TV Cabo | Governo tem mesmo de pagar 200 milhões

O Governo vai ser mesmo obrigado a pagar 200 milhões de patacas à TV Cabo Macau pelos prejuízos que causou ao aceitar a retransmissão ilegal de canais, quando a empresa tinha um contrato de exclusividade. A decisão vem do Tribunal de Segunda Instância (TSI) e é irrecorrível, avançava ontem o jornal Ponto Final. O recurso contra a TV Cabo foi julgado a 9 de Julho – mas nem a informação foi divulgada, nem o acórdão tornado público.
O conflito entre a empresa e o Executivo, recorde-se, ficou resolvido em Dezembro de 2012, com uma decisão do tribunal que condenou a RAEM ao pagamento de uma indemnização de 200 milhões de patacas. O Governo ainda tentou não pagar o montante, mas o tribunal não lhe deu razão. O tribunal arbitral concluiu que a TV Cabo sofreu prejuízos de 238 milhões de patacas, por causa dos anteneiros, as companhias que durante 15 anos captaram e distribuíram ilegalmente sinais televisivos por subscrição, com conhecimento público, mas que daquele valor deveriam ser subtraídos 38 milhões de patacas porque a TV Cabo podia ter processado a RAEM mais cedo e porque o principal accionista da empresa é também o sócio maioritário da Kong Seng, um dos grandes anteneiros de Macau, como relembra o Ponto Final. O TSI não só entende que o tribunal arbitral teve os dois factos “em boa conta”, como diz que quem teria legitimidade em contestar esta parte da decisão era a concessionária e nunca o Governo. O desfecho da batalha judicial surge depois de Governo e TV Cabo terem, em Abril de 2014, renovado o contrato de concessão por mais cinco anos, com a empresa a perder o monopólio que detinha desde 1999.

26 Jul 2015

Jogo | Mais de uma centena de pedidos de exclusão

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) registou, entre Janeiro e Junho, 183 pedidos de exclusão de acesso aos casinos, valor que representa quase dois terços (65,3%) do total apresentado em 2014.
Do total, 168 pedidos foram de auto-exclusão (ou 91,8%), enquanto os restantes 15 submetidos a pedido de terceiros, de acordo com dados publicados no site da entidade reguladora. No primeiro trimestre foram apresentados 89 pedidos, enquanto no segundo 94. A manter-se o ritmo de pedidos de exclusão no segundo semestre do ano, o total de 2015 vai superar amplamente o contabilizado no cômputo de 2014. Actualmente representa dois terços.
Em 2014 foram submetidos 280 pedidos contra os 276 de 2013. Ao abrigo da lei que condiciona a entrada, trabalho e jogo nos casinos, o director da DICJ pode interditar a entrada em todos os casinos, ou em apenas alguns, pelo prazo máximo de dois anos, às pessoas que o requeiram ou que confirmem requerimento apresentado para este efeito por cônjuge, ascendente, descendente ou parente em segundo grau.

26 Jul 2015

A cor do nada

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]zul se diz o céu. De todos os azuis, se engana a razão.
Falar da cor – de qualquer cor – é sempre falar da maior das ilusões da percepção. Do que não existe em si, mas sim pela acção permanentemente produzida, renovada e afinada dos sentidos. Da visão, neste caso, e sinestesicamente talvez também de todos os outros. O que não está lá, intrinsecamente à matéria, mas como elaboração. Da luz reflectida de diferentes maneiras de acordo com a estrutura atómica dos elementos físicos. E em permanente mutação. Ao longo do dia, quando cada imperceptível mudança da luz, cada subtil contracção da pupila, ou alteração do humor, dá a ver não só aquilo que a matéria física tem em si como potencialidade ou inevitabilidade, mas também algo, acrescido de um contributo psíquico, que está por detrás de cada olhar particular. E mesmo este, modelado por características fisiológicas que restringem ou alargam as possibilidades da percepção. O dia e a noite, só em si e na sua eterna alternância, trazem e levam de forma gradual a cor. Impermanente. Tão delicadamente a cor se retira, que somos iludidos ao ponto de a imaginar a envolver-se em trevas, quando na realidade ela se vai com a luz. Vai, do lugar onde nunca esteve. Senão como ilusão. E volta para o lugar de onde veio. Lugar nenhum.
Se quiser falar da cor mais próxima do nada, vem sempre à ideia o branco como o negro, até culturalmente envoltos em sentidos de leitura muito semelhantes. Mas aí estaria a falar de não-cores. O que seria batota. E de entre as cores, se há uma que nos domina é o azul. Vivemos envoltos no azul da atmosfera. Nada mais presente do que esse azul. E nenhuma cor mais ausente, também. Longínqua, esquiva, distanciada do nosso alcance. Sempre ali, e sempre em recuo, numa fuga perceptiva que faz dela, se por um lado a mais repousante e calma de entre todas, também a que implicitamente está sempre em movimento de nós para o além de nós, uma distância infinita de tão grande. Que sugere todo o espaço real ou psicológico, do aqui até ao limite do universo. Para sempre, para longe e para fora. Ela, que nem no mar encontrou espelho à sua altura. E por isso a mais solitária das cores. A mais triste e a mais melancólica. Aquela está sempre lá e sempre em fuga. Intangível e impermanente, mais ainda do que qualquer outra. E mais bela, por isso.
E é por isso que nas representações pictóricas, esta é a cor mais poderosa na ilusória representação do espaço em profundidade. Se as cores quentes são as que mais turbulência provocam, as que mais dinamismo sugerem, e as que mais emoções sensitivas têm como aptidão provocar, até porque avançam para nós com voluptuosidade, intensidade e quase desafio ou agressão, é curiosamente a mais fria delas todas, a mais etérea, que, não só não opõe resistência ao olhar, como o deixa vogar por ela adentro, ou por ela fora, sem limite. A cor do abismo. E se nela o olhar teimoso se queda sem mergulhar, é ela própria que recua, como prefigurando um canto de sereia, que atrai, arrasta, e atrás do qual insensivelmente nos deixamos ir e perder. Não fosse o nosso dinamismo psíquico, uma espécie de elástico que, abrupta ou suavemente, nos traz de volta àquilo ou ao lugar que nos centra.
O universo de azul é abismal de facto. E nesse abismo se espelha a nossa dimensão também ilusória de grandeza de espírito. Não delimitável. Mas também a nossa insignificância, e com ela, a insignificância de muitas das formatações, molduras, preconceitos e ideias prévias. Nesse imensurável abismo que é o retorcido dinamismo psíquico, uma hélice de dois sentidos, nos perdemos em dilemas e labirínticos esquemas de configuração, ou entendimento, ou modelos de existência. Ou nos perdemos saborosamente na amplidão espacial, porque ao espírito ocorrem sempre metáforas do conhecido, esvoaçando ao sabor de correntes de ar quente, que nos elevam do corpo leve, porque de espírito se trata. Para isso, muito mais é preciso do que um simples brevet. E muitas horas de vôo se requerem para o podermos fazer sem a alienação total.
Tanta simbologia criada a partir do carácter puro e espiritual desta cor. Tanto poeta, tanto estudioso dedicou palavras à menos material de todas, que seria redundante e exaustivo rever. Encontro num pequeno trecho em contexto científico, sobretudo talvez na ausência de intencionalidade poética, quase uma fina ironia dadaísta. O concreto objecto da ciência, enunciado, é só por si poesia:
“O colorido exuberante do fogo de artifício tem, no laboratório químico, uma aplicação interessante: a identificação de substâncias pela espectroscopia de emissão atómica. Cruzam-se testes de chama com química quântica, crimes desvendados, auroras boreais, operações cirúrgicas com laser e lâmpadas economizadoras.”
De onde nos vem o azul, não sendo dos átomos incolores que constituem a matéria, senão das maiores extensões aéreas, oceânicas ou dos azulados gelos dos polos…Frio. Frio. Frio. E, no entanto, azul é a mais aveludada das palavras que designam as cores. Sem érres nem vogais abertas e cruas. No português. No inglês ainda mais. Será talvez por isso que somos sóbrios e melancólicos ao ponto de ter o fado como a canção que nos define…que somos, em parte, um povo in blue. E de onde vêm os blues como género musical senão das raízes sofridas, e como melopeias de trabalho, lamento e ânsia melancólica de liberdade, dos escravos negros nas plantações do delta do Mississipi. Se as cores dissessem o que sentimos em toda a sua plenitude, se com as palavras quiséssemos dizer tudo o que queremos, sobre tudo o que sentimos, e dizer tudo o que sentimos sobre as cores, ou o que elas dizem do que sentimos, teríamos que usar uma mistura, uma fórmula constituída de todos os idiomas, muitos ou poucos, que conhecemos. Porque o sentido de uma palavra numa língua tem a doçura própria, procurada e irrepetível na outra. E ao sentido acrescenta-se imprecisamente a tonalidade sonora, criando ramificações específicas. Para além da forma como diferentes idiomas reflectem diferentes necessidades de nomeação das cores, de maior ou menor diferenciação e desmultiplicação de termos para uma mesma cor.
Mas eu queria descrever o que vejo, para não o pensar a mais do que o é. Do azul e da distância evocada, invocada e que simboliza. A percepção do recuo a definir uma área de coisas etéreas, tanto como o espírito, ligadas à cor. Mas dizer azul tem uma estranha proximidade pouco fonética mas mais sensorial com o dizer veludo, sendo esta redundantemente mais aveludada ao paladar. Ao tacto. Ao imaginar ou recolher na memória. E o azul enaltece-se dessa qualidade e dessa temperatura por semelhança. Mais liso, mais fina a cor e as matérias que invoca mas igualmente confortável. E no entanto a mais abismal das cores. Porque a mais transparente.
Curiosas expressões em torno do azul, se encontram na língua inglesa. Sinestésicas como o feeling blue, ou, aquela que prefiro: out of the blue. Aquilo que veio do nada. E daquela outra figura de estilo: ouro sobre azul, onde o amarelo, prefigura a luz, razão de todas as cores, e símbolo de toda a razão como saber, parece concluir-se ser o tudo e o nada que se complementam. Tanto a dizer sobre as cores – quaisquer cores – que não cabe no espaço desta página. E sobre o azul, a maior de todas, a mais distante, misteriosa e intocável que, tem tanto de hermética como, paradoxalmente, de transparente e límpida, muito mais ainda. Ou dizer nada e reservá-la à contemplação. O que seria a mesma coisa. Da química dos pigmentos e do olhar animal, se faz o azul. De tudo e de nada. O azul que é a cor da alma. No nada, que é o seu lugar.

26 Jul 2015

Como vão agora recortar-me, à noite, no Tap Seac?

[dropcap style= ‘circle’]E[/dropcap]xiste a tendência nalguns arquitectos de olharem as cidades mais como “territórios de caça” do que como espaços de cidadania. A atitude é, de certo modo, compreensível: caberá na sua ânsia natural de deixar marcas no espaço, ainda que para isso seja necessário apagar marcas anteriores e alheias.
É precisamente neste ponto que intervêm os políticos, enquanto putativos defensores da cidadania e de valores que não constam, provavelmente, da cartilha ensinada nas escolas de arquitectura. É obrigação dos representantes do povo refrearem, por vezes, os ímpetos criativos daqueles a quem encomendam obras ou pareceres, pois na sua relação de deveres cívicos deverá constar, antes de mais, uma perspectiva alargada, que inclua valores aparentemente distantes do frenesim criativo/construtivista.
Sem ser um especialista na matéria, parece-me que a fachada do Hotel Estoril é um exemplo único em Macau de uma época da arquitectura. Para além de ser bonita. Eis um argumento subjectivo que tenciono desenvolver, invocando ainda outros aspectos, difíceis de incluir na categoria estética:

(Quantas vezes, noites afora, dias adentro, a pé pelo Tap Seac, não dei por mim a viajar naqueles círculos estranhos, no jogo de luzes e sombras que exibem e sobretudo quando, num repente, se autonomizam das paredes e flutuavam pela praça? Seriam bolas de sabão? Espuma caída das banheiras, fedor intenso a sabonete barato ou perfume de pele em extinção? E por que razão me encontro, num mesmo repente, numa outra era, de carros ronceiros, mulheres singularmente vestidas como nunca mais aconteceu e nela me deleito, sem nunca a ter vivido? E como me acontece, do outro lado da praça, percorrer-lhe o contorno e imaginar-lhe suspiros, contradanças, emoções de corredores e de aquário? hotel estoril
Não sei a resposta a nenhuma destas perguntas. Mas há uma presença, a minha e a dele, a do hotel, daquele edifício que, num repente, me transporta porque é metáfora e é inesgotável.
Entrei duas vezes no Hotel Estoril. Duma por julgar ali haver um bar. Que existia mas não o era. A segunda para, bebendo um whisky, contemplar as raparigas numeradas por detrás de uma vidraça.
Não me move a memória, nem os afectos. É outro algo, da ordem do fantasma, da perda de quem simplesmente passa e cuja ligação se estabelece na repetição, na familiaridade. Talvez o terror obscuro de mais uma perda. Havia uma sombra, um perfil, um carácter, uma utopia, que me foram crescendo interiormente, à medida que os passos atravessaram o Tap Seac ou da janela do táxi dava conta de um detalhe, de uma perspectiva singular, quando não aberrante. O interior não interessava. Como quase tudo em Macau, a importância emanava da fachada. Houve de tudo e isso é tudo. Onde dançarão amanhã as bolas de sabão?…)

Seria mesmo património. Infelizmente para as gentes como eu, cuja sensibilidade se prende aos sítios e à construção dos espaços, isto não interessa nada a outros. Para eles, conta a marca do presente, o que impede a presença do meu prazer futuro. Soa egoísta. É e não é.
Em termos absolutos, é possível que a fachada do Estoril não seja nada de raro. Mas não o será no contexto de Macau? Parece-me absolutamente que sim. Não me lembro de outro edifício local que, do mesmo modo horizontal, displicente e gracioso, com a mesma dimensão, exiba os traços de um período da arquitectura que, entre outros lugares, facilmente ligaria Macau à cidade de Pangim, em Goa.
A questão não reside sequer, como o leitor já deve ter intuído, em pormenores de academia. Na verdade, só pode dizer que a fachada do Hotel Estoril não interessa, no contexto da praça, quem nunca a atravessou dez vezes. Ou quem o fez sem levar o coração. Porque o peito era oco ou a carteira ansiosa. Ou por outra razão qualquer, firmemente legitimada num parecer, num doutoramento, num ditame de um sábio e no bolsar de um profeta. E todos teremos razão.
Mas digam-me então senhores sábios: como vão agora recortar-me, à noite, no Tap Seac?

24 Jul 2015

Scott Chiang, vice-presidente da Associação Novo Macau: “Somos activistas quando temos de o ser”

Não se assume como activista, nem a associação que representa pretende sê-lo. O vice-presidente da Novo Macau, com humor, fala sobre a má relação com os deputados do mesmo grupo, do mais recente caso de corrupção que envolve Chan Meng Kam e da forma como é feita e vista a política no território

Começando pelo caso mais recente que envolve Chan Meng Kam, qual a visão da Associação Novo Macau (ANM) sobre o assunto?
Não percebo como é que corrupção e Chan Meng Kam podem estar na mesma frase (risos). O sistema legal actual torna muito mais complicado que as pessoas candidatas a eleições sejam responsabilizadas por aquilo que a sua equipa fez. Esta não devia ter sido a única acusação feita, porque acho que há mais casos, como houve em eleições anteriores. Se se está a ir na direcção certa [para os evitar]? Não o suficiente. As sanções deviam ser mais pesadas para o candidatos que tentam comprar votos, seja com dinheiro ou quaisquer outros interesses.

Qual o balanço que faz da sua participação na ANM?
Tem sido uma espécie de aventura. Saímos de um ponto às escuras para encontrar alguma luz. No início, tínhamos várias hipóteses à nossa frente, tivemos que escolher o que queríamos fazer com a ANM, qual o caminho a seguir. Tivemos que perceber o que as pessoas estavam à espera que fizéssemos e agora, claro, com o tempo, fomos construindo e temos várias pontos a trabalhar, aos quais nos dedicamos. Se esta é a melhor estratégia? Não sei. Sempre ouvimos e acreditamos que os mais novos devem tentar fazer algo, por isso, é o que estamos a fazer. Não existe um espécie de guia que nos indique o caminho e diga o que fazer, acreditamos que se é a coisa certa, e se temos vontade para o fazer, então vamos fazê-lo. Tentamos observar as problemáticas e perceber se o devemos fazer, porquê e como. Às vezes erramos, outras vezes as coisas não correm como nós achávamos que poderiam correr, mas a verdade é que as pessoas têm sido bastante bondosas para com a Associação e este percurso tem-nos feito crescer e melhorar. scott chiang

Acha que as pessoas exigem muito da ANM e dos seus membros?
É uma boa questão, porque sim. As pessoas exigem bastante da ANM. As pessoas esperam que sejamos uma espécie de santos (risos). Por exemplo, há uns dez anos num fórum online alguém escreveu que viu o deputado Ng Kuok Cheong num café e que ficou desapontado porque o viu, a ele e à sua esposa, a comer carne de porco. Quer dizer por ser uma pessoa tão normal como as outras não poderia ser deputado? (risos) Esta pessoa ficou desapontada porque o deputado é efectivamente uma pessoa normal. Não sei o que dizer. As pessoas têm quase todo o tipo de expectativas sobre nós. Esperam que sejamos auto-suficientes, que não precisemos, por exemplo, de donativos. Também esperam que não haja qualquer tipo de erro da nossa parte, somos humanos, isso é impossível de acontecer. E por aí fora.

Já se falou na hipótese de ser presidente da ANM. Gostaria de ocupar esse lugar?
Não, não agora. Antes da presidência de Sou Ka Hou foi uma boa altura para mim, isto porque ele tinha imenso trabalho e eu é que ficava com os créditos (risos). A verdadeira resposta é que nesta Associação o cargo de presidente é só um cargo, basicamente quem tem disponibilidade para assumir o cargo candidata-se. Não é uma coisa que esteja relacionada com a capacidade, mas sim um conjunto de factores, companheirismo, disponibilidade, vontade para o fazer. Claro, se algum dia for o único disponível para tal, porque não? Mas não para já.

[quote_box_left]”Se a nova geração se resumir a uma cópia da geração anterior nunca seremos bons activistas, nunca seremos uma boa oposição, nunca seremos uma boa voz”[/quote_box_left]

A ANM tem o rótulo de ser uma associação activista. Assume-se como tal?
Se perguntar isso aos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San eles vão mostrar-se contra esse rótulo. Porque eles não se assumem como activistas, mas sim como uma força de construção da sociedade.

E o Scott assume-se como activista?
Somos uma associação com muitos activistas (risos). Quando eu assumo uma acção, sim sou activista, mas às vezes só falo, aí não estou a ser activista, outras vezes brinco, também não é ser-se activista. O que é importante é que a ANM tente não ser apenas uma coisa, neste caso ser activista. É-o quando tem que o ser. Se olharmos para a sociedade em geral, a visão [das pessoas] não é tão abrangente. Quando estava em Taiwan, por exemplo, só no campus [da faculdade] era perceptível [a existência de] vários movimentos, várias associações. Isto não acontece em Macau, ainda não existe um leque de opções de associações e posições. Por isso mesmo é que muitas vezes temos de assumir papéis diferentes e não sermos um só. Por isso é que não sou de assumir um rótulo para a associação. Não direi somos isto ou aquilo, fazemos o que achamos que deve de ser feito.

Acha que é difícil ser-se activista em Macau?
Não, o que eu acho é que é difícil é interiorizarmos a ideia de que se é um activista. Mas uma vez superado esse desafio, é fácil porque a concorrência é muito pequena.

Acha que os jovens estão mais atentos às questões políticas? Estão a interiorizar a ideia?
Estão mais abertos a ideias diferentes, mas não acho que a grande maioria se torne a voz local como a última geração. Porque ainda estão a aprender e a descobrir a política. Creio que não querem fazer parte da política, mas estão mais atentos. Por isso é que temos que trabalhar arduamente agora, para que quando estes jovens estiverem mais velhos, estejam mais envolvidos nos assuntos sociais. Temos que mostrar enquanto são novos, que é bom que sejam mais participativos na discussão pública, que sejam membros activos da sociedade. Quando acalmarem, casarem, tiverem um trabalho fixo, construírem família estarão menos focados nesta possibilidade de ser um ser activo.

As lutas que a ANM tem trazido para a rua, têm tido algum efeito positivo?
Sim, acho que sim. Acho que temos conseguido mostrar às pessoas que é preciso que elas se convençam que conseguem por si só, pelas suas acções e alteração de comportamento, [fazer coisas]. As pessoas não precisam de mim. Há um ditado que diz que “se um mau cavalo conseguiu vencer a corrida, os bons cavalos vão perguntar-se: como é que deixei que ele ganhasse? Eu teria conseguido ganhar o troféu”. Talvez o efeito seja esse mesmo, mostrar que se alguém como Scott Chiang consegue, então porque é que não conseguimos todos?

Tentou ser deputado, como número dois de Jason Chao, mas a vossa lista não foi escolhida. Acha que isso aconteceu porque as pessoas não estão preparadas para dar lugar a jovens e a ideias frescas?
Nós estamos ligados à imagem de activistas e as pessoas querem “a força da construção da sociedade” na Assembleia Legislativa. Isto é o que penso, que as pessoas não querem pessoas que protestam. Se conseguirmos convencer as pessoas que somos capaz de assumir essa responsabilidade, então as hipóteses serão bem mais reais.

Gostaria de ser deputado?
Por agora não. Quando estivermos mais maduros, talvez.

Mas vão tentar nas próximas eleições para a Assembleia Legislativa?
Concorremos e vamos concorrer para os lugares, mas não é por querermos assumir o cargo agora. Concorremos porque é uma boa forma de consolidar o nosso trabalho, é uma forma de crescimento, é também uma boa forma de comunicar com a sociedade. Com o passar dos anos, e com a observação da sociedade ao nosso trabalho e ao nosso crescimento, a sociedade conseguirá perceber as diferenças e tudo aquilo que evoluímos. Nessa altura, estaremos prontos e as pessoas irão estar prontas para votar em nós. Aí, alguns de nós seremos bem sucedidos. Pelo menos é o que espero que aconteça.

Os membros mais jovens da Associação vivem um momento de desacordo com os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San. O que aconteceu?
É como uma tragédia grega. O filho cresceu e o velho rei tinha outros planos e achou que não devia deixar o seu filho fazer o que queria. Mas o filho achou, que sendo rei no futuro, deveria tentar o seu caminho. Era quase inevitável o confronto de gerações. Mas o mais importante é como se consegue lidar com essas diferenças. Não posso chamar-lhe conflito, para já, vamos só dizer que são diferenças que nos separam. Diferenças de como vemos o mundo e de como queremos agir para com o mundo. Se a nova geração se resumir a uma cópia da geração anterior nunca seremos bons activistas, nunca seremos uma boa oposição, nunca seremos uma boa voz. Não estamos a trabalhar juntos, mas somos do mesmo grupo, portanto [trabalhamos] num todo e temos de ver o que é o melhor para a sociedade.

Acha que no futuro essas diferenças serão ainda maiores?
Tendo em conta que o cenário político de Macau está bastante vazio, isto pode ser visto não como um conflito mas como a diversificação, que é aquilo que quero ver. Se conseguimos ir para diferentes lados, mas ainda assim manter-nos no grupo dos pró-democratas. Isso é bom, melhor que bom, estarmos num todo mas com diferentes perspectivas. Se dentro do mesmo grupo estivermos sempre a discutir, gastarmos o nosso tempo com as diferenças, então isso é um problema.

Mas como estão as relações entre os membros e os deputados?
Não podemos pensar nos membros só como um grupo. Todos temos diferentes visões e valores. A maioria do tempo descobrimos o ponto principal pelo qual todos lutamos. A meta é a mesma.

Considera que as ideias destes dois deputados defendem efectivamente os interesses da sociedade?
Não como nós, claro que não. Eles defendem, mas não como nós. Se fizéssemos o mesmo nós é o que estaríamos a imitar, não eles a nós. Efectivamente pensamos de maneira diferente, somos de diferentes gerações, eles são deputados e têm recursos diferentes. Temos pensamentos diferentes, mas claro, acho que ambos queremos o mesmo: defender os interesses da população.

E as intervenções do deputado Fong Chi Keong são representativas do pensamento de Macau ?
Não acredito nisso. A maioria das pessoas sabe que o que ele diz são tretas. O que as pessoas vêem e talvez admirem é que está em bruto, ou seja, não é trabalhado, não tem alguém que lhe escreva os textos para parecer bonito, como outros deputados. O que ele diz é preocupante, ele não tem um discurso bonito, diz o que lhe vem ao cérebro, se é que tem um. Fong Chi Keong não é nada, às vezes é um palhaço, mas na maioria das vezes é só um cidadão comum a defender aquilo em que acredita.

Planos para o futuro?
As pessoas de Macau e o que elas pensam é o nosso futuro. É naquilo que estamos arduamente a tentar trabalhar. Seria muito difícil defender aquilo que as outras gerações já conseguiram, seria ainda mais difícil pensar em alternativas que vão para além daquilo que eles já estabeleceram. Estas duas coisas deixam-nos bastante ocupados, mas na verdade, nas últimas duas décadas, Macau mudou muito e continuamos a tentar perceber e a tentar arranjar formas de melhor servir este novo conceito do território.

24 Jul 2015

Segurança | Novo Macau envia carta a diplomatas da União Europeia sobre software da PJ e CCAC

Depois de uma queixa ao MP, surge uma carta enviada directamente à fonte: os activistas da Novo Macau pedem à UE que tenha precauções extra quando permite a venda de material de ciber-espionagem a Macau, porque o Governo “abusa destes produtos” além do âmbito legal

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau (ANM) enviou uma carta à União Europeia (UE) a pedir que haja mais cuidado na venda de material de segurança cibernética a Macau. O documento, enviado aos cônsules-gerais dos estados membros da UE, surge após a denúncia da Wikileaks sobre a compra deste material a uma empresa italiana e após uma denúncia da Associação ao Ministério Público.
Num comunicado enviado aos jornalistas, e assinado pela direcção da Associação, a Novo Macau evoca o que diz ser uma aplicação arbitrária da lei e o abuso de poder do Executivo, acusando até o Executivo de utilizar estes produtos constantemente de forma ilegal.
“O Governo de Macau é notoriamente conhecido por banir arbitrariamente jornalistas baseados em Hong Kong, académicos e activistas de visitar [o território]. Jornalistas e activistas de Macau também já se queixaram de terem sido alvo de vigias por parte das autoridades e de serem colocados sob custódia por consequência de exercerem a sua liberdade de expressão”, começa por apontar a carta.
Devido a isto, a Novo Macau pede que a UE informe as autoridades europeias da possibilidade de existir um abuso ainda maior quando Macau adquire produtos de software que podem ajudar nestas vigias.
“Se a exportação destes produtos de vigilância com capacidades intrusivas são regulados e controlados nos vossos países, pedimos que informem as autoridades do país [que vende o material] da possibilidade de abuso desses produtos pelas autoridades policiais e pelo Governo de Macau. O software com capacidades que excedem o âmbito legal de investigação criminal não tem sido, de forma alguma, utilizado legalmente pelo Governo de Macau.”

[quote_box_left]“O software com capacidades que excedem o âmbito legal de investigação criminal não tem sido, de forma alguma, utilizado legalmente pelo Governo de Macau” – Novo Macau[/quote_box_left]

Além da lei?

Recorde-se que, na semana passada, a Wikileaks dava conta que a Polícia Judiciária (PJ) e o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) mantiveram negociações, desde Fevereiro de 2012 e pelo menos até ao final de 2014, sobre a aquisição de software de ciber-espionagem. O interesse por parte do CCAC em 2013 foi avançado pelo jornal Ponto Final, mas, de acordo com os documentos da WikiLeaks, também a PJ quis adquirir este software à Hacking Team, empresa italiana listada pelos Repórteres Sem Fronteiras como uma das “inimigas da Internet” pela sua actividade de controlo da dissidência na rede.
Nos e-mails trocados, além de mostrarem interesse em adquirir os novos sistemas, podia ler-se que as autoridades de Macau já eram clientes da empresa. Apesar de nem o CCAC nem a PJ terem confirmado se a compra foi efectivada, ambos já reagiram, dizendo que podem adquirir meios técnicos para realizar as suas investigações e que todos os trabalhos são conduzidos de acordo com a lei.
Para a Novo Macau, contudo, a aquisição destes aparelhos poderá ter outros fins que não os de mera segurança.
“Encorajamos o governo [do país exportador], sempre que permitido ou exigido por lei, tenha precauções extra ao decidir pela aprovação da venda de produtos de segurança/defesa por empresas do seu país ao Governo de Macau”, pode ler-se na carta, que acrescenta que “apesar dos juízes poderem autorizar a colocação dos telefones sob escuta, a falta de transparência e a ausência de um organismo de supervisão independente, torna estes produtos em ferramentas de fácil na violação da privacidade de jornalistas, activistas e outros dissidentes pelas autoridades da RAEM”.

24 Jul 2015

Ensino Especial | Novas regras de apoio em vigor no próximo ano

A DSEJ quer acabar com o esbanjar de dinheiro nas escolas e vai, por isso, rever as regras de atribuição de subsídio especial. Estas entram em vigor no próximo ano lectivo

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) afirmou que as instruções sobre o apoio à educação de ensino especial nas escolas vai sofrer uma revisão, de forma a que os subsídios sejam concedidos de forma mais cuidadosa. O anúncio chega depois da polémica à volta dos apoios financeiros concedidos às escolas, uma vez que estas usavam o dinheiro para outros fins por faltar “rigor” na forma como este deveria ser aplicado.
Numa resposta a uma interpelação escrita do deputado Chan Meng Kam, onde era apontada a falta de pessoal docente específico para este ensino e de formação profissional e sistemática, a directora da DSEJ, Leong Lai, referiu que vai rever o mais rápido possível as regras de apoio dado às escolas privadas. Os novos regulamentos vão determinar a proporção de dinheiro que deve ser utilizado em diversos tipos de trabalhos, de forma a que possam ser controladas as despesas.
Leong Lai afirmou ainda que as novas regras vão ser ser aplicadas já no próximo ano lectivo de 2017/2018.
Recorde-se que surgiu em Abril deste ano uma queixa dos professores da Escola Cham Son devido à distribuição inapropriada dos subsídios do Governo destinados a estudantes com necessidades educativas especiais.
A directora da DSEJ assegurou que tem dado muita atenção à supervisão nos apoios oferecidos, mas também admite que, como este está em vigor há nove anos, aumentaram as escolas privadas que participam no plano – passaram de 12 para 29 -, além do número de alunos, que cresceu de 60 para 525.
Leong Lai frisou que, ao longo do tempo, mais de 80% do montante do apoio dado às escolas foi utilizado na remuneração dos professores e pessoal auxiliar do ensino especial, sendo que a maioria do dinheiro foi realmente aplicada em trabalhos relacionados com a educação especial. 
No que toca ao pessoal docente, a directora referiu que, entre os anos 2009/2010 e 2013/2014, 42 estudantes receberam bolsas de mérito ou de empréstimo da DSEJ para frequentar cursos do ensino superior na área da Educação Especial fora de Macau, enquanto 18 licenciados já estão a trabalhar na mesma área depois de terem voltado ao território. A formação em educação especial para professores que estão a trabalhar já formou 134 profissionais, adiantou ainda.

24 Jul 2015

Associação de apoio a Chan Meng Kam entrega carta no CCAC, que acusa de ilegalidades

[dropcap style= ‘circle’]O[/dropcap]presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, Chan Tak Seng, entregou ontem uma carta ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC), onde diz suspeitar que o organismo utilizou formas ilegais na obtenção de provas. A condenação de dois funcionários da associação que apoiou Chan Meng Kam levou o responsável a dizer ainda que a associação foi alvo de tratamento injusto e desigual.
Chan Tak Seng, que não conseguiu conter as lágrimas ao falar no caso dos dois trabalhadores que levaram cada um mais de um ano de prisão – têm 64 e 67 anos -, criticou o facto de o CCAC ter colocado agentes à paisana a investigar a Aliança e quer saber se o organismo liderado por André Cheong utilizou a mesma forma para investigar as equipas de outros candidatos. Recorde-se que a Aliança do povo já disse que o funcionário do CCAC que recebeu o telefonema onde terão sido oferecidas refeições gratuitas e transportes só foi contactado por ser membro da Aliança. O outro funcionário do CCAC também o é.

Infiltrações?

Apesar de negar que tenham sido oferecidas refeições em troca de voto – e tendo defendido sempre que o telefonema foi para relembrar as pessoas a votar, algo “comum” em Macau – a Aliança suspeita de que os investigadores se infiltraram no grupo de apoio a Chan Meng Kam com identidades falsas, numa espécie de “armadilha”. Chan Tak Seng Chan Meng Kam eleições
Chan Tak Seng garante que as provas usadas em tribunal são falsas e que as testemunhas que não eram do CCAC negaram sempre ter existido ofertas de refeições. O presidente pediu ainda que sejam divulgados os resultados das investigações feitas a outros casos por altura das eleições legislativas de 2005 e de 2013, sublinhando que foram dados a conhecer 200 processos mas que não foram divulgadas quaisquer conclusões e que outros casos nem sequer foram julgados.
“Além dos dois funcionários nossos que estão neste momento a sentir uma grande pressão, sendo presidente, sinto-me também pressionado, porque a Aliança sofreu injustiças. Vou usar todos os recursos humanos e materiais que conseguir para continuar com o processo de recurso”, frisou.
A ideia de que os agentes do CCAC se tinham infiltrado propositadamente foi também deixada por Song Pek Kei, número dois de Chan Meng Kam, que apelou mesmo ao CCAC que explique porque é que usou agentes à paisana na associação a que pertence. “Qual foi o propósito desta acção?”, questionou.

24 Jul 2015

Galgos | Associações internacionais juntas pelo fim do Canídromo

Pela primeira vez na história organizações internacionais juntam-se à ANIMA para tentar bloquear o crescimento da indústria dos galgos. Iniciativas, estudos e investigações são alguns dos planos propostos para acabar com os maus-tratos aos animais e as mortes que, este ano, já chegaram às cerca de 170

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma dezena de organizações internacionais que ontem marcaram presença numa iniciativa levada a cabo pela ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais concordaram em juntar-se à entidade local e pedir o encerramento do Canídromo. A ANIMA, presidida por Albano Martins, organizou ontem um encontro para debater a protecção dos galgos.
“[As organizações] foram todas unânimes em [decidir] pedir ao Chefe do Executivo para fechar o Canídromo e reutilizar aquela área para a comunidade”, começou por resumir à comunicação social Albano Martins.
Representantes de organizações da Austrália (2), Estados Unidos, Reino Unido, Hong Kong, Taiwan e até da China continental acreditam que “não existe razão nem económica nem comunitária (…) que faça com que aquela instituição com mais de 50 anos de existência continue naquele espaço, que é altamente povoado”.
Com o objectivo de definir planos de combate à exploração dos galgos em corridas, a conclusão é clara: “tentar bloquear o crescimento da indústria nesta área”. O apoio total das organizações envolvidas na iniciativa foi uma das grandes conclusões do encontro. “Todos nós vamos fazer o grande esforço de bloquear [a indústria]”, indica.
Assim, “pela primeira vez na história dos galgos”, a ANIMA conseguiu que as organizações que se dedicam à protecção dos animais de forma generalista, se unam para “ajudar a impedir o crescimento da indústria dos galgos mundialmente”, quer na Austrália, quer na Ásia.
Marcar presença no terreno com iniciativas de divulgação, levar a cabo estudos e investigações, observar o desenvolvimento de factores que mostrem se a indústria está a crescer são algumas das medidas decididas pelas organizações para avançar com a causa.
“Vamos tentar bloquear, através de uma série de manifestações e de trabalhos conjuntos dos governos e das autoridades”, indicou o presidente da ANIMA, frisando que é preciso estudar o “fenómeno que vai acontecendo” um pouco por toda a Ásia. “Por exemplo, tivemos conhecimento que em Pequim e na zona à volta já há quem comece a levar galgos para lá, quer dizer, não há Jogo, não há corridas oficiais. Temos medo que possa haver o início de uma competição desse tipo”, exemplificou Albano Martins, adiantando que já foram tomadas acções. “A China já foi alertada, os nossos companheiros chineses que participaram estão alertados e vão começar a trabalhar no sentido de identificar essas zonas para podermos bloquear”, indicou.

Demasiados animais a sofrer

Feitas as contas, as estimativas da ANIMA indicam que, entre Janeiro a Junho do presente ano, tenham sido abatidos até 170 galgos. Macau, que acolhe a única pista onde se realizam corridas de galgos em todo o continente asiático, tem vindo a ser alvo de várias críticas por parte de associações protectoras dos animais.
Numa entrevista na semana passada, Albano Martins afirmou que Macau se distingue pela negativa. “Tirando algumas áreas onde também são maltratados, Macau é o sítio onde é notório que o tratamento dos galgos é mais cruel, porque os animais são comprados, metidos em compartimentos pequeníssimos, os donos nunca os vêem e quando eventualmente os querem trazer para a adopção, isso não é permitido”, afirmou à Rádio Macau, acrescentando que, em média, são abatidos 30 animais por mês.

Petição rompe barreiras

Relativamente à petição online contra a renovação da licença de exploração que termina este ano do Canídromo, e que começou em Abril deste ano e termina hoje, Albano Martins mostra-se surpreendido com os resultados.
“A petição ultrapassou tudo aquilo que esperávamos. Tínhamos um limite de dez mil [apoiantes] e hoje devemos ter à volta de 270 mil apoiantes da petição”, explicou ao meios de comunicação, adiantado que hoje, dia em que termina possibilidade de assinar online, o presidente conta juntar cerca de dez mil novos apoiantes.
“A razão porque temos tantos apoiantes, na petição online, é porque nos poucos dias que fomos para a rua – um dia por semana durante cerca de um mês – recolhemos quase três mil [assinaturas] em poucos dias”, acrescentou.
Apesar do limite previsto ser de dez mil assinaturas recolhidas, quando a ANIMA entrou em contacto com as 165 organizações, das quais 65 da China, percebeu que os números iam disparar. “A petição disparou e aí passou rapidamente para os 260 mil”, remata.
Esta tarde, das dez organizações representadas, oito vão entregar ao presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Alex Vong – representante substituto do Chefe do Executivo, que se disse com uma agenda muito ocupada -, a petição. “Vamos entregar-lhe a petição, pedir-lhe que faça chegar ao Chefe do Executivo, mostrar-lhe os números e ao mesmo tempo mostrar as preocupações de todas as organizações internacionais” que participaram na iniciativa, explicou.
Recorde-se que as receitas do Canídromo, que tem benefícios que as outras operadoras de Jogo não têm face aos impostos, continuam a descer de ano para ano, com o lucro do ano passado a atingir 27 milhões de patacas, quando em 2013 foi de 70,4 milhões.

24 Jul 2015

Tabaco | DSE não sancionou lojas por aumento de preços

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Economia (DSE) não sancionou qualquer ponto de venda de tabaco por incumprimento da lei, mesmo que, como foi reportado, algumas lojas tenham cobrado mais pelo produto ainda antes da alteração do imposto ter entrado em vigor. Numa resposta ao HM, o organismo explica que não encontrou quaisquer ilegalidades.
“Ao notar o aparecimento de uma maior flutuação no preço do cigarros aplicado no mercado, após a aprovação na Assembleia Legislativa da proposta de alteração à tabela anexa ao Regulamento do Imposto de Consumo, a DSE enviou, de imediato, pessoal para efectuar fiscalização e conhecer a situação concreta. No período entre os dias 10 e 13 [de Julho] foram fiscalizados cerca de 40 pontos de venda a retalho espalhados por todos os bairros de Macau, não tendo sido detectado nenhuma infracção praticada pelos mesmos”, avança numa resposta escrita. “Daí que não foi aberto nenhum processo sancionatório.” tabaco produtos
Apesar de terem sido detectadas tanto a venda de cigarros já com o imposto de 70% em cima – e não o que ainda estava em vigor, de 33% – e açambarcamento de produtos pelos média e pelos clientes fumadores, a DSE não viu qualquer prova deste problema.
O organismo diz, contudo, que “chamou a atenção dos distribuidores e vendedores do tabaco sobre a data da entrada em vigor da lei”, lembrando-os que não deveriam incluir o novo valor do imposto no preço do tabaco “antes da vigência da tabela anexa alterada”.

24 Jul 2015

Novos Aterros | Associações não concordam com sugestões do Governo

Para o grupo Energia Cívica falta informação e mais estudos, para as restantes associações ouvidas pelo Governo ainda há muito a mudar nos novos aterros

[dropcap style= ‘circle’]O[/dropcap] grupo Energia Cívica, liderado por Agnes Lam, não concorda com a maior parte das propostas feitas pelo Governo para os novos aterros e para a ponte que vai ligar Macau a Hong Kong e Zhuhai. Num documento enviado aos jornalistas, o grupo explica que são precisas mais informações e outras propostas e que estas têm de ser melhor pensadas.
Está actualmente em consulta pública o planeamento dos novos aterros feito pelo Governo, sendo que são diversas as associações – de acordo com o Governo – que têm vindo a apresentar opiniões. Num comunicado também enviado ontem, o Executivo admite que as opiniões dos intervenientes incidiram sobretudo nos equipamentos comunitários da Zona A e na paisagem da Zona B, que tem gerado controvérsia devido à altura dos prédios.
Na carta do grupo Energia Cívica, é defendida a necessidade de se elaborar um estudo mais aprofundado sobre a ponte em Y, até porque “os planos apresentados não têm informação suficiente para melhores análises” sobre a construção.
“A Zona A está a ser planeada para receber mais de cem pessoas, além de que toda a ligação à ponte vai ser feita através desta zona. O acesso é de maior importância, mas parece ser insuficiente, pelo que deverá precisar de ser redesenhada. A única conexão à ponte pode vir a precisar de uma maior capacidade.”

Dar nas vistas

A paisagem é outra das preocupações do grupo, do qual faz parte também, além da académica e ex-candidata às eleições legislativas, o arquitecto Rui Leão.
“Os dois canais nas zonas a Este e Oeste da Zona A podem servir para uma marina ao longo da costa, de forma a que se crie uma maior interacção com a água, o que é importante para manter o papel de Macau enquanto cidade portuária. O acesso à Zona A é acompanhado por uma auto-estrada, o que pode comprometer o acesso do público à zona ribeirinha e a relação entre as áreas urbanas e da água”, aponta o grupo, que diz ainda ser altamente aconselhável um estudo sobre o local.
O Governo admite, num comunicado separado, que os intervenientes da consulta pública manifestaram que é necessário ter em conta as horas de ponta da entrada e saída dos cidadãos e turistas na ilha artificial do posto fronteiriço de Zhuhai-Macau da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, uma vez que avistarão ao longe a paisagem da costa da Zona A dos novos aterros.
“Propõem, assim, a relocalização do parque escolar da Zona A para uma melhor imagem urbana. Além disso, foi ainda proposto uma maior concentração dos terrenos comerciais da Zona A dos novos aterros na parte central, a fim de se criar então uma zona comercial. Assim sendo, em suma, com a conclusão do estabelecimento do núcleo habitacional, será considerado em pormenor o aspecto dos equipamentos de ensino, sociais, culturais e lúdicas e desportivas, de modo a que os equipamentos comunitários da Zona A estejam à altura das necessidades dos moradores”, adianta o Governo.
A Energia Cívica acrescenta ainda que todos os locais públicos da Zona A têm as mesmas características e que estas deveriam ser diferentes, para que haja “diversos tipos de espaços públicos” e de diferentes tamanhos.

Adeus paisagem

Já no que toca à Zona B, onde o Governo pretende construir edifícios judiciais, é tida como um local onde deve ser bem pensada a construção. A Energia Cívica considera que o património, como a Guia da Penha, vai ser completamente bloqueado ao nível visual, algo que a UNESCO não permite.
“A proposta ameaça de forma grave as paisagens urbanas e naturais da área mais significativa da Colina da Penha, e não apenas a Igreja no topo, mas também as ruas pequenas, os becos e os espaços públicos tão característicos a geografia das cidades de origem portuguesa”, diz o grupo, que pede que outra estratégia seja considerada.
Mais ainda, o grupo de Agnes Lam e Rui Leão aponta que, sem saber as alturas permitidas para as restantes construções na Zona B, não faz sentido definir as alturas máximas para os edifícios judiciais que vão nascer ao lado da Torre de Macau. Mais uma vez, o grupo fala em falta de informação.
Em comunicado, a Administração assegura estar atenta à paisagem.

24 Jul 2015

CIA | Relatório fala de colaboração da Sands com secreta americana

É mais uma polémica que envolverá alegadamente a Sands China: um relatório de um investigador norte-americano indica que os hotéis da operadora serviram de ninho a agentes da CIA que faziam investigações a mando da Sands para comprometer funcionários do Governo Central

[dropcap style= ‘circle’]O[/dropcap]The Guardian divulgou, esta quarta-feira, um relatório “altamente confidencial”, datado de Junho de 2010, segundo o qual Pequim acreditava que os casinos da norte-americana Las Vegas Sands estariam a trabalhar em conluio com a CIA. Segundo a TDM, também o Chefe do Executivo, Chui Sai On, e o ex-Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam.
Chui Sai On é tido como muito próximo do Partido Comunista e é ainda dito que tem uma posição muito forte para que haja escândalos, avança ainda a TDM, que acrescenta que não há nada mais de negativo que seja apontado aos dois membros do Governo de Macau.
“Muitos dos funcionários [chineses] que contactámos eram da opinião de que agências de inteligência norte-americanas são muito activas em Macau e que penetraram e utilizaram os casinos norte-americanos para apoiar as suas operações”, refere-se no relatório, elaborado por um investigador privado, divulgado no jornal britânico.
A investigação foi encomendada pela Sands China, subsidiária da norte-americana Las Vegas Sands, do magnata Sheldon Adelson, numa altura em que havia preocupações com a crescente hostilidade do Governo da RAEM relativamente à indústria do Jogo em geral e, em particular, face à Sands, escreve o jornal.
O relatório, assinalado com uma advertência de que não podia chegar ao interior da China, foi revelado pelo Programa de Jornalismo de Investigação da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
O documento figura entre o rol de documentos apresentados a tribunal no caso da Las Vegas Sands, que está a ser ouvida no âmbito de uma acção civil interposta por um antigo dirigente seu em Macau, que processou a empresa por despedimento sem justa causa.
“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo Central chinês acreditam firmemente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operassem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’”, indica o relatório.
“Esta fonte também informou que vários departamentos governamentais da RPC relataram haver ‘provas’ de ‘agentes norte-americanos’, a operar a partir da Sands, ‘atraindo’ e ludibriando oficiais do Governo chinês, envolvidos em actividades de jogo para depois os forçar a cooperar com os interesses do Governo dos Estados Unidos”.

[quote_box_left]“Uma fonte credível reportou que funcionários do Governo central chinês acreditam firmemente que a Sands autorizou agentes do FBI/CIA que operassem a partir das suas instalações. Estes agentes aparentemente ‘monitorizam’ funcionários do Governo chinês que jogam nos casinos’” – Relatório elaborado por um investigador privado[/quote_box_left]

Boas fontes

O investigador, que não é identificado, afirmou que a sua informação tinha por base fontes influentes, incluindo três no gabinete de Pequim responsável pelos assuntos de Macau e de Hong Kong, duas fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros e um poderoso empresário chinês com relações próximas a Pequim.
O relatório não refere se a Sands foi cúmplice da alegada actividade dos serviços secretos norte-americanos, apenas que as autoridades chinesas acreditavam nisso.
A Sands descreveu o relatório como “uma colecção de especulação sem significado”, considerando que a narrativa de que figurava como uma “frente” para os esforços das agências de informação norte-americanas soa como “uma ideia para um guião de um filme”.

24 Jul 2015

Ilha da Montanha | Mais de 400 empresas de Macau registadas

[dropcap style= ‘circle’]J[/dropcap]á mais de 400 empresas de Macau registaram os seus negócios na Ilha de Montanha, além dos 33 projectos entregues através do Governo. A entrada de carros de Macau na zona, contudo, continua em discussão.
Segundo o Jornal do Cidadão, o chefe do Conselho de Gestão da Nova Zona da Ilha da Montanha, Niu Jing, referiu que as companhias de Macau parecem ter confiança para avançarem com investimento na zona franca da Ilha da Montanha, já que o capital total das 400 empresas registadas até atingiu os 200 mil milhões de yuan.
“Todos os regimes e políticas inovadoras [da Ilha da Montanha] trazem boas perspectivas ao desenvolvimento das companhias de Macau, portanto, o número de empresas registadas é cada vez maior.”
Niu Jing relembrou ainda que o Governo de Macau escolheu 33 projectos comerciais para serem explorados na zona vizinha, incluindo centros comerciais, centros de exposição e outros.
“Desses projectos, 17 contratos já foram assinados, 12 já concluíram o processo de concessão de terrenos, cinco estão à espera do capital para poderem participar nos leilões de terras e três já apresentaram uma proposta de construção, sendo que podem iniciar obras já este mês. Como, de acordo com os regulamentos, os terrenos devem estar aproveitados dentro de três e quatro anos, todos os projectos podem entrar em funcionamento antes de 2020. ilha da montanha
O prazo, contudo, já foi contestado por alguns empresários de Macau, como o também deputado Chan Chak Mo. Segundo o jornal Business Daily, o gerente da Future Bright Holdings considera que concluir o projecto todo em quatro anos é muito apertado.
Contudo, não há ainda calendário para a entrada de carros com matricula de Macau na Ilha da Montanha. A imprensa chegou a apontar Agosto, mas rapidamente o Governo veio corrigir que não havia data prevista, algo que continua a acontecer. Niu Jing esclareceu que, devido à capacidade limitada da circulação no posto fronteiriço do Cotai, “é necessário um estudo profundo” para que esta nova medida seja implementada. Até ao momento ainda não é sequer possível saber a quantidade de carros que vão poder passar de cá para lá.

24 Jul 2015

IIM | 15ª Aniversário da RAEM em fotografia, vídeo e livro

São fotografias, vídeos e um livro e pretendem levar a história dos 15 anos da RAEM até longe. Na próxima quarta-feira, dá-se a cerimónia de abertura de mais uma exposição do Instituto Internacional de Macau, que tem como objectivo perceber o crescimento e as mudanças desde o nascimento da RAEM até aos dias de hoje

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]ideia surgiu do próprio Chefe do Executivo, Chui Sai On: a RAEM comemorou 15 anos desde o seu nascimento e a data merece ser celebrada. Tal como aconteceu aquando do 10º aniversário, o Instituto Internacional de Macau (IIM) abraçou o compromisso e criou aquela que se espera ser uma exposição mundial.
“Lembro-me que a exposição do 10º aniversário foi algo de muito grandioso. Tínhamos uns painéis de imagens da autoria do arquitecto Carlos Marreiros, muito grandes. Este ano quisemos fazer uma exposição mais modesta, puramente gráfica, pela simples razão de nos dar a possibilidade de flexibilidade. Este ano ajustamos a exposição ao espaço existente”, explica ao HM Jorge Rangel, presidente do IIM.
São Francisco, Toronto e Lisboa são algumas das cidades que abraçaram o convite por parte do IIM e já inauguraram as suas exposições. Em Macau só acontece na próxima semana, no dia 29 de Julho.
Da montra fazem parte 50 fotografias, de vários tamanhos, que são o resultado de uma contribuição de várias entidades públicas e privadas, dois vídeos e um livro. iim
“Procurámos evitar caras de pessoas e cortes de fitas, como por exemplo o Governo quando inaugura alguma coisa. O que pretendemos é mostrar Macau na sua variadas vertentes, para quem visita a exposição, seja em que país for, ficar com uma ideia de uma cidade cheia de vida, com muita actividade e naquilo em que se transformou 15 anos depois”, argumenta Jorge Rangel.

Das letras

Com a assinatura de Gonçalo César de Sá, será ainda apresentado o livro “Macau – Festas e Festividades”, um guião ilustrado dos múltiplos eventos culturais e religiosos no calendário anual da RAEM. “Este é um livro que foi feito de propósito para esta exposição e faz uma identificação das festas e festividades e também dos grandes acontecimentos, como o Grande Prémio ou a Maratona Internacional. Dentro das festividades estão as católicas, chinesas e outras ligadas a outros grupos culturais. Acho que está um livro muito completo”, explica o presidente, indicando que o guião foi criado para ser distribuído no dia do lançamento da exposição das várias cidades e, posteriormente, estará disponível para compra nos vários locais onde a exposição se encontrar.
A parte de multimédia também marca presença com a passagem de duas curtas metragens. “Flying Over Macau” da autoria de Sérgio Basto Perez, e “15 anos da Região Administrativa Especial de Macau”, de Silvie Lai e James Jacinto, foram os vídeos escolhidos. “Os vídeos pretendem criar um impacto sobre Macau, 15 anos depois. Não são longos nem curtos, têm o tempo suficiente para criar este impacto que se pretende”, remata Jorge Rangel.
Ainda em cima da mesa está a hipótese da exposição marcar presença de forma permanente em vários pontos da cidade, mas ainda nada é certo. A única certeza é que o Brasil vai recebê-la em várias cidades já no próximo mês de Outubro. No IIM, a exposição inaugura às 18h00 e tem entrada livre.

24 Jul 2015

Regresso de Tomé Pires a Cantão

[dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap]turbulência já andava no ar desde Nanjing e quando a Embaixada chegou a Beijing, o problema das credenciais e da própria legitimidade da embaixada, no contexto do sistema tributário chinês, tornaram o ambiente hostil para Tomé Pires e a sua comitiva. E seguindo com Rui Loureiro: “Os mal-entendidos desencadeados pela disparidade entre as duas cartas são conhecidos sobretudo graças à missiva de Cristóvão Vieira. Contudo, talvez valha a pena chamar a atenção para uma outra versão, de origem chinesa, dos mesmos acontecimentos. De acordo com documentos coevos, o jurubaça principal da embaixada portuguesa, um chinês que dava pelo nome de Huo-che Ya-san (Huozhe Yasan), estabelecera excelentes relações com as autoridades provinciais, logo após o desembarque no porto de Cantão. Por sua própria iniciativa, e graças a uma generosa distribuição de dádivas, conseguira obter autorização imperial para Tomé Pires visitar Pequim como enviado do rei de Malaca. Porém, após a chegada à capital, o seu astucioso plano seria desmascarado pelo enviado do verdadeiro rei de Malaca, que chegou à corte chinesa quase na mesma altura.” O “jurubaça grande falleceo de doença”, enquanto decorriam as averiguações. Mas os restantes línguas, como resultado do inquérito imperial, foram decapitados em Pequim, acusados de “saírem fora da terra” e de trazerem “portugueses a terra da China”.
O falecimento do Imperador Zhengde precipitou os acontecimentos e não fosse o novo Imperador Jiajing (1522-66, que começou a governar logo em 1521, mas o ano de início de governação só conta após o novo ano chinês) a anular a intenção dos mandarins da corte de Beijing em executar Tomé Pires, tinha a História da primeira Embaixada terminado na capital chinesa.
Devido à suspensão obrigatória de todas as actividades após a morte do Imperador, Tomé Pires foi mandado sair de Pequim e regressar a Cantão, com os presentes que trouxera. Se o pseudo-embaixador Yasan tinha sido desmascarado e falecido por doença, agora o verdadeiro Embaixador dos folangji, Tomé Pires e os seus companheiros partiram em 22 de Abril. Data mais plausível que a de 22 de Maio, pois se o mau ambiente que os portugueses viviam já em Beijing durante o período de doença de Zhengde, após o falecimento do Imperador não permitia longas demoras e assim, dois dias depois deixaram a capital, a caminho do porto por onde tinham entrado na China. Foram conduzidos vagarosamente para Guangzhou, onde chegaram a 22 de Setembro de 1521. “Ao mesmo tempo, foram de Pequim mandadas instruções, por via rápida, para que, quando o Embaixador e os seus companheiros chegassem a Cantão, fossem presos, e que só depois dos portugueses terem evacuado Malaca e esta sido entregue ao seu legítimo rei, vassalo do Imperador da China, seriam aqueles postos em liberdade” A. Cortesão.

Hostilidade em Cantão

Apenas duas semanas antes da entrada em Guangzhou de Tomé Pires, tinham das redondezas fugido para Malaca três barcos portugueses, que participaram na primeira batalha entre chineses e portugueses em frente ao porto de Tunmen e só ajudados por uma tempestade providencial se salvaram de ir engrossar o número de portugueses nas cadeias chinesas.
“O embaixador (Tomé Pires) levado à presença das autoridades de Cantão e solicitado a escrever para Malaca, de acordo com a vontade do imperador, altivamente, como se sabe por uma carta de Cristóvão Vieira, recusou. Pela mesma fonte de informação sabemos que todos estiveram perante o puchanchi (tesoureiro provincial), de joelhos, durante umas longas quatro horas.” E continuando com Luís de Albuquerque: “.
É de crer que grande parte destes artigos apreendidos pelos chineses pertencesse a Tomé Pires, que já era rico antes de ir à China e decerto não deixou de procurar aumento à sua riqueza.”
“Vieira diz ainda que, na presença de Pires, arrolaram a fazenda confiscada, tendo o presente de D. Manuel ficado à guarda do Puchanchi” L. Albuquerque.

Para agravar a situação

A 4 de Agosto de 1522, chegara a Tamão a frota de seis velas comandada por Martim Afonso de Mello Coutinho trazendo como missão desde Lisboa consolidar a amizade que se julgava já estabelecida entre portugueses e chineses e conduzir um novo embaixador, pois tinha como certo que nessa altura Tomé Pires estaria de regresso. Ao contrário do que em Cochim fora informado por Simão de Andrade, em Malaca soube que em vez de se ter feito amizade com a China, ocorrera em 1521 uma batalha naval, de onde os portugueses saíram derrotados. Martim Afonso de Melo Coutinho “não obstante, decidiu continuar viagem, acompanhado por outro navio e um junco com Ambrósio do Rêgo e Duarte Coelho, que relutantemente, e apenas sob pressão de Jorge de Albuquerque, ao tempo Capitão de Malaca, consentiram em voltar à China, onde, no ano anterior, como vimos, tinham estado em sérios apertos. Coutinho partiu de Malaca com seis velas, em 10 de Julho e chegou a Tamão em Agosto de 1522″ A. Cortesão.
Em Malaca, sobre as andanças da Embaixada de Tomé Pires nada se sabia apesar de, pelos factos ocorridos no ano anterior, poucas esperanças havia de ter sido realizada com êxito. Não imaginava Martim Afonso de Melo Coutinho estar Tomé Pires e os que sobravam dos seus acompanhantes presos ali próximo, em Cantão.
Entrou Martim Afonso de Melo Coutinho a 4 de Agosto de 1522 com os seus barcos no porto de Tamão tão confiadamente, como se as instruções de D. Manuel para conseguir a amizade do Rei da China e estabelecer ai uma fortaleza, por si só valessem como lei. Foi no pior momento porque em terra, os chineses tinham Tomé Pires e seus companheiros, como ladrões e espiões. E com Luís Gonzaga Gomes seguimos: ” Os chineses, que se encontravam ainda excitados com a embaixada de Tomé Pires, receberam tão mal os portugueses que se travou uma rija batalha naval, no porto de Tamão, onde Martim Afonso de Melo Coutinho tinha entrado, descuidadamente, e donde conseguira escapar, a coberto da luta sobre humana travada pela barco de Pedro Homem que, obrando prodígios de incomparável valor, conseguiu atrair sobre si toda a atenção dos chineses até ser derrubado por um tiro.” “Os portugueses sofreram muitas baixas, perderam dois dos navios e o junco e, depois de vãos esforços para restabelecer relações com as autoridades cantonesas, regressaram a Malaca em meados de Outubro do mesmo ano.”
“Com tudo isto a situação de Pires ainda se tornou pior, se é possível. Os mandarins de novo lhe ordenaram que escrevesse uma carta ao Rei de Portugal, a qual o embaixador Tuam Hasam Mudeliar levaria a Malaca, a fim de que esta e o seu povo pudessem voltar ao antigo senhor; se não viesse resposta satisfatória, o embaixador não voltaria. Os portugueses receberam na cadeia uma minuta em chinês, da qual escreveram três cartas, a El-Rei D. Manuel, ao Governador da Índia e ao Capitão de Malaca, que foram entregues às autoridades de Cantão em 1 de Outubro de 1522. O embaixador malaio, como é fácil de compreender, não mostrou interesse especial em servir de correio de tais missivas, nem era fácil encontrar quem se quisesse encarregar de missão tão contingente.
Por fim, um pequeno junco com quinze malaios e quinze chineses partiu de Cantão em 31 de Maio de 1523 e alcançou Patane, na costa nordeste da Península Malaia. As cartas foram, segundo parece, às mãos do ex-rei de Malaca, grande intriguista, que se refugiara na próxima ilha de Bintang, e a quem não faltavam motivos para odiar os portugueses e, talvez mesmo, Pires em especial; mas nunca chegaram ao seu destino. Contudo, Ambrósio do Rêgo, que, nessa altura, tinha ido a Patane, soube, por um intérprete que costumava servir entre portugueses e chineses, quando estavam em paz, que Tomé Pires e alguns dos seus companheiros ainda se encontravam vivos em Cantão” A. Cortesão.

O fim trágico dos mercadores

Como Armando Cortesão refere: “Os mais importantes documentos para a história de Tomé Pires e sua Embaixada, depois do desembarque em Cantão, constam de duas cartas de Cristóvão Vieira e Vasco Calvo, escritas dessa cidade em 1524, das quais Barros se aproveitou largamente nas Décadas.”
Voltando a Luís de Albuquerque: “A partir daqui, as notícias sobre o destino dos prisioneiros são escassas, em alguns casos confusas, senão até contraditórias. No final de 1523, Ambrósio do Rego trazia a Malaca a notícia de que ainda viviam entre oito e treze cativos, contando-se Tomé Pires entre os sobreviventes; aos da embaixada ter-se-ão juntado, portanto, os prisioneiros das armadas a que os chineses deram batalha no porto de Tamão (que ocorreu no porto de Tunmen), nomeadamente Vasco Calvo. Todavia, se acreditarmos na carta de Vieira, seria de vinte e três o número de presos; de facto, ele relata que no dia 6 de Dezembro de 1522
Já A. Cortesão complementa: “Os mandarins enviaram um relato ao Imperador, o qual confirmou as sentenças. .
Cristóvão “Vieira menciona outros juncos que, por esse tempo, chegaram à China com portugueses, tendo sido todos atacados e as tripulações chacinadas. Do navio de Diogo Calvo ficaram presos, além de Vasco Calvo, sete outros portugueses e quatro servidores, os quais escaparam à matança por dizerem que pertenciam à Embaixada de Tomé Pires. Mas muitos outros morreram nas prisões, depois de expostos com letreiros onde se dizia que iam morrer por serem , quando não eram assassinados com uma pancada de malho na cabeça, ou espancados até expirar” A. Cortesão.
Cristóvão Vieira, na sua longa carta escrita provavelmente em Novembro de 1524 no cativeiro e que conseguiu através de chineses fazer chegar às mãos dos portugueses, diz que só ele e Vasco Calvo se encontravam vivos na cadeia de Cantão e assim, todos os que a leram pensaram que Tomé Pires tinha morrido na prisão. Mas seria isso verdade?

24 Jul 2015

Noite de Natal no Karaoke

[dropcap style= ‘circle’]P[/dropcap]olítica e acontecimentos locais à parte, e ultrapassada a tragédia grega, um dos assuntos quentes da actualidade é a chegada da sonda New Horizons a Plutão. E, com isso, toda a discussão que se gerou em torno da questão de Plutão ser ou não um planeta.
Caríssimo leitor, deixe-me dizer-lhe uma coisa: esse assunto não me interessa nem um pouco e estou-me completamente borrifando se Plutão é planeta ou se é planeta-anão.
Regressando à Terra. No outro dia alguém questionou-me quanto à persistente inclusão de expressões em chinês, inglês ou em patuá nos meus artigos desta coluna. Pelo que me pareceu interessante esclarecer por que motivo escrevo assim. E, com isso, surgiu-me a ideia de desenvolver o tema que vou hoje abordar.
A mistura de línguas é uma característica genuinamente Macaense. No nosso dia-a-dia é assim que falamos entre nós e é assim que nos entendemos, misturando o português, o chinês e o inglês, por vezes até utilizando expressões em patuá.
E por que razão não haveria de ser assim? Se posso dizer que vou comer um van tan min, para quê me vou dar ao trabalho de dizer que vou comer uma sopa de fitas com pastéis de camarão? E repare, caríssimo leitor, que nunca coloco aspas quando introduzo essas expressões em chinês, inglês ou patuá, pois são palavras em língua estrangeira que, na verdade, também não são.
A mistura de línguas faz parte da nossa identidade e fazemo-lo com naturalidade, consoante o que o nosso cérebro entender mais adequado para o contexto específico. Quantos Macaenses não memorizam números de telefone em chinês, por ser mais fácil?
Quando subitamente mudamos de língua, alteramos em conformidade o tom de voz, a linguagem gestual e porventura – e o que vou agora dizer é pertinente – até o nosso raciocínio e a posição que podemos tomar perante um assunto em concreto.
Essa nossa característica permite-nos uma aproximação especial ao nosso interlocutor, o que por vezes poderá revelar-se extremamente útil e vantajoso para nós.
Costumo dizer às pessoas que a inclinação para línguas está por natureza nos genes do Macaense desde nascença. Todavia, há que perceber que as coisas não caiem do céu e, se não nos pusermos a pau, as gerações futuras poderão vir a perder esses genes.
Passo a explicar.
Nos anos 80-90, com o receio da transferência de poderes que se aproximava, muitos foram os Macaenses que destinaram estrategicamente aos seus filhos um ensino integralmente em chinês, neste processo descartando por completo a língua portuguesa.
Ironicamente, crescidos e já na idade da razão, agora esses filhos questionam os pais, revoltados com o facto de não saberem falar português.
Posso compreender e até tolerar situações que tiveram lugar ainda antes da transição, já que naqueles tempos era impossível adivinharmos o que seria o Macau do pós-99. Aliás, sobre esse tema até já me debrucei numa peça desta coluna. (*)
No entanto, custa-me aceitar que essas situações persistam ainda hoje. Muitos são os Macaenses que preferem não falar português com os seus filhos, deixando também de fora o sistema português de ensino. Quando toco nesse assunto, ficam surpreendidos com a minha posição e alguns até não escondem um certo desprezo que têm pelo ensino português. Algo que não consigo compreender.
Para já, não se venha agora dizer que o português é uma língua que não tem futuro. Era esse o argumento mais comum na era pré-99, mas parece-me mais que óbvio que se encontra desactualizado, para não dizer incorrecto. E não apenas pelo facto de o Governo Central ter definido Macau como plataforma para o intercâmbio com os PALOPs.
Para começar, não duvido que em Macau, em termos de trabalho, saber português é uma mais-valia. Aliás, dominar com naturalidade ambas as línguas oficiais só poderá, suponho, enriquecer o currículo dos nossos filhos.
Mas, mais do que isso, é o facto de o português ser uma língua de origem latina e, como tal, o acesso que nos permite às outras línguas de origem similar e as portas que podemos abrir em consequência. Exemplo rápido? O espanhol e toda a América Latina.
Por outro lado, até hoje não me foi ainda apresentado um único argumento convincente para justificar a não inclusão do sistema de ensino português como uma opção para os nossos filhos. Vejo muitos pais Macaenses da minha geração a darem preferência ao ensino chinês ou às chamadas “escolas internacionais”. Não tenho nada contra esses dois últimos sistemas, apenas acho que não devemos rejeitar logo à partida o ensino português.
De qualquer forma, não é meu desejo mergulhar aqui nessa discussão e apresentar argumentos para provar que este sistema de ensino é melhor do que aquele. Tudo é relativo e não tenho dúvidas que cada escola, seja ela chinesa, portuguesa ou “internacional”, terá as suas vantagens e desvantagens.
O que me parece – e este é o peixe que quero vender – é que não vejo razões para se deixar de falar português com os nossos filhos, independentemente do sistema de ensino que se vier a escolher para eles, porque uma coisa não impede a outra.
Dito isto, deixe-me partilhar o seguinte com o caríssimo leitor: o meu filho, que está a seguir o sistema português de ensino, tem 4 anos e fala fluentemente português, chinês e inglês. E isto porque, desde cedo, ficou programado que (1) comigo e com a minha mulher, fala português; (2) com a minha sogra, fala chinês; (3) com a empregada, que é filipina, fala inglês e (4) com os restantes membros da família, é tudo champorado e fala as línguas que entender.
O que o acabou de ler não é nada do outro mundo: foi assim em muitas casas Macaenses ao longo de séculos. E não vejo razões para que assim não seja durante mais outros tantos séculos.
Portanto, se é Macaense e tem crianças ainda pequeninas, caríssimo leitor, pense seriamente nisso: tem a possibilidade de proporcionar aos seus filhos um ambiente espectacularmente multicultural e multilinguístico, mais internacional que qualquer “escola internacional”, em que poderá incluir pelo meio, com naturalidade, o português, o chinês, e ainda as línguas que bem entender.
Porque, se não o fizer, está a privar os seus filhos de uma herança cultural a que deviam obrigatoriamente ter direito, condenando-os a não poderem usufruir de uma mais-valia que no futuro os poderá distinguir do Chan Fok Soi da esquina.
E, numa análise mais alargada e profunda, estará a deitar para o lixo todo o saber acumulado dos nossos antepassados que, de geração em geração, foram transmitindo os seus conhecimentos, hábitos e costumes, consolidando assim a nossa rica identidade Macaense.
A transmissão do conhecimento é crucial para a nossa futura existência e sobrevivência. Se achar desnecessário fazê-lo – e a língua portuguesa é uma componente essencial nesse processo – no dia em que o seu filho lhe perguntar por que motivo não fala português, não lamente.
Igualmente, se um dia celebrar a noite de Natal com os seus netos num karaoke, com um capuz de Pai Natal cheio de luzes na cabeça e a comer amendoins com sabor a wasabi, e se sentir saudades dos velhos tempos em que se convivia à mesa em português e em chinês e se comia tacho, genete e cuscurão antes da missa do Galo, não lamente.
A culpa é inteiramente sua porque não teve visão.

Sorrindo Sempre

O volume de lixo que por vezes uma embalagem consegue criar e a sua total desproporção com as dimensões do produto propriamente dito é algo que me irrita visceralmente.
O pior de tudo são as camisas: dobradas sobre uma folha grossa de cartão; presas por não sei quantos alfinetes; cartolina no colarinho; etiqueta da marca presa por um cordel; saquinho com botões sobressalentes; e essa parafernália toda colocada dentro de uma caixa de cartão ou uma embalagem de plástico transparente. Uma absurdidade total. Onde está a consciência ecológica?
No outro dia comprei seis camisas de uma assentada e decidi desempacotar tudo logo depois de pagar. Para quê levar aquela porcaria toda para casa? Ficou ao balcão da loja um volume enorme de lixo. Os empregados ficaram incomodados, mas antes que pudessem dizer o que quer que fosse, lancei o meu preemptive strike: “Eu vim para comprar camisas, não preciso de alfinetes nem dessas coisas todas”.
A piada da coisa é que o cliente que vinha atrás de mim na fila de pagamento decidiu fazer o mesmo. E eu só me ria. Os funcionários da loja não acharam a mesma graça.

Sorrindo sempre.

(*) “A Casinha no Bombarral”, Sorrindo Sempre de 15 de Maio de 2015.

24 Jul 2015

A pequena política

[dropcap style= ‘circle’]C[/dropcap]omo se fosse uma grande novidade. O Verão de Macau, que já começa a ser noticiosamente tonto, agita-se por estes dias com a condenação por corrupção de dois funcionários da associação que ajudou a eleger Chan Meng Kam e outros dois deputados da lista de Fujian. A associação chamou os jornalistas para dizer que está a ser alvo de pressão política, para dizer que é tudo mentira e para fazer ver, aos olhos do mundo, o quão injustiçada está a ser. Song Pek Kei, a menina Song, a terceira da lista de Chan Meng Kam, também já veio garantir que não houve qualquer ilegalidade eleitoral, que os votos nela depositados são do mais limpo que há. Pelo meio, a deputada deixa ainda acusações graves ao Comissariado contra a Corrupção. Ela lá sabe o que faz.
A justiça concluiu, por ora, uma coisa diferente. O tribunal entende que houve tentativa de compra de votos – votos que custam o preço de refeições, bebidas ou transportes grátis. Partindo do princípio de que a justiça está certa e de que aquilo que se ouve por aí na altura da campanha eleitoral corresponde à realidade, deste caso só é possível retirar uma de duas conclusões: a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau tem funcionários extraordinariamente diligentes, cheios de iniciativa, que fazem tudo o que está ao seu alcance para que os homens que mais veneram politicamente sejam eleitos, incluindo gastar o dinheiro que tanto lhes custou a ganhar para angariarem votos sem que alguém lhes tenha encomendado semelhante tarefa; ou os três deputados com mandato válido até 2017 sabem perfeitamente dos métodos usados pela máquina que os elege.
Como se fosse uma grande novidade. Não é – este caso vem mostrar o quão frágil é a vida política de Macau. Tem razão Leonel Alves que, num comentário à Rádio Macau, destacou as características do eleitorado local: Macau tem um conjunto de eleitores com contornos muito específicos, por ser uma terra de grande mobilidade, terra de acolhimento de imigrantes que não trazem na bagagem a cultura da democracia. São eleitores para quem a política tem como principal função resolver os pequenos grandes dramas do quotidiano – aquilo a que chamaríamos a política de junta de freguesia.

[quote_box_left]Temos freguesias, mas não temos juntas; não temos câmaras nem assembleias municipais que se preocupem com as pequenas grandes coisas. Quem deveria ter outro tipo de causas e de discurso aproveita-se com facilidade destas fragilidades locais[/quote_box_left]

Dizem-me que Chan Meng Kam e os seus dois pares são bons na resolução deste tipo de dilemas junto da comunidade que os elege: o deputado tem dinheiro e ambição política também não lhe falta, pelo que, ao primeiro sinal de desagrado, manda alguém meter mãos à obra para que o seu eleitorado seja feliz. Numa cidade onde a política é um conceito muito peculiar, continua a faltar uma política de proximidade. Temos freguesias, mas não temos juntas; não temos câmaras nem assembleias municipais que se preocupem com as pequenas grandes coisas. Quem deveria ter outro tipo de causas e de discurso aproveita-se com facilidade destas fragilidades locais.
Atendendo às características de parte significativa do eleitorado de Macau – convém recordar que Chan Meng Kam tem os seus apoiantes concentrados na freguesia com maior densidade populacional de Macau, que parece fazer parte de outra cidade do que aquela onde fica a Assembleia Legislativa –, é impossível mudar, a curto prazo, a mentalidade de que o voto está para venda e tem um preço. Como diz Leonel Alves, de nada adianta proibir os jantares que se multiplicam por altura das eleições: se não puderem ser feitos cá, mudam-se para Zhuhai ou para as terras de origem.
Neste contexto, sendo muito difícil convencer cada eleitor de que o sentido de voto só a ele lhe diz respeito e que o voto é um exercício de liberdade, a solução tem de ser encontrada junto de quem pretende ser eleito. Esta semana ouvimos várias sugestões do que deve ou não deve ser feito: repensar a questão da imunidade é a que me parece, desde logo, mais eficaz. Se pessoas que trabalham na máquina eleitoral de candidatos a deputados são condenadas, a culpa não pode ser assumida apenas por quem agiu a mando, sem qualquer responsabilidade política.
Como se fosse uma grande novidade. O Verão vai passar e o tempo político talvez se torne menos tonto. E, como tudo, também isto vai cair no esquecimento. Gostava de estar enganada, mas os mecanismos de transparência que se prometem na revisão da lei eleitoral de pouco ou nada servirão. Em 2017 há mais eleições e vai ser tudo na mesma. Como se fosse uma grande novidade.

24 Jul 2015

Jason Ferreira, engenheiro electrotécnico

[dropcap style= ‘circle’]Q[/dropcap]uase a completar um ano de residência no território, Jason Ferreira mostra-se rendido a Macau. “Lembro-me de chegar a Macau no final do dia, respirava-se um ar muito denso e estive duas horas à espera que me fossem buscar”, relembra o jovem engenheiro.
O mau momento foi imediatamente ultrapassado quando o recém-chegado pousou as malas naquela que seria a sua nova casa. “Era uma casa incrível. Com espaço, bonita e com uma vista para Macau de apaixonar”, descreve.
O ‘clique’ pelo território tinha acontecido e o jovem engenheiro começou a achar que conseguia adaptar-se na perfeição a este lado do mundo. Um bom grupo de colegas de trabalho – que mais tarde viria a torna-se num grupo de bons amigos -, novas amizades, um trabalho desafiante e um mundo a explorar são agora os pontos que tornam a estada de Jason Ferreira muito mais interessante.
“Uma das primeiras aventuras que me lembro é de adormecer logo no segundo dia de trabalho por causa do jet lag”, conta divertidamente ao HM. O engenheiro vinha de Portugal, mas no currículo já contava com experiências profissionais em vários países. Brasil, Angola, Ceuta, Tanzânia, Singapura e muitos outros foram alguns dos sítios onde trabalhou. O que tornou as coisas mais fáceis.
“Estou habituado a adaptar-me a todo o tipo de cultura, isso é o mais entusiasmante das experiências fora da nossa zona de conforto”, defende, acrescentando que Macau é um “sítio especial pela história portuguesa que traz conseguido e transpira nas ruas”.
Um local onde, tão longe de casa, esta parece estar perto. Jason Ferreira assume-se completamente adaptado, mas admite que não é local onde irá construir a sua vida. “Preciso de praia perto de mim e Macau tem esta lacuna gigante, a qualquer sítio que vou é um dos meus pontos obrigatórios. Até podemos ir a Hong Kong ou à Tailândia com mais tempo, mas não está aqui ao meu lado como eu quero que esteja”, defende.

[quote_box_left]“Olho para o mundo do trabalho em Macau e vejo o seu crescimento contínuo. Macau cresce todos os dias. Todos os dias vemos coisas a crescer, é de facto um crescimento bastante interessante, o que é óptimo”[/quote_box_left]

Saudades que falam

Filho de portugueses, nascido no Canadá, Jason Ferreira cresceu bem no centro de Portugal, em Fátima. Quando lhe perguntamos o que mais sente falta, visto ser altamente adaptável a diferentes culturas, Jason, entre sorrisos, diz-nos que nada substitui as pessoas.
“A minha família, os meus amigos e a minha namorada são o que mais sinto falta, seja em que país for”, admite, sublinhado a falta que o carro lhe faz. “Adoro o meu carro e conduzi-lo e aqui em Macau, apesar de conduzir, o espaço territorial é diminuto e há imenso trânsito, por isso a sensação de conduzir não é tão boa, tal como é em Portugal”.
Um dos seus passatempos preferidos é a cozinha. Considerando o seu gosto pela preparação de “uns bons pitéus”, Jason Ferreira gosta de juntar os amigos à mesa e prolongar os serões dos fins-de-semana com boa conversa e bom vinho. Sendo também o próprio um apreciador de gastronomia, em Macau encontrou um ponto no mundo que une os vários tipos de culinárias existentes no meio asiático e não só.
“Gosto especialmente [do facto] de aqui existir uma diversidade muito grande no que diz respeito à gastronomia. Se quisermos comer comida coreana, chinesa, macaense, portuguesa, tailandesa ou até italiana encontramos aqui. Em qualquer lado ou esquina existem várias opções. Difícil é escolher”, relata.
No entanto há uma falha tremenda para lamento do engenheiro. “O café só em casa”, ri-se. A bica tão portuguesa ainda não chegou a Macau e, ao final de um ano, Jason ainda sente falta dessa forma de terminar uma refeição.

Futuro à vista

Sem grandes respostas, Jason Ferreira não sabe o que o futuro lhe reserva, até porque a sua vida tem sido sempre uma surpresa no que diz respeito ao local de trabalho.
“Olho para o mundo do trabalho em Macau e vejo o seu crescimento contínuo. Macau cresce todos os dias. Todos os dias vemos coisas a crescer, é de facto um crescimento bastante interessante, o que é óptimo”.
Mas, pessoalmente, diz, tudo é uma incerteza. A única certeza que traz consigo é que o seu contrato de trabalho termina já no final do ano. Depois…
“Depois disso, logo se vê, não se podem fazer planos a longo prazo”, remata, mostrando-se pronto para abraçar qualquer desafio, seja em que país for. Ainda assim “andar sempre com a mala atrás começa a ser desgastante” e, por isso, um dia, o engenheiro quer voltar a Portugal para aproveitar o que de lhe melhor o seu país tem.

24 Jul 2015

Olhem de novo

Eduardo Flores*

[dropcap style= ‘circle’]B[/dropcap]oca amiga já mo tinha soprado à orelha. Duvidei, mas não muito. Tenho Macau entranhado na pele, como o sarro de um mineiro de carvão.
O Tap Seac é a Ágora cultural de Macau. Salvou-se de desaparecer por via de lhe cobrirem o relvado com a “coisa desportiva” – ou coisa assim – que afinal foi esmagar a Escola Sir Robert Ho Tung. Não se livrou, a Norte, felizmente com um bom desenho, da tampa do túnel. Que sanha haverá contra ele?
A seu tempo defendi que a nova Biblioteca Pública deveria ser uma ampliação para o outro lado da Praça. Mais tarde, quando o inevitável parecia aí, do mal o menos, por que não lá colocar a Escola Portuguesa, já com piscina e tudo? Talvez uma boa maneira de salvar a piscina. Piscina que é só mais um exemplo a precisar de reabilitação e restauro, não de liquidação.
Foi a Escola Sir Robert Ho Tung, a Escola Primária Oficial, o neo-mourisco das Conservatórias na Sidónio Pais e, aqui também, mas mais acima, as vivendas da “Secessão”. Sobra o edifício da antiga Escola Comercial Pedro Nolasco “preso pelos fios” que são a Escola Portuguesa. Sem falar no Jardim Vasco da Gama, “levantado do chão”. O pequeno bairro chinês da Av. Coronel Mesquita; no Porto Interior, o edificiozinho dos CTT, decadente e violentado no rés-do-chão… Claro que temos as raridades da Casa do Mandarim e da Casa do Loucau.
É muito longa a lista das pequenas peças do nosso importante património. Quase todas pequenas, modestas até, inclassificadas… Quase todas abatidas.
O “novo Estoril” (peço desculpa, é o que dizem, mas já duvidei do “diz que disse” que aqui me traz) vai ter o volume da “coisa desportiva”, sobretudo se a Piscina Municipal for mesmo à vida e incluída no plano do novo edifício. É mentira ou estão a esquecer-se de falar nisso? A relação ainda existente entre a Praça e a Colina da Guia desaparece, mas isso não é património de valor, parece.
Triste, desapontado mas, confesso, não demasiado surpreso.
Os Arquitectos não são advogados, (enfim… um pouco, por vezes, até somos) e é difícil, admitamo-lo, todos por lá passámos – muito difícil – recusar um contrato.
Mas não temos a obrigação sequer de fingir que acreditamos na causa. Cumprimos programas. Não nos podem obrigar a gostar deles.
E temos, isso sim, a obrigação do conselho crítico ao cliente.

[quote_box_left]Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontroverso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. A questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar[/quote_box_left]

Sei-o por mim. Sei-o pelos meus pecados. Mas nenhum cliente me tratou mal ou me despediu por lhe dizer a verdade.
Podem “obrigar-nos” a defendê-los. Podemos querer defendê-los. Mas não devemos, que isso é muito feio.
Que fique claro, sou um simples e pequeno arquitecto, daqueles que vão morrer. Sei que falo para o Olimpo. De mim fiquemos por aqui. Hotel Estoril
São os Desígnios. Persistem os Desígnios Superiores, a que temos vindo a ser sujeitos, para suportar subtracções impunes à paisagem da memória. Da gratuita subtracção do edificiozinho dos Serviços de Meteorologia – substituição por pastiche, como também os do Largo de S. Domingos – ao prédio do Fai Chi Kei, ao… Hotel Estoril? Como disse, a lista é enorme.
O importante património de Macau é este, feito de pequenos edifícios e até pequenas memórias. Algo parecido com Grande Património temos as Ruínas de São Paulo. Talvez qualquer coisa mais, mas não me lembro.
Foi a opção incontroversa. Já a reconstrução da ardida Baixa de Lisboa foi assim.
Deixemo-nos de tretas, o Siza não gera controvérsia. É por valor próprio incontroverso. O prédio que ele ali fizer será, no mínimo, tão bom quanto o velho Hotel. A questão não deveria sequer passar por aí. É se deverá ali estar.
Não vai é ser a história do Estoril, épica e pecaminosa. Ombro a ombro com famílias em lazer de águas. A não contar história nem estória – a menos que seja esta, triste. Não vai ser uma forma identificadora assim tão cedo, se alguma vez o for.
Nem vai provocar a tristeza de um Dédalo, a quem estas asas queimadas nada dizem.
Não sei o que leva alguém a achar o Estoril abatível, nem de perto quanto mais assim à distância. Removível, sem mágoa, da memória, quando ele é memória.
Em fim de vida, o Estoril foi, eventualmente, o maior lupanar de Macau. Antes disso foi, para o melhor e, muito, para o pior, seminal na moderna indústria do jogo em Macau. Mesmo assim, e por isso tudo, merece o nosso respeito.
Além disso o prédio é bom. É delicado. Ao menos a fachada…
E a piscina – história, arquitectura e a importância de bairro – é para outra ocasião.
Ver a cidade como um amontoado de prédios, onde uns têm valor porque são plasticamente interessantes e os restantes não importam, não me parece um processo humanístico de construir e manter uma cidade. Mas o processo é, no fundo, confrangedoramente simples, só a ganância o complica.
Até há patrimónios artificiais que é preciso respeitar, como o memorial ao Dr. Sun Iat Sen (apesar de raramente se lembrarem do Dr.) e a casinha do General, na Coelho do Amaral. Mas isso é outra conversa, embora coubesse aqui, no nosso importante património.
Citando não sei bem quem: “o arquitecto Siza Vieira terá aconselhado o Executivo a demolir a fachada do espaço”; “aconselhou a que a fachada do edifício não fosse mantida”. Isto tudo após “trocar impressões sobre a protecção do património cultural”, e “porque considera que esta (fachada) não integra o importante património cultural de Macau.”
Esta declaração pública, da ausência de qualidade arquitectónica do velho Hotel e da sua insignificância destrutível, é agressiva, cruel e ofensiva. Do Siza?!
Reflecte a opinião dos que querem pensar assim, fazer pensar assim e dos convencidos a pensar assim. Se calhar, depois, até pensam que pensam mesmo assim. Complicada a frase? Esperem até ouvir os que pensam mesmo assim…
Parecem esquecer que o património edificado não se estabelece apenas na qualidade arquitectónica do construído – por aí, mais facilmente admitiria eu (mas não admito) que se demolisse o velho Tribunal – o Palácio (!) das Repartições, chamavam-lhe.
Aliás, vendo bem, tudo isto é difícil de acreditar. Vejamos o que dirá agora o Arquitecto Siza Vieira, quer se digne quer se indigne. Ainda espero que se indigne por a história estar mal contada, mesmo que seja também comigo.
Depois há o tempo e o dinheiro, que parecem escassos nesta rica cidade de tanto frenesim.
Dez anos a deixar apodrecer uma estrutura sem préstimo para de repente ser urgentemente necessária. E o Grande Hotel, para lá caminha?
O património sai caro? Pois sai, por aí era melhor nem ter havido candidatura a Património da Humanidade. E que tal poupar no património para se aumentarem ainda mais as participações pecuniárias?
Há pressões incomportáveis sobre a malha antiga? Já nos anos 80 se falava que se deveriam criar instrumentos legais que transferissem direitos das áreas históricas para as novas áreas de expansão. Entretanto passaram a Baixa da Taipa, a ZAPE, os NAPE, a Areia Preta, o COTAI e, agora, os Novos Aterros – 5 ATERROS. Cinco.
É, é de se ficar aterrado.

*arquitecto

24 Jul 2015

Wynn Cotai | AL rejeita atender a petição da IUOE sobre terreno

A Assembleia Legislativa (AL) rejeitou o pedido de ajuda da União Internacional de Engenheiros Operacionais do Nevada (IUOE, na sigla inglesa) sobre a investigação e pedido de reembolso de 50 milhões de dólares americanos à Wynn. Numa carta enviada à entidade, accionista da operadora de Jogo, Ho Iat Seng diz que enviou a petição ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC).
Recorde-se que a IUOE enviou uma petição aos deputados no mês passado, pedindo que actuem para que a Wynn receba uma indemnização no valor de 50 milhões de dólares americanos. O valor corresponde ao alegado montante que a operadora teve de pagar a uma empresa de Pequim para conseguir ficar com o terreno que tem actualmente no Cotai. Num email enviado ao HM, a IUOE explicava que o objectivo da carta era pedir aos deputados que ajudem a descobrir “se os oficiais do Governo agiram dentro da sua autoridade legal, ao prometerem os direitos de concessão do terreno no Cotai ao grupo de Ho Ho (empresário da Tien Chao), sem documentarem o caso”.
Agora, a resposta do presidente da AL surge, tendo sido reencaminhada ao HM pela IUOE. Na carta, pode ler-se que a petição foi enviada para o CCAC, uma vez que a AL não tem poder para fazer nada. wynn cotai
“A decisão tomada fundamenta-se no facto de o objecto da petição não se enquadrar no âmbito das competências da AL, pelo que, apontado o teor da petição, para áreas de investigação que fazem parte das atribuições do CCAC, para aí se remete a mesma”, pode ler-se na carta.
O presidente do hemiciclo diz ainda que a carta foi enviada também para o Chefe do Executivo, Chui Sai On.
Recorde-se que, no mês passado, o HM questionou alguns deputados sobre o apoio à petição apresentada, mas apenas Au Kam San considerou ser necessário que a AL enfrente o Governo com esta questão, “porque nunca há respostas concretas”, diz, da parte das Obras Públicas.
O deputado apontava mesmo que esta situação pode não ser a única e, que pelo interesse público, a AL deveria averiguar e pedir mais esclarecimentos sobre a situação.
Recorde-se que o CCAC está ainda a investigar o caso. A IUOE enviou pedidos de informação para outros departamentos do Governo.

23 Jul 2015

A lucidez implacável

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante a nossa vida, a de todos nós, existem momentos que implicam decisões, quantas vezes irreversíveis. É nesses momentos que duvidamos, disto e daquilo, de nós e dos outros, num justificado temor pelo que se nos apresenta obscuro mas incontornável.
Pode ser uma viagem, um amor, um trabalho e até um emprego. Algo de radicalmente diferente que se ergue no horizonte e para o qual caminhamos como num sonho, qual pássaro para a boca de uma serpente.
Surge-nos então a ideia de destino, de inevitabilidade: um pensamento fatal, inoportuno à razão mas agradável ao nosso pobre coração. “É assim, não pode ser de outra maneira. Não o podia evitar”, dizemos então, mais consolados, mais perdoados, perante nós mesmos.
Mas, lá no fundo, nesse fundo maldito onde tantas águas negras subtilmente se agitam, nesse abismo inconstante que impudicamente nos habita, permanece o rugir da descrença, a certeza da responsabilidade e da escolha. “Nada está escrito… que não possa ser reescrito”, imprecam os grandes malditos, que se erigem em modelos a seguir. Decisões
Como sobreviver e aceitar não ser isto para ser aquilo? Como não ser tudo ao mesmo tempo? Trabalhador e viajante, marido e amante, pai e amigo, operário e escritor. Como não ser isto tudo e de uma só vez, num só e imenso fôlego? E ser ainda mais, à medida das nossas impossibilidades.
Surge então a lucidez, prima da razão, irmã do bom senso, madrasta da grande vida. Para nos dizer da sua lavra. Para nos encerrar os desejos num cofre pesado e atirá-lo ao mar. Para conter nos limites do curral. A lucidez implacável, essa luz sem piedade que nos dá o mundo e rouba os sonhos, que nos faz sérios e nos oculta o que é realmente sério para a vida.

23 Jul 2015

Fundação Macau | Lao Ion Fai nomeado para Conselho de Curadores

Lao Ion Fai é o mais recente membro do Conselho de Curadores da Fundação Macau. A nomeação foi feita pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, ele próprio membro da Fundação. Lao Ion Fai pertenceu à Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo e é secretário geral da Associação Geral dos Operários de Macau, tendo recebido ainda uma Medalha de Serviços Comunitários em 2012. A nomeação teve efeito a partir de 9 de Julho.

23 Jul 2015

Consulta Pública para Hotel Estoril | Projecto em consulta pública

Decorre a consulta pública que pretende reunir “ideias para o reaproveitamento do antigo Hotel Estoril e da Piscina Municipal Estoril” já está a decorrer. Os interessados poderão até dia 20 de Agosto entregar as suas opiniões às autoridades competentes. No dia 2 de Agosto decorrerá a primeira sessão de recolha, pelas 16 horas, no Pavilhão A do Pavilhão Polidesportivo do Tap Seac, mas o texto de consulta pode ser descarregado no site do Instituto Cultural. . O Governo está a considerar o reaproveitamento do hotel em causa para a construção de um edifício que reúna áreas como a cultura, as artes, a educação, o desporto e o lazer, incluindo também o Conservatório de Macau, transformando o espaço num Centro de Actividades Culturais, Recreativas e Desportivas para Jovens.
Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura

23 Jul 2015

Au Ieong Kit é novo administrador da Parque Industriais de Macau

Au Ieong Kit foi ontem nomeado como administrador da Sociedade para o Desenvolvimento dos Parques Industriais de Macau, Limitada. O anúncio foi publicado em Boletim Oficial, num despacho assinado por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, e Au Ieong Kit, que é também chefe de Gabinete do Secretário, representa a RAEM em regime de acumulação de funções.

23 Jul 2015