada para o dia 28 de Novembro, o destaque do programa deste ano do TIMC vai para a banda chinesa Wu Tiao Ren e para a cantora portuguesa Surma, que actuam a solo e também em conjunto. No dia 28, os Wu Tiao Ren tocam em Zhuhai, no Live House Let’s Cultural District, enquanto que a 29 estarão nas Oficinas Navais Nº2 em Macau. Já a artista de Leiria, Surma, estará também no mesmo espaço no dia 29 de Novembro.
“O que vai acontecer no dia 29 com os Wu Tiao Ren e a Surma é inovador porque coloca artistas diferentes a trabalhar juntos, neste caso em Macau, a partir da criação de novos conteúdos”, frisou Manuel Correia Silva ao HM.
Também nas Oficinas Navais Nº2 vai ser possível assistir às actuações do músico japonês residente em Macau AKI, no dia 29. No dia 30 o espaço estará reservado para os Why Oceans e os Ariclan.
Outro dos nomes do cartaz musical deste ano é João Vieira, fundador dos X-Wife, que regressa a Macau como DJ Kitten, para tocar no dia 28, no London Lounge, em Zhuhai, e no dia 30, em Macau, na discoteca D2.
De frisar ainda que, pela primeira vez, os concertos promovidos pelo TIMC serão pagos, sendo que os preços dos bilhetes variam entre as 150 patacas, para dois dias, ou 100 patacas, para um dia. Apontando que o preço dos bilhetes é “bastante acessível”, o cofundador do festival justifica o facto com a “oferta de um programa de qualidade e diferenciado” e pela necessidade prática de “diversifcar as fontes de rendimento do festival”.

Músico português José Mário Branco morreu ontem aos 77 anos 

Nome marcante da música de intervenção em Portugal, sobretudo no período da Revolução do 25 de Abril, José Mário Branco faleceu ontem com 77 anos de idade, vítima de um acidente vascular cerebral. Durante décadas cantou com outros nomes sonantes da música portuguesa

 

[dropcap]O[/dropcap] músico, compositor e cantor José Mário Branco morreu esta terça-feira aos 77 anos. A notícia foi confirmada à Agência Lusa pelo seu manager, Paulo Salgado. Nascido no Porto, em Maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à acção cultural. Sempre achou, como disse no disco lançado em 1976, que A Cantiga é uma Arma.

Foi fundador do Grupo de Acção Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge, Samuel e Nathalie.

O último álbum de originais, “Resistir é vencer”, data já de 2004. Depois disso, José Mário Branco participou no projecto Três Cantos, ao lado de Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, que resultou numa série de concertos, um álbum e um DVD.

José Mário Branco editou o primeiro longa-duração, “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, ainda no exílio em França, em 1971, musicando textos de Natália Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho. O músico foi militante do Partido Comunista Português, foi perseguido pela Polícia de Intervenção e Defesa do Estado (PIDE), associada ao Estado Novo de Salazar, e exilou-se em França em 1963, só regressando a Portugal em 1974.

Os 50 anos de vida musical do autor português são marcados a partir da gravação em 1967 do primeiro EP, “Seis cantigas de amigo”, editado dois anos depois pelos Arquivos Sonoros Portugueses. A edição de “Ser solidário”, de 1982, inclui a gravação de “FMI”, uma das composições mais célebres de José Mário Branco, focada na crise económica portuguesa vivida no início da década de 80.

Em 2016, José Mário Branco assegurou a direcção musical do filme “Alfama em si”, de Diogo Varela Silva. A vida de José Mário Branco foi passada em revista, com a participação do próprio músico, no documentário “Mudar de vida”, de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo.

Recordar e viver

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.

Este ano, mais de dez artistas, como Osso Vaidoso, Ermo, Camané ou Walkabouts interpretaram temas de José Mário Branco, num disco-tributo. “O objetivo era mostrar a plasticidade da música do Zé Mário Branco, é muito abrangente e inspirou muita gente de várias gerações. A obra dele é um mundo”, afirmou à agência Lusa Rui Portulez, produtor executivo do álbum.

“Depois de José Afonso, é este José o nome mais importante a fixar na música de intervenção, em particular, e como referência incontornável da música portuguesa, em geral”, afirma Rui Portulez num dos textos que acompanham o álbum.

Em 2018, em declarações à Lusa, José Mário Branco dizia que não dava qualquer importância a efemérides e celebrações de datas redondas. “Não são coisas que me motivem muito, tenho respeito pelo respeito das pessoas, mas essas histórias das efemérides…”, afirmou.

O compositor não mostrava, então, pressas em gravar coisas novas, por preferir trabalhar para outros músicos – “Não me sinto menos interessado por não ser eu a cantar” – e a isto juntava ainda uma certa resistência em subir a um palco.

“Comecei a sentir-me um bocado museológico em cima do palco. Há uns tempos que eu não faço concertos nem recitais, mas felizmente não paro de trabalhar e de fazer coisas de que gosto imenso”, disse.
Em Agosto, a RTP1 estreou um documentário sobre José Mário Branco, que fez parte da série de produções “Vejam Bem”. O episódio encontra-se disponível na plataforma RTP Play.

“Um lutador”

O Presidente da República lamentou ontem a morte do músico José Mário Branco, aos 77 anos, lembrando-o como “um lutador” na oposição à ditadura e depois da revolução e uma voz “inconfundível” de uma “geração de Abril”.

Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu José Mário Branco como alguém “sempre insatisfeito”, para quem “havia uma parte de Abril que estava por realizar”.

“E, nesse sentido, foi um símbolo de resistência, um símbolo de luta, um símbolo de esperança e um símbolo de permanente exigência à democracia portuguesa”, considerou o chefe de Estado.

“Um resistente”

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou ontem a morte do músico e produtor José Mário Branco, dizendo que “resistir, em Portugal, terá sempre um disco [seu] como banda sonora”. Numa mensagem publicada na conta oficial do ministério, na rede social Twitter, José Mário Branco é lembrado como um “nome maior da música portuguesa” e uma “voz de luta e de intervenção”. “[A] Ministra da Cultura lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património colectivo”, acrescentou, na mesma mensagem.