Beirute/Explosões | China envia equipa de médicos para o Líbano

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês vai enviar uma equipa de médicos e equipamento para o Líbano, após a explosão do porto que fez mais de 5.000 feridos e pelo menos 137 mortos, anunciou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O porta-voz do ministério, Wang Wenbin, disse que o Presidente chinês, Xi Jinping, enviou uma mensagem de condolências ao presidente do Líbano, Michel Aoun, após a explosão.”Como um país amigo do Líbano, a China está disposta a continuar a prestar assistência, dentro das suas capacidades, para o Líbano superar as dificuldades”, disse Wang, em conferência de imprensa.

A China é um grande cliente do petróleo e gás do Médio Oriente e, nos últimos anos, tentou aumentar a sua influência na região, como alternativa aos EUA e à Europa. O país asiático contribui também com soldados para operações de manutenção da paz das Nações Unidas no sul do Líbano.

Duas fortes explosões sucessivas sacudiram Beirute na terça-feira, causando, pelo menos 137 mortos e mais de 5.000 feridos, segundo o último balanço feito pelas autoridades libanesas. Até 300.000 pessoas terão ficado sem casa devido às explosões, segundo o governador da capital do Líbano, Marwan Abboud.

As violentas explosões deverão ter tido origem em materiais explosivos confiscados e armazenados há vários anos no porto da capital libanesa.

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, revelou que cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio estavam armazenadas no depósito do porto de Beirute que explodiu.

Hiroshima assinala 75.º aniversário do bombardeamento com apelos à assinatura de tratado nuclear

[dropcap]H[/dropcap]iroshima assinalou hoje o 75.º aniversário do bombardeamento atómico da cidade japonesa, com o autarca da cidade a criticar o Governo Japonês por se recusar a assinar o tratado de proibição de armas nucleares.

O apelo foi feito pelo presidente da Câmara de Hiroshima, Kazumi Matsui, a cerca de 800 pessoas reunidas no Parque da Paz da cidade, entre as quais primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e sobreviventes do ataque nuclear contra a cidade a 06 de Agosto de 1945.

Há precisamente 75 anos, em Hiroshima, às 08:15, hora local, era lançada a primeira bomba atómica em cenário de Guerra, pelo bombardeiro norte-americano Enola Gay. A bomba tinha o nome de código “Little Boy”, três metros de comprimento, 71 cm de largura e uma potência equivalente a 13 quilotoneladas de TNT, provocando a morte a 140.000 pessoas.

Três dias depois, os Estados Unidos lançaram, a 9 de Agosto de 1945, uma segunda bomba atómica sobre Nagasaki, à capitulação do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial. “Apelo ao Governo japonês para que atenda ao apelo do Hibakusha [pessoas afectadas pela explosão] para assinar, ratificar e tornar-se parte do Tratado de Proibição de Armas Nucleares”, disse o presidente da câmara.

O tratado foi aprovado na ONU a 7 de Julho de 2017 por 122 estados membros, mas para que entre em vigor precisa de ser ratificado por pelo menos 50 nações, e até agora apenas 40 o fizeram.

O Japão, tal como as potências nucleares, ficou de fora desta iniciativa, que adere ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que restringe a posse de armas atómicas e que entrou em vigor há meio século após ter sido assinado pela grande maioria das nações do mundo, incluindo o Japão.

Estes dois tratados, sublinhou o autarca, são “instrumentos críticos para eliminar as armas nucleares”.

“Agora, mais do que nunca, os líderes mundiais devem reforçar a sua determinação para que este quadro legal funcione eficazmente”, insistiu, perante as cerca de 800 pessoas, um décimo dos participantes que assistiram no ano passado à cerimonia, que desta vez teve de ser reduzida devido ao risco de propagação da covid-19.

O presidente da câmara de Hiroshima falou após a apresentação de oferendas de flores num memorial relativa à tragédia a que se seguiu um momento de silêncio enquanto um sino tocava, na mesma hora em que a bomba caiu sobre Hiroshima.

Numa mensagem posterior, o primeiro-ministro japonês evitou qualquer conversa sobre o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, mas disse que o seu país lutará “com tenacidade” para alcançar um mundo livre de armas nucleares. Do domingo será a vez de se assinalar o 75.º aniversário Nagasaki.

Identificados 37 novos casos de covid-19 na China nas últimas 24 horas

[dropcap]A[/dropcap] China registou 37 novos casos confirmados de coronavírus na quarta-feira, 27 dos quais contágios locais na região oeste de Xinjiang, onde um surto surgiu há quase um mês, informou hoje a Comissão Nacional de Saúde. Todos os casos em Xinjiang ocorreram por contágio local. Em Liaoning, a província no nordeste da China onde há outro surto activo, foram registados três novos casos. O país identificou ainda sete casos entre viajantes oriundos do exterior.

É o sexto dia consecutivo em que a China regista menos de cinquenta infecções, depois de na semana passada ter tido três dias seguidos acima de cem.

As autoridades de saúde detalharam que, até à meia-noite local, 10 pacientes receberam alta, pelo que o número total de casos activos na China continental se fixou em 837, entre os quais 34 permanecem em estado grave.

A Comissão não anunciou novas mortes por covid-19, mantendo-se o total desde o início da pandemia em 4.634, entre as 84.528 pessoas infetadas oficialmente diagnosticadas na China.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 701 mil mortos e infectou mais de 18,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Malásia insiste que suposto mentor de desvio multimilionário está escondido em Macau

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades da Malásia voltaram a afirmar que o suposto mentor de um desvio multimilionário, que levou à condenação do ex-primeiro-ministro malaio, está escondido em Macau.

“Jho Low conduz os seus negócios quase livremente” em Macau, disse esta quarta-feira o chefe de polícia da Malásia à agência de notícias France-Presse (AFP), que acrescentou um pedido de ajuda: “Queremos que as autoridades locais e a polícia de Macau ajam com responsabilidade”.

Abdul Hamid Bador criticou “a falta de cooperação” das autoridades, apesar de ainda há uma semana o Governo de Macau ter desmentido categoricamente a presença de Low no território.

“A Polícia da Malásia, contrariando as regras e as práticas no âmbito de cooperação policial internacional, divulgou unilateralmente que Lao XX [Jho Low] se encontra em Macau, informação que não corresponde à verdade”, segundo um comunicado do Gabinete do Secretário para a Segurança.

“Em 2018, o sub-gabinete de Macau da Polícia Judiciária do Gabinete Central Nacional Chinês da Interpol recebeu um pedido das autoridades da Malásia, tendo dado resposta clara de que o referido indivíduo não se encontrava em Macau”, pode ler-se na mesma nota.

Desde então, “a Polícia da Malásia não efectuou qualquer comunicação para as autoridades de Macau, nem formulou qualquer pedido”, salientaram as autoridades.

O Governo acrescentou ainda que a Polícia de Macau “cumpre sempre a lei e os procedimentos, tomando uma atitude pragmática e franca e de acordo com os princípios de igualdade, reciprocidade e de respeito mútuo no que toca ao desenvolvimento de uma cooperação policial efetiva com todos os países e regiões”.

Apesar do desmentido, o chefe de polícia da Malásia adiantou que uma mulher que enviou documentos a Low em Macau foi detida este ano, o que ajudou a determinar que o financeiro estaria naquela cidade.

Outros dois suspeitos encontram-se em Hong Kong e na cidade chinesa de Shenzhen, segundo Abdul.

O escândalo ligado ao desvio de um fundo soberano no valor de quase quatro mil milhões de euros culminou no final de julho numa sentença de 12 anos de prisão para o ex-primeiro-ministro da Malásia Najib Razak, dois anos depois de provocar a queda do seu Governo.

Explosão em Beirute | China lamenta incidente “infeliz” e junta-se à comunidade internacional na ajuda humanitária

A comunidade internacional está a responder em força ao apelo de ajuda feito terça-feira pelo primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, após as duas explosões registadas em Beirute que provocaram pelo menos 100 mortes e mais de 4.000 feridos. A China é um desses países, tendo lamentado o “incidente infeliz” e expressado solidariedade, além de se prontificar a ajudar o Líbano, “dentro das possibilidades” de Pequim.

Segundo a Xinhua, o Presidente chinês, Xi Jinping, enviou hoje condolências às vítimas numa mensagem destinada a Michel Aoun, seu homólogo libanês. Na mesma mensagem, Xi Jinping revelou estar “chocado” com as enormes explosões, esperando uma “rápida recuperação” para os milhares de feridos.

As garantias de ajuda, que se juntaram às mensagens de solidariedade, já vieram de grande parte dos países da União Europeia, Rússia, Estados Unidos e do mundo árabe, estando em curso as operações de transporte desde hospitais de campanha a equipamentos médicos, pessoal sanitário e medicamentos, a alimentos de primeira necessidade.

A Alemanha, cuja embaixada em Beirute ficou danificada pelas explosões, indicou ter pronta para enviar para a capital libanesa já hoje uma equipa de resgate de 47 membros, tudo dependendo de uma autorização do Governo libanês.

Por seu lado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, desloca-se na quinta-feira ao Líbano para “se encontrar com todos os atores políticos”, enquanto o primeiro-ministro gaulês, Jean Castex, garantiu que, ainda hoje, partem para Beirute três aviões com equipas médicas para intervenção imediata e 25 toneladas de material e equipas de segurança do Ministério do Interior.

A Rússia também vai enviar cinco aviões de carga com ajuda de emergência para a capital do Líbano, que integram pessoal médico, hospitais de campanha e um laboratório para testes de SARS CoV-2.

A UE está a preparar o destacamento urgente de meios para ajudar as autoridades libanesas, estando, para já a coordenar o destacamento urgente de mais de 100 bombeiros altamente treinados, com veículos, cães e equipamento, especializados em busca e salvamento em contextos urbanos.

Os meios disponibilizados por Bruxelas, depois da ativação do Mecanismo de Proteção Civil da UE a pedido de Beirute, irão trabalhar com as autoridades libanesas.

O executivo comunitário destaca ainda que a Holanda, a Grécia e a República Checa confirmaram já a sua participação nesta operação e que a França, Polónia e Alemanha ofereceram ajuda através do mecanismo. Portugal também se disponibilizou para apoiar, dentro dos mecanismos dos 27.

Chipre, localizado 180 quilómetros a oeste de Beirute, também anunciou hoje o envio de dois helicópteros, com 10 especialistas em emergência médica e oito cães especializados em encontrar sobreviventes entre os destroços dos muitos edifícios destruídos, bem como alimentos não perecíveis.

O mundo árabe começou terça-feira a garantir o envio de hospitais de campanha, pessoal médico, com o Qatar a anunciar hoje o envio de um avião com 40 toneladas de equipamentos sanitários, a partir de um centro logístico das agências das Nações Unidas e de organizações humanitárias internacionais que instalou no emirado.

Segundo a agência de notícias oficial, o Qatar estabeleceu uma “ponte aérea” até Beirute para enviar nos próximos dias “todas as ajudas e equipamentos médicos necessários”, enquanto o Koweit também indicou que vai transportar para o Líbano “ajuda médica urgente para os irmãos libaneses”.

A Jordânia já se disponibilizou para enviar um hospital de campanha militar e declarou três dias de luto oficial em memória das vítimas da devastadora explosão que destruiu bairros inteiros em Beirute.

O hospital de campanha chegará quinta-feira à capital libanesa e está totalmente equipado para realizar operações a cargo de 160 profissionais de saúde de todas as especialidades médicas – inclui 48 camas, dez de cuidados intensivos, blocos operatórios e laboratórios de raio-X.

Também o Irão, o país do Médio Oriente mais afetado pela pandemia do novo coronavírus, se mostrou disponível para enviar assistência médica e qualquer outro tipo de ajuda.

Na Oceânia, a Austrália indicou que vai doar dois milhões de dólares australianos em ajuda humanitária para ajudar Beirute a recuperar dos danos das violentas explosões de terça-feira.

Em África, vários líderes africanos enviam mensagens de condolências e solidariedade, com a Tunísia a propor que está disponível para receber cerca de uma centena de feridos nos hospitais do país e a garantir o envio de dois aviões militares com ajuda médica e alimentar

Duas fortes explosões sucessivas sacudiram Beirute na terça-feira, causando mais de uma centena de mortos e mais de 4.000 feridos, segundo o último balanço feito pela Cruz Vermelha. As violentas explosões deverão ter tido origem em materiais explosivos confiscados e armazenados há vários anos no porto da capital libanesas.

O primeiro-ministro libanês revelou que cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio estavam armazenadas no depósito do porto de Beirute que explodiu.

CTCC | Ávila inicia campeonato com subidas ao pódio

[dropcap]R[/dropcap]odolfo Ávila (VW Lamando) alcançou um terceiro e um segundo lugares no primeiro dia de corridas do no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), no Circuito Internacional de Zhuzhou. Na primeira prova, o piloto arrancou do nono lugar e conseguiu subir ao lugar mais baixo do pódio.

Na segunda corrida, saiu da pole-position, uma vez que tinha sido o mais rápido na qualificação de terça-feira, e durante várias voltas esteve em primeiro. Contudo, acabaria por ser ultrapassado nas últimas voltas.

“Apesar de tudo, foi um bom arranque de temporada. Tivemos algumas dificuldades no dia de hoje, principalmente faltou-nos tracção, o que tornou difícil lutar de igual para igual com os Kia e os BAIC”, afirmou o piloto de Macau, em comunicado. “Na segunda corrida, que é mais longa cinco voltas, tivemos imensas dificuldades no último terço com os pneus, por isso não consegui manter a primeira posição. Vamos tentar encontrar agora uma solução para este problema, porque já provamos nestes dois dias que temos condições para lutar pela vitória”, acrescentou.

Hoje realizam-se mais duas corridas e amanhã o campeonato faz uma pausa de um dia. Depois, no sábado e domingo, realizam-se mais quatro provas do CTCC, todas no circuito de Zhuhzou.

AIPIM espera que crime de “informações falsas” não afecte liberdade na RAEM

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau disse ontem à Lusa esperar que o crime de “informações falsas”, aprovado na terça-feira, não afecte a liberdade de imprensa, apontando “melhorias” em relação à proposta original.

“A versão final do artigo em causa aprovada na especialidade constitui uma efectiva melhoria face à proposta que deu entrada na Assembleia Legislativa e que foi aprovada na generalidade, indo assim ao encontro de algumas preocupações que manifestámos na altura”, considerou o responsável da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), José Carlos Matias, numa declaração enviada à agência Lusa.

A associação mantém, no entanto, reservas quanto ao texto, dizendo esperar que “não haja um impacto negativo na liberdade de expressão e liberdade de imprensa” decorrente da “aplicação e interpretação da lei”. “Mantemos dúvidas face à necessidade da criação deste novo tipo legal de crime, na forma como está articulado”, acrescentou.

A versão inicial do texto suscitou muitas críticas de associações de jornalistas e juristas do território, levando o Governo a abandonar uma formulação que previa a criminalização de autores de “notícias falsas, infundadas e tendenciosas, perante incidentes súbitos de natureza pública”.

O crime integrava originalmente a proposta de Lei de Bases da Protecção Civil, apresentada depois da passagem do furacão Hato no território, em 2017, o pior em 53 anos a atingir Macau, causando dez mortos e mais de 240 feridos.

Em 2019, a AIPIM manifestou “grandes reservas” quanto à utilização da expressão “notícias falsas”, entretanto abandonada, e considerou que “a adjectivação ‘infundadas e tendenciosas’ [era] desadequada e altamente subjectiva, constituindo um risco ao nível da liberdade de imprensa, independência editorial dos órgãos de comunicação social e do direito dos cidadãos à informação”.

“Na verdade, as expressões sobre as quais levantámos maiores reservas no nosso comunicado de maio de 2019 foram retiradas ou alteradas”, apontou ontem o presidente da associação de jornalistas.

Por outras palavras

A nova versão do crime, aprovada na terça-feira na Assembleia Legislativa de Macau, que integra agora o novo regime de proteção civil, prevê a punição de “quem produzir ou disseminar informações falsas, com intenção de causar alarme ou inquietação pública”, quando a difusão possa causar pânico social.

As penas podem ir até dois anos de prisão ou multa até 240 dias, com penas agravadas para três anos caso a difusão cause “efectivo alarme ou inquietação pública”, “obstrução” à acção da Administração Pública ou crie “a convicção” de que emana de autoridade pública.

Os nomes dos tufões e de outras tempestades

[dropcap]A[/dropcap] questão dos nomes dos ciclones tropicais tem sido alvo de curiosidade, havendo, no entanto, uma certa confusão sobre este assunto. Na realidade, em torno do globo terrestre, há várias bacias onde se desenvolvem este tipo de tempestades, as quais, devido a tradições há longos anos arreigadas nas populações, são identificadas por designações diferentes. A prática tem demonstrado que a identificação dos furacões, tufões e ciclones com nomes próprios, contribui para que os cidadãos prestem mais atenção à sua evolução e possíveis consequências. No entanto, em cada uma destas regiões, os critérios adotados para esse efeito são diferentes. As principais zonas de formação e desenvolvimento de ciclones tropicais, e as respetivas designações gerais, são as seguintes:

Atlântico Norte (incluindo Mar das Caraíbas e Golfo do México) – Furacões
Zona central e leste do Pacífico Norte (a leste da linha de mudança de data) – Furacões
Oeste do Pacífico Norte e Mar do Sul da China – Tufões
Oceano Índico (Golfo de Bengala e Mar da Arábia) – Ciclones
Oeste do Pacífico Sul e sueste do Oceano Índico – Ciclones (Ciclones Tropicais Severos)
Sudoeste do Oceano Índico – Ciclones (Ciclones Tropicais)

Fora destas regiões ocorrem esporadicamente fenómenos meteorológicos com as características de ciclones tropicais. É o caso dum ciclone tropical que se formou no Atlântico Sul, em março de 2004, e que afetou o Brasil. Por ter ocorrido no Atlântico Sul, não foi aplicado um nome da lista de furacões previamente elaborada, pelo que, com certa controvérsia, os meteorologistas brasileiros lhe chamaram Catarina, por ter afetado o Estado de Santa Catarina.

Tem acontecido, embora raramente, furacões passarem a ser designados por tufões, quando se deslocam para oeste, no Pacífico Norte, depois de transpor a linha internacional de mudança de data. Inversamente, um tufão pode passar a furacão quando se desloca de oeste para leste, atravessando essa linha. Tal aconteceu com o furacão John em 1994 que, tendo-se formado no Atlântico Norte, atravessou a América Central, entrou no Pacífico e, continuando a deslocar-se para oeste, atravessou o meridiano 180, entrando na região dos tufões. A certa altura inverteu o sentido do movimento e reentrou na parte leste do Pacífico, voltando a ser classificado como furacão.

A coordenação das atividades de cooperação nas várias bacias é levada a cabo por organismos regionais (comités) do Programa dos Ciclones Tropicais da Organização Meteorológica Mundial – OMM (WMO Tropical Cyclone Programme). São estes comités que, sob proposta dos respetivos membros, estabelecem os critérios e selecionam os nomes das tempestades.

Na bacia onde a Região Administrativa Especial de Macau está inserida (Oeste do Pacífico Norte e Mar do Sul da China), os nomes dos tufões constam de uma lista que se pode consultar no site do Comité dos Tufões (WMO/ESCAP Typhoon Committee – www.typhooncommittee.org), cujo secretariado está sediado em Macau desde 2007. Os nomes são propostos pelos membros dos vários comités, e são discutidos nas sessões anuais. No caso do Comité dos Tufões, cada um dos 14 membros propôs dez nomes, o que perfez uma lista de 140. Os nomes são retirados quando estão associados a tempestades que causaram estragos significativos, pelo que a lista tem de ser atualizada nas sessões anuais do Comité. Por exemplo, o nome do tufão Hato (Pombo, em japonês), que causou um número elevado de vítimas nas Filipinas, Macau e China, já não consta da lista.

Em geral os nomes dos ciclones tropicais são de pessoas, alternadamente masculinos e femininos, dispostos por ordem alfabética, com exceção na bacia em que Macau se insere, e também no Mar da Arábia e Golfo de Bengala. No caso dos tufões, os nomes podem ser de animais, monumentos, objetos, etc., e estão colocados sequencialmente, sem ser por ordem alfabética, não podendo ter mais de três silabas. A pronúncia não deve ser suscetível de interpretações erróneas em quaisquer das línguas dos países membros. Já tem acontecido alguns nomes terem sido retirados, não pelo facto de as tempestades terem causado graves consequências, mas para evitar suscetibilidades religiosas. Entre os nomes propostos por Macau contam-se Bebinca (nome de uma conhecida sobremesa com origem indo-portuguesa, muito popular em Macau) e Sanba, com origem na designação em chinês das Ruínas de São Paulo.

Tempestade tropical Bebinca, no Golfo de Tonkin – 17/8/2018

O nome Bebinca já foi usado quatro vezes (2000, 2006, 2013 e 2018), até à presente data, e em nenhum dos casos passou de tempestade tropical severa.

Bebinca – sobremesa de origem indo-portuguesa

Antes do século XX, estes fenómenos meteorológicos eram geralmente identificados fazendo referência às datas das ocorrências ou aos locais onde as suas consequências mais nefastas se fizeram sentir. É o caso, por exemplo, do tufão que quase destruiu Macau de 22 para 23 de setembro de 1874, que causou cerca de cinco mil vítimas mortais. Quando se pretende referir esta tempestade, é simplesmente identificada por “Grande Tufão de 1874”.

Outro exemplo é o caso do “Grande Ciclone Bhola” (Great Bhola Cyclone), o ciclone tropical que até à presente data é considerado o mais mortífero de todos, causando entre trezentas mil a meio milhão de vítimas, em 1970. Foi assim designado por ter afetado a região de Bhola, no então Paquistão Oriental. Ventos fortes da ordem de 200 Km/h provocaram uma maré de tempestade que, coincidindo com a maré alta, fizeram com que o mar invadisse grande parte do delta do rio Ganges. Devido à fraca resposta do governo central do Paquistão, esta tragédia provocou um forte sentimento que levou o povo do então Paquistão Oriental a intensificar a luta pela independência, o que aconteceu em 1971, passando o novo país a designar-se Bangladesh.

A ideia de identificar os ciclones tropicais com nomes de pessoas parece ter sido do meteorologista inglês, Clement Wragge, radicado na Austrália, que iniciou essa prática na década de noventa do século XIX, dando-lhes nomes de mulheres, figuras míticas e políticos.

No que se refere aos furacões, a partir de 1953 passaram a atribuir-se-lhes oficialmente, por ordem alfabética, nomes de mulheres, o que perdurou até 1978. Acontece que, com o crescimento do movimento de emancipação das mulheres, foi considerado que não seria correto atribuir exclusivamente nomes femininos a tempestades que causavam tanta destruição. A feminista norte-americana Roxcy Bolton foi quem mais lutou para que houvesse alternância de nomes femininos e masculinos. Bob foi o primeiro nome masculino a ser atribuído a uma tempestade tropical, em julho de 1979, tendo sido Ana o primeiro nome feminino desse mesmo ano.

O sistema depressionário que dá origem a um tufão, furacão ou ciclone, começa por ser uma zona depressionária que vai evoluindo no sentido da diminuição da pressão atmosférica. Quando, nas cartas meteorológicas, é possível representar graficamente essa zona por um sistema de isóbaras fechadas, passa a designar-se por Depressão Tropical (Tropical Depression). Quando os ventos máximos sustentados forem iguais ou superiores a 34 nós (63 km/h) passa a Tempestade Tropical (Tropical Storm). Quando forem iguais ou superiores a 64 nós (119 km/h) passa a designar-se por Tufão, Furacão ou Ciclone, conforme as regiões.

No caso do oeste do Pacífico Norte e Mar do Sul da China, há ainda a considerar uma categoria intermédia, entre a Tempestade Tropical e o Tufão, que é a Tempestade Tropical Severa (SevereTropical Storm), quando os ventos máximos sustentados atingem valores iguais ou superiores 48 nós (88 km/h) e inferiores a 64 nós.

Note-se que o sistema depressionário só começa a ser designado pelo nome internacional quando atinge a categoria Tempestade Tropical. É frequente ouvir-se, ou ver-se escrito, que ocorrem anualmente cerca de vinte tufões nas Filipinas, o que na realidade não está correto, na medida em que esse número abrange não só os tufões, mas também as tempestades tropicais e as tempestades tropicais severas. Para evitar esta ambiguidade, o Regional Specialized Meteorological Centre do Japão (centro meteorológico de referência para os membros do Comité dos Tufões), nos seus relatórios, emprega frequentemente a expressão “named tropical cyclones”. No caso das Filipinas, além dos nomes internacionais, usam-se também nomes locais, para melhor sensibilizar o público. Por exemplo, o tufão Haiyan, que em novembro de 2013 causou neste país cerca de 6.000 vítimas mortais, foi chamado Yolanda.

No caso dos furacões (Atlântico Norte e leste do Pacífico Norte) estabeleceu-se a escala de vento de furacões de Saffir-Simpson (Saffir-Simpson Hurricane Wind Scale – SSHWS), referentes a vento máximo sustentado (maximum sustained wind) no intervalo de um minuto:

Categoria 1 – 64 a 82 nós (119–153 km/h)
Categoria 2 – 83 a 95 nós (154–177 km/h)
Categoria 3 – 96 a 113 nós (178–208 km/h)
Categoria 4 – 114 a 135 nós (209–251 km/h)
Categoria 5 – > 135 nós (> 250 km/h)

Define-se ventos máximos sustentados (maximum sustained winds) num ciclone tropical, o valor máximo da média da velocidade do vento que se verifica na zona mais próxima do olho da tempestade, num determinado intervalo de tempo. A Organização Meteorológica Mundial aconselha que este intervalo seja de 10 minutos mas, na realidade, nem todos os países seguem este conselho, considerando intervalos de 1 e, em alguns casos, de 2 e 3 minutos. Esta disparidade de critérios faz com que não se possa aplicar aos tufões a escala de Saffir-Simpson, criada especificamente para os furacões. Nas mesmas condições, os ventos máximos sustentados referentes a intervalos de 1 minuto são superiores em cerca de 14% aos referentes a 10 minutos.

Alguns países, além das categorias preconizadas pela OMM para os ciclones tropicais (Depressão Tropical, Tempestade Tropical e Tufão, Furacão ou Ciclone) adotaram também os conceitos de Super-Tufão e Super-Furacão, os quais não têm a mesma definição em todas as regiões. No caso da região onde Macau está inserida (oeste do Pacífico Norte e Mar do Sul da China), a tempestade toma a designação de Super-Tufão quando os ventos máximos sustentados são iguais ou superiores a 100 nós (185 km/h).

Recentemente, na Europa, também se passou a identificar as depressões muito intensas alternadamente com nomes masculinos e femininos, por ordem alfabética. A Irlanda e o Reino Unido iniciaram esta prática em 2015 e, em 2017, o grupo de países constituído por Portugal, Espanha e França, mediante acordo entre os respetivos Serviços Meteorológicos, recorrem também a uma lista de nomes. A primeira depressão a ter nome em Portugal, foi Ana, em 2017, seguida por Bruno. Os cinco países acordaram no estabelecimento de uma lista comum. Analogamente ao que se procede no caso dos ciclones tropicais, os nomes são retirados das listas quando os estragos causados pelas tempestades são significativos.

Holandeses voadores – I

[dropcap]P[/dropcap]rossegue ao longe entre os arbustos. A mulher dança dentro do vestido vermelho e empurra o carrinho de bebé. À medida que se aproxima, reconheço-a. Apercebo-me vagamente de quem se trata.

É um rosto que vai ficar até ao fim e eu não sei, nem nunca soube, o que quer dizer até ao fim.
Se não estivesse agora a descortinar o vulto que se torna cada vez mais visível e sólido na minha frente, poderia mais tarde concluir que o desencontro é a maior experiência das nossas vidas, sobretudo porque não damos por ele. A invisibilidade pode matar.

Nesse dia distante que continua a ser hoje – pois um dia é o olhar de uma vertigem que dá a volta a si própria ao longo de muitas estações -, eu falei pela primeira vez com ela. Voz rouca, as mãos pequenas e os olhos cheios de jangadas que apetecem aos litorais mais calmos.

Continuámos ali no meio do parque a congelar o chão térreo, ignorando os patos que já mediam as suas circunferências no ar. Ainda sentia na roupa a humidade que nessa manhã se afeiçoara às águas furtadas onde dormira. Afinal os elementos da atmosfera são os poros que nos traçam a pele.

Sorrimos um para o outro por causa da única memória que então conseguíamos partilhar. Ela estava sentada no fundo da sala e eu ao lado do piano a dizer uns tantos versos. Falámos sobre a electricidade dos gestos, porque a poesia, em recintos que se aproximam do devaneio, pode dar choque.

Estava com pressa e despedi-me. Disse a brincar, embora fosse verdade, que ia para os trópicos. Ela ficou a olhar para trás entre os repuxos da rega. Era a imagem pura de quem desce do andor e subitamente ganha volume e vida.

Enquanto conversávamos, passei metade do tempo com os olhos virados para o carrinho que não tinha dentro nenhum bebé. Estava atulhado com folhas de plátano que reflectiam as sete cores do outono: lilás violeta purpirino roxo encarniçado carmesim e coral. Era uma colecção a fungar e a espreguiçar-se, de tal modo que entrei no eléctrico a imaginar um bebé constituído apenas por folhas de plátano.

2

Os homens fumam e gesticulam junto à portada da barraquinha de arenques. Ignoram o harpão dos deuses que em tempos levantou os diques e penetrou no coração das tijoleiras, abrindo-lhe as enormes janelas de vidro com parapeito para as porcelanas brancas do oriente.

Das escadas estreitas e inclinadas, vi surgir o dono da padaria que calçava as suas socas e ria com a felicidade de um belo bovino. Vestiu o casaco branco, limpou os óculos e cobriu a testa com um gorro.

Foi nesse instante que, no outro lado do canal, ela reapareceu de dentro da loja marroquina com o pó amarelo a reluzir os traços musicais que invadiam a montra com um poderoso cheiro a hortelã. Pedalei auscultando a lama dos passeios e o som das roldanas por onde subia e descia o recheio inteiro de uma das casas da esquina mais próxima.

Constatei que não dera pela minha presença, razão por que avancei com a bicicleta na sua direcção. Logo que me encarou, ficou imobilizada e só o guiador nos separou. A roda da frente flutuou-lhe entre as pernas, levantando levemente o vestido vermelho e a minha cara ficou virada para dentro da baía afugentada pela bátega.

Os barcos ancorados a cinco metros do local onde nos encontrámos libertaram um som parecido ao alarme das suricatas e ela, com as franjas caídas sobre os olhos, produziu um rumor lento, indefinido. Vimo-nos pela primeira vez naquela proximidade em que a penumbra e a sombra mais se confundem.

E eu percebi, ao mesmo tempo, que não estaríamos ali. Tínhamos deixado há muito de correr sobre os muros de braços abertos a imitar aviões de papel. Mas não cheguei a segredar-lhe que o presente não passaria de uma nódoa de luz que se apaga rapidamente. Desejei que pudéssemos acreditar na alucinação daquele instante.

Uns meses depois, seguíamos de comboio e faltavam poucos minutos para chegarmos a Verona. No meio do escuro um cachimbo abriu a única cintilação da viagem. E foi quando ela me confessou que já tinha morrido, que já cá não estava. Tudo o que agora vivia era um acréscimo, uma adenda, uma extensão absolutamente inesperada.

As imagens no Taipa Village Art Space que revelam o “processo orgânico” de um emigrante 

Hugo Teixeira está de regresso às exposições em Macau com “Paisagens Involuntárias”, uma mostra que pode ser vista no Taipa Village Art Space até Outubro. Em conversa com o HM, a partir da Califórnia, onde reside, o fotógrafo fala de um projecto que associa as paisagens alentejana e californiana e que remetem para as vivências de quem emigra

 

[dropcap]N[/dropcap]asceu em Portugal, mas partiu com oito meses de idade para os EUA. Hugo Teixeira, fotógrafo, sente-se luso-americano e sabe bem o que é viver nessa dualidade constante de culturas e idiomas. Esse sentimento está bem patente na sua segunda exposição em Macau, intitulada “Paisagens Involuntárias”, que foi ontem inaugurada no Taipa Village Art Space e que pode ser visitada até ao mês de Outubro.

Actualmente a residir na Califórnia e impossibilitado de viajar devido à pandemia, Hugo Teixeira conversou com o HM via Zoom e falou desta sua exposição, composta por 20 composições de imagens da paisagem alentejana e californiana. “Gosto muito da ideia de viagem, da road trip, que permite fazer muita fotografia de paisagem. Por isso comecei a fazer montagens com o montado alentejano e o chaparral na Califórnia, porque são paisagens muito parecidas e representam aquilo que quero comunicar.”

Este é o resultado de um total de 14 mil composições que são o espelho da dualidade de sentimentos com que se depara um emigrante. “Estas imagens não referenciam memórias específicas, mas diria que cada montagem combina com uma fotografia de paisagem que encontrei.” Essa descoberta fez-se, um dia, na Feira da Ladra, em Lisboa, onde Hugo Teixeira adquiriu várias fotografias, que combinou depois com as imagens que captou.

“Essas fotografias [compradas na Feira da Ladra] fizeram-me lembrar as poucas imagens de família que temos da época da emigração, nos anos 60 e 70. Acabam por representar memórias que não são minhas, mas herdadas. Como filho de emigrantes sempre ouvi histórias da terra, em Portugal, que são uma componente importante da minha identidade”, contou.

O processo de selecção das 20 composições foi feito em parceria com João Ó, curador da exposição. Hugo Teixeira assume ser incapaz de escolher uma montagem preferida. “Tenho muito material e é difícil escolher uma imagem preferida.”

“Para mim esse processo de criar dezenas de milhares de pequenas experiências representa um bocado o caminho do emigrante num país novo ou num país antigo, o não saber bem onde colocar o pé e às vezes enganar-se. É um processo orgânico de descoberta de culturas e de países”, acrescentou.

Emigração com história

Hugo Teixeira terminou recentemente um mestrado em belas-artes, com especialização em fotografia, e as imagens que compõem a exposição “Paisagens Involuntárias” fazem parte do projecto de curso. Além disso, o fotógrafo é também professor de inglês, mas a pandemia obrigou-o a olhar para a fotografia como uma possibilidade de carreira, estando “numa fase de transição”.

Apesar de ter ido ainda bebé para os EUA, Hugo Teixeira tem uma família com uma longa história de emigração. “Um irmão do meu avô que emigrou em 1914, mas a família mais próxima começou a emigrar nos anos 60. O meu pai, em 1969, foi para França depois de ter estado preso vários anos pela PIDE, porque se recusava a combater nas colónias. Em 1971 reuniu-se com os irmãos na Califórnia por opção. Mais tarde voltou a Portugal e casou com a minha mãe e depois ela veio para a Califórnia em 1980.”

Desta forma, Hugo Teixeira diz que o trabalho fotográfico que tem vindo a desenvolver, e que culmina agora nesta mostra, é revelador de uma “identidade híbrida”. “Um país, uma cultura e uma só língua não permitem expressar aquilo que eu sou, tenho sempre de utilizar as duas”, frisou.

Hugo Teixeira viveu em Macau entre 2010 e 2018, tendo feito uma primeira exposição no território em 2017, também com o apoio de João Ó. Aí fazia essencialmente fotografia de retrato.

“Surgiram várias oportunidades relacionadas com o ambiente, pois a paisagem urbana e fotografia de rua não me interessam. É difícil encontrar paisagem natural em Macau, as possibilidades são limitadas, e eu tinha condições para fazer o retrato.”

De Macau o fotógrafo guarda boas memórias. “É muito bom voltar a Macau, deu-me muitas oportunidades na área da fotografia. Conheci muitas pessoas no meio que se tornaram meus amigos e continuo a ter um contacto forte com eles. A galeria [Taipa Village Art Space] também me apoiou nessa época e continua a fazê-lo”, rematou.

EPM | Consulado nega voo charter para transportar alunos finalistas 

Alguns encarregados de educação de alunos finalistas da Escola Portuguesa de Macau reuniram ontem com Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, tendo pedido um voo charter para que os estudantes possam prosseguir os estudos superiores fora de Macau. Contudo, o consulado entende que essa opção não é, para já, viável

 

[dropcap]O[/dropcap]s alunos finalistas da Escola Portuguesa de Macau (EPM) continuam sem saber como se vão deslocar para países fora de Macau para continuarem os estudos universitários, uma vez que não há uma data prevista para o regresso do corredor especial com o Aeroporto Internacional de Hong Kong. Alguns encarregados de educação reuniram ontem com o cônsul-geral de Portugal em Macau, Paulo Cunha Alves, mas este disse não poder disponibilizar um voo charter para os cerca de 40 alunos finalistas.

“O cônsul disse-nos que essa possibilidade seria complicada por questões financeiras e pela própria justificação de um voo charter”, disse ao HM João da Silva, encarregado de educação e representante dos pais. “Sabemos que na Venezuela isso foi feito, mas foi-nos dito que isso ocorre em situações extremas. Saímos da reunião sem uma solução e continuamos preocupados”, frisou. O encontro decorreu depois do grupo de pais ter enviado uma carta ao consulado na última semana.

Em resposta escrita enviada ao HM, o consulado-geral disse que vai continuar “a desenvolver contactos com as autoridades da RAEM no sentido de as sensibilizar para a necessidade de encontrar uma solução justa e equilibrada para o problema da saída de Macau dos estudantes finalistas, portugueses, mas não só, que pretendem ingressar no Ensino Superior em Portugal e em outros países europeus e da América do Norte”.

Na reunião, Paulo Cunha Alves aconselhou os pais a optarem por voos via Taipei e Seul, “de modo a demonstrar a necessidade e a pertinência da realização de mais voos para além do previsto para 26 de Agosto pela companhia Eva Air, que tem Londres como destino final”.

Na mesma resposta, é referido ainda que os “pais e encarregados de educação deverão, enquanto sociedade civil, continuar a exercer todos os meios de pressão possíveis sobre as autoridades locais pertinentes, notando que este é um problema transversal que abrange estudantes de diversas nacionalidades”.

Rotas arriscadas

João da Silva considera que enviar os finalistas sozinhos para estes voos constitui um risco. “São viagens com algumas escalas. No caso de Taipé podem ultrapassar as oito horas e corremos o risco de fazer quarentena. Por Seul podemos estar 24 horas em escala, mas nada é garantido, os voos podem ser cancelados e há alunos que não podem ser acompanhadas por familiares. Gostávamos de não ter de optar por essas duas vias.”

Paulo Cunha Alves referiu que, em Setembro, poderá haver uma mudança, mas que por enquanto nada é certo. “Sabemos que o cônsul não pode passar por cima das autoridades locais, apenas pode sensibilizá-las”, disse João da Silva, que está a ponderar pedir apoio junto das entidades governamentais em Portugal.

“Da parte de Portugal poderia haver mais apoio, nós é que não temos contactos nem conhecemos ninguém. De certeza que os governadores que aqui estiveram, como por exemplo Rocha Vieira ou Garcia Leandro, têm contactos, mas não sei como chegar até eles para que nos possam ajudar. Não estamos sozinhos, mas não estamos a conseguir fazer muito.”

Dos 40 finalistas, são poucos os alunos que, como alternativa, pretendem ficar a estudar em Macau. Apenas o filho de Anabela Fong se inscreveu, por precaução, no curso de Direito da Universidade de Macau, mas o objectivo é estudar na Universidade Católica. Aguarda, neste momento, o processo de obtenção do passaporte português.

João da Silva disse ainda lamentar que o corredor exclusivo com Hong Kong não tenha terminado mais tarde, a 25 de Julho, uma vez que muitos alunos só concluíram os exames de 12º ano no dia 23 do mesmo mês. “Quase todos os alunos não podiam faltar aos exames e por isso não puderam aproveitar o corredor especial”, concluiu.

Obrigações verdes / UM | Macau pode ser importante mercado para países lusófonos

Um especialista da UM acredita que Macau pode tornar-se num mercado preferencial para os países lusófonos, em termos de finanças e obrigações verdes, devido à história, cultura e língua que partilham com Portugal. Brasil e China estão entre principais emissores de títulos “verdes”

 

[dropcap]O[/dropcap] director da Academia de Economia e Gestão para a Ásia-Pacífico da Universidade de Macau (UM) acredita que Hong Kong e Macau podem tornar-se importantes mercados de finanças e obrigações verdes para os países lusófonos.

“A procura estimada por finança ‘verde’ e obrigações ‘verdes’ para os países de língua portuguesa é alta, porque muitos deles são países em desenvolvimento, que tentam aumentar o crescimento com custos mais baixos”, referiu Jacky Yuk-Chow So à agência Lusa.

Também conhecidos por “green bonds”, estes títulos da dívida são em tudo semelhantes às obrigações comuns, mas têm como objectivo financiar projectos ambientais.

Hong Kong e Macau “são ambos uma zona franca e portos com taxas baixas”, razão pela qual “o capital pode entrar e sair sem muito problema, o que pode ser muito atractivo para os investidores internacionais”, acrescentou o professor.

Ou seja, concluiu, “talvez, Hong Kong e Macau possam tornar-se no primeiro e segundo mercado da finança ‘verde’ e obrigações ‘verdes’ para os países de língua portuguesa”, referindo-se a este mercado financeiro emergente de títulos de dívida associados a investimentos ‘amigos’ do ambiente.

No caso de Macau, o território “tem vantagem comparativa por causa da sua história, cultura e língua” ligada a Portugal, tanto mais porque “poderia oferecer benefícios de diversificação para a indústria dos ‘resorts’ integrados e casinos”, sustentou.

Jacky Yuk-Chow So lembrou ainda que a região da Grande Baía, que inclui Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guagdong, “acumulou muito capital e está a procurar oportunidades de investimento”, algo que pode ser aproveitado pelos países de língua portuguesa.

No caso concreto das obrigações ‘verdes’ e dos países lusófonos em desenvolvimento, muitos “precisam de garantias do Banco Mundial e/ou do FMI [Fundo Monetário Internacional] para os seus empréstimos/obrigações, de forma a reduzir o custo dos juros”, pelo que esta é uma modalidade de financiamento atractiva, sublinhou o especialista da UM.

Na linha da frente

De resto, os últimos relatórios do Banco Mundial, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e outras entidades internacionais “apontam que o Brasil, a China, e um ou dois países de língua portuguesa são bastante bem-sucedidos em usar finança ‘verde’ e obrigações ‘verdes’ para tratar os problemas ambientais”, com o “Brasil e a China (…) entre os principais emissores de títulos ‘verdes’”, salientou.

“Muitos desses países [lusófonos] são especializados em agricultura e produtos marinhos. A poluição de água e a poluição do solo são mais graves nesses países. Além disso, (…) não têm capital suficiente para resolver muitos problemas de poluição, que exigem muito capital”, explicou.

Em Outubro, o Banco da China em Macau realizou emissões de obrigações ‘verdes’ no valor de sete mil milhões de yuan em três moedas (dólar, euro e renmimbi) “que incluíram clientes lusófonos”, indicou à Lusa a instituição.

“Com base na tendência global do desenvolvimento ‘verde’ e em linha com o plano nacional de desenvolvimento, o Governo da RAEM anunciou recentemente quatro aspectos para promover o desenvolvimento das finanças ‘verdes’”, recordou a mesma entidade bancária.

“Entre eles, as obrigações ‘verdes’ são o ponto de entrada para o desenvolvimento da finança ‘verde’ em Macau. Além de melhorar alguns regulamentos legais, vai reduzir gradualmente o custo da emissão para ajudar a atrair mais instituições a emitir títulos verdes no território”, sublinhou o Banco da China.
Contudo, “de acordo com o mercado, nenhum emissor de Macau anunciou que irá emitir títulos ‘verdes’ a breve prazo”, ressalvou a mesma instituição.

As finanças e obrigações ‘verdes’ têm sido apontadas pelas autoridades de Macau como uma das apostas de um futuro mercado bolsista denominado em renminbi para desenvolver “uma indústria financeira moderna, a diversificação da economia e o reforço dos projectos de cooperação entre a China e os países lusófonos.

Videovigilância | Mais 800 “olhos no céu” autorizados em Macau

[dropcap]A[/dropcap] lista dos ângulos do território captados pelo sistema “olhos no céu” voltou a aumentar. Saiu ontem em Boletim Oficial a autorização para instalar e entrar em funcionamento mais 800 câmaras de videovigilância em vários espaços públicos.

A gestão do sistema de videovigilância fica sob a responsabilidade do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e o prazo de autorização é de dois anos, podendo ser renovado. Estes dispositivos correspondem à quarta fase do sistema “olhos no céu”, que previa a instalação de 1620 câmaras até 2020. De entre as novas câmaras, dez vão para a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, 14 na zona do Lago Sai Van, 12 em Hác Sá e seis em Ká Hó.

O secretário para a segurança, Wong Sio Chak, visitou ontem o centro de controlo do sistema no CPSP.
Os Serviços de Polícia Unitários (SPU) descreveram em comunicado que as câmaras instaladas nas três primeiras fases, entre 2016 e 2018, atingiram os objectivos. “Até Junho de 2020, os casos investigados com o apoio do Sistema ‘Olhos no Céu’ totalizaram 5082, envolvendo casos de homicídio, tráfico de estupefacientes, roubo, furto, fogo posto, posse de arma proibida, ofensas à integridade física, apropriação ilegítima de coisa achada, burla, entre outros”, diz a nota.

As autoridades vão avançar com estudos sobre a quinta e sexta fases do sistema, alargando a cobertura a zonas urbanas novas e com grande concentração de pessoas. Isto envolve arredores das escolas, estações de transportes públicos, instalações comerciais e a ilha artificial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Uma decisão que os SPU justificam com as “novas exigências emanadas do desenvolvimento social”.

Hong Kong | Francis Lui apoia adiamento das eleições para o LegCo

O empresário ligado à concessionária Galaxy defende a primazia da “segurança pública” e diz que sem adiamento das eleições legislativas de Hong Kong os cidadãos não iam ter motivação para votar. O resultado seria a fraca representatividade do sufrágio

 

[dropcap]F[/dropcap]rancis Lui, director executivo e filho do principal accionista da concessionária Galaxy, manifestou o apoio à decisão de Carrie Lam de adiar as decisões para o Conselho Legislativo de Hong Kong.

O adiamento, revelado na semana passada pela Chefe do Executivo da RAEHK, foi justificado com a necessidade de implementar medidas mais restritas de controlo e prevenção contra a pandemia da covid-19.

O campo da oposição encarou a medida como uma movimentação política do Governo Central e do Executivo de Hong Kong para evitar uma derrota significativa e a perda da maioria dos lugares no Conselho Legislativo.

Isto porque na última ida às urnas em Hong Kong, já depois do início das manifestações da lei de extradição, o campo pró-Pequim registou uma derrota histórica, naquelas que foram as eleições mais participadas da RAEHK.

No entanto, em declarações citadas pelo Jornal Ou Mun, Francis Lui, membro do Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, afirmou que a medida se deve exclusivamente à necessidade de controlar a pandemia da covid-19, que já causou mais de 42 mortes na REAHK, a maior parte nas últimas semanas.

Segundo os argumentos de Francis Lui, as eleições iriam gerar uma grande concentração de pessoas e condições para a propagação do vírus. Como para o empresário uma das mais importantes responsabilidades do Governo é garantir a segurança da população, não restava outra opção se não adiar por um ano as eleições.

Pouca participação

Por outro lado, o empresário ligado à concessionária responsável pelo casino Galaxy afirmou também que se as eleições fossem realizadas agora havia o risco de não serem representativas da verdadeira opinião da população.

Segundo o empresário o facto de haver uma pandemia tão grave cria medo na população, que não se iria sentir “motivada” para votar, o que poderia fazer com que os resultados não fossem os desejados pelos cidadãos.

Ainda em relação às eleições, o empresário voltou a insistir que o mais importante é que o Governo de Hong Kong lidere a população na luta contra a pandemia e que a situação volte à normalidade, com o regresso das actividades económicas.

Finalmente, Francis Lui deixou rasgados elogios ao Governo Central por ter enviado equipas médicas para Hong Kong, que estão a colaborar com as entidades locais no controlo do surto de covid-19.

Quarentena | Duas pessoas saíram dos quartos sem autorização

O caso foi reencaminhado para o Ministério Público e os indivíduos, que são familiares, arriscam uma pena de prisão que pode chegar aos seis meses ou 60 dias de multa

 

[dropcap]D[/dropcap]uas pessoas deixaram sem autorização os quartos ondem estavam a fazer quarentena e os casos foram reencaminhados para o Ministério Público (MP). A informação foi divulgada ontem por Lei Tak Fai, chefe da Divisão de Relações Públicas do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), na conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia gerada pela Covid-19.

O episódio aconteceu a 2 de Agosto às 19h, no Hotel Sheraton, e envolve dois residentes de Hong Kong: “Saíram do quarto onde estavam e deslocaram-se para um outro quarto, que ficava num outro andar. […] São familiares e neste caso verificamos que violaram o artigo 14.º da Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis. O caso foi enviado para o Ministério Público e os dois ficaram sujeitos a observação médica coerciva”, afirmou Lei.

Os homens têm 52 e 32 anos e encontravam-se a fazer quarentena desde 23 de Julho. Arriscam até seis meses de prisão, ou o pagamento de uma multa que pode chegar aos 60 dias. Por esse motivo, o representante do CPSP sublinhou a necessidade de respeitar as instruções: “Apelamos a todas as pessoas em observação que sigam as nossas normas para combater a epidemia”, disse o porta-voz do CPSP.

Ainda de acordo com as autoridades, a saída do quarto foi detectada por um segurança, que se encontrava no corredor.

Este é o terceiro caso do género tornado público, depois de, no final do mês de Julho, também uma mulher ter saído do quarto quando estava a fazer a quarentena.

Para tripulantes de embarcações

Também o local designado para as quarentenas obrigatórias passou a ser desde ontem o Hotel Tesouro, na Taipa, quando antes era o Sheraton, no Cotai. Por outro lado, foi revelado que o Hotel Ole London, na Praça Ponte e Horta, vai ser utilizado como local para isolamento dos tripulantes de embarcações de transporte de mercadorias entre Hong Kong e Macau.

“Após uma visita ao hotel foi considerado que satisfaz todas as exigências sanitárias e será utilizado para o confinamento e descanso das tripulações de embarcações que transportam bens entre Hong Kong e Macau”, informou Lau Fong Chi, representante dos Serviços de Turismo.

Segundo os dados disponibilizados, existem 42 tripulantes de cinco companhias que vão utilizar o hotel em questão para o isolamento.

Máscaras seguras

Durante a conferência, o médico-adjunto do Hospital Conde São Januário, Alvis Lo, foi ainda questionado sobre a segurança e qualidade das máscaras de protecção importadas em Macau.

Em resposta, o médico garantiu que as máscaras importadas reuniões todas as condições de segurança: “Todos os distribuidores têm de fazer uma declaração junto dos Serviços de Alfândega e, de acordo com o nosso regime geral de segurança, têm de garantir a qualidade das máscaras. Todos os produtos são seguros”, frisou.

Em relação aos locais de importação, Alvis Lo falou de 15 países, como Portugal, China, Canadá, Indonésia Brasil, entre outros.

Xaropes com opiáceos traficados de Macau podem resultar de fronteiras fechadas

As farmácias em Macau vendem, sem prescrição médica, xaropes para a tosse com substâncias derivadas do ópio. Dados da Polícia Judiciária apontam para a tendência de tráfico de Macau para a China, onde estes fármacos são proibidos e não afasta a hipótese de o fenómeno se dever às restrições fronteiriças que interromperam fluxos de narcóticos como a heroína

 

[dropcap]A[/dropcap]o longo deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) descobriu três casos de tráfico ilegal de drogas e substâncias psicotrópicas que envolvem xaropes para a tosse com substâncias controladas no seu conteúdo. “No total, foram detidos quatro suspeitos e apreendidas 83 garrafas de xarope”, contendo quase 10 litros do produto.

De acordo com as autoridades, em 2018 e 2019 não se verificaram casos destes, algo que mereceu uma leitura do fenómeno. “A PJ não afasta a hipótese de estarem relacionados com medidas de restrições fronteiriças, uma vez que os três casos ocorreram todos durante a pandemia do novo tipo de coronavírus”, referiu a PJ.

Do outro lado da fronteira, as apreensões tiveram muito maior expressão. Há exactamente um mês, uma operação conjunta entre as autoridades de Macau e Zhuhai interceptou 752 garrafas de xarope contendo codeína e deteve sete suspeitos de tráfico de droga. De acordo com informação das autoridades fronteiriças de Gongbei, no dia 30 Junho, foram apanhadas duas pessoas que entraram em Zhuhai com 96 garrafas de xarope para a tosse. No dia seguinte, na fronteira para entrar em Shenzhen, um homem foi detido na posse de 640 garrafas.

Tendo em conta a lei da oferta e da procura, o tráfico de substâncias alternativas é uma tendência que se verifica sempre que é interrompido o fluxo normal de narcóticos. Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), não ficou espantado face às notícias de apreensões de xarope para a tosse contendo opiáceos. “Não me surpreende. É normal, quando há uma restrição, ou dificuldade em obter as drogas, as pessoas que estão habituadas a consumir têm tendência para procurar outras alternativas”, comentou ao HM.

O especialista teoriza que existe a possibilidade de ter surgido procura para a alternativa entre os consumidores de Zhuhai e redondezas, “devido às restrições de deslocações na China”, e que a codeína pode ter-se tornado de novo apetecível.

Mesmo aqui ao lado

Em Julho do ano passado, a agência Xinhua noticiou duas grandes apreensões e avançou que as investigações das autoridades de Shenzhen descobriram que uma rede contratava turistas que iam a Hong Kong para trazerem para o Interior garrafas de xarope para a tosse. Além disso, eram também usados camiões para transportar maiores quantidades.

O desmantelamento da rede que transportava o produto para o Interior levou à apreensão de 11.927 garrafas de xarope com codeína em Shenzhen e mais 11.915 noutra cidade de Guangdong

As várias marcas de xaropes para a tosse com opiáceos na lista de ingredientes “são medicamentos controlados, sujeitos a receita médica”, contextualiza Augusto Nogueira. Porém, podem ser comprados facilmente em qualquer farmácia de Macau, sem controlo ou receita médica, apesar de conterem substâncias listadas na lei da proibição da produção, do tráfico e do consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas. Nomeadamente, diidrocodeína, etilmorfina e tintura de ópio.

O HM não conseguiu apurar em tempo útil se as quantidades de substância controlada presente nos xaropes ultrapassa os limites, porém, estes podem ser ultrapassados com a compra de várias unidades e sobredosagem.

Ainda assim, Augusto Nogueira entende que “se existir alguma lacuna na regulação, se esta for violada ou houver consumo abusivo isso deveria ser debatido na Comissão de Luta contra a Droga”.

Questão internacional

Um relatório das Nações Unidas publicado em Maio aponta nessa direcção, argumentando que a heroína é uma das substâncias mais traficada por terra. Porém, “devido à pandemia, as rotas marítimas estão a ser cada vez mais usadas para traficar heroína, como mostram as apreensões de opiáceos no Oceano Índico”, refere o relatório intitulado “Covid-19 e as redes de abastecimento de droga: da produção, tráfico e uso”.

O documento elaborado pelo Departamento de Drogas e Crimes, das Nações Unidas, aponta, além das restrições de mobilidade, a crise económica provocada pela pandemia e que mudou o rumo do tráfico de droga internacional. Outro fenómeno decorrente, e que afecta desproporcionalmente populações mais desfavorecidas, foi a passagem para drogas injectáveis mais baratas.

No resumo do relatório, Ghada Waly, directora executiva do departamento de drogas, descreveu a covid-19 o catalisador para “uma crise económica que ameaça exponenciar os perigos do consumo de drogas, numa altura em que os sistemas de saúde e apoio social foram levados ao limite”.

As Nações Unidas recordam que as lições aprendidas com a crise financeira de 2008 deviam ser recordadas, quando o uso de drogas aumentou a ritmo alarmante. Desde então, um dos números mais chocantes é o do aumento global de consumidores de substâncias psicotrópicas. De 2009 a 2018 aumentou 30 por cento, para 269 milhões de pessoas. Deste universo, a organização destaca mais de 35 milhões de pessoas que sofrem com problemas de adição. O relatório aponta adolescentes e jovens adultos como a faixa etária que mais drogas consome.

No final de 2018, a canábis era a droga mais popular do mundo, porém, com um aumento alarmante de consumidores de opiáceos, que levou à subida do número de mortos em 71 por cento na última década.

Outros caminhos

O encerramento de fronteiras devido à pandemia do novo tipo de coronavírus levou à falta de drogas nas ruas, circunstância que, sem surpresa, resultou no aumento de preços e na redução dos índices de pureza das substâncias.

As Nações Unidas reportam que a falta de opiáceos, como a heroína, fez com que os consumidores procurassem outras formas de contornar a sobriedade, nomeadamente recorrendo ao álcool, benzodiazepinas (ansiolíticos) e a misturas de drogas sintéticas.

A dark web tem ajudado à circulação de substâncias, à medida que os traficantes de drogas procuram novas rotas e métodos para continuar um dos negócios mais lucrativos do mundo. Também as rotas tradicionais de circulação de drogas, metanfetaminas e drogas sintéticas por ar e heroína por terra, foram estranguladas pelo cancelamento de voos e encerramento de fronteiras. Todos estes ingredientes apelam à cooperação internacional, algo que as Nações Unidas reconhecem. “Todos governos do mundo têm de mostrar maior solidariedade e apoiar países em desenvolvimento para parar o tráfico de droga e providenciar métodos científicos de tratamento a consumidores. Temos de promover a justiça e não deixar ninguém para trás.” Este foi o “medicamento” prescrito por Ghada Waly para fazer face à nova realidade.

No mundo e em Macau

África está neste momento a braços com uma epidemia de consumo de opiáceos. Além da tradicional e mortífera heroína, que passou a fazer ponto de passagem na Nigéria, o consumo de comprimidos e xarope para a tosse com codeína levaram à necessidade de intervenção das autoridades.
Importa salientar que os xaropes com codeína foram banidos um pouco por todo o mundo, com excepções para vendas reguladas e com receita médica.

Por exemplo, em Hong Kong a codeína está regulada como uma droga de escalão 1 e só pode ser usada por profissionais de saúde, para propósitos de pesquisa científica ou comprado em farmácias com receita médica. Quem vender xaropes, sem prescrição de um médico, pode ser multado em 10 mil dólares de Hong Kong. O tráfico e consumo podem chegar a levar a multas de um milhão de dólares de Hong Kong e até 7 anos de prisão.

A codeína, como a heroína, é um derivado da papoila de ópio, um poderoso narcótico anestésico. Em comparação com a heroína, quem consome codeína em excesso pode criar habituação física e psicológica, com sintomas de abstinência que, apesar de não serem tão graves como os que sofrem os heroinómanos, perturbam o consumidor.

O consumo de xaropes com codeína é um clássico no território. “Há muitos anos, a codeína era bastante consumida em Macau. As pessoas bebiam xaropes como se estivessem a beber uma coca-cola”, recorda Augusto Nogueira. O presidente da ARTM lembra como era frequente encontrar consumidores nas ruas em pleno acesso de surto psicótico, dramas que se desenrolaram perante o olhar de todos, enquanto se multiplicavam os casos de severos danos psicológicos irreversíveis.

“O consumo excessivo pode conduzir a descontrolo físico-motor, mas o mais grave são danos irreversíveis no cérebro, que resultam na necessidade de apoio permanente”, aponta Augusto Nogueira.

Disney decide lançar filme “Mulan” em plataforma de ‘streaming’ por preço adicional

[dropcap]O[/dropcap] filme “Mulan” vai ser lançado pela Disney na sua plataforma de ‘streaming’ no dia 4 de Setembro, anunciou a empresa, que assim abdica de uma estreia em sala para uma das maiores estreias cinematográficas do ano. Segundo a companhia, os assinantes do serviço Disney+ terão de pagar um preço suplementar de 29,99 dólares, para além do valor normal da subscrição.

“Estamos a olhar para ‘Mulan’ como um caso isolado em vez de significar um novo modelo de negócio”, afirmou o presidente executivo da Disney, Bob Chapek, na apresentação de resultados da empresa, citado pela Variety. O filme, uma versão de ação real do original de animação “Mulan”, teve um orçamento de produção de 200 milhões de dólares e era apontado pela indústria como uma das maiores estreias do verão, antes de ser adiado repetidas vezes.

Baseado no original da Disney, lançado em 1998, que por sua vez adapta a lenda chinesa de Hua Mulan, o filme retrata a história de uma jovem que se disfarça de guerreiro para salvar o pai. O original faturou mais de 300 milhões de dólares a nível mundial e foi nomeado para Globos de Ouro e Óscares, para além de ter vencido vários prémios de animação Annie.

Na semana passada, a Paramount revelou ter passado para 2021 alguns destaques deste ano, como as sequelas de “Top Gun” ou “Um Lugar Silencioso”.

Também as estreias dos novos filmes das sagas “Avatar” e “Guerra das Estrelas” foram adiadas um ano, para 2022 e 2023, respectivamente. Hollywood está há mais de quatro meses sem um lançamento de grande dimensão em sala.

A sequela de “Um Lugar Silencioso”, com John Krasinski e Emily Blunt, passou para 23 de Abril 2021, em vez da abertura prevista em setembro deste ano, enquanto “Top Gun: Maverick”, com Tom Cruise, tem nova data de estreia em 2 de Julho de 2021.

A covid-19 teve um impacto enorme na indústria cinematográfica, paralisando produções de cinema, levando ao encerramento de salas, ao adiamento de festivais de cinema e à reflexão sobre estratégias de exibição cinematográfica envolvendo, sobretudo, as plataformas de ‘streaming’.

Explosão em Beirute | Primeiro-ministro diz que o país vive “verdadeira catástrofe”

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro libanês afirmou hoje que o país está a viver “uma verdadeira catástrofe” e voltou a pedir a ajuda de todos os países e amigos do Líbano após as explosões de terça-feira em Beirute. Num breve discurso transmitido pela televisão hoje de manhã, Hassan Diab reiterou a promessa de encontrar e punir os responsáveis pelas duas explosões, que fizeram pelo menos 100 mortos e mais de 4.000 feridos.

Na capital libanesa continua a ver-se fumo a sair da zona do porto. As principais ruas do centro da cidade estão cheias de destroços e veículos destruídos e as fachadas dos prédios estão danificadas. Tudo indica que a origem deste incidente terá sido acidental, tendo sido afastada, para já, a possibilidade de se tratar de um atentado terrorista.

França envia ajuda

O governo francês vai enviar hoje para o Líbano dois aviões de transporte militar com equipas da proteção civil e material com ajuda de emergência às vítimas das explosões. Mais de 100 pessoas morreram e mais de 4.000 ficaram feridas nas duas violentas explosões que sacudiram o porto de Beirute, de acordo com um novo balanço da Cruz Vermelha.

“Até agora, mais de 4.000 pessoas ficaram feridas e mais de 100 morreram. As nossas equipas continuam as operações de busca e salvamento nas áreas circundantes”, informou a Cruz Vermelha libanesa, num comunicado citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Fontes da presidência francesa indicaram hoje que os dois aparelhos militares, um A400M e um MRTT, vão transportar 55 pessoas e 15 toneladas de material, assim como uma unidade sanitária que pode prestar cuidados a 500 feridos.

Os aviões militares devem partir de Paris ao fim da manhã devendo chegar a Beirute ao final da tarde. A França vai enviar também mais uma dezena de médicos e enfermeiros especializados em situações de emergência para reforçarem os hospitais e as equipas locais.

Fontes governamentais de Paris indicaram igualmente que os militares franceses da Força de Paz das Nações Unidas no Líbano (FINUL) já estiveram no local da explosão, onde prestaram ajuda.

Estados Unidos enviam mais importante representante a Taiwan desde 1979

[dropcap]O[/dropcap] secretário de Saúde dos Estados Unidos, Alex Azar, deverá visitar Taiwan nos próximos dias, na mais importante deslocação de membros do Governo norte-americano desde a ruptura formal das relações diplomáticas entre Washington e Taipé, em 1979.

Em comunicado de quarta-feira, o Instituto Americano em Taiwan, que opera como embaixada de facto de Washington na ilha, disse que a “visita histórica de Azar reforçará a parceria com Taiwan e aumentará a cooperação para combater a pandemia global de covid-19”, segundo a agência Associated Press (AP).

Azar deverá ser o primeiro membro do Governo dos Estados Unidos (EUA) a visitar Taiwan em seis anos. Em 2014, a visita da então responsável da Agência de Proteção do Meio Ambiente norte-americana, Gina McCarthy, provocou o protesto da China, que acusou os EUA de trair o compromisso de manter apenas relações não oficiais com Taipé.

“Taipé tem sido um modelo de transparência e cooperação na saúde global durante a pandemia da covid-19”, disse Azar, citado no comunicado do Instituto Americano em Taiwan.

“Esta viagem representa uma oportunidade para reforçar a nossa cooperação económica e de saúde pública com Taiwan, especialmente quando os Estados Unidos e outros países trabalham para reforçar e diversificar as fontes de produtos médicos cruciais”.

O anúncio da visita surge numa altura de escalada de tensões entre os Estados Unidos e a China, que defende que Taiwan faz parte do seu território.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Taiwan, formalmente chamada República da China, tornou-se, entretanto, numa democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela força.

Como consequência da pressão chinesa, que critica qualquer relação oficial entre países estrangeiros e Taipé, menos de duas dezenas de países mantêm relações diplomáticas com Taiwan.

Os Estados Unidos são o maior apoiante militar da ilha contra as ameaças chinesas, defendendo a participação de Taiwan em reuniões de organizações internacionais.

Por insistência da China, Taiwan foi barrada da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) e perdeu o estatuto de observadora na Assembleia Mundial da Saúde, que se realiza anualmente.

Imprensa oficial chinesa acusa Estados Unidos de quererem roubar TikTok

[dropcap]U[/dropcap]m jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) acusou hoje os Estados Unidos de “abusarem do seu poder” para “roubarem” o TikTok, ao forçarem a venda da aplicação de vídeos detida pela empresa chinesa ByteDance. “As regras de Washington são o vale tudo”, acusou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão oficial do PCC.

“Os EUA, como um país poderoso, não apenas fazem as regras, mas também intencionalmente adotam medidas arbitrárias que violam as regras”, acrescentou. “Os outros países podem apenas manter as regras em mente e aceitar essas infrações”.

O debate sobre o futuro do TikTok, propriedade da empresa de tecnologia ByteDance, que tem sede em Pequim, surgiu no fim de semana quando o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou proibir a aplicação de operar nos Estados Unidos.

Membros do Congresso norte-americano têm expressado preocupação de que o TikTok possa representar uma ameaça à segurança nacional, caso o Governo chinês aceda aos dados de utilizadores norte-americanos.

O TikTok, no entanto, lembrou que armazena os dados recolhidos fora da China e que resistiria a qualquer tentativa de Pequim de aceder a informações.

Na segunda-feira, Trump disse que estaria aberto a permitir que uma empresa norte-americana comprasse o TikTok, embora com a ressalva de que qualquer acordo teria que incluir uma “quantidade substancial de dinheiro” destinada ao Tesouro norte-americano. A Microsoft, que tem sede no Estado norte-americano de Washington, emergiu como potencial compradora.

Vários órgãos de comunicação ou redes sociais norte-americanas, incluindo o Facebook, Twitter ou Instagram, ou o motor de busca Google, estão banidos da rede chinesa, a maior do mundo, com mais de 710 milhões de utilizadores.

O Global Times garante, no entanto, que a política dos EUA face ao TikTok “não é recíproca”, alegando que a “China oferece condições sob as quais as empresas de tecnologia dos EUA podem operar no mercado chinês”, na condição de respeitarem as leis e regulamentos da China.

“A proibição do TikTok pelos EUA é uma ordem executiva arbitrária. [Washington] recusou-se a oferecer condições para o TikTok continuar a operar nos EUA”, lembrou o Global Times. O jornal estatal China Daily considerou uma possível venda da aplicação como uma tática de “destruir e agarrar”, orquestrada pelo Governo dos EUA.

“O assédio moral do Governo norte-americano às empresas de tecnologia chinesas decorre de os dados serem a nova fonte de riqueza e o de querer tudo, na sua visão da ‘América Primeiro'”, escreveu o China Daily, em editorial.

Num memorando interno enviado aos funcionários na segunda-feira, o CEO e fundador da ByteDance, Zhang Yiming, reconheceu que “os últimos meses constituíram um período de desafios para todos”.

“Iniciamos discussões preliminares com uma empresa de tecnologia para ajudar a abrir caminho à continuação do TikTok nos EUA”, escreveu Zhang.

O jornal Guangming Daily lembrou que o debate sobre o TikTok é “emblemático do tipo de experiência” que pode aguardar outras empresas chinesas que planeiam expandir-se para além da China continental. “Para quem é que o TikTok está a dançar”, questionou o jornal, em editorial.

Wynn Macau regista prejuízos superiores a 351 milhões de dólares americanos

[dropcap]A[/dropcap] operadora do jogo Wynn Macau registou 351,5 milhões de dólares americanos de prejuízo no segundo trimestre do ano, em relação ao período homólogo de 2019. A empresa, que opera dois casinos na capital do jogo mundial e cuja maioria do capital é norte-americano, registara lucros no segundo trimestre do ano passado de 168,6 milhões de dólares.

O resultado negativo, à semelhança do que aconteceu com as restantes operadoras de casinos em Macau, é explicada pelo impacto da pandemia do novo coronavírus, que obrigou o território a adotar restrições fronteiriças, com graves repercussões no mercado turístico associado ao jogo.

As receitas operacionais sofreram perdas tanto no Wynn Palace como no Wynn Macau num valor total de 15 milhões de dólares, uma queda significativa, tendo em conta que no período homólogo de 2019 o resultado positivo rondara os mil milhões de dólares. Em Maio, a Wynn Macau já anunciara mais de 154 milhões de dólares de prejuízo no primeiro trimestre do ano, menos 180% em relação a igual período de 2019.

No início do mês, a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) avançou com dados que apontavam para uma queda nas receitas do jogo em Macau de 94,5% em Julho, em relação a igual período de 2019.

Os números apontam ainda que nos primeiros sete meses do ano as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8%. E Julho não foi o pior mês do ano para as operadoras. No mês anterior os casinos já haviam registado uma queda de 97% das receitas.

Os casinos de Macau tinham fechado 2019 com receitas de 292,4 mil milhões de patacas. Com os vistos turísticos da China para Macau suspensos, o número de visitantes provenientes do interior da China chegou a cair em Maio 99,4%, em termos anuais.

Procurador subordinado ao Governador

[dropcap]D[/dropcap]urante a Primeira Guerra do Ópio ocorrida na China de 1839 a 1842, em Macau era Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto. Exerceu o cargo de 1837 a 3 de Outubro de 1843. Depois, foi nomeado conselheiro por o novo Governador José Gregório Pegado para ir numa missão a Cantão negociar com o Vice-rei Ki-ing novos privilégios para Macau, perante os alcançados por os ingleses em Hong Kong.

Recebido a 4 de Novembro de 1843 pelo Comissário Imperial, após a entrevista o enviado português com a sua comitiva foi residir no consulado de França, onde durante dez dias teve repetidas conferências com um segundo delegado chinês. O resultado da missão apareceu na chapa datada de 26 da 2.ª lua do 24.º ano de Tau-duang (13 de Abril de 1844) onde as autoridades de Cantão participavam ao Procurador de Macau o despacho dado pelo Imperador aos pedidos do enviado. Ki, alto-comissário, segundo tutor do príncipe imperial, Presidente do Conselho da Guerra, Vice-Rei dos Kiang, e membro da casa imperial, Chum, por comissão imperial, Vice-presidente do Conselho de Guerra, e Vice-Rei interino das províncias do Kuang-tung e Kuang-si, Cham, por comissão imperial, Soto-Vice-Rei de Cantão e Vice-presidente do Conselho da Guerra, e Ven, por comissão imperial, Administrador Geral das Alfândegas de Cantão, Beatriz Basto da Silva resume, “A missão não conseguiu da China que fosse relevado o foro pago pela colónia, a demarcação do limite para fora dos muros do Campo de St.º António; o aumento do número de navios desta praça; a permissão para construções a fazer fora dos muros de St.º António; e o reconhecimento dum ministro plenipotenciário. Quanto ao pedido do reconhecimento de um ministro plenipotenciário, .

Os chineses anuíram, porém, à igualdade de tratamento na correspondência oficial entre as autoridades portuguesas de Macau e as chinesas do distrito, mas aos altos funcionários da capital da província convém que se dirijam por cham (requerimento) ou pân (representação ou ofício de inferior para superior); ao idêntico pagamento dos direitos de ancoragem dos navios estrangeiros em Huangpu, com redução para os 25 navios portugueses de Macau; à livre construção de edifícios e barcos e à livre compra de materiais e livre emprego de operários nativos destinados para esse fim, mas dentro do limite dos muros de St.º António [sem poder de motu-próprio construir edifícios fora dos muros de Santo António, para que não haja novas desinteligências]; e à permissão para os navios portugueses poderem também comerciar nos portos de Cantão, Amoy, Fu-chau, Ning-pó e Shang-hai” [abertos ao comércio dos estrangeiros contra a vontade da China pelo Tratado de Nanjing, que encerrou a I Guerra do Ópio]. Quanto ao porto de Fuzhou, como ainda se não acha aberto, nem há negociante algum estrangeiro ali estabelecido, também não poderá ser visitado por navios mercantes portugueses, e assim esperarão até este ser franqueado ao comércio europeu.

Governador nomeado de Lisboa

A 20 de Setembro de 1844, por Decreto do Governador da Índia José Ferreira Pestana, o Governo de Macau, que tinha na sua dependência Timor e desde Dezembro de 1836 Solor, separou-se de Goa, deixando de estar sob a jurisdição do Governo do Estado da Índia. Assim se formou uma província com os territórios de Macau, Timor e Solor, ficando o governador da província a residir em Macau e em Timor, um governador seu subalterno. Esse Decreto instituía ainda uma Junta de Fazenda, tirando ao Leal Senado a administração financeira e política da cidade; mas determinou no seu artigo 7.º que o mesmo Leal Senado continuasse em todas as suas regalias que não eram alteradas por esse decreto [confirmado mais tarde pela portaria régia de 27 de Maio de 1865]. O Governador da nova e independente Província de Macau, Timor e Solor passava a residir em Macau, enquanto Timor tinha um governador seu subalterno a superintender Solor.

A 21 de Abril de 1846, o Conselheiro e Capitão-de-Mar-e-Guerra João Maria Ferreira do Amaral tornou-se o primeiro Governador-Geral de Macau não nomeado por Goa e “para remediar a precária situação financeira, impôs uma taxa às embarcações de passagem e de carga, denominadas faitiões (barcos ligeiros)”, segundo o padre Manuel Teixeira. Logo ocorreu a revolta dos marítimos dos faitiões com o apoio dos chineses da terra, que a 8 de Outubro foi prontamente sufocada.

Numa posição de poder perante a destroçada China, o Governador tomou posse das terras para além das muralhas, que envolviam o fanfang cristão português. Macau na altura era constituída por dois bairros muito distintos: a cidade cristã, confinada por a muralha e onde se encontravam as freguesias da Sé, S. Lourenço e Santo António, e o Bazar, “um emaranhado de ruas estreitas, imundas, sem condições higiénicas, e apinhado de casas de má aparência e pouco salubres, habitado exclusivamente por chineses”, segundo Ana Maria Amaro, “A partir da política de Ferreira do Amaral verificou-se uma maior aproximação entre os chineses do Bazar e os portugueses da cidade cristã.”

“Por decreto n.º 526 de 20 de Agosto de 1847 foi determinado que a Procuratura do Leal Senado (então com o Procurador Lourenço Marques, que o foi consecutivamente até 1855, assim como de 1858 a 1862 e por fim no período de 1869 a 1871) ficasse anexa à Secretaria do Governo no que respeitava a negócios sínicos, não sendo o Procurador responsável para com o Senado, senão nos assuntos puramente municipais”, refere o padre Manuel Teixeira.

Em 1847, o Procurador da Cidade passou também a ser remunerado e subordinado ao Governador, então nomeado por Lisboa.

As Aves Brancas

[dropcap]U[/dropcap]m cisne morreu com síndrome de coração partido quando um grupo de homens lhe destroçou os ovos. O cisne macho, horrorizado, fugiu, e estes monogâmicos seres não resistem à separação nem à morte dos filhos – morreu de dor – o que acontece às espécies mais raras, elas, que são quase inefáveis, gráceis, e delicadas como as brisas. Situações que não revertem a favor de nada, de ninguém, e esta inutilidade deve ser aquilo a que apelidamos de mal, a disfuncionalidade lúdica, a desregulação dos movimentos que longe anda de uma natural condição (dado que um predador não pode ser interpretado assim, ele tem assento na matéria das combustões onde a gratuitidade não toca, e a marcha continua, cruel, sim, mas não maléfica) e certo é que por práticas tais muitas criaturas na Terra se encontram ameaçadoramente inutilizadas e sem perdão.

As cadeias dos malefícios estão muito concentradas nas esferas humanas que por gerações reconstituem as mesmas incapacidades e nem lhes notam a tragédia subjacente iludidos com a evolução e o consentimento a que se dão, vemos assim que houve na espécie qualquer coisa que correu mal. Nada nasce assim! Para tal terá sido necessário uma interrupção qualquer de um processo já esquecido e que por isso mesmo a ele já não tem direito.

E estas Aves Brancas (que também há cisnes negros) levam-nos de imediato ao poema de Yeats, a essa página tão clara como estas manhãs de Verão. É um poema tangível do outro lado do Vitral e tão sonhado se torna que deslizamos por ele como sustidos pelas asas, compreendendo bem que é esta leveza o que há de mais importante no gasoso tempo de uma vida que se escoa ainda por outras paragens. Sabemos que o poeta era uma espécie de mago celta, um habitante do silêncio desse povo das vestes brancas, corria nos mistérios e trazia os seus encantos em grandes taças de vento… Que nós, olhamo-lo nas suas Aves Brancas e nunca mais esquecemos! Ele era assim, mas o género poético, difere também do génio poético, e existe ainda aquele da máscara de ferro na pele de um caçador, onde as noites escuras se tornam um não menos importante sacramento. Têm a alma de um mamute e nas mãos as lanças alternam na busca entre o invisível e a vigília máxima, e quanto mais escondido na sombra multiforme da corrente da vida, mais viva se torna a mensagem e a sua incrível superação quase inumana. Só um caçador tem o dom da imobilidade, e uma vida por vezes até chega para lembrar aos esquecidos, das rotas essenciais, pois tudo aquilo de que os poetas falam é sempre do essencial, escapa-lhes a vacuidade, a maldição e o azar do mundo – (sobretudo para os outros) – que o hão-de encontrar tão distante, tão único, que será matéria aziaga uma qualquer vigília para o capturar.

Neste espaço branco vamos encontrá-lo, mas sabíamo-lo curioso dos limites das coisas – que as viveu- como alguém que se quer vivo em todas as direcções: choraria os ovos da ave branca sem receio algum de ficar turvado por lágrimas quentes e com o coração destroçado nessa alma que sempre dançou…e essas pequenas manifestações que nos fazem grandes são todo o contrário do rombo extravagante que provoca a desgraça: milagres, são ainda instantes transversais, tão simples, tão frescos, tão improváveis na manifestação que ficamos maravilhados… e há que os ter, sim, para ir até às suas Aves Brancas. Os bárbaros existem como grandes golfadas de terror, embora, e muitas vezes, não sintam nada de nefasto em muitos dos seus actos o que os torna grotescos e poderosos, e a legislação, essa, nunca chega a tempo de corrigir uma ausência qualquer que eles possuem perante a ordem das coisas, não se podendo condenar quando o próprio condenado não sabe da razão profunda de coisa nenhuma. Digamos em sentido figurado que a nível de uma noção mais alargada de humanidade grande parte dela anda literalmente a “pisar ovos”. Que seja os das cobras. E nós…

…. em breve, longe do lírio e da rosa, longe das tormentosas chamas viveríamos,
se aves brancas fôssemos, amada minha, aves brancas flutuando na espuma do mar! – Yeats

O viver a existência das palavras

AS PALAVRAS

“São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
Leves.
Tecidas, são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta ? Quem
as recolhe, assim,
cruéis,desfeitas,
nas suas conchas puras ?”

Eugénio de Andrade (1923/ 2005), poeta.

 

[dropcap]A[/dropcap]o escrever, o que me interessa é estabelecer encontros e desencontros entre diversas realidades. Ou partindo do sentido da reconversão fazer da desorganização uma organização ordenada de palavras, ou fazendo das divergências convergências de encontro de pensamentos, ou da inacção em acção de ideias, ou tornar o invisível, visível da realidade. Uma reconstrução – a sobrevivência. Não gosto de trocar a realidade pelas sombras projectadas ou imagens desfocadas, uma realidade que se transmuta – -, ou uma aversão à ambiguidade.

Deixaram-nos na incumbência de interpretar a utilização manipuladora das palavras. Será que estamos a fazer o trabalho de casa? Não haverá uma subserviência ao politicamente correcto. O concreto não é irritante pelo que mostra, mas por aquilo que denuncia. Escrever é de alguma maneira subverter.

Faz-me lembrar a história da borboleta – símbolo da metamorfose. A borboleta transforma-se, mas é livre (não há muitos). Vive pouco tempo, mas aproveita-o como ninguém. Defeitos (?) Alguns. Virtudes (?) Muitas – “quem não se contradiz, não diz nada”, então por estas bandas… A quantas metamorfoses já assistimos em Macau? A um número infinitivamente grande.

Os portugueses são previsíveis e unânimes. Como se olha nos olhos de quem agiu ou age como se fosse dono? Existem muitas sombras no calcorrear da vida – subporções de ideias ou o obliterar da existência, porque perdemos a ressonância emocional.

“Temos a tendência para Ler o que confirma as nossas ideias” – é preciso um esforço maior e saber questionar, já que o tempo dilata-se e a expectativa instala-se, despejamos os destroços enferrujados da memória. As palavras têm o poder de se reflectir como espelhos. As imagens opostas (a realidade) têm leituras invertidas. Cada um de nós é um manual profusamente ilustrado, com páginas soltas, com destinos traçados não que aguardem uma desgraça – com um sentido épico – numa das curvas da vida. As viagens são feitas de reflexões e memórias. Temos de viver menos com exclamações e ilusões e com mais interrogações, sem convenções e preconceitos. Esperam-nos desafios e adversidades.

“A nossa capacidade de não ver as coisas é infinita. É que passamos a vida, por irresistível inclinação antropológica, a construir e a pintar mundos para nós mesmos” – na opinião do filósofo norte-americano, Nelson Goodman (1906 – 1998 ) – ,“a nossa indisciplina mental é perdulária”.

Vivemos num Mundo de contradições. Há uma certa fragilidade e efemeridade da vida, há uma certa obscuridade do pensamento, o que nos torna almas ansiosas que necessitam de respostas. Ninguém no-las vai dar. Teremos de as saber encontrar. Saberemos (?), o tempo urge. A esperança faz-nos depreciar o presente. A mudança, como sabemos, começa quando começamos a pensar nela.

Não nos podemos queixar, não tivemos uma disrupção inesperada, o que não temos de momento é capacidade de construir opostos – pontes -, pensamentos íntimos, é um malogro geracional, continuamos, enfim, uns prestáveis poetas…criamos fissuras para sobreviver, vivemos ainda de crenças, mas a um cidadão, nos tempos que correm, não lhe é permitida a ambiguidade, eu sei que nos conformamos desde que haja compensações. É o dilema da existência…

“Os azares das palavras são mais terríveis que os azares do tempo!”
Palavras – a sua influência depende de três coisas : “de quem as diz, da qualidade do que se diz e da frequência com que se diz” – as palavras. Segredos omitidos, palavras não ditas, saborear o saber da sabedoria, a insatisfação existêncial das palavras!

“ As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um”
Almada Negreiros (1893-1970)