Violou condições de suspensão de pena, mas livrou-se do crime de desobediência

[dropcap]O[/dropcap] Ministério Público (MP) pretendia que um homem que violou as condições de suspensão de uma pena assessória de inibição de condução fosse punido pela prática do crime de desobediência. No entanto, depois de perder o caso do Tribunal Judicial de Base (TJB), o MP conheceu uma nova derrota no Tribunal de Segunda Instância (TSI).

Em Março de 2017 o arguido foi condenado por infringir a Lei do Trânsito Rodoviário e foi-lhe aplicada ainda uma pena acessória de inibição de condução por três meses. No entanto, o TJB aplicou-lhe uma pena suspensa. Assim em vez de ficar impossibilitado de conduzir qualquer tipo de viatura durante três meses, o homem não ficava inibido de conduzir, mas no espaço de um ano apenas podia guiar o veículo com uma determinada matrícula. A condução era autorizada somente entre as 10h e as 19h30.

No entanto, ainda antes do período de um ano chegar ao fim, em Outubro de 2017, o homem foi apanhado a conduzir outra viatura que não a indicada pelo tribunal. Por esse motivo, o MP considerou que o homem devia ser condenado por desobediência qualificada.

Contudo, tanto o TJB como o TSI fizeram uma leitura diferente do caso. Depois da primeira decisão, o MP recorreu para o TSI, que agora confirmou a decisão do TJB. Segundo a decisão do TSI é necessário fazer a distinção entre o incumprimento que pode originar o crime de desobediência e a mera falta de observância dos deveres da suspensão da pena.

Pena só era de 3 meses

Para o TSI, quando o homem foi apanhado, a pena de proibição de condução durante três meses não estava a ser executada, porque se encontrava suspensa. Assim, para o TSI não houve violação da pena, mas apenas dos deveres que estava obrigado a respeitar, no âmbito da suspensão. Por este motivo, o TSI considerou que no máximo o homem deveria ser obrigado a cumprir a proibição de três meses sem conduzir e não ser acusado do crime de desobediência.

O mesmo tribunal ressalvou que esta é uma sentença que deve ser apenas vista como aplicável ao caso concreto e explicou: “Afigura-se-nos que a solução que se deixou exposta se nos apresenta como a mais razoável e adequada, visto até que o período de inibição de condução era (tão só) de 3 meses, e a conduta do arguido, não obstante ter ocorrido no decurso do período da decretada suspensão da sua execução, (por 1 ano), teve lugar após o referido período de 3 meses”, consta no acórdão.

Função Pública | Sónia Chan vai reunir com representantes da ATFPM

[dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, vai reunir no próximo dia 24 com a Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). No encontro vão ser discutidos aspectos ligados às dificuldades do exame de acesso à função pública, aponta um comunicado da ATFPM.

Em causa está o grande número de questões a serem respondidas num curto espaço de tempo. “Um total de 60 questões para um total de 100 valores a serem realizadas na hora e meia de prova estabelecida o que dava um minuto e meio para cada resposta”, aponta a ATPFM no pedido de reunião à secretária.

Por outro lado, segundo os candidatos, o exame realizado em língua portuguesa apresentou falhas de tradução. “O pouco cuidado na tradução do exame para português, sem uma revisão pensada e sem ter em conta as diferenças linguísticas parece revelar desconsideração para com os candidatos” lê-se.

China confirmou detenção de canadianos acusados de espionagem

[dropcap]A[/dropcap] China confirmou ontem que deteve dois canadianos suspeitos de espionagem e o Governo canadiano já exigiu a sua “libertação imediata”, numa escalada de crise diplomática entre os dois países.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lu Kang, disse ontem que Michael Kovrig e Michael Spavor, oriundos do Canadá, foram detidos em Dezembro de 2018, suspeitos de roubar segredos de Estado, numa manobra entendida como procurando exercer pressão sobre aquele país, com quem existe um conflito diplomático.

O Governo do Canadá já sabia desta detenção e estava a acompanhar o processo. Ontem, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Canadá, disse que “condena veementemente as prisões arbitrárias” e exigiu a “libertação imediata” dos dois cidadãos.

“Sempre agimos de acordo com a lei e esperamos que o Canadá não faça comentários irresponsáveis sobre o nosso sistema legal”, disse Lu Kang.

Kovrig é um antigo diplomata canadiano, investigador do ‘think tank’ Internacional Crisis Group, e Spavor é um empresário com um longo historial de contactos com a Coreia do Norte.

A China já os tinha indiciado de estarem a conspirar para roubar segredos de Estado e efectivou a sua detenção, em Dezembro de 2018, para serem levados a tribunal.

A sua detenção aconteceu poucos dias depois de Meng Wanzhou, executivas e filha do fundador da empresa de tecnologia de comunicação Huawei, ter sido detida em Vancouver, no Canadá, em 1 de Dezembro, a pedido das autoridades norte-americanas, que exigiram a sua extradição para ser julgada por acusações de fraude.

Meng foi acusada de mentir sobre negociações da Huawei com o Irão, violando sanções impostas pelos EUA àquele país árabe.

O advogado da executiva da empresa de telecomunicações argumentou que os comentários do Presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a Huwaei sugerem que o caso contra Meng tem “motivações políticas”.

Repúdio nacional

A detenção dos dois cidadãos do Canadá, ontem confirmada pela China, está a ser lida pelo Ocidente como uma represália pelo caso que envolve Meng, que já foi libertada sob fiança e se mantém no Canadá à espera de uma decisão sobre o pedido de extradição por parte dos EUA.

O Governo chinês não revelou onde os dois canadianos estão detidos e confirmou que não tiveram acesso a um advogado, embora tenham tido visitas consulares mensais, a última das quais aconteceu esta semana.

Uma fonte oficial do Governo do Canadá disse em Março que os dois homens estavam a ser sujeitos a interrogatórios quase diários e o Parlamento canadiano já tinha repudiado esta situação, denunciado as condições de detenção “totalmente inaceitáveis”.

A justiça chinesa condenou à morte nos últimos meses dois outros canadianos considerados culpados de tráfico de drogas.

GP Macau | Pilotos locais em força nas provas de apuramento

[dropcap]Q[/dropcap]uase cem pilotos, noventa e nove para sermos mais precisos, inscreveu-se nas provas de apuramento para as corridas da “Taça Carros de Turismo de Macau” e “Taça da Grande Baía de GT” da 66ª edição do Grande Prémio de Macau. A primeira das duas jornadas do Festival de Corridas de Macau, organizadas pela Associação Geral-Automóvel de Macau-China (AAMC), está agendada para o fim-de-semana de 25 e 26 de Maio no Circuito Internacional de Guangdong.

Este ano o Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa) será novamente dividido em duas classes: “AAMC Challenge 1.6 Turbo” e “AAMC Challenge 1950cc ou Superior”.

Os melhores dezoito classificados de cada classe no somatório dos dois fins-de-semana – num total de quatro corridas – terão apuramento directo para o grande evento do mês de Novembro.

Os que ficarem de fora do “top-18” terão que aguardar alguma desistência para terem uma vaga.

A classe “AAMC Challenge 1.6 Turbo”, que tem a particularidade de ter um regulamento técnico único no mundo e que estará a chegar ao fim, reunirá vinte e três concorrentes, dezassete deles da RAEM. Destaque para a presença do veterano português Rui Valente e de Jerónimo Badaraco e Célio Alves Dias, dois nomes incontornáveis do automobilismo macaense.

Popularidade em alta

A popular categoria “Road Sport”, hoje designada como “AAMC Challenge 1950cc ou Superior”, volta a reunir um número vasto de concorrentes. Trinta e oito inscritos provenientes de cinco países e territórios vão medir forças numa classe que acolhe um colorido leque de viaturas e dezanove pilotos locais.

Para além dos tradicionais favoritos Leong Ian Veng, Ng Kin Veng ou Wong Wan Long, o contingente local contará com vários pilotos macaenses. Destaque para a presença de Filipe Souza, que ao volante de um Audi RS3 LMS TCR, que se estreia nesta classe, juntando-se à promessa Delfim Mendonça Choi e aos regressados Jo Merszei e Luciano Castilho Lameiras, que o ano passado falharam a qualificação.

O vencedor da Taça da Corrida Chinesa do Grande Prémio em 2017, Hélder Assunção, também está de volta, mas desta vez com uma máquina nova, um Nissan GTR-34. E numa altura em que o automobilismo do território precisa de novo sangue, há que realçar a estreia de Osório Sabino com um Volkswagen Golf GTi.

Estreia auspiciosa

A novidade do Festivais de Corridas de Macau de 2019 será a introdução da “Taça da Grande Baía de GT”. Esta competição irá permitir a participação de trinta e seis concorrentes na 66ª edição do Grande Prémio de Macau. Destinada a carros da categoria GT4 e ex-Taça Lotus, em termos de adesão, a estreia não poderia ser melhor apesar dos custos base que apresentam este tipo de viaturas.

Com trinta e oito carros garantidos à partida, devido às limitações do circuito dos arredores da cidade de Zhaoqing, a organização viu-se forçada a dividir os participantes em dois grupos. Audi, Aston Martin, BMW, Ginetta, Lotus, Mercedes AMG e McLaren são as marcas representadas numa Taça que no futuro poderá ganhar relevância dentro do Grande Prémio, trazendo para o Circuito da Guia aqueles pilotos que se viram afastados com a introdução da Taça do Mundo FIA de GT há três. Eurico de Jesus, ao volante de um Lotus Exige, é o único nome português na lista de inscritos dos carros de Grande Turismo.

Mega favelas

[dropcap]E[/dropcap]m tempos históricos não muito distantes falava-se de “êxodo rural” para descrever os movimentos massivos da população que deixava a vida no campo e o trabalho agrícola para se deslocar para as cidades, onde se concentravam as indústrias e se esperava aceder às maravilhas da modernidade. Hoje já não é tanto assim: nem sempre a cidade parece ser suficiente para rasgar os horizontes aparentemente necessários e assiste-se cada vez mais a deslocações massivas das zonas urbanas de pequena e média dimensão em direção às grandes áreas metropolitanas – as “mega-cidades”, estatisticamente definidas quando concentram uma população residente superior a 10 milhões de pessoas (a população de Portugal inteiro, portanto).

Em 1950 havia no mundo só uma destas metrópoles. Era Nova Iorque a grande cidade do planeta, símbolo global da modernidade urbana, portadora de uma promessa de futuro, transformada em poesia pela magia do cinema. Depois viria Tóquio, a cidade da utopia tecnológica que liderava o milagre do desenvolvimento económico do Japão após a II Guerra Mundial. Ainda hoje a capital japonesa é a maior área metropolitana do mundo, com cerca de 35 milhões de pessoas em intensa mobilidade quotidiana graças a um impressionante sistema de transportes públicos: das 50 estações ferroviárias mais movimentadas no mundo, 26 estão em Tóquio (e mais 18 no resto do Japão).

Não é assim em todas as “mega-cidades”, evidentemente: muitas delas estão longe de ter as infraestruturas adequadas para tamanhas concentrações populacionais. O permanente congestionamento do tráfego – com a consequentes poluição e o inevitável desperdício sistemático de energia – é frequentemente um desses sinais da desproporção entre a atratividade do lugar, as multidões que por lá circulam e a sua capacidade para alojar em condições adequadas quem chega e fica.

Na realidade, das 33 “mega-cidades” hoje existentes, 26 estão em países classificados como “em desenvolvimento”. As cidades de países ricos (Tokyo e Osaka no Japão, Seul na Coreia do Sul, Nova Iorque e Los Angeles nos Estados Unidos e as europeias Londres e Paris) são excepções numa geografia em que a Ásia é largamente maioritária: 6 “mega-cidades” na China (Pequim, Xangai, Shenzen, Guangzou, Tianjin e Wuhan), 4 na Índia (Mumbai, Deli, Bangalore e Calcutá) e ainda Manila (Filipinas), Jacarta (Indonésia), Dhaka (Bangladesh), Bangkok (Tailândia), Ho Chi Minh (Vietname), Carachi (Paquistão), Teerão (Irão) e também Istambul (na Turquia, graciosamente repartida entre os continentes asiático e europeu). Moscovo (Rússia) está na Europa que não tem estatuto de “desenvolvida”, enquanto Lagos (Nigéria) e Cairo (Egito) são as “mega-cidades” africanas, e Lima (Perú), Cidade do México, Buenos Aires (Argentina) e as brasileiras Rio de Janeiro e São Paulo representam a América Latina neste restrito grupo de super-metrópoles.

Estas transformações nas sociedades contemporâneas são lentas e poucas mudanças se esperam nestas dinâmicas para os próximos anos, segundo as projecções de um estudo apresentado pela Euromonitor Internacional. O impressionante dinamismo económico e demográfico destas super-metrópoles – pelo menos em comparação com o resto do mundo – garante que vão manter a sua importância até 2030, pelo menos, apesar do envelhecimento populacional que se manifesta em várias cidades asiáticas (sobretudo nas do Japão, mas também em Seul, Pequim e Xangai). A confirmarem-se as previsões, Tóquio e Osaca serão as duas únicas “super-cidades” a perder população até 2030, altura em que Jacarta passará a ser a metrópole mais populosa do mundo.

A manterem-se as tendências actuais, 6 novas “mega-cidades” ultrapassarão o limiar dos 10 milhões de habitantes até 2030, continuando o mundo mais desenvolvido a ser uma exceção nestas super-concentrações de população: Chicago (Estados Unidos) será a único caso de uma cidade rica, enquanto os países “em desenvolvimento” contribuirão com mais cinco – Bogotá (Colômbia), Chennai (Índia), Bagdad (Iraque) e duas novas representantes de África, o continente mais tardiamente urbanizado (Dar es Salaam, na Tanzânia, e Luanda, em Angola). Manifestamente, esta é uma escala pouco interessante para os países mais ricos do planeta.

Na realidade, se há nestas “mega-cidades” um dinamismo económico que se traduz, em geral, num acelerado crescimento – e é sobretudo isso que atrai milhões de pessoas – dificilmente esse processo permite desenvolver rapidamente as infraestruturas para as acolher. Não é só o problema dos transportes, naturalmente. É também o da habitação, em zonas urbanas que o capitalismo contemporâneo transforma em produtos transacionáveis e onde os condomínios de luxo (frequentemente vedados e inacessíveis) das áreas centrais coexistem com vastas extensões de bairros precários e informais na periferia. Não é só na Cidade do México, em Bangkok ou no Cairo: a pobreza e a miséria também se estendem pelos subúrbios de Paris ou Nova Iorque. Além de uma população altamente urbanizada, a vida neste planeta no século XXI também se faz com muitos milhões de pessoas nas favelas suburbanas contemporâneas.

Ponte HKZM | Deputados questionam baixa utilização dos estacionamentos

A nova ligação rodoviária entre Macau e Hong Kong, aberta há seis meses, ainda está muito aquém do potencial, com a ocupação dos estacionamentos de Macau abaixo dos 10 por cento e ainda à espera de uma solução para se poder parar o carro do lado de lá

 

[dropcap]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública da Assembleia Legislativa reuniu ontem para fazer o ponto de situação sobre o funcionamento da Ponte de Hong Kong-Zhuhai-Macau (HKZM). A fraca utilização das novas instalações transfronteiriças foi um dos assuntos em debate sendo o Governo questionado sobre as negociações em curso com as autoridades vizinhas.

As questões relacionadas com o estacionamento – a mais em Macau e a menos em Hong Kong – das viaturas particulares com licença de circulação, foram o principal tema apresentado e discutido.

À excepção dos transportes públicos, todas as viaturas que fazem o percurso entre Macau e Hong Kong têm que passar a fronteira à chegada, não podendo apenas largar ou recolher passageiros e inverter a marcha para regressar.

Ou seja, não existe qualquer parque de estacionamento previsto pela RAEHK para os veículos de Macau, mesmo tendo sido esse um pedido recorrente da RAEM durante toda a fase de construção da ponte, informou o secretário para os Transportes e Obras Públicas de Macau, Raimundo do Rosário. A situação, que actualmente tem vindo a ser negociada com o Executivo de Hong Kong, vai no sentido de um compromisso provisório, enquanto não for viável a construção de um parque para o efeito.

“As pessoas de Macau podem circular na ponte, mas do lado de Hong Kong não há um estacionamento. Só que fazer um estacionamento agora também leva o seu tempo e, neste momento, estamos a conversar com Hong Kong no sentido de, com a brevidade possível, haver um ponto para tomada e largada de passageiros, isto é, nós podermos chegar lá, largar uma pessoa e depois, ao fim do dia, voltar ao local e apanhar essa pessoa. Achamos que isso, seguramente, será mais fácil de realizar do que o estacionamento, que seria uma coisa mais a médio e longo prazo, porque tem que se fazer o projecto, as obras, etc.”, revelou o secretário à saída do encontro.

Do lado de cá, a solução foi acautelada em tempo útil pelo Governo local, já que se construíram na ilha artificial dois auto-silos, com capacidade para 3 mil lugares cada, um para estacionamento das viaturas dos residentes, aquém do posto fronteiriço, e outro para estacionamento dos visitantes, além fronteira. Os veículos não necessitam de entrar no território, até porque a quota de licenças é limitada à entrada de 300 viaturas de Hong Kong. No entanto, existem 65 mil veículos vizinhos com licença para circular na ponte e entrar em Zhuhai, podendo igualmente viajar até Macau, desde que estacionem e os ocupantes atravessem a fronteira a pé.

Esta situação, que evita a sobrelotação do tráfego para as dimensões do território, ainda não foi explorada em massa pelos cidadãos da RAEHK. Os deputados questionaram, por isso, a baixa taxa de utilização dos dois parques de estacionamento, que integram uma obra que custou ao erário público milhares de milhões de patacas. Desde Outubro de 2018, quando inaugurou a Ponte HKZM, a média de ocupação diária dos parques vinha sendo de 2 por cento, tendo evoluído devagar até ao passado mês de Abril, em que atingiu os 7 por cento. O pico máximo de ocupação aconteceu no dia 20 de Abril, quando estacionaram no auto-silo de leste 565 viaturas.

Mas existem outros 90 por cento por preencher. Uma das críticas apontadas pelos deputados para o aparente insucesso destas estruturas era a necessidade de reservar o lugar de estacionamento com uma antecedência prévia de 12 horas, o que veio a ser encurtado para 6 horas, desde o dia 1 de Abril. O Governo acredita ter havido uma visível melhoria, com esta medida, e prepara-se em breve para encolher o prazo de antecedência de reserva para apenas uma hora. Actualmente, existem 11.800 viaturas registadas para utilizar os auto-silos de Macau, provenientes de Hong Kong.

Se o afluxo à ilha artificial vier a aumentar de modo exponencial e nos dois sentidos, contando também com as 600 viaturas de Macau autorizadas a entrar em Hong Kong, levanta-se outro problema: o acesso rodoviário ao posto transfronteiriço, que por enquanto é apenas um, pela nova zona de aterros de Macau. A Comissão informou que a criação de uma passagem superior, com saída na Rua dos Pescadores, é um projecto anunciado já pelo Governo, a pedido de muitos deputados, para evitar o congestionamento do trânsito existente na rotunda da Pérola Oriental, e que vai ter ligação à ilha artificial.

Seguros iguais para todos

A Comissão discutiu ainda a diferença entre os seguros automóveis nas três cidades do Delta do Rio das Pérolas, situação que levanta dúvidas legais sobre a protecção dos passageiros em caso de acidentes sobre a Ponte. “Cada região tem as suas regras de seguros e tipos diferentes de cobertura. Em Hong Kong, o valor de cobertura do seguro é de 100 milhões, em Macau é de 1,5 milhões e em Zhuhai é de 120 mil. O Governo afirmou que quer discutir esta questão do seguro com os dois Governos parceiros, para tentar uniformizar os valores e taxas de seguro, ou mesmo criar um seguro único”, adiantou Si Ka Lon.

A ligação de transportes públicos entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong continua a estar na mesa das negociações com o território vizinho, embora ainda sem calendarização à vista, bem como o aumento da quota de licenças para a circulação de mais viaturas locais na Ponte HKZM, adiantou Raimundo do Rosário. “Temos neste momento, em Macau, 110 a 120 mil carros. Portanto, 600 licenças é muito pouco e a ponte tem capacidade para muito mais. Queremos, passo a passo, ir aumentando esta quota”, reforçou.

Protecção Civil | Wong Sio Chak admite alterações e responsabiliza deputados

O secretário para a Segurança mostrou abertura para discutir a proposta que criminaliza as “notícias tendenciosas”, mas garante que não vai haver detenções de pessoas “só porque divulgaram notícias”. No entanto, insiste na urgência de aprovar a lei a tempo da época de tufões

 

[dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança está disponível para fazer alterações à Lei de Bases de Protecção Civil, que na versão portuguesa criminaliza as “notícias tendenciosas”, durante a ocorrência de calamidades. Contudo, Wong sublinha que a vontade é que o diploma, que entrou no dia 10 na Assembleia Legislativa, seja aprovado a tempo da temporada de tufões.

Em causa está o facto de o Executivo ter feito a consulta pública sobre a criminalização de “rumores e boatos”, com a prática a ser denominado de “crime de falso alarme social”. No entanto, na versão entregue na AL, o Executivo opta por criminalizar “notícias falsas, infundadas ou tendenciosas” sobre “riscos ameaças e vulnerabilidades”. A prática passa a ter o nome de “crime contra a segurança, ordem e paz públicas em incidentes súbitos de natureza pública”.

“Antes o crime era de alarme falso, agora com a nova definição passa a aplicar-se a quem está a fazer distúrbio da ordem social. Há uma alteração porque tivemos como referência os nomes adoptados no estrageiro, nos outros países, achamos que a designação é melhor”, afirmou Wong Sio Chak, durante a apresentação do relatório da criminalidade.

Na ocasião o secretário optou por não entrar em grandes pormenores e prometeu mais explicações para um momento posterior. Porém, avançou com a sua interpretação do documento:

“Na prática é muito concreto. É aplicado quando existem notícias de forma dolosa. A notícia tem de ser falsa e tem de haver certeza do dolo. Se houver dúvidas, não vamos entender que houve dolo. Tem de se provar que houve dolo e negligência”, frisou. O secretário para a Segurança deixou igualmente a garantia que as autoridades não vão prender pessoas “só porque divulgaram notícias”.

Discussão com deputados

Com a entrega do diploma na Assembleia Legislativa, Wong referiu que vai haver discussão com os deputados da comissão e serão eles a ter a palavra sobre o texto aprovado. “A AL vai discutir e apreciar [a lei]. A sociedade vai poder participar na discussão. […] Se a Assembleia Legislativa não concordar não passa a lei. É a Assembleia que vai decidir. Na Assembleia há margem para mudanças”, indicou. “Mas, na nossa perspectiva, gostávamos que entrasse em vigor antes da época de tufões”, sublinhou. “Para nós é muito urgente”, sublinhou.

A Lei de Bases de Protecção Civil entrou na Assembleia Legislativa a 10 de Maio e a época de Tufões deverá começar por volta de Junho, segundo as previsões oficiais. O diploma ainda precisa de ser votado na generalidade, discutido na especialidade até ser aprovado. Wong Sio Chak acredita que mesmo assim é possível fazer uma discussão rigorosa: “Não vai ser por causa da urgência que vamos negligenciar os conteúdos. A discussão tem de ser rigorosa e temos de ter cautela”, admitiu.

Dilema do dentista culto

[dropcap]N[/dropcap]ão faço teatro para dentistas!” Terá exclamado o mercurial, mas não menos genial Peter Stein.

À frente da companhia teatral berlinense Schaubühne, embora se considerasse um mero primus inter pares, Stein havia cometido o prodígio de harmonizar erudição e kritik (ou seja a discussão dos fundamentos, termo que demonstra cabalmente como a banalização acarreta degradação), de articular o classicismo com a vanguarda e de conjugar insurreição com racionalidade.

Ao capturar as bandeiras até aí brandidas pelos conservadores, resgatando a tradição e a identidade, Stein – assim como outros bravos da sua geração do pós-guerra – logrou o feito admirável de extirpar o mal que pairava sobre a cultura alemã como uma maldição.

De impolutas credencias em virtude da sinceridade e da integridade política da sua obra e cabalmente ratificado nos círculos idóneos Peter Stein estava no caminho certo. Contudo não lhe escapou que as plateias que pressurosamente acorriam ao Schaubühne, quem se encantava e deslumbrava com as suas encenações, quem por estas era persuadido a compenetrar-se no exercício de reflectir sobre a ordem do mundo desde a perspectiva esclarecida e emancipada desbravada pelo seu teatro, que o seu público, enfim, era a burguesia urbana.

Viviam-se os anos 60 e 70. Doutro modo apelidada de classe média esta variante da vetusta burguesia alcançava um trem de vida confortável apenas pelo trabalho, sobretudo na área dos serviços, por conseguinte desligados da produção de mais-valias intensivas exploradas pelo capital, actividade essa que rapidamente se tornou maioritária nas cadeias de produção europeias.

O determinismo das ideologias que não previram esta evolução reprimiu-as de reconhecerem a factualidade da classe média. Isto operou um curto-circuito entre a existência e a consciência.

Ninguém mais do que a classe média detesta a classe média. Por um curioso efeito de negação individual muitos elementos da classe média têm a firme convicção de que na classe média se integram outros que não ele e essoutros é que assimilaram os valores da classe média. Mas dada a recorrência deste fenómeno é viável tomar tal repúdio como um traço distintivo da classe média. Decidida a obliterar a sua própria condição de classe, esta nova burguesia investiu com idêntico e voraz apetite tanto no consumo material como no consumo cultural. Aí estavam os famigerados “dentistas” verberados por Peter Stein, que percebeu bem o dilema.

Num determinado estado de coisas político não é invulgar na história encontrarem-se no seio daqueles que mais dele beneficiam os que mais se lhe opõem. É escusado fazer profissão de fé na dialéctica para assentir que todos os regimes encerram os seus próprios paradoxos. O que será inédito e paradoxal é que esta modalidade chamada de “democracia liberal” não só se congratule, como pareça alimentar-se desse paradoxo.

A classe média que se auto-renega está metida num labirinto fazendo por ignorar que nele vive o devorador Minotauro. Por exemplo, não falta na classe média quem pretenda qualificar-se exibindo repugnância pelo consumo de massas. Mais reitera do que atenua este tique de Maria Antonieta a noção de que semelhante forma de elitismo no consumo em vez de se consignar à proeminência financeira se meça por uma espécie de acumulação de capital moral. Atitude que proporciona quadros burlescos. Como a classe média pretensamente conscienciosa se leva muito a sério ela tende a desperceber que o marketing, esperto como um alho, transforma em paródia os seus preconceitos ciente de que venderá melhor um shampô se o carimbar de “sustentável.”

Ao fim e ao cabo a má-fé ou a alienação assomam como o traço predominante da classe média que se julga culta. Tinha razão Peter Stein – os dentistas são insuportáveis.

Wong Sio Chak defende-se de críticas a consulta pública do “bom amigo” Valente

[dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança respondeu ontem às críticas feitas pelo presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), que na quarta-feira havia questionado de forma indirecta a imparcialidade da Polícia Judiciária para fazer uma consulta pública sobre as escutas telefónicas. Wong Sio Chak frisou que “é amigo” de Jorge Neto Valente, que o respeita, mas que o “Senhor Advogado” não estava na posse de toda a informação.

“Prestei atenção às críticas de Neto Valente. Reparei que referiu a consulta pública a cargo da Polícia Judiciária. Como sabem as regras processuais fazem com que seja a entidade responsável pela consulta que depois também elabore o relatório. Se fizermos uma separação entre quem faz a consulta pública e elabora o relatório não é tão razoável”, começou por explicar.

“Acho que o Senhor Advogado não sabe, nem domina, toda a informação sobre as consultas públicas. [….] A consulta teve por base o processo adoptado em Portugal. Mas acho que a versão de Macau é uma versão melhorada”, acrescentou.

Segundo Wong Sio Chak a consulta pública sobre a Lei da Intercepção e Protecção de Comunicações teve por base os “pareceres dos órgãos jurídicos” e que reflecte de forma generalizada as “opiniões globais”. O secretário para a Segurança falou ainda que para a auscultação se fez um esforço extra em relação a outros diplomas para ouvir o máximo de opiniões possíveis.

“Muito bons amigos”

Ainda sobre Jorge Neto Valente, Wong Sio Chak fez questão de sublinhar a amizade. “Somos bons amigos, muito bons amigos e respeito-o”, sublinhou.

Na quarta-feira, Neto Valente criticou a consulta pública ao referir que a maior parte das opiniões ouvidas recusavam a criação de uma comissão independente para supervisionar os pedidos de escutas e intercepções de comunicações por parte da PJ. “Agora a PJ concluiu, depois de uma consulta pública, que 80 por cento das pessoas achava que não devia haver [fiscalização externa], mas eu não vi consulta nenhuma. Perguntaram-me e eu disse que devia haver supervisão externa”, disse Neto Valente.

Na mesma ocasião, o presidente da Associação dos Advogados de Macau questionou indirectamente a imparcialidade da PJ: “Perguntar à PJ se deve haver fiscalização externa é o mesmo que perguntar aos prisioneiros de Coloane se querem ficar lá dentro ou vir cá para fora”, apontou.

AMCM | Reservas cambiais aumentam ligeiramente em Abril

[dropcap]A[/dropcap]s estimativas preliminares da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) quanto às reservas cambiais da RAEM apontam para um valor de 164,7 mil milhões de patacas no final de Abril de 2019, de acordo com informação divulgada ontem.

O montante registado representa 0,9 por cento de crescimento face aos dados rectificados do mês anterior, que atingiram os 163,3 mil milhões de patacas. No final de Abril de 2019, as reservas cambiais da RAEM registaram cerca de 10 vezes em relação à circulação monetária, ou 80,5 por cento do agregado monetário M2 em MOP, no final de Março de 2019.

A taxa de câmbio efectiva da pataca, ponderadas as quotas do comércio, foi de 105,9 em Abril de 2019, registando crescimentos de 0,34 pontos e 5,28 pontos, respectivamente, sobre os dados do mês anterior e relativos a Abril de 2018. O que significa que, globalmente, a pataca subiu face às moedas dos principais parceiros comerciais de Macau.

Grande Baía | Português como elo de ligação entre regiões

O ensino do português na Grande Baía foi o tema do Fórum que teve lugar ontem no Instituto Politécnico de Macau. Carlos Ascenso André considera que a língua portuguesa pode ser um elo de ligação entre as regiões que integram o projecto de cooperação que envolve Macau, Guangdong e Hong Kong

 

[dropcap]A[/dropcap] língua portuguesa poder ser um factor de ligação entre as regiões que integram o projecto de cooperação da Grande baía. A ideia foi deixada ontem por Carlos Ascenso André  no Fórum para a Promoção do Ensino do Português na Grande Baía realizado ontem no Instituto Politécnico de Macau (IPM).

O académico regressou ao território para participar no evento organizado pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), pelo qual foi responsável até ao ano passado. “Suponho que o português é uma das coisas que une as cidades e as regiões da Grande Baía”, revelou à margem do evento onde proferiu uma comunicação sobre o ensino de português.

Carlos Ascenso André sublinha que Portugal pode dar um contributo importante para a divulgação da língua além do apoio financeiro. “Felizmente no caso de Macau, Portugal não tem que apoiar através de investimentos financeiros porque isso não é o que Macau precisa. Macau precisa mais de apoio institucional, apoio científico e de parcerias”, refere.

Já o actual presidente do CPCLP, Gaspar Zheng, deu conta da propagação do ensino de português na zona da Grande Baía, nos últimos anos. Na província de Guangdong, são já cinco as instituições que oferecem a língua de Camões e “não podemos esquecer que Guangdong é a província com um maior índice de cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa”, apontou.

Outro sinal de valorização do português na região é a realização, pela primeira vez, em Cantão, do 5º Fórum Internacional do Ensino de Português, agendado para o próximo mês de Julho, depois de ter passado por Pequim, Xangai e Macau em edições interiores.

Hong Kong, não tendo nenhuma licenciatura em português, tem uma formação leccionada pela Universidade de Hong Kong desde 1956. A mesma instituição abriu ainda um programa de formação continua para adultos há cerca de oito anos. À frente desta formação está Irene Lacasa que considera que a promoção do ensino desta língua na região vizinha é ainda uma missão “desafiante”. “A comunidade portuguesa em Hong Kong é muito pequena”, referiu.

Neste contexto, Macau tem um papel fundamental por ser um território com características particulares. “Macau tem vantagens próprias até porque o português é uma das línguas oficiais. A par da equipa de professores portugueses  e bilingues é ainda onde se produzem vários manuais para ensino da língua. Por outro lado, também tem cursos que integram alunos portugueses e chineses”, salientou Gaspar Zheng.

O pioneiro

Outra novidade do território no sentido da criação de profissionais de tradução e interpretação chinês-português, é a abertura do curso de mestrado especializado no IPM já no próximo ano lectivo. “É um curso profissionalizante concebido em concreto para formar talentos na área  a que se refere “, explicou Han Lili, directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM, à margem do mesmo evento.

De acordo com a responsável existe um interesse crescente por parte dos jovens da província de Guangdong em aprender português. “Lançámos a notícia de abertura de curso de mestrado numa altura em que recebemos muitos pedidos de informação sobre esta formação, tanto a nível nacional como da área da Grande Baía”. A resposta à abertura a este mestrado traduziu-se em “muitas candidaturas recebidas”

No entanto, nesta primeira edição, as vagas são exclusivamente para alunos locais. A razão, aponta Han Lili tem que ver “a grande procura em Macau e sendo o IPM uma instituição da RAEM”, será prioritário preencher a procura local”, apontou. Trata-se do primeiro curso de especialização nesta área a ser leccionado na China.

 

Aperitivo lusitano

A Casa de Portugal pode vir a apresentar as suas actividades nas regiões que integram a Grande Baía. A ideia foi deixada ontem pela presidente do organismo, Amélia António, à margem do Fórum para a Promoção do Ensino do Português na Grande Baía. “Pode ser um capítulo  aberto em termos de divulgação cultural, disse. Em causa está a apresentação de actividades que a Casa de Portugal em Macau já pratica no território como “a cerâmica, o azulejo português ou a gravura”, que envolvem “uma dose da cultura portuguesa muito importante”. Este tipo de divulgação abre o apetite para que as pessoas queiram ter outros conhecimentos pelo que a Casa de Portugal seria uma “espécie de entrada”, apontou. No entanto são preciso meios e esta expansão das actividades da Casa de Portugal teria que ter “um caminho próprio”. Para o efeito, Amélia António sugeriu a criação de um mecanismo de subsídios dirigidos a este tipo de iniciativas. A responsável admite “é uma coisa que precisa de ser muito pensada porque não é fácil. Mas é uma possibilidade”.

FAM | Fim-de-semana teatral do classicismo grego à comédia em patuá

O Festival de Artes de Macau tem duas propostas de teatro conceptualmente paternais para este fim-de-semana. “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”, do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, enquanto no pequeno auditório a companhia alemã Thalia Theatre apresenta “Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero”, que conta a história de dois filhos a braços com o passado do pai

 

[dropcap]E[/dropcap]m jeito de celebração teatral da paternidade, o Festival de Artes de Macau (FAM) apresenta este fim-de-semana duas peças de teatro cujo conceito central é a figura do pai.

O grande destaque vai para “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”, do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, que oferece mais uma vez um espectáculo pleno de sentido de humor acutilante e crítico, com a graça e a peculiaridade única do patuá. Sob a batuta da dramaturgia e direcção de Miguel de Senna Fernandes, “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)” satiriza uma das grandes promessas políticas do território. A narrativa gira em torno de uma terapeuta ocupacional, Emília, que vem para Macau trabalhar no Departamento de Psiquiatria do recém-inaugurado Hospital do Cotai. Além da carreira profissional, Emília busca no território vestígios do pai biológico, com quem perdeu o contacto. Quer o destino e o guião da peça que a terapeuta encontre o pai precisamente na ala psiquiátrica do hospital, onde é paciente. A partir daí, desenrola-se um drama familiar que tem como pano de fundo a crítica social e política.

Em declarações aos jornalistas, aquando da apresentação do cartaz, Miguel de Senna Fernandes explicou a peça que sobe amanhã e sábado ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, às 20h.

“É mais uma rábula que tem como pano de fundo algo que faz parte da curiosidade de toda a gente, neste caso a história do novo hospital. É a segunda vez que abordamos esta questão, mas desta vez ainda com mais premência porque toda a gente fala do hospital do Cotai e nada se vê. Já nos falaram deste hospital vezes sem conta, mas é claro que ninguém vai explorar as razões de nada acontecer. É uma questão recorrente e vamos falar dele à boa maneira da comédia.”

Hinos a Homero

Ao mesmo tempo que o patuá toma conta do grande auditório, também no sábado e domingo às 20h mas no pequeno auditório, a companhia alemã Thalia Theater apresenta uma versão contemporânea da Odisseia de Homero.

“Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero” foca-se nos temas característica do teatro clássico grego, nas jornadas épicas que implicam o exílio perdido e o retorno. Dirigido por Antú Romero Nunes, que tem curiosamente descendência portuguesa e chinesa, a peça centra-se no encontro de dois irmãos, Telemachus e Telegonous, que procuram assimilar em conjunto o passado sanguinário e violento do pai na guerra de Troia.

Assente em diálogos humorados, um conflito fraticida ganha dimensão entre os dois, à sombra da ausência do pai já morto.

Com uma cenografia minimalista a pender para o oculto, a narrativa salpicada de humor negro condensa em 90 minutos os grandes temas da “Odisseia” de Homero, protagonizada pelas representações de Thomas Niehaus e Paul Schröder.

Até ontem ainda havia lugares para as duas peças, de acordo com o Instituto Cultural. Os bilhetes para “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)” custam entre 150 e 250 patacas, enquanto para “Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero” custam entre 150 e 200 patacas.

E ainda

Também durante o fim-de-semana, mas no Edifício do Antigo Tribunal, o grupo de dança local Four Dimension Spatial apresenta “Mau Tan, Kat Cheong”, um espectáculo com nome inspirado em dois edifícios situados no bairro do Iao Hon que receberam um grande número de imigrantes e trabalhadores ilegais desde a década de 80. A performance foi pensada tendo como referência a chegada à chamada “terra dos sonhos” de muitos imigrantes do Interior da China, parte fundamental da mão-de-obra que trabalhou para o desenvolvimento económico de Macau.

Passaram-se três décadas. Quantos deles realizaram os seus sonhos e quantos voltaram em glória para casa? Respostas a estas questões e a transformação social e urbana de Macau são os pontos cardiais que orientam a performance do grupo de dança local.

“Mau Tan, Kat Cheong” será apresentado amanhã às 20h e no domingo às 15h no 2º andar do Edifício do Antigo Tribunal. Os bilhetes custam 180 patacas.

Último volume de “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” lançado na quarta-feira

[dropcap]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha apadrinha no próximo dia 22, quarta-feira às 18h30, o lançamento do terceiro e derradeiro volume de “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento”, a colectânea coordenada por António Aresta e Rogério Beltrão Coelho. A apresentação da obra vai estar a cargo de Carlos Botão Alves.

“Conclui-se, com a publicação deste volume de “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” – pode ler-se na Nota Prévia – um ambicioso projecto de contribuir para dar a conhecer um dos maiores vultos portugueses da Cultura em Macau – senão o maior – desde o início do século XX”.

O terceiro e derradeiro volume, abre com as comunicações dos lançamentos do primeiro volume em Macau e do segundo em Lisboa e um testemunho de família, da bisneta Maria dos Anjos da Silva Mendes

A edição volta a reunir ensaios e estudos sobre Silva Mendes e o que escreveu, em Portugal, na Imprensa e em livro, antes de vir para Macau. A par da colaboração dispersa pelos jornais de Vila Nova de Famalicão, reedita-se a Introdução (com o título “Os predecessores do socialismo científico”) da sua obra “Socialismo Libertário ou Anarchismo”, publicada em 1896; e o Prólogo e o Prefácio da tradução do poema de Schiller, “Guilherme Tell”, de 1898.

Seguem-se as crónicas sobre Portugal e o Mundo publicadas na Imprensa de Macau; uma palestra sobre “Os tempos da dinastia Chao”, proferida no Clube de Macau, em 12 de Dezembro de 1920, para assinalar o aparecimento do Instituto de Macau, do qual Silva Mendes foi fundador e, à altura, o primeiro presidente.

Cartas de Silva Mendes a Bernardino Machado e a amigos de Macau; documentos diversos; um registo fotográfico e o manuscrito integral do texto sobre “O bonzo Sek Kin Seng”, dado a conhecer por Caetano Soares, completam este o volume.

Para os coordenadores da colectânea, António Aresta e Rogério Beltrão Coelho, “ficou fora desta edição, mas não da cogitação dos organizadores, todo o espólio de natureza jurídica, cujo acesso, por motivos vários, não foi de todo facilitado. A colaboração não assinada, na imprensa de Macau, como já tinha sido assinalado por Luís Gonzaga Gomes, está irremediavelmente perdida”.

“Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” é uma edição de Livros do Oriente, integrada no programa de actividades da Associação Amigos do Livro em Macau, entidade a favor da qual revertem as receitas da venda em Macau.

Coreia do Sul | Seul ainda sem agenda para a visita de Donald Trump

Donald Trump e Moon Jae-in vão encontrar-se em Junho, em Seul, para abordar a desnuclearização da península coreana. Este será o segundo encontro dos dois líderes depois do fracasso das negociações entre os EUA e a Coreia do Norte em Fevereiro passado

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo sul-coreano disse ontem que ainda não há formato ou agenda para a recém-anunciada visita do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Coreia do Sul no final de Junho para discutir a questão nuclear norte-coreana.

Donald Trump vai reunir-se com o homólogo sul coreano Moon Jae-in durante a visita, que ainda não tem data, mas ocorrerá antes ou depois da viagem do Presidente dos Estados Unidos (EUA) a Osaka (Japão), onde se realiza em 28 e 29 de Junho a cimeira dos líderes do G20.

“Não temos nenhuma informação a fornecer sobre questões como o formato e agenda da visita”, disse o porta-voz presidencial sul-coreano Ko Min-jung em conferência de imprensa.

“Os dois líderes planeiam falar sobre as formas de estabelecer um regime permanente de paz através da desnuclearização da península e do fortalecimento da aliança entre a República da Coreia (nome oficial da Coreia do Sul) e os EUA”, afirmou.

A Casa Branca confirmou na quarta-feira, que os Presidentes dos EUA e da Coreia do Sul vão reunir-se em Junho, em Seul, para discutir a questão nuclear norte-coreana, actualmente num impasse.

Elo de ligação

Este será o segundo encontro entre os dois chefes de Estado desde o fracasso da segunda cimeira entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Fevereiro, em Hanói, no Vietname.

Os dois líderes “vão prosseguir a coordenação estreita dos esforços para alcançar a completa e totalmente verificável desnuclearização da República Popular Democrática da Coreia”, informou a Casa Branca, sem especificar uma data.

Além da Coreia do Norte, Trump e Moon “ vão discutir formas de fortalecer a aliança EUA-Coreia do Sul e a amizade entre os dois povos”, acrescentou a Casa Branca na mesma nota.

Eleito há dois anos, Moon, que sempre defendeu o diálogo com a Coreia do Norte, foi um dos grandes responsáveis pela aproximação entre as Coreias desde o ano passado e por um clima de desanuviamento das tensões internacionais em relação ao regime norte-coreano, que possibilitou mesmo duas cimeiras históricas entre Trump e Kim.

Tecnologia | Pequim pede a Washington que pare com os ataques à Huawei

Os Estados Unidos deram mais um passo no conflito tecnológico que opõe as duas maiores economias mundiais. Trump declarou “emergência nacional” e não só proibiu as empresas norte-americanas de usarem equipamento da Huawei, como também exige às firmas do país que obtenham licença para vender tecnologia à gigante tecnológica chinesa

 

[dropcap]A[/dropcap] China instou ontem os Estados Unidos a pararem com as suas práticas contra empresas chinesas, depois de o Presidente norte-americano ter proibido as companhias norte-americanas de usarem equipamento da Huawei.

“Ninguém vê essa medida como construtiva ou amigável e pedimos aos EUA que parem com essas práticas”, disse o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang, em conferência de imprensa.

Kang disse que Pequim “se opõe a países que criam obstáculos usando a questão da segurança nacional como desculpa” e assegurou que empresas estrangeiras a operar no país asiático “não precisam de se preocupar desde que cumpram as leis”.

O Governo norte-americano emitiu ontem uma ordem executiva que proíbe as empresas dos EUA de usarem qualquer equipamento de telecomunicações fabricado pela Huawei.

Uma outra ordem exige às empresas do país que obtenham licença para vender tecnologia à Huawei, num golpe que se pode revelar fatal para a gigante chinesa das telecomunicações.

A medida pode cortar o acesso da Huawei aos semicondutores fabricados nos Estados Unidos e cruciais para a produção do seu equipamento.

As ordens assinadas por Trump declaram mesmo uma “emergência nacional” face às ameaças contra as telecomunicações dos EUA, uma decisão que autoriza o Departamento de Comércio a “proibir transacções que colocam um risco inaceitável” à segurança nacional.

Impacto geral

Colocar a Huawei na lista “negra” teria “efeitos em cascata” em todo o mundo, considerou Samm Sacks, especialista em cibersegurança da unidade de investigação New America, com sede em Washington, citado pelo jornal Financial Times.

“As redes na Europa, África e Ásia que dependem dos equipamentos da Huawei sentirão o impacto, porque a Huawei depende de componentes fornecidos pelos EUA”, disse.

Paul Triolo, especialista em políticas de tecnologia do Eurasia Group, considerou a decisão um “grande passo”, que não prejudicará apenas a empresa chinesa, mas terá também um “impacto” nas cadeias globais de fornecimento, envolvendo empresas as norte-americanas Intel, Microsoft, Oracle ou Qualcomm.

“Os EUA declararam abertamente uma guerra tecnológica contra a China”, afirmou. A Huawei fornece dezenas de operadoras líderes em todo o mundo. Em Dezembro do ano passado, durante a visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a portuguesa Altice e a empresa chinesa um acordo para o desenvolvimento da próxima geração da rede móvel no mercado português.

Washington tem pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei da construção de infraestruturas para redes de quinta geração (5G), a Internet do futuro, acusando a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de informação chineses.

Austrália, Nova Zelândia e Japão aderiram já aos apelos de Washington e restringiram a participação da Huawei. Pequim e Washington travam, desde o Verão passado, uma guerra comercial, que se agravou na última semana, com os governos das duas maiores economias do mundo a imporem taxas alfandegárias adicionais sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

 

França de fora

O Presidente francês considerou ontem ser inapropriado entrar numa “guerra tecnológica ou uma guerra comercial seja com que país for” referindo-se ao aumento das tensões entre Estados Unidos e China sobre o 5G da operadora chinesa Huawei. Para Emmanuel Macron, “essa não é a melhor forma” de defender a segurança nacional de um país ou de “diminuir as tensões”. “A nossa perspectiva não é bloquear a Huawei ou qualquer outra empresa, mas preservar a nossa segurança nacional e a soberania europeia”, sublinhou Macron, falando em inglês no salão VivaTech, em Paris. O Presidente francês adiantou que “a França e a Europa são pragmáticas e realistas” e explicou que o objectivo é “aumentar o emprego, os negócios e a inovação”. Aquilo em que a França acredita é “na cooperação e no multilateralismo”. Macron assegurou ainda que, no caso do 5G, estará “muito atento ao acesso às principais tecnologias de rede para preservar a segurança nacional”.

Jogo | Receitas da Galaxy caem oito por cento

[dropcap]A[/dropcap]s receitas líquidas da Galaxy tiveram uma redução de 8 por cento durante o primeiro trimestre, face o período homólogo, para os 13 mil milhões de dólares de Hong Kong. A informação foi divulgada ontem pela empresa em comunicado à Bolsa de Hong Kong.

No mesmo documento, a operadora indica que as receitas têm sofrido o impacto “da proibição total de fumar” assim como da “competição local e regional”.

Ainda em relação ao mercado da RAEM, a operadora considera que o mercado de massas tem apresentado números sólidos, já em relação ao mercado VIP a operadora considera que o ambiente enfrenta “desafios”.

Ciclones | Associações dos PALOP em Macau angariam donativos

[dropcap]A[/dropcap]ssociações dos países africanos de língua portuguesa em Macau vão promover a Semana África 2019 com eventos de música, gastronomia ou cinema e receber donativos para ajudar as províncias moçambicanas atingidas pelos ciclones, disse à Lusa fonte da organização.

“A Associação de Amigos de Moçambique, uma das entidades organizadoras deste evento, estará no local para receber donativos e iremos passar o evento em directo nas redes sociais para continuar a chamar a atenção para o flagelo que ainda se vive naquela província de Moçambique”, disse à Lusa a presidente da Associação de Amizade Macau-Cabo Verde Ada Sousa.

A segunda edição do evento, que decorre entre 21 e 26 de Maio, tem como objectivo dar oportunidade aos africanos que vivem em Macau “matarem a saudade de vários aspectos da sua cultura”, mas também dar a conhecer a cultura aos restantes residentes e turistas do território, explicou Ada Sousa. “Macau é uma cidade multicultural. Temos a obrigação e as pessoas de Macau têm o direito de sentir a diversidade cultural dos países africanos”, apontou.

Cinema, exposições de pintura e artesanato, workshops de tecidos africanos, palestras, música, dança, pinturas ao vivo, moda e artes plásticas estão entre as actividades patentes em vários pontos de Macau.

O ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique em Março, provocou 603 mortos e afectou cerca de 1,5 milhões de pessoas, enquanto o ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em Abril, matou 45 pessoas e afectou 286 mil pessoas.

Segurança | Criminalidade violenta cresceu no primeiro trimestre

Entre Janeiro e Março houve mais sequestros, violações, homicídios e ofensas graves à integridade física do que no mesmo período do ano passado. Os números foram apresentados ontem pelo secretário para a Segurança. A nível da criminalidade geral há uma redução

 

[dropcap]A[/dropcap] criminalidade violenta registou um crescimento de 8,3 por cento durante os primeiros três meses do ano face ao período homólogo do ano transacto, com um total de 157 casos contra 145. Segundo os dados apresentados ontem pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, os maiores aumentos no tipo de crimes violentos aconteceram ao nível dos sequestros e violações.

Em relação aos sequestros houve uma subida de 34,4 por cento, de 61 para 82 casos. Segundo Wong Sio Chak o aumento ficou principalmente a dever-se ao desmantelamento de uma rede criminosa de agiotagem. “No dia 23 de Fevereiro do corrente ano, a Polícia desmantelou uma rede criminosa de agiotagem e foram detidos 71 indivíduos, essa rede está envolvida em vários casos de ‘agiotagem’, ‘sequestro’ e ‘ofensas corporais’”, afirmou o secretário. “A resolução deste caso também constituiu a razão pela qual houve um aumento dos ‘crimes violentos’”, acrescentou.

Quanto ao crime de violação, houve um aumento de 66,7 por cento de 6 casos no ano passado para 10 em 2019. Já os casos de ofensa grave à integridade física subiram de 0 para 2 e os homicídios de 0 para 1.

Em relação ao homicídio, Wong Sio Chak recordou o caso em que um cidadão do Interior da China foi morto por outro com a mesma origem num hotel do Cotai. Em causa esteve uma operação de “troca ilegal de dinheiro”. Cinco dias depois do crime, com a cooperação das autoridades do Interior, o homem foi detido e enviado para Macau.

Menos crimes

Ainda em relação aos crimes violentos, em comparação com o primeiro trimestre de 2018, houve certos tipos de crimes que diminuíram, como o tráfico e venda de droga, que caiu de 35 casos para 28, os roubos, que reduziram de 23 para 19 casos ou os fogos postos, que tiveram 13 ocorrências, quando no ano passado tinham tido 16. Também os abusos sexuais de crianças caíram de 3 para 2.

Em geral, o número de crimes detectados ou participados às autoridades diminuíram 5,2 por cento de 3.547 casos para 3.364 ocorrências. “Registou-se um decréscimo de 183 casos da criminalidade geral em Macau, significando uma descida de 5,2 por cento face ao período homólogo”, disse Wong Sio Chak. “De um modo geral, o ambiente de segurança em geral no primeiro trimestre do ano 2019 manteve-se, na mesma, estável e favorável”, acrescentou.

Ainda em relação ao restante do ano, Wong Sio Chak afirmou que as autoridades se estão a preparar para um aumento do número de turistas, devido “à realização de diversas actividades de grande envergadura”.

Portas a evitar

Os trabalhos de substituição de duas das seis passadeiras rolantes do posto fronteiriço das Portas do Cerco fizeram com que na quarta-feira o local ficasse com longas filas. Segundo a informação revelada ontem, a circulação desta fronteira vai continuar congestionada durante dois meses e as autoridades apelam aos residentes que evitem as Portas do Cerco. “Se não fizéssemos a substituição dos equipamentos as consequências poderiam ser inimagináveis. Apelamos às pessoas que procurem alternativas e não usem só as Portas do Cerco”, afirmou Wong Sio Chak.

Caras e matrículas

Até ao início do ano que vem, as autoridades esperam ter em funcionamento 100 câmaras de vigilância com capacidade de reconhecimento fácil e de matrículas. A confirmação foi dada ontem pelas autoridades, durante a apresentação do relatório da criminalidade. Estas câmaras permitem identificar e seguir determinadas pessoas com base nas suas características faciais, assim como identificar as matrículas dos carros.

Grande Baía | Macau entre os três destinos favoritos da região

[dropcap]D[/dropcap]e todas as cidades da Grande Baía, Macau está entre os três primeiros lugares no que toca às preferências dos residentes de Hong Kong, de acordo com o inquérito sobre as tendências de emprego e as perspectivas salariais, levado a cabo pela empresa de recrutamento da região vizinha, KMPG. Do total de inquiridos, 53 por cento consideraram procurar oportunidades profissionais em Macau e noutras zonas do projecto de cooperação inter-regional, aponta o jornal Macau Daily Times.

A pesquisa mostrou ainda que além de Macau, Shenzhen e Cantão também estão entre as principais escolhas. Os motivos apresentados foram os salários elevados, melhores perspectivas de carreira e desenvolvimento, maior reconhecimento do trabalho e facilidades de deslocação em viagem.

As quatro indústrias apontadas como mais promissoras dentro da Grande Baía no que toca à criação de mais postos de trabalho são as áreas da inovação e tecnologia, os serviços financeiros e os serviços profissionais de comércio e de logística.

Governo elogia Santa Casa na união dos portugueses

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau elogiou ontem o papel da Santa Casa da Misericórdia na união entre os portugueses residentes no território e na promoção do intercâmbio cultural e da amizade luso-chinesa.

A Santa Casa, que assinala agora os 450 anos da fundação, fez “muito e durante muitos anos o papel de união entre os portugueses residentes em Macau, sobretudo entre os macaenses, promovendo, assim, o intercâmbio cultural e a amizade luso-chinesa”, afirmou o chefe do Executivo interino, Lionel Leong.

O responsável destacou que a instituição, ao “acompanhar o percurso histórico da formação e do desenvolvimento social” da cidade, “deu importantes contributos” para a construção do sistema de assistência social em Macau, de acordo com um comunicado oficial.

Com o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), que assinala a 20 de Dezembro os 20 anos da sua constituição, a instituição de assistência social e de caridade mais antiga de Macau adaptou-se “aos novos tempos” e lançou uma “série de serviços que iam ao encontro das necessidades da sociedade”, lembrou.

Nos últimos 20 anos, a Santa Casa adoptou “uma postura pro-activa na integração na nova conjuntura social, no sentido de alargar e melhorar as suas acções de assistência social, contribuindo, assim, para o desenvolvimento social harmonioso da RAEM”, disse o também secretário para a Economia e Finanças em representação do chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, actualmente em visita oficial a Portugal.

Futuro harmonioso

Ao reiterar que o Governo de Macau vai continuar “a apoiar as actividades de caridade e de assistência social” realizadas pela Santa Casa, Lionel Leong sublinhou esperar que a instituição continue activa “em serviço à população em geral, mas principalmente às pessoas desfavorecidas, dando assim novos e maiores contributos à harmonia social” do território.

“Esperamos igualmente que a Santa Casa da Misericórdia dê continuidade à sua boa tradição de contacto e de união entre os portugueses residentes em Macau, nomeadamente entre os macaenses, contribuindo para o multiculturalismo da sociedade de Macau, numa perspectiva social de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade”, declarou.

Ho Iat Seng garante protecção à comunidade portuguesa

[dropcap]I[/dropcap]ndependentemente do vencedor das eleições para o cargo de Chefe do Executivo, o candidato Ho Iat Seng garantiu que os direitos da comunidade portuguesa vão ser respeitados.

“Valorizámos sempre o papel da comunidade portuguesa, antes e depois da transferência de Macau para a Administração Chinesa […] Isso não vai mudar”, disse o actual presidente da Assembleia Legislativa, citado pelo portal Macau News Agency. “Por outro lado, toda a população tem de ser tratada de forma igual e sem distinções. Pode haver diferenças culturais e no estilo de vida, mas em termos de direitos, todos são protegidos da mesma forma”, acrescentou.

Como presidente da AL, Ho foi um dos responsáveis pelo despedimento de dois juristas portuguesas, Paulo Cardinal e Paulo Taipa. Alguns analistas encararam a decisão como um ataque à comunidade portuguesa, mas Ho acabou por contratar mais dois portugueses para a AL.

Enquanto presidente do hemiciclo, Ho Iat Seng só pode ser candidato a Chefe do Executivo se suspender ou abdicar do mandato. Contudo, ainda não tomou uma decisão em relação a esta questão.

Candidatura adiada

Também o anúncio oficial da candidatura que estava para 20 de Maio foi adiado. Contudo, Ho recusou entrar em pormenores sobre se já reúne o apoio de 66 dos 400 membros que constituem o Colégio Eleitoral e cuja maioria é escolhida a 16 de Junho. “Antes de iniciar o processo de candidatura não posso estar a comentar todo o processo. Quando começar o período de candidaturas vou prestar comentários. Tem de ser passo a passo”, referiu.

Neste sentido, as pessoas vão ter de esperar mais umas semanas até que o único candidato até agora conhecido apresente o seu programa político. Mesmo assim, segundo a Macau News Agency, Ho admitiu que o programa não pode fugir dos problemas que mais afectam a sociedade, como o trânsito, a habitação e a questão dos mais jovens. “São assuntos com que temos de lidar todos os dias e que não podemos evitar. São assuntos que preocupam toda a sociedade”, apontou.

Da identidade dos Macaenses e de outros portugueses do Oriente – Portugueses em Macau

[dropcap]A[/dropcap] historiografia de Macau não é unânime quanto à data do estabelecimento dos portugueses neste minúsculo porto do sul da China. Existe uma variação entre os anos de 1549 e 1557.

Os portugueses que se estabeleceram em Macau, no início e ao longo dos séculos, não foram apenas os nascidos no território europeu de Portugal, mas também portugueses euro-asiáticos, asiáticos convertidos à religião católica, euro-africanos e africanos. Estes, na documentação primária, são denominados “cafres”, frequentemente.

Essa teia de portugueses que se identificam como “portugis” ou “cristang” localizam-se: na Índia: Diu, Damão, Dadrá, Nagar-Aveli, Goa, Korlai, Mangalore, Cananor, Mahé, Cochim, Bombaim, Negappattinam; no Sri Lanka: Batticaloa, Trincomalee e Puttalam; na Indonésia: Bali, Java, [Tugu e Brestagi], perto de Djacarta, Ilha de Flores [Larantuka e Sikka], Ilhas de Ternate e Tidore; na Malásia: Alor Star, Penang, Perak, Kuala Lumpur, Seremban e Johor Baru]; em Singapura; na Tailândia [Bangkok]; no Bangladesh: Chittagong e Daca; em Mianmar [Sirião].

O destino dos macaenses foi diferente do dos portugueses da Indonésia, da Malásia e do Sri Lanka, por terem defendido a sua terra, pela força das armas, contra várias tentativas de invasão e ocupação pelos holandeses, desde 1603, nomeadamente, pela “Retumbante vitória definitiva alcançada por Macau sobre os holandeses comandados por Kornelis Reyerszoom que, com 14 navios e 800 homens, pretendeu tomar a cidade. O inimigo foi completamente desbaratado ante o indómito esforço dos macaenses, capitaneados pelo denodado herói Lopo Sarmento de Carvalho. Colaboração do Pe. Rho S.J. (de passagem em Macau) a partir da Fortaleza do Monte, e protecção do Santo do Dia, S. João Baptista, em 24 de Junho de 1622 (Cfr. Beatriz Basto da Silva : Cronologia da História de Macau).

Os Macaenses

Os descendentes dos portugueses, nascidos em Macau e, posteriormente, na diáspora macaense, são os macaenses.

Macaense é o euro-asiático de ascendência portuguesa nascido em Macau.

O conceito de Macaense contém três elementos:
– Origem étnica mista: europeia e asiática;
– Ascendência portuguesa;
– Macau e a diáspora Macaense como local de nascimento: Hong Kong, Xangai, Tianjin, Bangkok e, mais recentemente, Austrália, Canadá, Brasil, E. U. América e Portugal.

A independência dos territórios ultramarinos de Portugal, a perda da nacionalidade portuguesa comum dos seus naturais (DL 308-A/75, de 25 de Junho) e a emergência de novas nacionalidades em cada um deles, parece tornar obsoleto o elemento “ascendência portuguesa”, no conceito de macaense. A substituição de “ascendência portuguesa” por “ascendência lusófona” é inviável por não preencher relações de parentesco e por excluir boa parte das populações dos países de língua oficial portuguesa que não falam português.

Por outro lado, durante várias décadas, ao longo do séc. XX, os contingentes de tropa africana em Macau, provenientes de Angola, Moçambique e Guiné, deixaram descendência, exclusiva ou principalmente, com mulheres chinesas, de que julgo não existirem registos. De tais descendentes, de homem africano com mulher chinesa, não há notícia de terem beneficiado do estatuto de macaense. Conheci de vista uma mulher, filha de mãe chinesa e pai africano (Landim, de Moçambique), que era “criada de servir”. Desses sino-africanos ou afro-chineses, cujo número se desconhece, não há notícia de nenhum ter recebido o estatuto social de macaense.

(continua)

Perniola e a sensologia de Marcelo

[dropcap]H[/dropcap]á dez anos, mais concretamente entre Setembro e Novembro de 2009, escrevi no Expresso uma série de textos que analisavam a potencialidade dos líderes políticos para poderem aspirar a ser personagens romanescos. Foram sete os textos, devotados, respectivamente, a Santana Lopes, António Costa, Jerónimo de Sousa, Louçã, Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite e Sócrates (ver em rodapé o link*). Marcelo teria, no ano seguinte, um texto que lhe foi dedicado, quando ainda não era claro se se candidataria, ou não, a dirigente máximo do PSD (“Marcelo e a Rodagem do homem invisível”*). Ao contrário dos demais, Marcelo era caracterizado nessa crónica em tons “amenos de baunilha”: “Marcelo é um doce. Um típico doce português, algo conventual. Há anos e anos que respira nas nossas casas. Há anos e anos que sopra a lenta fogueira da nossa labareda política. Há anos e anos que todos lhe auguram o altar maior do poder.”

As duas qualidades viriam a confirmar-se com o tempo: o formato da doçura, embora menos conventual e mais itinerante, e o primeiro lugar no pódio da república. Sendo económico, creio que, hoje em dia, Marcelo é o paladino de um certo Portugal que, por vezes, para o bem ou para o mal, se converte em ‘commedia dell’arte’, libertando-se das aragens garbosas de Soares e do bafo cavaquista de figura de cera. Com uma omnipresença rara, mesmo quando recorre ao silêncio, Marcelo domestica como ninguém o carnaval dos media, aliando-o àquilo que o ensaísta Mario Perniola caracterizou, há década e meia, através do conceito de sensologia, ou seja, cito, a “transformação da ideologia numa nova forma de poder que dá por adquirido o consenso plebiscitário baseado em factores afectivos e sensoriais”.

É óbvio que fazer política no terreno à força de abraços, sorrisos e selfies não teria sido possível na tirania dos mundos de ‘classe contra classe’ (à anos trinta do século XX) ou em limbos governados por títeres ideológicos ou religiosos (infelizmente, muito abundantes no globo). A ‘probabilidade Marcelo’ apenas podia ter acontecido à boleia de um estado de coisas que o ensaísta italiano caracterizou como fundado no “estilo contestativo”. A designação nada tem que ver com as irredutíveis e tradicionais oposições que são próprias da esfera do político. Ela significa antes um conjunto de efeitos de reversibilidade, entre opiniões, decisões e acusações no espaço público, de tal forma que o inimigo de ontem é amigo amanhã e assim sucessivamente, numa lógica acentrada e não de carga dogmática fixa (“o estilo contestativo não é violento, mas apenas pedagógico: ele acredita na infinita maleabilidade do homem.”).

Esta curiosa noção de ‘contestação maleável’ articula o utopismo com o irenismo, o mesmo é dizer que conjuga duas formas de imaginar: por um lado, dá ênfase transitória a situações e a horizontes que se desejariam ideais; por outro lado, dá primazia à descoberta de uma racionalidade capaz de encontrar laços comuns entre apologias diferentes. É por esta razão que a “contestação”, na acepção de Perniola, tem tendência a estender-se “a todos aqueles espaços que lhe estariam tradicionalmente vedados: não só às relações económicas e às de trabalho; mas sobretudo às privadas e às científicas” que se tornarão, portanto, “objecto de crítica radical” (contestar significa essencialmente “abrir um debate público sem fim”, domesticando as rupturas e redescobrindo novos caminhos possíveis). Só neste tipo de encruzilhadas, que configuram o habitat aberto do político e não o da sua anulação (o que ocorre em casos da guerra ou de terrorismo), é que a sensologia poderia dar-se ares tão pró-activos de governação. Marcelo interpreta-a quase na perfeição e, por isso mesmo, navega amiúde, nem sempre, ao sabor da mornidão do seu tempo.

Escrevi “mornidão” na medida em que a sensologia e o chamado “estilo contestativo” favorecem um outro fenómeno do nosso tempo: a “correctness”. Como se sabe, a correcção visa virtualmente a inclusão, mas, ao fazê-lo, tem-se transformado (demasiadas vezes) numa prática hipócrita de dissimulação. Fingir que não existem problemas e dar à linguagem esse tom, quando toda a gente vê que o rei vai literalmente nu, eis no que tem resultado, em muitos casos, a retórica da “correctness”. A sensologia adapta-se a este tipo de prestidigitações, vive delas, recria-se a partir delas. Poderá até afirmar-se que a noção de crise, na sua escala doméstica de disrupção ao mesmo tempo retórica e de prática reversível (como acontece com certas gabardinas) é um dos rostos da sensologia de Perniola. Daí que o convívio entre o que se diz e desdiz (os famosos recuos de opinião à ‘Rio/Cristas’) sejam capacidades nativas destas atmosferas em que perigosamente vivemos, ora agrestes, ora tão férteis em selfies e abraços de terna compaixão.


*Carmelo, Luís. Personagem Romanesco em Expresso. Last Updated: September 28 – November 15, 2009. Disponível aqui [Consul. 27 Abr. 2019].
*Carmelo, Luís. Marcelo e a Rodagem do homem invisível em Expresso. Release Date: March 8, 2010. [Consul. 27 Abr. 2019]< *Perniola, Mario . Contra a comunicação, Teorema, Lisboa, (2004) 2005, pp12 e 52-54.

O ladrão de livros

(10/05/19)

 

[dropcap]E[/dropcap]u só conhecia o sofrimento, o mal revelou-se-me atrás de uma cortina africana. Já o vislumbrara noutras ocasiões, simplesmente não o soube reconhecer. E preciso sermos iniciados para topar no desenho dos indícios um padrão. Pode ser-nos interior, morde como o êxodo de que nos julgáramos apeados. Depende de nós ele tornar-se ou não nativo no território que nos religa aos meandros da alma.

Diz Le Clezio em O Êxtase Material: “a grande beleza religiosa, foi ter acordado para cada um de nós uma alma.” Sim, embora nos advirta François Cheng de que a alma possa ser movida pela perversão, por uma pulsão destrutiva. Todavia, Pierre Emmanuelle dá-nos o antidoto num poema: ” Toi, premier sauvé de Babel, non par vertu singuliere/ mais simplement parce que tu aimes”.

Por vulgar que isto pareça, reconheço que só o amor e o humor cauterizam os dois bordos da ferida. O mal existe, quer implantar os seus grampos na ferida mas é como a clara e a gema: pode ser isolado. Não rebentar a gema é quanto basta para não cedermos ao cinismo.

(12/05/19)

Volto a ler Bloom, O Cânone Ocidental. Um livro a alguns títulos estupendo, que não ganhou uma ruga. Mas parece-me irritantemente exagerada esta afirmação:

“(…) para centenas de milhões de pessoas que não são europeus brancos Shakespeare é um significante para o próprio pathos delas, para o seu próprio sentido de identidade com as personagens que Shakespeare faz cintilar através da sua linguagem. Para essas pessoas, a Universalidade de Shakespeare não é histórica mas fundamental, pois ele põe em palco as vidas de todas elas.”

A afirmação de Bloom é uma expressão do desejo, enganosa. E recorda-me a história de um aluno, numa aula em que eu apresentava Shakespeare. Falei-lhes dos filmes, prometi mostrar-lhes a versão pop do Romeu e Julieta, de Baz Luhrmann, com o DiCaprio; frisei, por fim, que o nome de Shakespeare é o que tem maior número de referências e entradas no Google depois de Deus.

Aqui um aluno levanta a mão para colocar em dúvida a minha estatística. E argumenta: não acredito, em Nampula eu nunca ouvi falar de Shakespeare!

A discussão foi alucinante pois, resumindo, aquilo de que não se ouviu falar em Nampula não pode concretizar-se em Marte. Àquele rapaz faltava a imaginação do bardo, ou as suas toneladas de curiosidade, pois uma coisa está ligada à outra.

Num livro de Vila Matas há um personagem que esteve na Suazilândia e garante: aí nem se produzem nem se vendem livros. Fiquei surpreendido quando li, agora confirmo: também nunca encontrei um livro na Suazilândia, onde o Shakespeare não será igualmente conhecido.

O moço tinha razão numa coisa: pelo menos um terço do planeta nunca terá ouvido falar de Shakespeare e não sofre de ansiedade por causa disso. Lá se vai o pathos para “o caraças”.

O que não me impede de partilhar a opinião de Bloom, Shakespeare é o referente humano incontornável e devia ser leitura obrigatória nas escolas de todo o mundo, pelo menos uma dúzia das suas peças. Quem não soubesse discretear sobre Shakespeare não obteria a licenciatura. Não creio que um país – qualquer – possa desenvolver-se sem celebrar Shakespeare porque, como Bloom advoga, ele inventou metade dos “tiques, manias e afeções” que motivam o humano – até o ciúme. É o meu fanatismo (e o dele)!

Quando era jovem e muito mais pobre do que hoje roubei livros, em livrarias e inclusive em bibliotecas. Uma vez no Seixal a rapariga da biblioteca pediu-me para ficar no lugar dela durante duas horas, pois queria namorar. Anuí logo e os bolsos do meu sobretudo também. Consegui aí a obra completa do Herberto. Do Shakespeare gamei quatro peças. Ela ficou feliz e eu idem. Quem roubasse livros de Shakespeare devia ser eternamente perdoado – primeira regra universal.

Aqueles anjos dos céus de Wim Wenders não se chutavam com “cavalo” mas com Shakespeare.
Ainda assim e, infelizmente, o Bloom não sabe o que diz naquele paragrafo e vê-se que pouco saiu de Nova Iorque.

(14/05/19)

Pepe Guardiola teve a elegância de agradecer ao Liverpool pelo triunfo mais difícil da sua carreira. Foi uma homenagem justíssima – a qualidade chama a qualidade.

A nova geração de escritores moçambicanos está a obrigar a velha guarda a trabalhos suplementares no espaldar para se manter na crista da onda. E, ao contrário de muitos, estão autónomos: criou as suas próprias editoras, os seus circuitos de reconhecimento internacional – não sendo por acaso que alguns dos seus representantes foram finalistas da última edição do Premio Oceanos, criou o seu Festival Literário, o Resiliência, que cumpriu na semana passada a sua terceira edição, com alguns convidados de relevo de Portugal, Brasil, Angola e Guiné. Tudo isto sem a tutela do estado, rompendo com vícios anteriores.

Virão agora “os profetas da anterioridade“ dizer que nada se passou, que os “miúdos” (recurso “desclassificatório”) estão por crescer. O que dói é que os miúdos criaram o seu próprio galinheiro e alguns, mutantes, apresentam quatro patas.

O escândalo da modernidade, para as sociedades tradicionais, também radica no ensinar-nos que, às vezes, são os mais velhos quem têm de estar à altura dos mais novos.
Leio na Erosão, da Gisela Casimiro, que veio ao Resiliência representar a Guiné: “Ele escreveu na areia/ o primeiro poema -/ multiplicado/ até aos nossos dias/ para a alimentação/ dos sensíveis.// Um destino impossível/ de ser sacudido.” Pois, conversas, foi a minha casa comer a açorda de camarão e depois aliou-se à minha mulher e filhas, num motim, a quererem reconduzir “o sensível” às dietas. Crueldades do feminino, já não há casas como antigamente, onde um homem tenha o exclusivo da moela e se jubile com peras ao vinho tinto. Admoestei-a logo: Ah, é assim? Agora só voltas para o ano! E em casa comecei a almoçar e a jantar de escafandro!