EI | Grupo arrasa símbolos da cidade. Memória exterminada

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Edição de 28 de Agosto de 2015
[dropcap style=’circle]F[/dropcap]oi em meados de Maio passado que o Estado Islâmico (EI) primeiramente ocupou Palmira, começando com uma vaga de homicídios e repetidas ameaças da destruição do local, classificado pela UNESCO como Património Mundial. De acordo com a Reuters, foram mortas cerca de 400 pessoas nos primeiros quatro dias de ocupação do EI em Palmira, há três meses. Dias depois, foi a vez das forças do presidente sírio Bashar al-Assad atacarem o local então liderado pelo EI. Este foi, segundo o director do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla inglesa), Rami Abdel Rahman, um dos ataques mais intensos desde a semana anterior, quando o controlo da cidade teve lugar. “Desde esta manhã [dia 25 de Maio], aeronaves do governo executaram pelo menos 15 ataques aéreos a Palmira e arredores”, disse Rahman. Uma fonte militar síria confirmou ao website DW que tiveram ainda lugar várias outras acções militares nessa altura. “Operações militares, inclusive ataques aéreos, estão em curso na área ao redor de al-Sujna, Palmira, Arak e nos campos de gás de al-Hail, bem como nas estradas que levam a Palmira”, afirmou uma fonte não identificada ao website.

Erradicar fundamentalismos

Francisco Leandro é um professor na Universidade de São José doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais que esteve em Palmira e outras zonas do Médio Oriente em 2009. Em declarações ao HM, sugere, como vários especialistas, a erradicação do fundamentalismo para cessar os avanços do EI. “O potencial destruidor dos crimes de guerra, em especial dos crimes de género em conflitos armados, é incomparável com outros tipos de crime”, começou por dizer. “Infelizmente, os líderes do ISIS cedo compreenderam esta minha afirmação e infelizmente praticam-na na perfeição: travar este flagelo implica erradicar os fundamentalismos”, acrescentou.

O académico apontou que um património daquele valor é irrecuperável. “Uma destruição destas pode ser minimizada, mas nada voltará a ser como era. Aquando da minha estada na Síria, tive oportunidade de observar o esforço imenso da comunidade internacional, designadamente de Itália, nos trabalhos de recuperação, classificação e preservação do património histórico da Síria”, começou por dizer Francisco Leandro. A isto, o professor acrescentou que a presente perda “acarreta também a perda” de um esforço com o qual o governo sírio sempre contou. “Este é um dano civilizacional irreparável”, colmatou. Questionado sobre as formas de parar os avanços do EI, Francisco Leandro considera que se trata de uma guerra que vai beber aos ideais e usa a manipulação psicológica, sendo por isso, mais complexa de travar.

O califado da discórdia

Embora também em Junho e Julho se tenha assistido à destruição de estátuas e outros artefactos icónicos – como a peça do leão de al-Lat, que data do século II e foi descoberta em 1975 –, o anúncio da explosão do templo Baal-Shamin surgiu no início desta semana, com um especialista em antiguidades sírio, Maamoun Abdulkarim, a apontar que o sucedido tenha tido lugar no passado dia 23. “Temos dito vezes sem conta que eles iriam primeiro aterrorizar as pessoas, e depois, quando tivessem tempo, começariam a destruir os templos”, disse à agência Reuters Abdulkarim. “Palmira está a ser destruída perante os meus olhos. Que Deus nos ajude”, lamentou o especialista.

No entanto, parece não haver consenso na data da destruição, já que o SOHR refere que o desmantelamento aconteceu há cerca de um mês. Seguindo as contas de Abulkarim, a destruição aconteceu apenas dias depois da facção radical ter decapitado o antigo responsável pelos museus e antiguidades de Palmira, Khaled al-Assad, de 82 anos. Actualmente, cumpria funções como consultor do local e a sua execução aconteceu, de acordo com o Observatório, porque o responsável se recusou a revelar o local secreto onde foram escondidas algumas das estátuas antes da chegada do EI a Palmira. Além deste homicídio, o EI publicou ainda notícias sobre um massacre de “infiéis” no anfiteatro de Palmira, há dias.

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Graeme Wood escreveu, na edição de Março da revista britânica The Atlantic, um artigo denominado “O que o EI [Estado Islâmico] realmente quer”, onde explica as intenções e a filosofia interna do grupo. Wood começa por dizer que poucas forças internacionais conhecem realmente os contornos da lógica que move o EI, referindo que há profundas diferenças entre o actual regime comandado por Abu Bakr al-Baghdadi e o de Bin Laden, a Al Qaeda. “Bin Laden perspectivava o seu terrorismo enquanto prólogo de um califado que não seria formado durante a sua geração. A sua organização era flexível, operando uma rede geograficamente difusa de células autónomas. Em contraste, o EI só se legitima através da conquista de território e é composto por uma estrutura hierárquica”, esclarece Wood.

As estátuas dos infiéis

De acordo com notícia do periódico The Week, o templo de Baal já havia sofrido um ataque com morteiros em 2013 e acredita-se que este tenha sido perpetrado por milícias sírias. Contra este movimento em crescimento acelerado estão vozes internacionais, às quais se juntam poderosos líderes do mundo árabe, que sendo muçulmanos, censuram as atitudes do EI e afastam qualquer relação com esta facção. Também Irina Bokova, directora da UNESCO, condenou a destruição dos artefactos como um “crime de guerra”, dos piores da história. A grande pergunta, no entanto, é “porque razão está o EI a destruir património mundial”? A destruição de Palmira consta, de acordo com vídeos publicados pelo próprio EI, do plano de conquista deste grupo radical muçulmano. O jornal New York Times (NYT) escreveu mesmo que o ataque a Palmira serviu para obliterar todas as restantes culturas e religiões do califado desta facção radical. O NYT citava os vídeos da destruição: “Os monumentos que vêem por trás de mim não são mais do que estátuas e ícones de pessoas de séculos anteriores, usados para a adoração em vez de Deus”. No ecrã, lia-se ainda “aquelas estátuas não são do tempo do Profeta e dos seus companheiros. Foram criados por Satânicos”.

Verdadeiramente religiosos

O artigo do The Atlantic refere que o que inicialmente parece um velado apoio ao Estado Islâmico é, na verdade, um esclarecimento para perceber como combater esta força. Para Wood, este é o grupo religioso que mais pura e radicalmente cumpre a doutrina de tempos antigos. “Quase todas as grandes decisões e leis promulgadas pelo EI seguem criteriosamente a ‘Metodologia Profética’, seja nos seus media, placards, matrículas ou moedas”, escreve o autor. Wood refere o óbvio: “quase todos os muçulmanos recusam o EI”, mas isso não faz com que as acções do grupo não sejam o espelho da profecia escrita há milénios.

A revolta do EI

O mundo começou a ter – uma pequena – percepção da força do Estado Islâmico ainda em 2002, quando o presidente dos EUA George W. Bush declarou a inclusão do Iraque no ‘Eixo do Mal’, lista de países ‘non-grata’ para o governo norte-americano. Em 2003 o conflito intensificou-se e Bush prometeu usar força bélica caso necessário, justificando, através de comunicações públicas, que o Iraque escondia e possuía “algumas das mais letais armas jamais inventadas”. A existência deste tipo de artilharia nunca foi oficialmente provada. As tropas da aliança com os EUA acabaram por abandonar o Iraque, mas não sem antes capturarem Saddam Hussein, um dos maiores ditadores modernos. Foi por volta desta altura que o EI começou a ganhar relevância enquanto proclamador de um regresso aos tempos em que o mundo estava dividido em califados.

De Mosul a Palmira

Segundo o mapa do califado do EI, criado pelo Instituto de Estudos Bélicos em Janeiro, a facção controla uma linha de terra que vai desde a cidade síria de Aleppo até perto de Ramadi, no Iraque. Há ainda outras zonas, como são parte da fronteira da Síria com a Turquia. O mesmo mapa define zonas de ataque, onde a facção se encontra em guerra. Estas ocupam Fallujah – igualmente importante durante a invasão norte-americana –, e Bagdad. Outra grande parte do documento está pintada de cor-de-rosa, simbolizando zonas de apoio ao governo de Baghdadi. Estas compõem um espaço triangular desde perto de Damasco, passando por Aleppo, Mosul, Bagdad e Ramadi.

Em Fevereiro teve lugar um outro ataque igualmente grave ao património mundial. Foi a vez de militantes do EI destruírem artefactos em Mosul, com direito a imagens dos momentos. Nos vídeos captados, ouvem-se palavras semelhantes àquelas proferidas em Palmira. “Este ataque é muito mais do que uma tragédia cultural – também é um assunto de segurança, porque alimenta o sectarismo, o extremismo violento e o conflito no Iraque”, afirmou na altura a directora da UNESCO, Irina Bokova.

Reacção semelhante teve a direcção do Museu nova-iorquino Metropolitan, que descreveu o ataque como “catastrófico” num dos museus “mais importantes do Médio Oriente”. No dia anterior, os radicais haviam feito explodir um mesquita no centro da cidade. O arquitecto Ihsan Fethi lamentou uma “perda terrível” e justificou o acto por dentro da mesquita estar um túmulo que serve de objecto de adoração para os fundamentalistas. Já em Fevereiro, o ministro iraquiano do Turismo e Artefactos, Adel Fahad al-Shirshab tinha censurado a conduta do EI. “Este genocídio cultural contra a humanidade iraquiana tem que ser imediatamente travado antes que o EI destrua tudo o que resta”, disse.

28 Ago 2015

Para que serve a ONU?

[dropcap style=’circle]A[/dropcap] propósito da recente destruição do templo de Bel, em Palmyra, e do assassínio de Khaled Assad, eminente arqueólogo sírio de 82 anos, muito se tem discutido sobre o que vale mais: as pessoas ou as pedras. Ou: trocar-se-ia a vida de uma pessoa pelas obras completas de Shakespeare? Estas perguntas são estúpidas e mal intencionadas. E isto porque se trata de uma e da mesma coisa. A vida de nada vale sem a memória e a memória é a vida de milhares de pessoas, o que delas resta e nos sustenta como humanos durante as nossas vidas. Nós não existimos sem a memória e a memória também não existe sem nós. Somos uma e a mesma coisa, por isso ambas têm de ser defendidas a todo o custo.

Será que é assim que acontece? Não. Inúmeras vidas e património universal da humanidade são diariamente destruídas perante os olhos impassíveis dos que neste mundo detêm o poder. As perguntas que se impõem perante a escravatura e abuso de crianças, execuções em série de inocentes, limpeza étnica, destruição de artefactos de valor histórico-cultural incalculável e insubstituível é: Por que razão não intervém a ONU de modo a pôr cobro às atrocidade do ISIS? Que empecilhos existem à formação de uma força internacional que extirpe de vez esta raiz? Que outras atrocidades ou eventuais acções justificarão então a existência da ONU?

Nunca, desde a II Guerra Mundial, ou seja, desde a sua criação, que a ONU não desempenha um papel tão ridículo e tão ineficaz, como no actual conflito no Médio Oriente. Parece claro que nenhuma nação no mundo apoia a ideologia que o ISIS quer implantar no mundo, nem as práticas desenvolvidas para o conseguir. No entanto, as grandes potências, com assento no Conselho de Segurança, assistem imperturbáveis a crimes que se acreditavam impossíveis no século XXI. Se assim é, no limite, para que serve a ONU?

28 Ago 2015

Palmyra | Crónica de uma morte abominada

[dropcap style=’circle]A[/dropcap] leste de Aleppo fica o grande lago Assad, um reservatório artificial que recolhe as escassas águas da região. Para sul, fica o deserto. Foi por ele que nos embrenhámos, ainda de manhã, para chegarmos a Resafa pela hora de almoço. Bastaram alguns quilómetros para que a vegetação começasse a rarear e na estrada alcatroada deparássemos com episódios de areia, enxotada pelo vento. A promessa era que estaríamos em Palmyra, “a noiva do deserto”, antes do pôr-do-sol.

Ali mesmo, em frente ao restaurante, ficavam as ruínas de uma antiga cidade romana. Muhammad olhou descrente o meu interesse. “Já passa do meio-dia. Está muito calor. C’est fou”. E era. Fui despejando água pela cabeça, enquanto visitei Sergiopolis, também denominada por um breve tempo Anastasiopolis, uma cidade construída pelos romanos, como posto avançado do exército, muito perto do império persa, com quem os césares partilhavam a glória de dominarem o mundo conhecido. Com algum custo sobrevivi e foi bom. São ruínas magníficas, exiladas no deserto, onde abunda o alabastro, a pedra que adquire as intonações do céu. O sol pregava-me ao chão. A água secava em menos de um minuto. Pensei como deveria ser belo aquele lugar à noite, iluminado pela lua do deserto. Mas algures, no meio daquela terra devastada, esperava-me Palmyra e as suas belezas prometidas. Era tempo de nos metermos ao caminho.

Dizem os vestígios arqueológicos que a mais antiga referência a Palmyra data de dois mil anos antes da data à qual se atribui geralmente o nascimento de Cristo. Foi descoberta na Capadócia. A sua existência deve-se, fundamentalmente, a uma fonte que ali miraculosamente surgiu no meio daquele nada. São 80 litros de água sulfurosa por segundo, a uma temperatura constante de 33 graus centígrados, que continuamente brotam da inesperada nascente, verdejando o mundo à sua volta. Chama-se Afqa e é tida por um milagre pelas mais diversas crenças e religiões.

Quando os gregos de Alexandre e os romanos de Pompeu por ali passaram, depararam com um oásis fértil e habitado principalmente por comerciantes, que distribuíam mercadorias dos quatro pontos cardeais e dos poderes neles instituídos. O balançar suave das palmeiras, que por ali predominavam, levaram-nos a crismá-la de Palmyra e a sua fama ressoou pelos impérios do Ocidente. Marco António pretendeu oferecê-la como presa fácil aos seus cavaleiros mas os comerciantes avisados transferiram atempadamente todas as suas riquezas para o outro lado o rio Eufrates, provocando o riso dos persas que, à época, tinham péssimas relações com os homens do Tibre.

Anos mais tarde, com o fortalecer do império romano na região, Palmyra reconheceu o domínio mas, segundo os historiadores, este nunca foi factual, ou seja, os comerciantes de Palmyra, enquanto entreposto entre dois impérios inimigos, conseguiam manter a equidistância e fazer valer a necessidade da sua existência, à parte das guerras que então grassavam.

A partir do século II, Palmyra torna-se num emirato árabe, estreitamente relacionado com Roma, o que lhe permitiu, também sob o pretexto de proteger o comércio, formar um poderoso exército, cuja acção ajudava os romanos, por exemplo, contra os judeus. “Felizes os que assistirem ao fim de Palmyra…”, diz no Talmude e tal não é por acaso. Depois da visita do imperador Adriano, no ano 129, a cidade foi considerada “livre” e deixou de pagar impostos aos romanos. Curiosamente, a atitude do imperador, ao invés de afastar os habitantes da cidade, fez com que as suas relações se tornassem cada vez mais estreitas, sobretudo a nível cultural e pessoal. A cidade conheceu um extraordinário desenvolvimento, o que é patente nos vestígios arqueológicos, que testemunham uma civilização híbrida, com um fundo greco-romano muito forte, mas influências diversas e bem visíveis, na escultura, na pintura, no vestuário e na arquitectura.

É penoso viajar no deserto, mesmo numa carrinha com ar condicionado. Pelo caminho, cruzámos diversos grupos de nómadas, dispostos em acampamentos de autocaravanas. Antenas montadas no exterior garantem-lhes a televisão. Não há camelos. “São coisa para turistas”, diz Muhammad. Também não há tendas. O nomadismo já não é como dantes. As casas sim, surgem antigas, na sua simplicidade de cubos brancos ou chaminés-de-fada, para proteger da canícula. Emergem do deserto, não muito longe da estrada, entre ondas de calor que se evolam da terra crestada e inútil, tornando grosso o ar. Há nelas a irrealidade do edifício da kaaba. Como imaginar os quotidianos que à sua sombra se desfiam?

Finalmente, uma planta, algo verde, vacilante é certo, mas verde, não muito longe da estrada. Mais adiante, um outro tufo, que me faz crer na proximidade da cidade, do celebrado oásis da fonte Afqa, na cidade tomada por Alexandre, depois pelos generais romanos, cujas construções a imortalizaram. Eis palmeiras, a ladear ruas, eis Palmyra, eis a noiva do deserto, a desolação que eu trago ainda nos olhos e nos lábios ressequidos. Percebo como os beijos da tua água restituem a vida.

E, já refeito, vocifero a Muhammad: “É tempo de subirmos ao castelo, antes que sol se esconda”. E lá vamos colina acima, donde ele nos olha sobranceiro, fitando do outro lado uma imensidade de areias e rochas, sobre a qual um sol moribundo se espreguiçava. Subi à torre e olhei entre as ameias. Escrevi : “Ainda antes de o sol se esvair no horizonte, uma bruma cobre de ouro antigo as coisas, o vento ergue uma poeira diáfana e sentimental.” Fazia calor e soprava um suão forte, amarelado. Era um belo castelo árabe, construído depois da expansão da fé. Cá em baixo, estendia-se a cidade, não muito grande, polvilhada de ruínas em quase toda a sua extensão. O resto são pequenas casas, um pequeno comércio, muito distante do seu esplendor de outrora. Gentes gentis. De má catadura, sorriso cortês e bom trato.

Já no século III, reinou em Palmyra uma mulher célebre, a rainha Zenobia, cuja lenda se confunde com uma realidade recentemente mais assertiva pela descoberta de documentos ainda desconhecidos. Contudo, a sua fama não se prende tanto com o tempo que esteve no poder (apenas cinco anos), mas com a sua beleza e personalidade. Zenobia, esposa de um dos mais poderosos líderes de Palmyra, emulava as grandes rainhas do passado: Semiramis, Dido e Cleópatra. O aparecimento do império sassânida, que substituíra os partos no mundo persa, trouxera focos de dissidência e conflito, facto aproveitado por Zenobia para aumentar e fortalecer o seu próprio reino. E, de facto, por um breve período, Palmyra atingiu o seu apogeu. Cercada pelos exércitos de Aureliano e com poucas hipóteses de resistência, escreveu ao imperador: “Pedes-me para me render, mas não sabes que Cleópatra preferiu morrer a viver humilhada?”

Já nas décadas anteriores, fruto das boas relações com Roma e com a chegada ao poder do líbio Septimo Severo, Palmyra conhecera o surto de construção, que constitui a maior parte das ruínas que chegaram aos nossos dias. Zenobia herda uma cidade magnífica, onde existe uma forte tradição romana, mas onde é bem nítida a influência oriental. Algumas das construções que sobreviveram são as torres funerárias, onde as famílias com mais posses sepultavam os seus mortos, dotando os túmulos com estátuas dos defuntos, o que nos arrasta numa viagem indescritível pelas faces e pelas expressões santificadas na pedra das pessoas que pisaramesta terra mil e tal anos antes de nós.

É em nome deles, do Muhammad e daqueles jovens com partilhei um cibercafé em Palmyra, que me horrorizam os acontecimentos recentes. Este texto é escrito graças ao livro do arqueólogo Khaled Assad, assassinado pelo ISIS, aos 82 anos, por não querer revelar o paradeiro de valiosos artefactos, escondidos antes da chegada dos bárbaros. Presumo que tenha morrido de consciência tranquila, na defesa da sua cidade, a quem realmente entregou a vida.

Saí de Palmyra com a sensação de ter estado num dos sítios mais especiais deste planeta, num local miraculoso, cravado no centro do deserto. É verdade que a umas centenas de quilómetros moureja o Eufrates, o rio mítico da minha infância, cuja fonte se encontra no Paraíso. Tinha-o contemplado de uma ponte, em estesia pela semelhança daquela visão com o que eu sempre imaginara: um curso de água delicado, pontilhado de ilhotas apalmeiradas e de barcos delgados, a soletrar o rio. Na tradição sufi, a palavra “palmeira” encerra uma série de significados escondidos. Não sei quantos mais sentidos Palmyra encerra, porque estes são sempre caminhos que viagem alguma esgotam.

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Escreveria mais tarde:

“Que noivo esperas, Palmyra, assim queda e muda, na porta do deserto? Que cavaleiro tarda em vir, que ramo te prepararam, que frutos secos definham nas bandejas de preces antigas? Que homem te abandonou, que promessas ele quebrou, naquela noite ázima em que o vento subitamente deixou de soprar e velhas armaduras se ergueram da terra árida? Não há dia em que o vento não sopre os seus lamentos e talvez por isso não te queixes de tanta solidão, da aflição, da promessa quebrada. Ele não voltará e tu quedar-te-ás assim para sempre: os olhos cegos de areia, como se loucura fosse a espera mas nela se desvendassem os segredos do mundo.”

28 Ago 2015

Ensino | Questionado adiamento da implementação de medidas 

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang criticou a implementação pouca positiva do “Planeamento para os Próximos 10 anos para o Desenvolvimento do Ensino não superior 2011 a 2020”. Em causa está o adiamento da execução das medidas, e por isso, o deputado quer saber quais são os calendários da avaliação do respectivo plano e da revisão dos vários regimes.ensino escolas centros explicações
Numa interpelação escrita, Ho Ion Sang recordou que o planeamento é um documento que inclui vários programas orientadores, sendo que é um indicador bastante importante que assegura o desenvolvimento da educação.
“Foi regulamentado que até 2014 era concluía a elaboração dos critérios do ensino da disciplina de Mandarim para os professores da disciplina Chinês, impulsionando, com isso, a educação da Mandarim em Macau. Contudo, até ao momento, os critérios são completamente desconhecidos e o progresso do ensino está muito atrasado comparativamente ao desenvolvimento da sociedade”, argumentou o deputado.

Regime de atraso

Ho Ion Sang acrescentou ainda que a revisão dos vários regimes, incluindo o Regime Educativo Especial, Estatuto das Escolas Particulares, Regulamento da Educação Técnica e Profissional, Ordenamento Jurídico da Actividade Inspectiva Escolar, deviam estar concluídas no presente ano, mas a realidade mostra que isso não aconteceu. Dentro do bolo de todos os regimes, apenas o Regime Educativo Especial viu concluídas as consultas públicas, em Março deste ano, relembra o deputado.
Além disso, como o planeamento regulamenta que uma avaliação deve ser feita em 2015, permitindo saber a eficiência da execução das medidas, o deputado questiona se o Governo já começou a avaliação e quando é que vai publicar as informações para a sociedade. Quer ainda saber para quando os calendários e as medidas de melhoramento para as revisões dos regimes que têm sido adiados.

28 Ago 2015

Ng Kuok Cheong quer novos aterros “destinados a residentes”

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[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]em a política “Terra de Macau para residentes de Macau”, nem o Plano de Aquisição de Imóveis estão implementados na planificação dos Novos Aterros. Isso mesmo defende Ng Kuok Cheong que acusa o Governo de não conseguir cumprir o que diz. A pensar nos residentes e no seu bem estar, o deputado pede respostas ao Executivo. O deputado Ng Kuok Cheong criticou o facto da política “Terra de Macau destinada a residentes de Macau” não estar implementada no planeamento dos novos aterros. Considera o deputado que o Governo deve definir um limite de compra e venda na oferta de terra nos futuros novos aterros, permitindo proteger os interesses dos residentes do território.

Numa interpelação escrita, Ng Kuok Cheong relembrou que durante a apresentação da política governamental, “Terra de Macau destinada a residentes de Macau”, pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, em 2012, em que o próprio justifica a implementação desta medida para melhorar a qualidade de vida e o ambiente relativamente à questão da habitação.

Também no presente mês, o Chefe do Executivo explicou, durante a sua presença em sessão plenária na Assembleia Legislativa (AL), aos deputados a situação do estudo sobre a mesma política. O trabalho foi conduzido por uma instituição académica durante o ano passado, e defende que os novos aterros ainda serão alvo de melhorias em prol do ambiente de vida dos residentes.

Muitas dúvidas

No entanto, Ng Kuok Cheong criticou o facto da existência de poucas explicações quanto à política em causa. Quer saber o deputado se esta será implementada nos novos aterros. O mesmo aconteceu com o Plano de Aquisição de Imóveis para Habitação por Residentes de Macau, projecto, que para o deputado, não está implementado nas novas áreas de construção.

“Se o Governo admite que não tinha condições em implementar a política com o planeamento dos novos aterros, quando o estudo foi realizado, leva-nos a crer que instituição que levou a cabo o estudo só conseguiu analisar as vantagens e desvantagens da politica e não implementá-la. No caso da não inclusão do Plano de Aquisição de Imóveis para Habitação por Residentes de Macau, o Governo admite que este está totalmente perdido em relação ao novos aterros, isto faz com que os cidadãos se preocupem com a distribuição dos novos aterros em relação à habitação privada”, argumentou o deputado.

Além disso, o pró-democrata questionou quando é que o Chefe do Executivo vai indicar aos departamentos jurídicos a definição de um limite da venda, compra e oferta da terra nos novos aterros, além de elaborar leis complementares.

28 Ago 2015

Contratada consultora para alterar consultas públicas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo parece querer fazer alterações ao actual sistema de consultas públicas em vigor, uma das poucas armas utilizadas para ouvir as opiniões da população e associações sobre as políticas a implementar. Isto porque foi publicado em Boletim Oficial (BO) esta quarta-feira um despacho que revela a assinatura de um contrato com a Companhia Ers Soluções Macau Limitada, para que esta elabore o “Estudo sobre a elaboração de orientações no âmbito das consultas públicas do Governo da RAEM”. Coube ao director substituto dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Kou Peng Kuan, assinar o contrato com a consultora, que já elaborou vários estudos para o Governo.
Sem mais informações sobre que directrizes pretende o Governo adoptar para as futuras consultas públicas, o HM contactou o académico Eric Sautedé, que defendeu uma mudança na forma como as consultas são feitas, a começar pela maneira como a população é envolvida no processo.

Maior mobilização

“A grande questão é que há consultas públicas em que a população deve ser mobilizada no sentido de verdadeiramente partilhar as suas opiniões e deve ser mais bem informada. Para haver maior debate na imprensa, por exemplo, e para se tentar elaborar as diferentes possibilidades e as escolhas que o Governo tem. Actualmente apenas é apresentada a proposta, as pessoas expõem as suas opiniões e as questões são muito básicas. Foi o que retirei do processo de consulta pública sobre os novos aterros”, disse o antigo docente de ciência política da Universidade de São José (USJ). macau arquitectura
Eric Sautedé acredita que o sistema já melhorou um pouco face a 2010, já que actualmente existem duas fases de consulta pública. Mas, apesar da extensão do calendário, o académico lembra que “não temos um processo totalmente democrático e esse é um elemento chave de todo o sistema de consulta pública”.
“Temos a sensação de que não há qualquer processo educacional, e isso leva mais tempo do que a mera participação das pessoas numa sessão de consulta. A ideia de uma consulta pública é que as associações estejam aptas a participar, mas penso que seria melhorar alterar a forma como a consulta pública é feita do que simplesmente estender o prazo de consulta. A maneira como as pessoas estão envolvidas no processo. Algumas associações dizem que não há uma verdadeira discussão sobre diferentes pontos sobre uma política específica”, defendeu ao HM. 20140716-105f
Talvez devido à importância do tema, a consulta pública sobre a elaboração do plano director dos novos aterros já vai na terceira fase. Também a remodelação do edifício do Hotel Estoril está a ser alvo de uma consulta pública, cujo processo foi estendido até Setembro. Em recentes declarações públicas, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, revelou-se insatisfeito com a fraca participação da sociedade nas sessões de consulta, motivo que levou à extensão do prazo.

28 Ago 2015

Resíduos | Deputado questiona eficácia do sistema da recolha

[dropcap style=’circle’]O deputado Au Kam San quer saber se o Governo já realizou uma avaliação da eficácia do sistema de recolha automática de resíduos sólidos urbanos, algo que foi implementado há sete anos, na altura em que Ao Man Long assumia o papel de Secretário para Transportes e Obras Públicas.
O sistema de recolha automática de resíduos sólidos urbanos está localizado na Areia Preta e absorve o lixo através de tubos subterrâneos transportando-o para um sistema de compressão de lixo. Depois de o embalar nas caixas, o lixo é transportado para tratamento do Central de Incineração de Resíduos Sólidos. Os tubos do sistema têm no total cinco quilómetros de comprimento e permitem abranger os resíduos de mais de 10 mil famílias.
Numa interpelação escrita, o deputado Au Kam San recordou que o Governo declarou que o sistema era um projecto piloto em 2008 e caso mostrasse sinais de sucesso, iria expandi-lo para o território. Até agora nada foi feito e por isso mesmo, a eficácia do sistema é colocado em causa pelo deputado.

Sem respostas

“Foi colocado em prática quando Ao Man Long era o Secretário para Transportes e Obras Públicas, foi um sistema que foi desenvolvido numa época marcada pela corrupção. Qual é o resultado deste projecto, criado em 2008? Precisamos de saber. Não há queixas de utentes e, por isso, o funcionamento parece estar a atingir o que se pretendia de forma eficaz. Ainda assim, o Governo, em sete anos não disse nada. Nunca ouvi o Executivo falar sobre a avaliação ou revisão do próprio sistema, parece-me que é algo que está esquecido, até porque a sua utilização não foi alargada conforme estava previsto”, expõe o deputado.
O pró-democrata lembrou-se ainda do caso, em Maio passado, dos moradores da habitação pública de Seac Vai Pan, que se manifestaram contra a construção da recolha de resíduos num corredor principal de um dos edifícios.
“Embora o Governo ouvisse as opiniões da população e tenha suspenso o plano, foram descobertas várias falhas no próprio planeamento da construção da habitação pública, além da decisão da política se manter numa caixa negra”, argumentou.
Em consequência, Au Kam San questiona como está a eficácia do sistema, se o Governo recebeu comentários negativos ou até positivos por parte dos utentes ou manipuladores, considerando por isso ser altamente necessário que o Governo apresente o ponto da situação à sociedade.

28 Ago 2015

GIT | Gabinete pede desculpa por divulgação de dados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) divulgou alguns dados pessoais de cidadãos que participaram na consulta pública sobre o metro em Seac Pai Van. Os números de documentos de identificação, nome e e-mails foram alguns dos dados tornados públicos depois do GIT ter publicado o documento sobre o Resultado da Actividade da Recolha de Opiniões sobre o Estudo de Viabilidade.
A notícia foi avançada pelo canal chinês da Rádio Macau, que cita Lam U Tou, vice-presidente da Associação Choi In Tou Sam pedindo que o problema seja resolvido. O vice-presidente espera que o GIT resolva problema, tendo este já reagido com um pedido público de desculpa, assegurando que foi iniciada a recolha das cópias distribuídas, especificando que se tratam de 28 exemplares.
O GIT explica que “normalmente tapa os dados pessoais nas opiniões recolhidas”, mas acredita que este problema possa ter acontecido devido a composição tipográfica ou a uma falha no processo de impressão. “Vamos contactar as pessoas que levantaram o exemplar e pedir que as devolvam”, garantiu o gabinete.
A publicação foi lançada no domingo passado e estava disponível nas instalações do GIT para qualquer pessoas. Segundo o mesmo canal, Lam U Tou acha que o Governo deve aprender com esta experiência e tratar dos dados pessoais de forma mais rigorosa.

28 Ago 2015

Taxista agride polícia em operação no NAPE

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m taxista agrediu um polícia, com insultos e arranhões no pescoço, depois de ter sido mandado parado, na zona do NAPE, numa operação realizada na terça-feira passada. A notícia é avançada pelo jornal Tribuna, que explica que o homem, residente em Macau, de 52 anos, acabou por ser “refreado por outros polícias que se encontravam no local e o agente foi enviado para o hospital”. Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), esta não é a primeira infracção do suspeito, que agora será acusado de ofensa qualificada à integridade física, resistência, coacção e desobediência à autoridade. O suspeito foi mandado parar por suspeitas de recusa de transporte.

28 Ago 2015

Economia de Macau “sofrerá sempre” com flutuações da China

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] economia de Macau “sofrerá sempre” com qualquer “contracção ou estagnação” da economia chinesa devido à sua extrema dependência do mercado do continente, considerou o economista José Isaac Duarte em declarações à agência Lusa.
“Macau tem sofrido um aperto significativo nos últimos meses com o esforço das autoridades centrais (chinesas) para limitar e controlar os movimentos de capitais em direcção a Macau, a saída dos capitais da China e isso resultou na redução da receita no segmento VIP dos casinos, o qual sustentava o crescimento extraordinário do sector do jogo na cidade”, considerou.
Para José Isaac Duarte, o mercado de grandes jogadores dos casinos “está à espera de encontrar um ponto de estabilidade”, mas as perspectivas “continuam a ser de contracção da receita”.
“Se a economia chinesa entrar numa situação de estagnação ou mesmo de contracção isso terá também consequências no rendimento e nas expectativas no consumidor médio chinês que é aquele que sustenta o outro segmento, o chamado mercado de massas dos casinos”, acrescentou.
No caso do consumidor médio chinês ser confrontado com um cenário de possível contracção ou estagnação da economia, gerando insegurança quanto à evolução do seu rendimento futuro, José Isaac Duarte lembra que haverá uma reacção natural de corte em despesas não fundamentais.
“Viajar até Macau, gastar dinheiro nos casinos ou comprar alguns artigos de luxo serão, certamente, das áreas de consumo que mais rapidamente se ressentirão da perda de confiança do consumidor”, afirmou.
Um movimento negativo no mercado bolsita – como aconteceu nos últimos dias -, ou de uma perspectiva menos animadora do crescimento económico da China podem, no entanto, não ter um reflexo proporcional no mercado imobiliário, um dos principais problemas dos residentes locais devido ao aumento verificado nos últimos anos do preço do metro quadrado das habitações que se reflectem, também, no mercado de arrendamento.

Espaço para alívio

José Isaac Duarte recorda, a propósito, que em dez anos os preços de mercado subiram 10 vezes e, por isso, poderá haver “algum alívio”, mas para ter um impacto significativo os preços teriam de baixar muito.
“Provavelmente terá mais efeitos sobre as expectativas de ganhos daqueles que especularam nos últimos anos e que influenciaram o funcionamento do mercado. Esses correm o risco de ter algumas perdas”, considerou.
Além disso, explicou, o mercado imobiliário em Macau tem funcionado com uma grande componente de construção para investimento e especulação sem atender às necessidades dos trabalhadores e residentes locais. Mantendo-se a perspectiva de crescimento da oferta no sector do jogo, com a construção de mais empreendimentos que necessitam de mais mão-de-obra, manter-se-á a pressão do lado da procura.
Por outro lado, num cenário de crise ou incerteza quanto à situação da economia chinesa, a tendência, será a de o investidor chinês procurar mercados alternativos para colocar capitais – e o imobiliário de Macau é uma dessas alternativas. Mas José Isaac Duarte sublinha que o problema imobiliário também resulta da “insuficiência patente de construção de habitação e de um desenvolvimento urbano pensado” para os que vivem e trabalham em Macau. HM/LUSA

28 Ago 2015

Air Macau decide baixar taxas de combustível

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] companhia de aviação Air Macau decidiu reduzir o valor das taxas de combustível cobradas aos passageiros em dois dólares norte-americanos, estando actualmente afixadas em 28 dólares. Segundo um comunicado, a Air Macau explica que todos os voos emitidos a partir do dia 1 de Setembro deste ano, inclusive, estão abrangidos pelas novas tarifas, especificamente voos de Macau para destinos como o continente, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul e Vietname.
Esta alteração vem de encontro a um pedido há muito feito pelo deputado Chan Meng Kam, que em várias interpelações escritas ao Governo questionava as razões pelas quais a Air Macau não reduzia as suas taxas de combustível, uma vez que o preço do combustível a nível mundial tinha sofrido uma quebra de 43%, sem que a companhia aérea tivesse ajustado as taxas.
Numa resposta recente à interpelação do deputado, a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) garantiu que a Air Macau “não cobra taxas adicionais de combustível mais elevadas do que as que são praticadas no interior da China e no estrangeiro”, tendo prometido um contacto com a Associação de Companhias Aéreas “caso sejam descobertas situações de irracionalidade”.

28 Ago 2015

CESL Asia leva crianças desfavorecidas ao cinema

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o âmbito do Programa de Investimento Social da CESL Asia, voluntários proporcionaram a oitenta crianças institucionalizadas um dia diferente. Depois de uma sessão de cinema de animação as crianças participaram numa festa/almoço, informa a organização, em comunicado. Nesta, que foi a quinta edição de cinema para crianças, participaram a Associação Berço Boa Esperança, Caritas de Macau, EFC Macau Fellowship Orphanage e o Centro Comunitário de Mong- há.

28 Ago 2015

Macau Water pede plano de tubagens para novos aterros

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM), ou Macau Water, sugeriu ao Governo a criação de um plano principal de tubagens para a zona dos novos aterros. A informação consta num comunicado emitido à imprensa e faz parte de um plano geral que a concessionária entregou ao Governo para os próximos cinco anos.
“A SAAM recomenda no seu plano director para o abastecimento de água a instalação de uma quarta conduta de água bruta em Macau, assim como um plano de instalação de tubagem principal para os novos aterros, no sentido de garantir um fornecimento estável de água bruta e melhorar a rede pública de abastecimento de água em preparação para o futuro desenvolvimento regional”, pode ler-se.

A toda a brida

Quanto ao abastecimento de água no território, a Macau Water garante que a construção da Estação de Tratamento de Água de Seac Pai Van “está a ser preparada a todo o vapor”, a qual terá uma capacidade de produção de 200.000m3 aquando da sua conclusão, o que fará desta “a estação de água com maior capacidade de Macau”.
“A partir desse momento a capacidade de abastecimento diário atingirá os 590.000 m3, aliviando a dependência da Taipa, Coloane e Cotai ao sistema de abastecimento de Macau e oferecendo maior garantia ao serviço de abastecimento de água em todas as zonas de Macau”, garante a empresa.
Segundo a Macau Water, o território consome actualmente 290.000m3 de água por dia, na época do Verão, o que, “com base na actual capacidade de abastecimento de água”, faz com que “um quarto da produtividade seja excedentária para fazer face à procura inesperada de água”.
A concessionária emitiu o comunicado para lembrar os oito anos da construção da primeira “estação de tratamento de água de grande escala”, a Estação de Tratamento de Água na Ilha Verde e o Reservatório. “A conclusão destes projectos deu início ao fornecimento de água potável esterilizada aos residentes da cidade, marcando uma fase moderna de desenvolvimento ao serviço de abastecimento de água em Macau”, aponta a Macau Water.

28 Ago 2015

Detidas 12 pessoas pelas explosões em Tianjin

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades chinesas anunciaram ontem a detenção de 12 pessoas supostamente envolvidas nas enormes explosões que sacudiram o porto da cidade de Tianjin (norte), no dia 12, que causaram 139 mortos, segundo o mais recente balanço. Entre os 12 suspeitos figuram vários responsáveis da empresa Tianjin International Ruihai Logistics, incluindo o presidente, Yu Xuewei; o vice-presidente, Dong Shexuan, e três directores-gerais adjuntos, indicou a agência oficial Xinhua, citando o Ministério da Segurança Pública.
As explosões que devastaram boa parte do porto de Tianjin ocorreram num terminal da companhia, na qual se têm centrado as investigações, já que a Ruihai violou inúmeras normas no âmbito das operações com produtos químicos que estiveram na origem da tragédia.

28 Ago 2015

Grupo Wanda compra Triathlon por 573 ME

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] gigante chinês Dalian Wanda anunciou ontem a compra da totalidade da empresa Triathlon Corporation, proprietária dos direitos de provas desportivas de resistência como Ironman, por 573 milhões de euros. Com este negócio, “o Wanda transformar-se-á a maior empresa de operações desportivas”, indicou o grupo chinês, que anunciou ontem a aquisição num dos hotéis da companhia em Pequim. O presidente do Wanda, Wang Jianlin, apontado, há uma semana, como o chinês mais rico do mundo, marcou presença no evento, assinalando que a compra mostra claramente que a orientação do grupo mudou, já que a empresa iniciou actividade com foco no mercado imobiliário. A Triathlon Corporation, com sede na Flórida (EUA), é a terceira aquisição do Wanda no universo do desporto internacional desde o início do ano, depois de, em Janeiro, o grupo ter adquirido 20 % das acções do clube espanhol de futebol Atlético de Madrid.

28 Ago 2015

Hong Kong | Líderes estudantis acusados por protesto

Orgulho juvenil

[dropcap style=’circle’]Três líderes estudantis que no ano passado estiveram envolvidos nas manifestações do ‘Occupy’ em Hong Kong foram ontem acusados por um protesto na Praça Cívica, junto à sede do governo.
Sobre o líder do movimento estudantil ‘Scholarim’, Joshua Wong, de 18 anos, e sobre o secretário-geral da Federação dos Estudantes, Nathan Law, e respectivo ex-presidente Alex Chow impedem acusações que incluem a reunião ilegal e incitação para participar em reunião ilegal, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
Os três vão ser presentes a tribunal na próxima quarta-feira. joshua wong
As ofensas estão relacionadas com um protesto estudantil em que alguns manifestantes treparam as grades metálicas para o interior da designada Praça Cívica. A acção, a 26 de Setembro de 2014, acabaria por estar na origem da ocupação das ruas num protesto que durou 79 dias.
“Hoje… é perseguição política”, disse Wong, antes de entrar na sede da polícia. “Estar envolvido nesta acção na praça cívica foi o melhor que fiz nos quatro anos em que tenho estado envolvido nos movimentos sociais dos estudantes”, afirmou.
“Não me arrependo, ainda que tenha de pagar o preço”, acrescentou.

Falta de lógica

Menos de duas horas depois, Wong surgiu novamente em público e o seu advogado, Michael Vidler, disse que provavelmente iria apresentar um pedido ao tribunal para suspender o processo contra o seu cliente.
“Penso que toda a lógica de procedimentos nesta altura, um ano depois dos acontecimentos, é totalmente errada”, afirmou Vidler. “Na minha opinião é um claro abuso”, acrescentou.
Cerca de 40 apoiantes concentraram-se na entrada da polícia com guarda-chuvas amarelos – o símbolo da campanha do Occupy – e entoaram palavras de ordem a pedir a demissão do chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung.
Wong e Law, de 22 anos, foram a tribunal no mês passado por acusações de obstrução à polícia num protesto realizado em Junho.
Os estudantes estavam entre as dezenas que pessoas que se concentraram no exterior do Gabinete de Ligação do Governo Central Chinês em Hong Kong para se oporem a um “livro branco” da China, no qual Pequim afirmou o seu controlo sobre a região especial chinesa. Uma cópia do documento foi queimada nesse protesto. occupy
Ambos declararam-se “não culpados” das acusações e vão ser novamente ouvidos em tribunal no âmbito do mesmo processo, na sexta-feira.
O plano de reforma política proposto pelo governo de Hong Kong e apoiado pelas autoridades de Pequim foi chumbado pelo conselho legislativo da região em Junho.
A proposta que esteve na origem do movimento ‘Occupy Central’ dava, pela primeira vez, oportunidade a todos residentes de Hong Kong de em 2017 votarem nas eleições para o chefe do Executivo, mas sob a condição de que todos os candidatos – dois ou três no máximo – fossem pré-seleccionados por um comité conotado com Pequim.

28 Ago 2015

I had a dream | Exposição positivamente vandalizada

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] exposição do publicitário Henrique Silva, mais conhecido por Bibito, de fotomontagens de figuras públicas da história do mundo, tais como o Presidente da República Cavaco Silva, o ditador Hitler, ou Mao Tsé Tung, foi “positivamente” vandalizada. Não é um erro. A reacção dos vândalos é vista pelo próprio artista como algo positivo, apesar do mesmo assumir que nunca pensou que alguém tivesse a coragem de reagir.
Partindo do princípio que a mostra é “um trabalho que se baseia na provocação”, a exposição “I had a Dream – Eu tive um sonho mau” brinca, por um lado, com a expressão de Luther King “I have a dream” em contraponto com os sonhos destas pessoas que o artista representa ou interpreta. “Elas também tiveram um sonho, uma visão, só que era mau”, explica. Bibito
“Estou contente que alguém se tenha insurgido e vandalizado a galeria, não que queira fazer o incitamento a tais actos, mas gostei de ver que alguém actuou contra algo que o revoltava. Seja estupidez e ignorância – como muita gente o acusou no meu Facebook – ou seja porque for, actuou. Para um país tão orgulhoso dos seus brandos costumes, achei o máximo”, argumentou o artista.
O objectivo da exposição era claro: agarrar em imagens e estereótipos que representam o lado menos bom de cada um de nós e “de algum modo recontextualizar de uma forma humorística e ligeira”.
A intenção do publicitário era a de criar uma reacção, seja ela qual fosse, nas pessoas. Para Bibito é preciso que a sociedade consiga libertar-se do tabu e de um passado de peso. É preciso viver “melhor com o passado, sem ressentimentos, sem ressabiamentos”. Viver agarrado a esse lado negro, diz, traz sempre complexos e outras coisas como a intolerância ou vinganças.

Erros de avaliação

Os vidros da galeria Passevite, na freguesia de Arroios, encheram-se de rabiscos em cor laranja com insultos, mas nada que preocupe os proprietários do espaço. “Isto foi um acto isolado, acreditamos que tenha sido feito entre as cinco ou seis horas da madrugada. Quem o fez só olhou para a montra, não percebeu que a imagem do Hitler tinha a cara do Bibito, que foi manipulada. Foi alguém que não veio com certeza conhecer a exposição na sua íntegra. Passou, olhou, viu o Hitler achou que seria uma espécie de culto ao chefe e fez isto”, contou ao HM, Rui Lourenço, um dos quatro sócios da Passevite.
Exposta desde o início do mês, I had a dream termina já no próximo fim-de-semana e foi recebida de forma muito positiva por quem a visitou. “Do ponto de vista das pessoas que iam passando a reacção nunca foi negativa, antes pelo contrário, as pessoas olhavam, espreitavam e riam-se, isto pelo seu carácter provocatório e o humor característico do Bibito”, acrescentou. VANDALISMO
Questionado sobre a possibilidade de expor em Macau, e criar novas figuras deste mundo oriental, Bibito não fecha a porta. “Não sei. Talvez se houvesse um convite. No entanto, por um lado, e estando grande parte do trabalho baseado na minha realidade, acho que o impacto que tem no nosso ‘ocidente’ seria completamente diferente do que teria em Macau, por outro, não sei até que ponto me sentiria confortável para ironizar líderes ou personagens locais, não que não seja permitido, mas as reacções seriam diferentes”, explica. Ainda assim é algo a pensar “na altura e conforme o contexto”.

28 Ago 2015

Plácido Domingo este sábado no Centro Cultural

“A ópera é a nossa vida”

Esteve para vir a Macau em 1999, mas tinha a agenda cheia. Sábado o território volta a traçar o destino daquele que é considerado “um dos três tenores”. Plácido Domingo anseia conhecer o Teatro D.Pedro V, falou do crescimento da ópera na China e não deixou de comentar a recente crise na bolsa de Xangai

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]lácido Domingo chega com roupas de cores cinzentas, que contrastam com a sua pose descontraída, e canta um pouco enquanto os jornalistas tiram a fotografia da praxe. Perguntam quantos falam português, mas diz que o Fado não vai, desta vez, fazer parte do repertório. Fala daquilo que faz há anos como se fosse a primeira vez que pisasse um palco. Já pisou muitos, desta vez vai pisar o palco do Centro Cultural de Macau (CCM), ao lado das cantoras Virgínia Tola e Micaela Oeste.
Considerado um dos “três tenores”, juntamente com José Carreras e o falecido Luciano Pavarotti, Plácido Domingo promete trazer ao público de Macau um espectáculo que todos possam ouvir e admirar.
“Certamente que a ópera é a nossa vida, e em todos os sítios onde vou adoro fazer o concerto e temos um programa muito interessante, porque é feito para todos os que vierem assistir. É muito importante para nós que o público esteja contente”, disse. placido
“Para um artista a coisa mais importante é estar em boa forma. Depois de cantar por tantos e tantos anos, ainda acho excitante e desafiante cantar num lugar pela primeira vez. Penso que o público tem o direito de descobrir isso. A coisa mais importante de facto é estar em boa forma e sentir essa ligação. O CCM tem apenas capacidade para mil lugares, o concerto que demos em Tóquio foi para cerca de cinco mil, e já actuámos para dez, doze mil pessoas…mas em todos eles queremos que o público sinta a música e tu tentas dar tudo o que podes. Estamos em boa forma e cantamos tudo o que temos na alma, porque cantamos com a alma”, disse ontem, num encontro com a imprensa.
Plácido Domingo esteve quase para estar em Macau em 1999, mas a agenda apertada trocou-lhe as voltas. “Tenho de dizer que é muito especial estar em Macau. Fui convidado para vir a Macau na transferência do território para a China, e não pude vir porque na altura não estava disponível. Há muitas ocasiões especiais e essa era uma delas, para o público daqui, um dia tão especial. Mas hoje estamos aqui, é um grande prazer. Esta cidade é fenomenal, as luzes…tenho a dizer que isto é muito mais do que Las Vegas, e eu estive a cantar durante três semanas em Las Vegas.”

A ópera na China

Ao lado dele, Virgínia Tola e Micaela Oeste mostram-se orgulhosas de cantar com aquele que consideram o mestre da ópera. São bem mais novas do que ele, mas Plácido Domingo diz estar numa fase em que gosta de ensinar a sua arte aos mais jovens.
“Quando comecei a cantar, muito jovem, as sopranos podiam ser minhas avós. Depois comecei a cantar com cantoras como Monserrat Caballet, depois com cantoras que poderiam ser minhas irmãs, depois cantei com as minhas irmãs mais jovens, e agora canto com as minhas filhas, e às vezes com as minhas netas. É óptimo para mim cantar com pessoas mais jovens, porque se conseguir transmitir algo de geração em geração, será bom.”
Plácido Domingo já cantou na China há muitos anos, mas só agora o país se abre para este género musical. placido
“Quando a ópera de Xangai foi construída eu cantei lá, em Pequim, num teatro extraordinário, fizeram 52 produções, 42 óperas internacionais, como Wagner, Puccini. Dez óperas foram compostas em chinês. Então esse trabalho é um fenómeno extraordinário. Não interessa a língua. Lembro-me que há 27 anos quando me estreei na China, estava a cantar um programa completo em música espanhola. O público estava tão entusiasmado que cada vez que eu cantava eles começavam a aplaudir. Era a primeira vez que estavam a ouvir aquilo, e estavam fascinados”, recordou o tenor.
“Nos últimos anos tem sido extraordinária a quantidade de cantores chineses que têm surgido e que estão em teatros internacionais em todo o mundo. Sem dúvida que há um talento extraordinário”, acrescentou.
Mas nem só de música se fez esta conversa. Ao falar da imensidão da China, Plácido Domingo lembrou a recente crise na bolsa de valores de Xangai, mas defende que tudo vai acabar por ficar bem.
“A China é um país enorme e bem sucedido em termos económicos, apesar de nas últimas duas semanas ter tido alguns problemas, mas isso acontece em todo o lado. O mundo estava um pouco preocupado, mas penso que já não estão. Tudo indica que as coisas vão ficar bem.”
De Macau Plácido Domingo fala apenas do brilho dos casinos e deposita esperanças no desenvolvimento da ópera local. Para ele, o Teatro D.Pedro V passará obrigatoriamente pela agenda.

28 Ago 2015

HK | Circuito citadino ainda nos planos para 2016

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]ong Kong ainda não desistiu do seu circuito citadino. Apesar dos sucessivos revés, o território vizinho espera entrar no calendário da terceira temporada do Campeonato FIA de Fórmula E. A antiga colónia inglesa chegou a fazer parte do calendário provisório da primeira temporada da competição destinada a monolugares eléctricos, porém diversas dificuldades em homologar o traçado em redor da Lung Wo Road têm adiado o projecto bandeira da actual direcção da Associação Automóvel de Hong Kong. Isto, numa altura em que as entidades de Hong Kong querem promover o uso de viaturas amigas do ambiente, há quem veja como positiva a realização de um evento desta natureza.  Na primeira metade de 2015, o número de veículos eléctricos registados já tinha ultrapassado as duas mil unidades, um número que mesmo assim continua aquém das expectativas.

A melhor divulgação

Em entrevista à revista Driven, Dr Lawrence Cheung, Director Geral de Peças e Acessórios Automóveis no Conselho de Produtividade de Hong Kong, afirmou que “não há melhor publicidade do que uma corrida de EV (sigla inglesa para veículos eléctricos). Ambos, indústria automóvel e automobilismo, têm seguido a tendência, até a Fórmula 1 utiliza motores híbridos. Embora as pessoas de Hong Kong adorem corridas de automóveis, devido às limitações geográficas, não há uma pista ou um recinto para os que condutores possam acelerar legalmente. Uma prova de Fórmula E seria em certa medida uma compensação”. Apesar dos esforços dos grandes construtores automóveis, como a Audi, Renault ou BMW, os consumidores ainda têm uma percepção errada sobre os EV. “Há muita gente que ainda pensa que um EV é um brinquedo. A realização de uma corrida em Hong Kong irá permitir que as pessoas vejam uma imagem agressiva e a velocidade espectacular dos EV”, concluiu o dirigente. Mesmo contando com o apoio de alguns quadrantes de Hong Kong, o presidente da HKAA, Lawrence Yu, sente-se ainda desapoiado.
“Apesar do governo falar muito em promover os EV, nós temos a sensação que é tudo conversa, pois quando a HKAA, como membro da FIA,  quis pegar o touro pelos cornos ao tentar organizar uma corrida de Formula E desde 2013 uma das razões em que falhamos, não uma vez, mas duas vezes, foi a falta de apoio do governo e isso supera-nos”, afirmou no editorial da publicação. Contudo, Yu e seus pares não querem deixar cair a ideia. “Nós estamos determinados a ser uma das cidades que acolherá a Fórmula E em 2016 e a HKAA começou a pavimentar o caminho há bastante tempo. Lung Wo Road continua a ser a nossa primeira escolha. Não só pela vista impecável do Victoria Harbour, mas também porque o investimento é comparativamente pequeno e estimado em cerca de 1.5 mil milhões de dólares de Hong Kong, tudo incluído”. O dirigente também disse que apenas os custos de repavimento do traçado seriam cobertos pelo governo, sendo que existe um leque de patrocinadores privados interessados em cobrir o resto das despesas. Para começar a preparar o futuro, a HKAA tem organizado cursos para comissários de pista, a exemplo do que Macau faz anualmente para preparar aqueles que ajudam em pista a tornar o Grande Prémio possível. A associação também tem usado os eventos dos campeonatos de carros de turismo locais, realizados na China Continental, para ganhar experiência. Envolvida nos desportos motorizados desde 1950, a HKAA teve um papel primordial na organização do Grande Prémio de Macau até ao início da década de oitenta do século passado, onde a sua posição perdeu relevância em prol da actual Comissão da prova. A decisão da FIA sobre o calendário da terceira época da Fórmula E só será conhecida no primeiro trimestre de 2016. A segunda temporada da Fórmula E arranca em meados de Outubro em Pequim. O brasileiro Nelson Piquet Jr foi o primeiro campeão da disciplina, aos comandos um dos monolugares do Team China.

28 Ago 2015

Jorge Jesus | «Fomos nitidamente prejudicados nos dois jogos»

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]orge Jesus considera que o Sporting foi superior ao CSKA nos dois jogos do `play-off` de acesso à Liga dos Campeões, não hesitando em atribuir a eliminação da equipa leonina a erros de arbitragem. «Não quis falar desse lance [primeiro golo do CSKA], que foi irregular. Foram tantos nestes dois jogos, que se formos a falar neles parece que estamos a fugir à responsabilidade e não quero que isso aconteça», afirmou em conferência de Imprensa, prosseguindo, em tom acusatório: – Fomos nitidamente prejudicados, tanto pela arbitragem em Lisboa como aqui. São factos visíveis.

28 Ago 2015

Mendes Pinto encontra pertences da 1ª Embaixada

[dropcap style’cirlcle’]R[/dropcap]egressamos ao continente chinês e pelas províncias de Fujian, Zhejiang e Jiangsu, vamos acompanhar Fernão Mendes Pinto no que, muitas vezes na primeira pessoa, descreve na Peregrinação.
Os tempos ainda não vão longe desde que os portugueses ficaram proibidos de entrar na China, corria o ano de 1521 e pelo qual a segunda embaixada portuguesa ao Celeste Império e também o Embaixador Tomé Pires sofreram pesados castigos. Ainda na dinastia Ming reinava o nosso conhecido Imperador Jiajing (1522-66), que começou a governar logo em 1521, após o falecimento do Imperador Zhengde, o que contactara pessoalmente em Nanjing com a primeira embaixada portuguesa.
Agora, Fernão Mendes Pinto seguindo com mercadores portugueses, embarcados iam fazer o trato no mar, mas, naufragando, são aprisionados como foras de Lei e conduzidos pelo interior da China a caminho de Beijing, para serem julgados. Já o relato do que ocorreu em 1541, quando o grupo do Capitão António de Faria, em que pela escrita Fernão Mendes Pinto vai integrado, seguia para “Nouday a tentar resgatar cinco portugueses, residentes em Liampó, que viajaram num barco cujas amarras se quebraram com o temporal e fora dar à costa e à sua vista se fizera em pedaços na praia e de toda a gente se não salvaram mais que treze pessoas, cinco portugueses e oito moços cristãos, os quais a gente da terra levou cativos para um lugar que se chamava Nouday” Peregrinação. Xhuzhou
Com as costas marítimas de Guangdong fechadas, os imensos interesses dos comerciantes, tanto portugueses como dos chineses, subornando os mandarins, muitos para pagarem os ordenados aos seus funcionários, levaram a que os portos de comércio fossem desviados para Norte, para a província de Fuquiam (Fujian, 福建). Em Zhangzhou (漳州, Chincheo), na baía de Amoy (actual Xiamen) e em Liampó, próximo de Ningpo (actual Ningbo), na província de Zhejiang, fizeram os mercadores portugueses os seus portos, conseguindo os produtos chineses, como a seda e porcelana e por troca, a prata vinda do Japão.
Como diz Montalto de Jesus: “Segundo o Tratado da China, de Gaspar da Cruz, os chineses que emigraram em contravenção às suas leis dependiam dos portugueses para manter a comunicação com a China, forneciam-lhes guias e auxiliares, e, depois do imbróglio (com Simão) de Andrade, levaram-nos a Liampó (Ningpo), onde os mandarins, largamente subornados, faziam vista grossa ao comércio proibido, que, com o passar do tempo, se estendeu a Chincheu, chegando a restabelecer-se às próprias portas de Cantão.”
Esse segundo ciclo dos portugueses na China foi brilhantemente descrito in loco por Fernão Mendes Pinto na Peregrinação e à medida que os documentos chineses tem sido traduzidos a credibilidade deste livro de viagens aumenta.
São desse período os relatos da Peregrinação que se interligam com a história de Tomé Pires, o primeiro Embaixador português à Corte Imperial chinesa que, desacreditado, foi preso e mais tarde abandonado no interior do país. Estava Pires proibido de sair da China, até Malaca ser entregue ao seu dono, o Sultão tributário do Império Celeste. Já mais de quinze anos tinham passado desde 1524, quando as últimas notícias sobre Tomé Pires chegaram a Malaca e falavam sobre a sua morte.
O primeiro relato na Peregrinação que refere o nome de um tal Tomé Pires ocorreu em 1541 em Nouday, na altura em que o grupo do Capitão António de Faria, onde Fernão Mendes Pinto parece ir integrado, seguia para tentar resgatar cinco portugueses que aí estavam presos.
Já uma segunda história, para um próximo artigo, ocorreu dois anos depois, em 1543 e desenrolou-se em Sampitay, conhecida por Pizhou (邳州) e situada a Leste de Xuzhou, a Norte da província de Jiangsu, no percurso do Grande Canal e onde Fernão Mendes Pinto ficou a saber ter Tomé Pires aí vivido até cerca do ano de 1540.

Couraças de veludo roxo de cravação dourada

História contada do capítulo LXIII ao LXV da Peregrinação, tendo como resumo do capítulo LXIII: Como António de Faria teve novas dos cinco portugueses que estavam cativos, e do que fez sobre isso. No Capítulo LXIV: Como António de Faria escreveu uma carta ao mandarim de Nouday sobre o negócio destes cativos, e a reposta que teve dela, e o que ele fez sobre isso e no LXV: Como António de Faria cometeu a cidade de Nouday e o que lhe sucedeu. É neste capítulo que estão duas passagens interessantes, para além dos preliminares da história contada nos capítulos anteriores, mas que aqui não cabem.
Assim passamos a transcrever o capítulo LXV: “Ao outro dia quase manhã clara António de Faria se fez à vela pelo rio acima com os três juncos e lorcha, e com as quatro barcaças que tinha tomado, e foi surgir em seis braças e meia pegado com os muros da cidade. E amainando as velas sem salva nem estrondo de artilharia, pôs bandeira de veniaga ao costume dos Chineses, para que com as mostras destas pazes lhe não ficassem nenhuns comprimentos por fazer, ainda que sabia que, segundo isto da parte do mandarim estava danado, que nenhuma coisa daquelas lhe havia de aproveitar.
Daqui lhe tornou a mandar outro recado, com promessa de mais interesse pelos cativos e cumprimentos de muitas amizades, a que o perro se indignou de tal maneira que mandou aspar o coitado do chinês, e mostrá-lo do muro a toda a armada, com a qual vista António de Faria acabou de perder as esperanças que ainda alguns lhe faziam ter. E crescendo com isto a cólera aos soldados, lhe disseram que, pois tinha assentado de sair em terra, não esperasse mais, porque seria dar tempo aos inimigos para ajuntarem muita gente.
Ele, parecendo-lhe bem este conselho, se embarcou logo com todos os que estavam determinados para este feito, que já estavam prestes para isso, e deixou recado nos juncos que não deixassem nunca de tirar aos inimigos e à cidade, onde vissem maiores ajuntamentos de gente, porém isto havia de ser enquanto ele não andasse travado com eles. E desembarcando abaixo do surgidouro obra de um tiro de berço sem contradição nenhuma se foi marchando ao longo da praia para a cidade, na qual já a este tempo havia muita gente por cima dos muros, com grande soma de bandeiras de seda, capeando, com muitos tangeres e grandes gritas, como gente que estribava mais nas palavras e nas mostras de fora que nas obras.
Chegando os nossos a pouco mais de tiro de espingarda das cavas que estavam por fora do muro, nos saíram por duas portas obra de mil até mil e duzentos homens, segundo o esmo de alguns, dos quais os cento até cento e vinte eram de cavalo, ou, para melhor dizer, de sindeiros bem magros. Estes começaram a escaramuçar de uma parte para outra, e o fizeram tão bem e tão despejadamente que as mais das vezes se encontravam uns com os outros, e muitas delas caíam três, quatro no chão. Por onde se entendeu que devia de ser gente do termo, que era ali vinda mais por força que por sua vontade.
António de Faria esforçou alegremente os seus para a peleja, e, fazendo sinal aos juncos, esperou os inimigos fora no campo, parecendo-lhe que ali se quisessem averiguar com ele, segundo a fonfarrice das suas mostras prometiam. Eles, tornando de novo à escaramuça, andaram um pedaço à roda, como que debulhavam calcadouro de tribo, parecendo-lhes que só aquilo bastava para nos desviarem do nosso propósito. Porém, vendo que nós não voltávamos o rosto como lhes pareceu, ou porventura desejavam, se ajuntaram todos num corpo, e assim juntos e mal concertados se detiveram um pouco sem virem mais por diante.
O nosso capitão, vendo-os daquela maneira, mandou disparar a espingardaria toda junta, a qual até então estivera sempre quieta. E prouve a Deus que se empregou tão bem que dos de cavalo, que estavam na dianteira, mais de metade vieram logo ao chão. Nós, com este bom prognóstico, arremetemos todos a eles, bradando sempre pelo nome de Jesus, e quis Ele por sua misericórdia que os inimigos nos largaram o campo, fugindo tão desatinadamente que uns caíam por cima dos outros, e chegando a uma ponte que atravessava a cava, se embaraçaram de maneira que nem podiam ir para trás nem para diante.
Nesta conjunção chegou a eles o corpo da nossa gente, e os trataram de maneira que mais de trezentos ficaram logo ali deitados uns sobre os outros – coisa lastimosa de ver – porque não houve nenhum que arrancasse espada.
Nós, com o fervor desta vitória arremetemos logo à porta, e nela achámos o mandarim com obra de seiscentos homens consigo, o qual estava em cima de um bom cavalo, com umas couraças de veludo roxo de cravação dourada do tempo antigo, as quais depois soubemos que foram de um Tomé Pires que El-rei dom Manuel, da gloriosa memória, mandara por embaixador da China, na nau de Fernão Peres de Andrade, governando o estado da Índia Lopo Soares de Albergaria.
O mandarim, com a gente que tinha consigo, nos quis fazer rosto ao entrar da porta, com que entre eles e nós se travou uma cruel briga, em que por espaço de quatro ou cinco credos se iam eles já metendo connosco com muito menos medo que os outros da ponte, se um moço nosso não derrubara o mandarim do cavalo abaixo com uma espingardada que lhe deu pelos peitos. Com que os chineses ficaram tão assombrados que todos juntamente voltaram logo as costas, e se começaram a recolher sem nenhuma ordem pelas portas dentro, e nós todos, de volta com eles, derrubando-os às lançadas, sem nenhum ter acordo de fechar as portas. E levando-os assim, como a gado, por uma rua muito comprida, vazaram por outra porta que ia para o sertão, pelo qual se acolheram todos sem ficar nem um só.
António de Faria, recolhendo então a si toda a gente, por não haver algum desmancho, se fez todo num corpo, e se foi com ela à chifanga, que era a prisão onde os nossos estavam (cinco portugueses e oito moços cristãos), que em nos vendo deram uma tamanha grita de – – que fazia tremer as carnes. E mandou logo com machados quebrar as portas e as grades, e como o desejo e o fervor disto era grande, em um momento foi tudo feito em pedaços, e os ferros com que os cativos estavam presos logo tirados, de maneira que em muito breve espaço os companheiros todos estavam soltos e livres.
E foi mandado aos soldados e à mais gente da nossa companhia que cada um por si apanhasse o que pudesse, porque não havia de haver repartição nenhuma, senão que o que cada um levasse havia de ser tudo seu, mas que lhes rogava que fosse muito depressa, porque lhes não dava mais espaço que só meia hora muito pequena. A que todos responderam que eram muito contentes.
Então se começaram logo uns e outros a meter pelas casas, e António de Faria se foi às do mandarim, que quis por seu quinhão, onde achou oito mil taéis de prata somente, e cinco boiões grandes de almíscar, que mandou recolher. E o mais largou aos moços que iam com ele, que foi muita seda, retrós, cetins, damascos e barças de porcelanas finas, em que todos carregaram até mais não poderem, de maneira que as quatro barcas e as três champanas em que a gente desembarcara por quatro vezes se carregaram e descarregaram nos juncos, em tanto que não houve moço nem marinheiro que não falasse por caixão e caixões de peças, afora o secreto com que cada um se calou.
Vendo António de Faria que era já passada mais de hora e meia, mandou com muita pressa recolher a gente, a qual não havia coisa que a pudesse desapegar da presa em que andava (e na gente de mais conta se enxergava inda isto muito mais). Pelo qual, receoso ele de lhe acontecer algum desastre, por se já vir chegando a noite, mandou pôr fogo à cidade por dez ou doze partes, e como a maior parte dela era de tabuado de pinho e de outra madeira, em menos de um quarto de hora ardeu tão bravamente que parecia coisa do inferno.
E retirando-se com toda a gente para a praia se embarcou sem contradição nenhuma, e todos muito ricos e muito contentes, e com muitas moças muito formosas que era lástima vê-las ir atadas com os murrões dos arcabuzes, de quatro em quatro e de cinco em cinco, e todas chorando, e os nossos rindo e cantando.” Texto da Peregrinação.
Fernão Mendes Pinto, que tinha chegado à Índia em 1537, durante a sua estadia no Oriente esteve desde 1541 e durante dois anos, a viver como alevantado em Martabão, no reino de Pegu, onde serviu no exército do Rei da Birmânia. Ora como se pode constatar, não terá sido Mendes Pinto a assistir ao episódio narrado por ele na primeira pessoa, pois só em 1543 consta ter entrado pela primeira vez na China. Mas tal data é desfeita pois Fernão Mendes Pinto e seus companheiros em 1542, após o barco naufragar na enseada de Nanquim e de muitas peripécias, seguiam pelo interior até Pequim fazendo-se passar por mercadores do Sião, mas acabaram presos. É o problema das datas, esse que prejudica a credibilidade da Peregrinação.
Proibidos de entrar em território chinês, os mercadores portugueses aventuravam-se agora pelo Mar do Leste da China a fazer comércio e a percorrer os seus portos clandestinos escondidos nas recortadas costas das províncias de Zhejiang e Fuquiam. Período de uma intensa pirataria pelas costas chinesas, pois a China contava com uma diminuta armada de guerra para o mar que tinha. Estava-se a meio da governação da dinastia Ming e os efeitos das sete viagens marítimas do Almirante Zheng He, que trouxera um desgaste económico ao país, ainda se faziam sentir. Dinheiro do comércio era o que a China precisava para pagar aos seus funcionários.

28 Ago 2015

Cartografia da memória

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]contece por vezes um isolamento completo e agudo no momento que passa de mansinho e quereríamos parar indefinidamente. Ou nele afinal e simplesmente voar sem escolhos. Num pequeno vôo planado. Uma alameda pontiaguda de acácias amarelas. Muitas florinhas miúdas e ainda frescas, já a atapetar o chão como uma neve fofa. Aquela luz fortíssima do meio da manhã ou do início da tarde, filtrada pela folhagem abundante, fina, alta, transparente quase. Confundindo-se as partes lá mais acima num todo rendilhado de luz e sombra. Árvores antigas, ou simplesmente maduras e pujantes. Bancos de uma pasta cimentada quase a parecer pedra orientados no sentido privilegiado do olhar. Coisa incomum. Uma frescura branda. Um chocolate quente de máquina, miserável a parecer de festa. Há uma- várias- esperas nisto, mas o momento breve contém a eternidade e o esquecimento. Como se todos os poros se dilatassem de prazer e algo nisso se apaziguasse. Como se para sempre. Encontra-se um lugar uma vez por outra se não caminharmos de olhos fechados. Ou então pelo contrário. E é possível repetir aquele chocolate de máquina, e com ele o mesmo banco de quase pedra, e ali a mesma vontade de olhar profundamente para cima e em frente no mesmo deslumbramento da rara perfeição do lugar e do tempo com ele. E ser esse o momento que a idade sentida parece ser a maior de todas alguma vez alcançadas. Por excesso, mas simultaneamente leve e redimida de todas as mágoas sentadas no outro banco lá atrás. Essa luz a lembrar os pinhais da infância naqueles intervalos de almoço. De praia. Pesados de uma sonolência boa e incontornavelmente a desembocar numa sesta quase mais ligeira do que ela própria. Algo ensurdecedor nisso. Talvez os insectos, o calor, o ardor da pele e o cheiro do sal, que deixava linhas de secagem a desenhar formas imprecisas. O cabelo empastado de mar. O sono perfeito que ficou lá atrás. Esse. Muito mais esvaziado de monstros e fantasmas. Que por vezes crescem e proliferam com a vida adulta ao invés do que se esperava.
A natureza viva e inconsciente de que nela já existe um momento futuro em que já não será.
Vivo rodeada de naturezas-mortas. Tudo o que produzo. Tudo o que me cerca como olhares devolvidos ou pistas para o deslindar de um qualquer crime existencial. Sempre dei esse valor de eleição a coisas mbuídas de capacidade invocativa. Memórias que queria deixar inscritas para sempre. Angústia de não as poder querer ver diluídas pelo excesso de outros dias. Espio-os por vezes, muitas vezes, questionando a validade dessas memórias ali presas às vezes por um fio ténue. Deixar um objecto inocente, um copo, uma chávena, uma caneca, por cem dias. A fingir-se esquecido. Num primeiro momento só por incapacidade de tocar e remover o vestígio sacro de um fragmento de tempo. De vida morta. Ou cento e sessenta. E ir medindo ao longo dos dias, numa espécie de estudo diacrónico. Uma cartografia do sentir, não esse, mas a capacidade que emana do objecto de reter com igual ênfase, a persistência da memória. Perscrutar num olhar intencional ou furtivo, o vacilar das recordações que dele se vão desprendendo. A morte indecisa delas. O falecer daquele sopro sobre um chá ou um café escaldante, ou do respirar sobre o aroma de um vinho. A falta de intensidade que se instala. Que era já, à partida uma natureza sem vida. Quando o tacto se desvaneceu. Parou o seu movimento no ar. Estacou num ponto preciso da mesa. Podia ser para sempre. Até àquele dia em que alguém por engano deslocou numa pequeníssima rotação depois de erguido o objecto. Misturou vestígios dos seus dedos talvez invisivelmente a substituir, sobrepondo-se-lhes, os outros. E tudo transtornou a experiência do fenómeno. Delicado, impermanente fora do ângulo do olhar.
Quando mesmo a semana passada parece ter sido há uma eternidade de que ainda não limpei os cinzeiros, e duas canecas, um copo ou outra coisa qualquer, jazem sobre a mesa em memória de um momento numa outra vida. Roupas revolvidas e num momento único misturadas sobre uma cadeira, no chão, e já memória. O tempo é uma coisa estranha e a vida é de uma preciosidade esquiva, complexa e arrepiante. Não acredito no destino porque não acredito em nada. Mas talvez seja por isso que acho que tudo é possível. Mesmo quando envolto numa estranha névoa de irrealidade. E o que jaz na memória é irreal. 19
Por isso e pela minha paixão por mapas, sigo com os dedos arrastando neles os olhos, essas linhas. Cartografia da memória. Percorrer-lhe mentalmente o desenho, as imprecisões os relevos, as linhas de cota negativa, ou não. As manchas de vinho ou de água, lugares esfumados nas dobras de muito tempo ou o rendilhado de bichos famintos do papel. Deixar coisas pousadas num lugar preciso, mas como o parêntesis sólido entre o já nunca acontecido e o nunca mais, e lentamente ao longo dos dias, sem data prevista para um fim, observar aquela disposição da memória, esquiva a ser transportada para detrás de uma estranha poalha de inexistência. Sentir obscurecer aquele já de si vago fulgor de apego a um momento do real. Ver, com intermitência desaparecer o poder mágico das coisas. De refazer a materialidade de um gesto no tempo. Numa rota pontualmente paralela à do sentir, mas que um dia diverge lentamente da deste. Para não mais se cruzarem facilmente. Excepto porque ocorrem curvas e bifurcações que podem fazê-los cruzar em zigzags.
A arte perdida da natureza-morta quando lidamos com demasiados registos virtuais. Coisas e pessoas. Da natureza da memória, na verdade.
Lembrei-me de Morandi e das suas naturezas-mortas depois da metafísica. Os seus objectos subterrados em esquecimento e pó. Em tempo e vestígios dessa poeira cósmica que tudo anula, tudo ataca de uma uniformização que é talvez afinal harmonia com o todo universal. Atenuadas todas as particularidades e infrutíferas tentativas de individualização numa identidade única. Uma camada que suaviza e dilui contrastes. O tempo que pára ou que percorre ao seu ritmo as formas, transportando em si e sobre elas esse desaparecimento que é morte ou familiaridade harmónica. Vindas do pó para ao pó retornar. Quando se rendeu ao puro lado físico das coisas comuns, num discurso poético da simplicidade, humildade e elegância intelectual. De uma subtiliza silenciadora e algo surreal. O uso de muito pouco, em termos de cores, formas, estrutura compositiva. E embora não os particularizando, estes objectos não perdiam o realismo. Voltar sempre, de novo e de novo aos mesmos objectos que morriam uma e outra vez arrumados ou esquecidos no atelier. Omnia mors æquat. Talvez. Envoltos em silêncio como foi a sua vida e a sua obra, e numa luminosidade angustiante. Ocorre-me Adorno quando defende uma arte radical, talvez num outro sentido completamente divergente deste, austera o bastante para não se comprazer com o seu próprio espaço de encantamento mágico. E quando afirma que as obras de arte vivem da morte. Se nutrem dela. Morte e silêncio que se transmutam em reconciliação.

Recorrendo ainda às palavras de Adorno, deslocando-as do contexto vasto e complexo da sua teoria estética, que importa até se adulterando-as – a linguagem produz como mata sentidos – relembra-se como este considerou as montagens surrealistas, colagens ou simples associações de ideias, associações livres, a essência das verdadeiras naturezas mortas. A reconstituição do real, salvando-o e recompondo-o da obsolescência original e inevitavelmente corrosiva de qualquer apropriação do natural. Cria a verdadeira natureza-morta. Assim, se do olhar de um personagem retratado emergir um teclado de piano, a salvação da realidade dá-se na introdução de um novo conteúdo, como uma longa cicatriz transversal. Também à consciência. Também marca de dor na carne, nos olhos. Rasgão irremediável. Salva-se o tempo. Então. Talvez na metafísica. Mas só assim.
Mas pensar que seria então a natureza-morta para além de coisas inanimadas ou de que a vida se desprendeu, mesmo o retrato de alguém. Obsoleto por natureza a partir do doloroso constatar de como foi paralisado abusivamente num tempo que de imediato deixou de existir. Como uma espécie de nó, no fluir do tempo. Mas esse gracioso texto: Do tirar polo natural, com as palavras de Francisco de Holanda sobre o retratar ao natural, significando de observação e não de memória, enfatiza a qualidade evocativa do mesmo. É o que faço. Tirar respeitosamente do natural. Inúmeras vezes do natural da memória, se isso existe. Ou fazer disso um espelho abusivo. Ou num acto de inveja. Para ver sempre. Nada tão real como o que naturalmente se apresenta. Esse real tão animal e tão mineral. Tão fluido e orgânico ou cristalizado, incorruptível ou inalcançável. Perdido na estrutura cristalina da imagem-morte- que encontrou em definitivo um dia. Como somatório de todos os outros. De todas as pressões, tensões, das infernais temperaturas e da movimentação das placas tectónicas a ajeitarem em si o universo por uns tempos. Tão lá atrás. Ou um referente finalmente liberto.
Nas palavras de Hegel: “A única obra, o único acto de liberdade universal é, então, a morte, uma morte que carece de dimensão e de realização interiores”. Essa morte de que sofrem os que se vêem retratados e que faz tantas vezes temer o olho vítreo de uma câmara.
Olho de novo para cima. Vem a memória de outras acácias. Mas essas rubras. Olho para estas árvores. Gosto tanto das árvores. E no entanto parecia talvez que falava de uma outra coisa.
Há qualquer coisa naquele imparável e subtil movimento das folhas, que se propaga e agita o universo até longe. Como aquelas cadeias absurdas de acontecimentos irrelevantes em si, mas que deslocaram o curso das coisas imperceptivelmente. Exponencialmente. Um segundo em que se fez ou pelo contrário se hesitou numa acção, desmultiplicado a partir daí todas as possibilidades de divergência. Ínfimas. Radicais. O que somos como produto de pequenas irrelevâncias. Também físicas e químicas. Sim acredito que há uma química que se altera por acção de determinadas lágrimas na sua específica composição que difere de outras lágrimas e que reacomoda o universo microcosmicamente falando. E uma longa expiração agita a folhagem, faz baloiçar subitamente um passarito nos ramos que talvez não pensasse levantar vôo naquele momento mas o faz. Uma reacção em cadeia. O início de uma corrente que, se estende sei lá de que maneira e até onde.
Aquela leveza com que a folhagem se agita, num marulho quase indistinto. Eu sopraria uma delas no desvelo de a adivinhar levando para longe uma espécie de beijo, como aqueles selos do cavalinho com a sua delicadeza de folhas. E estas com a possibilidade deles, de guiar cartas.
Voltar ali por razões que não são as deste sentir. Mas acontecer de novo. Como uma peça bem ensaiada. Levar-me até ali. Sentar-me no mesmo banco. Olhar para cima e fechar os olhos a ver. Uma disposição boa. Mais centrada, intensa e límpida do que a da própria alegria.
Ou olhar para baixo, para a textura ínfima deste banco, cheio de vidros ou cristais ou de minérios inidentificáveis. Cores e brilhos que aparecem e desaparecem na oscilação do olhar. Tão desprezáveis na sua escala pequeníssima que se furtam à sua vocação de espelhos e pacificam a tentativa ou a irreprimível tentação de um olhar sobre si. Liberta-me da eminência de me encontrar por reflexo. Na pequenez destas luzes. De nelas ver. De soslaio ou intensamente. Os vários infernos. E um desses dias um pequeno papel. Colado ao banco talvez por alguma humidade nocturna. Como uma mensagem desesperada e amante. Um escrito com algumas florinhas amarelas poisadas. Podia ser eu. Podia ser. Essa pretensão de nos encontrarmos nos outros quando nos excluem por ser outros. Por natureza de alteridade. Posso até ter sido eu. Eu já tive vinte anos. Por vezes.

28 Ago 2015

A verdade está à solta, colhendo o que se semeia

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante a Dinastia Song do Sul da China, o imperador Gaozong e o seu chanceler Qin Hui conspiraram juntos para remover Yue Fei, o principal general militar na altura. Qin chegou mesmo a discutir os detalhes do plano em casa com a sua mulher. Fruto dessas discussões, o casal chegou a um consenso que “libertar o tigre para que este regressasse às montanhas viria a trazer uma série interminável de problemas no futuro”. Assim, a única alternativa viável era a morte de Yue Fei. Alegasse que, depois do falecimento de Qin Hui, este visitou a mulher durante um sonho para a informar que o seu complot havia sido exposto, o que a assustou de tal modo que chegou mesmo a causar a sua morte.
A verdade vem sempre ao de cima, mais tarde ou mais cedo. Mesmo quando todos se preocupam apenas com os seus próprios assuntos, não se pode assumir que a sociedade se encontra em paz. Se nós não nos interessarmos pelo local em que vivemos, este sítio acaba inevitavelmente por nos partir o coração. A quarta legislatura do Governo da RAEM encontra-se em funções há menos de um ano, mas mesmo assim os problemas sociais têm-se multiplicado, e com uma ferocidade tal que mais se assemelham a uma erupção vulcânica. O recente incidente envolvendo a troca de terrenos destinados à Fábrica de Panchões Iec Long, que se encontra agora sob a investigação do Comissariado Contra a Corrupção, é um dos muitos casos que preocupam as gentes de Macau.iec long
A troca de lotes verificada neste incidente foi realizada de acordo com todos os requerimentos legais durante o mandato de Ao Man Long como Secretário para as Obras Públicas e Transportes. A maior incongruência foi a troca de um lote pequeno por um bem maior, situação considerada fora do normal e isenta de qualquer razão ou lógica. Não nos podemos porém esquecer de uma situação semelhante que envolveu o empresário da construção civil Lam Wai. Na altura, ninguém levantou nenhuma objecção acerca do caso de Lam e todo o processo decorreu dentro da legalidade. Mas, quando Ao Man Long foi processado por aceitar subornos, a opinião pública, e em especialmente a deputada Kwan Tsui Hang, exigiram que o sucessor de Ao nas Obras Públicas investigasse as concessões de terras realizadas durante a era de Ao como Secretário para as Obras Públicas e Transportes, de forma a garantir que nenhum problema tivesse ficado por resolver. Mas, no final de contas, o sucessor de Ao pouco ou nada fez a este respeito, e o caso da Fábrica de Panchões Iec Long nem sequer fazia parte da lista de transacções sob investigação.
Lembro-me que, na altura, alguns deputados insistiram frequentemente para que o Governo divulgasse quanta permuta de terrenos havia sido autorizada, e que fornecesse esclarecimentos sobre o rumor de que parte dos cinco aterros do Plano Urbanístico teria de ser usada como compensação pelas permutas anteriores. Mas, como já é habitual, a resposta do Governo foi pouco esclarecedora. Apenas quando Raimundo do Rosário assumiu a pasta de Secretário para as Obras Públicas e Transportes é que as autoridades se dignaram a fornecer respostas mais detalhadas às perguntas colocadas pelos deputados em questão. Veio-se então a saber que, em relação à troca de terrenos relativa à Fábrica de Panchões Iec Long, esta permuta só podia ter ocorrido de acordo com os respectivos procedimentos legais. Mas, apenas por estar de acordo com a lei não significa necessariamente que a troca tenha sido justificada. Mas temos também que reconhecer que esta prática se encontra tão enraizada que acabou mesmo por se tornar numa característica distinta de negócios “à Macau”. Também no caso do terreno “Tou Fa Kón”, localizado perto do Mercado Vermelho, assim como no do projecto La Scala, situado em frente ao Aeroporto Internacional de Macau, os respectivos terrenos foram concedidos de uma forma legal. Mas isso não tira importância ou influência às várias partes interessadas que se movimentaram nos bastidores de todo este processo.
O Secretário Raimundo do Rosário chegou aliás a pedir ao Comissariado contra a Corrupção que abrisse um inquérito relativo à troca de terrenos da Fábrica de Panchões Iec Long, o que acabou por ser uma medida muito inteligente. Por um lado, este dirigente evitou desta forma vir a ser considerado responsável pelos casos melindrosos que constituem o legado da antiga Administração. E, daí para a frente, todas as futuras decisões relativas à Fábrica de Panchões Iec Long teriam de ser aprovadas pelo Comissariado contra a Corrupção. Por outro lado, esta decisão vem também evitar que Raimundo se torne no alvo de ataques por parte do público caso se venha a verificar qualquer outro problema no que toca a concessões de terrenos, especialmente aquelas envolvendo lotes de grandes dimensões. Caso os nossos leitores estejam a par dos desenvolvimentos do caso da Fábrica de Panchões Iec Long, sabem certamente que o proprietário do terreno em questão, assim como os seus parceiros, mantém uma relação muito íntima com os círculos empresariais e políticos do território. Tanto Chui Sai On como Raimundo do Rosário são responsáveis de resolver ou gerir qualquer problema que tenha sido deixado pela Administração anterior. Podemos então afirmar que ambos estão agora a colher aquilo que semearam no passado. Mas, neste momento, seria talvez vantajoso perguntar a nós próprios, o que levou Macau a se tornar naquilo que é hoje? iec long
Será que o conceito de “um país, dois sistemas” falhou? Ou será então que as gentes de Macau são incapazes de gerir o território por si próprias? Na verdade, o princípio “um país, dois sistemas” acabou por dar a Macau, como também a Hong Kong e a Taiwan, um alto nível de tolerância política. Se os tumultos de 4 de Junho não tivessem ocorrido na China, a onde de reformas políticas que decorria no país não teria nunca terminado, e as situação política teria despoletado em algo verdadeiramente agradável.
Em Macau, por sua vez, não há falta de talentos, apenas uma escassez de talentos políticos que estejam dispostos a se dedicar à cidade por completo. Existem sim muitos que proclamam ser patrióticos e ainda que amam a RAEM, mas na realidade estão dispostos a roubar para proveito próprio ou então de forma a enriquecer as associações ou organizações a que pertencem. Mas Macau nunca teve falta de indivíduos interessados em representar as massas, nem tão pouco de organizações destinadas a supervisionar o desempenho do Governo. Todavia, estas associações são incompetentes e colocam ênfase na manutenção do status quo, ou da harmonia social, ao invés de exigir a responsabillização dos funcionários públicos. Assim, e com uma administração que carece de supervisão apropriada, a porta encontra-se aberta a todo o tipo de conduta desordeira. Outro problema que temos de superar é a necessidade que os nossos campeões da democracia sentem em ser foco das atenções, assumindo este problema um carácter de veneração semi-religiosa. Na verdade, estes indivíduos encontram-se tão divorciados da realidade que se julgam transformados numa espécie de ídolo, que porém existe apenas em nome. Além disso, recusam-se a partilhar o poder com outros, devido ao medo que têm de perder o seu status social, e parecem ser ignorantes da necessidade que todos nós temos em gerir adequadamente o tempo. Tudo isto culmina numa espécie de ecologia política caracterizada por pessoas que se dedicam a enriquecer através da política. Ao mesmo tempo, deparamo-nos com uma sociedade cada vez mais populista, em que a maioria dos seus cidadãos denota uma nítida falta de visão estratégica, além de uma marcada incapacidade em assumir uma conduta altruísta. Se as coisas se mantiverem assim, o que pode ser feito? Esta questão merece sem dúvida a nossa atenção.

28 Ago 2015

Francisco Song, professor de língua portuguesa na MUST

“Estar em Macau é a vida ideal para mim”

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, Pequim e Braga são as cidades mais importantes para o jovem natural da capital chinesa. Francisco Song fala fluentemente português depois de ter optado por estudar esta língua na universidade, tendo feito uma licenciatura, mestrado e doutoramento. Neste momento Francisco Song passa os seus conhecimentos na língua de Camões aos mais novos na Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST).
Em 2006 Francisco Song terminou a escola secundária em Pequim e optou desde logo para começar a sua vida universitária em Macau. “Nessa altura não tinha nenhuns conhecimentos sobre Macau ou Portugal, só sabia que tinha sido uma colónia portuguesa e que Portugal era um país que tinha começado os Descobrimentos e uma terra de futebol. Comecei a conhecer mais depois de chegar ao território. Pensava que Macau era igual a Hong Kong, mas na realidade é totalmente diferente. Aqui há muito o estilo europeu e características históricas, enquanto que na cidade vizinha só observo edifícios modernos”, contou ao HM.
Francisco Song gosta do património cultural, da segunda língua oficial de Macau e nunca se arrependeu da sua decisão. “Fiz a escolha certa em vir para Macau, porque na China é impossível termos tanto contacto com a língua portuguesa. Consegui conhecer professores portugueses e brasileiros, as placas das ruas estão em português e vivem muitos portugueses e pessoas que falam a língua, o que só beneficia o estudo.” francisco
Em 2009, depois de terminada a licenciatura na Universidade de Macau (UM), Francisco Song escolheu fazer o mestrado na Universidade do Minho, em Braga, na área dos Estudos Interculturais Português-Chinês, bem como o doutoramento em Cultura do Extremo Oriente.
A estadia de Francisco Song em Portugal foi longa e só acabou no passado mês de Julho, quando defendeu a sua tese de doutoramento. Apesar de ter gostado de viver no outro lado do mundo, Francisco sempre pensou que Macau é um bom sítio para se ter oportunidades e trabalhar. Ao viver aqui, realizou o seu sonho.
Na MUST, o curso de português é ainda recente, tendo só começado em 2012. Francisco Song começou a trabalhar na universidade privada em 2012. “Fui recomendado por um professor da UM para dar aulas na MUST, mas na altura, como ainda não tinha concluído o meu doutoramento, só trabalhava a tempo parcial. Agora é que me dedico a tempo inteiro à carreira académica”, referiu.
Apesar de estar numa universidade diferente daquela onde estudou, Francisco Song não se importa, defendendo que cada curso de português tem as suas características.
“Até gosto do curso na MUST, porque não se aprendem só línguas. É obrigatório os alunos escolherem uma área no segundo ano do curso, entre Gestão de Turismo, Comércio, Média e Comunicação. O curso pretende que os alunos tenham vantagens na procura de emprego e não apenas dominarem a língua, mas também terem outras capacidades”, explicou o docente.
Francisco Song tem uma boa relação com os alunos, devido à idade próxima, já que entre professor e estudantes há apenas cinco a seis anos de diferença. Como a maior parte dos alunos vem do interior da China, não há obstáculos à comunicação. O professor revela ficar contente com os progressos na aprendizagem e a participação dos alunos nas actividades, tal como o concurso de interpretação em português-chinês e o Dia da Língua Portuguesa.
Fora da sala de aula o professor gosta de futebol, paixão que manteve quando esteve em Portugal, onde viu muitos jogos, incluindo os da selecção portuguesa. Viajar faz também parte das suas paixões, e quando estudava em Portugal visitou a maioria dos países europeus. Em Macau, visitou a Indonésia e Taiwan. francisco
Passeios à parte, é em Macau que Francisco Song quer continuar a fazer a sua vida. “Falando das três cidades onde já estive, penso que Pequim não é ideal para viver devido aos problemas ambientais e à questão política, já não consigo habituar-me a viver lá. Quanto a Portugal, mesmo que a qualidade do ar seja muito boa, há diferenças culturais que, a meu ver, fazem com que ache que não é adequado viver lá. Só em Macau é que existe a cultura chinesa ligada à portuguesa, e o meu pensamento aqui pode ser muito livre. Estar em Macau é o ideal para mim.”
Dentro da cultura portuguesa, a gastronomia não poderia faltar no leque de preferências do professor da MUST, que não esquece a enorme variedade de restaurantes. Apesar de estar em Macau há muito tempo, o professor nunca se cansa de visitar o património. Paixões à parte, Macau tem um problema: o trânsito excessivo. “Apanhar autocarros ou táxis é mesmo chato, sobretudo um táxi. Quase que pagamos cem patacas para ir do Instituto Politécnico de Macau às Portas do Cerco.”

28 Ago 2015