Hong Kong | Defesa de Jimmy Lai prossegue alegações finais

A defesa do magnata da comunicação social de Hong Kong Jimmy Lai continuou ontem a apresentação das alegações finais num julgamento que é seguido pela comunidade internacional.

A audiência decorre rodeada de um amplo dispositivo de segurança, que inclui a presença de unidades armadas e patrulhas com cães do lado de fora do tribunal, onde, pelo menos, uma dezena de veículos oficiais permanecem estacionados, segundo o meio de comunicação social local Ta Kung Wen Wei.

Lai, com 77 anos, fundador do extinto jornal Apple Daily e de três empresas ligadas ao mesmo grupo editorial, enfrenta uma acusação de “conspiração para imprimir e reproduzir material sedicioso” e outras duas de “conspiração com forças estrangeiras ou externas com o objectivo de pôr em risco a segurança nacional”.

A moldura penal aplicada a estas acusações pode levar à prisão perpétua do empresário. A fase de alegações finais começou na semana passada, num processo iniciado em Dezembro de 2023, marcado por vários adiamentos, entre eles os registados em meados de Agosto devido a chuvas torrenciais e problemas de saúde do acusado.

Durante as sessões desta semana, a defesa centrou as alegações na refutação das acusações segundo as quais Lai orquestrou uma estratégia coordenada para promover sanções internacionais contra Hong Kong e Pequim, através de artigos publicados no Apple Daily e de um alegado apoio ao grupo activista conhecido como “Stand With Hong Kong”, segundo a imprensa de Hong Kong.

A equipa jurídica do empresário sustentou que não há provas de que Lai tenha dado instruções directas a activistas, nem de que as publicações do jornal constituíssem incitação à sedição, insistindo no papel dos meios de comunicação social “para facilitar o debate público”.

Detido pela primeira vez em 2020, Lai permanece desde então numa prisão de segurança máxima e cumpre já uma pena de cinco anos e nove meses por um caso diferente.

Israel | Exército diz que evacuação de Gaza é inevitável

Israel considerou ontem inevitável a evacuação da cidade de Gaza no âmbito da continuação das operações militares no território palestiniano, face a críticas internacionais sobre a deslocação forçada da população.

“A evacuação da cidade de Gaza é inevitável (…), cada família que se mudar para o sul receberá a ajuda humanitária mais generosa possível”, afirmou o porta-voz árabe do exército, Avichay Adraee, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

A ONU calcula em cerca de um milhão de pessoas a população actual da província de Gaza, que inclui a cidade de Gaza e arredores, no norte do território palestiniano devastado por quase dois anos de guerra.

Israel aprovou planos para tomar a cidade de Gaza e anunciou que pretende forçar a população a transferir-se para o sul do território, um projecto considerado irrealista e perigoso por organizações humanitárias.

A imprensa árabe noticiou na terça-feira que o Egipto posicionou cerca de 40 mil efectivos das forças armadas no norte do Sinai, que faz fronteira com a Faixa de Gaza, por recear uma fuga em massa para o seu território.

Apelos papais

Ontem, o papa Leão XIV pediu o respeito pleno do direito humanitário em Gaza, em particular relativo ao “uso indiscriminado da força e deslocamento forçado de populações”, num novo apelo para o fim da guerra.

O pontífice norte-americano fez o apelo no final da audiência geral na Cidade do Vaticano, ao pedir que as partes e a comunidade internacional se comprometam “a pôr fim ao conflito na Terra Santa, que causou tanto terror e morte”.

O chefe da Igreja Católica pediu “que todos os reféns [israelitas] sejam libertados, que se alcance um cessar-fogo permanente, que se facilite a entrada segura da ajuda humanitária e que se respeite plenamente o direito humanitário”.

Referiu “a obrigação de proteger os civis e a proibição do castigo colectivo, do uso indiscriminado da força e do deslocamento forçado de populações”, segundo a agência de notícias espanhola EFE. Leão XVI declarou ainda apoio à declaração conjunta feita na terça-feira pelos patriarcas grego, Teófilo III, e latino, Perbattista Pizzaballa, de Jerusalém.

Os patriarcas pediram “o fim da espiral de violência, o fim da guerra e a prioridade do bem comum de todos os povos”. Na declaração conjunta, pediram às autoridades israelitas que suspendessem o plano de tomar Gaza e de transferir a população da cidade para o sul da Faixa de Gaza.

“Esta não é a maneira certa. Não há razão que justifique o deslocamento massivo deliberado e forçado de civis”, afirmaram as autoridades eclesiásticas num comunicado. Anunciaram também que o clero e as freiras presentes em Gaza decidiram ficar e continuar a cuidar de todas as pessoas que encontraram refúgio nas instalações das igrejas cristãs.

Após quase dois anos de guerra, a ONU declarou em 22 de Agosto uma situação de fome na província de Gaza, no norte do território, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.

O Papa Americano (IV)

“Let us disarm words and we will help to disarm the world.”

Leo XIV

A bordo de uma nave que traça trajectórias por vezes dissonantes em relação aos impulsos de Trump. Sem contar Musk, electrão livre após a separação não consensual do presidente. Pouco se compreende desta vaga ascendente ignorando que ela deve a sua ascensão ao colapso do liberalismo globalista, no seu auge na última década do século XX. O chefe estratega da campanha presidencial em 1992 de Bill Clinton afirmou “It’s the economy, stupid!”, e seguido pelos seus apoiantes de que para o americano médio-baixo se tornou sinónimo de privação, depressão e crise de identidade. O populismo é filho do elitismo. Reforçado pelo arrogante fracasso liberal. Convém levar a sério a reacção trumpista, que procura irradiar para além da temporada do presidente em exercício. Vance e Trump parecem partilhar a cruzada antiliberal que pretende ligar à revolução americana Estados, partidos e lóbis ideologicamente próximos do movimento MAGA.

Eles próprios, juntamente com pesos médios e pesados do circuito trumpista, intervêm sem pudor nas eleições de países “amigos e aliados”. A lista é extensa. O caso mais recente é o da Polónia, onde a responsável pela Segurança Interna, Kristi Noem, empenhou-se com sucesso em apoiar a ascensão do nacional-conservador Karol Nawrocki à presidência da República, em confronto com o primeiro-ministro Donald Tusk, alegado vassalo de Bruxelas. Já em Fevereiro, Vance havia criticado duramente os líderes euro atlânticos na conferência de Munique e apoiado a Alternativa para a Alemanha (AfD) contra moderados, europeístas e tardios globalistas, acusados de reprimir o debate livre e ameaçar a democracia na República Federal. Campanhas semelhantes ocorreram no Reino Unido em apoio ao ressurgido Farage, em França por Marine Le Pen, desqualificada por uma sentença controversa, na Roménia pelo candidato presidencial derrotado George Simion, auto declarado aderente ao “bilhete MAGA”, na Irlanda por Conor McGregor.

Até na Coreia do Sul por Yoon Suk Yeol, que segundo Trump foi removido da presidência por um golpe orquestrado pela China. Sem falar do cordial abraço com Giorgia Meloni, encorajador e ao mesmo tempo embaraçoso para quem se oferece como ponte entre europeus e americanos. O MAGA internacionalizado e não globalizado pretende ser o protector da civilização ocidental, florescida na Europa a partir da semente judaico-cristã, helénica e romana, revisitada e transmitida ao Novo Mundo pelos ingleses, atingindo o seu esplendor máximo nos Estados Unidos. Hoje ameaçada pela finança global, pelo politicamente correcto e pela “substituição étnica” gerada pelo catastrófico cruzamento entre imigração não assimilável e declínio da natalidade. Em defesa dos “valores tradicionais”, a começar pela família.

A civilização ocidental é o conceito de que existe uma ordem natural das coisas e que temos direitos que derivam de Deus. E que existem regras, regista Terry Schilling, fundador do Projecto para os Princípios Americanos. A melhor definição da Internacional MAGA é-nos dada por um jovem conselheiro do Departamento de Estado, Samuel Samson. Para quem é urgente uma nova aliança de civilizações com a Europa, contra o projecto global liberal que impede o florescimento da democracia, que a espezinha juntamente com a herança do Ocidente, em nome de uma decadente classe governante que teme o seu próprio povo. Portanto, esta parceria deve assentar na herança comum americana, não no conformismo globalista. Assistimos ao esboço de uma para doutrina eclesiástica em forma laica. Política e geopolítica. Nova/velha religião com estrelas e faixas. A originalidade deste culto reside na apropriação do catolicismo, moldado às suas próprias necessidades.

Fé que atrai um em cada cinco americanos. Após anos de declínio, o cristianismo latino parece estar em recuperação. Sobretudo converte. Nessa nação antipapista, com ex-evangélicos ou ateus Vance percorreu ambas as etapas rumo à Luz que olham para Roma e se entusiasmam com o “seu” pontífice, significa que o vento está a mudar. O Vaticano está exposto ao duplo risco de ser usado por uma facção de fidelidade canónica duvidosa para fins de poder e/ou de se confrontar com o actor geopolítico e económico “Número Um”, a custos incalculáveis. Inclusive para as suas próprias finanças. A dissolução da USAID já afectou ordens e movimentos católicos em todo o mundo, beneficiários habituais da divisa que garante confiança em Deus. Pior, a recuperação católica em territórios infiéis, mesmo pescando entre cristãos de outras confissões, pode culminar em conflito entre crentes progressistas e tradicionalistas.

O pesadelo do papa americano é ter de resolver disputas internas na sua Igreja de origem. Enquanto Trump via Vance ou vice-versa, engrossa as suas divisões com os departamentos locais do papa. Com que fundamentos? Do catolicismo, Vance atrai-se pelas certezas dogmáticas, liturgias tradicionais, anseio pelo bem comum. Coroadas pela autoridade do papa. Tudo para dotar de moral mobilizadora o despertar da comunidade nacional, objectivo da revolução em curso. Contra o progressismo, liberalismo, socialismo e pecados associados. Se fosse pontífice, Vance regressaria ao Vaticano I, ampliando a esfera da infalibilidade papal. Os seus referentes são Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, dos quais oferece excertos de leitura original. Do “Aquinate” extrai uma interpretação adaptada do ordo amoris. Desafio ao coração da sua religião declarada. O amor é o cristianismo. Em Cristo é gratuito. Vance oferece uma versão paga.

A favor da sua conta corrente política e geopolítica. Diz amor, mas entende norma ética. Com a qual declina a hierarquia sociogeopolítica do amor.A escala de Vance tem cinco graus que são a família, vizinhança, comunidade, pátria e resto do mundo. Classificação dos deveres do bom americano, contra a retórica dos direitos. Inconciliável com o bom samaritano. Irrefreável no impulso agápico de Jesus, abraço aberto a todos. Talvez mais próximo da tradição veterotestamentária que privilegia o amor judaico pelos judeus. O acaso, ou Deus, quis que Vance ocupasse os últimos dias de Francisco. Primeiro obrigando-o à refutação da sua ordem do amor, à qual aderiu publicamente também o cardeal Prevost. Depois, levando-o a receber a sua némesis, poucas horas antes de morrer, num não cruzar de olhares que dizia mais do que qualquer palavra. Agostinho, o africano, relata nas Confissões que, jovem e céptico professor de retórica, em 384 chega a Milão para encontrar o bispo Ambrósio, animador da comunidade cristã perseguida.

Com espanto, descobre-o a percorrer em silêncio as Escrituras: «Quando lia, o olhar corria pela página e o intelecto perscrutava o significado; voz e língua permaneciam em repouso. Muitas vezes ficávamos encerrados num longo silêncio e quem ousaria perturbar tal recolhimento? E víamo-lo sempre ler daquela forma silenciosa, nunca de outro modo» (Confissões, 6,3). Na época, e ainda durante séculos, os poucos letrados, sobretudo em ambientes partilhados, liam em voz alta. Um acto de generosidade para com o próximo, muitas vezes iletrado. Hoje, distingue-se uma biblioteca pelo som do silêncio. Naquele tempo, cruzavam-se vozes. A leitura comunicada, ou seja, transmitida em comunidade, era regra e assim permaneceria até ao início do segundo milénio. A leitura silenciosa ou murmurada exclui o próximo. Daí o desconforto de Santo Agostinho. Esta figura patrística, cara a Bento XVI que no seu íntimo solidificava com o ambrosiano ruído do silêncio é trazida pelo psicanalista Luigi Zoja como exemplo da deriva que nos afasta do próximo para nos fecharmos em nós próprios. Fala-se pouco.

O verbo afastou-se dos (virtuais) falantes, substituído pela tecnologia. Com os seus engenhos dedicados ao ego, o “I” inglês: iPhone, iBook, iPod, iPad. Égoïste é o perfume que a Chanel promove como retrato olfactivo de um homem de carácter, fascinante e inatingível. Assistimos ao colapso do “nós”, à morte do próximo, consequência da morte de Deus? O cristão está autorizado a pensar assim por dedução do Evangelho de Marcos (12:28-31), que atribui a Jesus o breve resumo dos mandamentos, ou seja, do amor; primeiro, «O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração»; segundo, «Ama o teu próximo como a ti mesmo». Dois amores encadeados por paradoxo e intenção. Mas onde está o próximo hoje? A distância entre os humanos, animais sociais por constituição, cresce. A tal ponto que compromete o próprio sentido das sociedades, sobretudo mas não só ocidentais. Uma condição antinatural. Um darwinismo anti-social que fragmenta as comunidades. Palavra-programa que une cum e munus, “juntos” e “tarefa”. De tarefas partilhadas há pouca memória.

Pode-se escrever direito por linhas tortas. Mas sem Deus (no sentido próprio de Nietzsche), sem próximo (na abertura ilimitada de Jesus) e sem projectos comuns, ordenar o caos é utopia. Eis a dupla crise de sentido da Igreja e da América, que desencadeia uma competição identitária e geopolítica dentro e entre colectividades em atomização. Está em jogo a razão de viver. Vence, ou pelo menos não se perde, o pastor que melhor reagrupa as suas ovelhas dispersas. É sobre isto que versa a disputa em torno da ordem do amor. Igreja e América enfrentam de forma oposta o desafio do declínio. Na sua ênfase sinodal, Leão XIV associa Santo Inácio de Antioquia, conduzido em cadeias ao martírio como “Então serei verdadeiramente discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo não vir o meu corpo” (Carta aos Romanos, IV, 1). Referia-se a ser devorado pelas feras no circo e assim aconteceu mas as suas palavras evocam, num sentido mais geral, um compromisso irrenunciável para quem exerce um ministério de autoridade na Igreja como desaparecer para que permaneça Cristo, tornar-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (João, 3,30). Depois de Leão Magno, Leão o Pequeno?

À Igreja introvertida e em cisão não servem grandes papas, que no melhor dos casos encobrem a sua doença. É preciso redescobrir o sentido da comunhão, hoje em risco. Na sua elevada ideia de si, Trump torna-se omnipresente e omnifalante. Incensa-se como mega presidente para tornar a América grande novamente. Os católicos neotradicionalistas que o aplaudem não se preocupam em ser menos do que aparentam. Mas quem, feroz no seu estéril progressismo, ridiculariza a insipiência doutrinal de Vance e associados, glorifica-se a si próprio e aposta que a contra-revolução trumpista é um parêntese deplorável, acabando em fora de jogo. Na Igreja, na América, em todo o Ocidente até nas potências rivais, a privação do contacto com o próximo é insuportável à existência. Não importa se por direito ou por dever, o ser humano procurará sempre o vizinho, sofrerá se não o encontrar. Partilhamos a conclusão de Zoja, para juntos procurarmos uma resposta de que em qualquer lugar, em qualquer época, a distância sempre foi um obstáculo ao amor, porque deveria a nossa ser diferente? Pode-se realmente amar ou apenas conhecer aquilo que está longe? E só o conhecimento permite, ao menos, ser justo? Nada o demonstra.

Índia / Paquistão | Chuvas matam 32 pessoas desalojam milhares

As cargas de água repentinas acima do normal para a época provocaram o caos e destruição em várias áreas da Índia e do Paquistão

 

Chuvas intensas que atingiram partes do Paquistão e da Índia causaram 32 mortos e um número indeterminado de desaparecidos na parte indiana da Caxemira, anunciaram ontem as autoridades indianas.

As mortes e desaparecimentos ocorreram na região de Jammu, na Caxemira controlada pela Índia, onde se registaram inundações repentinas e deslizamento de terras numa rota de peregrinação hindu, noticiou a agência Press Trust of India (PTI).

O período em que ocorreram as mortes causadas pelas inundações não ficou imediatamente claro, segundo a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

Autoridades da província de Punjab, no leste do Paquistão, solicitaram ontem a ajuda do exército nos esforços de resgate e socorro depois de as chuvas torrenciais terem feito transbordar grandes rios. Várias localidades ficaram inundadas e mais de 150.000 pessoas foram desalojadas, disseram as autoridades.

Equipas de resgate retiraram mais de 20.000 pessoas durante a noite dos arredores de Lahore, a segunda maior cidade do Paquistão, que também enfrentava o risco de cheias. As pessoas retiradas das áreas próximas a Lahore viviam ao longo do leito do rio Ravi, disse o director-geral da Autoridade de Gestão de Desastres do Punjab, Irfan Ali Kathia.

A saída dos residentes das áreas mais vulneráveis começou no início da semana em seis distritos do Punjab.

De repente

As chuvas de monção mais intensas do que o normal e a libertação de água de barragens transbordadas na vizinha Índia provocaram enchentes repentinas em regiões fronteiriças de baixa altitude, disse Kathia.

Os meteorologistas previram que a chuva continuará em toda a região durante a semana. Chuvas fortes e inundações repentinas na região dos Himalaias mataram quase 100 pessoas em Agosto.

O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, elogiou ontem as autoridades locais pela retirada oportuna da população e disse que auxílio de emergência estava a ser fornecido aos afectados pelas inundações, de acordo com um comunicado do Governo.

A Índia alertou o Paquistão sobre possíveis inundações transfronteiriças através de canais diplomáticos, em vez da Comissão das Águas do Indo, que é o mecanismo permanente ao abrigo do Tratado das Águas do Indo, mediado pelo Banco Mundial em 1960.

Nova Deli suspendeu o trabalho da comissão após o assassinato de 26 turistas na Caxemira controlada pela Índia, em Abril, embora Islamabad insista que a Índia não pode rescindir unilateralmente o tratado. As enchentes provocadas pelas chuvas de monção mataram mais de 800 pessoas no Paquistão desde o final de Junho.

Cientistas afirmam que as alterações climáticas estão a intensificar as chuvas de monção no sul da Ásia, aumentando os receios de uma repetição do desastre climático de 2022, que atingiu um terço do Paquistão e matou 1.739 pessoas.

A Índia é o país com mais população do mundo, com mais de 1,4 mil milhões de habitantes, e o Paquistão o quinto, com mais de 255 milhões. A monção designa os ventos sazonais relacionados com a alternância entre as estações seca e das chuvas nas regiões costeiras tropicais e subtropicais.

De Junho a Setembro, as chuvas de monção ocorrem em países do sul da Ásia, como a Índia, Paquistão, Vietname, Tailândia, Camboja, Bangladesh e Laos, segundo o Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas norte-americano. De Dezembro a Fevereiro, as chuvas de monção deslocam-se para o sul do equador em direcção à Austrália, enquanto o sul da Ásia passa por condições de estação seca.

Air China | Desviado voo entre Londres e Pequim para a Sibéria devido a avaria

Um voo da Air China, que fazia a ligação entre Londres e Pequim, sofreu na terça-feira uma falha mecânica e fez uma aterragem alternativa no aeroporto russo de Nizhnevartovsk, indicou ontem a companhia aérea.

Na conta oficial do Weibo – uma rede social chinesa semelhante à X – a Air China declarou que o voo CA856 sofreu uma falha mecânica não especificada durante o percurso e efectuou uma aterragem alternativa de acordo com os procedimentos, após o que enviou outra aeronave para cobrir a restante viagem.

O serviço de localização de voos FlightAware mostra que o avião, um Boeing 777, aterrou no aeroporto de Nizhnevartovsk, no centro da Rússia, ao início da manhã de terça-feira.

De acordo com relatos citados pelo jornal chinês Southern Metropolis Daily, foram colocadas camas no aeródromo e distribuídas refeições aos passageiros. Cerca de 13 horas depois, os passageiros embarcaram num novo avião e seguiram para Pequim. A companhia aérea acrescentou que o segundo voo chegou ao aeroporto de Pequim ontem às 04:40.

EUA | Apoiantes de Trump criticam entrada de 600 mil alunos chineses

Depois de ter restringido significativamente a entrada de alunos estrangeiros nas universidades e de ter bloqueado matrículas em Harvard, Donald Tump troca as voltas aos seus apoiantes e anuncia a entrada do dobro de estudantes chineses no ensino norte-americano face a 2023-24

 

A promessa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de permitir a entrada de 600 mil alunos chineses nas universidades do país surpreendeu e motivou críticas de grande parte dos sectores conservadores que o apoiam.

O número citado por Trump – no contexto inesperado de um encontro na Casa Branca com o Presidente da Coreia do Sul na segunda-feira – representa mais do dobro do número de alunos chineses matriculados no ano lectivo de 2023-24 e nem a Presidência nem o Departamento de Estado responderam ontem a pedidos de esclarecimentos.

“O Presidente Xi gostaria que eu fosse à China. É uma relação muito importante. Como sabem, estamos a receber muito dinheiro da China por causa das tarifas e de outras coisas (…) Ouço tantas histórias de que ‘não vamos permitir a entrada dos alunos deles’, mas vamos permitir a entrada dos alunos deles. Vamos permitir. É muito importante — 600.000 alunos”, afirmou o Presidente norte-americano.

A duplicação do número de estudantes chineses representaria de facto uma inflexão do executivo Trump, que em seis meses aumentou restrições aos vistos de estudantes, bloqueou as matrículas de estrangeiros na prestigiada Universidade de Harvard e alargou os motivos para serem negados vistos a estudantes internacionais.

Em Maio, o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que iria revogar os vistos de estudantes ligados ao Partido Comunista Chinês (PCC) e aumentar restrições a novos candidatos.

Ontem, numa reunião de gabinete e sentado ao lado de Rubio, Trump disse sentir-se “honrado” por ter estudantes chineses no país e que estes ajudam as finanças das faculdades.

“Eu disse isto ao Presidente [chinês] Xi [Jinping]: ‘sentimo-nos honrados por ter os vossos alunos aqui’ (…) Agora, além disso, verificamos e temos cuidado, vemos quem está cá”, disse Trump.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China confirmou, entretanto, que Trump disse a Xi num telefonema em Junho que “os Estados Unidos adoram que os estudantes chineses venham estudar” para o país.

Finanças ao alto

No seu primeiro mandato, Trump proibiu a entrada de universitários chineses que frequentassem escolas com ligações militares.

A ideia de acolher mais estudantes chineses foi rapidamente rejeitada por alguns dos mais fervorosos apoiantes de Trump — desde a congressista Marjorie Taylor Greene ao ex-conselheiro presidencial Steve Bannon e à activista de extrema-direita Laura Loomer.

Bannon criticou ontem o anúncio, dizendo que “não deveria haver estudantes estrangeiros neste momento no país”.

Greene, uma das mais fervorosas apoiantes de Trump, questionou o argumento da importância destes alunos para o financiamento das universidades, defendendo que se 15 por cento destas fecharem por falta de chineses, é “porque estão a ser sustentadas pelo PCC” e como tal “devem falhar de qualquer maneira”.

O argumento de que 15 por cento das universidades norte-americanas fechariam sem estes estudantes estrangeiros foi invocado pelo secretário do Comércio, Howard Lutnik, na segunda-feira no canal conservador Fox News, onde defendeu que Trump está a adoptar uma “visão económica racional”.

A apresentadora Laura Ingraham, que havia questionado Lutnik sobre como é que tal mudança seria consistente com os princípios “America First” (“América em Primeiro Lugar”) de Trump, não se mostrou convencida com a resposta.

“Simplesmente não consigo compreender. São 600 mil vagas que os jovens americanos não vão conseguir”, disse Ingraham, cujos espectadores são na sua maioria eleitores do Partido Republicano.

Tem vindo a afirmar-se no país um consenso bipartidário de que as universidades não devem ajudar a formar os principais talentos do grande rival chinês em áreas críticas como a computação quântica, a inteligência artificial e a tecnologia aeroespacial.

O democrata Kurt Campbell, vice-secretário de Estado no governo de Joe Biden, disse à AP que gostaria de ver estudantes chineses nos EUA para estudar humanidades e ciências sociais, “não física de partículas”.

Qu Yuan e os Poetas da Última China: Entre Dragões, Jarros de Vinho e Pavilhões Enevoados

Qu Yuan e o Êxtase do Exílio

Há viagens que só a poesia permite, deslocações interiores que atravessam o tempo e o espaço e que iluminam zonas da nossa própria memória. Quando evocamos Qu Yuan (屈原), ministro e poeta do antigo estado de Chu, no século IV a.C., a imagem que se ergue diante de nós é a de um homem solitário caminhando à beira do rio Miluo, declamando versos impregnados de dor e inquietação, numa sucessão de passos que o conduziria inevitavelmente ao gesto extremo de se lançar às águas. A lenda atravessou mais de dois milénios, mas foi a palavra que lhe garantiu a imortalidade, inscrevendo a sua voz na textura mais profunda da literatura chinesa.

A história da poesia chinesa é, em grande medida, a história da sua resposta ao mundo em crise. De Qu Yuan, que canta o exílio como gesto ético e se lança ao rio, aos poetas Ming e Qing, que procuram reencontro com a tradição numa paisagem em ruínas, a poesia emerge como refúgio, resistência e reinvenção. Este ensaio percorre essa travessia — entre dragões e jarros de vinho — para mostrar como a linguagem literária permanece, mesmo nas épocas mais sombrias, um gesto de resgate da dignidade e da beleza.

Ilustrações de “Li Sao”

Em “Li Sao” (離騷, Encontro com o Sofrimento), a experiência de exílio e de abandono político transforma-se numa das mais intensas viagens espirituais da história literária mundial, onde a topografia interior do poeta se confunde com a geografia mítica do texto. O seu lamento não é apenas pessoal: nele ecoa a tensão entre a ética individual e a decadência coletiva, a tentativa de salvar uma pátria pela pureza da linguagem. O poema, longo e metamórfico, faz da imaginação um território de resistência: Qu Yuan veste orquídeas como se fossem armaduras, colhe plantas sagradas para ler nelas o destino, monta dragões e convoca fénixes para o acompanharem. Ler Li Sao significa aceitar o convite para habitar um espaço liminar onde mito e memória se refletem mutuamente, um território onde o íntimo e o cósmico se confundem. As antigas ilustrações do “Li Sao Tu” (離騷圖), gravadas por Xiao Yuncong no início da dinastia Qing, prolongam uma conhecida travessia da poesia chinesa, entre a palavra e a imagem. Nelas, o poeta aparece imerso em paisagens enevoadas, rodeado de rios, montanhas, espíritos, dragões e flores; cada traço de tinta parece responder ao ritmo da respiração do poema, não como simples complemento visual, mas como extensão da própria experiência poética. A gravura confere corpo ao indizível, cristalizando em matéria visível a errância do espírito que o texto convoca.
Talvez seja essa a razão pela qual, mais de dois mil anos depois, o nome de Qu Yuan continua a ser invocado todos os anos no Festival do Barco-Dragão (Duanwu Jie 端午節). Nos rios da China, milhares de barcos cruzam as águas, os zòngzi são preparados e partilhados, as famílias reúnem-se para lembrar o poeta que escolheu a palavra antes do silêncio. O rito perpetua a memória, o gesto converte-se em linguagem, e a poesia continua a atravessar o tempo, convocando-nos para uma viagem onde o humano se reconhece no universal, onde a ferida da perda se transforma na beleza da permanência.

駕八龍之婉婉兮,載雲旗之委蛇。
忽臨睨夫舊鄉兮,僕夫悲余馬懷。

“Conduzo os oito dragões com suave elegância,
As bandeiras de nuvem ondulam como serpentes em dança.
Subitamente vislumbro a minha terra ao longe,
E o cocheiro entristece, e o cavalo suspira saudade.” (tradução minha)

Este excerto da extensa obra, constitui um momento de inflexão no percurso visionário do eu poético, momento esse em que, no decurso de uma ascensão guiada por forças celestes e envolta numa imagética de natureza intensamente mítica, o olhar se volta — de forma súbita — para o passado, ou melhor, para a terra de origem, a pátria perdida, lugar simultaneamente concreto e simbólico, que serve de ancoradouro à identidade do sujeito lírico mesmo no seio de uma viagem que, de tão elevada, ameaça romper os laços com o mundo dos homens. A abertura da passagem — 駕八龍之婉婉兮 — onde se afirma a condução de oito dragões com gestualidade elegante, não deve ser lida apenas como uma representação da elevação física ou espiritual do poeta, mas antes como a inscrição do sujeito numa matriz simbólica que remete para práticas xamânicas de travessia entre mundos, muito características da tradição do Estado de Chu e das suas práticas rituais arcaicas, onde o número oito, associado às direcções cardeais e ao equilíbrio cósmico, e a figura do dragão, criatura liminar por excelência, projectam o eu poético para uma dimensão outra, situada para além da realidade empírica e submetida a regras e formas de percepção distintas da lógica ordinária.
Ao conectar esta deslocação com o verso seguinte — 載雲旗之委蛇 — onde as “bandeiras de nuvem” se movem em ondulação serpenteante, o texto acentua o carácter cerimonial e quase processional da travessia, acrescentando-lhe um elemento de movimento não-linear, onde a fluidez e a ausência de rigidez direccional sugerem que o percurso do poeta não se rege por uma teleologia fechada, mas antes por uma forma de deslocamento intuitivo, análogo à dança ritual ou ao desdobramento interno de uma consciência em estado de revelação, em que os elementos materiais — a carruagem, os dragões, as bandeiras — deixam de funcionar como meros instrumentos e se tornam em símbolos plenos, dotados de agência poética e densidade metafórica.

É precisamente no seio dessa coreografia cósmica, onde o movimento parece absoluto e o desprendimento da matéria quase consumado, que ocorre a ruptura descrita pelo terceiro verso — 忽臨睨夫舊鄉兮 — no qual o verbo “olhar” (睨), modificado pelo advérbio “subitamente” (忽), devolve ao poema uma dimensão de interioridade que até então se encontrava dissolvida no ambiente grandioso da travessia. Ao voltar o olhar para a “terra natal” (舊鄉), o sujeito lírico interrompe, ainda que momentaneamente, a sua progressão ascendente, reintegrando no espaço visionário a memória de uma origem que é, ao mesmo tempo, geográfica, afectiva e política. Esse gesto de retorno do olhar não deve ser interpretado como nostalgia sentimentalizante, mas como afirmação da impossibilidade de uma separação total entre a trajetória espiritual do poeta e o mundo concreto onde a sua integridade moral foi ferida, sendo esse mesmo mundo — degradado, corrupto, mas irrenunciável — que estrutura a tensão central de Li Sao.

O quarto e último verso — 僕夫悲余馬懷 — em que se descreve a comoção do cocheiro e a saudade do cavalo, completa o quadro ao inscrever no acompanhamento do poeta uma dimensão de eco emocional, na qual as figuras auxiliares, tradicionalmente desprovidas de agência interior, se vêem afectadas pela inflexão melancólica do sujeito principal, como se a sua emoção transbordasse para o mundo que o rodeia, contaminando a própria matéria do percurso. Esta projecção da interioridade sobre os elementos do entorno não constitui um mero recurso poético de dramatização, mas antes uma estratégia profundamente enraizada na concepção cosmológica subjacente ao Chuci, segundo a qual o microcosmo emocional do indivíduo se encontra em permanente correspondência com a ordem do universo, e onde não há verdadeira separação entre sujeito e ambiente, entre intenção e manifestação.

A obra Li Sao é considerada tão central que, até hoje, é recitada no Festival do Barco-Dragão (端午節, Duanwu Jie), em memória do trágico desfecho da vida de Qu Yuan, cuja morte lendária está na origem do Festival do Barco-Dragão. O gesto de lançar bolinhos de arroz ao rio, segundo a tradição, terá surgido como forma de alimentar o espírito do poeta — ou de distrair os peixes para que não devorassem o seu corpo.

粽子 (zòngzi) é um bolinho tradicional de arroz glutinoso, geralmente envolto em folhas de bambu, típico do Festival do Barco-Dragão (Duanwu Jie 端午节).

Dois mil anos mais tarde, o tom da poesia chinesa sofre uma transformação profunda, embora a memória de Qu Yuan continue a ecoar no subtexto de cada verso. A travessia dos séculos conduz-nos à era das dinastias Ming (1368–1644) e Qing (1644–1911), um tempo em que a poesia abandona o lamento cósmico e visionário de Chu para se tornar, cada vez mais, um território de debates estéticos e de exercícios de filiação literária.

Ming e Qing: A Poesia como Reflexão

Se em Qu Yuan a poesia é uma fuga visionária perante a corrupção política, nos poetas da era Ming o gesto criativo volta-se para dentro: a crise já não é apenas moral, mas literária. O desafio agora é outro — reinventar a linguagem sem trair a herança.

Em Li Sao, o poeta convocava dragões e fénixes para narrar a impossibilidade de viver entre homens corruptos. No entanto, os poetas da China tardia encontravam-se diante de outro dilema: como sustentar uma tradição de mais de mil anos sem resvalar para a repetição, como reinventar a voz poética num universo já saturado de símbolos, formas e cânones? O gesto criativo, então, volta-se para dentro e a poesia torna-se consciente de si mesma, atravessada por um diálogo constante com o passado, como se cada novo verso nascesse à sombra de todos os que o precederam.

Nesse cenário emerge a figura de Li Panlong (李攀龙, 1514–1570), cuja escrita se constrói entre o peso da herança e a necessidade de renovação. Conhecido pelo nome de cortesia (zi) Yulín (于鱗) e pelo nome literário (hào) Cāngmíng (滄溟), nasceu em Lìchéng (歷城), na província de Shandong, e pertenceu a um grupo de intelectuais que procuravam restaurar a grandeza perdida dos Tang.

No centro da poesia Ming, um dos debates mais intensos da história literária chinesa ganha forma: de um lado, os “Sete Mestres Anteriores” (Qián Qīzi 前七子), grupo de poetas liderado por Li Mengyang e He Jingming, que defendia um regresso deliberado aos modelos da dinastia Tang; do outro, os “Sete Mestres Posteriores” (Hòu Qīzi 後七子), representados por Li Panlong e Wang Shizhen, que, embora igualmente devotos da tradição, procuravam uma abordagem mais livre e criativa, onde a imitação não fosse simples cópia, mas transformação. Este confronto não se resume a escolas rivais; nele desenha-se um dilema maior, partilhado por todos os poetas da Última China: como escrever sob a sombra de um cânone monumental sem se perder nele, como fazer renascer uma voz autêntica num território saturado de vozes.
Os Sete Mestres Anteriores viam na poesia Tang, sobretudo na obra de Du Fu, o modelo supremo de perfeição formal e moral. Acreditavam que a revitalização da cultura passava pelo retorno ao “espírito antigo” (fugu 复古), uma tentativa de recuperar a força ética e estética que os Tang haviam cristalizado. A palavra era concebida como herança, e o poeta, como guardião desse templo. Nos versos de Li Mengyang, por exemplo, a ambição épica de Du Fu reaparece, mas num tom já atravessado por um pressentimento de perda, como se a grandeza evocada estivesse sempre um pouco fora do alcance, mergulhada na bruma da memória coletiva.
Os Sete Mestres Posteriores, entre os quais Li Panlong se distingue, não rejeitavam esse diálogo com o passado, mas procuravam na repetição um gesto criativo, como quem raspa uma camada antiga de tinta para descobrir o brilho escondido do traço original. Na sua leitura, imitar os clássicos não significava repetir-lhes a forma, mas prolongar-lhes a energia vital. Essa tensão entre reverência e invenção produz uma poesia de grande consciência histórica, na qual cada palavra parece pesar com a memória de séculos e, ao mesmo tempo, abrir-se à possibilidade de um outro futuro.
Esta viragem estética traduz também uma transformação mais profunda na relação da poesia com o mundo. Se em Qu Yuan o gesto poético coincidia com o gesto existencial — vestir orquídeas, montar dragões, enfrentar deuses e monstros, até encontrar no rio Miluo a última resposta — , nos poetas Ming a poesia torna-se, pela primeira vez, um ato autorreflexivo. Já não é apenas o espelho da paisagem ou da política, mas uma meditação sobre si mesma: o poema escreve-se enquanto pensa o próprio ato de escrever, como se, ao olhar para trás, cada poeta descobrisse não apenas a grandeza dos antigos, mas também a consciência de que a linguagem nunca pode regressar incólume ao ponto de origem.

Com o colapso dinástico e a invasão estrangeira, a melancolia da poesia Qing não é apenas uma nostalgia estética, mas uma resposta ao deslocamento histórico. A tradição poética torna-se um espelho enevoado onde se busca, uma vez mais, sentido no meio da perda.

É neste espaço de deslocação que se inscrevem também os poetas Qing, herdeiros e, de certo modo, críticos de todo o projeto Ming. Sob o peso do colapso dinástico e da invasão manchu, a poesia Qing carrega um tom de melancolia ainda mais acentuado, como se o passado fosse uma paisagem enevoada vista de longe, intocável e ao mesmo tempo imprescindível. Os pavilhões enevoados do título tornam-se, aqui, símbolo de uma estética do intervalo: o que se vê é sempre filtrado pela distância, pela perda e pela consciência da fragilidade histórica.

黃河水繞漢邊牆,
河上秋風雁幾行。
黃塵古渡迷飛輓,
白月橫空冷戰場。

“O Rio Amarelo serpenteia pelas muralhas da fronteira Han,
Sobre o rio, voam gansos outonais em fileiras vãs.
No vau antigo, a poeira dourada turva as carroças em fuga / Enquanto a lua paira pálida no céu frio como um campo de batalha.”

(tradução minha)

Aqui já não há dragões nem fénixes, mas poeira e lua fria. O épico converte-se em paisagem histórica, como se o tempo tivesse ensinado o poeta a olhar não para os céus, mas para as ruínas no solo.

Entre os seus contemporâneos estava Li Mengyang (李夢陽), um dos célebres “Sete Mestres Anteriores” (Qián Qīzi 前七子), que defendia um regresso deliberado aos modelos clássicos, vendo em Du Fu uma fonte inesgotável de inspiração. No seu poema “O olhar do outono” (秋望), a melancolia projeta-se nos sinais da passagem do tempo e da decadência histórica. Sentem-se ainda os ecos da grandiosidade épica que animavam os antigos; contudo, essa ressonância chega já filtrada por uma sensibilidade diferente, mais consciente da fragilidade humana e da precariedade do presente. Ao contrário de Qu Yuan, cuja rebeldia culminava no mergulho absoluto, os poetas dos Ming e Qing parecem escrever a partir de um equilíbrio mais subtil entre reverência e desencanto, um lugar onde a nostalgia se converte em forma e a própria poesia se transforma num diálogo com a sua própria memória:

一瓶一笠一條蓑,
善操吳音與楚歌。
野鶴神清因骨老,
鴛鴦頭白為情多。

“Um jarro de vinho, um chapéu de bambu, uma capa de palha,
Domino as melodias de Wu e os cantos de Chu.
As garças selvagens mantêm o espírito límpido, pois os ossos envelheceram,
Os patos-mandarins embranqueceram juntos, de tanto amor vivido.”

(tradução minha)

Aqui a poesia já não é exílio, mas prazer quotidiano. Qu Yuan partia para os confins do mundo em busca de justiça, Yuan Hongdao, por sua vez, encontra na leveza do instante e no canto dos pássaros a verdade poética.

Não podemos esquecer Yuan Mei (袁枚), do século XVIII, que defendia a espontaneidade e a sensibilidade pessoal contra o formalismo excessivo. Para ele, a poesia deveria nascer da emoção genuína e não da obediência cega à tradição. Há quem veja nele um espírito moderno, quase romântico, avant la lettre.

O contraste é claro: Qu Yuan é a poesia como viagem visionária, enquanto os poetas Ming-Qing são a poesia como reflexão estilística. Um foge porque não há lugar para ele; os outros encontram lugar na própria tradição e nela jogam, reinventando-a. Ambos, no fundo, lidam com a mesma inquietação: o que fazer quando o mundo não basta?

Para Qu Yuan, a resposta foi o voo mítico. Para Yuan Hongdao, foi o vinho, o canto, a ironia. Para Li Mengyang, foi olhar as ruínas da guerra com olhos de outono. A poesia, em todos os casos, é o espaço onde o humano se mede com o tempo, seja subindo ao céu, seja bebendo junto ao rio Qinhuai.

Hoje, ao lermos estes versos, sentimos tanto a vertigem do céu de Qu Yuan como a melancolia dos pavilhões enevoados dos Ming e Qing. Tal como num mundo que também se sente em crise — política, climática, existencial — , precisemos de ambas as respostas: a fuga visionária que nos lembra que ainda podemos sonhar dragões, e a leveza quotidiana que nos lembra que também basta um jarro de vinho e uma canção para resistir.

Notas

O Festival do Barco-Dragão (端午節, Duanwujie)

Celebrado no quinto dia do quinto mês lunar, este festival lembra a morte de Qu Yuan. Segundo a lenda, o povo da região lançou bolinhos de arroz (粽子, zongzi) ao rio para alimentar o espírito do poeta ou distrair os peixes do seu corpo. Hoje, além dos bolinhos, a corrida de barcos em forma de dragão mantém viva a memória do poeta-exilado que se tornou herói cultural.

Shenyun (神韻) — A “Ressonância Espiritual”

Durante os Ming e Qing, críticos como Wang Shizhen defenderam que um bom poema devia ter shenyun, uma qualidade imaterial difícil de definir: algo como o “sopro espiritual” ou a “atmosfera da alma” que ressoa para além das palavras. Não era apenas técnica ou estilo, mas uma vibração que fazia o poema transcender. Poderíamos chamar-lhe, numa tradução livre, a música invisível da poesia.

A Escola de Gong’an (公安派)

Fundada pelos irmãos Yuan (Yuan Hongdao, Yuan Zongdao e Yuan Zhongdao), a Escola de Gong’an reagiu contra o formalismo clássico e defendeu a expressão individual, a linguagem simples e a experiência pessoal como fonte da poesia. Yuan Hongdao, com os seus versos sobre vinho, chapéus de palha e aves selvagens, é talvez o melhor exemplo dessa busca de autenticidade.

A Lua de Outono e o Coração da China

Em inúmeros poemas chineses — como os de Li Mengyang — a lua de outono surge como símbolo de melancolia, nostalgia e contemplação. Não é apenas luz, mas memória: a lua cheia de outono coincide com o Festival do Meio-Outono (中秋節), quando famílias separadas olham o mesmo luar e sentem-se reunidas à distância. Ler estes versos é perceber como a poesia se entrelaça com rituais que ainda hoje sobrevivem.

A Longevidade de Qu Yuan

Curiosidade: embora Qu Yuan tenha vivido no século IV a.C., a sua fama nunca diminuiu. No século XX, o poeta foi recuperado como símbolo nacionalista na China moderna, e hoje é celebrado como o primeiro grande poeta chinês “da consciência individual”. O seu Li Sao é, em certo sentido, um dos mais antigos poemas autobiográficos do mundo.

Entre dragões e jarros de vinho, Qu Yuan e os poetas dos Ming e Qing oferecem-nos duas faces de uma mesma verdade: a poesia é refúgio e resistência, exílio e reencontro, fuga visionária e melancolia serena. Lida hoje, a sua força não se esgota em curiosidade histórica: continua a interpelar-nos, a lembrar que escrever poesia é sempre tentar transformar a insuficiência do mundo em beleza duradoura.

Referências

Guo, M. (1936). 楚辞简注 [Anotações breves sobre o “Chuci”]. Pequim: Renmin Wenxue Chubanshe.

Hu, S. (1932). 明代文学史 [História da literatura da dinastia Ming]. Xangai: Shangwu Yinshuguan.

Li, S. (Ed.). (2002). 中国古典文学理论丛稿·诗论卷 [Ensaios sobre a teoria da literatura clássica chinesa: volume da poesia]. Pequim: Peking University Press.

Wang, S. (s.d.). 诗馀山房集 [Colecção da Residência Montanhosa da Poesia]. Edição não datada, diversas editoras.

Wang, L. (Ed.). (2005). 袁宏道诗选(明代文学丛书) [Poemas escolhidos de Yuan Hongdao (Colecção de Literatura Ming)]. Pequim: Shangwu Yinshuguan.

Yuan, H. (s.d.). 云间供况集 [Colecção das obras completas de Yuan Hongdao]. Pequim: Zhonghua Shuju.

Creative Macau celebra 22.º aniversário com nova exposição

É hoje inaugurada na galeria da Creative Macau uma nova mostra que visa celebrar o 22.º aniversário da entidade, e que se intitula, simplesmente, “22”. Na mostra, que fica patente até ao dia 27 de Setembro deste ano, revelam-se trabalhos de artistas locais ou de nomes ligados a anteriores projectos da Creative Macau, como é o caso de Alice Costa (LiLi), Angel Chan, Coco Cheong Ut Man, Cristina Lu, David Chio, Denis Murrell, Elisa Vilaça, Eloi Scarva, Gigi Lee, Irene Chio, Joan Lam, Justin Chiang, Justin Ung, Ken C.I. Chau, Lei Sao I, Leong Leng, Li Li, Liesl Lee, Lúcia Lemos, m.chow, Maria João Das, mavin zin, Ng Cheok Ieng e Yaya Vai.

Nesta exposição colectiva faz-se uma referência ao conceito filosófico de tautologia, que corresponde a um vício de linguagem que leva à repetição desnecessária de termos e expressões de forma não intencional. Assim, as obras expostas na Creative Macau contêm várias formas de expressão da “linguagem do dia-a-dia”, quando são usadas “tautologias de forma não intencional”.

Neste caso, em que se recorre ao uso da tautologia no campo das artes, tal torna-se “uma técnica expressiva e inspiradora”, onde se exploram “as possibilidades” dessa repetição da linguagem no sentido de perceber se “é uma limitação ou libertação”, ou ainda “uma repetição sem sentido ou uma autoafirmação com significados ocultos”.

Segundo uma nota da Creative Macau, esta exposição “reúne artistas que utilizaram diversos meios para apresentar a ‘tautologia’, desafiando a novidade da linguagem e da imagem, e inspirando múltiplas perspectivas”. Pretende-se, com as obras expostas, “encontrar profundidade dentro da repetição” e provocar um “repensar da essência do ‘significado'”, levando o público a descobrir-se na “simplicidade”.

Conceito filosófico

Na tautologia há enunciados repetidos, os mesmos conceitos ditos de forma diferente e com palavras também elas diferentes. Há, na lógica, o símbolo “⊤” como representação “de uma proposição verdadeira que apenas depende da coerência interna e que é independente de condições externas”. Parece, à partida, que esses enunciados repetidos são vazios, mas na verdade “contêm uma ‘variante na repetição'”. No fundo, estas obras de arte pretendem responder à ideia ou possibilidade de o “significado poder transformar-se em diferentes contextos”.

Segundo os organizadores de “22”, “a apresentação repetida de elementos na arte desafia as nossas expectativas de ‘significado’, levando-nos a questionar se a compreensão é sempre construída a partir de símbolos e linguagens repetidos”. “Talvez, apenas por meio da repetição, consigamos perceber diferenças subtis”, é referido.

Palestra | Xu Bing, artista contemporâneo chinês, protagoniza conferência

O Instituto Cultural vai realizar, no próximo mês, uma palestra em que a figura principal é o artista chinês de arte contemporânea Xu Bing. A conferência, com o nome “A era sem coordenadas já chegou!” integra-se na iniciativa “Palestra sobre Estética”, integrada no “Mês da Promoção Cultural”

 

Xu Bing, um dos mais importantes e reconhecidos artistas chineses contemporâneos, vai estar em Macau no dia 7 de Setembro para apresentar a palestra “A era sem coordenadas já chegou!”. Trata-se de uma iniciativa do Instituto Cultural (IC) intitulada “Palestra sobre Estética”, sendo “uma das principais actividades” do “Mês da Promoção Cultural”.

A conferência decorre às 15h na Sala de Conferências do Centro Cultural de Macau, onde Xu Bing irá “partilhar a evolução do seu pensamento nos últimos anos, reflectir e julgar em conjunto com o público de Macau”, nomeadamente sobre “as possibilidades da arte sob a luz das novas tecnologias, através da sua animação em stop motion ‘Lago Satélite'”, que é o primeiro projecto artístico filmado no Espaço. A obra está exposta na Bienal Internacional de Arte de Macau deste ano.

O artista é descrito como alguém que se tem dedicado, nos últimos anos, “a alargar os limites da arte com as suas obras, e é amplamente reconhecido como um dos principais artistas conceptuais nas áreas da linguística e semiótica da actualidade”.

A palestra desta vez será conduzida em mandarim, com tradução simultânea para português e inglês, sendo adequada para participantes com idade igual ou superior a 15 anos, não havendo lugares marcados. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas na plataforma da “Conta Única de Macau”.

Esta não é a primeira vez que Xu Bing vem ao território mostrar a sua arte e falar do seu trabalho. Em 2017 foi inaugurada, no Museu de Arte de Macau, a mostra “A Linguagem e a Arte de Xu Bing”, naquela que foi a primeira exposição individual do artista em Macau. Foram apresentadas 30 obras “importantes” do artista, nomeadamente “Livro do Céu” e “Livro da Terra”.

Longa carreira

Xu Bing nasceu em Chongqing, China, em 1955, mas cresceu em Pequim. A sua ligação às artes começou em 1977, quando entrou no Departamento de Gravura da Academia Central de Belas Artes de Pequim, tendo aí concluído os estudos em 1981. Depois, passou a dar aulas nesse departamento. Em 1987 Xu Bing obteve o título de mestre pela mesma instituição.

Em reconhecimento às suas realizações, foi convidado para os EUA, em 1990, como artista honorário, tendo recebido, em 1999, uma distinção, a MacArthur Fellowship, o maior prémio de talento criativo dos EUA. Em 2004, recebeu o primeiro Prémio Artes Mundi, enquanto que em 2018 foi galardoado com o Prémio Xu Bei Hong – Criação Artística da CAFA.

Xu Bing voltou à China em 2007, tendo assumido vários cargos de liderança na Academia Central de Belas Artes, incluindo os de vice-presidente, professor e orientador de doutorado. Desde 2014 que actua como presidente do Comité Académico da instituição. Actualmente, divide seu tempo entre Pequim e Nova Iorque, onde vive e trabalha, sendo professor na Academia Central de Belas-Artes de Pequim (CAFA).

É, portanto, longa a carreira de Xu Bing, que tem obras expostas em diversas instituições artísticas, incluindo o Museu Nacional de Arte da China, o Museu Metropolitano de Arte, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, o Museu Solomon R. Guggenheim e o Museu Britânico, integrando ainda múltiplas colecções.

Ensino | Aulas regressam a cerca de 80% das escolas na segunda-feira

O Governo montou uma operação conjunta para flexibilizar o trânsito e os transportes públicos tendo em conta que na próxima segunda-feira cerca de 80 por cento das escolas e jardins de infância de Macau vão retomar as aulas. Segundo um comunicado conjunto dos serviços de educação, trânsito e da polícia, foi pedido aos estabelecimentos de ensino um reforço de pessoal para assistir os alunos na entrada para a escola, evitando a formação de multidões.

Em termos de transportes, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego coordenou com as duas operadoras de autocarros público e a sociedade que gere o Metro Ligeiro o reforço de frequências durante as horas de ponta. Os autocarros vão aumentar as frequências entre 10 a 15 por cento e será destacado pessoal para manter a ordem nas paragens e gerir o fluxo de passageiros.

Por outro lado, o Corpo de Polícia de Segurança Pública terá mais agentes para patrulhar as condições das estradas nas proximidades das escolas e combater o estacionamento ilegal. Durante as horas de ponta de transporte escolar, serão destacados agentes para orientar o trânsito nos cruzamentos e pontos mais movimentados perto de escolas.

Além disso, na primeira semana de aulas, alguns lugares de estacionamento serão convertidos em zonas que facilitem a tomada e largada de pessoas para facilitar a vida aos pais.

O Governo também vincou que as principais obras rodoviárias foram concluídas antes do início das aulas e que as passagens de peões e passeios ao redor de muitas escolas foram renovadas durante as férias de Verão.

Biblioteca Central | Aberto concurso público para construir edifício

O Governo anunciou ontem a abertura do concurso público para a construção da superestrutura da Biblioteca Central na Praça do Tap Seac. A empresa adjudicatária terá cerca de dois anos e meio para concluir a empreitada. Os concorrentes têm de entregar as propostas até 8 de Outubro

 

Ontem foi dado mais um passo para tornar a nova Biblioteca Central uma realidade, com a abertura do concurso público para a construção da superestrutura do edifício que irá nascer no lote do Hotel Estoril.

O director dos Serviços de Obras Públicas (DSOP), Lam Wai Hou, assinou o anúncio, publicado ontem no Boletim Oficial, que estabelece os parâmetros do concurso público para a empreitada de construção, que não tem preço base.

O prazo máximo global para executar a obra foi fixado em 620 dias de trabalho, contados a partir da consignação da obra, ou seja, um pouco mais de dois anos e meio até à conclusão do projecto. Contudo, a DSOP estabeleceu como meta de execução obrigatória que a estrutura da cobertura do edifício esteja concluída no prazo máximo de 300 dias de trabalho.

As empresas interessadas têm até às 17h de 8 de Outubro para apresentar propostas, mediante o pagamento de uma caução provisória no valor de 7,8 milhões de patacas em “em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais”, é indicado no anúncio. A DSOP fixou a caução definitiva em 5 por cento do preço total da ajudicação para garantia do contrato.

Pataca prioritária

Em relação aos critérios para a adjudicação, o preço da empreitada terá um peso de 50 por cento, o prazo de execução 15 por cento, a experiência e qualidade em obras 20 por cento, o programa de execução 10 por cento e, finalmente, o programa dos recursos humanos e proporção de trabalhadores residentes em cargos de gestão terá um peso de apenas 5 por cento.

Em caso de empate, “a adjudicação é efectuada ao concorrente com a proposta de preço mais baixo”. Recorde-se que a nova Biblioteca Central de Macau ficará no terreno entre o cruzamento da Avenida de Sidónio Pais com a Rua Filipe O’Costa, e ocupa uma área de terreno de cerca de 2.960 metros quadrados.

De acordo com o projecto, a biblioteca terá quatro pisos de altura, com cave para fins de armazenamento, uma área bruta de construção de cerca de 13.800 metros quadrados. O rés-do-chão e os pisos superiores dispõem de sala de auditório, de zonas de leitura de jornais e revistas, de bibliotecas para adultos, de biblioteca para crianças, de biblioteca para jovens, de salas de reuniões, entre outros espaços.

SMG | Depressão tropical pode passar a menos de 800 km

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos indicaram ontem que a “área de baixa pressão perto de Luzon, nas Filipinas”, irá evoluir “para uma depressão tropical e entrará na área a menos de 800 quilómetros de Macau, nos próximos dias”.

De acordo com as últimas previsões, a área de baixa pressão irá mover-se em direcção à área marítima perto da Ilha de Hainan.

Porém, os SMG mantêm a previsão de que a partir de hoje “o tempo em Macau vai tornar-se gradualmente nublado, com a probabilidade de ocorrência de chuva intensa, acompanhada de trovoadas, e vento por vezes forte. Ainda sem adiantar se iriam emitir alerta de tempestade tropical, os SMG apelaram à atenção da população. O Observatório de Hong Kong reservava ontem a possibilidade de emitir o sinal 1 de alerta hoje de manhã.

Macau Legend | Prejuízo dispara com fecho de casino-satélite

A Macau Legend avisou que o prejuízo da operadora de jogo na primeira metade de 2025 deverá disparar, sobretudo devido ao encerramento já anunciado do casino-satélite Legend Palace, no final do ano. A empresa previu um prejuízo de 1,42 mil milhões de dólares de Hong Kong até Julho, mais de 12 vezes superior ao registado no mesmo período de 2024, de acordo com um comunicado divulgado na terça-feira.

Na nota, enviada à bolsa de valores de Hong Kong, a Macau Legend apontou para uma queda de 1,29 mil milhões de dólares de Hong Kong no valor do empreendimento Doca dos Pescadores. Isto após, em Junho, a concessionária de jogo SJM ter decidido terminar, até 31 de Dezembro, a exploração de sete casinos-satélite, incluindo o Legend Palace, situado na Doca dos Pescadores.

Dos casinos-satélite a operar em Macau, nove pertencem à SJM, um à Galaxy e outro à Melco, que tem ainda seis clubes Mocha – salas de máquinas de jogo. A SJM decidiu tentar a aquisição da propriedade dos hotéis onde se localizam dois casinos-satélite – Ponte 16 e Casino Royal Arc – e pedir às autoridades para assumir a gestão directa dos espaços.

FAOM | Revelada quebra de direitos em trabalhos administrativos

Um inquérito realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau revela que 30 por cento dos funcionários administrativos inquiridos dizem ter sofrido quebras de direitos laborais, como a falha de pagamento de compensações por trabalho extra realizado. Mais de 80 por cento, diz desconhecer a lei laboral

 

A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) apresentou ontem os resultados de um inquérito que mostra a quebra de direitos laborais na área do trabalho administrativo e de escritório. Em conferência de imprensa, foi revelado que 30 por cento dos inquiridos dizem ter enfrentado uma quebra nos direitos laborais, nomeadamente por não terem recebido as devidas compensações por trabalho extra realizado.

A deputada Ella Lei, ligada à FAOM, referiu ainda que apenas 27 por cento dos entrevistados está optimista em relação às perspectivas de carreira, referindo que existe uma ligação com a substituição dos trabalhadores locais por trabalhadores não residentes (TNR). A deputada citou dados do Governo relativos a Junho deste ano, quando existiam 900 TNR a desempenhar trabalhos de escritório na área financeira, sendo que mais de metade dessas vagas não eram qualificadas.

Neste contexto, Ella Lei volta a pedir ao Governo que dê prioridade aos locais, devendo ser elaborados, na sua opinião, indicadores sobre a percentagem de residentes e TNR a preencherem o sector financeiro e também em posições administrativas e de escritório. Devem ainda ser disponibilizadas mais acções de formação e incentivos a empresas, aconselhou.

“O Governo tem regulado que as operadoras de jogo têm de ter mais de 85 por cento dos cargos de chefia de médio e alto nível ocupados por residentes. Pensamos que também os empregos de escritório de todos os sectores devem ter definida uma proporção de residentes recrutados, bem como um sistema de promoção laboral para os empregados locais”, defendeu.

Em consonância com a quebra de direitos, uma grande maioria dos entrevistados, 83 por cento, assume ter pouco ou nenhum conhecimento da lei laboral em vigor. Para Ella Lei, este resultado “mostra o quão é importante reforçar os direitos laborais e melhorar a consciencialização dos residentes quanto à legislação”.

A deputada sugeriu que o Governo continue a melhorar uma série de políticas laborais como a revisão da lei das relações de trabalho, o aumento do número de dias de licença de maternidade, o aumento das férias anuais e a melhoria do sistema para pedir o pagamento de salários em atraso.

Ella Lei sugeriu ainda o aperfeiçoamento de instruções para assegurar a segurança de empregados e a retomada de trabalho sob clima extremo.

Pouco apoio mental

Outro ponto abordado no inquérito, diz respeito à saúde mental. Segundo referiu o vice-presidente da FAOM, Leong Pou U, mais de 40 por cento dos entrevistados disseram sentir stress devido ao enorme volume de trabalho a realizar num calendário apertado, lamentando-se também da falta de oportunidades de progressão na carreira.

Além disso, apenas 18 por cento dos inquiridos diz ter recebido apoio psicológico disponibilizado pela empresa, o que demonstra, na opinião deste responsável, que é urgente melhorar o sistema de apoio à saúde mental proporcionado pelas empresas.

Ng Chi Peng, presidente da Associação Geral do Pessoal Administrativo de Macau, apontou que cabe ao Governo, empresas e associações resolverem, em conjunto, os problemas e desafios existentes nos empregos de escritório. O responsável apontou que cerca de um quarto dos entrevistados considerou que o salário não correspondente ao volume de trabalho desenvolvido, sendo que cerca de 19 por cento dos entrevistados disseram não estar satisfeitos com os benefícios recebidos.

O inquérito foi realizado entre Janeiro e Agosto deste ano pela FAOM em parceria com a Associação Geral do Pessoal Administrativo de Macau, tendo sido recebidos 1510 inquéritos válidos.

Hengqin | Nomeados novos dirigentes após caso de corrupção

O Governo de Macau anunciou ontem a nomeação de cinco dirigentes para a vizinha zona económica especial de Hengqin, três meses depois de a China anunciar um caso de corrupção ligado ao desenvolvimento da Ilha da Montanha. Nem o Governo da RAEM, nem o Comissariado contra a Corrupção, quiseram comentar o caso

 

De acordo com um despacho do chefe do Executivo, Sam Hou Fai, publicado no Boletim Oficial, entre as novas nomeações está Ng In Cheong, que será a nova subdirectora da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau, que faz parte da área especial de Hengqin (Ilha da Montanha). Ng era até agora chefe do departamento dos Assuntos do Direito Internacional e Direito Inter-Regional, sob a tutela da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça.

A dirigente vai substituir Su Kun, que pediu a demissão em 15 de Maio “por motivos pessoais”, de acordo com um comunicado, divulgado pelas autoridades de Macau, que continha apenas uma frase. Su era um dos seis coordenadores-adjuntos da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau.

Segundo o portal do Governo de Macau, esta comissão “assume as funções de promoção da divulgação a nível internacional, captação de negócios e investimentos, introdução de indústrias, exploração de terrenos, construção de projectos específicos e gestão dos assuntos respeitantes à vida da população”.

Também a 15 de Maio, o gabinete do secretário para a Economia e Finanças, Anton Tai Kin Ip, disse que Su Kun ainda pediu a demissão como assessor do secretário, pedido que foi aprovado.

Silêncio ensurdecedor

A demissão de Su Kun surgiu um dia depois da comissão anticorrupção da vizinha província de Guangdong anunciar o início de uma investigação ao antigo presidente da empresa estatal responsável pelo desenvolvimento da zona especial de Hengqin.

Num comunicado, a Comissão Provincial de Inspecção Disciplinar de Guangdong revela que o antigo presidente do grupo Zhuhai Da Hengqin, Hu Jia, “é suspeito de graves violações disciplinares”, uma frase que normalmente se refere a casos de corrupção.

A nota, também com apenas uma frase, diz que Hu está a ser alvo de “revisão e investigação disciplinar” por parte da Comissão Municipal de Inspeção e Supervisão Disciplinar de Zhuhai, cidade à qual pertence Hengqin.

Questionado pela Lusa sobre se a demissão de Su Kun está relacionada com a investigação por corrupção contra Hu Jia, o gabinete do secretário Anton Tai recusou mais esclarecimentos. A Lusa perguntou também à Comissão Contra a Corrupção se tinha recebido alguma queixa ou se estava a investigar algum caso a envolver Su Kun, mas a agência disse não ter qualquer comentário.

O grupo Zhuhai Da Hengqin foi criado em 2009 pelo município de Zhuhai para a construção e desenvolvimento da zona económica especial de Hengqin.

CCAC | ID volta a contratar empresa que falhou na gestão de piscinas

O Instituto do Desporto (ID) voltou a adjudicar contratos na área da gestão de piscinas públicas à empresa que anteriormente tinha causado problemas, e isto depois de ter promovido um novo concurso público devido a estas ocorrências. O caso foi denunciado ontem pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e noticiado pelo canal chinês da Rádio Macau.

Segundo o CCAC, o ID “lançou novo concurso público devido à incapacidade da empresa adjudicatária em cumprir o contrato de gestão de piscinas e serviços de nadador-salvador”, sendo que “a mesma empresa conseguiu, em pouco tempo, voltar a obter contratos do mesmo tipo”. O CCAC entende que “esta prática é inaceitável e difícil de compreender, afectando a imparcialidade e a credibilidade da adjudicação”.

Em causa, estão dois contratos ganhos pela empresa em Março do ano passado, sendo que no período contratual esta não conseguiu contratar “um número suficiente de nadadores-salvadores, o que levou à anulação da adjudicação”. Porém, em Agosto desse mesmo ano, o ID fez alterações e lançou quatro novos concursos para os mesmos serviços, tendo considerado que “a empresa não estava impedida de participar, aplicando os mesmos critérios de avaliação”, pelo que esta entidade voltou a ganhar a adjudicação.

O ID diz ter “concordado com as recomendações”, afirmando que “irá melhorar os procedimentos de concursos públicos”, o que implica cortar qualificações das empresas na lista de critérios para a avaliação das propostas, analisando os históricos dos adjudicatários nos últimos 24 meses. As empresas podem, assim, ser penalizadas em caso de falhas, foi noticiado.

Ponte Macau obriga a rever concessão de terreno no Pac On

O Governo reviu a concessão, por arrendamento, de um terreno concessionado desde os anos 90 à Companhia de Investimento Imobiliário San Fung Hong, Limitada, e que se situa junto ao aterro do Pac On, na Taipa. O terreno em questão tem um prédio construído, nos números 114 a 130 da Rua Wo Mok, e a alteração deveu-se à obra da quarta travessia entre a península de Macau e a Taipa, a Ponte Macau.

Inicialmente, esta concessão foi atribuída para ali se construir uma fábrica de tijolos, “a explorar directamente pela concessionária”, mas depois “a concessão foi revista devido à alteração da finalidade para instalação de uma fábrica de tabaco, a explorar directamente pela concessionária no edifício construído no terreno”, lê-se no despacho publicado ontem em Boletim Oficial.

A partir de 3 de Março de 1998, e devido a “vicissitudes várias”, foi autorizada pelo Governo a “utilização temporária do terreno, a título excepcional, para instalação de um complexo de armazenagem de mercadorias e serviços correlativos pela sociedade Centro de Carga Sino-Macau Limitada”.

Uma vez que a referida empresa “pretende manter a actividade de armazenagem logística que tem vindo a ser desenvolvida no edifício construído no terreno, em 22 de Março de 2021 veio formalizar o pedido de alteração da finalidade do terreno e a consequente revisão do contrato de concessão”.

Menos metros

Porém, com o projecto de construção da Ponte Macau, a empresa desistiu da concessão de duas parcelas do terreno, tendo sido calculadas as devidas contrapartidas devido às alterações de dimensão do terreno. Assim, um terreno que inicialmente tinha 9.450 metros quadrados de área, passou a ter 8.157 metros quadrados concessionados. No passado dia 12 de Junho, a Comissão de Terras deu parecer favorável ao pedido de revisão de concessão. Johnson Choi Chun Sze é referido como o representante legal da Companhia de Investimento Imobiliário San Fung Hong, Limitada.

Na nova concessão mantém-se a finalidade industrial, destinando-se o terreno a “manter o edifício nele construído afecto à finalidade de armazém”.

Tecnologia | Sam Hou Fai quer atrair empresas lusófonas

O Chefe do Executivo quer que empresas dos sectores da tecnologia e ciência vindas dos países lusófonos se fixem em Macau e Hengqin. O desejo de intercâmbio empresarial aplica-se também no sentido inverso, com a promessa de apoio a empresas chinesas na expansão para o exterior

 

O líder do Governo da RAEM quer atrair empresas dos sectores tecnológicos e científicos para Macau e para a Ilha da Montanha. Sam Hou Fai apontou como objectivo para o território “atrair activamente empresas científicas e tecnológicas de excelência dos países de língua portuguesa”, de acordo com um comunicado. O líder do Governo sublinhou que estas empresas podem estabelecer operações tanto em Macau como na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau, na vizinha Hengqin (ilha da Montanha).

Em sentido contrário, Sam Hou Fai prometeu “apoiar as empresas científicas e tecnológicas do Interior da China a expandirem para o exterior”, aproveitando as vantagens de Macau e os quatro laboratórios de referência do Estado situados na cidade.

A aposta do Governo passa pelo aprofundar o desenvolvimento coordenado das indústrias científicas e tecnológicas entre Macau e Hengqin e servir as necessidades nacionais, contribuindo para a “construção de uma nação tecnologicamente forte” e auto-suficiente em termos de tecnologia de alto nível.

Um de quatro

Os caminhos apontados pelo Chefe do Executivo foram traçados durante um encontro, na terça-feira à noite, com o ministro da Ciência e Tecnologia chinês, Yin Hejun, que veio a Macau para assinalar a reestruturação dos quatro laboratórios.

Sam Hou Fai realçou que a tecnologia de ponta representa uma das principais indústrias do desenvolvimento da diversificação industrial “1+4”, e que o Governo está a intensificar os esforços para optimizar, continuadamente, os sistemas e mecanismos da inovação científica e tecnológica, impulsionando a expansão ordenada da escala das indústrias relacionadas.

O governante local afirmou esperar “o apoio e a orientação contínua do Ministério da Ciência e Tecnologia, procurando aprofundar e intensificar ainda mais a cooperação entre o Interior da China e Macau em matéria de investigação científica sob a base já existente”, indicou o Gabinete de Comunicação Social.

Os laboratórios, com sede na Universidade de Macau e na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, são dedicados às áreas de medicina chinesa, ciência lunar e planetária, microelectrónica e Internet das coisas (comunicação entre objectos e aparelhos).

Horas antes, Yin defendeu que os quatro laboratórios devem “aproveitar o ambiente e as vantagens de Macau”, nomeadamente a tradição de “cooperação com o exterior”, para contratar mais “talentos internacionais”. Lusa / JL

Mar da China | Pequim rejeita protestos de Tóquio sobre exploração de gás

Pequim rejeitou ontem os protestos de Tóquio sobre o desenvolvimento de zonas de exploração de gás no mar da China, sublinhando que a área está sob soberania chinesa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão denunciou, na segunda-feira à noite, a instalação de plataformas de perfuração da República Popular da China na área onde as zonas económicas exclusivas dos dois países se sobrepõem.

A diplomacia de Tóquio acrescentou ter apresentado “um forte protesto” junto da embaixada de Pequim em Tóquio. A diplomacia chinesa declarou não aceitar as acusações que considerou infundadas do Japão e rejeitou o protesto de Tóquio sobre o assunto.

As actividades de desenvolvimento no mar da China encontram-se em águas “sob jurisdição chinesa e completamente sob soberania chinesa”, salientou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim Guo Jiakun, em conferência de imprensa.

Em 2008, o Japão e a China alcançaram um acordo que prevê a exploração conjunta de reservas submarinas de gás na área, estando cada país proibido de realizar perfurações de forma independente.

As negociações sobre os termos de implementação deste acordo foram suspensas em 2010. Tóquio indicou que 21 plataformas de perfuração, embora localizadas na zona da China, “vão provavelmente” extrair gás do lado japonês da fronteira marítima.

Assim, o Japão instou veementemente a China a retomar as negociações sobre a implementação do acordo de 2008. A diplomacia de Pequim respondeu estar empenhada na implementação “plena e eficaz do consenso” com o Japão sobre a questão do mar da China, ao mesmo tempo que espera o regresso às negociações.

No entanto, a China insiste que a fronteira marítima seja aproximada do Japão, tendo em conta a plataforma continental e outras características oceânicas da zona oriental do mar da China.

Seul | Anunciada compra de mais gás natural dos EUA

A Coreia do Sul acordou ontem comprar anualmente 3,3 milhões de toneladas adicionais de gás natural liquefeito aos Estados Unidos a partir de 2028, após a cimeira em Washington entre os presidentes dos dois países.

O acordo foi assinado pela Korea Gas (KOGAS) com fornecedores globais, incluindo a singapuriana Trafigura, durante uma reunião de líderes empresariais na capital norte-americana, que se seguiu ao encontro entre o Presidente sul-coreano, Lee Jae-myung, e o homólogo norte-americano, Donald Trump.

O volume, acordado para o período 2028-2038, vai ser fornecido a partir de projetos de gás operados pela norte-americana Cheniere no Texas, no centro-sul dos Estados Unidos, e outras áreas, de acordo com pormenores do acordo, divulgados pela agência de notícias sul-coreana Yonhap.

O acordo segue-se ao compromisso assumido pela Coreia do Sul, no mês passado, de comprar 100 mil milhões de dólares em produtos energéticos aos EUA nos próximos quatro anos, como parte de um pacto comercial alcançado por Seul e Washington para reduzir as tarifas sobre as importações norte-americanas de produtos sul-coreanos de 25 por cento para 15 por cento.

A KOGAS afirmou que o novo contrato de longo prazo foi assinado no âmbito de um processo de concurso, que teve início em 2024, para as importações de energia da Coreia do Sul depois de 2028.

O contrato vai ajudar a KOGAS a diversificar as fontes das importações, que estão actualmente concentradas no Médio Oriente. O director executivo da KOGAS, Choi Yeon-hye, disse à Yonhap que o novo contrato vai ajudar a estabilizar o abastecimento e a melhorar a competitividade dos preços.

A Coreia do Sul é uma das potências que, juntamente com Japão, Indonésia e Paquistão, se comprometeram a aumentar as compras ou investimentos em empresas e projectos energéticos norte-americanos, um dos elementos-chave que os Estados Unidos têm vindo a promover nas negociações com os parceiros comerciais.

Vaticano | Secretário surpreendido com o que se passa em Gaza

O Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, declarou estar surpreendido com o que se está a passar em Gaza, “apesar da condenação mundial”, em declarações proferidas segunda-feira à noite, à margem de um evento em Nápoles.

“Estamos surpreendidos com o que está a acontecer em Gaza, apesar da condenação mundial. Há uma condenação unânime do que está a acontecer”, enfatizou o cardeal italiano. Respondendo às perguntas de jornalistas sobre o bombardeamento israelita, na segunda-feira, ao Hospital Nasser em Khan Younis, na Faixa de Gaza, que fez pelo menos 20 mortos, incluindo cinco jornalistas, acrescentou: “É um absurdo. Parece não haver qualquer vislumbre de solução”.

O cardeal disse ainda que “a situação está a tornar-se cada vez mais complicada e, do ponto de vista humanitário, cada vez mais precária.”

Sobre a guerra na Ucrânia, o cardeal afirmou que “é preciso muita política, porque há muitas soluções teóricas” e “há muitos caminhos para a paz, mas é preciso querer pô-los em prática e, obviamente, é também necessária uma disposição espiritual”.

“A esperança é necessária para todos”, declarou Parolin, sublinhando que o Jubileu proclamado pelo papa Francisco, dedicado precisamente a esta questão, “deve ser um momento para recuperar a esperança”. “Mesmo hoje, na dificuldade de iniciar processos de paz em situações de conflito, não devemos desistir e devemos continuar a trabalhar pela paz e pela reconciliação”, acrescentou.

Israel bombardeou o hospital Nasser na segunda-feira e, quando jornalistas e socorristas chegaram ao local para ajudar as vítimas e documentar o que aconteceu, voltou a bombardeá-lo, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, numa técnica conhecida como “golpe duplo”.

Protestos e bloqueios

Vários grupos de manifestantes bloquearam ontem algumas das principais estradas de Israel para exigir um acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns na Faixa de Gaza, informou a agência de notícias Efe.

Alguns dos manifestantes incendiaram pneus para perturbar o trânsito em vários cruzamentos da cidade e outros protestaram em frente de casa de vários ministros israelitas, mostram imagens partilhadas nas redes sociais por vários grupos pró-democracia israelitas.

As manifestações são parte de uma série de protestos convocados para ontem pelo Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, que representa a maioria dos familiares das pessoas raptadas nos ataques do grupo palestiniano Hamas de 07 de Outubro. Há semanas que este grupo pede ao Governo israelita para pôr um ponto final na guerra e o regresso dos reféns.

Tendo em mente a história e construindo juntos um futuro promissor

Por Liu Xianfa*

Este ano assinala-se o 80º aniversário da vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e Guerra Antifascista Mundial. A Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e a Guerra Antifascista Mundial são batalhas decisivas entre o bem e o mal, a luz e as trevas, e o progressista e o reaccionário. De 1931 a 1945, o povo chinês, tendo lutado tenazmente durante 14 anos, conquistou a grande vitória da sua Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa e a vitória completa da Guerra Mundial Antifascista com todos os povos amantes da paz do mundo. Este ano marca também o 80º aniversário da recuperação de Taiwan da ocupação japonesa. A recuperação de Taiwan à China é um resultado vitorioso da Segunda Guerra Mundial, uma parte integrante da ordem internacional do pós-guerra, e uma grande vitória de todo o povo chinês, incluindo os nossos compatriotas em Taiwan, através dos seus esforços sucessivos e batalhas sangrentas.

O papel fundamental do Partido Comunista da China é a chave para a vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa

Ao longo de todo o curso da guerra, o Partido Comunista da China esteve sempre na linha da frente e assumiu as suas responsabilidades, exercendo uma forte liderança política e impulsionando a formação de uma corrente histórica de resistência de toda a nação. A China é o principal campo de batalha oriental na Guerra Antifascista Mundial. A Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa foi uma parte importante da Guerra Mundial Antifascista e contribuiu decisivamente para a vitória da Guerra Antifascista Mundial. Nessa guerra devastadora, a Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa começou mais cedo, durou mais tempo, derrotou o maior número de inimigos e fez o maior sacrifício. Em 1931, os imperialistas japoneses lançaram descaradamente um ataque à cidade de Shenyang encenado pelo Exército de Kwantung japonês, conhecido pelo Incidente de 18 de Setembro, que é 8 anos antes da blitzkrieg da Alemanha nazi na Polónia e 10 anos antes do Ataque a Pearl Harbor. Nessa altura, os soldados e civis chineses já tinham disparado o primeiro tiro na Guerra Antifascista e lutado incansavelmente nas planícies geladas do nordeste da China ocupada. Durante os dias mais negros da Guerra de Resistência, a China imobilizou quase 70% do Exército Japonês e, assim, ajudou as forças Aliadas noutros teatros a obter oportunidades estratégicas vitais. Durante os 14 anos de guerra, o povo chinês fez enormes sacrifícios nacionais e pagou um preço elevado. De acordo com estatísticas incompletas, o número de vítimas dos militares e civis chineses ultrapassou os 35 milhões, representando aproximadamente um terço do total de vítimas durante a Segunda Guerra Mundial. A perda económica directa foi de mais de 100 mil milhões de dólares americanos, e a perda económica indirecta de mais de 500 mil milhões de dólares americanos.

Macau nunca se ausenta desta Guerra e luta lado a lado com a pátria durante todo o tempo

Todos os sectores da sociedade de Macau não pouparam esforços e ultrapassaram todas as dificuldades para prestar ajuda, como alojamento, alimentação e cuidados médicos, a um grande número de compatriotas deslocados pela guerra. Figuras patrióticas de Macau, como o Sr. Ma Man-kei, Sr. Ho Yin e Dr. Ke Lin, romperam os pesados bloqueios dos invasores japoneses e enviaram mantimentos e fundos para a linha da frente. Uma legião de jovens apaixonados de Macau partiu sem hesitação para as frentes de batalha no Delta do Rio das Pérolas, no Dongjiang e noutras zonas. Os grupos patrióticos angariaram enormes somas de dinheiro para apoiar os soldados na linha da frente e fizeram grandes esforços para promover a publicidade da Guerra de Resistência. A Cantata do Rio Amarelo, composta pelo músico do povo de origem de Macau, Sr. Xian Xinghai, fez soar o rugido do perigo nacional e tornou-se a voz mais forte da salvação nacional. A história nunca esquecerá os contributos indeléveis feitos por Macau para a independência nacional e a libertação do povo chinês, nem esquecerá o profundo sentimento de patriotismo e de rectidão nacional dos compatriotas em Macau.

Adotar uma perspetiva histórica correta, que seja pacífica, justa, abrangente e objetiva, sobre a história da Segunda Guerra Mundial

A história não pode ser adulterada e os factos não devem ser apagados. Mesmo hoje, movidos por interesses geopolíticos, existem alguns países e políticos que ainda tentam ignorar os factos históricos, minimizando intencionalmente as importantes contribuições da China para a Segunda Guerra Mundial como o principal campo de batalha oriental, embelezando o domínio colonial e até mesmo negando directamente a história da agressão fascista e dos crimes brutais cometidos pelo exército japonês. Tais actos desprezíveis e vergonhosos representam desafios à Carta das Nações Unidas, à ordem internacional do pós-guerra, à consciência humana e aos povos de todas as nações vitoriosas. Os 1,4 mil milhões de chineses jamais tolerarão qualquer tentativa de manipulação da história da Segunda Guerra Mundial. A China, junto aos povos amantes da paz em todo o mundo, lutará até ao fim contra todos os actos ilícitos que distorcem, glorificam ou negam a história da agressão e, em conjunto, salvaguardarão a verdade histórica e defenderão a paz mundial.

Unir para a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade

O sistema internacional com as Nações Unidas como seu núcleo é uma reflexão concentrada da vitória da Segunda Guerra Mundial, e serve de pedra basilar para a ordem internacional do pós-guerra. Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, a China sempre é uma força indispensável e importante na manutenção da paz mundial. A China nunca seguirá o antigo caminho de alguns países que alcançaram a modernização através da guerra, da colonização e da pilhagem. Em vez disso, a China permanecerá firmemente do lado certo da história e do progresso da civilização humana, e manterá bem alta a bandeira da paz, do desenvolvimento, da cooperação e de resultados mutuamente benéficos. As propostas da China para a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade e outros conceitos e iniciativas importantes são uma continuação e um desenvolvimento da valiosa experiência da vitória na Segunda Guerra Mundial e contribuíram com a sabedoria e as soluções chinesas para a promoção da paz e do desenvolvimento humanos. A China trabalhará inabalavelmente com a comunidade internacional para praticar a visão de governança global de ampla consulta e contribuição conjunta para benefício compartilhado, implementar a Iniciativa de Segurança Global, a Iniciativa de Desenvolvimento Global e a Iniciativa de Civilização Global e, construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade.

Como o Presidente Xi Jinping salientou, “A guerra é como um espelho, Olhar para ele ajuda-nos a apreciar melhor o valor da paz”. Devemos aprender com a história, especialmente com as duras lições da Segunda Guerra Mundial, extrair sabedoria e força da grande vitória da Guerra Mundial Antifascista e fortalecer a nossa determinação em salvaguardar a paz e consolidar a segurança para, em conjunto, construirmos um futuro mais brilhante para a humanidade. Acreditamos que todos os sectores em Macau levarão adiante com firmeza a nobre tradição patriótica e o grande espírito da Guerra de Resistência, contribuindo assim para o desenvolvimento constante e abrangente do princípio de “um país, dois sistemas”, para a concretização da reunificação completa da Pátria e para o grande rejuvenescimento da nação chinesa!

*Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na Região Administrativa Especial de Macau

GP | Convites para pilotos TCR Asia que participem na Coreia e Zhuzhou

A Corrida da Guia do 72.º Grande Prémio de Macau será novamente o palco da prova final do Kumho FIA TCR World Tour, a maior competição de carros de turismo a nível mundial sob a chancela da Federação Internacional do Automóvel (FIA). A prova estará igualmente aberta à participação de concorrentes de outras proveniências

 

Sendo a última etapa da temporada da competição mundial do TCR, a prova de Macau reunirá os pilotos de turismo mais rápidos do mundo, coroando também o campeão absoluto do FIA TCR World Tour. O formato único da competição promovida pelo WSC Group permitirá que pilotos locais e regionais do TCR enfrentem as estrelas internacionais, criando um espetáculo inesquecível nas ruas do território.

Antes da final em Macau, o ressuscitado TCR Asia Series partilhará a pista com o FIA TCR World Tour de 17 a 19 de Outubro, no Circuito de Inje, na Coreia do Sul, e de 31 de Outubro a 2 de Novembro, no Circuito Internacional de Zhuzhou, na China. A participação nesta prova será obrigatória para os pilotos que desejem obter um convite para o evento do Circuito da Guia, proporcionando também uma oportunidade para pilotos de Macau, que não se qualificaram noutras competições, garantirem um lugar na grande festa de final de ano.

“Em 2025, inscrições ‘wildcard’ estarão disponíveis para os concorrentes que participaram em provas do TCR Asia. Para serem elegíveis para se inscreverem em Macau, os concorrentes poderão participar nas próximas corridas na Coreia do Sul e na China, onde o TCR Asia partilhará igualmente a grelha com o TCR World Tour”, escreveu a organização do TCR Asia Series nas redes sociais, sublinhando que: “É uma oportunidade única de toda a vida: medir forças com os melhores do mundo num dos traçados mais lendários do desporto motorizado.”

Sobre o assunto, o presidente do WSC Group, Marcello Lotti, o pai do conceito TCR, acrescentou: “Estamos orgulhosos por o TCR Asia ter acrescentado dois eventos conjuntos com o Kumho FIA TCR World Tour. O WSC tem o prazer de confirmar que iremos atribuir ‘wildcards’ aos concorrentes que desejem juntar-se a nós também na final da temporada em Macau.”

O TCR Asia Series tem competido com pneus da marca chinesa Sailun, mas nesta prova os pilotos terão de se adaptar aos compostos Kumho, obrigatórios na competição sancionada pela FIA. Sean Chang Chien Shang, piloto de Taiwan, lidera a classificação com quatro pontos de vantagem sobre o chinês Liu Zhi Chen, ambos ao volante de Audi RS 3 LMS.

Qualidade garantida

O TCR Asia Series não será a única competição a compor a lista de inscritos do FIA TCR World Tour na RAEM, pois a temporada de 2025 do TCR Austrália terminará em estilo ao juntar-se à grelha de partida da Corrida da Guia do 72.º Grande Prémio de Macau, que decorrerá de 13 a 16 de Novembro. A primeira participação internacional do TCR Austrália foi possível graças ao detentor global dos direitos do campeonato, o WSC Group, que assegurará a cobertura total dos custos de transporte para as equipas australianas que viajem para Macau.

O TCR Australia anunciou em Junho que irá concentrar-se no reinício da competição no evento “The Bend 500”, de 12 a 14 de Setembro, em conjunto com a ronda australiana do Kumho FIA TCR World Tour, competição que conta com mais de uma dezena de concorrentes a tempo-inteiro. A competição australiana, que em tempos teve grelhas de partida com cerca de duas dezenas de carros, não fará mais nenhuma corrida este ano, para além desta e daquela agendada para o Grande Prémio de Macau.

Com provas ainda por disputar na Austrália, Coreia do Sul, interior da China e Macau, o campeão em título do Kumho FIA World Tour, Yann Ehrlacher, da Lynk & Co, lidera a classificação com 250 pontos, seguido de perto por Esteban Guerrieri, ao volante de um Honda, com 223, enquanto Santiago Urrutia, também ao comando de um Lynk & Co, ocupa a terceira posição com 215 pontos.

Tarifas | Trump ameaça China com taxas de 200% se Pequim não exportar mais ímanes

O Presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou ontem a China com tarifas de cerca de 200% sobre os produtos chineses que entram nos Estados Unidos se Pequim não acelerar as suas exportações de ímanes de terras raras.

“Têm de nos dar ímanes. Se não o fizerem, então imporemos tarifas de cerca de 200 por cento. Mas penso que não teremos problemas com isso”, declarou Trump, na presença do seu homólogo sul-coreano Lee Jae-myung, durante uma troca de impressões na Sala Oval.

A China é o principal produtor mundial de terras raras, que são utilizadas no fabrico de ímanes essenciais para as indústrias automóvel, electrónica e de armamento. No entanto, no início de Abril, o Estado chinês impôs uma licença para a exportação destes materiais estratégicos, uma decisão vista como uma medida de retaliação contra os direitos aduaneiros americanos.

Pequim e Washington iniciaram então uma guerra comercial em grande escala, respondendo cada um ao aumento dos direitos aduaneiros do outro, que atingiram 125 por cento e 145 por cento, respetivamente. Desde então, as negociações entre as duas maiores potências mundiais atenuaram as tensões e o Governo chinês comprometeu-se a acelerar a emissão de licenças para várias empresas norte-americanas.

“Penso que temos uma óptima relação com a China, falei muito recentemente com o Presidente Xi [Jinping] e em algum momento deste ano deveríamos visitar a China”, acrescentou Trump. Funcionários norte-americanos e chineses reuniram-se três vezes nos últimos meses para resolver uma série de questões relacionadas com as suas relações comerciais.

No final destas reuniões, os dois países concordaram em manter os direitos aduaneiros que impõem um ao outro em 30 por cento e 10 por cento, respectivamente, por um período de 90 dias, que já foi prorrogado duas vezes, a última até Novembro próximo.