Lubuds Group quer criar uma “Pequena Lisboa” no coração de Macau

Um grupo empresarial de Honk Kong avançou ontem à Lusa que quer criar uma “Pequena Lisboa” no coração de Macau, com restaurantes lojas, mercados ao ar livre e festivais, com direito a viagens de eléctrico.

Entre as Ruínas de São Paulo e a Igreja de São Lázaro, o grupo já conta com projectos como os restaurantes Albergue 1601 e Portucau, a taberna 3 Sardines, a “nano-cervejaria” Lazaro Brewing e uma loja de recordações. No início de Maio, a Travessa da Paixão vai passar a acolher o Lata e Porto, focado em enlatados de peixe e no vinho do Porto.

A “Pequena Lisboa”, que vai ser apresentada à Direcção dos Serviços de Turismo e às seis operadoras de casinos, deverá integrar um mínimo de 18 conceitos relacionados também com os países de língua portuguesa e gastronomia macaense numa distância de cinco minutos a pé.

O projecto, que já contempla experiências como oficinas de pintura de azulejos, prevê a extensão da calçada portuguesa nas zonas circundantes ao Consulado-Geral de Portugal em Macau, duas pequenas rotas de eléctrico, o fecho ao trânsito de algumas ruas cuja marca é o legado arquitectónico português, bem como a criação de esplanadas, para além do aluguer de trajes tradicionais portugueses complementado com um serviço prestado por um fotógrafo profissional.

Uma das linhas do eléctrico pretende garantir a viagem entre as imediações do consulado e a Igreja de São Lázaro. A outra poderia assegurar uma viagem entre uma das ruas que serve o consulado e a Fortaleza do Monte.

Das ruas à praça

O grupo propõe-se igualmente a criar todos os fins-de-semana “um calendário estimulante de eventos culturais, festivais de rua, festivais gastronómicos, concertos e mercados ao ar livre associados aos países de língua portuguesa”.

Os eventos mais pequenos teriam lugar nas ruas do Bairro de São Lázaro, enquanto os eventos maiores, como concertos e exposições, podem estender-se à Praça do Tap Seac e ao Pavilhão Multidesportos, muito porque a praça é um dos maiores espaços urbanos ao ar livre da cidade, com vista para alguns dos edifícios mais icónicos da arquitectura portuguesa em Macau.

O Lubuds Macau, subsidiário do Lubuds Group com uma forte presença em Hong Kong, conta com mais de mil colaboradores. O investimento em Macau, que não foi divulgado pelo grupo empresarial, vai traduzir-se também na exploração do restaurante na Casa das Recepções das Casas-Museu da Taipa, cuja concessão foi decidida este mês pelo Instituto Cultural de Macau. Este restaurante vai avançar com uma parceria com a Associação dos Macaenses, indicou o grupo.

26 Abr 2023

Portugal | Lula diz que protesto do Chega foi “cena de ridículo” e “papelão”

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, desvalorizou ontem o protesto do Chega durante o seu discurso no parlamento, considerando que as “pessoas quando não têm uma coisa boa para aparecer” fazem “essa cena de ridículo”, um “papelão”.

“Quem faz política está habituado a isso. Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa e deitarem a cabeça no travesseiro vão falar: que papelão nós fizemos”, disse Lula da Silva aos jornalistas, à saída da sala das sessões da Assembleia da República.

O chefe de Estado brasileiro disse que não viu um incidente, mas apenas “10 pessoas ou meia dúzia de pessoas protestarem, o que é a coisa mais natural na democracia”.

“Eu às vezes lamento porque as pessoas quando não têm uma coisa boa para fazer, para aparecer, as pessoas fazem essa cena de ridículo. Eu sinceramente não sei como é que estas pessoas vão chegar em casa, olhar nos seus filhos, nos seus pais e falar que estiveram na assembleia a participar num evento praticamente de homenagem à revolução dos cravos, porque foi para isso que eu vim aqui a convite do Presidente Rebelo”, afirmou.

Depois da sessão de cumprimentos, Lula da Silva considerou que a forma como a delegação brasileira foi recebida em Portugal “é uma coisa extraordinária”. “Eu só tenho que agradecer ao presidente da Assembleia [da República], ao Presidente Marcelo e ao primeiro-ministro António Costa pelo carinho e tratamento”, afirmou.

Insultos e vergonha

O presidente da Assembleia da República avisou ontem que “chega de insultos e de porem vergonha no nome de Portugal”, depois dos deputados do partido liderado por André Ventura terem levantado cartazes durante o discurso do chefe de Estado brasileiro.

Mal Lula da Silva iniciou a sua intervenção na sessão solene de boas vindas, os deputados do Chega levantaram-se e empunharam três tipos de cartazes, onde se liam “Chega de corrupção”, “Lugar de ladrão é na prisão” e outros com as cores das bandeiras ucranianas.

O Presidente do Brasil continuou o seu discurso durante mais alguns minutos, mas mal houve uma pausa, as bancadas à esquerda e do PSD aplaudiram entusiasticamente, enquanto os deputados do Chega batiam na mesa, em jeito de pateada, o que levou Augusto Santos Silva a intervir.

“Os deputados que querem permanecer na sala têm de se comportar com urbanidade, cortesia e a educação exigida a qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”, afirmou Santos Silva, visivelmente irritado.

26 Abr 2023

Planeada revisão eleitoral para órgãos de gestão distritais em Hong Kong

Hong Kong está a planear reformar o último grande órgão de representação política, maioritariamente composto por representantes eleitos pelo povo, disse ontem o líder da região. O Chefe do Executivo, John Lee, disse, em conferência de imprensa, que o Governo não vai permitir que os 18 órgãos administrativos distritais, actualmente existentes, se tornem uma plataforma para defender a independência de Hong Kong ou intervir na administração do território.

“Haverá múltiplas formas de entrada e certos elementos da eleição serão reservados”, disse Lee. “Isto permitirá que os patriotas com a ambição de servir nas suas áreas participem através de múltiplos canais”, acrescentou, sem pormenorizar. De acordo com as actuais regras eleitorais, a maioria dos assentos do conselho é eleita diretamente pelos eleitores. Lee afirmou que uma revisão em curso ajudará a despolitizar aqueles órgãos municipais.

Mudam-se os tempos

A corrida para os lugares de representante distrital da cidade não é normalmente alvo de grande atenção internacional, uma vez que os conselheiros se ocupam principalmente de assuntos municipais.

Mas a eleição assumiu uma importância simbólica depois de o campo pró-democracia da cidade ter obtido uma vitória esmagadora nas últimas eleições, no auge dos protestos antigovernamentais em 2019. Em 2021, Hong Kong alterou as leis eleitorais, com uma redução da capacidade de voto do público e um aumento do número de legisladores pró-Pequim que tomam decisões para a cidade.

Muitos conselheiros distritais, eleitos há quatro anos, demitiram-se em 2021 depois de as autoridades terem introduzido a exigência de prestarem um juramento de fidelidade à cidade. As demissões em bloco seguiram-se a notícias na imprensa local de acordo com as quais os representantes eleitos podiam ter de reembolsar os salários, caso fossem posteriormente desqualificados do cargo. Esta possibilidade não foi confirmada, nem desmentida pelo Governo de Lee.

26 Abr 2023

Futuro | Uso da Inteligência Artificial cresce exponencialmente

Em 2022, o Conteúdo Gerado por Inteligência Artificial (CGIA) tomou a Internet de assalto, desde modelos de Inteligência Artificial (IA) como DALL-E 2 e Stable Diffusion, que explodiram na arte, até modelos de conversação como o ChatGPT, que exibem um desempenho de nível humano. As pessoas perguntam: vai a IA substituir os criadores? Porque é que a utilização do CGIA cresceu tão subitamente? Significará que a IA está a entrar numa nova era e onde nos irá conduzir? Qual será o impacto do CGIA na economia e na sociedade, e como é que as diferentes entidades o devem percepcionar?

O Tencent Research Institute realizou um fórum intitulado “CGIA: Tendências e Perspectivas da IA na Nova Era”, discutindo o desenvolvimento actual e as práticas da indústria da tecnologia AIGC e as oportunidades e desafios futuros. Participaram Xin YAO, Professor Catedrático da Universidade do Sul de Ciência e Tecnologia, Weiwen DUAN, Director do Departamento de Filosofia da Ciência e Tecnologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yuntao WANG, engenheiro-chefe adjunto da Academia Chinesa de Tecnologias da Informação e Comunicação, Baoyuan WU, Professor Associado da Universidade Chinesa de Hong Kong, Jun YIN, Director do Centro de Tecnologia de Conteúdo Digital da Tencent Games e Shuming SHI, Chefe do Centro de Processamento de Linguagem Natural da Tencent, tendo como moderador Jian YANG, vice-presidente da Tencent.

 

Jian Yang: Como vê a explosão do CGIA (Conteúdo Gerado por Inteligência Artificial) na segunda metade de 2022? O CGIA representa a próxima era da tecnologia da IA?

Xin Yao: A explosão do CGIA é um sucesso abrangente. Embora a IA tenha uma longa história na geração de conteúdos, ainda não avançou tanto quanto hoje devido a dados, poder computacional e limitações da tecnologia de algoritmos. Um factor importante que contribui para o grande interesse no CGIA é o facto de ter excedido as expectativas das pessoas, tornando-o particularmente interessante. Contudo, temos ainda de considerar os avanços tecnológicos que o CGIA tem feito. Em primeiro lugar, alcançar resultados que excedam as expectativas das pessoas em relação ao avanço tecnológico é relativamente fácil. Por exemplo, em áreas como imagens, diálogos, e mesmo música, pode gerar peças que possuem um certo estilo de compositor mas que não são inteiramente idênticas. No entanto, muitos acreditam que a AIGC pode ser um caminho eficaz para a IGA (inteligência geral artificial), o que requer uma consideração cuidadosa. Isto porque o CGIA gera conteúdo através de uma grande quantidade de dados e poder computacional, em comparação com o processo conceptual a que o ser humano se submete ao criar conteúdo. Por exemplo, quando olho para muitas imagens, o meu cérebro passa por um processo abstracto e depois regressa ao espaço da imagem para criar uma nova imagem. Não tenho a certeza se o CGIA tem actualmente tais funções abstractas incorporadas. Se uma máquina tiver visto um milhão de fotos de cães e gatos, não irá gerar conceitos como quatro pernas, pêlo, etc. Em segundo lugar, à medida que o CGIA se desenvolve e envolve campos científicos e tecnológicos ou aplicações verdadeiramente relacionadas com o bem-estar nacional, pode haver desafios adicionais, pois é difícil assegurar que o conteúdo gerado pelo CGIA cumpre certos constrangimentos. Deixem-me usar uma analogia. Podemos agora enviar muitas moléculas para um sistema de IA, o que pode gerar novas moléculas para si. Embora o desenvolvimento de drogas a partir destas moléculas seja concebível, pode haver uma lacuna entre o conceito teórico e a aplicação prática. Até que ponto estamos a alcançar a chamada IGA? Estas são questões que requerem contemplação e exploração.

Jun Yin: As minhas opiniões são consistentes com as do Professor Yao. Seja a partir da abordagem ampla da utilização da IA para gerar conteúdo ou da perspectiva estreita do desenvolvimento de modelos linguísticos profundos e grandes, resulta da experiência e investigação acumuladas. A erupção do CGIA hoje em dia deve-se a múltiplos factores, incluindo a recolha de uma grande quantidade de conjuntos de dados abertos de alta qualidade, avanços teóricos como o modelo de difusão, e novo hardware informático como o GBT3 com modelos maiores e mais eficazes. No passado, pode não ter havido dispositivos informáticos tão poderosos para apoiar modelos de formação a esta escala e, mesmo agora, o custo de formação de tais modelos é ainda muito elevado. A combinação destes factores tornou a geração de imagens ou texto muito mais viável do que antes. Penso que isto explica porque é que o CGIA explodiu em popularidade nesse ano. Em comparação com as primeiras redes neurais profundas, o desenvolvimento do CGIA ainda não passou por uma mudança de paradigma fundamental. Portanto, não podemos concluir que o ChatGPT tenha alcançado inteligência geral artificial (IGA) simplesmente porque tem um bom desempenho na geração de conversas e parece inteligente. O ChatGPT não compreende verdadeiramente o que diz e apenas cria a impressão de que compreende o conteúdo gerado, que ainda está longe da inteligência humana. A próxima era da IA precisa de se concentrar em várias direcções essenciais. Por um lado, deve ser capaz de aprender de forma autónoma. Tal como os humanos, alguma da sua lógica de raciocínio deve ser explicável ou compreensível, e ser capaz de executar tarefas através de domínios. Por outro lado, da perspectiva da implementação industrial, como a utilização de métodos de IA para ajudar na geração de conteúdos de jogos, ainda está longe das normas profissionais da indústria de jogos, seja na geração de imagens, texto, modelos 3D, ou animações de personagens, ou na utilização do ChatGPT para criar scripts de jogos ou diálogos NPC (Non-Player Character).

Jian Yang: Em resumo, a AIGC pode estar à beira de uma mudança quantitativa a qualitativa, e é difícil dizer se realmente sofreu uma mudança qualitativa. Continua a basear-se no paradigma do passado, progredindo apenas devido aos avanços noutras condições tecnológicas. Por conseguinte, resta saber se a AIGC está verdadeiramente em conformidade com os princípios inerentes à inteligência humana ou AGI geral no futuro. Qual é o estado actual e a prática industrial do AIGC? Quais são algumas aplicações e direcções representativas?

Yuntao Wang: Relativamente à prática industrial actual do AIGC, a tecnologia pode ser classificada em texto, áudio, imagem e vídeo, e espaço virtual com base nos modos de processamento.
(1) Texto. Inclui principalmente a criação ou a edição de conteúdos de texto, como a criação de artigos, a conversão de estilos de texto e o diálogo de perguntas e respostas. As aplicações típicas incluem robots de escrita, chatbots, etc.
(2) Áudio. Inclui a conversão de texto em fala (TTS), a conversão da fala e a edição da fala, bem como conteúdos não orais, como a criação de música e a edição de som de cenas, com aplicações típicas que incluem dobragem inteligente, actuações virtuais, composição musical automática e criação de canções.
(3) Imagem e vídeo. Inclui a geração ou edição de conteúdos de imagem e vídeo, como a geração facial, a substituição facial, a edição de atributos de caracteres, a manipulação facial e a manipulação da postura. Tecnologias como a geração, o melhoramento e o restauro de imagens são também relevantes. As aplicações representativas incluem filtros de beleza, troca de rostos, repetições de imagens, modificação de estilos e pintura com IA.
(4) Espaço virtual. Inclui principalmente a geração ou edição de personagens digitais e cenas virtuais, como a reconstrução 3D e a simulação digital. As aplicações típicas incluem metaversos, gémeos digitais, motores de jogos, modelação 3D e RV (realidade virtual).
Em termos de aplicações do CGIA, há vantagens significativas no fornecimento de conteúdos mais diversificados, dinâmicos e interactivos. O CGIA alcançou melhorias inovadoras significativas em sectores com um elevado nível de cultura digital e exigências de conteúdos diversificados, tais como os meios de comunicação social, o comércio electrónico, o cinema e a televisão, e o entretenimento. O CGIA +media promove a convergência dos media através da colaboração homem-máquina. O tempo que um robot demora a gerar um relatório aprofundado foi reduzido dos 30 segundos iniciais para menos de dois segundos. Além disso, o CGIA +e-commerce centra-se no desenvolvimento de modelos 3D de produtos para melhorar a experiência de compra em linha através de exposições e ensaios virtuais de produtos. O CGIA também é utilizado para criar âncoras virtuais para aumentar as vendas de transmissões em directo. O CGIA +filme e televisão expande o espaço criativo do cinema e da televisão para melhorar a qualidade das produções. Actualmente, os produtos já estão a fornecer novas ideias para a criação de guiões, tais como serviços de escrita inteligente para a selecção de guiões, incluindo o filme “Hi, Mom” e “The Wandering Earth”. O CGIA também fornece serviços de processamento de imagem baseados em IA para edição e pós-produção de filmes e televisão, incluindo o filme “Amazing China” e a remasterização do filme “Street Angel”, lançado em 1937. CGIA +entertainment gera imagens divertidas e conteúdo audiovisual. Existem também alguns exemplos de desenvolvimento de aplicações centradas no consumidor para explorar o metaverso. No entanto, embora o CGIA tenha algumas aplicações práticas nos sectores médico e industrial, ainda se encontra na fase exploratória de uma integração mais profunda da indústria e da implementação da lógica empresarial.

Shuming Shi: O CGIA registou avanços significativos em termos de progresso tecnológico global. Há cinco anos, apenas a geração de TTS era considerada utilizável no domínio do CGIA. Há três anos, era inimaginável que a IA pudesse gerar imagens relevantes e de alta qualidade de acordo com o texto. Anteriormente, a maior parte da geração de texto baseava-se em modelos específicos, que tinham um âmbito de aplicabilidade limitado. Com o aparecimento de modelos linguísticos de grande dimensão e a melhoria contínua dos modelos linguísticos, o CGIA tornou-se cada vez mais impressionante. Tanto o Stable Diffusion como o ChatGPT surpreendem as pessoas com a sua robusta compreensão de texto e geração de conteúdos.

É claro que a China ainda precisa de fazer mais esforços para fazer avançar o CGIA. A grande maioria do trabalho está a ser feito por algumas instituições de investigação nos Estados Unidos, que lideraram todo o domínio da tecnologia de IA. Por conseguinte, temos também de nos esforçar por contribuir mais para o desenvolvimento da IA.
Quanto às aplicações comerciais, uma direcção proeminente é a assistência aos seres humanos, como a criação assistida por IA, com o CGIA a desempenhar um papel auxiliar. Pode não ser significativo para o CGIA gerar muitas imagens de forma independente, mas quando as pessoas precisam dele, o CGIA pode produzir imagens requintadas com base nalgumas instruções, que são uma combinação de sugestões. Depois, através de testes repetidos e da interacção com eles, o AIGC pode ajudar a maioria das pessoas que não são boas a desenhar a criar. O mesmo se aplica à criação de texto. Com a ajuda do AIGC, a eficiência na continuação e reescrita do texto será maior e pode também inspirar o nosso pensamento. Portanto, objectivamente, o CGIA melhora a nossa produtividade e a eficiência do trabalho. Quanto às aplicações comerciais, a mais directa é a criação assistida por IA, e outros aspectos ainda precisam de ser mais explorados. É claro que algumas pessoas perguntam se o ChatGPT pode substituir os motores de busca, mas, de momento, parece pouco provável. Pode apenas completar uma parte das funções dos motores de pesquisa, mas não os pode substituir totalmente.
Em resumo, o progresso tecnológico é muito rápido e ultrapassa as expectativas; em segundo lugar, há muito espaço para a imaginação na comercialização, mas ainda não explorámos o aspecto mais crítico.

Jian Yang: Porque é que o CGIA é tão importante? Que tipo de valor e significado tem? Em que domínios pode trazer mudanças? Para além do aspecto material, que tipo de impacto pode ter a nível espiritual e de valores?

Weiwen Duan: Vou falar principalmente de quatro aspectos: Em primeiro lugar, o CGIA proporciona uma nova forma de criação de conteúdos, mas deve ser também uma nova forma de percepção cognitiva. Agora, quando o AIGC gera conteúdos, as ideias individuais tornam-se mais importantes.
Em segundo lugar, o AIGC é uma nova ferramenta de aprendizagem e investigação, porque capacita os indivíduos com capacidades criativas de nível superior. Por exemplo, recentemente, tem havido controvérsia sobre se muitas teses de licenciatura já podem ser escritas utilizando o CGIA e as pessoas pensam que é batota. Se examinarmos cuidadosamente a maior parte das teses de licenciatura actuais, já copiam e colam [de outro sítio], mas fazem-no habilmente. No entanto, a utilização do CGIA pode facilitar a conclusão da pesquisa e do processamento da literatura e melhorar a eficiência da aprendizagem. No trabalho de investigação, o CGIA pode tornar-se uma ferramenta rotineira e benéfica no processo de colaboração da cognição homem-máquina.
Em terceiro lugar, pode envolver o metaverso, que é a criação de um mundo virtual. A arte da IA combina todas as possibilidades, à semelhança da teoria dos mundos possíveis de Saul Kripke. No passado, o cérebro do indivíduo tinha um acesso limitado a estes recursos de dados potenciais. Mas o CGIA pode combinar totalmente estes recursos de acordo com a sua imaginação e tornar-se uma máquina para criar mundos possíveis. Por conseguinte, o potencial do metaverso expandiu-se significativamente e podemos combinar toda a riqueza espiritual, ideias criativas e património cultural da humanidade para criar. (De acordo com o filósofo americano Saul Kripke, os factos modais são interpretados como factos sobre mundos possíveis, em que o mundo real é apenas aquele em que o maior número possível de aspectos do mundo são semelhantes aos nossos).
Em quarto lugar, tem havido algumas aplicações interessantes do AIGC, uma das quais é a prevenção do autismo. Muitas pessoas têm ansiedade social, pelo que podem criar uma pessoa digital com quem conversar. Uma artista utilizou o seu diário de infância para treinar a IA e acabou por ter uma conversa com o seu “eu” mais novo. Isto permitiu-lhe compreender o que a preocupava durante a adolescência e obter um efeito terapêutico. Por conseguinte, o CGIA também pode contribuir para a autoconsciência e a auto-cura espirituais e até tornar-se o nosso bom companheiro, que nos permite ajudar-nos a nós próprios e assumir uma nova vida através da IA para ganhar maior força espiritual.

Hoje Macau / Pekingology

26 Abr 2023

Novo governador do Banco do Japão mantém flexibilização monetária

O novo governador do Banco do Japão (BoJ) disse hoje que a instituição manterá a sua ampla estratégia de flexibilização monetária, que inclui taxas ultra baixas, porque a inflação ainda não é suficientemente forte para considerar a retirada destas medidas.

“Neste momento, a tendência da inflação está abaixo dos 2%, pelo que devemos continuar a flexibilização monetária”, disse o novo governador do BoJ, Kazuo Ueda, hoje durante um discurso no parlamento japonês.

Ueda tomou posse no início deste mês, e entre quinta-feira e sexta-feira presidirá à primeira reunião do conselho de política monetária do BoJ sob o seu mandato, que decidirá se o banco central prosseguirá ou não com a sua estratégia de estímulo pouco ortodoxo de uma década.

O novo governador disse que, quando a inflação na terceira maior economia do mundo exceder os 2%, o BoJ “terá de normalizar a sua política de estímulos”.

Embora o índice de preços no consumidor (IPC) tenha atingido 3,1% em março passado, o BoJ espera que este indicador atinja um pico nos próximos meses e abrande para menos de 2%, o objetivo fixado pelo banco central japonês, no ano fiscal em curso, de acordo com Ueda.

Para que o BoJ repense a sua estratégia atual, “as previsões da tendência da inflação para os próximos seis meses, um ano ou um ano e meio deverão ser bastante fortes e próximas de 2%”, sublinhou Ueda.

Questionado se o BoJ está a considerar alterar o seu plano para controlar a curva de rendimento das obrigações do Estado, Ueda disse que isto dependeria da evolução da economia, da inflação e de outros fatores.

O banco central japonês mantém as suas taxas de juro de referência negativas e o objetivo para os juros das obrigações a 10 anos em torno de 0%, embora no final do ano passado tenha decidido permitir mais espaço para a curva dos juros destes ativos, que foi interpretado pelos mercados como um indicador de futuras subidas de taxas.

Contudo, tanto o governador cessante, Haruhiko Kuroda, como Ueda insistiram na necessidade de manter as atuais medidas de flexibilização, dada a situação da economia japonesa, e apesar da aceleração da inflação nos últimos meses devido principalmente à subida global dos preços da energia e das matérias-primas.

Ueda admitiu no seu discurso parlamentar de hoje que o BoJ “já fez muitas estimativas sobre como uma normalização (da sua política monetária) poderia afetar as suas finanças e os mercados”, embora tenha evitado dar pormenores.

24 Abr 2023

Guatemala | China aconselha país a desenvolver relações com Pequim

A China aconselhou ontem a Guatemala a “desenvolver relações” com Pequim, defendendo que seria do “interesse fundamental” do país da América Central, no dia em que o Presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei, chegou a Taiwan, para uma visita oficial.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, disse, em conferência de imprensa, que reconhecer o princípio ‘Uma só China’ responde às “aspirações do povo da Guatemala”, um dos 13 países com os quais Taipé mantém relações diplomáticas oficiais.

“A China é a segunda fonte das importações e o quinto destino das exportações da Guatemala”, disse a porta-voz, acrescentando que aderir ao princípio ‘Uma só China’ é a “tendência dos tempos actuais” e uma “causa justa a nível internacional”.

Mao alertou que as autoridades em Taipé estão a “enganar-se a si próprias e aos outros” com “actividades separatistas” que “não vão ser capazes de deter a tendência histórica da inevitável reunificação da China”.
Giammattei, que foi recebido ontem em Taipé pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, vai reunir durante a sua viagem com a líder taiwanesa, Tsai Ing-wen, que lhe oferecerá um banquete de Estado e a Ordem de Jade Brilhante com Grande Cordão, a mais alta condecoração concedida por Taiwan, e que só pode ser usada por chefes de Estado.

A visita de Giammattei à ilha ocorre apenas algumas semanas depois de Tsai ter visitado a Guatemala, durante um périplo que também incluiu Belize e duas paragens nos Estados Unidos, o que gerou uma reacção por parte da China.

24 Abr 2023

Espaço | Aplicação de 3D em estudo para construir na Lua

A China planeia usar o seu programa de exploração espacial para testar a viabilidade do uso de tecnologia de impressão 3D na construção de edifícios na superfície da Lua, informou ontem a imprensa local.

A sonda Chang’e-8, cuja data de lançamento ainda não foi anunciada, vai ter como missão investigar o ambiente e a composição mineral da Lua, bem como verificar se a impressão 3D pode ser utilizada nestas superfícies, disse o cientista Wu Weiren, da Administração Espacial da China, citado pelo jornal oficial em língua inglesa China Daily.

“Se quisermos estar presentes na Lua a longo prazo, temos que instalar estações com o uso de materiais lunares”, disse o especialista.

Várias universidades chinesas, como a Tongji e a Jiatong, começaram a estudar possíveis aplicações da tecnologia de impressão 3D no satélite natural da Terra. A Chang’e-8 vai ser a terceira sonda a pousar na Luna, na próxima fase do programa de exploração lunar da China. A Chang’e-6 e a Chang’e-7 devem ser lançadas primeiro.

O programa Chang’e (em homenagem a uma deusa que, segundo uma lenda chinesa, vive na Lua) começou com o lançamento de uma primeira sonda em 2007. O país asiático investiu milhares de milhões de dólares no seu programa espacial nas últimas décadas.

A China enviou o seu primeiro astronauta para o espaço em 2003. No início de 2019, aterrou uma nave espacial no outro lado da Lua, uma estreia mundial. Em 2020, trouxe de volta amostras da Lua e finalizou o Beidou, o seu sistema de navegação por satélite, um concorrente do GPS norte-americano. Em 2021, a China aterrou um pequeno robô em Marte e planeia enviar humanos para a Lua até 2030.

24 Abr 2023

Diplomacia | China diz que respeita soberania de todos os países

Pequim veio a terreiro clarificar a sua posição sobre a integridade territorial das nações que fizeram parte da antiga União Soviética

 

A China assegurou ontem que “respeita a soberania e a integridade territorial de todos os países”, após o seu embaixador em França ter questionado se os ex-Estados soviéticos têm “estatuto efectivo” perante o Direito internacional.

“A posição da China é consistente e clara: a China respeita a soberania e a integridade territorial de todos os países e adere aos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático Mao Ning, em conferência de imprensa regular.

“A União Soviética era um estado federal e, como tal, estava sujeita ao Direito Internacional como um todo. Isso não nega o facto de, após a sua dissolução, cada membro ter adquirido o seu estatuto de Estado soberano”, acrescentou. Os comentários do embaixador chinês em Paris, Lu Shaye, geraram polémica nas redes sociais.

Através da rede social Twitter, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, descreveu os comentários como “inaceitáveis” e indicou que a “UE só pode assumir que as declarações não representam a política oficial da China”.

Numa entrevista ao canal de televisão LCI, Lu Shaye considerou, na sexta-feira passada, que as antigas repúblicas soviéticas, incluindo não apenas a Ucrânia, mas também, por exemplo, os países Bálticos, não são verdadeiramente independentes, ignorando as fronteiras internacionalmente reconhecidas da Europa Central e do Leste. A própria China reconhece oficialmente estes países como Estados soberanos desde 1991.

“Estes países ex-União Soviética não têm um verdadeiro estatuto no Direito Internacional porque não há nenhum acordo internacional a materializar o seu estatuto de soberania”, afirmou Lu.

Embaixadores convocados

Entretanto, os governos da Lituânia, Letónia e Estónia convocaram ontem os embaixadores chineses nos seus países.
“Os três Estados bálticos convocaram os embaixadores chineses hoje [ontem] para pedir esclarecimentos” sobre a posição da China, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis.

“[Queremos] lembrá-los de que não somos países pós-soviéticos, mas países que foram ocupados ilegalmente pela União Soviética (URSS)”, declarou Landsbergis, à margem de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), no Luxemburgo.

Para Landsbergis, no caso dos países bálticos, Pequim repete a mesma narrativa utilizada pelos russos sobre a Ucrânia. “Ouvimos isso de Moscovo e agora é replicado por outro país que é seu aliado político. [A China] questiona o conceito de independência e soberania, algo perigoso nos dias de hoje”, declarou o ministro lituano.

Landsbergis apelou à solidariedade aos parceiros europeus e pediu que ajudem “da forma que puderem”, seja convocando os embaixadores chineses, rejeitando as declarações ou pedindo explicações à China.

24 Abr 2023

Analectos – as conversas de Confúcio

Tradução de Rui Cascais
Revisão e notas de Carlos Morais José

LIVRO IV

里仁 – (Li Ren)

ESCOLHER A BENEVOLÊNCIA

4.1. O Mestre disse: “Ao fixar residência num local, a maior atracção deverá ser a presença de pessoas benevolentes. Como se pode chamar sábio a alguém que, tendo essa escolha, não faz questão de habitar entre pessoas benevolentes?”58
4.2. O Mestre disse: “Quem não é benevolente é incapaz de suportar as adversidades, nem a própria felicidade, por muito tempo. As pessoas benevolentes contentam-se em ser benevolentes: assim lucra o sábio.”59
4.3. O Mestre disse: “Só a pessoa benevolente – e apenas ela – sabe amar e sabe odiar.”60
4.4. O Mestre disse: “Se os objectivos de alguém forem baseados numa conduta benevolente, não incorrerá em erro.”

4.5. O Mestre disse: “Riqueza e honra são o que as pessoas desejam, mas se forem uma consequência de desvios da Via, não quero parte nelas. A pobreza e a desgraça são o que as pessoas deploram, mas se forem consequência de seguir a Via, não as evitarei. De onde obteriam o seu nome as pessoas exemplares (君子 junzi) se abandonassem a benevolência? As pessoas exemplares não a deixam de lado nem pela duração de uma refeição. Quaisquer que sejam as suas preocupações ou dificuldades, nunca deixam de agir de forma benevolente.”61

4.6. O Mestre disse: “Ainda não conheci ninguém que verdadeiramente ame a conduta benevolente e verdadeiramente deteste qualquer comportamento que se lhe oponha. Quem ama a benevolência, nada considera superior. A quem horrorizam os comportamentos contrários à benevolência, jamais permitirá que tal conduta desumana contamine a sua prática do bem. Haverá alguém capaz de se dedicar, pelo espaço de um só dia, a aplicar uma conduta benevolente? Eu, por exemplo, nunca conheci alguém sem força para o fazer! Quanto aos que não têm força para tal, suponho que existam tais pessoas – eu, por exemplo, também ainda não as conheci!”62
4.7. O Mestre disse: “Os erros das pessoas diferem de grupo para grupo. Através da observação destes erros, poder-se-á compreender a benevolência.”63
4.8. O Mestre disse: “Tendo pela manhã conhecido a Via, poderei morrer à noite.”64
4.9. O Mestre disse: “Os letrados (士shi) que, tendo estabelecido o objectivo de percorrer a Via, se envergonham das roupas e das comidas simples, não merecem que se lhes dirija a palavra.”
4.10. O Mestre disse: “As pessoas exemplares, caminhando pelo mundo, não são nem a favor nem contra nada, outrossim seguem o que é justo (義 yi).”
4.11. O Mestre disse: “As pessoas exemplares prezam a sua excelência; as pessoas menores prezam as suas terras. As pessoas exemplares prezam a justiça; as pessoas menores prezam o pensamento do lucro.”
4.12. O Mestre disse: “Agir com vista a ganho pessoal conduzirá a muito ressentimento.”
4.13. 子曰:「能以禮讓為國乎?何有?不能以禮讓為國,如禮何?」
4.13. O Mestre disse: “Se o soberano for capaz de ordenar o Estado através dos ritos e da deferência para com os outros, que mais será preciso? Mas, se não for capaz disto, de que servirá cumprir os ritos?”65
4.14. O Mestre disse: “Não te preocupes em não ter uma posição oficial, preocupa-te em ter as qualidades necessárias para a obter. Não te preocupes se ninguém te conhece, esforça-te para te tornares numa pessoa digna de ser conhecida.”
4.15. O Mestre disse: “Sheng, meu amigo! A minha Via é, do princípio ao fim, ligada por um único fio (貫guan).” Mestre Zeng replicou: “Assim é.” Quando o Mestre partiu, os discípulos perguntaram: “A que se referia ele?” E Mestre Zeng respondeu: “A via do nosso Mestre consiste unicamente em lealdade (忠zhong) e indulgência (恕shu).”66
4.16. O Mestre disse: “A pessoa exemplar compreendem aquilo que é justo; a pessoa menor compreende aquilo que lhes traz lucros.”
4.17. O Mestre disse: “Quando encontras pessoas de carácter excepcional deves tentar caminhar a seu lado; ao encontrar pessoas de baixo carácter, deves olhar para dentro e examinar-te.”67
4.18. O Mestre disse: “Ao servirem vossos pais e mães, falem gentilmente. Ao verem que não seguem as vossas sugestões, permaneçam em respeito e nada façam em contrário. Por mais que eles estejam errados, não exprimam qualquer ressentimento.”
4.19. O Mestre disse: “Enquanto o vosso pai e mãe viverem, evitem as viagens longínquas e, se o fizerem, assegurem-se de que o vosso destino é conhecido.”
4.20. O Mestre disse: “Uma pessoa que, por três anos, se abstém de alterar os modos de seu pai pode ser chamado filial.”
4.21. O Mestre disse: “Os filhos devem saber a idade do seu pai e sua mãe. Por um lado, trata-se de uma fonte de alegria, por outro de inquietude.” 68
4.22. O Mestre disse: “Os antigos detestavam falar por vergonha de não poderem pessoalmente honrar a sua palavra.”69
4.23. O Mestre disse: “É deveras muito raro que alguém cometa erros se mantiver sempre o controlo de si .”
4.24. O Mestre disse: “A pessoa exemplar deseja ser lenta a falar e rápida a agir.”70
4.25. O Mestre disse: “As pessoas virtuosas (德 de) não vivem sós: têm sempre vizinhos.”
26. Ziyou disse: “Se, no serviço do teu senhor, fores zeloso em demasia atrairás a desgraça; se, na tua amizade, fores zeloso em demasia serás ostracizado.”71

Notas
58. Encontrámos duas interpretações para esta passagem. A primeira em Xunzi: “ A raiz da planta lan huai cheira a doce angélica, mas se a mergulhares em água fedorenta nem a pessoa exemplar se acercará dela, nem o vulgo a usará. Isto não acontece pela falta de fragrância do material original, mas por causa daquilo em que se encontra mergulhado. Como tal, a pessoa exemplar assegura-se de escolher cuidadosamente a povoação em que habita, assegurando-se também de que se associa a homens bem-criados ao viajar. Deste modo, evita a corrupção e se acerca do que é correcto.” A segunda em Mêncio, que explicitamente comenta esta passagem dos Analectos: “Será o fabricante de flechas menos benevolente do que o fabricante de armaduras? E, no entanto, o único medo do fabricante de flechas é que os homens não sejam feridos pelas suas flechas, e o único medo do fabricante de armaduras é que os homens não sejam protegidos pelas suas armaduras. (…) A escolha de uma profissão, portanto, é uma coisa em que é necessário ter muita cautela. A benevolência é a dignidade mais honrosa conferida pelo Céu e o lar tranquilo em que o homem se deve sentir bem. Uma vez que ninguém nos pode impedir de o ser, se ainda não somos benevolentes – isto não é ser sábio. Da falta de benevolência e da falta de sabedoria resultará toda a ausência de correcção e rectidão”. Embora aqui o “lugar de residência” seja a esfera de actividade, a ideia geral é semelhante: é preciso ter cuidado ao escolher o seu ambiente.
59. Kong Anguo comenta: “Alguns não podem permanecer constantes na adversidade porque a adversidade constante os motiva a fazer o mal, e não podem gozar de felicidade duradoura porque caem inevitavelmente na arrogância e preguiça”. A sentença de Confúcio parece querer dizer que a pessoa benevolente, tanto na adversidade como na felicidade, tem a sabedoria de se manter benevolente, ou seja, não se deixa tomar pela maldade nem pela indulgência, mantendo sempre um equilíbrio. Há um certo estoicismo nesta ideia que nos remete, por exemplo, para Marco Aurélio, quando afirma que deve a sua mãe “a piedade, a liberalidade, o hábito de me abster não apenas de fazer mal, mas de me ater a um mau pensamento. E ainda: a simplicidade de um regime de vida e a aversão pelo tipo de existência que levam os ricos” (Marco Aurélio, I.2).
60. A benevolência não é um “amor incondicional”, também porque na sua vertente de “humanidade” terá sempre de ter em conta o bem comum e não apenas o indivíduo. Por isso, a pessoa benevolente detesta o que ou quem é ou age contra a humanidade. Alguém que simplesmente tudo amasse seria certamente prejudicial e, de certo modo, egoísta pois, pelo seu amor, não teria em conta o mal que daí poderia advir contra os outros, ainda que para ele fosse suportável ou admissível se tomado por um amor a todos os seres e a todos os comportamentos. Como veremos, “a benevolência mata”.
Jiao Xun 焦循 (1763-1820) comenta: “A pessoa benevolente ama o que é realmente digno de admiração nos outros e odeia o que é genuinamente odiável neles. É por isso que se diz que uma tal pessoa é “capaz de amar outros e odiar os outros”. ” Apenas a pessoa benevolente é um juiz preciso e imparcial de carácter, capaz de amar a virtude nos outros sem inveja e odiar o vício nos outros sem malícia.”
61. Ser rico ou ser pobre, não implica ou impede uma conduta benevolente. A pessoa exemplar preocupa-se com o seu comportamento e a obtenção de riqueza não a deve fazer tergiversar. Do mesmo modo, se uma conduta benevolente, implicar cair na pobreza, uma pessoa exemplar não deve evitá-la. Xunzi vai mais longe: “Onde há benevolência não há pobreza ou dificuldades; onde falta a benevolência não há riqueza ou honra” (Xunzi, 23)
62. Zhu Xi comenta, sublinhando a importância da vontade:
“O Mestre admite que nunca viu alguém que verdadeiramente amasse a benevolência ou alguém que verdadeiramente odiasse o que não é benevolente. Parece que alguém que verdadeiramente amasse a benevolência apreciaria genuinamente o que é para ser verdadeiramente amado na benevolência e, assim, nada sob o céu punha à sua frente. Aquele que odiasse o que não é verdadeiramente benevolente genuinamente compreenderia o que é odioso no que não é verdadeiramente benevolente e, assim, ao sempre praticar a verdadeira benevolência seria capaz de se afastar do não é verdadeiramente benevolente, impedindo assim que sequer uma pequena quantidade alcançasse a sua própria pessoa. Ambos são assuntos de virtude perfeita e, por essa razão, difíceis de encontrar.
‘Haverá alguém capaz de se dedicar, pelo espaço de um só dia, a aplicar uma conduta benevolente? Eu, por exemplo, nunca conheci alguém sem força para o fazer!’
“Isto quer dizer que, enquanto aqueles que amam a verdadeira benevolência e odeiam o que não é verdadeiramente benevolente não podem ser encontrados, mesmo assim pode haver pessoas que são realmente capazes de se dedicar vigorosamente por um único dia ao verdadeiramente benevolente – porque ele próprio nunca viu uma pessoa cuja força não seja capaz de o fazer. Parece que fazer a verdadeira benevolência existe em cada um: deseja-a, e aí está ela, porque para onde a vontade vai o coração também vai [Mêncio 2A.2]. Assim, enquanto que é difícil ser verdadeiramente benevolente, chegar a este ponto é bastante fácil.
‘Quanto aos que não têm força para tal, suponho que existam tais pessoas – eu, por exemplo, também ainda não as conheci!’
“Suponho (蓋 gai)” expressa uma dúvida. “Existam tais pessoas” refere-se aos que a isso se devotam, mas cuja força não é capaz de o realizar. Na verdade, as capacidades do coração de cada pessoa variam. Por esta razão, ele suspeita que, de facto, podem ocasionalmente existir os que desejam seguir em frente, mas que, por confusão e fraqueza, não conseguem; e que apenas por acaso ele nunca conheceu tais pessoas. E parece que, embora não se atreva a considerar isso fácil, ao mesmo tempo que lamenta que as pessoas não estejam dispostas a dedicar-se à verdadeira benevolência.
“Aqui também se diz que embora a verdadeira benevolência, como virtude perfeita, é difícil para os homens, se um aprendiz for realmente capaz de se dedicar a ela, não existe razão para que não possa alcançá-la. Quanto aos que a ela se dedicam, mas não conseguem alcançá-la, nunca conheceu tais pessoas.”
63. Todos somos passíveis de errar, de exercer comportamentos reprováveis, aliás, é muito provável que erros sejam por todos nós cometidos. A frase de Confúcio parece querer dizer que os erros variam, mas não variam infinitamente e podem ser agrupados, quiçá atribuídos a um grupo, como se não se tratassem de erros individuais, mas decorrentes de uma pertença a um conjunto no qual se está inserido. Daí que se possa compreender melhor a benevolência, porque a análise de cada tipo de erro (e não serão assim tantos), dar-nos-á uma ideia do que os homens são capazes e compreender do que os homens são capazes ajudar-nos-á a escapar a esses erros e, portanto, exercer a benevolência. Kong Anguo comenta: “O facto das pessoas menores (xiaoren) não serem capazes de agir como pessoas exemplares (junzi) não é culpa delas, pelo que se deve ser compreensivo e não culpabilizá-las. Se observarmos os seus erros, podemos colocar tanto os dignitários como os tolos nos seus devidos lugares, e isto é o que significa ser benevolente”.
64. Apresentamos aqui a tradução mais literal possível. Contudo, os comentadores, com as suas explicações, complexificaram esta famosa frase, atribuindo-lhe diversos sentidos. Um deles é: “Tendo sabido pela manhã que a Via está a ser praticada, poderei morrer à noite sem remorsos”. Partindo desta leitura, Luan Zhao 欒肇 (act. 266– 285) comenta: “A Via é usada para salvar as pessoas. O sábio preserva-se para pôr a Via em prática. O objectivo é salvar as pessoas com a Via e não salvar-se a si mesmo com a Via. É por isso que lemos que se a Via fosse genuinamente ouvida pelo mundo de manhã, mesmo que se morresse nessa noite, estaria tudo bem. [Confúcio] sente-se magoado pela Via não estar a ser posta em prática, e além disso, deixa claro que está mais preocupado com o mundo do que com ele próprio.
Já para Zhu Xi a leitura deveria ser a seguinte: “Tendo pela manhã aprendido a Via, poderei morrer à noite sem remorsos.” E comenta: “Se alguém for capaz de ouvir a Via, a sua vida fluirá fácil e a sua morte chegará pacificamente, e não sentirá remorsos”.
65. No Comentário de Zuo é dito: “A deferência governa os ritos. (…) Numa época ordenada, a pessoa exemplar estima o talento e é deferente com os seus inferiores, enquanto as pessoas comuns cuidam dos trabalhos agrícolas para servir os seus superiores. Desta forma, o ritual prevalece, tanto em cima como em baixo; caluniadores e mal-intencionados são ostracizados e não há conflitos. A isto chama-se uma virtude excelente. Quando uma época declina em desordem, os senhores pavoneiam as suas realizações a fim de dominar o povo comum e as pessoas comuns gabam-se das suas aptidões a fim de usurparem os senhores. Assim, tanto os de cima como os de baixo, não cumprem a propriedade ritual, originando simultaneamente desordem e crueldade, porque surgem conflitos a propósito do que é bom. A isto chama-se virtude obscurecida. É um princípio constante que, desta situação, resulta inevitavelmente o colapso dos reinos.” (Duque Xiang, Ano XIII) Zhu Xi comenta: “A deferência é a substância do ritual. Esta passagem diz que se a própria substância do ritual for utilizada para governar o estado, então como poderá haver qualquer dificuldade? Mas se não for, então, embora o ritual possa ser ornamentalmente perfeito, de que serve para governar o estado?” Na governação, distingue-se entre a forma do ritual e a sua substância, a deferência (讓rang). Portanto, se o governante não for deferente para com os governados, qualquer ritual perderá a sua eficácia. Para Confúcio, ritualmente, ou seja, no seu comportamento, pois este é explanado no ritual, o governante terá de ser condescendente e ouvir os outros, as suas queixas e exigências, mostrando assim que lhes tem respeito. Não basta percorrer formalmente apenas os vários passos dos rituais, é preciso fazê-lo imbuído do seu espírito (substância), isto é, a deferência implícita nas suas regras. Se o Mestre insiste continuamente na relação entre governo e ritual, também percebe perfeitamente que o segundo não poderá ser algo destituído de autenticidade (誠 cheng), um mero teatro do poder, sem um conteúdo real e sincero, originário de um coração rectificado e íntegro. Só assim poderá estabelecer uma relação eficaz entre governante e governados.
66. Sheng é o nome próprio de Mestre Zeng (Zengzi). Lealdade (忠 zhong) e indulgência (恕 shu) aqui significam “exigência em relação a si mesmo” e “indulgência em relação aos outros”. O caracter zhong é composto de um “meio” (中 zhong) sobre um “coração” (心) e, por isso, remete para própria rectificação de si mesmo e para a prática do meio (中庸 zhongyong), ou seja, um comportamento justo e constante, uma procura incessante do equilíbrio nas suas acções e pensamentos, como um funâmbulo, nas palavras de Anne Cheng, que procura equilibrar-se e avançar no arame da rectidão. Este equilíbrio só existe num movimento em relação aos outros: é aqui que surge a necessidade de indulgência. Mais à frente (XV,24), Confúcio explica que shu se desdobra na famosa regra de ouro: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Esta palavra poderia igualmente ser traduzida por “consideração”, “compaixão” ou “compreensão”. Os comentadores sujeitaram a palavra 忠 zhong a diversas leituras. Wang Bi 王弼 (226-249), por exemplo, define zhong como “esgotar totalmente as próprias emoções”. Zhu Xi pertence a esta linha de pensamento que define zhong como “esgotar-se” ou “fazer o máximo”. Outros entendem que zhong envolve uma espécie de atenção aos deveres rituais de cada um, particularmente como subordinado político. Entendido desta forma, ser “leal” (忠 zhong) envolve o cumprimento dos deveres e obrigações próprios de um papel ritualmente definido. Esta virtude deve ser temperada pela virtude da “indulgência” (恕 shu): a capacidade de se colocar imaginariamente no lugar de outro. Resta saber, no caso de zhong, a quem ou a quê se deve lealdade pois poderá implicar opor-se a um governante que exerça o poder de forma imprópria, na medida em que a lealdade é devida a uma ideia e a uma prática e não a uma pessoa.
67. Ou seja, imitar as virtudes e evitar os vícios observados nos outros. A ênfase aqui é na acção: não só ver as qualidades dos outros, mas também usar esta percepção como uma oportunidade de auto-aperfeiçoamento. Como Jiao Yuanxi 焦袁熹 (1660-1725) explica, “O olhar mencionado nesta passagem refere-se àquilo que qualquer pessoa pode facilmente perceber… a dificuldade reside inteiramente em começar realmente a fazer algo a esse respeito. A intenção do Sábio ao estabelecer este ensino não era meramente criticar as pessoas por não terem um conhecimento verdadeiro, mas antes repreendê-las por falta de sinceridade de compromisso ou coragem para pôr em prática a sua vontade”.
68. De 4.18 a 4.21, trata-se de sentenças sobre a piedade filial em que se prescreve, entre outros aspectos, que o dever para com os seus pais ultrapassa qualquer outro e a tudo se sobrepõe.
69. Wang Yangming 王阳明 (1472-1529) comenta: “Os antigos valorizavam a acção e eram, portanto, tímidos com as suas palavras. Não se atreviam a falar de ânimo leve. Hoje em dia, as pessoas valorizam as palavras e, por isso, falam alto e tagarelam sem sentido à mais leve instigação”.
70. Wang Fuzhi 王夫之 (1619-1692) comenta: “Em relação às falhas que podem afligir o aluno, nenhuma é mais preocupante do que o descuido, e poucas tarefas são iniciadas ou completadas por aqueles que são casuais no seu comportamento. O descuido revela-se em linguagem que corre como água, que é tagarelado em todo o lado sem que se repare no que se diz. Comprovação de excesso de casualidade é encontrado no próprio comportamento – em comportamentos excessivamente avançados ou excessivamente retirado, que é errático e desrespeitoso, que é tímido e cobarde sem sequer um a realizá-lo. Só esta falta de propensão para ser lento a falar e rápido a agir é que impede a ambição estabelecida da pessoa exemplar de florescer.”
71. Não deverás, portanto, estar sempre a chamar atenção para as faltas e os erros, quer do teu superior, quer dos teus amigos. Algo que pode ser a tentação de um seguidor de Confúcio. De acordo com os pontos anteriores, é mais importante agir do que falar.

24 Abr 2023

Reservatório | Passagem para peões fechada mais de um ano

Estará encerrada ao público, entre sexta-feira e Julho do próximo ano, a passagem superior para peões situada entre o parque do reservatório e a Avenida da Amizade. O encerramento deve-se às obras de construção da via de acesso (A2) entre a zona A dos novos aterros e a península de Macau.

Para a realização da obra será ainda necessário demolir temporariamente o acesso da passagem superior para peões, situado ao lado da Avenida da Amizade, no intuito de articular com a construção do viaduto, sendo também realizados trabalhos de aperfeiçoamento da passagem superior para peões. Estes incluem a ligação ao lado oeste da zona A dos novos aterros.

24 Abr 2023

UMTec | 2022 fechou com lucro de 2,6 milhões

A UMTec, empresa detida pela Universidade de Macau, registou no ano passado um lucro de 2,6 milhões de patacas. Os resultados foram publicados no portal do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos, liderado por Sónia Chan.

A UMTec é detida a 100 por cento pela Universidade de Macau e dedica-se a actividades “investigação profissional”, “consultadoria, transferência de tecnologias e apoio técnico”.

As receitas da empresa de 18 milhões de patacas deveram-se quase exclusivamente a contratos de prestação de serviços. Ao longo do ano, a UMTec financiou a subsidiária Companhia de Formação Tecnológica da UMTec, que opera em Zhuhai e é gerida por residentes do Interior, em mais de 50 mil patacas.

24 Abr 2023

Turismo | Março com 1,96 milhões de visitantes

Em Março, Macau recebeu 1,96 milhões de turistas, o que significa um aumento de 271,4 por cento, em termos anuais e de 22,8 por cento, face a Fevereiro. Os dados foram publicados ontem pela Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

No mesmo período, os números de turistas individuais (979.152) e de excursionistas (977.715) subiram 522,7 por cento e 164,5 por cento, respectivamente, em termos anuais. No entanto, o tempo de permanência dos visitantes foi de 1,2 dias, idêntico ao mês homólogo do ano transacto.

O período médio de permanência dos turistas (2,2 dias) teve uma redução de 1,4 dias, enquanto o dos excursionistas (0,3 dias) aumentou 0,2 dias. O comunicado da DSEC deixa de fora o número de turistas internacionais. Contudo, indica que entre os 1,96 milhões de turistas, 1,24 milhões vinham do Interior, 622 mil de Hong Kong e 27 mil de Taiwan.

24 Abr 2023

Empresas públicas | AL abre excepções na atribuição de subsídios

As empresas de capitais públicos que não tenham influência dominante no sector de actividade que exploram, e empresas subordinadas, vão ficar à margem da atribuição dos subsídios de exploração e funcionamento. Estes apoios serão concedidos apenas a empresas de capitais integralmente públicos e empresas de capitais públicos com influência dominante, indicou ontem Ella Lei, a deputada que preside à comissão permanente que está a analisar na especialidade o “regime jurídico das empresas de capitais públicos”.

De acordo com a TDM – Rádio Macau, Ella Lei indicou que o Governo introduziu algumas alterações ao diploma para determinar os factores tidos em conta para atribuir estes subsídios a empresas de capitais públicos. Os representantes do Governo revelaram ainda que existem, actualmente, seis empresas subsidiadas, mas que com os novos critérios estabelecidos na lei que ainda voltará ao hemiciclo uma deixará de preencher os requisitos de atribuição.

Na reunião de ontem, os deputados ficaram também a saber que serão estabelecidos novos requisitos para a constituição de empresas de capitais públicos.

24 Abr 2023

Visita | Delegação empresarial regressou ontem de Portugal

A delegação composta por 40 empresários de Macau e representantes da Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqin chegou ontem a Macau depois da visita a Portugal. No fim-de-semana a delegação esteve na cidade do Porto onde visitou a Quinta da Boeira, dedicada à produção vinícola, e a Corticeira Amorim.

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, apresentou aos responsáveis das associações comerciais e altos dirigentes de empresas portuguesas as novas oportunidades de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada.

De acordo com um comunicado emitido pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Y Ping Chow, empresário radicado no Porto, e presidente da Liga dos Chineses em Portugal, disse que a visita da delegação de Macau trouxe “confiança no reforço dos contactos entre empresários de Macau e Portugal”, esperando-se uma dinamização das relações comerciais com os países de língua portuguesa.

De frisar que os empresários cumpriram uma agenda diferente da seguida pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, embora o governante tenha marcado presença em alguns eventos empresariais.

24 Abr 2023

Sudão | Tóquio envia mais aviões militares para retirar cidadãos

Dois aviões militares japoneses partiram no sábado para o Sudão, para apoiar a retirada de cidadãos retidos no país, devido à intensificação dos confrontos entre o exército e forças paramilitares, anunciaram as autoridades nipónicas.

Um avião C-2 e um avião-tanque KC-767, das Forças de Autodefesa do país, partiram esta manhã para se juntar à aeronave de transporte C-130, que deixou na sexta-feira o arquipélago em direção ao Djibuti, a cerca de 1.200 quilómetros da capital sudanesa, Cartum, informou o Ministério da Defesa do Japão.

As autoridades japonesas escolheram como base da operação o Djibuti por terem aí estabelecida uma equipa militar para uma missão antipirataria, no Golfo de Aden, e também pela complexa situação na capital sudanesa e arredores, onde o espaço aéreo se mantém encerrado.

Cerca de 60 cidadãos japoneses, incluindo funcionários diplomáticos, encontravam-se no Sudão na quarta-feira passada. Tóquio anunciou esta semana a operação de retirada, na sequência da intensificação dos combates e a dificuldade de acesso a bens de primeira necessidade.

Pelo menos 413 pessoas morreram e 3.551 ficaram feridas no Sudão desde o início do conflito entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), disse na sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os confrontos eclodiram a 15 de Abril devido a divergências sobre a reforma do exército e a integração das RSF no exército, parte do processo político para a democracia no Sudão após o golpe de Estado de 2021. O golpe de Estado foi realizado conjuntamente pelo chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, e pelo líder do grupo paramilitar, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como “Hemedti”.

24 Abr 2023

Portugal | Macau quer ligação aérea para atrair turistas

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, defendeu no sábado a existência de uma ligação aérea entre o território e Portugal, aproveitando a previsível reabertura das rotas directas entre Lisboa e a China.
“Agora temos que avaliar se é possível retomar essas rotas”, para promover a “cooperação com Portugal” e “atrair turistas”, afirmou Ho Iat Seng aos jornalistas em Lisboa, numa conferência de balanço final da visita a Portugal.

“Já houve rotas antes de 2019, mas depois da pandemia foram suspensas”, afirmou Ho Iat Seng, considerando que essa ligação entre Macau e Portugal, com escalas, iria permitir mais sucesso na promoção turística. “O trabalho que nós estamos a fazer é para que mais amigos de Portugal possam vir a Macau em viagens de turismo”, afirmou Ho Iat Seng.

Leite e mel

A comitiva empresarial que acompanhou o Chefe do Executivo na viagem a Portugal procurou novas parcerias com empresas portuguesas para a região, procurando recuperar o tempo perdido da pandemia. O objectivo foi promover a zona de cooperação aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin junto das empresas portuguesas, uma proposta muito bem aceite, segundo Ho Iat Seng.

No plano turístico, Macau tem visto um aumento de turistas, mas Ho Iat Seng quer uma economia assente no sector, mas menos dependente do jogo, que terá sempre de ser sempre o motor económico do território.

Sem as receitas ficais dos casinos, “não vou conseguir fazer o orçamento” e “tenho que aumentar os impostos” aos cidadãos, exemplificou Ho Iat Seng. Apesar disso, a “diversificação económica já começou há vários anos e nós estamos a continuar” esse esforço, procurando promover outro tipo de turismo, mais associado ao lazer, eventos ou experiências e menos ao jogo.

De partida de Lisboa para o Luxemburgo, o governante vai também “conhecer actividades nas áreas da cultura e do turismo” daquele país para perceber o que pode ser aplicado em Macau.

24 Abr 2023

MNE chinês inicia visita às Filipinas para reforçar relações bilaterais

As Filipinas e a China concordaram em abrir “novas linhas de comunicação” para resolver os problemas entre os dois países sobre território marítimo disputado, afirmou ontem o Presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr. “Estamos a trabalhar nisso, aguardamos uma resposta da China e acreditamos que estes assuntos serão resolvidos em benefício mútuo”, disse o Presidente das Filipinas, em comunicado, depois de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, em Manila.

Para Ferdinand Marcos Jr., “numa situação regional ‘fluida’ e turbulenta, uma relação saudável e estável” entre a China e as Filipinas não só satisfará os dois Estados como também as “aspirações partilhadas com os países da região”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) chinês, Qin Gang, chegou a Manila na passada sexta-feira, para tentar reforçar as relações da China com as Filipinas. Esta visita do chefe da diplomacia chinês coincide com a realização pelas Filipinas e os Estados Unidos de grandes manobras militares, nas quais participam 18.000 efectivos e que decorrerão até 28 de Abril.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros filipino declarou, num comunicado, que os temas a abordar serão “questões de segurança regional de interesse mútuo”. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, declarou que esta visita tinha como objectivo “reforçar a confiança mútua”.

O antecessor de Qin, Wang Yi, foi o primeiro MNE a visitar Ferdinand Marcos Jr., no ano passado, classificando a sua eleição, em Junho, como uma “nova página” que originaria uma “nova era de ouro nas relações bilaterais” entre a China e as Filipinas.

Desde então, no entanto, Marcos aproximou-se dos Estados Unidos e em Maio reunir-se-á com o Presidente norte-americano, Joe Biden, para debater o reforço da aliança histórica entre os respectivos países.

Aliado estratégico

Manila e Washington acordaram recentemente a retoma de patrulhas marítimas conjuntas no mar do Sul da China e o aumento da presença das forças norte-americanas nas Filipinas.

Apesar de o exército filipino ser um dos mais fracos da Ásia, a proximidade de Taiwan e suas águas circundantes fazem dele um parceiro fundamental para os Estados Unidos em caso de conflito com a China.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros filipino, a visita de Qin surge na sequência da visita de Marcos a Pequim, em Janeiro, durante a qual foi acordada com o Presidente chinês, Xi Jinping, uma gestão “amigável” dos diferendos.

24 Abr 2023

Taiwan | Pequim deixa aviso a quem se opõe à unificação da ilha

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China intensificou na sexta-feira as ameaças a Taiwan ao afirmar que qualquer força que vá contra as exigências de Pequim de exercer controlo sobre a ilha está a “brincar com o fogo”.

Os comentários de Qin Gang ocorreram no final de um discurso que enfatizou a contribuição da China para a economia global e os interesses das nações em desenvolvimento, no qual ele elogiou repetidamente a Iniciativa de Segurança Global, promovida pelo Presidente chinês, Xi Jinping.

A iniciativa visa construir uma “arquitectura global e regional de segurança equilibrada, eficaz e sustentável”, ao “abandonar as teorias de segurança geopolíticas ocidentais”. Em particular, a proposta chinesa opõe-se ao uso de sanções no cenário internacional.

Trata-se de mais uma iniciativa da China para posicionar o seu sistema político de partido único, com ênfase na estabilidade social e crescimento económico, como alternativa à abordagem liberal ocidental, que define amplamente as relações internacionais. No final do discurso, proferido em Xangai, a “capital” económica da China, Qin voltou-se para a “questão de Taiwan”, usando termos mais duros do que os diplomatas chineses normalmente empregam.“A salvaguarda da soberania nacional e da integridade territorial é irrepreensível”, disse.

“A questão de Taiwan está no cerne dos interesses centrais da China. Nunca recuaremos perante qualquer acto que prejudique a soberania e a segurança da China”, afirmou. “Aqueles que brincam com o fogo na questão de Taiwan vão-se queimar”, advertiu.

Águas incertas

Nos últimos anos, a China tem enviado caças e navios de guerra para perto de Taipé com frequência quase diária. Há duas semanas, o Exército chinês realizou quatro dias de intensos exercícios militares em torno de Taiwan, que incluíram a simulação de um bloqueio da ilha.

A China disse que os exercícios foram concebidos como um “sério aviso” para os políticos pró-independência da ilha autónoma e os seus apoiantes estrangeiros.

O ritmo acelerado da actividade militar e a linguagem cada vez mais belicosa suscitaram preocupações sobre um possível conflito numa das regiões economicamente mais vitais do mundo. Taiwan produz muitos dos ‘chips’ semicondutores necessários para o fabrico de produtos electrónicos e o Estreito de Taiwan, que separa a ilha da China continental, é uma das vias navegáveis mais movimentadas do mundo.

Taiwan vai eleger um novo líder e parlamento em Janeiro. A China é fortemente favorável ao Partido Nacionalista (Kuomintang), actualmente na oposição. O Partido Nacionalista apoia a unificação política entre os lados, sob termos ainda a serem definidos.

24 Abr 2023

Ambiente | Green Student Union alerta para riscos de deslizamentos

O presidente da Green Student Union, Joe Chan, critica o plano desenhado pelas autoridades de Guangdong por temer que resulte em deslizamentos de terras. Em causa está a remoção de várias árvores saudáveis de grande porte, que poderiam fixar solos

 

Quase seis anos depois de o pior tufão a atingir Macau em mais de meio século, o plano de recuperação deixou a floresta ainda mais vulnerável, nomeadamente face ao perigo de deslizamentos de terra, disse à Lusa o ambientalista Joe Chan.

A propósito do Dia Mundial da Terra, que se celebrou no sábado, o presidente da Macau Green Student Union avisou que, caso Macau seja afectado por um tufão tão poderoso como o Hato, em 2017, “vai haver mais uma vez deslizamentos de terra e de lama”.

“Nem será preciso um novo Hato, basta talvez uma forte tempestade este Verão”, disse Joe Chan Chon Meng. Macau é afectada anualmente por tufões de diferentes categorias, sendo o período entre Julho e Setembro o mais crítico.

O activista apontou a aldeia de Hac Sá, em Coloane, como o local de maior risco e lembrou que “nos últimos dois anos, quando há chuva forte, já houve muita lama a deslizar pela encosta”. Em 23 de Agosto de 2017, o Hato considerado o pior em 53 anos a atingir Macau, causou 10 mortos, 240 feridos e prejuízos avaliados em 12,55 mil milhões de patacas.

Nas áreas florestais, pelo menos 500 mil árvores e mais de 500 hectares foram afectados, disse à Lusa o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Até agora, foram plantadas mais de 55 mil árvores, de espécies com mais resistência ao vento e às condições atmosféricas.

Mais de 90 por cento das novas árvores sobreviveram e muitas já têm mais de três metro de altura, começaram a dar flores e “resistiram em segurança a épocas de tufão”, disse o IAM, que garantiu que foi dada prioridade à “regeneração natural” e a recuperar as árvores danificadas.

Pega no dinheiro e foge

Mas Joe Chan diz que “houve enorme devastação causada pela acção humana, não pelo Hato”. “O Governo adoptou o método mais agressivo: removeram quase todas as árvores antigas, incluindo muitas que estavam saudáveis e que tinham sobrevivido ao Hato, e plantaram novas”, lamentou o activista.

O ambientalista disse recear que a recuperação esteja “a destruir um ecossistema já de si frágil”. “Agora quando vamos andar nos trilhos [de Coloane] vemos pó, solo a esfarelar e árvores minúsculas que irão ser arrastadas na próxima época das chuvas”, previu.

O plano de recuperação, desenhado por uma equipa da Universidade Sun Yat-sen, do Interior da China, com o apoio da Direcção dos Serviços de Silvicultura da Província de Guangdong e especialistas da Academia Florestal de Guangdong, deverá ser implementado ao longo de uma década, tendo sido adjudicado a várias empresas.

“Serão essas empresas a responsabilizar-se por todos os danos?” perguntou Joe Chan. “E a equipa de académicos, vai acompanhar o progresso da reflorestação ou simplesmente fizeram o plano e ficaram com o dinheiro?” acrescentou. O activista lamentou que o Governo não tenha pedido a opinião das associações ambientalistas de Macau. “A natureza pertence à população, não ao governo”, sublinhou.

24 Abr 2023

Banca | Ho Iat Seng visitou CGD

O Chefe do Executivo aproveitou a deslocação a Lisboa para visitar a sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na sexta-feira.

Numa nota difundida pelo Gabinete de Comunicação Social, foi anunciado que Ho Iat Seng se encontrou com Paulo Macedo, presidente da comissão executiva do banco estatal português e que “as duas partes trocaram impressões sobre o reforço da cooperação entre os sectores financeiras de Macau e de Portugal”.

Outro dos pontos na agenda foi o “apoio ao desenvolvimento da indústria financeira moderna de Macau na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. O Chefe do Executivo disse esperar que a CGD e o Banco Nacional Ultramarino de Macau “continuem a liderar a indústria no futuro e apoiem o desenvolvimento da indústria financeira moderna e a economia de Macau”. Paulo Macedo assegurou o apoio ao desenvolvimento económico e da indústria financeira moderna.

24 Abr 2023

Jogo | Levo Chan, antigo líder da Tak Chun, condenado a 14 anos de prisão

O ex-dono da Tak Chun tornou-se o segundo promotor de jogo a ser condenado com pena de prisão pelo crime de associação/sociedade criminosa. O juiz Lam Peng Fai considerou não haver “sombra de dúvidas” sobre as actividades ilegais

 

O ex-proprietário da empresa junket Tak Chun foi condenado a 14 anos de pena de prisão efectiva, na sexta-feira de manhã. Depois da condenação em Janeiro deste ano de Alvin Chau, ex-proprietário da Suncity, Levo Chan torna-se o segundo grande promotor de jogo a ser condenado com pena de prisão, na sequência da campanha iniciada contra as empresas promotoras do jogo, em 2021.

Na sexta-feira, o Tribunal Judicial de Base deu como provado que Levo Chan praticou um crime de associação ou sociedade secreta, 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado, sete crimes de burla de valor consideravelmente elevado, um crime de exploração ilícita de jogo e ainda um crime de branqueamento de capitais agravado.

De acordo com o Canal Macau, Lam Peng Fai, presidente do colectivo de juízes que julgou o caso, considerou que foi provado, “sem sombra de dúvida”, que o empresário conduzia uma sociedade estável e contínua, para actividades ilegais relacionadas com o jogo com as quais conseguiu mais de mil milhões de patacas em lucros ilícitos.

Para o tribunal, Levo Chan não só sabia das apostas paralelas que decorriam nos casinos como era o principal responsável por elas. Lam Peng Fai indicou também que o empresário natural de Fujian adoptou uma postura mais cuidadosa no exercício da actividade, depois de Alvin Chau ter sido detido.

Apesar da condenação, o juiz não deixou de reconhecer o contributo de Levo Chan para vária acções de caridade local. Em 2020, Levo Chan foi um dos empresários locais a doar cerca de 100 mil patacas para auxiliar Portugal a adquirir material para o controlo da covid-19. O cheque foi recebido pelo então cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves.

Recurso por decidir

À saída do tribunal, na sexta-feira de manhã, Leong Hong Man, advogado de Levo Chan, reconheceu não saber se vai haver recurso da decisão. “Primeiro, temos de esperar e analisar a sentença escrita. E vamos também falar com o nosso cliente. Para já, não temos nada a declarar”, afirmou Leong, quando questionado sobre um eventual recurso.

Além do empresário, o caso envolvia mais oito arguidos com Cherie Wong Pui Keng e Betty Cheong Sao Pek que foram condenadas com penas de 10 anos de prisão. Por sua vez, Wayne Lio Weng Hang foi condenado a 10 anos de prisão e Edward Lee Tat Chuen a sete anos. Os restantes arguidos foram absolvidos.

Além das penas de prisão, os arguidos têm de pagar várias indemnizações ao Governo e às concessionárias. Segundo as contas do tribunal, a RAEM foi a maior lesada, e tem de ser compensada em 575,2 milhões de dólares de Hong Kong. A Galaxy tem direito a receber 81,2 milhões, a Venetian Macau 47,0 milhões, Wynn 36,8 milhões, SJM 35,6 milhões e a MGM 3,8 milhões de dólares de Hong Kong.

21 Abr 2023

Ho Iat Seng agraciado em Portugal com Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique

Foto GCS

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agraciou esta quinta-feira o chefe do Governo, Ho Iat Seng, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e desejou-lhe que consiga ser reeleito no próximo ano.

Marcelo atribuiu ao Chefe do Executivo da RAEM um símbolo da Ordem que se destina a distinguir “quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua história e dos seus valores”.

Ho Iat Seng agradeceu ao Presidente português e sublinhou, nos momentos de cumprimentos que antecederam a reunião, após a qual não houve declarações à imprensa, que esta é a sua primeira visita ao exterior após a pandemia de covid-19 e, embora houvesse muitas propostas, “tinha de ser a Portugal”.

Foi nesse momento que Marcelo felicitou o chefe do Governo de Macau pelo lugar que desempenha e lhe desejou que venha a ser reeleito em 2024.

Discutida jurisdição

Este ponto da agenda oficial de Ho Iat Seng não esteve aberto a todos os jornalistas: a TDM e o Jornal Tribuna de Macau foram escolhidos por sorteio efectuado pelo Gabinete de Comunicação Social, pois apenas era permitida a cobertura por parte de um diário e um canal de televisão locais. Não houve declarações dos dois governantes no final.

Contudo, na quarta-feira, em declarações à Lusa proferidas num outro evento público, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que o encontro com Ho Iat Seng seria marcado pela discussão em torno do Direito vigente no território após 1999, e o ensino do português terão sido algumas das matérias abordadas.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que iria tratar com Ho Iat Seng de “questões importantes, que ele aliás tratará com o Governo português ainda mais especificamente”. “E que têm a ver com o respeito daquilo que é o Direito que foi acordado entre os países em 1999, também a sua aplicação em certa área territorial que é uma área que é importante para a expansão da RAEM, o estatuto daqueles que lá vivem, a experiência de convívio que existe, o apoio ao ensino do português em Macau, a expansão da Escola Portuguesa em Macau”, especificou.

“Portanto, há muitos assuntos importantes, e que são importantes por duas razões: um, são importantes nas relações entre Portugal e Macau; segundo, são importantes nas relações entre Portugal e China”, acrescentou.

Capitalizar diferença

Marcelo Rebelo de Sousa realizou uma visita de Estado à República Popular da China entre Abril e Maio de 2019, que começou em Pequim, passou por Xangai e terminou em Macau. No território, Marcelo repetiu a mensagem de que “a diferença” desta região administrativa especial é o que lhe dá valor, destacando a importância da presença da língua portuguesa. O Presidente da República referiu que a língua portuguesa é actualmente mais falada em Macau do que no tempo da administração portuguesa e manifestou a certeza de que irá permanecer após 2049.

No seu entender, “não é por causa da Lei Básica [da Região Administrativa Especial de Macau]”, que vigora desde 1999, que Macau é diferente: “A Lei Básica fala num prazo de 50 anos. O que são 50 anos para uma cultura milenar como a chinesa e para uma cultura de quase mil anos como a portuguesa? Não é nada”.

Esta quinta-feira Ho Iat Seng reuniu com António Costa, primeiro-ministro, e João Gomes Cravinho, do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Também não houve direito a declarações no final destes dois encontros, que decorreram, respectivamente, no MNE e na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.  Lusa / A.S.S.

21 Abr 2023

Vida e obra de Natália Correia assinaladas na Assembleia da República

A vida e obra de Natália Correia foram evocadas ontem numa sessão da Assembleia da República, no âmbito do centenário de nascimento da escritora e poetisa, que incluiu a apresentação da sua recém-publicada biografia.

A iniciativa teve lugar pelas 18:00, na Biblioteca Passos Manuel, a seguir à sessão plenária, com a apresentação do livro “O Dever de Deslumbrar – Biografia de Natália Correia”, de autoria de Filipa Martins, editado pela Contraponto. Intitulada “Vida e Obra de Natália Correia”, a sessão acontece no quadro das comemorações do centenário da escritora e antiga deputada (1980-1991), e foi presidida pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

“O Dever de Deslumbrar”, que foi publicado a 16 de Março, é uma biografia que, tanto ou mais que a vida da escritora, traça o retrato do Portugal daquela época. Como destacou o jornalista João Gobern, por ocasião do pré-lançamento da biografia, ao ler-se esta obra, percebe-se até que ponto “se estendia a presença tentacular da biografada”.

“O dever de deslumbrar” foi publicado no ano do centenário do nascimento de Natália Correia, que se assinala a 13 de Setembro, e dos 30 anos da sua morte, ocorrida a 16 de Março de 1993, e permite ficar a conhecer a realidade do país nos seus 70 anos de vida.

“Mesmo os que têm uma secreta embirração podem partir para esta biografia quase como um dicionário histórico sobre como foi Portugal durante a vida de Natália Correia”, destacou o jornalista, apontando que o livro aborda a obra da autora, “uma dimensão política extraordinária, a dimensão sentimental e o seu ‘toca e foge’ com a religião”.

Filipa Martins recordou, na altura, que Natália Correia foi “a autora mais censurada do Estado Novo”, uma das vozes mais críticas da ditadura e, depois, da entrada de Portugal na União Europeia, acrescentando que “o pensamento dela era premonitório”.

À sua maneira

O seu feitio intempestivo era temido, inclusivamente pelos outros deputados, destacou Filipa Martins, assinalando que Natália Correia “era insubordinada” e que “os parlamentares é que tiveram de se adaptar” a ela. “Não cumpria os tempos, fumava no parlamento, mesmo depois de ser proibido, interpelava os parlamentares a pôr gotas nos olhos, convidou a Cicciolina para ir ao parlamento e escreveu-lhe um poema, chegava sempre atrasada à Assembleia da República”, lembrou, sublinhando que Natália Correia “tinha a sua carteira de valores”.

21 Abr 2023

Ucrânia | China acusa EUA de difamação e nega fornecimento de ‘drones’ a forças russas

A China acusou na passada quarta-feira os Estados Unidos e um “pequeno grupo” de órgãos de comunicação ocidentais de difamação, após a publicação de informações sobre o alegado uso por forças russas na Ucrânia de ‘drones’ civis de empresas chinesas.

O Ministério do Comércio chinês classificou as informações como “falsas e infundadas” e acusou os Estados Unidos da América (EUA) de serem quem “põe lenha na fogueira ao fornecer armas à Ucrânia”.

Em comunicado, o ministério condenou as tentativas de “difamar as empresas chinesas” e assegurou que “vai reforçar o controlo sobre as exportações de ‘drones’ [aparelhos aéreos não tripulados]”, recordando que as “leis e regulamentos chineses” estipulam que as empresas exportadoras devem “solicitar uma licença” e “impedir que os respectivos produtos sejam utilizados em zonas de conflito”.

Nas últimas semanas, a imprensa norte-americana avançou que ‘drones’ para uso civil de empresas chinesas, como a DJI, estão a ser usados por forças russas na guerra em curso na Ucrânia. O ministério chinês observou que algumas empresas que fabricam ‘drones’ “tomaram a iniciativa” e “suspenderam as suas operações em áreas de conflito”.
“A China opõe-se fortemente ao uso de ‘drones’ civis para fins não pacíficos”, referiu a mesma fonte.

21 Abr 2023