Grande Prémio Internacional de Kart de Macau já começou

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]esde ontem que os motores se ouvem com mais intensidade no Kartódromo de Coloane. Quinta-feira foi dia dos primeiros treinos-livres, antes das mangas de qualificação previstas para amanhã, sendo que as corridas irão animar o fim-de-semana.
O regresso do Grande Prémio Internacional de Kart de Macau tem como cabeça de cartaz o Campeonato CIK FIA Ásia-Pacífico KZ. A prova tutelada pela Comissão Internacional de Kart da Federação Internacional de Automobilismo (CIK-FIA) contará com pilotos de quatro diferentes continentes e conseguiu reunir vinte e dois participantes. Contudo, esta prova só foi possível graças aos apoios colocados à disposição dos pilotos internacionais pela organização da prova a cabo da Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC).
“As equipas que mostraram interesse no Campeonato Ásia-Pacífico em Macau não foram todas capazes de garantir um número suficiente de pilotos quando chegou a altura de partirem de casa. A Associação Geral Automóvel de Macau-China fez todos os esforços para cobrir uma parte significativa dos custos, principalmente a acomodação”, explicou a CIK-FIA em comunicado.
O AAMC atribuiu um subsídio de três mil dólares norte-americanos aos participantes na prova, assim como cinco quartos na Pousada Marina Infante e ajuda no transporte local do equipamento. A prova deste ano junta pilotos de várias idades, dos 16 anos até acima dos trinta, alguns com vasta experiência na condução de karts de 125cc de cilindrada com caixa de velocidade, outros estreantes.

Domínio italiano

Destaque para a presença dos italianos Lorenzo Camplese, que começou o fim-de-semana com o pé-direito ao dominar as três sessões de treinos-livres de ontem, e Francesco Celenta, profissionais das corridas de karting e que apostam no conjunto Parolin-TM Racing (chassis-motor) para vencer a prova rainha do karting asiático. O holandês Marijn Kremers (Ricciardo Kart-Parilla) e o jovem francês Hubert Petit (TB Kart-Modena Engines) são outros dos favoritos que representam o “velho continente”.
A Austrália tem em Macau um contingente de dez concorrentes, o maior entre os países participantes, liderado por Joshua Fife (CRG-TM Racing), Cody Gillis (CRGSPA-Maxter), Zane Morse (CRG-Maxter) e Jonathan Mangos (CRG-TM Racing).
João Afonso (Gillard-TM Racing) representará novamente a RAEM na prova, tendo ontem sido 16º, 17º e 19º nas três sessões de treinos.
Para além da prova rainha, quem se deslocar estes dias a Coloane poderá ver também em acção os participantes do Campeonato Open de Karting Asiático, Formula 125 Open Sénior, Júnior e Veteranos; Rotax Max Júnior e Sénior; Mini Rok; Rok Sénior; Fórmula Cadetes; Taça AAMC (X30 Sénior e Veteranos) e Taça Macau KZ. A prova principal está marcada para as 15h00 de domingo e a entrada no Kartódromo é livre.

11 Dez 2015

Justiça | Portugal está a exigir que magistrados portugueses em Macau regressem ao país

O objectivo será preencher os quadros do MP em Portugal. O Conselho Superior português não está a autorizar a renovação das licenças dos magistrados portugueses em Macau e está a fazer com que os profissionais não tenham outra escolha senão o regresso a casa

vítor coelho
Vítor Coelho, magistrado português a viver há 16 anos em Macau
[dropcap style=’circle’]V[/dropcap]ítor Coelho é magistrado do Ministério Público (MP) e trabalha em Macau há 16 anos. Ainda este mês tem de deixar o território, por vontade do Conselho Superior do Ministério Público português, que está a repescar os magistrados que há anos trabalham na RAEM. E não é o único.

A cooperação entre Macau e Portugal ao nível do Direito é um tema constante entre os dois governos e a falta de magistrados na RAEM é uma das queixas mais ouvidas pelos profissionais da área. Mas a questão parece agora adensar-se. É que a licença especial – autorização que a maioria das pessoas ligadas a Portugal que trabalha nos vários organismos da Função Pública de Macau possui – está a ser negada e, por consequência, a fazer com que os contratos que cheguem ao fim não possam ser renovados. Mesmo que tanto o magistrado, neste caso, como a RAEM assim o pretendam.

“Não se percebe muito bem porque é que vou embora querendo ficar e quando, da parte de Macau, fui até convidado a ficar”, começa por explicar ao HM Vítor Coelho, um dos magistrados nesta situação, enquanto mostra uma carta onde é convidado pelo procurador do MP a ficar e a tratar da renovação da licença portuguesa. “O que se passa é que não há possibilidade nenhuma [de renovar] e já me foi negada a licença especial uma vez. Este ano já não tive essa licença.”

A licença especial permite aos trabalhadores com vinculo a Portugal exercerem em Macau com as mesmas regalias de lá e foi terminada. Passou a não ser a única via utilizada pelos magistrados para cá ficarem mas, como ela, também as outras formas deixaram de funcionar.

“Este ano estive com uma licença chamada de ‘longa-duração’ com base numa nova lei. Havia a licença sem vencimento, mas também acabou no ano passado”, descreve o magistrado, explicando que, já no último ano – em que conseguiu a renovação do contrato com a RAEM por mais 365 dias -, as condições da licença eram diferentes. “Não me deixavam descontar para aposentação, por exemplo.”

Também os magistrados que optaram por cá ficar sem essa licença especial não foram promovidos e não tiveram qualquer progresso na carreira.

Um 2016 negro

Ao que o HM apurou, Vítor Coelho não é o único nesta situação. Actualmente, estarão dois magistrados com licenças sem vencimento e um ainda com a licença especial, renovada antes da decisão de Portugal. E até estes deverão seguir o mesmo caminho de regresso.

Nas justificações do Conselho Superior – escritas em acórdãos a que o HM pediu acesso -, já disseram que seria a última vez que renovavam também esta licença especial. Até porque, assumem, para o ano será pior, porque haverá falta de profissionais.

“As justificações nos acórdãos são de renovação de quadros e da necessidade do preenchimento dos quadros por causa de aposentação. É normal que seja para preencher os quadros lá, mas se é assim, então é para não vir mais ninguém para cá?”, questiona o magistrado.

E se recusar regressar? “Não tenho essa hipótese”, explica Vítor Coelho ao HM. “O Conselho Superior é o nosso órgão de gestão e disciplina. Suponhamos que aceitava: aqui estaria tudo bem, eles até queriam que ficasse, mas não poderia ficar sem a licença desse órgão de gestão. Seria, na prática, uma espécie de abandono do lugar. Sou magistrado do MP em Portugal, sou procurador-geral adjunto e, não tendo licença para estar aqui, em Portugal era como se abandonasse o lugar, saía demitido, perdia a minha carreira. Para isso já basta este ano, que já estive a penar um bocado com isso.”

E o futuro?

O problema da não renovação das licenças está a acontecer apenas com magistrados do MP. Vítor Coelho explica que nunca presenciou situações semelhantes noutro órgão até porque, diz, sendo a China a pedir quadros de Portugal, isso deveria ser motivo de orgulho.

“Os acórdãos dizem que, a partir de 2016, há-de ser muito difícil renovar ou conceder licenças para Macau, o que para mim é uma coisa incompreensível. Tanto quanto sei, essa licença especial concedida pelos órgãos em Portugal nunca foi negada. Acontece que a mim e também a colegas magistrados, de há quatro anos para cá, o Conselho Superior do MP começou a pôr muitas reservas e muitos entraves à renovação desta licença especial, que por norma era renovada – através de um pedido ao Conselho – de dois em dois anos.”

O problema é pura e somente com o MP de Portugal e a situação não existe da parte da RAEM, sendo que Vítor Coelho só aceitou falar com o HM precisamente para terminar com os “rumores” de que o problema seria made in Macau.
“A coisa é clara: o senhor procurador pretendia renovar. Fui eu que não pude, porque não tenho condições, caso contrário ficaria. Se tivesse licença ficaria. Não foi Macau, Macau queria que eu ficasse.”

Apesar da dificuldade na renovação ter sido “previsível” para Vítor Coelho, o magistrado não sabe ainda para onde vai trabalhar quando aterrar em Portugal.

Para o profissional, os entraves podem estar a acontecer porque o Conselho Superior gostaria de ter alguma palavra a dizer sobre os magistrados que cá chegam, uma vez que quem os nomeia é a China.

“É normal que a China queira que estes magistrados fiquem devido à experiência e até pela estabilidade. (…) Isto é de uma inconsistência atroz. Há sempre uma grande cooperação e o país tem compromissos importantes com a China em relação ao preenchimento dos quadros dos magistrados aqui. Não entendo, mas respeito, tenho de respeitar e, por isso, vou obviamente regressar.”

A grande questão que se coloca agora é se Portugal vai continuar a colaborar no envio de magistrados portugueses para Macau – algo que o HM está a tentar perceber junto do Conselho Superior do MP português, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Justiça que, até ao fecho da edição, não nos enviaram resposta. Também quisemos saber junto do Gabinete da Secretária para a Administração e Justiça e da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça da RAEM se existe conhecimento do caso, mas não foi possível.

PERFIL

Vítor Coelho não nega que Macau foi a sua casa durante 16 anos. Uma casa da qual “gostou muito” e onde se integrou “muito bem”. Adepto do desporto, o magistrado confessa ao HM que pertencia ao Clube de Ciclismo Recreativo da RAEM, onde tinha um cargo superior, e também ao Clube de Atletismo Fung Loi, tendo até participado na meia maratona de Macau deste ano. À parte destes ciclos, e das “jogatanas” de ténis, Vítor Coelho fala em amigos de várias nacionalidades que vai deixar para trás. “Temos sempre os nossos altos e baixos, mas Macau dá-nos muito e começamos a reflectir nisso. É uma sociedade muito próspera, nunca me faltou nada.” Ficaria, se pudesse, até porque está “muito ligado a Macau”. “Macau deu-me muito e fico satisfeito e conto cá voltar, de vez em quando, até porque tenho interesses emocionais.”

10 Dez 2015

Metro | Traçado da Taipa pronto em 2016, operacional em 2019

A obra toda só em 2019, mas Raimundo do Rosário garante que a construção do traçado da Taipa estará pronto para o ano. Entretanto, e para manter as carruagens dentro de uma garagem, o Executivo está a pagar à Mitsubishi

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]traçado do metro da Taipa deverá estar pronto no final do próximo ano e terá 11 paragens, anunciou ontem o Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário. A novidade foi dada ontem, durante a apresentação das suas Linhas de Acção Governativa (LAG), onde Raimundo do Rosário admitiu o pagamento de mais de 600 milhões para manter as carruagens.
“Em 2016, vamos concluir a parte de construção civil da Taipa, de 9,3 quilómetros, com 11 estações”, lançou o Secretário. “Quanto à oficina do metro, muito em breve creio que vamos celebrar um contrato com o empreiteiro e no primeiro trimestre do próximo ano é possível que possamos abrir concurso para a construção”, acrescentou Raimundo do Rosário.
No entanto, o transporte só estará operacional e pronto a trabalhar em 2019, se tudo correr bem. “Em 2019 a linha da Taipa pode vir a entrar em funcionamento, mas vamos aguardar pelo concurso público”, disse.
É que todo o processo está parado devido a altercações entre o Governo e a empresa responsável pela construção do Parque de Oficinais do metro. Este espaço é fulcral para o funcionamento do transporte e, de acordo com o líder governamental, “as carruagens já estão construídas” sem que haja local para as armazenar e, por isso, Macau “não tem condições” para as receber. metro
Estão actualmente a ser pagos cerca de 700 milhões de patacas pelo serviço de armazenamento destas peças na fábrica da Mitsubishi, a fabricante.
“Pedimos que prestem serviços de manutenção das carruagens”, acrescentou Raimundo do Rosário.
Além disso, o mesmo responsável disse que o concurso público para a construção da estação da Barra deve acontecer já em 2016. Esta é, no entanto, uma tarefa que se revela “muito complexa” por ser uma zona da cidade com muito trânsito.

Autocarros | Secretário sugere diminuição de paragens

Raimundo do Rosário assegurou ontem que a construção de uma faixa exclusiva para transportes públicos entre a Doca do Lam Mau e a Barra será uma prioridade no segundo semestre, mas o Secretário para as Obras Públicas e Transportes avisa, no entanto, que esta é apenas uma experiência piloto na tentativa de minorar o atraso dos autocarros. Foi na sequência disso mesmo que Raimundo do Rosário revelou ainda que a sua pasta está a estudar a possibilidade de “diminuir o número de paragens de autocarros” para que este transporte não seja forçado a parar em tantos locais. “Temos em média 530 mil passageiros diariamente, número que aumenta para 600 mil em horas de ponta”, disse o Secretário, admitindo que as vias se mantêm iguais mesmo com o aumento dos veículos nas estradas. “Vamos negociar com as empresas de autocarros [sobre a diminuição das paragens], é que também não podemos aumentar o número de autocarros”, rematou.

Quarta ligação, prisão e hospital são prioridades

A construção da quarta ligação – que será uma ponte – entre Macau e a Taipa, a elaboração do plano director sobre a região e a conclusão das obras do Estabelecimento Prisional são três das prioridades para 2016, assegurou ontem o Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário. Segundo o responsável as obras das fundações do edifício residencial e da estrutura de enfermagem do novo Hospital das Ilhas deverão estar concluídas já no final do próximo ano. “A segunda fase de construção do Estabelecimento Prisional já tem o seu concurso público realizado e espero que consigamos a concessão em breve”, acrescentou ainda.

Habitação pública | “Não há terrenos” nem concurso em 2016

Raimundo do Rosário foi claro quanto à eventual abertura de um concurso para a atribuição de mais habitação pública para o ano: não vai acontecer. Na apresentação das Linhas de Acção Governativa da sua tutela, o responsável, que respondia aos democratas, afirmou ainda que não deverá haver, para já, a construção de novas tipologias de habitação pública porque “francamente, não há terreno para isto”. Numa resposta dada ao deputado Au Kam San, que pedia mais habitação pública em consonância com o lema de alojamento para todos os residentes locais, o Secretário disse não haver terrenos disponíveis para a construção de mais fracções económicas.

Admitida lentidão das obras públicas

O Secretário para os Transportes e Obras Públicas fez ontem a distinção entre a eficácia das obras públicas e das privadas, admitindo que as do Governo deixam a desejar. “Temos um problema quanto ao andamento das obras. Para as [obras] privadas, basta uma palavra do patrão para as coisas avançarem, mas nós temos que ouvir a população, pedir autorização ao superior e depois disso, [o processo] tem que ir para os subordinados e tudo isso leva tempo”, admitiu Raimundo do Rosário. A explicação surgiu em virtude de várias questões levantadas pelos deputados, nomeadamente por Angela Leong e Sio Chi Wai. “Tudo pára, mesmo com um problema não muito grave”, lamentou o último. Isto, esclareceu, por causa de todos os trâmites obrigatórios.

10 Dez 2015

IAS | Recebidos mais de 400 pedidos de ajuda

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto de Acção Social (IAS), juntamente com a Polícia de Segurança Pública (PSP), recebeu 441 pedidos de ajuda durante os “primeiros dez meses do presente ano” relacionados com problemas sociais, que vão desde a violência doméstica ao vício do jogo. Os dados foram avançados ontem no fim da terceira sessão plenária do Conselho de Acção Social, presidida por Alexis Tam, que não prestou declarações à comunicação social.
De Janeiro a Outubro deste ano, o IAS e a PSP receberam 441 pedidos de ajuda, sendo que 175 deles foram recebidos pela linha de apoio telefónica do IAS. Destes, 97 foram classificados como sendo de perigo iminente, pelo que como explicou o Chefe do Departamento da Família e Comunidade, Au Chi Keong, as entidades enviam pessoal técnico para ajudar as vítimas. Os restantes 78 foram casos que mereceram o acompanhamento, mas não a acção imediata.
Au Chi Keong relembrou que foi lançada uma linha em Novembro exclusiva para a denúncia de casos de violência doméstica, em que a ajuda, contudo, “dependerá sempre da permissão da vítima”. Sem responder se concorda com a definição de crime público na nova lei contra este crime, o chefe do departamento indicou apenas que a Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica “é um tema que se tem discutido muito por causa da evolução da sociedade de Macau”. Dados também fornecidos ontem indicaram que desde o início de Novembro, essa linha recebeu dez pedidos de ajuda.

Não vai a revisão

O tema central do encontro foi a Lei de Bases da Política Familiar, que não será revista, tal como indicou Au Chi Keong. “(…) não se constata neste momento uma necessidade urgente de realizar a revisão”, disse.
Ainda assim, os serviços, diz, vão melhorar. “As famílias hoje em dia têm mais necessidades e por isso adoptamos o método de três níveis de prevenção”, começou por explicar Au Chi Keong. O planeamento em causa, elaborado em 2011, entrou em vigor o ano passado e pretende ser um complemento à Lei de Bases da Política Familiar, aplicando-se em três níveis de ocorrência. “O primeiro é a prevenção e desenvolvimento, o segundo é a tomada de medidas preventivas e o terceiro é resolver os casos”, rematou.

Adesão elogiada

A Associação Geral das Mulheres de Macau e a Cáritas consideram que o compromisso assinado recentemente de “tolerância zero à violência doméstica” serve como um bom mecanismo de protecção antes da implementação da Lei da Violência Doméstica.
A subdirectora da Associação Geral das Mulheres apontou que o compromisso vem no intuito de criar uma rede comunitária da prevenção de violência doméstica, assumindo a responsabilidade de diminuir os acontecimentos, tanto pelo Governo, como pelas entidades.  
“A nossa associação concorda com o compromisso, de forma a regulamentar melhor os serviços de prevenção de violência doméstica, podendo ser um trabalho da fase inicial antes da lei entrar em vigor”, apontou. Recorde-se que a lei está em análise da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa.
Para Lei Hong Su, representante da Caritas, embora o compromisso não tenha força restritiva, poderá ajudar as vítimas de violência doméstica.
A representante acha ainda que o compromisso faz também com que as unidades “não lutem sozinhas contra a violência doméstica” e espera que o IAS reveja a implementação do sistema de forma periódica.

10 Dez 2015

Terrenos | Solução não é feita a “bel-prazer” da DSSOPT, assegura Raimundo

Um dos 22 casos de terrenos cuja concessão caduca este ano foi já resolvido, com a concessionária a sofrer uma derrota em tribunal. Para Raimundo do Rosário, nem tudo é culpa das Obras Públicas e as soluções estão na Lei de Terras, não podem ser feitas a “bel-prazer” da DSSOPT

 
[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, deixou ontem claro que as soluções para as concessões caducadas não são feitas “a bel-prazer” do Governo. Rosário falava face às críticas de deputados quanto à morosidade dos processos de reversão dos lotes.
“Só há uma solução. Temos que seguir a Lei de Terras, é ela quem manda”, garantiu o responsável. Foi em resposta aos deputados Au Kam San e Zheng Anting que o Secretário afirmou estar já concluído um dos 22 casos de terrenos revertidos.
“O concessionário concordou e assinou a reversão, mas disse que vai continuar em tribunal”, explicou.
Além disso, Raimundo do Rosário deixou ainda a nota: “quando há problemas [relacionados com Obras Públicas], a culpa é sempre da DSSOPT”. O líder deu a entender que a responsabilidade da falta de desenvolvimento dos terrenos agora expirados não pode sempre recair na sua tutela, já que, critica, “há pedidos que são impossíveis”. De acordo com Raimundo do Rosário, vários dos projectos que passaram pelas Obras Públicas há 25 anos não cumpriam as normas a que o Governo obriga e por isso mesmo foram rejeitadas. Algumas voltaram mesmo para trás com um pedido de alterações, mas não seguiram para a frente. “Temos que saber quais são as questões imputáveis ao Governo”, frisou.

Burocracias tantas

A ala democrata do hemiciclo criticou o facto do processo de reversão dos terrenos ser demasiado moroso, atrasando assim aquilo que defendem que deveria ser feito: a construção de habitação pública. No entanto, o Secretário para as Obras Públicas e Transportes ficou frisou que o processo obriga a uma série de trâmites. Nomeadamente acções judiciais, que podem ascender às cinco.
“Para cada terreno, há cinco acções judiciais em tribunal e que incluem questões de suspensão da concessão, de despejo e outras com efeitos suspensivos”, explicou.
A clarificação surgiu depois do anúncio da derrota de um dos 22 concessionários em tribunal em meados da semana passada. Confrontado com nova insistência de Ng Kuok Cheong quanto à morosidade na resolução do assunto, o Secretário limitou-se a dizer que “não há conceito de transitoriedade”.
O mesmo responsável disse, tal como já outros líderes governamentais haviam feito, que não existe qualquer caso actual que envolva troca de terrenos, ou a chamada permuta. “Que eu saiba, deputado, não estamos a efectuar qualquer troca de terrenos”, confirmou Raimundo do Rosário.
Sio Chi Wai também criticou a falta de revisão da Lei de Terras, algo que, sublinha, está mesmo escrito em forma de sugestão no documento da proposta de lei. Esta data do ano da sua aprovação, 2013.
“A Lei de Terras pode e deve até ser revista”, disse. O deputado defende que, aquando da aprovação deste regulamento, era já claro que este não satisfazia inteiramente as necessidades da população. Além disso, pediu à equipa de Raimundo uma reunião para discutir este tema.
Já Zheng Anting voltou a frisar a necessidade de usar aqueles terrenos para o bem da população, questionando, tal como já várias pessoas fizeram, se a actual concessão não poderá ser prolongada. Tal obrigaria a que fosse prorrogado o prazo para o mesmo projecto do mesmo proprietário. Contudo, segundo Raimundo do Rosário, a legislação em vigor evita isso mesmo: “a Lei de Terras prevê, claramente, que depois de 25 anos não se pode renovar a concessão, porque é provisória (…) quando se fala da uma nova concessão, já não tem nada que ver com a antiga”, sublinhou.
Assim, terão que ser encerradas as concessões actualmente atribuídas para mais tarde, depois de findo o processo, ser aberto um novo concurso público para nova atribuição. 

10 Dez 2015

Pearl Horizon | Polytec sem interesse em nova candidatura

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente do Grupo Polytec, Or Wai Sheun, afirmou ao canal de televisão MASTV que não pretende candidatar-se novamente ao eventual concurso público para a concessão do terreno do edifício Pearl Horizon, caso perca o recurso que vai apresentar no Tribunal Administrativo (TA) contra a decisão de reversão do terreno por parte do Executivo.
Or Wai Sheun reiterou que o lote era inicialmente para construir uma fábrica e que a finalidade do terreno só foi alterada em 2006. O presidente do Grupo Polytec criticou ainda o facto da apreciação da planta do projecto de construção pelo Governo ter demorado cinco anos, sendo que os restantes quatro anos não foram suficientes para a construção do prédio.
“O Governo pediu a apresentação da planta mais de cinco vezes, nós já tínhamos satisfeito ao máximo os requisitos. Afinal, a planta não mudou e manteve-se a original, foi um esforço desperdiçado. Não temos intenção de açambarcar o terreno, mas a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) não nos deixou fazer obra durante cinco anos”, apontou.
Or Wai Sheun avançou que daqui a dois dias vai apresentar recurso no TA sobre a retirada da concessão do terreno do Pearl Horizon. Questionado sobre a possibilidade do Governo introduzir condições especiais para a protecção dos interesses dos proprietários, Or Wai Sheun frisou que não tem interesse numa nova candidatura, já que “os riscos são demasiados”.
Esta terça-feira cerca de cem proprietários de casas do Pearl Horizon reuniram-se junto aos escritórios do Grupo Polytec, na Areia Preta, solicitando explicações sobre a resolução do problema do terreno. Muitos proprietários preocupam-se com a falência da empresa caso perca o recurso no TA, algo que poderá impedi-la de pagar indemnizações. Ip Wai Keong, director do Departamento de Administração do Grupo Polytec, respondeu que, caso a empresa perca, a questão vai ser tratada de acordo com o contrato de compra e venda das fracções.

10 Dez 2015

Ng Kuok Cheong junta-se à Novo Macau em protesto dia 20

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Ng Kuok Cheong vai participar numa manifestação no próximo dia 20, ao lado da Associação Novo Macau (ANM), ao contrário do seu parceiro político na Assembleia Legislativa (AL), Au Kam San. Recorde-se que os dois deputados, apesar de continuarem a ser membros da ANM, decidiram criar uma nova associação e separar o seu escritório do da direcção da ANM.
Para Scott Chiang, presidente da ANM, não deixa de ser “surpreendente” que Ng Kuok Cheong participe nos habituais protestos do dia do aniversário da transferência de soberania.
“Ng Kuok Cheong e Au Kam San podem ter outra associação, mas ainda são membros da Novo Macau. A nossa manifestação é aberta a todos. É um pouco surpreendente que o deputado tenha decidido juntar-se a nós. Au Kam San e Ng Kuok Cheong têm personalidades diferentes e não podemos pô-los sempre juntos. Nos últimos dez anos têm feito coisas de forma diferente. Mas queremos que todos adiram ao nosso protesto, não só os deputados como também os cidadãos”, explicou ao HM.
Temas como a democracia ou a luta contra a corrupção vão marcar o protesto, que acontece anualmente desde 2007. “Esperamos uma manifestação aberta e uma oportunidade para que as pessoas que têm uma voz para ser ouvida se possam juntar a nós. Queremos uma troca de ideias e fazer esta manifestação todos os anos e mantê-la viva. São os nossos principais objectivos”, rematou Scott Chiang.

10 Dez 2015

LAG | Deputados satisfeitos com prestação de Raimundo do Rosário

No rescaldo do primeiro dia das LAG de Raimundo do Rosário, os deputados consideram que o Secretário foi directo a todos os assuntos colocados em cima da mesa, mas lamentam que não tenham sido dados mais pormenores sobre vários assuntos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados José Pereira Coutinho e Gabriel Tong consideram que as respostas de Raimundo do Rosário aos deputados da Assembleia Legislativa (AL) ontem, durante as LAG, foram acertadas. Questionado pelo HM sobre o rescaldo do primeiro dia do Secretário para as Obras Públicas na AL, Pereira Coutinho classifica a sessão como “interessante” e explica que o responsável é o único que, desde o estabelecimento da RAEM, tem sabido resolver os problemas da tutela.
“O lixo não se consegue limpar todo de uma só vez e o Secretário está a corrigir e a resolver problemas que já vêm de trás, do tempo de pessoas que já não estão no poder”, disse.
O também presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau fazia alusão aos dois ex-Secretários desta pasta: “um está em Coloane [Ao Man Long] e outro está no Centro de Ciência [Lau Si Io]”. Também Gabriel Tong considera que se tratou de uma sessão com pés e cabeça, onde reinou o bom senso.
“O Secretário deu respostas claras e directas, é muito directo”, sublinhou. O também advogado acrescentou, no entanto, que algumas respostas não foram pormenorizadas, mas tal não faz com que Gabriel Tong deixe de ver a sessão como “positiva”.
Igualmente questionado pelo HM, Si Ka Lon vê as respostas do líder desta pasta como categóricas. No entanto, diz que lhe pareceu que Raimundo do Rosário não apresentou novas ideias para o futuro.
“Na minha opinião, o Secretário só se interessa em acabar primeiro os trabalhos do passado que ficaram por concluir”, começou por dizer.
O deputado exemplificou com a falta de pormenorização da resposta à sua pergunta: “O Secretário também não respondeu grande coisa ao que eu perguntei sobre a criação de uma cidade inteligente, que não foi mencionado no relatório das LAG, pelo que fica a ideia que de que não existem funcionários suficientes e não há, naquela pasta, um pensamento aberto à inovação”, apontou.
Si Ka Lon lamentou a inexistência de “um planeamento a cinco anos”, à semelhança daquele apresentado por Chui Sai On. O deputado considera, assim, que o Secretário pode responder de forma mais detalhada às perguntas colocadas.
“Espero que exista uma comunicação melhor. Parece-me que o Secretário diz que não consegue responder a uma determinada pergunta sem explicar porquê”, criticou. Finalmente, deixou a ideia de que “talvez o Secretário tenha medo de fazer alguma promessa futura” à população.

Directo ao assunto

Para o deputado Chan Iek Lap, que questionou Raimundo do Rosário quanto à Escola de Pilotagem, à protecção ambiental nas escolas e às telecomunicações, a sessão foi positiva na medida em que obteve respostas claras por parte de quatro dos directores de serviços presentes ontem na AL.
No entanto, lamenta que as respostas não tenham vindo de Raimundo do Rosário. De entre as questões repetidas, estão algumas relacionadas com a concessão dos terrenos ao abrigo da Lei de Terras, a celeuma do Pearl Horizon ou o trânsito.
Chan Iek Lap criticou o facto das respostas serem “muito vagas” e indirectas. “Não consegui ouvir o Secretário revelar pormenores sobre a revisão de leis, uma vez que se cingiu a dizer que faz tudo de acordo com a lei”, começou por dizer. “Não foi um debate muito profundo”, acrescentou. Chan Iek Lap considera, no entanto, que este comportamento se deve ao facto da língua materna do líder não ser Cantonês. “Deve ter receio de errar se falar demais”. O deputado fez ainda a comparação com Alexis Tam, que caracterizou como “muito falador”.
A defender a falta de pormenor nas respostas de Raimundo do Rosário está Mak Soi Kun, que preferia ter visto mais dados durante a tarde de ontem. “O Secretário respondeu os problemas de acordo com a lei, mas as suas afirmações não foram muito completas”, disse.

10 Dez 2015

Jogo | Sugerido regime de avaliação para trabalhadores

Iau Teng Pio, professor de Direito da Universidade de Macau, considera necessário criar um regime de avaliação para os trabalhadores do Jogo. Num seminário, organizado pela  Federação das Associações dos Operários de Macau, Iau Teng Pio defendeu que um sistema destes poderia ajudar o sector a perceber como gerir os recursos humanos.
“Os trabalhadores de Jogo são profissionais e, se existir um sistema de ranking para todos os trabalhadores e com a concordância dos casinos, estes podem ser avaliados objectivamente, ao nível do seu desempenho no trabalho, o que pode ajudar o sector em vários aspectos, como na promoção dos funcionários, na mobilidade de recursos dentro das empresas e na aposentação”, defende.
“Se a capacidade puder ser verificada por um regime de avaliação os empregadores vão ter uma forma de medida objectiva quando acontecerem eventuais problemas contratuais, como despedimento. O regime pode ser útil tanto no problema da promoção, como de despedimento, desde que espelhe a competência e potencialidade dos empregados”, explica ao Jornal do Cidadão, sugerindo que a lista seja partilhada entre operadoras para quando os empregados mudarem entre casinos.

10 Dez 2015

MAM | Mostras sobre Cidade Proibida e arte europeia

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Museu de Arte de Macau (MAM) arranca com várias exposições, mas foca-se nas artes chinesa e europeia. É já amanhã que inaugura “O Palácio Magnificente: arquitectura imperial da Cidade Proibida”, que relata, como o nome indica, a história da arquitectura daquele espaço tão característico.
“[A mostra] apresenta maquetes e componentes de antigos edifícios tais como suportes dougong, peças esmaltadas, decorações pintadas, biombos filigranados, utilizados na construção, assim como tabuletas e dísticos decorativos da Cidade Proibida”, esclarece o MAM no seu website. 101215P10T2
O Museu assegura ainda que a mostra oferece “uma visão rara da beleza e sofisticação da arquitectura antiga da China”, estando em exposição até 13 de Março do próximo ano. Com entrada gratuita, promete deslumbrar todos os interessados em arquitectura e nas linhas de desenhos orientais.
Já 2016 abre com a exposição “Um século de arte Austríaca”, que deverá incluir nomes sonantes como Gustav Klimt, Egon Shiele ou Oskar Kokoshka. Serão cem as obras nas paredes do MAM e estas percorrem os séculos XIX e XX. Os fãs deste tipo de trabalhos podem ir até ao museu de 30 de Janeiro a 3 de Abril de 2016.
Kokoshka é um dos artistas expressionistas mais influentes do século XX, tendo dupla nacionalidade britânica e austríaca. O seu repertório afirma-se como sólido e predominantemente direccionado para o retrato enquanto forma de expressão. As suas telas mais conhecidas apresentam crianças de corpos estranhos. O artista ingressou na 1ª Guerra Mundial e ficou ferido, mas nem por isso deixou a pintura de lado. Já Klimt ficou reconhecido pelo quadro “O Beijo”, onde retrata a relação sexual entre um homem e uma mulher. Produzido entre 1907 e 1908, “O Beijo” integra-se no período dourado do autor.

10 Dez 2015

UM | Yao Jingming diz que não há redução do Português

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]professor associado do Departamento de Português da Universidade de Macau (UM) Yao Jingming considera que não existe qualquer redução ao nível do ensino do Português na instituição onde lecciona. Ao HM, o docente considera que a inclusão da disciplina opcional “Língua Portuguesa I – Introdução ao Português” no Minor de Estudos Portugueses visa uma melhoria do ensino.
“Existe um mal entendido sobre esta matéria. A UM não tem vontade de cortar os recursos em termos do ensino do Português. Pelo contrário, acho que está a tentar optimizar os recursos para tornar o nosso curso ainda melhor. Temos vindo a tomar uma série de medidas com o objectivo de fazer a revisão do curso de Português. Oferecemos o curso, uma licenciatura de quatro anos, e este curso é a maior prioridade do nosso Departamento. Também temos a disciplina opcional, que já oferecemos há muito tempo e está virada para todos os alunos da universidade que querem estudar Português”, explicou Yao Jingming, garantindo que muitos dos alunos procuravam esta disciplina apenas para efeitos de créditos e não por gostarem do idioma.

Outros valores

“Muitos alunos que optaram por esta disciplina fazem o primeiro semestre e no segundo semestre desistem. Se 400 alunos optam pela disciplina opcional de português no primeiro semestre, e no segundo ficam apenas 40, acho que esse curso não serve para formar alunos qualificados”, referiu.
O professor assistente disse ainda considerar “duvidoso” o “entusiasmo pela Língua de Camões no primeiro semestre”. “Temos de ensinar aos alunos que aprender Português não é apenas para tirar uma nota. Não é só para tirar três créditos e depois acaba tudo. Queremos incentivar o interesse e até a paixão pela língua e cultura portuguesas”, apontou.
O facto dos alunos terem de efectuar um Minor não é visto com maus olhos pelo também poeta. “Não vejo o fim do curso, mas sim uma revisão. Esse Minor visa incentivar os alunos a aprender Português por mais tempo. Isso será muito positivo para quem tem um interesse real. A UM quer levar o ensino do Português no bom caminho”, disse.
Yao Jingming defendeu ainda a adopção de critérios mais rigorosos na admissão de alunos. “Macau tem excelentes condições para ser o centro de formação de bilingues, mas acho que ainda temos de explorar ao máximo essas condições. A Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim tem muito sucesso em termos de formação de bilingues, porque os alunos que entram são seleccionados a pente fino. Defendo que quando admitimos os alunos para aprender Português temos de ser mais exigentes na selecção dos alunos, mas isso parece-me difícil de pôr em prática, visto que temos de ter em conta a realidade de Macau. Também temos de apostar no ensino do Português mais cedo, na escola primária ou básica”, referiu.

10 Dez 2015

“Céu Azul” | Já há escolas a recusar sair dos pódios de edifícios

Alexis Tam quer retirar 15 escolas dos pódios dos edifícios e criar condições mais dignas de funcionamento, mas uma já recusou transferir as suas instalações. O projecto “Obra de Céu Azul” ainda não tem orçamento

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo já anunciou que no prazo de 15 a 20 anos quer retirar todas as escolas que funcionam em pódios de edifícios sem as devidas condições, mas uma escola incluída no plano já recusou abandonar as actuais instalações.
A garantia foi feita ontem pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. “Quanto a respostas negativas, já temos uma. A primeira escola que contactámos não quer sair, porque está a funcionar na zona norte, junto às Portas do Cerco. Mas ainda vamos negociar com eles”, disse à margem de uma reunião conjunta dos Conselhos de Educação para o Ensino Não Superior e da Juventude.
O Secretário confirmou que a recusa se pode dever à situação financeira da própria instituição de ensino. “Dentro de 15 anos vamos conseguir [mudar todas as escolas], mas é preciso que estas concordem. Muitas vezes não querem porque actualmente têm mais facilidade em arranjar alunos. Mas fiz um apelo e têm de pensar nos alunos, não apenas na parte económica”, disse Alexis Tam.

Quanto custa?

O projecto “Obra de Céu Azul”, que pretende proporcionar mais espaços ao ar livre para as escolas, ainda não tem um orçamento definido. “Ainda não temos, mas temos planos e vamos revelar [informações] a pouco e pouco. Primeiro temos de encontrar terrenos para estas escolas que funcionam nos pódios. Já fomos visitar uma escola da Cáritas, do ensino especial, e vamos fornecer informações. Já temos um projecto para uma escola no Jardim de Lisboa, na Taipa, e Paul Pun também concordou. Talvez em Janeiro tenhamos mais informações”, frisou o Secretário.
Durante o encontro, Alexis Tam confirmou ainda que os espaços onde actualmente se encontram essas escolas irão servir para abrir mais creches ou para o fornecimento de cuidados a idosos.
Na reunião foram muitos os participantes que pediram trabalhos mais céleres na retirada das escolas dos pódios, mas o Secretário mantém a meta dos 15 anos para a alteração. “Para mim este é um plano realista e são 15 escolas, não são uma, duas ou três. As escolas já existem, mas para fazer uma renovação ou mudança, ainda leva uns anos a ter a autorização dos serviços competentes”, apontou.

Alexis Tam contra “aldeia escolar” na Zona A

O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura recusou criar uma aldeia escolar na Zona A dos novos aterros, ideia proposta por um membro do Conselho. “Sobre a criação de uma aldeia escolar, primeiro não tenho informações. A nossa directora [dos Serviços de Educação e Juventude] também não sabe. Se aquela área é muito grande, não pode haver só uma zona [com escolas], têm de ser espalhadas. Haverá várias zonas e bairros e onde se vão construir muitos edifícios. Existindo um bairro, poderá ser construída uma escola. Temos de espalhar escolas por vários bairros”, confirmou à margem da reunião.

IPIM vai gerir formações para sector MICE

O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) vai passar a gerir o “Plano de Apoio à Formação de Talentos Profissionais de Convenções e Exposições”. Criado o ano passado, o plano estava a ser gerido pelos Serviços de Economia. O prazo de candidaturas vai até 31 de Dezembro de 2016 e os montantes de subsídios variam entre as 30 mil patacas e dois milhões de patacas.

10 Dez 2015

FRC | Exposição sobre 14 anos do Torneio de Soberania

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Fundação Rui Cunha (FRC) recebeu ontem a inauguração da exposição fotográfica sobre os 14 anos da realização do Torneio de Soberania. Ao HM, o presidente da Associação de Futebol de Veteranos de Macau, Francisco Manhão, explicou que a ideia é assinalar a data de forma especial, à semelhança do que foi feito aquando do décimo aniversário do torneio.
“Quisemos celebrar de forma fora do normal e, para além da exposição, também vamos mandar fazer uma revista”, disse Francisco Manhão, que garantiu ainda que a celebração da efeméride está ligada ao aniversário da transferência de soberania de Macau. futebol macau
O público poderá assim ver mais de uma década de futebol em imagens. “Tive que ter muita paciência para seleccionar as fotografias e tive que escolher fotos com alguma graça. Não foi fácil escolher 14 anos de fotografias. Muitos pensam que foi um trabalho fácil organizar os torneios, mas não foi”, apontou Francisco Manhão.
A realização da exposição pretende ainda chamar a atenção dos mais jovens para este desporto. “É uma oportunidade para os aficionados do desporto-rei conhecerem o nosso trabalho, e também para fazer ver às camadas mais jovens que devem dar continuidade. É uma espécie de incentivo”, rematou.

10 Dez 2015

Centro UNESCO | “Paisagens da Cidade” de Chan Iu Pui inaugura hoje

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]exposição“Paisagens da Cidade – Exposição de Obras de Chan Iu Pui”, integrada no Projecto de Promoção de Artistas de Macau, inaugura hoje. A mostra, que abre às 18h30 na sala de exposições do Centro UNESCO, reúne mais de uma centena de caricaturas do artista local.
Chan Iu Pou, também conhecido por Chan Pui, é um caricaturista que, desde muito jovem, sempre gostou de fazer desenhos e aprendeu a desenhar com Tam Chi Sang, na Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau desde a década 50 do século passado. Começou a publicar os seus desenhos nos jornais e revistas, tanto de Macau como de Hong Kong e do interior da China. Os desenhos retratam os acontecimentos e a sociedade de Macau, através de uma forma crítica e realista.
Durante as décadas de 80 e 90, o artista trabalhou num cinema de Macau e pintou muitos cartazes de filmes, em tamanho grande, já que foi o primeiro pintor manual de cartazes cinematográficos de Macau. Esse trabalho deixou de ser necessário e Chan Pui começou, nos últimos anos, a ter grande interesse pelos assuntos histórico-culturais e as ruas de Macau.
Desde 2010, Chan Pui publicou quatro séries de postais com paisagens de Macau e as suas obras foram exibidas em diversas exposições. Foi vogal da Direcção da Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau e actualmente é consultor desta Associação.
Esta exposição, organizada pela Fundação Macau, apresenta quadros essencialmente com paisagens de Macau que “mostram a beleza da cidade de ângulos diferentes”. A mostra estará patente ao público de 11 a 18 de Dezembro, todos os dias, das 10h00 às 19h00, e tem entrada livre. Hoje é ainda lançada a publicação “Colecção de Obras de Chan Iu Pui”.

10 Dez 2015

Se nasce morre nasce… desmorre… desnasce

No dia da morte de Oscar Wilde e Fernando Pessoa

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omeçar com uma frase do belo poema visual de Haroldo Campos na rítmica compreensão do tempo cíclico, que é um mantra belíssimo na linguagem, na arquitectura métrica, para falar do dia 30 de Novembro, dia de Oscar Wilde e Fernando Pessoa, que morrem por razões naturais, no mesmo dia, num mundo, que nem sempre para eles, pareceu muito óbvio.

Se
Nasce
Morre nasce
Morre nasce morre
Renasce remorre renasce.
Re
Desnasce
Nascemorrenasce
Morrenasce.
Morre.
Se.

Sim! Este ir e vir, este vai e vem, que morre, que nasce, que desmorre… remorre… é uma dança tão bonita que podemos ficar nela pendurados até aos quadris da eternidade, se para os mais optimistas e vivificantes hiperbólicos «Tudo é vida», já para os tristes tudo «É morte», mas nada é do que se supõe de tão definitivo, nada mesmo nada se encontra de um lado só, e nada melhor que a frase de Pessoa: “morrer é só não ser visto”. Também não temos a certeza se vivos o somos… Daí que, na vasta perspectiva das sombras, estar vivo é uma função sombreada e estar morto é ser-se talvez um fantasma; e, como bem se sabe, eles são brancos.
Há dias inscritos como sombras florestais no seio de uma aritmética gigante, coisas dos fundos que os acompanham a compasso, estes dois poetas, escritores, foram desaguar no seu Sargaço no mesmo dia frio em que o Inverno assoma. Nem um nem outro se conheceram, obviamente, mas ainda tiveram vivos no mesmo tempo físico, breves anos é certo, o que dá uma ligeira intimidade contemporânea, mas com as diferenças típicas dos seus respectivos meios ambientes e educações.
Se o véu da possível homossexualidade de Pessoa se levanta indelével, já Wilde a tocou, sim, de modo trágico. Pessoa era um judeu em fuga às quiméricas Inquisições e por isso havia que inventar nomes, desviar, mitigar, perder o rasto, multiplicar…. aluarar…. pé ligeiro e alma ao vento.
Wilde era um «dandy» exibicionista, muito irónico, cosmopolita e perdulário. O mundo para eles era um palco de nações perdidas e de actos que não chegavam jamais à transcendência. Nisto pareciam semelhantes, na causticidade de um destino, onde Deus no último instante e cansado de os inspirar os abandonava, e eles se abandonavam a um nada que sempre pressentiram, em última instância, existir.
Se Wilde estava mergulhado na Inglaterra vitoriana que não lhe perdoa ousadias, nem prevaricações, Pessoa enublou-se de uma Lisboa cinzenta de tal ordem ofensiva que ele “desmorreu”. O traquejo dos sub-reptícios súbditos de sua Majestade não gostam desta gente: Wilde é mesmo condenado sem apelo nem agravo por todas as luxúrias que o seu apetite não ousou disfarçar e Paris, que nem sempre é uma festa, vai dar-lhe a mais assombrosa das experiências.
Escreve então a obra redentora para depois morrer na sua miséria e indignado por causa de um papel de parede: «De Profundis» uma obra epistolar onde as «Cartas de amor» de Pessoa parecem coisas anormais de caricatas. Wilde sabia de qualquer coisa… outra… grandiosa… essa, sim, redentora. Sofreu mais! Quando leio esta obra, peço-lhe sempre desculpa, pois que para isso acontecer está subjacente um drama imenso, uma náusea severa, um destino fabuloso. Dirigia-a a Lord Douglas mas, tanto faz, ele é um arquétipo de toda a mediocridade malévola que povoa o Mundo.
Por isso, creio, que entre cartas e fenómenos vários, ambos devem ter morrido, de fome ou coisa parecida, assunto de somenos, dado que no estádio adiantando de grande depuração comer é até perigoso, mas que se morre, morre. Tanto que comiam, que viveram alguns anos, um quarenta e outro quarenta e sete… um até bebeu mais do que comeu, suponho.
Por isso eu creio que a data “papoilita” do 21 de Março não corresponde à “coisa”, que esta coisa não é simples, nem fresca, nem florida, embora creio que eles tenham feito do Mundo uma espécie de «Jogos Florais»: sabemos que se morre no Inverno, morre-nasce na Primavera. Pés de Cereja para drenar o cérebro e os rins, pouco afoitos a datas eram eles, um disse mesmo: só ficam com o dia do meu nascimento e da minha morte, de resto, todos os dias são meus. O nascimento é outra história e não vamos falar dele se não o fantasma branco de Pessoa começa a fazer horóscopos. Por um triz que não bateu certo! Mas ele não era de coisas e disse logo: não morri naquele dia porque seis meses correspondem a dois minutos na carta do céu. Uma carta que era diferente do autor do «De Profundis» mas que ele explicaria muito bem, caso a tivesse averiguado. oscar-wilde
– Para histórias da carochinha, já bastam os dramas cómicos. Tu, Fernando, não sabes escrever cartas; tu, Óscar, fizeste a melhor do mundo. Achou-vos graça Deus, levando-os a 30, uma espécie de 125-Azul. –
Ambos gostavam de jovens, o Fernando era de crianças, mas, de forma exemplar.
– Oscar, não te devias ter metido com aquele rapaz!
Mas se não te tivesses metido com aquele rapaz tinha-se perdido o testamento que faz com que tudo na vida, afinal (e só depois o averiguarmos) fique tão certo, a matemática do destino que vos empurra para um mesmo número. Sabemos nós destas coisas, nós os “descamisados”, sabemos muito de números, e o mundo é irregular dado que quem toca neles não entende da sua aritmética.
Por mim, que vos amo, não me foi difícil, esta manifestação que embora estranha é à medida daquilo que sois. Estamos cansados de ouvir “palrar” coisas sem sentido da parte de uns e de outros, que até de vós fujo quando por eles pronunciadas… pois que quando nasce… morre… agora que ao desmorrermos iremos brincar, dado que a nossa tarefa no mundo também passa por essa linda experiência. Já encomendei uma morte para o mesmo dia. Vejam lá se aparecem, pois que não estive a fazer este texto por acaso.
E assim, na trágica composição do elemento que transforma palavras em coisas, se desmorre sempre para o infinito instante de nós mesmos.
Se um tinha amigos imaginários e outro escrevia cartas para o «boneco», eu não só tenho amigos fantasmas como escrevo missivas para os espectros. Não me assombrem mais, que tenho que vos ler e olhar por vezes o quanto as chuvas são oblíquas e tirar retratos sempre jovem.
O que mais me aprazaria era ser Salomé e que me desassossegassem sem ver de quê . Não digo o que fizemos no dia de finados porque já não nos acreditariam. Não me esqueço das más companhias como a do Alexey Crowley… de ti Fernando… e essas coisas que só o éter digere. Quanto ao querido Oscar deves ter ido mesmo para um local qualquer… passaste a fronteira, não foi? E repetiste a gracinha quando te perguntaram: que tem a declarar nesta alfândega?! «Nada mais que o meu génio». Pois claro.

10 Dez 2015

Assuntos sociais | Governo precisa de “melhorar” e de dar mais respostas

Uma melhor gestão, ajuda no imediato e acelerar as leis que a assuntos sociais dizem respeito são alguns dos pontos defendidos por diversos membros de associações de solidariedade. A falta de preparação do Governo, dizem, está a criar uma geração frágil

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Se o Governo diminuísse em 15 minutos o fogo de artifício no Ano Novo, por exemplo, pouparia muito dinheiro para o que realmente é importante.” É assim que Trang Dooley, membro do Clube Internacional das Mulheres, começa por apontar a necessidade de melhorias nas ajudas sociais do Governo. Trang Dooley falava ao HM durante um encontro, ontem, que juntou várias associações de solidariedade social. Mulheres vítimas de violência doméstica, idosos, jovens problemáticos e crianças com necessidades especiais são as principais áreas das associações que marcaram presença no encontro.
“Nós servimos para apoiar associações, neste momento contamos com 22. Em termos práticos, o que fazemos são campanhas de recolha de fundos para ajudar quem nos pediu ajuda, isto, claro, passando pela análise do tipo de ajuda”, continua Dooley.
O Governo, através do Instituto de Acção Social (IAS), tem feito um “bom trabalho”, mas ainda assim insuficiente e deficitário. “Por exemplo, a burocracia é um problema. Imaginemos, que até já aconteceu, nas instalações de uma associação rebentar um cano e ficam sem máquina de lavar roupa, ou até um frigorífico. São coisas caras, em que é preciso gastar dinheiro. A quem é que estas associações pedem? Ao IAS? Não. Não, porque sabem que têm que resolver o problema naquele momento e o Governo não está preparado para dar respostas no imediato, precisa de papéis e mais papéis e tudo demora uma eternidade. O que estas pessoas muitas vezes precisam são de soluções na hora”, relata.
A má compreensão dos casos é também apresentada pela voluntária como um erro no sistema actual. “Nós conhecemos os casos porque vamos às associações, falamos com as pessoas, não nos resumimos a ler nos jornais ou na internet. O Governo dá dinheiro, é certo, mas deve assumir que o dinheiro não é a solução para tudo. É preciso criar condições, é preciso perceber o que efectivamente as pessoas precisam e criar forma de as ajudar”, aponta.
Não só de dinheiro se tratada a caridade, defende ainda. “Pensar que o dinheiro resolve é um erro. Estas associações, as pessoas que estas associações ajudam, precisam muitas vezes de terapeutas, médicos, assistentes… isto é ajudar”, remata.

Fragilidade futura

A demora na análise das propostas de leis e nas decisões são outras falhas apresentadas pela directora do Centro Bom Pastor, a irmã Juliana Devoy. “A questão da adopção de crianças é uma grande questão de Macau que precisa de ser vista com outros olhos”, apontou, sublinhando a protecção excessiva que a actual lei atribui aos pais. “Aqui em Macau nem sequer existe a possibilidade de famílias de acolhimento, isto não está certo. Estamos a permitir que as crianças cresçam numa instituição a sua vida toda. Isso nunca é bom”, concretizou.
A lenta proposta de Lei de Correcção e Prevenção da Violência Doméstica apresenta, também ela, um ponto negativo no crescimento desta nova geração e da sociedade em si.
“Vamos [entre algumas associações] levar a cabo uma acção que nos permita perceber de que forma, e qual a dimensão, as crianças são afectadas quando assistem à cenas de violência entre os pais. Estas crianças não se sabem exprimir, serão adultos um dia, com estas lembranças”, argumentou.
Tudo, para que a próxima geração, “que parece que cada vez mais perdeu os valores morais, seja em que cultura for”, não se desenvolva numa base frágil. “Tem-se feito um bom trabalho em Macau, mas é preciso mais, muito mais e cooperarmos todos para o mesmo fim”, rematou Juliana Devoy.
O desenvolvimento do Jogo foi mencionado por quase todas as associações presentes no encontro. “É natural que as coisas estejam mais difíceis para as famílias. Menos rendimentos, mais trabalho. Os trabalhos nos casinos vieram tirar tempo às famílias, tempo que poderiam utilizar a tratar dos seus, sejam idosos ou crianças. Esta é uma das razões pelas quais temos listas de esperas intermináveis nos lares e creches”, apontou uma irmã, trabalhadora do Asilo Betânia da Cáritas.

10 Dez 2015

Da Modernidade

Giddens , Anthony, Consequências da Modernidade, Oeiras, Celta, 1995.
Descritores: Modernidade, História, Holismo, Capitalismo Tardio, 148 p., ISBN: 972-8027-27-3

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]odas as obras sobre a problemática da Modernidade me interessam. A minha posição é de defesa quase incondicional da Modernidade, ou seja, reconheço as perversidades inerentes ao progresso mas não as atribuo à Filosofia das Luzes e portanto também não à Modernidade como a concebo, mas a uma contrafacção da Modernidade engendrada pelos seus detractores.
Convém distinguir três variantes na análise da crise da Modernidade.
Uma perspectiva centra-se na ideia de que a Modernidade já acabou e que vivemos agora segundo um outro paradigma, o da Pós – Modernidade.
Outra perspectiva, enfatiza a ideia de que a Modernidade é um projecto falhado para a humanidade, um caminho mal escolhido e aí se defende um regresso ao passado, digamos assim, assinalando uma espécie de nostalgia pelas sociedades pré-modernas. Ora não me parece que assim seja. Nem num caso nem noutro.
Finalmente muitos sustentam que a Modernidade é um projecto incompleto e que interessa continuar, como é o caso de Habermas.
Em síntese a Modernidade é considerada como a crença na Verdade, alcançável pela Razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso. Eu destacaria ainda a predominância do Paradigma Sociológico. Mas isso é muito discutível, pois as filosofias do sujeito contêm em si a possibilidade de um paradigma antropológico de orientação humanista.
Dentro do leque de autores pós – modernos eu salientaria Jean François Lyotard, Gianni Vattimo, Richard Rorty, Jean Baudrillard, e talvez Michel Foucault.
Comecemos pelos pós-modernos: Segundo Gellner “O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em certas ocasiões até a repudia abertamente… A influência do movimento pode ser discernida na Antropologia, nos estudos literários, na filosofia… etc. As noções de que tudo é um “texto”, que o material básico de textos, sociedades e quase tudo, é significado, que significados estão aí para serem descodificados ou “desconstruídos”, que a noção de realidade objectiva é suspeita – tudo isto parece ser parte da atmosfera, ou nevoeiro, no qual o pós-modernismo floresce, ou que o pós-modernismo ajuda a espalhar. O pós-modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objectiva, externa ou transcendente. A verdade é ilusiva, polimorfa, íntima, subjectiva … e provavelmente algumas outras coisas também. Simples é que ela não é… Tudo é significado e significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta. Qualquer coisa que seja, é feita pelo significado, conferido a ela…”
Para o crítico marxista norte-americano Fredric Jameson, a Pós-Modernidade é a “lógica cultural do capitalismo tardio”, correspondente à terceira fase do capitalismo, conforme o esquema proposto por Ernest Mandel.
O sociólogo polaco Zygmunt Bauman, um dos principais popularizadores do termo Pós- Modernidade no sentido de forma póstuma da modernidade, prefere contudo usar a expressão “Modernidade líquida” para designar este tempo apelidado de Pós-Modernidade uma realidade ambígua, multiforme, na qual, como na clássica expressão do manifesto comunista, tudo o que é sólido se desmancha no ar. Zygmunt Bauman é essencialmente um crítico da Modernidade, mais do que um teorizador da Pós-Modernidade. Mais próximo de uma teorização da Pós-Modernidade e segundo uma perspectiva original encontra-se Gianni Vattimo que a partir do conceito de Aufbhung dialéctica hegeliana, procura conceber o fim da Modernidade e a sua não superação, pois essa seria, embora com outra designação ainda, da ordem da Modernidade. Lipovetsky, como sabemos, embora identificado com a Pós- Modernidade, prefere usar o conceito de Hiper-Modernidade para identificar os tempos actuais.
No âmbito dos nostálgicos eu identificaria sobretudo Leo Strauss, Eric Voegelin, Charles Taylor (Mal Estar na Modernidade), Alisdair MacIntyre (After Virtue), enfim entre outros. O mal-estar na Modernidade cola com facilidade a um mal-estar na Democracia e isso leva-nos naturalmente a uma crise reconhecida da Representação, que é em si considerada Pós- Moderna. Mas a crise da representação atravessa todas as formas da vida social desde as políticas às formas da representação no domínio da Arte. Há episódios e opiniões que possuem um valor inestimável. Leo Strauss considerava Cassirer, que o orientou em sede de doutoramento, um anão quando comparado com Heidegger. Percebe-se a influência nefasta que Heidegger desempenhou junto dele e de onde é que virá o seu reaccionarismo radical. A posição de Leo Strauss é a todos os títulos anti moderna. Dele se disse e com propriedade: “While modern liberalism had stressed the pursuit of individual liberty as its highest goal, Strauss felt that there should be a greater interest in the problem of human excellence and political virtue”. Conheço não só estas posições como conheço também as suas consequências. A sua posição de fundo propõe um regresso a perspectivas holistas, como se a mistura explosiva entre o holismo e o sagrado não estivesse intimamente associada, às hierarquias, às castas, isto é à desigualdade. E tudo isto significa aquilo contra o qual o Iluminismo se bateu. E tudo fica muito claro se atendermos às seguintes afirmações produzidas por Strauss:

“Strauss taught that liberalism in its modern form contained within it an intrinsic tendency towards extreme relativism, which in turn led to two types of nihilism: The first was a “brutal” nihilism, expressed in Nazi and Marxist regimes. In On Tyranny, he wrote that these ideologies, both descendants of Enlightenment thought, tried to destroy all traditions, history, ethics, and moral standards and replace them by force under which nature and mankind are subjugated and conquered. The second type — the “gentle” nihilism expressed in Western liberal democracies — was a kind of value-free aimlessness and a hedonistic “permissive egalitarianism”, which he saw as permeating the fabric of contemporary American society. In the belief that 20th century relativism, scientism, historicism, and nihilism were all implicated in the deterioration of modern society and philosophy, Strauss sought to uncover the philosophical pathways that had led to this situation. The resultant study led him to advocate a tentative return to classical political philosophy as a starting point for judging political action”.

Enfim, Leo Strauss justifica uma abordagem específica e sistemática, tal como Eric Voegelin.
No âmbito dos que defendem a tradição da Aufklarung e da Modernidade saliento Habermas. O filósofo alemão Jürgen Habermas relaciona o conceito de Pós-Modernidade a tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater os ideais iluministas. E é no essencial o que eu próprio penso. Mas eu contextualizo essa reacção no quadro de um equívoco estrutural que identifica mal o Iluminismo.
Trata-se portanto de um conjunto inarticulado:
Segundo o francês Jean-François Lyotard, a «condição pós-moderna» caracteriza-se pelo fim das metanarrativas. E o fim das matanarrativas resulta do desmentido brutal que Auschwitz representa para as ilusões da Modernidade. Como pensar o progresso e o seu programa emancipador depois da calamidade moral do nazismo?
Para Lyotard a pós-modernidade implica o abandono da crença num fundamento seguro do saber, e a renúncia à fé no progresso tecnológico da humanidade. Ela caracteriza-se pela falência das metanarrativas que nos permitiam situar dentro do processo histórico (A História), no qual o futuro é dotado de sentido e ainda de uma história em que nós nos encontramos num tempo que se situa entre um passado inteligível e um futuro previsível.
A visão pós-moderna distingue uma pluralidade de saberes homogéneos onde a ciência não ocupa já o primeiro lugar.
Para Giddens não estamos na perspectiva de entrar numa época pós-moderna mas antes num tempo de radicalização e extensão das consequências da modernidade.
As doutrinas evolucionistas impediram-nos uma visão onde se deveria salientar o carácter descontínuo da modernidade. Mesmo o marxismo apesar de privilegiar as ideias de corte e de ruptura e das consequentes descontinuidades (revolucionárias) acabou por salientar a perspectiva de que a história possui uma direcção de conjunto governada por princípios dinâmicos gerais.

CONTRARIEDADES

Max Weber foi um dos primeiros grandes sociólogos a entrever os aspectos negativos da modernidade. Centrado na ideia de desenvolvimento burocrático (consequências da utilização da razão instrumental), que afecta a criatividade individual e a autonomia individual, como contraponto ao progresso material. Salientando que não se percebeu atempadamente, por exemplo, que o avanço das forças produtivas produziu um efeito destruidor sobre a natureza.
Por outro lado evidenciou também que o reforço do poder político conduziu ao advento do totalitarismo e que esses fenómenos não seriam alheios à modernidade; tudo isto associado também à estreita ligação quase congénita entre a inovação e a organização industrial por um lado e o poder militar por outro lado, que é coetâneo das origens da industrialização.
O que cintila no horizonte da modernidade é o sentimento de fim da fé no progresso, o abandono de uma historicidade ingénua, de um inevitável futuro mais feliz e seguro, etc. O sentimento de que a História não vai a parte nenhuma.
Os elementos dinâmicos da modernidade:
O capitalismo que justifica a emergência do fenómeno Marx…
A divisão complexa do trabalho e o seu dinamismo próprio. A industrialização.
A racionalização que contudo se metamorfoseia em burocracia, tanto no domínio tecnológico quanto no domínio da organização das actividades humanas.
Mas para Giddens a modernidade é multidimensional. Não é possível reduzir a sua dinâmica a qualquer item em particular.
Para ele
De onde vem o dinamismo da modernidade:
Dissociação do tempo e do espaço.
Deslocalização dos sistemas sociais.
Organização e reorganização reflexivas das relações sociais à luz dos implementos trazidos pelo conhecimento que entretanto afectam as acções dos indivíduos e dos grupos.

PÓS-MODERNIDADE

Tanto Nietzsche quanto Heidegger, a despeito das diferenças, possuem dois elementos em comum:
Ambos ligam a modernidade à ideia segundo a qual a História se pode identificar a uma apropriação progressiva dos fundamentos racionais do saber. (p. 53)
Cada um deles é atraído pela necessidade de se distanciar das fontes de legitimação das Luzes mas sem o poder fazer a partir de formas de legitimidade superior ou melhor fundadas. Eles abandonaram a noção de ultrapassagem crítica, o que de algum modo os manteria ainda dentro do quadro das Luzes.
A verdade é que Giddens toca na ferida ao considerar que este tipo de posições se aparenta mais à perspectiva da compreensão da modernidade enquanto tal. Mas também diz que o triunfo da razão das Luzes se assemelha a uma recaída da Providência. A apologia da razão é homóloga da apologia da Providência. A razão recoloca a Providência. Não a substitui. Ela é providencial.

10 Dez 2015

Nem bom vento, nem bom alimento

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ia ontem uma notícia na imprensa local que anunciava o desenvolvimento em curso em Da Nang, no Vietname. Dizia, entre outras coisas, que os junkets organizam 25 voos charter por semana (!) para China, falava de lucros já mirabolantes dos casinos existentes e ainda citava o responsável de turismo local que dizia estarem a posicionar a capital do centro vietnamita como um destino de lazer, praia e de reuniões e convenções. Fiquei mal disposto. Por Macau e por Da Nang. Por Macau porque tem ali um concorrente quase impossível de superar se as coisas continuarem como até agora por aqui. Por Da Nang porque a conheço bem demais, porque conheço bem demais os impactos do turismo massivo, e porque sei bem o que se está por lá a passar, e o futuro não vai ser bonito.
Soa familiar a declaração do responsável do turismo de Da Nang. Demasiado familiar, diria, mas com uma pequena (grande) diferença: praia. Naturalmente, não será pela praia que os turistas chineses (a grande maioria deles, naturalmente) lá irão mas é pela praia, também, que muitos outros, de outras partes do mundo para lá irão cada vez mais. Macau não tem praia, ou seja, Macau não tem uma praia que consiga sequer rivalizar com a China Beach. Mesmo que acontecesse o milagre da despoluição nunca as praias de Coloane conseguiriam fazer frente àquela costa magnífica. Isto para não falar do espaço disponível e de muitas outras coisas que aquela região vietnamita proporciona e que me vou escusar de referir porque nem seria justo, nem faria sentido. Que pode então Macau fazer? Que pode então Macau fazer quando já percebeu (finalmente!) que os turistas da China não bastam e que é preciso diversificar mercados? Macau, como os ingleses diriam, tem de limpar o seu acto, literal e figurativamente. Macau tem história mas tem vindo a perder os seus vestígios com a construção urbana desordenada. Macau tinha um bom ar mas agora, não bastas são as vezes em que é pior do que o ar respirado em Central (HK)! Não acredita? Aconselho então a baixar uma aplicação para telemóvel chamada “Global pm 2.5*” e verifique por si mesmo. À hora de escrita deste artigo, 20:30H, o centro de Macau registava um nível de 130 (considerado insalubre) e Central 85; até Foshan registava menos que Macau com 97 e, pasme-se, mesmo Cantão ostentava menos poluição atmosférica do que Macau (!) ao marcar o nível 104. Caem então pela base as teorias conspirativas que apontam o dedo ao continente para a poluição do território, porque não foi a China que mudou dramaticamente, fomos nós com obras incessantes e mal protegidas, autocarros a perder de vista, transportes públicos do tempo da Maria Cachucha, quando em Shenzhen se fabricam autocarros amigos do ambiente, torres de habitação e casinos que fecham as tomadas de ar da cidade, trânsito caótico. Porque é que o governo permite, e adopta, autocarros movidos a diesel é um mistério sem segredo: porque existem lobbies que viriam os seus rendimentos gasolineiros coarctados. Porque é que se permite a construção desenfreada e praticamente sem regras? Porque existem lobbies que disso dependem e que não estão nada interessados em construir melhor, nem sequer em parar de nos entaipar.
Chegamos aos mercados e é a desgraça. Fala-se nestes dias em Hong Kong que estão preocupados com mais um potencial escândalo alimentar por não saberem se a carne que está a ser vendida ao público está, ou não, carregada de antibióticos. Estes são utilizados por criadores menos escrupulosos para fazerem as aves e os bovinos crescerem mais rápido. Isto surge quando existe uma campanha mundial de alerta para o uso excessivo de antibióticos que está a causar resistências e a torná-los ineficientes. E se eles estão na carne que consumimos, mesmo que não nos encharquemos de antibióticos quanto temos um resfriado, acabamos por levar com a dose no prato. Em Macau nem sequer a rotulagem é uma preocupação. Rótulos exclusivamente em chinês, carnes que congelam e descongelam, armazenamentos da idade da pedra… Assim nunca seremos um destino de nível mundial, nem regional quanto mais mundial.
Macau precisa de visão e de coragem se não quiser transformar-se na quimera de destino mundial de lazer num destino irrelevante para turistas manhosos que tanto se lhes dá assim como assado. Macau precisa de saber honrar a sua história, de proteger e dar vida ao seu património, ocidental e chinês, e deixar apenas de pintar fachadas. É absolutamente necessário dar conteúdo às fachadas, não podemos ter Lilaus fantasmas anos a fio porque o património vive-se não se admira. Temos de saber honrar a distinção da UNESCO e acabar com a salganhada que é hoje em dia o centro histórico da cidade onde cada um monta o reclamo como lhe apetece e que, como alguém me dizia no outro dia e muito bem, parece-se mais com o free-shop de um aeroporto do que com o centro de uma cidade secular. Macau precisa de esplanadas, precisa de tirar carros e autocarros da rua, mesmo de fechar ruas ao trânsito, precisa de apoiar o comércio tradicional, precisa de se ligar mais às artes, ao ensino de qualidade, ao verdadeiro lazer que não passa apenas por piscinas de ondas e salas de cinema XPTO, mas pelo prazer de caminhar, de descobrir uma cidade secular e viva onde apetece descobrir ruas e becos e não mais uma loja de ourives de Hong Kong – como eles por lá se devem divertir agora; vieram para aqui fazer o seu à custa dos parolos enquanto vão recuperando a sua cidade para, eles sim, a transformarem no tal destino turístico mundial que Macau sonha mas não tem unhas para arranhar. Não podemos mais ser provincianos e temos de saber aproveitar os ganhos da época de ouro para transformar esta cidade num local onde as pessoas queiram vir e, acima de tudo, estar. Uma cidade ecológica, moderna mas tradicional, onde a vida seja um prazer de facto e não um prazer de catálogo e filmes institucionais. Uma cidade que honre a sua história e a sua forma de vida e não um gueto de proibições, centro comercial foleiro e descoordenado, purgatório luminoso sem eira nem beira.
Para isto Macau precisa de coragem política, como a que teve Alexis Tam ao defrontar os lobbies da saúde privada na assembleia, mas não pode ser só ele, nem pode ser apenas o governo – nós também temos de a ter para exigir, para propor, para deixar os carros em casa e acabar com a desculpa dos filhinhos, coitadinhos, que não podem ir a pé para a escola. Daqui a uns anos eles vão agradecer-nos a boleia quando tiverem uma cidade (ainda mais) irrespirável…
Macau precisa de coragem para tomar decisões que pensem mais no bem comum e menos no bem de alguns. Macau precisa de um plano de transformação urgente. Ou melhor, de um plano de recuperação urgente porque o que está a acontecer agora não nos pode levar a nenhum lugar aprazível porque mais Da Nangs virão.

___________
*material particulado (sigla em inglês, PM, de particulate matter), são partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar. Para ser considerado PM, suas dimensões (diâmetro) variam desde 20 micra até menos de 0,05 mícron[1]
As maiores fontes antropogênicas de particulados são a queima de combustíveis fósseis em motores de combustão interna de veículos, termoeléctricas e indústrias e as poeiras de construção e de áreas onde a vegetação natural foi removida.

MÚSICA DA SEMANA
Tema da Banda sonora do filme “Good Morning Vietnam”
“Nowhere To Run” – Martha And The Vandellas
Nowhere to run, baby nowhere to hide
I got nowhere to run, baby nowhere to hide
It’s not love, I’m running from
It’s the heartaches, I know will come
’Cause I know, you’re no good for me
But you’ve become a part of me
Everywhere I go, your face I see
Every step I take, you take with me, yeah
Nowhere to run, baby, nowhere to hide




10 Dez 2015

A Deus

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]onheço miríades de gente em todo o lado que dá “Graças a Deus” por tudo e por nada. Para quem é um bom cristão, fica sempre bem ser agradecido ao divino pelas boas graças, mas é estranho que o contrário não seja também verdade. Por exemplo há quem diga qualquer coisa como: “Parou de chover, graças a Deus”. Estas pessoas certamente não gostam de chuva, mas porque é que foi “graças a Deus” que parou de chover? E quem mandou a chuva? Deus só tem a capacidade de fechar a torneira? Foi um anjinho maroto que a abriu? Mistérios do divino que não encontram explicação. Quando alguém esteve doente e depois melhora, diz que foi “graças a Deus”. Será portanto parte do plano divino Dele que esta pessoa tenha ficado primeiro doente, para só depois recuperar. Deus não teve nada a ver com a gripe ou com a perna partida, mas foi parte indispensável da recuperação. A sério, isto deixa-me seriamente preocupado. Quem é que nos anda a tramar e a dar tanto trabalho a Deus?
Muita gente gosta de falar com Deus, ora através da oração silenciosa ora conversando mesmo em voz alta sozinho (ou com Deus, depende da perspectiva). Não se espera é que Deus responda, pois nesse caso seria “mau sinal” – quando se calhar até seria “bom sinal”, não se percebe muito bem. Voltando aos jogadores de futebol, acho o caso do internacional brasileiro Kaká fascinante. Quando o branquelo marca um golo, levanta as mãos ao céu e agradece. Quando falha um golo, não vejo desiludido ou a pedir explicações ao criador: se não marcou golo, foi porque “Deus não quis”. Deus é imprevisível, e a Sua vontade aleatória. E para onde Lhe dá. Quando se reza por alguém, é normalmente um caso perdido. Quando alguém morre mesmo depois de muitas rezas, correntes e até promessas, baixa-se a cabeça e resigna-se à “vontade de Deus”. Na eventualidade (muito rara) da pessoa sobreviver ou até recuperar totalmente, nunca foi devido à medicina ou à ciência. Foi, adivinharam, graças a Deus. Daí os tais pagadores de promessas, que por vezes se sujeitam a andar à volta de santuários gigantescos de joelhos como agradecimento à alegada influência divina. Este “sacrifício” parece dar a Deus “extra bonus points”.
Deus é visto como uma autoridade real, e não imaginária, que nos está constantemente “a ver” (sim, até no chuveiro). Diz-se daquelas pessoas que são uns cabrõezinhos da pior espécie mas por culpa da sociedade (ou do Diabo?) são ricos e famosos, que “têm contas a ajustar com Deus”, que Deus “não dorme”. Duvido que quem mate, roube ou cometa fraude e enriqueça esteja muito preocupado com isso. Deus é usado como moeda de troca. Quem pede “pelo amor de Deus” está mesmo a apelar. Se resultasse mesmo não existia desemprego, bastava pedir um emprego “por amor de Deus”, e ficava o problema resolvido. Quem pede esmola “por amor de Deus” é a maior parte das vezes recusado com um “tenha paciência”. Este “tenha paciência” é a “safe-zone”: Deus não fica chateado se atirarmos com esta frase mágica, que nos livra da obrigação caritária da esmola. Acho piada aos mentirosos que juram “por Deus” estar a dizer a verdade. Quem usa Deus como desculpa só pode estar mesmo a brincar.
“Deus” é mesmo uma palavra banalizada. Já ouvimos milhões de vezes expressões como “Deus queira”, “Deus é que sabe”, ou a sua variante niilista “Só Deus sabe”, “Deus me livre”, e muitas outras. A minha preferida é “Até amanhã, se Deus quiser”. Isto demonstra uma dose de pessimismo especial. Nunca me passou pela cabeça não estar vivo amanhã, ou depois de amanhã, ou para a semana que vem dependendo exclusivamente da vontade de um ser divino. Assim não marcava consultas, não comprava bilhetes para concertos, não cumpria qualquer compromisso, não fazia nada. Ficava deitado à espera que Deus finalmente me resolvesse levar para junto Dele, o tal “destino final” que todos aguardam. E porque não havia Deus de querer que haja um amanhã para todos? Vá lá, pronto, fico por aqui. Vão com Deus, mas não abusem.

10 Dez 2015

Sound & Image Challenge | Cineastas de Macau mostram dotes em competição internacional

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]filme “Come, The Light” venceu no passado fim-de-semana o melhor filme na categoria de Identidade Cultural de Macau do Sound & Image Challenge. A obra de Chao Koi Wang, natural de Macau, foi uma das favoritas entre as 25 finalistas, tendo ainda sido galardoada com o prémio de dez mil patacas “Best Local Entry”, patrocinado pela Fundação Oriente.
O Sound & Image Challenge foi criado em 2010, mas transformou-se, este ano, num festival de cinema internacional. Ao todo foram cerca de 700 as entradas nas diversas categorias, provenientes de 68 países.
O Festival, organizado pela Creative Macau em colaboração com a Universidade de São José e outros patrocinadores, atribuiu ainda outros prémios. O melhor filme de ficção foi “The Wall”, da francesa Andra Tévy, que arrebatou o público, tendo, por isso, vencido o prémio escolhido pela audiência. Seguiu-se o videoclip de Ao Ieng Weng Fong como o melhor da categoria “Volume”. Com a música da banda local Forget the G, “Sleepwalker” contou com a produção do cineasta local, mas também de uma equipa portuguesa.
A melhor animação foi a obra “The Mechanical Waltz”, de Julien Dykmans, que recebeu ainda 20 mil patacas pelo prémio “Best in Event”, do BNU. A espanhola Naya Kuu foi a melhor na categoria de “Documentário”, com “Un Voyage”. Foi “AD REM”, do polaco Bartosz Kruhlik, que foi escolhida como a melhor publicidade.

"Un Voyage", de Naya Kuu, com Ramón Rodríguez
“Un Voyage”, de Naya Kuu, com Ramón Rodríguez

Presente no evento, o HM teve a oportunidade de perceber que “Come, The Light” foi um dos filmes que mais impressão deixou no público. A película retrata a economia de Macau e sua dependência de uma indústria que deixa na sociedade a vontade de querer cada vez mais dinheiro. O amor, os bens materiais e o retrato de algumas características do território – como a polémica questão do tabaco nos casinos, aqui tão subtilmente retratada – são alguns dos pontos fortes da obra, carregada de suspense e com muitas reviravoltas na história.
Já no caso do documentário de Naya Kuu, que entrou no concurso pela Bélgica, a ideia foi mostrar a história de Ramón Rodríguez, um dos “filhos” da Guerra Civil espanhola, que deixou para trás a família quando subiu a bordo do “Habana SS” para partir em direcção à Bélgica.

Para repetir

Do júri fazia parte, entre outros, o fundador do Fantasporto, Mário Dorminsky. Ao HM, Dorminsky – pela primeira vez em Macau – assegurou que, no que ao cinema diz respeito, Macau “tem espaços absolutamente fabulosos”. Mais do que as luzes dos casinos, é a parte velha do território que mais atrai o também fundador das distribuidoras Cinema Novo e Ecofilmes.
“As luzes dos casinos podem ser trabalhadas, claro, mas casinos são casinos, existem aqui, em Las Vegas, em muitos lados. Temos de os encarar como encaramos Wall Street, estão lá, têm uma actividade específica, não vão sair dali.”
Aproveitando para lamentar a falta de promoção turística de Macau em Portugal, bem como a inexistência de promoção dos eventos culturais do território lá fora, Mário Dorminsky admite que o talento exposto no Sound & Image Challenge durante o passado fim-de-semana é surpreendente.
“Estou admirado. Muito bom, muito bom”, diz, enquanto nos confessa que “Sleepwalker”, de Ao Ieng Weng Fong, foi uma das obras que mais apreciou. “Mas os outros [filmes] também me pareceram interessantes e alguns projectos musicais também, em que vale a pena apostar”, diz, referindo-se à música de bandas locais que serviu de inspiração para inúmeros videoclips.

"Sleepwalker"
“Sleepwalker”

Uma figura de peso na área do cinema, Mário Dorminsky observa como Macau esteve, de facto, presente no festival. “Nas outras vertentes que não a Animação, houve sempre um filme realizado por um local ou tem elementos de Macau na equipa técnica do filme ou no próprio filme. Acho que isso faz com que, quem vir o resultado de um festival de curtas-metragens como este, fica realmente admirado porque a qualidade é muito elevada. Ao mesmo tempo, há um suporte cultural claramente ligado a Macau, o que é curioso, especialmente num festival internacional de cinema.”

Sempre em frente

E o formato vai continuar a ser, exactamente, esse mesmo: o de um festival internacional de cinema. Lúcia Lemos, directora da Creative Macau, assegura que o Sound & Image Challenge é para manter, até porque o balanço foi muito positivo.
“Foi óptimo e temos intenção de manter este formato porque é bastante interessante. Depois da análise que fizemos, uma vez que esta foi a primeira vez em formato de festival, poderá mudar alguma coisa, mas para melhor, nada para trás”, diz ao HM, acrescentando que alargar o concurso é uma das ideias.
Com cerca de 60 pessoas por dia, entre palestras e mostra de filmes, o Teatro D. Pedro V serviu não só de palco ao festival, como de local de visita de locais e turistas por causa do Sound & Image Challenge. Tudo durante uma semana inteira. “Já vamos começar a preparar o próximo em Janeiro”, assegura Lúcia Lemos.

10 Dez 2015

Abstinência

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]iz o dicionário que abstinência é a nossa deliberada decisão de não nos envolvermos numa actividade ao mesmo tempo que temos um desejo tremendo de praticá-la, tipo comer uma fatia de bolo de 2000 calorias. Abstinência sexual não é diferente, apesar de ser muitas vezes confundida com virgindade. Há um episódio genial do Seinfeld (essa grande série sobre o nada) que explora as potencialidades de duas personagens por não se envolverem na actividade sexual durante um longo período de tempo. De uma forma caricaturizada e brincando com os estereótipos de género, o homem torna-se num génio intelectual, porque finalmente se viu livre da distracção que o sexo trazia para a sua vida, e a mulher estupidificou por completo, porque usava o sexo como clareador da mente. Um exagero de descrição que traz a curiosidade de perceber qual é o mal e/ou bem da abstinência sexual.
Abstinência sexual faz-me lembrar o uso de cuecas de ferro trancadas por uma fechadura. Mas de uma forma mais simples, pratica-se abstinência com um simples ‘não quero’ envolver-me com os órgãos sexuais de outrem. Pode ser uma abstinência deliberada ou uma abstinência imposta (como eu gosto de chamar). Porque a ausência sexual nem sempre é uma decisão, mas um acumular de circunstâncias que torna o não-envolvimento sexual inevitável, em certos momentos das nossas vidas.
Até que ponto o sexo é uma obrigatoriedade humana é uma pergunta difícil de responder. Bem, para quem quer ter filhos, convém. Quando se está numa relação amorosa/sexual onde normalmente sexo faz parte do ‘pacote’ relacional, também convém. Freud diria de peito aberto que quem não tem orgasmos vai desenvolver sérios problemas psicológicos, e por isso todo o imaginário psicoanalítico, que já é tão parte da cultura popular, vem trazer a ideia de repressão e violência quando não vemos as nossas necessidades sexuais satisfeitas. Há mesmo uma preocupação genuína, principalmente entre os homens, que o não uso do seu órgão sexual irá atrofiar os testículos, os fazedores de esperma. Por isso, no espectro das decisões sexuais no mundo ocidental temos de tudo, desde os que se recusam aos que acreditam ser absolutamente necessário.
Não nos envolvermos em sexo não é condenável, nem uma ideia ridícula. Se pensarmos no admirável mundo do sexo como um todo, com os seus preconceitos e doenças/infecções sexualmente transmissíveis, cedo se percebe que não praticá-lo com quem não se conhece muito bem não é uma ideia absurda. Mas a abstinência sexual é o que afinal? Será que se refere somente a sexo vaginal? Ou aos outros sexos incluídos? E a masturbação? É de longa ou curta duração? Em casos de celibato religioso encontramos obviamente uma doutrina para o seu significado. Em contextos contraceptivos fala-se em abstinência relacionada com a penetração vaginal, principalmente entre as camadas mais jovens, porque há uma preocupação acrescida de gravidez na adolescência.
Mas tentar explicar estas malhas da abstinência sexual é expor a vida social que o sexo desenvolve na esfera pública, quase como se tivesse vida própria de pressupostos já definidos. A abstinência que não seja praticada porque se considera a melhor forma de prevenir o que quer que seja, porque há formas alternativas diversas. Ou por outra, que seja utilizada pelo pessoal que está informado sobre tudo o que é possível de ser utilizado no mercado vigente. É totalmente OK, foder se tivermos toda a informação necessária e é totalmente OK não querer foder, quando se tem toda a informação necessária.
Pior são aqueles que são levados a uma abstinência motivada pela falta de parceiro. O sexo, por isso, não possui as características de um direito biológico como comer ou beber porque depende da outra pessoa querer também e é óbvio que não se pode obrigar ninguém. A actividade sexual exige um louco exercício social em tempos que se prega individualismo puro. Os eremitas não são grandes candidatos para o sexo, por exemplo. Por isso a abstinência talvez faça mais sentido a quem tenha desdém pelo sentido social da humanidade. Para todos os outros, que o sexo seja compreendido como é: de uma difícil percepção social mas de um livre arbítrio inerente. Desenvolve-se a experiência individual com ou sem sexo, como se queira.

10 Dez 2015

Macau é segunda cidade chinesa mais “característica”

Macau fica no 14º lugar no ranking da competitividade das cidades chinesas, mas ocupa o segundo lugar das cidades mais características da China. O ranking, que já acontece há 14 anos, foi publicado ontem pelo Instituto de Competitividade de Cidades Chinesas. O resultado mostra que Xangai e Hong Kong mantêm os primeiros lugares das cidades mais competitivas, enquanto Macau fica no 14º lugar, retrocedendo dois lugares comparativamente ao ano passado. Foi a primeira vez que este instituto realizou o ranking das cidades turísticas mais características. Macau fica a seguir a Lhasa neste contexto e consegue também um segundo lugar na categoria das cidades que mais protegem o seu património, depois de Pequim. No que às cidades mais seguras diz respeito, o território consegue o sexto lugar, no âmbitos de consumo, de investimentos e de segurança social. Sobre a competitividade no crescimento, Macau não ocupa nenhum lugar no ranking deste ano, depois de ter ficado atrás dos primeiros 30 lugares no ano passado.   

10 Dez 2015

Polícia e AACM com acordo para investigar acidentes

A Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) assinou ontem um memorando de cooperação com a Polícia Judiciária (PJ) e Polícia de Segurança Pública (PSP), ao nível da investigação sobre acidentes aéreos. O memorando de entendimento entra imediatamente em vigor e, segundo um comunicado, “as três partes concordam que, a partir de agora, em qualquer investigação, esta deve ser independente da investigação criminal”, estando prevista uma partilha de informações relevantes entre a PJ, PSP e AACM ao nível das autópsias ou provas dos incidentes. O acordo prevê ainda a autorização da participação de investigadores de outros países por parte da AACM, sempre com o controlo do investigador-chefe. Este acordo surge no seguimento da implementação Lei da Investigação de Acidentes e Incidentes da Aviação Civil em 2013 e as negociações decorriam desde o último semestre do ano passado.

10 Dez 2015

Ilha da Montanha | Lionel Leong quer maior e mais rápida cooperação

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]São cinco as sugestões deixadas por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, durante a primeira reunião do mecanismo de cooperação Zhuhai-Macau para a construção da área da Ilha da Montanha da zona piloto de Comércio Livre de Guangdong. Lionel Leong quer que as duas zonas, Macau e a Ilha da Montanha, assumam uma posição de trabalho mútuo na construção de “Uma faixa, uma rota”, assim como na construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.
Como segundo ponto, o Secretário considera necessário dividir o trabalho e integrar as vantagens de cada zona para benefícios mútuos. “Envidar esforços para a implementação dos projectos relevantes actualmente existentes, insistindo no princípio de uma eficácia pragmática” e “apoiar activamente a participação das Pequenas e Médias Empresas (PME), jovens e profissionais de Macau na construção da área da Ilha da Montanha” são outras das ideias defendidas pelo Secretário durante o encontro.
Lionel Leong considera ainda ser crucial optimizar a sistematização dos mecanismos de trabalho, sendo que “assim será possível reforçar a cooperação”.

Nova equipa

Tal como afirmou durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), Lionel Leong, confirmou a criação da Comissão de Desenvolvimento da Plataforma de Serviços para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, presidida pelo próprio Chefe do Executivo, Chui Sai On, para impulsionar e reforçar a construção de Macau como uma plataforma de serviços.
O Secretário propôs ainda que, durante o próximo ano, seja possível acelerar a implementação dos 33 projectos de investimento recomendados pelo Governo para o Parque Industrial de Cooperação Guangdong-Macau. Negociações mais rápidas entre as duas partes sobre o aumento de capital social do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa é outro dos pedidos.

Moedas à parte

Durante o encontro do Secretário com o coordenador e adjunto da parte de Zhuhai e também membro da Comissão Municipal do Partido Comunista da China daquela região e director do Conselho de Gestão da nova área de Ilha da Montanha, Niu Jing, Lionel Leong propôs que seja feito um trabalho contínuo na exploração e inovação no acesso das instituições financeiras de Macau ao mercado da Ilha da Montanha. Implicando, isso, actividades de empréstimos transfronteiriços e de produtos financeiros em renminbi por parte dos bancos de Macau. “(…) Bem como a promoção de modelos inovadores do regime de passagem alfandegária, envidando esforços para a facilitação das actividades de importação e exportação de mercadorias, assim como da circulação dos residentes”, indica um comunicado do gabinete do Secretário.
Até ao momento, 875 empresas com capital de Macau efectivaram a sua inscrição e registo na Ilha da Montanha, das quais 794 são recém-inscritas no presente ano, o que equivale a cerca de dez vezes mais do que o total de empresas deste género registadas nos últimos cinco anos. Além disso, dois grupos de um total de 90 empresas de Macau foram já introduzidos no Vale de Criação de Negócios para Jovens de Macau na Ilha da Montanha, indica ainda.

9 Dez 2015