Grande Prémio | Drones proibidos até segunda-feira

A Autoridade de Aviação Civil de Macau publicou ontem um aviso no Boletim Oficial que determina a proibição de voo com aeronaves não tripuladas na península de Macau, entre hoje e domingo (no período de 24 horas), “a fim de garantir que a 71.ª edição do Grande Prémio de Macau se realize de forma tranquila e segura, evitando quaisquer riscos ou interferências potenciais”.

Quem não respeitar a proibição arrisca uma multa que pode variar entre 2.000 e 20.000 patacas. As autoridades lançaram ainda um apelo “à colaboração dos cidadãos na criação de um ambiente seguro e ordenado para as corridas”.

GPM | Ocupação hoteleira acima dos 90%

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST), nas palavras do seu vice-director, Cheng Wai Tong, apontou que a taxa de ocupação hoteleira já atingiu os 90 por cento, estando de acordo com as expectativas definidas para o sector tendo em conta a chegada do Grande Prémio de Macau (GPM).

Em relação à competição deste fim-de-semana, o Instituto do Desporto confirmou também um bom panorama de venda de bilhetes, segundo palavras do vice-director da DST. De acordo com a imprensa chinesa, este disse que nos últimos anos o GPM tem atraído sobretudo visitantes estrangeiros e de Hong Kong, mas que o público da China tem vindo a aumentar.

Assim, as autoridades procuram assegurar um equilíbrio no que toca às nacionalidades dos visitantes, graças à realização de mais campanhas publicitárias noutras regiões do mundo.

SJM | Anunciados lucros de 101 milhões

Daisy Ho, presidente da SJM revelou que a capacidade do Grand Lisboa Palace vai ser aumentada em cerca de 10 por cento, no que se espera que gere um aumento do número de visitantes

 

Com Lusa

A concessionária do jogo SJM anunciou um lucro de 101 milhões de dólares de Hong Kong no terceiro trimestre do ano, no que representa uma melhoria dos resultados face ao período homólogo. Os resultados foram apresentados através de um comunicado à bolsa de Hong Kong e representam o segundo trimestre deste ano com números positivos.

Em comparação com os números mais recentes, no terceiro trimestre do ano passado a empresa tinha apresentado um prejuízo de 410 milhões de dólares de Hong Kong.

Este foi o segundo trimestre do ano corrente com resultados positivos para SJM, depois de ter atingido um lucro de 864 milhões de dólares de Hong Kong, entre Janeiro e Março.

Quando se faz o balanço dos primeiros nove meses do ano, a SJM tem um resultado negativo de 61 milhões de dólares de Hong Kong, o que se explica devido às perdas durante o segundo trimestre.

No entanto, este é ainda um valor abaixo do prejuízo de 1,67 mil milhões de dólares de Hong Kong sofrido pelo grupo nos primeiros nove meses de 2023, que acabou por ser o quarto ano consecutivo de perdas sem precedentes para a SJM.

Tempos difíceis

Na apresentação dos resultados, Daisy Ho, presidente da SJM, destacou o contributo do hotel-casino Grand Lisboa Palace para os resultados positivos: “É com prazer que anuncio que o potencial do Grand Lisboa Palace Resort começa a ser desvendado, o que está a conduzir a forte reviravolta da situação do grupo, com um crescimento renovado, depois de terem sido atravessados tempos difíceis” afirmou Ho, em comunicado.

De acordo com a presidente do grupo, a estratégia para os próximos meses passa por fazer subir o número de clientes, ao aumentar em 10 por cento a capacidade do Grand Lisboa Palace e diversificar a oferta do hotel.

“Nos próximos trimestres, a SJM irá lançar uma série de medidas chave para aumentar o número de visitantes e melhorar estrategicamente a nossa oferta, incluindo um conjunto diversificado de opções de restauração, o aumento da capacidade de convenções e exposições no Grand Lisboa Palace e uma expansão de 10 por cento na capacidade hoteleira do Grand Lisboa”, revelou. “Com o contínuo crescimento trimestral e anual das receitas brutas do jogo, estou confiante que os investimentos na nossa equipa e nos nossos resorts vão levar a um aumento do nosso valor a longo prazo”, acrescentou.

No terceiro trimestre do ano, os casinos da SJM arrecadaram 18,9 mil milhões de dólares de Hong Kong, mais 41 por cento do que entre Janeiro e Setembro de 2023, enquanto as receitas não jogo subiram 25,5 por cento, para 1,41 mil milhões de dólares de Hong Kong.

Zhuhai | Autoridades sem informação de vítimas de Macau

Até ontem as autoridades locais não tinham qualquer informação sobre a existências de vítimas de Macau no âmbito do ataque em Zhuhai que causou pelo menos 35 mortos e 43 feridos.

Ao jornal Ou Mun, a polícia explicou que estava em comunicação com as congéneres do Interior, que ainda estavam a tentar determinar as identidades de todas as vítimas. Se houvesse residentes de Macau entre os feridos ou mortos, a polícia de Macau prometeu divulgar a informação.

De acordo com a mesma publicação, também a Direcção de Serviços de Turismo não recebeu qualquer pedido de auxílio de residentes em Zhuhai, ou de familiares destes, e também não foram pedidas informações sobre este caso.

De acordo com a agência AFP, as autoridades de Zhuhai impediram ontem que residentes e familiares das vítimas demonstrassem o luto junto ao Centro Desportivo Xiangzhou.

Segundo a agência, foram várias as pessoas que tentaram deixar flores junto aos portões do local onde aconteceu o acidente mortal. No entanto, depois de deixaram flores e outros objectos para expressarem o luto, estes eram imediatamente recolhidos pelas autoridades e levados para o interior do estádio. “O que aconteceu não foi um pequeno incidente”, disse à AFP uma mulher de cerca de 50 anos, que pediu o anonimato para proteger a sua privacidade. “Devíamos lembrar-nos que houve pessoas a morrer e não sermos tão frios. Acho que mais pessoas em Zhuhai deveriam vir aqui e colocar algumas flores em memória das vítimas”, acrescentou.

Centaline | Pedido mais apoio ao mercado imobiliário

O director da Centaline, Roy Ho, espera que o futuro Governo de Sam Hou Fai siga as políticas nacionais, com maior apoio ao mercado imobiliário, para que o número de transacções deixe de cair

 

O director da Centaline Macau, Zhuhai e Hengqin, Roy Ho, espera que o futuro Governo de Sam Hou Fai siga o exemplo do Interior e adopte várias medidas para relançar o mercado imobiliário.

Em entrevista ao jornal Exmoo, o director da imobiliária afirmou que nesta fase o mercado está numa fase de expectativa, para tentar perceber que medidas vão ser promovidas pelo futuro Chefe do Executivo e perceber qual a direcção do desenvolvimento das políticas de habitação.

No entanto, Roy Ho confessou que existe a esperança entre as imobiliárias que Macau siga o exemplo do Governo Central no Interior, onde nos últimos meses foram adoptadas medidas para promover a procura e reduzir o excesso de oferta. Entre as medidas, incluem-se a compra de terrenos para construção pelos governos provinciais, moratórias no crédito à habitação para as famílias com mais dificuldades ou maior disponibilização de crédito pelos bancos às construtoras.

“A política nacional consiste em travar o declínio e estabilizar o mercado imobiliário, de modo a que o excesso de oferta possa ser um pouco controlado”, começou por indicar Ho. “Se em Macau também estamos a falar em travar o declínio e estabilizar o mercado imobiliário, mas os preços continuam a ser reduzidos, então não estamos a cumprir o objectivo nacional”, acrescentou.

Nas declarações prestadas, Roy Ho sublinhou, porém, que o “mais importante para o mercado imobiliário de Macau” é haver um “desenvolvimento saudável, gradual” que junte diferentes aspectos como a oferta de habitação económica, integre a política de importação de estrangeiros e tenha em conta a cooperação com Hengqin. “Se fizermos tudo isto, estamos a seguir uma boa direcção”, indicou.

Mercado cauteloso

O director da Centaline Macau, Zhuhai e Hengqin abordou também a redução de 3,6 por cento do Índice Geral de Preços Mercado Imobiliário no terceiro trimestre, em conjunto com a redução para níveis históricos do número de transacções.

Para Roy Ho estes indicadores não são uma surpresa, porque os potenciais compradores de habitação, antes de entrarem no mercado, têm estado na expectativa a aguardar pela redução das taxas de juros da Reserve Federal Americana. Esta descida, confirmada na semana passada, também faz com que indirectamente os juros cobrados no crédito em Macau fiquem mais baratos.

Apesar do novo normal do mercado da habitação e de considerar que são necessárias medidas para apoiar a procura, o director da Centaline Macau, Zhuhai e Hengqin afirmou que a salvação pode passar pela importação dos quadros qualificados, que o Governo pretende trazer para Macau, para diversificar a economia. “É preciso atrair mais pessoas, e se atrairmos essas pessoas, elas vão querer comprar habitação”, indicou.

Emprego | Três feiras com 638 vagas nos dias 20, 21 e 25 de Novembro

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) irá organizar três feiras de emprego, disponibilizando um total de 638 vagas, nos dias 20, 21 e 25 de Novembro, para os sectores transportes para turismo e hotelaria.

Segundo um comunicado divulgado ontem pela DSAL, as inscrições para as três sessões abrem hoje e os interessados podem inscrever-se no website da DSAL até ao meio-dia de 19 de Novembro.

A primeira sessão está marcada para a manhã de 20 de Novembro, com a oferta de 20 vagas para transportes para turismo, para encarregado de estação e condutor, e irá decorrer na sede da DSAL na Avenida Dr. Francisco Vieira Machado, nº 221 a 279.

No dia seguinte será a vez do sector da hotelaria, com 434 ofertas de emprego para gerente assistente de restaurante, subchefe de cozinha, supervisor de restauração, chefe do serviço de atendimento ao cliente, embaixador de serviços de restauração, cozinheiro de culinária chinesa e ocidental, técnico de arte floral e empregado de rouparia. Esta sessão terá no lugar no International Convention Center.

No dia 25 de Novembro, no Hotel Grand Lisboa Palace Macau, serão disponibilizadas 184 vagas para gerente de restaurante, supervisor de serviços de restauração, chefe de cozinha, cozinheiros de diversas gastronomias, agente de serviços de restauração, barista e guarda de segurança.

Direitos laborais | Deputada quer que Governo assuma mais custos

Numa interpelação escrita, Wong Kit Cheng defende que as pequenas e médias empresas não têm condições para suportar os custos das políticas laborais implementadas para aumentar a taxa de natalidade

 

Wong Kit Cheng defende que o Governo da RAEM tem de assumir uma fatia maior dos custos das políticas de promoção do aumento da natalidade, apontado como exemplo as licenças de maternidade e paternidade no sector privado. A opinião faz parte de uma interpelação escrita da deputada ligada à Associação das Mulheres.

Actualmente, as empresas privadas suportam praticamente todos os custos dos direitos laborais dos trabalhadores ligados à natalidade, ficando responsáveis pelo pagamento integral dos cinco dias de licença de paternidade, e dos 70 dias da licença de maternidade.

Devido a um regime que foi apresentado como temporário, aquando do aumento da licença de maternidade de 56 para 70 dias, o Governo, através do Instituto de Acção Social, assume o pagamento dos restantes 14 dias. A medida foi prolongada recentemente até ao final do próximo ano.

No entanto, os custos dos direitos laborais, explica Wong Kit Cheng, são uma das razões que levam pequenas e médias empresas a oporem-se frequentemente à melhoria dos direitos laborais dos trabalhadores, no que a deputada vê como um conflito com a política social do Governo. “O incentivo à natalidade tornou-se uma questão urgente e de interesse geral da comunidade, mas, ao mesmo tempo, face ao ambiente empresarial insatisfatório de muitas pequenas e médias empresas (PME), o Governo da RAEM tem de desempenhar um papel mais proactivo e de liderança nesta matéria”, escreve a deputada.

Chegar-se à frente

Wong Kit Cheng pretende que o Governo se mostre disponível para estender a outros apoios o modelo aplicado ao aumento da licença de maternidade, com os cofres da RAEM a assumirem uma maior parte dos custos dos direitos laborais. “Em resposta ao declínio da taxa de natalidade em Macau, e tendo em conta as dificuldades operacionais das pequenas e médias empresas, o Governo tem intenção de seguir o regime de compensação da entidade patronal na licença de maternidade e adoptar regulamentos administrativos para fornecer mais incentivos?”, perguntou Wong.

“O conceito de ‘partilha de custos’ ajudará a apoiar as empresas a implementar medidas mais favoráveis à família e é uma referência digna de Macau, de modo a criar uma atmosfera social em que ‘o Governo, o sector empresarial e a população’ apoiam conjuntamente o incentivo à natalidade”, acrescentou

A deputada das Mulheres indicou ainda que o modelo deve ser adoptado a outros tipos de apoio à gravidez, como o aumento da licença da paternidade, estabelecimento de pausas mais frequentes para amamentação e adopção de horários flexíveis para as trabalhadoras que foram mães recentemente.

BNU | Crédito malparado sobe nos primeiros nove meses do ano

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) registou, nos primeiros nove meses deste ano, imparidades sobre créditos e investimentos financeiros no valor de 20,9 milhões de patacas, o que constitui um aumento de 4,6 milhões de patacas relativamente ao período anterior.

Os dados constam num comunicado emitido ontem pelo banco, que declara que apesar do “prudente provisionamento, a qualidade dos activos do BNU continua forte, com os rácios de crédito malparado a continuarem a comparar-se favoravelmente com os padrões de referência do mercado”.

O BNU acrescenta ainda que “mantém o seu quadro de gestão de risco de crédito robusto, garantindo uma cobertura suficiente das provisões contra potenciais incertezas no contexto de mercado”. Em termos gerais, o BNU teve um resultado líquido não auditado, depois de impostos, de 444,2 milhões de patacas nos primeiros nove meses deste ano, uma diminuição de 15,7 milhões de patacas ou 3,4 por cento face ao período homólogo em 2023.

Parques Industriais | Chan Hon Sang eleito presidente

Chan Hon Sang foi nomeado em comissão de serviço presidente do Conselho de Administração da Sociedade para o Desenvolvimento dos Parques Industriais de Macau, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial.

O documento surge assinado por Ho Iat Seng. No documento, consta também a exoneração do actual presidente Lo Ioi Weng, com efeitos a partir de 19 de Novembro, embora não surja qualquer justificação para a dispensa. De acordo com o portal da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos, o presidente da empresa tem uma remuneração anual de 1,18 milhões de patacas.

Dado que Chan Hon Sang já integrava o conselho de administração da empresa com capitais públicas, Leong Wa Fong foi nomeado como novo membro do conselho.

Habitação económica | Publicados resultados de concurso

O Instituto de Habitação (IH) publicou ontem a lista dos candidatos admitidos e rejeitados no concurso de habitação económica de 2023, referentes às habitações que serão em cinco lotes (B5, B7, B8, B11 e B12) da Zona A dos novos aterros, num total de 5.415 apartamentos. O IH revelou ontem ter admitido 5.076 candidaturas e rejeitado 1.486 candidaturas.

Os candidatos podem consultar a situação da sua candidatura no website do IH, ou consultar as listas que vão estar afixadas até 28 de Novembro no exterior Edifício Cheng Chong, na Rua do Laboratório e na Travessa do Laboratório, na península de Macau.

A partir de hoje, até 28 de Novembro, podem ser apresentadas reclamações na delegação do IH na mesma morada.

Fundação Macau | Wu Zhiliang descarta ida para o Governo

Há mais de 35 anos na Fundação Macau, Wu Zhiliang sente-se em casa e quer levar o organismo para uma nova fase de apoio a associações e à população. O responsável afasta a hipótese de integrar o elenco do Executivo de Sam Hou Fai, mas espera que o novo Governo corresponda às necessidades e expectativas dos cidadãos

 

O presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Wu Zhiliang, afastou ontem a possibilidade de integrar o próximo Governo, que será liderado por Sam Hou Fai. Em declarações à TDM – Rádio Macau, o responsável garantiu que após mais de três décadas e meia nos quadros da Fundação Macau está satisfeito com o cargo que ocupa. “Estou na fundação há 36 anos. Estou bem na fundação, quero continuar e levar a fundação para uma nova fase de desenvolvimento. Queremos continuar a apoiar bem as associações e as necessidades da população”, referiu Wu Zhiliang aos microfones da emissora pública.

Em relação ao próximo Governo, o líder da Fundação Macau está confiante que lance políticas que respondam às necessidades da sociedade.

Sobre o trabalho da fundação, Wu Zhiliang realçou que em 2023 foram atribuídos 933 milhões de patacas em subsídios, total que representou um aumento de quase dois terços em relação ao valor distribuído no ano anterior, ou seja, 572 milhões de patacas.

Quanto às razões para o aumento do valor total dos subsídios atribuídos em 2023, Wu Zhiliang indicou as mudanças dos prazos na atribuição dos apoios, mas também o aumento dos pedidos de financiamento, que cresceram mais de 10 por cento entre 2022 e 2023, para um total de 2.162 pedidos.

Vigilância apertada

Em relação ao Plano de Apoio Financeiro Amor por Macau e Hengqin, desde o seu lançamento, a Fundação Macau financiou 47 associações num valor que, no segundo trimestre deste ano, já ultrapassava os 7 milhões de patacas. No total, as excursões financiadas levaram cerca de 68 mil residentes à Ilha da Montanha. Recorde-se que as agências de viagem escolhidas para organizar estas excursões vieram de associações ligadas ao turismo, com todas as agências escolhidas a serem propriedade ou lideradas pelos próprios dirigentes associativos ouvidos pelo Governo.

Apesar disso, o chefe do departamento de apoio financeiro da Fundação Macau, King Wong, realçou ontem no programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau, que o organismo é exigente na supervisão aos apoios concedidos. “A Fundação Macau tem um regime rigoroso que supervisiona a gestão de subsídios, para garantir que as actividades subsidiadas são lançadas segundo os planos. Ao longo deste ano, foram realizadas 544 inspecções em locais onde decorriam eventos financiados pela fundação, e fizemos 280 advertências por escrito a associações que não entregaram o relatório de actividade dentro do prazo ou não cumpriram completamente as suas obrigações”, indicou King Wong. Em quase uma centena de casos de entrega tardia do relatório de actividades, a Fundação Macau sancionou as entidades financiadas com um corte de 5 por cento do subsídio.

Urbanismo | Livro conta intersecção da história de Macau com a arquitectura

Depois do primeiro lançamento em Portugal, “Macau. Arquitectura e mutações no tecido urbano: uma antologia” será lançado hoje na Creative Macau. O mais recente projecto editorial da BABEL – Associação Cultural revela a forma como a história de Macau foi moldando a sua arquitectura e a forma de organização urbanística desde os primórdios do século XX

 

Imagem_Nuno Cera

É hoje lançado na Creative Macau, a partir das 18h30, o novo projecto editorial da BABEL – Associação Cultural, que traz visões de vários autores sobre o tecido urbano de Macau e a história do território. “Macau. Arquitectura e mutações no tecido urbano: uma antologia” é o nome do livro fruto de uma bolsa de investigação académica concedida a Tiago Quadros, arquitecto e co-fundador da BABEL, em 2020. Tiago Quadros, coordenador da obra, declarou ao HM que o estudo procurou “identificar as influências que determinados textos fundamentais, escritos ao longo do século XX, tiveram na arquitectura de Macau e na forma como os arquitectos foram desempenhando a sua actividade”.

Há, assim, três grandes momentos contados no livro: as primeiras décadas do século XX, sobretudo no período da revolução republicana na China, em 1911; depois, o movimento “12,3”, expressão da Revolução Cultural chinesa em Macau, que decorreu entre 15 de Novembro de 1966 e Fevereiro de 1967; e depois o período mais contemporâneo até à transição, em que, segundo Tiago Quadros, “o itinerário pós-modernista do território resultou fundamentalmente do pensamento e da actividade de Manuel Vicente”.

“Nestes e noutros processos, e momentos, Macau foi sempre seguindo as tendências internacionais, ainda que com as adequações naturais e decorrentes das condições climatéricas do território, das condicionantes resultantes do ambiente cultural local e do facto de o território estar na periferia dos debates centrados nos novos programas, tecnológicos e sociais.”

Desta forma, acrescentou Tiago Quadros, o livro “reflecte algum do trabalho realizado ao abrigo da bolsa de investigação académica, mas a partir de uma estrutura de natureza mais antológica”. “No processo de construção do livro pareceu-me importante que essa dimensão antológica prevalecesse, por forma a que o livro pudesse constituir-se também como fonte de consulta, mas sobretudo, e isso é o mais importante, como ponto de partida para outros estudos, para outras investigações sobre o território e a arquitectura de Macau”, frisou.

Mudanças estruturais

À partida, poder-se-á pensar que movimentos políticos ou revolucionários nada têm a ver com a forma de construir e planear uma cidade. Porém, não foi isso que a história de Macau mostrou. Nesta antologia encontram-se textos de autores como os arquitectos José Maneiras ou Mário Duarte Duque, Manuel Graça Dias, Fernando Távora ou Álvaro Siza.

Incluem-se ainda “escritos – seleccionados, compilados e organizados – por arquitectos, professores, investigadores, bem como jornalistas, viajantes e exploradores, provenientes da Ásia, mas também da Europa, América do Norte e Oceania”.

Segundo Tiago Quadros, os três períodos temporais que servem de enquadramento a todo o conteúdo “são históricos e não estão directamente relacionados com a arquitectura ou urbanismo, mas, na sua essência, vão directamente trazer consequências na forma como a cidade passa a ser pensada, desenhada e construída”.

No caso do período de instauração da República na China, e também em Portugal, mas dois anos antes, em 1910, “o que acontece em Macau é a adopção de medidas urbanísticas, como a adopção de planos para a melhoria das vias e a nível de higiene, procurando dotar-se a cidade de uma melhor qualidade de vida e saneamento básico”.

Assim, ocorre “uma pequena revolução na cidade que procura que alguns bairros passem a ter uma melhor qualidade de vida das pessoas”, destacando-se a grande mudança trazida com a abertura da Avenida Almeida Ribeiro. O projecto, segundo Tiago Quadros, obrigou a “grande coragem política, e que teve grande resistência”, pois implicou a ligação da cidade chinesa com a parte cristã da cidade, onde residiam os portugueses e macaenses na sua grande maioria.

Para esse processo se realizar, ocorreram várias expropriações de terrenos. Mas, em termos gerais, “foi concluído com sucesso”, o que faz com que as primeiras décadas do século XX em Macau tenha sido marcado “pela realização de grandes obras públicas, nomeadamente a melhoria do Porto Interior, pois era importante que Macau tivesse um porto que fosse viável, em comparação com os recursos que existiam em Hong Kong”.

Depois, em meados dos anos 60, o “12,3” trouxe, para Tiago Quadros, “a mudança mais interessante no panorama do século XX em Macau, pois coincide com a vinda para o território de uma geração muito jovem de arquitectos, como José Maneiras, Natália Gomes ou Manuel Vicente”. Estes chegam bastante influenciados profissionalmente “pelos estudos que tinham feito na Europa e por todos os movimentos que surgiam nos Estados Unidos da América e na Europa, como o Maio de 68”.

Assim, estes arquitectos chegam a Macau “muito preocupados e atentos à questão da matriz social da arquitectura e a importância que esta poderia ter na vida de uma comunidade e cidade”.

No caso de Manuel Vicente, que chegou a Macau pela primeira vez no início dos anos 60, vem integrado de uma geração que trabalhou em Lisboa com “planos de expansão, urbanísticos e edifícios públicos que eram desenhados em Lisboa e depois enviados para serem construídos em vários destinos diferentes”.

Encontram, à época, “um espaço muito afastado da metrópole [Portugal] que escapava às regras e normas vigentes [em Lisboa], onde havia um espaço relativamente novo, o que lhes permitiu iniciar a sua actividade num espaço de maior liberdade e grande responsabilidade”.

Foi a época dos planos do ZAPE [Zona Aterros do Porto Exterior], por exemplo, ou outros que “do ponto de vista político exigiram decisões importantes não muito bem aceites pela comunidade chinesa”.

Além disso, “o facto de, até 25 de Abril de 1974, Macau ser governada com grande distanciamento por parte do Governo português, com uma Administração reduzida, dificultou o planeamento da cidade”, mas também “permitiu a arquitectos uma liberdade de acção, sobretudo no que diz respeito a processos de maior experimentalismo”.

A época da liberalização

Já na era próxima da transição, em 1999, a decisão de liberalizar o jogo e o crescimento do número de turistas chineses trouxe profundas mudanças em toda a sociedade, com impactos urbanísticos. “A parte mais visível dessa mudança é a zona do Cotai, mas antes deste ser construído a mudança começou a sentir-se na península, com a construção dos primeiros casinos”, nomeadamente o Sands em 2004.

Deu-se, então, “a grande transformação ao nível da arquitectura, com impacto na cidade e na forma como as pessoas começam a viver a partir daí”, pois deu-se o aumento dos valores das rendas, além de que a própria população aumentou.

“Este terceiro momento tem também uma questão relacionada com o impacto que este mercado vai ter nos escritórios de arquitectura de pequena e média escala”, defende Tiago Quadros, chamando a atenção para os ateliers de matriz portuguesa.

Estes passam a “sentir dificuldades porque os casinos entram no mercado e trazem consigo as grandes multinacionais ligadas à arquitectura e design de interiores, ocupando um espaço que não existia e que os ateliers pequenos não conseguem ocupar”.

Acima de tudo, esta obra “não pretende ser uma história da arquitectura e urbanismo”, refere Tiago Quadros que destaca os textos escritos por viajantes, jornalistas ou sinólogos na primeira metade do século XX, pois os textos mais académicos só surgem depois dos anos 60. “São olhares com importâncias e relevâncias diferentes e isso nota-se quando se lê o livro, mas estas diferenças, quer na origem dos textos, quer nos suportes onde foram originalmente colocados, dá-nos a ideia do que é Macau, um espaço de grandes incoerências, de muita informalidade”.

A obra é editada pela Circo de Ideias e trata-se de uma iniciativa da BABEL – Associação Cultural, criada por Tiago Quadros e Margarida Saraiva em Macau, em 2013. A BABEL estabeleceu-se em 2020 em Alcobaça. A apresentação de hoje estará a cargo do arquitecto Diogo Burnay.

Tiago Quadros recorda ainda as palavras do arquitecto Jorge Figueira na primeira apresentação da obra, no Porto. Este “disse, de forma muito generosa, que este livro é um contributo para que se volte a olhar para Macau”. “Ficarei muito feliz se o livro for, de facto, um estímulo para que outros investigadores se interessem por Macau, pela sua arquitectura e urbanismo”, rematou.

Fotografia | UM organiza exposição sobre Angola e Moçambique

No contexto de uma viagem de intercâmbio do Centro de Estudos Jurídicos e Judiciais da Universidade de Macau a Angola e Moçambique, o advogado e docente Miguel Quental retratou o dia-a-dia das populações destes países. As imagens podem agora ser vistas na UM até Dezembro numa mostra promovida pela própria instituição de ensino

 

Retratar a simplicidade e uma realidade bem diferente daquela que se vive em Macau. São estas as ideias transmitidas pelas fotografias tiradas por Miguel Quental, advogado e docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (FDUM), em Angola e Moçambique, e que podem agora ser vistas pelo grande público numa mostra promovida pelo Centro de Estudos Jurídicos e Judiciais da FDUM.

Ao HM, o causídico, que apenas faz fotografia em lazer, disse ter aceitado o repto do Centro para mostrar estas imagens que fez no contexto de uma visita de intercâmbio e cooperação às Faculdades de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, e Agostinho Neto, em Angola.

“Como gosto de fazer fotografia fui tirando algumas imagens durante essas viagens. Este é um Centro que se dedica ao estudo comparativo do Direito e às publicações que se fazem em língua portuguesa na sua relação com a China, e pensei que fosse interessante dar a conhecer a cultura e a forma de viver de Angola e Moçambique para os alunos da faculdade que nunca tiveram acesso a essa realidade.”

Para Miguel Quental, a ideia é também “levar pessoas à universidade, que é também um espaço de cultura”. E até se pode dizer que a mostra tem tido sucesso, pois logo no primeiro dia cerca de 50 pessoas visitaram o espaço.

Na exposição, inaugurada no passado dia 28 de Outubro e patente na entrada da FDUM, podem ver-se “fotografias com cenas de rua, miúdos a brincar na praia, vendilhões com o comércio tradicional, paisagens com barcos, a ria, o mar, a cidade e o campo”.

“Procurei fazer esse contraste, pois a realidade, em relação a Macau, é bastante diferente a todos os níveis, desde a alimentação, o tipo de comércio e a forma de vender os bens”, realçou.

Boa cooperação

Na inauguração, Miguel Quental destacou “estar longe” de ser fotógrafo, considerando-se apenas “um coleccionador de imagens que reflectem momentos de vida, uns bons, maus e outros mais felizes”.

“Procuro fotografar a vida e a nossa forma de viver, e fotografo o momento na esperança de o tornar eterno, pelo menos um pouco mais eterno. Quantas vezes olhamos e não vemos, ou vemos e não reparamos num pequeno pormenor, numa pequena forma, algo simples ou uma bonita cor”, disse.

Miguel Quental já tinha estado em Moçambique, mas, no tocante a Angola, esta foi a primeira vez. “Sempre tive o fascínio de ir a Luanda. Tive um sentimento misto, pois gostei de lá estar, mas senti muita tristeza, e pensei que talvez as pessoas não sejam realmente muito felizes. Procurei retratar um pouco disso e penso que consegui captar os miúdos na sua essência, a brincar na praia.”

Para o autor das imagens, foram captados “pequenos momentos” bem como a “tristeza” sentida em tantos rostos.

Sobre o resultado da presença do Centro de Estudos na FDUM nestes países, Miguel Quental destacou que “há muito trabalho a fazer” nestas universidades, tendo sido “muito importante” a visita da FDUM.

“Assinámos um protocolo com a Universidade Agostinho Neto e nos próximos anos vamos receber alunos e professores na UM. Vamos dar continuidade ao protocolo que mantemos há 25 anos com Moçambique. Cientificamente foram duas visitas que valeram a pena e procurei, com estas imagens, aliar a parte cultural à parte científica”, rematou.

Reciclagem | Macau tem mais de 4.000 postos de recolha

Estão espalhados pelo território de Macau mais de 4.000 postos de reciclagem, indicou Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), em jeito de balanço.

Passados 15 anos da criação da DSPA, o seu director recordou, em declarações ao jornal Ou Mun, que o Programa de Pontos Verdes foi criado em 2011, começando a recolha selectiva de materiais para reciclagem. Apesar das inúmeras críticas à eficácia dos programas de reciclagem do Governo, que antes da existência da DSPA era gerida pelo equivalente ao Instituto para os Assuntos Municipais, Raymond Tam salienta que a redução de desperdício na fonte e a recuperação de recursos são prioridades políticas do Governo.

O responsável salientou que em 2019, a DSPA introduziu as máquinas de recolha de garrafas de plástico e em 2021, estes equipamentos foram actualizados para também recolher latas de alumínio.

O peso das coisas

Em relação à contabilidade actual, Raymond Tam afirmou que este ano, até ao final de Julho, foram recolhidos dos postos de reciclagem espalhados pela cidade, das máquinas de recolha e das escolas quase 3,42 mil toneladas de papel, quase 1,1 mil de toneladas de resíduos de plástico e 13,4 milhões de latas.

Em relação à reciclagem de resíduos alimentares, o responsável realçou o programa de recolha que, desde 2012, tem alargado a sua rede de entidades e empresas participantes. Neste aspecto, Raymond Tam salienta que nos primeiros sete meses deste ano, as autoridades receberam mais de 1,2 toneladas de resíduos alimentares, provenientes de 220 restaurantes. A recolha e tratamento deste tipo de desperdício foi reforçado pela entrada em funcionamento dos centros ambientais Alegria, subordinados à DSPA, que começaram a receber resíduos alimentares em Abril de 2021.

O líder da DSPA realçou no balanço dos trabalhos de protecção ambiental, o progresso conseguido no tratamento de equipamentos electrónicos, pilhas e baterias usadas. Entre o início de 2020 até Julho deste ano, foram recebidos cerca de 805 mil equipamentos electrónicos e eléctricos, e entre o fim de 2016 e Julho deste ano, foram recolhidas cerca de 332 toneladas de pilhas e baterias usadas.

Nova Deli | Registado primeiro pico de poluição da estação

A poluição atmosférica atingiu ontem o primeiro pico da estação em Nova Deli, com concentrações de partículas nocivas até 50 vezes superiores ao nível considerado tolerável pelas autoridades sanitárias indianas.

A megalópole de cerca de 30 milhões de habitantes regista todos os anos grandes picos de poluição com a aproximação do Inverno.

Nesta altura do ano, os fumos diários produzidos pela indústria e pelos veículos combinam-se com os das queimadas agrícolas para criar uma nuvem que as temperaturas mais frias e os ventos mais fracos colocam sobre a cidade.

Ontem de manhã (hora local), o índice de qualidade do ar ultrapassou a marca simbólica dos 1.000 pontos em várias zonas de Nova Deli, sendo que um nível acima de 300 é considerado perigoso para os seres humanos.

As concentrações de partículas PM2.5 – as mais perigosas porque se difundem na corrente sanguínea – eram até 50 vezes mais elevadas nas primeiras horas da manhã do que o limiar considerado tolerável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Rajpath, a célebre esplanada rodeada pela Porta da Índia, um arco triunfal dedicado à memória dos indianos mortos em guerras, foi coberto ao amanhecer por um fumo particularmente denso. Um estudo publicado em Junho concluiu que a poluição atmosférica era responsável por 11,5 por cento das mortes em Deli, ou seja, 12.000 mortes por ano.

Rússia | Seul reitera acusação sobre presença de tropas de Pyongyang

Os serviços de informações da Coreia do Sul afirmaram ontem que há militares norte-coreanos na região russa de Kursk, depois de os Estados Unidos terem indicado o envolvimento de Pyongyang na guerra da Rússia contra a Ucrânia.

“As tropas norte-coreanas enviadas para a Rússia deslocaram-se para a região de Kursk nas últimas duas semanas”, refere um comunicado do Serviço de Informações de Seul.

O mesmo documento difundido ontem em Seul menciona o alegado destacamento das forças da Coreia do Norte no “campo de batalha”. “(Os militares de Pyongyang) já estão envolvidos em operações de combate”, afirmou ainda a mesma fonte.

Entretanto, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken referiu-se a uma resposta “firme” face ao envolvimento da Coreia do Norte, ao lado da Rússia, na guerra na Ucrânia, e apelou aos países europeus para que façam mais para acelerar a ajuda a Kiev.

Antony Blinken está de visita a Bruxelas, numa deslocação considerada urgente e num contexto de preocupações por parte da Ucrânia e de várias capitais europeias sobre a continuidade do apoio a Kiev após a reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

“As forças norte-coreanas estão envolvidas em combate e agora literalmente em combate: este novo elemento exige uma resposta firme e ela será dada”, disse o chefe da diplomacia norte-americana ao jornalista numa conferência de imprensa em que participou o secretário-geral da NATO, Mark Rutte.

“Trata-se de um desenvolvimento profundo e perigoso”, acrescentou Blinken, sem especificar como os Estados Unidos e os aliados tencionam reagir.

HK | Nomeado ‘guru’ financeiro para gabinete de ligação

Pequim anunciou ontem a nomeação de Qi Bin, vice-presidente do fundo soberano da China, para o cargo de adjunto do gabinete de ligação do governo central em Hong Kong, cuja posição como centro financeiro internacional está fragilizada.

Qi, de 57 anos, é vice-presidente e director-adjunto de investimentos da China Investment Corporation (CIC), um dos maiores fundos soberanos do mundo, com mais de 1,3 biliões de dólares de activos sob gestão.

Qi deve assumir a responsabilidade pelos assuntos económicos no gabinete de ligação, desempenhando um papel vital na coordenação das políticas económicas e financeiras entre a China continental e Hong Kong, segundo fontes citadas pelo South China Morning Post.

Doutorado em econometria pela Universidade de Tsinghua, em Pequim, trabalhou em grandes empresas de Wall Street, incluindo no banco de investimento Goldman Sachs, entre 1996 e 2000, antes de ingressar na Comissão de Regulação dos Valores Mobiliários da China (CSRC), onde trabalhou nos 16 anos seguintes.

Em 2016, entrou para a CIC como vice-presidente executivo, assumindo responsabilidade pelo planeamento estratégico e pelas operações de investimento do fundo soberano. Também supervisionou o departamento de investigação para diversificar ainda mais a estratégia de investimento em activos.

Durante o seu mandato, ajudou a liderar algumas medidas importantes de abertura do mercado, incluindo os programas de ligação entre praças financeiras Xangai – Hong Kong e Shenzhen – Hong Kong, destinados a integrar os mercados de acções do continente chinês com a Bolsa de Valores de Hong Kong.

Pensar em termos estratégicos

“Strategic thinkers don’t just make decisions; they assess and communicate their broader potential effects.”

Brenda Steinberg & Michael D. Watkins

A América perdeu o talento intelectual para pensar em termos estratégicos. Já não consegue gerir uma política externa coerente. Se continuar a descer esta encosta, será a guerra. Uma coligação para controlar a Eurásia. A incapacidade dos Estados Unidos de fornecer uma modesta assistência militar e financeira à Ucrânia é uma vergonha moral e estratégica. A América está envolvida numa luta amarga pelo controlo da Eurásia, que terminará com um vencedor. Os lados são claros e os Estados Unidos com os seus parceiros insulares ou peninsulares, os europeus, Israel, algumas potências árabes e Estados ao longo do litoral asiático contra uma coligação frouxa de potências revisionistas continentais, nomeadamente a China, o Irão e a Rússia. O resultado desta disputa definirá a história mundial para o resto do século. É por demais evidente que os Estados Unidos têm de competir em todas as regiões da Eurásia. Pensar em dar prioridade estratégica a uma ou a outra não só carece de substância como é perigoso.

Tais argumentos criam divisões nebulosas, fictícias e principalmente retóricas, quando a natureza da Eurásia está, pelo contrário, profundamente interligada económica e militarmente. O “centro de gravidade económica mundial” pode muito bem ter-se “deslocado para a Ásia” em termos puramente de PIB. Mas a produção asiática depende de recursos, capital e tecnologias de muito mais longe, como a China bem sabe e como a Rússia aprendeu à sua custa após a invasão da Ucrânia. Os laços euro-asiáticos implicam que o que acontece num extremo da massa bicontinental repercute-se no outro. Israel e o Irão estariam a enfrentar-se mesmo sem a guerra na Ucrânia, mas a agressão de 7 de Outubro de 2023 e as crises subsequentes não se teriam desenrolado como se desenvolveram sem a erosão da credibilidade estratégica americana e a insistência israelita numa relação com a Rússia. O mesmo acontecerá quando a guerra se estender à Ásia, o que muito provavelmente acontecerá.

Temos de ultrapassar a nossa perplexidade perante a ideia de um conflito euro-asiático e aceitar os desafios que temos pela frente. Caso contrário, a causa da civilização terá ainda mais dificuldades em sobreviver. As más escolhas estratégicas dos Estados Unidos contribuíram para esta situação. Não é intenção diminuir o papel dos outros actores. Os países europeus não conseguiram, mais ou menos, alimentar adequadamente as suas defesas desde a queda da União Soviética, facto que limitou grandemente a coerência da sua resposta ao expansionismo russo na Ucrânia ou a sua capacidade de agir independentemente da assistência estratégica americana. É claro que as potências revisionistas também contam muito e uma justifica a agressão aos seus vizinhos com base na crença bizarra de que a semelhança linguística exige unidade política; outra conduz subversões híbridas no Médio Oriente; outra ainda pressiona os parceiros asiáticos dos Estados Unidos.

No entanto, o factor-chave é o fracasso da política externa americana, uma vez que só os Estados Unidos têm a perspectiva estratégica para lidar com os problemas daquilo a que se poderia chamar a coligação da Orla Eurasiática. O Reino Unido e a França podem ter armas nucleares; o Japão, a Austrália, a Alemanha e a Itália podem ser economias prósperas e ter capacidades militares não negligenciáveis. Mas só os Estados Unidos têm os meios, os aliados e os interesses ao longo de todo o arco da Eurásia. Há já algum tempo que Washington saiu da tutela estratégica britânica, que durou grande parte da Guerra Fria, durante a qual o Reino Unido, ainda com a sensação de ser um império com alcance euro-asiático, podia dar conselhos coerentes aos decisores americanos. Actualmente, os Estados Unidos estão sozinhos. Nenhum dos seus aliados cultiva uma perspectiva propriamente euro-asiática necessária para liderar uma coligação num desafio pela supremacia.

O fracasso não está de modo algum escrito. A política externa europeia cometeu certamente erros mesmo durante a Guerra Fria. Entre eles, a bofetada de Eisenhower na cara de Paris e de Londres na crise do Suez, a retirada do Vietname e a cedência de Cuba a Moscovo. Mas, de um modo geral, a Europa foi liderada por estadistas lúcidos e eficazes. Mesmo a presidência de Carter, justificadamente criticada, deu uma viragem a partir de 1979, lançando as bases para a expansão militar da era Reagan que acabou por levar os soviéticos à exaustão. Kennedy permitiu a crise de Cuba, mas geriu-a bem para evitar uma catástrofe. A administração Nixon perdeu o Vietname do Sul, mas conseguiu uma política hábil para o Médio Oriente que transformou a região e fez de Israel o ponto central de uma estratégia coerente a longo prazo. Estes êxitos resultaram, em parte, do próprio Presidente dos Estados Unidos.

Mas o processo burocrático é imensamente complicado. Longe vão os tempos em que um pequeno grupo de conselheiros, os ministros dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, as altas patentes das Forças Armadas e funcionários civis seleccionados podiam tomar decisões com a confiança de que seriam implementadas de forma coerente nos vários ramos administrativos. Actualmente, o Estado é uma máquina burocrática que se rege por práticas rigorosas e estruturadas de recolha, tratamento, análise e divulgação de informações que facilitam a tomada de decisões. Ao longo do último século, o tipo de personalidade necessária no topo mudou. Uma figura como Henry Kissinger, algures entre um burocrata e um académico, continuaria a ser desejável, mas teria de combinar sensibilidade histórica e bom senso com qualidades de gestão e políticas. Figuras como ele são excepcionalmente difíceis de encontrar e cultivar em qualquer sistema educativo. O melhor que se pode aspirar é a burocratas experientes, alguns bons em gestão, outros bons em análise, outros bons em estratégia. Esta é a principal diferença entre o establishment da política externa de ontem e o de hoje. Uma diferença que explica os muitos erros recentes.

Qualquer estudante sério de história estratégica compreende imediatamente que as teorias da “gestão de conflitos” aplicadas à Ucrânia são meros exercícios pseudo-intelectuais. No entanto, ideias como estas tornam-se populares precisamente porque a actual elite burocrática foi educada num pequeno círculo de universidades como Harvard ou Yale, por vezes com um diploma adicional de Oxford, onde os mesmos mandarins do acaso ensinam. Pessoas agarradas a concepções convencionais e obsoletas, que inculcam nos seus alunos uma profunda aversão ao confronto. Aqueles que podem discordar da interpretação ortodoxa de uma crise como a de Cuba ou estão mortos como Bill Rood e Donald Kagan ou estão fora do circuito como Doug Feith por razões de temperamento e de auto-selecção profissional.

Quando, por outro lado, frequentamos os arquivos diplomáticos do fim da Guerra Fria e do período imediatamente a seguir, ficamos impressionados com a presciência de certas pessoas, como Dick Cheney, na altura Secretário da Defesa, que pouco se importava com o mal-estar russo face à expansão da NATO. E que reconheceram que, mesmo depois da era soviética, Moscovo representaria uma ameaça tal que mesmo os cenários mais calmos exigiriam décadas de contenção. Mesmo os seus opositores, como o muito elogiado Brent Scowcroft, operavam a um nível de sofisticação sem paralelo nos decisores e formadores de opinião actuais. Resumindo, os Estados Unidos e os seus aliados estão numa má situação porque a América e os seus parceiros, consequentemente perderam o talento intelectual para pensar em termos estratégicos. Isto levanta duas questões para os países europeus que têm interesse em manter a actual ordem euro-asiática.

Um interesse que diz respeito a todos os actores do continente, da Ucrânia a Portugal, incluindo o húngaro Orban, o eslovaco Fico e o sérvio Vucic, porque a realidade é que mesmo os chamados soberanistas só sobrevivem porque são mantidos pela União Europeia e pela segurança proporcionada pelo sistema UE-NATO. A primeira questão é se estamos a assistir a um declínio da América. A resposta é um sim categórico. Não há outra maneira de explicar quinze anos de uma política externa cada vez mais inconsistente. Em todas as áreas, a situação era sempre recuperável, como a administração de George W. Bush ironicamente demonstrou ao recapturar o desastre iraquiano com o surto, um facto sempre ignorado por um revisionismo intelectual motivado mais pela ignorância e antipatia ideológica do que por uma análise aprofundada dos factos.

Depois, porém, a administração Obama abandonou o Iraque, reduziu as despesas militares, procurou um desanuviamento quimérico com a Rússia e a China, apoiou tacitamente a expansão do Irão em detrimento de Israel e dos países do Golfo. A presidência de Trump fez algumas correcções substanciais, com uma postura mais agressiva em relação ao Irão e a prestação de ajuda militar à Ucrânia; mas nunca considerou um aumento concreto das despesas de guerra, dando antes prioridade às despesas sociais numa altura em que os Estados Unidos estavam a entrar numa fase de turbulência internacional. A administração Biden continuou na mesma linha, achatando efectivamente o orçamento do Pentágono em termos reais, enquanto abandonava o Afeganistão, procurava outro acordo com o Irão e se recusava a articular uma verdadeira estratégia para a Ucrânia, permitindo que a guerra se arrastasse, a um preço cada vez maior em termos de vidas. Este é um retrato de declínio manifesto. Significa que os aparelhos burocráticos foram totalmente incapazes de enfrentar os desafios actuais, por razões intelectuais, morais e políticas.

A continuar a trajectória actual, não só se acabaria numa grande guerra euro-asiática, como provavelmente se perderia. Ou talvez fosse possível ganhar, mas com imensos custos humanos e económicos. É claro que há uma ressalva. Nunca enfrentámos as condições de hoje, mas já defrontámos condições igualmente adversas e recuperámos. Antes da II Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham decisores mais prudentes, apesar de um clima popular muito contrário ao envolvimento na Eurásia. No entanto, embora possuíssem um enorme poder industrial, não tinham qualquer acesso diplomático ou estratégico às potências euro-asiáticas; consequentemente, organizar o envio de forças de combate para o estrangeiro era uma tarefa formidável, muito mais do que a retrospectiva nos diria. Além disso, no passado, um grande choque estratégico despertou normalmente no povo americano uma consciência nacional mais profunda que ajudou a colocar os Estados Unidos na direcção certa. Actualmente, outro choque deste tipo poderá ter o mesmo efeito, especialmente se incluir um custo em termos de vidas americanas.

A segunda questão é ainda mais importante, pois face ao declínio americano, o que é que os países europeus devem fazer? A resposta mais fundamentada, e difícil, é que devem passar por uma transformação intelectual para produzir uma verdadeira estratégia a longo prazo para a Eurásia. Só assim a Europa, poderá sobreviver sem os Estados Unidos. Uma Europa unida, uma evolução da actual União Europeia, pode ser parte da solução, mas não é a solução. O obstáculo é intelectual. Se os Estados Unidos têm falta de burocratas capazes de conduzir um verdadeiro sistema político, os europeus têm um défice ainda maior neste domínio. Existem indivíduos talentosos, não faltam instituições académicas, bem como alguns políticos, advogados e analistas competentes. Mas não há infra-estruturas para uma verdadeira abordagem de síntese que cultive sistematicamente a capacidade de pensar e desenvolver uma estratégia para a Eurásia. Este tipo de capacidade só pode vir de governos nacionais que se interessem seriamente por certas secções da massa bicontinental.

Neste domínio, a Europa pode desempenhar um papel central. Kissinger observou que a sua política externa consiste em encontros sorridentes com importantes estadistas; muito correctos, dada a necessidade de fazer malabarismos com uma política interna sempre frágil. Todos os países da Europa Ocidental, estão subdimensionados e não estão optimizados para o combate sustentado. No entanto, dispõem de unidades rapidamente destacáveis, forças especiais de elevada qualidade (especialmente anfíbias) e vários veículos sofisticados. O centro da abordagem da Europa deve ser o apoio público e coberto à Ucrânia e especialmente a Israel, dado o papel central de Jerusalém no Médio Oriente sistémico mas estratégico e dada a importância deste quadrante para a segurança europeia. Depois, a Europa seria prudente se continuasse a sua abordagem musculada à China e se integrasse com alguns países da cintura Intermarium, incluindo a Ucrânia.

O que precede não substitui a liderança americana. Os Estados Unidos continuam a ser indispensáveis até um certo ponto. A coligação Rimland não existiria sem a liderança americana e os seus meios para facilitar as operações de ponta a ponta na Eurásia. No entanto, a vantagem desta coligação é a possibilidade de os seus membros individuais darem impulsos decisivos, desde que estejam rodeados por um ambiente que lhes proporcione enquadramento, prudência, conhecimentos especializados e uma visão comum do mundo. A República Checa é um exemplo disso, pois Praga forçou recentemente o braço de Berlim, reforçou a nova proactividade da França, obrigou Macron a aceitar a aquisição de munições não europeias e forneceu um apoio indispensável às capacidades de defesa ucranianas. A ameaça na Eurásia não diminuiria se a América regressasse a casa. Só aumentaria. A Rússia, a China e o Irão continuariam a exercer pressão sobre um Ocidente distorcido. Serão necessários nervos, habilidade e, acima de tudo, inteligência para conduzir os europeus na direcção certa.

Rússia quer contrariar ‘dupla contenção’ dos EUA

O secretário do Conselho de Segurança russo, Sergei Shoigu, disse ao chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, que os dois países precisam de contrariar a política de “dupla contenção” exercida por Washington contra Pequim e Moscovo. “A parceria global [sino-russa] e a cooperação estratégica representam um modelo de colaboração entre duas potências no mundo actual”, afirmou Shoigu, citado pelas agências noticiosas russas.

Os dois homens encontraram-se em Pequim para abordar questões de segurança, num contexto de guerra na Ucrânia e da aproximação militar entre a Rússia e a Coreia do Norte, depois de Pyongyang ter anunciado hoje que ratificou um acordo bilateral histórico de Defesa com a Rússia.

Em outubro, o ministro chinês da Defesa, Dong Jun, disse ao seu homólogo russo, Andrei Belooussov, que os dois exércitos deveriam “aprofundar a sua cooperação estratégica”, mas não relacionou as suas observações com a guerra na Ucrânia, na qual a China não tem intenção de participar.

A China, que nunca condenou o Kremlin pela invasão e cujos fortes laços económicos e militares com a Rússia são vistos com desconfiança pelo Ocidente, apresenta-se como um mediador no conflito. Pequim apela regularmente a conversações de paz e ao respeito pela integridade territorial de todos os países, incluindo a Ucrânia.

No entanto, a NATO denunciou o apoio económico da China à Rússia, que considera crucial para a máquina de guerra russa. Em resposta, a China instou a aliança atlântica a deixar de “incitar ao confronto” entre blocos. Pequim também critica regularmente o Ocidente por “deitar lenha na fogueira” ao fornecer continuamente armas à Ucrânia.

Após a sua estadia em Pequim, Sergei Shoigu deverá também participar esta semana no Salão Aéreo de Zhuhai, no sul da China, o maior do género no país asiático, onde o caça furtivo de “quinta geração” mais avançado da Rússia, o Su-57, fez hoje um voo de apresentação.

Antigo chefe da OMC pede “frente unida” de UE e China contra Trump

O antigo director-geral da Organização Mundial do Comércio Pascal Lamy pediu à China para procurar um consenso com outras potências comerciais, como a União Europeia, para formar uma “frente unida contra o protecionismo” de Donald Trump.

Em entrevista ao jornal de Hong Kong South China Morning Post, o antigo Comissário Europeu do Comércio (1999-2004) afirmou que “o que a China tem de fazer é falar com outras potências comerciais, como a União Europeia, a Índia, o Japão e a Coreia, e procurar uma posição comum”. “Estas potências comerciais do mundo que não são os Estados Unidos podem manter o comércio aberto entre si e decidir o que fazer com os EUA”, afirmou o francês, diretor da OMC entre 2005 e 2013.

Durante a campanha que conduziu à vitória eleitoral, Trump prometeu taxas alfandegárias de 60% a 100% sobre bens importados da China, bem como uma taxa geral de 10-20% sobre todos os bens provenientes do estrangeiro. No primeiro mandato na Casa Branca (2017-2021), o republicano iniciou uma guerra comercial contra a China.

Lamy, actualmente professor honorário da China-Europe International Business School (CEIBS), disse acreditar que Trump está errado no diagnóstico do impacto do comércio externo na economia do país: “O que está a acontecer é que os EUA consomem demasiado e poupam muito pouco”.

“No sistema macroeconómico chinês, com muito pouco consumo e muita poupança, a capacidade de produção excedentária tem de ir para as exportações”, descreveu.

“Se temos uma grande capacidade de produção e um consumo interno insuficiente, somos obrigados a internacionalizar-nos para vender no mercado mundial a um preço mais baixo do que no mercado interno. Trata-se de um problema macroeconómico, mas com uma dimensão comercial, que terá inevitavelmente de ser resolvido”, disse.

Um dos setores emergentes em que a concorrência feroz a nível interno fez com que os fabricantes chineses procurassem expandir-se para o estrangeiro foi o dos veículos elétricos, agravando as fricções com a UE.

Embora Pequim tenha respondido às taxas impostas por Bruxelas com investigações contra a carne de porco e os produtos lácteos importados da UE, Lamy não é favorável à descrição da situação como uma guerra comercial: “Não há nada disso entre os dois. Quem diz isso está a confundir a questão”.

Na opinião do especialista, existe apenas uma “diferença de perceção” sobre a extensão dos subsídios chineses ao setor dos elétricos: “A OMC resolverá este desacordo (…) Não merece ser chamado de guerra comercial”.

Apesar de a autoridade da OMC ter sido posta em causa nos últimos anos, Lamy considerou que a organização continua a ser relevante, embora reconheça que necessita de reformas mais eficazes. Lamy pediu a Pequim e a Bruxelas que desempenhem um papel de liderança.

“As regras da OMC, redigidas há 30 anos, já não estão em conformidade com os tempos atuais (…). Se a UE e a China chegarem a acordo sobre a forma de o atualizar e de abordar melhor a OMC, muitos outros países juntar-se-ão e participarão”, afirmou.

Mar do sul da China | Patrulhas no recife disputado com Filipinas

A China realizou ontem patrulhas aéreas e navais na zona do recife de Huangyan, conhecido também como Scarborough, uma zona de disputa territorial com as Filipinas, no mar do Sul da China. O Comando do Teatro Sul do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, disse que as operações incluíram a vigilância do espaço aéreo e das águas em torno do recife.

De acordo com o comunicado oficial, o objetivo do destacamento foi assegurar o controlo e a proteção destas zonas, que Pequim considera parte do seu território soberano. O Exército chinês sublinhou que a missão foi conduzida de acordo com a lei, sublinhando a legitimidade da patrulha.

A operação surge dias depois de a China ter acusado as Filipinas de “violar a soberania” chinesa, na sequência da aprovação de leis que Manila considera necessárias para proteger os direitos marítimos do país no mar do Sul da China.

Pequim qualificou aquelas leis como “uma provocação” destinada a reforçar a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia, que a China rejeita categoricamente.

O recife de Huangyan tem sido um ponto de fricção entre os dois países, com confrontos contínuos desde que Pequim assumiu o controlo efectivo do mesmo em 2012.

A operação chinesa surgiu no meio de tensões crescentes na região, com as Filipinas a procurarem alinhar as leis com a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar (CNUDM) e reafirmar direitos na zona económica exclusiva do país, enquanto a China mantém as reivindicações com base em argumentos históricos.

Pelo mar do Sul da China transitam cerca de 30% do comércio global e abriga 12% das reservas pesqueiras do mundo, ao mesmo tempo que abriga potenciais depósitos de petróleo e gás. Desde a chegada de Ferdinand Marcos Jr. ao poder, em 2022, impulsionado pelos EUA, as Filipinas têm sido mais assertivas contra as reivindicações da China.

China | Plano de 10 biliões de yuan é “bom começo” para reduzir dívida oculta, diz S&P

A agência de ‘rating’ S&P afirmou que o pacote de 10 biliões de yuan anunciado pela China é um “bom começo” para resolver a “dívida oculta” das administrações locais.

De acordo com estimativas do ministro das Finanças chinês, Lan Fo’an, que anunciou o pacote na semana passada, o programa vai reduzir a “dívida oculta” das administrações locais e regionais de 14,3 biliões de yuan para cerca de dois biliões de yuan, até 2028.

Este valor, muito aquém dos 66 biliões de yuan (8,6 biliões de euros) que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que os canais informais de financiamento, conhecidos como LGFV, acumularam, refere-se à dívida destas entidades, reconhecida como passivo pelas administrações locais, observou a S&P.

“O novo programa de conversão da dívida da China reduzirá drasticamente a dívida oculta das LGFV, mas, a dívida total continua a aumentar rapidamente e as LGFV serão responsáveis pela gestão e reembolso da própria dívida corporativa muito maior”, afirmou Laura Li, analista da S&P, num relatório.

Na opinião da analista, o plano “tornará as obrigações subjacentes à grande dívida das LGFV quase completamente transparentes” e vai permitir às administrações locais poupar nos custos de financiamento. Lan estimou que as poupanças serão de cerca de 600 mil milhões de yuan (78,2 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos fiscais.

“Além disso, o fim iminente da ‘dívida oculta’ tornará as autarquias locais mais disciplinadas na gestão financeira”, argumentou Li.

“No entanto, a dívida das sociedades de responsabilidade limitada é um problema muito maior e este plano não o resolverá. Esta dívida é mais do dobro do que era há cinco anos, porque as entidades estão a ser perturbadas por retornos fracos, custos de juros mais elevados e uma transição instável para uma abordagem mais comercial”, advertiu.

Li disse também acreditar que os governos serão “cada vez mais relutantes” em oferecer apoio direto à dívida se uma destas instituições entrar em crise.

Embora o anúncio de Lan tenha desiludido alguns analistas, que esperavam um estímulo fiscal mais ambicioso para impulsionar a procura ou resolver a crise do setor imobiliário, reconhecem que a ideia geral do governo é resolver “problemas estruturais” e, neste caso particular, sanear os balanços das administrações locais e regionais para lhes permitir reinvestir em projetos que sustentem o crescimento.

As expectativas eram elevadas porque, nas últimas semanas, vários Ministérios e agências governamentais chineses realizaram múltiplas conferências de imprensa em que anunciaram, aos poucos, medidas de estímulo destinadas a relançar a recuperação económica.

A fraca procura interna e externa, os riscos de deflação, os estímulos insuficientes, uma prolongada crise imobiliária e a falta de confiança dos consumidores e do setor privado são algumas das razões apontadas pelos analistas para explicar a situação na segunda maior economia do mundo.

Xi Jinping inaugura megaporto no Peru

Construído pela China, o porto de Chancay, a norte de Lima, vai ser inaugurado na quinta-feira pelo Presidente chinês, Xi Jinping, ilustrando a importância da infraestrutura nos planos de Pequim para a América Latina.

Com o custo de construção estimado em 3,5 mil milhões de dólares, o porto visa servir como centro logístico fundamental na região e um ponto de ligação crucial entre a América do Sul e o Indo-Pacífico. A infraestrutura é de especial interesse para o Brasil, que pode assim obter acesso ao oceano Pacífico.

O projecto Rotas de Integração da América do Sul, iniciativa do governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, para ligar o Brasil aos principais centros de comércio e desenvolvimento da região, inclui duas rotas com destino ao porto de Chancay.

“Esta integração sul-americana que estamos a planear foi pensada tendo em conta mudanças económicas e estruturais dos últimos 24 anos. No passado, exportávamos mais para a Argentina, Estados Unidos e Europa. Isso mudou: a China é agora o nosso principal parceiro”, justificou o secretário de coordenação institucional do Ministério do Planeamento brasileiro, João Villaverde.

Em 2023, as exportações do Brasil para a China superaram os 104 mil milhões de dólares (98 mil milhões de euros), o maior valor de sempre vendido pelo Brasil para um só país. O mercado chinês absorve já 30% das vendas brasileiras para o exterior.

Para os Estados Unidos, que veem com apreensão a crescente influência da China na América Latina, o porto é visto como peça fundamental no tabuleiro económico e geopolítico da região.

“Esperem até que o porto de Chancay, no Peru, seja ligado ao Brasil. Isso vai servir de alerta para todos”, disse Erik Bethel, antigo representante dos EUA no Banco Mundial, durante uma conferência em Miami sobre segurança no hemisfério ocidental. “Se não estão a acompanhar, procurem no Google. É um grande problema”, vincou.

Na última década, o país asiático construiu de raiz ou comprou participações maioritárias numa vasta rede de portos fundamentais para o comércio mundial, desde o Pireu, na Grécia, a Gwadar, no Paquistão.

Segundo o grupo de reflexão Council on Foreign Relations, as empresas estatais chinesas detêm participações em cerca de 100 portos em 64 países, em todos os oceanos e continentes, excepto na Antártida. A própria China alberga oito dos dez maiores portos de contentores do mundo.

Durante o mesmo período, o país asiático modernizou as forças navais e tem agora a maior marinha do planeta.

Com quase 18 metros de profundidade, o terminal de águas profundas do porto de Chancay pode acolher os maiores navios porta-contentores do mundo, capazes de transportar até 24.000 contentores.

Segundo a Cosco Shipping Ports, a estatal chinesa que detém 60% do porto, a infraestrutura vai reduzir para já o custo do transporte de e para Peru, Chile, Colômbia e Equador, que vão deixar de ter de utilizar portos no México e nos EUA para o comércio com a Ásia.

A instalação “vai permitir à China posicionar-se nesta parte do mundo”, explicou Oscar Vidarte, professor de relações internacionais na Universidade Católica do Peru, citado pela agência de notícias France-Presse.

APEC | Xi Jinping no Peru

O Presidente chinês, Xi Jinping, partiu ontem para o Peru para participar na cimeira do fórum de Cooperação Económica Ásia – Pacífico (APEC), embora antes faça uma visita às Canárias, onde tem previsto fazer escala.

No Peru, Xi vai participar na cimeira da APEC, que representa mais de um terço da população mundial, quase 54% do produto interno bruto (PIB) mundial e 44% do comércio mundial. À margem da cimeira, Xi poderá encontrar-se com o Presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, e com os primeiros-ministros do Japão e da Coreia do Sul.

Realiza também uma visita de Estado ao Peru, durante a qual vai assinar o protocolo para otimizar o Acordo de Comércio Livre com este país. Depois da APEC, Xi parte para o Rio de Janeiro para participar na 19.ª Cimeira de Líderes do G20, de 17 a 21 deste mês, e efetuar uma visita de Estado ao Brasil.

A imprensa chinesa referiu esta semana que a digressão demonstra “a procura de solidariedade da China com o Sul Global” e “as certezas” e estabilidade que Pequim proporciona numa altura em que “o mundo enfrenta desafios complexos, incluindo conflitos geopolíticos, crises económicas e incertezas”.

Coreia do Norte ratifica acordo de defesa com Rússia

A Coreia do Norte ratificou um acordo histórico de defesa com a Rússia, selando a aproximação no contexto da guerra de Moscovo na Ucrânia, informou ontem a agência de notícias oficial norte-coreana KCNA.

O acordo “foi ratificado sob a forma de um decreto” assinado pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, na segunda-feira, disse a KCNA. O Presidente russo, Vladimir Putin, também assinou o tratado de defesa mútua, anunciou o Kremlin no fim de semana.

Concluído durante a visita de Putin a Pyongyang, em Junho, o tratado entre os dois países prevê uma “assistência militar imediata” recíproca em caso de ataque a um dos dois.

De acordo com Kiev, cerca de 11 mil soldados norte-coreanos já foram destacados para a Rússia e começaram a combater os ucranianos em território russo, na região de Kursk, uma pequena parte da qual está ocupada pelas forças ucranianas desde uma ofensiva lançada em Agosto. Até à data, o Kremlin tem evitado questões sobre a presença de reforços norte-coreanos.

Cooperação estreita

O acordo formaliza meses de aprofundamento da cooperação em matéria de segurança entre os dois países, que foram aliados durante a Guerra Fria.

“Pyongyang e Moscovo vão reivindicar a legitimidade do destacamento do exército norte-coreano na Rússia e afirmar que esta acção é justificada pelo tratado ratificado entre as duas partes”, antecipou Hong Min, do Instituto para a Unificação Nacional, sediado na Coreia do Sul, “mesmo que o tratado não anule as resoluções da ONU que proíbem essa cooperação”.

De acordo com o especialista, a ratificação do tratado abre a perspectiva de “destacamentos adicionais e potencialmente maiores” de soldados norte-coreanos na Rússia.

Moscovo e Pyongyang tornaram-se consideravelmente mais próximos desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022. O acordo também obriga os dois países a cooperar a nível internacional para se oporem às sanções ocidentais e coordenarem posições na ONU.

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Choe Son-hui, afirmou, durante uma visita recente a Moscovo, que Pyongyang ia “apoiar firmemente os camaradas russos até ao dia da vitória”, descrevendo a ofensiva contra a Ucrânia como uma “luta sagrada”.

Baku | Guterres pede tributação da aviação e transporte marítimo

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou ontem em Baku a novos impostos sobre o transporte marítimo e de aviação para ajudar os países pobres a financiar a transição climática.

“Os poluidores devem pagar”, disse Guterres no seu discurso de abertura da COP29, que se concentrou em grande parte nos problemas de financiamento que o mundo em desenvolvimento enfrenta na sua transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, quando são também os países pobres que menos contribuem para o aquecimento global.

António Guterres, que colocou a crise climática no centro das suas preocupações desde o seu primeiro mandato, recorreu mais uma vez à retórica alarmista para sublinhar a urgência de tomar decisões: “Vamos ouvir o tiquetaque do relógio. Estamos em contagem decrescente para limitar o aumento das temperaturas para 1,5 graus e o tempo não está do nosso lado”.

Lembrou que o mundo já atingiu o seu recorde de dia mais quente, também o seu mês mais quente “e este vai ser certamente o ano mais quente”, disse, recorrendo a um inquérito da Universidade de Oxford e do PNUD (Organização das Nações Unidas).

“Os ricos causam o problema e os pobres pagam o preço mais alto”, sublinhou, referindo-se a um relatório da Oxfam segundo o qual “os bilionários mais ricos emitem mais carbono em uma hora e meia do que uma pessoa média emite em toda a sua vida”.

Guterres recordou também os problemas que os países pobres enfrentam para conceber uma adaptação às energias limpas.

“A diferença entre as necessidades de adaptação e as finanças pode atingir 359 mil milhões em 2030”, e isto significa que os países em desenvolvimento terão de alocar um mínimo de 40 mil milhões anuais de 2025 com esse objectivo, o que não conseguirão fazer sozinhos. O financiamento climático não é caridade”, frisou.

António Guterres não apontou o dedo a nenhum governo, mas lançou um dardo aos países ou políticos que se agarram aos combustíveis fósseis

“A revolução da energia limpa está aqui. Não há nenhum grupo, nenhuma empresa, nenhum governo que a possa travar”, referiu, lembrando que o mundo inteiro está a assistir a “uma aula magistral de destruição climática. Nenhum país está seguro”, disse.

Ausências de peso

A 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29) arrancou na segunda-feira em Baku, no Azerbaijão, e vai decorrer até dia 22.

Nem o Presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, nem o seu sucessor, o republicano Donald Trump, vão participar na reunião de Baku, ausências a que se juntam as do chefe do Kremlin, Vladimir Putin, do chinês Xi Jinping, e do brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, também recusou o convite bem como o chanceler alemão, Olaf Scholz, e a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen.

Na segunda-feira, primeiro dia da cimeira do clima, os países adoptaram as novas regras da ONU para o controverso mercado dos créditos de carbono, um passo fundamental para ajudar os países a cumprir as obrigações climáticas.