Leonor Sá Machado EventosO decénio do século [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) escolheu o Departamento de Cultura da Província de Henan para co-participar nas actividades de comemoração dos dez anos de inscrição do Centro Histórico do território na lista do Património Mundial. Parte disto fazem espectáculos de dança, música, teatro e palestras relativas às duas regiões. O cartaz de eventos inclui cinco exposições, publicação de novos documentos sobre o Centro Histórico e sua preservação, realização de palestras até final do ano e actuações de espectáculos culturais de música clássica e de teatro. A primeira mostra conjunta estará em exibição no Casino Galaxy e tem entrada gratuita, realizando-se entre os dias 13 a 28 deste mês. “Génese e Espírito” pretende mostrar aos residentes da RAEM o que Henan tem para oferecer e divide-se em várias actividades relacionadas com arte, workshops, música e uma palestra. A última tem lugar das 14h30 às 15h30 do próximo domingo, na Casa do Mandarim. As Ruínas de S. Paulo vão ser palco para um espectáculo artístico no próximo fim-de-semana, às 17h00 de sábado e 11h00 de domingo. Já na Casa de Lou Kau ocupa-se de uma mostra de artesanato de Henan, de 14 a 28 deste mês, com entrada gratuita das 10h30 às 13h30 e das 14h30 às 17h30. Outros palcos De 12 de Julho a 15 de Agosto estará exposta nas Ruínas de S. Paulo uma mostra que “foca os feitos alcançados, ao longo dos anos, na salvaguarda do património” local. E porque a cultura estará espalhada por toda a cidade, é nos Lagos Nam Van que estreia uma outra exposição, desta vez com fotografias de edifícios e outros marcos de Macau. Esta realiza-se de 13 a 20 de Junho, coincidindo com a Regata de Barcos-Dragão. O dia 12 de Julho fica assim reservado para a realização de um seminário sobre a preservação do Centro Histórico, a partir das 11h00. O IC deverá convidar especialistas e académicos para discutirem esta matéria, na sala de convenções e entretenimento da Torre de Macau. Dar música Além de tudo isto, o IC guardou ainda espaço para a realização de concertos por orquestras. Estes acontecem de 4 a 26 de Julho, em locais emblemáticos como são o Teatro D. Pedro V e a Casa do Mandarim. Entre os artistas estão a Orquestra de Macau, a Companhia Juvenil de Teatro de Repertório de Macau e a Orquestra Chinesa de Macau, com espectáculos cujas entradas podem ser livres ou variar entre as 30 e as cem patacas. O programa das comemorações inclui ainda outras duas exposições: a primeira acontece em Novembro e vai integrar uma série de reproduções de mapas antigos da cidade que se encontram espalhados por vários centros de documentação e bibliotecas mundiais. A mostra pretende explicar aos visitantes as mudanças sofridas. Por último, o IC, juntamente com o Instituto do Desporto, pretende organizar, em Dezembro e por ocasião da Maratona Internacional de Macau, uma exposição sobre o Centro Histórico na Nave Desportiva, no Cotai.
Leocardo VozesEu, Português, me confesso [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ntem assinalou-se mais um 10 de Junho, e com este começo de frase na língua em que a estou a escrever quase nem é preciso acrescentar mais nada para que outra pessoa que a esteja a ler e a entenda saiba exactamente o que esta data significa. Isto é tão extraordinário que nem encontro palavras para descrever o que sinto, pois com toda a certeza que iria ser acusado de “não respeitar nada” ou de “ter a mania das gracinhas”, e depois assim “não me levam a sério” (o que para mim dá imenso jeito, que sempre me chateiam menos com bagatelas). Trocando isto por miúdos, não sou patriota nem patriótico, ou nada que rime com “idiota” ou “hipnótico”, mas sinto que tal como todos os que vêm de lá daquela toca-de-rato atirada lá para fundo do continente que levou novos mundos ao mundo (diz-se por aí) chamado Portugal, existe dentro de mim um gene que me torna especial . A mim e a todos os portugueses, naturalmente: somos todos especiais. Os “special ones”, como diz o outro nosso compatriota. Mas o que é, no fim de contas, esse “ser” Português? [quote_box_right]O 10 de Junho é o único dia em que nos lembramos que somos portugueses, em vez de nos recordarem a toda a hora dessa maldição, que é ao mesmo tempo uma benção. Porquê? Epá não me perguntem. Sou só um português… [/quote_box_right] Existe um rol de personagens, reais ou da ficção, com que por vezes associamos os naturais de determinado país, o que pode parecer algo redutor, mas que às vezes tem a sua graça – que me pode garantir que se lhe for apresentado um natural do México, não vai demorar nem dois segundos até pensar no Speedy Gonzalez? Noutros casos somos induzidos a associar factos ou episódios históricos, muitas vezes caindo na tentação de cometer uma pequena crueldade. Assim de repente lembro-me do caso particular dos alemães, que por muito agradáveis que tentem ser (e até vão tentando, coitados) não se safam do rótulo que o tio Adolfo lhes colou durante aquele curto mas a todos os títulos lamentável período durante os meados do século XX. Mas e nós, a quem ninguém chama de “nazi” ou associa a qualquer desenho animado mundialmente famoso pela sua castiça e rústica foleirice? Temos o Zé Povinho, eu sei, “toma!” e tal, mas quantos estrangeiros conhecem o Zé Povinho? Já agora, e com todo o respeito pelo “my main man” Rafa Bordas Pina, este não podia ter pensado num nome menos idiota para dar ao seu personagem? Fica muito a dever à criatividade, para quem é considerado um dos maiores satiristas lusitanos. Ser português é uma seca: nada acontece, aconteceu ou acontecerá que a isso nos deixe indelevelmente associados. Pois é, os descobrimentos e não sei que mais, tudo bem, mas e o “timing”? Não existia Facebook para se fazer um “like” ao Pedrocas Álvares quando ele escrevesse na sua página que tinha acabado de chegar a um sítio bué giro, com praia a perder de vista e habitado por nativas nuas sem qualquer noção de nenhum tipo de moralidade, e que ia “ficar com aquilo para ele, tipo”. E a malta comentava: “Que invejaaaaaa! LOOOOL!!!”. Não tínhamos “twitter” para seguir o Vasquinho, enquanto ele desbravava o imenso e aborrecido desconhecido inteiramente composto por água do mar, dando assim início ao que conhecemos hoje por “globalização”. Uau, isto é bestial, e até é algo de que os americanos falam a toda a hora, e tal, e foi um português que inventou, dizem vocês? So what? Isto é típico do tuga fala-barato e mandrião: dá início a um projecto que não desenvolve, e quando outros pegam na ideia e a convertem em algo de sumptuoso, quer a sua parte dos louros. Já viram a lata do tuguinha? É difícil ser só, pequenino, triste e sem amigos. Dez milhões? Se fossemos uma cidade não estaríamos nem entre as vinte mais populosas. E com uma área aproximadamente do tamanho do estado do Indiana, porque carga de água haviam os americanos de se importar connosco, com dúzias de portugáis ali mesmo à mão de semear? Mesmo no contexto da Europa, reparem com somos uma das pouquíssimas nações com mais de um século de existência (cem anos) que nunca ganhou um europeu de futebol nem o Festival da Eurovisão. Na mesma situação encontramos apenas países como a Finlândia, Islândia ou Malta – até a Grécia já ganhou um de cada destes eventos que mencionei, por amor de Deus! Será que é por sermos baixinhos que ninguém se apercebe da nossa insignificante existência? Sabem quantos espanhóis, franceses e italianos ganharam óscares? E até alemães, e checos? Onde está o nosso Ingmar Bergman? E o nosso Van Gogh? Está alguém aí, ou só o eco? Será que existimos de verdade ou atrevemo-nos a fazer essa presunção – no nosso caso é um presuntão. Perdoem-me esta pequeno desabafo, que no fundo é um pouco parte daquilo que somos, e que até ficamos associados através da nossa própria canção nacional: um longo e triste fado, um lamento sem fim. Mas atenção, alto lá, que há vantagens em toda esta insignificância, pensam o quê? Ninguém nos chateia, por exemplo, o que é bom quando nos dá moleza (sempre), ou na hora da sesta, essa nobre tradição lusitana cada vez mais em desuso. Pensem só nas vantagens que temos no evento de um conflito termo-nuclear. Com toda a certeza que somos um dos últimos (e poucos) países onde despejar umas quantas ogivas em cima não justifica o tempo e os meios a que tal encomenda obrigam. E a propósito, hoje já é dia 11, e por isso estou desculpado. É que o 10 de Junho é o único dia em que nos lembramos que somos portugueses, em vez de nos recordarem a toda a hora dessa maldição, que é ao mesmo tempo uma benção. Porquê? Epá não me perguntem. Sou só um português…
Hoje Macau China / ÁsiaNobel da Paz Aung San Suu Kyi em visita histórica A líder da oposição da Birmânia e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi chegou ontem à China, numa visita histórica que decorre num momento de alguma tensão entre ambos os países [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ung San Suu Kyi partiu ontem do aeroporto de Rangun com destino à China, para uma visita até domingo, durante a qual terá reuniões com o Presidente chinês, Xi Jinping, com o primeiro-ministro, Li Keqiang, e com um grupo de empresários do país. Trata-se de uma visita histórica, a primeira de Suu Kyi à China, através da qual Pequim vai tentar reforçar a relação com o Governo reformista birmanês e com a oposição. Segundo informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, esta é uma viagem de “intercâmbios” entre o Partido Comunista da China e a Liga Nacional para a Democracia, presidida por Suu Kyi, uma formação que se estima ter bons resultados nas próximas eleições birmanesas previstas para o final do ano. Desconfianças A chegada da Nobel da Paz, um prémio atribuído em 1991 pela sua luta pacífica a favor da liberdade no seu país, acontece num momento de alguma tensão entre ambas as nações. Por um lado, a aproximação dos Estados Unidos à Birmânia, que durante os anos de governo da Junta Militar – entre o final da década de 1960 até 2011 – praticamente só teve a China como único aliado mundial, gerou desconfiança por parte de Pequim. Além disso, refere a agência Efe, Pequim encontra-se numa situação delicada em relação à Birmânia, devido ao conflito entre a minoria kokang e o exército birmanês no norte do país, ao longo da fronteira com o sudoeste da China (província de Yunnan). Em Abril, uma bomba lançada por um caça birmanês causou a morte de cinco chineses e uma dezena de feridos, o que motivou a condenação da China, que desde o início do conflito acolheu milhares de refugiados birmaneses. A Birmânia denunciou em várias ocasiões que os kokang, dos quais cerca de 90% são da etnia han, tal como a maioria dos cidadãos na China, recebem ajuda da China, que dominou o território até o ceder ao Reino Unido no final do século XIX. Pequim tem, no entanto, negado estas denúncias. Suu Kyi visita a China pouco tempo depois de ter sido alvo de críticas pelo seu aparente silêncio perante a crise dos migrantes da minoria muçulmana rohingya e numa altura em que outro Prémio Nobel da Paz, o escritor chinês Liu Xiaobo, continua na prisão.
Andreia Sofia Silva SociedadeO “mapping” sem barreiras A associação Arquitectos sem Fronteiras quer criar no próximo ano um mapa das necessidades de Macau em termos de acessos aos portadores de deficiência e apresentar uma proposta ao Governo. “Este pode ser um bom começo”, considera Dominic Choi [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Arquitectos sem Fronteiras de Macau querem criar um plano geral que identifique os principais problemas sentidos pelos portadores de deficiência nos acessos em todo o território. O projecto, de cariz comunitário, deverá ser desenvolvido ao longo do próximo ano e deverá culminar com uma proposta formal entregue ao Executivo. “Queremos realizar uma série de workshops para que em conjunto possamos identificar os problemas e propormos quais poderiam ser as melhores soluções, ou então saber as preocupações do público quanto a esta matéria. Falando com estudantes e com o público em geral poderíamos identificar os problemas e as áreas com maiores necessidades. Com as respostas podemos fazer um planeamento e apresentarmos uma proposta ao Governo para que se possam fazer alterações. Este pode ser um bom começo”, disse o arquitecto Dominic Choi, presidente da entidade, ao HM. Para Dominic Choi, ainda existe alguma superficialidade na forma como são encaradas as infra-estruturas para deficientes. “Essas infra-estruturas existem, mas quando falamos com as pessoas, elas dizem que não há uma ligação entre elas. Todo o planeamento, em forma sistemática, pode ser melhorado. Acredito que o Governo tem boas intenções, mas talvez haja um problema de recursos”, disse ainda. Restauro e conservação [pull_quote_right]Essas infra-estruturas existem, mas quando falamos com as pessoas, elas dizem que não há uma ligação entre elas. Todo o planeamento, em forma sistemática, pode ser melhorado[/pull_quote_right] Outro projecto dos Arquitectos sem Fronteiras está ligado ao património, com uma vertente tecnológica. “Identificamos a importância de algumas ferramentas na área do restauro e conservação que têm vindo a perder-se. As técnicas estão a diminuir porque não são usadas e temos de as identificar. Isso poderia ser importante para alunos do secundário, profissionais ou trabalhadores da construção locais, que podem ser treinados. Estamos a trabalhar com o Instituto Cultural (IC) que está a ajudar a promover os workshops”, apontou Dominic Choi. Em agenda para este ano está ainda um projecto de apoio ao Nepal, depois dos fortes sismos ocorridos terem destruído grande parte do país. Tratando-se da primeira organização do género na China e a segunda da Ásia, os Arquitectos sem Fronteiras fazem parte de uma organização internacional, nascida em França, que alberga 28 grupos em todo o mundo. No caso de Macau, o grupo, criado há três anos, ainda está na fase de recolha de apoios e membros, estando agendado para este sábado um evento na Creative Macau, das 16h00 às 20h00. “Ainda estamos na fase de captar membros para aumentarmos a nossa capacidade de trabalho. Não queremos fazer os projectos a curto prazo e queremos ter uma continuidade. Queremos apoios das escolas e do Governo”, rematou Dominic Choi.
Filipa Araújo SociedadeContas feitas, saldo positivo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] sucursal de Macau do Banco Comercial Português (BCP) acredita que o arrefecimento da economia de Macau não se vai reflectir no sector bancário do território. No balanço do ano passado, ontem publicado em Boletim Oficial, a entidade admite que o ano 2015 é marcado por uma “incógnita em redor dos impactos na economia da RAEM” e que estes são resultantes “quer do abrandamento da economia chinesa”, quer de “algumas medidas adoptadas por Pequim” de controlo dos fluxos financeiros. Mas, acredita a entidade, esta política do Governo Central “não irá reflectir-se no sector bancário”. Em análise, o BCP acredita até “que poderão surgir melhorias económicas”. “Julgamos que o abrandamento da actividade económica da RAEM se reflectirá sobretudo nos níveis de excedente de liquidez sem afectar de forma significativa o desempenho do sector bancário”, pode ler-se no relatório anual da entidade bancária. Rendas a arrefecer O BCP acredita ainda que o arrefecimento das expectativas expansionistas dos agentes económicos, sentidas no 4º trimestre do ano, poderá solucionar problemas como o alto preço das rendas. “A economia de Macau apresentou em 2014 um comportamento dualista caracterizado por expansão no 1.º semestre e contracção no 2º. Semestre, resultante das medidas adoptadas na China e que se reflectiram no desempenho do sector do Jogo, Turismo e Entretenimento (…). Embora tenha permanecido a pressão sobre o nível geral de preços e o sobreaquecimento do mercado de trabalho, foi possível detectar no 4º trimestre alguns sinais de arrefecimento das expectativas expansionistas dos agentes económicos, o que poderá vir a contribuir para solucionar, ainda que parcialmente, alguns dos problemas da economia da RAEM – a inflação, preço e arrendamento de imóveis”, pode ler-se no relatório do BCP. Feitas as contas, em 2014, a sucursal de Macau do BCP obteve um lucro de cerca de 207 milhões de patacas, em que a carteira de depósitos atingiu cerca de 11,5 milhões de patacas e a carteira de crédito os 8,5 milhões. O sector bancário continua, assim, “globalmente positivo” e irá manter a sua estratégia de modernização da plataforma tecnológica, que permite alargar a oferta de serviços.
Joana Freitas EventosBon Jovi pela primeira vez em Macau em Setembro [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]les estão de regresso aos palcos e estreiam-se em Macau. Os Bon Jovi actuam em Setembro na Arena do Cotai, no Venetian. A banda tem dois espectáculos marcados e os bilhetes estarão à venda no dia 16 de Junho. Os Bon Jovi são uma das bandas de rock norte-americanas consideradas como um ícone deste género e estão, neste momento, numa tour à volta do mundo. “Já actuamos mais de 2900 vezes em mais de 50 países e agora é com muita satisfação que anunciamos que estaremos pela primeira vez em Macau”, escreveu Jon Bon Jovi, líder da banda, citado num comunicado do Venetian. A banda tem mais de 30 anos e uma carreira considerada de sucesso, sendo responsável por ‘hits’ como ‘Livin’ On A Prayer’, ‘You Give Love A Bad Name’, ‘Who Says You Can’t Go Home’, ‘It’s My Life’ e outros tantos, que vão “ser tocados em Macau”. Com mais de 130 milhões de discos vendidos, a banda conta com Job Bon Jovi como cantor principal, sendo este considerado “um dos melhores cantores de música popular” deste género. A banda foi nomeada como o melhor espectáculo em tour quatro vezes nos últimos cinco anos, sendo que mais de 37 milhões de fãs já viram o concerto ao vivo. “Estamos muito satisfeitos em trazer Bon Jovi a Macau pela primeira vez”, disse Dave Horton, responsável pelo Marketing da Las Vegas Sands Corp e da Sands China Ltd. “Os Bon Jovi são um fenómeno global e este anúncio só mostra o nosso compromisso para com Macau, já que a banda se vai juntar à lista de eventos internacionais que actuaram [no território]”, lê-se no comunicado. Os espectáculos acontecem a 25 e 26 de Setembro e os bilhetes custam entre as 580 e as 3580 patacas. Ambos os eventos têm início marcado para as 20h00.
Hoje Macau SociedadeAs cumprir as regras [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) asseguraram ontem, em comunicado, que cumprem as orientações da Organização Mundial de Saúde e que aplicam as medidas necessárias para a protecção da saúde dos residentes e turistas. As declarações surgem depois de Tong Ka Io, presidente da Associação de Políticas de Saúde de Macau e antigo director do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde, ter vindo a público criticar as medidas implementadas pelos SS face ao síndrome respiratório do Médio Oriente (MERS, na sigla inglesa). “Face a algumas opiniões expressas que consideraram as medidas tomadas pelo Governo para prevenir o MERS como inadequadas, os SS salientam que a RAEM toma como referência as medidas de respostas propostas pela OMS e pela Comissão Nacional de Saúde e de Planeamento Familiar da China e das regiões vizinhas. As medidas tomadas em Macau cumprem as orientações da OMS”, frisa o comunicado. Lugar de contágio [quote_box_left]“Os SS salientam que a RAEM toma como referência as medidas de respostas propostas pela OMS e pela Comissão Nacional de Saúde e de Planeamento Familiar da China e das regiões vizinhas”[/quote_box_left]Tong Ka Io disse ao Jornal Tribuna de Macau que as autoridades locais não estavam a atribuir a devida importância ao MERS e que havia diversas áreas que estão “cheias de doentes”, como as urgências. Algo que iria, segundo o responsável, influenciar a transmissão, já que na Coreia foi “tão fácil” isso acontecer “porque várias pessoas contraíram a doença só por estarem no mesmo hospital”. Tong disse ainda que “não há muita comunicação entre os profissionais” nos SS e que o organismo “não dá informações suficientes”. Perante isto, os SS vêm assegurar que seguem todas as recomendações da OMS e que o Centro de Prevenção e Controlo da Doenças dos Serviços de Saúde tem realizado a monitorização das infecções de trato respiratório nos hospitais, nas instalações de ensino e os lares, tendo exercido acções de vigilância quando acontecem sintomas respiratórios de origem desconhecida e de infecção colectiva nas instalações médicas. “Face à evolução epidemiológica do MERS na Coreia do Sul, os SS têm, de forma repetida, salientado, publicamente, o reforço das medidas de prevenção e controlo da infecção.” Recorde-se que o grau de alerta foi aumentado para elevado pelos SS esta semana devido à subida do número de casos de coronavírus.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasResíduos de uma diáspora interior [dropcap type=”2″]D[/dropcap]evo a referência a este autor e em particular a este livro ao escritor João Paulo Borges Coelho na sua passagem por Macau, quando ambos participámos na Rota das Letras em 2014. Confesso que ainda não tinha lido nada de W. G. Sebald e fiquei com imensa curiosidade face ao entusiástico elogio de João Paulo Borges Coelho. Depois em boa verdade não comecei pelo livro intitulado Austerlitz, mas antes pelo Campo Santo, Austerlitz chegou uns meses mais tarde. Resumo O professor de História da Arquitectura Jacques Austerlitz investiga a estação ferroviária de Liverpool Street, em Londres, coligindo materiais para uma pesquisa sobre arquitectura industrial, quando é tomado por uma visão que talvez o ajude a explicar não a ‘arquitectura da era capitalista’, mas o sentimento incómodo de ter vivido uma vida alheia. A partir dessa experiência as suas andanças pelas ilhas britânicas e pelo continente europeu, a sua mania fotográfica e a sua memória minuciosa adquirem uma importância que já não é académica mas antes biográfica e Austerlitz passa a procurar reconstruir a sua própria história. Para cumprir esse objectivo o herói do romance terá de viajar no tempo em muitos países e nos cenários mais díspares, tal como um lar protestante no interior de Gales e um internato britânico, lugares esses onde decorreu a sua criação e educação; uma biblioteca em Paris, fortificações, palácios, campos de concentração, monumentos e balneários públicos. No fim desta viagem, que acabará por converter a dimensão biográfica e íntima do professor numa outra realidade através de uma articulação com a história europeia do século XX, indo assim ao encontro dos primórdios em que tudo começou, com outros nomes, numa outra língua, numa outra estação ferroviária, quando os horrores da Segunda Grande Guerra começavam a ser anunciados. Reflexão Se há uma ideia axial através da qual podemos referir a obra de W.G. Sebald, essa ideia é a de hibridismo. Contudo o hibridismo caracteriza muitos autores contemporâneos e desse ponto de vista parece que a ideia nuclear seria apenas carência de pontaria. A verdade é que o carácter ensaístico e híbrido de uma parte da ficção contemporânea, se não predomina, pelo menos marca muitos textos de incontornável importância. Estou, em particular, a pensar em autores europeus como Cláudio Magris, por exemplo, que num texto como Danúbio, desenvolve a sua narrativa numa atmosfera, a qual, temos até dificuldade em enquadrar no domínio da literatura ficcional e romanesca, embora por outro lado se possa reconhecer que o texto é um espantoso romance histórico, geográfico e intelectual de uma parte significativa da Europa e da cultura europeia. A nossa opinião depende muito do posto de observação e de uma certa tolerância relativamente às fronteiras dos géneros literários. Só a título de exemplo: O que é As Cidades Invisíveis de Italo Calvino, a Vida Material de Marguerite Duras ou o Fogo Pálido de Vladimir Nabokov, para só citar alguns textos que me entusiasmaram muito e sobre os quais se pode discutir amplamente o género. Porém o hibridismo de Sebald é mais complexo por um lado e radical por outro e apresenta-se tão bem doseado, que apesar da radicalidade nunca se perde o sentimento ficcional e romanesco. A todo o momento estamos a perguntar-nos se aquilo que acabamos de ler será memorialístico, autobiográfico, erudito ou ficcional em absoluto, embora isso pouco importe porque o prazer da leitura se sobrepõe. Como salienta muito bem António Barrento trata-se afinal de um trabalho oblíquo “sobre a memória pessoal e histórica (…) em que o ficcional se cruza com o biográfico e o documental”. Para levar a cabo este memorialismo pessoal o autor não hesita em introduzir nos seus textos pedaços dispersos de outras narrativas artísticas e de outros saberes, tais como fotografias, despojos arquitectónicos, conhecimentos técnicos de vária ordem, como a Medicina e a Engenharia, etc. «(…) por detrás dos quais se perfila a visão de uma Europa perdida, perigosamente enredada numa tragédia do esquecimento». O que acabo de dizer e citar, aplica-se tanto ao Austerlitz, como aos outros livros, mas é justo que se diga que Austerlitz pode ser considerado um modelo, atendendo ao facto de que aqui se duplica o sentido do esquecimento, uma vez que ele é ao mesmo tempo individual e colectivo. Para que o objectivo funcione, artisticamente falando, é porém necessário que as escolhas de Sebald sejam apropriadas, tanto no plano intelectual quanto no plano estético. Ora, em boa verdade, é isso que acontece sempre. O bom gosto de Sebald é notável, sobretudo porque não é nunca gratuito. Estou a pensar no modo como começa o romance Austerlitz. Começa como se sabe na Gare de Antuérpia. A Gare de Antuérpia é de uma imponência e beleza esmagadora. Eu estive lá pela primeira vez nos anos 80 do século passado e lembro-me de sentir o quanto aquele espaço era favorável a um ambiente romanesco. Por outro lado, não penso que a designação da personagem principal através do apelido Austerlitz seja uma designação fortuita, ela é como também se sabe o nome de uma Gare, parisiense no caso, ao mesmo tempo que consagra o nome de uma batalha, que foi por sua vez determinante para a consagração de Bonaparte, figura muito emblemática também, abordada por Sebald em Campo Santo e a verdade é que o romance para além de nos aparecer centrado na biografia de Jacques Austerlitz, constitui também uma reflexão sobre a monumentalidade própria das gares, enquanto lugares da sensibilidade nostálgica. As gares mais do que lugares de partida e de chegada, e isso já seria suficiente, são sobretudo nós de comunicação e encontro. Elas encerram uma ideia ou projecto que sustenta largamente a problemática cosmopolita da alteridade. Numa gare e por maioria de razão numa gare internacional invoca-se sobretudo o Outro, o que chega e parte e na sua mobilidade permanente se apresenta hostil à armadilha da apropriação nas tenazes indiferenciadas do Mesmo. O que justamente se apresenta como nostálgico em todos os livros de Sebald é uma espécie de diáspora interior que consagra territórios neutros ou neutralizados pela história e que só se tornam interessantes porque aparecem sempre sob a forma de vestígios, de resíduos ou de despojos, restos arqueológicos ou ruínas. Claro que muitas vezes estas ruínas não se apresentam em ruínas, fisicamente digamos assim, e quando isso acontece são mais ruínas ainda, são verdadeiras ruínas. Os monumentos são na maior parte dos casos ruínas sentimentais, ruínas morais do Espírito, desmentidos brutais das nossas maiores ilusões. E o que são as desilusões senão ruínas. Quando os monumentos aludem à História e aludem sempre, o sentimento de ruína é global, a desilusão é aterradora. É consagrada uma verdadeira terra de ninguém, espiritual, um não lugar da memória que só pode provocar nostalgia e até sofrimento. Contudo, após o estremecimento ontológico inicial desenha-se aos poucos um princípio de esperança. É preciso passar sempre pela prova das ruínas e da desilusão. É preciso passar pela prova da memória. Simplesmente em Sebald essa memória só pode tornar-se redentora nos planos ético e moral por um lado e político por outro, para poder ser motor de redenção histórica, se filtrar os acontecimentos e os factos assim como os vestígios a uma luz dolorosa e poética, de uma poética do ser que não pode ser nunca meramente festiva e comemorativa. A importância dos vestígios, dos resíduos e das ruínas é na aparência tautológica uma vez que é da natureza da realidade e não apenas da realidade histórica ser fragmentada e dispersa. O que se propõe é assim da ordem da resignação que se opõe à tendência do espírito para a denegação e para o recalcamento. Não obstante, resignação tem aqui o sentido não de uma desistência pusilânime mas antes de uma lucidez extrema. A aceitação resignada de uma realidade que é por natureza fragmentada prepara o Espírito para a cura e através dela para as bodas da superação reconciliada. Nota: Se ainda não o disse em letra de forma, será provavelmente a altura ideal para o fazer: o melhor da cultura europeia, da cultura literária desde logo, está muito ligado a uma tradição de desenraizamento, de diáspora, errância, deriva e exílio. Na tradição europeia os castiços produziram muito menos e de muito menor qualidade, o que se compreende. Aconteceu assim com a grande tradição intelectual da mitteleuropa, nos séculos XIX e XX, mas também em muitas outras latitudes e épocas. Se fizéssemos uma retrospectiva da literatura e do pensamento europeu contemporâneos seguramente que confirmaríamos esta observação que porém não cabe aqui na economia apertada desta recensão; porém aproveito para referir alguns autores em que entronca esta genealogia que hoje em dia engloba nomes como Sebald, Magris, Rushdie etc… Pense-se desde logo na filosofia em Kant, e na literatura em Kafka, Marai, Zweig , assim como Borges e Cortázar. Pense-se sobretudo nessa figura incontornável da problemática da alteridade que é Lévinas, judeu lituano, ucraniano e russo, em parte alemão pela cultura e finalmente francês, por adopção, linguística, mas não só. E o que dizer de Vladimir Nabokov ou Joseph Conrad, que escreveram em várias línguas; e Joyce que viveu uma parte importante da sua vida em Trieste, lugar paradigma de uma grande oscilação dos mecanismos de pertença e enraizamento, como sublinhou muito bem Cláudio Magris em Um Outro Mar. Em boa verdade quase tudo o que de inovador e vanguardista a Europa produziu, a partir do século XIX sobretudo, apresenta essa marca a que não é estranho, por exemplo, o facto do enorme sucesso dos intelectuais judeus (povo de diáspora por excelência), espalhados pela Europa. Os romenos Panaït Istrati, Tristan Tzara e Benjamin Fondane, abandonaram todos cedo o seu país e adoptaram o francês como língua literária. «Benjamin Fondane é o autor de uma «boutade» sobre a importância quiçá desmesurada da pátria de Chateaubriand, de Voltaire ou de Victor Hugo na cultura romena quando escreve que partia para França porque já não suportava viver numa colónia francesa e era portanto preferível ir viver para a metrópole. De facto a metrópole é sempre recomendável relativamente à província»: e a verdade também é que a maioria dos intelectuais ligados a uma cultura local ou nacional são quase sempre provincianos. E ser provinciano é no plano intelectual o pior dos defeitos e dos insultos. Na nossa tradição própria, os gigantes são de facto cosmopolitas ou desenraizados, como Camões, Eça de Queiroz ou Fernando Pessoa. Dois exemplos apenas: Sebald, W.G., Austerlitz, Quetzal, Lisboa, 2012Descritores: Literatura alemã, Ficção, Memorialismo, Ensaio,ISBN: 9789897220517 Relativamente a Simmel, é conhecido um importante, embora breve, texto sobre o assunto, designado apropriadamente Digressão Sobre o Estrangeiro. Porém sobre este tema, o estrangeiro, nada melhor se escreveu ainda que a obra homónima de Michel de Certeau. Simmel afirma que: «o estrangeiro é o que chegou hoje, mas não para partir amanhã, sendo antes aquele que chegou para ficar». O estrangeiro conjuga assim, na perspectiva de Simmel, a harmonia que resulta da distância e da proximidade, da generalidade e da diferença. E nesse sentido ele é o verdadeiro símbolo da Modernidade, pois ele é síntese e inovação, entre por um lado a diáspora e a fixação, funcionando como intermediário das pulsões ambivalentes da alma humana. No estrangeiro convergem tolerância e auto compreensão, alteridade e identidade, generalidade e idiossincrasia. O estrangeiro é o verdadeiro símbolo da modernidade mas também do cosmopolitismo. A reflexão de Robert Park, discípulo de Simmel, vai no sentido de evidenciar a figura simbólica do marginal das sociedades tardo industriais e pós modernas, sobretudo nas grandes metrópoles, exprimindo ainda a modernidade mas também a sua crise e desorganização, que andam afinal modernamente juntas. O marginal é também uma figura do cosmopolitismo, pois habita entre dois mundos, o que promove um desenraizamento agora não apenas cultural ou linguístico, mas também social. A figura do marginal é um estrangeiro multiplicado, pois acontece enredado entre duas realidades sociais, entre duas culturas e por vezes mesmo entre dois códigos linguísticos antagónicos. A subjectividade possui no marginal uma dimensão trágica, pois muitas vezes ele não consegue superar este divórcio que vive quase sempre de uma forma psicológica dissociativa. W.G. Sebald nasceu em Wertach im Algau, na Alemanha, em 1944, filho de uma família católica do interior da Baviera. Estudou Língua e Literatura Alemãs em Freiburg e leccionou em Manchester na Inglaterra, de 1966 até 1970. A partir de 1970, ensinou na Universidade de East Anglia, em Norwich, tornando-se professor de Literatura Europeia, em 1987, onde permaneceu até à sua morte, num acidente de carro, em Dezembro de 2001. De 1989 a 1994, foi o primeiro director do British Center for Literary Translation. A sua obra foi contemplada com numerosos prémios literários em vários países. Poeta, ensaísta e tradutor, Sebald é contudo reverenciado no mundo todo pelos seus livros de ficção. A Teorema publicou quase toda a sua obra: Os Emigrantes, Os Anéis de Saturno, Vertigens. Impressões, Austerlitz, História Natural da Destruição e Campo Santo. Entretanto a sua obra tem vindo a ser republicada pela Quetzal.
Flora Fong SociedadeAnimais atirados de edifícios. IACM “não pode fazer nada” por não ter jurisdição Só a PSP tem poder para tratar dos recentes casos de animais que terão sido atirados de um prédio de habitação pública. Ontem, foi mais um – uma tartaruga. O IACM diz que nada pode fazer segundo o Regulamento Geral dos Espaços Públicos, por não ter jurisdição, mas também não está ainda em vigor a Lei de Protecção dos Animais [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) defende que não tem jurisdição sobre os mais recentes casos de pessoas que alegadamente atiraram animais de habitações do Edifício do Lago, situação que aconteceu num dos complexos de habitação pública da Taipa. Além dos nove cães, foi agora encontrada uma tartaruga morta, que terá também sido atirada. Uma fotografia mostra a carcaça de uma tartaruga com sangue, descoberta numa plataforma do mesmo edifício. Contudo, a PSP referiu que ainda não conseguiu investigar a causa dos incidentes. Ao HM, o porta-voz da PSP, Lei Tak Fai, afirmou que até ontem não recebeu qualquer denúncia da morte de uma tartaruga, mas apenas duas denúncias de três corpos de cães encontrados junto ao bloco 4 do Edifício do Lago, tal como o HM já havia avançado esta terça-feira. IACM espera lei Segundo o Jornal do Cidadão, Ng Sao Hong, do Conselho de Administração do IACM, referiu que ainda não recebeu notícias por parte da PSP face ao incidente. No entanto, uma vez que a Lei de Protecção de Animais está em análise, Ng espera que ao entrar em vigor, possa criar medidas de efeito dissuasório para actos contra os animais. Também o porta-voz do IACM, Lai Chi Weng, afirmou ao HM que “até ao momento o organismo não tem o direito de fazer a investigação, apenas a PSP tem”. Isto porque é necessário entrar dentro de casa das pessoas e só a PSP pode fazê-lo. No entanto, de acordo como um decreto de lei relativo à administração de edifícios, os moradores de habitações públicas não podem atirar lixo pela janela, enquanto os animais domésticos não podem incomodar outros moradores. Caso contrário, estes podem incorrer em multas de 500 a mil patacas. Esta lei, contudo, como explicou o IACM ao HM, não se adapta a estes comportamentos recentes. Uma questão de privacidade O Regulamento Geral dos Espaços Públicos aponta também que se pode ser multado com valores entre as 700 e as 2500 patacas no caso de se atirar, abandonar corpos ou partes de corpos em casa, instalações públicas de resíduos sólidos ou espaços públicos. Questionado sobre se os recentes casos envolvem tratamento inapropriado de corpos de animais em locais públicos, o porta-voz do IACM respondeu que a plataforma do Edifício do Lago onde os animais foram descobertos “não faz parte do espaço público como é o caso de uma rua”, mas afirmou que o Instituto de Habitação (IH) já avisou os moradores “para que não atirem” animais pela janela. A PSP defendeu também que na actual fase não é necessário passar o acompanhamento do caso para o IACM, justificando que “é necessário estudar se o local onde os animais foram encontrados é público ou privado”. Protestos contra diminuição de penalidade A vice-presidente da Associação Protectora de Animais Abandonados de Macau (AAPAM), Josephine Lau, anunciou a realização de um protesto, no próximo dia 28, contra a diminuição da penalização para quem maltratar animais. Lau considera que a sugestão de diminuir a penalidade para quem maltrata os animais é injusta. A ideia da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que discute a Lei de Protecção dos Animais na especialidade, é diminuir a pena de três para apenas um ano. “Há quem ache que as penalidades de seres humanos e de animais não devem ser iguais, mas a pena máxima de prisão é de três anos para ofensas simples à integridade física de seres humanos, mas a ofensa grave ou morte pode levar a pena de prisão de oito a 15 anos”, começou a responsável por dizer. “E para os actos que podem causar invalidez permanente ou a morte de animais, a pena máxima é também de três anos de prisão de três anos”, esclareceu.
Flora Fong PolíticaA difícil arte de caçar votos Os dois arguidos da Aliança do Povo de Instituição de Macau, associação dos deputados Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei, vão conhecer em Julho a sentença sobre a alegada oferta de refeições e transporte gratuito durante a última campanha eleitoral. MP diz que há provas [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram conhecidas esta terça-feira as alegações finais do caso de alegada corrupção durante a campanha eleitoral de 2013, que envolve os arguidos da Aliança do Povo de Instituição de Macau, associação dos deputados Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei, os quais acabaram por ser eleitos para a Assembleia Legislativa (AL). Segundo o jornal Ou Mun, o Ministério Público (MP) considerou existirem provas de oferta de refeições e transporte gratuito a eleitores. A última sessão em tribunal antes de ser lida a sentença final serviu para ouvir sete testemunhas, incluindo os colegas do primeiro arguido – de apelido Ho e funcionário da associação. Ho é suspeito de telefonar aos membros da Aliança do Povo de Instituição de Macau como forma de apelar ao voto para os três candidatos, oferecendo em troca refeições e transporte para o restaurante do Golden Dragon e Hotel Taipa Square. Ho terá ainda pedido a outra arguida, Wong, para também ligar aos membros. [quote_box_right]Ho é suspeito de telefonar aos membros da Aliança do Povo de Instituição de Macau como forma de apelar ao voto para os três candidatos, oferecendo em troca refeições e transporte[/quote_box_right] Os colegas de Ho terão referido que foi oferecido transporte para os membros da associação, mas que não houve refeições grátis. O juiz referiu que “se os funcionários já tinham dito que não iam oferecer refeições, porque não esclareceram isso nas chamadas telefónicas?”. As testemunhas explicaram que apenas o chefe efectuou essas chamadas. O MP disse ainda que foi o primeiro arguido que telefonou para a testemunha do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) a denunciar a oferta de refeições no dia 15 de Setembro de 2013, tendo disponibilizado uma lista de chamadas telefónicas feitas , a qual “poderia provar que os dois arguidos ofereceram transporte gratuito com o intuito de disponibilizar refeições gratuitas, para agradecer os votos feitos pelos membros”. Palavra da Defesa O advogado de Ho rejeitou esse argumento do MP, apontando que apenas dez testemunhas confirmaram a existência de refeições gratuitas, sendo que a associação ligou para mais de dois mil membros. O advogado considerou que “seria impossível ganhar a maioria desses votos”, apontando ser impossível confirmar que o arguido foi o responsável pelas chamadas. Já o advogado da segunda arguida – de apelido Wong e voluntária da associação – disse que a sua cliente não tinha qualquer relação com os três deputados e, uma vez que apenas dez testemunhas confirmaram as chamadas, não se trata de uma acusação “racional”, e que “não se podem considerar chamadas como actos de corrupção e crime”. Para esta advogada, a investigação feita pelo MP “não foi completa nem suficiente”, acusando este órgão judicial de “apenas investigar o restaurante nem a respectiva associação”, tendo exigido a retirada da acusação. A sentença final será conhecida a 17 de Julho.
Leonor Sá Machado EventosCinema, Carpintaria e Sinologia O Instituto Cultural inaugura cinco novos espaços culturais na região, incluindo um cinema munido de um centro de documentação, uma exposição sobre a história da Carpintaria e uma outra sobre o sinólogo Jao Tsung-I. Assim se festejam os dez anos do Centro Histórico na lista do Património Mundial da UNESCO [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) promove, a partir do próximo dia 30 e até final do ano, uma série de estreias em termos de instalações histórico-culturais e que de algum modo explicam a história e passado locais. A primeira, que inaugura no final de Junho, é o Centro de Informações da Fortaleza da Guia. O local, que serve actualmente como estrutura de apoio àquele monumento, vai ser transformado num sítio mais completo, com uma série de informações interactivas, como são a exibição de maquetas e uma retrospectiva dos trabalhos de restauro da Capela de Nossa Senhora da Guia. O espaço vai ainda dispor de um café e loja de recordações. O dia 28 de Julho é reservado à abertura da Exposição de Carpintaria de Lu Ban, na Associação Seong Ká Môk. Lu foi, de acordo com o IC, o “patrono dos carpinteiros na China” e o espaço pretende contar a história desta classe trabalhadora e mostrar aos visitantes aquilo que se tem feito nesta área em Macau. “Serão expostas numerosas ferramentas tradicionais de marcenaria e componentes de casas, para além de uma apresentação multimédia sobre a Associação”, explica o IC. Em nome do passado Além da mostra sobre a história da carpintaria em Macau, o IC prepara-se para abrir, a título permanente, a Academia Jao Tsung-I, conhecido sinólogo chinês. “Pinturas e Caligrafias Doadas por Jao Tsung-I” ficará no número 95 da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida e compreende uma sala de exposições com trabalhos do autor e uma colecção do seu espólio de livros e outros documentos históricos. Há ainda um auditório, construído a pensar na promoção da cultura chinesa e do intercâmbio sobre estudos sinólogos. A par disto será ainda inaugurada a Cinemateca Paixão, que integra salas de cinema e um espaço de documentação cinematográfica. “É um espaço polivalente destinado a promover a indústria cinematográfica e criar uma atmosfera criativa e cinematográfica”, explicou o IC. Contudo, não há ainda um prazo definitivo para a abertura deste espaço, mas o IC assegurou que o anúncio será feito no seu website oficial. Para já, estabeleceu-se Setembro como data para a “abertura experimental”. Vai também ser inaugurado uma espécie de museu sobre a profissão de guarda-nocturno, muito comum na história do território. O Posto de Guarda Nocturno, situado na Rua da Palmeira, foi restaurado e vai abrir ao público para visitas durante a segunda metade deste ano, desconhecendo-se ainda o dia. “Ao preservar-se este Posto de Guarda Nocturno, mantém-se um testemunho único da existência desta profissão em Macau (…). Após obras de restauro o espaço será revitalizado para alojar uma exposição sobre o trabalho dos antigos guardas-nocturnos de Macau”, lê-se no folheto informativo.
Flora Fong SociedadeEm defesa do terreno mais puro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Au Kam San critica o facto de dois empreendimentos turísticos, com localização em Coloane, virem a ter casinos, tratando-se de empresas que não receberam ainda licenças de Jogo, à semelhança das principais operadoras. Numa interpelação escrita entregue ao Governo, o deputado da Assembleia Legislativa (AL) quer saber se a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) permitiu a finalidade de jogo aquando da aprovação dos projectos. Para o deputado, a abertura destes novos empreendimentos pode influenciar a “única zona verde e ecológica” em Macau. “A indústria do Jogo já entrou num período de ajustamento e o número de mesas de jogo já está além da procura. Será que o Governo vai permitir a abertura de empreendimentos até na única zona verde e ecológica?”, questionou. Um dos empreendimentos a que se refere Au Kam San fica perto do antigo Parque Industrial da Concórdia, onde será construído um edifício com hotel e casinos, incluindo dez salas VIP e duas mesas de jogo, segundo o deputado. O projecto é de um empresário de apelido Chio. Mais luxo Perto da habitação pública de Seac Pai Van vai nascer o Louis XIII, um empreendimento de um empresário de Hong Kong. Em 2013 ficou a saber-se que o Louis XIII será constituído por um hotel de luxo e casinos, sendo que o processo do pedido de 66 mesas de jogo feito ao Governo está a decorrer. Para Au Kam San, Coloane permanece como o “quintal dos residentes de Macau”, onde já foram construídas habitações públicas por falta de terrenos disponíveis. O deputado acredita que se o Governo alargar a presença do jogo à ilha, isso poderá levar à destruição do “único terreno puro” que ainda permanece em Macau. Questionado sobre o assunto, Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, disse aos jornalistas chineses que, do que é do seu conhecimento, não há terrenos em Coloane ocupados com casinos. Contudo, o responsável prometeu investigar mais o assunto, de forma a dar uma resposta concreta.
Carlos Morais José EditorialAs lições do passado [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]untar “comunidade portuguesas” ao dia de Portugal e de Camões (bem como tirar-lhe a Raça) foi uma excelente decisão. Afinal, o nosso vate também foi um exilado, um homem basicamente expulso do país, um território onde para ele não havia lugar e onde haveria, no regresso, de definhar à míngua, mesmo depois de reconhecida a sua genialidade. Portugal de modo nenhum se reduz ao pequeno rectângulo. É muito maior, muito mais vasto e mais onírico do que isso. Os portugueses não pertencem a uma etnia, fazem parte de um povo que inclui todo o tipo de gente, com as mais diversas origens étnicas. Tal teve a ver com o facto de termos saído, mas também com a realidade geográfica do país. Sendo o último da Europa para Oeste, foi durante vários séculos uma espécie de fim do mundo, onde vinha parar todo o tipo de gente. Dali não podiam passar, a não ser em sonhos. E talvez tenham sido esses sonhos que nos lançaram numa das aventuras mais ousadas que Humanidade experimentou. Os portugueses foram os autores da primeira globalização, quando mostraram que era possível o contacto entre todos os povos do planeta. A segunda globalização veio tornar esse contacto imediato. Bem sabemos da importância das novas tecnologias, mas alguém se lembra da importância de mudar os hábitos alimentares de toda a gente com o transporte de plantas alimentícias como fizeram os nossos navegadores? Pouco importa o passado, dizem-nos. Glórias de antanho não nos resolvem os problemas que hoje defrontamos, afirmam. Será que não? Será que não existem lições a tirar da História que sejam úteis na interpretação do presente? Parece-nos que sim. Parece-nos, aliás, que existem tantas lições que nós hoje temos medo de olhar para elas e corar no confronto com a audácia e a inteligência dos nossos antepassados.
Leonor Sá Machado PolíticaPatrimónio | Nova lista sai em breve [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, anunciou ontem que a população vai saber “brevemente” quais os dez monumentos que estão seleccionados para integrar a lista de património cultural da RAEM. No entanto, a nova lista – que está para ser publicada há vários meses – só deverá ser oficialmente conhecida em 2016. A justificação, dada ontem por Ung Vai Meng à margem de uma conferência sobre o Centro Histórico, é que falta “tratar das formalidades, tradução e descrição das obras”, algo que, confessa, é “parece fácil, mas não é”. Aos média, o responsável explicou ainda que “dos cem [monumentos] inicialmente escolhidos, encontraram-se 70 que têm mais valor históricos” e que especialistas vieram a Macau ver as peças quatro vezes para fazer uma avaliação através da visita a estes monumentos, tendo escolhido os “dez que reúnem condições mais maduras”. O mesmo representante disse que a entidade está agora na fase final, pelo que falta apenas preencher algumas formalidades e preparar os documentos para pedir a inscrição destes dez na lista já existente. “Depois do requerimento estar pronto, são 12 meses até [a lista final] estar pronta”, sublinhou. Contas feitas, serão 138 os itens incluídos na lista de património cultural da cidade. No entanto, a escolha não se fica por aqui. É que a selecção de itens para integrar a lista é uma actividade em constante mudança. “Depois vamos procurar os potenciais e outros novos”, contou Ung Vai Meng aos média. Antes da inclusão destes na lista, o IC vai proceder à realização de uma consulta pública.
Filipa Araújo PolíticaEdifícios bem guardados O resultado da consulta pública já é conhecido e vem reforçar as alterações que o IH previa: não vai existir um seguro da responsabilidade civil nos condomínios, mas há consenso sobre a obrigatoriedade de uma licença [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á foram ouvidos os vários interessados no sector de Administração de Condomínios sobre a Lei de Actividade Comercial de Administração de Condomínios e o resultado é claro: a licença da empresa deverá ser obrigatória e tem de fazer a distinção dos tipos de administração, sendo que deverão ser ainda as próprias empresas a especificar as funções do director técnico. Apesar das 1654 opiniões recolhidas se mostrarem de acordo com os requisitos exigidos para a licença de director técnico, o Instituto de Habitação (IH) explica que serão as “empresas de administração de condomínios a especificar o conteúdo concreto das funções do director técnico através do contrato de trabalho”, porque este exerce as funções de trabalho subordinado ou de colaboração. Assim, propõe o IH que “no futuro a legislação continue a tipificar os requisitos para o exercício da função de director técnico (…) servindo [esse] ainda como um dos requisitos para a concessão e renovação da licença as empresas de administração de edifícios”. Relativamente à licença de empresa de administração de condomínios, as opiniões recolhidas mostram que “a licença da empresa de administração deve ser concedida conforme a natureza do requerente: empresário comercial, pessoa singular ou sociedade comercial”, fazendo que seja necessário, na concessão da licença, esta distinção. Pontos de discórdia O resultado da consulta, que decorreu de Setembro a Novembro de 2014, mostra ainda que os inquiridos não concordam com o seguro de responsabilidade civil e por isso mesmo, este, será anulado. “Tendo em conta os problemas relativas à oferta dos seguros no mercado e a respectiva cobertura, o IH aceita esta opinião e irá anular este requisito no futuro processo de legislação”, pode ler-se no documento. Também o valor da caução não reuniu concordância. “O IH irá proceder a uma investigação sobre o modo de funcionamento das empresas de administração, as dívidas que possam surgir bem como sobre a respectiva capacidade de solvência, tendo como referência as práticas de outros sectores, no sentido de ajudar o valor de caução”, indica o IH. O instituto indica ainda no relatório que “irá ponderar limitar os documentos àqueles que as empresas de administração possuem e são susceptíveis de serem divulgados”, depois de ter recebido algumas opiniões que propunham que sejam especificados os documentos a proporcionar pelas empresas de administração. Como conclusão, o IH prevê que o tempo de licença provisória seja de três anos, tempo que o Governo considera ser suficiente para o sector de adaptar à regularização. É importante referir que a lei em causa não inclui os edifícios administrados pela sua própria comissão administrativa.
Flora Fong PolíticaTransparência na renovação urbana [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] recentemente anunciada Comissão Especializada para a Renovação Urbana entrará em vigor assim que o Governo terminar o regulamento que a vai criar. De acordo com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) o Executivo está neste momento a elaborar o regulamento que cria esta Comissão e que irá permitir esclarecer o conceito da renovação urbana e ao que se destina. Numa interpelação escrita, o deputado Si Ka Lon queria ver respondidas algumas questões, como em que situação se encontra o processo e o conceito de renovação urbana – algo que veio substituir o de reordenamento dos bairros antigos. Em resposta, o director da DSSOPT, Li Canfeng, referiu que o conceito de renovação urbana envolve vários aspectos, sendo necessário integrar opiniões do sector, mas assegura que este estará explicado neste regulamento. “Através da discussão e trocas na Comissão, pretende-se esclarecer o conceito e ao que se destina esta renovação, elaborando assim um conteúdo de execução, permitindo a criação da lei visando a renovação urbana”, esclareceu.
Joana Freitas SociedadeÀ espera do gás natural A CEM registou mais procura de electricidade devido à construção de novas infra-estruturas em Macau e na Ilha da Montanha e por causa da abertura das fronteiras 24 horas. A empresa diz ser necessário diversificar o fornecimento, mas continua a ter de importar quase 90% da energia por não ser abastecida com gás natural [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Companhia de Electricidade de Macau (CEM) continua a ter de importar a maior parte da sua energia, devido à falta de fornecimento de gás natural pela empresa contratada para o efeito, a Sinosky. De acordo com o relatório anual da CEM, publicado ontem em Boletim Oficial, a procura e o consumo de energia aumentaram em 2014 e a empresa diz ser preciso diversificar o fornecimento. O relatório, correspondente ao ano passado, indica que “apesar de Macau ter sentido um abrandamento económico no final do ano, o consumo de energia aumentou 6,1%”. Isto fez com que a utilização de electricidade atingisse um valor recorde, de 4677 GWh, muito devido às novas infra-estruturas em Macau e na Ilha da Montanha e à possibilidade de se cruzar a fronteira a tempo inteiro. “Devido ao contínuo aumento de visitantes ocasionado pela implementação do acordo de funcionamento da fronteira 24 horas, em vigor desde o final do ano passado, a inauguração do novo campus da Universidade de Macau na Ilha de Hengqin, o lançamento de múltiplos projectos de entretenimento e a mudança para o complexo habitacional social de Seac Pai Van, [o consumo aumentou] e o pico da procura também subiu em 10,3%”, pode ler-se no relatório. O que faz falta [quote_box_right]A CEM continuou a depender largamente da importação de energia para manter o fornecimento ao longo do ano”, pode ler-se no relatório, que indica ainda que as importações totalizaram 87,6% do fornecimento total, atingindo um “novo recorde histórico de 4099 GWh”[/quote_box_right] A empresa assegura ter conseguido manter um bom nível de serviço e ter superado todos os objectivos contratuais, “em termos de todos os indicadores-chave de desempenho”. O que ainda falta, contudo, é a produção própria, que a empresa não consegue ter. “O fornecimento de gás natural ainda não foi oficialmente retomado, exceptuando uma disponibilidade temporária entre Maio e início de Setembro, durante um teste num campo de gás. Consequentemente, a CEM continuou a depender largamente da importação de energia para manter o fornecimento ao longo do ano”, pode ler-se no relatório, que indica ainda que as importações totalizaram 87,6% do fornecimento total, atingindo um “novo recorde histórico de 4099 GWh”. Recorde-se que a Sinosky, concessionária do contrato de importação de gás natural para Macau, ainda não retomou o abastecimento de gás natural à CEM. De acordo com informações prestadas pelo Gabinete de Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE) o ano passado, desde 2011 que o abastecimento está suspenso, não havendo prazos para a sua reactivação. Contudo, a intenção da CEM em produzir energia eléctrica a partir de gás natural mantém-se. Recorde-se que o Governo negou já ter dado autorização para a rescisão do contrato com a Sinosky, conforme avançado pelo HM, mas admite que essa é uma hipótese em cima da mesa, já que as negociações não têm corrido bem. Diversificar é preciso No ano passado, a CEM investiu 539 milhões de patacas na melhoria e expansão da rede de transporte e distribuição, mas a empresa sublinha que é preciso diversificar. “Para fazer face à procura futura de energia eléctrica e assegurar um fornecimento estável, é crucial a diversificação do fornecimento. Em linha com o objectivo do Governo de desactivar a Central Térmica de Macau, a CEM vai continuar a negociar com o Governo para substituir algumas unidades de geração a Diesel, obsoletas e ineficientes, por unidades de geração de turbina a gás de ciclo combinado, mais ecológicas e eficientes, para manter a capacidade de geração de energia de Macau”, escreve-se no relatório. Em termos operacionais, a CEM conseguiu aumentar “os seus resultados líquidos” 4,7% desde 2013, totalizando 608 milhões de patacas. O relatório aponta que também a base de clientes aumentou ligeiramente, em 2%, para 243.888 entidades. As vendas totais de electricidade e os lucros também cresceram 5,6% e 6,1% comparativamente a 2013, estes últimos 5916 milhões de patacas. O preço de importação aumentou cerca de 1,6% em média desde 2013, devido à valorização do yuan, mas a empresa conseguiu manter as mesmas tarifas para os clientes de habitações com a ajuda do subsídio do Governo, que atingiu os 142 milhões de patacas em 2014.
Carlos Morais José EditorialHá uma noite sobre nós [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á uma noite que se abateu sobre Portugal. Um tempo escuro, baço e sem sombras, do género que limita os homens e faz temer as mulheres. As avenidas prolongam-se e parecem sem saída. Ao longe, ao que parece na Grécia, ruge uma inclemente tempestade. Nem sempre a noite é alcova de visões. Por vezes, não passa de uma sucessão de pesadelos, de cavalgadas infernais e não se vislumbra uma saída, um oásis, um mero repouso que não sejam as mentiras dos políticos. Antes a noite dos que ousam proclamar, imprecar, invectivar as iniquidades, a noite dos que no negro profundo das noites ainda sonham sonhar um país sem pátrias, uma sociedade sem amos, um planeta sem deuses nem os seus ciúmes. [quote_box_left]Nem sempre a noite é alcova de visões. Por vezes, não passa de uma sucessão de pesadelos, de cavalgadas infernais e não se vislumbra uma saída, um oásis, um mero repouso que não sejam as mentiras dos políticos.[/quote_box_left] É fácil sonhar Portugal, atribuir-lhe características, destinos, trejeitos, salvações. E é fácil porque ele já não passa de uma ideia, de um belo constructo, de um “ir” aéreo, veloz, fazedor. Há partir e há sair. Há fugir, também. Como há rir e refulgir e todos acabam em “ir”. Porque há que ir, há que ser ar e por vezes vento, o elemento veloz, global, o da presença total, a levar sementes e pólenes vários pelas várias esferas. Ser português é ser da ideia, a que dizem ser plebeia: a de Camões, de um povo não de um herói. Povo repartido por partidas pregadas pelo mundo. Viemos de livre vontade? Eu nunca fui cobarde e não soçobrarei — assim se manifesta a grei. Há uma noite sobre nós. É espessa e difícil de enxotar. Somos filhos de uma alcateia expulsa daquela serra. Houve por lá um incêndio. Ainda arde. Os sinos repicam mas acolhem o chamamento. Repara-se agora não haver ninguém realmente capaz de o apagar.
Carlos Morais José EditorialUma comunidade [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] que somos e para onde vamos ninguém sabe. Mas de onde vimos, isso é para nós claro como os céus índicos que algum dia um de nós teve de cruzar. Vimos de Portugal. Nesta, em gerações anteriores, de avião, de vapor ou caravela, foi ali que tudo começou. E isso tem um significado, um sentido, uma responsabilidade. Quais são exactamente, em cada caso, em cada homem e cada mulher, só cada um de nós perfeitamente sabe, por se tratarem de paixões intransmissíveis. Bem podemos reduzi-las a aspectos como o mar, o fado, o ardor da planície alentejana, o bacalhau seco, a saudade, a fogosidade minhota, a bonomia algarvia, o peito feito do Porto, o pastel de nata, o sol moribundo na falésia, as noites de Lisboa, o “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, a penedia serrana ou transmontana. [quote_box_right]Somos aqui uma comunidade devedora da História, de todos os que, nas suas pegadas, nos permitem calcorrear esta terra estranha feita família. Mas tal só deve ser entendido como dever de entender o presente e transformá-lo (nunca apenas interpretá-lo) no lugar onde nos é permitido viver.[/quote_box_right] Elas nunca serão somente isso. Como não serão apenas as ruas calçadas do Brasil e o dialecto luso, que escorre daquelas bocas como se nunca fôra mel, ou uma peça de patuá em Macau, eivada de brejeirice alfacinha. Somos tenazes. Ou porque não temos outra alternativa ou porque somos mesmo assim. Somos carraças. Quando vimos é para ficar, para nos reproduzirmos. Porque temos o excesso de julgar o mundo de todos e para todos, como virá a ser no futuro. Somos aqui uma comunidade devedora da História, de todos os que, nas suas pegadas, nos permitem calcorrear esta terra estranha feita família. Mas tal só deve ser entendido como dever de entender o presente e transformá-lo (nunca apenas interpretá-lo) no lugar onde nos é permitido viver. Aqui, sob a sombra de tantos, permanecemos no espaço ideal, hoje, para a construção do que está por vir. Por Macau tudo passa, ainda que só passe a sombra, o sintoma, a micro-referência, impossíveis de obter em qualquer outra partida do mundo. É um trabalho de atenção, de caçador ou pescador, na floresta ou no aquário global. A nossa comunidade sabe disto, mesmo que de tanto não esteja plenamente consciente. Há um monstruoso trabalho por fazer, tarefas hercúleas que instituirão o planeta de amanhã. É a nossa madrasta terra ou temos o mundo por sentença? A resposta está dada mas tudo se simplifica, tudo se ilumina, quando essa resposta é dada por cada um de nós.
André Ritchie Sorrindo SempreOito e 80 [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]Mesmo não querendo que na minha coluna deste jornal se fale unicamente da hibridez e multiculturalidade de Macau, a verdade é que, no seguimento da minha última intervenção, acabei por dar continuidade a esse tema. Não que não tenha tentado fugir dele: ocorreu-me escrever sobre a professora Ana Maria Amaro, recentemente falecida, ainda que numa perspectiva diferente, explorando o facto de se tratar de uma investigadora que se debruçou intensamente sobre Macau, mas que, surpreendentemente, nunca mais aqui voltou desde 1972. Em 1972 Macau tinha menos de 250 mil habitantes. Não existia ainda nenhuma ligação terrestre entre Macau e a Taipa. Havia hortas no Porto exterior, búfalos na Taipa e kwai chi lous (*) em Coloane. os números de telefone tinham apenas quatro algarismos. Foi esse o Macau que Ana Maria Amaro vivenciou no momento em que se foi embora há 43 anos atrás para nunca mais voltar. Isso não a impediu, no entanto, de continuar a publicar obras sobre os costumes e as tradições da comunidade macaense. Não escondo que fiquei algo afectado com essa questão, obrigando-me a reflectir um pouco sobre o assunto. E aparentemente não fui o único: bastará ler com atenção os comentários, ainda que subtis, que algumas personalidades deixaram nos jornais na sequência da sua morte. Não será necessariamente um problema. o importante é estarmos cientes desse facto, para que na apreciação da sua obra a mesma seja adequadamente enquadrada no tempo. Pois uma coisa é certa: as cidades e as suas gentes são organismos vivos em constante mutação. Posto isso, fico por aqui e vou mudar de assunto para evitar que me atirem pedras. [quote_box_right]“Keily, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: somos portugueses, somos campeões na arte do desenrascanço. Qual é o problema?”[/quote_box_right] Disse no início que iria dar continuidade ao tema da hibridez de Macau. Vamos a isso. Como o caríssimo leitor decerto saberá, durante alguns anos vesti a camisola do Governo e dei a cara para um projecto infra-estrutural bastante controverso. E comi muitas balas pelo caminho, diga-se de passagem. Balas à parte, hoje vamos recordar coisas boas: uma das tarefas que tive de cumprir no exercício das minhas funções foi a de apresentar o projecto junto dos mais novos nas escolas de Macau. Essas apresentações foram sempre feitas na companhia da Keily, a minha amável assistente da área das relações públicas. Portanto, uma dupla formada por um português-macaense e uma chinesa. Vou começar por partilhar a minha experiência de uma apresentação numa escola chinesa. Mal chegamos à porta da escola, está à nossa espera uma funcionária que nos cumprimenta de forma calorosa, exibindo um enorme sorriso. Somos levados ao gabinete do Director da escola, que nos recebe com a mesma simpatia, embora já de forma mais reservada. Sentamo-nos e tomamos um chá, trocamos os cartões e conversamos protocolarmente. O Director leva-nos ao anfiteatro, onde está já tudo pronto para a apresentação: computador com o ficheiro Power Point que a Keily fez chegar com antecedência; projector já ligado; mesa no palco com flores e etiquetas onde se lêem os nossos nomes, indicando os respectivos lugares; e alunos, muitos alunos, centenas de alunos. e também professores. Todos já sentadinhos à nossa espera. Batem palmas quando entramos no anfiteatro. O Director faz um breve discurso. Mais palmas. Passa-me a palavra e faço então a minha apresentação. Chego ao fim e pergunto se alguém tem dúvidas. Levantam-se logo vários braços. Uma a uma, vou respondendo às perguntas, todas elas interessantes. No fim, o Director toma a palavra, agradece a todos e fecha a sessão. Acompanha-nos até à porta da escola. Despedimo-nos cordialmente. “Keily, correu mesmo bem, não foi? Nunca pensei que os alunos pudessem demonstrar tanto interesse pelo nosso projecto!” disse eu, satisfeito, à minha colega. “Ritchie, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: mal informámos que vínhamos fazer uma apresentação, os professores agendaram para trabalho de casa que cada aluno preparasse pelo menos três perguntas. Os professores depois analisaram as perguntas, filtraram e escolheram as mais interessantes e menos embaraçosas para nós, as menos kám kái. Antes de cá chegarmos, já estava combinado quem perguntava o quê. Não percebes mesmo nada disso pá…” respondeu-me a Keily, em jeito de troça. Agora a apresentação numa escola portuguesa. Chegamos à porta da escola e não está lá ninguém para nos receber. Dirigimo-nos então à secretaria. “Apresentação? Que apresentação? Não sei de nada…”. Aparece um professor, simpático, que se oferece para tratar do assunto. Leva-nos ao anfiteatro, que está vazio. Não está lá nenhum equipamento montado. Dou uma ajuda na instalação do projector e do computador, que entretanto alguém trouxe. “Olhe, falta um cabo de ligação ao projector, este aqui não dá.” “Bolas, precisamos de uma extensão, o cabo não chega lá.” Não há stress. Foi tudo resolvido, agora só falta a assistência. O professor, despachado, vai ao recreio da escola. “Ó vocês aí, vá! e vocês também, esse grupinho, venham cá! Vamos assistir a uma apresentação.” Pronto, já temos assistência. entretanto vieram mais uns professores. “Posso?”, pergunto ao professor. “sim, força!”. Faço então a minha apresentação. Chego ao fim e pergunto se há questões a levantar. Silêncio absoluto. Zero. O professor olha para trás, para a esquerda, para a direita, para todos os lados, e o silêncio persiste. Sentiu-se kám kái e, face à situação, é ele que levanta o braço, é ele que faz a pergunta. Respondo à pergunta e voltamos ao silêncio. Finalmente, um rapaz de óculos, com cara de malandro, faz uma pergunta pertinente, questionando se as receitas das tarifas serão suficientes para cobrir os custos de operação do empreendimento. Essa deu-me trabalho. Mal acabo de responder, umas meninas da fila de trás desatam a bater palmas, desalmadamente. Não pela excelente resposta que tenho a certeza que dei, fruto de tantos anos de experiência no campo do discurso insípido.As meninas pretendiam, com as palmas, terminar a sessão. E assim foi. Os professores agradeceram, conversámos um pouco, rimo-nos e despedimo-nos. Foram-se todos embora. A Keily e eu ficámos sozinhos no anfiteatro. “Ritchie, mas o que foi isso, correu tão mal! Cheguei a pensar que tínhamos de cancelar tudo e marcar uma nova sessão, mas que grande confusão!”, disse-me a Keily, chocada. “Keily, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: somos portugueses, somos campeões na arte do desenrascanço. Qual é o problema? Tivemos computador, projector, assistência, correu tudo lindamente. e mais: aquele miúdo fez-me uma grande pergunta! Sabes, como achas que os portugueses chegaram aqui há 500 anos atrás? Não percebes mesmo nada disso pá…” respondi à Keily, em jeito de troça. Macau tem dessas coisas. Sorrindo Sempre Com a minha saída da função pública, tive de ir tratar da liquidação da minha conta do Regime de Previdência junto do Fundo de Pensões (FP) a fim de receber o meu pé-de-meia depois de 12 anos de contribuição. Segundo me explicou ao telefone uma competente funcionária do FP, tinha apenas de preencher um impresso, anexar uma fotocópia do BIR e entregar tudo na sede do FP. O que ela não me explicou, no entanto, é que no FP iria ser atendido por um funcionário ignóbil. Coitada, como poderia ela adivinhar? Depois de ter apresentado os tais papéis, e tendo o ilustre funcionário garantido que estava tudo em ordem, ia eu no carro a atravessar a Ponte de Sai Van, a caminho de casa, quando o dito me telefona e pede para eu voltar atrás pois, afinal, encontrou irregularidades no preenchimento do impresso. Então quais eram as irregularidades? (1) o endereço, segundo aquele especialista, continha um erro ortográfico, pois escrevi “Poplar Court”, quando obviamente deveria ser “Popular Court”; e (2) o acento no meu nome “André” estava torto. Sim, o acento estava torto. Por isso, disse ele, eu tinha de voltar atrás para preencher novamente o impresso. First things first, vamos apurar os factos: (1) o prédio onde moro chama-se mesmo “Poplar” e não “Popular” como aquele ilustre sugeriu; e (2) o acento… Desculpem, mas nunca tive dificuldades em escrever o meu próprio nome, portanto o acento estava bem. Ponto final. Senti que o devia arrasar. E assim foi. Não, não houve palavrões e não levantei a voz. Mas fui agressivo e acutilante no uso das palavras. encarnei novamente o detestável Simon Chan do sketch Maquista Idol do patuá. exemplo: “Não volte a pensar com o traseiro, está bem?” (**) Enfim, sorrindo sempre… P.S. – Senhor Presidente do FP, não leve a mal ter contado essa história. Por favor, não encrave o meu processo. Sorria um pouco também. (*) Malfeitor que rapta crianças. (**) “Iong kor si fat lam yeah”, expressão que faz sentido em cantonense.
André Ritchie Sorrindo SempreA casinha no Bombarral [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ecentemente esteve em macau um grupo de académicos vindos de Portugal no âmbito de um simpósio da área das indústrias criativas. Da comitiva fazia parte a Alexandra, uma amiga minha de longa data, do tempo da faculdade lá no Porto. tive a oportunidade de passear com ela pelas ruas de Macau e, em simultâneo, pôr a nossa conversa em dia. Descíamos as escadas de granito da estreita calçada do embaixador, perto das Ruínas de São Paulo, quando a Alexandra me pergunta, no meio de tantas outras perguntas que foi fazendo ao longo do nosso passeio: estás bem aqui em Macau, não estás? Foi um instante da minha vida que inicialmente pareceu banal, sem grande significado, mas que acabou por ficar gravado na minha memória como algo muito especial. Aquela pergunta supostamente trivial, de amiga para amigo, despoletou em mim uma reflexão profunda. E não podia ter sido feita em momento ou local mais apropriado: o cenário à nossa volta parecia tirado do In the mood for Love, de Wong Kar-wai. e a Alexandra, diga-se, é fotogénica. Engana-se o caríssimo leitor se entendeu que me apaixonei pela Alexandra naquele preciso momento. Não. Há de facto aqui paixão da minha parte, mas não é por ela. Sim, estou bem aqui em Macau. A minha resposta foi curta e seca. Mas, tal como a própria pergunta, trazia muito mais significado que as meras palavras pronunciadas. Cresci em Macau nos anos 80-90. À semelhança de muitos portugueses dessa geração que aqui viveram, a minha educação foi definida tendo em mente a transferência de soberania e um futuro fora de Macau. O leitor português que viveu em Macau nesses tempos recorda-se concerteza do ambiente de contagem decrescente e da mentalidade de contentor. Resultado da (má) experiência portuguesa nas ex-colónias ou simplesmente daquele típico prazer masoquista que guardamos pelas emoções do triste fado, ou mesmo até apenas por teimosia, a verdade é que nós, na nossa estreiteza mental, espiritualmente determinámos desde o início que a nossa presença no Macau do pós-99 não era viável. Até eu, maquista chapado originário de família tradicional aqui radicada desde o século XIX, adoptei essa atitude. Futuro em Macau? Quantas vezes não respondi aos meus colegas da faculdade, com um sorriso arrogante: nãããão… E assim, decisão tomada, o português em Macau na fase de transição passou o resto do tempo ocupado e preocupado com os afazeres relacionados com a sua casinha no Bombarral e com a mobília chinesa e as bugigangas ainda por comprar para encher o contentor. Quero levar lembranças de Macau. Mas afinal regressámos. Entretanto a RAEM fez 15 anos e foi preciso esse tempo todo e aquela pergunta da Alexandra para que a minha cabeça fizesse, finalmente, o click. A transferência de soberania, afinal, fez-me bem. Fez-nos bem, a nós, portugueses. Passo a explicar. mas para já, da resposta aparentemente inconsequente que dei à Alexandra, quero acrescentar o seguinte: Alexandra, nasci e cresci nesta terra. Sou macaense de gema, e com muito orgulho. Sou híbrido por natureza, está no meu DNA. com o estabelecimento da RAEM, e ultrapassada a subsequente fase do fervor nacionalista chinês e sentimento ferido do orgulho português, finalmente descartei todos os complexos e preconceitos absurdos referentes a formas de ser e de estar nesta cidade que eram desnecessariamente etiquetados como comportamentos chineses, portugueses ou macaenses e, como tal, bem vistos ou mal vistos por esta ou aquela comunidade, num período muito particular da história de Macau. Por conseguinte, hoje vivo e celebro a hibridez e a diversidade cultural desta cidade em toda a sua plenitude. Aqui em Macau eu sou mesmo eu, posso ser eu, sem inquirições de terceiros. Nunca gostei tanto de viver em Macau, nunca me senti tão bem em Macau. É um sentimento profundo e pessoal que o caríssimo leitor poderá não compreender à primeira. Verborreia? Filosofia barata? Não. Deixo aqui uma pista: nos anos 80, uma professora do Liceu decidiu não dar nota máxima ao meu irmão na disciplina de Português porque ele falava com pronúncia de macaense, não obstante o facto de, tecnicamente, ter demonstrado dominar a língua e a matéria da cadeira na perfeição. Este não é o discurso do nativo coitadinho maltratado pelo poder colonial. O que estou a querer dizer é que nós, portugueses (e não apenas nós, portugueses) andávamos todos afectados da cabeça. A sério. A transferência de poderes teve, por isso, um efeito positivo: passámos todos a ser estrangeiros a viver na China. Pese embora a contínua existência de atitudes bacocas daqueles que, no fundo, bem lá no fundo, e infelizmente, ainda hoje não conseguiram compreender ou aceitar a transferência de soberania. Quanto a esses, nada a fazer, e não vou agora dissecar a irrazoabilidade que demonstram na análise dos problemas desta cidade. Fica para outro dia. O que é certo é que a contagem decrescente foi abandonada de vez. O contentor foi desalfandegado, a mobília chinesa e as bugigangas de Macau ficaram na casa de Bombarral a apanhar pó. Vamos vendê-la? Ai as despesas… Hoje assisto com regularidade a conversas entre pais portugueses sobre opções para a educação dos filhos, tendo em mente um futuro em macau. Preocupam-se com a língua chinesa e não querem que os filhos vivam num ghetto português. E isso é muito bom. [quote_box_right]Cada um vive macau à sua maneira, de acordo com a sua própria identidade. E a beleza da coisa é que macau permite. Wey, captain: ng koi, iat ko bica. Era assim que o meu avô Lourenço pedia o seu café no Solmar. Desculpem, mas queiram perceber que isto só é possível aqui em Macau. [/quote_box_right] Porque… Vamos lá, sejamos francos: faz algum sentido, depois das oito da noite, ouvir no 98.00 FM o boletim de trânsito das estradas em Portugal? Dava um bom sketch à la Gato Fedorento: o português em desespero num engarrafamento na Ponte de Sai Van enquanto ouve pela rádio as informações de trânsito da Avenida AEP, no sentido Porto-Matosinhos. Bolas! E eu?? O que é que eu faço agora??? Entretanto, descobri que me fartei de pão, ovos estrelados e bacon ao pequeno almoço. Eu gosto é de canja e sopa de fitas logo de manhã, acompanhado de um tong café. Não é atitude ou achinesação. É o que o meu corpo me pede, logo de manhã, quando acordo. Sabe-me bem. E não tenho complexos. Igualmente, sabe-me bem um café espresso depois de um almoço yam chá. Qual é o problema? Nunca me recusaram um café num restaurante chinês, nunca ninguém me veio dizer Desculpe, mas o senhor está num restaurante chinês, não servimos café. Cada um vive macau à sua maneira, de acordo com a sua própria identidade. E a beleza da coisa é que macau permite. Wey, captain: ng koi, iat ko bica. Era assim que o meu avô Lourenço pedia o seu café no Solmar. Desculpem, mas queiram perceber que isto só é possível aqui em Macau. A essência de Macau é mesmo esta: seja o residente português, chinês, macaense, filipino ou mesmo o polaco que decide vender cannabis no Facebook. O residente de Macau vive macau conforme lhe apetece, conforme lhe dá mais jeito, conforme gosta, e há-de encontrar a sua zona de conforto, mou man tai, porque em macau tudo é válido, tudo pódi, nada faz sentido, mas tudo faz sentido. Macau está com muitas falhas, eu sei. Mas estou apaixonado e, quando estamos apaixonados, tendemos a não ver os defeitos, apenas as qualidades. E estou nessa onda. Esta cidade preenche-me o coração na ín- tegra. Dedico, por isso, esta peça escrita à minha macau, que tanto amo. Sorrindo Sempre Sorrindo Sempre é uma atitude de vida que nos permite superar de forma pacífica situa- ções aberrantes que vão ao atropelo do bom senso e com as quais somos confrontados no nosso dia-a-dia. Implica tolerância, com- paixão e, acima de tudo, sentido de humor. Demonstramos, sem arrogância, que somos muito mais que a questão em causa, pelo que não nos deixamos afectar nem um pouco, por mais absurda e irritante que ela seja. No me ne fregga niente. Era o que faltava. Um exemplo de Sorrindo Sempre: o meu pedido para um cartão de crédito que foi rejeitado por uma prestigiada instituição bancária local. Porquê? Porque cessei as minhas funções oficiais em Março e decidi que merecia take a long break e descansar durante o mês de Abril, para voltar a trabalhar apenas no mês de Maio. O banco detectou a descontinuidade do meu rendimento e, provavelmente, o risco de eu ser incapaz de liquidar as contas do cartão de crédito. Então deu-me nega. A minha reacção para a funcionária do banco: está a falar a sério? Encolhi os ombros e soltei uma gargalhada. Sorrindo sempre…
Leonor Sá Machado Manchete ReportagemPesca em Macau | Até que a morte os identifique [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ascer a bordo de um barco e nunca ter sido registado faz deles, à luz das leis, imigrantes ilegais, pessoas sem certidão de nascimento, passaporte ou sequer terra natal. Muitos dos pescadores que atracam barcos nos cais do Porto Interior tiveram uma vida difícil, sendo forçados, pela vida, a trabalhar desde muito novos, quando a maioria brincava no parque e aprendia as regras da Matemática e dos caracteres chineses. Ká che é apenas uma de entre centenas de pescadores que passaram por esta experiência, apenas descrita como “uma de tantas outras”. Agora, na casa dos 60 anos, a actual gestora do cais “Hip Lei” – ou Ponte 30 – conta com a ajuda de mais meia dúzia de sexagenários para a confecção das refeições diárias e mais uns quantos ajudantes que facilitam a aproximação e estacionamento dos barcos junto ao cais. Macau foi, desde o início, uma cidade particularmente virada para o mar. A pesca insere-se no sector primário, juntamente com a agricultura. Uma vez que a cidade era rodeada pelo rio, os habitantes fizeram por usufruir disso mesmo. No início do século XX, cerca de 1/3 da população local vivia nos barcos, ainda que muitos se ficassem pelos cais e não estivessem no mar a tempo inteiro. Actualmente, o sector tem vindo a perder adeptos, tanto no caso de trabalhadores, como de compradores. A grande maioria do peixe aqui consumido provém do continente e das águas do território vizinho, sendo também pescado por embarcações destes locais. No entanto, o Governo tem vindo a desenvolver uma série de projectos de apoio ao sector, de forma a ressuscitar a pesca em Macau. É tudo uma questão de peixe Ká gere aquele local, cobrando uma taxa diária aos barcos que por ali quiserem atracar. “cada dia de atra- cagem neste cais custa 120 patacas por barco e há espaço para seis”, ilustra a pescadora reformada, que conseguiu a residência permanente em Macau devido a um acordo entre o sector e o Governo, que data já das décadas de 40 e 50, quando a grande maioria dos pescadores nascia no mar, mas tinha família de Macau. [pull_quote_right]Existem mais de dez pessoas [na nossa família] que nasceram no mar e o meu pai é residente de Macau, mas a minha mãe não e por isso não tem identidade. – ‘Ká che, ex-pescadora actual gestora do cais “Hip Lei”’ [/pull_quote_right] A vida destas pessoas é feita nos barcos e alguns têm mais de 70 anos, mas não têm coragem de sair para as ruas por causa dessa falta de identidade.[/quote]A agora idosa passa os seus dias entre ferro-velho, redes de pesca usadas e peixes em processo de seca, aguardando pela chegada dos seus dois irmãos, ambos dedicados ao mar. No entanto, Ká che não esquece a sua história, já que hoje em dia o tempo é muito e as memórias infinitas. “A vida no mar é muito difícil e eu comecei a trabalhar com 10 anos de idade”, começa por contar. Ao HM confessa ainda que o horário de trabalho nunca é definido, já que só acaba quando o mar assim dita. Entre explicações e ensinamentos, Che deixa fugir uma confissão: “eu também nasci no mar”. No entanto e ao contrário de vários dos seus sobrinhos, a ges- tora do cais Lei Hip conseguiu, ao falta de identidade”, confessa a antiga profissional de pesca. A esperança é, alegadamente, a única a morrer, mas Che conta que, devido à falta de conheci- mentos de leitura e escrita destes pescadores, é pouco provável que o Executivo lhes forneça permissão de residência. TNR que estão lá para ajudar “Este negócio já tinha desaparecido se não fosse pelos TNR da China que trabalham nos barcos”, confessou Fung Hee. O presidente da Associação de Auxílio Mútuo dos Pescadores de Macau abre a porta da sede a todos os curiosos da profissão. Naquele primeiro andar ou- vem-se peças de majong a ser baralhadas e o cenário é logo ali imaginado: um grupo de homens a passar o tempo livre enquanto o mar não chama por eles. “Em média, há seis ou sete TNR em cada barco e neste momento há em circulação cerca de 160 barcos, o que contrasta com os 600 que havia na década de 80”, explica o dirigente. No total, cada embarcação não leva mais de dez pessoas, dois deles sendo frequentemente o casal proprietário do transporte. Longe da poluição Neste momento, as águas preferidas dos pescadores locais estão perto de Hong Kong e a norte da China. Há ainda quem opte por se ficar por Hainão, uma ilha bastante mais longe do território. É o caso da família de Sze Lam, residente em Macau e filha de pescadores. “O meu pai tem um barco juntamente com dois irmãos e passa a maioria do tempo em alto-mar”, começa a jovem por explicar. Hoje em dia, algumas coisas parecem ter sido facilitadas, como são os regressos do pai e dos tios ao território em ocasião de festivi- dades como o Ano Novo Chinês. “Quando há datas importantes, eles vêm muitas vezes de avião porque é mais barato do que voltar no barco”, conta. Sze nunca teve uma relação próxima com o mar nem trabalhou na embarcação da família, mas a sua voz denota felicidade quando refere que hoje em dia vê o seu pai mais vezes, em termos anuais, do que há uma década. Na associação e nos cais, as tardes vão-se enchendo de jogos chineses, conversas de café e bafos de cigarro, enquanto o enjoo de estar em terra não assola o estômago dos mais sensíveis. Hee, o presidente da associação, também já foi pescador. “Dantes gostava muito do que fazia, mas hoje reconheço que a água está muito mais poluída, o que implica mais tempo de viagem para encontrar peixe”, refere. A poluição obriga a mais gastos de combustível, algo que Sze diz influenciar bastante o lucro de todos os meses. O pai da jovem tem 50 anos e percorre rio e mar durante vários meses, na esperança de dar à sua família um nível de vida aceitável. Shantou – zona do Mar da China do Sul – é outras das áreas preferidas para a actividade piscatória. Emprestar para suprir a escassez Vida de pescador é, como referido, passada entre mar e terra, ondu- lação e chão firme. Este método faz com que apenas seis meses do ano potenciem lucros, deixando a restante metade à mercê da sorte, dependente do número de peixe vendido. Para tentar minorar esta dificuldade, a Direcção de Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) desenvolveu uma série de ajudas destinadas ao sector piscatório. “Dantes gostava muito do que fazia, mas hoje reconheço que a água está muito mais poluída, o que implica mais tempo de viagem para encontrar peixe”, disse Hee. Normalmente acordava de madrugada, perto das quatro. O almoço faz-se às oito da manhã e o jantar às quatro da tarde. — Fung Hee Presidente da Associação de Auxílio Mútuo dos Pescadores de Macau Um dos mecanismos dá pelo nome de “plano de formação para pescadores durante o período de defeso da pesca” e pretender ajudar estes profissionais durante o período “morto” da profissão. “Este programa pretende reduzir as dificuldades económicas dos pescadores que não têm ordenado durante a interregno da actividade, bem como ajudá-los a elevar as competências e dominar outras técnicas”, refere a DSAMA em resposta ao HM. De acordo com a entidade, foram mais de 400 pessoas as que integraram o programa do ano passado. Há ainda o Fundo de Desenvolvimento e Apoio à Pesca, que distribui dinheiro ao sector. A DSAMA explica que foram investidas mais de 50 milhões de patacas desde a sua criação, em 2007. A justificação para a existên- cia deste fundo é, de acordo com o Governo, “a importância do sector piscatório” para Macau. Já no ano passado, foram aprovados apenas dez casos com um investimento de 5,7 milhões de patacas. Ao todo, a DSAMA diz ter aprovado e investido em 159 casos desde a criação desde fundo. À parte dos dois modelos referidos, Hee conta que há ainda a possibilidade de pedir emprésti- mos ao Executivo, podendo estes chegar às 800 mil patacas. “Além do empréstimo, que é fácil de pedir e obter, também temos isenção de imposto”, revela o presidente da associação. No entanto, há que lembrar o caso já referido, de pescadores sem identidade nem passaporte, que por não saberem ler nem escrever, são forçados a permanecer anónimos, presos pelo vergonha de sair à rua. O ferry de hoje foi o peixe de ontem Fung Hee conta como se faz a vida lá fora, até porque se há coisa que não falha é a memória. “Normal- mente acordava de madrugada, perto das quatro. O almoço faz-se às oito da manhã e o jantar às quatro da tarde”, começa por explicar. A cama recebe os pescadores perto das seis da tarde, hora em que descansam os braços e a redes, apenas para recomeçar as lides algumas horas depois. Se, por um lado, algumas profissões foram facilitadas pelo tecnologia, a pesca não parece ter sido uma delas. As queixas são várias e entre elas está a necessidade de percorrer mais quilómetros para encontrar peixe de qualidade e, consequentemente, um maior gasto de combustível. “Dantes, havia muito peixe naquela que hoje é a rota do ferry entre Macau e Hong Kong”, diz Hee. Os tipos de peixe, esses, são variados, mas no caso de Hee, eram enguias e Peixe Dourado que mais caíam na sua rede. As ruas do Porto Interior, onde estamos, não são tão barulhentos como a zona que lhe antecede, do Patane. O Rio das Pérolas não cheira ao Tejo e o céu não é o de Lisboa, mas é precisamente isso que faz daquele local único, um dos mais marcantes da cidade e que melhor a define.