Animais | Recuo no uso de açaimes. Casos especificados na lei

O Governo já decidiu. O uso de açaimes será obrigatório para cães com ou mais de 23 quilos, raças perigosas ou que já tenham cadastro de agressividade. Depois de muita contestação, o Governo elaborou um estudo que define quem tem ou não de usar

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de ser levantada a hipótese da proposta de Lei de Protecção dos Animais definir que todos os cães deveriam usar açaime nos espaços públicos, o Governo vem acalmar as vozes que se levantaram contra a sugestão. “Os cães com peso igual ou superior a 23 quilos terão de usar açaime (…), bem como os cães de raças perigosas (…) e cães com cadastro de ataque”, esclareceu Kwan Tsui Hang, presidente da 1.ª Comissão Permanente, grupo responsável pela análise da proposta na especialidade, que adiantou ainda que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) realizou um estudo sobre o assunto.
“Ouvimos muitas opiniões da sociedade e por isso o IACM fez um estudo. (…) Neste documento é sugerido que só determinados cães precisem de usar açaime”, indicou. Seguindo a proposta anterior o IACM explica que o uso da placa atribuída ao cão após o seu registo poderá funcionar como identificação. O Governo sugere, por isso, que no caso de cães perigosos ou com cadastro esta placa seja “de alguma cor”, sendo que está apontada ser de “cor vermelha”. “Os cães com este tipo de placa terão de usar açaime nos espaços públicos”, explicou a deputada, indicando que depois de ouvir as alternativas do Governo, a Comissão entende que as mesmas são “viáveis”.

Verdades universais

Os resultados do estudo, cedido ao HM em versão chinesa, indicam que “a implementação do uso de açaime em todos os cães, em espaços exteriores, ou o uso da jaula é difícil de aceitar e de ser compreendido pelos donos dos animais. Para os cães, usar açaime não é confortável e o mau uso pode causar danos directos aos animais. Por exemplo, a humidade e o calor no Verão podem levar a dificuldades respiratórias e falta de oxigénio, não sendo impossíveis os casos de insolação ou doença cardiovascular. Em casos em que o cão se perde, estando a usar o açaime, poderá levá-lo até à morte. Para os cães de idade avançada, doentes, sem dentes, cães muito dóceis, ou cães de guia, usar açaime poderá não ser a melhor opção”. caes
O mesmo estudo indica que a aplicação da obrigação do uso de açaime por todos os cães poderá levar a que os donos deixem de os passear, deixando-os sempre fechados em casa. “Alguns estudos feitos já demonstraram que os cães precisam de contacto social regularmente, caso contrário podem ganhar fobias e chegar a atacar quando saem à rua”, aponta o documento.
O IACM confirmou que, depois da última reunião com a Comissão, recebeu várias opiniões da população contra o uso obrigatório do açaime. As opiniões, cita o Instituto, caracterizavam a possível medida de “irracional”, violando “o princípio de protecção para os animais”, chegando até a “feri-los”.
“No dia 27 de Fevereiro de 2016 algumas associações de protecção aos animais criaram uma página nas redes sociais contra o pedido de açaime para todos os cães. Até às 21h00 do dia 1 de Março, 3400 pessoas acederam ao movimento pedindo a retirada desta exigência”, pode ler-se ainda no estudo do IACM.

Conhecer para saber

No mesmo estudo, o IACM indica ainda que “a causa de muitos ataques dos cães deve-se à falta de conhecimento da sociedade”, algo que não deveria actualmente acontecer porque a mesma instituição já “organizou vários seminários e distribuiu folhetos para que a sociedade saiba lidar com os cães”. “Quando a sociedade souber lidar com os animais os ataques vão diminuir”, garante ainda o estudo.
Numa decisão final, o Governo propõe que só estes três tipos de cães usem o açaime, sendo que é necessário que estejam acompanhados por maiores de 18 anos. Ao mesmo tempo, a proposta define uma punição de duas mil patacas para os donos que não cumpram a lei.
Durante a reunião de ontem, a Comissão pediu ainda que, apesar das disposições já definidas nos Códigos Civil e Penal, sejam introduzidas normas, nesta proposta, que garantam a protecção das vítimas de ataques dos animais. “Para que as vítimas saibam o que podem fazer”, rematou. Ao que o HM apurou, alguns casos tidos como “ataques” dizem respeito a cães que “assustaram as pessoas por terem ladrado agressivamente”, ainda que não tenham tido contacto.

3 Mar 2016

Menina com doença rara morreu no pós-operatório

Uma menina com síndrome de Treacher Collins, doença congénita rara caracterizada por deformidades nos ossos craniofaciais, faleceu ontem, no Centro Hospitalar Conde de São Januário devido a complicações decorridas no pós-operatório e após ter sido submetida a reanimação. “No dia 6 de Janeiro, mediante a assinatura de um termo de consentimento, o médico de cirurgia plástica, devido a uma fissura congénita da fenda do palato e de modo a impedir a ocorrências de infecções do tracto respiratório, além de melhorar o timbre da voz, realizou uma cirurgia de reparação que foi concluída de acordo com o que estava estabelecido. No entanto, durante o processo de recobro surgiram complicações que levaram à realização de manobras de reanimação e à aplicação de tratamento medicamentoso. A menina faleceu no dia 2 de Março”, indica um comunicado à imprensa dos Serviços de Saúde. O hospital já está a “proceder a audiências relativamente a um processo de investigação e averiguação clínica”.

3 Mar 2016

PJ desmantela rede local de branqueamento de capitais

A Polícia Judiciária (PJ) prendeu nove residentes de Macau, suspeitos de estarem envolvidos num grupo que cometeu crimes de branqueamento de capital, com montantes que atingem os 25 milhões de dólares de Hong Kong. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a PJ recebeu um aviso das autoridades da cidade vizinha de Zhuhai, que prendeu um casal natural de Macau ligado a um “grupo de imigração ilegal”. O casal foi detido no ano passado e os noves residentes presos agora são familiares do casal, com idades entre os 19 e os 53 anos. Já desde o ano 2000, alega a PJ, o casal depositou “centenas e milhões de dólares de Hong Kong” em contas bancárias em bancos do território e a PJ suspeita que o dinheiro foi ganho através de auxílio de imigração ilegal. “O dinheiro envolvido foi utilizado para adquirir carros, fracções e lugares de estacionamento.” A PJ referiu que este é o caso de branqueamento de capitais que envolve mais pessoas ao longo dos anos e que este vai agora ser entregue ao Ministério Público.

3 Mar 2016

Giulio Acconci | O outro lado do músico surge a cores e tinta-da-china

Todos o conhecemos como uma estrela da Pop, mas ele tem outro lado. O de designer gráfico, cultivado há muitos anos em Itália, e o de quem sofreu uma transformação quando se apaixonou pelas aguarelas. Apanhámos Giulio Acconci a meio do processo de reflexão e soubemos que uma exposição pode estar aí ao virar da esquina. Pelas amostras a que tivemos acesso, tivemos de saber mais

[dropcap]C[/dropcap]omo começou a aventura das aguarelas?
Com um livro de um grande pintor macaense, o Luis Luciano Demée, mostrado pelo meu irmão (Dino). A intensidade da pincelada e a forma como as aguarelas se combinavam, criando outras formas, quase casuais… foi o rastilho. Depois uma conversa sobre caligrafia com a Maggie Chiang, algo que sempre me interessou. Ela é chef e brinca com cores e formas na sua cozinha e trocámos várias ideias. Como ela estava a produzir uns jantares especiais de São Valentim, pensei criar imagens com caligrafia, tinta e aguarelas. Desenvolvi uma série de histórias curtas para cada prato e produzi as imagens em computador – aguarelas digitais, se quiser. Aí pensei que se as fazia assim também teria de conseguir fazer com tinta e pincel.

Em que fase está o processo?
A chegar a uma ideia, a definir o que pretendo dizer. O meu treino de designer obriga-me a fazer esboços como treino. Mas nunca fiz uma composição completa de forma satisfatória e é nisso que estou a trabalhar.

Em termos mais concretos isso quer dizer que…

É um jogo mental. Interrogo-me: ‘vou pintar o que penso, o que sinto, ou as minhas observações do ambiente que me rodeia? Será abstracto, mais ou menos filosófico?…’ Há imensas formas de expressão e é nesse processo que estou. Pode ser sarcástico, político, divertido, fantasioso…

Como está a ser desenvolvido esse processo de pesquisa?
Para tornar as coisas mais simples, estou a transformar isto num trabalho. A tentar retirar-me do processo e, pegando na minha experiência como designer, do trabalho por encomenda. Estou a contratar-me para uma série sobre a Hill Road [em Hong Kong], a área onde vivo. Mas numa forma leve e contemporânea, nada clássica com vários tipos de composição. Associar pequenas histórias a cada imagem também pode ser uma possibilidade.

No que respeita a temas, já existe algo alinhavado?
Hong Kong, para já, é o tema porque é mais simples, é onde vivo. Como tenho dois cães é provável que eles surjam. Um é branco, o outro é preto, por isso dão um interessante conceito yin yang. (risos)

Que imagens sugerem Hong Kong?

Tenho curiosidade em perceber como as coisas se vão desenvolver. Pelo que vejo, as pessoas não andam muito felizes, independentemente do espectro político a que pertençam. Há uma sensação de incerteza no ar e, como em Hong Kong é tudo dinheiro, quando ele não abunda as pessoas não funcionam. De uma forma geral, claro.

giulio acconci Como vê a situação actual da cidade?
Vivemos um período de transição. Por isso, eu e os meus amigos tentamos manter-nos positivos porque tudo acabará por resolver-se. Oiço muita gente, do taxista ao jovem empresário, dizer que não faz tanto dinheiro como antes, que a vida não é tão fácil como antes… De uma forma geral, as pessoas comparam tudo ao ‘antes’. Acho isso negativo. Temos de preocupar-nos mais com o ‘agora’. Claro que existe gente mais pro-activa, cheia de energia e é nessa tendência que pretendo inserir a minha arte e a minha música. As coisas mudam, nunca ficam iguais.

Por falar em música, será de esperar que a próxima vez que ouvirmos falar de Giulio Acconci seja no escaparate de uma galeria e não no poster de um concerto?
É bem possível (muitos risos). Claro que continuo a fazer música mas estou a gostar muito da aventura do artista plástico, produzir pinturas, isso é verdade.

Para quando a “vernissage”?
Quem sabe? Talvez esteja aí mesmo ao virar da esquina.

Como imagina essa exposição?
Gostava de algo simples, sem grandes alaridos. Mas tenho de pensar em muitas coisas, no que quero dizer. Se realmente sair cá para fora como artista, tem mesmo de ser algo para além de dizer que sei pintar. É uma oportunidade como indivíduo, como pessoa, como Giulio Acconci, não como [banda] Soler. Porque, como Soler, as pessoas pensam que sou eu mas não é verdade. É apenas uma personagem criada para aquele efeito. Como pintor torno-me protagonista. Aconteça ou não, o processo mental, a procura de ideias, a pesquisa, as técnicas… ouvir pessoas tem sido uma grande experiência, maravilhoso mesmo.

Telas grandes, pequenas… como vai ser?
Variado. Quando vou a uma exposição gosto de ver um pouco do percurso do artista. Às vezes exibem alguns esquiços, estudos. Eu quero fazer isso, uma pequena secção com esquiços simples. Desses até pinturas grandes.

image4Sabemos que existe um legado artístico na família. Qual a importância dessa influência?
É verdade. O meu pai [Oseo Acconci] foi escultor, estudou Belas Artes, o meu avô era pedreiro e fazia pedras tumulares, está a ver? (risos). Para além disso, o meu pai construía tudo em casa. Das cadeiras, à mesa onde estudava, à mobília de jantar, as nossas camas… vivíamos num prédio que ele construiu… Por isso, a primeira vez que tive de comprar mobília foi um processo estranho (risos). Era também muito vocal em relação a tudo. Sempre a apontar detalhes, a realçar coisas, razões, naquele engraçado sotaque italiano dele. Tanto ele como a minha mãe sempre nos encorajaram a desenhar. Tenho dezenas de blocos de desenho em casa. Um dia, ele levou-nos a uma exposição e perguntou-me se um dia gostava de ter a minha. Disse que sim e ele prometeu-me uma, um dia. Infelizmente faleceu antes do tempo, tinha eu 15 anos. Por isso, se a vier a fazer uma exposição, será dedicada a ele. Como se fosse ele a comissioná-la.

Onde irá acontecer? Em Hong Kong ou em Macau?
Não faço ideia. Apaixono-me por lugares. Gosto do mundo todo. Gosto muito de ir à China (vou muitas vezes a Chengdu), adoro Cantão, Londres e, claro, estarei sempre ligado a Macau. Pelo lado do sentimento terei de dizer Macau mas, se quiser ser prático, vai ser aqui. A verdade é que ainda não sei.

E a cena artística em Macau? Que percepção ressoa do que aqui se passa?
Ainda há pouco, numa conversa com o Fortes [Pakeong] fiquei com a impressão que existe um número de pensadores livres por aí com capacidade para se exprimirem artisticamente, o que me deixa entusiasmado. E noto que se fala muito mais em criatividade. Parece que quase todas as pessoas que encontro falam de ideias, isso faz-me muito feliz. Além disso, posso estar enganado, mas parece-me que estão a começar a aparecer patronos, o que seria muito importante para o desenvolvimento artístico.

E as artes de Hong Kong? Podemos dizer que estão moribundas?
Nada disso. A arte floresce na tristeza, na incerteza, no tumulto. Se andarmos pelos círculos artísticos, descobre-se muita gente discreta. Tenho encontrado muita qualidade, muitas pessoas interessantes. Há mesmo um certo orgulho entre eles e uma geração que se mantém fiel às convicções. É como o surf. Sem ondas não há. No mundo da arte, se estiver sempre tudo bem, vamos falar do quê? Existem, claro, os que produzem arte quando estão felizes, mas o que vejo na história é que as melhores obras nascem do tumulto.

image2Agora vai sobrar para esse lado. Que tumulto é esse que o motiva?
A minha vida toda (gargalhadas). Tem sido uma luta. A questão é se vemos um problema como um bloqueio ou como uma situação a ser resolvida. Nos anos mais recentes tenho tentado uma abordagem mais positiva, mas na maior parte do tempo pensava se estaria no meio de alguma profunda tragédia grega (ri-se mais).

Mas as pessoas olham para si e vêem uma estrela da Pop, vida de glamour, bom aspecto, festas sofisticadas… como pode falar de luta?
Como disse, o Giulio dos Soler é uma personagem, é entretenimento, é o nosso papel. Também é uma protecção, porque se criticarem os Soler não me atingem. Não ando no jogo duro do ‘show off’. A minha realidade é muito diferente. Sou muito “nerd”, gosto de estar em casa, de ver documentários. Estou sempre a tentar aprender, a absorver ideias. E tenho uma rotina saudável. Faço caminhadas regulares com o meu irmão, vamos buscar água à fonte numa zona perto daqui, corro com os cães. As pessoas pensam que passo a vida no ginásio mas não. Também não lhes quero estoirar a bolha. Se ficam contentes com isso, óptimo. Em relação ao glamour, quando alguém pretende entrar nesta indústria digo-lhes sempre a verdade: “No glamour. Nenhum”. (risos)

Mas a exposição vai colocá-lo a nu, ou vai surgir outra personagem?
Eu acredito em Shakespeare quando diz que a vida é um palco onde desempenhamos muitos papéis. Por isso, o mais provável, é sair outro personagem. O verdadeiro Giulio vai continuar muito elusivo e só talvez um dia o partilhe com a pessoa certa. Para já, acho que vai sair o meu lado pintor, outro personagem.

3 Mar 2016

Rui Leão eleito presidente do CIALP

O arquitecto local Rui Leão foi eleito presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP) por um período de três anos. A assembleia-geral, realizada no Rio de Janeiro, serviu para eleger como vice-presidentes Vítor Leonel, bastonário da Ordem dos Arquitectos de Angola e João Santa-Rita, bastonário da Ordem de Arquitectos em Portugal.

3 Mar 2016

Secretário de Estado | Tecnologia e ciência são “porta de entrada”

Terminou a visita do Secretário de Estado da Indústria ao território e que pretendia abrir portas para aprofundar relações entre Portugal e Macau. A aposta, diz João Vasconcelos, deve ser na área da tecnologia científica

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário de Estado da Indústria disse ontem, num encontro com os jornalistas do território, que Portugal pretende aprofundar as relações com Macau no âmbito das “novas empresas tecnológicas e científicas”. João Vasconcelos terminou uma visita de dois dias a Macau e sublinhou que o território deve ser visto por empresários portugueses e da lusofonia em geral como porta de entrada na Ásia.
Macau é “um local perfeito” para “alguém da cultura portuguesa e da Língua Portuguesa” se estabelecer na Ásia e entrar na China, sublinhou, em declarações aos jornalistas, após dois dias de agenda cheia com encontros com membros do Governo da região e empresários, entre outras entidades.
Num resumo, o Secretário de Estado revelou que abordou “várias propostas” nestes encontros, ligadas às “empresas tecnológicas” e “do mundo digital”, sublinhando ainda que Portugal “se tem apresentado ao mundo como um país ‘friendly’ [amigo] de ‘start up’ e de novas empresas”, fruto do “investimento nas últimas décadas” em “infra-estruturas tecnológicas”, na ciência e na qualificação das novas gerações.
João Vasconcelos espera, por isso, que estes contactos em Macau tenham resultados concretos “nos próximos meses” e assegura que teve uma “receptividade muito boa” por parte das autoridades.
Segundo o secretário de Estado, há “interesses em comum” e a estratégia portuguesa adequa-se à que tem Macau para a diversificação da economia, para a tornar menos dependente do Jogo.
Dizendo-se “surpreendido” com o “novo Macau” que conheceu nestes dias, João Vasconcelos defendeu que é agora tempo, após séculos de relações com o território, de “mostrar um novo Portugal em Macau, uma nova economia e com novos empreendedores”, sublinhando ainda que sentiu que este é “um projecto também ambicionado pela própria sociedade civil”.
João Vasconcelos revelou que convidou o Secretário que tutela a Economia, Lionel Leong, a visitar Portugal e assegurou que o Governo português estará, “seguramente”, reapresentado “ao mais alto nível” na reunião ministerial deste ano do Fórum Macau.

Prioridades ao máximo

Durante o primeiro dia de visita, segunda-feira, o secretário de Estado afirmou que Macau e o resto da China têm sido e continuarão a ser uma prioridade da política externa e das relações económicas de Portugal.
“A nossa aposta em Macau é longa, de há muito tempo, e tem vindo a ser reforçada também a sua importância através do Fórum de Macau e da República Popular da China, que escolheu Macau como ponto de referência para se relacionar com todo o mundo lusófono. (…) É uma estratégia para prosseguir, garantidamente”, afirmou.
João Vasconcelos sublinhou que o executivo português tomou posse “há três meses” e o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Oliveira, “já visitou” a China, numa “visita longa”.
“Demonstrou bem a importância que damos a Macau e à relação que temos com a República Popular da China como uma relação prioritária na política externa portuguesa”, sublinhou João Vasconcelos.
O Secretário de Estado identifica a sua visita como sinal de que “este Governo está muito focado em manter essa relação e essa prioridade”.
A visita de João Vasconcelos começou por uma ida à fábrica que a empresa portuguesa Hovione tem há 30 anos em Macau e a partir de onde produz produtos farmacêuticos que exporta para diversos continentes.
“É a melhor prova das relações económicas entre Portugal e Macau. É uma prova de que as nossas relações são de longo termo, são sólidas, são sofisticadas e isto também prova que é possível atrair empresas portuguesas para Macau e ajudar na diversificação económica de Macau”, disse.
Em relação à visita, o secretário caracterizou-a como um primeiro passo. “Para já, é um primeiro contacto, para demonstrar que estamos comprometidos com esta estratégia e que estamos também comprometidos com o apoio a Macau na sua diversificação económica e na sua aposta na inovação e na tecnologia”, acrescentou.

2 Mar 2016

MAM | Instalação de artista local na Montra de Arte

O Museu de Arte de Macau (MAM) inaugurou na passada semana a instalação “Abraços Contidos” de Ella Lei, uma artista local da geração pós-1980 formada em Design Multimédia pelo Departamento de Design da Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau. Esta exposição insere-se na iniciativa “Montra de Arte de Macau”, que o MAM realiza desde 2012 com o objectivo de incentivar a criação e promover o desenvolvimento da arte contemporânea em Macau, oferecendo aos artistas um espaço expositivo e uma plataforma de intercâmbio.
Natural de Macau, Ella Lei tem ainda um diploma em Design de Moda e trabalhou quatro anos como designer de animação freelancer, tentando combinar ilustração e moda nos eventos em que participou. Actualmente, participa activamente em exposições de vários tipos e em actividades da moda, encontrando-se agora a preparar o lançamento da sua marca “ella épeler”.
Para a artista “a sociedade é como uma teia de aranha com diferentes regras e sistemas e as pessoas que vivem nessa teia têm uma lógica própria. No subconsciente, todos defendem aquilo que são e em que acreditam”. Nesse sentido, esta instalação é uma fusão de escultura em forma de mãos e pintura e, nas ilustrações, frágeis animais são formados por mãos pintadas, pretendendo expressar, em tom sarcástico, a co-relação entre protecção e restrição e a subtil relação entre homens e animais. A exposição estará patente até ao dia 10 de Abril no MAM entre as 10h00 e as 19h00, todos os dias menos à segunda-feira. A entrada é livre aos domingos e feriados e paga-se cinco patacas nos restantes dias.

2 Mar 2016

Pedido sistema legal de publicação de informações

Si Ka Lon apontou o dedo ao Governo por considerar que ainda não há qualquer sistema que permite aos organismos públicos divulgar informação governamental, mesmo que este já tenha sido um pedido feito por diversos deputados e prometido pelo Governo. O deputado quer que o Executivo implemente um sistema, através de legislação, para que o público tenha acesso a informações que deveriam ser publicadas.
“O Governo ainda não tem um sistema para divulgar informação governamental, como os conteúdos de contratos de compras e adjudicações feitas pelos serviços públicos e as decisões que serviram de base a medidas que vão ser implementadas pelo Governo. Como é que o Governo cumpre o princípio que defende, de ser transparente, ter como base a população e primar pela verdade?”, atira o deputado.
Si Ka Lon também considera que, apesar de estar previsto no Código do Procedimento Administrativo, que este tipo de informação deve ser divulgado, isso não acontece porque não existe, de facto, uma lei que o exija. Daí que se revele apenas, informação já escolhida. “O Governo vai rever esta questão? Vai melhorar o sistema de divulgação, como nos EUA, onde já há uma lei que exige que sejam publicados estes dados?”

2 Mar 2016

Bombeiros | Pereira Coutinho quer revisão ao regime de carreiras

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado José Pereira Coutinho quer que o Governo avance com uma revisão ao regime de carreiras de bombeiros, “para demonstrar a razão directa entre a tarefa de salvar vidas e as regalias e os salários”. Numa interpelação escrita, o deputado indicou que Macau mudou muito nos últimos anos e é cada vez mais difícil ser-se bombeiro no território, devido ao grande número de pessoas nas ruas, ao tipo de edifícios cada vez mais altos e por cada vez o território estar mais ocupado com construções.
Apesar do Secretário Wong Sio Chak, durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2016, ter afirmado que iria aumentar os equipamentos contra incêndios e actualizar os existentes, “nomeadamente comprar mais motociclos de emergência e ainda aumentar as exigências ao nível dos recursos humanos e da tecnologia”, o deputado considera não ser suficiente.
“Nos anos que se seguiram à transferência de soberania, registou-se um constante aumento do número de arranha-céus, o trabalho dos bombeiros foi-se tornando cada vez mais árduo, mas o regime de regalias nunca foi revisto, o que acabou por diminuir cada vez mais a moral entre os bombeiros. O Governo dever reavaliar e rever o actual regime de carreiras de bombeiro (…)”, argumentou o deputado.
Uma vez mais, como tem vindo a defender, o trabalho dos funcionários da linha da frente, neste caso dos bombeiros, sendo de risco deve merecer um “subsídio”, a fim de os “incentivar para o trabalho”. Na mesma interpelação, o deputado apelou ainda à implementação, de novo, de um regime de aposentação e sobrevivência, para assegurar aos bombeiros uma “habitação, com vista a reduzir as suas preocupações”.

2 Mar 2016

Livros | No trocar é que está o ganho

Integrada na “Semana da Biblioteca de Macau 2016”, as Bibliotecas Públicas lançaram desde ontem um programa de “Troca de Livros”. A iniciativa destina-se a promover a leitura e a incentivar a criação de novas amizades, bem como a partilha de recursos entre os cidadãos amantes da leitura, informa o Instituto cultural (IC). O período de recolha decorre até ao dia 17 de Abril e nos dias 23 e 24 de Abril os cidadãos residentes devem deslocar-se ao Edifício do Antigo Tribunal, onde poderão obter um valor equivalente aos livros entregues. Estes serão contados e classificados de acordo com o seu preço original, sendo atribuído um ponto por cada dez patacas.
Vedados a este programas de troca estão todos os livros didácticos, cadernos de exercícios, revistas, publicações pornográficas, religiosas, banda desenhada, sobre tecnologias de informação e periódicos publicados há mais de um ano, livros turísticos publicados antes de 2014, materiais audiovisuais, publicidade, livros e periódicos não originais (que violam os direitos de autor), livros danificados ou sujos, colecções incompletas e livros com inscrições no seu interior.

2 Mar 2016

Cineastas locais na Hong Kong Filmart

É o mais importante mercado de cinema na Ásia e um dos principais no mundo e, pela primeira vez, as empresas de produção de cinema locais foram convidadas pelo Governo da RAEM a lá apresentarem os seus trabalhos e serviços depois de, no ano passado, o Instituto Cultural (IC) ter promovido uma visita de um dia. Este ano serão 12 as empresas presentes e terão direito a uma posição dentro do stand que a Direcção dos Serviços de Turismo irá colocar no local. Aquelas serão responsáveis pelas despesas relacionadas com viagens, estadias e alimentação, mas a entrada e o espaço na feira serão suportados pelo Governo. A acção é coordenada pelo departamento de Indústrias Culturais do IC. A 20ª edição da Hong Kong Filmart decorre no próximo mês de Março, de 14 a 17, no Hong Kong Convention and Exhibition Center.

2 Mar 2016

IC | Abertas candidaturas para Bolsas de Investigação

Começou ontem e termina no dia 31 de Maio o prazo para a apresentação de candidaturas para as Bolsas de Investigação Académica do Instituto Cultural (IC). Estas bolsas têm como objectivo estimular o desenvolvimento de estudos académicos originais sobre a cultura de Macau e intercâmbio cultural entre Macau, a China e outros países. O programa é acessível a doutorados e investigadores locais ou estrangeiros, com comprovada experiência de investigação académica e que tenham produção “de nível reconhecido”. As candidaturas podem ser apresentadas pessoalmente ou via correio registado com aviso de recepção. Os montantes fixados pelo IC são de 280 e 250 mil, com base nas credenciais académicas do candidato e no conteúdo do respectivo projecto de investigação. O regulamento, respectivo boletim de inscrição e plano do projecto de investigação estão disponíveis na página electrónica do IC.

2 Mar 2016

TUI nega pedido de habeas corpus a Ho Chio Meng. Mais dois empresários em prisão preventiva

Até recebe o ordenado como procurador-adjunto, mas quando foi detido – na semana passada – Ho Chio Meng só desempenhava funções como presidente da Comissão de Estudos do Sistema Jurídico-Criminal. O TUI entende, por isso, que não tem direito a não ser preso preventivamente, como os outros magistrados

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]o Chio Meng vai manter-se em prisão preventiva, depois do Tribunal de Última Instância (TUI) lhe ter rejeitado um pedido de habeas corpus. O ex-procurador do Ministério Público da RAEM considerou a sua detenção ilegal e fundamentou-se no Estatuto dos Magistrados, devido a ser ainda procurador-adjunto, mas o tribunal diz que Ho Chio Meng estava apenas a desempenhar funções administrativas.
A questão centrou-se no facto de o cargo que Ho Chio Meng exerce actualmente poder ser incluído no artigo 33º do Estatuto dos Magistrados, que indica que estes “não podem ser detidos ou preventivamente presos antes de pronunciados ou de designado dia para a audiência, excepto em flagrante delito por crime punível com pena de prisão de limite máximo superior a três anos”. Contudo, ainda que Ho Chio Meng se mantenha como procurador-adjunto do MP – e receba como tal -, o TUI considera que, à data da detenção, “estava apenas a cumprir funções como presidente da Comissão de Estudos do Sistema Jurídico-Criminal”. O ex-procurador do MP foi nomeado para este cargo em Fevereiro de 2015 pelo período de dois anos, depois de ter sido nomeado procurador-adjunto.
“Ele ainda é procurador-adjunto e manteve esta qualidade, mas não cumpria funções de magistrado, apesar de receber [o ordenado] como tal. Desempenhava apenas funções de Administração Pública e não de magistrado, mesmo que prestasse apoio. Aliás, a lei não indica que tem de se ser magistrado para coordenar a Comissão”, explicou Song Man Lei, juíza relatora do processo.
O advogado de defesa de Ho Chio Meng, Leong Weng Pun, diz que o ex-procurador deve encaixar-se nesse direito de não poder ser preso preventivamente, por ser “procurador-adjunto” e refere que os direitos de Ho Chio Meng estão a ser violados. “Um magistrado judicial tem mais funções, incluindo administrativas e de assuntos que não são só de tribunal. Ele analisa pareceres e, mesmo depois de deixar as funções de procurador, foi representar Macau na Suíça em Setembro de 2014, num encontro de magistrados. Se não era procurador-adjunto e magistrado, então porque é que lhe foi pedido que representasse a RAEM? Ele continuava a analisar processos e tudo”, atirou.

Recurso impossível

A defesa indicou ainda que Ho Chio Meng tem de estar separado dos outros presos – porque se não estiver “vai estar em perigo” devido aos casos que julgou – e que tem esse direito, acrescentando ainda que o ex-procurador “se encontra doente e não está bem de saúde, tendo de ser tratado”. Mas o TUI continua a defender que Ho estava apenas “em comissão de serviço” e não goza de quaisquer regalias como os restantes magistrados.
“Só uma pessoa que mantém funções como magistrado é que tem essa qualidade [de ser incluído no Estatuto dos Magistrados], mas ele não exercia funções como tal neste período [de detenção], só exercia funções administrativas. Só após terminar o mandato do cargo na Comissão é que poderia voltar, mas tal não aconteceu.”
Também a acusação, representada pelo MP, diz que não estão reunidas as condições para pedir habeas corpus.
O juiz Sam Hou Fai acrescentou ainda que, para inverter a situação de prisão preventiva, Ho Chio Meng teria de interpor um recurso e não fazer um pedido de habeas corpus. Como líder de um cargo superior Ho Chio Meng responde directamente no TUI, pelo que não é possível interpor recurso da decisão. E o pedido de habeas corpus não é aplicável a esta medida de coacção.
“O Tribunal entende a preocupação do arguido, mas um pedido de habeas corpus não é a via legal e não é admissível levantar dúvidas quanto à decisão”, indicou o juiz do colectivo.
O tribunal fez questão de frisar que a detenção não foi ilegal e que a medida de prisão preventiva se aplica a Ho Chio Meng porque “há fortes indícios de que cometeu vários crimes ou de que poderia perturbar os procedimentos” e que “há risco de fuga”.
O ex-procurador da RAEM foi detido na semana passada depois de ter passado a fronteira no Terminal Marítimo do Porto Exterior. É acusado de ter adjudicado serviços e obras a mais de uma dezena de empresas, incluindo de familiares – corrupção, abuso de poder, falsificação de documento, conluio são algumas das acusações que enfrenta.

Defesa vai estudar decisão

À saída do tribunal, a defesa do ex-procurador – na voz de Leong Weng Pun escusou-se a fazer comentários, indicando apenas que “tem de estudar a decisão”. “Ainda não li a sentença, preciso de estudá-la com a minha equipa.” A defesa foi questionada sobre se Ho Chio Meng se encontra detido separadamente dos outros reclusos no Estabelecimento Prisional de Macau, mas Leong Weng Pun disse “não poder responder”.

Mais duas prisões preventivas para empresários

Depois de Ho Chio Meng, o Tribunal de Última Instância decidiu aplicar também prisão preventiva a mais duas pessoas envolvidas no caso. Desta vez são dois empresários locais, “já declarados arguidos e que praticaram actos em conluio com vista à uniformização dos seus testemunhos em processo e perturbaram a recolha de provas e o decurso normal do processo”. A proposta partiu do Ministério Público, que também denunciou o caso, e o tribunal decretou a aplicação imediata da medida de coacção de prisão preventiva. Entre os arguidos estão ainda o ex-Chefe do Gabinete do Procurador, Lai Kin Ian, e um ex-assessor do mesmo Gabinete, estando estes dois proibidos de contactos e de ausência da RAEM.

2 Mar 2016

Eilo Yu critica dependência de serviços de adjudicações

O académico da área de Administração Pública e Governamental, Eilo Yu, considera que os serviços públicos dependem em demasia de adjudicações para os seus serviços, investigações e estudos, sendo assim, muitas vezes, ignorada a capacidade de análise dos funcionários públicos na elaboração de políticas. Ao Jornal Exmoo, o professor da Universidade de Macau (UM) apontou que, seja pelo último relatório de Auditoria ou através do caso de corrupção em que está envolvido o ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng, é possível verificar que existe um problema claro relativamente às adjudicações de serviços no Governo.
Eilo Yu considera ser importante levar a cabo investigações e estudos na Função Pública, mas diz ser anormal um número “tão grande” destes. Existem, aponta, problemas de dependência, assumindo mesmo “competências insuficientes da própria equipa do Governo”, porque, se os funcionários têm de adjudicar tudo, então ou não sabem como fazer, ou não há confiança neles.
“O Governo não valoriza a capacidade interna de análise e de elaboração de políticas. Tem falta de um regime que permita os funcionários públicos aumentar as suas capacidades. Como não sabem como fazer, a maneira mais rápida é depender de instituições exteriores, mas as instituições podem não compreender as necessidades e o resultado poderá não satisfazer a população”, argumentou.

2 Mar 2016

Droga | Programa de metadona obrigatório em estudo

Deputados e Executivo estão a analisar a possibilidade dos toxicodependentes se submeterem a programas obrigatórios de metadona para acabar com o vício da droga. Governo ainda não decidiu sobre aumento das penas para o crime transfronteiriço

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo quer que os toxicodependentes sejam submetidos a programas de metadona obrigatórios para acabar com a adesão à droga, em vez de irem parar à prisão. Este foi um dos assuntos em discussão na segunda reunião de ontem com os deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), no âmbito da análise na especialidade da revisão da Lei de Proibição da Produção, Tráfico e Consumo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas.
“Discutimos sobre o regime de abstenção obrigatória da droga. O nosso regime propõe uma suspensão da pena de prisão para fins de abstenção de droga. O juiz pode mandar o toxicodependente frequentar essa abstenção e os tratamentos para receber metadona, mas será que podemos tornar isto obrigatório? Creio que devemos ajudar e prestar apoio aos toxicodependentes para tirar o vício e a abstenção obrigatória pode ser uma solução. Discutimos se irá ou não violar os direitos humanos, mas no estrangeiro esta medida já é aplicada”, lembrou o deputado Cheang Chi Keong, que preside à 3.ª Comissão Permanente da AL.
À saída do encontro, a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, confirmou a intenção do Executivo. “O que esperamos é que os viciados possam abster-se da droga em vez de ficarem na prisão e estamos a pensar numa medida para que as pessoas não continuem a consumir drogas”, apontou.
Apesar disso a revisão da lei prevê o aumento das penas de prisão para o consumo para um ano. A moldura penal em vigor prevê uma pena de prisão com o máximo de seis meses.
“O Governo não quer combater os toxicodependentes, mas encorajá-los a escolher a [acabar com a droga]. Muitas vezes o que os toxicodependentes escolhem é a pena de prisão, por tratar-se de um período muito reduzido, com uma média de 1,9 meses”, explicou Cheang Chi Keong. “Vamos continuar a discutir com o Governo quanto à moldura penal a aplicar aos toxicodependentes, se esta moldura penal é ou não adequada, porque o consumo de droga para determinados países não é crime, mas em Macau pretende-se aumentar a pena. Será que esse ajustamento serve os objectivos do Governo?”, adiantou o deputado.

Nas fronteiras

Em relação ao crime transfronteiriço de tráfico de droga, o Governo e os deputados ainda não chegaram a qualquer consenso sobre a possibilidade de aumentar as penas. “Ainda vamos discutir se vamos ou não aumentar as penas, ainda não chegamos a uma conclusão. Queremos elevar o limite mínimo da pena para cinco anos, mas temos de ouvir a assessoria da AL. Já antes tínhamos pensado sobre essas questões”, confirmou Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, à margem do encontro.
Segundo Cheang Chi Keong, a actual proposta de lei apenas visa um aumento da moldura penal para o tráfico, consumo ou produção de droga. “Macau é uma terra pequena e se conseguirmos impedir a entrada de droga já facilita os trabalhos de combate no interior do território”, referiu.
A Comissão pretende ainda que haja um reforço dos meios de combate para este crime. “A Comissão entende que os meios a adoptar pelas entidades responsáveis devem ser reforçados na vertente de combate aos crimes. As entidades competentes estão a deparar-se com dificuldades na prática em acusar os criminosos e por isso concordamos em reforçar a moldura penal para reforçar a força dissuasora da lei”, concluiu.

2 Mar 2016

3. A viúva

* por José Drummond

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão vale a pena gritares ou chorares ou pedires para que tenha piedade. Não se trata de isto ser lógico ou de ser o destino ou de haver possibilidade de mudança. Estás aqui neste momento sem te poderes mexer e eu sou a viúva. É assim o nome pela qual sou tratada. Está tudo pintado. Todas as paredes. Sim, todas as paredes e o tecto também. Está tudo branco e apenas as folhas das plantas em verde criam sombras. Esta é uma harmonia própria que quero que sintas antes de fazer aquilo que tenho que fazer. E o macio arredondado do sofá à tua frente com padrões de ondas do mar nunca o irás sentir. Esse sofá será para o meu cliente se sentar.
Não vai ser fácil, e vai demorar tempo. Mas percebe que isto te vai acontecer. Tudo o que tens a fazer é aceitar. Desta vez aquilo que sabes de ti vai desaparecer. E nenhuma cirurgia plástica te salvará. Nenhum novo nome. Nenhuma nova terra. Considera que este é o momento de redenção. Livrares-te de todas as tuas posses. De todo o teu passado. Não te vais tornar outra pessoa. Serás a mesma pessoa. Como sempre fostes em cada mudança de rosto. Em cada mudança de nome. Em cada mudança de terra. Mas claro que serás compensado. Quanto de descobrirem serás notícia e as pessoas irão falar de ti. Como nunca falaram antes. Eu serei responsável por tudo.
Como te disse antes não tens nada a perder. O teu trabalho. Os teus nomes. As tuas vidas. Todas as tuas esperanças. Nada disso significa algo agora. E o teu rosto não importa. Eu vou apenas trabalhar a parte de cima da cabeça. Vi-te estremecer. Sinto-te confuso. Sinto a energia do teu cérebro. Imagino que te perguntes se aquilo que te vai acontecer será uma mudança para melhor? É tudo o que quiseres. Lembra-te apenas neste momento que eu sou conhecida como a viúva. Lembra-te apenas que esta minha expressão sombria está de acordo com o desejo de alguém que quer que existas sem saberes quem és. Não me perguntes quem é. Nunca sei quem é que me contrata. Depois de fazer aquilo que te tenho que fazer irei-me embora e o cliente irá sentar-se nesse sofá com padrões de ondas do mar, e ficará contigo o tempo que quiser para confirmar que o meu trabalho foi bem feito. 050973_Couture_A Widow Thomas_couture
Por esta altura já deves saber porque estás aqui. Lembras-te da tua mulher? Lembras-te quando ela viu a plantação de chá naquelas férias no Japão? Uma tristeza infinita se esboçou na sua alma. Tu deste ideias de não notar, mas a verdade é que sabias que toda aquela melancolia tinha origem no coração. No que ela deixou para trás para cumprir o desejo dos pais. Mas tu já sabias da melancolia dela e foi para teres certeza que a levaste aos campos de chá. Era uma tarde de primavera e o sol ainda não estava muito brilhante. Viste os olhos dela apagarem-se quando lhe apertaste o pescoço. Ainda hoje te perguntas se poderias ter escapado o destino. Aquele romance que nunca conseguiste ter. Quantas vezes imaginaste as longas conversas na cama que ela e ele tiveram? Quantas vezes quiseste ser ele? Lembras-te dessa tarde onde, arredondados, os lábios dela empalideceram?
Ainda vamos demorar um pouco. Tens que perceber que ninguém te virá socorrer. Seria interessante se conseguisses esboçar um sorriso. Em condição de canto do cisne. Devo dizer-te que não vejo qualquer obstáculo em relação à cirurgia plástica. Mas neste caso não te vai ajudar. Se tivesses mantido o teu rosto original ainda poderia ser que alguém te reconhecesse e viesse ao teu encontro quando te encontrarem. Eu sei que o facto de teres feito cirurgia não foi por uma recusa de gosto em relação ao teu rosto. Eu pessoalmente nunca gostei do meu mas também nunca tive uma ideia concreta de que rosto gostaria. Mas, como te digo, não tenho nada contra o teu. Ou contra os teus rostos. Outra coisa que não tens que te preocupar é que não vai perder amigos. Afinal toda a gente pensa que morreste com a tua mulher no Japão. Simulaste bem o suicídio em conjunto. Mas eu sei a verdade. Aquele corpo do homem não era o teu.
Eu tenho muitas vidas passadas. Vidas das quais não sabes nada. Eu sou a viúva e ninguém pode mudar aquilo que é suposto eu fazer com casos como o teu.
Eu tive dois filhos. Um menino e uma menina. Ele era cinco anos mais jovem que ela. Ele desapareceu há já muito tempo. Em relação a ela falaremos mais tarde. Eu e o meu filho tivemos os nossos problemas mas tudo estava bem até ele vir a saber que a mulher que amava tinha morrido. Não me interpretes mal. Isto que te vai acontecer não é uma vingança pelo meu filho. Isto que te vai acontecer tem que acontecer porque alguém quer que aconteça.
Espero que neste momento já tenhas percebido. Isto vai beneficiar toda a gente incluindo tu. Claro que todos as cabeças das pessoas são diferentes até certo ponto. Qualquer coisa que não será contrário às leis da natureza. Estarás ciente de que apesar de tantas mudanças de rosto e de tantas formas diferentes na colocação das sobrancelhas houve coisas que não mudaram. As nossas cabeças não são produzidas numa fábrica, de acordo com normas estabelecidas, mas posso dizer-te que o cérebro ocupa uma zona específica. As diferenças, que foste alternando no teu rosto, foram muito além dos limites do senso comum. Mas não te preocupes. Esse desequilíbrio, óbvio para qualquer pessoa, não irá incomodar em nada naquilo que te irá acontecer.
Mas antes de passarmos à fase seguinte quero que prestes atenção ao que te vou mostrar. “Bem-vindo ao telejornal. Após o assassinato de um mulher grávida na zona da Areia Preta um caso semelhante veio à tona na Vila da Taipa. Uma mulher grávida de 32 anos foi morta e o seu feto foi lhe retirado do corpo. A polícia suspeita que os dois casos estão ligados. Na casa de banho da mesma casa, a polícia encontrou também um homem de 54 anos com queimaduras do quinto grau. O homem foi declarado morto à chegada ao hospital e ainda não se sabe se tinha alguma relação de parentesco com a mulher assassinada. Entretanto em relação à mulher encontrada ao redor da ponte não existem desenvolvimentos na investigação.”

2 Mar 2016

Educação | Pedida reforma e modelo de avaliação de desempenho

A Associação de Educação de Macau apoia a reforma curricular ao nível das exigências das competências básicas, mas também diz que há ainda detalhes a limar: o território continua sem um sistema de avaliação do desempenho e todo o material continua a vir de fora

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Educação de Macau considera que as exigências das competências académicas básicas vão ao encontro da importância de uma formação diversificada para os alunos, no entanto espera que um sistema de avaliação de desempenho de alunos possa ser implementado o mais rápido possível.
Um despacho do Secretário para Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, tornou ontem pública a proposta das exigências de competências académicas básicas, envolvendo sete áreas distintas – “línguas”, “matemática”, “educação moral e cívica”, “actividades de descoberta”, “tecnologias de formação”, “educação física” e “saúde”.  Estas áreas de estudo serão implementadas no primeiro e terceiro ano das escolas primárias já no próximo ano lectivo e a todos os anos no ano lectivo seguinte.
Para o subdirector da Associação de Educação de Macau, Vong Kuoc Leng, a proposta corresponde à tendência de reforma de educação no território. “No passado atribuiu-se mais importância aos conhecimentos, isto fazia com que quando os alunos entravam na escola, os trabalhos e exames duplicavam e trazia muito mais pressão aos alunos. Com a implementação destas exigências é dada mais importância aos hábitos da vida, sensações e às capacidades dos alunos, formando o desenvolvimento da pessoa no seu todo”, afirmou ao Jornal Ou Mun.

Transformação radical

Ainda assim, para o também director da Escola Choi Nong Chi Tai, a reforma da educação não se pode fazer apenas de “exigências” e com a criação de um “quadro de organização curricular”. Existe também, diz, uma mudança dos materiais pedagógicos, do ensino de professores, bem como do pensamento dos pais.
Vong Kuoc Leng considera que os actuais materiais não são especializados em cultura, história e senso comum, apontando ainda que a maioria do material é proveniente de Hong Kong ou do interior da China. É preciso, diz, desenvolver os materiais locais para unificar os conhecimentos dos residentes, para assim coordenar com a implementação das “exigências”.
Além disso, o director considera que a forma de avaliação dos alunos deve também ser alterada, no entanto, há um ponto a lamentar: a inexistência de um sistema de avaliação de desempenho dos alunos, algo que deve, na sua visão, ser implementado.

2 Mar 2016

Ho Ion Sang quer saber taxa de desocupação de casas

O deputado Ho Ion Sang entregou uma interpelação escrita ao Governo onde exige dados sobre a taxa de desocupação de imóveis, bem como a criação de um índice para o sector imobiliário, algo que iria contribuir para uma maior transparência.
“A fim de evitar um comportamento irracional dos consumidores, o Governo possui dados científicos para planear medidas de controlo do mercado imobiliário? Será que o Governo consegue melhorar o sistema de informações?”, questionou.
Ho Ion Sang, também presidente da União Geral das Associações de Moradores (UGAMM, ou Kaifong), citou dados dos censos de 2011, que referiam uma taxa de desocupação de casas de 9,7% com base nos dados de consumo de electricidade, o que se traduz em 22430 imóveis. Contudo, os Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) garantem que não existem informações sobre a desocupação de fracções para habitação ou espaços para lojas, em resposta à última interpelação do deputado.
Citando dados de um estudo da consultora imobiliária Jones LangLaSale, Ho Ion Sang lembrou que Macau teve apenas 3,65 pontos no índice de transparência, tendo ficado no 71º lugar entre 102 países e regiões. O grau de transparência situou-se entre os 3,13 e 3,65 pontos nos últimos nove anos (entre 2009 e 2014). “Os dados da Jones LangLaSale mostram que o mercado imobiliário não está desenvolvido o suficiente, que a lei não é completa e que as informações não são suficientes para o público”, rematou.

2 Mar 2016

“Camarada Obamao, ou como os chineses vêem o Presidente americano!” 奥观海

* por Julie O’Yang

O Camarada ObaMao nasceu no Hawai a 4 de Agosto de1961. Tem como segundo nome GuanHai (a ver o mar), mas tem vivido com o pseudónimo de Barack Hussein Obama II

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]transcrição que acabámos de ler é uma das muitas versões que circulam em sites da República Popular da China sobre a vida de Barack Obama. A ideia geral pode ser resumida desta forma: “O Camarada Oba Mao está connosco! Descendentes do Dragão de todo o mundo, mantenham a calma!”
E o que é que isto quer dizer?
Para a maior parte do povo chinês o Presidente americano é uma figura longínqua que não faz parte do seu dia a dia. É um assunto que verdadeiramente não interessa, afinal de contas a América não é a China e a expressão “eleições presidenciais” é assim uma espécie de… conceito alienígena. Ou por outras palavras, conversa fiada.
Mas como já devem ter reparado, gostam de se meter com o Obama. Chamam-lhe “奥观海”, “Obama de Olhos Fixos no Mar”, insinuando ironicamente, que é um mandatário chinês disfarçado – o nosso Candidato Manchu. Existem muitas piadas deste género, algumas são ainda mais astutas e engraçadas.
Durante a primeira visita à China em 2009, Obama recebeu das mãos de um general do Exército Popular de Libertação um manuscrito onde estava inscrito “观海听涛”.
观海听涛 significa literalmente “Olhar o Oceano e Escutar as Ondas”, que ilustra uma forma muito calma e descontraída de gerir as situações. É um cumprimento convencional e muito antigo, mas é também algo correcto e simpático de se dizer. Mas alguns miúdos gostam de tirar as palavras do seu contexto e dizem que o Obama é “观海对面的家,听涛哥哥的话”: “De olhos fixos no lar do outro lado do mar, escutando tudo o que Hu Jintao tem a dizer” (o último caracter “tao” do nome de Hu quer dizer ondas).
Topam?
Às vezes pergunto-me como é que será estar na pele da filha do actual Presidente Xi Jinping?
Sabemos que se formou em Maio de 2014 em Harvard. A maior parte dos colegas não fazia ideia de quem ela era. É muito discreta, tem um pequeno grupo de amigos e não produziu grande impacto, nem na Faculdade, nem nos outros estudantes.
Passo a citar um excerto de um artigo do New Yorker, https://bit.ly/1c16hWC, que resume em poucas palavras a sua passagem por esta escola:
…Estudou Psicologia e Inglês sob um nome falso. A sua verdadeira identidade era apenas conhecida de alguns membros da Administração e dos poucos amigos chegados — menos de dez.” palavras de Kenji Minemura, correspondente do Asahi Shimbun, que acompanhou a estadia da filha do Presidente Xi na América desde o início.

Donde se conclui que não foi nem uma estudante brilhante, nem alguém de quem os outros se lembrem. Nasceu filha de um presidente “vermelho”, só isso.

Para a próxima vou escrever sobre as mangas “sagradas” adoradas na China nos anos 60 e as suas misteriosas relações com a Preciosa Consorte, a Senhora Yang, da época imperial. Antes de me ir embora, peço-vos que vejam este vídeo que descobri no Youtube:
https://bit.ly/1WKIMCj

2 Mar 2016

“Moms”, apoio à maternidade | Maria Sá da Bandeira e Rita Amorim O, fundadoras

Acalmem-se as futuras mães pela primeira vez, apaziguem as que repetem a maternidade, sorriam os pais. “Moms” chegou a Macau e já está a marcar a diferença. Um serviço de apoio, carinho e dedicação às questões das mamãs, que pretende, a longo prazo, ser uma ponte de entendimento entre a comunidade e os serviços de saúde

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]qui vamos falar sobre amor. Amor de mãe, amor de pai. “Moms” (Macau Maternity Support) nasceu “de uma necessidade” apreendida pelas fundadoras, e também mães, do projecto. Maria Sá da Bandeira, especialista em rotinas e sono de bebé, e Rita Amorim O, psicóloga clínica, esclarecem as dúvidas de todos os agentes em volta da maternidade.
A “Moms” é “o resultado de, primeiro, experiências pessoais das gravidezes em Macau”, começam por dizer. É inegável a grande questão existente na comunicação dos serviços de saúde materna, no território, e as futuras mamãs de culturas diferentes da chinesa. “Ambas sentimos essa falha na falta de apoio no que respeita à gravidez e à maternidade”, confirma Maria Sá da Bandeira. Durante a conversa, Rita Amorim O vai acenando com a cabeça em concordância, interrompendo para acrescentar que é natural que esta falha de comunicação exista pois há várias variáveis. “Há a questão da língua e o apoio emocional. O colo que as mulheres grávidas precisam de ter ao longo dos nove meses de gravidez, é algo que não existe”, acrescentou.
Do mau faz-se o bom e, perante uma situação menos agradável, as fundadoras arregaçaram as mangas e criaram soluções. “Sentimos que existiam desafios emocionais, linguísticos e culturais que não têm resposta para os não falantes de Chinês. Por isso surgiu a ideia”, registou ainda Maria.

Doces sorrisos

Mas para tudo é preciso interesse, preparação e paixão. Neste caso nada falta a esta dupla que carrega em si um negócio, mas um negócio de emoções. “Claro que ambas gostamos muito desta área, gostamos de trabalhar com pessoas e famílias. Já tínhamos falado as duas sobre trabalhar juntas, criar alguma coisa, um serviço à comunidade e, portanto em conversas várias, e ao observar a realidade à nossa volta, acabámos por encontrar este espaço de acção”, apontou Maria. Moms2
Rita traz na bagagem a experiência de ser mãe em Portugal e Macau e, por isso, percebe, porque sentiu na pele, as diferenças que existem nos serviços. “Não é uma crítica ao que temos aqui, até porque nos serviços de Macau existem, por exemplo, os cursos de maternidade, ou sessões sobre a amamentação, mas são só para chineses”, referiu. Uma cidade que se quer internacional tem de estar preparada para os não falantes da sua língua e a “Moms” vem criar precisamente essa “ponte de apoio”.

Uma mão amiga

Apesar da cultura ser diferente – e dos próprios conceitos – também esta é uma barreira que a “Moms” consegue facilmente ultrapassar. “O nosso curso foi desenhado e pensado para pessoas com uma mentalidade e hábitos característicos da cultura ocidental, com aqueles que também nós [as duas] nos identificamos. Mas estamos de portas totalmente abertas para pessoas de cultura chinesa que tenham interesse e curiosidade e que até sentem alguma identificação”, sublinhou Maria.
De sorriso aberto e olhar materno, para além de mimarem as famílias, as fundadoras vêm trazer a base emocional para a grande aventura da chegada de uma criança. Os pais, esses, contam, são muito participativos e interessados, até porque uma gravidez é sempre “um projecto a dois”.
Para já existem três serviços estruturais que a “Moms” já está a oferecer desde o final do ano passado. Cursos de preparação para o parto, apoio psicológico durante a gravidez e no pós-parto e serviços de aconselhamento sobre rotinas de sono do bebé.
Sempre a apostar na formação, as fundadoras contam com o apoio de outras especialistas, como Yara Monteiro, fisioterapeuta, e Christina Kimont, doula. As sessões e consultas dividem-se entre os espaços resultantes de parcerias com o Centro educativo Club-P e a Doctor Clinic, ambas na Taipa.
Aos futuros papás, aqueles que já vivem a maternidade no seu auge, ou até só aos interessados, “Moms” “veio pacificar”. Com a família longe, a falta dos avós, dos amigos e das madrinhas, as possíveis falhas de comunicação acontecem e as dúvidas surgem. Os naturais receios e ansiedade batem à porta e as emoções podem entrar numa verdadeira viagem de carrossel. Com apoio, explicações e um olhar terno o processo da gravidez poderá ser lembrado mais tarde como a “fase mais bonita da grávida”.
Aos interessados, a “Moms” tem uma página oficial no Facebook – “Moms Macao” – e um email através do qual poderá entrar em contacto (momsmacao@gmail.com). O próximo curso de preparação para o parto está apontado para a segunda semana de Março, mas as inscrições já estão a acontecer.

2 Mar 2016

Associação dos Amigos do Livro é reactivada hoje com uma série de debates

“Conversas sobre o Livro” é uma série de seis conferências que pretendem trazer a literatura de Macau para a ribalta. O pontapé de saída será dado na Fundação Rui Cunha por Tereza Sena que falará do património literário da cidade e da necessidade de o classificar. “Nem imaginam a procura que existe pelo mundo fora sobre o corpus literário de Macau”, diz-nos, enquanto sonha com uma base de dados que “nos ajude a ler-nos uns aos outros”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]nvolver editores e autores e promover a literatura de Macau dentro e fora de portas é o grande objectivo da Associação Amigos do Livro (AAL), fundada em 2005, mas que volta agora a ser reactivada. Com o editor livreiro Rogério Beltrão Coelho na liderança, a Associação quer potenciar a importância de Macau como ponte cultural entre o Ocidente e a China, incentivar o interesse pelo livro e pela literatura e contribuir para a melhoria da qualidade literária.
A organização de palestras, como a que hoje se realiza na Fundação Rui Cunha, intitulada “Património Literário de Macau: Abordagem, Propostas e Projectos”, é uma das ferramentas a utilizar. E os responsáveis começam pelo princípio, ao debaterem a catalogação e identificação do espólio literário do território. No último trimestre, projecta-se uma “Semana do Livro de Macau em Portugal”.
“Há imensas pessoas de todo o mundo que procuram diariamente informação literária de Macau pelas mais diversas razões”, revela Tereza Sena, investigadora do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico (IPM) e convidada a orientar a conversa desta noite.
Para a académica, é necessário promover uma “chamada de atenção para todo o corpus literário de Macau” pois, salienta, “é um património valioso e com imensas aplicações diferentes, da complementação do património construído à própria definição de uma política cultural”.
Para Tereza de Sena, a compilação deste património escrito é um trabalho que urge ser feito e, explica, “pode ser abrangente e atingir tudo o que foi escrito em Macau e sobre Macau ou pode limitar-se a uma visão mais restrita, ao que chamamos de literário: a escrita criativa, a narrativa, etc.”. livros
A professora, todavia, preferia não colocar restrições e avançar para a catalogação mais abrangente possível avisando, contudo, para a necessidade de um apoio institucional sólido pois trata-se de um trabalho de grande fôlego que precisa de pessoas, tempo e recursos.

Todas as línguas e todas as histórias

Macau é conhecido mundialmente pelo jogo mas, alerta Tereza Sena, “há imensas histórias interessantes que podiam e deviam ser reveladas”. Salientando o facto de Macau ter sido um importante entreposto comercial e cultural desde o séc. XVI, a responsável diz que existirá muita informação dispersa que deveria ser coligida “em todas as línguas”, diz Tereza Sena, prevenindo que esta ideia não tem “qualquer visão étnica mas sim a do levantamento de um corpo documental, ou textual, que pertence a Macau”.
A este respeito, mostra-se mesmo muito curiosa sobre os “tesouros que existirão para descobrir nas diversas línguas asiáticas”. Para Tereza Sena seria importante ter toda essa informação mais centralizada, mais acessível e a responsável manifesta um desejo: “que a partir daí nos pudéssemos começar a ler uns outros e a falarmos entre comunidades”.

Promover em casa e lá fora

“A produção literária em Macau é curta porque não há incentivos”, diz-nos Rogério Beltrão Coelho, o presidente da AAL. Daí que os grandes objectivos sejam a criação de condições para potenciar a actividade editorial em Macau, seja pela instituição de apoios financeiros para produção e divulgação e mesmo a organização de concursos porque, para Beltrão Coelho, “o que a literatura de Macau necessita para crescer é de ser conhecida no exterior”.
Para o responsável da AAC “falta exposição mediática” e este manifesta a necessidade de pensar de forma diferente e inédita, daí que surja esta Associação que pretende reunir autores e editores tanto de língua portuguesa como chinesa.
Na perspectiva de também editor há falta de envolvimento das entidades oficiais que considera serem muito mais participativas no passado: “antigamente o governador ou o presidente do Instituto Cultural estavam presentes e isso dava outro valor às coisas, arrastava pessoas”, diz.
Essa ausência, no seu entendimento, é uma das razões pelas quais antes estariam cem ou 200 pessoas no lançamento de um livro e agora apenas umas 20. Mas Beltrão Coelho também aponta o dedo à comunidade pois, segundo o dirigente associativo, “as pessoas hoje vivem em pequenos clãs, em pequenas tribos e normalmente reúnem-se apenas para as coisas às quais o seu o seu grupo está ligado. Não há o sentido de comunidade que existia antes”, afirma.

Livros que morrem à nascença

Em relação aos hábitos de leitura em Macau, Beltrão Coelho reconhece que precisa de estudos para os perceber falando mesmo na necessidade de se efectuar uma sondagem que os revele e se as pessoas estão, por exemplo, mais inclinadas para os suportes digitais ou para a edição clássica em papel. De uma coisa, no entanto, tem a certeza: “há livros que morrem à nascença”, diz, adiantando que “as editoras privadas ainda tentam fazer alguma coisa mas muitos dos lançamentos institucionais acabam no armazém”.
“Falta promoção”, garante Beltrão Coelho, que diz mesmo que muitas vezes esses livros nem chegam às livrarias: “passado um dia ou dois do lançamento vai-se à livraria e o livro não só não está lá como provavelmente nunca irá estar”, revela.
A primeira das cinco “Conversas sobre o Livro” previstas acontece hoje pelas 18h30, na Fundação Rui Cunha. A entrada é gratuita e terá tradução simultânea em Cantonês.

2 Mar 2016

O ouro da capital sem abrigo

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão vou esconder o alívio que sinto por já ter passado mais uma gala dos homenzinhos dourados com nome de porteiro. Um momento conhecido por celebrar o cinema mas que, em boa verdade, tenho-a por ser precisamente o contrário. Um sinal dos tempos onde a rendição ao deleite dos brilhos é muito mais importante do que qualquer reflexão de conteúdo. Este ano, o ponto alto foi a não nomeação de actores negros, uma polémica que, sinceramente, apesar da minha ascendência africana, não subscrevo porque quotas só por que sim é coisa que me enerva. Para o ano sugiro uma polémica à volta da ordem de entrega dos galardões. Uma vez que começam dos menos importantes para os mais importantes, interrogo-me porque o de “melhor actor” é entregue depois do de “melhor actriz”. (Ema Watson, se estiveres a ler isto fica aqui a sugestão para 2017).
Enfim, polémicas à parte, apesar dos milhões de caracteres que lhes são dedicados, das inúmeras páginas de jornal e da enormidade de tempo de antena que lhes são dedicados eu até podia passar ao lado do assunto, pois podia. Podia estar a escrever sobre outra coisa qualquer, pois podia. Mas gosto de cinema e estou farto de comportamentos ovinos. A questão não é quem ganha ou quem perde mas a quantidade dos quem sem esta marmelada de evento não passam, como os mosquitos não dispensam o brilho das luzes mesmo que o resultado desse fascínio seja o churrasco. Só por isso perdemos todos. A forma patética, a reverência e o quase fanatismo com que a festa da Academia de Beverly Hills é seguida, como se estivesse a anunciar alguma coisa realmente importante, como uma boa colheita, é no mínimo redutora. Perdem-se noites, tardes, dias a discutir sobre quem vai levar, ou deixar de levar o alienígena dourado para casa como se isso fosse realmente digno de nota. De uma forma benigna, poder-se-á dizer que a culpa é do cinema, do seu poder, um grande e importante poder, digo eu. Mas não é o cinema que está em causa aqui. Só de forma aparente, porque a realidade é que a cerimónia das estatuetas dos áureos carecas é apenas uma contingentação de mercado e, no limite, uma tentativa de asfixia do cinema e é isso que me desgosta em toda este assunto. O que este evento é, isso sim, é a força do marketing, e não a do cinema, porque o cinema não se reduz àquela meia dúzia de filmes que anualmente por ali desfilam.
Concordo que a ideia que fica, claro, é que aquilo é o cinema todo porque é essa a ideia que as grandes produtoras norte-americanas precisam de passar. Para elas, o cinema começa e acaba naquela estrita selecção. Não que os filmes em presença sejam normalmente maus, ou normalmente bons, mas porque o esforço colocado na cerimónia dos homenzinhos carecas é apenas desenhado para condicionar toda uma produção mundial, pois os filmes que por ali não passam praticamente não existem em termos de mercado ou têm muito mais dificuldades em ser distribuídos. Em boa verdade, é o marketing no seu melhor, verdadeira lamparina de centenas de megawatts, porque promove e executa na perfeição a estratégia dos grandes estúdios. Ou seja, como grande parte dos filmes dão prejuízo, os estúdios necessitam de pelo menos um blockbuster no catálogo, de pelo menos uma nomeação, nem que seja para a “melhor maquilhagem”, para que pelo menos um dos chouriços da tábua se destaque da mole e assim possam pagar o prejuízo dos outros, que raramente são filmes independentes de qualidade mas sim produtos de enchimento de natureza duvidosa. Basta ver um canal de filmes…
Como dizia Carlos Morais José, director deste jornal, numa entrevista recente à imprensa local, “os leitores são inventados pela literatura”, o que faz todo o sentido e parece-me perfeitamente possível de aplicar também ao cinema. Todavia, ao promovermos até à loucura este mito dos douradinhos da Academia temo pelos cinéfilos que esta alienação inventa. O cinema das carpetes vermelhas e dos vestidos faustosos (os brilhos) numa cidade que alberga umas das maiores populações de sem abrigo nos Estados Unidos, que já vai nos 44.000 segundo a New Yorker, ao citar a Los Angeles Homeless Services Authority.
De positivo, apenas o facto de alguns dos premiados aproveitarem a massiva exposição mediática para levantarem assuntos realmente importantes como DiCaprio fez, e bem, ao alertar para o aquecimento global. O resto é um potencial churrasco de mosquito.

Música da semana

“Heroes” David Bowie

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive them away
We can beat them, just for one day
We can be Heroes, just for one day

And you, you can be mean
And I, I’ll drink all the time
‘Cause we’re lovers, and that is a fact
Yes we’re lovers, and that is that

Though nothing, will keep us together
We could steal time,
just for one day
We can be Heroes, for ever and ever
What d’you say?

2 Mar 2016

Estudo | Tríades ainda operam nos casinos, mas de forma pacífica

Um estudo da Universidade Cidade de Hong Kong revela que as tríades ainda operam nas salas VIP dos casinos, embora de forma mais pacífica e segundo um modelo empresarial. A DICJ já negou estas conclusões

É certo que a sociedade de Macau já não se vê confrontada com os episódios de violência que marcaram o território no final dos anos 90, protagonizados pelas tríades. Mas elas nunca desapareceram do mercado do Jogo e continuam a operar salas VIP nos casinos. Esta é, pelo menos, a conclusão de um estudo da Universidade Cidade de Hong Kong, da autoria de T. Wing Lo e Sharon Ingrid Kwok, intitulado “Tried organized crime in Macau casinos: extra-legal governance and entrepreneurship”. Entre 2012 e 2015 estes académicos falaram com 17 pessoas, incluindo membros de tríades, operadores de salas VIP, oficiais da polícia e funcionários do Governo chinês com ligações a Macau.
Segundo o estudo consultado pelo HM, as tríades operam hoje nas salas VIP com base num modelo empresarial e até de cooperação, dada a elevada quantidade de dinheiro transaccionado. Os membros das seitas conseguiram ganhar a confiança dos casinos para estabelecerem as suas operações e tudo é feito com base na cultura chinesa do guanxi – a troca de mútuos interesses.
“Apesar das medidas reguladoras, as salas VIP ainda são dominadas pelas tríades, mas estas tiveram de reajustar o seu tradicional papel intrusivo e reinventaram estratégias de negócio mais harmoniosas para se ajustarem à realidade do mercado. As figuras das tríades desenvolveram a ‘Dor’ (reputação) para garantir a confiança dos casinos e para estabelecer as suas empresas VIP. Obviamente que a governação extra-legal providenciada pelas tríades continua a existir nos casinos”, pode ler-se. “Por outro lado, a quantidade de dinheiro que é operada é tão elevada que a maior parte das tríades não consegue operar sozinha. Há uma ampla oportunidade para uma colaboração entre tríades, sem conflitos. O antigo modelo militar e hierárquico transformou-se num modelo harmonioso orientado para um lado empresarial. Há relações empresariais baseadas no guanxi, para a troca de interesses mútuos”, revela ainda o estudo.
Apesar da presença das tríades, nem todos os empresário junket pertencem a seitas. Contudo, estas estão sempre presentes. “Nem todos os operadores de salas VIP são membros de tríades, há também empresários normais, mas têm de se relacionar com as tríades. A maioria pertence a tríades ou são empresários com ligações a tríades, caso contrário, podem ter problemas em manter tudo sob controlo nas operações diárias. O casino selecciona as tríades mais poderosas, com base num par de factores, incluindo dinheiro, ‘Dor’ da tríade e capacidade de mobilizar mão-de-obra”, disse aos autores um membro da seita 14K.

O papel dos americanos

Os autores consideram que a liberalização do Jogo trouxe alterações à presença das seitas, mas não só. “Na última década a indústria do Jogo de Macau tem sido influenciada pelo aumento da interferência do Governo, bem como pela introdução dos operadores de Las Vegas, incluindo Sheldon Adelson e Steve Wynn, para diluir o domínio das tríades.” Contudo, “apesar da actual estrutura do negócio junket ser determinada pelo ambiente de negócio externo e pelas oportunidades providenciadas pela China, as tríades continuam a lidar com as salas VIP como o seu território e providenciam uma governação extra-legal. Monopolizam as salas VIP, encaram-nas como seu território e garantem os rivais não roubam os seus grandes apostadores.”

Apostas debaixo da mesa

O estudo revela ainda que as medidas anti-corrupção adoptadas pelo Governo de Xi Jinping levaram à adopção de novos esquemas de apostas, incluindo as “apostas debaixo da mesa” e apostas via vídeo e por telefone. “Devido às restrições nas viagens, os grandes jogadores chineses já não podem viajar para Macau livremente, então novos tipos de apostas começaram a surgir. As apostas ao vivo transmitidas por vídeo desenvolveram-se nos jogos de baccarat, tendo como alvo os jogadores que não podem realizar visitas a Macau.”
Um dos entrevistados explicou o sistema de funcionamento das “apostas debaixo da mesa”. “Enquanto os jogadores estão fora de Macau, podem continuar a jogar como se estivessem no casino. Têm duas opções. É-lhes dado um nome de utilizador e podem jogar em casa ou, se preferirem, num casino escondido, para terem uma experiência mais real. Há duas camadas de jogadores, os que estão por cima da mesa e os que jogam por debaixo da mesa. As apostas debaixo da mesa são mais elevadas. Isto significa que um cliente que esteja a apostar cem mil dólares de Hong Kong numa mesa de um casino, [leva a que] a aposta debaixo da mesa possa ser de um milhão ou mais. A aposta em cima da mesa é visível e as pessoas podem ver a quantidade de dinheiro que está a ser transaccionada. A aposta debaixo da mesa é diferente, as apostas não são visíveis para os outros e há apenas um acordo entre o apostador e os outros jogadores escondidos”, referiu.
O estudo aponta que “as apostas debaixo da mesa foram uma invenção empresarial para que haja uma adaptação ao mercado chinês e às necessidades dos clientes VIP da China, especialmente quando o Governo Central introduziu medidas anti-corrupção e restringiu as viagens ao exterior para oficiais do Governo”, conclui.
Episódios de lavagem de dinheiro também estão relacionados com os casinos. “Para além das fraudes, a lavagem de dinheiro foi outro crime detectado nas salas VIP devido à crescente corrupção na China. (…) Apesar de não ter sido provado que as tríades estão directamente ligadas a isso, a lavagem de dinheiro é algo altamente controlado e que ocorreu em muitas salas VIP controladas pelas tríades”, pode ler-se.
Os autores contactaram ainda um “dirigente chinês” que referiu que o “irmão de sangue do Dente Partido opera uma sala VIP, por isso, o Dente Partido trabalha lá após sair da prisão, ainda que tenha perdido o poder”. Recorde-se que Wan Kuok Koi era líder da 14K e inaugurou o ano passado uma sala VIP.

DICJ diz desconhecer presença de seitas nos casinos

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) disse à agência Lusa que não tem conhecimento da existência de tríades nas salas VIP dos casinos de Macau, como refere o estudo, mas promete actuar caso detecte irregularidades. “Até ao momento, não verificámos qualquer ‘tríade seleccionada pelos casinos nem a trabalhar com junkets”, promotores de jogo VIP, afirmou o regulador, prometendo, contudo, adoptar as “medidas adequadas” no caso de serem detectadas irregularidades.
Na resposta, a DICJ refere que, de acordo com a legislação, “qualquer parte que requeira a licença de promotor de jogo, independentemente se for indivíduo ou empresa, está sujeita a uma rigorosa verificação de idoneidade e avaliação por parte da DICJ”. Além disso, o órgão regulador diz que vai “analisar, supervisionar e monitorizar as actividades” dos junkets, “em especial, o cumprimento das suas obrigações legais, estatutárias e contratuais e outras responsabilidades estipuladas na legislação aplicável numa base contínua”.

Receitas de Jogo caíram 0,1%

Os casinos de Macau fecharam Fevereiro com receitas de 19,5 mil milhões de patacas, uma queda de 0,1% face ao período homólogo do ano passado, indicam dados oficiais ontem divulgados. As receitas do jogo iniciaram em Junho de 2014 uma curva descendente, com Fevereiro a marcar o 21º mês consecutivo de quedas homólogas, segundo os dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogo (DICJ). Trata-se, porém, da menor queda, que contrasta com a de Janeiro (21,4%) e coloca um ponto final a um período de quebras de dois dígitos que se prolongava desde Setembro de 2014.
A queda de 0,1% tem como comparação Fevereiro de 2015, mês que registou a maior queda percentual em termos anuais homólogos até agora: 48,6%. Os dados revelados vão ao encontro de previsões da generalidade dos analistas, que vêem 2016 como o “ano de estabilização” do sector do jogo, como Aaron Fischer, que antecipou, no início do ano, que os casinos iam fechar Fevereiro, com um crescimento nulo (0%).
Para todo o ano de 2016, o analista da consultora asiática CLSA afirmou esperar um crescimento de 1%. Em termos acumulados, as receitas brutas dos casinos totalizaram 38,2 mil milhões de patacas nos dois primeiros meses do ano, valor que traduz uma diminuição em termos anuais homólogos de 11,8%. Macau contava, no final do ano passado, com 5957 mesas de jogo e 14.578 slot-machines distribuídas por um universo de 36 casinos. Nos primeiros três trimestres de 2015, o PIB contraiu-se 25% em termos reais.

2 Mar 2016

Obrigatoriedade de açaime para todos os cães é “ideia absurda”. Registo de gatos divide

A possível decisão do Governo de obrigar o uso de açaime em todos os cães em locais públicos e elevadores não está a ser bem recebida pela sociedade, nem pelas associações de animais. O Governo agora vem dizer que nada está decidido, mas já há quem queira avançar com petições contra a decisão

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e o Governo for para a frente com a ideia de obrigar todos os cães a utilizar açaime, defensores e donos de animais não vão gostar da ideia. “É um absurdo, é uma ideia absurda. Aliás, o que acho é que esta lei não é de protecção dos animais mais sim de punição e castração dos direitos dos animais e das pessoas que gostam dos animais”, começa por defender Fátima Galvão, representante da MASDAW – Associação de Cães de Rua e de Protecção de Animais.
“O Governo se pudesse tinha uma cidade sem animais”, frisou, quando questionada sobre as últimas decisões tornadas públicas sobre a possível obrigatoriedade do uso de açaime em qualquer tipo de cão, independentemente do seu porte ou raça. Uma situação “caricata” é como caracteriza a situação. “Muitas vezes cães mais pequeninos têm tendência para serem mais excitados e vamos colocar um açaime?”, indagava em declarações ao HM.
Na semana passada, o Governo explicou que decidiu retirar o artigo que definia que qualquer cão com peso igual ou superior a 23 quilos teria de usar açaime. Questionada pelos jornalistas sobre a colocação de açaimes a cães de porte pequeno, Kwan Tsui Hang, presidente da 1.ª Comissão Permanente responsável pela análise na especialidade da proposta de Lei de Protecção dos Animais, disse que “o Governo vai pensar numa solução” mas que, para já, o que é proposto é o uso do objecto em todos os cães. A decisão foi justificada, segundo a presidente, pelo número de queixas “entregues à Assembleia Legislativa (AL)” de pessoas que “têm medo” de cães.

Tudo errado

“Qual é a percentagem de pessoas que por ano são mordidas por animais? Qual é a percentagem de pessoas que por ano são atacadas por animais? São estes factores que devem estar na balança. Numa terra com o calor que muitas vezes se sente é absolutamente criminoso obrigar os animais a ir para rua com açaimes. Sabemos que os animais transpiram pela língua. Um açaime é algo profundamente sufocante. Espero que a lei não seja aprovada, é que senão passamos a ser uma cidade de animais açaimados”, argumentou Fátima Galvão.
Para a Associação de Protecção dos Animais Abandonados de Macau (APAAM) esta decisão do Governo é errada e por isso o grupo decidiu avançar com uma recolha de assinaturas, nas redes sociais, contra o uso obrigatório de açaime.
“Consideramos que esta medida é razoável para os cães com 23 quilos ou mais. Esses sim, devem usar açaime, até porque muitas vezes os donos não conseguem controlar a força do animal quando querem correr ou até mesmo atacar alguém”, explicou ao HM Josephine Lai, vice-presidente da Associação.
A representante discorda também do uso de um cesto, nos elevadores, para os cães de pequena dimensão, aqueles a quem o açaime será de difícil colocação. Josephine Lai considera ainda que a responsabilidade dos donos deve ser sempre a de usar trelas. “É o mais importante”, apontou. “A proposta de Lei de Protecção dos Animais mais parece ser uma lei de ‘gestão de animais’. Isto faz com que ninguém tenha vontade de trazer os cães à rua, nem os próprios cães vão querer”, rematou.

Sem sentido

Joana Couto, residente, dona de um cão de porte pequeno, “não estava nada à espera desta decisão” por parte do Governo. “Nunca imaginei que chegassem a este ponto. Acho que [esta decisão] é de quem não percebe nada de animais e é estranhíssimo pessoas que não percebem decidirem coisas desta natureza”, argumentou ao HM.
Sem perceber o objectivo, porque os açaimes trazem ainda mais “medo” à população e uma ideia de animais “mais perigosos” do que na realidade são, Joana Couto aponta que “esta não é a forma de proteger as pessoas que têm medos de cães”. “Não é assim que se resolve”, sublinhou. O grande problema para Joana Couto é a postura de um Governo que se mostra sempre disposto “a limitar as pessoas que têm cão”. “Por exemplo, em Macau não há ajudas a nível de treino de cães, não existem escolas”, repara.
Sem concordar com a decisão do Administração, a residente acusa o Governo de “retirar todas as oportunidades” que os donos de animais têm para “terem animais saudáveis”.
Também Rita Correia Cook garante que “jamais” irá colocar um açaime na sua cadela. “A minha cadela pesa 2,3 quilos e não faz mal a uma mosca”, indicou, frisando que “a ideia é completamente ridícula”. Sem querer acreditar na decisão do Governo, “porque custa muito acreditar que tenham tomado esta decisão”, Rita Correia Cook conta que esta semana irá juntar “pessoas que partilham da mesma opinião” para avançarem com uma “recolha de assinaturas”. “Claro que não posso concordar, isto não faz sentido algum”, rematou.
Moon Choi, residente, vem reforçar as opiniões. “Não consigo concordar com esta ideia”, frisou, salientando que a mesma “faria sentido como estava antes, ou seja, para cães de porte grande, superior a 23 quilos”. Moon tem uma cadela de dois quilos e não vai usar açaime no seu animal. “Claro que não”, apontou. A jovem acrescentou ainda que os donos “devem conhecer melhor do que ninguém a natureza dos seus animais e de forma consciente saber se devem ou não colocar açaime”.

Diz que não disse

Ontem, à margem da sua tomada de posse, José Tavares, presidente do IACM, voltou atrás e diz que nada está decidido. “Houve deputados contra e uns a favor [da medida] e aí há uma questão de equilíbrio entre o direito do homem e do cão. Há pessoas que têm medo de cães e ao entrar num elevador não sabem como agir, porque estão num espaço fechado. Houve dois ou três deputados que propuseram um equilíbrio para o homem se defender. “Na actual legislação, exigimos [a colocação de açaime] aos animais de 23 quilos”, apontou.
Confrontada com a situação, Kwan Tsui Hang diz que esta questão é “muito polémica” e que demorará algum tempo a ser resolvida. “O Governo ouviu as opiniões. A Comissão ainda não tem opinião”, explicou, à margem da reunião sobre a proposta de Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica que decorreu ontem.
“Não foi tomada uma última decisão. Só que numa primeira discussão o Governo teve também esta opção”, assegurou.

Registo de gatos divide opiniões

O Governo já decidiu e diz não voltar atrás. Aos jornalistas, José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), confirmou a decisão e garantiu que não será aplicado um regime de registo para gatos, tal como acontece com os cães. A apoiar esta decisão está a Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau (APAAM).
“Normalmente os gatos domésticos raramente saem de casa”, defendeu Josephine Lau, representante do grupo, defendendo que o caso dos cães é diferente porque o “objectivo é dar a vacina anti-rábica”. “A maioria de gatos que foi mal tratado são gatos abandonados. Mesmo que sejam gatos domésticos e fujam de casa não é fácil ser apanhado, quer tenham chip ou não”, defendeu. Actualmente a despesa para o registo de cães é de cerca de 500 patacas, mas a questão dos cães não pode, diz, ser comparada com os gatos. “Existem, em Macau, idosos que vivem sozinhos com os gatos, estes ocupam função de companheiro, se precisaram de pagar para registar, os idosos não o vão querer fazer. O registo traz muita pressão financeira e impor isso fará com que as pessoas prefiram abandonar os gatos ou violem a lei”, defendeu.

Prós e contras

A vice-presidente da APAAM desvaloriza o efeito dos chips para o cães. “Muitos cães abandonados que foram apanhados pelo IACM tinham chips mas quando o Governo entrou em contacto com os donos eles não admitiram ser os proprietários dos cães, ou seja, os animais continuam por não ser adoptados”, argumentou.
Para Célia Boavida, residente e dona de um gato, o não registar o gato é uma ideia descabida. “O meu gato tem chip porque é obrigatório para sair de Macau e eu optei por ir a uma clínica colocá-lo. Mas mesmo que não quisesse sair do território acho que é muito importante”, defendeu ao HM.
Não só em caso de perda do animal, como de abandono, “o chip permite identificar o animal ou o seu dono, para além de funcionar como prevenção de crimes”, apontou.
Na sua opinião pessoal, Fátima Galvão, da MASDAW – Associação de Cães de Rua e de Protecção de Animais, o registo de gatos “faz todo o sentido”. “O argumento que os gatos não vão para a rua e não se perdem não é válido. Basta ir a alguma páginas do Facebook e vê-se logo quantos se perdem. (…) Fazia todo o sentido fazer o registo dos gatos. Não percebo porque há dois pesos e duas medidas, porque é que para os gatos há uma programa e para os cães outro”, reforçou.

Falam os números

Nos últimos 12 anos foram abatidos 8164 animais. Os números são do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), citados pelo Jornal Ou Mun, e indicam ainda que 226 gatos e cães foram adoptados durante o ano passado, um aumento de 31 animais comparado com o ano de 2014. Em 2015 registaram-se 238 casos de abandono, um aumento de oito casos em relação a 2014. Cerca de 4500 animais foram abandonados e 552 animais foram capturados das ruas, menos 211 que no ano anterior. Embora o número de adopções tenha aumentado, a diferença entre adopção e número de cães disponíveis para adoptar continua a ser grande. Segundo o Código de Posturas Municipais, se os animais considerados vadios não forem adoptados em 72 horas, depois de capturados, são mandados abater.

1 Mar 2016